UNIVERSIDADE POTIGUAR PRO-REITORIA DE PS-GRADUA˙ˆO E EXTENSˆO HISTRIA DO RIO GRANDE DO NORTE Maxuel Batista de Araœjo O ltimo Dos Tarairiœs NATAL 2006
UNIVERSIDADE POTIGUAR
PRO-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
Maxuel Batista de Araújo
O Último Dos Tarairiús
NATAL 2006
MAXUEL BATISTA DE ARAÚJO
O ÚLTIMO DOS TARAIRIÚS
Monografia apresentada a Universidade Potiguar, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em História do Rio Grande do Norte.
Orientador: Profª. M.sC Marlene da Silva Mariz
NATAL 2006
A663
Araújo, Maxuel Batista de. O último dos Tarairiús / Maxuel Batista de Araújo. � Natal, 2006. 67f. Monografia (Especialização em História do Rio Grande do Norte) Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós- Graduação. 1. História do Rio Grande do Norte � Monografia. 2. Índios Tarairiús � Monografia. 3. Guerra dos Bárbaros - Monografia. I. Título. RN/UNP/BCFP CDU:94(813.2)(043)
MAXUEL BATISTA DE ARAÚJO
O ÚLTIMO DOS TARAIRIÚS
Monografia apresentada a Universidade Potiguar, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em História do Rio Grande do Norte.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________ Profª. Ms. Marlene da Silva Mariz - Orientadora
Universidade Potiguar - UnP
__________________________________________________ Profª. Marlucia Galvão Brandão
Universidade Potiguar - UnP
__________________________________________________
Prof. Universidade Potiguar - UnP
Dedico esta Obra A minha esposa, Rosângela e
ao meu filho, Richard Max,
pelo amor, carinho e paciência.
AGRADECIMENTOS
A Deus,
eterno pai de amor e misericórdia.
Aos meus pais, Francisco e Letícia,
pelo amor, apoio, educação
A Professora Marlene Mariz,
pela amizade, atenção, pela paciência, pelos conhecimentos
transmitidos e pela confiança e crença depositada em mim.
As amigas super-poderosas, Liege Barbalho, Socorro Patriota e Paula Francinette,
pelas horas de estudos, companheirismo, solidariedade e trabalho.
Os vencedores sempre escrevem a História a seu modo; aos
vencidos resta apenas lê-la com dissabor. Mas se os índios
tivessem tido oportunidade de escrever uma História do Brasil,
muitas páginas dos nossos livros seriam bem diferentes.
(ALMEIDA, Geraldo Gustavo de. 1988)
RESUMO Estudo sobre o processo de dizimação e extermínio da tribo indígena Tarairiús no espaço
geográfico do Rio Grande do Norte, enquanto importante elemento de compreensão da
formação histórica do povo potiguar e as condições que se deu este processo. Observa-se,
contudo que, desde de o início da colonização portuguesa na América, os índios que
ocupavam o território que estava sendo conquistado pelos portugueses foram constantemente
denominados de bárbaros numa classificação claramente etnocêntrica, que levava em conta
sua aparente falta de organização social, religiosa e política, e principalmente seus hábitos
antropofágicos. Estes, a princípio, foram vistos como costumes bestiais e selvagens, o que
lhes garantia o adjetivo denegridor, sem que se levasse em conta seu contexto cultural.
Apresentado aqui, visando a contribuir para a compreensão do processo colonizador
português na América e a resistência indígena no nordeste colonial, a partir do conflito
conhecido como Guerra dos Bárbaros, ocorrido entre o final do século XVII e começo do
século XVIII. O evento em questão nos permite delinear o desdobramento da conquista e
colonização portuguesa através do processo de cooptação que envolvia índios, negros e
excluídos de forma a efetivar a conquista e exploração das novas terras. Por parte dos índios
evidenciam-se várias posturas que refletem as táticas de resistência e sobrevivência
empreendidas pelas tribos indígenas brasileiras. Por fim, obtém-se, ao custo do genocídio
indígena, a terra necessária à exploração da pecuária e a viabilização do caminho terrestre
entre os �brasis�.
Palavras-Chaves: Índios Tarairius. Rio Grande do Norte. Guerra dos Bárbaros. Extermínio
ABSTRACT
Study on the decimation process and extermination of the aboriginal tribe Tarairiús in the
geographic space of the Rio Grande do Norte (�Great River of the North�), while important
element of understanding of the historical formation of the people to Potiguar and the
conditions that if this process gave. It is observed, however that, since of the beginning of the
Portuguese settling in America, the indians who occupied the territory that were being
conquered for the Portuguese constantly had been called of Barbarians in a clearly
ethnocentric classification, that took in account its apparent lack of social, religious
organization and politics, and mainly its anthropophagic habits. These, the principle, had
been seen as beastly and wild customs, what them guarantee the denigrating adjective,
without that if it took in account its cultural context. Presented here, aiming at to contribute
for the understanding of the Portuguese colonizer process in America and the aboriginal
resistance in the colonial northeast, from the known conflict as �Guerra dos Bárbaros�
(Barbarian�s War), occurrence enters the end of century XVII and start of century XVIII.
The event just mentioned allow us to point out the Portuguese conquests and colonization
through a process involving Indians, Blacks and excluded people in order to conquer and
exploit the new lands. In terms of the Indians, we can see many things reflecting resistance
and survival tactics used by Brazilian Indian tribes. Finally, due to the Indian genocide, it
becomes possible to have enough land for cattle raising and the viability of new paths among
the �Brazils�.
Word Key: Tarairius indians. Rio Grande do Norte. Barbarian�s War. Extermination.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9
2. Primeiros habitantes do Brasil: Índios .............................................................. 12
2.1. Tupis e Tapuias ...................................................................................................... 18
2.2. Os Índios do Rio Grande do Norte ........................................................................ 25
3. Os Extintos Tarairius .......................................................................................... 27
4. Janduís: últimos Tarairius do Rio Grande do Norte ....................................... 33
4.1 Guerra dos Bárbaros: resistência a dominação portuguesa ................................... 36
4.2 Missões e Aldeamentos: a legitimação do extermínio indígena ............................ 46
5. Considerações Finais ........................................................................................... 59
Referências ........................................................................................................... 65
1. Introdução
Na aurora de um novo milênio, onde o papel da História em nossa sociedade volta a
ser discutida de forma mais intensiva por historiadores, estudiosos e teóricos de diferentes
linhas de pensamentos, em relação a novas concepções e re-leituras de fatos e acontecimentos
do passado da humanidade, entretanto, há um consenso, que é a ampla visão e semiótica do
interpretar da História, almejando uma melhoria geral no atual panorama de ver e estudar os
acontecimentos da humanidade, valorizando os detalhes, fatos locais, o cotidiano etc.,
integrando-os no processo maior da formação histórica global.
Dentro deste paradigma, procura-se nesta obra contribuir para a compreensão do
processo da formação histórica do Brasil, no tocante a consolidação do modelo colonizador
português na América e a resistência indígena na Capitania do Rio Grande, a partir do levante
conhecido como Guerra dos Bárbaros ou do Açu, ocorrido entre o final do ano de 1670 e
1699.
É exclusividade da humanidade conhecer, perceber, tirar conclusões da realidade
e construir concepções que favoreçam uma mudança de atitudes frente ao ambiente
sócio-cultural em que vive. É de fundamental importância à discussão sobre a
construção de uma nova consciência sobre as relações do homem com os a História e
seus acontecimentos, como o levante indígena, popularmente denominado �Guerra dos
Bárbaros�, que, neste estudo procura-se abordar de forma mais ampla este levante,
ressaltando o massacre e aniquilamento da população indígena do Rio Grande do Norte,
em especial, a tribo dos índios Tarairiús.
A proposta deste estudo resulta de observações e análises da historiografia
brasileira no sentido de discutir de uma forma mais ampla, esclarecedora e didática de
um dos maiores, quiçá, o maior levante indígena das Américas contra a forma de
denominação e colonização européia.
Nesse sentido, entende-se que, é através de discussões, análises, novas leitura e
releituras de determinados fatos históricos é que podemos dar início a um importante
processo que venha contribuir para o desenvolvimento de uma proposta paradigmática e
semiótica deste importante fato, que, a História �oficial� brasileira timidamente aborda
em seus compêndios, desta forma justiça-se iminente projeto, em ter como novas
referências, fazer justiça à brava trajetória histórica da tribo dos índios, que, aqui se
procura revelar a saga do último dos Tarairiús e assim, possibilitar a construção de um
novo despertar, onde cada pessoa e o coletivo possam desenvolver conceitos diferentes
dos construídos até hoje que vê o homem como �centro de tudo� (antropocentrismo) e a
supervalorização da tradição européia (europocentrismo) e não como parte de um
processo sócio-cultural global.
Histórica e culturalmente é de fundamental importância conhecer e valorizar nossos
elementos da formação do povo brasileiro, seus traços e heranças culturais, procurando
despertar o sentimento de valorização e conservação do nosso genuíno sentimento de
�brasilidade�, enfatizando a construção da história regional, como importante elemento na
compreensão da História mundial.
Para se fazer uma investigação que, venha contribuir para a possibilidade de uma
nova visão de conhecimento da forma de tratar o levante indígena e o massacre da tribo
dos Tarairiús (entre os séculos XVII e XVIII) no Nordeste brasileiro, em destaque, na
Capitania do Rio Grande, deu-se a necessidade de recorrer a fontes documentais,
escritos e relatos de diversos historiadores potiguares e de outras regiões.
Entretanto, ainda verifica-se a necessidade de ampliar a produção científica,
principalmente a Potiguar, em torno do levante �Guerra dos Bárbaros�, ou Guerra do
Açu, ou ainda, embora com muitas controvérsias, o termo �Confederação dos Cariris�.
Devido encontramos poucos autores que exploraram este tema, pelo menos, restringe
seu debate ao meio acadêmico, onde podemos citar autores como: Leonardo Guimarães
Vaz Dias (UFF); Maria de Fátima Martins Lopes (UFRN); Olavo Medeiros Filho (IHG-RN) e
Pedro Puntoni (UFRN) e alguns artigos, teses e periódicos específicos sobre o massacre
dos índios Tarairiús no espaço norte-rio-grandense.
Este estudo está estruturado em cinco capítulos, a Introdução referenciando sobre a
discussão e analise da importância do debate em torno da questão indígena no Estado do Rio
Grande do Norte, dívida histórica, que faz necessário a ampliação desse tema; o segundo
capítulo, pretende-se mostrar uma visão panorâmica dos primeiros habitantes do Brasil � os
índios; no terceiro capítulo, verifica-se as características de luta e resistência dos índios
Tarairiús, bem como sua localização, tribos, usos e costumes. Já o quarto capitulo, trata
especificamente da tribo dos Janduís � os últimos Tarairiús dos Rio Grande do Norte,
enfocando a resistência a dominação portuguesa no episódio histórico, conhecido como
Guerra dos Bárbaros ou Guerra do Açu. Por fim, as analises e reflexões sobre a explanação
do que levou o extermínio do último dos Tarairius.
2. Os primeiros habitantes do Brasil: Índios
Os habitantes do continente americano descendem de populações advindas da Ásia,
sendo que os vestígios mais antigos de sua presença na América, obtidos por meio de estudos
arqueológicos, datam de 11 a 12,5 mil anos. Todavia, ainda não se chegou a um consenso
acerca do período em que teria havido a primeira leva migratória.
No Brasil, a presença humana está documentada no período situado entre 11 e 12 mil
anos atrás. Mas novas evidências têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam
ser mais antiga esta ocupação, com o que muitos arqueólogos não concordam. Assim, há uma
tendência cada vez maior de os pesquisadores reverem essas datas, já que pesquisas recentes
vêm indicando datações muito mais antigas.
Há cinco séculos, os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início a um
processo de migração que se estenderia até o início do século XX, e paulatinamente foram
estabelecendo-se nas terras que eram ocupadas pelos povos indígenas.
O processo de colonização levou à extinção muitas sociedades indígenas que viviam
no território dominado, seja pela ação das armas, seja em decorrência do contágio por doenças
trazidas dos países distantes, ou, ainda, pela aplicação de políticas visando à "assimilação"
dos índios à nova sociedade implantada, com forte influência européia.
Embora não se saiba exatamente quantas sociedades indígenas existiam no Brasil à época da
chegada dos europeus, há estimativas sobre o número de habitantes nativos naquele tempo,
que variam de 1 a 10 milhões de indivíduos. (FUNAI, 2000).
Estes habitantes foram logo denominado pelos portugueses de índios brasileiros e
estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-
guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques
(Amazônia) e caraíbas (Amazônia). (DANTAS, 1990).
Os indígenas que habitavam o Brasil por volta do ano de 1.500, viviam da caça, da
pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente
mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica
da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio). Os índios
domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara,
todavia, não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. As tribos indígenas possuíam uma
relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia
em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de
estabelecer alianças contra um inimigo comum.
Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que
índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua
sobrevivência. Da madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (ocas). A
palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era
muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de
animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era
muito usado para fazer pinturas no corpo. (DANTAS, 1990).
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os
mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e
quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os
instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões ) são de propriedade individual. O
trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As
mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo
ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o
sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele
também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o
ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O
cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os
índios. (DANTAS, 1990).
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como
curumins, aprendem desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os
adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o
indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e
vinculada a realidade da vida da tribo. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por
um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta, isto é, um rito de passagem.
Em relação a Religião, cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos
diferenciados. Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos
antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o
responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos
chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do
cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida
após a morte. (CUNHA, 1987).
O trabalho é dividido por idade e sexo: as mulheres cuidam da casa, as criança da roça
e o homem é responsável pela defesa, caça e colheita de alimentos. A caça é muito bem
estruturada. Eles estudam o hábito de cada animal para depois caçá-los. Já na pesca, são
usados vegetais como o timbó (a planta timbó possui um veneno que atordoa o peixe) nas
iscas facilitando na caça.
Além da vara de pescar os índios ultilizam outros métodos como as armadilhas. Uma delas é o
pari, uma cesta funda com uma abertura por onde o peixe passa atrás da isca, mas não
consegue sair. (DANTAS, 1990).
A maioria dos índios utilizam a agricultura como um dos principais métodos de
sobrevivência, o principal método usado pelos índios é o de abrir uma clareira na floresta,
deixar os troncos caídos secarem no solo e depois colocar fogo. Após isso o terreno estava
pronto. Outra característica interessante nos indígenas são os ritos, um método simbólico de
representar ações ou épocas especiais. No Brasil muitas tribos praticam ritos de passagem,
que marcam a passagem de um grupo ou indivíduo de uma situação para outra.
Esses ritos se ligam à gestação e ao nascimento, à iniciação na vida adulta, ao
casamento, à morte e a outras situações. As tribos indígenas também possuem seus mitos e
heróis. Os mitos nada mais são que as idéias e modos de ver as coisas passadas de geração
em geração. Ao contrário dos católicos, a maioria das tribos pouco acreditam num Deus
supremo, criador de todas as coisas. Os índios também creêm em heróis místicos,
responsáveis pela criação de rituais, arte e costumes. (DANTAS, 1990).
Uma curiosidade, e muito questionada até hoje, é o infantinicídio de gêmeos por parte
das tribos. Isso se dá, pois eles acreditam que, ao nascer gêmeos, uma das crianças encarna o
bem e a outra o mal. Para acabar com isso, os índios tratam de acabar o mais rápido possível
com ambas às crianças ou, em tempos recentes, com o que nascer por último.
Vale ressaltar que durante o período de colonização, as Capitanias Brasileiras tinham
como base econômica à cultura da cana-de-açúcar. No Rio Grande do Norte essa base
econômica se solidificou com o cultivo da cana-de-açúcar no litoral e o desenvolvimento da
pecuária no Sertão, onde as terras eram impróprias para a cultura da cana. Essa atividade que
de início era feita em pequena escala, passou a se expandir Sertão adentro principalmente
quando da ocupação Holandesa no Nordeste.
Além do mais, o gado se constituía numa fonte econômica abundante, já que dele era
aproveitado quase tudo, inclusive o próprio couro que era exportado para outros países e que
levou ao surgimento de oficinas de beneficiamento (curtumes) nas capitanias do Rio Grande,
Paraíba e Pernambuco.
Todavia, com a expulsão dos Holandeses do Brasil muito gado ficou sem dono,
vagando e espalhando-se pelo Sertão, fazendo com que logo colonos interessados em
apascentá-los, ocupassem suas ribeiras. E com a colonização Portuguesa e o povoamento se
acentuando cada vez mais, através da formação das cidades e vilas, ficava bastante
complicado alimentar a população, visto que as terras que não estavam sendo utilizadas para o
plantio de cana-de-açúcar, estavam ocupadas com a criação do gado. Para solucionar esta
questão, as autoridades provinciais resolveram limitar a criação do gado, proibindo-a até dez
léguas do mar e também as margens dos rios, para que estas terras pudessem ser preservadas
tanto para o cultivo da cana, quanto também, para outros produtos agrícolas. Essa legislação
resultou na ocupação das terras até então inexploradas, já que a atividade pecuária exigia uma
maior quantidade das mesmas. (SCATAMACCHIA,1994).
Contudo, a posse da terra era controlada pelo Governador Geral que só concedia a
posse mediante o "povoamento" dentro de um ano, sendo esta posse cabível quando entregue
aos colonos portugueses ou vassalos do rei de Portugal. Assim, criou-se no pensamento
colonial a idéia de um interior "vazio", apesar de ser habitado pelos nativos da terra que não
foram tidos como seres humanos.
Todavia, de início foi muito comum à convivência pacífica entre nativos e
portugueses, devido principalmente ao pagamento de "resgates", por parte dos colonos. Vê-se
assim, que existia um medo em demasia por parte do gentio devido ao avanço do colonizador
em suas terras e vice-versa. Esses resgates eram uma espécie de "imposto da paz", que visava
uma certa cordialidade entre o invasor e o invadido.
A partir de então, a ocupação portuguesa no Sertão do Rio Grande do Norte se
intensificou devido ao avanço das frentes pastoris, que objetivava expandir a pecuária Sertão
adentro, chegando o momento que devido a esse avanço pastoril, a presença indígena se torna
um empecilho à colonização, levando as autoridades coloniais a utilizarem como estratégias
de desocupação destas terras, a eliminação dos nativos que resistissem aos interesses
colonizadores, especialmente os homens, já que as mulheres e crianças não eram mortas, pois
poderiam servir aos interesses dos colonizadores. (SCATAMACCHIA,1994).
Crucialmente e em face da ruptura demográfica e social promovida pela conquista
européia, foi sugerido que os padrões de organização social e de manejo dos recursos naturais
das populações indígenas que atualmente vivem no território brasileiro não seriam
representativos dos padrões das sociedades pré-coloniais. Esse é um ponto controvertido
entre os pesquisadores, pois ainda não há dados suficientes advindos de pesquisas
arqueológicas, bioantropológicas e de história indígena enfocando o impacto do contato
europeu sobre as populações nativas para que se possa fazer tal afirmativa.
O atual estado de preservação das culturas e línguas indígenas é conseqüência direta
da história do contato das diferentes sociedades indígenas com os europeus que dominaram o
território brasileiro desde 1500. Os primeiros contatos se deram no litoral e só aos poucos
houve um movimento de interiorização por parte dos europeus.
2.1. Tupis e Tapuias
A classificação clássica e genérica − adotada pelos colonizadores portugueses −
foi aquela que dividia os indígenas brasileiros em dois grandes grupos: os tupis e os
tapuias. Os tupis representavam aqueles indígenas que ocupavam o litoral brasileiro no
momento da chegada dos primeiros colonizadores. Estes índios se assemelhavam
culturalmente, o que justificava uma classificação genérica para os diversos grupos que o
constituíam. No entanto, o mesmo não vale para os tapuias. Esta designação era dada
pelos tupis a todos indígenas que se contrapunham a eles e servia para designar grupos
das mais variadas culturas. É notável, porém, como a divisão dualista tupi-tapuia foi
apropriada pelos colonizadores e como cada grupo adquiriu um caráter específico de
acordo com suas posturas em relação ao processo de conquista português. (PUNTONI,
1998).
Foram tupis, em geral, os grupos que se aliaram aos portugueses em seu avanço
conquistador. Estes grupos indígenas buscavam tirar proveito destas alianças para obter
maiores sucessos em suas guerras contra tribos rivais e os colonizadores conseguiam
desta forma concretizar uma aliança indispensável em sua ambição conquistadora, que
se veria impossibilitada sem tais acordos. Tivemos, assim, durante todo o processo de
colonização portuguesa na América, a construção de uma imagem que dividia os índios
entre tupis e tapuias e que com o desenvolver deste processo tal imagem passaria a
refletir uma impressão comum aos portugueses, a de que os tupis representavam
aqueles índios pacificados e mais aptos a �receber a civilização�, enquanto os tapuias
seriam irredutíveis, o que acabaria por reservar o famigerado adjetivo de �bárbaros� para
estas tribos, sem que se constituísse qualquer diferenciação entre os diversos grupos que
compunham a imprecisa denominação de tapuia.
Até o costume antropofágico dos índios foram vistos e qualificados de forma
diferenciada pelos colonizadores. A antropofagia dos tupis, em geral, remetia,
principalmente, a um ritual de vingança. Já entre os tapuias, nos poucos relatos
existentes, evidencia-se o endocanibalismo, onde em geral se devoravam os parentes
mortos, como forma de evitar que seus corpos apodrecessem, cuidado que não
dispensavam aos seus inimigos, que quando mortos eram, quase sempre, abandonados.1
Neste caso podemos perceber a permanência de uma mentalidade cavalheiresca
entre os europeus que via algo de nobre em um ritual de vingança, mesmo que
envolvesse a antropofagia, e desta forma hierarquizavam os costumes indígenas,
colocando as atitudes tupis como moralmente superiores às tapuias.
Aos tupis foi reservado o conceito de antropófagos e os tapuias eram chamados
de canibais, conceitos este associado diretamente ao prazer de comer carne humana,
sem nenhum ritual de vingança que o justificasse.2
Os Tapuias, também conhecidos principalmente por �Bárbaros�, habitavam, dentre
outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande. Dividiam-se em vários grupos
nomeados de acordo com a região onde moravam � Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou
(Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó). Eram chefiados por vários
reis e falavam línguas diversas. Merecendo destaque os reis Janduí e Caracará. (MEDEIROS
FILHO, 2003).
Dentro das características físicas dos Tapuias, ressalta-se que, os homens
apresentavam-se corpulentos, possuidores de grande força física. A pele queimada, em tons de
marrom. Usavam cabelo longo ao sabor do vento. Não costumavam usar roupas.
(MEDEIROS, 1985).
1 Para uma excelente análise do canibal e do canibalismo na América e sua imagem na Europa ver: LESTRINGANT, Frank. O Canibal: grandeza e decadência. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.
2 Para uma breve análise da distinção entre canibais e antropófagos ver o artigo: CUNHA, Manuela Carneiro da. Imagens de Índios do Brasil: o século XVI. In: PIZARRO, Ana (org.). América Latina: palavra, literatura e cultura. São Paulo: Memorial/Campinas: Unicamp, 1993.
Eram desprovidos de pêlos por todo o corpo. Apesar de andarem nus, cobriam as
partes íntimas com peças feitas de materiais rudimentares, extraídos da natureza. Em contra
partida, as mulheres apresentavam estrutura física pequena, mas a cor era a mesma da dos
homens. Costumavam manter os cabelos curtos ou longos, de corpos rechonchudos. Também
escondiam suas partes íntimas. Adornavam seu corpo com o que encontravam na natureza �
Penas de aves, folhas de plantas nativas, raízes, utilizavam-se de pedaços de paus para
fazerem brincos, colares e outros. Utilizavam-se de tais enfeites tanto para a prática das
danças, como na preparação para a guerra. (MEDEIROS, 1985).
Os Tapuias, por vezes, atingiam aproximadamente dois séculos de vida. Quando isso
acontecia eram homenageados por sua tribo. Isto quando do sexo masculino � se do sexo
feminino, ao darem à luz a mais de um filho, tornavam-se cativas. Estando doentes são
visitados pelos amigos e se o caso de morte, matavam-nos para que não houvesse sofrimento.
A causa mais freqüente de óbito entre os Tapuias era o veneno de cobra. Eram
endocanibalistas, devoravam até mesmo os de sua tribo, quando da sua morte.
A puberdade era o período em que a donzela estaria pronta para casar-se. A virgindade
era bastante valorizada. O namoro, acontecia entre danças, onde eram escolhidos os
pretendentes. No noivado, o pretendente oferecia presente ao sogro. Quando a donzela não
arrumava pretendente, era levada ao chefe e este a possuía.
Os jovens tinham que demonstrar valor pessoal, exibindo força física. O rei aprovava a
cerimônia e quando esta se realizava, furavam-se as faces dos noivos e colocavam pauzinhos.
A festa durava cinco dias. Os matrimônios eram severos, apesar da poligamia, mas as
cerimônias eram reservadas às primeiras esposas. Possuir várias mulheres era sinal de
prestígio. O adultério era raro, e o marido expulsava a ré, depois de açoitá-la, no caso do
flagrante e poderia matá-los. Sobre os tapuias cariris, eram praticantes do adultério, e era
recíproco. (MEDEIROS, 1985).
A Índia Tapuia, quando grávida, não tinha relações com o marido, também enquanto
amamentava. A tapuia dava à luz nas matas, cozia o umbigo e a placenta e comia. Quando
voltava ao acampamento, o filho era cuidado por outra mulher. Os maridos tinham o mesmo
resguardo da parturiente. Esta se alimentavam de farinha de mandioca, milho, feijão, até o
nascimento dos dentes dos lactentes. Os nascidos mortos eram devorados pelos tarairiús. As
crianças começavam a andar com nove semanas e aprendiam a nadar nesta mesma época.
Entre sete e oito anos eram furados o lábio inferior e as orelhas e colocados ossos e paus,
depois eram batizados, ficando aptos para as lutas. (MEDEIROS, 1985).
Os Tapuias possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram
muito temidos. Eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal. Eram fortes,
carregavam nos ombros grandes pesos. Ao irem para guerra, marchavam em silêncio, mas no
embate faziam bastante alarido, jogando setas envenenadas das quais os feridos jamais
escapavam. Os tapuias que se destacavam nas lutas eram considerados heróis.
O poder real não era hereditário, este era substituído quando morto. O rei distinguia-se
dos outros pelos cabelos e pelas unhas. Os tapuias eram muito obedientes ao rei.
Os tapuias se enfeitavam da cabeça aos pés para as lutas. Suas armas eram as flechas,
as pranchetas, arcos e dardos, que usavam com grande habilidade. Usavam também as clavas
e machados de mão; as armas eram enfeitadas com bonitas plumas. Eles não se utilizavam das
armas de fogo, passaram a usar em razão da Guerra dos Bárbaros. (MEDEIROS, 1985).
Eram nômades, paravam onde houvesse abundância de alimentos. Gostavam de viver
ao ar livre. Por isso não construíam casa, levantavam alguns ramos para servir de abrigo.
Eram gulosos, as reservas alimentares dentro da área duravam somente dois ou três dias.
Quando partem para outros sítios tocam fogo no acampamento.
O rei era quem programava as atividades do dia e da noite. Antes de partirem,
banhavam-se no rio, para espantar a moleza. Quando mudavam de acampamento, os mais
fortes carregavam dois troncos de árvores. As mulheres e os meninos conduziam as armas, as
bagagens e os trastes. Chegados ao local do novo acampamento, iam cortar árvores, e usavam
os galhos e ramagens para fazerem sombra. As habitações dos tapuias eram toscas e feias.
Eles levavam uma vida descuidosa. Não semeavam, não plantavam, nem se
esforçavam por coisa alguma. Alimentavam-se com mel de abelhas e maribondos e com todas
as imundícies da terra, como cobras e lagartos. Os tapuias armavam ciladas aos peixes e
animais, utilizando seu admirável olfato e sua habilidade para comer. Alimentavam-se ainda
de frutos agrestes, caça fresca, peixes, tudo sem temperos ou condimentos. Não semeavam
outra coisa além da mandioca.
Para assar a carne, eles cavavam um buraco na terra e colocavam a carne, depois
enterravam pondo folhas de árvores por cima e faziam uma fogueira por cima de tudo.
Para atraírem felicidade na caça e pesca, os tapuias cariris queimavam ossos de animais ou
espinhas de peixes. (MEDEIROS, 1985).
Os jovens caçadores presenteavam os velhos da tribo com caças e pescarias, sem
sequer comer um único pedaço. Durante o período de caça e pesca, comiam uma sopa muito
rala, feita com farinha de milho ou mandioca. Depois dessa temporada, estavam magros, por
razão do intenso trabalho e da alimentação inadequada.
A linguagem era um tanto mal entendida, pois era trêmula, e cantada, não se entendia
nada. Dezenas de palavras foram usadas na linguagem dos tapuias como por exemplo; carfa,
caruatá, cayú, comatyn, corpamba, corraveara, cucuraí, ditre, entre outros.
Foram aldeias, que em pouco tempo foram transformadas em vilas, onde existia um
chefe para governar esse vilarejo indígena, onde estabeleceu-se a forma de vida um tanto
democrática entre os demais. Podemos citar alguns nomes de aldeias existentes, como: a
aldeia Jacoca, Utinga, Baía da Traição, Monte Mor da preguiça, Boa Vista, Cariris, Campina
Grande, Brejo, Panatis, Coremas, Aldeia dos Pegas, dos Icos pequenos, etc.
A religião dos Tapuias era basicamente animista, eles adoravam as forças da natureza
com o trovão, a lua, o sol, além disto, acreditavam que certos animais, como serpentes, aves e
alguns mamíferos, como morcegos, praticaram sacrifícios de animais, até humanos. Os
europeus aqui chegados trataram de demonizar os deuses dos Tapuias, como podemos ver na
frase do cronista Morisot, �Os brasilianos só adoram o diabo, não que daí esperem um bem,
mas porque o temem, e por esse motivo oferecem sacrifícios e o invocam�. (30, 125).
Os Tapuias também tinham como Deus principal a Constelação da Ursa Maior, para
eles um inimigo dos Tapuias o intrigou com o seu Deus, este era a raposa, a causadora de sua
expulsão do paraíso. Os tapuias acreditavam na imortalidade da alma desde que a pessoa não
tivesse morrido de morte matada ou de picada de serpente. (MEDEIROS, 1985).
Os Tapuias não faziam nada sem antes consultar os feiticeiros e adivinhos. De um
modo geral, a religião dos tapuias lembra um pouco as religiões da África, no tocante a
influência forte dos feiticeiros na vida indígena.
Os europeus viam nos rituais dos tapuias um comércio direto com os poderes do
inferno, além disto os tapuias possuíam deuses também que regiam a agricultura, a pesca e a
caça, os invocaram e sacrificaram a eles para obter boas colheitas, pesca e caça fartas. Os
tapuias tinham uma lenda que falava no Deus da criação, que tinham dois filhos, o mais novo
foi embora para a terra, o Deus pai enviou seu filho mais velho para buscar seu filho mais
novo, mas este e seus filhos acabaram maltratando e matando o irmão mais velho, que depois
de morto ficou na terra, entre seus parentes, por vários dias e somente depois ascendem ao
céu, retornando para o seu pai. (MEDEIROS, 1985).
Quando se observa o mapa da distribuição das populações indígenas no território
brasileiro de hoje, podem-se ver claramente os reflexos do movimento de expansão político-
econômica ocorrido historicamente. Os povos que habitavam a costa leste, na maioria
falantes de línguas do Tronco Tupi, foram dizimados, dominados ou refugiaram-se nas terras
interioranas para evitar o contato.
É importante lembrar a questão lingüística dos índios brasileiros, uma vez que, a maior
parte das sociedades indígenas que conseguiram preservar suas línguas vive, atualmente, no
Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, elas foram sendo expulsas à medida
em que a urbanização avançava.
2.2. Os Índios do Rio Grande do Norte
Os indícios mais antigos que comprovam a presença do homem no Brasil se
encontram na Serra da Capivara, no Piauí, e datam cerca de 50 mil anos. Durante muito
tempo, os ancestrais dos atuais índios brasileiros viveram por lá. Só que, há mais ou menos 11
mil anos, no final do período Pleistosceno e começo do Holosceno, o Nordeste começou a
secar e os povos dessa região precisaram migrar em busca de terras mais férteis. Foi então que
o Seridó, região entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba, passou a ser habitado por seres
humanos, mais precisamente pelos índios Tarairius, do tronco lingüístico Macro-Jê.
Mapa � Ocupação e Povoamento do Rio Grande do Norte
Os índios da América, sobretudo os do Brasil em geral, encontravam-se no estado
neolítico (coletores, usos da cerâmica e pedra polida) quando os europeus da �idade do
Ferro�. O litoral norte-rio-grandense, na época da descoberta do Brasil, era habitado pelos
tupis, originários do Paraguai e do Paraná. Falavam o abanheenga que, segundo Varnhagen,
era uma língua aglutinativa, porém, com reflexões verbais. Receberam o nome local de
potiguares.
Observa-se que atualmente, o Estado do Rio Grande do Norte é o único
oficialmente que não registra mais povos indígenas, onde admite-se o total desaparecimento
completo dos povos indígenas.
Tarcísio Medeiros (1985) descreve o tipo físico dos potiguares: �tinham o porte
mediano, acima de 1,65 cm, reforçados e bem feitos no físico, olhos pequenos, negros,
encavados e erguidos, amendoados (...), eram mais ou menos baços, claros. Pintavam o corpo
com desenhos coloridos (...), furavam os beiços�.
Os tapuias, que moravam no interior, foram descritos da seguinte maneira, por Olavo
de Medeiros Filho: �as mulheres eram, indistintamente, pequenas e mais baixas de estatura
que os homens. Possuíam a mesma cor atrigueirada, sendo muito bonitas de cara, obedecendo
cegamente aos maridos em tudo que fosse razoável�.
Janduís (Tarairiús)
Tupis
Mapa � Distribuição das tribos indígenas do RN � séculos XVI a XIX
E, mais adiante, acrescenta: "os tapuias andavam inteiramente nus. Não usavam barbas
e depilavam sistematicamente todos os pêlos surgidos no corpo, inclusive as sobrancelhas (...)
Os tapuais pintavam hediondamente o corpo com tinta extraída do fruto de jenipapo, a fim de
adquirirem um aspecto terrível nos combates". (MEDEIROS, 1985, p. 86)
Tarcísio Medeiros apresenta a seguinte classificação da população nativa, formada por
diversas nações, na época da descoberta do Brasil: Litoral: potiguares; Seridó: arius, cariris,
panatis, curemas, pebas e caicós; Chapada do Apodi: paiacus, cariris, pajéus, pegos, moxoiós
e canindés; Zona Serrana: pacajus, panatis, icós e parins. (MEDEIROS, 1985, p. 86)
3. Os Extintos Tarairius
Durante os séculos XVI e XVII (inicio da colonização portuguesa na Capitania do
Norte), habitavam o interior da Capitania, parte do Ceará e da Paraíba, os índios denominados
Tarairiús, era um desses grupos Tapuias habitantes do Sertão que se distinguia dos Cariris e
dos Gê. Os Tarairiús eram subdivididos em dois grupos e se diferiam entre outros aspectos,
lingüísticos � culturalmente dos Cariris e tinham como chefes Janduí e Cerro-Corá. Os
primeiros habitavam áreas sub-litorâneas, como as margens dos rios da região Seridó e o
segundo habitava nas proximidades de rios permanentes, como o Rio S. Francisco. Um dos
aspectos da cultura indígena que provam as suas diversidades culturais, é a prática do
endocanibalismo, ou seja, quando morria um membro da tribo, este era comido pela própria
tribo, e também quando nascia um bebê morto, este era comido pela mãe, o que não acontecia
com a tribo Cariri. Os Tarairiús que habitavam o Sertão da Capitania do Rio Grande
dividiam-se em Janduí, Ariú, Pega, Canindé, Genipapo, Paiacú, Panati, Caratiú e Corene, os
quais tiveram contato com os colonos portugueses quando a pecuária adentrou os Sertões.
(MEDEIROS, 1985).
Dança dos Tarairius (Janduis) � Albert Echkout
O clima do sertão impunha aos Tarairiú uma vida seminômade, já que de acordo com
as estações do ano, estes mudavam seu acampamento para outros lugares que garantissem seu
sustento, não tendo aldeias fixas. Assim relatos apontam que nos meses de Novembro,
Dezembro e Janeiro, os Tarairiú se colocavam perto do mar, já que essa região era mais rica.
Dormiam em redes ou no chão. As migrações para outras áreas eram indicadas pelos
feiticeiros e anunciadas pelos reis que determinavam o local do próximo acampamento. Após
as chuvas estes se deslocavam para as várzeas dos rios, onde plantavam mandioca, milho e
legumes.
Os Tarairiús eram guerreiros temidos até por outros indígenas, devido sua força,
velocidade e destreza na guerra. Além das armas européias, eles adotaram o uso de cavalos, o
que causava espanto aos Portugueses. Sendo uma sociedade guerreira, a posição dos
"principais", ou seja, de um grande guerreiro, era de grande prestígio, havendo cerimônias de
coroação com muitos festejos. Os acordos de paz também eram feitos com a presença do
guerreiro, sendo que este juntamente com os seus, se tornavam a partir do "acordo", vassalos
do Rei de Portugal. (MEDEIROS FILHO, 2003).
Índia Tairariu � Albert Echkout, 1643 Índio Tairariu � Albert Echkout, 1643
Percebe-se até então, que estão explícitos os interesses coloniais para "livrar" o
território da presença indígena, seja pela morte, pela fuga ou pela rendição forçada ou ainda
com outras estratégias de intimação para obter escravos disponíveis a colonização. E na
tentativa de expulsar os índios e de se apropriar das suas terras para desenvolver a pecuária,
iniciava-se a ampliação das fronteiras econômicas em direção aos Sertões das Capitanias Rio
Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Contudo, esse empenho colonial gerou muitos conflitos,
onde até os padres seculares temiam vir até o Rio Grande, por medo dos "bárbaros" tapuias.
Durante as décadas de 1670 e 80, com a distribuição de sesmarias nas ribeiras dos rios
Acauã, Seridó, Açu, Apodi e Mossoró, e implantação da pecuária na capitania do Rio Grande,
foi criada uma situação que de certa forma favoreceu uma convivência entre os Tapuias e
vaqueiros, tanto que os conflitos eram resolvidos através de "acordos", sendo que em algumas
situações, os conflitos eram resolvidos através da "força", ou seja, pela escravização indígena
para a mão-de-obra. Esses conflitos foram se alastrando e fazendo com que a situação se
agravasse em ambas as partes, pois a interiorização cada vez mais forte da pecuária vinda de
um lado, do litoral de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande e do outro (Maranhão, Piauí e
Ceará), colocava os indígenas numa situação de imobilidade diante das frentes pastoris,
levando-os a se constituir numa barreira à colonização, que foi denominada de "muro do
demônio". Por conseguinte, os índios "espremidos" num limite mínimo de terras, pressionadas
e sem saída reagiram violentamente, levando a capitania a uma deflagração que ficou
conhecida como a "Guerra dos Bárbaros". . (MEDEIROS FILHO, 2003).
No ano de 1687, a reação Tarairiú à colonização, intensificou-se tanto que foi preciso
pedir intermédio de um vereador da câmara enviado ao governador geral na Bahia, pois o
levante já havia causado grande catástrofe. O governador geral Mathias da Cunha, vendo a
possibilidade da retomada das terras pelos Tarairiú, ordenou que o coronel Antônio de
Albuquerque da câmara assumisse a liderança de interesse dos colonizadores.
Os Portugueses tentaram repreender os "indígenas", enviando tropas paulistas
lideradas por Domingos Jorge Velho, para guerrear contra eles. Os objetivos dessa luta seriam
degolar os guerreiros e escravizar suas mulheres e crianças, já que estas úteis, podendo ser
inclusive vendidas para pagar os custos da guerra. Além disso, as mulheres cativas, iriam
trabalhar na agricultura, enquanto as crianças seriam educadas nos moldes católicos e de
acordo com os interesses dos dominadores. Nesse sentido, aos poucos eles iriam se
desprendendo de suas raízes culturais. (MEDEIROS FILHO, 2003).
Em três séculos toda essa gente desapareceu. Nenhum centro resistiu, na paz as tentações d�aguardente , às moléstias contagiosas, as brutalidades rapinantes do conquistador. Reduzidos foram sumindo misteriosamente, como que sentido que a hora passara e eles eram estrangeiros na própria terra (CASCUDO apud MARIZ E SUASSUNA, 1997, p. 48)
Os Tapuias, em destaque os Tarairius, viveram harmoniosamente nas bacias dos rios
Açu, Apodi e respectivos afluentes durante milênios. Os conflitos com outras tribos existiam,
mas nada que pudesse pôr em risco toda uma etnia. Até que, num belo dia do século XVII, um
bando de branquelos, leia-se bandeirantes, invadiram suas terras e instalaram enormes
fazendas de gado. Percebendo a sua não-aceitação por parte dos nativos, os estrangeiros
fizeram de tudo para liquidar com aquele povo que atrapalhava a ocupação da região e
destruía seu gado. Assim, passou a incentivar rixas antigas entre tribos rivais.
Os Tarairius, tradicionalmente inimigos dos índios do litoral, logo se viram metidos
num conflito com os tupis, que se haviam aliado aos portugueses. Por volta de 1680, todas as
tribos dos tarairius, mais conhecidos como tapuias (bárbaros) pelos brancos, se uniram numa
espécie de confederação, para enfrentar os colonizadores no maior conflito étnico do Brasil
Colonial, a Guerra dos Bárbaros. (MEDEIROS FILHO, 2003).
A briga foi tão forte que os governantes precisaram contratar o bandeirante mais
sanguinário da época, Domingos Jorge Velho, para acabar com o afoitamento dos índios. Para
se ter uma idéia, esse tal Domingos Jorge Velho (responsável pela morte do líder negro
Zumbi e conseguiu destruir o Quilombo dos Palmares), que sobrevivia às investidas do
Governo há mais de um século.
A Guerra dos Bárbaros durou cerca de 30 anos e dizimou milhares e milhares de
tapuias. O seu fim só se deu com a rendição e a submissão dos índios, que passaram a
trabalhar nas fazendas de gado a que tanto detestavam.
Cabe aqui estabelecer também uma distinção de importância para a compreensão do
conflito da "Guerra dos Bárbaros". Trata-se da distinção entre colonizadores e colonos, uma
vez que muitos tratam tais conceitos como sinônimos.
Sabemos que a colônia se constitui em função dos interesses econômicos da
metrópole. Sendo assim, a colonização portuguesa no Brasil visa à produção de riquezas que
atendam aos interesses mercantis da metrópole e é em conseqüência disto que se estabelece a
sociedade açucareira brasileira. No entanto, o desenvolvimento desta sociedade gerará
conflitos de interesses entre os que vivem na colônia. Quanto mais se afastarem do modelo
senhorial-escravista, e dos interesses metropolitanos que visam unicamente o lucro e os
benefícios para a metrópole, maiores serão estes conflitos.
Poderia-se dize, entretanto, que a causa mais imediata da "Guerra dos Bárbaros" foi a
expansão da pecuária pelo sertão nordestino, pois ela provocou a invasão de terras que até
meados do século XVII eram desprezadas pelos portugueses e que neste momento se
tornavam necessárias para a expansão do gado. Desta forma, ocorreu o afunilamento dos
territórios das tribos indígenas da região e a sua conseqüente reação. É claro, porém, que
reduzir os conflitos no nordeste colonial a uma simples disputa por terras é simplificar
sobremaneira o processo de conquista e colonização do Brasil em todas as suas
peculiaridades. Há entre tantos fenômenos históricos daquela conjuntura alguns que não
devem ser de maneira alguma colocados em segundo plano.
Pelo lado dos índios, ocorre a delineação de estratégias de resistência e sobrevivência
que vão além da simples defesa de suas terras. E pelo lado dos portugueses temos um
complexo jogo de interesses ligados ao processo de conquista e colonização que se traduz em
conflitos entre as camadas sociais internas, assim como entre estas e o interesse externo da
Coroa, tendo, no caso da Guerra dos Bárbaros, destaque o papel central dos bandeirantes
paulistas nestes conflitos.
Casal de Tarairius � desenho de Georges MacGrav � 1648.
Hoje, quase não se vêem resquícios da população e da cultura tarairiu na região. Até
mesmo o povo que vive nas terras onde os indígenas viveram tem características físicas
tipicamente européias. O único legado deixado, fora um ou outro cromossomo perdido no
meio do material genético daquela gente, foram às pinturas rupestres espalhadas por diversos
lugares e que só agora tiveram a sua importância reconhecida.
4. Janduís: últimos Tarairius do Rio Grande do Norte
Os Tapuias, aqui denominados de �Tarairius Janduís�, possuíam semblante
ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eram inconstantes, fáceis de
ser levados a fazer o mal. Eram fortes, carregavam nos ombros grandes pesos. Ao irem para
guerra, marchavam em silêncio, mas no embate faziam bastante alarido, jogando setas
envenenadas das quais os feridos jamais escapavam.
Os tapuias se enfeitavam da cabeça aos pés para as lutas. Suas armas
eram as flechas, as pranchetas, arcos e dardos, que usavam com
grande habilidade. Usavam também as clavas e machados de mão;
as armas eram enfeitadas com bonitas plumas. Eles não se
utilizavam das armas de fogo, passaram a usar em razão da Guerra
dos Bárbaros.
O rei era quem programava as atividades do dia e da noite. Antes de partirem,
banhavam-se no rio, para espantar a moleza. Quando mudavam de acampamento, os mais
fortes carregavam dois troncos de árvores. As mulheres e os meninos conduziam as armas, as
bagagens e os trastes. Chegados ao local do novo acampamento, iam cortar árvores, e usavam
os galhos e ramagens para fazerem sombra. As habitações dos tapuias eram toscas e feias.
Os tapuias levavam uma vida descuidosa. Não semeavam, não plantavam, nem se
esforçavam por coisa alguma. Alimentavam-se com mel de abelhas e maribondos e com todas
as imundícies da terra, como cobras e lagartos. Os tapuias armavam ciladas aos peixes e
animais, utilizando seu admirável olfato e sua habilidade para comer. Alimentavam-se ainda
de frutos agrestes, caça fresca, peixes, tudo sem temperos ou condimentos. Não semeavam
outra coisa além da mandioca.
Para assar a carne, eles cavavam um buraco na terra e colocavam a carne, depois
enterravam pondo folhas de árvores por cima e faziam uma fogueira por cima de tudo. Para
atraírem felicidade na caça e pesca, os tapuias cariris queimavam ossos de animais ou
espinhas de peixes.
Os Jovens caçadores presenteavam os velhos da tribo com caças e pescarias, sem
sequer comer um único pedaço. Durante o período de caça e pesca, comiam uma sopa muito
rala, feita com farinha de milho ou mandioca. Depois dessa temporada, estavam magros, por
razão do intenso trabalho e da alimentação inadequada. (DIAS, 2001).
A linguagem era um tanto mal entendida, pois era trêmula, e cantada, não se entendia
nada. Dezenas de palavras foram usadas na linguagem dos tapuias como por exemplo: carfa,
caruatá, cayú, comatyn, corpamba, corraveara, cucuraí, ditre, entre outros.
Foram aldeias, que em pouco tempo foram transformadas em vilas, onde existia um
chefe para governar esse vilarejo indígena, onde se estabeleceu a forma de vida um tanto
democrática entre os demais.
Os Tarairius Janduís, também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras
regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande. Dividiam-se em vários grupos nomeados de
acordo com a região onde moravam � Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e
Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó). Eram chefiados por vários reis e falavam
línguas diversas. Merecendo destaque os reis Janduí e Caracará. (DIAS, 2001).
Os homens apresentavam-se corpulentos, possuidores de grande força física. A pele
queimada, em tons de marrom. Usavam cabelo longo ao sabor do vento. Não costumavam
usar roupas. Eram desprovidos de pêlos por todo o corpo. Apesar de andarem nus, cobriam as
partes íntimas com peças feitas de materiais rudimentares, extraídos da natureza. Em contra
partida, as mulheres apresentavam estrutura física pequena, mas a cor era a mesma da dos
homens, porem costumavam manter os cabelos curtos ou longos, de corpos rechonchudos.
Também escondiam suas partes íntimas. Adornavam seu corpo com o que
encontravam na natureza � Penas de aves, folhas de plantas nativas, raízes, utilizavam-se de
pedaços de paus para fazerem brincos, colares e outros. Utilizavam-se de tais enfeites tanto
para a prática das danças, como na preparação para a guerra.
Os Tapuias, por vezes, atingiam aproximadamente dois séculos de vida. Quando isso
acontecia eram homenageados por sua tribo. Isto quando do sexo masculino - se do sexo
feminino, ao darem à luz a mais de um filho, tornavam-se cativas. Estando doentes são
visitados pelos amigos e se o caso de morte, matavam-nos para que não houvesse sofrimento.
A causa mais freqüente de óbito entre os Tapuias era o veneno de cobra. Eram
endocanibalistas, devoravam até mesmo os de sua tribo, quando da sua morte.
Casal de Tarairius � Joan Nieuhof � séc. XVII
4.1. Guerra dos Bárbaros: resistência a dominação portuguesa
A Guerra dos Bárbaros, em sentido amplo, se refere aos conflitos entre grupos
indígenas que habitavam o sertão do território do atual nordeste brasileiro e as forças
colonizadoras portuguesas que tinham o objetivo de conquistar aquelas terras de forma a
permitir a utilização produtiva da pecuária na região. Estes conflitos podem ser divididos em
dois episódios: as guerras no recôncavo e a Guerra do Açu, que juntas remetem a mais de 70
anos de duração, de 1650 a, pelo menos, 1720. Tais conflitos eram citados na documentação
coeva como a �guerra aos bárbaros� e referidos pela historiografia como a Guerra dos
Bárbaros. Em muitos casos esta nomenclatura é citada referindo-se unicamente à Guerra do
Açu, em outras englobando também as guerras do recôncavo baiano. (DIAS, 2001).
A Guerra dos Bárbaros foi um conflito entre vários grupos indígenas do grupo
lingüístico macro-jê unidos naquela que ficou conhecida como Confederação Cariri3 e as
forças colonizadoras portuguesas na América. Este conflito durou mais de meio século e foi
responsável pelo completo extermínio de algumas tribos indígenas e pelo completo
desmantelamento das demais envolvidas. Representou a conquista do sertão nordestino
brasileiro para o domínio português e o seu uso efetivo na criação de gado, de fundamental
importância para a subsistência da sociedade açucareira. Para a consolidação desta conquista
foram manejados efetivos de caráter militar de todo o nordeste brasileiro, além da ajuda de
contigentes expressivos de outras regiões. Foram formadas alianças com tribos tupis que
permitiram multiplicar o efetivo da força de ataque portuguesa. (PUNTONI, 2002).
A repressão ao quilombo dos Palmares foi adiada para que seus combatentes
pudessem auxiliar no ataque aos indígenas �bárbaros� que destruíam milhares e milhares de
cabeças de gado e centenas de colonos e ameaçavam o centro da capitania do Rio Grande,
Natal. (PUNTONI, 2002).
Neste trabalho que aqui apresentamos, tratamos apenas de um período desta longa
guerra, a saber o período mais intenso da chamada Guerra do Açu, mais especificamente
aquele período entre a intensificação ocorrida nos levantes indígenas por volta de 1687 e o
3 Pedro Puntoni em sua tese A Guerra dos Bárbaros; povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720, USP, 1998, contesta a existência de uma confederação entre os índios tapuias como foi colocada pela historiografia, ou seja, como um �genuíno movimento organizado de resistência ao colonizador� (p.64), embora ele mesmo admita a possibilidade de terem ocorrido confederações na �noção mais fraca do termo, simples alianças entre nações e tribos para fazer face ao inimigo comum� (p. 66). A discussão é tratada entre as páginas 64 e 72 da referida tese.
tratado de paz entre janduís e portugueses em 1692. Esta limitação cronológica corresponde à
necessidade de não alargar demasiadamente a narrativa histórica, uma vez que a mesma foi
feita com grande competência por Maria Idalina da Cruz Pires4 por Pedro Puntoni5
em suas
teses respectivamente de mestrado e doutorado. Desta forma, e considerando os limites de um
trabalho de monografia de graduação, acreditamos que os elementos contidos nos
relacionamentos sociais e seus conflitos referentes a este período são suficientes para a análise
e compreensão dos mecanismos utilizados particularmente no processo de conquista desta
região por parte dos portugueses assim como aqueles utilizados pelos �gentios bárbaros� em
seu processo de resistência. (PIRES, 1990).
Com sua reduzida participação na historiografia nacional e sua quase ausência nos
livros e manuais escolares, a Guerra dos Bárbaros só recentemente, através das teses citadas,
teve a abordagem merecida, mas longa distância ainda a separa do conhecimento leigo e
inclusive do especializado, afinal não é incomum o desconhecimento do episódio por parte de
profissionais especializados em história do Brasil.
Este quadro, reflete mais especificamente todo o descaso com que é tratada a história
indígena do Brasil, que fora dos núcleos especializados tem pouquíssimo espaço, o que não é
condizente com o papel central que os povos autóctones exerceram na história brasileira. E é
importante ressaltar que este descaso vai além da questão ideológica, uma vez que mesmo nas
obras que privilegiam eventos marginais à história oficial, o espaço destinado à �Guerra dos
Bárbaros� é nulo ou diminuto se comparado a outros episódios de resistência6
4 PIRES, Maria Idalina da Cruz. Guerra dos Bárbaros; resistência indígena e conflitos no Nordeste colonial. Recife: Fundarpe, 1990. 5 PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros; povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo. 6 Note-se que a Guerra dos Bárbaros é contemporânea ao Quilombo dos Palmares, apenas para fazer uma comparação com o espaço dedicado à história de um movimento que também era de resistência e protagonizado pelos negros, aqueles que junto com os índios compõem o grupo mais desfavorecido na história e na historiografia brasileira, mas que, no entanto, tem um espaço incomparavelmente maior nesta historiografia.
No caso em questão, há realmente uma enorme carência de documentos, uma vez que
pouco se escreveu sobre os tapuias, sendo objeto preferencial da abordagem dos relatos
colonizadores as tribos tupis que em geral se aliavam e eram aldeadas pelos missionários. E a
falta de documentos escritos pelos indíos também é de se lamentar, porém não devemos nos
imobilizar por tais motivos. Através das fontes existentes a história da resistência deve ser
construída se desejamos realmente compreender o Brasil. (LOPES, 2003).
Considerando todos os limites existentes em um trabalho de monografia de graduação
esperamos com este estudo estar contribuindo para a discussão de alguns elementos que
entendemos fundamentais para a compreensão da resistência indígena e do processo de
conquista português, em especial o papel do bandeirante paulista na conquista da região em
questão, e das estratégias de sobrevivência dos janduís, aqueles que eram tidos pelos
portugueses como os mais temíveis naquela que, na opinião de Affonso de Escragnolle
Taunay, foi �guerra índia a mais séria talvez ocorrida no Brasil�7.
O termo �Bárbaro� tem suas implicações com barbárie, que por sua vez, tem suas
implicações na nomenclatura do evento, possibilitando, assim, a compreensão de como ele era
aplicado no contexto em questão. Entretanto a palavra �bárbaro� surgiu na Grécia Antiga,
onde ele era aplicado basicamente para designar os demais povos que não compartilhavam da
cultura helênica. Aristóteles fez amplo uso do conceito em sua tentativa de justificar a
�escravidão natural�. Embora a discussão a respeito da bárbárie seja típica do século XVIII,
no período da Ilustração, o termo já permeava os discursos do século XVII com fins
legitimadores. Fica claro, assim, de onde se trazia a retórica que justificava a escravidão dos
indígenas e de que forma era associativo o conceito imposto aos indígenas que não se
7 TAUNAY, Afonso de E.. História das Bandeiras Paulistas. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975. Tomo I, p.153.
alinhavam com a proposta colonizadora portuguesa e o interesse em mão-de-obra dos
colonos. Aristóteles considerava os bárbaros como seres humanos inferiores, naturalmente
destinados a obedecer:
Há ainda, por ação da natureza e para a manutenção das espécies, um ser que manda e outro que obedece. Pois aquele que tem inteligência capaz de prever tem, de modo natural, autoridade e poder de chefe; aquele que não tem senão a força física para executar, deve, obrigatoriamente, obedecer e servir � e, portanto, o interesse do amo é o mesmo do servo. (...) Os poetas escreveram: �Os gregos têm o direito de mandar nos bárbaros� como se a natureza fizesse distinção entre bárbaro e escravo. (...) Existem, na espécie humana, seres tão inferiores a outros quanto o corpo o é em relação à alma, ou a besta ao homem; são aqueles para os quais a utilização da força física é o melhor que deles se consegue. Segundo nossos princípios, esses indivíduos são destinados, por natureza, à escravidão (...) Deste modo, entre os homens, uns são livres, outros escravos; para eles é proveitoso e justo viver como servos.8
O conflito que envolve os colonizadores e seus agentes por um lado e a aliança
indígena que ficaria conhecida como Confederação Cariri, e que englobava, entre outros,
janduís, paiacus, caripus, icós, caratiús e cariris teve início no final do século XVII e
durou até, pelo menos, a segunda década do século XVIII. (PUNTONI, 2002).
Desde de o início da colonização portuguesa na América, os índios que ocupavam o
território que estava sendo conquistado pelos portugueses foram constantemente denominados
de bárbaros numa classificação claramente etnocêntrica, que levava em conta sua aparente
falta de organização social, religiosa e política, e principalmente seus hábitos antropofágicos.
Estes, a princípio, foram vistos como costumes bestiais e selvagens, o que lhes
garantia o adjetivo denegridor, sem que se levasse em conta seu contexto cultural. Tudo isto
serviria de pretexto para a missão evangelizadora e civilizadora empreendida pelos
8 ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Hemus, s.d. p.10-17.
colonizadores e missionários, onde se buscava principalmente a conversão dos nativos aos
valores da cultura ocidental.
A denominação de bárbaro ia além do natural estranhamento e incompreensão
causados pelo choque da alteridade, e se encaixava num conveniente discurso legitimador da
opressão, escravidão e extermínio, e que era reforçado por uma cartografia que sempre dava
relevo ao seu caráter selvagem e antropófago.9
Porém, conforme o andamento do processo
colonizador português e da conseqüente ajuda ou empecilho que o indígena representava esse
conceito seria aplicado somente àqueles que não favoreciam de nenhuma forma a
colonização, conforme analisaremos melhor adiante.
E os colonos necessitavam de mão-de-obra para seus engenhos, suas lavouras, seus
serviços domésticos, enfim, para os servir. O discurso aristotélico, atravessaria os séculos e
encontraria como seu maior eco no período colonial das Américas os textos de Juan Ginés de
Sepúlveda, que foi o contraponto de Bartolomeu de Las Casas no debate a respeito da
conversão indígena.10
Sepúlveda baseava seus argumentos na teoria de Aristóteles, e defendia a �escravidão
natural�:
[...] Constata-se esta mesma situação entre os homens; pois há os que, por natureza, são senhores e outros que, por natureza, são servos. Os que ultrapassam os outros pela prudência e pela razão, mesmo que não os dominem pela força física, são, pela própria natureza, os senhores; [...] E é justo e útil que sejam servos, e vemos que isto é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios: �O tolo servirá o sábio�. Assim são as nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acordo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas, de modo que, graças à virtude dos últimos e à prudência de suas leis, eles abandonam a barbárie e se adaptam a
9 A respeito da representação iconográfica do índio na América portuguesa ver:: RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização: a representação do índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. 10 A respeito do debate acerca das formas de conversão dos índios ver: PÉCORA, Alcir. Cartas à Segunda Escolástica. In: NOVAES, Adauto (org). A Outra Margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se recusam esse império, é permissível impô-lo por meio das armas e tal guerra será justa assim como o declara o direito natural... Concluindo: é justo, normal e de acordo com a lei natural que os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem estas virtudes.�11
É, basicamente, este discurso que seria apropriado pelos bandeirantes paulistas, que,
assim, justificavam a atividade que lhes trazia riqueza. A preocupação em articular
argumentos que validassem a escravidão indígena, visto esta ter sofrido maiores reservas que
a africana, foi constante na colonização, principalmente em São Paulo, onde os colonos, que
necessitavam da mão-de-obra indígena para a sobrevivência de suas atividades econômicas e
sofriam com a oposição jesuíta que procurava controlar esta mesma mão-de-obra,
desenvolviam constantes petições à Coroa com o objetivo de consumar na teoria o que já
existia na prática. Entre os principais argumentos estavam a necessidade de se erradicar
costumes �bárbaros� como a antropofagia e a poligamia, e também a intenção de dominar os
infiéis, dentro de uma concepção religiosa que se cristalizava na chamada �guerra justa�.
Todos argumentos estavam dentro do contexto de uma civilização superior que tinha uma
missão: civilizar e evangelizar os índios.12
Estes argumentos davam um aspecto moral às petições dos colonos, no entanto, muitas
vezes os argumentos se restringiam à necessidade urgente de mão-de-obra para o
desenvolvimento da colônia.
Se há um agente do processo colonizador português na América que merece
destaque num estudo sobre a "Guerra dos Bárbaros", este agente é o grupo formado
pelos bandeirantes paulistas. Sua atuação na guerra será determinante para o seu
11 SEPÚLVEDA, Juan Ginés. �Tratado sobre las justas causas de la guerra contra los indios� apud ROMANO, Ruggiero. Os Mecanismos da Conquista Colonial: os conquistadores. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973. p.84-5. 12 A respeito da opinião dos paulistas sobre a escravidão indígena, trechos importantes da obra de Bartolomeu Lopes de Carvalho contando com o depoimento dos paulistas para informar à Coroa encontram-se na obra: MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes na origem de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 134-136. A obra original chama-se �Manifesto a Sua Magestade� e encontra-se na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa. Infelizmente não me foi possível consultá-la.
encaminhamento final e são estes homens, responsáveis diretos pela maior caçada à
seres humanos ocorrida naquele que seria o futuro território do Brasil, que melhor
representam o intercâmbio cultural que ocorreu entre indígenas e portugueses na
América portuguesa, muito embora tal intercâmbio tenha se dado inconscientemente
como veremos mais adiante.
O que, no entanto, cabe oportunamente lembrar aqui são algumas características dos
bandeirantes que, aos olhos de cidadãos europeus, eram suficientes para os qualificar de
bárbaros, colocando-os num mesmo nível que os �selvagens� que habitavam estas terras,
como fica claro no depoimento de d. frei Francisco de Lima, bispo de Pernambuco , muito
lembrado quando da discussão sobre o uso da língua geral em São Paulo nos primeiros
séculos da colonização, mas que aqui pretendo analisar em um outro aspecto. Diz o bispo a
respeito de Domingos Jorge Velho: �Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho
topado: quando se avistou comigo trouxe consigo língua, porque nem falar sabe, nem se
diferença do mais bárbaro Tapuya mais que em dizer que é Cristão�13. Sem querer entrar na
discussão a respeito do conhecimento ou não da língua portuguesa por Domingos Jorge
Velho, nem querendo desconsiderar os conflitos de interesses entre jesuítas e bandeirantes, é
importante ressaltar a pertinência de tal imagem, uma vez que a vida levada por esses
paulistas causava muitas vezes estranhamento aos acostumados com a vida no Reino.
Vivendo na �fronteira� da penetração territorial paulista e tendo como principal
atividade de sustentação econômica o apresamento e comercialização dos indígenas, tornava-
se indispensável uma adaptação que permitisse a vida no sertão, e esta adaptação era a causa
de uma certa estranheza e desqualificação a partir do ponto de vista do reino ou do colono
estabelecido nas áreas de colonização mais densa.
É claro que a analogia efetuada pelo bispo de Pernambuco e, com certeza, muito
utilizada em relação aos bandeirantes não implicava em uma semelhança literal em seus 13 ENNES, Ernesto José Bizarro. As Guerras nos Palmares; subsídios para sua história.. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1938. p. 353.
critérios de classificação social, e sim um meio de denegrir e desqualificar aqueles que
assumiam traços culturais indígenas, além de cometerem atrocidades que sensibilizavam a
maioria dos jesuítas, mesmo considerando os interesses econômicos destes.
Essa imagem dos bandeirantes será recorrente na "Guerra dos Bárbaros", de forma que
recorre-se freqüentemente à idéia de que �apenas um outro �bárbaro� poderia dar fim aos
�bárbaros gentios��.14
Toda a atuação dos bandeirantes no processo colonizador da América portuguesa foi
possibilitado por uma legislação indigenista que Beatriz Perrone-Moisés15 conseguiu resumir
brilhantemente com três adjetivos: contraditória, oscilante e hipócrita. Essa legislação, onde a
Coroa tentava atender ora aos desejos de colonos, ora aos anseios dos jesuítas permitiu que a
escravidão indígena atravessasse mais de três séculos, com todos os seus abusos intrínsecos,
graças principalmente à chamada �guerra justa�. Ciente da absoluta necessidade de dispor da
mão-de-obra indígena que cultivava a terra, a defendia de ataques de europeus e outros índios
e os servia de guias para as expedições ao sertão, os colonos pleitearam constantemente à
Coroa o direito de usufruir deste benefício, e é através da �guerra justa� que eles encontrarão
a melhor justificativa para o cativeiro indígena. Através deste conceito que justificava os
ataques a tribos que cometessem hostilidades e impedissem a propagação da fé, os colonos
não tinham dificuldade de provocar conflitos que posteriormente justificassem a declaração de
uma �guerra justa� e assim os possibilitassem de adquirir mão-de-obra escrava indígena. E,
naturalmente, é desse expediente que se utilizaram os bandeirantes para legalizar a
�mercadoria� que obtinham em suas expedições, apesar de atacarem índios aliados e muitas
vezes já aldeados pelos jesuítas, o que garantia o permanente conflito com estes além de
protestos da administração portuguesa.
14 PIRES, Maria Idalina da Cruz. Op. cit., p.68. 15 PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e índios escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.115-116.
O complexo jogo de alianças entre colonizadores europeus e populações nativas revela
o papel determinante ocupado pelos últimos no processo de ocupação e efetiva conquista da
terra, uma vez que representavam a mão-de-obra mais imediata, conheciam a terra que se
conquistava e representavam a força necessária para compor os efetivos repressores. Este
papel assume em determinados momentos o principal uso que se faz dos indígenas, se
tornando também mais importante, na política colonizadora dos portugueses, do que o papel
de trabalhador escravo.
Vale ressaltar que, para defender os interesses colonialistas e acabar qualquer foco de
resistência a presença portuguesa (fato acentuado na segunda metade do século XVII), em
primeiro lugar, eram convocados para a repressão aos índios aqueles que constituem a maioria
de qualquer empreitada militar na América portuguesa: os índios cooptados. Desta forma, são
enviadas duas Companhias, uma do Terço do Camarão, responsável pelo efetivo de indígenas
à disposição do governo português. Nesta mesma lógica, é acionada outra Companhia, a do
Terço de Henrique Dias responsável pelos negros que ocupavam a mesma posição. Neste
momento ambas estão sob a coordenação do governador de Pernambuco, que as envia ao Rio
Grande após solicitação de Mathias da Cunha. No Rio Grande ficam sob ordem do Coronel
Antônio de Albuquerque da Câmara, nomeado Cabo desta facção.
Desde o começo dos conflitos, é possível perceber também um conflito de interesse
entre colonizadores e colonos. Para os colonos aqueles povos indígenas representavam um
entrave para o desenvolvimento de suas fazendas de gado, já para os colonizadores
portugueses percebe-se o interesse em utilizar aqueles guerreiros, quando possível, em
proveito próprio, através de alianças que permitissem a atuação das tribos tapuias em favor da
conquista portuguesa.
Além de índios e negros cooptados, eram também utilizados criminosos, vadios e
degredados para a composição destes terços, que viriam a engrossar as tropas sob ordem do
Coronel Antônio Albuquerque da Câmara devido à promessa de perdão para aqueles que
combatessem os bárbaros.
A mobilização de praticamente toda a força militar disponível na região, além do
auxílio dos bandeirantes podem nos dar a dimensão do conflito e o poder de resistência e
reação dos índios. A Guerra dos Bárbaros foi um conflito secular que representou a etapa de
conquista de uma porção considerável daquela que seria a América portuguesa, e que possuía
um caráter estratégico pois, além de servir para a pecuária, era através daquelas terras que se
traçava o caminho terrestre para a efetiva colonização do litoral norte do Brasil, cujo a
Capitania do Rio Grande seria o ponto crucial e estratégico para a empreitada lusitana, daí a
necessidade de um enorme continente militar para consolidar a dominação de Portugual junto
as suas novas terras.
4.2. Missões e Aldeamentos: a legitimação do extermínio indigena
As Missões eram aldeamentos indígenas criados e organizados pelos missionários e
geralmente eram localizadas no habitat natural do índio, ficando assim afastadas das
povoações. Na verdade, eram logradouros que reuniam os índios sobreviventes da empresa de
conquista. Para os missionários, as Missões eram espaços "civilizados" nos quais os índios se
transformariam "homens" saindo do estado da barbárie em que se encontravam.
Escravizar o indígena não era um gesto tão isento de regulamentação. Em 1565, a
Mesa da Consciência e Ordem, reunia-se em Lisboa e restringia o "direito" de se cativar
somente os índios aprisionados em "guerras justas" e estabelecia que seriam livres os índios
que tivessem se submetido pacificamente aos agentes colonizadores.
Segundo o Governador Geral Mem de Sá, as Missões deveriam ter uma organização
administrativa como as outras vilas de habitação colonial, com um Meirinho (autoridade civil
escolhida entre os indígenas) quel se encarregaria da vida administrativa. Este faria cumprir as
ordens em todos os aspectos: trabalho, religião, etc. Tais decisões transformaram-se em leis
em 1570. A partir daí os índios seriam homens livres, contanto que se mantivessem unidos à
religião cristã e à colonização. Por outro lado, manteve-se o cativeiro legal dos índios
aprisionados em "guerra justa".
Devido ao crescimento econômico da América Portuguesa com o desenvolvimento
açucareiro, foi criado em março de 1609 um órgão do Tribunal da Relação do Brasil, o qual
controlaria as relações sociais, jurídicas e políticas na própria colônia. Esse órgão seria
também responsável pelo cumprimento da lei que garantia a plena liberdade aos índios,
proibindo qualquer tipo de escravidão indígena e obrigando os colonos ao pagamento aos
índios pelos trabalhos prestados. Assim os jesuítas ficaram responsáveis pela catequese,
direção temporal dos aldeamentos e administração das terras e dos serviços dos índios aos
colonos. Observa-se que a lei de 1609 era fruto de constantes conflitos entre colonos,
necessitados de mão-de-obra, e missionários, preocupados com a evangelização dos índios
pagãos.
A proibição total da escravidão indígena, gerou uma reação violenta contra a lei e
contra os missionários. Dessa forma, a Coroa voltava atrás na sua decisão, em 1611, e
ordenou nova lei, retornando a permissão da escravidão dos índios capturados em "guerra
justa" ou resgatados de outras tribos; reafirmando também a existência dos aldeamentos.
Nessa retomada de decisão, os colonos se sentiram vitoriosos, uma vez que os mesmos tinham
garantido o acesso aos cativos de guerra e o trabalho dos índios aldeados. Por outro lado
significou também a perda do poder dos jesuítas, pois a nova lei deixou os mesmos
responsáveis apenas pela parte espiritual.
No século XVII, ao aldeamentos começaram também a ser fundados nos sertões, a fim
de reduzir os índios das novas áreas ocupadas. Os anos que se seguiram foram repletos de
conflitos entre os colonos e missionários, por causa dos vários aprisionamentos de índios,
aldeados ou não, em virtude da interiorização da colonização com a pecuária e da conseqüente
disputa pelas terras.
Em meio a tantos conflitos envolvendo religiosos, índios e os grandes sesmeiros,
várias decisões administrativas e jurídicas foram tomadas, dessa vez, a criação do Bispado de
Pernambuco por Bula do Papa Inocêncio XI, em novembro de 1676, para orientar os
religiosos e intermediar nas situações conflituosas que se desenrolavam no sertão. E em
março de 1681, criou-se a Junta das Missões de Pernambuco, subordinada a que existia em
Lisboa e que iria promover e cuidar de todos os negócios referentes às Missões e catequese
dos índios. Sendo assim, a partir de 1686, essas Missões passaram a ser regidas pelo novo
"Regimento das Missões", que deu aos Padres da Companhia de Jesus o controle espiritual,
político e temporal dos aldeamentos, porém garantindo o acesso dos colonos ao trabalho
indígena, que deveria agora ser contratado em troca de pagamento .
Percebe-se que a criação das Missões de aldeamento fez parte de uma política de
aldeamento da Coroa portuguesa que assegurava os diversos interesses da colonização, como
também respondiam aos objetivos religiosos dos missionários e da Igreja.
Na Capitania do Rio Grande, as missões de aldeamento foram implantadas na década de
1680, iniciando-se as atividades em duas das quatro aldeias Potiguara que ainda existiam no
litoral do Rio Grande.
Para alcançar os objetivos pretendidos pelos missionários, as Missões deveriam ser
localizadas em áreas que fossem realmente interessantes à colonização. O interesse em
estabelecer aldeamentos seria mais nas áreas de atividade agrária, visto que nas outras áreas
da pecuária o contingente de mão-de-obra era reduzido. No sertão era necessário fazer o
"despovoamento" de índios para que se pudesse efetivar um "povoamento" colonial. Isso
explica por que das cinco Missões estabelecidas no Rio Grande, apenas uma, a de Apodi,
fosse localizada no sertão, e com curta duração. As quatro outras Missões de Guajiru,
Guarairas, Igramació e Mipibu, localizavam-se em área litorânea.
A missão de Guajiru foi um dos aldeamentos cuja presença dos jesuítas se deu desde
1679. A vinda destes jesuítas ocorreu por motivo de desavenças entre os administradores e os
missionários da Companhia de Jesus, pelo qual ficou definido que nos aldeamentos os
missionários tinham todo o comando.
Diversas Missões foram instaladas nas aldeias potiguares, dentre elas estão: Missão de
Guaraíras; Missão de Mipibu que corresponde a cidade de São José de Mipibu; Missão de
Igramació que segundo escavações demonstram uma herança de missionários bem antigos
com relação as demarcações de terras.
Todas essas Missões, portanto, tiveram por objetivos colonizar as aldeias potiguares.
Através da evangelização, estas Missões levaram muitos índios a se batizarem no
cristianismo. Assim, aos poucos, estabelecia-se sua estada fixa da posse da terra, onde os
índios eram levados a crerem que aqueles eram seus "aliados" e não inimigos.
Após sucessivos conflitos entre os indígenas revoltosos e colonizadores, uma
esperança de paz foi proposta: sugeria-se através de aldeamentos demarcados, o limite de
terras com o propósito de alto sustento das tribos indígenas. Em troca das terras, os índios se
viam obrigados a contribuir com a colônia, na formação e agregação de tropas responsáveis
em controlar possíveis conflitos.
Muitos foram os motivos para a não concretização dessa paz efetiva, em princípio a
não demarcação das terras, posteriormente o deslocamento dos indígenas de seus locais de
origem para outros locais, onde os mesmos não se acostumavam. As conseqüências desse
último foi com a falta de estruturação, a necessidade de pequenos furtos, sobretudo de gado e
roçados dos vizinhos, para alimentos da população da tribo.
Um fator agravante foi que com os primeiros acordos, os índios foram armados com
pólvora e chumbo para combater tribos revoltosas e isso influenciou os mesmos a encontrar
um certo poder e credibilidade para revoltarem-se. Numerosas foram as tentativas de controlar
essas situações contrárias a paz, mas em sua maioria foram frustradas, a não ser quando
através do Conselho Ultramarino houve a necessidade de uma "guerra justa", onde só poderia
ser castigadas as tribos que estivessem completamente revoltosas e sobre os indígenas que
praticavam os roubos (entregues por chefes de sua tribo).
Os inúmeros levantes geraram, por conseguinte vários acordos, que só beneficiaram os
colonos e facilitaram a dizimação dos indígenas, onde o papel dos aldeamentos criou
paliativos ao amplo caráter social, político e econômico do indígena para a colônia.
Os objetivos das missões de aldeamentos estavam claramente contextualizados por
interesses religiosos e políticos. Estes se concretizam na própria política de povoamento e
exploração econômica que através da distribuição e demarcação de terras, busca-se não só a
garantia de territórios contra invasões bárbaras, mas também a produção agrícola de diferentes
culturas (os indígenas acostumados com a sua vida seminômade tradicional, são
surpreendidos com o modo de produção europeu, que visava o acúmulo de produtos).
Aqueles, caracterizam-se pelo domínio cultural e espiritual da Igreja católica (jesuítas) para
com os indígenas, na tentativa de "domesticar" ou civilizar o selvagem através dos
ensinamentos cristãos.
Quando se retratam as missões, pode-se perceber que algumas vezes exigiam esforços
de índios e missionários e que posteriormente adquiriu um caráter mais instável e definitivo,
gerando assim, depois da sua extinção, as igrejas de tijolo e pedra que conhecemos, porém
com algumas modificações na aparência.
As capelas iniciais deveriam seguir o padrão estrutural das capelas coloniais, em que a
capela-mor e a nave constituíam o mesmo corpo da construção, dividido por um arco-
cruzeiro. Quanto ao estilo arquitetônico, as capelas dos aldeamentos do Rio Grande deveriam
seguir o padrão verificado nos outros aldeamentos do Brasil colonial. Um espaço muito
importante também era o terreiro central, pois era um lugar responsável pela ligação no
mundo nativo e colonial, local onde se realizavam as festas.
Segundo o padre Anchieta, a vida numa Missão jesuítica deveria ser rotineira e o papel
do missionário era de fundamental importância para a população, pois eram os mesmos que
controlavam o trabalho dos indígenas, contudo, mesmo com esse controle, muitos índios
como forma de resistência à imposição, fugiam às regras e roubavam a população, os frades e
até mesmo os missionários.
Apesar das Missões não terem conseguido "civilizar" os índios e torná-los
"verdadeiramente" cristãos, os outros objetivos foram conseguidos, como o acesso à terra e a
mão-de-obra servil e outros serviços, nos quais podemos citar a utilização de guerreiros
indígenas contra outros índios, para garantir o avanço das frentes de colonização e a
segurança das áreas já ocupadas. Os serviços que os índios aldeados prestavam aos moradores
do Rio Grande eram bastante variados, trabalhavam em canais, pescarias , entre outras
funções , inclusive nas guerras. Com isso pode-se perceber que os serviços prestados pelos
índios, eram de suma importância na produção econômica com destino ao comércio, como
também para à segurança e organização da vida na colônia. Entretanto, os serviços conforme
leis da época, deveriam ser pagos, sendo que uma parte antecipadamente e a outra ao término
destes. Quando trabalhavam como "soldados" da colônia, o pagamento era feito com armas e
munições, ferramentas para agricultura e tecido para confeccionarem suas roupas.
Todavia, é importante ressaltar que os índios aldeados viviam inquietos , pois não
conseguiam sobreviver em um território tão limitado, sem falar da proibição dos colonos
quanto a pesca próximo as aldeias; por isso roubavam roças e gado das vizinhaças.Com esta
inquietação, e constantes conflitos, começam os pedidos para que fossem sujeitados todos os
tapuias, no entanto, apesar de ter sido remetidos alguns bandos para Pernambuco; o rei
ordenou em junho de 1715, que sejam cancelados os bandos; os oficiais da câmara percebem
que traria prejuízo tanto aos moradores como a capitania.
Por fim percebe-se nitidamente a dependência dos moradores do Rio Grande do
trabalho escravo indígena, que se completava pelo trabalho dos índios aldeados; onde as
Missões deixariam de ser mero abrigo de sobreviventes para o de trabalhadores "unidos" aos
escravos índios, sustentáculo da capitania.
É de crucial importância refletir ainda o por quê do Rio Grande do Norte ser um dos
raros estados brasileiros em que não há registro oficial de população indígena. Porém,
historicamente, a região de Açu e, de um modo geral, o interior do estado foi o cenário de
uma das resistências mais importantes da história colonial (PUNTONI 2002).
Esse paradoxo é explicado, em parte, pela forma como foi escrita a historiografia local
e pela ausência de estudos especializados na região. Assim, e apesar da falta de dados
empíricos, podemos pensar que as populações indígenas que povoaram o Nordeste foram
bastante numerosas: só os Janduí, distribuídos em vinte e duas aldeias, ocupavam uma grande
parte do sertão da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte; eles eram estimados em
aproximadamente 20.000 em 1692 (PUNTONI 2002: 155; MEDEIROS FILHO 1984: 53). É
importante lembrar que ao longo dos séculos, o número de índios é cada vez mais reduzido,
para chegar, no século XIX, a um apagamento nos registros administrativos, levando ao
confisco dos territórios indígenas e das terras das antigas missões jesuíticas: no censo de 1872
os �índios� são desvanecidos. A partir daí, serão contabilizados com os pardos, pretos e
caboclos (CARVALHO S/D.; LOPES 1999; MONTEIRO 2002: 184). Hoje, apesar da
existência de �índios� no estado � três mil cento e sessenta e oito pessoas no último censo
(IBGE 2000) -, a FUNAI não reconheceu nenhuma terra indígena para o Rio Grande do
Norte. Porém, e apesar da discrepância dos resultados entre 1991 e 2000 � a saber, a
população indígena teria se multiplicado quase por dez em dez anos! -, ainda não podemos
falar de um movimento de emergência étnica significativa no estado (IBGE 2000).
Portanto, não há população indígena reconhecida no estado, mesmo havendo
indivíduos que, de maneira isolada, sobretudo nas cidades, se reconheçam como índios. De
fato, é surpreendente depararmo-nos com esta realidade. Mas, como podemos interpretar
esses dados? A �tomada de consciência� de uma identidade indígena genérica neste caso não
é ligada, por enquanto, a nenhum processo de reivindicação de territórios; devemos ainda nos
contentar com índios urbanos invisíveis. Além disso, de maneira constante, encontramos
elementos que referenciam uma presença indígena, na língua, na vida cotidiana e mesmo na
denominação dos norte-riograndenses que, quando não são chamados de �Papa-Jerimum�
recebem o nome de �Potiguar�, lembrando os primeiros habitantes da costa. Por que, então,
justamente no Rio Grande do Norte, não é possível enxergar uma forte consciência
identitária? Será o fruto de uma ação concertada? Assim, logo após a retomada do território
pelos portugueses na segunda metade do século XVII, podemos pensar que houve uma ação
planejada e coordenada, visando a eliminação física das populações nativas e que, ao mesmo
tempo, se desenvolveu um movimento contínuo e generalizado de apagamento sistemático da
presença cultural dos grupos nativos; movimento que resultou numa amnésia coletiva. Neste
sentido, o aniquilamento do elemento indígena nas consciências, inclusive dos próprios
descendentes, a erradicação física aliada ao apagamento dos índios nos documentos
administrativos, pode ser interpretado como sinais do pleno sucesso do processo colonizador.
Porém, deixando de lado essa hipótese, cabe a nós perguntar qual foi o destino dos índios do
Rio Grande do Norte. (CAVIGNAC, 1994).
Acredita-se para três diferentes possibilidades, mas que não se excluem: o extermínio,
a fuga e a miscigenação, geralmente, forçada. No primeiro caso e apesar da falta de
estatísticas, podemos falar de um etnocídio. A �guerra total�, comandada pelo Terço dos
Paulistas, foi a solução escolhida pela coroa portuguesa face à resistência autóctone. A
conseqüência lógica do extermínio das populações nativas e da expulsão dos seus territórios
tradicionais foi o desaparecimento das diferenças lingüísticas e culturais dos grupos. Uma
vez aberto o caminho para o sertão, a economia pastoril pôde se estabelecer. O processo
iniciado por volta de 1660 demorou a ser efetivado, sendo posterior ao dos outros estados,
sobretudo Bahia e Pernambuco (CASCUDO 1955; CAVIGNAC 1994; DANTAS 1961: 26;
MACEDO 1998; MACEDO 2002: 50-70; PUNTONI 2002).
As concessões de terra no Seridó só começam a serem efetivadas depois de 1670
(CASCUDO 1955: 257-258; LIMA 1988: 17; MACEDO 2002: 71; MEDEIROS FILHO
1981: 262-263, 1984: 108-109). A tentativa de re-ocupação do território pelos portugueses se
iniciou lentamente após o �tratado de paz� de 1692 (PUNTONI 2002: 124, 165;
PORTALEGRE et alii 1994: 149). Para se ter uma idéia do pouco desenvolvimento do Rio
Grande em relação a outras regiões, é só lembrar que para o ano de 1618 havia só um
engenho, o de Cunhaú - onde havia escravos desde o início do séc XVII. Em 1630,
encontramos dois ou três no litoral potiguar (Andrade 1990: 15; Monteiro 2002: 116). Em
1687, quando foram construídas oito casas fortes para abrigar os moradores, �só tinham cinco
ou seis homens� no Forte dos Reis Magos (LOPES 1999: 102-5).
O ataque constante dos tapuias provocou medo dos moradores, muitos deles fugiram
(PUNTONI 2002: 123, 133-34). Finalmente, nos meados do século XVII, a região começou a
ser colonizada: isto só foi possível após a reconquista do território pelos portugueses, em
1654. Mesmo assim, até os meados do século XVIII, o interior do Rio Grande do Norte
continuava despovoado, o que colocava os colonos em perigo (Andrade 1990: 20; Lopes
1999: 102-105); situação também relatada por Henry Koster quando ele atravessou a região
do Açu, no início do século XIX (KOSTER 1978: 96-126).
Menciona-se também muitos registros de grupos que fugiram para o interior: das
aldeias do litoral para o sertão �a procura de sua nação�, e do sertão do Rio Grande para
outros estados como o Ceará (Serra de Ibiapaba), Paraíba, Pernambuco, Piauí, Maranhão;
informação que corresponde à versão que a tradição oral lembra com mais freqüência
(PORTALEGRE et alii. 1994: 148; 156-157). Da mesma forma, outros grupos vieram do
Ceará para instalar-se na região do Apodi (LOPES 1999; MACEDO 2002: 78-79; PUNTONI
2002: 124, 126, 129).
Assim, encontramos o rastro de índios fugindo da Bahia no início do século XVII que
foram se instalar no sertão do Ceará, na serra do Araripe, e em Pernambuco (Puntoni 2002:
129, 170). Também, em 1660, a mando do Padre Antônio Vieira, trezentos tapuias, vindos de
Pernambuco, foram retirados da serra de Ibiapaba (CE) (PUNTONI 2002: 131). O chefe
potiguar Algodão, originário do sertão da Copaoba, que, desde cedo, manteve contato com
Padres jesuítas (entre 1599 e 1614), teve que se exilar no Ceará após 1656. Em 1658, escreveu
para o Padre Antonio Vieira para pedir o auxílio de missionários, apesar de ter deixado os
portugueses pelos holandeses e em 1671, faz uma petição junto a outros �chefes� Aragiba,
Cachoé e Maxure da aldeia de Parangava. Ele parte para o conflito armado - notadamente na
Bahia em 1674 (PORTO 2000: 119 e 122).
Enfim, a tese da miscigenação forçada é a que ficou mais lembrada pelos
historiadores, explicando e enfatizando o desaparecimento das populações nativas (Cascudo
1955: 38). As famílias eram desmembradas, os índios eram �repartidos, para que não
permaneçam unidos�, as mulheres ficavam com as crianças e os homens eram mortos,
escravizados, serviam no exército ou trabalhavam nas fazendas, nas pescarias e nas salinas
(PORTALEGRE et alii. 1994: 121; 125; 146-158). É verdade que a política indigenista
desde os primeiros momentos da colonização favoreceu a miscigenação (OLIVEIRA, 1999).
Por exemplo, nas aldeias, através das suas ações evangelizadoras ou do trabalho forçado, os
jesuítas tentavam realizar uma integração dos diferentes segmentos da sociedade colonial, o
que favorecia a perda do sentimento de grupo e dos sinais diacríticos da cultura remanescente.
Por outro lado, a extinção das missões, com a saída dos jesuítas em meados do século XVIII,
deixou as populações nativas a mercê dos invasores e dos colonos. As missões, num momento
posterior ao fim da resistência indígena no sertão, podem ter se transformado em focos de
resistência: alguns documentos datando da metade do século XVIII indicam que missões
serviam de refúgio aos índios rebelados e que os jesuítas eram contra a servidão dos índios,
preferindo �alugá-los�, pois eram os primeiros beneficiários (Portalegre et alii. 1994: 146-
147; 161-166). Aliás, antes mesmo da expulsão dos jesuítas, os índios aldeados, como os de
Guaraíras em 1716 �andavam pouco obedientes� e as vilas eram o palco das revoltas
organizadas, sobretudo a de Guajiru (Extremoz) onde haviam, ainda em 1760, ameaças de
levante indígena (PORTALEGRE et alii. 1994: 166, 169, 172). Num outro nível, os índios
foram integrados ao processo colonial: com os negros, eles serviam na guerra, fornecendo
homens para as tropas militares no combate aos levantes indígenas e na conquista da terra
(LOPES 1999: 138; PIRES 1990; PUNTONI 2002: 58, 170). As mulheres, as crianças e os
outros sobreviventes tiveram, geralmente como única solução para se manterem vivos, a
integração com os não-índios. Geralmente eram considerados como vadios pelo poder
colonial, pois há inúmeros registros de queixas de roubo e destruição dos bens, animais e
plantas (LOPES 1999; PORTALEGRE et alii. 1994: 107-180).
Finalmente, deve-se levar em conta as conseqüências do contato com os europeus: as
doenças, a escravização dos homens e o estupro das mulheres, o desmembramento das
famílias, a desestruturação dos grupos, a deportação das populações, o agrupamento nas
aldeias missionárias, onde diversos grupos eram agrupados num mesmo local, a proibição das
práticas culturais e, sobretudo, religiosas, etc. Porém, há indícios de que o trabalho
missionário não foi tão eficiente como podia se esperar, pois no final do século XVII (1689),
os missionários e as autoridades se queixam de que �muitos tapuias, �daqueles do Silva 40�
(...) continuavam (com) os antigos ritos sem se doutrinarem� como podemos verificar em
Guajiru (Extremoz) ou entre os Panati, índios �pacificados e domesticados�. Ainda em 1725,
os Oficiais da Câmara de Natal escrevem uma carta ao Rei de Portugal, para dar conta da
rebeldia dos índios aldeados que �ao mesmo tempo [que] vão às missas, continuam
idolatrando e usando seus �gentilicos ritos��, voltando �para seus costumes antigos� sem
administração dos padres, como aconteceu na Missão de Guajiru em 1756 quando o jesuíta
Antônio Vaz voltou para Recife (Portalegre et alii. 1994: 121, 160, 164 e 169). No
Pernambuco, por volta de 1672, o Frei Martin de Nantes, capuchino francês, se opõe aos
ataques dos colonos contra os índios. Porém, lamenta-se da indiferença do seu rebanho à
�verdadeira palavra� (Valence 1888). Mas o extermínio sistemático e a remodelagem das
culturas locais, perpetuado ao longo dos séculos do período colonial, teve como ápice e
conseqüência lógica, no final do século XIX, a negação da identidade genérica de índio e o
seu apagamento nos registros oficiais. A estes fatores somam-se outros que concorrem à
desestruturação da sociedade tradicional sertaneja fundada na pecuária, tais como os
movimentos populacionais ocorridos devido a secas sucessivas nos séculos XIX e XX; o que
conduziu a um enfraquecimento das redes de sociabilidades familiares e à desintegração das
comunidades mais frágeis, pois instaladas nas terras menos produtivas. Porém, mesmo com
estes indícios de resposta, a pergunta permanece: se há populações indígenas (re)conhecidas
nos estados vizinhos do Rio Grande do Norte, porque, justamente aí, não existe nenhum grupo
reivindicando uma identidade indígena? (CAVIGNAC, 1994).
Tal indagação, talvez, encontre respostas em estudos e obras consagradas de
historiadores que trataram da História do Rio Grande do Norte, como as de Luís da Câmara
CASCUDO (1984) e Augusto Tavares de LIRA (1982), inscrevem a existência dos nativos
até mais ou menos o século XVII, no máximo até as duas primeiras décadas do século XVIII.
Depois da Guerra dos Bárbaros (1683-1725) � movimento de resistência indígena contra a
expansão da pecuária no sertão e que é considerado o maior conflito interétnico do Brasil
Colonial � os índios teriam sido dizimados do interior. Os lugares por onde andavam deram
lugar a fazendas destinadas à criação de gado e, em alguns casos, a pequenas manchas
urbanas, as povoações e vilas, origens das atuais cidades sertanejas.
Em lugar das divindades nativas um deus que é uno e trino ao mesmo tempo instalou-
se nas capelas erguidas nas plagas sertanejas, onde Nossa Senhora (com seus vários títulos),
Sant�Ana, São Sebastião e outros santos da tradição cristã repousam como protetores da
população que crescia paulatinamente. À exceção de alguns contingentes que foram poupados
do extermínio físico, mas aldeados em missões religiosas, o restante dos índios teria, de fato,
sido expurgado da então Capitania do Rio Grande.
O peso desse possível �desaparecimento� dos índios no Rio Grande do Norte é tão
forte que mesmo na contemporaneidade seus efeitos ainda se fazem sentir. Os moradores das
cidades do Sertão do Seridó, porção centro-sul do estado, por exemplo, costumam falar dos
indígenas como elementos vestigiais de um passado que somente é lembrado quando alguém
fala das caboclas-brabas amansadas a dente de cachorro e casco de cavalo ou dos índios
Cariri. Até mesmo os livros didáticos tendem a mencionar o índio apenas no Período
Colonial. Durante o Império e a República eles passam desapercebidos, inexistindo nas aulas
de história, a não ser quando falam de sua participação na constituição da personalidade
�mestiça� do brasileiro tal defendida por Gilberto Freyre.
No correr do século XIX os índios apareceriam nos Censos Demográficos e na
documentação judicial da Província do Rio Grande do Norte, em destaque a Comarca do
Caicó sob a denominação de caboclos, demonstrando que mesmo sob a marca da
discriminação e do preconceito teimavam em resistir. Todavia, se faz necessário uma
reflexão profunda sobre a real presença de índios no Rio Grande do Norte atualmente, visto
que, especialmente os escritos que tocam na presença indígena no Estado e com mais
particularidade no interior, a fim de verificar dados mais concretos sobre as populações
indígenas no Rio Grande do Norte, quem sabe um dia possamos falar da sua presença nos dias
atuais, se ressurgirem através do processo da etnogênese.
5. Considerações Finais
Os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha
relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a
explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o
escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu
trabalho.
O canto que se segue foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas
terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a
matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as
terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequenos número
de índios que temos hoje.
A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses
achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu
serviço. A cultura indígena era considera pelo europeu como sendo inferior e grosseira.
Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os
índios seguirem a cultura européia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua
cultura e também sua identidade.
Desde da época do "Descobrimento do Brasil", os indígenas continuam desrespeitados em seus direitos
básicos, como primeiro povo habitante do Brasil. Infelizmente os índios são vistos hoje como seres inferiores
(primitivos) pela maioria das sociedades urbanas, mas isso não pode ser levado à sério, pois nenhuma cultura
pode ser considerada inferior ou superior a um outra.
Daí vem a questão do etnocentrismo, que tem a tendência para considerar a cultura de seu próprio povo
como a medida de todas as demais. Os índios foram assassinados, torturados, maltratados, exterminados,
massacrados, aniquilados, escravizados, e até queimados durante mais de 500 anos do "descobrimento". Isso
demonstra como os índios sofreram, ou até mesmo, como sofrem nos dias de hoje.
Com o passar do tempo, ou seja, futuramente, se esta situação constrangedora e desumana do índio
continuar desta maneira, vamos ter a extinção dos índios, e com isso, os índios só serão lembrados, de forma
histórica, no dia famoso chamado 19 de abril, que é o Dia do Índio. Conforme os acontecimentos maléficos,
alguns índios foram obrigados, ou que seguissem nossos costumes, ou até mesmo influenciados pela nossa
cultura (roupas, relógio, refrigerante, celular, e entre outras).
O homem, na era da globalização, encontra-se em uma situação de incerteza quanto ao
seu destino. É um ser em angústia ao estar inserido num mundo com a exclusão social
crescente, e o desequilíbrio ambiental. A violência exagerada, a insegurança nacional e
internacional e uma sociedade que o exige a consumir os seus produtos de forma exagerada. É
a crise do ter. Na análise dos elementos preconceituosos em relação aos cultos afro-
brasileiros, é preciso ter um certo cuidado, pois há uma multiplicidade de fatores sócio-
culturais e históricos que legitimam.
.... diante de qualquer fato, qualquer fenômeno, a abordagem universalista do Ocidente tende a ultimar-se de um único modo: a pergunta sobre a
significação [...] essa necessidade de interpretar, para fazer significar, é uma das grandes linhas de força da civilização ocidental [...] interpretar é, assim, a operação básica de �leitura� do real, de atribuir-lhes nomes e significações a partir de �grades� ou modelos de entendimentos que se interpõem entre o intérprete-observador e o real. (SODRÉ, 2002, p. 8)
Ao trata-se de um assunto tão intrigante e fascinante ao mesmo tempo, é como
caminhar em direção da linha do horizonte, pois mais que andemos em sua direção mais
distante ela fica, portanto, ao optarmos para fazer uma análise inicial do tema a Guerra dos
Barbaros.
Contudo à expropriação e a dizimação já realizada com esses índios pelos portugueses,
estes ainda tinha que pagar uma conta que não lhes era sua e sim, devida pelos brancos aos
mesmos. Todavia, como a lógica da colonização era além da liberação das terras para a
pecuária, obter mão-de-obra necessária para o trabalho, se fazia então fundamental,
desenvolver a escravidão. Daí o porque de retirar os indígenas da Aldeia com o pretexto de
introduzi-los na fé católica, batizando-os e sustentando suas despesas em troca de seus
serviços, pois caso permanecessem na aldeia não haveria como forçá-los ao trabalho, ou seja,
escravizá-los. Por conseguinte, a guerra dos bárbaros só reforçou essa lógica ao atender os
objetivos da colonização. Foi assim, que tanto Domingos Jorge Velho que dizimou muitos
indígenas na serra do Acauã, hoje a conhecida Serra da Rajada, bem como, a tropa do
Pernambuco comandada pelo capitão Afonso de Albertin, que dizimou a tribo dos Janduí na
Ribeira do Açu, foram parabenizados pelos seus feitos pelo Governador geral e pelo novo
governador de Pernambuco, já que seus prisioneiros foram levados para Recife como
presentes para este último, sendo comercializados como escravos em praça pública para bom
proveito de seus "carrascos" e ou vencedores.
Com o continuar da repressão aos Tapuias e as vitórias obtidas, os oficiais da Câmara
de Natal enviaram um Memorial ao Rei, no qual alegando a este as perdas de colonos e
despesas realizadas para com o desenvolvimento da "guerra dos bárbaros", solicitava o reparo
das mesmas com o pagamento do gado perdido e a distribuição das terras "liberadas" entre as
pessoas da Capitania, além da criação de um presídio no Arraial do Açu e de um alojamento
com cem índios domesticados, para a proteção dos moradores e para que estes "ajudassem" no
transporte do gado para Pernambuco.
É notório o interesse dos luso-brasileiros para que as perdas sofridas com a guerra
fossem logo reparadas, as terras expropriadas fossem distribuídas e ocupadas, evitando
possíveis iniciativas dos Tarairiú de retomá-las. Todavia, estes bravos guerreiros, apesar das
degolas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram
ao longo dessa história que lhes fora imposta, resistiram por cerca de mais trinta anos sempre
lutando como podiam pela posse de suas terras e na tentativa de vencer as injustas estratégias
da dominação colonial. Assim, a colonização portuguesa no Rio Grande e no Brasil, se
consolidou sob os moldes de uma visão cultural preconceituosa e injusta, onde o nativo
passou de gentio a infiel, por não se submeter ou tentar resistir às imposições européias, fato
esse, que acarretou o extermínio quase que completo dos nossos nativos.
Portanto, na ótica desde estudo que para a sobrevivência dos povos indígenas, de sua cultura e de tudo
o que ela representa para o Brasil é fundamental que eles sejam respeitados em sua identidade cultural e em
suas terras, que sejam ouvidos e que possam participar das decisões que lhe dizem respeito.
O impacto da conquista européia sobre as populações nativas das Américas foi imenso
e não existem números precisos sobre a população existente à época da chegada dos europeus,
apenas estimativas. As referentes à população indígena do território brasileiro em 1500
variam entre 1 e 10 milhões de habitantes. (FUNAI, 2000)
Estima-se que só na bacia amazônica existissem 5.600.000 habitantes da época da
chegada dos europeus. Também em termos estimativos, os lingüistas têm aceito que cerca de
1.300 línguas diferentes eram faladas pelas muitas sociedades indígenas então existentes no
território que corresponde aos atuais limites do Brasil.
Dezenas de milhares de pessoas morreram em conseqüência do contato direto e
indireto com os europeus e as doenças por eles trazidas. Doenças hoje banais, como gripe,
sarampo e coqueluche, e outras mais graves, como tuberculose e varíola, vitimaram, muitas
vezes, sociedades indígenas inteiras, por não terem os índios imunidade natural a estes males.
(FUNAI, 2000).
Em face da ruptura demográfica e social promovida pela conquista européia, foi
sugerido que os padrões de organização social e de manejo dos recursos naturais das
populações indígenas que atualmente vivem no território brasileiro não seriam representativos
dos padrões das sociedades pré-coloniais. Esse é um ponto controvertido entre os
pesquisadores, pois ainda não há dados suficientes advindos de pesquisas arqueológicas,
bioantropológicas e de história indígena enfocando o impacto do contato europeu sobre as
populações nativas para que se possa fazer tal afirmativa.
O atual estado de preservação das culturas e línguas indígenas é conseqüência direta
da história do contato das diferentes sociedades indígenas com os europeus que dominaram o
território brasileiro desde 1500. Os primeiros contatos se deram no litoral e só aos poucos
houve um movimento de interiorização por parte dos europeus.
Contudo quando se observa o mapa da distribuição das populações indígenas no
território brasileiro de hoje, podem-se ver claramente os reflexos do movimento de expansão
político-econômica ocorrido historicamente. Os povos que habitavam a costa leste, na
maioria falantes de línguas do Tronco Tupi, foram dizimados, dominados ou refugiaram-se
nas terras interioranas para evitar o contato.
Hoje, dos índios do Brasil, somente os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de
Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina) conservam suas línguas. Curiosamente, suas
línguas não são Tupi, mas pertencentes a três famílias diferentes ligadas ao Tronco Macro-Jê.
Os Guarani, que vivem em diversos estados do Sul e Sudeste brasileiro e que também
conservam a sua língua, migraram do Oeste em direção ao litoral em anos relativamente
recentes.
As demais sociedades indígenas que vivem no Nordeste e Sudeste do País perderam
suas línguas e só falam o português, mantendo apenas, em alguns casos, palavras esparsas,
utilizadas em rituais e outras expressões culturais.
Segundo dados dos órgão oficiais de proteção e políticas indigenistas apontam que a
maior parte das sociedades indígenas que conseguiram preservar suas línguas vive,
atualmente, no Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, elas foram sendo
expulsas à medida em que a urbanização avançava.
Atualmente, no Brasil, vivem cerca de 345 mil índios, distribuídos entre 215
sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,2% da população brasileira. Cabe esclarecer
que este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias,
havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras
indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também indícios da existência de mais ou menos 53
grupos ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o
reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista. No Estado do
Rio Grande do Norte o último Tarairiú � símbolo maior da resistência indígena a ocupação
portuguesa � desde a metade do século XIX, vitima desse processo de extermínio,
aldeamentos, aculturação não configura mais como elemento étnico do povo potiguar, pelo
menos oficialmente.
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