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O TRIUNFO DO BICHO PAPÃO: REPRESENTAÇÕES DO MAL NO JORNALISMO DE REVISTA Mariana MENEZES Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil e Alexandre GUIMARÃES Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil RESUMO O jornalismo de revista sempre objetivou informar o leitor e aproximar-se dele por meio de sua organização temática e narrativa, buscando retratar notícias e matérias pertencentes ao universo do público. O intuito do presente artigo é mostrar, por meio de um breve estudo de caso, como se engendram os discursos e estratégias narrativas utilizados para retratar a violência e atrair o leitor. Além da conceituação do jornalismo de revista e das estratégias discursivas utilizadas, analisa, mais à frente, a capa da edição 2055 da revista Veja, a imagem da matéria de capa, fragmentos do texto jornalístico que revelam a associação entre a violência e figuras e arquétipos dos contos de fadas. Por fim, realiza uma reflexão sobre a relação simbiótica entre violência, sensacionalismo e figuras arquetípicas das narrativas populares. Palavras-Chave: Jornalismo; Violência; Contos de fadas; Sensacionalismo; Mídia Revista. 1. INTRODUÇÃO O jornalismo, de acordo com Scalzo [1], divide-se entre o espaço público revelado pelos jornais e a abordagem de temas mais próximos ao cotidiano do leitor realizada pelas revistas. O jornalismo de revista como se conhece atualmente cresceu no século XVIII, quando o aumento da escolarização criou um público que queria se instruir de forma leve e agradável sem depender dos livros, vistos como instrumentos elitizados e pouco acessíveis [2]. Colecionáveis, fáceis de carregar e com periodicidade diferenciada que permitem o aprofundamento dos assuntos rapidamente tratados nos jornais. Essa última característica diretamente no trabalho dos jornalistas [3] uma vez que o aprofundamento dos temas nas matérias faz necessária a criação de alguns artifícios para atrair a atenção do leitor. Assim, constrói-se a estrutura básica e essencial da revista: o texto precedido e complementado por imagens. A esse respeito, Scalzo [4] afirma o seguinte: Uma das grandes vantagens das revistas é que elas oferecem muitos recursos gráficos para se contar uma história. E o bom jornalista de revista é aquele que, de antemão, consegue visualizar a matéria já editada na página. O texto, por mais perfeito que seja é sempre melhor compreendido e atraente quando acompanhado de uma boa fotografia ou de um infográfico bem feito. A partir disso, é possível concluir que apesar de manter um fazer jornalístico que preze pelo conteúdo, a produção de uma revista é, antes de tudo, sensorial. Prender o leitor por meio de apelos visuais muda a forma de fazer o texto, que para complementar as imagens, pode utilizar os mais diversos tipos de recursos narrativos que expandam as sensações provocadas pelas imagens: assim, é possível construir uma matéria de grande repercussão embasada na temática da violência, ou outra qualquer. 2. SENSACIONALISMO: CASADO COM A SOMBRA O retrato da violência cotidiana surgiu com grande força e destaque no século XVIII no Brasil e no exterior [5], como um esforço dos jornais populares para causar no público uma sensação maior de pertencimento e proximidade, que dependia da prática sensacionalista, segundo Márcia Amaral [6]: As práticas abrangidas pela caracterização sensacionalista tanto podem significar o uso de artifícios inaceitáveis para a ética jornalística, como também podem configurar-se numa estratégia de comunicabilidade com seus leitores O sensacionalismo pode ser utilizado como uma estratégia complementar à narrativa por veículos de grande alcance que desejam alcançar o maior número de pessoas possível dentro de seu escopo, que além de informar-se, desejam entreter-se com a notícia, ter o que comentar com as pessoas próximas e sentirem- se pertencentes à uma comunidade [7]. Crimes, torturas, assassinatos, dramas ou temas com grande potencial de escândalo e apelo emocional são conteúdos básicos para a prática sensacionalista, que se define como Amaral [8] descreve a seguir: A prática sensacionalista é [...] nutriente psíquico, desviante ideológico e descarga de pulsões instintivas. As notícias da imprensa sensacionalista sentimentalizam as questões sociais, criam penalização no lugar de descontentamento e constituem-se num mecanismo [...] que particulariza os fenômenos sociais. [...] O sensacionalismo está ligado ao exagero; à intensificação; à exploração do extraordinário, à valorização de conteúdos descontextualizados; à troca do essencial pelo supérfluo ou pitoresco e inversão do conteúdo pela forma. 68 Memorias de la Sexta Conferencia Iberoamericana de Complejidad, Informática y Cibernética (CICIC 2016)
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O TRIUNFO DO BICHO PAPÃO: REPRESENTAÇÕES DO MAL NO …iiis.org/CDs2016/CD2016Spring/papers/CB955DB.pdf · 2016. 2. 23. · O TRIUNFO DO BICHO PAPÃO: REPRESENTAÇÕES DO MAL NO

Feb 01, 2021

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  • O TRIUNFO DO BICHO PAPÃO: REPRESENTAÇÕES DO MAL NO JORNALISMO DE REVISTA

    Mariana MENEZES

    Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil

    e

    Alexandre GUIMARÃES Centro de Comunicação e Letras, Universidade Presbiteriana Mackenzie

    São Paulo, São Paulo, 01241-001, Brasil

    RESUMO

    O jornalismo de revista sempre objetivou informar o leitor e aproximar-se dele por meio de sua organização temática e narrativa, buscando retratar notícias e matérias pertencentes ao universo do público. O intuito do presente artigo é mostrar, por meio de um breve estudo de caso, como se engendram os discursos e estratégias narrativas utilizados para retratar a violência e atrair o leitor. Além da conceituação do jornalismo de revista e das estratégias discursivas utilizadas, analisa, mais à frente, a capa da edição 2055 da revista Veja, a imagem da matéria de capa, fragmentos do texto jornalístico que revelam a associação entre a violência e figuras e arquétipos dos contos de fadas. Por fim, realiza uma reflexão sobre a relação simbiótica entre violência, sensacionalismo e figuras arquetípicas das narrativas populares.

    Palavras-Chave: Jornalismo; Violência; Contos de fadas; Sensacionalismo; Mídia Revista.

    1. INTRODUÇÃO

    O jornalismo, de acordo com Scalzo [1], divide-se entre o espaço público revelado pelos jornais e a abordagem de temas mais próximos ao cotidiano do leitor realizada pelas revistas. O jornalismo de revista como se conhece atualmente cresceu no século XVIII, quando o aumento da escolarização criou um público que queria se instruir de forma leve e agradável sem depender dos livros, vistos como instrumentos elitizados e pouco acessíveis [2]. Colecionáveis, fáceis de carregar e com periodicidade diferenciada que permitem o aprofundamento dos assuntos rapidamente tratados nos jornais. Essa última característica diretamente no trabalho dos jornalistas [3] uma vez que o aprofundamento dos temas nas matérias faz necessária a criação de alguns artifícios para atrair a atenção do leitor. Assim, constrói-se a estrutura básica e essencial da revista: o texto precedido e complementado por imagens. A esse respeito, Scalzo [4] afirma o seguinte:

    Uma das grandes vantagens das revistas é que elas oferecem muitos recursos gráficos para se contar uma história. E o bom jornalista de revista é aquele que, de antemão, consegue visualizar a matéria já editada na página. O texto, por mais perfeito que seja é sempre melhor compreendido e atraente quando acompanhado de uma boa fotografia ou de um infográfico bem feito.

    A partir disso, é possível concluir que apesar de manter um fazer jornalístico que preze pelo conteúdo, a produção de uma revista é, antes de tudo, sensorial. Prender o leitor por meio de apelos visuais muda a forma de fazer o texto, que para complementar as imagens, pode utilizar os mais diversos tipos de recursos narrativos que expandam as sensações provocadas pelas imagens: assim, é possível construir uma matéria de grande repercussão embasada na temática da violência, ou outra qualquer.

    2. SENSACIONALISMO: CASADO COM A SOMBRA

    O retrato da violência cotidiana surgiu com grande força e destaque no século XVIII no Brasil e no exterior [5], como um esforço dos jornais populares para causar no público uma sensação maior de pertencimento e proximidade, que dependia da prática sensacionalista, segundo Márcia Amaral [6]:

    As práticas abrangidas pela caracterização sensacionalista tanto podem significar o uso de artifícios inaceitáveis para a ética jornalística, como também podem configurar-se numa estratégia de comunicabilidade com seus leitores

    O sensacionalismo pode ser utilizado como uma estratégia complementar à narrativa por veículos de grande alcance que desejam alcançar o maior número de pessoas possível dentro de seu escopo, que além de informar-se, desejam entreter-se com a notícia, ter o que comentar com as pessoas próximas e sentirem-se pertencentes à uma comunidade [7]. Crimes, torturas, assassinatos, dramas ou temas com grande potencial de escândalo e apelo emocional são conteúdos básicos para a prática sensacionalista, que se define como Amaral [8] descreve a seguir:

    A prática sensacionalista é [...] nutriente psíquico, desviante ideológico e descarga de pulsões instintivas. As notícias da imprensa sensacionalista sentimentalizam as questões sociais, criam penalização no lugar de descontentamento e constituem-se num mecanismo [...] que particulariza os fenômenos sociais. [...] O sensacionalismo está ligado ao exagero; à intensificação; à exploração do extraordinário, à valorização de conteúdos descontextualizados; à troca do essencial pelo supérfluo ou pitoresco e inversão do conteúdo pela forma.

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  • A partir disso, é possível notar que sintaticamente, o texto da revista dependente da imagem estaria mais sujeito a cair nos graus mais altos de sensacionalismo, podendo valorizar a forma em detrimento da informação objetivamente dada, inserindo grandes traços de subjetividade e singularização temática. Angrimani [9] trata da utilização oportuna da linguagem clichê dos textos sensacionalistas, que faz uso de figuras e noções socialmente correntes para ganhar maior atenção. Mesmo possuindo uma diversidade de definições, entende que a violência:

    pode se expressar através do ataque ou da defesa, e, em geral, mas não sempre, alicerçada pelo emprego da força, que ou impõe ou vai contra uma pressão, um excesso calcado na ausência – contrária à razão e à justiça – da liberdade, gerando danos, os quais podem ser físicos e/ou morais, que se representem nas posses ou nos planos simbólicos e culturais de um homem, de um grupo, de uma sociedade, de uma ou várias nações [10].

    A violência seria um assunto clichê não por ser desprovido de utilidade, mas porque, dentro da organização narrativa sensacionalista, é frequentemente utilizada para atender ao desejo de entretenimento do público e permeada por figuras de linguagem e símbolos incorporados à consciência coletiva. Essa necessidade de entreter-se com o violento atende inconscientemente às próprias pulsões de vida e morte inconscientes descritas por Malena Contrera [11]: para fugir da morte que ronda o cotidiano e reafirmar a força da vida que contém dentro de si o leitor contempla a violência virtualizada na revista como algo corriqueiro, por mais chocante e visceral que possa ser. O relato jornalístico violento representaria a circulação do arquétipo da sombra, símbolo coletivo e inconscientemente partilhado pelos indivíduos em sociedade, que se refere aos traços reprimidos do ser humano que podem ser meramente negativos como a vontade de mentir, o ato de ser grosseiro ou elementos nocivos como a maldade, a violência e o desejo de matar, por exemplo. Para Jung [12], os arquétipos são estruturas, formas e imagens que canalizam o conteúdo psicológico do indivíduo. Cada um deles simboliza uma forma primordial que representa determinado tema pertencente a todos os seres humanos, que é mantido por meio dos mitos, lendas e contos de fadas. A partir daí, os temas essenciais ao ser humano - vida, morte, bem e mal, paz e guerra - passam a ter uma elaboração consciente: uma impressão psíquica ganha rosto, personalidade, e entra em conflito com os demais elementos apresentados em um enredo tradicional. Um herói contra o vilão, a luz contra a sombra, a princesa contra a madrasta, o bem contra o mal - personagens tornam-se corpo dos arquétipos. Por essa razão, quando há a decisão de corporificar ou materializar de alguma forma o arquétipo da sombra (o mal, o crime) o caráter sensorial da matéria é ressaltado, como explica Baitello Jr [13]:

    As imagens não apenas evocam [...] as representações da finitude, como também trazem

    à tona as figuras associadas ao obscuro universo da sombra, resgatando seus personagens e sua arqueologia.

    Mais do que uma pulsão de vida e morte saciada, a leitura de uma matéria violenta é a alimentação de um tipo de aproximação com o público extremamente rentável para o jornalista, pois recupera no leitor a proximidade e também o terror, o entorpecimento e a sensação de insegurança diante do descontrole, estimulando o consumo de mais notícias a respeito da violência que o cerca [14]. Assim, o leitor passa a ser o herói distante diante do mal virtualizado. Não apenas como instrumento de manutenção do pânico e do reforço da vida por meio da morte, tratar da violência no jornalismo serve também para que o leitor julgue a si mesmo por meio da sombra mostrada no outro retratado na matéria. Von Franz [15] explica como as narrativas que tratam do duelo entre o bem e o mal repercutem nos leitores:

    Se os demônios coletivos nos afetam, é porque devemos ter algo deles em nós - caso contrário não nos afetariam e a porta de nossa psique não estaria aberta à sua entrada.

    A partir do momento em que enxerga o crime do outro em si mesmo, olhando para os próprios instintos que reprime, o leitor utiliza as sensações desagradáveis que sente ao ler a matéria como um lembrete. Ao mesmo tempo em que se recorda do pertencimento a uma camada social que reforça sua condição positiva, sabe que a sombra ainda existe, mesmo contida, e que pode, em um momento de descuido, aflorar como uma avalanche de terror sobre ele próprio e os outros. A partir desse medo do desconhecido, que nada mais é do que o conjunto de instintos negativos e reprimidos do ser humano representados pela sombra, os símbolos e figuras conectados a esse arquétipo começam a surgir das mais diversas formas, permeando a narrativa jornalística.

    3. ESTUDO DE CASO: O BICHO PAPÃO À ESPREITA

    A narrativa de uma matéria de revista não é um espaço fechado. Feita de forma notadamente distinta da notícia do jornal, há uma infinita possibilidade de complementos e combinações vindas de outros gêneros textuais que colaboram para a sua construção. Isso porque, para Sodré [16] os efeitos causados pelo jornalismo - em especial, feito de maneira mais aprofundada - seriam análogos àqueles produzidos por meio da literatura em uma narrativa tradicional. O germe narrativo existe dentro do texto jornalístico e possui elementos indispensáveis à criação de um enredo, visto na matéria de revista não apenas como componente estrutural de uma história, mas como indicador de campos problemáticos da experiência. Uma vez amplamente materializado por meio de lendas, mitos e contos de fadas já assimilados e conhecidos pelos leitores, é possível deduzir que os diversos personagens (representações fictícias ou não) que já deram rosto para esse arquétipo têm utilidade para a narrativa jornalística sensacionalista, que ganha mais força por meio da validade das representações ali colocadas: utilizar ou fazer alusão a figuras conhecidas por todos transforma a matéria em algo forte, palpável e dotado de credibilidade, mais do que isso, chocante.

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  • A materialização dos arquétipos é essencialmente ligada ao elemento mágico, espiritual, sobrenatural e esotérico que envolve a vida humana, porque lida com algo não elaborado conscientemente, a princípio. [17] Dessa forma, o jornalismo, ao dar corpo a algo que lida com impressões e dilemas próprios do ser humano pode transformar um artigo ou matéria de revista sobre a violência em uma narrativa maior, que representaria o embate entre o homem e o mal reprimido. Esse embate representa uma exceção, um escape à lógica da busca pela vida pacífica, daí seu elemento extraordinário.

    3.1 A CRIATURA NA IMAGEM O tema da matéria principal da revista Veja, da edição 2055 escrita por Jerônimo Teixeira em 9 de abril de 2008 é a violência cometida indiscriminadamente contra crianças e pessoas indefesas. Na capa da revista, o tema por si só dá corpo ao arquétipo da sombra - é o mal que será explicado nas páginas que estão por vir -, e por isso precisa de um complemento bastante crível e apelativo para sua representação. A montagem da capa revela os três desdobramentos do sensacionalismo: o gráfico, quando há descompasso entre o valor e a configuração da imagem e o texto escrito; o temático, feito para destacar sensações e emoções em detrimento da responsabilidade social e objetiva da matéria; e o linguístico, focado na escolha de palavras que ressaltem a tensão a respeito do tema [18].

    Figura 1. Capa da Revista Veja de 09 de abril de 2008.

    Já é possível notar os primeiros traços fortemente sensacionalistas: o tema singularizado e com grande apelo baseado na configuração da imagem, buscando apoio na ilustração do arquétipo. O Mal ganha ares de entidade grafado em letra maiúscula e ao receber um subtítulo com adjetivos profundamente gráficos que completam a sua materialização. O Mal é um rosto, o olhar de um indivíduo sem gênero e oculto pela sombra que contempla maliciosamente uma vítima dentre tantas outras, abandonadas, torturadas e assassinadas, como apontado pelo texto. A capa é o primeiro atrativo da revista. Para Ali [19], ela é:

    um anúncio que, quando competente, faz o leitor comprar o exemplar da revista; é o elemento isolado mais importante para estabelecer a sua imagem; é provavelmente a primeira e a melhor oportunidade de atrair o leitor na banca, fazer o

    assinante abri-la no meio da correspondência, ou despertar o interesse de um novo anunciante; tem um papel importante no lucro da publicação, porque boa parte da compra de revistas acontece por impulso.

    No caso, ela não serve apenas para atrair o leitor a abrir a revista como também faz possível a extensão do assunto para outra matéria conectada ao tema e posterior à de capa: o brutal assassinato da menina Isabella Nardoni [20], cujo pai e madrasta seriam suspeitos. A matéria de capa serve como mote para desenvolver a comoção do leitor e mantê-lo convencido a prosseguir para a seguinte, em função da fotografia da menina estampada dentro do olho da criatura na capa. Pelo subtítulo, vê-se que a revista estrutura na capa uma espécie de anatomia do mal, um guia responsável por dissecar aquilo que ronda a sociedade e assola o cotidiano do público, temeroso daquilo que reprime dentro de si e que pode também trazer à tona seus outros medos: da morte, do abandono, da angústia e do desespero. Conforme explica Bettelheim [21], o medo do Mal como um conjunto de outros medos à espreita existe em todas as idades, e a princípio é narrado nos contos de fadas para que a criança traga suas angústias para o campo da história consciente, onde pode elaborá-las. Os contos de fadas geralmente representam seus bichos-papões como bruxas, vampiros, trolls e gigantes. Apesar de não possuírem nomenclatura restrita ao bicho-papão, pertencem a essa categoria todas as criaturas que desejam devorar o herói literal ou figuradamente, absorvendo o que nele há de bom. Nas histórias, o protagonista eventualmente resolve o conflito no qual se encontra e vence o seu medo, dominando o mal. [22] A vitória sobre o mal é justamente o contrário do que se mostra no título e no lead do artigo:

    Quando o mal triunfa: crianças assassinadas, abandonadas, torturadas- as notícias que têm chocado o Brasil lembram que o lado monstruoso do homem pode até ser contido, mas jamais será definitivamente domado [23].

    De imediato, instaura-se a sensação de medo derivado da qual trata Bauman: [24]

    É uma estrutura mental estável que pode ser mais bem descrita como o sentimento de ser suscetível ao perigo; uma sensação de insegurança e vulnerabilidade [...]. Há também aquela terceira zona, talvez a mais aterrorizante, uma zona cinzenta, entorpecente dos sentidos e irritante, até agora sem nome, por onde se infiltram medos cada vez mais densos e temíveis, ameaçando destruir nossos lares, empregos e corpos com desastres.

    A imagem de abertura do artigo aumenta a sensação do mal que vive não só dentro, mas principalmente fora dos corpos:

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  • Figura 2. Reportagem da Revista Veja de 09 de abril de 2008. A composição precisa ser analisada em conjunto com o texto relacionado a ela porque há uma dependência mútua: é construída uma relação simbiótica entre o escrito e o ilustrado, em que o poder de um não se consolida sem o outro. A mistura de diversas fotografias reais, colocadas em conjunto com a representação de uma figura sombria que não existe fisicamente no mundo real, indica a busca pela exaltação de sensações. É a fotografia ilustrada, produzida, feita sob um processo muito semelhante ao de peças publicitárias [25]. Há, no centro da imagem, a presença de uma criatura disforme, apesar de humanoide. É possível intuir que há uma alusão à tradicional figura da morte, como uma criatura vestida com um manto negro. No entanto, a partir do momento em que a morte retratada só ocorre motivada pela injustiça, a figura sombria passa a ser outro tipo de entidade que motivou a morte, mas que não é a morte em si. É simplesmente uma coisa que abre os braços para receber as vítimas que faz, das quais se alimenta por seus meios de medos e desesperanças, do desastre de seus corpos. A criatura contemporânea elaborada é um amálgama dos demais seres que retratam o lado sombrio da condição humana: a dita apoteose de todos os monstros é o maior dos bichos-papões, cujos traços são simbolizados há séculos pelos contos de fadas. Não é possível vencer aquilo que não se conhece e que está à espera, alimentando-se do temor. O Mal como entidade, monstro híbrido, dá corpo aos piores traços do arquétipo da sombra e evoca todas as figuras malignas do imaginário capazes de devorar crianças e heróis, retomando todos os medos presentes no imaginário humano anteriormente reprimidos. A partir do confronto visual entre leitor e criatura gerado pela ilustração, o autor ganha espaço para construir o poder e o alcance da mesma por meio do texto após a chamada.

    4. O MAL CONSTRUÍDO PELO TEXTO Ao iniciar a leitura, nota-se que na verdade não há traços de uma matéria de revista propriamente dita, mas de artigo opinativo- que também é comum em revistas. Ao contrário do que se espera em uma matéria ou notícia, os traços de subjetividade na escrita não estão ocultos e a construção semântica concentra-se em adjetivos que ressaltam a violência e substantivos que indicam o desejo de tratar do tema em um plano mais narrativo, detalhado:

    A morte de uma menina aparentemente jogada da janela do 6ºandar já seria por si só brutal- mas o caso é tanto mais chocante [...]. Os

    brasileiros que se comoveram com o assassinato acabavam de ser expostos a uma crônica de horrores. Ao lado desses casos tenebrosos, outras barbaridades despontam [...]. Essa sucessão de fatos macabros traz a incômoda lembrança de uma constante na história humana: a maldade. O mal está presente em toda parte [26].

    No artigo, Teixeira [27] apresenta também um juízo de valor que não necessariamente representa uma unanimidade, mas que se vale da credibilidade típica do texto sob a tutela da produção jornalística para ganhar caráter de verdade:

    Na grande área da política internacional podemos divisá-lo no genocídio[...], na repressão política [...], no terrorismo[...], na leniência do governo [...] com práticas de tortura. Esse tipo de mal é mais assimilável, pois se esconde atrás de razões de estado e de pretensas causas nobres.

    Não há formas de assegurar que a tortura de jornalistas seguida de decapitação cometida por terroristas, por exemplo, seja mais tolerada pelas pessoas que a veem do que o assassinato de uma criança. A violência institucionalizada, integrada a grupos e figuras de autoridade não é melhor incorporada do que a violência cometida no ambiente próximo, porque ambas são parte de um mesmo bloco temático já virtualizado. Tratar das atrocidades cometidas com a conivência do estado ou de figuras públicas por meio de um juízo de valor é, na verdade, uma estratégia de introdução para atrair o leitor, incitando-o a acompanhar o raciocínio posto na matéria efetivamente iniciado com os questionamentos a seguir:

    Mas como metabolizar na alma o mal doméstico, que vem nu, sem disfarces [...] e torná-lo suportável pela racionalização de sua origem? Como entender que o sorriso [...] angelical de Isabella possa ter sido substituído pela máscara da morte no frescor de seus 5 anos de vida? [28]

    Apesar de construir uma série de perguntas que ensejem o diálogo e a proximidade com o leitor, Teixeira encontra as respostas para seus questionamentos no parágrafo seguinte e faz a primeira alusão ao arquétipo da sombra:

    Esse tipo de mal não cabe sequer na aceitação de que coisas ruins podem acontecer a pessoas boas. Esse tipo de mal parece ser uma zona de sombra que aprisiona a alma humana. Esse tipo de mal simplesmente existe. É isso que o torna mais assustador. [29]

    Teixeira faz alusão ao arquétipo da sombra, que por não revelá-lo de fato como parte integrante da psique humana, mas sim como uma espécie de zona inóspita, absorve o homem de maneira externa a ele. O peso em torno do seu caráter diabólico é ressaltado: a sombra não é tida como parte necessária e inata do ser humano, mas um elemento de prisão, que existe da mesma forma que o ar: invisível, porém real e perceptível.

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  • Não fazer referência direta ao arquétipo da sombra permite a elaboração do Mal como entidade extracorpórea, irracional e absoluta, que prossegue com o início das referências a autores que já tentaram racionalizar a violência que fugia à lógica:

    Xenófanes concluiu [...] que o mal perpassa todo o universo e da sua força, nem os deuses escapam. [...] Nenhuma teoria é capaz de abarcá-lo, amainar o choque que ele provoca no corpo e na alma [...] a destruição que ele causa no seio das famílias e no julgamento [...] de nós mesmos ao deparar com seres humanos agindo como bestas. Talvez a única certeza sobre o mal seja esta: ele é incontornável [30].

    Teixeira [31] prossegue, questionando: “A palavra ‘mal’ tende a levantar objeções dos céticos. Não será uma superstição religiosa que a modernidade superou? Não, não é.” Logo, o mal não é mais algo que está no terreno da religião. A coisa corporificada na ilustração mostrada na capa e no início da matéria é, antes de um ser humano, uma criatura mística e diabólica, que estaria inclusive presente na figura de Deus, segundo o autor [32]:

    Darwin [...] pôs em xeque a ideia de uma natureza projetada por um Deus bondoso. Ele lembrava o exemplo de uma vespa que paralisa outros insetos para que sejam comidos vivos por suas larvas. E conclui que um deus onipotente e benéfico não teria criado um ser assim.

    Há o exemplo a ser convertido em metáfora que representa a ligação do Mal - entidade com o fator animal: a vespa não chega a ser Deus, o ser absoluto, mas é considerada fruto dele, que circula livremente e também o influencia - uma vez que um Deus que permite o acontecimento de atrocidades não pode ser plenamente justo e bom. O Mal se aproveita de outros insetos que podem ser considerados os sentimentos humanos, presas menores. Ele paralisa suas vítimas - esperança, fé, bondade e a justiça - para alimentar-se e ganhar cada vez mais força, espalhando suas larvas para voarem rápida e sorrateiramente. Feito um bicho, o mal também teria meios de reproduzir-se e alimentar-se por meio das presas que captura em sua dita sombra. Portanto, o Mal existiria como entidade mística, capaz de trazer de volta ao homem suas pulsões mais bestiais. Por ser também animalesco, retoma o animal que existe em cada indivíduo e se alimenta da influência que exerce, devorando o que encontra. Aqui, se retoma o temor psíquico primário de ser engolido, absorvido e aprisionado por aquilo que se teme - conforme Teixeira escreveu anteriormente, no caso, pela zona de sombra. O autor pontua algumas teorias não para desmistificar a maldade humana, mas sim transformá-la em algo mais misterioso e avassalador, ainda que fale da possibilidade de explicar a maldade do mundo por meio de outros mecanismos racionais. Na verdade, o Mal que evoca o animal não denota apenas algo que seja agressivo, mas, sobretudo, algo que não reconhece a razão humana. Fugir da tentativa de uma vida pacata e positiva, movida pela racionalidade, é a deixa para que se instaure algo que o ser humano desconhece [33].

    Teixeira elabora um paradoxo. Apesar de posto no texto como a construção social que vive fora dos corpos como uma entidade mística para explicar a motivação de crimes brutais, (a maldade, o mal, colocados em terceira pessoa do singular) o Mal só existe fora do homem por estar justamente dentro dele também. Dentro, pelo impulso que pode surgir, e fora por concretizar-se apenas pela oportunidade que envolve outras pessoas. A besta é humana, mas ao mesmo tempo ronda a todos o tempo todo, apossando-se de pessoas que aparentemente jamais agrediriam ou matariam alguém. É um impulso que praticamente constitui uma possessão. De repente, o Mal visto apenas nos outros, virtualizado pela distância das notícias surge no íntimo de quem menos se esperava. Conforme o artigo, há de fato um “[...] monstro que habita em cada um de nós e que precisa sempre ser vigiado”. [34] O fato de estar dentro e fora do ser humano por meio das outras pessoas o torna ilógico, e por ser assim, pode ser transformado em qualquer tipo de alusão ou referência a entidade, bruxa, monstro ou diabo que tenha surgido aos indivíduos nos contos e histórias apresentados durante a infância. Qualquer coisa familiar que permita a sua elaboração psíquica é válida. Colocar o Mal como uma entidade e o ser humano como vítima transforma o artigo em uma espécie de narrativa centrada no embate histórico do mal com o bem, que ao contrário das histórias infantis, dificilmente consegue vencer o primeiro. O diferencial da narrativa esboçada no artigo reside nisso, pois, ao contrário do que planejado nos contos de fadas - permitir à criança ganhar coragem e enfrentar seus medos -, não há, no texto, indícios de que seja possível vencer o Mal. Teixeira encerra o artigo justamente concluindo a impossibilidade de vitória diante do Mal onipresente e mostrando implicitamente a necessidade de deixá-lo acontecer por meio do afastamento, uma vez que não há meios de prevê-lo pela racionalidade:

    Mas será ingênuo pensar que esse progresso poderá dominar a besta humana. “A razão não explica tudo. Há uma dimensão monstruosa no ser humano que parece não fazer sentido. E é preciso respeitá-la”, diz o filósofo e teólogo Luiz Felipe Pondé. Respeito, nesse caso, não se confunde com amor: é a distância que se guarda em relação àquilo que pode nos aniquilar. [35]

    Imprevisível, oculto e assustador, o Mal concretiza-se como bicho papão ao receber a necessidade da distância: já que não é possível vencê-lo, é necessário afastar-se dele conscientemente para não ser devorado, mesmo que ele permaneça à espreita, embaixo das camas, dentro dos armários e nos espelhos que permitam ao indivíduo contemplar a si mesmo.

    5. CONCLUSÃO O artigo apresentado com juízos de valor, adjetivos e substantivos gráficos que remontem à temática da violência permite ao autor conferir ao texto traços de uma narrativa maior, que trata do embate entre o bem e o mal. A composição fotográfica estampada na capa e a ilustração retomam a figura do Mal como bicho-papão, apresentada nos contos de fadas pelas mais diversas formas e consolidada no

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  • texto por meio do percurso desenvolvido: após questionamentos, dúvidas, teorias embasadas na fé e na ciência, nota-se que não há como explicar uma das instâncias humanas por meio da lógica, porque o mal não é lógico em nada, e daí vem o seu caráter fantástico. O monstro se constrói principalmente por meio das imagens escolhidas para acompanhá-lo, extremamente importantes para atrair o leitor para a narrativa. Tratar de violência e associá-la a tipos de figuras representantes da crueldade e da agressão torna a notícia mais chocante e o assunto mais palpável para o leitor, acostumado a trabalhar com as dicotomias presentes nos contos de fadas. Não é possível condenar o uso do sensacionalismo por meio da capa, uma vez que para o jornalismo de revista, ela representa um meio essencial de chegar ao leitor. Construir um ambiente narrativo também facilita o entendimento das intenções do autor: criar uma dicotomia entre o bem e o mal. No entanto, ao valorizar no texto o traço de conflito no qual não existe a vitória do indivíduo e apenas a necessidade de afastamento daquilo que também faz parte dele, é ressaltado o elemento mais nocivo da narrativa, análogo às canções de ninar ensinadas às crianças: falar sobre o monstro que pode castigá-las caso não se comportem pode até amansar alguns, mas também pode instaurar o medo. Conforme explica Abramo [36]:

    Depois de distorcida [...] e recriada ficcionalmente, a realidade é ainda assim dividida pela imprensa em realidade do campo do bem e [...] do mal, e o leitor/espectador é induzido a acreditar não só que seja assim, mas que assim será eternamente, sem possibilidade de mudança.

    Incitando a sensação de medo derivado, o juízo de valor mesclado com a narrativa que entretém também adormece e condiciona o público a tolerar o terror que assiste, uma vez que não há meios de escapar do monstro que ronda a todos. Não há como questionar nem buscar outras soluções. Restaria apenas esperar pela próxima matéria. Referências [1] M. Scalzo. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2006. p. 14. [2] M. Scalzo. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2006. p. 20. [3] M. Scalzo. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2006. p. 41. [4] M. Scalzo. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2006. p. 58. [5] M. F. Amaral. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2006. p. 20. [6] M. F. Amaral. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2006. p. 19-26. [7] M. F. Amaral. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2006. p. 24 [8] M. F. Amaral. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2006. p. 21.

    [9] D. Angrimani. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. p. 152. [10] A. H. T. Guimarães. A documentação fotográfica da violência como um recurso para prática educacional. Dissertação (Mestrado) - Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo: 2001. p. 21. [11] M. S. Contrera. Mídia e pânico: saturação da informação, violência e crise cultural na mídia. São Paulo: Fapesp, 2008. p. 54. [12] C.G. Jung. Arquétipos e inconsciente coletivo – Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 15-17. [13] N. Baitello Jr. A era da Iconofagia: ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker, 2005. p. 17. [14] M. S. Contrera. Mídia e pânico: saturação da informação, violência e crise cultural na mídia. São Paulo: Fapesp, 2008. p. 29. [15] L. M. V. Franz. A sombra e o mal nos contos de fada. São Paulo: Paulus, 1985. p. 16. [16] M. Sodré. A narração do fato: notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis: Vozes, 2009. p.2 6. [17] C. G. Jung. Arquétipos e inconsciente coletivo – Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 17-18. [18] M. F. Amaral. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2006. p. 20-21. [19] F. Ali. A arte de editar revistas. São Paulo: Cia Editora Nacional, 2009. p. 68. [20] J. Linhares. O anjo e o monstro. Revista Veja. São Paulo: v.2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 95-96. [21] B. Bettelheim. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2015. p. 24-25. [22] B. Bettelheim. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2015. p. 26-27. [23] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v.2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 90. [24] Z. Bauman. Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 9-12. [25] M. Scalzo. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2006. p.72. [26] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 89. [27] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 89. [28] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 90. [29] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 90. [30] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 90. [31] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 90. [32] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 91. [33] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 94. [34] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 94. [3] J. Teixeira. Quando o mal triunfa. Revista Veja. São Paulo: v. 2055, n.14, 9. abr. 2008. p. 94. [36] P. Abramo. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. p. 35.

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