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CADERNOS VIEIRA, Alberto História da Vinho Madeira: O VINHO MADEIRA, A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E OS PRESIDENTES. Cadernos de divulgação do CEHA. Nº 1 VIEIRA, Alberto, História da Vinho Madeira: O vinho Madeira, a independência dos Estados Unidos da América e os presidentes. Funchal. Junho de 2015.
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o Vinho Madeira

Apr 28, 2023

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Page 1: o Vinho Madeira

CADERNOS

VIEIRA, Alberto

História da Vinho Madeira:O VINHO MADEIRA, A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E OS PRESIDENTES.

Cadernos de divulgação do CEHA. Nº 1

VIEIRA, Alberto, História da Vinho Madeira:O vinho Madeira, a independência dos Estados Unidos da América e os presidentes.

Funchal. Junho de 2015.

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O VINHO MADEIRA, A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

E OS PRESIDENTES

ALBERTO VIEIRA

[email protected]

CEHA/SRETC

JUNHO/2015

O vinho Madeira está inexoravelmente ligado à História dos Estados Unidos da América. Desde o século XVII que os colonos ingleses se haviam afeiçoado a este tipo de vinho produzido na ilha e firmaram-se como os principais apreciadores. Por isso, em momentos de dificuldade lutaram pela presença do vinho. O Madeira não era um vinho comum ou para todos os momentos, pois, segundo Gabriel Furman (Antiques of Long Island, 1874, 232), usava-se apenas em ocasiões especiais, como o nascimento de uma criança, o casamento ou um funeral. Segundo Nathaniel Parker Willis [1806-1867], em Dashes at Life (1845), era conhecido como vinho de casamento, situação que conquistou hoje no Japão. Philip Hone nunca havia tomado qualquer outra bebida espirituosa na vida a não ser um ou dois cálices diários de vinho Madeira.

Acontece ainda que alguns portos norte-americanos, como os de New York, Philadelphia e Virgínia foram destacadas áreas de redistribuição para o interior do continente e Antilhas inglesas1.

1 Hamilton, Stanislaus Murray. Letters to Washington and Accompanying Papers (Vol. 1). London: Forgotten Books. (Original work published 1898)

Na verdade a América do Norte foi, desde a década de quarenta do século XVII, um dos destinos do vinho madeirense: New England (1641), New Haven (1642), Boston (1645), Nova Iorque (1687). Depois, no século XVIII, consolidou-se o mercado americano e nos demais mercados do mundo colonial inglês. Assim o vinho Madeira é presença assídua, no decurso do século XIX, em Baltimor, Boston, Carolina, Charleston, Filadélfia, Hartford, Luisiana, Maryland, New York, Ne Brunswick, New Orleans, New Jersey, Norfolk, Nova Inglaterra, Ports,outh, Providence, Savannah, Virgínia.

Além do mais tivemos uma permuta de castas. A malvasia foi levada, em 1736, por William Houston para Charleston, enquanto em 1773 Joseph Aleston fez aí chegar novas castas com igual sucesso. A segunda metade do século foi o momento de afirmação do vinho madeirense, sendo evidente o empenho dos mercadores norte-americanos no proveitoso comércio de troca de vinho por peixe, cereais e aduelas para pipas. A década de sessenta do século XVIII foi o momento de afirmação, surgindo o Madeira com 29% do mercado. Nova Iorque era

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o seu destino preferencial. Metade do total das exportações de vinho, no período de 1785-1787, seguia para lá. Mas, o ato de independência dos Estados Unidos da América com o vinho Madeira pretendeu-se afirmar a importância que assumiu na sociedade. Aliás, o vinho Madeira está ligado ao movimento de pró-independência dos Estados Unidos. É certo que a guerra de secessão, a partir de 1770, dificultou o abastecimento do mercado e reflectiu-se nas exportações madeirenses, mas por pouco tempo. Assim em 1774, John Leacock estava preocupado com a notícia de que o Congresso Americano se preparava para proibir a introdução do vinho Madeira. Houve uma quebra nas duas décadas seguintes, mas, rapidamente, foi retomada a rota, de modo que, em 1794, foi atingido o máximo das exportações para este território.

Desde o século XVII que se consolidou o relacionamento da Madeira com esta colónia inglesa. As atas de navegação (1660, 1663, e os tratados de amizade, entre Portugal e o Reino Unido, onde podemos referenciar o de Methuen em 1703, abriram o caminho para que a Madeira entrasse na área de influência do mundo colonial inglês. A presença do vinho Madeira resulta do fato de ser o único que não se deteriorava com as constantes mudanças de temperatura, antes pelo contrário, adquiria propriedades. O calor tórrido a que estava sujeito nos porões e destino, bem como o movimento proporcionado pelo movimento das ondas propiciavam propriedades gustativas especiais. Hans Sloane (1687) evidencia a conquista de novos mercados, fruto de desusadas propriedades: É exportado em grandes quantidades para as plantações das Índias Ocidentais e, ultimamente, para o Ocidente, pois não há nenhuma espécie de vinho que se mantenha tão bem em climas quentes. A ideia é corroborada por John Ovington [1689], que dá conta da exportação de 8 mil pipas principalmente para as Índias Ocidentais, especialmente Barbados, onde tem mais aceitação que os vinhos europeus.

O Madeira está também presente nas origens do movimento independentista dos Estados Unidos, que se iniciou com a recusa aos elevados encargos fiscais impostos pela coroa inglesa. Sucedeu assim em 1768, quando J. Hancock, que se recusou a pagar os novos direitos sobre as 127 pipas de vinho do navio Liberty, que fazia entrar em Boston. Idêntica atitude repetiu-

se, depois, em 1773 com um carregamento de chá da Índia, situação conhecida como o “Tea Party”, por ser o despertar do movimento pró independência. Assim foi o “wine party” madeirense o primeiro momento da revolta contra a exorbitância dos direitos de entrada de produtos estrangeiros. Note-se que o vinho Madeira, por força dos tratados com a Inglaterra usufruirá neste mercado de um estatuto preferencial na importação, sendo, com o dos Açores, os únicos a ser exportados diretamente, sem passar pelos portos da Inglaterra e as taxas cobradas eram inferiores. Daí o contrabando que existia com vinho de outras procedências, nomeadamente das Canárias.

O vinho e as castas que o originavam foram motivo de grande admiração. A malvasia foi levada em 1736 pelo Dr. William Houston para Charleston, enquanto em 1773 Joseph Aleston fez aí chegar novas castas com igual sucesso2. A segunda metade do século foi o momento de afirmação

2 Thomas Pinney, A History of Win in America from the Beginnings to Prohibition, Los Angeles, 1989, pp.43, 57-59

John Hancock, 1770

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do vinho madeirense, sendo evidente o empenho dos mercadores norte-americanos no proveitoso comércio de troca por peixe, cereais e aduelas para pipas3. Quando se determinou celebrar o ato de independência dos Estados Unidos da América com o Madeira pretendeu-se afirmar a importância que assumiu na sociedade. Aliás o vinho Madeira está ligado ao movimento de pró-independência. A defesa do livre-trânsito de mercadorias, contra o pagamento dos direitos de entrada teve o primeiro incidente em 1768 com 100 pipas de vinho trazidas da Madeira para Boston por John Hancock4.

O movimento de independência não era de rejeição do vinho Madeira, mas mesmo assim tivemos uma curta pausa para reorganização do mercado, pois, não obstante os bloqueios ingleses, as cidades americanas rapidamente retomaram o comércio

3 Cynthia A. Kierner, Traders and Gentlefolk. The Livingston of New York, Ithaca, 1992, p.72; Robert A. East, Business Enterprise in the American Revolutionary Era, London, 1938, p.244; Bernard Bailyn, The New England Merchants in the Seventeenth Century, Mass., 1955, pp.78; Jorge Martins Ribeiro, Alguns Aspectos do Comércio da Madeira com a América do Norte na Segunda Metade do Século XVIII, in III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1993, pp. 389-402.

4 John W. Tyler, Smugglers & Patriots. Boston Merchants and the Advent of the American Revolution, Boston, 1986, p.115; Hiller B. Zobel, The Boston Massacre, N. York, 1978, p.73.

deste produto. E a sua ligação às várias personalidades ligadas ao movimento de independência e à presidência favoreceram a sua expansão no mercado norte-americano. O pior momento terá sucedido, no século XX surgiram algumas dificuldades à expansão do vinho Madeira nos Estados Unidos da América. O fundamentalismo chegou ao consumo das bebidas alcoólicas, determinando, a partir de 1920, a proibição de consumo, situação que se manteve até 1933, altura em que foi revogada por Roosevelt. Os poucos que se mantiveram fiéis ao consumo do vinho Madeira criaram os Madeira Party, isto é, clubes onde se reuniam, em segredo, para beber o vinho Madeira. Ficou célebre em Savanah o Madeira Club que, ainda hoje, levantada a lei seca, se reúne ritualmente no onze de novembro para saudar a ilha com um cálice de Madeira. Os mercados produtores europeus temeram a possibilidade de semelhantes medidas se estenderem a outros países, pelo que se fundou em Paris a Liga Internacional dos Adversários das Proibições.

Alguns dos textos e autores, porque clássicos, são-nos familiares, mas raramente dedicamos atenção ao particular da presença do vinho. Todos nos recordamos e fazem parte das nossas leituras os

History Sons of Liberty Boston Tea Party

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livros de Alexander Pope (1688-1744), Jane Austen (1775-1817), Charles Dickens (1812-1870), Herman Melville (1809-1849), Walter Scott (1771-1832), Edgar Allan Po (1809-1849), mas quem terá notado o interesse que lhes despertou o Vinho Madeira? Richard Penn Smith (1799-1854) em the Forsaken: A tale (1831) refere a disponibilidade de muitas pipas de bom vinho velho da Madeira, enquanto que, para Roberta Sumiu Surtees (1805-1864), em Hades Cross (1854), bastava uma garrafa de malvasia da Madeira. Em Black House (1853), de Charles Dickens, fala-se de como é agradável beber o Madeira com pão doce e pudim.

James Fenimore Cooper (1789-1851), em A float and Ashore (1844), refere o East India Madeira, conhecido, na ilha, como vinho de roda. A designação inglesa resulta do facto de o vinho fazer a viagem desde o Funchal às Índias Orientais e retornar a Londres. A dupla passagem pelos trópicos atribuía-lhe um envelhecimento prematuro do agrado dos ingleses. Já em The Ways of the Hour (1850), o vinho Madeira, certamente o seco, era bebido frio ou com pedra de gelo. Existe uma tradição britânica de beber o sercial frio.

John dos Passos (1896-1970) é um dos escritores norte-americanos que merecem referência especial, por ser descendente de madeirenses. Na vasta obra que nos legou não esqueceu a ilha e o vinho que lhes deu fama.

Na poesia, os versos constroem-se com o aroma, cor e sabor do vinho Madeira, sendo assíduas e inúmeras as referências. Apenas nos detemos nos poetas William Wordsworths (1770-1850), Philip James Bailey (1816-1902), Percy Byshe Abrelley (1792-1822). Junta-se, ainda, o escritor, filósofo e naturalista norte-americano Henry David Thoreau (1817-1862), um dos mais conhecidos ecologistas norte-americanos, em cujos versos não ignora o rubinéctar madeirense. Silas Weir Mitchell dedicou-lhe dois poemas: A decanter of Madeira, An old man to an old Madeira.

Na dramaturgia dos séculos XVIII e XIX, a exemplo do que havia sucedido com Shakespeare no século XVI, o vinho Madeira é um dos adereços de referência permanentes. Na comédia The Fox Chase (1808), de Charles Breck [1782-1822], a paixão de uma personagem pelo vinho Madeira era tanta que

tomou 20 cálices. O vinho Madeira aparece próximo do Champanhe ou do Burgundy, sempre com epítetos valorativos da apreciação, como bom, excelente ou uma raridade. Mathews Cornelius [1817-1889] em False Pretences refere uma garrafa de Madeira de 1811 (1858). Já John O`Keefle [1747-1833] em Wild Oats (1792) prefere decantado. Por fim, Benjamin Thompson [1760?-1816] em The Indian Exiles (1801), diz que o médico lhe prescreveu uma garrafa de Madeira, ficando seu apreciador para toda a vida.

Algumas das publicações periódicas de prestígio do século XIX e princípios do século XX insistem na referência frequente ao vinho Madeira. Isto deverá ser demonstrativo de que o Madeira era um dado do quotidiano e não podia ser ignorado. As indicações alargam-se a todo o tipo de publicações, abarcando os livros de culinária, os manuais de bons costumes e etiqueta e os tratados de medicina. No último caso, dava-se razão à tradição que apontava as qualidades profiláticas do vinho. F. Taylor chega mesmo a afirmar que “A ilha da Madeira é conhecida pelos Americanos principal mente devido aos seus vinhos; e em anos anteriores, pelas quantidades de cereais que eram importados dos Estados Unidos para a ilha. Nos últimos anos, o número de embarcações aqui chegadas, vindas dos Estados Unidos, diminuiu, embora ainda seja matéria de algum interesse para o nosso comércio”.(Taylor, 1840:106).

A CONJUNTURA ATLANTICA E A INDE PEN­DÊNCIA DAS COLÓNIAS. Depois, com a independência em 1776, o apreço de alguns presidentes norte-americanos pelo vinho Madeira foi suficiente para assegurar no novo país um mercado preferencial para o vinho Madeira. A década de sessenta foi o momento de afirmação, surgindo o Madeira com 29% do mercado. New York era o destino preferencial, pois metade das exportações de vinho no período de 1785-1787 seguia para lá. A guerra de secessão a partir de 1775 condicionou o mercado, marcado pela quebra nas duas décadas seguintes, atingindo em 1794 o máximo. Assim, entre 1785/1802 a quebra das relações comerciais com a América do Norte foi acentuada, refletindo-se nas crises de fome de 1795/1796, 1799.

É certo que o movimento e a guerra de independência provocaram o bloqueio aos

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tradicionais circuitos comerciais sob domínio de ingleses. Nesse contexto a conjuntura foi catastrófica para a Madeira, pois o madeirense habituado que estava a receber o sustento de trigo, milho e farinhas dos portos americanos a troco de vinhos, viu-se momentaneamente privado destes produtos e envolvido na crise de subsistência. A fome foi o resultado inevitável, sendo os anos de 1795-96 e 1799 de autêntico flagelo.

Em 1774 John Leacock estava preocupado com a notícia de que o Congresso Americano se preparava para proibir a introdução do vinho Madeira. Mas felizmente que o século dezanove definiu novo rumo para o vinho madeirense. Os portos americanos continuaram a recebê-lo mas não com a assiduidade que os caracterizou na centúria anterior. O vinho estava de regresso ao velho continente e avançava à conquista do mercado nórdico. Num ápice passou do calor tórrido para o frio da Sibéria sem se deteriorar. A conturbada situação provocada pela guerra civil terá provocando o desvio. Em 1863 Charles Blandy em carta a Jefferson Davies, Presidente dos Estados confederados, reclamava o pagamento dos danos causados com a perda de mercadoria provocada pelo afundamento pelo Alabama do barco Lauraetta5.

Note-se ainda que a guerra da independência dos Estados Unidos da América, de 1775 a 1783, desestruturou o mercado norte-americano e levou a que alguns mercadores fossem forçados a apostar no mercado britânico. John Leacock foi um dos que sentiu necessidade de reforçar os laços com Londres, passando a manter uma relação regular. Desde 1772 foi o fornecedor oficial de vinho, por intermédio de John Carbonell, ao rei Jorge III. Ao mesmo tempo apostou no mercado das Antilhas, onde mantinha com Francis Newton uma posição privilegiada.

Desde 1776 a mudança da conjuntura colonial britânica com a guerra da independência dos Estados Unidos, um importante mercado consumidor do vinho da Madeira, refletiu-se na ilha nos anos de 1785/1786. A Junta notava em Fevereiro de 17766 que a conjuntura não era favorável: Havendo-se já em premeditadas considerações da Junta praticado a instante e temível situação, a que estava reduzida a exportação, extração dos vinhos desta ilha na falta do qual, por contribuir de a base de todo o viver dela, lhe

5 Rupert Croft-Cooke, Madeira, pp.93.946 ANTT, PJRFF, 942, pp. 13/15.

ficam inferiores e frustradas todas as especulativas e práticas advertidas no aumento da cultura, manufaturas e giro mercantil, e consequentemente inativo o comércio, no qual se presente se conhece a gravíssima decadência, nenhum giro e a abundante colheita de vinhos, que nem se pode navegar, por estar as impedindo nas terras de seu consumo maior, quais são nos domínios britânicos, pela civil comussão, ou rebelião deles, nem se mover o comércio interior na ilha, e chegando seus habitadores, que os tem em seus armazéns e adegas ao ponto mais pungente de se reputarem de pobres; porque procedendo com géneros de primeira necessidade e sustento e não lhes continuando com este socorro por lhe não aceitarem o pagamento em vinho pela falta de ordem que tinham para a sua extracção e não havendo na terra géneros de permutação interior, nem dos estrangeiros pela falta de retorno, ... não tendo a ilha para seu sustento frutos mais para três meses que a tanto chega a inércia dele. Fornecem pelo único e assaz avultado, que tem em vinho para troca cuja extracção se acha abatida e aniquilada, sem outro recurso, que não seja a de espera sem vindas, que não, nem pode haver sem aquele... qual o de uma necessidade nunca vista na ilha, que tendo por princípio a falta de introdução de víveres tinha por fim a consternação e falta pública.

Em Dezembro a situação da exportação do vinho era de verdadeira catástrofe: Senhor a consternação em que se achava esta ilha sem ter para exportar os seus vinhos, que não tendo consumo senão nas terras anglicas, e achando-se substado pela revolução da América, e tem chegado ao ponto deplorável de não terem os habitantes de que vivam, nem que vendam, ou troquem no comércio interno, vista a inacção exterior. Porquanto a lavoura, os frutos de pão, legumes, e carnes de forma alguma chegam a sustentação dos três meses, todo o mais fornecimento é introduzido pelos estrangeiros a troco de vinhos, e não tendo este saída, também a entrada daquele é nenhuma, e por consequência nem letras para se suprirem de Lisboa onde não há géneros permutáveis... Estão as casas ricas de vinho, pobres de sustento e de alimento7.

A partir da década de 70 do século dezoito e até aos princípios do século seguinte os conflitos que tiveram como palco os continentes europeu e

7 ANTT, PJRFF, nº 411, pp. 22/23.

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americano alargaram-se ao Atlântico. Aliás, o oceano foi um ativo protagonista das disputas entre os três principais beligerantes: Espanha, França e Inglaterra.

A preocupação com a organização militar e a defesa da costa, era permanente, porque o perigo espreitava no mar a qualquer momento. A conjuntu-ra de afrontamento levou à presença dos corsários, com forte incidência em dois momentos: o período que decorre entre 1744 a 1736, marcado pelo afron-tamento de Inglaterra com a França e Espanha; a época das grandes transformações do século, com a proclamação da independência das colónias inglesas da América do Norte (e a consequente guerra de in-dependência até 1783), a Revolução Francesa (1779) e as convulsões que se seguiram até 1815.

Perante o perigo da investida francesa os ingleses ocuparam a Madeira por duas vezes, sendo a atitude entendida como uma forma de preservar os interesses dos súbditos de Sua Majestade e de estabelecer uma barreira ao avanço francês além oceano8. O corso, que incidia preferencialmente sobre as embarcações espanholas e francesas, motivou uma resposta violenta das partes molestadas, como sucedeu com a investida francesa contra os ingleses em 1793, 1797, 1814. Da análise do tráfego marítimo constata-se que uma grande percentagem era europeu ligado às possessões ultramarinas, com 4/5 do movimento total, fazendo com que a Madeira fosse um porto transitório do tráfego atlântico. Os ingleses dominavam com 3/5, perdendo importância a favor dos americanos na segunda metade do século XVIII. As ligações com os países do Norte da Europa foram constantes mercê da assiduidade de navios da Dinamarca, Suécia, Flandres, Holanda. As guerras dos Sete Anos, de independência da América e da Revolução conduziram à valorização dos barcos hamburgueses, imperiais, prussianos, regusianos, napolitanos, genoveses, venezianos, papemburgueses, dinamarqueses. Com os navios portugueses o movimento foi ascendente entre 1738/1749 atingindo-se o máximo em 1808 com 220 unidades9. Dum modo geral vemos que o movimento do porto tende a tornar-se ascendente. De modo

8 Alberto Vieira, Funchal no Contexto das Mudanças Político-ideológicas do Século XVII. O Corso e a Guerra de Represália como Arma, in As sociedades Insulares no Contexto das Interinfluências Culturais do século XVIII, Funchal,1994, pp. 93-113; Paulo Miguel Rodrigues, A Política e as Questões Militares na Madeira. O Período das Guerras Napoleónicas, Funchal, 1999.

9 Sousa,1989, 28, 30

específico, desde fins do século XVIII, princípios do seguinte. Apresenta-se com relativa constância ao longo do século XVIII (mantendo-se entre 200 e 400 unidades), é durante as guerras dos Sete Anos e Independência da América que os seus valores atingem a escala mais baixa.

UM ATLÂNTICO DE GUERRAS E VINHO MADEIRA EM CIRCULAÇÃO. A conjuntura atlântica do século XVIII, pautada pela guerra, dá conta das causas que conduziram à retração do movimento. A guerra de Sucessão de Áustria [1740/48] fez desaparecer os navios espanhóis e franceses, afugentados pelo corso inglês com base na Madeira, e aumentar a presença dos navios nacionais. O fim da guerra fez com que o movimento regressasse à normalidade a partir de 1750. A guerra dos Sete Anos não trouxe qualquer alteração ao movimento do porto madeirense, mas entre 1770/90 a guerra da Independência dos Estados Unidos da América provocou a paralisia quase completa do porto com o bloqueio dos portos americanos. Isto gerou na ilha uma das mais graves crises de fome, provocada pela falta das farinhas americanas e precária saída do vinho. A fome e o pânico provocaram a subida em flecha do preço dos bens comestíveis. A paz de 1783 deu ao porto a antiga vitalidade. Com a Revolução Francesa (1789) e o Bloqueio Continental (1806) que se seguiu surgiram de novo dificuldades de abastecimento.

A situação do mercado no século XVIII foi marcada por um franco progresso na procura do vinho, nomeadamente no último quartel, sofrendo um ligeiro recuo entre 1776 e 1782 com a instabilidade gerada no mercado Atlântico e norte-americano com a guerra de independência dos Estados Unidos. O volume total das exportações de vinho não espelha a realidade, uma vez que de imediato se encontrou mercados substitutivos.

Os dados sobre a exportação do vinho Madeira disponíveis, ainda que por vezes avulsos, evidenciam a tendência para a subida a partir de 1640, situação que só será invertida, passado mais de um século, a partir de 1814. O período de 1794 a 1801, excluído o ano de 1798, pautou-se por uma alta das exportações de vinho, o que demonstra que a conjuntura de finais do século XVIII e princípios do seguinte foi favorável ao comércio do vinho Madeira.

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Aos estrangeiros, nomeadamente aos ingleses e americanos estava reservado o comércio de importação e distribuição por grosso de víveres. Antes da independência da América a Madeira recebia da Inglaterra manufaturas, artigos de luxo e farinhas, e do outro lado do Atlântico as farinhas e madeira para pipas. O inglês J. Banger tinha em finais do século XVIII o privilégio do negócio das farinhas americanas, mas em 1795 com a crise de fome o Erário Régio procurou contrariar a situação. Em 1822, a casa de J. H. March, cônsul americano, era acusada por Casado Giraldes de ser detentora do monopólio das farinhas. Todo este sistema de relações é dominado, mesmo regionalmente, por uma influente burguesia estrangeira, inglesa sobretudo, que se apoia em condições muito vantajosas (controle dos mercados, capitais e transportes). Centro destas condições, o circuito comercial em que entrava a ilha tornava-se importante e denso quando se tratava das relações com o estrangeiro, nem sempre autónomas, antes pelo contrário, das próprias necessidades do trânsito atlântico desses navios que encontravam no Funchal um bom porto de escala. Em condições mais precárias mantêm-se as relações com as áreas nacionais, nelas participando altivamente mercadores e armadores locais, que, jogando com um certo espírito xenófobo constituem uma ligeira concorrência à estrangeira. Tornar-se-á particularmente ativa depois da revolução americana, mas nunca conseguirá destronar os elementos ingleses10.

A evolução do mercado madeirense do vinho adequa-se à conjuntura político-económica europeia e colonial. Para além da necessidade de assinalar os afrontamentos europeus ou americanos torna-se imprescindível entender qual a posição assumida pela Madeira no mundo colonial britânico. A Inglaterra com os diversos tratados, a partir do século XVII, conduziu a Madeira para a sua esfera fazendo-a assumir uma posição chave. O facto da ilha se situar no meio do Atlântico acarretou inúmeras vantagens. Por um lado transformou-se em porto de escala do tráfico oceânico. Por outro ficou à margem dos conflitos que assolaram a Europa, como a guerra de sucessão da Áustria (1740-1748), a guerra dos sete anos, a Revolução Francesa (1789) e o consequente bloqueio continental (1806). Apenas a guerra de independência dos EUA(1776-1790) teve reflexos

10 Sousa, 1989, 118-119

inevitáveis na Madeira, com efeito perverso no mercado do vinho. A viragem do século XVIII para o XIX e a primeira metade da centúria oitocentista foram os momentos importantes na afirmação do vinho Madeira no mercado internacional.

O vinho da Madeira tinha no mercado colonial britânico um destino privilegiado. Os navios do tráfico negreiro com origem em Bristol abasteciam-se de vinho na Madeira11. A América do Norte era, desde a década de quarenta do século XVII, um dos principais destinos: New England (1641), New Haven (1642), Boston (1645), Nova York (1687)12. No século XVIII consolidou-se o mercado americano e os demais do mundo colonial no comércio do vinho para o mundo inglês. Analisando o movimento do porto do Funchal note-se que a quebra resultante do movimento de independência foi curta e acontece entre 1778 e 1788, embora desde 1756 seja já notória alguma instabilidade na fluidez das relações comerciais. Tenha-se em atenção que em 1773 o movimento de navios era de 140, passando para apenas 8 em 1778. As pazes de 1783 abriram de novo o mercado americano, de forma que em 1789, temos já 129 navios (SOUSA, 1989, 77, 101)

O vinho e as castas que o originavam foram motivo de grande admiração. A malvasia foi levada em 1736 pelo Dr. William Houston para Charleston, enquanto em 1773 Joseph Aleston fez aí chegar novas castas com igual sucesso 13. A segunda metade do século foi o momento de afirmação do vinho madeirense, sendo evidente o empenho dos mercadores norte-americanos no proveitoso comércio de troca por peixe, cereais e aduelas para pipas. Quando se determinou celebrar o ato de independência dos Estados Unidos da América com o Madeira pretendeu-se afirmar a importância que assumiu na sociedade. Aliás o vinho Madeira está ligado ao movimento de pró-independência. A defesa da livre-trânsito de mercadorias, contra o pagamento dos direitos de entrada teve o primeiro incidente em 1768 com 100 pipas de vinho trazidas da Madeira para Boston por John Hancock14.

11 G. D. Ramsay, English Overseas Trade During Two Centuries of Emergence, London, 1957, p.156

12 Bernard Bailyn, The New England Merchants in the Seventeenth Century, Mass., 1955, pp.78,83, 85;

13 Thomas Pinney, A History of Win in America from the Beginnings to Prohibition, Los Angeles, 1989, pp.43, 57-59

14 John W. Tyler, Smugglers & Patriots. Boston Merchants and the Advent of the American Revolution, Boston, 1986, p.115; Hiller B.

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A situação do mercado no século XVIII foi marcada por um franco progresso na procura do vinho, nomeadamente no último quartel, sofrendo um ligeiro recuo entre 1776 e 1782 com a instabilidade gerada no mercado Atlântico e norte-americano com a guerra de independência dos Estados Unidos.

O NOVO CÔNSUL. A Madeira só veio a ter um cônsul norte-americano em 1791. A primeira reação foi de encerramento de todos os portos e da proibição dos barcos das colónias revoltadas (decreto de 4 de julho de 1776), numa medida sem precedentes do Marques de Pombal. Cedo, o governo, reconhecendo o erro, optou em 30 de agosto de 1780 (ratificado a 13 de julho de 1782) por uma posição de neutralidade. Todavia, só reconhecemos o novo estado após as pazes de 1783.

A França, molestada nos seus intentos de ocupação deste continente, foi a primeira nação a reconhecer o novo país, assinando, com ele, em 1778, um tratado de comércio. Esta atitude foi compensada mais tarde com a Revolução Francesa (1789), surgindo os E.U.A., como o preferencial aliado dos franceses. O novo estado de coisas não se apresentava favorável à Madeira, sendo natural a apreensão do governador da ilha, em 1793, quanto a um possível ataque por “uns revoltozos francezes”, a exemplo do que sucedera em Nápoles. Entretanto, João M. Pintard, cônsul americano no Funchal, não nega o seu apoio à República Francesa. Esta propaganda causou apreensão nas autoridades locais. Em 21 de setembro, refere-se que estes “trabalhão para propagarem entre nós as suas perniciosas e abomináveis doutrinas com que nos tem procurado fazer huma guerra mais funesta que a de nos atacarem com as armas na mão”(ARM, Governo Civil, nº 518, fls. 51vº-53vº). A situação estremou-se no ano seguinte provocando aceso conflito entre os navios mercantis norte-americanos e os de guerra ingleses, pois “entre os vassallos destas duas potencias ha um ciume que os menos prudentes não sabem ocultar...”. Mais se refere que ele era “tão inclinado a discordia e o tempo propenço a fomentar desordens e intrigas”(Id., nº 518, fls. 89-93vº, 22 de Fevereiro de 1794).

O cônsul americano era considerado o principal

Zobel, The Boston Massacre, N. York, 1978, p.73.

agitador e suspeito nas convulsões que começavam a aparecer. Foi ele a cara de “dois pasquins” que foram distribuídos anonimamente: um contra o governador e o outro dava ideas bem contrarias ao sistema das monarquias; pois invitava a França, a quem chamava May, para que viesse libertar os moradores desta ilha”(Id., nº 518, fls. 93vº-97, 3 de Março de 1794). Daqui resulta o retrato de João M. Pintard, cônsul americano: “Este homem he dotado dc hum espirito intrigante, libertino e revoltozo adopta. applaude, e celebra com publicidade o actual sistema da conversão francesa; falla sobre este assurnpto com muito desenvoltura; e neste ponto exemplifica muito mal a estes insulares; entre os quaes pouco, a pouco vai espalhando, e se poderão talvez introduzir no povo ideas contrarias ao sistema rnonarquico”(id., nº 518, fls. 98vº-101, 3 de Março de 1793.). Por essa razão, faz votos “para que esta ilha seja livre deste insolente americano, antes que com o seu mao exemplo preveria aquelles vassallos portuguezes que elle puder seduzir e enganar”.

PRESIDENTES E PERSONALIDADES NORTE­AMERICANAS – APRECIADORES DO VINHO MADEIRA. De entre os obreiros da independência americana contam-se muitos apreciadores do vinho Madeira, que já o bebiam e continuaram a fazê-lo depois da independência. Tudo isto porque o vinho da Madeira foi a partir de meados do século XVI o predileto dos norte-americanos, pela facilidade na aquisição e pela constatação de ser dos poucos que se adaptava bem ao calor elevado15. O fato de muitas ligadas ao processo político norte-americano do século XVIII, nomeadamente alguns presidentes terem sido grandes apreciadores, deverá ter favorecido a importância social e económica do vinho Madeira na sociedade norte-americana16. Já os Governadores da colónia foram apreciadores. Hon Robert Monckton, Governador de Nova York, em 1763 comprou três pipas para uso nas receções17. Na mesma linha seguiu o presidente Ronald Reagan que em 1982 brindou o 71º aniversário com um cálice de vinho Madeira.

Há um grupo de políticos norte-americanos com

15 A. D. Francis, The Wine Trade, Edinburgh, 1973, p.64.16 T. Bentley Duncan, Atlantic Islands. Madeira, the Azores and the

Cape Verdes in Seventeenth-century Commerce and Navigation, Chicago, 1972, pp.250-252.

17 Noel Cossart, Madeira. The Island Vineyard, London, 1984, p.59

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uma ligação muito próxima ao vinho Madeira. Tudo isto porque este vinho corre de forma habitual em toda a região norte-americana e atinge inúmeros bebedores e apreciadores. Aqui, para o período de um século, fazemos a referência de todos aqueles, maioritariamente Presidentes da República.

HANCOCK, JOHN (1737-1793) foi mercador, político e estadista norte-americano, exercendo funções de presidente do Segundo Congresso Continental e de primeiro e terceiro governador de Massachusetts. Foi o primeiro a assinar a declaração de independência dos Estados Unidos, sendo muito conhecido como tal. Mas também a ele se deve o primeiro ato de reação contra a metrópole inglesa ao se recusar em 1768 a pagar os direitos e importação. Sobre as 127 pipas de vinho do navio Liberty, que fazia entrar em Boston. Note-se que o chamado Tea Party sucedeu apenas em 1773, situação conhecida por ser o despertar do movimento pró independência.

GEORGE WASHINGTON [1732-1799]. o primeiro Presidente dos Estados Unidos de 1789 a 1797. Antes, durante a guerra de independência havia sido o comandante chefe do exército continental, sendo considerado um dos destacados fundadores do Estado Unidos. Para além disso foi um grande apreciador de bebidas alcoólicas, não prescindindo do bom vinho Madeira à mesa, solicitando com frequência o envio da Madeira. A referência mais antiga ao envio de uma pipa de vinho é de 175918. No período que decorre até 1783 recebeu 15 pipas de vinho velho da Madeira, cujo custo oscilou entre

18 Washington, Writings, Washington, 1931, 321.

as 26 e 31 libras esterlinas 247 19. Em Mount Vernon tinha videiras trazidas da ilha. September 1775 to March 1776, George Washington spent more than $6,000 on adult beverages, mostly Madeira wine

BENJAMIN FRANKLIM [1706-1790] Inventor e político norte-americano, e grande promotor da maçonaria. Foi membro do congresso continental e esteve presente na redação da declaração de independência. Foi o primeiro embaixador em França. Em 1767 numa viagem à Europa, foi muito saudado como inventor. Regressou depois a França como embaixador em 1776, na viagem à Europa da impelido pela fama do vinho não prescindiu, na viagem à Europa em 1763, de uma breve estância na Madeira, onde apreciou as belezas e de novo degustou o vinho 24820 .

JOHN ADAMS [1735-1826] presidiu ao novo Estado entre 1797 e 1801, substituindo George Washington. Antes estivera no movimento fundacionista do Novo Estado. Desde 1761 vemo-lo a afirmar publicamente a predileção que tinha pelo vinho Madeira. Em 1774 não hesita em afirmar que: I drank madeira at a great rate and found no incovenience in it.21 Em 1784 assegurava ao embaixador português que o Madeira era o vinho mais apreciado pelos americanos, pelo facto de tanto poder ser bebido no Verão e Inverno22.

19 Letters to Washington and Accompanying Papers. Published by the Society of the Colonial Dames of America. Edited by Stanislaus Murray Hamilton .

20 Ronald W. Clark, A Biography. Benjamin Franklin, N. York, 1983, pp.168 e 175; Esmond Wright (ed.), Benjamin Franklin. His Life as he Wrote it, Cambridge, 1990, pp.162-163.

21 Diary and Autobiography of John Adams, 4 vols, Mass. 1961, 1962: vol. I., pp.213, 274, 352-354, vol.II. pp.134, 136, Vol. II, p.306, vol.IV, p.102; Legal Papers of John Adams, Mass., 1965, pp.174, 194.

22 Adams, Works, VIII, Boston, 1853, p.127.

George Washington Benjamin Franklim John Adams Thomas Jefferson

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THOMAS JEFFERSON [1743-1826] Foi um dos fundadores da nação que assumiu a presidência depois de John Adams. Era considerado um grande enólogo, encontra-se entre os apreciadores do vinho Madeira e a sua casa, hoje museu, em Monticello, ainda testemunha isso. Em 1786 em Paris não prescindia do vinho, tendo solicitado o envio de uma pipa desde os Estados Unidos, uma vez que I would prefer that which is of the nut quality, and of the very best 23. Em 1997 uma das garrafas de vinho Madeira de 1800, da sua adega, foi leiloada em Londres. Sabe-se ainda que em Springfield, Illinois, o futuro presidente teve ao serviço uma cozinheira madeirense, Maria do Céu, que recusou sair de Springfield para a Casa Branca.

JAMES MADINSON (1751-1836). Foi o quarto presidente, de 1809 a 1817, podendo também ser indicado como um dos apreciadores do vinho Madeira. Era também apreciador de vinho. Em 180724 encomendou um casco de “finest old Madeira Wine”, vinho que preferia beber da garrafa, como o declara em 181725. A ordem de nova remessa acontece em 181026. Era um grande admirador do vinho madeira, destacando a sua cor.27

23 T. Jefferson, Papers, Princeton, 1954, p.274.24 To James Madison from Murdoch Yuille Wardrop and Company,

10 January 1807,” Founders Online, National Archives (http://founders.archives.gov/documents/Madison/99-01-02-1271).

25 “From James Madison to Francis Corbin, 28 May 1817,” Founders Online, National Archives (http://founders.archives.gov/documents/Madison/04-01-02-0051,

26 The James Madison Papers. James Leander Cathcart to James Madison, August 13, 1810. Invoice and Bill of lading. URL: http://memory.loc.gov/master/mss/mjm/12/0500/0539d.jpg ; ver ainda Adams, John Quincy, Memoirs of John Quincy Adams, comprising portions of his diary from 1795 to 1848. Volume 2, Best Books on, 1795, 562

27 “From James Madison to William Jarvis, 30 October 1807,” Founders Online, National Archives (http://founders.archives.gov/documents/Madison/99-01-02-2276

JAMES MONROE (1758-1831). Foi o quinto presidente que governou de 1817 a 1825. As referências ao vinho Madeira partem de uma carta do anterior presidente em que são referidas garrafas de vinho Madeira28

JOHN QUINCY ADAMS (1767-1848).Foi presidente de 1825 a 1829. Antes do almoço apreciava dois ou três cálices de vinho Madeira29.

ANDREW JACKSON (1767-1845).Presidente de 1829 a 1837. Servia aos convidados uma variedade de bebidas alcoólicas, entre as quais o vinho Madeira30.

WILLIAM HENRY HARRISON (1773-1841). Governou em 1841 de 4 de março a 4 de abril. Em 1813 solicita o envio de uma quartola de “best Madeira Wine”31

MILLARD FILLMORE (1800-1874) Foi presidente de 1850 a 1853. E dele temos apenas a informação que recebeu de oferta uma garrafa de vinho Madeira de Mr. Deahler Welch32 E em 1854 recebeu o casco

28 “From James Madison to James Monroe, 7 November 1800,” Founders Online, National Archives (http://founders.archives.gov/documents/Madison/01-17-02-0280, ver. 2014-02-12). Source: The Papers of James Madison, vol. 17, 31 March 1797–3 March 1801 and supplement 22 January 1778–9 August 1795, ed. David B. Mattern, J. C. A. Stagg, Jeanne K. Cross, and Susan Holbrook Perdue. Charlottesville: University Press of Virginia, 1991, p. 432.

29 Lynn Parsons, The Birth of Modern Politics: Andrew Jackson, John Quincy Adams, and the Election of 1828, Rowman & Littlefield, 1998, 235.

30 William C. Spragens, Popular Images of American Presidents, Greenwood Publishing Group, 1988, 55

31 Harrison, William Henry, AUTOGRAPH LETTER, SIGNED, FROM WILLIAM HENRY HARRISON TO HIS WINE MERCHANTS DURING THE WAR OF 1812, Sackett’s Harbor, N.Y. Nov. 21, 1813. Disponível internet em https://www.vialibri.net/item_pg_i/366213-1813-harrison-william-henry-autograph-letter-signed-from-william-henry-harrison.htm. Consulta em 08-06-2015.

32 Millard Fillmore, Millard Fillmore papers. aBest Books on, 1907, Volume 2, 254

James Madinson James Monroe John Quincy Adams Andrew Jackson

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com vinho madeira do Comodoro Perry33

FRANKLIN PIERCE Foi presidente de 1853 a 1857. O Vinho Madeira era muito apreciado no seu mandato34. E deveria ter uma particular predileção pela ilha, de forma, que depois de concluir o mandato presidencial, em 1857, passou vários meses na Madeira.

RUTHERFORD B. HAYES. Foi presidente de 1877 a 1881, sendo contrario ao consumo do tabaco e bebidas alcoólicas na Casa Branca, sendo conhecido como “Lemonade Lucy”.

CHESTER A. ARTHUR. Foi presidente em 1881 a 1885. Sabemos que em 1881, recebeu uma oferta de Sam Ard, de várias garrafas de vinho madeira, que certamente apreciou35

GROVER CLEVELAND. Foi presidente em 1893 a 1897. No brinde do seu casamento consta vinho Madeira., além de outras bebidas36. A 22 de dezembro de 1886 Douglas Hamilton Thomas enviou uma garrafa de Maceira colheita de 1800 da garrafeira de Thomas Jefferson. Cleveland agradeceu a 27 de dezembro: “Please accept my sincere thanks for the bottle of Jeffersonian madeira which you kindly sent me as a Christmas gift...[it] leaves discriminating followers of Jefferson to regret that the integrity and soundness of his principles, are in these days, not as well maintained as the purity and excellence of his wine. I anticipate some difficulty in finding an occasion important enough to justify an indulgence

33 Robert J. Scarry,Millard Fillmore, McFarland, 2001, 21534 American Historical Society, Americana, Volume 29, National

Americana Society, 1935, p.17235 Thomas Lately, Sam Ward, King of the Lobby, Boston, Hougton

Mifflin, 1965, 43236 Winette Sparkman, Miss Daisy Celebrates Tennessee, Side Dish

Publishing, 1995, 24

in the impartation of your gift, but would willingly [?] it to a celebration of the return of the party which Jefferson founded, to the principles which he commenced”37

DWIGHT D. EISENHOWER. Foi presidente em 1953 a 1961. Dwight Eisenhower, ex-Presidente dos EUA, a agradecer vinhos oferecidos pela Madeira Wine Company38.

Dos demais presidentes (JAMES BUCHANAN 1857 a 1861; MARTIN VAN BUREN.1837 a 1841; JOHN TYLER. 1841 a 1845; JAMES K. POLK.1845 a 1849: ZACHARY TAYLOR. 1849 a 1850; ABRAHAM LINCOLN.1861 a 1865; ANDREW JOHNSON.1865 a 1869; ULYSSES S. GRANT. 1869 a 1877; AMES A. GARFIELD.1881 (04 de março a 19 de setembro), Grover Cleveland. 1885 a 1889; Benjamin Harrison, 1889 a 1893: William McKinley.1897 a 1901; Theodore Roosevelt. 1901 a 1909; William Howard Taft. 1909 a 1913; Woodrow Wilson.1913 a 1921; Warren G. Harding. 1921a 1923; Calvin Coolidge. 1923 a 1929; Herbert Hoover. 1929 a 1933; Franklin D. Roosevelt. 1933 a 1945; Harry S. Truman. 1945 a 1953; John F. Kennedy.1961 a 1963; Lyndon B. Johnson. 1963 a 1969; Richard Nixon. 1969 a 1974; Gerald Ford. 1974 a 1977; Jimmy Carter. 1977 a 1981; Ronald Reagan.1981 a 1989; George H. W. Bush. 1988 a 1993; Bill Clinton. 1993 a 2001; George W. Bush. 2001 a 2009; Barack Obama, desde 2009.) não temos referência a que seja consumidores e apreciadores

37 Disponível na Internet em http://www.crockerfarm.com/maryland-auction/2011-09-17/lot-360/Correspondence-between-Douglas-Hanson-Thomas-and-President-Grover-Cleveland-Regarding-a-Gift-of-Thomas-Jefferson-Madeira/. Visualização em 08-06-2015.

38 obvious: http://lounge.obviousmag.org/estranho_estrangeiro/2012/11/um-

calice-de-historia-do-vinho-madeira.html#ixzz3cU4c69wl 

William Henry Harrison Millard Fillmore Franklin Pierce Rutherford B. Hayes

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do Vinho Madeira. Apenas Ronald Reagan, que foi presidente em 1981 a 1989, reatou a tradição de celebrar a evocação da independência com um cálice de vinho madeira, cuja encomenda foi feita à Madeira Wine Company.

Também os mais assíduos elogios ao vinho Madeira foram ditados no século dezoito, a época dourada. Foi a partir daqui que ganhou inúmeros apreciadores que teimavam em exaltar as propriedades e a preferi-lo a todos os outros ou demais bebidas alcoólicas. A adoração pelo Madeira foi grande nos Estados Unidos da América do Norte. Na boda de George Washington em Maio de 1759 os convivas regalaram-se com o Madeira. John Adams afirmava no diário que sempre bebeu grande porção de Madeira, não vendo nenhum inconveniente nisso, sendo diferente de todos os outros mantendo-se salutar e agradável no calor de Verão ou no frio do Inverno. Thomas Jefferson não atraiçoou a preferência dos predecessores e mesmo em Paris não prescindia do Madeira, por ser de superior qualidade e o melhor.

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O vinho Madeira está inexoravelmente ligado à História dos Estados Unidos da América. Desde o século XVII que os colonos ingleses se haviam afeiçoado a este tipo de vinho produzido na ilha e firmaram-se como os principais apreciadores. Por isso, em momentos de dificuldade lutaram

pela presença do vinho. O Madeira não era um vinho comum ou para todos os momentos, pois, segundo Gabriel Furman (Antiques of Long Island, 1874, 232), usava-se apenas em ocasiões especiais, como o nascimento de uma criança, o casamento ou um funeral. Segundo Nathaniel Parker Willis [1806-1867], em Dashes at Life (1845), era conhecido como vinho de casamento, situação que conquistou hoje no Japão. Philip Hone nunca havia tomado qualquer outra bebida espirituosa na vida a não ser um ou dois cálices diários de vinho Madeira.

Acontece ainda que alguns portos norte-americanos, como os de New York, Philadelphia e Virgínia foram destacadas áreas de redistribuição para o interior do continente e Antilhas inglesas. Na verdade a América do Norte foi, desde a década de quarenta do século XVII, um dos destinos do vinho madeirense: New England (1641), New Haven (1642), Boston (1645), Nova Iorque (1687). Depois, no século XVIII, consolidou-se o mercado americano e nos demais mercados do mundo colonial inglês. Assim o vinho Madeira é presença assídua, no decurso do século XIX, em Baltimor, Boston, Carolina, Charleston, Filadélfia, Hartford, Luisiana, Maryland, New York, Ne Brunswick, New Orleans, New Jersey, Norfolk, Nova Inglaterra, Ports,outh, Providence, Savannah, Virgínia.

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