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onde viver possvelReflexes terico-prticas de arquitectura e
arte
Dissertao de Mestrado Integrado em ArquitecturaMaria Catarina
Bota Vasques Leal
Apresentada ao Departamento de Arquitectura FCTUC 2012sob
orientao do Prof. Dr. Joo Mendes Ribeiro
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Agradecimentos
Obrigada por tudo.
MePai
AvPedroJoana
MafaldaCludiaSusanaMrio
EmmanuelCarolina
FilipeLusaJoo
e amigos
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onde viver possvelReflexes terico-prticas de arquitectura e
arte
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Sumrio
Introduo
1. Arquitectura e Arte
1.1 De traos dados[notas breves sobre a relao da arquitectura e
arte do sculo XX]
1.2 Territrio, Forma e Espao-Tempo[Uma proposta de entendimento
enquanto momentos de anlise, reflexo e criao]
1.3 Aires Mateus e Fernando Calhau [O cabimento na
investigao]
2. Aires Mateus e Fernando Calhau
2.1 De um ponto ao infinito[Reflexes sobre o territrio]
2.2 Materializao de um Quadrado imaginrio [Reflexes sobre a
Forma]
2.3 Stage [Reflexes sobre o espao-tempo]
3. Casa em Brasfemes
3.1 Vrios tons de verde[anlise e descrio do territrio]
3.2 gua dura em pedra mole[implantao e desenho da forma]
3.3 Onde a vida possvel[criao de limites do espao-tempo]
3.4 Desenhos Tcnicos
Concluso
Bibliografia
Tbua de ilustraes
9
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13
21
27
33
35
41
49
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59
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71
85
89
93
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A caminho de Brasfemes
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Introduo
Ningum perguntou aos artistas de ontem e de hoje o que arte,
perguntou-se que da linha pura, sbria, clara, pedra mortificada,
porque a forma, a forma tal como se mostra, cansa-nos e gasta-nos.
Por isso, sem voltas, nem caprichos, abriram-se-nos os olhos,
isolados entre a multido forasteira, sentados, alheios aos rudos, o
que nos entretinha era a vida.1
Nesta dissertao propomos uma viagem onde as coordenadas nos so
dadas pela relao estabelecida entre a arquitectura e a arte. Nesta
viagem, e fazendo-nos acompanhar dos arquitectos Manuel e Francisco
Aires Mateus, e do pintor Fernando Calhau, propomos trs paragens
obrigatrias o territrio, a forma e o espao-tempo. Momentos de
reflexo e criao, essenciais para chegar ao nosso destino Casa em
Brasfemes.
No captulo 1 prope-se uma anlise da histria da arquitectura e da
arte do sculo XX, dividida em dois momentos representativos. Um
primeiro, esclarecedor do resultado das filosofias racionalistas
que marcaram o inicio do sculo, e um segundo, elucidativo do
pensamento humanizado, desenhado ao longo da segunda metade do
sculo. Posteriormente feita uma aproximao ao nosso entendimento das
terminologias reflexivas e criativas territrio, forma e espao-tempo
seu significado e implicao no momento de criar arquitectura e arte.
Por ltimo esta pesquisa apresenta uma reflexo justificativa da
escolha dos arquitectos Manuel e Francisco Aires Mateus e do pintor
Fernando Calhau como casos de estudo importantes ao nosso
trabalho.
No captulo 2 sugerida uma procura consciente das relaes
implcitas arquitectura dos Aires Mateus e arte de Fernando Calhau,
tendo em conta o territrio, a forma e o espao-tempo como pontos
orientadores de reflexo e anlise.
Finalmente, no captulo 3, apresentado o projecto Casa em
Brasfemes, atravs de desenhos e imagens que surgem como o resultado
da anterior reflexo terica acerca do territrio, a partir do qual
possvel definir limites, transformados em forma, dentro da qual se
desenha o espao e o tempo. Este captulo surge como resultado da
anlise terica, em conjunto com as impresses proporcionadas por esta
viagem planeada pela arquitectura e pela arte.1 LISBOA, Isabel,
citada por ALVES COSTA, Alexandre, Pela paisagem pobre, irrenovada
in S ns e Santa Tecla. Porto: Dafne, 2008. P.59.
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1. Arquitectura e Arte
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Fig. 2 Quadrado negro sobre fundo branco, Kazimir Malivitch
1915
Fig. 1 Villa Savoye, Le Corbusier 1928
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1.1 De traos dados[notas breves sobre a relao da arquitectura e
arte do sculo XX]
No possvel entender a evoluo da arquitectura e do urbanismo
moderno sem levar em conta as suas contnuas relaes com a arte.2
A arquitectura e as artes tm desde os seus primrdios vindo de
braos dados a traar os seus prprios caminhos, marcados por desvios
de direco que mais no fazem que assinalar mudanas de paradigmas. De
forma a melhor compreender, intervir e construir um olhar crtico,
nada como reflectir sobre as atitudes, os motivos e consequncias
que desenharam e construram o legado da arquitectura e das artes.
Esta anlise ser feita essencialmente tendo em conta a abordagem ao
territrio, ao desenho da forma e criao do espao-tempo, atravs de um
paralelismo antagnico que ficou desenhado pelo incio e a segunda
metade do sculo XX.
As produes arquitectnicas e artsticas, at meados do sculo XIX,
procuravam o seu gnio e inspirao no mundo real, atravs da
representao mimtica da natureza. Evidenciam nos finais do sculo
XIX, um paulatino abandono da arte da mimese, atravs da crescente
procura de novas guias de expresso, assentes numa mentalidade
racional, funcional e sistemtica. Estas ideias viriam a expressar a
revoluo que se desenhou ao longo do sculo XX. A atitude crescente
de cortar com um passado entregue natureza, em favor da mquina, das
tecnologias e da velocidade, como resposta s novas necessidades do
homem moderno, foram factores determinantes, que se manifestaram na
arquitectura e nas artes no incio do sculo passado.
Na arquitectura, a evoluo tecnolgica e a implementao das
primeiras estruturas pr-fabricadas, aliadas sistematizao e criao de
modelos funcionais onde a arquitectura era trabalhada como objecto
maquinal, foram factores cruciais explorao de uma arquitectura de
carcter nmada. Uma arquitectura que no se agarra, no estabelece
relaes, no cria razes com o territrio. Esta relao, ou melhor
dizendo, a falta dela, torna-se evidente quando analisamos as
primeiras obras de Le Corbusier.2 MONTANER, Josep Maria in A
Modernidade Superada, Arquitectura, Arte e Pensamento do Sculo XX.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001, P. 149.
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Fig. 3 Casa Schroder, Gerrit Rietvelt, 1920 Fig. 4 Guitarra,
Pablo Picasso, 1912
Fig. 5 casa Farnsworth, Mies Van Der Rohe, 1951 Fig. 6 Composio
com vermelho, amarelo e azul, Piet Mondrian, 1921
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A Villa Savoye (Fig.1) um exemplo representativo e evidente do
assumir da arquitectura, como objecto que funciona e trabalha com
total autonomia da sua envolvente utilizando o lugar especfico como
uma simples plataforma de provas.3
Tambm nas artes plsticas, o incio do sculo XX ficou marcado pelo
afastamento gradual do territrio. Neste momento da histria criada
uma nova linguagem, onde as linhas, os planos geomtricos e as cores
puras, se assumem como protagonistas de uma luta pelo anti-orgnico.
Esta linguagem, explorada e iniciada pelos cubistas, transmitida
atravs da decomposio e desfragmentao do real, com o intudo de
alcanar o mnimo representativo. Atravs do abstraccionismo geomtrico
trabalhado pelas mos dos suprematistas, foi possvel formalizar a
ruptura total com o territrio, um bom exemplo desta nova linguagem
representativa, visvel na obra de Kazimir Malivitch, quadrado negro
sobre fundo branco (Fig.2).
Neste incio de sculo, a forma ou volumetria da arquitectura,
tambm alvo de transformao, consequncia dos imperativos da poca.
Esta assume contornos puristas, geomtricos e precisos. Um trabalho
compositivo de planos, que permitem fechar e delimitar o objecto,
com total liberdade em relao ao espao interior e, como vimos
anteriormente, autnoma ao territrio. A casa Schroder, (Fig.3) do
arquitecto holands Gerrit Rietvelt, um projecto formalmente curioso
pela relao que estabelece com a pintura, mais concretamente com a
composio pictrica de Piet Mondrian. De destacar ainda a aplicao dos
16 pontos de uma arquitectura plstica, sugerida por Theo Van
Doesburg (1924), que enfatiza a importncia que dada neste perodo da
histria teorizao e criao de mtodos e sistemas, como formulas
matemticas aplicvel arquitectura.
Esta forma, traduzida e comunicada no incio do sculo atravs da
decomposio e base geomtrica, tambm trabalhada pelas artes plsticas.
Uma das obras representativas da forma criadora e provocatria deste
afastamento formal e consciente do objecto real, a guitarra (Fig.4)
de Pablo Picasso, uma obra representativa das suas palavras quando
afirma que a questo principal a forma e quando se cria uma forma
ela est l e vive a sua prpria vida.4
A concepo do espao foi onde se centrou a ateno da primeira gerao
de arquitectos modernistas. Este espao, assente na doutrina
funcionalista e racionalista, segue o desenho de planta livre, onde
os espaos interiores so trabalhados como um nico espao. Por sua
vez, este espao possibilitado pelo desenho estrutural autnomo e
enfatizado pelo uso de grandes planos de vidro, onde a luz desenha
da mesma forma o nico espao-tempo. Um exemplo representativo desta
nova composio espacial, possibilitada pelos claros avanos da
engenharia, a casa Farnsworth (Fig.5), do arquitecto Mies Van Der
Rohe. Esta obra surge como smbolo perfeito das premissas delegadas
pela arquitectura do incio do sculo XX. 3 Idem, ibidem. P.434
PICASSO, Pablo Citado por Schneckenburger, Manfred in Arte do Sculo
XX, Escultura. Koln: Taschen, 2001, P.429
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Fig. 8 Uma Linha Feita a Caminhar, Richard Long, 1967Fig. 7 Casa
da cascata, Frank Lloyd Wright, 1936
Fig. 9 Casa Schminke, Hans Scharoun, 1933 Fig. 10 Peine del
viento, Eduardo Chillida, 1977
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O trabalho do espao nas artes plsticas desta poca pode ser
encontrado e interpretado atravs da leitura das composies dos
planos pictricos. Os contornos de formas geomtricas e puristas
delimitam e desenham espaos; e esta evidncia visvel na facilidade
com que so transportados para a criao de espaos e formas da
arquitectura. Este espao aqui referido evidente, por exemplo, na
interpretao da obra Composio com vermelho, amarelo e azul (Fig.6)
de Piet Mondrian, que oferece e cria coordenadas ntidas construo de
espaos arquitectnicos.
A importncia do passado como base de ensinamento da arquitectura
e das artes e a rejeio e esgotamento de algumas das temticas
representativas do inicio sculo XX acontecem sobretudo a partir da
dcada de 30. Tendo sido exaltadas na segunda metade do sculo XX,
estes paradigmas funcionaram como aspectos fundamentais que
permitiram abrir uma brecha e reconstruir valores que tinham sido
destrudos pela tbua rasa do incio do sculo. Desta forma, visvel na
arquitectura uma mudana reflexiva e construtiva no sentido de
humanizar e encontrar um equilbrio consciente entre a natureza e a
maquina. Por sua vez, nas artes, este perodo da histria difcil de
caracterizar ou traar uma linha pensante, ou melhor, a nica linha
possvel ser mesmo o perodo de exaltao dos sentidos. Este o momento
da historia da arte que fica marcado pala entrada em cena do vdeo e
da performance enquanto meios possveis de comunicar e trabalhar a
arte e pela importncia do fenmeno assinalado pela sada da arte
rua.
Neste perodo, a arquitectura volta a encontrar o territrio como
pressuposto indissocivel do pensar e do fazer. Atravs da anlise e
reflexo do passado, so recriados e utilizados elementos da
arquitectura popular de forma simples, adaptando-a s novas
possibilidades construtivas. A casa da cascata (Fig.7) da autoria
do arquitecto Frank Lloyd Wright um projecto exemplar de resposta a
esta integrao, pela mestria com que se adapta ao territrio
envolvente, fazendo uso da prpria natureza, como parte integrante
da arquitectura.
Na arte, a presena do territrio fica neste perodo salvaguardada
muitas vezes de uma forma limite, atravs da utilizao desse mesmo
territrio como plano onde registada a aco criativa. Esta abordagem
evidente num de muitos trabalhos de Richard Long intitulado Uma
Linha Feita a Caminhar (Fig.8).
Tambm a partir da dcada de 30 do sculo XX se testemunhou uma
transformao da forma, em resposta racionalidade parca em
significado. Atravs de uma atitude reactiva, vrios arquitectos
exploraram neste momento de viragem a utilizao da linha orgnica
como contraponto ao purismo geomtrico. A casa Schminke (Fig.9) do
arquitecto Hans Scharoun destaca-se pela capacidade criativa com
que cose a arquitectura, utilizando a linha da natureza.
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Fig. 11 casa experimental, Alvar Aalto, 1953Fig. 12 tneis de
Sol, Nancy Holt,1970-1980
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Neste perodo, a forma da arte, aqui analisada segundo os
contornos da escultura, assume atravs de vrios artistas o querer
agarrar o territrio. Eduardo Chillida surge como mestre desta arte,
num trabalho de forma que se traduz em medies de fora e jogo de
tenses com a noo de territrio. Esta abordagem clara no trabalho
Peine del viento (Fig.10), onde o artista trabalha o brutalismo e o
dramatismo da forma, sublinhados pelo o uso do ferro como que um
prolongar criativo da prpria natureza, onde o tempo ser tambm ele
escultor.
O trabalho de concepo do espao , na segunda metade do sculo XX,
representativo da mudana de paradigma, evidenciada pela procura de
uma quarta dimenso. A utilizao dos planos de vidros cautelosamente
dimensionados e localizados, permitem no s enquadrar a paisagem,
como tambm construir espao atravs da luz, ou seja, espaos
construdos pelo tempo. A casa experimental (Fig.11) do arquitecto
Alvar Aalto surge no como um exemplo magistral da concepo do espao,
mas sobretudo por representar uma procura de novas materialidades,
formas construtivas, e filosofias, sublinhando a importncia do
experimentalismo, essencial descoberta de novas variveis que
permitem construir novas e melhores arquitecturas, e em desfavor de
um mtodo ou sistema de fazer arquitectura.
A arte da ltima metade do sculo XX testemunha uma tentativa de
representar o espao que valorize a luz como elemento construtor e
pertencente a esse mesmo espao. Os tneis de Sol (Fig.12) da artista
Nancy Holt so um exemplo ilustrativo desta tendncia, onde o tempo
no apenas um conceito mental ou uma abstraco matemtica. Ele pode
tambm tornar-se numa presena fsica. 5
5 HOLT, Nancy citada por Grosenick, Uta in Mulheres Artistas,
Nos Sculos XX e XXI. Koln: Taschen, 2005, P.145.
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O territrio, a forma e o Espao-tempo, surgem ao longo do
presente trabalho como momentos importantes criao e estruturadores
centrais na lgica da linha de reflexo. Desta forma, esta pesquisa
prope encontrar as linhas que balizam estas terminologias, o seu
significado e relevncia. O modo como so interpretadas e
comunicadas, surgem como aspectos fundamentais ao conhecimento da
arquitectura e da arte.
O territrio, espao envolvente fsico e real que nos envolve, sem
duvida, um pressuposto que nos influencia, condiciona e guia. nele
e atravs dele que se torna possvel pensar, analisar, criticar e
fazer arquitectura e arte. Numa constante soma e subtraco, como uma
obra em constante construo e desconstruo.
Para a arquitectura, o territrio traduzido pelo local de
interveno. Este territrio um aspecto importante e pertinente que,
ao longo da histria da arquitectura, tem sido considerado e
abordado de diversos modos, atravs de diferentes nveis de
significado e importncia, tal como referido na leitura histrica
anteriormente abordada. Na verdade, no existem regras ou formas
matemticas de bem intervir, sendo que a anlise e conhecimento de um
dado territrio uma questo assente na percepo, conhecimento, e nas
memrias que constroem os valores prprios de cada arquitecto. O
arquitecto, por sua vez surge como o construtor de uma marca, de um
sinal, traduzido na vontade de assinalar e construir o lugar.
Por outro lado, no plano das artes, o territrio entendido como a
materializao representativa da temtica do lugar construdo e de
paisagem natural uma representao que tem ao longo dos anos assumido
distintos contornos. Este territrio pode tambm ser palco das artes,
quando a arte se assume como interveno fsica que se instala na
paisagem. O reconhecimento e leitura que o artista faz deste
territrio, a forma como o utiliza e o transforma em matria e legado
inspirador, so neste trabalho, entendidos como intenes de anlise e
reflexo.
1.2 Territrio, Forma e espao-tempo[Uma proposta de entendimento
enquanto momentos de anlise, reflexo e criao]
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A forma surge como expresso fsica, objecto volumtrico,
referencial e matrico que se implanta e se desenha e existe no
territrio. Este objecto, que tem altura, largura, profundidade e,
consequente, volumetria e geometria, tem tambm peso, texturas,
cores, luz e sombra. A forma de que falamos e que existe no
territrio veculo indispensvel e cdigo de linguagem que permite
tanto arquitectura como arte, comunicar.
A forma desenhada pela arquitectura tida e analisada como limite
exterior do espao habitado, que atravs da matria e da estrutura,
elementos fundamentais arquitectura, se traduzem em volumetria
formal. Esta Forma no deve ser tratada como consequncia arbitrria,
mas o resultado construtivo de uma srie de variveis, que contemplam
o resultado da anlise do territrio e a construo de uma linguagem
adequada, de maneira a comunicar e justificar as ideologias que a
suportam.
Para as artes, a forma entendida como limite exterior e definida
por matria, que remete a um paralelismo com a arquitectura, quando
a arte a escultura. Contrariamente, para a pintura, a forma
coincide com os limites do suporte, tela ou o limite de qualquer
outra superfcie que receba o desenho/pintura. Tambm possvel
delimitar a forma quando a fotografia, o filme e o vdeo so tcnicas
utilizadas: o resultado fsico do suporte de impresso, no caso
fotografia, e dos limites criadores de enquadramento resultantes da
projeco de filmes e vdeos.
Neste estudo, e tendo em vista uma aproximao obra de Fernando
Calhau, a forma tambm entendida como limite do suporte tcnico
quando a bobine e pelcula so consideras o objecto de arte,
portadores, assim, dos seus prprios limites. Esta ideia clarificada
adiante na presente dissertao, atravs de uma anlise mais profunda e
pela leitura das palavras conclusivas e justificativas do
artista.
O espao-tempo a consequncia da criao de espao, tendo em vista a
criao de uma quarta dimenso traada pelo tempo. Este momento fsico,
s possvel de ser interpretado quando se transpem os limites da
forma, e se desenham e contemplam os contornos interiores a ela,
limites que no desenham apenas um espao mas tambm um tempo.
Para a arquitectura, este espao-tempo, representado no s pela
materialidade fsica que organiza o interior da forma, mas tambm
pelo desenho criador de espaos delimitados pela luz, essenciais ao
reconhecimento, e atravs do qual a arquitectura se torna viva.
No plano das artes, o espao-tempo ganha uma amplitude que
permite um variado nmero de leituras, atravs da conotao conceptual
que lhe pode ser associada. A sua representao mais evidente tem
leitura e lugar na
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escultura, quando a luz e a sombra, so elementos essenciais
comunicao e materialidade do objecto esculpido. O espao-tempo pode
tambm ser interpretado quando o suporte planimtrico, com a anlise
da composio desenhada pelos contornos representativos do ponto, da
linha, do plano, da mancha, da cor, quando estes criam limites que
permitem no s delimitar espaos mas tambm interpretar o tempo. Este
tempo facilmente legvel quando a luz-sombra e o claro-escuro so
utilizados conscientemente como parte integrante da construo desta
quarta dimenso.
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1.3 Aires Mateus e Fernando Calhau[O cabimento na
investigao]
De modo a complementar e exemplificar o paralelismo e reflexo
proposta entre arquitectura e arte, centrado na abordagem e leitura
do territrio do desenho da forma e da criao do espao-tempo, o
presente trabalho pretende uma aproximao ao trabalho dos
arquitectos Aires Mateus e do artista Fernando Calhau, ou melhor
dizendo do pintor, como gostava de ser apresentado. A inteno de
seleccionar arquitectos e artistas do panorama portugus, aliou-se,
nesta dissertao, ao interesse e reconhecimento do trabalho de
qualidade dos Aires Mateus e de Fernando Calhau. Contudo, as razes
para esta escolha fortaleceram-se graas a vrios outros factores que
sero referidos a seguir.
A arquitectura de Manuel e Francisco Aires Mateus fascina pela
clareza e simplicidade com que se afirma, esculpida por coordenadas
geomtricas precisas. Aqui, o objecto, que forma da arquitectura,
criado como um laboratrio, construdo continuamente por quem o
habita, e onde o tempo desenhado pela luz, que permite a criao de
espaos onde a vida possvel.
Paralelamente, a importncia que esta dupla de arquitectos d ao
objecto casa, surge como fundamental, visto ser a temtica tipolgica
a desenvolver na parte prtica do presente trabalho, e a ser
apresentada no ltimo captulo.
Ns achamos que a casa fundamental para o trabalho de um
arquitecto, no s pela escala do projecto mas mais pelo compromisso
com o prprio dono de obra. Este lado afectivo que as pessoas tm com
o projecto de uma casa acaba por nos obrigar a uma investigao muito
profunda6
Outro dos aspectos tidos em conta na escolha da anlise da obra
de Francisco e Manuel Aires Mateus, a importncia e reconhecimento
que a arte tem na criao da sua arquitectura. A pesquisa e
aprendizagem da arte so condutoras e inspiradoras dos seus
trabalhos, visvel e sublinhada na forma como trabalham o objecto
arquitectnico como escultura7.
6 AIRES MATEUS, Manuel Yes MAM in Indexnewspaper n2, Porto:
20127 Este interesse pelas artes e plasticidade particular
arquitectura dos Aires Mateus, ficou sublinhada na forma como foi
organizada a exposio: Aires Mateus: Arquitectura (CCB, 2005) que
foge completamente aos contornos normais de uma exposio de
arquitectura, numa intenso clara de exaltao dos sentidos, e de um
experimentar e construir o espao. Uma exposio coerente com os
objectivos da arquitectura desta dupla, que comunica para alm dos
desenhos tcnicos e das maquetas apresentadas.
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Fig. 13 House of Cards, Richard Serra, 1969
Fig. 15 House, Louise Bourgeois, 1994
Fig. 14 The Poets House, Eduardo Chillida, 1980
Fig. 16 House, Rachel Whiteread, 1993
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Eu gosto muito da relao com a arte. Gosto muito da no desculpa,
da impossibilidade, da condio de preciso, gosto imenso da ideia de
no haver recuo e acho que a arquitectura procura muitas vezes essa
ideia de recuo, a ideia de se poder refugiar em questes de carcter
funcional Ns temos de chegar exactamente ao mesmo nvel de preciso
do artista.8
A influncia da arte escultrica na arquitectura da dupla Aires
Mateus clara. Nela encontramos influncias desde a capacidade
criativa dos espaos de tenso das lminas de ao de Richard Serra
(Fig.13), aos traos simples, aos recortes e limites preciso do
preto e do branco da sombra e da luz da obra de Eduardo Chillida
(Fig.14), liberdade extrovertida e potica da artista Louise
Bourgeois (Fig. 15), e at a presena do trabalho de molde, do
negativo-positivo da escultora Rachel Whiteread (Fig.16).
O interesse pela obra do pintor Fernando Calhau reside sobretudo
na sua capacidade criativa e conceptual, visvel na sua abordagem
simplista, clara e precisa. Por outro lado, destaca-se a importncia
do rigor associado ao tempo do fazer, e representao e leitura
visvel desse processo como parte integrante da obra. a exaltao do
negro, do peso, do limite, do vazio, do claro-escuro, associadas a
um pragmatismo invulgar de um artista completo.
Eu usava um sistema simples: o quadro funciona, ou no funciona.
Era necessrio voltar () a trabalhar outra vez at funcionar, ou seja
at que o conceito que estava a ser posto em evidncia se tornasse
evidente, no ficasse completamente blurred, desfocado ou fora de
foco.9
Se na obra de arquitectura dos Aires Mateus possvel vislumbrar a
influncia artstica, no mesmo importante para a presente anlise, a
preocupao e presena de reflexos e pensamentos arquitectnicos
presentes na obra do pintor Fernando Calhau.
Desde da preciso e rigor como afirmao de obra concluda,
preocupao e visibilidade do processo na obra do pintor, entendida
como construo, possvel a leitura das vrias opes em cada fase do seu
trabalho. O pintor explora obsessivamente os conceitos de
espao-tempo, transpondo para os seus quadros atravs da utilizao do
preto e do branco, da luz e sombra numa aluso ao dia e sobretudo
noite. As suas fotografias, permitem desenhar o limite do construdo
e do vazio.
evidente a importncia dada ao ferro, ao peso, como um trabalho
ou laboratrio de construo, transferido para a sua pintura atravs da
acumulao de vrias camadas de tinta. Este mtodo cria uma gravidade e
um-cada-vez-mais-pesado10 que o atrai. Fernando Calhau explora as
preocupaes quanto s dimenses e propores das suas obras na relao que
estas estabelecem com o espao expositivo. Este o momento em que,
segundo Calhau, d existncia obra.
8 AIRES MATEUS, Manuel in ibidem.9 CALHAU, Fernando Sem Rede.
Uma conversa com Fernando Calhau, em quatro noites de Fevereiro de
2001 in Work in Progress. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2001.
P.87-89.10 CALHAU, Fernando in ibidem. P.185.
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Fig. 17 Untitled, Donald Judd, 1965
Fig. 18 Men in her life, Andy Warhol, 1962
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Tenho uma relao intensa com a arquitectura. Tem a ver com as
preocupaes mnimas, mas tambm com um programa de interesse que me
levou quase a seguir arquitectura. Cheguei a pensar que iria ser
arquitecto, mas depois pareceu-me que seria excessiva maada e
decidi ser pintor.11
Paralelamente a este interesse evidente pela arquitectura,
importante salvaguardar a importncia de dois artistas americanos,
fundamentais construo do percurso artstico de Fernando Calhau. Se
por um lado Donald Judd (Fig. 17) delineou o seu cavalo de batalha,
atravs da utilizao do mnimo de meios expressivos, anulao de rudo e
procura do essencial; por outro, a Andy Warhol, (Fig.18) foi beber
questes visuais e tcnicas de representao, num abrir de olhos, ao
potencial e poder representativo da serialidade.
11 CALHAU, Fernando in ibidem.
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2. Aires Mateus e Fernando Calhau
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2.1 De um ponto ao infinito[Reflexes sobre o territrio]
Numa aproximao e anlise s questes do territrio e sobre o
territrio, a presente dissertao pretende compreender a linha de
pensamento que constri a abordagem de Francisco e Manuel Aires
Mateus quando intervm no territrio atravs da Arquitectura,
detentora do poder de desenhar o novo lugar, o lugar da futura
arquitectura. Porque o territrio tambm se desenha atravs das artes,
que por sua vez surgem e se fazem de memrias e matria deste,
propomos encontrar as directrizes que comandam o pintor Fernando
Calhau, quando o territrio protagonista e pressuposto criativo.
O discurso objectivo, claro e assertivo da dupla de arquitectos
Aires Mateus permite uma compreenso facilitada da sua atitude e da
sua forma de trabalhar e de interpretar o territrio, aspectos que
permitem aos arquitectos garantir uma coerncia construda de lugar,
atravs da sua arquitectura. Campo Baeza refere que estes So ntidos.
No tomam o lugar como referncia para se adaptarem a ele, mas sim
como ingrediente (material do projecto, dizem eles) para esse novo
produto.12
Francisco e Manuel Aires Mateus no lem o territrio como um
factor passivo, antes pelo contrrio, procuram nele o ingrediente
activo, capaz de se transformar, ele prprio, em matria construtiva
da prpria arquitectura. Analisam o territrio e sintetizam essa
anlise ao essencial, diluem as restries atravs da exaltao das
potencialidades do stio.
Um bom exemplo desta procura, consequente descoberta, e utilizao
do ingrediente como matria de projecto, est nitidamente explorado
na casa em Alenquer (Fig.19). Este projecto em que a runa
preexistente trabalhada como matria, limite da nova arquitectura,
combina o tempo do antigo e do novo, sendo estes criadores de um
mesmo espao, circunscrito na forma que redesenha o lugar.
A fotografia recorrente como tcnica de processo de trabalho,
atravs da qual os arquitectos descobrem e registam o territrio.
Trata-se de um registo de provas e pistas que desenham o trilho do
mnimo como essencial. O territrio dado a conhecer atravs de uma
imagem, cautelosamente seleccionada e tratada a preto e branco13.
Esta imagem tem a particularidade intencional de no mostrar
12 BAEZA, Campo Escavando o ar, Sobre a Arquitectura de Manuel e
Francisco Aires Mateus in Pensar com as mos. Casal de Cambra:
Caleidoscpio, 2011. P.9313 O tratamento da fotografia a Preto e
Branco vai de encontro ao grafismo utilizado pelos arquitectos.
Onde os espaos utilitrios so pretos e de circulao so brancos (ou
vice-versa).
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Fig.19 Casa em Alenquer, Aires Mateus
Fig. 20 Casa em Alvalade, Alentejo, Aires Mateus Fig. 21 Casa em
Alccer do sal, Aires Mateus
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36 - 37
o territrio segundo traados ntidos e campo de viso ampla, mas
atravs de um composio de planos, elementos e texturas que comunicam
para alm da prpria realidade. A estas imagens so somadas algumas
palavras descritivas, que nos permitem continuar a desenhar, fora
dos seus limites, at ao infinito.
O lote infinito , um terreno de ondulao suave pontuado por
sobreiros. O projecto surge como um ponto no territrio.14 (Fig.
20)
Num territrio de pinhal aparentemente infinito, a implantao da
casa assinala um ponto.15 (Fig.21)
Esta leitura de infinito associado ao territrio vem reforar a
ideia de que a informao visual retirada do stio e concentrada numa
imagem suficiente. O que no se v, mais no que a sua repetio. Outro
aspecto curioso a descrio dos objectos arquitectnicos como pontos
numa utilizao consciente e figurativa da escala das palavras num
territrio que se diz infinito. Este discurso claramente intencional
utilizado de forma a reforar as suas arquitecturas precisas e de
limites bem definidos, atravs de um objecto que se assume como
parte integrante do territrio.
() o que delas se espera um desvanecer das origens at imerso
absoluta naquilo que as circunda, at que se confundam com o cho,
onde assentam como uma pedra de fecho.16
A noo de territrio tambm trabalhada por Fernando Calhau, segundo
contornos de um olhar exigente, selectivo e atento que tem como
foco a paisagem natural, no construda. Este olhar traduz-se num
trabalho criativo e de preciso, capaz de abstrair o rudo e exaltar
o fundamento, que posteriormente materializado atravs do mnimo de
expresso.
Essa necessidade de pouca coisa s podia vir de uma pessoa que
via mais do que ns.17
Atravs de uma viso deliberadamente enquadrada, onde o limite
assume um desenho cirurgicamente traado, Calhau inicia o
monocromatismo dos seus quadros verdes 18 (Fig.22). Atravs deles o
pintor inicia a sua representao mnima do territrio.
() eram planos verticais, funcionavam um pouco como janelas,
como ecrs quer dizer, talvez mais ecrs do que janelas. Se rebateres
esses planos verticais para o horizonte, comeas a ter superfcies
semelhantes superfcie do mar, superfcie da relva, superfcie da
areia. Superfcies, no fim de contas, que so paisagens. ()19
14 Fragmento da Memria descritiva da Casa em Alvalade, Alentejo
in Catlogo da exposio Aires Mateus: Arquitectura, Centro Cultural
de Belm. Lisboa: Almedina/Fundao CCB, 2005.15 Fragmento da Memria
descritiva da Casa em Alccer do Sal, in ibidem.16 SEIXAS LOPES,
Diogo Abstraktkabinett in ibidem.17 SARDO, Delfim; inConvocao I e
II (Modo Menor e Modo Maior). Obras no Acervo do CAMJAP. Lisboa:
Fundao Calouste Gulbenkian, 2006.18 Os Quadros Verdes, 1972-1974 so
obras anteriores ida de Fernando Calhau para Londres com Bolsa da
Fundao Calouste Gulbenkian, para estudar gravura com o artista
Bartolomeu Cid dos Santos.
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Fig. 22 Quadros verdes, Fernando Calhau, 1974-75
Fig. 23 De um ponto ao infinito, Fernando Calhau, 1976
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Posteriormente execuo dos quadros verdes, Fernando Calhau
encontra no suporte fotogrfico, flmico e videogrfico, uma
possibilidade de explorar uma nova linguagem plstica. Consciente da
capacidade criativa do territrio, o pintor desenvolve, ao longo da
sua vida profissional, vrios trabalhos que lhe permitem explorar
esta viso picada e em tenso com a paisagem. O pintor escolhe a
anulao intencionada de referncias, que impossibilita a criao e uma
leitura da imagem normalizada de paisagem.
Mas eu nunca fotografava o horizonte, ou seja, o enquadramento
nunca permitia que se visse o horizonte. Portanto, cortava a
possibilidade de criaruma paisagem. Uma paisagem clssica tem
sempre, enfim, a terra e sempre o cu.20
Uma das obras de Fernando Calhau, que neste trabalho destacada
dando nome ao presente sub capitulo, um trabalho que resume
fortemente a inteno do pintor na captao da paisagem existente no
territrio. De um ponto ao infinito21 (Fig. 23), consiste num
conjunto de oito fotografias a preto e branco, de sucessivos close
ups, que tm por base a imagem centrada nas folhagens de um arbusto.
Esta obra, para alm de reforar a ideia de processo e seriao, to
caras ao pintor, tambm ilustrativa, demonstrativa e conclusiva das
suas intenes, quando este refora, atravs dela, que a sucessiva
aproximao de uma imagem real de paisagem nada mais do que um plano
monocromtico.
A obra de Calhau que se entrega ao domnio do territrio sobre a
temtica de paisagem encontra assim, na no-paisagem, o seu
verdadeiro campo de aco. Esta assumida, trabalhada e evidenciada
como ideia de plano esttico e monocromtico. Desenvolvida
conceptualmente ao longo da sua vida profissional, esta ideia fica
teorizada num dos seus ltimos trabalhos, quando escreve em rgon
sobre fundo preto This is not a Landscape22.
Nesta breve leitura e anlise aos trabalhos dos Arquitectos Aires
Mateus e pintor Fernando Calhau, quando o territrio se torna tema
de anlise, curioso constatar o uso recorrente de palavras como
ponto e infinito aplicados a ambas as disciplinas. ainda comum a
ambos as obras a utilizao da fotografia como forma de captao da
realidade, de reconhecimento e leitura do territrio. Arquitectos e
pintor analisam e tiram do territrio o mnimo essencial, no se
deixando limitar pelos seus imperativos, e tirando partido do
elemento potencial, trabalhando-o como nico.
19 CALHAU, Fernando Sem Rede. Uma conversa com Fernando Calhau,
em quatro noites de Fevereiro de 2001 in Work in Progress. Lisboa:
Fundao Calouste Gulbenkian, 2001. P.99.20 CALHAU, Fernando,
ibidem.21 Esta pea claramente influenciada pelo filme de culto de
Antonioni, Blow Up de 1966. SARDO, Delfim A pequena Noite, 5
Propostas para olhar a obra de Fernando Calhau SARDO, Delfim in
Convocao I e II (Modo Menor e Modo Maior). Obras no Acervo do
CAMJAP. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2006. P.57.22 Obra
realizada para a exposio temporria conjunta com o escultor Rui
Chafes, Um passo no Escuro, Realizada no Pavilho Branco do Museu da
Cidade em 2002.
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40 - 41
2.2 Materializao de um Quadrado imaginrio[Reflexes sobre a
Forma]
Tendo por base a anlise de forma, este trabalho prope uma
aproximao ao objecto arquitectnico dos irmos Aires Mateus,
procurando traar ideias, intenes e objectivos formais desta dupla
de arquitectos. Nos trabalhos de Fernando Calhau, esta anlise
concentra-se intencionalmente nos limites fsicos do suporte,
quando, atravs da pintura, a tela e a folha de papel do corpo
forma, ou ainda quando esta se traduz em pelculas 23 e bobines,
atravs da fotografia, o filme e o vdeo.
A forma trabalhada pela dupla de arquitectos Aires Mateus atravs
de uma linha clara assente numa grande coerncia, que nos permite um
traar fcil e lgico da geometria formal e volumtrica dos seus
projectos. Constatou-se anteriormente a regular descrio dos
objectos arquitectnicos implantados no territrio sobre a forma de
ponto. Este tem a funo de ilustrar e aclamar a forma com que se
definem, dando nfase aos traados simples e claros, capazes de
estabelecer prioridades, hierarquias e decises acerca de condies
concretas que encarnam o lugar24. Uma volumetria assente na preciso
e pureza geomtrica, trabalhada como um bloco macio, esculpido pelo
mesmo tempo com o qual se constri a natureza.
() estamos diante um trabalho dentro ou a partir das entranhas
da terra, umas vezes mais viscoso, outras mais ptreo, entre o barro
e a pedra.25
A simplicidade formal que caracterstica da arquitectura de
Francisco e Manuel Aires Mateus evidenciada pela regular utilizao
da implantao quadrada. Segundo o arquitecto Emlio Tun, este
predomnio est relacionado com a condio essencial e intemporal de
uma forma de entender as dimenses de um edifcio, mas tambm tem um
evidente paralelismo com certas estruturas organizadas, como as
formas clssicas de um palcio, as formas vernaculares da casa ptio,
ou com a bote miracle da arquitectura Corbusiana.26 A forma
quadrada traduz-se na procura evidente do mnimo, do essencial
transformado em forma, que se limita e justifica nela prpria.
23 o original da obra era a pelcula fotogrfica a partir da qual
era feita a copia heliogrfica. A cpia heliogrfica tinha apenas um
valor demonstrativo CALHAU, Fernando Sem Rede. Uma conversa com
Fernando Calhau, em quatro noites de Fevereiro de 2001 in Work in
Progress. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2001. P.10124 BELO
RODEIA, Joo Sobre un recorrido in 2G n28, Aires Mateus. Barcelona:
Gustavo Gili, 2002. P.525 Idem, ibidem. P.1126 TUN, Emlio Sem
coelhos na cartola in Catlogo da exposio Aires Mateus:
Arquitectura, Centro Cultural de Belm. Lisboa: Almedina/Fundao CCB,
2005.
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Fig. 24 Casa em Alvalade, Alentejo, Aires Mateus
Fig. 26 Casa em Melides, Serra de Grndola, Aires Mateus
Fig. 25 Casa em Alccer do sal, Aires Mateus
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O lote infinito, um terreno de ondulao suave pontuado por
sobreiros. O projecto surge como um ponto no territrio, um mnimo,
um quadrado. 27 (Fig. 24).
Num territrio de pinhal aparentemente infinito, a implantao da
casa assinala um ponto. A sua construo estabelece e modela um
limite, entre o interior e o exterior. 28 (Fig. 25)
Os limites da Forma que constroem a arquitectura s adquirem
significado e ordem quando justificadas por uma ideia. Destaque-se,
a propsito desta sugesto, as palavras de Campo Baeza, quando afirma
Architectura sine ideia vana architectura est. Uma arquitectura sem
ideias v, est vazia, forma banal.29
Francisco e Manuel Aires Mateus apresentam-se como arquitectos
conscientes, pensadores construtivos e coerentes. Atravs da analise
da sua arquitectura possvel constatar que a forma, para alm do
resultado de representao de uma ideia que transparece sempre uma
clara inteno de fazer prevalecer uma condio unitria e monoltica do
volume construdo, independentemente do que possa ocorrer dentro ou
fora dela,30 reflecte uma clara atitude de estar e de compreenso
pessoal sobre o papel que pretendem que a sua arquitectura
desempenhe. Em relao a este so bastante explcitos ao afirmarem:
Ns no temos nenhum apego ideia de racionalidade. Gostamos de
pensar que os nossos projectos so propostas conscientes de formas
de viver, em si, ns estamos interessados na condio que a Forma pode
introduzir nas pessoas que a experimentam.31
A casa em Melides, (Fig. 26) localizada na Serra de Grndola, uma
obra que merece destaque quando se aborda o conceito de forma, j
que ilustra claramente as intenes e pressupostos que at aqui tm
sido referidos. Nesta obra, a forma delimitada por espessos
limites, que se transformam no volume puro que se manifesta pelo
exterior. O limite interior e exterior simultaneamente moldado e
encontrado, segundo os parmetros fixados pela geometria
quadrada.
Nos trabalhos mais recentes dos arquitectos Aires Mateus visvel
um intencional aumento da complexidade geomtrica da sua
arquitectura, atravs de um trabalho continuado, assente na pureza e
preciso formal. Esta atitude justificada pelos autores como uma
necessidade de novas (e mais) variveis que provoquem instabilidade,
construindo um fio condutor, onde novas personagens so integradas
na histria que nos tm vindo a contar, atravs de uma narrao onde
cada novo projecto uma porta para o seguinte. 32
27 Fragmento da Memria descritiva da Casa em Alvalade, Alentejo,
ibidem. 28 Fragmento da Memria descritiva da Casa em Alccer do Sal,
ibidem.29 BAEZA, Campo O sopro de uma brisa suave in Pensar com as
mos. Casal de Cambra: Caleidoscpio, 2011. P. 3230 TUN, Emlio,
ibidem.31 AIRES MATEUS, Manuel Yes MAM in Indexnewspaper n2, Porto:
2012. 32 TUN, Emlio, ibidem.
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Fig. 27 Materializao de um Quadrado imaginrio, Fernando Calhau,
1974
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Francisco e Manuel Aires Mateus desenvolvem um trabalho que se
caracteriza como uma oscilao permanente entre subjectividade e
sistema, e entre uma vocao de essencialidade e a oportunidade
presente em cada novo projecto, que se define entre o intemporal
das propostas atravs de uma realidade em constante mutao. 33
Numa primeira abordagem obra pictrica de Fernando Calhau, onde a
forma assume os limites do suporte que constri o plano da pintura,
torna-se evidente a procura da simplicidade formal, o mnimo, como
condutor essencialidade.
Ainda numa fase inicial da sua vida profissional, o pintor
encontra no quadrado os limites da forma que melhor define e assume
as suas intenes. A utilizao do quadrado para o pintor uma escolha
tanto obvia como inconsciente, um ponto de partida que Calhau no
tenta contrariar, a base formal essencial ao comeo de qualquer
criao, que se traduz no branco da forma.34
() foi no fim de contas um interesse muito grande por coisas
simples. Eu no sei explicar de todo porque que o quadrado teve essa
importncia toda, mas um facto que o quadrado continua a ser uma
forma recorrente no meu trabalho () O quadrado tem uma permanncia
constante e a partir de certa altura deixei de tentar contrariar
isso.35
Os quadrados verdes, que aqui revisitamos, surgem como um
exemplo evidente de uso do formato quadrado como suporte. Na
verdade, a pintura monocromtica de Calhau levada ao limite deste
mesmo suporte, ao limite da forma atravs da cor verde que consome a
tela atravs de um quadrado de 1.45X1.45m. O quadrado , segundo o
pintor, potenciador de um enquadramento estvel, um rectngulo que
pode rodar em todas as direces da mesma maneira, no tem vertical
nem horizontal, sempre centrado.36
Outro trabalho curioso do pintor e que d titulo a este sub
capitulo, materializao de um quadrado imaginrio, (Fig.27) um
projecto importante no percurso artista, onde o quadrado volta a
ser protagonista. O quadrado aqui utilizado no como delimitador da
forma do suporte, mas como representao de limite ou janela sobre a
paisagem, numa srie de quatro fotografias sequenciais nas quais se
desenha a tinta-da-china sobre a pelcula um quadrado que enquadra a
paisagem.
33 Idem, ibidem.34 () a ideia um ponto de partida, mas depois
havia muitos quadros que tinham evolues diversas, que ficavam a
meio, que eram repintados, que, pura e simplesmente, chegavam ao
fim e verificava que estava tudo errado e voltava atrs. O quadro
era normalmente pintado de branco outra vez eu insistia em partir
do branco e voltava a pintar do princpio, de outra maneira. CALHAU,
Fernando Sem Rede. Uma conversa com Fernando Calhau, em quatro
noites de Fevereiro de 2001 in Work in Progress. Lisboa: Fundao
Calouste Gulbenkian, 2001. P.8935 Idem, ibidem. P.6336 curioso que
o Joaquim Rodrigo () considerava o quadrado como um rectngulo mais
pobre porque era um rectngulo com os lados todos iguais () Eu
dizia-lhe pois mas pelo menos um rectngulo que pode rodar em todas
as direces da mesma maneira, no tem vertical nem horizontal, sempre
centrado. Idem, ibidem. P.69
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Fig. 28 Destruio (Fragmento), Fernando Calhau, 1975
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46 - 47
Este trabalho que se resume utilizao da fotografia e posterior
pintura sobre a pelcula fotogrfica, e constitui um ptimo exemplo de
como Calhau inicia um novo conceito formal. Esta noo de forma,
importante ao pintor, explorada aquando da utilizao da tcnica
fotografia, flmica e videogrfica, onde a reproduo e projeco
adquirem um valor meramente demonstrativo, e pelcula e bobina se
atribui o reconhecimento de objecto artstico, onde a forma encontra
os seus novos limites.
No filme Destruio (Fig. 28), Calhau deixa desde logo bem claro o
desenho desta intenso formal: o filme produzido em super 8 tem
precisamente a durao de uma bobine. Outro bom exemplo deste
conceptualismo que insiste no limite a obra Untitled (time/space)
1976, que se traduz no resultado indicativo e correspondente ao
limite do rolo, ou seja, um conjunto de 36 fotografias organizadas
de forma sequencial.
Eu sempre entendi a pelcula, tanto na mquina fotogrfica, o rolo
de 36 imagens, 76 fotogramas, ou o filme de Super 8 em que cada
bobine tinha a durao de trs minutos e no sei quantos segundos, como
as bobines de vdeo que tinham salvo erro, uma durao de 30 minutos,
essa durao constitua o suporte. Portanto, o tamanho do trabalho era
feito em funo do comprimento do meio, digamos, o tamanho do
suporte.37
Quando a forma tema o de anlise, o quadrado surge para os
arquitectos e pintor como a forma geomtrica que melhor se adapta e
resolve as suas intenes. Mas no apenas ao quadrado se resume a
arquitectura dos Aires Mateus; variadas formas so sugeridas, sempre
agarradas a um limite unitrio e monoltico bem definido, num
paralelismo perfeito inteno de Calhau, quando transforma os limites
tcnicos da fotografia do filme e do vdeo em limites limitadores da
forma da obra de arte.
37 Idem, ibidem. P.135
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48 - 49
2.3 Stage[Reflexes sobre o espao-tempo]
Para uma anlise e compresso do espao-tempo na obra dos
arquitectos Aires Mateus, esta anlise sugere um entrar dentro do
volume, atravessando a matria que constri o espao, segundo
contornos de luz e sombra que coreografam danas quotidianas que
representam o tempo, ou seja, a vida que est l dentro 38. Para a
anlise ao trabalho do pintor Fernando Calhau, prope-se uma
aproximao ao que ele apelida de Time/Space research39, onde
assentam os pilares conceptuais da sua criao.
Tal como explorado anteriormente, a arquitectura precisa de
limites volumtricos que to bem definem e descrevem a arquitectura
dos Aires Mateus. Uma arquitectura de matria, que se identifica de
estereotmica, onde e segundo Campo Baeza, a gravidade transmite-se
em massa, de forma contnua, num sistema estrutural continuo onde a
continuidade construtiva completa 40, esta arquitectura de peso e
matria que interessa dupla de arquitectos explorar.
No possvel fazer arquitectura sem matria () Eu contnuo a gostar
da forma como o sol reflecte num vo. Eu gosto de enquadrar, eu
gosto de coisas ancestrais e o modo afectivo como lidamos com essas
questes no ir mudar.41
A gravidade , segundo Campo Baeza, a construtora do espao, esta
estrutura portadora no s transmite as cargas terra como, antes de
mais, estabelece a ordem do espao 42. Os Espaos interiores nas
obras dos arquitectos Aires Mateus surgem como espaos da no matria,
um processo projectual que explora e tira partido de cheios e
vazios, espaos que surgem como que atravs de moldes, de negativos,
onde os espaos de circulao desenham os espaos de permanncia (ou
vice-versa) como que um esventramento43 do volume puro.
38 isso que me preocupa numa casa: a vida que est l dentro AIRES
MATEUS, Manuel Yes MAM in Indexnewspaper n2, Porto: 2012. 39 ()
todo o trabalho que vim a fazer em torno de problemas de espao e
tempo surgiu em sequncia das gravuras de Londres, o principio do
que eu chamava de Time/Space Research CALHAU, Fernando Sem Rede.
Uma conversa com Fernando Calhau, em quatro noites de Fevereiro de
2001 in Work in Progress. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2001.
P.91.40 BAEZA, Campo Da caverna cabana, Sobre o estereotmico e o
tectnico na Arquitectura in Pensar com as mos. Casal de Cambra:
Caleidoscpio, 2011. P. 2941 AIRES MATEUS, Manuel Yes MAM in
Indexnewspaper n2, Porto: 2012.42 BAEZA, Campo, ibidem.
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Fig. 29 Casa em Alccer do sal, Aires Mateus
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50 - 51
() de performatividade, de transformaes e passagem que esta
arquitectura fala, veiculada permeabilidade do seu espectador, de
quem a usa. 44
A estrutura na arquitectura a resposta material gravidade,
construtora do espao, que por sua vez permite a aco da luz que
segundo Campo Baeza, introduz o tempo. Architectura sine luce nulla
architectura est45. Esta luz permite ao homem relacionar-se com o
espao construdo.
A massa interior do volume da arquitectura dos Aires Mateus
cuidadosamente tratada, os espaos interiores surgem como espaos
escavadores de dentro para fora, num acto intencional de procura de
luz e de paisagem que a enquadre. A luz aqui utilizada como um
instrumento de recorte, uma construtora de espaos que se querem
camalenicos.
O lote infinito, um terreno de ondulao suave pontuado por
sobreiros. O projecto surge como um ponto no territrio, um mnimo,
um quadrado. () No percurso atravs da casa, perspectivas
semelhantes variam pela aco do espao e da luz. 46
Num territrio de pinhal aparentemente infinito, a implantao da
casa assinala um ponto. () No permetro que recorta o cu, define-se
um frio coroamento em pedra, interrompido por linhas
perpendiculares que captam os quentes raios da luz solar.47
A casa em Alccer do Sal (Fig. 29) um dos projectos desta dupla
de arquitectos que exemplifica com clareza o que tem vindo a ser
defendido neste texto. Este projecto contempla a mincia, onde a
questo do molde assumidamente trabalhada, tendo como base prottipos
de volumes que se reconhecem na arquitectura vernacular. Estes
volumes so extrados massa que constri o limite quadrado da forma,
enquadrando a paisagem e criando ptios exteriores cobertos. A eixo
destes no-volumes, a abertura de um friso rasgado cirurgicamente,
permite a entrada de luz que consequentemente desenha o movimento
do tempo.
Como um puzzle de luz e sombra. Ou por outras palavras, como um
slido que se escava pedao a pedao, buraco a buraco. () Como se
escavassem sempre um slido capaz, procurando interstcios para
inserir a luz de uma forma misteriosa. 48
A questo do espao-tempo est inerente e presente em todo o
trabalho de Fernando Calhau, traduzida e comunicada de maneiras
diversas. A esta
43 SARDO, Delfim Limial in Catlogo da exposio Aires Mateus:
Arquitectura, Centro Cultural de Belm. Lisboa: Almedina/Fundao CCB,
2005.44 Idem, ibidem.45 BAEZA, Campo, ibidem. P.30.46 Fragmento da
Memria descritiva da Casa em Alvalade in Catlogo da exposio Aires
Mateus: Arquitectura, Centro Cultural de Belm. Lisboa:
Almedina/Fundao CCB, 2005.47 Fragmento da Memria descritiva da Casa
em Alccer do Sal, ibidem.48 BAEZA, Campo Escavando o ar, Sobre a
Arquitectura de Manuel e Francisco Aires Mateus in Pensar com as
mos. Casal de Cambra: Caleidoscpio, 2011. P.93.
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Fig. 30 Time/space, Fernando Calhau, 1976
Fig. 31 S/ttulo, Fernando Calhau, 1989 S/ttulo, Fernando Calhau,
1992
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52 - 53
explorao do espao-tempo, a que pintor dedicou toda a sua vida
artstica, ficou conhecida por Time / Space Research, palavras
encontradas pelo artista para a definir. Segundo Calhau, a
descoberta e utilizao da impresso em ozalide foi onde mais se
clarificou a questo de espao-tempo, pela degradao fsica e real
deste suporte ao longo do tempo.
Os ozalides, no f im de contas, so copias heliogrf icas iguais s
de arquitectura que no aguentam muito a luz do sol, desaparecem e,
como tal, tinham uma durao efmera que as fazia parte integrante do
tempo.49
Um dos seus trabalhos em ozalide time/space, (Fig. 30) um
conjunto de 36 fotografias de mar. Neste trabalho para alm da
representao conceptual do tempo, visvel na degradao do suporte,
tambm evidenciado o espao desenhado pelo enquadramento do elemento
Mar.
O trabalho representativo do espao-tempo no se esgota nos
trabalhos que o pintor desenvolveu em ozalide. Toda a sua obra est
repleta de apontamentos que nos remetem para esta questo, desde o
resultado da importncia dada ao processo de trabalho, onde o tempo
do fazer tambm ele parte integral da obra. Como tambm registado
atravs da repetio consecutiva e obsessiva da linha a lpis, carvo e
tinta preta, que preenchem folhas, transformadas em planos ora bem
definidos pela sua geometria ora diludo no fundo branco criadores
de espaos abertos e fechados onde a luz e sombra habitam (Fig.31).
Estas intenes, visveis em muitos dos seus trabalhos e estudos,
constroem a trama que permite registar pictoricamente o espao-tempo
na obra de Calhau.
O preto para mim um espao carregado. uma atitude, mais do que
uma forma de af irmao pictrica. uma sensao vital, a de estarmos
merc de um espao de orientao. Tal como o cego usa uma bengala para
poder tocar nas suas referncias, ns temos faris no escuro. Eu
introduzo algumas marcaes mnimas, no podes aperceber o vazio sem
alguma forma de delimitao. um pouco como no Air de Paris, de
Duchamp: ele precisou tambm de um espao contentor. 50
Na obra fotogrfica, Stage (Fig. 32), tambm nome a deste sub
capitulo, mais um exemplo onde Calhau ilustra de forma clara esta
noo de criao de limites que possibilitam compreender e construir o
espao-tempo atravs da introduo. Usando as palavras do pintor, de
marcaes mnimas. Esta obra consiste numa srie fotogrfica a preto e
branco, que tem como imagem fixa uma coluna utilizada como cenrio.
Atravs do movimento de pessoas que passam em frente cmara e
consequente utilizao de uma exposio de longa durao, o pintor
intencionalmente capta apenas manchas de cor preta, que permite
desenhar o movimento, delimitar e comunicar o espao-tempo.
49 CALHAU, Fernando Sem Rede. Uma conversa com Fernando Calhau,
em quatro noites de Fevereiro de 2001 in Work in Progress. Lisboa:
Fundao Calouste Gulbenkian, 2001. P.101.50 CALHAU, Fernando in
Convocao: Leituras, Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007,
contracapa.
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Fig. 32 Stage (fragmento), Fernando Calhau, 1977
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54 - 55
A anlise de espao-tempo atravs da arquitectura dos Aires Mateus,
e obra do Pintor Fernando Calhau, permite compreender a importncia
e preciso com que estes conceitos so trabalhados. Atravs deles
possvel criar e delimitar tenses, coreografar movimentos, exaltar
sentimentos, guiar percepes e construir memrias.
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56 - 57
3. Casa em Brasfemes
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15
Implantao
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58 - 59
3.1 Vrios tons de verde[anlise e descrio do territrio]
E da circunstncia dever ele contrariar os aspectos negativos e
valorizar os aspectos positivos, o que significa, afinal, educar e
colaborar. 51
O territrio surge como pressuposto de qualquer projecto de
arquitectura, importante ao acto de projectar, pela
responsabilidade que representa o fazer e inventar continuamente o
Lugar. A presente anlise centra-se no reconhecimento das
caractersticas, particularidades e matrias existentes no territrio,
atravs da leitura atenta da planta topogrfica e levantamento
fotogrfico.
O terreno do projecto localiza-se numa rea com caractersticas
periurbanas a 10 km a Norte da cidade de Coimbra, integrado numa
territrio fortemente marcado pela implantao de povoados urbanos em
meio rural. A paisagem colorida por vrios tons de verde, um cenrio
potenciado pela proximidade geogrfica da Serra de Brasfemes e do
Alhastro.
O lote em forma de L tem uma frente urbana de cerca de 24 metros
a Nascente, desenhado por um muro, interrompido no momento que
permite a entrada no terreno. A Rua do Gondilu desenha-se neste
troo segundo o traado de curva contra curva, condio que
impossibilitou, por razes de segurana viria, o desenho de
parqueamento automvel (obrigatrio) na rea de cedncia. Aqui so
apenas visveis os resultados de trabalhos de alargamento do passeio
e implantao de uma paragem de autocarros.
O limite sul desenhado atravs de um muro de pedra, que marca de
forma clara a profundidade total do lote de 52 metros. Este muro
estabelece a fronteira com o terreno vizinho, que se implanta a uma
cota superior e onde actualmente existe um pequeno armazm para fins
agrcolas.
O limite norte do lote desenhado pela invaso da habitao vizinha,
de dois pisos, que constri duas frentes (limites construdos do
terreno): uma, construda por um muro baixo que provoca um
afunilamento crescente e que
51 TVORA, Fernando; Sobre a posio do arquitecto in Da Organizao
do Espao. Porto: FAUP publicaes, 2006. P.74.
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60 - 61
permite o contacto visual entre os lotes; outra, construda pela
fachada posterior da habitao, um muro cego com cerca de 7 metros de
altura que se prolonga at ao fim do lote vizinho, que se desenha
ortogonal at ao limite poente.
No lado poente, o terreno marcado por uma depresso topogrfica,
consequncia natural da existncia de uma linha de gua e reforado por
um plano descontnuo de canavial, tornando possvel o espreitar de
uma paisagem desenhada pela natureza.
A entrada no Lote feita pela Rua do Gondilu, no extremo norte
que desenha o limite Nascente e consequente frente urbana. A
primeira fraco de terreno, de maior proximidade estrada,
caracteriza-se por um declive topogrfico de 3 metros de altura,
desenhados entre a cota de entrada no terreno (+ 60.50) e a cota
existente no momento da menor largura do terreno (+ 57.50).
Este declive desenhado por socalco onde se implantam hortas
comunitrias e um poo/nascente natural em forma de U com cerca de 2
metros de profundidade, a partir do qual extrada gua para rega. O
desenho do Poo inscreve-se numa circunferncia de 6 metros de
dimetro, a eixo do terreno e a 3 metros do limite nascente.
A restante fraco do terreno plana (+57.00) caracterizada pela
existncia de rvores de fruto. A regularidade do terreno aqui
quebrada apenas no limite poente pela depresso topogrfica de 2
metros construda pela linha de gua.
Numa concluso leitura do terreno, pressupem-se algumas premissas
e particularidades, com as quais a arquitectura ter de se integrar,
de forma a potenciar o lugar.
A existncia de um tecido urbano consolidado a norte, marcado
pela forte implantao da habitao vizinha, traduz-se numa necessria
preocupao de continuidade da malha e frente urbana, tal como a
tipologia de 2 pisos preexistente. O que pressupe desde logo a
implantao da arquitectura na fraco do terreno a nascente, o que
salvaguarda uma margem de segurana considervel hipottica subida das
guas a Poente.
A implantao da nova arquitectura ter lugar na zona do terreno
onde o contacto fsico e visual com a estrada e habitaes vizinhas
superior; onde a topografia mais acidentado (diferena de cotas de 3
metros) e onde est implantado o Poo. O que garante manter virgem
toda a fraco plana do terreno a Poente e consequente preservao das
rvores de maior porte.
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() projectar, planear, desenhar, devem significar apenas
encontrar a forma justa, a forma correcta, a forma que realiza com
eficincia e beleza a sntese entre o necessrio e o possvel, tendo em
ateno que essa forma vai ter uma vida, vai constituir
circunstncias. 52
Posteriormente anlise feita dos pressupostos existentes no
terreno, muitas so as directrizes que constroem as linhas
orientadoras da implantao do objecto casa.
As premissas urbanas, desenhadas pela malha urbana consolidada a
norte, sugerem as primeiras directrizes criadoras da forma da
futura arquitectura. A continuidade deste tecido consolidado sugere
a criao de duas linhas orientadoras: uma, que desenha uma continuao
da frente urbana da Rua do Gondilu atravs de um prolongar da linha
preexistente, com um afastamento regular de 11 metros ao eixo da
estrada; e outra que desenha o limite posterior, a profundidade da
massa de cerca de 12 metros, tendo como princpio referencial a
profundidade volumtrica da massa urbana preexistente.
implantao da nova arquitectura fica, portanto, reservada a zona
do terreno a nascente, onde a relao fsica e visual com a estrada e
habitaes vizinhas so evidentemente superiores. A proximidade
lateral e contacto visual aos lotes vizinhos so salvaguardados pelo
traar de dois novos limites laterais. A sul traada uma linha a 3
metros paralela ao muro de pedra preexistente. O mesmo traado
desenhado a norte, onde sublimado o afunilamento que agora gravado
na linha que define a rea de implantao e futura massa
arquitectnica.
Desta forma, ficam traadas quatro linhas orientadoras, ou seja,
linhas mestras que fecham e delimitam a zona de implantao, onde a
leitura da forma comea a ser possvel. Estes limites da nova
arquitectura so desenhados, atravs de uma forte relao com os
limites do lote que, por sua vez, surgem como orientadores e nunca
como limitadores. Tal possibilita volumetria a
3.2 gua dura em pedra mole[implantao e desenho da forma]
52 Idem, ibidem.
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64 - 65
sua total autonomia, atravs de uma forma pura de limites bem
definidos, implantada segundo uma orientao centrada no terreno, que
assegura a sua total autonomia relativamente aos limites perifricos
que desenham o lote.
A autonomia perifrica que caracteriza o primeiro esboo
planimtrico da forma, volumetricamente acentuado pela utilizao e
construo na pendente de trs metros sentida na fraco do terreno onde
se implanta a arquitectura. Desta forma a massa arquitectnica nasce
na cota mais baixa do terreno (+57.50), que cresce altura de dois
pisos.
permitida assim a ligao construda entre a cota baixa do terreno
a poente, onde se implanta o jardim, e a cota mais alta do terreno,
por onde se faz a entrada no terreno. Desta forma, apenas a altura
de um piso visvel da Rua do Gondilu, o que garante um maior
controlo da escala do edifcio na construo de frente urbana, assim
como permite maiores nveis de conforto e privacidade relativamente
a ela.
A partir das linhas orientadoras que nos foram dadas pelos
limites perifricos que constroem o lote, verifica-se que apenas num
momento estes limites iniciais so quebrados, numa obrigatoriedade e
desvio controlado pela implantao do poo. Este que o ingrediente que
se pretende potenciar. Desta forma, a linha que constri o limite e
continuidade da frente urbana quebrada e afasta-se da estrada, num
desvio justificado que se traduz pelo momento criado pelo elemento
pr-existente, ou seja, o poo.
O poo o sujeito importante quando tentamos justificar os porqus
formais. O volume arquitectnico trabalhado como uma massa que nasce
e cresce de dentro da terra. Onde anteriormente as guas da chuva
caam sobre as hortas comunitrias, agora a forma deste novo edifcio
surge como factor determinante nesse gesto de continuidade: como
uma massa que esculpida pela fora da gua da chuva, e que a
encaminha para o poo, onde armazenada, e posteriormente utilizada
para rega.
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E j repararam na luz que a sombra tem?No ser de afastar a ideia
de que existe um principio de vida perpetuamente activo no centro
da existncia, simbolizado pelo sol e pelo cavo interior onde a luz
penetra.53
Os limites interiores do projecto surgem como um escavar da
matria arquitectnica que desenha o limite da forma, pontualmente
quebrado para permitir a luz entrar e tornar a vida possvel.
Desenham-se os vazios e limites interiores que constroem e
definem novos espaos dentro de espaos segundo uma lgica funcional e
hierrquica de programa. Assim definido um eixo de entrada, que
marca uma ordem inicial e uma direco, sinnimo de entrada na casa.
Este eixo est presente fisicamente atravs de um lance de escadas
que vencem os trs metros desde o piso inferior, onde se desenhada a
entrada principal e onde esto delimitados os espaos de uso social
da habitao.
Estas escadas exteriores so construdas estando agarradas (por um
dos lados) massa do volume preciso e compacto da arquitectura,
aparentando terem sido esculpidas. Este percurso desenhado pela
escada permite um contacto visual com o plano ajardinado a nascente
e coberto pela consola que avana e possibilita desenhar o percurso
das guas da chuva at ao poo. Este eixo de 1,2 metros de largura
prolonga-se para dentro do volume numa procura consciente de romper
a membrana que limita o exterior do interior a porta de entrada da
casa.
O eixo que escava o volume acompanhado por uma diminuio de p
direito ao longo do seu percurso. Um afunilamento consciente que
refora o ponto de entrada procura uma aproximao gradual escala
interior da habitao. Esta entrada, que escavada at ao limite de um
espao habitvel, reforada pela anulao de um hall de entrada formal.
Desta forma, a entrada abre-se para o espao maior da casa, para as
reas destinada sala de estar e sala de refeies, como uma bolha de
ar dentro da matria que desenha o volume. Este espao privilegiado
pelo contacto fsico com a rea ajardinada a poente. O contacto
visual
3.3 Onde a vida possvel[criao de limites do espao-tempo]
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68 - 69
pontual e controlado num remarcar consciente dos limites da
casa, permitindo o desenho dos movimentos de um querer estar dentro
ou fora da casa.
O plano onde se desenha a porta de entrada e que constri um dos
lados do espao social da casa um armrio divisrio perpendicular ao
eixo de entrada na habitao. Este estabelece uma lgica de distribuio
para os restantes espaos, atravs das duas portas que se desenham
nos seus extremos.
Uma das portas do armrio divisrio d acesso cozinha, que tira
partido deste como uma pequena despensa para o seu interior. Esta
diviso quadrangular iluminada por uma janela tambm quadrada ao nvel
da banca, que enquadra o poo e por um vo recuado no limite exterior
sul, que permite a criao de uma zona exterior coberta para eventual
secagem de roupa.
A outra porta do armrio divisrio d acesso zona mais reservada da
casa, que coincide com a rea da habitao que se encosta do lado
norte ao terreno. Neste momento so desenhados os limites do
escritrio e da instalao sanitria de servio. Esta proximidade
permite uma maior privacidade pela necessidade de transformar
temporariamente o escritrio em quarto de hspedes.
tambm neste momento da casa que so desenhadas as escadas
interiores que do acesso ao piso superior. Estas escadas
encostam-se ao armrio divisrio do piso inferior, que neste ponto se
prolonga e se transforma em guarda/armrio no piso superior.
Este piso o mais reservado da casa, onde se criam os limites de
trs
quartos, dois simples e um de casal, uma instalao sanitria de
uso geral e uma privativa interior ao quarto de casal. Este quarto
abre-se a nascente, atravs de um vo recuado que permite a construo
de uma pequena varanda coberta que se desenha no alado que constri
a frente urbana. A perpendicularidade do vo, relativamente abertura
desenhada em alado, permite uma total privacidade com a estrada,
apenas no espao exterior coberto desenhado pela varanda possvel o
contacto visual com ela e com o eixo de entrada na habitao.
Os quartos simples, virados a poente so aparentemente iguais,
distinguidos apenas pela abordagem que construda com o exterior,
atravs de vos recuados. Um caracteriza-se por uma ligao directa
paisagem, o outro, esconde-se da paisagem e obriga a luz a entrar
no volume e reflectir-se nas paredes do espao da varanda coberta at
ao interior.
tambm neste piso que se desenha a garagem no quadrante do volume
mais prximo da entrada do terreno e, consequentemente, mais prximo
da estrada. Este corpo que delimita o espao de garagem, permite
garantir a linha de continuidade da frente urbana pr-existente, que
recuada no momento em que o poo se desenha.
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3.4 Desenhos Tcnicos
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cobertura3
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74 - 75
piso 13
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76 - 77
piso 0
3
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78 - 79
cortes
3
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80 - 81
alados
3
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82 - 83
alados
3
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Concluso
Chegados ao nosso destino Casa em Brasfemes o resultado da
aprendizagem e reflexo, transformada em linhas que falam a
linguagem construda ao longo desta viagem.
O entendimento do territrio, da forma e do espao-tempo, surgem
como fundamentais ao processo de trabalho deste projecto: pontos
essenciais que a histria da arquitectura e da arte ilustram. O modo
como pensamos e interagimos com o territrio, as opes tomadas
aquando do desenho da forma, e a criao dos limites internos da
arquitectura que possibilitam a criao do espao-tempo, em suma, a
vida, revelam-se fundamentais. So estas que permitem traar o
caminho das opes tomadas que, de modo consciente e crtico, permitem
construir um todo coerente.
A aprendizagem e compreenso da importncia da anlise do
territrio, apreendida pelo discurso e aproximao s obras dos
arquitectos Aires Mateus como plataforma onde procuramos pistas,
ingredientes e matria com o qual se constri a arquitectura, foi
fundamental e orientadora nossa performance de investigadores no
terreno. Tal resultou numa abordagem atenta, atravs de um olhar
enquadrado no essencial. Olhar esse que foi, por sua vez, educado e
limado pelo pintor Fernando Calhau, na procura de janelas na
paisagem, de texturas, de composies que, trabalhados com preciso
pela arquitectura, mais no so que quadros verdes, um apontamento
existncia de paisagem.
A viso clara e atenta ao territrio surgem como essenciais e
construtoras do desenho formal. O encontro do ingrediente poo
aliado presena das hortas comunitrias - uma parcela verde - surgem
como pontos importantes construo da linha que desenha a ideia da
forma. Esta linha traada segundo os contornos da aprendizagem
resultante da anlise combinada das obras dos arquitectos Aires
Mateus e do pintor Fernando Calhau. Pela importncia de encontrar o
gesto que desenhe a forma que comunique a ideia e os objectivos do
projecto atravs do mnimo e essencial.
O modo como extramos do desenho do lote, ou o limite da forma da
arquitectura, mais no que desenhar o quadrado, o limite que desenha
o mnimo possvel no nosso terreno.
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A leitura e aproximao obra dos arquitectos Aires Mateus e do
pintor Fernando Calhau surgem tambm na construo do espao-tempo do
nosso projecto como essenciais. Atravs dos arquitectos encontramos
a aco simples de escavar a matria como um delimitar dos espaos
programticos e funcionais da casa, e o exaltar do trabalho de luz
como matria de projecto. Este legado trabalhado nesta proposta
prtica atravs do recuar dos vos, criando espaos exteriores mas
interiores aos limites da forma, como que um convite tmido luz. A
consequente criao de planos cegos de fachada que entram e constroem
o interior, so trabalhados pela luz, como um redesenhar das obras
de Calhau, quando o pintor insistia em cobrir de preto as telas
brancas.
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88 - 89
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Tbua das ilustraes*
Fig.1 Villa Savoye, Le Corbusier
1928http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/Corbu/savoye1.jpg
Fig.2 Quadrado negro sobre fundo branco, Kazimir Malivitch
1915http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Malevich.black-square.jpg
Fig.3 Casa Schroder, Gerrit Rietvelt,
1920http://arqhistoriando.blogspot.pt/2010/10/casa-rietveld-schroder.html
Fig.4 Guitarra, Pablo Picasso,
1912http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2011/picassoguitars/picassos-studio/01.php
Fig.5 Casa Farnsworth, Mies Van Der Rohe,
1951http://mvanderrohe.blogspot.pt/2009/05/imagens-da-casa-farnsworth.html
Fig.6 Composio com vermelho, amarelo e azul, Piet Mondrian,
1921http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/mondrian/ryb.jpg
Fig.7 Casa da cascata, Frank Lloyd Wright,
1936http://museuguggenheim2010.blogspot.pt/2010/05/casa-da-cascata-falling-water.html
Fig.8 Uma Linha Feita a Caminhar, Richard Long,
1967http://arttattler.com/archiverichardlong.html
Fig.9 Casa Schminke, Hans Scharoun,
1933http://www.weareprivate.net/blog/wp-content/uploads/Picture-12.png
Fig.10 Peine del viento, Eduardo Chillida,
1977http://hibai83.files.wordpress.com/2008/09/img_6301.jpg
Fig.11 Casa experimental, Alvar Aalto,
1953http://www.alvaraalto.fi/experimentalhouse.htm
Fig.12 Tneis de Sol, Nancy Holt
,1970-1980http://www.ananasamiami.com/2011/07/sun-tunnel-by-nancy-holt.html
Fig.13 House of Cards, Richard Serra,
1969http://www.exporevue.com/magazine/fr/index_brancusi_serra.html
Fig.14 The Poets House, Eduardo Chillida,
1980http://www.arcspace.com/exhibitions/archisculpture/ac.html
Fig.15 House, Louise Bourgeois,
1994http://www.hauserwirth.com/artists/1/louise-bourgeois/images-clips/75/
Fig.16 House, Rachel Whiteread,
1993http://loperanyc.com/ephemera/rachel-whiteread/
Fig.17 Untitled, Donald Judd,
1965http://talkingtothelisteningtree.wordpress.com/2011/11/01/minimal_art/
Fig.18 Men in her life, Andy Warhol,
1962http://artobserved.com/artimages/2010/11/Andy-Warhol-Men-in-Her-Life-1962-e1289170875680.jpg
Fig.19 Casa em Alenquer, Aires MateusCatlogo da exposio Aires
Mateus: Arquitectura, Centro Cultural de Belm. Lisboa:
Almedina/Fundao CCB, 2005
Fig.20 Casa em Alvalade, Alentejo, Aires MateusCatlogo da
exposio Aires Mateus: Arquitectura, Centro Cultural de Belm.
Lisboa: Almedina/Fundao CCB, 2005
Fig.21 Casa em Alccer do Sal, Aires MateusCatlogo da exposio
Aires Mateus: Arquitectura, Centro Cultural de Belm. Lisboa:
Almedina/Fundao CCB, 2005.
Fig.22 Quadros verdes, Fernando Calhau,
1974http://cam.gulbenkian.pt
Fig.23 De um ponto ao infinito, Fernando Calhau,
1976http://cam.gulbenkian.pt
Fig.24 Casa em Alvalade, Alentejo, Aires Mateus2G n28, Aires
Mateus. Barcelona: Gustavo Gili, 2002
Fig.25 Casa em Alccer do Sal, Aires Mateus2G n28, Aires Mateus.
Barcelona: Gustavo Gili, 2002
Fig.26 Casa em Melides, Serra de Grndola, Aires Mateus2G n28,
Aires Mateus. Barcelona: Gustavo Gili, 2002
Fig.27 Materializao de um Quadrado imaginrio, Fernando Calhau,
1974Work in Progress. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2001
Fig.28 Destruio (Fragmento), Fernando Calhau,
1975http://cam.gulbenkian.pt
Fig.29 Casa em Alccer do Sal, Aires Mateus2G n28, Aires Mateus.
Barcelona: Gustavo Gili, 2002.
Fig.30 Time/space, Fernando Calhau, 1976Work in Progress.
Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2001
Fig.31 S/titulo, Fernando Calhau, 1989S/titulo, Fernando Calhau,
1992http://cam.gulbenkian.pt
Fig.32 Stage (fragmento), Fernando Calhau,
1977http://cam.gulbenkian.pt
* Nota: Todas as ilustraes no referenciadas so da autora.