O TRABALHO NA CAFEICULTURA PARANAENSE: REPRESENTAÇÃO E PRÁTICA SOCIAL YASHO, Margarete 1 ARIAS NETO, José Miguel 2 RESUMO: Dentro da visão teórica da História Cultural, tendo em vista a sua afirmação nas últimas décadas, dentro da historiografia brasileira, o presente artigo quer demonstrar como é possível traçar um retrato objetivo das relações de trabalho no auge da cafeicultura paranaense e as mudanças ocorridas nessas relações com a crise na cafeicultura para alunos das séries finais do Ensino Fundamental da Educação Básica paranaense da Escola Estadual Prof. Lauro Gomes da Veiga Pessoa. A delimitação do corpus de trabalho restringiu-se a leitura, análise e interpretação de fontes documentais escritas, referentes à região de Londrina, norte do estado. Descreve-se aqui a concepção de trabalho, sua fundamentação teórica e implementação de idéias e material didático-pedagógico desenvolvidos especialmente para o PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional a partir da ótica histórica, o qual teve como objetivo investigar como a cafeicultura, fator determinante na formação do município e seu entorno sócio- econômico, estabeleceu relações de trabalho entre o homem do campo, considerando também quais foram estas relações e como influenciaram a vida de cada um. PALAVRAS-CHAVE: Educação; Paraná; História; cafeicultura. ABSTRACT: Within the theoretical vision of Cultural History, in view of their assertion in recent decades, in the Brazilian historiography, this paper tries to demonstrate how it is possible to draw an objective picture of labor relations at the height of the coffee Parana and changes in these relations with the crisis in the coffee for students in elementary school of Final series of Basic Education of Parana State School Prof.. Lauro Gomes da Veiga Person. The demarcation of the body of work is restricted to reading, analysis and interpretation of written documentary sources, referring to the region of Londrina, north of the state. Here it describes the design of work, its theoretical basis and implementation of ideas and teaching-learning materials developed specially for the EDP - Educational Development Program from the historical viewpoint, which aimed to investigate how the coffee, determining factor in formation of the council and its socio- economic environment, labor relations established between the man of the field, also considering they were and how these relationships influenced the life of each. KEY WORDS: Education; Parana; History; coffee. 1 Professora PDE de História da rede estadual de educação do estado do Paraná – turma 2007 – e da rede municipal de ensino de Londrina – PR há mais de 20 anos. 2 Professor Doutor da Universidade Estadual de Londrina – UEL, orientador do trabalho.
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O TRABALHO NA CAFEICULTURA PARANAENSE · REPRESENTAÇÃO E PRÁTICA SOCIAL YASHO, Margarete 1 ARIAS NETO, ... que rende a Londrina a alcunha de “a capital mundial do café”. Na
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O TRABALHO NA CAFEICULTURA PARANAENSE: REPRESENTAÇÃO E PRÁTICA SOCIAL
YASHO, Margarete 1
ARIAS NETO, José Miguel2
RESUMO: Dentro da visão teórica da História Cultural, tendo em vista a sua afirmação nas últimas décadas, dentro da historiografia brasileira, o presente artigo quer demonstrar como é possível traçar um retrato objetivo das relações de trabalho no auge da cafeicultura paranaense e as mudanças ocorridas nessas relações com a crise na cafeicultura para alunos das séries finais do Ensino Fundamental da Educação Básica paranaense da Escola Estadual Prof. Lauro Gomes da Veiga Pessoa. A delimitação do corpus de trabalho restringiu-se a leitura, análise e interpretação de fontes documentais escritas, referentes à região de Londrina, norte do estado. Descreve-se aqui a concepção de trabalho, sua fundamentação teórica e implementação de idéias e material didático-pedagógico desenvolvidos especialmente para o PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional a partir da ótica histórica, o qual teve como objetivo investigar como a cafeicultura, fator determinante na formação do município e seu entorno sócio-econômico, estabeleceu relações de trabalho entre o homem do campo, considerando também quais foram estas relações e como influenciaram a vida de cada um.
ABSTRACT: Within the theoretical vision of Cultural History, in view of their assertion in recent decades, in the Brazilian historiography, this paper tries to demonstrate how it is possible to draw an objective picture of labor relations at the height of the coffee Parana and changes in these relations with the crisis in the coffee for students in elementary school of Final series of Basic Education of Parana State School Prof.. Lauro Gomes da Veiga Person. The demarcation of the body of work is restricted to reading, analysis and interpretation of written documentary sources, referring to the region of Londrina, north of the state. Here it describes the design of work, its theoretical basis and implementation of ideas and teaching-learning materials developed specially for the EDP - Educational Development Program from the historical viewpoint, which aimed to investigate how the coffee, determining factor in formation of the council and its socio-economic environment, labor relations established between the man of the field, also considering they were and how these relationships influenced the life of each.
KEY WORDS: Education; Parana; History; coffee.
1 Professora PDE de História da rede estadual de educação do estado do Paraná – turma 2007 – e da rede municipal de ensino de Londrina – PR há mais de 20 anos.2 Professor Doutor da Universidade Estadual de Londrina – UEL, orientador do trabalho.
O projeto
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, integrado às
atividades da formação continuada em Educação, disciplina a promoção do
professor para o Nível III da Carreira, conforme previsto no Plano de Carreira do
Magistério Estadual, Lei Complementar nº 103, de 15 de março de 2004. É uma
política pública inovadora que estabelece um intercâmbio entre os professores da
Educação Superior e os da Educação Básica, por meio de atividades teóricas-
práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e
mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense, como
define a própria Secretaria de Estado de Educação do Paraná.
O PDE oferece cursos e atividades nas modalidades presenciais e à
distância e disponibiliza apoio logístico e meios tecnológicos para o
funcionamento do programa dentro das instituições de ensino superior do estado
parceiras do governo nesta empreitada. O principal objetivo do programa é
proporcionar aos professores da rede pública estadual subsídios teórico-
metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e
que resultem em um redimensionamento de sua prática em sala de aula. Tem
como sua orientação pedagógica fundamentada nos princípios educacionais da
SEED e nas Diretrizes Curriculares articuladas pelo estado para todas as
disciplinas do currículo básico.
Podem participar do PDE os professores do Quadro Próprio do Magistério
– QPM, que se encontram no Nível II, Classe 11da Tabela de Vencimentos do
Plano de Carreira já mencionado anteriormente. Uma vez inscritos no programa, o
professor que ingressar no PDE terá garantido o direito a afastamento
remunerado de 100% de sua carga horária efetiva no primeiro ano e de 25% no
segundo ano de participação. Este afastamento é regulamentado pela Resolução
Secretarial n. 1.905/2007, conforme disposto no Art. 13 da Lei Complementar nº
103/04 (todos os documentos e orientações sobre encontram-se disponíveis na
internet – acesse <http://www.pde.pr.gov.br/modules/noticias/> para saber mais a
respeito).
A proposta de trabalho
Londrina, município de 500.000 habitantes localizado na região norte do
estado do Paraná, e seus arredores foram colonizados, em sua maior extensão,
pela Companhia de Terras Norte do Paraná, subsidiária da Paraná Plantations
Ltd., que adquiriu do governo do estado 515000 alqueires de terra a partir da
década de 1920.
A venda dos primeiros lotes de terra ocorre no princípio de 1930, quando
da veiculação de propagandas que atraíram grande número de pessoas. A partir
do início do século XX desencadeou-se a cultura intensiva e extensiva do café em
uma região de aproximadamente 100.000 km2, abrangendo três áreas distintas: o
Norte Pioneiro, o Norte Novo e Norte Novíssimo, cuja colonização, ocorreu entre
as décadas de 30 e 50, pela Companhia de Terras do Norte do Paraná, dando
início a um dos maiores movimentos de migração interna, que ali fixou uma
população constituída por paulistas, mineiros, catarinenses, nordestinos,
paranaenses de outras regiões e estrangeiros.
Desde então a região teve um rápido desenvolvimento econômico-agrícola
(baseado na produção de café e culturas intercalares de subsistência). Nas
palavras de Arias Neto (1998), “uma verdadeira avalanche humana, saindo de
todos os recantos do Brasil e até do estrangeiro, precipitou-se sobre este norte,
na faina de adquirir terras e se enriquecer de um dia para o outro”. O auge da
cafeicultura no norte do estado ocorre nas décadas de 40 e 50 do século XX, o
que rende a Londrina a alcunha de “a capital mundial do café”.
Na década de 60 a lavoura cafeeira, foi a principal fonte de divisas do
Paraná, chegando a representar 60% do valor total da produção agrícola do
Estado. Em 1962, a superprodução de café em nível mundial condicionou a
política de erradicação de cafeeiros, fato que provocou mudanças profundas nas
relações de produção no campo – culminando, inclusive, com a expulsão dos
colonos. Os pequenos proprietários foram obrigados a vender suas terras e sair
do campo, gerando, ao migrar para as cidades, um inchaço demográfico e um
crescimento desordenado das mesmas.
A partir de 70 ocorre o processo de "modernização" em nível nacional,
implantando em quase todo o Paraná o cultivo da soja e do trigo, que em conjunto
com a geada negra de 1975 determinou o fim da cafeicultura, agravando a
situação do trabalhador rural que expulso do campo se vê obrigado a morar nas
periferias das cidades e trabalhar como bóias-frias.
Com base nesse breve histórico, é objetivo deste trabalho investigar como
a cafeicultura, fator determinante na formação do município e seu entorno sócio-
econômico, estabeleceu relações de trabalho entre o homem do campo,
considerando também quais foram estas relações e como influenciaram a vida de
cada um. Investigar em que medida o homem do campo percebe a divisão do
trabalho e as relações nele contidas e como isso afeta sua vida.
Tal pesquisa justifica-se devido à escassa oferta de material publicado
sobre esse período, local e tema – ancorando-se na necessidade de se coletar,
através principalmente das dissertações e teses já defendidas na Universidade
Estadual de Londrina, mais dados e elementos que subsidiem o trabalho dos
professores de História da Educação Básica do estado do Paraná acerca desta
questão.
Dada a abrangência de possibilidades que o estudo da cafeicultura no
norte do estado possibilita, o objeto de estudo desta pesquisa limitou-se à leitura,
análise e interpretação de fontes documentais escritas, a saber: livros, sites,
pesquisas acadêmicas e periódicos, entre outros, que trataram de elucidar as
relações de trabalho ocorridas no campo e suas implicações para o
desenvolvimento da região metropolitana de Londrina.
Sobre o trabalho na cafeicultura paranaense, observou-se: o colonato, a
parceria, o empregado mensalista e o volante. Na atualidade, o foco incidiu sobre
a aplicação do Estatuto do Trabalhador Rural e o surgimento do bóia-fria.
No decorrer do processo, passado e presente foram cotejados à procura
de delimitar um retrato objetivo das relações de trabalho no auge da cafeicultura
paranaense e as mudanças ocorridas nessas relações com a crise na cafeicultura
– matéria-prima essa que se transformou em material didático-pedagógico para
professores e alunos de todo o Paraná em forma de um Folhas.
O Folhas é mais um dos projetos de Formação Continuada dentro das
políticas públicas do governo estadual do Paraná, instituído pelo Plano Estadual
de Desenvolvimento Educacional. É uma oportunidade para o profissional da
educação refletir sobre sua concepção de ciência, conhecimento e disciplina, que
objetiva, nesta dimensão formativa, a produção colaborativa de textos de
conteúdos pedagógicos que constituirão material didático para os alunos e apoio
ao trabalho docente. Toda a produção é disponibilizada on line no portal Dia a dia
Educação, site institucional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná
( disponível no endereço eletrônico <
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/>) com o intuito de influenciar
a prática docente significativamente.
A abordagem teórica escolhida foi a da História Cultural, tendo em vista a
sua afirmação nas últimas décadas, dentro da historiografia brasileira. Sua raiz
remonta à Escola dos Annales, movimento francês do início do século XX, o qual
propôs a renovação dos temas, métodos e registros para a compreensão
histórica, possibilitando uma nova relação com o passado a partir de uma História
social e econômica.
As principais características desse movimento, que representa a mais
recente geração dos Annales, são: o diálogo com outras disciplinas (a
interdisciplinaridade); a reformulação da apreensão do tempo histórico e uma
história problematizadora. Sua temática fundamental é a Cultura, vista sob um
viés antropológico.
Isso porque, em oposição à história universal, tradicional, de narrativa
única e linear, deve-se valorizar os sujeitos históricos (cada um com seus
interesses particulares e concretos, cada um deles transmitindo uma imagem
diferente do passado, conforme sua época e lugar) e o cotidiano, desvelando
assim a história dos vencidos. É na vida diária e nos pequenos atos cotidianos
que se encontram as fontes documentais utilizadas modernamente pelos
historiadores discípulos de Le Goff.
De acordo com o historiador francês, o que se busca é incluir nos estudos
de história as vidas anônimas, o corpo e os aspectos do cotidiano e das
mentalidades – a partir da habitação, das técnicas diárias de sobrevivência, da
alimentação, das relações do homem com a natureza e com o clima, da
sexualidade etc. Com isso, as massas, os marginais e os excluídos passam a ser
parte integrante da história e têm suas vozes ouvidas e respeitadas.
O Plano de Intervenção previa trabalhar com turmas de 7º séries da Escola
Estadual Prof. Lauro Gomes da Veiga Pessoa, localizada na cidade de Londrina –
PR. Para compreender as transformações ocorridas nas relações de trabalho na
cafeicultura paranaense, com o objetivo de proporcionar aos alunos a aquisição
do conhecimento sobre a situação do trabalhador rural, mostrar que esse
trabalhador rural temporário, contratado nas épocas em que há necessidade de
muita mão-de-obra nas grandes fazendas, nos períodos de colheita, é o
trabalhador conhecido como volante ou bóia-fria, que sai de madrugada para o
trabalho, já levando seu almoço na marmita e sem ter onde esquentá-lo na hora
de comer.
CAMINHOS....
No caminho tinha o Paraná.Era trabalho!Era o meio do caminho...
No caminho teve contradição.No caminho tem bóia-fria.No caminho nem sempre temtrabalho.
Talvez trabalho!Talvez trabalho!É o recomeço do caminho...
No caminho tinha o café.No caminho tinha o trabalho.
Era trabalho!Era trabalho!Era o começo do caminho...
No caminho tinha o proprietário.No caminho tinha o trabalhador.No caminho tinha o trabalho.
Era trabalho!Era trabalho!Era o meio do caminho...
No caminho teve contradição.No caminho tem bóia-fria.No caminho nem sempre tem trabalho.
Talvez trabalho!Talvez trabalho!É o recomeço do caminho...
Esse é o Senhor Antônio Manoel dos Santos, de 40 anos, nascido na Fazenda São Gerônimo, município de Santa Mariana, Paraná. Atualmente é morador na cidade e trabalha na colheita de cana-de-açúcar nas cidades de Bandeirantes, Andirá e Itambaracá, estado do Paraná. É trabalhador bóia-fria...
Fonte: foto de Helenara Sampaio
A partir da leitura e interpretação do poema Caminhos, de autoria própria, e
da foto de um cortador de cana de açúcar, propus aos alunos uma reflexão
acerca de como era o Paraná, no auge da cafeicultura no norte do estado nas
décadas de 40 e 50 do século XX, quando muitas pessoas foram atraídas para a
região vindas de várias regiões do Brasil e do mundo, para aqui se tornaram
proprietários, parceiros e colonos.
Também refletimos sobre a década de 60, na qual vários fatores
determinaram mudanças profundas nas relações de produção, culminando com a
expulsão do trabalhador rural do campo, o que provocou a migração de muitos
para outras regiões do país enquanto outros terminaram por ir morar nas
periferias das cidades e viram-se forçados a trabalhar como bóias-frias.
Assim, foi possível apresentar o objetivo do nosso estudo, que se resume,
basicamente, em investigar como se estabeleceram as relações de trabalho na
cafeicultura e quais foram elas; buscando saber como influenciaram a vida de
cada um.
Para tanto, foram propostas atividades como cópia de mapa mundi,
delimitando nele o trajeto do café pelo mundo, colocando os nomes dos lugares
citados no texto dado anteriormente, o qual sintetizava a história do café mundo
afora. Lendas como a de que o arcanjo Gabriel criou a bebida do café, a fim de
restaurar as forças de Maomé, que após ingeri-la tornou-se capaz de derrubar
quarenta cavaleiros e conquistar igual número de damas ou a que ressalta as
qualidades do café, como fonte de vigor e ânimo, tendo sido descobertas pelo
pastor etíope Caldi (ao perceber que suas cabras estavam agitadas, notou que
elas tinham comido folhas e grãos de um determinado arbusto: eram pés de café;
monges que viviam na região prepararam uma infusão com o fruto, passando a
tomá-la assiduamente, pois esta os mantinha despertos para melhor enfrentarem
as longas noites de vigília e oração).
Outras priorizaram a aquisição de conhecimento sobre a mão-de-obra da
cafeicultura, a começar pelo sudeste paulista até o Paraná – destacando, por
exemplo, a importância do surgimento da Companhia de Terras Norte do Paraná.
É a partir daí que os espaços paraenses foram reconfigurados, cidades surgiram
ou desapareceram e nesse momento os alunos foram convidados a desenhar o
mapa do estado, com tais cidades identificadas.
Com a expansão do café (1840) e com a proibição do tráfico de escravos
(1850), surgiu a necessidade de aumentar a quantidade de trabalhadores livres.
Por isso, o governo imperial permitiu que cada província tivesse sua própria
política de imigração.
A primeira tentativa foi feita no interior de São Paulo. O Sistema de
Parceria não deu certo devido à exploração a que o trabalhador foi submetido.
No final do século XIX, por volta de 1870, o governo da província de São Paulo
passou a subvencionar a vinda dos imigrantes.
Assim, os imigrantes foram atraídos e a grande maioria dos que chegaram
foi de italianos. De acordo com Caio Prado Junior, “a emigração italiana para o
Brasil, muito escassa até 1875, subirá em 1876 para quase 7.000 indivíduos; e no
ano seguinte com mais de 13.000, superará largamente todas as demais
correntes, inclusive a portuguesa.”
A procura do café pelo mercado internacional estimulou a expansão das
lavouras e fez do café o principal produto das exportações brasileiras. Porém, no
final do século XIX, a exportação do café começou a ter problemas: uma vez que
a quantidade de café produzido no mundo era maior que o consumo.
O cultivo do café no Paraná fez parte da expansão da área plantada que
vinha de São Paulo. No final do século XIX, mineiros e paulistas começaram a
ocupar a região nordeste do Estado, que ficou conhecida como Norte Pioneiro.
Dado o isolamento da região, as plantações de café se expandiram de
forma lenta. Mesmo assim, núcleos urbanos foram formados, sendo hoje
designados como: São José da Boa Vista (1853), Siqueira Campos (1862),
Tomazina (1865), Ribeirão Claro (1875) e Venceslau Braz (1867).
Em 1925, um grupo de investidores ingleses interessou-se pela compra de
uma grande extensão de terras no Paraná, para desenvolver um projeto
imobiliário baseado na venda de terras. Assim, a empresa privada, a Paraná
Plantation Ltd e sua subsidiária, a Companhia de Terras Norte do Paraná- CTNP,
constituída por ingleses e paulistas, adquiriram do Governo do estado milhares de
alqueires de terra, estabelecendo práticas imobiliárias.
Nos últimos anos do século XIX, os fazendeiros passaram a ocupar mais
terras no Paraná. As crises de baixos preços em virtude do excesso de produção,
assim como os altos preços estimularam a implantação da cafeicultura em terras
paranaenses.
Com o financiamento de bancos paulistas, os cafeicultores abriram novas
fazendas ou venderam aquelas fazendas cujas terras estavam esgotadas e
compraram terras paranaenses.
Outras cidades foram formadas como Jacarezinho (1888), Santo Antonio
da Platina (1890), Carlópolis (1900), Cambará (1904), Ibaiti (1909), Quatiguá
(1909) e Joaquim Távora em 1915. Quando, em 1906, foi firmado o Convênio de
Taubaté, o Paraná estimulou novos plantios.
Posto isso, passamos as relações de trabalho na cafeicultura paranaense,
que foram definidas desde uma pesquisa sobre como era a rotina das famílias
que moravam e trabalhavam nas fazendas de café para estabelecer as diferenças
entre trabalho doméstico, parceria e colonato. Os resultados foram apresentados
para a sala de aula em forma de relatos orais. Os fatores da decadência da
cafeicultura e o êxodo rural estiveram sob análise em forma de gráfico com dados
da evolução populacional do Paraná.
A lavoura do café no Paraná não conheceu a mão-de-obra escrava, os
trabalhadores eram pessoas que vinham de outras regiões do Brasil e
estrangeiros. Nas pequenas propriedades o trabalho predominante era o trabalho
familiar e o parceiro; já nas propriedades maiores predominava o trabalho do
colono.
Em algumas pequenas propriedades a formação dos cafezais era realizada
com a mão-de-obra familiar, tendo como personagem central a figura do sitiante.
Geralmente, era um antigo colono das fazendas ou pequeno proprietário de sítio
no Estado de São Paulo. O sitiante era chefe de numerosa família cujos membros
constituíam a sua força de trabalho.
Nas pequenas propriedades, também, era utilizado o trabalho de parceria,
sendo o parceiro um chefe de família remunerado por porcentagem de lavoura
(40%). Não era o proprietário da terra e entrava com o trabalho. Era sócio na
produção, executava todos os serviços do cafezal, inclusive a colheita e secagem
dos grãos; era autorizado a utilizar uma área para criar animais e produzir
alimentos para o consumo próprio.
Nas propriedades maiores o colono era o trabalhador que atuava como
empregado. Ele morava na própria fazenda, recebia uma remuneração fixa por
mil pés pela limpeza e manuseio de uma parte da lavoura de café e, outra,
diretamente proporcional ao número de sacas de café da roça colhidos, e por dia
de serviço prestado fora do cafezal. Também lhe era permitido plantar entre as
ruas de café, culturas de milho, feijão e arroz para sua subsistência. Recebia
casa, lenha e espaço para criação de animais.
Entre os fatores que levaram os cafeicultores paranaenses a abandonar o
café e passar a plantar outras culturas, principalmente a soja e o trigo estão o
preço do café se elevou, após a Segunda Guerra Mundial, estimulando o aumento
da produção. Porém, de 1959 a 1962, grandes safras acarretaram uma
superprodução. Na safra de 1962, o Paraná produziu quase 1/3 da produção
mundial e metade da produção brasileira.
Assim, com a superprodução, os preços despencaram e os produtores
sofreram grandes prejuízos. O governo federal tomou medidas para equilibrar a
oferta e demanda do café, adotando práticas como estocagem e incineração da
produção. Adotou-se a política de erradicação de café improdutivo, espontânea
ou estimulada mediante indenização e diversificação das áreas liberadas visando
a uma nova cafeicultura mais produtiva, com uso de insumos e de melhor
qualidade.
Porém, o descontentamento provocado pelos preços baixos e o confisco da
produção era grande entre os produtores paranaenses. As geadas que ocorreram
no final dos anos 60 e início dos anos 70 também contribuíram na erradicação
dos cafezais.
Paralelo a esses problemas, os proprietários também estavam
descontentes com a política cambial adotada pelo governo federal a partir de
1951. Alegavam que o governo se apropriava de grande parte da renda obtida
com a venda do café para exportação. A implantação do Estatuto do Trabalhador
Rural em 1963, também contribuiu no processo de erradicação da cafeicultura.
Apesar de todos os incentivos do governo para as lavouras modernizadas,
o café não conseguiu recuperar seu papel de destaque na economia paranaense.
A decadência da cafeicultura teve como conseqüência a transformação nas
relações de trabalho. O cultivo da soja e do trigo foi a alternativa encontrada pela
maioria de grandes proprietários rurais para permanecer no campo. A intensiva
mecanização do cultivo e da colheita desses produtos levou à dispensa de um
número enorme de trabalhadores rurais.
Assim, restou aos ex-trabalhadores do café migrarem para outras regiões,
as chamadas novas fronteiras agrícolas no Mato Grosso e em Rondônia; mas, a
maioria se deslocou para as cidades paranaenses que não estavam preparadas
para absorver um número tão grande de pessoas.
O próximo passo foi analisar o trabalhador bóia-fria e as Vilas Rurais. A
partir da década de 60, um grande contingente de mão-de-obra rural foi liberada.
O trabalhador passou a morar nas periferias das cidades trabalhando em
atividades informais e também em serviços temporários na lavoura, atrelados
pelas condições do tempo e do mercado.
O maior problema do bóia-fria é o fato de ele estar impedido de ter acesso
a terra para a obtenção da sua subsistência e para a produção de algum
excedente para o mercado. Tentando amenizar esse problema o Governo do
Estado do Paraná criou o programa de Vilas Rurais, que tem por objetivo oferecer
ao trabalhador um lugar onde morar com capacidade para suportar explorações
hortigranjeiras. Em 1995, foi inaugurada a primeira Vila Rural, a de Nova Ucrânia,
em Apucarana a 4,5 km da cidade.
Após trabalhar essas informações com o alunado, pedi que pesquisassem
em jornais, revistas e outros meios (como a internet) sobre as Vilas Rurais do
Paraná e registrassem por escrito os resultados obtidos, fazendo um resumo oral
para a sala de aula.
Em que pese a tentativa do Governo Estadual do Paraná de solucionar o
problema do bóia-fria, muitos ainda se encontram morando nas periferias das
cidades. Quando não encontram serviço na zona rural, fazem pequenos serviços
na construção civil sem carteira assinada, sem serem registrados e, portanto, sem
ter garantia de seus direitos assegurados nas leis trabalhistas.
Assim como Antonio Manoel dos Santos, o cortador de cana apresentado
no início desse estudo, muitas outras pessoas moram nas cidades e trabalham
como bóias-frias, convivendo diariamente com o perigo e o desrespeito às leis
trabalhistas.
Meios de transporte dos trabalhadores rurais
Fonte: Fotos de Helenara Regina Sampaio
As atividades que encerraram a implementação do Folhas, foram:
A- Trabalho em grupo: em que os alunos deveriam descobrir na região em que
moram um trabalhador bóia-fria, conversar com ele, procurando saber sobre as
sua condições de vida e fazer um cartaz ilustrado colocando nele as informações
obtidas. Depois, deveriam comparar as informações com as de outros grupos.
Para finalizar, montou-se uma exposição com todos os cartazes dos grupos; e B- Trabalho individual: após ler a poesia da introdução, o aluno deveria escrever
um texto sobre o que entendeu dele, em consonância com o que foi estudado em
sala de aula a respeito da cafeicultura e do surgimento do bóia-fria no Paraná.
Os principais recursos utilizados foram: giz, quadro-negro, mapas, material
impresso e a televisão (TV PEN DRIVE), dada a realidade na qual se insere o
colégio em que tal trabalho foi aplicado. O resultado final do trabalho foi
apresentado à comunidade escolar através de uma exposição dos trabalhos
desenvolvidos pelos alunos em forma de cartazes e painéis-murais.
Por ser uma proposta de trabalho bastante viável, como se pode observar
pelo aqui exposto, que depende principalmente da ação do professor em
despertar o interesse dos alunos para o tema tratado, como parte integrante da
realidade que o cerca, ela é de fácil aplicabilidade em séries e locais diferentes.
Alguns depoimentos de colegas via GTR corroboram esse pensamento:
Depoimento 1: “Gostei do material elaborado, pois o vocabulário utilizado é de
fácil compreensão para os alunos despertando assim o interresse dos mesmos
pelo assunto. Quando trabalho com meus alunos esse conteúdo, eles questionam
bastante de como é o pé de café, de como é cultivado, e porque não é comum
em nossa região. Então pensei em uma interdisciplinaridade com ciências para
tentarmos cultivar alguns pés de café em nossa escola plantando e cultivado
de maneiras diferentes (lugares e solos diferentes), enriqueceria ambas as
aulas, onde facilitaria a introdução do tema , pois estaríamos trabalhando com
algo mais concreto e deixando a teoria um pouco. Nessa dinâmica, estaríamos
trocando diretamente mais informações com nossos alunos, dependendo da
região de cada escola esta técnica pode ser aperfeiçoada, adequando de
acordo as necessidades do lugar e dos alunos.” (ROSIANE FELIXA IANIK
PORTELA FRANCO, professora da rede estadual de educação do Paraná)
Depoimento 2: “É importante que saibamos selecionar bem os conteúdos que
vamos trabalhar com nossos alunos e conseqüentemente os temas. Acho que
você, professora Margarete, foi muito persistente em escolher o tema O café no
norte do Paraná, pois esse produto muito contribuiu e contribui para economia do
nosso estado e também do país, sendo evidente a falta de material para trabalhar
esse assunto. A proposta de trabalho em minha opinião está ótima, você usou
bem os recursos disponíveis, soube dividir bem o conteúdo em tópicos, explorou
bem os textos com leitura e atividades, proporcionou aos alunos diversas
interpretações: de textos, de imagens e de mapas. Conseguiu no decorrer da
Proposta sugerir temas atuais fazendo com que o aluno possa perceber
mudanças, permanências, continuidades, rupturas etc. E fechou bem ao propor
uma análise histórica.” (GISELE DALAGNOL, professora da rede estadual de
educação do Paraná)
Depoimento 3: “Um aparato metodológico interessante é a pesquisa de campo.
Fazer os alunos pesquisarem em casa e nas suas vizinhanças, quem tem ou teve
parentes que trabalham ou trabalharam na lavoura do café. Ainda estão por lá ou
saíram? Se saíram, por que isso ocorreu? Londrina ainda possui indústrias de
beneficiamento de café? Quais são? Qual a localização? A quem pertencem?
Quantos empregos diretos e indiretos geram? Que tipos de empregos? Esses
empregos ainda têm alguma coisa a ver com o início da produção do café na
região? A avaliação pode ser sim a produção de um texto, associado a um debate