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lgumas pessoas acre d i-tam no poder dascomidas afro d i s í a c
a s ,que aumentam o ape-
tite sexual, outras acham que nãopassa de lenda e ainda
existemaquelas que dizem que a extrava-gância e o exotismo desses
pratos edos ambientes em que são serv i d o se consumidos é que são
re s p o n-sáveis pela exaltação dos sentidos.
Os alimentos que são consi-derados afrodisíacos podem ser
divididos em três grupos: osmitológicos e exóticos, os
estimu-lantes que são quimicamentecomprovados e os que se associ-am
ao sexo por seu formato. Osp r i m e i ros são aqueles que de-rivam
de lendas, como o mel, queera conhecido como o néctar deAfrodite ou
“manjar dos deuses”.Na Grécia, era muito usado emcelebrações de
casamento: anoiva consumia uma colher demel, pois eles acreditavam
que
dessa forma só sairiam palavrasdoces de sua boca. Vem daí
aorigem do termo “lua-de-mel”.Entretanto, o mel também estána
segunda categoria, graças àpresença de vitaminas B e C e deminerais
do pólen das flores, quepodem estimular a produção dehormônios
sexuais.
Outro alimento presente aindahoje em cerimônias de casamen-to é
o arroz, que assim como otrigo e o milho, sempre foi con-
CAROLINA MARINO, MARIA LUIZA TOLEDO, NATÁLIA PINESCHI E
WELLINGTON GUSTAVO
O poder da comidaafrodisíaca
Julho/Dezembro 2006
O fruto proibido: história bíblica de Adão e Eva deu origem à
conotação afrodisíaca da maçã
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siderado símbolo da fertilidade.Além da maçã, fruto bíblico
asso-ciado ao pecado de Adão e Eva, aromã e o marmelo também
sãoconsiderados frutos do paraíso,por isso trazem a mensagem
su-bliminar da tentação. O gengi-bre, que tem um sabor picanteque
realça doces, sobremesas einstiga o amor, também está pre-sente
nesse grupo.
No Oriente Médio, a essênciade anis era usada para incitar oamor
aos recém casados e paracurar a impotência. Esse exo-tismo, que
parece tão distante denós, ainda pode ser encontradoem receitas na
China, como o“pênis de tigre” e “chifre de
r i n o c e ronte”, usados para au-mentar o apetite sexual.
O segundo grupo é daquelesalimentos afrodisíacos que têmuma
explicação química. É ocaso da arginina, um aminoáci-do encontrado
nos laticínios, na
carne e no chocolate, que tem afunção de liberar um
neurotrans-missor: o óxido nítrico, um esti-mulante. As ostras
possuemzinco em grande quantidade, oque facilita a fabricação
detestosterona nos homens e nasmulheres. O álcool pertence aesse
grupo porque dilata os vasossangüíneos, fazendo com que osangue
aflua aos genitais, alémde ter a função de desinibir,relaxar e
alegrar. Mas, em exces-so, a bebida alcoólica pode terefeito
contrário.
A vitamina B3 encontrada empeixes, aspargos e amendoins tam-bém
têm a capacidade de dilataros vasos sangüíneos, fazendo com
Quer um pedacinho?11
Alguns alimentos que consumimos no dia-a-dia e que são
considerados afrodisíacos
Os alimentos afrodisíacos são
capazes de liberar aendorfina no
organismo humano e, por isso, causam uma sensação de
prazer e bem estar
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que os genitais se encham desangue e desse modo todo o
corporeaja. O chocolate é consideradoum afrodisíaco químico porq u
e ,segundo pesquisas, seu consumolibera endorfina, capaz de pro p o
r-cionar uma sensação de bem-e s t a r.
O último grupo é o das comidasque despertam o desejo pelo
sexoporque lembram órgãos sexuaispelo seu formato. Os fálicos sãoos
mais lembrados como pepino,cenoura e banana, mas essa li-gação não
é feita só em relaçãoao genital masculino. O figo, queem alguns
países da Europa sig-nifica vulva, e o morango sãousados para
atiçar o parceiro. Aostra também entra nessa cate-goria, por ser
considerado o ali-mento símbolo do sexo feminino.Na Alemanha
medieval, era cos-tume preparar uma torta emforma de vagina para a
mulherque estava com a gravidez che-gando ao final. Outro
exemplo
disso, é que os romanos ofer-tavam à Ísis, deusa da lua,pequenos
pães semelhantes àvulva.
Segundo a nutricionista Vivi-ane Barros, os alimentos
afrodi-síacos são capazes de liberar aendorfina no organismo
humanoe, por isso, causam uma sensaçãode prazer e bem estar. E
existemtambém alguns alimentos quenão liberam a endorfina, massão
capazes de provocar umamaior vascularização do organis-mo humano. E
quando isso acon-tece, as pessoas ficam mais exci-tadas. Essa é a
explicação dada
para muitos alimentos consumi-dos no dia-a-dia, como o
choco-late, a pimenta, a banana e oarroz. Ainda de acordo com
anutricionista, a ação dos alimen-tos não acontece sozinha: “É
umajunção. Não adianta dizer quecome alimentos afrodisíacos enão
acontece nada. É necessárioum ambiente todo pre p a r a d opara
isso. Tem de haver clima”afirma Viviane.
Alimentos afrodisíacos tipicamente brasileiros
As comidas afrodisíacas tipica-mente brasileiras já eram
co-nhecidas pelos índios. O amen-doim, a mandioca, o arroz
sel-vagem, que é um arroz vermelho,são produtos que os guerreiros
jáusavam com essa função estimu-lante.
Essa visão da comida que dásustança foi passada pelosescravos,
que deveriam ser virispara gerar descendentes. Naopinião da
nutricionista Vi v i a n eB a rros, é importante não con-fundir
comida forte com comidag o rd u rosa: “Quando a gentefala que é uma
comida forte éum alimento exótico, não seadapta a qualquer
paladar.Elimina a fome e deixa a pessoaviril, pela sensação de beme
s t a r ” .
Para Viviane Barros, a crençade que carne de coelho e ovos
decodorna são alimentos altamenteestimulantes gera um
misticismo.Pensam na carne do coelho comoafrodisíaca porque é um
animalque gera muitos filhotes. Porém,os componentes do alimento
nãoo caracterizam como estimulanteou não.
Janeiro/Junho 200612
A nutricionista Viviane Barros, professora de Gastronomia da
UniversidadeEstácio de Sá
A “Garrafada para próstata” contém ervas,
ipê roxo, jatobá,aroeira, confrei e
barbatimão
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Crendice popular é baseadano calor dos alimentos
As garrafadas afro d i s í a c a s ,compostas pelos ingre d i e
n t e smais diversos, estão presentes nacultura popular. Na Feira
de SãoCristóvão, no Rio de Janeiro ,podemos encontrar várias
delascomo a “Garrafada para prósta-ta”, que contém ervas, ipê
roxo,jatobá, aroeira, confrei e barba-timão. Outra mais elaborada,
a“garrafada” indicada para prati-camente todos os males,
como“impotência sexual, esgotamen-to físico e mental,
desânimo,cansaço e amnésia em geral”,contém além do jatobá,
imbu-rana, catuaba, cipó cravo, nó decachorro, marapuama, guaranáem
pó e catinga rasteira.
Além das “garrafadas” é vendidoa granel pó de amendoim,
ca-tuaba, guaraná, canela, pequi,jenipapo, cipó cravo, noz de
cola,ginseng, marapuama, nó dec a c h o rro, ou seja, os
elementosmais diversos que já são conside-rados estimulantes. Numa
outrab a rraca podemos encontrar o melcom “estimulante
afrodisíaco”(como está escrito na embalagem),
composto com catuaba, guaranáe nó de cachorro. Heriberto
Sera-phin, freqüentador da Feira, acre-dita que há um pouco de
folclorenisso, mas conta que certa vezaconteceu um “fato inédito”
comele: ao comer frutos do mar seucorpo “reagiu”.
Alguns comerciantes da feiraacreditam que certos
ingredientesrealmente esquentam: “Te m o scaldo de sururu, de
vatapá e decaranguejo. É gostoso porque dácalor, mas a maioria dos
clientescompra por que gostam e nãopor que acham que é
afrodisía-co”, afirma José Waldecir, gerentedo restaurante Gerimum
do Nor-deste.
Já Gisele Andrade de Oliveira,que trabalha em um dos
restau-rantes baianos, acha que os tem-peros usados na comida,
comopimenta e canela, é que deixama comida quente, ou seja,
afrodi-síaca. A maioria dos feirantesacredita que uma comida
muitoapimentada não tem como nãodeixar uma pessoa
bastanteestimulada. Ivan Pimenta, dorestaurante Pau Grande, diz
queali não tem nenhuma comida
estimulante, “só comida pesadado nordeste”.
Mas há quem afirme justa-mente o contrário, como Waldirde Souza
Santos, que trabalha naAdega do Cupido. Ele acha que“baião de dois,
aipim frito ecarne de sol” abrem o apetite se-xual: “Se o sujeito
comer umdesses pratos, ele levanta, nãotem jeito”. Chiquita, dona
dorestaurante homônimo, de comi-da do norte, diz que tem atéquem
coma buchada e ache queé afrodisíaco, o que ela atribui aocalor e à
sustança do prato. Masela insiste que com a bebida apessoa
“esquenta” rapidamente erecomenda uma à base de ca-chaça e
gengibre. Waldir, da bar-raca de bebidas, indica os licoresde
canela, nozes, jenipapo epequi. Este último fruto, aliás, é omais
saudável em nutrientes nomundo. Mas isso não significa quese deva
alimentar apenas dele,deve ser misturado com arro z ,frango, ou
outras comidas, parater uma alimentação mais ba-lanceada. Isso faz
parte do equi-líbrio necessário também para umbom desempenho
sexual.
Quer um pedacinho?13
A palavra afrodisíaco
A palavra afrodisíaco vem deAfrodite, deusa do amor na
mitologiagrega e é usada desde o século I a.C.Segundo a lenda, esta
deusa nasceuda espuma do mar depois do deusCronos ter castrado seu
pai e lançadoos genitais na água. Por esse motivo,existe a crença
de que todos os ali-mentos que vêm do mar são afrodi-síacos.