CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA NOVOS CONTEÚDOS E ESPAÇOS DE ATUAÇÃO Marlene de Oliveira Coordenadora Beatriz Valadares Cendón Eliany Alvarenga Araújo Francisca Rosalina Leite Mota Guilherme Atayde Dias Maria Eugênia Albino Andrade Belo Horizonte Editora UFMG 2005
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OLIVEIRA, Marlene de - Ciência da Informação e Biblioteconomia {novos conteúdos e espaços de atuação} [2005]
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CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA
NOVOS CONTEÚDOS E ESPAÇOS DE ATUAÇÃO
Marlene de Oliveira
Coordenadora
Beatriz Valadares Cendón
Eliany Alvarenga Araújo
Francisca Rosalina Leite Mota
Guilherme Atayde Dias
Maria Eugênia Albino Andrade
Belo Horizonte
Editora UFMG
2005
Universidade Federal de Minas Gerais Reitora: Ana Lucia Almeida Gazzola Vice-Reitor: Marcos Borato Viana Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitora: Cristina H. R. Rocha Augustin Pró-Reitora Adjunta: Márcia Maria F. Pinto Av. Antônio Carlos, 6627 Reitoria 6° andar Campus Pampulha CEP31270-901 BH/MG Tel: (31) 3499-4054 / Fax: (31) 3499-4060 E-mail: [email protected] Editora UFMG Diretor: Wander Melo Miranda Vice-Diretora: Heloisa Maria M. Starling Av. Antônio Carlos, 6627 – Ala Direita da Biblioteca Central – térreo Campus Pampulha – CEP 31270-901 – Belo Horizonte / MG Tel: (31) 3499-4650 / Fax: (31) 3499-4768 E-mail: [email protected] URL: http://www.editora.ufmg.br
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Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
C569 Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação / Beatriz Valadares Cendón... [et al]. ; Marlene de Oliveira Coordenadora. - Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. 143 p. - (Coleção Didática) Inclui referências. ISBN: 85·7041-473-0 1. Ciência da Informação. 2. Biblioteconomia. I. Cendón, Beatriz Valadares. II. Oliveira, Marlene de. III. Série.
CDD: 020 CDU: 02
Ficha catalográfica elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogação da Biblioteca Universitária
Este livro recebeu apoio financeiro da Pró-Reitoria de Graduação da UFMG.
ANEXO B – Escolas de Biblioteconomia no Brasil..........................................................106
SOBRE OS AUTORES ........................................................................................................116
INTRODUÇÃO
A intenção deste livro é proporcionar aos iniciantes no estudo da Ciência da
Informação e da Biblioteconomia alguns conhecimentos fundamentais, na opinião de alguns
autores proeminentes na literatura da área.
Para entender uma área ou tema é imprescindível o conhecimento da sua gênese, sua
história, assim como das condições econômicas, sociais e culturais em que se
desenvolveram. No Brasil, a Ciência da Informação e a Biblioteconomia trabalham em
parceria desde a introdução da primeira na década de 1950, por bibliotecários. Foi um
grande avanço naquela época trazer conceituações e técnicas para organizar e disseminar
os registros de conhecimentos (documentos) existentes em bibliotecas e centros de
documentação brasileiros.
Vive-se hoje outro momento importante em que os documentos e outros registros de
conhecimento migram para a era digital, fato que ao desencadear modificações nos
conceitos da área conduz seus pesquisadores ao desafio de repensar a biblioteca, a
localização e o acesso aos documentos.
Na tentativa de contribuir com essa nova visão, foram escolhidos temas que agregam
os entendimentos básicos das duas referidas disciplinas. O primeiro capítulo traz o
entendimento de Ciência da Informação trabalhado pela UNESCO e adotado por consultores
do CNPq. Explica também os paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. O
segundo capítulo traz uma visão geral dos diferentes tipos de conhecimento produzidos pela
sociedade. Tais conhecimentos são organizados nas bibliotecas na forma de documentos.
Foi realizado um breve relato sobre a história das bibliotecas no Brasil e os diferentes tipos
de bibliotecas. Ao final, explicam-se as diferentes funções de uma biblioteca.
O terceiro capítulo discorre sobre a introdução da Ciência da Informação no Brasil e os
aspectos da sua dimensão científica, esta analisada segundo as seguintes categorias:
Instituições de ensino e pesquisa; Recursos Humanos qualificados; Comunicação e
intercâmbio científico.
O quarto capítulo tem como temática os sistemas e redes de informação, Traça a
história e os caminhos de desenvolvimento dos sistemas de recuperação da informação;
descreve o desenvolvimento da indústria on-line e suas grandes bases de dados, os diversos
tipos de sistemas de informação e formas de acesso e aborda as principais redes e sistemas
de informação no Brasil.
O quinto capítulo inclui aspectos da formação do profissional de informação, na
perspectiva de que o bibliotecário tem espaço privilegiado no exercício de todas as
atividades ressaltadas. Explica o acesso à profissão, as habilidades necessárias, assim
como alguns contextos de atuação profissional. O sexto capítulo apresenta uma reflexão
sobre a função do bibliotecário na sociedade de informação e identifica serviços e produtos
de informação no referido contexto.
O conjunto de textos aqui organizados procura, de uma maneira geral, oferecer
algumas conceituações fundamentais da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. As
questões abordadas, contudo, são introdutórias, dirigidas a iniciantes no campo de trabalho
com informação, e não se esgotam aqui, mas abrem espaços para muitas reflexões.
CAPÍTULO I - Origens e Evolução da Ciência da Informação
Marlene de Oliveira
Existe uma vasta literatura a respeito da fundamentação teórica que sustenta a
Ciência da Informação, e quanto à origem desta, a qual reflete as diversas tentativas da
comunidade da área de trazer a luz seus entendimentos sobre o que, propriamente, vem a
ser Ciência da Informação, qual é o seu objeto de estudo (a informação) e quais as suas
relações com outras disciplinas (interdisciplinaridade).
1.1 Antecedentes Sociais
Assim como outros campos interdisciplinares (Ciência da Computação, Comunicação
Social, Ecologia), a Ciência da Informação nasceu no bojo da revolução científica e técnica
que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Para alguns autores, a história da Ciência da
Informação sofreu influências marcantes de duas disciplinas, que contribuíram não só para
sua gênese, mas, também, para seu desenvolvimento: a Documentação, que trouxe novas
conceituações; e a Recuperação da Informação, que viabilizou o surgimento de sistemas
automatizados de recuperação de informações. Alguns autores que consideram tais
disciplinas como antecedentes da Ciência da Informação são Harmon (1971), Saracevic
(1992) e Pinheiro (1997). A seguir, será apresentado um breve histórico ressaltando a
importância de cada um desses pilares.
1.2 Documentação e Ciência da Informação
Com a Revolução Industrial deflagrada em toda Europa e nos Estados Unidos, no final
do século XIX, a quantidade de informações registradas cresceu de forma assustadora, e
várias tentativas foram feitas para realizar um levantamento bibliográfico universal. A
iniciativa mais importante foi assumida pelos advogados belgas Paul Otlet e Henri La
Fontaine, que acreditavam poder solucionar o problema que era o de levar ao conhecimento
de cientistas e interessados toda a literatura científica e todos os produtos do conhecimento
gerados no mundo. Para isso, planejaram a criação de uma biblioteca universal a fim de
divulgar, em fichas, os dados bibliográficos relativos a todos os documentos indexados. A
biblioteca universal seria de referência dos produtos e não de reunião de acervos. Para
coordenar tais atividades foi criado o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), que começou
a criar ferramentas para registrar, de forma sistemática e padronizada, as referências dos
documentos.
Uma das primeiras preocupações do IIB era a de desenvolver um sistema de
classificação único, a ser adotado por todos na indexação dos documentos, uma vez que a
biblioteca universal seria uma biblioteca de referências. Assim surgiu a Classificação Decimal
Universal (CDU), que oferecia a possibilidade de tratar outros tipos de documento além do
livro e de outros produtos impressos. Outro fato relevante foi a elaboração, por Paul Otlet, do
conceito de documento, que passou a ser "o livro, a revista, o jornal, a peça de arquivo, a
estampa, a fotografia, a medalha, a música, o disco, o filme e toda a parte documentária que
precede ou sucede a emissão radiofônica. São amostras, espécimes, modelos fac-símiles e,
de maneira geral, o que tenha caráter representativo, com três dimensões e, eventualmente,
em movimento". Essa nova visão de registros de conhecimento modificou a atuação do IIB,
que foi transformado, em 1931, em Instituto Internacional de Documentação (IID), já com a
preocupação de fornecer meios de controle para os novos tipos de suporte do conhecimento.
Em 1938, esse instituto foi transformado em Federação Internacional de Documentação -
FID, órgão máximo da área, que permanece atuante até hoje.
O conceito de documento ampliou o campo de atuação dos profissionais da área ao
ultrapassar os limites do espaço da biblioteca e agregar novas práticas de organização e
novos serviços de documentação. Por isso, o Instituto Internacional de Bibliografia pode ser
compreendido como acontecimento importante na gênese da Ciência da Informação, do qual
brota a idéia de bibliografia como registro, memória do conhecimento científico, desvinculada
dos organismos como arquivos e bibliotecas, e de acervos. A idéia de criação da Biblioteca
Universal de Paul Otlet e Henri La Fontaine não foi implementada, mas a iniciativa deixou
como legado, para os profissionais de informação, novos conceitos, como o de documento,
de bibliografia e a Classificação Decimal Universal.
1.3 O Surgimento dos Sistemas Automatizados de Recuperação da Informação
Outro pilar, considerado sustentáculo para o surgimento da Ciência da Informação, é a
Recuperação da Informação.
A situação após a Segunda Guerra despertou, notadamente nos países
desenvolvidos, um grande interesse pelas atividades de ciência e tecnologia, ocasionando
um aumento considerável de conhecimentos. Este fenômeno, denominado como "explosão
de informação" ou explosão de documentos, caracterizou-se por um crescimento exponencial
de registros de conhecimento, particularmente em ciência e tecnologia.
Tal fenômeno trazia em seu bojo um problema básico, que era a tarefa de tornar mais
acessível um acervo crescente, proveniente daqueles registros. Novamente o problema de
tornar acessíveis grandes massas de documentos, já levantado pelos iniciadores da
Documentação, repete-se no surgimento da recuperação automatizada da informação.
Em artigo publicado em 194511 um respeitado cientista do MIT (Massachussets
Institute of Tecnology - USA), Vanevar Bush, chefe do esforço científico americano durante a
Segunda Guerra Mundial, identificou e definiu o problema de tornar acessível o acervo
crescente de conhecimentos e propôs uma solução. A proposta era a de usar as incipientes
tecnologias de informação para combater tal problema. Ele chegou a propor uma máquina
com capacidade de "associar idéias", que duplicaria os "processos mentais artificialmente".
Na década de 1950, muitos cientistas, engenheiros e empreendedores começaram a
trabalhar sobre o problema e na solução apontada por Bush. Com efeito, naquela época, o
emprego do computador no tratamento e na recuperação da informação de maneira
sistemática trouxe novas perspectivas para os serviços de biblioteca e de informação, notada
mente, nas indústrias. O computador permite um comportamento mais preciso e racional no
tratamento da informação, além de possibilitar a manipulação de grande massa de dados.
O termo recuperação da informação foi cunhado por Mooers (1951) como um termo
que "engloba os aspectos intelectuais da descrição de informações e suas especificidades
para a busca, além de quaisquer sistemas, técnicas ou máquinas empregados para o
desempenho da operação". A concepção de recuperação proposta por Mooers contém três
perguntas básicas:
• Como descrever intelectualmente a informação?
• Como especificar intelectualmente a busca?
• Que sistemas, técnicas ou máquinas devem ser empregados?
As atividades desenvolvidas no âmbito da temática "recuperação da informação"
conduziram a estudos teóricos e conceituais sobre a natureza da informação; a estrutura do
conhecimento e seus registros (incluindo a bibliometria); os estudos relativos ao uso e aos
1 BUSH, As we may thing. Atlantic Monthly, p. 101-108, 1945.
usuários de informação; estudos do comportamento humano frente à informação a interação
homem-computador, dentre outros. Enfim, a recuperação da informação possibilitou o
surgimento dos sistemas automatizados de informação.
O trabalho com a recuperação de informações deu subsídio para o desenvolvimento
de inúmeras aplicações bem-sucedidas (produtos, sistemas, redes, serviços). Segundo
Pinheiro (1997), a evolução da recuperação da informação é vista como a grande
responsável, não a única, mas a mais forte, pelo surgimento da Ciência da Informação. Na
verdade, a Ciência da Informação progrediu para abarcar muito mais que a recuperação da
informação, mas problemas relacionados à recuperação estão presentes no seu núcleo.
1.4 Gênese da Ciência da Informação
É uma tarefa difícil precisar o surgimento de uma nova ciência, mesmo em se tratando
de uma disciplina científica recente, como é o caso da Ciência da Informação.
A ênfase nessa atividade que veio a se denominar Ciência da Informação deve-se ao
seu esforço para enfrentar os problemas de organização, crescimento e disseminação do
conhecimento registrado, que vem ocorrendo em proporções geométricas, desde logo após a
Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse sentido, a Ciência da Informação nasceu para
resolver um grande problema, que foi também a grande preocupação tanto da
Documentação quanto da Recuperação da Informação, que é o de reunir, organizar e tornar
acessível o conhecimento cultural, científico e tecnológico produzido em todo o mundo.
Um evento importante é apontado por Meadows (1991) para o desenvolvimento da
área. Segundo ele, a disciplina passou por uma acentuada evolução após a Segunda Guerra
Mundial, ocasionada pelo surgimento da Teoria Matemática da Informação, descrita por
Shanon e Weaver2 no final dos anos 1940. Essa teoria, adotada por muitas outras áreas,
explica os problemas de transmissão de mensagens através de canais mecânicos de
comunicação. O princípio de toda comunicação implica na transmissão de uma mensagem
entre uma fonte (emissor) e um destino (receptor) utilizando um canal. O emissor ou fonte
pode ser um indivíduo, um grupo ou uma empresa. O receptor ou destinatário é quem recebe
a mensagem. Esse modelo de comunicação, elaborado por engenheiros para comunicação
entre máquinas, não atendeu às necessidades teóricas da Ciência da Informação, uma vez
2 A teoria da comunicação de Claude Shannon e Warren Weaver foi descrita no Mathematical theory of comunication.
que, ao se tratar de pessoas, o receptor é submetido a um fluxo de mensagens que chegam
de todos os lados, sendo necessária uma seleção para compreender aquelas que interessam
particularmente a um indivíduo. A contribuição da teoria para o desenvolvimento teórico da
Ciência da Informação foi pequena, mas importante para a sua história, uma vez que atraiu a
atenção para a necessidade de se definir claramente o caráter da informação com que os
profissionais da área se preocupavam.
A data de 1958 é assinalada como um dos marcos na formalização da nova disciplina,
quando foi fundado, no Reino Unido, o Institute of Information Scientists (IIS). Alguns autores
descrevem a origem da nova disciplina a partir das bibliotecas especializadas (em indústrias
e outras organizações) e especialmente pela ênfase dada por estas à idéia de
documentação. Na indústria moderna houve uma crescente demanda de informação para
maior desempenho das organizações. Então, alguns cientistas qualificados se deslocaram
para a área de pesquisa e desenvolvimento ou de produção com o intuito de estabelecer um
serviço de informação ativo para seus colegas. Eles se consideravam como cientistas da
informação, já que eram cientistas que pesquisavam para cientistas. Como a atividade se
expandiu e se formalizou, houve necessidade de treinamento para aqueles que optavam por
essa atividade. O conjunto desse treinamento passou a se chamar ciência da informação. O
uso do termo cientista da informação pode ter tido a intenção de distinguir os cientistas da
informação dos cientistas de laboratório, uma vez que o interesse principal daqueles
membros era a organização da informação científica e tecnológica (Ingwersen, 1992). Os
membros denominados cientistas da informação eram profissionais de várias disciplinas que
se dedicavam às atividades de organizar e suprir de informação científica seus colegas
pesquisadores de P & D (Foskett, 1969; Meadows, 1991; Ingwersen, 1992).
Um ponto importante salientado por Meadows (1991) foi a intensidade com que o
computador afetou a estrutura dentro da qual a Ciência da Informação opera. Como outros
campos científicos de natureza semelhante, por exemplo, a Ciência da Computação, a
Ciência da Informação tem sua origem na esteira da revolução científica e técnica que se
seguiu à Segunda Guerra Mundial. Segundo alguns autores, como Saracevic (1992), as
novas tecnologias projetam-se sobre a Ciência da Informação da mesma maneira que o
fazem sobre muitos outros campos do conhecimento. No entanto, há consenso entre
estudiosos da Ciência da Informação de que ela está inexoravelmente conectada à
tecnologia da informação. A recuperação da informação, que teve papel importante no
surgimento da área, guarda em sua evolução as associações da ciência com a tecnologia da
informação.
Os avanços da informática desde a década de 1960 transformaram e estimularam as
atividades de armazenamento e recuperação da informação. Com a utilização do
computador, a Ciência da Informação passou a enfrentar novos desafios. Assim, da atividade
de recuperar informações emergiram novas questões a serem estudadas, necessidades de
novas conceituações e construções teóricas, empíricas e pragmáticas. O impacto dos
computadores e das telecomunicações 110 gerenciamento da informação foi tão grande que
hoje a Ciência da Informação e tecnologia da informação estão freqüentemente juntas 1101
discussão sobre o percurso da área.
1.4.1 Conceituação da área
A Ciência da Informação é um campo científico recente, e, portanto, ainda em
construção. Cada disciplina científica possui conceitos e teorias consistentes, reconhecidas e
partilhadas por sua comunidade. Com cerca de 30 anos de existência, a Ciência da
Informação não conta, ainda, com uma construção teórica que integre todos os seus
conceitos e práticas. Por isso, opera baseando-se em construções teóricas mais ou menos
fragmentadas. Por exemplo, a Representação da informação seria uma, Estudo de usuários
outra etc.
Desde o seu surgimento, muitos estudiosos da área já conceituaram o que é Ciência
da Informação. Alguns apresentam uma visão ampla da área, outros têm dela uma visão
mais restrita, dependendo do entendimento do autor sobre o que é informação e seu
universo de atuação. Apresentam-se, a seguir, algumas conceituações da área, de forma
sucinta, por sua relevância e atualidade.
Borko (1968) definiu a Ciência da Informação como uma disciplina que investiga as
propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo e os
meios de processamento para otimizar sua acessibilidade e utilização. Relaciona-se com o
corpo de conhecimento relativo à produção, coleta, organização, armazenagem,
recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação.
As idéias de Borko, ao conceituar a nova disciplina, apontam a essência do problema
que orienta o campo da Ciência da Informação: organizar e disponibilizar para uso as
informações sobre o que é produzido culturalmente.
O problema básico da Ciência da Informação foi estudado por Saracevic (1996)
quanto à sua evolução e ao enfoque contemporâneo. Ele a redefiniu como
(...) um campo dedicado a questões científicas e à prática profissional, voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de registros de conhecimento entre seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento destas questões são consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais. (Saracevic, 1996, p. 47) O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão
federal de financiamento à pesquisa no País, adotou uma conceituação para a área para
assim administrar a demanda de financiamento à pesquisa. Essa definição foi descrita no
documento Avaliação e Perspectiva, CNPq (1983), que analisa a Ciência da Informação, a
Biblioteconomia e a Arquivologia. Tal documento, que descreve as atividades da área de
Ciência da Informação, no Brasil, foi elaborado por uma comissão composta por consultores
de tais disciplinas. A conceituação da área, elaborada por aquela comissão, apoiou-se nas
orientações da UNESCO, que, então, estimulava a criação de uma infra-estrutura de
informação como base de sistemas nacionais de informação. No contexto daquele
documento a área é assim definida:
Ciência da Informação designa o campo mais amplo, de propósitos investigativos e
analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por objetivo o estudo dos fenômenos ligados
à produção, organização, difusão e utilização de informações em todos os campos do saber.
(CNPq. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVA, 1983, p. 52)
No entendimento daqueles consultores, a biblioteconomia e a arquivologia são
disciplinas aplicadas, que tratam da coleta, da organização e da difusão de informações
preservadas em diferentes tipos de suportes materiais. Diferenciam-se, basicamente, pelo
fato de que as bibliotecas e outros órgãos assemelhados lidam com a necessidade de prover
os usuários com informações substantivas sobre o universo dos conhecimentos, ou parte
deles, enquanto que os arquivos lidam com aqueles documentos que foram produzidos como
resultado das atividades desenvolvidas por uma pessoa física ou jurídica e que, portanto,
documentam essas atividades. (CNPq. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVA 82,1983)
Percebe-se no estudo daquele documento que a Ciência da Informação é vista como
uma grande área na qual estão abrigadas subáreas, como d Biblioteconomia e a
Arquivologia, disciplinas mais voltadas para a aplicação de técnicas, o que não quer dizer
que no âmbito daquelas disciplinas não se realizem pesquisas ou se produzam novos
conhecimentos. Percebe-se que tal entendimento da área é bastante flexível, com
possibilidades de distender-se para abrigar novas habilidades ligadas às novas atividades de
informação.
A Ciência da Informação se desenvolveu no Brasil, mais do que nos países centrais,
imbricada com a Biblioteconomia, mesmo sendo orientadas por paradigmas diferentes, o que
será visto mais adiante.
1.4.2 O objeto da Ciência da Informação
A Ciência da Informação, desde o seu surgimento, padece de dificuldades para isolar
e descrever seu objeto de pesquisa, a informação. Há muitas definições para o termo
informação, que conduzem às diferentes visões dos autores sobre o que é um processo de
informação.
Como agravante para o entendimento do termo é preciso relembrar que esse objeto
não é exclusivo da Ciência da Informação. A informação é preocupação de pesquisa da
Comunicação Social, da Ciência da Computação, da Biologia e de outros campos de estudo.
O fenômeno é visto e interpretado de forma diversa pelas diferentes áreas.
Em primeiro lugar é preciso esclarecer que, na ótica da Ciência da Informação, o
objeto "informação" é uma representação. Como é uma representação de conhecimento, que
já é uma representação do real, ela se torna uma representação de representação. Por isso,
a informação é um objeto complexo, flexível, mutável, de difícil apreensão, sendo que sua
importância e relevância estão ligadas ao seu uso.
Grande parte dos autores analisados enxerga a informação como conhecimento. Ela é
algo que ajuda na resolução de um problema ou completa uma lacuna no conhecimento da
pessoa, conforme cada necessidade. Nessa linha, Brooks (1980) afirma que informação
produz efeitos no usuário e propõe a seguinte equação como forma de sistematizar o
processo de informação: K(S) + ∂K = K (S + ∂S)
|
∂ |
A equação exprime a passagem de um estado de conhecimento que é K(S) para outro
de conhecimento expresso por K(S + ∂S). Os signos ∂K significam a contribuição de um
conhecimento extraído de uma informação que é expressa por ∂|, então, o efeito dessa
modificação é ∂S.
Muitos autores consideram a informação como um resultado da interpretação do
indivíduo. Isto é, o usuário é quem lhe confere importância e confiabilidade, sendo que a
apreensão do dado e/ou fato se relaciona a um conhecimento preexistente do indivíduo.
A informação é um conhecimento3 inscrito (gravado) sob a forma escrita (impressa ou
numérica), oral ou audiovisual. A informação comporta um elemento de sentido. É um
significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um
suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. Essa inscrição é feita
graças a um sistema de signos (a linguagem), signos estes que são elementos da linguagem
que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuação.
(Le Coadic, 1996)
O objeto da área, a informação, conforme Pinheiro (2002), está imerso em um campo
vasto e complexo de pesquisas que, por tradição, se relacionam a documentos impressos e
a bibliotecas. No entanto, a informação de que trata a Ciência da Informação não se restringe
a documentos impressos, pode ser percebida em conversas entre cientistas e outros tipos de
comunicação informal. Ela se apresenta também em uma inovação para o setor produtivo, na
forma de patente, fotografia ou objeto, no registro magnético de bases de dados, numa
biblioteca virtual ou repositório na Internet.
Para facilitar a tarefa sobre o entendimento do que venha a ser informação, Pinheiro
(1997) extraiu dos escritos de vários autores os seguintes atributos de informação:
• A informação tem o efeito de transformar ou reforçar o que é conhecido, ou julgado
conhecido, por um ser humano;
• É utilizada como coadjuvante da decisão;
• É a liberdade de escolha que se tem ao selecionar uma mensagem;
• É algo necessário quando enfrentamos uma escolha (a quantidade de informação
requerida depende da complexidade da decisão a tomar);
• É matéria-prima de que deriva o conhecimento;
• É trocada com o mundo exterior, e não meramente recebida;
• Pode ser definida em termos de seus efeitos no receptor.
A informação é um fenômeno tão amplo que abrange todos os aspectos da vida em
sociedade; pode ser abordado por diversas óticas, seja a comunicacional, a filosófica, a
semiológica, a sociológica, a pragmática e outras. Essa multiplicidade de possibilidades de
3 Le Coadic esclarece que conhecimento (um saber) é resultado do ato de conhecer. ato pelo qual o espírito apreende um objeto. Conhecer é ser capaz de formar a idéia de alguma coisa: é ter presente no espírito. Isso pode ir da simples identificação (conhecimento comum) à compreensão exata e completa dos objetos (conhecimento científico).
análise do fenômeno conduz a uma reflexão sobre a natureza interdisciplinar4, ou até
transdisciplinar5, da área, uma vez que esta, se por um lado busca sua identidade científica,
por outro, fragmenta-se ao abordar diferentes temáticas relacionadas ao binômio
informação/comunicação.
1.5 A Natureza Interdisciplinar da Ciência da Informação
Há unanimidade entre os praticantes e pesquisadores da Ciência da Informação sobre
o fato de esta ser um campo interdisciplinar6. Isso significa que os problemas da área, tanto
os de natureza teórica quanto os técnicos, têm sido equacionados com a participação de
outros ramos do conhecimento.
Na opinião de Saracevic (1992), a interdisciplinaridade foi introduzida na Ciência da
Informação pela variedade de antecedentes de todas as pessoas que se ocuparam com seus
problemas (já descritos). Entre os pioneiros havia engenheiros, bibliotecários, químicos,
lingüistas, filósofos, psicólogos, matemáticos, cientistas da computação, homens de negócios
e outros, oriundos de diferentes profissões ou ciências. Nem todas as disciplinas das quais
tais pessoas se originaram tiveram contribuição relevante, mas essa multiplicidade de visões
na construção da área foi responsável pela introdução e pela permanência do objetivo
interdisciplinar na Ciência da Informação.
A participação de outros campos do conhecimento na Ciência da Informação
permanece em função da complexidade dos problemas a serem equacionados pela área, o
que exige a contribuição de diferentes profissionais e/ou pesquisadores.
Dentre as disciplinas com as quais a Ciência da Informação tem trabalhado
distinguem-se: Biblioteconomia, Ciência da Computação, Comunicação Social.
A aproximação dos praticantes da área com outros campos de conhecimento,
segundo Ingwersen (1992), foi motivada pela necessidade de se resolverem problemas
teóricos da Ciência da Informação. Na opinião do autor, contudo, houve um exagero na
4 O termo interdisciplinaridade aqui empregado trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso, caracterizado por uma nova linguagem. 5 A transdisciplinaridade é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade, É conseqüência normal da síntese provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem-sucedida (Weeil, 1993). 6 O termo interdisciplinaridade, empregado aqui, trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando nível de discurso, caracterizado por uma linguagem (Weeil, 1993).
busca de aproximação com outras disciplinas por parte da Ciência da Informação. Ao tentar
resolver problemas teóricos, a comunidade tem trabalhado em demasia 110S espaços
fronteiriços da Ciência da Informação. Dessa maneira, a busca da interdisciplinaridade, sem
muita reflexão, pode estar tornando-a vulnerável em vez de resolver sua fragmentação.
1.6 Ciência da Informação e Biblioteconomia
Como já foi dito, a Ciência da Informação é um conjunto de teorias e práticas e, como
campo científico, produz intercâmbio com outras disciplinas. Uma delas é a Biblioteconomia,
área com a qual ela tem falado mais de perto, pelo menos na realidade brasileira.
A Ciência da Informação não é uma evolução da Biblioteconomia, conforme a crença
de alguns autores, uma vez que cada uma delas se baseia em orientações paradigmáticas
diferenciadas. As teorias da Ciência da Informação aliadas às novas tecnologias de
informação vêm contribuindo com novas práticas e serviços bibliotecários. Como já
mencionado, a Biblioteconomia e a Ciência da Informação trabalham juntas na busca de
solução para o mesmo problema que orienta a área; contudo, representam campos
científicos norteados por paradigmas diferentes. Vale salientar que o conceito de paradigma
aqui utilizado se sustenta nas idéias de Thomas Kuhn. Segundo esse historiador da Ciência,
o paradigma é visto como um modelo ou padrão de ciência que é compartilhado por uma
determinada comunidade. Dentro desse conceito não caberiam, portanto, as propostas de
teorias, caminhos teóricos e metodológicos ainda não compartilhados.
1.6.1 O paradigma da Biblioteconomia
A abordagem dada a este tópico se fixa em autores que buscaram os paradigmas da
área por meio do exame da literatura produzida. Um desses autores é Francis Miksa (1992).
Conforme seus achados, a Biblioteconomia e a Ciência da Informação representam campos
científicos orientados por paradigmas diferentes. O paradigma da Biblioteconomia, segundo
o autor, consiste em um grupo de idéias relacionadas com a biblioteca, então considerada
como uma instituição social. Suas origens encontram-se nos trabalhos de estudiosos da
Escola de Biblioteconomia de Chicago, durante os anos 1920 e 1930. Tal paradigma
desenvolveu-se usando idéias e metodologias buscadas nos campos da Sociologia e da
Educação. O ponto focal desse paradigma é a biblioteca em si mesma. Através dele, ela é
vista como uma instituição social e, mais especificamente, como uma organização social
bem definida e única. Como toda organização social, a biblioteca tem material organizacional
e características intelectuais que servem como significado para expressar suas funções em
uma estrutura social.
Nesta visão é possível identificar, nas funções da biblioteca, três propriedades, que
pressupõem as bases: material, profissional e organizacional, as quais efetivam o exercício
de tais funções.
Propriedades materiais: incluem coleções de objetos representando o conhecimento
(documentos) e equipamentos especializados.
Propriedades organizacionais: referem-se ao conjunto de estruturas administrativas e
de pessoal.
Propriedades intelectuais: englobam a idéia de sistema, como, por exemplo, sistema
de classificação, estrutura de catalogação, política de seleção.
Dentre as funções da biblioteca, no entanto, a mais importante é a de dar acesso à
sua coleção de documentos.
Sob o enfoque deste paradigma, a biblioteca existe, principalmente, para tornar
possível o uso, por um dado público, de suas coleções de documentos. Para isso, ela exerce
várias tarefas, tais como aquisição, organização e arranjo físico dos materiais coletados. O
exercício dessas tarefas exige ferramentas apropriadas e pessoal especializado, o que vai
desde a seleção e a aquisição até a recuperação das coleções e o seu uso.
Em resumo, o paradigma da biblioteca como uma instituição social conhecida - a
biblioteca - é caracterizado em termos de sua propriedade institucional e de suas funções.
Tal paradigma abarca também a instituição em um contexto amplo, envolvendo um processo
de mudança social em que indivíduos, embora apenas lendo, usam o estoque de
conhecimento social na condução de suas vidas, facilitando, assim, o processo social geral.
A função social da biblioteca enquanto uma instituição social está, principalmente, em
ser o fio condutor entre indivíduos e o conhecimento do que eles necessitam.
É importante ressaltar dois pontos principais que fragilizaram a manutenção do
paradigma em questão. O primeiro diz respeito à preocupação excessiva das bibliotecas em
armazenar e manter acervos para uma possível utilização considerando o documento mais
importante que as muitas informações nele contidas. Outro ponto foi sua preocupação menor
com os usuários. Apesar das muitas pesquisas existentes sobre usuários, a metodologia
utilizada esteve sempre centrada na avaliação dos serviços da biblioteca, e não nos
problemas fiasses usuários. Essa posição equivocada dos estudos de usuários tem
dificultado a concretização da tão almejada função social da biblioteca. /\s mudanças
ocorridas na instituição, nas últimas décadas, segundo Almeida Júnior (2002), ativeram-se ao
mínimo imprescindível para atender aos reclamos da sociedade. Presume-se que tais
mudanças não tenham sido profundas e nem consensuais, concretizando apenas o
suficiente para não sofrerem um rompimento paradigmático.
1.6.2 O paradigma da Ciência da Informação
O paradigma da Ciência da Informação compõe-se de um grupo de idéias relativas ao
processo que envolve o movimento da informação 11m um sistema de comunicação
humana. Este paradigma surgiu nos anos 1950, quando as idéias da engenharia de
comunicações e teorias cibernéticas obtiveram êxito na representação das propriedades do
sistema de transmissão de sinais em termos matemáticos. Tornou-se, então, a base das
tentativas para caracterizar e modelar o processo de recuperação da informação e/ou do
documento.
Este paradigma tem influenciado profundamente o campo da Biblioteconomia,
contribuindo não só com a palavra "informação" para denominar o novo campo, mas,
também, suprindo a área com um conjunto completamente novo de termos com os quais os
praticantes caracterizaram suas atividades. O paradigma evidencia particularmente o fluxo
de informação que ocorre em um sistema no qual objetos de representação do conhecimento
(documentos) são buscados e recuperados em resposta à pergunta iniciada pelo usuário.
Isso pressupõe uma grande extensão de assuntos específicos envolvendo processos
também específicos - por exemplo, a criação e o crescimento do volume de documentos na
sociedade, a organização e a recuperação desses documentos e/ou da sua representação e
também o seu uso. Esse modelo de sistema de informação tem origem em um contexto mais
geral, que é a teoria matemática da comunicação. A teoria consiste em um ponto de origem
(emissor), um canal pelo qual passa a informação e um ponto de destino (receptor), com
possibilidade de codificação e decodificação para fins de retroalimentação.
Essa estrutura tem sido aplicada em bibliotecas como modelo de recuperação de
documentos e para caracterizar agências que se dedicam às atividades tanto de
Biblioteconomia quanto de Ciência da Informação. O modelo permitiu estudo sobre fluxos de
informação em agências públicas e privadas, entre membros de uma disciplina, profissões,
especialistas etc.
A importância desse paradigma para a área, segundo Miksa (1992), se expressa em
três idéias básicas:
1. Permitiu a formalização da idéia de que informação é algo que flui dentro de um
sistema. A partir daí, surgiram os conceitos de entropia e incerteza, redundância,
retroalimentação, sinal para taxas de ruídos;
2. A informação passou a ser entendida como algo divisível dentro de unidades feitas em
partes, num sistema;
3. A idéia de movimento da informação tem intensificado a busca de entendimento da
informação em si mesma. A princípio tal movimento foi discutido como fenômeno
físico - isto é, como a transmissão de sinais mensuráveis -, o que tornou flexível o
conceito principal do paradigma. Depois foram acrescentados outros domínios do
movimento da informação, por exemplo, aqueles relacionados ao fluxo de idéias,
significados, ou mensagens cheias de significados envolvidos com a semiótica e a
semântica.
No campo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, este paradigma tem, então,
como fenômeno central o movimento da informação em um sistema de comunicação. O
processo é modelado em termos de fluxo da informação entre dois pontos através de um
canal, permitindo, para controle, a incorporação do feedback.
Este paradigma também contém fragilidades que não puderam ser superadas. O fato de
originar-se da Teoria Matemática da Comunicação, idealizada para transmissão de sinais, ao
ser transposto para o ambiente da Ciência da Informação, não permitiu considerar os
aspectos cognitivos da informação e nem o desejo do usuário como componentes que
alteram significativamente o processo de recuperação da informação dentro de um sistema.
Além disso, Miksa (1992) comenta que tanto os modelos matemáticos de recuperação
quanto as conceituações advindas daquele modelo não foram vastamente testadas por meio
da prática da pesquisa.
Pode-se notar que a literatura sobre os modelos matemáticos de recuperação da
informação, assim como os conceitos de pertinência, relevância e outros, diminuiu, por algum
tempo. Quando surgiu a rede mundial de computadores e, com isso, a oferta de inúmeros
serviços de informação, esses modelos voltaram a ser preocupações de pesquisa.
Segundo Thomas Kuhn (1975), a transição de um paradigma em crise para um novo não
chega a ser um processo cumulativo. A reconstrução da área de estudos é feita a partir de
novos princípios, reconstrução que altera algumas generalizações teóricas mais elementares
do paradigma, bem como muitos de seus métodos e aplicações (Kuhn, 1975). Assim, apesar
da ação revolucionária do novo paradigma, há um período de transição entre o velho e o
novo modelo, havendo coincidências entre os problemas que podem ser resolvidos por
ambos.
À luz dos estudos de Kuhn (1975) parece ser este um momento de transição da área,
quando ela testa uma nova teoria na busca de solução para uma crise. Essa crise coincide
com o surgimento das novas tecnologias de processamento, armazenamento e
disseminação da informação, principalmente deslocando os catálogos de bibliotecas de seus
locais de origem, levando-os para perto dos usuários através das bases de dados. A unidade
de análise da Biblioteconomia não é mais somente o livro, mas também a informação; e suas
atividades, agora automatizadas, ultrapassam o espaço da biblioteca.
Isso conduz à percepção de que as atividades profissionais de ensino e pesquisa, na
área, estão sendo orientadas por paradigmas diferentes. A literatura produzida na Ciência da
Informação e na Biblioteconomia não expressa conflitos existentes na comunidade
profissional ou científica, apesar da formação nessas duas áreas ser oferecida em diferentes
níveis. O perfil do bibliotecário é formado em cursos de graduação, já os mestres e doutores
em Ciência da Informação são titulados em cursos de pós-graduação stricto sensu.
Esse compartilhamento de paradigmas, conforme as idéias de Kuhn, permanecerá até o
fortalecimento de um dos dois e/ou o surgimento de um terceiro paradigma.
Resumindo, esta é uma área em construção, uma vez que é um campo disciplinar muito
recente. Suas teorias e conceituações para o crescimento de seu campo teórico e de suas
práticas profissionais dependem de uma boa formação acadêmica e compromisso por parte
dos profissionais.
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CAPÍTULO II - A Produção de Conhecimentos e a Origem das Bibliotecas
Eliany Alvarenga Araújo
Marlene de Oliveira
Conhecer a origem das bibliotecas implica em abordar a produção de conhecimentos
e dos registros de conhecimentos, pois, desde a sua origem na Antigüidade Clássica, a
biblioteca é um espaço de preservação dos conhecimentos gerados pela humanidade a partir
de diferentes sociedades.
Explicar o que é conhecimento é uma tarefa difícil, face aos diversos entendimentos
do termo. Por isso, adotou-se a visão de Burke (2003): conhecimento é algo que denota o
que foi processado e sistematizado pelo pensamento. Conforme o autor, com a reabilitação
do saber cotidiano, do saber local, deve ficar óbvio que há "conhecimentos" no plural em
toda cultura.
Para melhor entendimento desta questão, descrevem-se, resumidamente, alguns tipos
de conhecimento:
Filosófico - É um tipo de conhecimento de caráter mais geral e reflexivo, que busca os
princípios que tornam possível o próprio saber. Atualmente, um dos principais objetivos do
conhecimento filosófico é a investigação de pressupostos, de consciência de limites, de
crítica da ciência e da cultura.
Religioso - Esse conhecimento apóia-se em doutrinas que contêm proposições
sagradas por terem sido consideradas reveladas pelo sobrenatural. É um conhecimento
sistemático do mundo (origem, significado, finalidade, destino) que acredita possuir a
verdade sobre as questões fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa fé ou
crença.
Senso comum ou Conhecimento popular - É uma forma espontânea de conhecer a
realidade no trato direto com as coisas, no cotidiano. É reflexivo, porém falível e inexato.
Oriundo dos diferentes sentidos, constitui-se num conjunto de opiniões e valores
característicos daquilo que é correntemente aceito em um meio social determinado.
Científico - É um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, organizados e
suscetíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino. Trata-se de
conhecimento sistemático por se constituir de um saber ordenado logicamente, formando um
sistema de idéias (teorias). Pretende ser verificável, objetivo e comunicável. Objetiva explicar
racional e metodicamente a realidade.
Há outros tipos de conhecimento, produzidos em muitas organizações e contextos
diferentes, também importantes, que não serão discutidos aqui. Entretanto, vale salientar que
os produtos (registros) representativos desses conhecimentos, assim como a produção
cultural, se constituem em acervos que são preservados em bibliotecas, arquivos, unidades
de informação, museus etc.
Para efeito deste texto, considera-se conhecimento na sua forma concreta, tangível,
que são os produtos gráficos e objetos materiais. Na Ciência da Informação e na
Biblioteconomia são denominados documentos, tais como livros, revistas, jornais, moedas,
imagens, CDs, arquivos eletrônicos etc.
A origem exata das bibliotecas, assim como a da linguagem e a da escrita, é
desconhecida. Entretanto, podemos considerar que, diferentemente da linguagem e da
escrita, as bibliotecas apareceram na era histórica, ou seja, quando tem início a preservação
de registros escritos 111: conhecimentos. É necessário, contudo, esclarecer que as expressões
culturais vão além da escrita e se expressam em diversos produtos e artefatos, mas, no
contexto de bibliotecas, a linguagem escrita tornou-se a forna mais comum para registrar
conhecimentos.
A dedução de que a produção de conhecimentos conduz à criação de bibliotecas
aponta para o pressuposto de que onde houve grande 11Iodução de conhecimentos também
ali estarão grandes bibliotecas, arquivos, museus etc., ou seja, unidades de informação em
seus diferentes formatos.
Podemos considerar que os pré-requisitos principais para o aparecimento de
bibliotecas são:
• Condições econômicas - São observadas ao longo do tempo como altamente
significantes na produção de conhecimentos e de unidades de informação. Quando
existe um excedente de riqueza em um país ou região, aumenta a disponibilização de
recursos para o incentivo à produção cultural, aqui incluindo-se a produção de
conhecimentos e de bibliotecas.
• Condições sociais - Um dos fatores importantes neste item diz respeito às influências
positivas, como o aparecimento de grandes centros urbanos que, em suas atividades
múltiplas e cada vez mais complexas, produzem inúmeros registros e requerem
sofisticados sistemas de informação. Essas necessidades podem encorajar o
desenvolvimento de bibliotecas, arquivos, museus etc. Outro fator relevante é a
educação. Um sistema formal de educação necessita tanto de registros de
conhecimento e sua conservação quanto de bibliotecas para participar e dar apoio ao
sistema educacional.
• Condições políticas - Aparecem em dois níveis, o primeiro diz respeito ao clima de
tranqüilidade política e social de uma nação, que pode conduzir e ampliar o
crescimento de bibliotecas. Em ambientes de conflitos e crises políticas, as
bibliotecas, como outros repositórios de cultura, sofrem sérios riscos em conseqüência
de tumultos, atentados etc. Assim, as bibliotecas florescem geralmente em sociedades
onde prevalece a prosperidade econômica, a população é instruída e o comércio
livreiro é bem organizado. Em outro nível, as bibliotecas, assim como toda produção
de conhecimentos, necessitam de políticas governamentais para seu estímulo e
crescimento.
O surgimento e desenvolvimento dos conhecimentos, seus produtos, assim como seu
armazenamento, organização e divulgação, podem ser observados sob essas condições
desde a Antigüidade. As grandes bibliotecas da Antigüidade Clássica de que se tem notícia
eram formadas por grandes conquistadores ou se localizavam em cidades que exerciam
poder econômico e/ou político.
Há indícios e comprovações de grandes bibliotecas na Antigüidade. Dentre elas, cita-se a
Biblioteca de Nipur, na Babilônia, descoberta em um templo, com registros em tábuas de
argila e em escrita cuneiforme. Também famosa é a Biblioteca de Assurbanipal, rei da
Assíria que viveu no século VII a.C. A biblioteca situava-se em seu palácio na cidade de
Nínive e contava com milhares de tabletes de argila com transcrições e textos sobre os mais
variados assuntos, coletados sistematicamente pelo rei em outros templos do seu reino.
A mais famosa biblioteca da Antigüidade ficava em Alexandria, no Egito, e seu
desaparecimento deveu-se a saques de conquistadores, fanáticos religiosos e a desastres
naturais. Cabe salientar, contudo, que, no final de 1990, ela foi reconstruída pelo governo do
Egito com a colaboração da UNESCO. Os temas dominantes do seu acervo relacionam-se
às antigas civilizações de Alexandria e do Egito, desde a Antigüidade até a Idade Média.
Na Idade Média, as igrejas e mosteiros foram os grandes guardiões dos ricos acervos das
antigas bibliotecas. Esse fato coincide com a riqueza e o poder da Igreja, que, naqueles
séculos, não só produzia, mas também legitimava os conhecimentos.
2.1 A Invenção de Guttenberg
Desde a Antigüidade até o final da Idade Média foram utilizados diferentes suportes
como base para o registro de conhecimentos: a pedra, o barro, a madeira, o linho, a seda, o
papiro, o pergaminho e o papel. Com a invenção da imprensa por Guttenberg, em 1452, e
seu desenvolvimento nos séculos seguintes, houve grandes modificações na produção, no
armazenamento e na difusão dos conhecimentos. Esse fato ocasionou o rompimento do
monopólio que a Igreja exercia na geração e guarda dos conhecimentos. Até então, o acesso
aos conhecimentos, assim como consultas a bibliotecas, constituía-se em privilégio da elite.
A criação de Guttenberg e o processo de fabricação do papel facilitaram, aos poucos, a
democratização dos conhecimentos e do livro. Esses eventos permitiram maior produção de
registros impressos e elevaram a biblioteca a uma condição de maior importância à época.
A expressão "geografia do conhecimento" é usada por Burke (2003) para mapear a
produção de conhecimentos, notada mente dos séculos XVI. XVII e XVIII. Ele distingue a
distribuição espacial do conhecimento desde os locais onde foi produzido, descoberto,
guardado até onde era difundido. Naqueles séculos, os centros tradicionais eram os
mosteiros, que guardavam grandes bibliotecas, assim como as universidades e os hospitais.
Como produtores e divulgadores de conhecimentos, o autor cita também o laboratório, a
galeria de arte, a livraria, a biblioteca, o anfiteatro de anatomia, o escritório e o café. Esse
mapeamento do conhecimento exemplifica a visão do autor de que o conhecimento é visto
na sua forma plural e não só como atividade científica. Prosseguindo, Burke (2003) percebeu
a existência de conhecimentos também em ambientes de comércio, particularmente os
portos, que eram especiais na difusão de informações. Os habitantes dos portos se dirigiam
ao cais para conversar com marinheiros de embarcações recém-chegadas. Ali filam
encontrados cartas, mapas e globos, além de o local propiciar o intercâmbio de
conhecimentos. Dessa maneira, justifica-se a importância de Lisboa na história do
conhecimento dos séculos XV e XVI, derivada de sua posição como capital do Império
Ultramarino Português. O autor cita também Veneza como a mais importante agência de
informações dos primórdios do mundo moderno, por sua posição intermediária entre o
Ocidente e o Oriente.
Quando se refere à localização das bibliotecas, Burke (2003) cita a Itália e a França,
países onde se concentrava o maior número delas. Algumas cidades italianas, como
Nápoles, Florença, Veneza e Milão, abrigaram grandes bibliotecas. Roma hospeda
bibliotecas de diversas ordens religiosas, além da Biblioteca do Vaticano. Paris superava
Roma em quantidade de bibliotecas, principalmente no século XVII. Um guia de Paris,
datado de 1692, arrola 32 bibliotecas onde se permitia que os leitores entrassem "como um
favor" para consulta em suas coleções. Naquela época, teve início a formação de centros de
estudos nas principais cidades da Europa, o que contribuiu para o aparecimento de novas
bibliotecas, tanto universitárias como públicas. Esse fato coincide com o início da
formalização da atividade de pesquisa, ocasionando o surgimento das agências de fomento
à pesquisa naquele século.
Com o aparecimento dos Estados Nacionais e a estruturação da pesquisa científica,
os conhecimentos produzidos no mundo passaram a crescer significativamente. Com o
correr do tempo, a atividade de construção de conhecimentos expandiu-se para incluir
empresas, indústrias, área jurídica e outras, que passaram de consumidoras a também
produtoras de conhecimentos. Mais recentemente, com o surgimento da Internet, a
divulgação de conhecimentos tornou-se mais rápida, agilizando os serviços das bibliotecas.
2.2 Bibliotecas no Brasil
No Brasil, as primeiras bibliotecas foram criadas por ordens religiosas. A ordem dos
Jesuítas foi a mais atuante. Em 1549, fundou a Companhia de Jesus, organização que
objetivava catequizar índios e colonos. Nas escolas daquela Companhia os padres criavam
bibliotecas que, aos poucos, se tornaram as melhores e mais numerosas. Fundaram escolas
e bibliotecas em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, no Maranhão, Pará e em
vários outros estados e cidades. Tais bibliotecas atendiam necessidades tanto de alunos em
seus primeiros aprendizados, como até de alunos de Filosofia, que equivaleriam aos das
Faculdades de hoje. As consultas não se restringiam aos alunos e professores das escolas,
mas eram possíveis a qualquer pessoa que justificasse o pedido. A Biblioteca do Mosteiro de
São Bento, em Salvador, Bahia, organizada no início do século XVI, formalizou atividades de
uma biblioteca pública (Moraes, 1979).
Com a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, pelo Marquês de Pombal, seus
bens foram confiscados, inclusive as bibliotecas. Os acervos foram selecionados e grande
parte enviada ao Colégio do Rio de Janeiro, o restante foi entregue ao bispo da Diocese.
Com isso, o conhecimento produzido por brasileiros e estudiosos daqueles colégios ficou
perdido. Outras ordens religiosas se incumbiram da educação dos brasileiros e criaram
colégios e bibliotecas para isso, como os franciscanos, Beneditinos e Carmelitas. Dentre as
bibliotecas mais relevantes, estavam as beneditinas. As abadias beneditinas tinham boas
bibliotecas e enriqueciam seus acervos por meio de compra e herança.
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil alterou as condições políticas, econômicas
e sociais da Colônia. Foi uma transformação radical no Rio de Janeiro, sua população
cresceu consideravelmente com a chegada de nobres, funcionários de muitas categorias,
comerciantes, burgueses ricos etc. Esse fato ocasionou novas necessidades na cidade e, em
conseqüência, transformou a situação do livro e das bibliotecas. Junto com os tesouros do
Estado Português, como ouro, diamantes, pratarias e paramentos da Capela Real, vieram
também arquivos das repartições públicas, manuscritos da Coroa e do Infantado e a
Biblioteca Real da Ajuda. O acervo da biblioteca era composto de coleções ricas e versáteis,
como as primeiras edições portuguesas e espanholas, edições de clássicos portugueses e
espanhóis, coleção de folhetos, manuscritos, fotos, mapas e gravuras. A partir daí, a
biblioteca desenvolveu-se recebendo também doações e, principalmente, através da
obrigação do depósito legal, pela qual a biblioteca passou a receber um exemplar de tudo o
que é publicado em território nacional. Com o retorno da Corte Portuguesa à Europa, a
Biblioteca Real ficou desfalcada de parte de seu acervo, mas, mesmo assim, ainda
conservou uma parte valiosa. Com o advento da Independência, a biblioteca ficou
subordinada a uma repartição pública e passou a denominar-se Biblioteca Nacional (Moraes,
1979).
A primeira biblioteca pública surgiu, em Salvador, como expressão da sociedade. Um
senhor de engenho, Pedro Gomes Ferrão de Castelo Branco, planejou a biblioteca como
uma instituição para promover a instrução do povo. A Biblioteca Pública da Bahia foi a
primeira a ser fundada com essa característica de não contar com recursos do governo. A
experiência não deu certo e o governo passou a dar subsídios e outras bibliotecas públicas
floresceram em outras capitais e cidades importantes.
É importante ressaltar que a divulgação da cultura até a República já não estava
restrita às livrarias e bibliotecas dos conventos religiosos. No Rio de Janeiro funcionavam
vários institutos de estudos superiores criados pelo governo, como a Real Academia Militar, o
Laboratório Químico-prático, a Academia Médico-Cirúrgica, o Arquivo Militar e a Academia
Real dos Guarda-Marinhas. Essas organizações estabeleciam em seus estatutos a criação
de bibliotecas (Moraes, 1979).
Com o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, a criação de agências de
fomento e principalmente das Universidades Federais, o crescimento do conhecimento no
Brasil expandiu-se consideravelmente, não só pela produção dos brasileiros, mas também
pela compra de coleções para atender a essas novas organizações. Contudo, o número de
bibliotecas ainda é insuficiente para atender toda a sociedade.
O país não conta com estatísticas sobre os diferentes tipos de bibliotecas existentes,
mas é possível calcular o número de bibliotecas em instituições de nível superior, uma vez
que a autorização para o funcionamento destas depende exatamente da existência de
bibliotecas. Considerando-se o número de universidades federais existentes no país, estima-
se que o número de bibliotecas universitárias esteja em torno de 62. O Anexo A elenca
instituições universitárias federais e estaduais que, portanto, oferecem serviços
bibliotecários.
2.3 Conceituações
As teorias e conceitos que embasam grande parte das atividades das bibliotecas são
oriundos da Ciência da Informação, em função de orientações comuns na resolução de
problemas. Assim, a biblioteca é uma coleção de documentos bibliográficos (livros,
periódicos etc.) e não bibliográficos (gravuras, mapas, filmes, discos etc.) organizada e
administrada para formação, consulta e recreação de todo o público ou de determinadas
categorias de usuários.
2.4 Tipos de Bibliotecas
Segundo a finalidade, as bibliotecas se dividem em:
a) Nacionais - têm como principal finalidade a preservação da memória nacional, isto é,
da produção bibliográfica e documental de uma nação.
b) Públicas - surgiram com a missão de atender às necessidades de estudo, consulta e
recreação de determinada comunidade, independentemente de classe social, cor,
religião ou profissão.
Seus objetivos principais são:
- estimular nas comunidades o hábito de leitura;
- preservar o acervo cultural.
c) Universitárias - a finalidade desse tipo de biblioteca é atender às necessidades de
estudo, consulta e pesquisa de professores e alunos universitários.
d) Especializadas - são aquelas dedicadas à reunião e organização de conhecimentos
sobre um só tema ou de grupos temáticos em um campo específico do conhecimento
humano.
e) Escolares - são destinadas a fornecer material bibliográfico necessário às atividades
de professores e alunos de uma escola.
f) Infantis - devem estar mais voltadas para a recreação e proporcionar outras atividades
como: escolinhas de arte, exposição, dramatizações etc. Necessitam de um acervo
bem selecionado para seus usuários.
g) Especiais - são aquelas que se destinam a atender a um tipo especial de leitor e, por
isso, detêm um acervo especial, como, por exemplo, as bibliotecas para deficientes
visuais, presidiários e pacientes de hospitais.
h) Biblioteca ambulante ou Carro-biblioteca ou Bibliobus - são bibliotecas volantes, que
objetivam a extensão dos serviços bibliotecários às áreas suburbanas e rurais, quando
estes são deficientes ou inexistentes. São serviços de extensão de bibliotecas já
existentes, como bibliotecas públicas ou universitárias.
i) Popular ou comunitária - é um tipo de biblioteca criada e mantida pela comunidade.
Tem os mesmos objetivos da biblioteca pública, mas não se vincula ao poder público.
E mantida por órgãos, como associações de moradores, sindicatos e grupos
estudantis.
2.5 Atividades de uma Biblioteca / Unidade de Informação
A biblioteca ou outra unidade de informação, aqui entendida como uma unidade que
trata de informação, desde a organização até sua difusão (base de dados, serviço de
informação especializada, centro de informação, telecentro, videotecas, mapotecas etc.),
pressupõe atividades bem características, por trabalhar a informação. Isso faz com que esse
tipo de instituição ou serviço ofereça serviços e produtos particularizados.
É importante salientar que os esclarecimentos aqui fornecidos sobre
bibliotecas/unidades de informação são gerais e presumem metodologias que podem ser
utilizadas tanto em bibliotecas tradicionais quanto em unidades de informações eletrônicas,
como as bibliotecas virtuais.
A biblioteca como uma organização pressupõe três grandes funções:
1) Função gerencial - administração e organização.
Classificação ou ato de classificar pode ser entendido como um processo mental, por
meio do qual se dá a reunião de objetos em classes ou grupos que apresentam, entre si,
certos traços de semelhança ou, ainda, de diferença (Souza, 1950, p. 3). Na Biblioteconomia,
a classificação é a tarefa de descrever o conteúdo de um documento de onde é extraído o
assunto principal e, eventualmente, um ou dois assuntos secundários, os quais são
traduzidos para o termo mais apropriado da linguagem documental adotada na unidade de
informação.
A Biblioteconomia e a Ciência da Informação lidam, mais comumente, com a
classificação dos conhecimentos que estão registrados nos mais diversos suportes. Assim,
nas Bibliotecas e Unidades de informação, os documentos são classificados e agrupados
conforme os assuntos de que tratam. Para esta tarefa específica existem sistemas de
classificação bibliográfica que visam a organização de documentos, com o intuito de facilitar
o acesso dos usuários à informação contida em seus respectivos acervos.
Ao longo da história, surgiram vários modelos de sistemas de classificação. Os mais
estudados são a Classificação Decimal de Dewey - CDD, a Classificação Decimal Universal -
CDU e a Classificação Facetada de Ranganathan, entre outras. Como já foi mencionado, na
história do surgimento da CDU, as classes da Classificação Decimal de Dewey foram
utilizadas na sua construção, assim, ambas carregam a mesma filosofia. A CDU, segundo
Miranda (1996),"caracteriza-se como um instrumento de representação da informação e,
conseqüentemente, de organização do conhecimento registrado em sistemas de
recuperação da informação" (Miranda, 1996, p. 23).
Esse sistema é dividido em classes decimais, o que permite a inclusão de temas e
subtemas. As classes principais da CDU são:
0 Generalidades. Ciências e conhecimento. Organização. Informação etc.
1 Filosofia. Psicologia.
2 Religião. Teologia.
3 Ciências Sociais ... Direito. Administração etc.
4 Vaga.
5 Matemática e ciências naturais.
6 Ciências aplicadas. Medicina. Tecnologia.
7 Arte, Belas Artes. Recreação. Diversões. Esportes.
8 Linguagem. Lingüística. Literatura.
9 Geografia. Biografia. História.
Como podemos observar, a classe 0 é a mais geral das classes e é usada para
trabalhos sem uma limitação, por exemplo, enciclopédias, jornais, periódicos, e ainda para
algumas disciplinas especializadas, como Ciência da Computação, Biblioteconomia e Ciência
da Informação, Jornalismo. Tais sistemas buscam acompanhar os avanços do conhecimento
humano, contudo, as atualizações ainda são lentas.
Indexação - é uma das principais atividades desenvolvidas numa Biblioteca ou
Unidade de Informação. Consiste na descrição dos conteúdos dos documentos e possui
como principal objetivo a recuperação a informação desejada pelo usuário. Segundo
Guinchat e Menou (1994), esses conteúdos são expressos por meio de um vocabulário
oriundo da linguagem documental escolhida na unidade de informação. Essa tarefa tem
como desdobramento a construção de índices de termos, o que possibilita maior facilidade
de pesquisa ou consulta por parte do usuário.
Esta atividade era realizada essencialmente por seres humanos. No entanto com o
advento do computador, passou a ser desenvolvida por softwares capazes de reconhecer os
principais termos utilizados no corpo do documento e indexá-los, daí originou-se a chamada
Indexação automatizada.
A função divulgação é uma atividade fundamenta nas unidades de informação e, por
isso, deve ser sua principal preocupação. Ela consiste em comunicar ao usuário as
informações de que ele necessita e dependendo do procedimento, antecipar-se à pesquisa
do usuário, como, também, propor-lhe as possibilidades de acesso a estas
informações/documentos. As diferentes formas de atuação da biblioteca nesta atividade
englobam um conjunto de serviços a que se denominam Serviços de Disseminação.
Os Serviços de Disseminação em Bibliotecas e Unidades de Informação vêm ao longo
dos anos se fortalecendo, na medida em que os profissionais de Biblioteconomia e Ciência
da Informação passaram a perceber tais serviços como um elo a ser estabelecido entre os
usuários e os diversos serviços/materiais existentes e disponibilizados pela unidade de
informação. Esta ligação passou a ser fundamental para o bom desempenho das atividades
desenvolvidas em consonância com as políticas estabelecidas pela organização. Os serviços
de divulgação reúnem instrumentos como: referência, orientação ao usuário, empréstimo,
fornecimento de fotocópias e os serviços de alerta, que incluem os sumários correntes e a
disseminação seletiva da informação.
A Biblioteca é um organismo vivo a serviço da comunidade; nela, obtemos respostas
às nossas mais diversas indagações. O lugar de destaque que ela ocupa no mundo atual
decorre da importância que a informação tem para cada sociedade. Assim, a biblioteca
participa do aprimoramento intelectual, humanístico, técnico e científico de todos os
segmentos sociais.
REFERÊNCIAS
BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. 241 p.
FIGUEIREDO, Nice. Paul Otlet e o centenário da FID. In: ORGANIZAÇÃO do conhecimento
e sistemas de classificação. Brasília: IBICT, 1996. p. 14-19.
GOMES, Sonia de Conti. Bibliotecas e sociedade na Primeira República. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1983. 101 p.
GOMES, Hagar. Organização do conhecimento e novas tecnologias. In: ORGANIZAÇÃO do
conhecimento e sistemas de classificação. Brasília: IBICT. 1996. p. 54-57.
GUINCHAT, C.; MENOU, M. Introdução geral às ciências e técnicas da informação e
documentação. 2. ed. Brasília: MCT/CNPq/IBICT, 1994. 528 p.
LEMOS, A. B. Bibliotecas. Texto didático. [s.n.t.]
MIRANDA, M. L. C. A CDU nos currículos dos cursos de graduação em Biblioteconomia no
Brasil. In: ORGANIZAÇÃO do conhecimento e sistemas de classificação. Brasília: IBICT,
1996. p. 22-34.
MORAES, Rubens Borba. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos, 1979. 195 p.
MOTTA, Paulo Roberto. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. São
Paulo: Record, 1997. 256 p.
SOUZA J. S. Classificação: sistemas de classificação bibliográfica. 2. ed. São Paulo:
Departamento Municipal de Cultura, 1950.
CAPÍTULO III - A Ciência da Informação no Brasil
Maria Eugênia Albino Andrade
Marlene de Oliveira
Em uma abordagem sociológica, a atividade científica é caracterizada como o
compartilhamento de teorias entre pessoas, de modo d possibilitar a geração de novos
conhecimentos e uma prática mais enriquecedora e inserida no contexto social, econômico e
político em que ocorre. Assim, uma disciplina científica que pretenda alcançar o status de
ciência, como é o caso da Ciência da Informação, classificada na área de ciências sociais
aplicadas, necessita tanto de teorias quanto de práticas.
Em nível teórico, a Ciência da Informação apresenta dificuldades relativas à
delimitação de seu objeto de estudo, a informação, bem como dificuldades em desenvolver
teorias em suas diversas subáreas, o que tem sido discutido por sua literatura em âmbito
mundial.
Além das teorias que dizem respeito à sua estrutura interna, toda área científica
precisa de condições externas favoráveis ao seu desenvolvimento.
No Brasil, a Ciência da Informação conta com uma infra-estrutura ainda incipiente, de
ensino e pesquisa, uma vez que seu apoio institucional está em fase de implantação.
Para o desenvolvimento das atividades científicas, torna-se necessária uma infra-
estrutura mínima composta por elementos básicos, a saber:
- instituições de ensino e pesquisa fortes, bem como de apoio às atividades de
pesquisa;
- recursos humanos qualificados;
- canais de comunicação e intercâmbio científico.
Para abordar o desenvolvimento da Ciência da Informação e o estabelecimento de
sua infra-estrutura no Brasil, faz-se obrigatório dedicar atenção ao Instituto Brasileiro de
Bibliografia e Documentação -IBBD, hoje Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia - IBICT A história da Ciência da Informação passa, necessariamente, pela história
dessa instituição, uma vez que ela introduziu no país as primeiras idéias da documentação e,
mais tarde, da Ciência da Informação.
O IBBD foi fundado em 1954, ligado ao então Conselho Nacional de Pesquisas,
atualmente Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. A
criação desses dois órgãos foi influenciada pela UNESCO, que, na década de 1950,
incentivou o estabelecimento de políticas nacionais para estimular o desenvolvimento
científico e tecnológico e, também, para contemplar com informação científica os países
periféricos, respectivamente.
O fato de o IBSD estar ligado a um órgão de financiamento a pesquisas facilitou o
cumprimento de sua missão, tornando-o, então, um centro documentação que visava apoiar,
em termos informacionais, as atividades das instituições científicas, técnicas e industriais
brasileiras. Entretanto, a literatura sobre o assunto aponta dificuldades sentidas pelo instituto
para iniciar as suas atividades, pois tinha carência tanto de recursos financeiros como de
recursos humanos qualificados. Apesar das deficiências, o IBBD empreendeu iniciativas
importantes. Entre elas, deve-se destacar a realização de pesquisas bibliográficas, o que era
uma novidade à época, e cujos produtos serviram de base à confecção de bibliografias
nacionais especializadas, instrumentos básicos para o controle bibliográfico. A publicação
dessas bibliografias, elaboradas por assunto, foi possibilitada pelo grande e variado acervo
do IBBD de periódicos internacionais e de levantamentos bibliográficos.
Outra atividade relevante, implementada pelo Instituto e mantida até hoje, foi a
elaboração e a disponibilização do Catálogo Nacional de Publicações Periódicas - CCN. É
uma base de dados que arrola as revistas científicas e técnicas existentes nas bibliotecas
brasileiras, indicando as bibliotecas que possuem determinado título de periódico e quais
fascículos. O CCN constitui instrumento fundamental para a localização e o acesso a esse
tipo de literatura imprescindível para a concretização de trabalhos acadêmicos e pesquisas
científicas.
A preocupação em arrolar e facilitar o acesso à literatura científica e técnica, aliada à
de sanar o problema de recursos humanos carentes de maior formação, levou o IBBD a criar
o "Curso de Pesquisas Bibliográficas em Ciências Médicas e em Ciências Agrícolas", em
1955. Posteriormente, passou a ser denominado "Curso de Documentação Científica", com
ampliação do seu conteúdo. Esses cursos eram, inicialmente, dirigidos a bibliotecários, com
o objetivo de capacitá-los a trabalhar com a literatura científica e técnica, primeiro enfoque da
Ciência da Informação.
Por meio da oferta desses cursos, o IBBD atuou como um centro irradiador de novos
conhecimentos tanto para o Brasil quanto para outros países da América Latina, pois
bibliotecários de diferentes origens atenderam ao curso de documentação, até o final da
década de 1960.
O IBBD, como órgão da administração federal, passou por transformações que
ocorreram no Estado brasileiro, na década de 1970, quando o nome e missões de muitas
instituições foram alterados. O nome do IBBD foi modificado para Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT, mas manteve sua vinculação ao CNPq, cujo
nome também foi mudado de Conselho Nacional de Pesquisas para Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Entretanto, o IBICT preservou a experiência
herdada do IBBD de atuar no campo de informação em ciência e tecnologia tanto em relação
ao controle e acesso à informação documentária quanto em relação à formação de recursos
humanos na área de informação (Neves, 1995).
Na mesma década, o Estado optou por investir na criação de infra-estrutura para o
desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil, destinando-lhe parcelas significativas de
orçamento. Um fato marcante desse período foi a expansão dos cursos de pós-graduação
nas universidades federais. Tal política contribuiu para o desenvolvimento da ciência
brasileira como um todo, incluindo áreas mais novas, dentre elas, a Ciência da Informação.
O primeiro curso de pós-graduação stricto sensu na área, em nível de mestrado, foi
criado pelo IBICT. A partir de então, observa-se o crescimento da Ciência da Informação no
Brasil e seu processo de institucionalização, tanto em termos de formação de recursos
humanos quanto de pesquisa científica e de sua comunicação. O que será abordado a
seguir.
3.1 Sociedades Científicas
A história da ciência mostra que a institucionalização da atividade científica coincide
com a criação das academias científicas. As primeiras academias surgiram na Itália:
Academia dei Lincei e Academia Del Cimento. A Academia dei Lincei foi fundada em 1603,
tendo interrompido seus estudos nas áreas de física e astronomia após a condenação de
Galileu, em 1633. A Academia De/ Cimento, criada em 1657, funcionou por apenas dez
anos.
A sociedade acadêmica mais conhecida é a Royal Society, de Londres. Foi criada, em
1660, por um grupo de cientistas e homens abastados que se reuniram em torno de idéias de
renovação política e social. Outra instituição científica importante é a Academie des
Sciences, de Paris, criada em 1666 (Albagli, 1988).
Essas instituições se dedicavam à pesquisa científica com o apoio do poder político, e
algumas contavam com pequeno patrocínio oficial, como acontecia na Inglaterra e na
França. A função das sociedades científicas parece não ter se modificado significativamente
na sociedade moderna. Elas permanecem como entidades detentoras do papel de incentivar
a pesquisa científica e de facilitar a comunicação e discussão de resultados de pesquisas.
Um objetivo importante mantido por essas organizações é o de representar politicamente os
interesses de seus associados junto aos órgãos governamentais e à sociedade.
Outra atividade relevante dessas sociedades, principalmente no século XX, é a
promoção de eventos científicos, comumente denominados de congressos, seminários,
reuniões, encontros. Essas organizações tornam-se, também, responsáveis pela publicação
de periódicos que objetivam divulgar os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores. Assim,
as sociedades científicas, hoje, contribuem de maneira decisiva para proporcionar condições
para a intensificação do contato entre os pares de uma área, assim como para o intercâmbio
de idéias e de conhecimentos entre os membros de sua comunidade.
Além de contribuírem para o desenvolvimento dos campos de conhecimento, as
associações participam da estruturação dos mesmos. Pode-se observar a consolidação de
um campo do conhecimento pela análise das suas sociedades científicas e de suas
atividades, que são indicativos do amadurecimento de determinada área acadêmica.
O campo da Ciência da Informação possui, em sua organização interna enquanto
campo do conhecimento, sociedades científicas. Como exemplo de tal fato, pode-se citar a
norte-americana American Society for Information Science and Technology - ASIST.
No Brasil, a comunidade de pesquisadores da Ciência da Informação se congrega em
uma associação científica, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência
da Informação e Biblioteconomia - ANCIB. Ela foi criada em junho de 1989 com o objetivo,
entre outros, de promover o desenvolvimento da pesquisa, o intercâmbio e a cooperação
entre seus associados, a sistematização e a divulgação dos conhecimentos gerados pela
comunidade de pesquisadores.
A ANCIB promove periodicamente o Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da
Informação - ENANCIB. Tais encontros constituem momentos privilegiados em que os
pesquisadores apresentam e discutem seus trabalhos de pesquisa, concluídas ou em
andamento. Esses encontros são descritos pela ANCIB da seguinte maneira:
O Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) é o principal evento promovido pela ANCIB e tem o objetivo de discutir e refletir os temas e tendências da pesquisa em Ciência da Informação, de modo a estimular e fazer avançar as atividades de geração do conhecimento na área, por meio de amplo diálogo entre os pesquisadores que nela atuam. Nesse encontro, a comunidade de pesquisadores discute as questões mais em evidência e estreita os aços que unem seus membros. (ANCIB, 2004)
Os encontros da ANCIB são estruturados por Grupos Temáticos, em torno dos quais
os trabalhos de investigação científica são apresentados e discutidos. Atualmente, a
Associação conta com os seguintes grupos temáticos:
1) Informação Tecnológica e para Negócio;
2) Representação do Conhecimento, lndexação, Teoria da Classificação;
3) Novas Tecnologias, Redes de Informação, Educação a Distância;
4) Informação e Sociedade; Ação Cultural;
5) Comunicação e Produção Científica; Literatura Cinzenta;
6) Formação Profissional e Mercado de Trabalho;
7) Planejamento e Gestão de Sistemas;
8) Epistemologia da Ciência da Informação.
Os grupos temáticos aumentam ou diminuem conforme as necessidades de pesquisa
da área. No IV ENANCIB foi criado um grupo dedicado à epistemologia da Ciência da
Informação. Isso representa a concretização de esforços dedicados às teorias necessárias à
consolidação do campo e também a preocupação da comunidade da área em refletir sobre o
seu objeto e a sua prática de produção do conhecimento. Entretanto, a circulação das
informações em um campo científico demanda outros veículos principalmente, o periódico.
3.2 O Periódico Científico
A publicação regular de periódicos científicos é outra característica da consolidação de
uma área acadêmica. O surgimento do periódico científico está associado às revoluções
científicas ocorridas no século XVII e nasceu da necessidade de os cientistas se
comunicarem com rapidez e de forma sistemática. O periódico constituiu uma forma de
comunicação intermediária entre os contatos pessoais e os longos tratados. Criou, também,
condições para a troca de idéias e críticas das pesquisas desenvolvidas, estendendo a
audiência a todos os cientistas dedicados a um tema.
O aumento das sociedades científicas, em meados do século XVII, colaborou na
proliferação da revista científica. Segundo Meadows (1974), a importância desses periódicos
deve-se ao fato de terem sido desenvolvidos como órgãos oficiais das sociedades científicas
e como instrumentos de comunicação dos resultados de pesquisa.
O primeiro periódico científico surgiu com o nome de Journal des Sçavans, em 1665.
Seu objetivo era registrar informações sobre livros publicados na Europa, divulgar
experimentos de física e química, descrever invenções, registrar dados meteorológicos e
citar as primeiras decisões das cortes civil e religiosa. Sua publicação foi interrompida por
imposição da Coroa Francesa.
No mesmo ano, 1665, foi fundado o Philosophical Transactions of the Royal Society,
em Londres. Diferentemente do periódico científico, este se dedicava somente ao registro de
experimentos científicos em todas as áreas, relatadas em cartas por cientistas europeus.
Assim, os membros da Royal Society poderiam ter acesso ao conhecimento então produzido.
A partir desses dois títulos, outras sociedades científicas européias passaram a editar
periódicos com o objetivo de divulgar as pesquisas realizadas por seus membros.
Além das funções de comunicação rápida dos resultados de pesquisa e da sua
disseminação a um público mais amplo, Altbach (1980) chama a atenção para a importância
do papel do periódico no desenvolvimento de novos campos de estudo. Ainda segundo o
autor, os periódicos tornam-se especialmente importantes em um contexto social de Terceiro
Mundo, uma vez que são pioneiros no desenvolvimento de seus campos de estudo. Nesse
contexto, eles podem oferecer aos pesquisadores dos países periféricos um meio rápido de
comunicação com os pesquisadores e centros de pesquisas dos países centrais. Entretanto,
o autor aponta algumas dificuldades na manutenção das revistas científicas, naqueles
países, como, por exemplo, o custo de manter um periódico dirigido a uma comunidade
pequena de pesquisadores.
A Ciência da Informação, em seu processo de constituição e de consolidação, tem
produzido diversos periódicos. No Brasil, essa atividade da área se iniciou na década de
1970. Em 1972, foram criados a Ciência da Informação, sob a responsabilidade do IBICT, e a
Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, que teve seu título alterado em 1996 para
Perspectivas em Ciência da Informação, editada pela Escola de Ciência da Informação da
UFMG. Em 1973, foi lançada a Revista de Biblioteconomia de Brasília, publicada,
inicialmente, pela Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal e, atualmente, por essa
classe, em conjunto com o Departamento de Ciência da Informação e Documentação da
Universidade de Brasília. Ainda em 1973, a Federação Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação lançou a Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação,
posteriormente seu nome mudou para Revista Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação: Nova série.
A partir da década de 1980, outros títulos foram criados, muitos deles ligados a cursos
e programas de pós-graduação, em formato impresso e eletrônico. A revista
Transinformação é editada pelo Departamento de Pós-Graduação em Biblioteconomia da
PUCCAMP, a partir de 1989. Mas, em 1990, houve um aumento do número de periódicos ao
surgirem novos títulos ligados aos cursos de graduação e de pós-graduação na área de
informação, porém, nem todos estão sendo editados regularmente. Têm, então, sua
publicação iniciada:
- Informação e Sociedade: Estudos, sob a responsabilidade do Departamento de
Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal da Paraíba, em 1991;
- Informação & Informação, pelo Departamento de Ciência da Informação da
Universidade Estadual de Londrina, em 1995, com último fascículo datado de 2001;
- Informare: Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
ECA-UFRJ/IBICT-CNPq, em 1995, datado de 2000 o seu último número editado;
- Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, do
Depart. de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1996;
- DataGrama Zero, publicada pelo Instituto de Adaptação e Inserção na Sociedade da
Informação sob a coordenação do professor Aldo Barreto, em 1999;
- Revista Biblos do Departamento de Biblioteconomia e História da Fundação
Universidade do Rio Grande, com periodicidade anual;
- Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina;
- Revista de Biblioteconomia do Maranhão.
Os diferentes títulos se encontram em situações diversas. Alguns conseguem manter
a regularidade da periodicidade proposta, outros apresentam demoras na edição de seus
fascículos. Apesar de, no Brasil, a Ciência da Informação ter tido dificuldades em manter
seus periódicos face à escassez de recursos que vem atingindo a ciência como um todo, a
literatura desse tipo contribui para a comunicação formal de idéias e pesquisas para a sua
comunidade e para a preservação do conhecimento registrado. A presença dos cursos e
programas de pós-graduação em Ciência da Informação é decisiva na criação e na
manutenção dos periódicos. A participação de professores/pesquisadores nos conselhos
editoriais e na produção de artigos que veiculam as idéias e pesquisas de seus docentes e
discentes contribui para a consistência e manutenção das revistas.
3.3 Programas de Pós-Graduação
A formação de recursos humanos qualificados constitui elemento básico para o
desenvolvimento e a consolidação de todo campo de conhecimento. No caso da Ciência da
Informação, essa formação ocorre em dois momentos. O primeiro é a graduação em
Biblioteconomia ou em Ciência da Informação, quando se possibilita ao aluno a Introdução
na prática da pesquisa por meio dos programas de Iniciação Científica.
Entretanto, a formação de recursos humanos para a pesquisa e a docência ocorre em
um segundo momento, por meio dos cursos e programas de pós-graduação, que oferecem a
pós-graduação stricto sensu, ou seja, em nível de mestrado e doutorado. Estes são abertos a
graduados provenientes de diferentes áreas, desde que atendam aos critérios de seleção
estabelecidos.
No Brasil, a pós-graduação em Ciência da Informação tem Início com os cursos lato
sensu ou de especialização. Como já foi mencionado, o IBICT foi pioneiro na oferta de tais
cursos. Depois disso, diversos cursos de especialização na, área de informação foram
criados, especialmente na década de 1990. E preciso ressaltar que o objetivo desse nível de
ensino é preparar para melhorar o exercício profissional em determinado tema porém, tem
sido uma opção de aprofundamento de estudo adotada por cursos de graduação em
Biblioteconomia e oferecida a seus ex-alunos e, também, a graduados de outras áreas.
Por outro lado, a formação de pesquisadores e de docentes ocorre nos cursos stricto
sensu. No Brasil, os cursos de pós-graduação stricto sensu em Ciência da Informação
tiveram início na década de 1970, quando houve um crescimento significativo da pós-
graduação nacional. O primeiro curso de mestrado foi implantado pelo IBICT, em convênio
com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Depois disso, outros cursos de mestrado
surgiram, e, posteriormente, alguns passaram a oferecer também programas de doutorado. É
interessante observar que, na década de 1990, os cursos já existentes na área de
Biblioteconomia optaram pela mudança de nome para Ciência da Informação. Atualmente, o
campo conta com oito programas de pós-graduação, abrigados nas seguintes instituições:
- Instituto, Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (lBICT), em convenio com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro até 2000, e convênio em negociação com a
Universidade Federal Fluminense - Mestrado - 1970 e Doutorado - 1994;
- Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Mestrado 1976 e Doutorado - 1997;
- Universidade Federal da Paraíba (UFPB) - Mestrado - 1977;
- Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP) - Mestrado - 1977;
- Universidade de Brasília (UnB) - Mestrado - 1978 e Doutorado - 1982;
- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho" (UNESP Marília) - Mestrado 1998;
- Universidade Federal da Bahia (UFBA) - Mestrado - 1998;
- Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Mestrado – 2003
A Ciência da Informação está também presente em dois outros programas:
- Universidade de São Paulo (USP), como área de concentração do Programa de Pós-
Graduação em Comunicação - Mestrado -1972 e Doutorado - 1992;
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como linha de pesquisa do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação - Mestrado -1995.
Os cursos e programas de pós-graduação são estruturados em áreas de concentração
e, dentro de cada uma, são estabelecidas linhas de pesquisa sob as quais se reúnem os
professores / pesquisadores e discentes. As linhas de pesquisa também passam por
modificações periódicas para absorver novas temáticas e novos perfis.
Atualmente, os programas de pós-graduação em Ciência da Informação possuem as
seguintes áreas de concentração e linhas de pesquisa:
- Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT):
Área de Concentração 1 : Conhecimento, processos de comunicação e informação.
Linhas de Pesquisa:
- Teoria, epistemologia, interdisciplinaridade;
- Processamento e tecnologia de informação.
Área de Concentração 2: Política e gestão do conhecimento e informação.
Linhas de Pesquisa:
- Configurações sociais e políticas de informação;
- Gestão da informação.
- Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG):
Área de Concentração: Produção, organização e utilização da informação.
Linhas de Pesquisa:
- Informação, cultura e sociedade;
- Informação gerencial e tecnológica;
- Organização e uso da informação.
- Universidade Federal da Paraíba (UFPb):
Área de Concentração: Informação e Sociedade. Linhas de Pesquisa:
- Informação e cidadania;
- Desenvolvimento.
- Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP):
Linhas de Pesquisa:
- Gestão de serviços de informação;
- Produção e disseminação da informação.
- Universidade de Brasília (UnB):
Área de Concentração - Doutorado: Transferência da informação.
Área de Concentração - Mestrado: Planejamento e gerência de unidades de
informação.
Linhas de Pesquisa:
- Planejamento, administração, gerência e avaliação de bibliotecas e sistemas
de informação;
- Processos e linguagens de indexação;
- Formação profissional e mercado de trabalho;
- Comunicação científica;
- Informações orgânicas.
- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho" (UNESP de Marília):
Área de Concentração: Informação, tecnologia e conhecimento.
Linhas de Pesquisa:
- Informação e tecnologia;
- Organização da informação.
- Universidade Federal da Bahia (UFBA):
Área de Concentração: Informação e conhecimento na sociedade contemporânea.
Linhas de Pesquisa:
- Teoria e gestão do conhecimento;
- Informação e contextos socioeconômicos.
- Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC):
Área de Concentração: Gestão da informação. Linhas de Pesquisa:
- Fluxos de informação;
- Profissionais da informação.
- Universidade de São Paulo (USP):
Área de Concentração: Ciência da Informação e documentação.
Linhas de Pesquisa:
- Ação cultural;
- Análise documentária;
- Geração e uso da informação;
- Informação, comunicação e educação.
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):
Área de Concentração:
- Comunicação e informação.
Linha de Pesquisa:
- Informação, tecnologias e práticas sociais.
Houve um crescimento importante na quantidade de programas de pós-graduação na
área, entretanto, o corpo de professores/pesquisadores ainda está aquém da demanda dos
programas de pós-graduação. Em decorrência desse fato, eles muitas vezes dependem de
professores de outras áreas ou vinculados a outros departamentos.
3.4 Considerações Finais
A Ciência da Informação conta com uma infra-estrutura favorável ao seu
desenvolvimento no Brasil. Existem oito programas específicos de pós-graduação na área e
um como área de concentração e outro como linha de pesquisa em outros programas. Há
também um considerável aumento do número de doutores e mestres. A Ciência da
Informação brasileira conta, ainda, com muitos periódicos específicos, embora nem todos
sejam publicados regularmente. Além disso, possui uma sociedade científica que promove
encontros, permitindo o contato entre seus membros e a divulgação de pesquisas
desenvolvidas e em andamento.
A infra-estrutura para o desenvolvimento da Ciência da Informação apresenta-se
favorável, embora muitos desafios devam ser superados. Sua consistência, crescimento e
eficiência dependem, essencialmente, dos recursos humanos formados pelos cursos de
graduação e pós-graduação, assim como de sua atuação profissional, para torná-la uma
ciência com maior visibilidade e maior reconhecimento na sociedade.
REFERÊNCIAS
ALBAGLI, S. Ciência e estado no Brasil Moderno: um estudo do CNPq. 1988. 170 f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - COPPE/UFRJ, 1988.
ALTBACH, Philip G. The role of journals in knowledge distribution in the Third World. New
A recuperação da informação consiste em encontrar a informação desejada em um
armazém de informação ou base de dados (Meadows, 1992). Embora possa ter essa
conotação mais ampla, na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação a expressão tem
sido usada para significar busca de literatura (Lancaster e Warner, 1993). Se a recuperação
da informação consiste na busca de uma coleção de documentos7 para identificar aqueles
que satisfazem uma determinada necessidade de informação, sistemas de recuperação da
informação (SRls) são aqueles sistemas criados para facilitar essa busca (Lancaster e
Warner, 1993).
Embora a recuperação da informação não seja necessariamente uma atividade
computacional, na prática, hoje, SRls são automatizados. Exemplos de SRls são catálogos
de bibliotecas, bases de dados bibliográficas (como, aquelas disponibilizadas no Portal
Capes: Library and Information Sciences Abstracts - LISA, Web of Science e outras), e
motores de busca na Internet (como, o Google). Normalmente os SRls lidam com
documentos que contêm principalmente texto, e esse é o seu grande desafio, já que devem
se defrontar com a ambigüidade da palavra na recuperação da informação. Caracterizam-se
também por lidarem com informações de natureza externa (versus informação interna a
empresas e instituições), o que os diferencia de outros sistemas como os de informações
gerenciais. Em sua definição mais ampla, SRls podem, também, lidar apenas com o
problema da recuperação textual. Um sistema de armazenamento e recuperação de
desenhos de engenharia, por exemplo, seria também um SRI. Já um catálogo de fichas seria
7 O termo documento é usado no seu sentido mais amplo, não se restringindo apenas a textos, incluindo sons, imagens ou quaisquer outros objetos informativos (Buckland, 1991).
um exemplo de um SRI não automatizado.
Devido às vantagens e facilidades que os SRls automatizados oferecem para busca
de informação, seu uso tem se tornado cada vez mais comum. Esses sistemas oferecem
maior número de pontos de acesso que os SRls não automatizados, podendo-se, muitas
vezes, pesquisar palavras-chave que aparecem em qualquer ponto do registro, inclusive no
resumo e no texto completo, quando estes estão disponíveis. Além disso, permitem realizar
pesquisas mais complexas, em que vários conceitos necessitam ser relacionados, pois pode-
se combinar grande número de termos de busca com lógica booleana, de maneiras que não
seriam possíveis nos SRls impressos. Permitem também fazer, rapidamente, buscas
abrangentes, cobrindo vários anos de publicações. Essas e outras facilidades representam
uma grande economia de tempo para o usuário, permitindo que uma pesquisa que poderia
tomar muitas horas de trabalho, se realizada manualmente, seja executada bem mais
rapidamente, com o uso dos computadores.
4.2 O Funcionamento dos Sistemas de Recuperação da Informação
Um sistema de recuperação da informação pode ser representado como no diagrama
a seguir, proposto por Lancaster (1979):
Figura 4.1 - Funções de um sistema de recuperação da informação
Fonte - Adaptado de LANCASTER, F. Wilfried. Information Retrieval Systems: characteristics, testing and
evaluation. 2nd. New York: Wiley Interscience, 1979.
A aquisição de documentos por um serviço de informação implica na existência de um
critério de seleção, o qual, por sua vez, requer um conhecimento das necessidades de
informação da comunidade à qual o serviço atende. Critérios para seleção de documentos
incluem, por exemplo, assunto, tipo de documento, idioma, ou fonte. Uma vez adquiridos, os
documentos são organizados e controlados para que possam ser identificados em resposta
às consultas dos usuários. A indexação por assunto envolve a análise conceitual, ou análise
de conteúdo, e a sua tradução para um vocabulário ou linguagem de indexação. Em alguns
sistemas, isso implica no uso de um vocabulário controlado, ou seja, um conjunto limitado de
termos que devem ser usados para representar o assunto de um documento. Esse
vocabulário pode ser uma lista de cabeçalho de assunto, um esquema de classificação ou
um tesaurus, por exemplo. A representação de assuntos do documento pode ser feita
também através de um vocabulário não controlado, seja pelo uso de palavras ou frases que
ocorrem no documento que está sendo indexado ou de termos escolhidos pelo indexador. Os
termos usados pelo indexador, sejam eles provenientes de um vocabulário controlado ou não
controlado, são chamados termos de indexação.
Uma vez terminado o processo de indexação, os documentos são arquivados em
alguma forma de base de dados de documentos; e os registros contendo as representações
dos documentos são colocados em uma outra base de dados, onde eles são organizados de
forma que possam ser pesquisados. Em sistemas utilizando tecnologias anteriores, essa
base de dados de representações de documentos poderia ter a forma, por exemplo, de um
catálogo de fichas ou de um índice impresso. Hoje, ela toma a forma de uma base de dados
eletrônica.
A base de dados de documentos e a base de dados das representações de
documentos, hoje, já não são sempre distintas. Tornam-se cada vez mais comuns
representações de documentos contendo não apenas termos de indexação, mas, também,
resumos e, mais recentemente, tem se firmado a tendência das bases de dados conterem
documentos em texto completo.
Do ponto de vista do usuário, os passos envolvidos no funcionamento de um SRI são
semelhantes. As perguntas dos usuários passam por uma análise conceitual e são
traduzidas para o vocabulário do sistema. Depois disso, é elaborada a estratégia de busca e
formulada a expressão de busca, na qual os termos da busca são relacionados entre si
através de operadores booleanos ou não booleanos. A estratégia de busca consiste em um
plano para encontrar a informação desejada em que várias expressões de busca podem ser
utilizadas. Através da expressão de busca, o sistema compara, então, as representações dos
documentos com as das perguntas dos usuários. Na fase final, os documentos recuperados
através da consulta ao sistema são apresentados ao usuário para que este julgue, então, sua
relevância para as suas necessidades de informação. Pode ser que o usuário decida
modificar a sua estratégia de busca com base nos documentos recuperados (feedback),
reiniciando-se o processo.
4.3 A Pesquisa em Recuperação da Informação
As origens da pesquisa para avaliar e melhorar a performance de sistemas de
recuperação da informação são encontradas em 1953, com a execução de testes,
separadamente, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, sobre o desempenho de um
sistema de indexação então recém-lançado e controverso, o Uniterm, criado por Mortimer
Taube. Esse sistema representava documentos por termos únicos retirados do título ou
resumo, ao contrário de abordagens mais tradicionais para indexação por assunto. Os testes
de avaliação foram executados pelo Armed Services Technicallnformation Agency (ASTIA),
nos Estados Unidos (chamados de testes Uniterm e relatados por Gull, 1956), e pelo College
of Aeronautics in Cranfield, no Reino Unido (chamados de "os testes Cranfield-Uniterm" e
descritos por Thorne, 1955).
No teste ASTIA, dois grupos, um da equipe de indexação da ASTIA e o outro da
empresa Documentation Incorporated, de Mortimer Taube, indexaram separadamente e
pesquisaram a coleção, que consistia de 15 mil documentos, com 93 pedidos de busca que
haviam sido submetidos à ASTIA por usuários reais. A equipe ASTIA indexou os documentos
empregando os cabeçalhos de assunto ASTIA. A equipe da Documentation Incorporated
usou os Uniterms. A medida de efetividade empregada pelos dois grupos foi a relevância dos
documentos recuperados para a pergunta. Parece ter sido essa a primeira vez em que o
conceito de relevância foi utilizado como um critério para avaliação de SRls.
No mesmo ano dos testes ASTIA-Uniterm nos Estados Unidos, um outro teste que
comparava a performance dos Uniterms com a de formas mais convencionais de indexação
ocorreu no College of Aeronautics, em Cranfield, Reino Unido. Nesse teste comparou-se o
desempenho dos Uniterms com o de um sistema de indexação tradicional, baseado na
Classificação Decimal Universal. Usou-se uma coleção de 200 documentos dos quais 40,
chamados documentos-fonte, foram selecionados para derivar 40 perguntas de busca. O
critério de efetividade foi o sucesso de se recuperar o documento-fonte, ou seja, aquele que
havia gerado a pergunta de busca. Esse procedimento representava uma maneira de se
evitar o difícil julgamento de relevância. Os resultados desse teste, embora sujeitos a
questionamento pela metodologia adotada8, demonstraram a superioridade dos Uniterms,
que recuperaram 85% dos documentos-fonte, versus a Classificação Decimal Universal, que
recuperou apenas 50% dos documentos.
Mais dois testes, chamados Cranfield I e II, são marcos nas origens da pesquisa em
recuperação da informação. O Cranfield I, iniciado em 1957, foi similar na sua concepção e
execução ao Cranfield-Uniterm, mas numa escala mais ambiciosa - nele foi utilizada uma
coleção de 18 mil documentos em engenharia aeronáutica. Essa coleção foi indexada
usando-se 4 sistemas de indexação a serem comparados em sua eficiência de recuperação.
Um conjunto de 1.200 perguntas de busca foi criado com base em documentos-fonte. A
coleção foi então pesquisada a partir dessas perguntas. Caso o documento-fonte fosse
localizado, a busca era considerada bem-sucedida. As buscas malsucedidas, que não
conseguiam recuperar os documentos-fonte, foram analisadas para se identificar se a causa
do insucesso eram problemas relativos à formulação da pergunta de busca, à indexação, à
busca ou ao sistema.
Os resultados, sujeitos às mesmas críticas que os do teste anterior9, mostraram que
todos os sistemas testados operavam com níveis semelhantes de desempenho, em termos
de sua capacidade de recuperar os documentos-fonte: o Uniterm atingiu 82% de sucesso, os
cabeçalhos de assunto, 81,5%; a Classificação Decimal Universal, 75,6% e o esquema de
classificação facetada, 73,8%.
A segunda série de testes do Instituto Cranfield, realizada em 1963, foi chamada de
Cranfield II. Nesse teste, 33 diferentes linguagens de indexação foram construídas com
diferentes terminologias e estruturas. As diferentes linguagens de indexação variavam na
extensão do uso de termos simples ou compostos, hierarquias e controle de sinônimos e
homógrafos. Uma diferença significativa nos procedimentos do teste, comparado ao do
Cranfield I, foi que a medida de efetividade da busca de informação foi explicitamente
baseada em relevância. O desempenho de cada linguagem de indexação foi julgado pela
recuperação de itens identificados previamente como relevantes para a pergunta de busca.
8 São tidos como limitações desse teste (1) o fato de não ter sido considerada na avaliação da performance do sistema a recuperação de outros documentos além do documento-fonte, fossem estes relevantes ou não; e (2) o favorecimento de sistemas de recuperação baseados no uso de termos e não de conceitos, já que as perguntas de busca foram derivadas dos termos utilizados nos documentos (ver Ellis, 1996). 9 No Cranfield I. foi especialmente criticado o uso de documentos-fonte tanto para derivar as perguntas como para avaliar a efetividade da recuperação da informação, já que numa situação real o documento-fonte geralmente não existe. Criticou-se também o fato de que a relação entre o documento-fonte e a pergunta de busca era muito próxima (Ellis, 1996).
Foi também julgado o desempenho de cada linguagem em relação às medidas de revocação
e precisão, as quais foram criadas para uso nesse teste. A mais séria crítica à metodologia
do Cranfield II, mesmo tendo sido esta mais rigorosa que a do teste anterior, foi em relação à
obtenção dos julgamentos de relevância. Esses julgamentos representam uma área de
dificuldade, já que se constatou que podem ser influenciados por inúmeros fatores, tais
como: assunto, nível de dificuldade, estilo, ordem de apresentação do material, definição de
relevância empregada e características da pessoa que faz o julgamento (experiência,
conhecimento, inteligência, entre outros fatores).
Os testes Cranfield estabeleceram um marco na história da recuperação da
informação por terem fornecido o embasamento teórico dentro do qual a disciplina de
recuperação da informação se desenvolveu. Estabeleceram também o princípio de que a
argumentação sobre os méritos dos designs de esquemas de indexação ou classificação
para representação do conhecimento deve ter base empírica e experimental, em vez de
filosófica e especulativa, como era o caso anteriormente. Os procedimentos metodológicos
adotados nos testes Cranfield, com testes de sistemas de indexação, controlados em
laboratório usando-se coleções-teste, constituídas de um conjunto de documentos e
submetidas a perguntas de busca, e acompanhados de pressupostos relativos às
características do ambiente em que o sistema de recuperação da informação operava10
formaram uma tradição de pesquisa em design e teste de SRls.
Esses pressupostos constituem um modelo implícito de comportamento de busca de
informação que, devido a seu significado para essa tradição de pesquisa, é chamado de
modelo de recuperação da informação. Nesse modelo o usuário reconhece uma necessidade
de informação e vem ao sistema de recuperação da informação com um pedido de busca
baseado naquela necessidade. O sistema de recuperação compara o pedido do usuário com
as representações de documentos contidas no sistema. A tarefa do sistema é apresentar ao
usuário os documentos que melhor satisfazem a sua necessidade. O usuário examina as
representações dos textos apresentadas e julga a sua relevância. A intenção é que alguns ou
todos os documentos apresentados parcial ou totalmente satisfaçam a necessidade de
10 Os pressupostos dos testes Cranfield eram: (1) que a relevância é equivalente à similaridade com o tópico ou assunto; (2) que a relevância de um documento é independente da relevância de outros; (3) que todos os documentos relevantes são igualmente desejados; (4) que a necessidade de informação do usuário não muda; (5) que o julgamento de relevância é binário, isto é, um documento é relevante ou não relevante; (6) um único conjunto de julgamentos é representativo dos julgamentos de toda população de usuários e (7) a revocação é conhecida (Ellis, 1886).
informação do usuário.
O modelo de situação de recuperação da informação implícito nos procedimentos dos
testes de Cranfield foi tacitamente aceito e empregado em pesquisas posteriores na área de
recuperação da informação. Esses testes forneceram as bases metodológicas para o
desenvolvimento da disciplina de recuperação da informação. Suas conclusões representam
os primeiros resultados científicos do campo. A abordagem para testar SRls foi empregada
como modelo para muitas outras avaliações experimentais e operacionais, criando um corpo
de trabalhos em problemas identificados dentro da estrutura teórica fornecida pelos testes.
Os resultados de pesquisas subseqüentes robusteceram as conclusões dos testes Cranfield,
reforçando o estado paradigmático do campo; além disso, serviram para orientar a
concepção dos serviços comerciais de fornecimento de bases de dados que surgiram em
seguida.
Uma continuação aprimorada da tradição de Cranfield é a iniciativa Text Retrieval
Conference (TREC), começada nos Estados Unidos, que, desde 1992, promove congressos,
estimula a pesquisa em recuperação da informação e fornece uma plataforma para que
pesquisadores testem seus sistemas e técnicas e as comparem com outros. Apesar de
existirem outras coleções-teste para recuperação da informação, TREC, contendo mais de
meio milhão de documentos, tem sido a mais usada. O tamanho da coleção-teste visa uma
aproximação maior dos testes com a realidade.
No final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, outros métodos de pesquisa para se
melhorar o desempenho dos SRls foram desenvolvidos. Ellis (1996) classifica-os nas
seguintes áreas:
• Pesquisa baseada em métodos estatísticos e probabilísticos;
• Abordagens cognitivas para a recuperação da informação, incluindo a modelagem
cognitiva do usuário;
• O desenvolvimento de sistemas especialistas intermediários como auxiliares na
recuperação da informação;
• A aplicação de conceitos e técnicas de inteligência artificial à recuperação da
informação;
• A recuperação da informação através do hipertexto.
O centro das preocupações da pesquisa estatística e probabilística é o desenvolvimento
de técnicas para indexação, classificação e elaboração automática de resumos, bem como a
busca automática. O primeiro sistema em que esse tipo de pesquisa foi testado foi o histórico
sistema SMART, de Gerard Salton. A partir dos anos 1990, essa tradição de pesquisa
passou a ser intensivamente continuada nas pesquisas para melhoria da recuperação da
informação da Internet, através dos mecanismos de busca. Já os anos 70 e 80 se
caracterizaram por uma mudança de ênfase, em que o interesse de pesquisa se dirigiu mais
para modelos cognitivos de modelagem dos usuários, nos quais os SRls pudessem se
basear, e no desenvolvimento de sistemas especialistas que intermediassem a busca. Um
dos mais conhecidos exemplos de proposta de sistema baseado em modelo cognitivo do
usuário é o Estado Anômalo de Conhecimento (em inglês, Anomalous States of Knowledge -
ASK), de Nicholas J. Belkin. Essa abordagem é criticada por ter gerado sistemas que não
foram além do estágio de protótipos, não chegando a se tornar operacionais ou comerciais.
Nesse mesmo período, vários sistemas especialistas foram criados para recuperação da
informação, embora tenham tido sucesso limitado, como, por exemplo, o CANSEARCH, para
a busca da literatura na área de câncer. Além dos sistemas especialistas, outras técnicas da
inteligência artificial como processamento da linguagem natural, redes semânticas e redes
neurais, têm sido exploradas na tentativa de aprimorar a recuperação da informação.
Cerca de 30% de toda a literatura publicada na Ciência da Informação se dá na área de
recuperação da informação (Jarvelin; Vakkari, 1993).
4.4 História e Desenvolvimento da Indústria On-line
Enquanto, desde o final dos anos 1950, eram lançadas as bases para a pesquisa em
avaliação de SRls, as técnicas de armazenagem e recuperação de dados bibliográficos em
sistemas de computadores foram desenvolvidas durante os anos 1960.
Por volta de 1969, vários produtores de bases de dados criaram fitas magnéticas
contendo dados bibliográficos como produtos secundários na produção dos seus periódicos
de indexação e resumos. Muitas dessas fitas magnéticas eram adquiridas por grandes
organizações, como Shell Research Ltd. e ICI, e usadas em serviços internos de
disseminação seletiva de informação (DSI) ou buscas retrospectivas, que eram, naqueles
dias, feitos no modo off-line ou batch. Esse tipo de busca era alimentado no computador
através de conjuntos de cartões (batch) para processamento, junto com outras buscas que
se acumulavam. O resultado era impresso. Costumava haver demora da ordem de dias ou
semanas entre o recebimento do pedido de busca e o envio do resultado e não era possível
interação entre o usuário e o sistema. Os softwares usados para as buscas eram, em geral,
desenvolvidos internamente.
Embora predominassem naquela época os sistemas off-line, já no final dos anos 1950
e no início dos anos 1960 começam também os primeiros experimentos com sistemas on-
line de recuperação da informação. Lilley e Trice mencionam exemplos desses sistemas:
SAGE11 (1952-1957), na área de defesa aérea, SABRE12 (1962), para reservas de
companhias aéreas, e TlP13 (1964), um sistema desenvolvido no MIT para buscas
bibliográficas em uma coleção de 35 mil citações, na literatura de física. Nessa época, outras
organizações nos Estados Unidos começaram a se envolver na área de busca em bases de
dados. Em 1964, a lockheed Missiles Corporation demonstrou um sistema on-line, conhecido
como CONVERSE, para buscas na base de dados de sua biblioteca. Em 1965, a empresa
System Development Corporation (SDC), num projeto financiado pelo Advanced Research
Projects Agency (ARPA), do U.S. Department of Defense, se envolveu no desenvolvimento
de um sistema que permitiu a 13 organizações privadas e governamentais acessarem, via
telefone, um arquivo de 200 mil registros bibliográficos sobre tecnologia estrangeira. O
software para esse sistema se chamou ORBIT (Online Retrieval of Bibliographic Information
Time Shared). Também em 1965, a lockheed desenvolveu um outro software para ser
utilizado em uma coleção de cerca de 200 mil documentos da U.S. National Aeronautics and
Space Administration (NASA). Este software, conhecido como RECON (Remote Console), foi
baseado no próprio software de lockheed, que foi, então, renomeado DIALOG. A IBM
começou a se envolver nessa área e, por volta de 1966, iniciou o desenvolvimento de um
sistema de recuperação bibliográfica que deu origem ao seu sistema STAIRS (Storage and
Information Retrieval System).
Também nos anos 1960 surgiram os projetos cooperativos entre bibliotecas para
aquisição de documentos, compartilhamento de dados, desenvolvimento de padrões
comuns, catalogação cooperativa e comutação bibliográfica entre bibliotecas e centros de
informação. Esses projetos, com a adoção de métodos computadorizados nos anos 1970 e
1980, passaram a se responsabilizar pela criação e manutenção de grandes bases de dados
bibliográficos para apoio às atividades de processamento técnico e administração de
bibliotecas, mas que também podem ser pesquisadas pelo usuário final. A Ohio College
11 Semi-Automatic Ground Environmnt System. 12 Semi-Automated Booking and Reservation Enviroment. 13 Technical Information Project.
Library Center (OClC), criada em 1967, foi a primeira dessas redes de catalogação
cooperativa. As bases de dados geradas por essas redes, contendo registros no padrão
MARC (Machine Readable Cataloging), inicialmente eram oferecidas apenas off-line para
produção de fichas catalográficas pelas bibliotecas-membro. A partir da década de 1970, as
bases passaram a ser oferecidas também on-line, permitindo a busca e a modificação de
registros interativamente.
Os anos 1970 se caracterizam pela consolidação da recuperação interativa on-line e
dos serviços comerciais dos distribuidores de bases de dados que haviam sido
desenvolvidos na década anterior. Por volta de 1969, alguns desses sistemas experimentais
já estavam se tornando operacionais. O Space Documentation Centre, do European Space
Agency (ESA), adquiriu o RECON da NASA e começou a oferecer um serviço de
informações on-line, cobrindo várias bases de dados e servindo a 10 terminais em sete
países europeus. Na National Library of Medicine, a Abridged Index Medicus fornecia acesso
via SDC e rede de telefone a 100 revistas em medicina clínica. O sistema foi bem recebido
por bibliotecários da área médica e, em seis meses, cerca de 90 instituições passaram a
utilizá-la. Em 1971, o completo sistema MEDlARS on-line, ou serviço Medline, tornou-se
operacional. Tal serviço usou o software ElHllL (Lister Hill National Centrefor Biomedical
Communications), baseado no software ORBIT, do SDC. Em 1971 e 1972, os serviços on-
line começaram a ampliar o acesso aos seus sistemas.
O número de bases de dados existentes, inicialmente bastante restrito, cresceu
rapidamente. Para exemplificar, em 1972 havia apenas seis bases bibliográficas disponíveis
para o público; em 1992 havia quase 5.300, desenvolvidas por 2.158 produtores (Lancaster
et aI., 1993, p. 27). Essas bases de dados precisavam ser disponibilizadas para bibliotecas e
serviços de informação, através de distribuidores. Visando suprir essa demanda, três
principais serviços de comercialização e distribuição de bases de dados surgiram: DIALOG,
oferecido pela empresa Lockheed, ORBIT, oferecido pela System Development Corporation,
e BRS-SEARCH, oferecido pelo Bibliographical Retrieval Services. Para exempiificar, o
sistema DIALOG, da Lockheed, começou como um serviço comercial de busca em 1972 com
bases de dados do U.S. Office of Education (ERIC), U.S. National Technical Information
Service (NTIS) e o National Agricultural Library (AGRICOLA). O número de distribuidores
também se desenvolveu. Enquanto em 1978 havia apenas oito distribuidores comerciais nos
Estados Unidos, Hartley et al. (1990, p. 35) reportam quase 600 no final de 1988. Todos
esses desenvolvimentos resultaram na formação de uma grande indústria de distribuição de
SRls, a chamada indústria on-line, constituída por produtores, distribuidores e usuários de
bases de dados. Outras evoluções em sistemas de processamento on-line, software de
busca e capacidade de armazenamento de dados, bem como a existência de pessoas que
pudessem utilizar a tecnologia, fizeram com que a indústria on-line florescesse. Um outro
impulso ao uso mundial desses serviços on-line durante a década de 1970 veio com os
avanços nas telecomunicações e o estabelecimento de redes de comutação de pacotes
como TYMNET e TELENET, nos Estados Unidos. Os nós dessas redes apareceram na
Europa por volta de 1974 e, depois, no restante do mundo. Assim, no início da década de
1980, centenas de bases de dados bibliográficos estavam disponíveis on-line através de
serviços de distribuição de bases de dados, como o DIALOG, BRS, British Library Automated
Information Service (BLAISE), ESA e ORBIT.
No Brasil, os sistemas on-line começam a operar no final da década de 1970, com
acesso através de terminais de vídeo, telex ou microcomputadores, utilizando redes de telex
ou telefonia internacional. Com o desenvolvimento da INTERDATA, rede de comunicação de
pacotes da Embratel, esta passou a ser utilizada. O IBICT foi uma das primeiras instituições
brasileiras a utilizar o acesso on-line a bases de dados, tendo iniciado esse serviço no final
de 1977 em um Centro-Piloto, que tinha por objetivo avaliar as bases de dados para
selecioná-Ias e formar recursos humanos na área de pesquisa de bases de dados.
Inicialmente, utilizava o ORBIT e, depois, o DIALOG e o QUESTEL.
Os anos 1980 se caracterizam pela diversificação não só das bases de dados e
serviços de distribuidores, como também das tecnologias. Surgem os microcomputadores, os
CD-ROMs e Video-Discs como novas formas de armazenamento e distribuição de bases de
dados. Aparecem novos tipos de bases de dados, sistemas especialistas e front-ends para
os serviços de acesso às bases de dados. Essa época também se caracteriza pelo
desenvolvimento de catálogos on-line nas bibliotecas, um outro tipo importante de bases de
dados que veio se somar àquelas existentes. Esses catálogos contêm referências
bibliográficas de obras inteiras, como livros, anais de congressos ou periódicos e dessa
forma se diferenciam de outras bases bibliográficas referenciais que fornecem,
principalmente, referências bibliográficas dos capítulos de livros, trabalhos publicados em
anais de congressos ou artigos publicados em periódicos e que são versões eletrônicas de
índices de citação e resumo.
Nos anos 1990, as bases de dados se disseminaram de forma mais ampla.
Inicialmente, a divulgação da tecnologia do CD-ROM permitiu a dilatação do seu acesso por
instituições de países do Terceiro Mundo, ao evitarem os custos de telecomunicações. O
crescimento e a expansão da Internet e das publicações eletrônicas possibilitou novas
formas de acesso às bases e também o surgimento de outros tipos de SRls, como as
bibliotecas digitais, acessíveis via Internet, onde o usuário pode acessar o texto completo dos
documentos, e os mecanismos de busca da própria Internet. A Web, em si, pode ser vista
como um gigantesco SRI.
O início do século XXI é marcado pela explosão dos conteúdos em forma eletrônica.
Lyman e Varian (2003), em seu estudo "How much information", estimaram que no ano de
2002 foram produzidos cinco exabytes de informação14 das quais 92% estão armazenados
em forma eletrônica em meio magnético, ou seja, nos discos rígidos de computadores. Essa
explosão e variedade de formas em que a informação é oferecida faz com que o cenário
descrito seja uma simplificação da realidade da indústria on-line, volátil e em constante
mudança. Hoje o ambiente informacional é complexo, a fronteira entre os papéis das
diversas organizações e o tipo de informação que cada uma fornece já não são claros e
existem muitos tipos de bases de dados e empresas nesta arena.
A indústria on-line, no presente momento, tem sido marcada por joint ventures, fusões
e aquisições que resultam no surgimento de gigantes da informação, megaempresas que
atuam no ramo da informação. Em 2002, aproximadamente 2/3 das empresas de informação
fizeram associações estratégicas, 84% criaram novos produtos e serviços e quase todas
adicionaram novos conteúdos aos já oferecidos, tornando-se retrospectivas. Para
exemplificar, o American Periodical Series do ProQuest fornece hoje acesso a mais de 1.100
periódicos que começaram a ser publicados entre 1741 e 1900. A grande maioria dos
distribuidores de informação, hoje, cria o seu próprio conteúdo e tem as bibliotecas,
principalmente as universitárias, como o seu principal mercado. Tornou-se também comum
que eles façam ofertas especiais para fornecimento de seus recursos informacionais a
consórcios de instituições, como é o caso dos distribuidores de informação que têm contratos
com o Portal Capes. Com os novos desenvolvimentos tecnológicos que permitem a criação
de links entre as citações bibliográficas das bases de dados e o fornecedor de texto
completo, uma nova tendência é de que as bases bibliográficas, e mesmo catálogos de
bibliotecas que não fornecem links para o texto completo, deixem de existir. Outra tendência
é que os sistemas de busca tenham interfaces dirigidas ao usuário final e o aparecimento de
14 Quantidade de informação equivalente a 37 mil bibliotecas do Congresso.
serviços direcionados para esse usuário. (Tenopir et al, 2003)
4.5 Tipos de Sistemas de Recuperação da Informação
SRls, como todos os sistemas de informação, são formados por um conjunto de
componentes que permitem que eles atinjam o seu objetivo. Esses componentes são a
tecnologia (hardware, software e as redes de comunicação de dados), as pessoas (usuários,
intermediários e pessoas envolvidas na criação do sistema) e um ou mais corpos de
conhecimento ao qual o SRI dá acesso (Allen, 1996). Esse corpo de conhecimento está
contido, em geral, em alguma forma de base de dados. Embora a base de dados seja
apenas uma parte dos sistemas de informação, muitas vezes os dois termos são utilizados
como sinônimos.
Existem várias formas de classificar os SRls. Por constituírem as bases de dados
informacionais o seu cerne, optou-se, aqui, por classificá-los de acordo com o tipo de dados
aos quais fornecem acesso. Assim, os SRls, como as bases de dados, podem ser
categorizados como referenciais ou de fonte.
Bases referenciais são bases de dados que incluem referências ou informações
secundárias. Subdividem-se em dois tipos:
• Bibliográficas: muitas vezes, as bases bibliográficas são versão eletrônica dos
periódicos de indexação e resumo, contendo citações bibliográficas e outros campos
adicionais. Outros tipos de bases de dados bibliográficas são os catálogos de
bibliotecas e as bases de dados produzidas pelas redes de catalogação cooperativa.
Usualmente são utilizadas em conexão com pesquisa ou trabalhos acadêmicos.
• Diretórios: São bases de dados que contêm dados cadastrais sobre pessoas,
instituições, softwares etc.
Bases de dados de fontes incluem a informação completa ou os dados primários.
Subdividem-se em quatro tipos:
• Bases de Texto Completo: contêm textos completos de um documento (por exemplo,
Aqui se incluem também as páginas da Wor/d Wide Web.
• Bases de Dicionários: contêm manuais, dicionários de termos, definições,
nomenclatura química, propriedades físicas etc.
• Bases Numéricas: contêm dados numéricos e séries estatísticas.Incluem bases de
dados em áreas científicas e de negócios (por exemplo, dados e indicadores
econômicos e financeiros, estatísticas de censo etc.). Podem incluir dados
manipuláveis e ser utilizadas para produção de relatórios, tabelas e gráficos e para
sofisticadas análises científicas ou de negócios.
• Bases de Imagens / Dados Gráficos: contêm, sob a forma gráfica, fórmulas
químicas, imagens de logotipo, desenhos ou figuras. Um exemplo desse tipo de base
é a TRADEMARKSCAN de marcas registradas, que contém as imagens dos logotipos.
As bases de dados podem também ser classificadas de acordo com a área de
conhecimento que cobrem. As primeiras a surgir cobriam as áreas científicas e técnicas.
Seguiram-se, nos anos 1970, as bases de dados nas áreas de engenharia e ciências
aplicadas, ciências sociais e artes e humanidades, bem como bases contendo informação de
interesse para o profissional da área acadêmica, tecnológica ou de negócios. Finalmente,
desenvolveram-se produtos para o público em geral, que indexam jornais e revistas
populares. Algumas, como o Dissertation Abstracts On-line, são multidisciplinares, porém
limitadas a um único tipo de documento. A maioria focaliza uma única área de conhecimento,
mas inclui em sua cobertura vários tipos de documentos. Os catálogos on-line e as bases de
catálogos cooperativos caracterizam-se por serem, de um modo geral, multidisciplinares,
desde que a coleção que representam também o seja. São sistemas dirigidos para o usuário
final, e seus registros e forma de indexação refletem os registros catalográficos que os
originaram.
4.6 Formas de Acesso
Basicamente, existem duas formas de acesso aos SRls: remotamente, via redes de
comunicação de dados, ou localmente.
O termo on-line é usado, na literatura de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
para designar uma forma de acesso remoto aos SRls, via outras redes que não a Internet.
Nos sistemas on-line, que já existiam antes de a Internet ter se disseminado, um computador
de um centro de informações é usado para entrar diretamente em contato com o computador
hospedeiro das bases de dados. O termo on-line significa que tanto o computador do usuário
quanto o computador hospedeiro estão se comunicando no momento da busca. Embora
esses sistemas on-line já estivessem disponíveis desde o final dos anos 1960 e começo da
década de 1970, o seu uso não era disseminado em bibliotecas devido aos custos para
acessá-los através de ligações interurbanas ou internacionais. O surgimento das redes de
comutação de pacotes teve grande impacto sobre esse uso ao baixar substancialmente
esses custos. Esse tipo de rede é ativado pelo usuário apenas quando uma mensagem está
sendo enviada, não necessitando uma conexão permanente durante todo o curso da
comunicação. Foi após o aparecimento dessas redes que o mercado da recuperação on-line
se expandiu. Exemplos de redes de comutação de pacotes são a RENPAC e INTERDATA,
do Brasil, e TYMNET ou TELENET, dos Estados Unidos. O acesso on-line é a forma mais
rápida e eficaz de acesso às bases de dados. Nas bases on-line, as informações são
atualizadas mais freqüentemente que nas versões impressas ou em CD-ROM, garantindo o
acesso a informações mais recentes.
Entretanto, existem algumas desvantagens relacionadas ao acesso on-line. Além dos
custos de acesso, que, mesmo com as redes de comutação de pacotes, ainda são altos para
países como o Brasil. outro problema é a variedade dos sistemas, pois Os detalhes técnicos
de utilização e pesquisa nas bases de dados variam de distribuidor para distribuidor. Por
serem destinados a profissionais da informação, o uso dos sistemas pode ser complexo,
exigindo treinamento e experiência. Em geral, os usuários finais têm dificuldade em lidar com
eles. Além disso, a constante evolução da tecnologia de busca torna necessário que o
profissional da informação se atualize constantemente, estudando a documentação tanto do
sistema de cada fornecedor quanto da base de dados.
No final da década de 1990, os distribuidores de bases de dados começaram a utilizar
também a Internet para oferecer outra forma de acesso remoto às bases. O acesso via
Internet é similar ao on-line, mas, nesse caso, a rede utilizada para acesso é, obviamente, a
Internet, e o custo de telecomunicações é menor. Como no caso dos sistemas on-line, uma
vez acessado o sítio do fornecedor, é necessário o uso de senhas para o acesso e a
pesquisa. Entretanto, o usuário pode usufruir de alguns serviços grátis no site do distribuidor,
mesmo que não seja assinante.
O fornecimento de acesso às bases dos grandes serviços de distribuição de bases de
dados via Internet ainda é uma novidade em experimentação e, para o profissional da
informação, apresenta várias desvantagens. Ao contrário da conexão direta on-line, o acesso
através da Internet pode ser demorado, dependendo do tráfego na rede e do horário de
acesso. Normalmente os fornecedores disponibilizam um leque menor de bases de dados do
que o oferecido pelo acesso direto on-line. Além disso, a interface de pesquisa e o software
para busca geralmente fornecem recursos menos sofisticados que os dos sistemas on-line.
Entretanto, para os usuários brasileiros, essa nova opção de acesso remoto elimina um fator
limitante, que é o custo de comunicações.
Além do acesso remoto, existe a opção de acesso local aos SRls. Muitas das bases estão
atualmente disponíveis em CD-ROMs. Alguns exemplos dos produtores/distribuidores de
bases de dados em CD-ROM são University Microfilms International (UMI), OClC e
SilverPlatter. O CD-ROM tem a vantagem de oferecer um custo fixo por uso ilimitado e
eliminar as dificuldades relacionadas com o acesso remoto, por isso, é um meio de acesso
que tem tido grande penetração em países do Terceiro Mundo. Outra vantagem é a
simplicidade de sua interface de pesquisa, que visa o usuário final e elimina a necessidade
da presença de um intermediário que conheça o sistema. Entretanto, da mesma forma que
nos sistemas on-line, existe no caso dos CD-ROMs uma variedade de sistemas com
detalhes técnicos de utilização diferentes, o que representa um obstáculo para o usuário.
Outras desvantagens dos CD-ROMs em relação aos sistemas on-line são o menor número
de bases disponíveis nesse formato, informações atualizadas com menor freqüência que nas
bases on-line e recursos de busca menos flexíveis que nos sistemas voltados para o
profissional.
Alguns vendedores de bases de dados, como Ovid Technologies Inc. ou H. W. Wilson
Company, podem fornecer também fitas magnéticas com o conteúdo das bases de dados
para que sejam montadas localmente. Esse tipo de instalação exige grande capacidade de
armazenagem dos computadores. As bases de dados são adquiridas, processadas,
carregadas no sistema e disponibilizadas para toda a instituição, geralmente mediante senha
de acesso. Normalmente, são montadas junto com o catálogo on-line da biblioteca, como
bases de dados adicionais. No Brasil, esse método é pouco usado, pois apenas
recentemente sistemas mais sofisticados para automação de catálogos de bibliotecas têm
sido implantados.
4.7 Redes de Informação
Uma rede pode ser definida como "um conjunto de sistemas de informação e/ou
comunicação - descentralizados, intercomunicantes, formados por unidades funcionais
independentes, com serviços e funções inter-relacionados - cuja interação é presidida por
acordos de cooperação e adoção de normas comuns" (Vieira, 1994, p. 29). Em uma
definição menos restritiva, que será aqui adotada, Becker e OIsen (1968) consideram que
uma rede é uma interconexão de COisas, sistemas ou organizações e que, em uma rede de
informação, mais de dois participantes trocam informações para algum propósito funcional.
Uma característica das redes é a existência de uma organização formal e de propósitos
comuns de troca de informações.
Lilley e Trice (1989, p. 105) notam que a distinção entre redes e sistemas de
informação, às vezes, pode ser pouco nítida: de acordo com algumas definições, as bases
de dados MEDLlNE, AGRICOLA e ERIC seriam consideradas sistemas de informações,
mas, se esses sistemas estiverem organizados e servindo seus usuários on-line dentro de
certos padrões, serão considerados redes.
Há uma interminável discussão teórica dos termos redes e sistemas, muitas vezes confundidos e utilizados como sinônimos, o que revela ser o trabalho em rede passível de se constituir em sistema e vice-versa, ou melhor, essas formas de atuação não são excludentes. (Pinheiro, 1990) As redes normalmente são descritas através de sua classificação por categorias. Um
amplo sistema de classificação é fornecido por Becker em 1978, em um documento sobre
administração e estrutura de redes. Segundo ele, as redes podem ser categorizadas de
acordo com:
• Os sinais que enviam (digital ou analógica);
• Sua estrutura ou topologia lógica (centralizada ou tipo estrela, descentralizada ou
hierárquica);
• Seu foco institucional (rede de bibliotecas universitárias, públicas, de órgãos de apoio
à indústria);
• Sua funcionalidade (rede de catalogação, de comutação bibliográfica, de informações
referenciais);
• O assunto tratado (rede de informação para negócios, rede de informação agrícola);
• A área abrangida (estadual, regional, interestadual, nacional, internacional).
Quanto à sua funcionalidade, as redes são utilizadas para cooperação,
compartilhamento, intercâmbio e acesso remoto a informação, documentos ou recursos
computacionais. Através da participação em uma rede de serviços de informações, o usuário
pode obter o benefício do acesso socializado a uma variedade de recursos informacionais,
além de outros, como aproximação com os pares; já as instituições mantenedoras das redes
têm o benefício de racionalizar os gastos com infra-estrutura e acervo, evitando duplicação
de esforços.
Dentro desses objetivos funcionais, na área de Biblioteconomia e Ciência da
Informação os tipos mais comuns de rede são:
• Redes de serviços e de apoio institucional, que visam o compartilhamento de
dados, o desenvolvimento de padrões comuns e a comutação bibliográfica entre
bibliotecas e centros de informação. Aqui se incluem dois outros subtipos de redes, as
redes de catalogação cooperativa e as redes de comutação bibliográfica e envio de
documentos. Os participantes são, em geral, bibliotecas e centros de informação, que
as utilizam, por exemplo, para verificação de dados bibliográficos, serviços de
comutação bibliográfica, catalogação por cópia e aquisição. Redes desse tipo têm, no
seu centro, grandes bases de dados de registros catalográficos MAR C, criados e
compartilhados por várias bibliotecas associadas. Exemplos dessas redes são o
Bibliodata e OClC (redes de catalogação) e o Programa de Comutação Bibliográfica
(COMUT). Hoje essas redes têm assumido papéis semelhantes aos dos distribuidores
de bases de dados, fornecendo softwares de busca poderosos, produzindo CD-ROMs
e, mesmo, provendo acesso a bases de outros produtores, como é o caso da OClC.
• Redes de serviços de busca e recuperação da informação, que visam principalmente
a identificação e o compartilhamento de recursos informacionais. Elas podem, por sua
vez, se subdividir em outros tipos:
- Redes cooperativas nacionais e internacionais
Um modelo genérico de funcionamento para esse tipo de rede prevê que os países ou
unidades membros da rede são responsáveis pela produção bibliográfica referente às suas
produções na área. Essas informações são coletadas por um centro regional que as envia ao
centro geral da rede, onde os dados são revisados e controlados para alimentar uma base
cooperativa de dados.
Essas redes geralmente cobrem campos de conhecimento científico e tecnológico.
Dentre elas se destacam aquelas desenvolvidas sob a coordenação e o apoio de
organizações das Nações Unidas e estabelecidas com base na cooperação internacional.
Citam-se como exemplos: o Sistema Internacional de Informação Nuclear (INIS), coordenado
pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e operante desde 1970; o AGRIS,
Sistema Internacional de Informação em Ciências e Tecnologia Agrícolas, coordenado pela
Food and Agriculture Organization (FAO); e o International Patent Documentation
(INPADOC), coordenado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).
Muitas dessas iniciativas nasceram dentro do UNISIST (sigla que significava
Universallnformation System for Science and Technology), um programa intergovernamental
da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
concebido no final dos anos 1960 e lançado no início da década de 1970, para cooperação
no campo da informação científica e tecnológica. O objetivo era estimular a criação de
sistemas nacionais especializados (agricultura, energia etc.) integrados a uma política
nacional de informação, compatíveis entre si e que permitissem a criação de sistemas
internacionais cooperativos.
Fora do âmbito das Nações Unidas, cita-se como exemplo de rede cooperativa o
Medical literature Analysis and Retrieval System (MEDLARS), da National Library of Medicine
dos Estados Unidos, que se estendeu ao mundo todo.
- Serviços de busca e recuperação de informação dos distribuidores de bases de
dados
As bases de dados produzidas pelas mais diversas instituições (redes cooperativas,