Scripta NovaREVISTA ELECTRNICA DE GEOGRAFA Y CIENCIAS
SOCIALESUniversidad de Barcelona.ISSN: 1138-9788.Depsito Legal: B.
21.741-98Vol. XI, nm. 245 (50), 1 de agosto de 2007[Nueva serie de
Geo Crtica. Cuadernos Crticos de Geografa Humana]
Nmero extraordinario dedicado al IX Coloquio de Geocritica
EXPERINCIAS DE POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO LOCALNOS
MUNICPIOS DA REGIO METROPOLITANADE CAMPINAS (SP)E OS IMPACTOS NO
TERRITRIO
Claudete de Castro Silva VitteDepartamento de
GeografiaUniversidade Estadual de Campinas
[email protected]
Experincias de polticas de desenvolvimento econmico local nos
municpios da Regio Metropolitana de Campinas (SP) e os impactos no
territrio (Resumo)Este trabalho visa primeiramente contribuir na
reflexo de alguns enfoques tericos das polticas de desenvolvimento
local e regional, ou polticas territoriais, que vm sendo discutidas
no mbito da Geografia Econmica e de Estudos Regionais (arranjos
produtivos, sistemas de inovao, ambientes inovadores, economia
solidria, desenvolvimento local integrado e sustentado etc.), por
meio do estudo dos municpios que compe a RMC e de alguns dos
arranjos produtivos regionais que esses municpios participam. Foram
investigados os agentes atuantes no desenvolvimento local e foram
feitas algumas consideraes sobre os impactos espaciais ou
territoriais das estratgias de desenvolvimento.
Palavras-chave:Dinmica econmica local, Territrio, Regio
Metropolitana de Campinas.
Some experiences of local economic development polices in the
municipal districts of Metropolitan Region of Campinas/SP (RMC) and
their impacts in territory (Abstract)Firstly, this work objectifies
to contribute in discussion of some theoretical focuses about local
and regional development polices, or territorial polices, that have
been debated in the field of Economic Geography and Regional
Studies (productive arrangements, innovation systems, innovative
environments, solidary economy, integrated and sustained local
development etc.), through the studies of RMC municipalities and
some of the regional productive arrangements that these municipal
districts take part. It were investigated the agents of local
development and it were made some considerations about the spatial
or territorial impacts of the development strategies.Keywords:Local
economic dynamics, Territory, Metropolitan Region of Campinas.
A temtica do desenvolvimento no alheia ao debate geogrfico. O
desenvolvimento est vinculado noo de modelo territorial na anlise
territorial e de ordenao do territrio. H um impacto recproco nos
territrios e nos modelos de desenvolvimento, pelos atributos ou
carncias dos territrios e pelas estratgias de desenvolvimento
implementadas.Vem ocorrendo no Brasil diversas experincias de
desenvolvimento local, em um cenrio deexperimentalismo difuso. As
prticas de desenvolvimento local assumem variadas dimenses e
significados ora sendo vistos como uma nova poltica social, ora
como um novo paradigma econmico.Este trabalho visa primeiramente
contribuir na reflexo dos enfoques tericos das polticas de
desenvolvimento local/regional ou polticas territoriais que vm
sendo discutidas no mbito da Geografia Econmica e de Estudos
Regionais, como so os casos dos arranjos produtivos locais,
sistemas locais de inovao, ambientes inovadores, economia solidria,
dlis (desenvolvimento local integrado e sustentado), dentre outros,
investigando quais deles vem sendo utilizados como estratgias de
desenvolvimento local nos municpios que compem a Regio
Metropolitana de Campinas.Assim, h, no mbito do debate do
desenvolvimento local/regional, diversos modelos interpretativos do
desenvolvimento, de impacto territorial, que precisam ter sua
discusso aprofundada e contribuir na compreenso da experincia
brasileira do desenvolvimento local, por meio do estudo dos
municpios que compe a RMC e de alguns dos arranjos produtivos que
esses municpios participam.A temtica do desenvolvimento local vem
sendo debatida, com diversos argumentos sobre seus constrangimentos
e possibilidades. Como lembram Giuseppe Cocco e Alexander P. Galvo,
o local parece estar se constituindo na tnica geral de definio dos
novos rumos das polticas pblicas ativas de desenvolvimento econmico
e social no Brasil nesta virada de sculo. Do Rio Grande do Sul ao
Rio de Janeiro, do ABC paulista ao Cear, do BNDES Caixa Econmica
Federal, passando pela Finep, do Sebrae ao Senai, h uma multiplicao
generalizada de instituies, projetos, pesquisas, seminrios e
experincias que visam o desenvolvimento local (G. Cocco& A. P.
Galvo, 2001:69).O desenvolvimento econmico local pode ser definido
como o conjunto de estratgias e aes para a (re)construo da base
produtiva local (para a ativao da economia local) (cf. C. C. Silva,
1998) e pode provocar impactos no territrio. Ele no deve ser
confundido com desenvolvimento urbano. O desenvolvimento urbano
d-se a partir de um projeto fsico para uma cidade e de polticas de
controle do uso do solo, resultando na ordenao do territrio e de
equipamentos coletivos.A idia delocal, por sua vez, pode ser
entendida como um municpio, parte de municpio, um conjunto de
municpios, um estado ou mesmo uma regio. Neste trabalho, a idia de
local confunde-se com a de municpio, a maislocalizadainstncia de
poder no Brasil. O municpio uma instncia de poder poltico e um
recorte territorial. uma das formas de domnio territorial-estatal.
Na gesto poltica h uma hierarquizao territorial na qual o municpio
um dos nveis hierrquicos (cf. C.C.S. Vitte, 2006).As aes e
estratgias ocorrem em umespao herdado, que constitudo por uma
histria local, um padro de organizao do territrio e da fora de
trabalho e por um dado grau de desigualdades sociais. A execuo de
estratgias sobre o espao herdado promove impactos e possibilita a
construo de um espao projetado (cf. F.D. Coelho, 1996) ou no, mas
certamente transformado.O ponto fundamental deste debate refere-se
s possibilidades e limites destas polticas e estratgias de induo do
desenvolvimento em reduzir as desigualdades sociais e melhorar as
condies de vida das classes trabalhadoras e dos estratos
economicamente mais vulnerveis, bem como sua capacidade em fazer
avanar a democracia e permitir odireito cidadepara todos.
O desenvolvimento econmico local e as transformaes espaciais:
Uma contribuio da anlise geogrficaA Geografia uma cincia afeita a
espacialidade de processos sociais e histricos, espacialidade esta
resultante da dinmica geral do capitalismo condicionada pelas
especificidades locais.Segundo A.C.R. Moraes, avalorizao do espao o
nvel de abordagem das determinaes gerais que delineiam longos
perodos. Na anlise da valorizao do espao devem ser considerados: a
lgica que a presidiu, o processo que a engendrou e o uso social da
valorizao gerada. H um processo universal que corresponde lgica da
acumulao capitalista na escala do Sistema-Mundo. Concomitante ao
acontecer desta lgica, h as particularizaes e singularidades dos
lugares. dinmica local associam-se estmulos exteriores, sendo o
territriocondio,meioeprodutoda reproduo da vida social (cf. A. C.
R. Moraes, 2000a).Uma sub-categoria de anlise afixao geogrfica de
valor, pela qual se analisa o processo de incorporao de parte da
riqueza produzida pelas diversas sociedades no territrio e que
resulta em transformaes de paisagens e lugares. Nesta sub-categoria
so consideradas:a-) as formas de internalizao do valor produzido na
escala local, que A.C. R. Moraes designa devalor fixado;b-) as
formas criadas, tambm chamadas defixosec-)a fixao geogrfica de
valor, processo que explica a produo e apropriao do espao e que
capta a lgica locacional, os estoques de valor fixados nos
diferentes lugares e inventaria a quantidade e qualidade dos fixos
existentes nos lugares.Outra sub-categoria de anlise a ser
considerada atransferncia geogrfica de valor, entendida como a
parte do valor gerado em um lugar e que no foi ali fixada. So os
deslocamentos de riquezas, mercadorias, informaes, que resultam em
uma mobilidade dos valores (os fluxos) no espao terrestre. Esta
sub-categoria contribui na reflexo sobre o movimento fsico do valor
no espao terrestre, o que, no caso de estudos de polticas e
estratgias de desenvolvimento local, remete anlise da atrao de
capitais exgenos e da fixao ou no de capitais e riquezas localmente
gerados.Mas, se acima foi assinalada a interlocuo da Geografia com
a Economia, preciso considerar que a espacialidade da vida
centra-se na relao entre o espao (ou um dado territrio) e opoder.
Nessa perspectiva, tem-se a interlocuo da Geografia com a Poltica.
Dentre as formas de domnio dos lugares, destacam-se asformas
estatais(em suas diversas instncias), sendo o Estado um ator que
tende a monopolizar (ou hegemonizar) as aes bsicas do processo
deformao territorial, a segunda categoria de anlise proposta (Cf.
A.C.R. Moraes, 2002). A formao territorial pode serentendida como o
desenrolar das conjunturas, dos movimentos singulares de um grupo
social que se expande no espao e controla seu territrio. o mbito
das singularidades dos lugares (cf. A.C.R. Moraes,
2000a).Iniciativa local de desenvolvimento: alguns enfoques de
desenvolvimento territorialO objetivo desta seo fazer uma breve
apresentao de algumas das principais vertentes analticas que tratam
da questo do desenvolvimento local/regional em perodo recente que
discutem os fatores determinantes e a dinmica do desenvolvimento
territorial (que certamente abarca a escala local) para na seo
seguinte discutir quais delas aparecem como estratgias de
desenvolvimento local na RMC. H alguns marcos conceituais que
explicam as causas e as condicionantes das transformaes (ou evoluo)
territorial no interior de economias nacionais.So bastante
conhecidas as discusses pioneiras da chamada escola alem cujos
trabalhos de Von Thnen, August Lsh, Alfred Weber, Walter
Christaller; e da escola anglo-sax, representada por G. Zipf,
Walter Isard, Douglas North, John Friedmann, dentre outros,
contriburam para a emergncia da temtica do desenvolvimento
territorial e de teorias espaciais, mas apresentavam limites
explicativos que no sero aqui considerados[1].Nos anos 1950 a 1970
surgiram importantes trabalhos que procuraram discutir os nveis de
desenvolvimento entre as regies e localidades. As contribuies das
teorias de centro-periferia, da causao circular acumulativa de
Gunnar Myrdal, dos encadeamentos (linkage) para frente e para trs
de Albert Hirschman, dos plos de crescimentos de Franois Perroux e
Jacques Boudeville tinham em comum o foco nas questes do
crescimento desequilibrado, nos processos acumulativos e de
localizao e apresentam em comum o carter automtico dos mecanismos
de correo e advogam uma interveno externa ao mercado, de forma a
evitar a intensificao das desigualdades interregionais (E.M.
Jimnez, 2001:16) [original em espanhol]O desenvolvimento local
tornou-se tributrio do debate sobre o desenvolvimento regional que
foi reavivado, motivado pela constatao de que cidades e regies
anteriormente de economia dinmica estavam em declnio, enquanto
ocorria a ascenso de outras reas por diversos motivos. Na crtica
terica fortaleceram-se as abordagens a partir de modelos
denominados de baixo para cima e a valorizao de elementos endgenos
(cf. J. Amaral Filho, 1996; S. Boisier& V. Silva, 1990).Nos
estudos de diversas experincias de desenvolvimento regional e
local, passou-se a observar que fatores antes considerados
secundrios ao crescimento e com forte diferenciaolocaleram
importantes na explicao do sucesso de certas localidades. Esses
fatores, quando estimulados, permitiam melhorar a produtividade e
possibilitavam uma melhor distribuio de renda (cf. J. Amaral Filho,
1996).Ganhou corpo o discurso de que uma localidade ou regio
poderia passar por um processo de transformao e qualificao,
tornando o ambiente atrativo, de forma a facilitar a implantao de
novas atividades econmicas em um contexto de economia globalizada,
utilizando-se de recursos endgenos e/ou exgenos. Esse novo
protagonismo da escala local tem seus defensores chamados de
localistas, mas tem seus detratores. Um de seus crticos assinala
que
Utilizando-se de um conjunto de categorias como a flexibilidade,
a produo de pequena escala ou a solidariedade e confiana, este novo
cenrio produtivo tem se apresentado como uma via alternativa dada
pelas novas formas de comunidade industrial. Sob uma suposta
harmonia das novas comunidades produtivas, dicotomias prvias, como
capital-trabalho ou centro-periferia, devem desaparecer, pois todos
os elementos, tenham a ascendncia social que tiver, encontraro um
ambiente favorvel para seus interesses. A flexibilidade abriria as
portas do reinado das PMEs e a difuso espacial da localizao das
atividades. Portanto, a partir desta nova ortodoxia, se promove uma
nova viso de progresso social e econmico. Ela leva a pensar em um
futuro feliz para as economias perifricas (O.G.JURADO, 2004:2)
[original em espanhol]O fato que no final dos anos 1980 diversos
trabalhos e pesquisas foram anunciando a idia de que o crescimento
das localidades se devia principalmente as suas condies e dinmicas
internas. Como lembra E.M. Gimenez (2001:19), neste perodo
inaugurou-se uma nova fase de teorizao do desenvolvimento
territorial.A dimenso social e territorial do desenvolvimento
considerada como a mais importante contribuio da abordagem
neomarshalliana. Assim, a importncia da aglomerao e de fatores
no-econmicos como a cultura, as normas e instituies na determinao
daperformancedas regies vem adquirindo relevncia (M.C.O.S.
Schiller, 2004: 163). Segundo Alain Rallet, os trabalhos sobre
meios inovadores e sobre distritos industriais emergiram de maneira
mais efetiva aps os anos 1970 e introduziram a temtica das relaes
localizadas como fundamento da competitividade territorial. Para
este autor, a proximidade discutida na perspectiva do enfoque
territorial e do enfoque em termos de coordenao. A proximidade
introduzida pelo enfoque territorial, grosso modo, dos meios
inovadores ou dos distritos industriais, sendo que os seus
defensores consideram o territrio um conceito econmico e no apenas
um recorte institucional. Neste enfoque, o territrio pode ser
discutido sob trs perspectivas:1-) o enfoque histrico do territrio:
um complexo localizado, historicamente constitudo, de relaes
econmicas entre uma diversidade de agentes e instituies;2-) o
enfoque funcionalista: o territrio entendido como uma construo
baseada em relaes de proximidade, que fixam os contornos ou uma
zona delineada pela existncia de relaes de proximidade; e3-) o
enfoque institucional: define o territrio como a zona sob a qual se
projeta a ao de polticas pblicas, de forma que o territrio se
confunde com a autoridade pblica que o administra e a proximidade
dos agente definida por uma pertena institucional (A. RALLET,
2002:60-61).Acumulao flexvel, distrito industrial e arranjos
produtivos locaisNo decorrer dos anos 1980 ganhou corpo entre
diversos estudiosos a idia de que o crescimento das regies devia-se
as suas condies e dinmicas internas. E.M. Gimenez lembra que os
estudos pioneiros focaram a chamadaTerceira Itlia, que congregava
experincias bem sucedidas em meio industrializao decadente do
tringulo Milo-Turim-Gnova e do atrasadoMezzogiorn.Os autores
apontavam o distrito industrial como a frmula de sucesso daTerceira
Itlia,sendo ele resultante das relaes de competio-emulao-cooperao
entre pequenas e mdias empresas. Este diagnstico tambm foi
assinalado por gegrafos californianos, tais como A. Scott. M.
Storper e R. Walker, que estudavam aquele estado norte-americano e
em especial a metrpole de Los Angeles (cf. E.M. Gimnez, 2001: 19).A
especializao flexvel, por sua vez, foi discutida por Michael Piore
e Charles Sabel no livroThe Second Industrial Divide(1984) onde
interpretaram as evidncias dos exemplos da Terceira Itlia, da
Califrnia e de distritos de alta tecnologia da regio de Boston como
casos particulares no interior de uma tendncia mais geral de evoluo
do capitalismo industrial, no qual o desenvolvimento regional era
derivado essencialmente de condies dinmicas internas.Segundo
Anderson C.G. T. Pellegrino, o debate sobre distritos industriais
se fortaleceu com o esgotamento do modelo fordista e com a
emergncia do novo modelo ps-fordista, tambm denominado de acumulao
flexvel. Neste novo modelo, tal qual o que foi visto nos casos
italianos e do Vale do Silcio, considerados os mais paradigmticos,
a rigidez fordista foi sendo substituda pela agilidade das redes de
pequenas e mdias empresas, mais flexveis do ponto de vista da
produo e tecnologicamente mais sofisticadas, capazes de atender
rapidamente demanda por produtos especializados e
diferenciados.Este autor lembra tambm que o ponto de partida desta
concepo a recuperao do conceito dedistrito industrialde Alfred
Marshall, para quem o maior xito econmico de uma regio deve-se as
relaes de competio e cooperao existentes entre pequenas e mdias
empresas locais. Esta concepo reforou a importncia das articulaes
geogrficas particulares, propondo uma espcie de reconsiderao da
regio como unidade de produo integrada, em uma gama de
possibilidades produtivas, de arranjos tecnolgicos e organizaes
empresariais,gerando impactos na configurao espacial das economias
e na prpria concepo de desenvolvimento regional (A.C.T. Pellegrino,
2005: 32-33).Os distritos industriais se caracterizam por
apresentar uma concentrao de pequenas e mdias empresas em reas
pouco industrializadas, especializadas em um ramo ou produto, com
intensa diviso interempresarial do trabalho, grande mobilidade de
emprego, freqente existncia de autoemprego e muitas vezes de
economia informal. So empresas que competem, mas simultaneamente
mantm relaes de cooperao por meio de associaes, utilizao de mesma
infra-estrutura e servios comuns. (G. GarofoliapudI.C. Barroso,
1998:14)Os sistemas produtivos ou arranjos produtivos locais (APLs)
um tipo de aglomerao de empresas que vem sendo muito discutido pelo
menos desde a dcada de 1990. Segundo Gustavo Antnio Galvo dos
Santoset aliimuito desse sucesso se deve a ampla aceitao deste
conceito pelomainstreamneoliberal, reconhecidamente crtico
interveno estatal, j que a poltica industrial dos APLs focada no
aproveitamento de externalidades positivas localmente difundidas,
produzidas muitas vezes por entidades de direito privado. Mas estes
autores defendem que o sucesso do conceito se deve tambm pela sua
utilidade e versatilidade, independente de posicionamento
ideolgico, pois so geralmente caracterizados por setores com
pequenas barreiras entrada e, portanto, a princpio, de
relativamente fcil aplicao a regies ou pases menos desenvolvidos.
Outra qualidade ressaltada nos APLs sua caracterstica de cooperao,
um diferencial que melhora a competitividade do conjunto, a inovao
(cf. G.A.G. Santoset alii, 2004:156-7).Assim os APLs so um tipo
diferenciado de aglomerao de empresas. Pode-se lembrar de outros
tipos de aglomeraes, como oscentros industriais, grandes e
diversificadas aglomeraes industriais, onde as grandes empresas tm
um importante papel, mas no necessariamente sinergias e relaes
entre elas. H tambm oscomplexos industriais, um tipo de aglomerao
de empresas associadas a uma cadeia produtiva, caso da indstria
petroqumica, por exemplo. (cf. G.A.G. Santoset alii,
2004:155-6).Especificamente sobre os distritos industriais, Edgard
Moncayo Jimenez defende que no existe um nico modelo de distrito
industrial e que eles so o resultado de uma confluncia de fatores
empresariais, polticos e sociais que no podem ser reproduzidos
indistintamente. Mas, no geral, os aspectos positivos dos distritos
estudados em diversas partes do mundo foram alcanados por meio de
certas aes polticas deliberadas, como o estmulo cooperao e associao
inter-firmas e de criao de novas firmas, a formao de recursos
humanos locais, proviso de infra-estrutura e servios avanados e a
delegao de funes de promoo econmica a instituies locais ou
regionais, em contexto de fortalecimento de governos locais (E.M.
Jimnez, 2002:42).Assim, h diversos enfoques elaborados para
explicar ou tipificar as localidades, nos quais o territrio em
escala local contribui para estabelecer laos entre atores e a
instituir sistemas territoriais. Esses enfoques do prioridades a
fatores diferentes. Nos enfoques acima assinalados nesta seo,
Juan-Luis Klein considera que fazem um conjunto que pode ser
denominado deenfoque produtivo, correspondente as configuraes
produtivas baseadas na integrao local de empresas e de atores
scio-polticos. Para Klein, esses trabalhos sustentam que existe uma
relao entre a proximidade espacial, a inovao e o dinamismo
scio-econmico em contexto de economia globalizada (J.L. Klein,
2005:07).
Ambientes inovadores e sistemas locais de inovao
Um outro enfoque considerado por Juan-Luis Klein (2005:08)
oenfoque da inovao. Ele congrega as pesquisas que abordam o
desenvolvimento local a partir do paradigma da inovao, da
importncia do conhecimento oriunda dos processos inovadores
construdos coletivamente. Para o autor, o conhecimento no somente
cientfico, mas tambm social resultante da organizao de produo do
conhecimento em interrelao com os atores sociais.
Para Immaculada Caravaca Barroso, o carter estratgico da inovao
tecnolgica tem uma influncia decisiva na organizao produtiva e
territorial, sendo que as novas tecnologias tm permitido o
desenvolvimento da sociedade informacional (em uma aluso M.
Castells) e de uma nova lgica espacial baseada na existncia de
redes, mas so as indstrias neotecnolgicas que so as atividades
motrizes capazes de impulsionar de forma direta e indireta o
crescimento econmico. A autora remete Phillippe Aydalot o conceito
de meio inovador, posteriormente bastante difundido. Tal conceito
se baseia na idia de que a inovao no se realiza na maior parte das
vezes de forma individual, mas sim coletiva porque h a existncia de
um clima empresarial, social e institucional favorvel em
determinados mbitos que propicia o seu surgimento (IC. Barroso,
1998:12).
Para Phillippe Aydalot, no processo de desenvolvimento cabe
considerar trs aspectos. O primeiro, que os atores do
desenvolvimento sejam organizaes produtivas flexveis como so as
pequenas e mdias empresas, capazes de superar a rigidez das
organizaes do tipo fordista. Um segundo aspecto de carter mais
estratgico, que considera a diversidade de tcnicas, de produtos de
gostos culturais, o que deriva para a abertura de mltiplos caminhos
de desenvolvimento para diversos territrios, segundo as
potencialidades de cada um. E, por fim, um aspecto de carter mais
operativo, considera que os processos de desenvolvimento so
conseqncia da introduo de inovaes e conhecimento por meio dos
investimentos de atores econmicos, processo esse de carter
territorial, pois produzido como conseqncia da interao de atores
que integram o entorno inovador (cf. P. AydalotapudA.
Vasquez-Barquero, 2006:04).Assim, o que se considera como realmente
efetivo para um desenvolvimento local sustentado e duradouro so
fatores estruturais, tais como a capacidade empresarial e
organizativa, a qualificao e grau de instruo da populao, os
recursos ambientais e o funcionamento das instituies. (Antonio
Vasquez-Barquero, 2006:04)
Capital social e economia solidriaUm outro enfoque considerado
por Juan-Luis Klein oenfoque socialque postula que o territrio na
escala local um marco gerador de laos sociais e de ao coletiva,
difundindo noes como capital social, redes sociais, economia
solidria, empreendedorismo, voluntariados, microiniciativas.O
sentimento de pertencimento territorial cria espaos comunitrios
adaptados sociedade moderna, diversificados e inseridos de diversas
formas na sociedade global (J.L. Klein, 2005:09). Para Carlos
Antonio Brandoet aliigraas proximidade de atores cooperativos, um
poderoso consenso, baseado nas relaes de confiana mtua comunitria,
[...] sustentaria um processo de avano e progresso para todos,
cabendo ao Estado, neste ambiente, o papel de animao dos
empreendedores (cf. C.A. Brandoet alii, 2004:04-06)A noo decapital
socialconsidera a valorizao de formas de confiana, normas de
reciprocidade, atitudes e valores que ajudem as pessoas a superar
relaes conflituosas e competitivas. Caberia ao Estado propor formas
de favorecer o capital social.Uma pesquisa coordenada por Robert
Putnam na Itlia apontou que fortes tradies de engajamento cvico da
comunidade so a marca de uma regio prspera e uma condio essencial
para o xito da democracia. Nesta investigao, Putnam buscou explicar
as razes de resultados dspares no desenvolvimento de duas regies da
Itlia (o Norte e o Sul), quando elas tinham sido submetidas s
mesmas mudanas institucionais e legais na descentralizao posta em
marcha naquele pas desde os anos 1970.
Robert Putnam se apoiou no conceito decapital social, que se
refere aos aspectos de uma organizao social, tais como redes de
comunicaes, regras de confiana, que facilitam a coordenao e
cooperao para a obteno de benefcio mtuo. R. Putnam diz que fortes
tradies de engajamento cvico[...] so a marca de uma regio prspera.
[ ...] Tais comunidades cvicas valorizam a solidariedade, a
participao cvica e a integridade. [Nelas,] a democracia funciona
(R. Putnam, 2001: 54-55).Segundo Edgad M. Jimenez, patriotismo,
solidariedade, virtudes cidads so aqui conceitos centrais e a
principal manifestao do compromisso cvico a associatividade para a
busca do bem comum (E.M. GIMNEZ, 2002:22). Este compromisso cvico
consiste em uma forte identificao dos indivduos com os interesses
da comunidade em que vivem. Putnam diz: em uma comunidade cvica, a
cidadania se caracteriza primeiramente pela participao nos negcios
pblicos. O interesse pelas questes pblicas e a devoo s causas
pblicas so os principais sinais da virtude cvica. (R.
Putman,1996:101)Juan-Luis Klein aponta que a referncia local dos
atores, devido a sua identidade territorial, pode lev-los a
realizar aes coletivas com objetivos econmicos. Neste contexto,
emerge uma aproximao com questes econmicas que recebe diversas
acepes como economia social, economia solidria, economia
comunitria, economia popular. O ponto a se ressaltar que h uma
referncia a formas de produo de riqueza na qual participa
diretamente a coletividade, utilizando-se de modalidades
associativas na produo de bens, de servios e mobilizando recursos
ligados ao que o autor chama de capital scio-territorial de uma
coletividade local. (cf. J.L. Klein, 2005:09)
A economia solidria, uma dessas acepes se caracteriza, ento, por
concepes e prticas fundadas em relaes de colaborao solidria,
inspiradas em valores culturais que colocam o ser humano na sua
integridade tica e ldica e como sujeito e finalidade da atividade
econmica (Documento Final da I Conferncia Nacional de Economia
Solidria, 2006: 02).
No documento acima citado, fica salientado que a economia
solidria uma forma de organizar a produo, a distribuio e o consumo
que tem por base a igualdade de direitos e responsabilidades de
todos os participantes dos empreendimentos econmicos solidrios, com
gesto e propriedade coletivas e participao democrtica, apontando
para a superao da contradio entre capital e trabalho. (Documento
Final da I Conferncia Nacional de Economia Solidria, 2006:
02).Mrcio Pochmann assinala que aps a crise do fordismo ocorreu uma
mudana nas tcnicas de gesto e organizao da produo, permitindo que
vrios mecanismos de incubao de experincias de ocupao profissional e
gerao de renda, geralmente em torno de grupos de pobres e
desempregados que tinham uma trajetria ocupacional no segmento do
trabalho organizado, fossem recuperadas. Em uma busca de sinergia
coletiva e a partir de atividades e de saber acumulado, diversas
experincias foram concretizadas, tais como padarias comunitrias,
artesanato local, coleta seletiva de lixo, dentre outras. Por parte
dos governos, algumas aes visaram instrumentalizar a economia
solidria, sendo oBanco do Povouma das mais conhecidas medidas, alm
do financiamento incubao de cooperativas e de redes de
comercializao e autogesto (cf. M. Pochmann, 2004: 05).
Em suma, de acordo com Juan-Luis Klein, apesar de suas
diferenas, esses enfoques convergem em dois pontos. Primeiramente,
pelo fato do local no se definir em si, mas em sua interrelao com
redes globais. Em segundo lugar, o que aproxima os atores locais,
apesar da distncia social que pode separ-los, sua identidade
territorial comum: a proximidade fsica, manifestada na identidade
comum, se transforma em proximidade social (cf. J.L. Klein,
2005:09-10).
Na seqncia, ser feita uma breve caracterizao da dinmica econmica
da RMC, seguida de uma vinculao desses enfoques produtivos e de
desenvolvimento em alguns municpios da regio, discutindo-se a
pertinncia desses enfoques para compreenso desta dinmica. Sero
apontados alguns dos protagonistas ou agentes atuantes, bem como
sero feitas algumas consideraes sobre os impactos espaciais dessas
estratgias ou enfoques.
A Regio Metropolitana de Campinas
Rota ou caminho para as minas no sculo XVIII, economia
canavieira, economia cafeeira e a grande riqueza gerada por esta
atividade, crise da cafeicultura, culturas agrcolas variadas,
industrializao como alternativa crise do caf e para suprir uma
crescente demanda interna, migraes, polticas nacionais de
descentralizao metropolitana (interiorizao do desenvolvimento),
reestruturao urbano-industrial do estado de So Paulo, consolidao da
metrpole desconcentrada e criao da Regio Metropolitana de Campinas.
Esta uma breve seqncia de palavras-chaves que contribuem na
compreenso daformao territorial, categoria analtica proposta por
Antnio Carlos Robert Moraes. A exigidade de espao neste trabalho no
nos permite retomar a contribuio de importantes autores que
ajudaram no desvendamento desta formao e que fundamental para a
compreenso da dinmica econmica atual da regio e contribuem na
explicao da singularizao da regio e dos lugares, revelando o
movimento geral de um grupo social que se expandiu em um territrio
que congrega a RMC e que foi institucionalizado em 2000.De forma
sinttica, a regio metropolitana de Campinas caracteriza-se por ser
um aglomerado composto por municpios de diferentes portes e
variadas vocaes econmicas. Esta regio conhecida por ser uma rea
estratgica para negcios, por apresentar um parque industrial
diversificado que abriga setores modernos e plantas industriais
articuladas em grandes e complexas cadeias produtivas
(AGEMCAMP/SEADE, 2006:22), no qual destaca-se fabricao e refino de
petrleo, material eletrnico/aparelhos e equipamentos de comunicao e
produtos txteis. Possui uma rede de comrcio e servios bastante
dinmica que atende a uma populao de 2.578.033 habitantes em 2005,
com destaque na prestao de servios em educao e sade, dentre
outros.Apresenta tambm uma agricultura moderna e diversificada, com
destaque para a produo de cana-de-acar e laranja, mas tambm de
frutas de mesa (como uva, figo, goiaba e outras).Segundo a
AGEMCAMP/SEADE, a RMC a segunda regio mais importante do estado,
sendo responsvel por 9,1 por cento do PIB paulista e aquela que
apresenta o maior PIBper capitaregional entre as regies paulistas
(considerando tanto as RMs como as RAs).Dentre as categorias
propostas por Antonio Carlos Robert Moraes h a fixao geogrfica de
valor e a transferncia geogrfica de valor, categorias de grande
relevncia na anlise geogrfica, mas sua investigao complexa.
Gostaramos de exemplificar como possibilidade emprica de estudo
para a RMC uma apresentao dos investimentos previstos para serem
recebidos pela regio no perodo.Tal indicador d apenas uma noo desta
incorporao de valor em um curto perodo, de forma que um estudo mais
processual de fundamental importncia. No ser efetuado neste
trabalho um estudo aprofundado, mas uma regio no se torna a segunda
mais importante da mais importante unidade federativa do mais
importante pas da Amrica do Sul sem que a riqueza gerada e fixada
fosse significativa.A Fundao SEADE mapeia j h alguns anos os
investimentos anunciados no Estado de So Paulo, sendo o ltimo
levantamento relativo ao ano de 2005. Ela considera os
investimentos produtivos, ou seja, aqueles que ampliam a capacidade
produtiva da economia e que contribuem para o aumento da produo de
bens e servios e para a gerao de empregos e renda. De fato, a regio
de Campinas est entre os principais destinos dos recursos que
aportam no estado de So Paulo.Um complicador analtico que neste
estudo feito pela Fundao SEADE os dados so agregados para a Regio
Administrativa de Campinas[2]que uma rea muito mais ampla do que a
RMC. O indicador, na verdade, ilustra a importncia da rea de estudo
e d pistas para a compreenso do processamento da fixao geogrfica de
valor e da transferncia geogrfica de valor na perspectiva de captao
de investimentos exgenos.H um outro produto da Fundao SEADE
bastante til para o estudo da fixao geogrfica de valor na RMC e sua
anlise merece um estudo mais profundo. Neste trabalho iremos apenas
fazer uma breve caracterizao. Trata-se doAtlas Seade da Economia
Paulista. EsteAtlasagrega um importante acervo de mapas que
permitem mltiplos estudos pela perspectiva geogrfica. A partir da
diviso poltico administrativa e da malha municipal (que organiza os
municpios em regies administrativas e regies metropolitanas)
pode-se sobrepor e interrelacionar diversas informaes, dentre as
quais destacam-se: informaes sobre a infra-estrutura e logstica
(transportes, movimento de cargas em aeroportos, itinerrios de vos
de passageiros, frotas de veculos, presena de distritos industriais
e suas infra-estruturas, telefonia e Internet); cincia, tecnologia
e inovao (distribuio das instituies de ensino e pesquisa,
laboratrios pblicos e de empresas e incubadoras, uso de TICs pelas
empresas, ocupaes tcnico-cientficas, atividades de P&D e de
empresas inovadoras); indicadores de riqueza gerada, sua distribuio
setorial e gerao regional e setorial de riqueza e concentrao e
especializao geoeconmicas.Mesmo sem efetuar as diversas sobreposies
e correlaes possveis, pode-se perceber que a RMC e seus municpios
apresentam uma situao privilegiada. Muitas das informaes
apresentadas e mapeadas manifestam formas de internalizao de valor
no espao (ovalor fixado) por meio de um inventrio da quantidade e,
de forma menos explcita, expressam a qualidade dos fixos
existentes, de forma que contribuem no entendimento da valorizao do
espao da RMC.Um elemento a ser considerado na fixao geogrfica de
valor a infra-estrutura e logstica. A infra-estrutura da Regio
Metropolitana de Campinas considerada de excelente qualidade e sua
localizao considerada estratgica, estando h cerca de100 quilmetros
da capital e 166 quilmetros do porto de Santos (o municpio de
Campinas sendo a referncia). Possui um bom sistema virio e sua
acessibilidade com relao a outras importantes regies do pas
viabilizada[3].Um diferencial na infra-estrutura o aeroporto
internacional de Viracopos, projetado para ser o maior aeroporto de
cargas da Amrica Latina. Este aeroporto vem passando por ampliao e
modernizao com ressonncia sobre a vida local, pois esta ampliao
necessita de desapropriao que envolve dezessete bairros, bem como
necessitou de alterao na lei de zoneamento, fato que provocou
presses de grupos ambientalistas, j que os arredores do aeroporto
eram considerados reas rurais.O dinamismo da Regio Metropolitana de
Campinas torna muitas vezes a regio vtima de seu prprio sucesso, j
que atrai significativos contingentes migratrios, pressionando a
demanda local por servios pblicos de toda ordem.O mercado de
trabalho tambm uma referncia a ser considerada. Seu fomento, sua
dinamizao e recuperao constam como um dos mais importantes
objetivos de diversas estratgias de desenvolvimento local. No
geral, h disponvel mo-de-obra qualificada oriunda de um importante
parque universitrio (Unicamp, PUC-Campinas, Facamp e diversas
faculdades e universidades particulares). Esta oferta ajuda a
fortalecer a imagem de plo tecnolgico que Campinas e arredores
detm.Mas, uma anlise mais especfica do mercado de trabalho foi
feita por Mrcio Pochmann (2002) em mbito metropolitano. Segundo
este autor, Campinas apresenta um razovel nvel de desemprego, o que
coloca como um grande desafio a ser superado pelas estratgias de
desenvolvimento local, de emprego e renda.Quando avalia o perfil da
ocupao, Pochmann aponta que nas ltimas dcadas tem havido uma
transio da dominncia industrial para o comrcio e servios, mas ainda
com predomnio das atividades industriais. Outra transformao
assinalada a maior presena feminina no mercado de trabalho e a
diminuio do nmero de jovens no total da ocupao.Quanto s polticas
pblicas de enfrentamento do desemprego e da pobreza, Mrcio Pochmann
(2002) afirma que as polticas adotadas para a complementao de renda
das famlias pobres e ao estmulo ao emprego so, em sua maioria,
derivadas do programa Bolsa Escola do Governo Federal.Nas polticas
voltadas ao mercado de trabalho ressaltem-se as aes de qualificao
profissional, de auto-emprego, de intermediao de mo-de-obra e
financiamento de microcrdito. Pochmann diz:
apesar dos esforos dos poderes pblicos na implementao de
polticas de ateno pobreza e ao desemprego, constata-se sem muito
esforo suas limitaes e impacto residual em face dos problemas
socioeconmicos da Regio Metropolitana de Campinas. Para alm do
esforo municipal, deve convergir uma estratgia de ao metropolitana,
integradora das polticas estaduais e federais de complementao de
renda e de atuao no mercado de trabalho. A proliferao de mltiplas e
setorializadas aes em cada municpio pode representar menor
efetividade em mbito metropolitano, considerando-se a integrao do
espao territorial e a mobilidade de capital e trabalho (M.
Pochmann, 2002: 148).O autor, ento, aponta que o incremento das
ocupaes deu-se em ritmo inferior ao crescimento da
fora-de-trabalho. Houve investimentos no setor produtivo, mas
insuficientes para solucionar os srios problemas do mercado de
trabalho. Quanto elevao de escolaridade e de qualificao
profissional os esforos tambm tm se mostrados insuficientes no
contexto do grave quadro social do pas, e Campinas e regio no fogem
regra. (M. Pochmann, 2002:149)Por outro lado, Campinas e regio um
dos 50 principais centros de C&T do planeta, sendo que essa
pujana se deve ao trabalho de cada instituio que compe a FFC
(Fundao Frum Campinas). Segundo o jornalCorreio Popularque o mais
importante jornal de Campinas e regio, Campinas se insere na
chamadaNovssima Economia, pois congrega inovaes no ramo de
informtica e tecnologia na qual ressalta-se a biotecnologia.
Frise-se tambm que as empresas do plo tecnolgico de Campinas e
regio respondem por 40% do PIB regional, bem como o fato de quinze
por cento das intenes de investimento no estado de So Paulo at 2005
tinha o plo campineiro como alvo. (cf. Correio Popular
21/09/2003).Um outro aspecto que atrai investimentos o tamanho do
mercado consumidor da regio como um todo, pois Campinas polariza em
sua regio administrativa 90 municpios, com uma populao de 5.916.224
habitantes em 2005 (cf. Governo do Estado de So Paulo/Secretaria de
Economia e Planejamento, 2007).Outra caracterstica das atividades
econmicas o destaque do municpio na oferta de servios
especializados e atividades comerciais. Conforme explicado em Cano
e Brando,
Campinas assegurou escala para atividades como grande rede de
servios bancrios, hospitais regionais e servios mdicos
especializados, comrcio de grande porte e comrcio especializado,
shopping centers, servios pessoais diferenciados etc. Importante
tambm a existncia de grandes universidades e centros nacionais e
estaduais de pesquisa e desenvolvimento, com capacidade para
desenvolver produtos, processos de trabalho e servios tecnolgicos
de apoio atividade industrial e pesquisa (Cano& Brando, 2002:
113).As instituies de fomento ao desenvolvimento localOutro ponto a
ser salientado refere-se a quem so os agentes das aes de
desenvolvimento local. As instituies, grupos e indivduos que esto
envolvidos nas prticas de desenvolvimento: cooperativas, as agncias
de desenvolvimento, associaes industriais e comerciais, entidades
empresariais, sindicatos, governos locais e de outras instncias de
poder. Consideraremos, no mbito organizacional, o papel de algumas
instituies de desenvolvimento local.Pode-se assinalar o papel da
Fundao Frum Campinas (FFC), uma entidade que tem, entre seus
objetivos, dar visibilidade produo tecnolgica da regio. So 11
instituies afiliadas: a UNICAMP, PUCCAMP, Instituto Biolgico,
Instituto de Zootecnia, Ital, Laboratrio Nacional de Luz Sncrotron,
Embrapa, Centro de Pesquisa Renato Ascher, IAC, Centro de Pesquisa
e Desenvolvimento em Telecomunicaes e Coordenadoria de Assistncia
Tcnica Integral.A Fundao Frum Campinas pretende facilitar a troca
de experincias entre as instituies de pesquisa da regio, fomentar a
integrao dessas entidades e tornar melhor sua atuao conjunta. Com a
promoo de projetos multi-institucionais a FFC pretende incentivar a
pesquisa e a transferncia de tecnologia, a organizao dos
empreendimentos, atrair novos investimentos para a regio e criar
oportunidades para os municpios (cf. Correio Popular,
21/09/2003).Dentre as instituies estatais que atuam na coordenao
das atividades econmicas e de fomento da economia local e de certa
forma regional ressaltam-se o fato de diversos municpios da RMC
possurem secretarias municipais que se responsabilizam pelas
questes do desenvolvimento econmico, sendo que alguns municpios
como Campinas possuem uma Secretaria Cooperao Internacional que a
responsvel pela elaborao de polticas de atrao de empresas e de
investimentos para o municpio, bem como de convnios com
cidades-irms, indicando uma certa sofisticao organizacional em sua
organizao e gesto.A CIATEC (Companhia de Desenvolvimento do Plo de
Alta Tecnologia de Campinas) outra importante instituio.
Subordinada Secretaria de Cooperao Internacional do municpio de
Campinas, uma empresa municipal de economia mista, na qual a
prefeitura detm 99 por cento das aes. Tem como principais atribuies
o planejamento e a execuo da poltica de cincia e tecnologia, de
P&D no Plo de Alta Tecnologia (Cf. Correio Popular,
29/09/2003).Segundo Eduardo Grizendi, a regio metropolitana de
Campinas um plo tecnolgico de TICs (tecnologias de informao e
comunicao), suportada por um ambiente frtil em C&T&I e com
instituies como a Unicamp, o Instituto Agronmico de Campinas e
Embrapa (Empresa Brasileira de Agropecuria) [...] [que possuem]
intensa produo cientfica e tecnolgica (E. Grizendi, 2007:41).
Assim, segundo este autor, o Parque Tecnolgico de Campinas pode ser
visto no contexto dos modelos de ambientes intensivos em inovao,
sendo um projeto conjunto da Prefeitura Municipal de Campinas,
Unicamp e Governo do Estado de So Paulo, no mbito do Programa
Sistema Paulista de Parques Tecnolgico.Este parque abriga
instituies de pesquisa como o Laboratrio Nacional de Luz Sncroton e
o CPqD (Fundao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento), alm de cerca
de 30 empresas nacionais e multinacionais predominantemente na rea
de tecnologias de informao e comunicao (cf. E. Grizendi,
2007:40-41).A CIATEC a gestora do Parque e abriga o NADE (Ncleo de
Apoio ao Desenvolvimento de Empresas), uma incubadora de
empreendimentos de base tecnolgica para microempresas e empresas
que desenvolvem novos produtos e servios.No mbito regional, o
governo do estado de So Paulo criou algumas agncias de
desenvolvimento e essas agncias tm como objetivo pensar em solues
para os gargalos do desenvolvimento. Elas tm nos arranjos
produtivos locais um foco relevante. Segundo a Secretaria de
Desenvolvimento do governo do estado, essa forma de organizao das
atividades tem recebido crescente ateno por sua importncia para a
gerao de emprego e renda, para o prprio desenvolvimento tecnolgico
e o crescimento das exportaes.No caso da regio foi criada a
AGEMCAMP (Agncia Metropolitana de Campinas) em 2003, com a
finalidade de integrar a organizao, o planejamento e a execuo das
funes pblicas de interesse comum na regio. Esta agncia fiscaliza as
execues das leis que dispem sobre regies metropolitanas e aplica as
devidas sanes. Tambm estabelece metas, planos, programas e projetos
de interesse comum e fiscaliza e avalia sua execuo. Os objetivos
gerais do governo do estado de So Paulo com, relao s agncias de
desenvolvimento, ampliar formas de cooperao entre as empresas,
facilitar o acesso as informaes relativas a modelos gerenciais e a
novos produtos e tendncias de mercado; articular melhores condies
de financiamento; ampliar o leque e alternativas para a formao de
recursos humanos especficos; facilitar o acesso a novas
tecnologias; e capacitar para a exportao com o mximo valor agregado
(Governo do Estado de So Paulo/Secretaria do Desenvolvimento,
2006:s/p).Certamente, esta viso defendida pelo governo paulista tem
um vis fortemente mercadolgico. Sobre melhorias nas condies de
vida, qualificao profissional e autonomizao dos trabalhadores,
atenuao de desigualdades e justia social paira um estranho silncio.
Assim, essa adoo dos APLs por parte de diversos rgos governamentais
um tema que merece ser melhor discutido academicamente, lembrando
que h no pas diversas iniciativas de fomento e suporte s atividades
produtivas e inovativas de empresas aglomeradas, tanto da parte do
governo federal mas tambm por organizaes no governamentais como o
Sebrae, Apex etc.Alm de variadas estratgias de desenvolvimento
local implementadas pelas municipalidades, diversas outras de
carter metropolitano ou regional tambm vm dinamizando as economias
locais e a regional, tais como as atinentes ao Circuito das guas
(que visam fomentar o turismo), Circuito das Frutas (visando o
turismo e agronegcios), alguns arranjos produtivos locais e parques
tecnolgicos. O governo estadual vem estimulando tambm a criao de
diversos parques temticos. Na RMC j existem o parque de diverses
Hopi Hari e o parque aquticoWetnWildbastante conhecidos.Muitos
municpios que compem a regio participam de outra iniciativa do
governo estadual que so oscircuitos.Os circuitos ou roteiros
constituem uma iniciativa que visa o incremento do turismo e a
gerao de trabalho e renda. Tm a pretenso de fomentar o turismo como
atividade econmica, em uma formatao de pacotes tursticos
competitivos. Novos circuitos vm sendo criados e parte dos
municpios da regio partcipe. Alm do Circuito das guas e das Frutas,
foi criado um novo circuito, o da Cultura Sertaneja que congrega as
festas de peo de boiadeiro.
Consideraes finaisO ponto que este trabalho quer priorizar
refere-se s possibilidades e limites destas estratgias de induo do
desenvolvimento em reduzir as desigualdades sociais e melhorar as
condies de vida de todos, principalmente dos estratos
economicamente mais vulnerveis, bem como sua capacidade em fazer
avanar a democracia.Os principais programas e estratgias de apoio
ao desenvolvimento local da RMC apontam a vocao tecnolgica de
Campinas. Essa vocao muito disseminada. Basta uma rpida olhada em
algunssitescomo o da Prefeitura de Campinas e tambm em diversas
reportagens jornalsticas para se perceber como esta imagem tem
fora. Mas uma vocao algo socialmente construdo. O problema de se
tomar uma dada vocao que muitas vezes esta atividade torna-se
hegemnica ao menos quanto aos investimentos e esforos envidados e,
muitas vezes, no se consideram outras alternativas que poderiam ser
socialmente mais justas.De qualquer forma so significativos os
investimentos que a regio recebe de empresas de base tecnolgica e
tambm tem havido crescentes estudos que apontam atividades
tursticas como um setor potencialmente a ser estimulado[4].Como
reflexo final, gostaramos de resgatar a fala de Francisco de
Oliveira para quem no Brasil h uma sociedade moldada em quadro de
mais-valia extrada de forma violenta e de alta concentrao de renda.
No mundo do trabalho o que se chamava de informalidade virou regra
e o emprego estvel virou privilgio, como bem atesta a discusso
sobre a reforma da Previdncia. Enfim, cada vez mais vivenciamos um
capitalismo que prescinde de trabalhadores.Neste contexto, as
polticas de emprego e renda acabam por aprofundar o desemprego ou a
precarizao do trabalho, j que qualificar certos trabalhadores
qualific-los para a obsolescncia, pois muitas dessas novas
qualificaes iro se tornar inteis ou desqualificadas rapidamente.O
mesmo cunho interpretativo Francisco de Oliveira d para as polticas
de combate pobreza, muitas vezes confundidas como estratgias de
desenvolvimento local. Segundo ele, tais polticas acabam, na
verdade, por mant-la. Dentre as razes: muitas das polticas de gerao
de emprego, de qualificao profissional preparam trabalhadores tendo
a Segunda Revoluo Industrial como horizonte, quando a Revoluo
Tecnolgica est l na frente.Assim, conclui Francisco de Oliveira, se
a pobreza era desafio para o socialismo, hoje busca de consolo para
sua no resoluo, como se fosse algo insolvel e, se admitida como
insolvel, acaba por se transformar em argumento para sacrificar as
polticas pblicas e as poltics de desenvolvimento local.A crtica de
Francisco de Oliveira no quer calar e defender que as gestes locais
tenham um pouco mais de ousadia no trato da temtica do
desenvolvimento local pode ser um gesto pequeno, mas poderoso no
sentido de romper com esta lgica perversa que cada vez mais marca o
atual estgio do capitalismo. Efetivamente, medidas paliativas de
combate pobreza extrema e vulnerabilidade social no avanam no
sentido de tornar uma economia local realmente prspera, que gere
frutos que possam ser distribudos junto maioria.Notas
[1] Para maiores esclarecimentos, sugerimos a leitura do
trabalho de E.M. Jimnez (2001), no qual faz importantes consideraes
crticas a esses trabalhos pioneiros e seus primeiros
desdobramentos.[2] ] No Atlas Seade da Economia Paulista h
disponvel, dentre outros mapas, o da Regio Metropolitana e seus
municpios e o da Regio Administrativa de Campinas e seus municpios.
Disponvel em: www. seade.gov.br.[3] ] Seu sistema virio composto
pelas rodovias Anhangera e Bandeirantes, Washington Lus, Santos
Dumont e Dom Pedro I. Tais rodovias, que cortam o municpio,
permitem outras interligaes com outras rodovias. No geral tais vias
so consideradas modernas, ainda que muitas delas sejam concesses a
empresas privadas com sistemas de pedgios com custos altos para os
usurios. H tambm as ferrovias, sendo uma parte da malha operada
pela Ferroban (Mato Grosso do Sul- Porto de Santos), outra parte da
malha operada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos,
antiga Estrada de Ferro Santos Jundia. A Hidrovia Tiet Paran tem
sua porta de entrada no municpio de Piracicaba, municpio da RA de
Campinas. E a regio servida pelo gasoduto Bolvia-Brasil.[4] ] No
caso do turismo so sempre ressaltadas as potencialidades das
modalidades de turismo de negcios e acadmico (por causa da Unicamp
e PUCCamp), do turismo rural nas antigas fazendas de caf, por
exemplo, e o agroturismo.
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Nova
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