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O papel do Psiclogo1Igncio Martn-Bar
O trabalho profissional do psiclogo deve ser definido em funo
das circunstncias concretas da populao a que deve atender. A situao
atual dos povos centro-americanos pode ser caracterizada por: (a) a
injustia estrutural, (b) as guerras ou quase-guerras
revolucionrias, e (c) a perda da soberania nacional. Ainda que o
psiclogo no seja chamado para resolver tais problemas, ele deve
contribuir, a partir de sua especificidade, para buscar uma
resposta. Prope-se como horizonte do seu quefazer a conscientizao,
isto , ele deve ajudar as pessoas a superarem sua identidade
alienada, pessoal e social, ao transformar as condies opressivas do
seu contexto. Aceitar a conscientizao como horizonte no exige tanto
mudar o campo de trabalho, mas a perspectiva terica e prtica a
partir da qual se trabalha. Pressupe que o psiclogo
centro-americano recoloque seu conhecimento e sua prxis, assuma a
perspectiva das maiorias populares e opte por acompanh-las no seu
caminho histrico em direo libertao.
O contexto centro-americano
E
xiste uma crescente conscincia entre os psiclogos
latino-americanos de que, na hora de definir a nossa identidade
profissional e o papel que devemos desempenhar em nossas
sociedades, muito mais importante exami-
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nar a situao histrica de nossos povos e suas necessidades do que
estabelecer o mbito especfico da psicologia como cincia ou como
atividade. Percebe-se cada vez com maior clareza que as definies
genricas procedentes de outros lugares trazem uma compreenso de ns
mesmos e dos outros muitas vezes mope diante das realidades que a
maioria dos nossos povos enfrenta e so inadequadas para captar sua
especificidade social e cultural. Assim, com relao questo do papel
do psiclogo no contexto atual da Amrica Central, antes de
perguntarmos sobre o quefazer especfico do psiclogo, devemos voltar
nossa ateno para esse contexto, sem presumir que o fato de fazermos
parte dele torna-o suficientemente conhecido, ou que nele viver o
converte automaticamente no referente de nossa atividade
profissional. Em uma caracterizao superficial e passando por cima
de diferenas importantes, podemos estabelecer trs aspectos
primordiais que parecem caracterizar o momento atual dos povos
centro-americanos: a situao estrutural de injustia, os processos de
confrontao revolucionria e a acelerada converso das naes em
satlites dos Estados Unidos.
A injustia estruturalEm primeiro lugar, frente aos diagnsticos
que pretendem atribuir os problemas da Amrica Central recente
confrontao entre Leste e Oeste, e a subida ao poder do governo
sandinista, e necessrio insistir que os problemas fundamentais da
rea centro-americana so devidos a uma estruturao injusta de seus
sistemas sociais (Torres Rivas, 1981; Rosenthal, 1982). Sobre
sociedades pobres e subdesenvolvidas assentam-se regimes que
distribuem desigualmente os bens disponveis, submetendo a maioria
dos povos a condies miserveis que permitem a pequenas minorias
desfrutar de todo tipo de comodidade e luxo (para um caso
paradigmtico, ver Sevilla, 1984). Na Amrica Central, a maior parte
do povo nunca teve suas necessidades mais bsicas de alimentao,
moradia, sade e educao satisfeitas, e o contraste entre essa situao
miservel e a superabundncia das minorias oligrquicas constitui-
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se na primeira e fundamental violao aos direitos humanos em
nossos pases. A manuteno secular desta situao s tem sido possvel
graas aplicao de mecanismos violentos de controle e represso
social, que tem impedido ou frustrado todo esforo histrico para
mudar e mesmo reformar estruturas sociais mais opressivas e
injustas (ver, para o caso da Guatemala, Aguilera et al., 1981).
Sem dvida, existem diferenas notrias entre a situao da Costa Rica,
por exemplo, que conseguiu desenvolver sistemas escolar e de
assistncia sanitria considerveis, e a de Honduras, onde os servios
escolar e de sade atingem uma reduzida parcela da populao. Contudo,
tambm entre os costariquenhos se observam profundas diferenas, a
existncia de amplos setores marginais frente a minorias
oligrquicas, vastos ncleos da populao submetidos explorao e misria,
que fazem de Costa Rica uma irm e companheira de destino das outras
naes da Amrica Central.
A luta revolucionriaUma segunda caracterstica a situao de guerra
ou quase-guerra em que vivem todos os pases da regio. Existe uma
sangrenta guerra civil em El Salvador, que j fez mais de 60.000
vtimas e desalojou 20% da populao civil de seus lugares de origem.
H uma guerra no menos sangrenta nas fronteiras da Nicargua,
financiada e dirigida pelos Estados Unidos. H uma situao difundida
de guerrilha na Guatemala, resistindo a uma pavorosa campanha
contra-insurreio. E h uma psicose de pr-guerra em Honduras, forada
pelo atual governo norte-americano a servir de porta-avies sua
poltica blica de contra-insurreio regional e, em um nvel menor,
talvez tambm em Costa Rica. As conseqncias desse estado
generalizado de guerra s podem ser adequadamente avaliadas quando
se somam situao de misria estrutural, por si s catastrfica. Nestes
ltimos anos, o desenvolvimento econmico da rea centro-americana no
somente estacionou, como certamente retrocedeu. No caso de El
Salvador, estimativas otimistas calculam que o retrocesso da
economia nacional de
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pelo menos vinte anos e que, no melhor dos casos e na mais
favorvel das projees, o pas poderia recuperar no final do sculo a
situao em que se encontrava no momento em que comeou a guerra (ver
Instituto, 1983; Argueta, 1985; Ibisate, 1985). Economias por si s
dbeis, como a salvadorenha ou a nicaraguense, se vem foradas a
dedicar a maior parte de suas reservas ao esforo blico, isto ,
destruio de seu prprio povo e de seu prprio pas. Onde deveriam
surgir fbricas, constrem-se quartis, e onde o dinheiro deveria ser
investido em sementes e tratores, usado para bombas e helicpteros
armados. A militarizao da rea centro-americana um dos processos
mais graves que estamos presenciando (Bermudez, 1985; Bermudez
& Cordova, 1985). Se El Salvador tem enfrentado durante mais de
50 anos um regime de explorao opressiva sob a administrao das Foras
Armadas que, em 1979, contava com mais ou menos 15.000 homens e 300
oficiais, o que far no futuro com um exrcito que, neste momento,
conta com 50.000 homens mais 15.000 membros dos chamados corpos de
segurana e aproximadamente 2.300 oficiais, e que aspira a chegar
aos 100.000 homens em um futuro muito prximo? Adicione-se a essas
cifras, o nmero de guerrilheiros, provavelmente no menor que
10.000, to ou mais militarizados que o exrcito governamental, e
grupos paramilitares armados pelo governo ou setores de extrema
direita, e teremos uma pattica perspectiva da situao de El
Salvador. A situao no melhor na Nicargua ou na Guatemala. Honduras,
como sabido, foi convertida em um campo militar norte-americano,
com gigantescas manobras militares sucedendo-se uma s outras, e com
o cncer dos contras antisandinistas que, por razes logsticas bvias,
no podem conformar-se em permanecer na fronteira com a Nicargua. E
a Costa Rica? Costa Rica, assediada pela crise econmica e com sua
dose de contras, tambm est se deixando militarizar aceleradamente
pelo belicismo de Reagan. Um dia, que temo ser muito breve,
despertando de seu estupor anti-sandinista, ir descobrir, sem saber
ou querer, que j tem um verdadeiro exrcito a quem alimentar e a
quem manter feliz e ocupado.
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Estados nacionais como satlites dos Estados UnidosA terceira
caracterstica da situao atual da Amrica Central a sua acelerada
satelitizao nacional. Trata-se de uma conseqncia bvia da doutrina
da segurana nacional, segundo a qual toda a existncia dos pases
deve submeter-se lgica da confrontao total frente ao comunismo (ver
Mattelart, 1978; Insulza, 1982). Certamente, a Amrica Central tem
sido durante este sculo, parte do quintal norte-americano e, em
nenhum momento, constituiu-se em uma ironia afirmar, como o fazia o
poeta salvadorenho Roque Dalton, que o presidente dos Estados
Unidos mais presidente do meu pas que o presidente do meu pas. No
obstante, os avatares da poltica norte-americana permitiram
momentos em que os pases da rea desfrutaram de uma certa autonomia,
ao menos na sua poltica interna (ver Maira, 1982). Esses graus de
liberdade, se me permitem a expresso, esto sendo eliminados
rapidamente. Dir-se-ia que os governantes centro-americanos repetem
hoje o que h vinte anos expressava com grande clareza o general
Castelo Branco, sobre o golpe de estado que instalou no Brasil um
dos regimes militares mais repressivos da histria do continente
sul-americano: o carter crtico do momento exige o sacrifcio de uma
parte da nossa soberania nacional (Mattelart, 1978, p. 56). O caso
de El Salvador paradigmtico, mas no exceo. Como demonstram as
vicissitudes do processo de Contadora, a Costa Rica, El Salvador e
Honduras s resta interpretar as msicas compostas em Washington, com
os instrumentos fabricados em Washington, e para satisfazer os
gostos de Washington. Aceitar que a pobreza de nossos pases contm
uma certa dependncia daqueles que podem nos ajudar a enfrentar os
nossos problemas no to ruim; o que pior que estamos hipotecando
nossa prpria identidade e autonomia sem com isso resolver nossos
problemas, at mesmo eliminando a possibilidade de um futuro para os
nossos povos. As grandes decises polticas de nossos pases so
tomadas em funo da segurana nacional dos Estados Unidos, no das
necessidades dos nossos povos, com a justificativa de que So
Salvador ou Mangua esto menos distantes de So Fran-
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cisco que Nova Iorque ou Boston. Essa mesma exigncia de segurana
nacional dos Estados Unidos intensifica a polarizao j existente em
nossos pases, j que o mundo automaticamente dividido em bons e
maus, amigos e inimigos, sem que nada nem ningum possa escapar
dessa dicotomia maniquesta (ver Martn-Bar, 1983). Perguntamo-nos,
ento, o que aconteceria se os Estados Unidos atingissem os seus
objetivos de segurana nacional na regio? Iria dedicar parte de sua
ateno resoluo dos problemas mais graves dos nossos povos? Iria nos
ajudar a construir a justia em nossas sociedades, apoiando o
desmantelamento das estruturas militares desnecessrias? Ou iria
suspender o fluxo de dlares, satisfeito com a aniquilao dos
movimentos revolucionrios, mas obrigando-nos a manter todo o
aparato de contra-insurreio, a fim de evitar problemas futuros para
a sua segurana nacional? A injustia estrutural, as guerras
revolucionrias e a satelitizao nacional nos permitem caracterizar,
em linhas gerais, a situao atual da Amrica Central e oferecem-nos
assim esse contexto histrico frente ao qual e no qual devemos
definir o papel que corresponde ao psiclogo desempenhar.
O papel do psiclogoH alguns anos atrs, em 1968, um psiclogo
francs, Marc Richelle, se colocava a questo para que psiclogos? A
razo deste questionamento radicava no que ele qualificava de uma
repentina e inquietante proliferao de uma espcie nova (Richelle,
1968, p. 7). Naquela mesma poca, outro francs, Didier Deleule, dava
uma resposta bastante radical a essa questo: a proliferao da
psicologia se devia funo que estava assumindo na sociedade
contempornea, ao converter-se em uma ideologia de reconverso. A
psicologia oferecia uma soluo alternativa para os conflitos
sociais: tratavase de mudar o indivduo preservando a ordem social
ou, no melhor dos casos, gerando a iluso de que talvez, ao mudar o
indivduo, tambm mudaria a ordem social, como se a sociedade fosse
uma somatria de indivduos (Deleule, 1972; ver tambm Bricht et al.,
1973). Para sermos sinceros, quando se examina de forma
desapaixonada o lugar que algumas concepes psicolgicas ocu-
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pam no discurso poltico e cultural dominante, ou quando se
pondera sobre o papel desempenhado pela maior parte dos psiclogos
em nossos pases, no se pode deixar de conceder uma boa dose de razo
a Deleule. O problema, obviamente, no pode ser visto na inteno
subjetiva que podem ter os profissionais da psicologia em um
determinado pas, nem sequer, me atreveria a dizer, em sua opo
poltica. O problema reside nas prprias virtualidades da psicologia
como quefazer terico-prtico. No se trata, portanto, de se perguntar
o que pretende cada um fazer com a psicologia, mas antes e
fundamentalmente, para onde vai, levado por seu prprio peso, o
quefazer psicolgico; que efeito objetivo a atividade psicolgica
produz em uma determinada sociedade (Martn-Bar, s. d.). Entre as
crticas que com maior freqncia so feitas aos psiclogos da Amrica
Central esto a de que a maioria dedica sua ateno predominante,
quando no exclusiva, aos setores sociais mais ricos, e que sua
atividade tende a centrar de tal maneira a ateno nas razes pessoais
dos problemas, que se esquecem dos fatores sociais (ver tambm Ziga,
1976). O contexto social converte-se assim em uma espcie de
natureza, um pressuposto inquestionado, frente a cujas exigncias
objetivas o indivduo deve buscar a soluo para seus problemas de
modo individual e subjetivo. Com este enfoque e com esta clientela,
no de se estranhar que a psicologia esteja servindo aos interesses
da ordem social estabelecida, isto , que se converta em um
instrumento til para a reproduo do sistema (Braunstein et al.,
1979). Poder-se-ia dizer, e com razo, que todas as profisses em
nossa sociedade encontram-se a servio da ordem estabelecida, e que,
nesse sentido, nossa profisso no seria uma exceo. Poder-se-ia tambm
mostrar todos os casos de psiclogos que tm servido e que continuam
servindo as causas populares e revolucionrias. Mas esses pontos
mostram que, se tomamos como ponto de partida o que psiclogos
fizeram ou esto fazendo, no poderemos desbordar uma idia
positivista que nos mostrar uma imagem factual mais ou menos
satisfatria, mas que deixar de lado todas aquelas possibilidades
que, historicamente, tm sido descartadas. Da o imperativo de
exa-
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minar no s o que somos, mas o que poderamos ter sido, e
sobretudo, o que deveramos ser frente s necessidades de nossos
povos, independentemente de contarmos ou no com modelos para isso.
Cabe perguntar, por exemplo, se os psiclogos nicaragenses continuam
usando hoje os mesmos esquemas de trabalho que usavam no tempo de
Somoza, ou se a mudana de clientela, a necessidade de atender aos
setores populares, os levou a mudar tambm seus modelos conceptuais
ou prxicos (Whitford, 1985). Uma boa maneira de se abordar o exame
crtico do papel do psiclogo consiste em voltar s razes histricas da
prpria psicologia. Seria necessrio reverter o movimento que levou a
limitar a anlise psicolgica conduta, isto , ao comportamento
enquanto observvel, e dirigir de novo o olhar e a preocupao caixa
preta da conscincia humana. A conscincia no simplesmente o mbito
privado do saber e sentir subjetivo dos indivduos, mas, sobretudo,
aquele mbito onde cada pessoa encontra o impacto refletido de seu
ser e de seu fazer na sociedade, onde assume e elabora um saber
sobre si mesmo e sobre a realidade que lhe permite ser algum, ter
uma identidade pessoal e social. A conscincia o saber, ou o no
saber sobre si mesmo, sobre o prprio mundo e sobre os demais, um
saber prxico mais que mental, j que se inscreve na adequao s
realidades objetivas de todo comportamento, e s condicionada
parcialmente se torna saber reflexivo (ver Gibson, 1966; Baron,
1980). A conscincia, assim entendida, uma realidade psicossocial,
relacionada com a conscincia coletiva de que falava Durkheim
(1984). A conscincia inclui, antes de tudo, a imagem que as pessoas
tm de si mesmas, imagem que o produto da histria de cada um, e que
obviamente, no um assunto privado; mas inclui, tambm, as
representaes sociais (Banchs, 1982; Deconchy, 1984; Farr, 1984;
Jodelet, 1984, Lane, 1985) e, portanto, todo aquele saber social e
cotidiano que chamamos senso comum, que o mbito privilegiado da
ideologia (Martn-Bar, 1984b). Na medida em que a psicologia tome
como seu objetivo especfico os processos da conscincia humana,
dever atender ao saber das pessoas sobre si mes-
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mas, enquanto indivduos e enquanto membros de uma coletividade.
O saber mais importante do ponto de vista psicolgico no o
conhecimento explcito e formalizado, mas esse saber inserido na
prxis quotidiana, na maioria das vezes implcito, estruturalmente
inconsciente, e ideologicamente naturalizado, enquanto adequado ou
no s realidades objetivas, enquanto humaniza ou no s pessoas, e
enquanto permite ou impede os grupos e povos de manter o controle
de sua prpria existncia. importante enfatizar que esta viso da
psicologia no descarta a anlise do comportamento. No obstante, o
comportamento deve ser visto luz de seu significado pessoal e
social, do saber que pe de manifesto, do sentido que adquire a
partir de uma perspectiva histrica. Assim, por exemplo, aprender no
somente elaborar e reforar uma seqncia de estmulos e respostas, mas
sobretudo estruturar uma forma de relao da pessoa com seu meio,
configurar um mundo onde o indivduo ocupa um lugar e materializa
seus interesses sociais. Trabalhar no apenas aplicar uma srie de
conhecimentos e habilidades para satisfao das prprias necessidades;
trabalhar , antes e fundamentalmente, fazer-se a si mesmo,
transformando a realidade, encontrando-se ou alienando-se nesse
quefazer sobre a rede das relaes interpessoais e intergrupais.
Tanto em um quanto em outro caso, a formalidade do comportamento se
v permeada por um sentido que no decifrvel a partir da superfcie
mensurvel, porm sem cuja compreenso pouco ou nada se entende da
existncia humana. luz desta viso da psicologia, pode-se afirmar que
a conscientizao constitui-se no horizonte primordial do quefazer
psicolgico. possvel que para alguns esta afirmao soe algo
escapista, enquanto para outros parea uma colocao demasiadamente
comprometedora; alguns pensaro que se trata de uma restrio
excessiva da psicologia, enquanto que outros talvez achem que se
trata de introduzir a psicologia em terrenos que no lhe pertencem.
Examinemos ento esta proposta mais detalhadamente, j que alguns mal
entendidos podero decorrer do uso do termo conscientizao, to
evocador da histria contempornea dos pases latino-americanos. Como
sabido, conscientizao um termo cunhado por Paulo Freire para
caracterizar o processo de transformao
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pessoal e social que experimentam os oprimidos latino-americanos
quando se alfabetizam em dialtica com o seu mundo (Freire 1970,
1971, 1973; INODEP, 1973). Para Freire, alfabetizar-se no consiste
simplesmente em aprender a escrever em papis ou a ler a letra
escrita; alfabetizar-se sobretudo aprender a ler a realidade
circundante e a escrever a prpria histria. O que importa no tanto
saber codificar e decodificar palavras estranhas, mas aprender a
dizer a palavra da prpria existncia, que pessoal mas, sobretudo,
coletiva. E, para pronunciar esta palavra pessoal e comunitria,
necessrio que as pessoas assumam seu destino, que tomem as rdeas de
sua vida, o que lhes exige superar sua falsa conscincia e atingir
um saber crtico sobre si mesmas, sobre seu mundo e sobre sua insero
nesse mundo. O processo de conscientizao supe trs aspectos: a. o
ser humano transforma-se ao modificar sua realidade. Trata-se, por
conseguinte, de um processo dialtico, um processo ativo que,
pedagogicamente, no pode acontecer atravs da imposio, mas somente
atravs do dilogo. b. Mediante a gradual decodificao do seu mundo, a
pessoa capta os mecanismos que a oprimem e desumanizam, com o que
se derruba a conscincia que mistifica essa situao como natural e se
lhe abre o horizonte para novas possibilidades de ao. Esta
conscincia crtica ante a realidade circundante e ante os outros
traz assim a possibilidade de uma nova prxis que, por sua vez,
possibilita novas formas de conscincia. c. O novo saber da pessoa
sobre sua realidade circundante a leva a um novo saber sobre si
mesma e sobre sua identidade social. A pessoa comea a se descobrir
em seu domnio sobre a natureza, em sua ao transformadora das
coisas, em seu papel ativo nas relaes com os demais. Tudo isso lhe
permite no s descobrir as razes do que , mas tambm o horizonte do
que pode chegar a ser. Assim, a recuperao de sua memria histrica
oferece a base para uma determinao mais autnoma do seu futuro. A
conscientizao no consiste, portanto, em uma simples mudana de
opinio sobre a realidade, em uma mudana da subjetividade individual
que deixe intacta a situao objeti-
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va; a conscientizao supe uma mudana das pessoas no processo de
mudar sua relao com o meio ambiente e, sobretudo, com os demais. No
h saber verdadeiro que no seja essencialmente vinculado com um
saber transformador sobre a realidade, mas no h saber transformador
da realidade que no envolva uma mudana de relaes entre os seres
humanos. Ao afirmar que o horizonte primordial da psicologia deve
ser a conscientizao, se est propondo que o quefazer do psiclogo
busque a desalienao das pessoas e grupos, que as ajude a chegar a
um saber crtico sobre si prprias e sobre sua realidade. Como
conseqncia do vis da psicologia, assume-se como bvio o trabalho de
desalienao da conscincia individual, no sentido de eliminar ou
controlar aqueles mecanismos que bloqueiam a conscincia da
identidade pessoal e levam a pessoa a comportar-se como um
alienado, como um louco, ao mesmo tempo em que se deixa de lado o
trabalho de desalienao da conscincia social, no sentido de suprimir
ou mudar aqueles mecanismos que bloqueiam a conscincia da
identidade social e levam a pessoa a comportar-se como um dominador
ou um dominado, como um explorador opressivo ou um marginalizado
oprimido. Se at o DSM III (American Psychiatric Association, 1983)
reconhece que todo comportamento envolve uma dimenso social, o
quefazer do psiclogo no pode limitar-se ao plano abstrato do
individual, mas deve confrontar tambm os fatores sociais onde se
materializa toda individualidade humana. Ao assumir a conscientizao
como horizonte do quefazer psicolgico, reconhece-se a necessria
centralizao da psicologia no mbito do pessoal, mas no como terreno
oposto ou alheio ao social, mas como seu correlato dialtico e,
portanto, incompreensvel sem a sua referncia constitutiva. No h
pessoa sem famlia, aprendizagem sem cultura, loucura sem ordem
social; portanto, no pode tampouco haver um eu sem um ns, um saber
sem um sistema simblico, uma desordem que no se remeta a normas
morais e a uma normalidade social. Como remete a uma circunstncia
social e a uma histria concretas, no nosso caso, as dos pases
centro-americanos, a concientizao obriga psicologia a dar respostas
aos gran-
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des problemas de injustia estrutural, de guerra e de alienao
nacional que afligem a esses povos. No se pode fazer psicologia
hoje na Amrica Central sem assumir uma sria responsabilidade
histrica, isto , sem tentar contribuir para mudar todas as condies
que mantm as maiorias populares desumanizadas, alienando sua
conscincia e bloqueando o desenvolvimento de sua identidade
histrica. Porm, preciso faz-lo como psiclogos, isto , a partir da
especificidade da psicologia como quefazer cientifico e prtico. Em
primeiro lugar, a conscientizao responde situao de injustia,
promovendo uma conscincia crtica sobre as razes, objetivas e
subjetivas, da alienao social. Uma simples conscincia sobre a
realidade no supe, por si s, a mudana dessa realidade, mas
dificilmente se avanar com as mudanas necessrias enquanto um vu de
justificativas, racionalizaes e mitos encubrir os determinismos
ltimos da situao dos povos centro-americanos. A conscientizao no s
possibilita, mas facilita o desencadeamento de mudanas, o
rompimento com os esquemas fatalistas que sustentam ideologicamente
a alienao das maiorias populares. Em segundo lugar, o processo
mesmo de conscientizao supe abandonar a mecnica reprodutora das
relaes de dominao-submisso, visto que s pode ser realizado atravs
do dilogo. Em ltima instncia, o processo dialtico que permite ao
indivduo encontrar-se e assumir-se como pessoa supe uma mudana
radical das relaes sociais, em que no existam opressores nem
oprimidos, e isto diz respeito tanto psicoterapia quanto educao
escolar, ao processo de produo em uma fbrica, ou ao trabalho
cotidiano em uma instituio de servio. Finalmente, a tomada de
conscincia aponta diretamente ao problema da identidade tanto
pessoal como social, grupal e nacional. A conscientizao leva as
pessoas a recuperar a memria histrica, a assumir o mais autntico do
seu passado, a depurar o mais genuno do seu presente e a projetar
tudo isso em um projeto pessoal e nacional. Mal pode um processo de
aprendizagem, de orientao vocacional ou de aconselhamento
teraputico buscar o desenvolvimento ou a realiza-
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o das pessoas se, ao mesmo tempo, no se projetar o indivduo em
seu contexto social e nacional e, por conseguinte, se ao mesmo
tempo no se coloca o problema da sua autenticidade como membro de
um grupo, parte de uma cultura, cidado de um pas. possvel que para
a maioria dos psiclogos a dificuldade no resida tanto em aceitar
este horizonte para o seu quefazer, mas em visualiz-lo em termos
prticos. O que significa conscientizar na e com a atividade
psicolgica? Tratase de aplicar alguma tcnica particular? Deve-se
incluir nos processos alguma forma de reflexo poltica? Significa
mudar os tipos de testes empregados ou os temas daqueles que
usamos? Devemos abandonar a terapia individual e realizar algo
assim como ergoterapias coletivas? Tentaremos dar mais forma a esta
tese com dois exemplos sobre como buscar a conscientizao com a
atividade psicolgica. claro que um dos problemas mais graves com
que se depara atualmente na Amrica Central o das vtimas de guerra:
soldados e guerrilheiros feridos ou invlidos por toda a vida,
traumatizados talvez pelas experincias vividas em campo de batalha;
populaes aterrorizadas pela experincia de bombardeios, as operaes
contra-insurreicionais ou as matanas sanitrias; testemunho de
crueldades repressivas, vtimas das tticas do terror ou da tortura,
crianas rfs marcadas por fugas prolongadas em meio violncia blica.
Todos eles constituem essa populao de deslocados ou refugiados, de
filhos da represso ou da guerra, cujo nmero cresce aceleradamente e
alcana j uma cifra no inferior a dois milhes de centro-americanos
(ver, por exemplo, Lawyers, 1984; Instituto, 1985). Sem dvida, essa
populao no s tem necessidades materiais srias de alimentao, teto,
sade e trabalho, mas tambm tem outras necessidades que, embora no
to prementes, no por isso menos graves, de desenvolvimento pessoal
e relaes humanizadoras, de amor e esperana em sua vida, de
identidade e significao social (Pea, 1984). Por isso, um objetivo
primordial da psicologia centro-americana no presente e futuro
prximo, deve ser prestar ateno especial s vtimas da guerra, sejam
elas quais forem. Essa ateno ir re-
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querer a abertura da clnica a grupos majoritrios, que so os que
mais esto sofrendo o impacto do conflito blico. Ser que poderemos
enfrentar esse gravssimo problema das vtimas da guerra simplesmente
estendendo a mais pessoas o alcance do trabalho da psicologia
clnica realizado na atualidade? No representaria essa opo um
simples restabelecimento dos termos de uma realidade social que est
precisamente na raiz do conflito que se vive? A ateno clnica s
vtimas das guerras centro-americanas deve constituir-se em um
processo conscientizador, um processo que devolva a palavra s
pessoas, no somente como indivduos, mas como parte de um povo. Isto
significa que a psicoterapia deve apontar diretamente para o
desaparecimento de uma identidade social cultivada sobre os
prottipos de opressor e oprimido, e a configurar uma nova
identidade das pessoas enquanto membros de uma comunidade humana,
responsveis por uma histria (Martn-Bar, 1984a). A superao dos
traumas da guerra deve incluir uma tomada de conscincia sobre todas
as realidades, coletivas e individuais, que esto na raiz da guerra.
Assim, pois, uma psicoterapia conscientizadora deve constituirse em
um processo que permita ao indivduo afirmar sua identidade pessoal
e social como parte de um movimento de afirmao coletiva e nacional.
Um bom nmero de psiclogos centro-americanos dedica-se orientao
escolar. Esse trabalho costuma se reduzir aplicao mais ou menos
sistemtica de baterias de testes, com as quais se pretende conhecer
o nvel de desenvolvimento e o grau de aprendizagem de cada
estudante, detectar seus possveis problemas, assim como definir uma
perspectiva adequada aos seus interesses e capacidades. O
pressuposto implcito dessa atividade baseia-se em que a sociedade
existente constitui o mbito em cujo interior cada qual deve
encontrar formas mais produtivas e satisfatrias de acordo com suas
caractersticas e ideais pessoais. Trata-se, portanto, de se
conseguir um acoplamento, uma adaptao entre cada indivduo e a
sociedade, que em nenhum momento pe em questo os esquemas bsicos da
convivncia e, portanto, a determinao dos papis sociais que devem
ser assumidos. A orienta-
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o escolar contribui, dessa maneira, para a reproduo do sistema
estabelecido com seus esquemas de passividade e falta de
criatividade, de domnio e submisso. Um trabalho de orientao escolar
conscientizador supe um esforo para proporcionar a transmisso de
esquemas sociais alternativos: a capacidade crtica e criativa dos
alunos frente ao que a escola e a sociedade lhes oferecem, um
estilo diferente de confrontar a vida social e laboral. Trata-se no
somente de que os alunos aprendam com os currculos escolares
planejados, mas sobretudo, que aprendam a confrontar a realidade de
sua existncia com um pensamento crtico. Assim como existe uma
organizao de pequenos empresrios, na qual se inicia os adolescentes
administrao empresarial capitalista, poder-se-ia pensar em algo
como laboratrios sobre a realidade nacional, nos quais os jovens se
veriam confrontando diretamente as condies sociais da maior parte
da populao e poderiam refletir criticamente sobre elas. O horizonte
conscientizador tanto no trabalho clnico como no trabalho de
orientao escolar suporia, sem dvida alguma, uma importante mudana
no quefazer profissional. No se trata de abdicar do papel tcnico
que em ambos os casos, corresponde ao psiclogo; trata-se de
despojar esse papel de seus pressupostos tericos adaptacionistas e
de suas formas de interveno a partir de posies de poder. Para
tanto, torna-se necessrio elaborar uma viso conceptual diferente e,
talvez, tambm novos mtodos de diagnstico e de interveno. No campo
clnico, algumas das iniciativas empreendidas pelo movimento da
anti-psiquiatria podem lanar luzes sobre as mudanas necessrias que
se teve que implantar no trabalho psiquitrico como resultado de uma
concepo distinta sobre a realidade do transtorno psquico e,
portanto, de uma prxis teraputica distinta (ver Basaglia, 1972;
Cooper, 1972; Moffat, 1975); na psicologia escolar, a prpria
experincia da educao conscientizadora, sobretudo em seu paralelo e
em sua diferena com a proposta desescolarizadora (Illich, 1971;
Reimer, 1973), permitem vislumbrar novas formas de orientao. Em que
consiste, ento, essa nova colocao terica e prtica do trabalho
psicolgico conscientizador? Em nossa opini-
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o, no se trata de abarcar exclusivamente uma rea de trabalho,
mas de se fixar um horizonte para o quefazer profissional, qualquer
que seja a rea em que se trabalhe. Por isso, as perguntas crticas
que os psiclogos devem se formular a respeito do carter de sua
atividade e, portanto, a respeito do papel que est desempenhando na
sociedade, no devem centrar-se tanto no onde, nas no a partir de
quem; no tanto em como se est realizando algo, quanto em beneficio
de quem; e, assim, no tanto sobre o tipo de atividade que se
pratica (clnica, escolar, industrial, comunitria ou outra), mas
sobre quais so as conseqncias histricas concretas que essa
atividade est produzindo.
Concluso: uma opo histrica claro que no o psiclogo que ser
chamado para resolver os problemas fundamentais com que se
defrontam os povos centro-americanos na atualidade. Pensar outra
coisa seria enganar-se tanto a respeito do que a psicologia, como a
respeito dos problemas centro-americanos, e incorrer nesse
psicologismo que ten sido justamente denunciado como uma ideologia
de reconverso. No est nas mos do psiclogo, enquanto tal, mudar as
injustas estruturas socioeconmicas de nossos pases, resolver os
conflitos armados ou resgatar a soberania nacional, servilmente
penhorada aos Estados Unidos. No obstante, h uma tarefa importante
que o psiclogo deve cumprir e que requer tanto o reconhecimento
objetivo dos principais problemas que afligem os povos
centro-americanos como a definio da contribuio especfica do
psiclogo em sua resoluo. Pois se o psiclogo, por um lado, no
chamado a intervir nos mecanismos socio-econmicos que articulam as
estruturas de injustia, por outro chamado a intervir nos processos
subjetivos que sustentam e viabilizam essas estruturas injustas; se
no lhe cabe conciliar as foras e interesses sociais em luta,
compete a ele ajudar a encontrar caminhos para substituir hbitos
violentos por hbitos mais racionais; e ainda que a definio de um
projeto nacional autnomo no esteja em seu campo de competncia, o
psiclogo pode contribuir para a formao de uma identidade, pessoal e
coletiva, que responda s exigncias mais autnticas dos povos.
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indubitvel que ns, psiclogos centro-americanos, enfrentamos um
desafio histrico para o qual provavelmente no fomos preparados.
Contudo, no se trata de encontrar justificativas para nossas
deficincias, mas de ver como podemos assumir nossa responsabilidade
social (Martn-Bar, 1985). Trs pontos parecem necessrios a esse
respeito: 1. O psiclogo centro-americano deve repensar a imagem de
si mesmo como profissional. No se pode continuar com a inrcia dos
esquemas tericos j conhecidos ou das formas de atuar habituais;
nosso saber psicolgico deve ser confrontado com os problemas novos
dos povos centro-americanos e com as questes que lhe so
apresentadas. O caso das vtimas da guerra talvez o mais agudo e
urgente, porm no o nico, nem sequer, talvez, o mais radical. 2.
urgente assumir a perspectiva das maiorias populares. Sabemos, pela
sociologia do conhecimento, que o que se v da realidade e como se
v, depende de forma essencial do lugar social de onde se olha. At
agora o nosso saber psicolgico alimentou-se fundamentalmente de uma
anlise dos problemas realizada a partir da perspectiva dos setores
dominantes da sociedade. No provvel e, talvez, nem sequer possvel,
que alcancemos uma compreenso adequada dos problemas mais profundos
que atingem as maiorias populares se no nos colocamos, ainda que
hermeneuticamente, em sua perspectiva histrica. 3. Talvez a opo
mais radical com que se defronta a psicologia centro-americana hoje
esteja na alternativa entre uma acomodao a um sistema social que
pessoalmente nos tem beneficiado, ou uma confrontao crtica frente a
esse sistema. Em termos mais positivos, a opo reside entre aceitar,
ou no, acompanhar as maiorias pobres e oprimidas em sua luta por
constituir-se como povo novo em uma terra nova. No se trata de
abandonar a psicologia; trata-se de colocar o saber psicolgico a
servio da construo de uma sociedade em que o bem estar dos menos no
se faa sobre o mal estar dos mais, em que a realizao de alguns no
requeira a negao dos outros, em que o interesse de poucos no exija
a desumanizao de todos.
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Abstract: The role of the psychologist. The professional work of
the psychologist must be defined according to the concrete
circumstances of the population that he or she must attend. The
current situation of the peoples in Central America can be
characterized as: (a) structural injustice, (b) the revolutionary
wars or quasi-wars, and (c) the loss of national sovereignty. Even
though the psychologist is not called to solve such problems, he or
she must contribute, from his/her specificity, to look for an
answer. Conscientizacin is proposed as the horizon of the
psychologists endeavor, which means to help people to overcome
their alienated personal and social identity, by transforming the
oppressive conditions of their context. To embrace conscientizacin
as professional skyline does not necessarily require changing the
field of work, but certainly the theoretical and practical approach
from which one works. It assumes that the Central American
psychologist relocates his or her knowledge and practice, adopting
the standpoint of the popular majorities, and decides to follow
them in their historical path towards liberation.
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Nota1
Conferncia pronunciada em 4 de outubro de 1985, na Universidade
de Costa Rica, publicada no Boletn de Psicologa UCA, 1985, 3(17),
99112. Traduo para o portugus da Dra. Yay M. de Andrade e reviso
dos Drs. Oswaldo H. Yamamoto e Jos Q. Pinheiro, a partir do
original salvadorenho [Martn-Bar, I. (1990). El papel del psiclogo
en el contexto centroamericano. Revista de Psicologa de El
Salvador, IX(35), 53-70] e da verso em lngua inglesa [Martin-Bar,
I. (1994). The role of the psychologist. In A. Aron, & S. Corne
(Orgs.), The writings for a liberation psychology (pp. 33-46).
Cambridge, MA: Harvard University Press (traduo para o ingls de
Adrianne Aron)]. As tradues do espanhol e do ingls para o portugus
foram autorizadas, respectivamente, pela UCA, El Salvador, e pela
HUP, Cambridge, MA, EUA.
Igncio Martn-Bar nasceu em Valladolid (Espanha) em 7 de novembro
de 1942, ingressando na Companhia de Jesus no ano de 1959. Estuda
Humanidades em Quito (Equador), obtendo o grau de Licenciado em
Filosofia e Letras; bacharelado em Teologia em Eegenhoven (Blgica);
mestrado em Cincias Sociais e doutorado em Psicologia Social e
Organizao em Chicago (EUA). Vinculado desde 1967 UCA (Universidad
Centroamericana Jos Simen Cans, El Salvador), visitante de diversas
universidades, dedica sua vida luta pela libertao em El Salvador,
simultaneamente, no trabalho desenvolvido (em especial) com os
trabalhadores do campo, e no meio acadmico, com inmeros escritos
sobre psicologia social e poltica. brutalmente assassinado pelo
esquadro da morte da represso salvadorenha no dia 16 de novembro de
1969.
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