O TRABALHO DOMÉSTICO na Região Metropolitana de São Paulo 2008 São Paulo, abril de 2009 – n. 20
O TrabalhO DOMÉSTICOna Região Metropolitana de São Paulo
2008
São Paulo, abril de 2009 – n. 20
Governador do EstadoJosé Serra
Vice-GovernadorAlberto Goldman
Secretário de Economia e PlanejamentoFrancisco Vidal Luna
Diretora ExecutivaFelícia Reicher Madeira
Diretor Adjunto Administrativo e Finan-ceiroMarcos Martins Paulino
Diretor Adjunto de Análise e Disseminação de InformaçõesSinésio Pires Ferreira
Diretora Adjunta de Metodologia e Produção de DadosMarise Borem Pimenta Hoffmann
Chefia de GabineteAna Celeste de Alvarenga Cruz
Conselho de CuradoresFrancisco Vidal Luna (Presidente)Carlos Antonio GameroGeraldo Biasoto JuniorHaroldo da Gama TorresJosé Paulo Zeetano ChahadMárcio Percival Alves PintoMichael Paul ZeitlinSaulo Pereira VieiraSérgio Besserman ViannaTania Di Giacomo do Lago
Conselho FiscalBerenice de OliveiraGustavo OgawaInês Paz de Oliveira
SP 2OO9
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Nádia Pinheiro Dini (gerente de Metodologia e Estatística)Alexandre Jorge Loloian (coordenador)
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Arizono, Silvia Regina Mancini e Susana Maria Frias Pereira (equipe técnica)
Superintendência de Editoração e Tecnolo-gia de Informação e Comunicação – Setic
Vivaldo Luiz Conti
Gerência de Editoração e ArteIcléia Alves Cury
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Preparação de Texto: Denise Niy de Moraes, Vania Regina Fontanesi
Revisão de Texto: Maria Aparecida Andrade e Patrícia Andréa Borges
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Apoio: Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT. Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – Sert.
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O Trabalho Doméstico
OO O trabalho do-méstico é exercido predominantemen-
O TRABALHO DOMÉSTICO
NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO
te por mulheres (apenas 0,6% dos homens ocupados exercem alguma atividade como trabalhador domés-tico). Esta é, portanto, uma ativida-de histórica e culturalmente ligada às habilidades consideradas femini-nas. Mais reconhecida pela execu-ção de serviços gerais em um do-micílio privado, também é o termo usado para cozinheiras, governan-tas, babás, lavadeiras, vigias, moto-ristas, jardineiros, acompanhantes de idosos, caseiros, entre outros. Dado o seu caráter não-econômico, sem finalidade lucrativa, em que o empregador é uma pessoa física e não jurídica, a legislação que regula
1. Ver Trabalho Doméstico em <www.mte.gov.br> do Ministério do Trabalho e Emprego.
a profissão é bastante específica, limitando os direitos trabalhistas destas profissionais, em compara-ção aos de outras ocupações.
O conceito de empregado do-méstico foi formalizado, com atri-buição de direitos baseados em lei de 1972 e ampliados pela Constitui-ção Federal de 1988 e, mais recen-temente, por lei de 2006, de forma a garantir piso salarial, irredutibili-dade de salário, férias de trinta dias, estabilidade para gestantes e folga em feriados civis e religiosos, entre outros.1
No entanto, o direito básico de ter a carteira de trabalho as-sinada ainda não é devidamente respeitado, uma vez que, do total de trabalhadoras domésticas men-salistas, apenas cerca de metade tem registro em carteira. As rela-ções peculiares entre empregado e
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O Trabalho Doméstico
empregador exigem conhecimento e tratamento adequados para que se possa garantir, minimamente, proteção a estas trabalhadoras.2
Os Serviços Domésticos na Re-gião Metropolitana de São Paulo perderam importância na estrutura setorial entre as mulheres ocupa-das nos últimos anos, mas ainda respondiam por 16,3% do total da ocupação feminina em 2008, su-perados apenas pelo setor Servi-ços. Este é o único segmento em que os homens não são maioria: 95,4% de seus postos de trabalho são ocupados por mulheres, prin-cipalmente negras. Dada essa ca-racterística, optou-se por conside-rar apenas o contingente feminino neste estudo, em que se apresen-tam alguns aspectos do trabalho doméstico (tipo de contratação, tempo de permanência no traba-lho, número de horas trabalhadas na semana, contribuição à Previ-dência Social e rendimentos) e
algumas características de suas ocupantes (faixa etária, posição no domicílio e escolaridade), além de destacar as diferenças mais re-levantes entre domésticas negras e não-negras.3
Sua análise indica a relativa pre-cariedade dessa profissão e pode subsidiar o atual debate legisla-tivo sobre a garantia dos direitos trabalhistas e de proteção social às empregadas domésticas, como parte de um segmento populacio-nal cujo trabalho costuma ser um importante indutor de redução da pobreza. Desse modo, pretende-se oferecer um quadro atualizado sobre a situação dessa atividade e chamar atenção para sua impor-tância e problemas mais evidentes. Para tanto, utilizaram-se informa-ções de 2007 e 2008 da Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, realizada na Região Metropolitana de São Paulo pela Fundação Seade e pelo Dieese.
Mulheres negras predominam no trabalho doméstico
As mulheres ocupam 45,1% do total de postos de trabalho existen-tes na Região Metropolitana de São
2. Ver Mais Trabalho Decente para Trabalhadoras e Trabalhadores Domésticos no Brasil – OIT escri-tório no Brasil em <www.oitbrasil.org.br>.
3. O grupo de negras refere-se às mulheres ne-gras e pardas e o de não-negras corresponde às brancas e amarelas.
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O Trabalho Doméstico
Paulo.4 Os Serviços respondem por mais da metade do contingente de trabalhadoras (53,0%), seguidos, à distância, pelos Serviços Domésti-cos (16,3%), Comércio (15,8%) e Indústria (14,0%) (Gráfico 1).
Do ponto de vista da raça/cor, o Gráfico 1 demonstra que, em 2008, havia maior equilíbrio da participa-ção entre negras e não-negras na Indústria e no Comércio, enquanto
sobressai a proporção de não-ne-gras nos Serviços e de negras nos Serviços Domésticos.
Essa característica peculiar nos Serviços Domésticos também pode ser constatada ao se observar a Ta-bela 1: do total de mulheres ocu-padas, 36,0% eram negras e 64,0% não-negras; tal distribuição asseme-lha-se entre as ocupadas na Indús-tria, no Comércio e nos Serviços,
Gráfico 1Distribuição das Mulheres Ocupadas, por Setor de Atividade, segundo Raça/Cor
Região Metropolitana de São Paulo – 2008
Fonte: SEP. Convênio Seade – Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.
Em %
53,0
15,8 14,0
47,0
23,9
16,414,316,3
13,514,712,0
56,3
Serviços ServiçosDomésticos
Comércio Indústria
Total Negras Não-Negras
4. Ver especialmente: Fundação Seade. A mulher no mercado de trabalho em 2008, Região Metropolitana de São Paulo. Boletim Mulher & Trabalho, São Paulo, nº 19. Disponível em <www.seade.gov.br>.
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O Trabalho Doméstico
enquanto nos Serviços Domésticos havia uma sobre-representação de mulheres negras (52,9%), ainda que em proporção ligeiramente menor que a existente em 2007 (55,5%).
Mulheres adultas e com baixa escolaridade compõem o perfil das domésticas
Em relação ao perfil das domés-ticas, as informações confirmam a tendência de aumento da propor-ção de mulheres adultas exercendo tais atividades: o maior contingente (39,5%) está na faixa etária de 25 a 39 anos, com pouca distinção en-
Tabela 1Distribuição das Mulheres Ocupadas, por Raça/Cor, segundo Setor de Atividade
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008Em porcentagem
Setor de Atividade
2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 100,0 36,0 64,0 100,0 36,0 64,0Indústria 100,0 35,9 64,1 100,0 34,7 65,3Comércio 100,0 33,2 66,8 100,0 33,6 66,4Serviços 100,0 30,4 69,6 100,0 32,0 68,0Construção Civil 100,0 -(1) -(1) 100,0 -(1) -(1)Serviços Domésticos 100,0 55,5 44,5 100,0 52,9 47,1Outros 100,0 -(1) -(1) 100,0 -(1) -(1)
Fonte: SEP. Convênio Seade – Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
tre negras e não-negras (21,6% e 17,9%, respectivamente). Seguem-se, em importância, os grupos de idade de 40 a 49 anos (29,5%) e de 50 a 59 anos (16,9%). Na compara-ção com 2007, observa-se aumen-to destes porcentuais e, portanto, maior concentração de trabalhado-ras nestas faixas (Tabela 2).
O trabalho doméstico não tem sido uma opção relevante para as jovens se inserirem no mercado de trabalho: entre 2007 e 2008, a participação das trabalhadoras do-mésticas de 18 a 24 anos diminuiu de 8,8% para 7,6% e a de filhas, de 9,1% para 7,2% (Tabela 4). Seja
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O Trabalho Doméstico
porque as jovens têm maior nível de escolaridade e preferem buscar outras alternativas de ocupação, com maiores chances de progres-so e status profissional, seja por exigências das famílias emprega-doras que preferem pessoas mais experientes, o fato é que o trabalho doméstico tem absorvido crescen-temente mulheres adultas em faixas etárias mais elevadas, com maiores responsabilidades na condução de suas próprias famílias.
As informações sobre a escola-ridade das domésticas (Tabela 3) podem ajudar na explicação dessa tendência. A maioria delas não che-
Tabela 2Distribuição das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor, segundo Faixa Etária
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008Em porcentagem
Faixa Etária2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 100,0 55,5 44,5 100,0 52,9 47,110 a 17 Anos -(1) -(1) -(1) -(1) -(1) -(1)18 a 24 Anos 8,8 5,0 3,8 7,6 4,3 3,325 a 39 Anos 39,2 23,1 16,1 39,5 21,6 17,940 a 49 Anos 28,8 15,5 13,3 29,5 15,1 14,450 a 59 Anos 15,9 8,1 7,8 16,9 8,7 8,260 Anos e Mais 5,1 -(1) -(1) 4,5 -(1) -(1)
Fonte: SEP. Convênio Seade–Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
gou a concluir o ensino fundamen-tal (61,0%) e 20,9% não completa-ram o ensino médio. Ou seja, esse tipo de ocupação, por não exigir níveis de instrução elevados, cons-titui uma das poucas possibilidades hoje existentes para o emprego de pessoas com baixa escolaridade, como é o caso de muitas mulheres adultas.
Note-se, porém, que não é des-prezível a participação de trabalha-doras com ensino médio completo ou superior incompleto (17,9%). Tal resultado expressa, além da melhora do nível de escolaridade da população nos anos recentes,
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O Trabalho Doméstico
Tabela 3Distribuição das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor, segundo Nível de Escolaridade
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008Em porcentagem
Nível de Escolaridade2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 100,0 55,5 44,5 100,0 52,9 47,1Analfabetas e Ensino Fundamental Incompleto
63,1 35,1 28,0 61,0 33,4 27,7
Ensino Fundamental Completo e Médio Incompleto
19,5 10,7 8,7 20,9 10,7 10,2
Ensino Médio Completo e Superior Incompleto
17,2 9,5 7,8 17,9 8,8 9,0
Ensino Superior Completo -(1) -(1) -(1) -(1) -(1) -(1)
Fonte: SEP. Convênio Seade–Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
uma importante diferenciação das ocupações inseridas nos serviços domésticos, como as de babás e acompanhantes de idosos (estas com tendência de crescimento dian-te do envelhecimento da popula-ção, da diminuição do tamanho das famílias e da maior inserção femini-na no mercado de trabalho), além de outras relacionadas à prestação de serviços de saúde no domicílio, que requerem maior qualificação e escolaridade. Informações adicio-nais da PED revelam que estas ocu-
pações, no total de trabalhadores domésticos, aumentaram de 6,9%, no biênio 1991/1992, para 12,0%, em 2007/2008.
Coerentemente com a distribui-ção etária, as informações sobre a composição das domésticas por po-sição no domicílio (Tabela 4) mos-tram a predominância de cônjuges (50,5%) e de chefes de domicílio (30,2%), independentemente de sua raça/cor.5 A forte presença de chefes (bem acima da proporção para o total de ocupadas, de 21,5% em 2008) re-
5. Para maiores informações sobre arranjos familiares, ver Fundação Seade. Relação família e tra-balho na perspectiva de gênero: a inserção de chefes e cônjuges no mercado de trabalho. Boletim Mulher & Trabalho, São Paulo, março de 2009. Disponível em <www.seade.gov.br>.
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O Trabalho Doméstico
força a necessidade de se investir em ações que beneficiem e amparem este segmento, formado por considerável número de mulheres cujo rendimento do trabalho representa a única ou, pelo menos, a principal fonte de renda para o sustento da família.
Apenas pouco mais da metade das mensalistas tem carteira de trabalho assinada
A Tabela 5 mostra que, em 2008, 72,1% das domésticas eram mensa-listas (39,3% negras e 32,8% não-negras) e 27,9% diaristas (13,7% negras e 14,3% não-negras). As mensalistas com carteira assina-
da representavam 36,2% do total de domésticas, porcentual bem abaixo do observado no merca-do de trabalho em geral, em que predomina o assalariamento com carteira assinada, ainda que, nos Serviços Domésticos, tenha apre-sentado pequeno crescimento em relação a 2007, quando era 33,9%. Tal comportamento talvez possa ser, em parte, atribuído ao incenti-vo (não suficiente) à formalização do contrato de trabalho pela de-dução, para os empregadores, do gasto com a Previdência Social no imposto de renda.
Entre as diaristas é ainda menos frequente a prática do registro na
Tabela 4Distribuição das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor,
segundo Posição no DomicílioRegião Metropolitana de São Paulo – 2007-2008
Em porcentagem
Posição no Domicílio2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 100,0 55,5 44,5 100,0 52,9 47,1
Chefes 29,4 16,1 13,3 30,2 16,3 13,9
Cônjuges 49,7 27,0 22,7 50,5 26,1 24,4
Filhas 9,1 5,7 3,4 7,2 4,0 3,2
Outras 11,8 6,7 5,1 12,1 6,5 5,6
Fonte: SEP. Convênio Seade–Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.
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O Trabalho Doméstico
Tabela 5Distribuição das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor, segundo Posição na Ocupação
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008Em porcentagem
Posição na Ocupação2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 100,0 55,5 44,5 100,0 52,9 47,1Mensalistas 71,2 40,4 30,8 72,1 39,3 32,8 Com Carteira de Trabalho Assinada 33,9 20,5 13,4 36,2 20,5 15,7 Sem Carteira de Trabalho Assinada 37,3 19,9 17,4 35,9 18,8 17,2Diaristas 28,8 15,1 13,7 27,9 13,7 14,3
Fonte: SEP. Convênio Seade–Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.
carteira de trabalho ou de contri-buição ao INSS. Como resultado, apenas 41,4% do total das traba-lhadoras nos Serviços Domésticos eram contribuintes da Previdência Social em 2008 (Tabela 9, Anexo Estatístico).
Como o registro em carteira envolve importantes proteções so-ciais e, particularmente, os benefí-cios previdenciários, a exclusão de parte expressiva de trabalhadoras domésticas do acesso a esses be-nefícios deve ser objeto de preo-cupação da sociedade e de ação da administração pública, ao menos na implementação e/ou intensifi-cação de campanhas no intuito de incentivar e levar ao conhecimento de empregados e empregadores as
vantagens, para ambos, de um con-trato formalizado.
Essa situação de baixa forma-lização certamente não se explica pela alta rotatividade que possa existir nesses postos de trabalho, não apenas porque o registro em carteira deveria ser feito a partir do primeiro mês de trabalho, mas tam-bém porque não se observa uma rotatividade tão intensa pela média de tempo de permanência no em-prego doméstico, semelhante ao do conjunto de assalariados na RMSP: quatro anos e cinco meses e cerca de cinco anos, respectivamente, em 2008. Por classes de tempo, 28,0% das domésticas estavam trabalhando há até seis meses no atual emprego e 25,9%, há mais de cinco anos.
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O Trabalho Doméstico
Domésticas com registro em carteira têm maior jornada de trabalho
Entre as categorias analisadas, as empregadas domésticas men-salistas com carteira de trabalho assinada, independentemente de raça/cor, exercem as jornadas mais longas: 44 horas semanais, contra 38 horas para as que não possuem carteira assinada (Tabela 6). Note-se que a jornada de trabalho das primeiras supera a dos assalariados em geral (43 horas semanais), reali-dade que deve ser particularmente vivenciada por aquelas trabalhado-ras que residem no local de traba-lho (5,9% do total de mensalistas).
Entre as domésticas diaristas, a jor-nada média semanal é bem menos intensa (23 horas), provavelmente como reflexo da realização do tra-balho em menor quantidade de dias na semana e não, necessariamente, por menos horas trabalhadas por dia, que, supõe-se, sejam até supe-riores às das mensalistas.
A legislação não estabelece li-mites de tempo de trabalho a essas profissionais. Portanto, observadas as características específicas da ocupação, parece ser importante criar certas normas, como faixas de tempo para as diferentes situa-ções de trabalho nos Serviços Do-mésticos, de forma a compensar a trabalhadora com horas livres em
Tabela 6Horas Semanais Médias Trabalhadas pelas Domésticas (1), por Raça/Cor, segundo Posição na Ocupação
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008
Posição na Ocupação
2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 35 36 34 36 37 36Mensalistas 41 41 40 41 41 41 Com Carteira de Trabalho Assinada 44 44 43 44 45 44 Sem Carteira de Trabalho Assinada 38 38 38 38 38 38Diaristas 21 22 21 23 23 23
Fonte: SEP. Convênio Seade – Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) Exclusive as que não trabalharam na semana.
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O Trabalho Doméstico
determinados dias da semana ou do mês, ou com o pagamento de horas extras.
Diaristas ganham mais por hora e mensalistas têm maior rendimento mensal
O rendimento médio real por hora das trabalhadoras domésticas equivalia a R$ 3,28, praticamente o mesmo valor para negras e não-negras (Tabela 7).
Este valor equivale a menos da metade do recebido pelo total de ocupados (R$ 6,76) e a pou-co mais de um terço do auferido por homens não-negros (R$ 9,01). Restringindo-se a comparação ao
contingente feminino, o rendimen-to médio por hora das domésticas apresenta diferença menos acen-tuada em relação ao recebido no Comércio (R$ 4,13), corresponde a pouco mais da metade do auferido na Indústria (R$ 5,77) e a menos da metade que o das mulheres que trabalham nos Serviços (R$ 7,00).
Talvez pelo fato de os rendi-mentos médios nos Serviços Do-mésticos serem os menores entre todos os setores analisados, é nesse segmento que se constata a menor diferença entre os rendimentos de negras e não-negras. Enquanto os rendimentos médios por hora das negras representavam 69,9% da-queles recebidos pelas não-negras
Tabela 7Rendimento Médio Real por Hora (1) das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor, segundo Posição na Ocupação
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008 Em reais de janeiro de 2009
Posição na Ocupação
2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 3,15 3,06 3,27 3,28 3,25 3,32Mensalistas 3,00 2,93 3,09 3,08 3,09 3,07 Com Carteira de Trabalho Assinada 3,35 3,27 -(2) 3,46 3,43 3,50 Sem Carteira de Trabalho Assinada 2,63 2,50 2,77 2,60 2,60 2,60Diaristas 3,99 3,84 4,15 4,27 4,14 4,39
Fonte: SEP. Convênio Seade – Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) Inflator utilizado: ICV do Dieese.(2) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
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O Trabalho Doméstico
no Comércio, 59,9% na Indústria e apenas 54,4% nos Serviços, nos Ser-viços Domésticos essa proporção era de 97,9%.
As diaristas recebiam, em mé-dia, R$ 4,27 por hora, valor supe-rior ao das mensalistas com carteira assinada (R$ 3,46) e sem carteira assinada (R$ 2,60) (Tabela 7). No entanto, o rendimento médio men-sal das diaristas (Gráfico 2) é idên-tico ao das mensalistas sem carteira
assinada (R$ 422) e menor do que o das mensalistas que possuem car-teira assinada (R$ 658), como refle-xo da combinação entre o valor/hora e suas respectivas jornadas semanais de trabalho.
Na evolução dos rendimen-tos médios mensais das mulheres ocupadas, segundo os setores de atividade analisados, apenas na Indústria e nos Serviços Domésti-cos houve crescimento entre 2007
Gráfico 2Rendimento Médio Real Mensal (1) das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor,
segundo Posição na OcupaçãoRegião Metropolitana de São Paulo – 2008
Fonte: SEP. Convênio Seade – Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) Inflator utilizado: ICV do Dieese.
Em reais de janeiro de 2009
658 655 663
422 421 423422 405439
Total Negras Não-Negras
Mensalistas com carteira Mensalistas sem carteira Diaristas
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O Trabalho Doméstico
e 2008. Nos Serviços Domésticos, tal aumento (6,4%) está vinculado, principalmente, à valorização do salário mínimo e do piso salarial paulista – caso das mensalistas com carteira assinada – e ao aumento da massa de rendimentos das famí-lias empregadoras, para as diaristas (Tabela 8).
As informações apresentadas mostram que o trabalho doméstico mantém-se como alternativa impor-tante de inserção no mercado de trabalho, sobretudo para mulheres adultas, negras e com baixa escola-ridade. Além disso, verifica-se que uma provável diferenciação interna
a esse segmento vem se consolidan-do, com o que se ampliam os requi-sitos de contratação, particularmen-te as exigências de escolaridade e qualificação profissional em alguns de seus nichos ocupacionais.
Ao mesmo tempo em que se observam essas novas característi-cas do emprego doméstico, velhos problemas ainda persistem, como a elevada proporção de pessoas sem carteira de trabalho assinada e as extensas jornadas de trabalho, aliadas, com frequência, às baixas remunerações.
O trabalho doméstico, da forma em que se organiza no Brasil e na
Tabela 8Rendimento Médio Real Mensal (1) das Trabalhadoras Domésticas, por Raça/Cor, segundo Posição na Ocupação
Região Metropolitana de São Paulo – 2007-2008 Em reais de janeiro de 2009
Posição na Ocupação
2007 2008
Total Negras Não-Negras Total Negras Não-
Negras
Total 477 474 480 507 508 506
Mensalistas 525 519 532 542 546 538 Com Carteira de Trabalho Assinada 627 622 -(2) 658 655 663 Sem Carteira de Trabalho Assinada 430 411 451 422 421 423Diaristas 364 356 372 422 405 439
Fonte: SEP. Convênio Seade – Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) Inflator utilizado: ICV do Dieese.(2) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria.
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O Trabalho Doméstico
RMSP, reflete e, simultaneamente, contribui para a elevada concentra-ção de renda que caracteriza nossa sociedade. A desvalorização desse tipo de atividade – evidenciada não
apenas pela baixa remuneração, como também pela baixa proteção da legislação – reforça ainda mais as desigualdades sociais presentes no Brasil.
Boletim 1 Mercado de Trabalho Feminino no Estado de São Paulo 1994/1998
Boletim 2 Mercado de Trabalho da Mulher no Interior Paulista 1994-1998
Boletim 3 A Busca da Equidade Social
Boletim 4 Inserção das Mulheres Negras no Mercado de Trabalho da Região Metropolitana de São Paulo
Boletim 5 O Desemprego Feminino na Região Metropolitana de São Paulo
Boletim 6 O Trabalho das Mulheres Residentes Rurais do Estado de São Paulo
Boletim 7 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo
Boletim 8 Ocupação Feminina e Flexibilização das Relações de Trabalho na Região Metropolitana de São Paulo
Boletim 9 O Emprego Feminino no Estado de São Paulo
Boletim 10 Arranjo Familiar e Inserção Feminina no Mercado de Trabalho da RMSP na Década de 90
Mulher e Trabalho
acesse: www.seade.gov.br
Boletim 11 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo em 2002
Boletim 12 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo em 2003
Boletim 13 Inserção da Mulher no Mercado Formal de Trabalho no Estado de São Paulo, entre 2000 e 2002: uma abordagem regional
Boletim 14 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo em 2004
Boletim 15 Aposentadas e Mulheres de 40 Anos e Mais no Estado de São Paulo – 1992-2003
Boletim 16 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo em 2005
Boletim 17 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo em 2006
Boletim 18 O Mercado de Trabalho Feminino na Região Metropolitana de São Paulo em 2007
Boletim 19 A Mulher no Mercado de Trabalho em 2008 na Região Metropolitana de São Paulo
SEaDEFundação Sistema Estadual de
Análise de Dados
Governo do estado de são Paulo
secretaria de relações institucionais
secretaria de economia e Planejamento