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O Malhete INFORMATIVO MAÇÔNICO, POLÍTICO E CULTURAL Linhares - ES, Janeiro de 2019 Ano X - Nº 117 [email protected] Filiado à ABIM - Associação Brasileira de Impressa Maçônica, Sob o nº 075-J Christine Chapman Grã-Mestra da Honourable Fraternity of Ancient Freemasons Entrevista SAÚDE Por que um 'jejum tecnológico' deveria estar entre suas resoluções de Ano Novo
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O MALHETE 117 PARA PDF...Pessanha. Camilo Pessanha é considerado um dos expoentes máximos do simbolismo na poesia e foi autor do livro “Clepsidra” (1920). A Loja abateu colunas

Jul 09, 2020

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O MalheteINFORMATIVO MAÇÔNICO, POLÍTICO E CULTURAL

Linhares - ES, Janeiro de 2019Ano X - Nº 117

[email protected]

Filiado à ABIM - Associação Brasileira de Impressa Maçônica, Sob o nº 075-J

Christine Chapman Grã-Mestra da Honourable Fraternity of Ancient Freemasons

Entrevista

SAÚDE

Por que um 'jejum tecnológico' deveriaestar entre suas resoluções de Ano Novo

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Janeiro de 2019 03GERAL

A maçonaria surge em Macau quase por acaso quando em 1759, um navio perten-cente à Companhia Sueca das Ilhas do Índi-

co Oriental, o Príncipe Carl, singra as águas perto de entreposto português e fundeia no porto. Segun-do os registos da Grande Loja da Suécia a tripula-ção incluía vários maçons que traziam uma carta-patente com a autorização de se reunirem em qual-quer porto em que atracassem. É provável que se tenham reunido mais de uma vez em Macau inici-ando residentes da colónia portuguesa na Arte Real.

Num sentido mais permanente a Maçonaria sur-giu em Macau já no século XX, através da criação de uma Loja “Luis de Camões” que adquiriu o número 383 do registo do Grande Oriente Lusitano (GOL). Este facto é confirmado por Albert Mackay na sua Enciclopédia da Maçonaria. É provável também que uma loja inglesa “Amity”que aparece com o número 407 de uma lista de 1768 de lojas dependentes da primeira Grande Loja de Inglaterra tenha tido alguma actividade em Macau mas em algum tempo abateu colunas.

É desconhecido o perfil dos membros da primei-ra loja portuguesa de Macau mas olhando para as descrições da vida na colónia seriam funcionários do governo, profissionais liberais e militares. A Loja foi fundada por António Alexandrino de Melo, barão do Cercal e teve como Veneráveis Mestres o editor Constâncio José da Silva e o poeta Camilo Pessanha. Camilo Pessanha é considerado um dos expoentes máximos do simbolismo na poesia e foi autor do livro “Clepsidra” (1920). A Loja abateu colunas na sequência da aprovação pela Assemble-ia Nacional da Lei das Sociedades Secretas, a Lei no. 1901 de 21 de Maio de 1935 que interditou a actividade maçónica em Portugal continental e ultramarino.

Com a Revolução do 25 de Abril de 1974, à maçonaria foram devolvidos os bens que haviam sido sequestrados pela polícia política (PIDE), designadamente o palácio maçónico do Bairro Alto e restabelecida a actividade da Maçonaria no terri-tório português. Na sequência da reintrodução da normalidade maçónica foi impulsionada a criação de uma loja do rito escocês em Macau, na depen-dência do Grande Oriente Lusitano, a qual tomou o nome de “Fraternidade e Progresso”. Foi seu pri-meiro Venerável Mestre o advogado Jorge Neto Valente, deputado à Assembleia Legislativa do ter-ritório. Seguem-lhe na cadeira de Salomão o Arqui-tecto José Maneiras que foi presidente do Leal Sena-do, o capitão Manuel Geraldes, militar do 25 de Abril, o escultor António Conceição Júnior, que foi presidente do Instituto Cultural, e várias personali-dades ligadas à comunidade macaense. Vários assessores da administração portuguesa de Macau, nos mandatos dos Governadores Carlos Melancia e Rocha Vieira, integraram esta loja. Pelo menos dois secretários dos Governadores Carlos Melancia e Rocha Vieira eram maçons.

A loja sofreu os efeitos do regresso definitivo a Portugal da maioria dos quadros portugueses que trabalhavam em Macau, na sequência da transfe-rência da administração de Macau para a China em 19 de Dezembro de 1999. Desde então a loja reúne-se com alguma irregularidade.

Com a criação da Grande Loja Regular de Portu-gal, foi constituído no início dos anos 2000 por impulso do Mestre Maçom Arnaldo Gonçalves um triângulo com o nome “Luz do Oriente”. O Triân-gulo seria aprovado por decreto n.º 99 do Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal, Tro-vão do Rosário. O Triângulo não seria transforma-do em Loja por imposição do quinto Grão-Mestre da GLRP, Mário Martim Guia, que entendia que a Maçonaria inglesa localizada em Hong Kong deve-ria tutelar a maçonaria de Macau.

Sob o mandato do Grão-Mestre José Moreno o Triângulo Luz do Oriente seria transformado em loja regular, com o mesmo nome. O Irmão Arnaldo Gonçalves foi instalado na Cadeira de Salomão em Junho de 2011, e cumpriu dois mandatos. Era inten-ção do Grão-Mestre José Moreno que a Loja Luz do Oriente fosse secundada por duas outras lojas e se criasse, com o devido tempo, um distrito da Grande Loja Legal de Portugal, em Macau. No cumprimen-to desta orientação, o Irmão Arnaldo Gonçalves promoveu com outros Mestres Maçons a constitui-ção de um triângulo com o nome Sun Yat Sen, desta vez praticando o rito de Iorque.

Em Junho de 2014, o Irmão Júlio Meirinhos foi eleito Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portu-gal e instalado na Cadeira de Salomão. Tendo o triângulo evoluído para um número mínimo de Mes-

tres foi solicitou a sua transformação em Loja. A petição da Loja Sun Yat Sen seria rejeitada. O Irmão Arnaldo Gonçalves solicitaria a emissão de atesta-do de quite da Grande Loja Legal de Portugal o qual seria emitido em Janeiro de 2015. Já no mandato do segundo Venerável Mestre da Loja, Irmão Carlos Balona Gomes, a loja Sun Yat Sen a Loja entrou em funcionamento irregular, tendo abatido colunas durante o ano de 2017.

O núcleo de Mestres Maçons que impulsionara a constituição de uma loja regular, do rito de Iorque, em Macau, tomou a decisão de continuar a funcio-nar como loja independente, observando os 8 Prin-cípios da Regularidade aprovados pela Grande Loja de Inglaterra. A Loja Sun Yat Sen manteve-se em regime de instalação até Dezembro de 2017 sendo seu Venerável Mestre o Irmão Arnaldo Gon-çalves.

Na seguência da constituição da Grande Loja Unida de Portugal os sete Mestres Maçons que integravam os corpos da loja solicitaram a adesão àquela Grande Loja. Na reunião do solstício de inverno de 2017 da GLUP foi aprovada a consti-tuição da Loja Sun Yat Sen, pelo Decreto n.o 15 do MRGM Paulo Cardoso, sendo-lhe atribuído o número 8 no registo da Grande Loja Unida de Portugal. A Loja reúne-se na segunda quinta-feira de cada mês a Oriente de Macau, funciona no Rito de Iorque, e realiza os seus trabalhos em lín-gua inglesa. Conta ao momento com uma vintena de membros de diversas nacionalidades.

O Irmão Arnaldo Gonçalves é Mestre Instalado, Grau 32º do REAA, Scottish Rite

USA, Southern Jurisdiction

A Maçonaria em MacauA Loja Sun Yat Sen

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04 Janeiro de 2019 GERAL

Atualmente o termo “Palhaço” tem sido bas-tante utilizado de forma pejorativa para todo tipo de pessoa sem graça e que não

deve ser levado a sério e até mesmo a muitos perso-nagens tragicômicos responsáveis pelas pataqua-das no congresso. Mas hoje não! Abordaremos o tema de forma respeitável a umas das profissões mais dignas que existe e como de costume ligar personagens importantes da classe a Maçonaria.

O Palhaço, classe de artistas conhecidos no

mundo inteiro, responsáveis por gargalhadas desde priscas eras, seres que ganharam notoriedade e a alcunha de ser “o único a fazer piada com o rei e não perder a cabeça”, tem uma semana inteira dedi-cada e ele a nível internacional (International Clown Week), que ocorre entre 5 e 12 de outubro. No Brasil o dia do Palhaço é comemorado no dia 10 de dezembro, e teve início em 1981 por iniciativa da Abracadabra Eventos.

A Maçonaria, hoje uma associação de homens

livres que tem seus ensinamentos morais através de símbolos e alegorias, reúne irmãos de diversas pro-fissões e é claro que há Palhaços em nossas fileiras, aqui na terra de São Sebastião tem uma Loja inteira dedicada a artista de Circo. A Loja Salomão N°21, jurisdicionada ao GOB-RJ, fundada em 03 de julho de 1833 e tendo seu funcionamento as segundas feiras, segundo Del Debbio (2010), teria atraído diversos artistas que tinha a folga justamente no primeiro dia útil da semana. O mesmo texto de Del Debbio (Homenagem a Gilberto Fernandes) traz importantes informações acerca do trabalho da Loja Salomão, que transcreverei agora:

Aos artistas circenses sucederam os artistas de rádio e teatro. Essa plêiade cumpria os Rituais com interpretação magistral. As cerimônias de Inicia-ção, Elevação e Exaltação, na Loja Salomão eram concorridíssimas, com a presença de grande núme-ro de visitantes que apreciavam o cunho de realida-de impregnado naquelas Sessões. Por isso a Loja passou a ser chamada de “Loja Escola”, que perdu-ra até a presente data, pois ainda mantêm em seus Quadros alguns artistas e além disso, prima pela manutenção daqueles elevados padrões de outrora.

Segue alguns nomes de Irmãos Palhaços Brasi-leiros para apreciação:

Irmão Eduardo Temperani (Esse conhecido como o 1º homem bala do Brasil);

Irmão Carlos Angel Lopes (Presidente da Asso-ciação Brasileira de Proprietários de Circo e Empresários de Diversões, além de Palhaço);

Palhaço Carequinha ou Irmão George Savalla Gomes;

Papai Papudo ou Irmão Gilberto Fernandes;Palhaço Fred ou Irmão Frederico Viola;Palhaço Zumbi ou Irmão Aymoré Pery;Palhaço Arrelia ou Irmão Waldemar Seyssel;Palhaço Picolino ou Irmão Roger Avansi.George Savalla Gomes, mais conhecido pelo nome Carequinha foi

um importante Maçom e um dos mais notórios palhaços brasileiros. Roger Avanzi como Palhaço Picolino.Continua...

Por Cloves Gregorio - Maçonaria Tupiniquim

Maçonaria: uma grande palhaçada

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Janeiro de 2019 05GERALEste último foi a inspiração para a confecção deste

texto. Na última segunda feira, dia 10 de dezembro de 2018 o Irmão Roger Avansi faleceu aos 96 anos de idade, justamente no dia do palhaço, Picolino partiu para o picadeiro eterno. Ainda em vida para a Rede Colmeia, publicado no blog “O Malhete” em 2012, o Irmão Avanzi conta que ingressou na Maçonaria durante a segunda Guerra Mundial através de um tio e sobre a fraternidade declarou:

Para ser palhaço é preciso ter alma forte e nervos de aço. A maçonaria me ajudou muito a praticar isso e a melhorar internamente”.

No resto do mundo a adesão de Palhaços a Maço-naria não é tão diferente, inclusive há um braço do Shiners.

exclusivamente dedicado a palhaçada. O Internati-onal Shriner Clowns Association (Associação de Palhaços do Shiners Internacional) promove desde apresentações circenses a concursos de fantasias e maquiagem. A clausula 4 de seus estatutos visa “Pro-mover diversão e entretenimento para qualquer oca-sião, desde que esteja de acordo com nossas obriga-ções como Maçom e Shriner.

Finalizaremos essa pequena homenagem com as Palavras do nosso Irmão Rogério Bittencourt de Miranda, que também é palhaço e Maçom.

Os palhaços são conhecidos há aproximadamente 4.000 anos, temos no teatro indiano o registro da figu-ra cômica Vidusaka, escudeiro fiel do herói, que aju-dava o povo a entender os enredos da história com suas intervenções cômicas, por ser o único a falar prak-rit, língua das mulheres e das camadas sociais inferio-res, ele conseguia decodificar o enredo, pois a maioria dos atores falava sânscrito, língua dos deuses e reis.

O palhaço é o anti-herói mais amado por todos, mesmo sendo estigmatizado, nada elegante, podendo ser um esnobe, um vaidoso, egoísta, covarde, desas-troso ou um verdadeiro idiota.

Seu principal objetivo é expor nossos erros e defei-tos, ridicularizando-os a ponto de não levarmos tudo tão a sério. O palhaço é aquele que é. Que pode ser o único a dizer as verdades ao rei sem ser morto, aquele

que usa a menor máscara do mundo, o nariz vermelho, que pode ser interpretado por estar ele adoentado ou vermelho pelo uso do álcool que o esquenta no frio. Usa roupas largas, que podem nem ser as dele, pegou emprestado ou ganhou e mesmo com todas essas ques-tões ele causa riso.

Temos diversos palhaços maçons, como nos conta o nosso Irmão Cloves e uma instituição todinha para nós: A ISCA (International Shriner Clowns Associati-on) que tenho a honra de fazer parte.

Dia 10 foi o dia do palhaço, vamos celebrar esse que nos traz alegria e nos faz muitas vezes pensar!

Salve a alegria!Palhaço RanzinzaO Maçonaria Tupiniquim dedica ao Irmão Palhaço

Picolino essa singela homenagem e a todos os Irmãos Palhaços do Brasil.

Referências:Dia Universal do Palhaço. Disponível em:

https://www.calendarr.com/brasil/dia-universal-do-palhaco/. Acesso em dezembro de 2018.

Marcelo Del Debbio. Homenagem a Gilberto Fernandes.

Dispnível em: https://www.deldebbio.com.br/homenagem-a-

gilberto-fernandes/. Acesso em dezembro de 2018.GOB-RJ. Relação de Lojas. Disponível em:

https://www.gob-rj.org.br/relacao/index.php. Aces-so em dezembro de 2018.

Rede Colmeia. Relação entre circo e Maçonaria é mais estreita do que parece. Disponível em: www.o-malhete.blogspot.com. Acesso em dezembro de 2018.

2018 Imperial Session Clowns do International Shriner Clowns Association

Fonte: GOSP

O eterno palhaço de casaca grande colorida, colarinho grande, calça preta com suspensório, chapéu- -coco laranja e sapatos longos que encantou gerações de brasileiros com suas palha-çadas, vai deixar saudades. Partiu para o Oriente Eterno, em 10 de dezembro, em São Paulo, aos 96 anos de idade, o Sapientíssimo Irmão Roger Avan-zi, ou, como ficou conhecido no Brasil, o Palhaço Picolino, um dos palhaços mais velhos em ativi-dade no mundo. Ele dedicou mais de 70 anos de sua vida à Maçonaria e ao Rito REAA, onde era grau 33. Por uma coincidência, ele se despediu na data em que se comemorava o Dia do Palhaço.

O Sapientíssimo Irmão nasceu em 7 de novembro de 1922, na cidade de São José do Rio Preto, no circo de seu pai, Nerino Avanzi, quando fazia temporada na cidade. Acrobata, equilibris-ta, jóquei, músico, cantor, ator e, por fim, palha-ço, quando se tornou o Palhaço Picolino II (o pai foi o primeiro Picolino), Avanzi integrou o elenco do Circo Garcia, com o qual percorreu o Brasil.

Avanzi foi detentor de várias homenagens pro-fanas em vida, como a Ordem do Mérito Cultural outorgada pelo Ministério da Cultura; recebeu a Salva de Prata, a mais alta honraria concedida pela Câmara Municipal de São Paulo; e, nas hon-rarias maçônicas, recebeu a Ordem do Mérito D.

Pedro I. “A maior felicidade que todos os palha-ços têm é quando fazem uma graça e todas as cri-anças caem na gargalhada. É a coisa mais linda

do mundo”, disse certa vez. O Sapientíssimo era membro da ARLS Integração Sul-Americana nº 2.123, do Oriente de São Paulo.

Sapientíssimo Irmão Roger Avanzi,o Palhaço Picolino, morre aos 96 anos

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06 Janeiro de 2019

O que é que a motivou para se tornar Maçom?

O meu pai era Maçom e adorava sê-lo. Ele aderiu já tarde demais na vida, mas fez alguns amigos maravilhosos. Significava muito para ele, pertencer. A minha mãe aderiu a seu pedido e o meu marido também, e eu sabia muito sobre isso. A minha mãe pediu-me para aderir, e então decidi entrar na Loja Constance Leaver, nº 39, em Marble Arch. Eu sou Maçom há 42 anos e nunca me arrependi, nem por um minuto.

Tornou-se Grã-Mestra em 2014. O que pensa disso?

Atualmente dedico-me quase 24h / 7 dias por semana. Estou sempre disponível através do telefone e nas Redes Sociais, à procura de oportunidades para promover a Ordem. Eu tive uma ascensão bastante rápida depois de vários anos como uma “irmã azul pálido”. A minha primeira escritório foi como um Grande Mestre de Cerimónias e nessa altura e já fazia da Maço-naria a minha vida. Acho que eles reconhece-ram que eu era dedicada. Não se pode assumir as responsabilidades de uma Grã-Mestra sem

se dedicar a 100%.

Quais são as origens da Maçonaria Femi-nina?

Os antigos mitos falam em mulheres inquisi-tivas sendo descobertas escondidas em armári-os de estalagem, relógios de pêndulo e tábuas do assoalho – e que elas foram feitas Maçons para proteger os segredos – é divertido, mas nenhuma dessas mulheres desenvolveu a Maço-naria Feminina.

Começou na França pré-revolucionária do século XVIII com os Lojas de Adopção, que eram entidades maçônicas femininas sob a adopção de lojas masculinas. Quando a Revo-lução Francesa chegou, todas essas lojas desa-pareceram, pelo menos metaforicamente. No entanto, as mulheres estavam na vanguarda da sociedade intelectual francesa e Maria Derais-mes, uma conhecida escritora e defensora dos direitos das mulheres, foi convidada para se tornar membro pleno direito da Loge des Libres Penseurs, integrada na Grand Loge Symbolique de França. A sua iniciação em 1882 causou um cisma; então esta loja e outras nove separaram-se para formar uma nova Gran-

de Loja chamada La Grande Loge Symbolique Ecossaise. E um novo movimento paralelo foi formado que acabou por se tornar conhecido como Le Droit Humain, ou a the International Order of Co-Masonry.

Não muito depois disso, a feminista radical Annie Besant viajou para França para se juntar a este movimento e quando voltou a Inglaterra, decidiu formar a British Federation of the Inter-national Order of Co-Masonry em 1902, e per-maneceu a sua líder até sua morte em 1933. No entanto, na verdadeira forma maçónica, houve uma ruptura por parte dos membros que queri-am que a sua Maçonaria seguisse linhas simila-res às da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE). Assim, em 1908, formou-se uma nova Grande Loja, chamada Honourable Fra-ternity of Antient Masonry (HFAM), embora mais tarde acrescentassem The Order of Women Freemasons ao título e agora são geral-mente referidas como OWF. Até este ponto, as maçons do sexo feminino tinham usado o termo “irmã”, mas agora decidiram que, como membros de uma irmandade universal, era mais adequado serem chamadas de “irmão”.

Entrevista com Christine Chapman Tendo as suas raízes na reforma social, a Honourable Fraternity of Ancient Freemasons, também conhecida como Maçonaria Feminina, é uma força a considerar – diz Christine Chapman.

Christine Chapman

Continua...

Grã-Mestra da Honourable Fraternity of Ancient Freemasons

ENTREVISTA

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Janeiro de 2019 07GERALQue tipos de Maçonaria eram pratica-

dos na Honourable Fraternity of Antient Masonry?

Nos primeiros cinco anos da sua existên-cia, elas praticavam apenas os graus de Azuis (Craft), mas alguns membros queri-am introduzir o Arco Real. Tendo recebido o grau de ex-membros de um capítulo existen-te da UGLE, elas formaram um capítulo para praticar o Arco Real. Mas a Grande Loja do HFAM decretou que ainda não era tempo para esta introdução.

Então, em 27 de Novembro de 1913, Eli-zabeth Boswell Reid e sua filha, Lily Seton Challen, montaram a sua própria Grande Loja que ficou a ser conhecida como The Honourable Fraternity of Ancient Freema-sons, ou HFAF, que é minha Grande Loja. Elizabeth Boswell Reid tornou-se a nossa primeira Grã-Mestre. Assim, em 1913, tínhamos três Grandes Lojas maçônicas que admitiam homens e mulheres, embora as mulheres superassem em número os homens tanto no HFAM como no HFAF. Por fim, essas fraternidades decidiram tornar-se “de um só sexo” e, em 1933, atingimos esse objetivo no HFAF.

Então, a HFAF foi fundada numa onda de mudança social em 1913?

Nós fomos inspiradas pelas sufragistas e fomos fundadas numa onda de rebelião, por-que nos separamos de um outro grupo. Mas todos foram fundados com os mesmos prin-cípios – capacitar as mulheres. Nós tivemos uma sufragista que eu conheço – Helen Fra-ser, uma grande oradora que inspirou mulhe-res a se juntarem ao movimento sufragista.

Qual é a diferença entre a HFAF e a OWF?

A OWF é muito maior que nós. Mas gos-tamos de pensar que somos mais flexíveis e podemos reagir mais rapidamente a iniciati-vas e aproveitar oportunidades. Carpe Diemé um dos meus mantras e outro é que não há problemas, apenas soluções. Considere a consagração da nossa Loja em New Delhi. Tivemos uma senhora indiana que veio para o Reino Unido, juntou-se a uma loja e fez os seus graus porque estava determinada a levar a Maçonaria para a Índia. Mas ela não

conseguiu que outras mulheres indianas fos-sem a Inglaterra para receber formação. Então nós fomos lá para fazer acontecer.

Quais são os equívocos acerca da Maço-naria Feminina?

Às vezes, deparamo-nos com homens que não pensam que poderemos estar a fazer isto ao mesmo nível do que eles. Então tivemos de lutar contra isso. Hoje em dia eles são muito mais favoráveis e a Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE) é em particular. Nós também temos de lutar contra pessoas que pensam que estamos chateadas por não nos podermos juntar aos homens. Na HFAF, queremos trabalhar como mulheres, para uma organização de mulheres, fazendo coi-sas para mulheres. Temos um ditado: é um pouco como o futebol – o mesmo jogo, as mesmas regras, mas equipas diferentes.

Como é o vosso relacionamento com a UGLE?

Nós temos uma relação de trabalho muito boa. Considere a Política sobre Mudança de Género; nós trabalhamos juntos nisso. A nossa política espelha a da UGLE, portanto, se algum dos nossos membros se quiser tor-nar um homem, ele poderá continuar a ser um membro. E temos um acordo para aceitar

membros das organizações uns dos outros se eles se sentirem mais felizes numa organiza-ção repleta de membros do novo sexo. Tam-bém estamos a trabalhar com a UGLE no Sistema de Universidades desde 2016, pois os alunos agora exigem que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de se tor-narem maçons.

Que outras coisas estão a fazer, para fazer crescer o vosso número de mem-bros?

Aumentar o nosso número de membros é um processo lento, porque, para ser honesta, na medida em que obtemos novos membros, os membros mais antigos ou deixam de vir devido à velhice, ou porque já faleceram. Mas apesar de sermos pequenas, superamos o nosso peso com muita iniciativa e inova-ção. Temos lojas muito comprometidas e entusiasmadas no exterior, em Espanha, Gibraltar, Roménia e Índia, e no próximo ano será inaugurada uma loja em Washing-ton, DC.

Porque é que acha que as mulheres devem aderir à vossa Ordem?

Eu penso que, mesmo nos dias de hoje, as mulheres precisam de se sentir fortalecidas. a Maçonaria oferece isso ao tornar as mulhe-res confiantes, autoconscientes e autoconfi-antes. É um sistema maravilhoso de morali-dade e orientação para ajudá-las a levar uma vida melhor, alcançada por meio de alegori-as e simbolismos. As mulheres apreciam per-tencer a um grupo de outras mulheres. Espe-cialmente hoje, quando as pessoas têm cen-tenas de amigos on-line, mas podem não ter pessoas reais com quem possam se conectar. As mulheres levam a Maçonaria tão a sério quanto os homens. Posso dizer honestamen-te que a minha vida foi imensamente trans-formada por ser Maçom e membro da HFAF. Defenderei o direito das mulheres a serem maçons até o dia da minha morte.

Entrevista publicada na revista Free-masonry Today (FMT), pertencente à Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE)

Christine Chapman

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08 Janeiro de 2019

Pelo menos na Europa Continental, todas as Lojas maçónicas têm um Tronco da Viúva. O Tronco da Viúva não é mais do que um

fundo de reserva de meios monetários destinado a acorrer a situações de necessidade de maçons, de viúvas e filhos menores de maçons já falecidos e, de forma geral, a acções de beneficência.

Os fundos do Tronco da Viúva são exclusiva-mente obtidos mediante donativos dos obreiros da Loja e seus visitantes ou mediante acções de anga-riação de fundos a ele destinados – leilões, iniciati-vas sociais, etc..

Os fundos do Tronco da Viúva, tal como os demais valores da Loja, ficam à guarda do Tesou-reiro desta. Mas são separadamente contabilizados dos demais recursos da Loja e só podem ser usados para os referidos fins de auxílio ou beneficência. Os fundos do Tronco da Viúva só podem ser utili-zados por decisão do Venerável Mestre ou do Hos-pitaleiro, Oficiais da Loja em que esta delega o encargo de bem analisar as situações que justifi-quem a mobilização desses fundos. Pelo menos anualmente, o Hospitaleiro deve apresentar um

sucinto relatório sobre a situação do Tronco da Viúva e a aplicação dos seus fundos.

Em algumas Lojas, pode também existir uma Comissão de Beneficência, encarregada de estudar as acções da Loja neste campo. No Regulamento Interno da Loja Mestre Affonso Domingues está prevista a existência de uma Comissão de Benefi-cência, constituída pelo Venerável Mestre, pelo 2.º Vigilante e pelo Hospitaleiro. Na prática, porém, a sua activação não tem sido necessária, pois a tradi-ção da Loja de discutir abertamente em sessão de Loja todos os assuntos que a esta dizem respeito possibilita que todas as decisões importantes, neste como noutros campos, seja colectivamente apreciada perante o Venerável Mestre, em ordem a permitir-lhe a mais consensual decisão (ver o texto Decidir em Loja). No entanto, se entre sessões, o Venerável Mestre necessitar de tomar uma decisão urgente sobre assuntos de solidariedade, sabe quem deve, em primeira instância, consultar: o 2.º Vigilante e o Hospitaleiro, que consigo formam a Comissão de Beneficência. A estrutura existe, está prevista, só é accionada se e quando necessário.

Felizmente não tem havido situações de urgência que impusessem uma decisão antes de debate em Loja, mas, se e quando houver, já se sabe como proceder.

A designação de Tronco da Viúva tem a ver com a lenda da construção do Templo de Salomão, que foi dirigida por um arquitecto, de nome Hiram Abiff, que, na Bíblia, é referenciado como filho de uma viúva de Tiro. Hiram Abiff é, desde tempos imemoriais, o protagonista de uma alegoria que constitui o cerne da moralidade maçónica, a tal ponto que os maçons, nele se revendo, designam-se a si próprios por Filhos da Viúva. Alegorica-mente, nos tempos modernos, a Viúva será a Maço-naria, em especial na sua vertente de solidariedade e beneficência. O Tronco da Viúva é, pois, um dos alicerces da Maçonaria, o reservatório dos bens que lhe possibilitam despender fundos em acções de solidariedade e beneficência. É alimentado pelos seus filhos, os Filhos da Viúva, os maçons.

Externamente, e em cumprimento do comando da moral maçónica de que as acções de beneficên-cia devem ser praticadas discretamente, um maçon ou uma Loja Maçónica nunca revelam ou comen-tam ou divulgam quanto foi dado para esta ou aque-la acção, com quanto se contribuiu para aliviar a necessidade desta ou daquela pessoa. Isso é maté-ria que só interessa a quem disponibiliza a ajuda e a quem a recebe. A regra é simples e não tem de ser mais específica: em cada momento, deve dar-se o que se pode e seja preciso. Nem menos, nem mais.

A Loja Mestre Affonso Domingues procura manter, se possível, uma reserva mínima para poder acorrer a uma urgente necessidade de um Irmão, de uma viúva ou de um filho menor de um maçon falecido. Mas também nunca tem grande entesouramento no seu Tronco da Viúva. Não faz sentido guardar de mais, deixando necessidades que se podem aliviar sem alívio… Enfim, o Tronco da Viúva da Loja Mestre Affonso Domingues está sempre em equilíbrio instável… Nem demasiado leve (excepto quando tal for necessário), nem demasiado pesado. E é assim que o queremos!

In Blog “A Partir Pedra” – Adaptado de texto de Rui Bandeira (09.04.2008)

GERAL

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Janeiro de 2019 09GERAL

Escrito por Kennyo IsmailFonte: No Esquadro

Sol e a Lua, geralmente presentes em

Ocada lado da parede do Oriente e tendo entre eles o trono do Venerável Mestre,

destacados também no Painel de Aprendiz Maçom, sempre foram alvos das “especulações” dos estudiosos maçons. Aliás, com tanta especu-lação sobre a simbologia maçônica, fica fácil compreender o verdadeiro significado do termo “Maçonaria Especulativa”! Encontra-se de tudo por aí: Conforme alguns estudiosos de plantão, aquele Sol simboliza Mitras, Invictus, Horus, Rá ou Osíris, Hélio ou Apolo, a masculinidade, a Luz da Iniciação ou o símbolo do Oriente. Já a Lua quarto-crescente seria o feminino, o segredo a ser revelado, a busca pela verdade, a palavra perdida e prestes a ser encontrada, ou até mesmo a ressur-reição. Isso sem contar nas interpretações absur-das, que não merecem citação.

O fato que parece passar despercebido para muitos é que esse Sol e Lua são, na verdade, um

único símbolo. A mais clara evidência disso é que, seja na parede do Oriente ou no Painel de Aprendiz, eles aparecem sempre juntos, em tama-nhos iguais, na mesma altura e de lados opostos. Nunca se vê apenas um ou o outro, porque se trata de um símbolo só. Dessa forma, qualquer inter-pretação desses elementos realizada de forma separada já é um grande erro.

Temos no símbolo do Sol e Lua um dos símbo-los mais antigos da Maçonaria. Quando relacio-nados, o Sol é o emblema do meio-dia enquanto que a Lua é o emblema da meia-noite, ou seja, o início e o término dos trabalhos de todo maçom. O Venerável Mestre, estando entre o Sol e a Lua, demonstra que comanda os trabalhos naquele período. Esse simbolismo é creditado a Zoroas-tro, conforme muitos Rituais denunciam. Zoro-astro foi um importante profeta persa, considera-do como um dos principais mestres dos Antigos Mistérios, chamado por muitos de “pai do dualis-mo” e tido como precursor de muitos pensamen-tos comuns entre as três vertentes religiosas de Abraão: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. A

tradição diz que os trabalhos nos templos de Zoro-astro ocorriam do meio-dia à meia-noite, e que sua filosofia tinha por base a cosmologia. O antagonismo do dia e da noite, da claridade e da escuridão, era visto na natureza e no bem e o mal, presentes em cada ser humano.

Por que a Lua quarto-crescente?Porque a astronomia ensina que a Lua quarto-

crescente nasce ao meio-dia e se põe exatamente à meia-noite. Assim, quando o Sol está em seu zênite, ao meio-dia em ponto, é quando a Lua quarto-crescente nasce, a qual se põe à meia-noite em ponto. A lua quarto-crescente, tão importante para os Persas seguidores de Zoroas-tro, atravessou os milênios, tornando-se emble-ma da cultura árabe.

Esse fato não deixa dúvidas de que o símbolo do Sol e Lua na Maçonaria é realmente símbolo “do meio-dia à meia-noite” e de nada mais, ape-sar das especulações.

SOL & LUA NA MAÇONARIA

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10 Janeiro de 2019 SAÚDE

Pablo Uchoa BBC World Service

Nós todos sabemos que cenouras e brócolis são bons para a saúde, mas você passaria um dia inteiro

só comendo isso? Qualquer coisa em exces-so pode ter efeito negativo, mas nós fre-quentemente nos sentimos bem quando usamos equipamentos de tecnologia.

Em um dia normal, os usuários de internet gastam em média seis horas e meia online, segundo levantamento feito em 34 países pela empresa de dados GlobalWebIndex.

No Brasil, por exemplo, assim como na Tailândia e nas Filipinas, as pessoas chegam a ficar nove horas conectados, segundo a pes-quisa.

Um terço deste período é gasto apenas em redes sociais.

Mas, com tanto tempo de uso, o que a tecnologia pode causar ao nosso cérebro? O impacto à saúde física e mental já foi objeto de diversos estudos científi-cos.

Shimi Kang é um dos principais especialistas canadenses em saúde men-tal de crianças e adolescen-tes. Seu foco de estudo são os vícios.

"A tecnologia está cada vez mais ligada a problemas

como ansiedade, depressão e distúrbio de ima-gem corporal. Distúrbios provocados por vício em internet se tornaram um diagnóstico médico comum", disse à BBC.

Mas, assim como há diferentes tipos de comida, existem também vários tipos de tec-nologia - e, se nós quisermos ter uma relação saudável com eles, precisamos entender seus impactos em nosso cérebro e em nossa saúde.

Como o cérebro reage à tecnolo-gia?

Kang diz que o cérebro "metaboliza" a tec-nologia, normalmente liberando seis diferen-tes tipos de substâncias neuroquímicas no corpo: serotonina, endorfina, ocitocina, dopa-mina, adrenalina e cortisol.

Portanto, nem toda experiência com tecno-logia é a mesma.

Tecnologia tóxica e lixo"Tecnologia saudável é algo que poderia

dar a nós um metabolismo com serotonina, endorfina e ocitocina", diz Kang.

Alguns exemplos são aplicativos de medi-tação, criatividade e de conexão de pessoas - esses nos ajudam a conhecer outras pessoas.

"Digamos que exista um aplicativo de cria-tividade e seu filho ame fazer vídeos com ele. O problema é que as pessoas passam seis, sete horas por dia fazendo isso. Um aplicativo como esse não seria uma coisa ruim, como Candy Crush, porque ele liberaria dopamina. Mas você precisaria tomar cuidado para não passar dos limites", diz Kang.

A especialista argumenta que a "tecnologia junk" só ajuda a autodestruição. Ela compara esse tipo de ferramentas com "junk food",

que comemos normalmen-te quando estamos estres-sados.

"Eu diria que são como as coisas tóxicas com as que devemos nos preocu-par: pornografia, cyber-bullying, videogames vici-antes projetados como máquinas caça-níqueis, ou mesmo se envolver com discursos de ódio.

Por que um 'jejum tecnológico' deveriaestar entre suas resoluções de Ano Novo

Assim como devemos melhorar a alimentação, também seria bom diminuir o tempo que ficamos conectados, segundo especialistas

Continua...A tecnologia nos ajuda em muitos momentos da vida, mas ela pode ser tóxica se usada em demasia

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Janeiro de 2019 11

Dieta tecnológicaSegundo Kang, para dar certo, uma

pessoa que faça dieta tecnológica sau-dável deve se manter longe de qual-quer ferramenta "tóxica". Ela diz, no entanto, que é possível furar o regime de vez em quando, desde que seja com moderação.

Funciona como uma dieta comum. Todos nós somos aconselhados a evi-tar alimentos processados e bebidas açucaradas, mas geralmente damos um desconto e comemos uma pizza ou pipoca em uma noite de sexta-feira.

Da mesma forma, não há muito pro-blema em olhar o Instagram de vez em quando ou ficar alguns minutinhos jogando videogame, diz a especialis-ta.

Por outro lado, se você é diabético ou tem propensão a ter a doença, seu médi-co terá uma recomendação mais rigoro-sa sobre controlar o consumo de açúcar.

O mesmo vale para a tecnologia, diz Kang.

"Se sua família tem pessoas com his-tórico de vícios, ansiedade, depressão ou problemas de administração do tempo, por exemplo, é melhor tomar cuidado, porque você tem mais chances de se con-verter em um dependente de tecnologia tóxica", diz.

Os adolescentes, em particular, são mais vulneráveis ao vício tecnológico e já existem pesquisas suficientes para identificar quem tem mais propensão a

ter problemas online.

'Detox digital'O acesso à internet e os smartphones

ainda estão se expandindo pelo mundo, mas já parece haver certa resistência ao estilo de vida constantemente conecta-do.

Segundo a GlobalWebIndex, 7 em cada 10 usuários de internet no Reino Unido e nos Estados Unidos dizem já ter adotado alguma "dieta" ou uma "desin-toxicação digital completa".

Esse "detox" passa, por exemplo, por excluir alguma conta em rede social ou mesmo deletar aplicativos com o objeti-vo de gastar menos tempo online.

"O uso da tecnologia precisa levar em conta todas as nossas necessidades bási-cas", diz a especialista Shimi Kang. "Nós precisamos dormir oito ou nove horas por noite, fazer exercícios físicos diários, nos movimentar, nos alongar, sair e tomar alguma luz natural."

"Mesmo que você use o melhor da tec-nologia, ferramentas não tóxicas, se você estiver fazendo isso em detrimento de outras atividades humanas básicas, então você tem um problema", adverte.

A tecnologia está cada vez mais projetada para desencadear a liberação de dopamina, um neuroquímico de prazer que também está ligado ao vício

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12 Janeiro de 2019

Um tipo de célula que o corpo usa para destruir o tecido tumoral fica entupida por gordura e para de funcionar, afir-

mou a equipe do Trinity College Dublin, na Irlanda.

A obesidade é a maior causa de câncer passí-vel de prevenção no Reino Unido depois do fumo, segundo a organização Cancer Research UK, dedicada a pesquisas de combate à doen-ça.

Mais de 1 em cada 20 casos de câncer - cerca de 22,8 mil por ano no Reino Unido - são moti-vados por excesso de peso corporal.

Especialistas já suspeitavam que a gordura enviava sinais ao corpo que poderiam danificar as células, levando ao câncer, e favorecer sua multiplicação.

Agora, cientistas conseguiram mostrar, em um estudo publicado na revista Nature Immu-nology, como as células que combatem o cân-cer ficam obstruídas pela gordura.

Eles esperam criar tratamentos para restau-rar as habilidades destas células para que vol-tem a ser "assassinas naturais" de tumores.

"Um composto que bloqueie a absorção de gordura por estas células pode ajudar. Tenta-mos em laboratório e descobrimos que isso per-mite que elas voltem a matar um câncer", diz a pesquisadora Lydia Lynch.

Obesidade aumenta o risco de 13 tipos de câncer

Mas a melhor maneira de ter este efeito é "sem dúvida" perder peso, afirma Lynch: "De qualquer maneira, isso é mais saudável".

Leo Carlin, do Instituto Beatson da Cancer Research UK, diz que embora cientistas sai-bam que a obesidade aumenta o risco de 13 tipos diferentes de câncer, "ainda não se enten-de completamente os mecanismos desse víncu-lo".

O cientista afirma que o novo estudo revela como as moléculas de gordura impedem as células do sistema imunológico de atuarem corretamente para matar tumores, além de abrir novos caminhos para desenvolver tratamentos.

"Muitas pesquisas se concentram em como os tumores crescem a fim de achar formas de detê-los, mas esta pesquisa nos mostra que devemos levar também em consideração o metabolismo das células do sistema imunoló-gico."

Prevenindo o câncerPara reduzir o risco:- Mantenha um peso saudável;- Pare de fumar;- Tenha uma boa dieta;- Reduza o consumo de álcool;- Evite queimaduras solares.

Câncer: célula obstruída por gordura épossível elo entre obesidade e a doençaUma nova descoberta pode explicar por que pessoas obesas têm maior probabilidade de desenvolver câncer, dizem cientistas.

Excesso de peso corporal eleva o risco de mais de uma dezena de tipos de câncer

SAÚDE

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Janeiro de 2019 13GERAL

O tema é apenas parte do slogan adotado pela Chapa Evolução, por ocasião das eleições na GLMMG. A autoria é do Sereníssimo Grão-

Mestre, Irmão Edilson de Oliveira e tem norteado os trabalhos do Grão-Mestrado 2018/2021.

“Façamos dos sonhos nossas metas e das dificulda-des os desafios a serem vencidos”.

Em poucas horas estaremos encerrando o ano de 2018 e iniciando o ciclo de 2019. Qual deve ser a atitu-de maçônica neste período?

Ou, qual deve ser o elemento alegórico que a Maço-naria reservou em suas tradições simbólicas, para que possamos trabalhar tudo que envolve o inicio de uma nova oportunidade?

Este elemento é a Prancha de Delinear! Conforme o rito é também chamada de “Prancheta” e até de “Pe-dra de Riscar”.

Nada mais é do que a plataforma onde são delinea-dos, traçados, desenhados, escritos os projetos, as formas, os detalhes e as instruções para a construção.

Este elemento carrega instruções profundas, que podem passar despercebidas; Primeiro: tem o título de “JÓIA”, ou seja, “ALGO DE MUITO VALOR”. Segundo: é considerada uma “Jóia FIXA”, portanto, não pode ser retirada, passando a mensagem que se trata de símbolo IMPRESCINDÍVEL na composição do Templo.

Sob o ponto de vista da simbologia, cabe-nos a pergunta: - O que é o verdadeiro Templo para o Maçom?

Certamente haverá a resposta que é o “Templo Inte-rior” seguida do gesto de encostar a mão no peito. Mas, é necessário esclarecer que este Templo Interior não é o corpo.

O CORPO É APENAS A ESTRUTURA MATERIAL USADA PARA A CONSTRUÇÃO DE U M E S PA Ç O S A C R O , Q U E V I S A O FORTALECIMENTO DA ALMA E DO ESPÍRITO.

Nesta perspectiva, devemos incorporar a Prancha de Delinear em nossa vida. Devemos ter um rigoroso planejamento da nossa vida.

O futuro não é simplesmente uma incógnita. Mui-tas vezes, ele é uma simples conseqüência.

Na Maçonaria, não há elementos ou símbolos que, uma vez estudados, nos darão a previsão do futuro. Mas, há praticas cotidianas que fortalecem o Maçom diante da obscuridade de todos nós sobre o que está por acontecer.

Há ainda outra sutil instrução. A estrutura física da “Prancha de Delinear” é apresentada sem os planos ou com uma “chave” para decifrar os planos. A mensa-gem diz da “reserva” e da “discrição” com as quais devemos conduzir a nossa vida.

Nossos planos são nossos. Portanto, só cabe a nós mesmos conhecê-los. Edifique em silêncio, eduque pelo exemplo e corrija pelo amor.

Permita-me uma nova leitura da instrução: A Pran-cha é elemento do Mestre, seu conhecimento não cabe aos Aprendizes e Companheiros. Assim o é no Templo Maçônico, mas no Templo Interior, indiferente do grau, somos nós os Mestres que traçamos os planos que erguem Templos à NOSSA VIRTUDE e Masmor-ras aos NOSSOS VÍCIOS.

DEDICO este artigo a todos os homens e mulheres que, em 2019, construirão um lar melhor, uma socie-dade melhor, um País melhor e contribuirão para uma humanidade mais feliz, tendo como meta realizar sonhos e compreender que as dificuldades são desafi-os que nos fortalecem.

Sinto muito. Me perdoe. Sou grato. Te amo. Vamos em Frente!

Neste décimo segundo ano de compartilhamento de instruções maçônicas, mantemos a intenção pri-maz de fomentar os Irmãos a desenvolverem o tema tratado e apresentarem Prancha de Arquitetura, enri-quecendo o Quarto-de-Hora-de-Estudos das Lojas.

Precisamos incentivar os Obreiros da Arte Real ao salutar hábito da leitura como ferramenta de enlevo cultural, moral, ético e de formação maçônico.

FraternalmenteSérgio QuirinoGrande Primeiro Vigilante GLMMG

SONHOS SÃO METAS, DIFICULDADES SÃO DESAFIOS

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14 Janeiro de 2019

Por Derildo Martins da Costa ARLS Luz do Planalto Or\de Serra – ES

os círculos de gestão de pessoas, quan-Ndo o assunto é motivação, ainda é possí-vel ouvir-se uma velha lenda segundo a

qual uma pessoa entra num jardim onde dois homens trabalhavam na jardinagem. Querendo perceber o estado de espírito de cada um, o homem aproximou-se do mais próximo e pergun-tou-lhe o que estava a fazer.

O homem respondeu com outra pergunta:– Não vê que eu estou a cortar os ramos das

árvores?Da mesma forma, com o mesmo tom e com as

mesmas palavras, repetiu a pergunta para o segundo jardineiro tendo obtido a seguinte res-posta:

– Estou a preparar este jardim para que ele sirva de fonte de paz, de inspiração e de harmonia para todas as pessoas que visitarem esta casa.

Fisicamente, ambos podavam as plantas, mas espiritualmente um estava muito aquém da poda enquanto que o outro estava muito além. O prime-iro cumpria com a sua obrigação; o segundo bus-cava um objectivo voltado para a satisfação das pessoas.

Por certo, ambos recebiam a mesma remunera-ção… A diferença entre uma resposta e outra está no estado de espírito com que cada um está execu-tando a sua tarefa. Ao primeiro falta entusiasmo; ao segundo o entusiasmo abunda.

Entusiasmo, segundo o dicionário, é uma pala-vra que vem do grego enthousiasmós que leva à ideia de êxtase e, na medida que se aproxima dos tempos actuais, passa pelo sentido de veemência, vigor, flama, exaltação. Para Caudas Aulete, um dos conceitos é “Sentimento caloroso de adesão a uma ideia, tarefa, trabalho etc., que leva ao opti-mismo e a uma actuação enérgica e dedicada”. Mas, quando regredimos no tempo, o conceito ganha sentido místico e é entendido como trans-cendência e chega até ao seu sentido original que seria Deus em si. O próprio Caudas Aulete assim define: “Em religiões pagãs da Antiguidade, estado de exaltação emotiva de quem recebia de

um deus o dom da profecia”.Na mesma linha, Aurélio diz-nos que é “exal-

tação ou arrebatamento extraordinário daqueles que estavam sob inspiração divina, como as sibi-las, etc.; transe, transporte”.

Num conceito materialista, entusiasmo é força, garra, disposição, dedicação, fervor. Num concei-to mais para a metafísica, entusiasmo está ligado a um estado de espírito que impele a pessoa a obter sucesso nos objectivos por ele perseguidos. Ao admitir no conceito a ideia de Deus em si (gr. En + theos = em Deus) os conceitos físicos são potenci-ados por força transcendental e ganham o poder de alcançar os objectivos.

O segundo jardineiro consegue encantar as pessoas que entram no jardim e desarmá-los de quaisquer ânimos que atrapalhem a harmonia; já o primeiro, corta os ramos, apenas corta os ramos e nem sequer leva à planta os benefícios da poda.

A loja é a célula da maçonaria, instituição secu-lar para uns, milenar para outros, mas uma institu-ição que na nossa era produz bons frutos. É uma organização voltada para paz, a concórdia, o desenvolvimento intelectual e moral do ser huma-no. Por si só isto já é um bem grandioso para a humanidade.

Como célula, a loja encerra em si todo gene da maçonaria seguindo a orientação que vem da sua potência. (É lamentável dizer que vem da sua potência para deixar claro que há mais de uma potência, o que nos desperta a certeza de que houve cisões o que para nós é um paradoxo posto que cisão e maçonaria não se combinam). Mas a loja desenvolve a actividade celular da sua potên-cia.

Se perguntarem o que vimos aqui fazer, a nossa resposta não pode ser como a do primeiro jardine-iro que, se estivesse em loja, limitar-se-ia a proce-der a leitura de um ritual como se estivesse a mos-trar à professora que já sabe ler palavra por pala-vra, sem contudo se preocupar com o significado de cada uma. As palavras estão no ritual mas o timbre de voz, a eloquência, está no coração de quem as lê e é o coração que dá vida à palavra. Desta forma a gente convence-se do que está dizendo e, findos os trabalhos de loja, imediata-

mente têm de se iniciar os trabalhos de maçonaria, a busca de uma sociedade melhor. Aos vícios opõem-se ora com uma orientação, ora com um conselho, ora com uma denúncia. As virtudes, essas merecem um templo que se ergue a cada assentimento, a cada elogio, a cada recomenda-ção, a cada ajuda.

É preciso entusiasmo nos trabalhos de loja posto que só as pessoas entusiasmadas são capa-zes de vencer desafios do cotidiano. E por quotidi-ano devemos entender as vinte e quatro horas do dia. Logo, o quotidiano está no nosso trabalho, na nossa família, no nosso desporto ou lazer.

O entusiasmo é contagiante: Quando se lê o ritual de tal forma que convencemos de que se tem de tornar realidade aquilo que está a ser lido, con-vence também o irmão que o está ouvindo. Daí o verbo entusiasmar que significa provocar entusi-asmo em alguém. Mas como transmitir calor se se está frio? Só é capaz de entusiasmar aquele que está cheio de entusiasmo. E neste caso específico, não dá para enganar. Bater palmas, gritar “vamos à luta”, sem entusiasmo, é muito pouco ou quase nada.

A loja precisa de entusiasmo até por uma ques-tão de sobrevivência: Honoré Balzac teria dito que “O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo”. Isto é plenamente aplicável à loja. O marasmo da repetição semanal de um texto que não nos instiga à luta não deixa de ser uma morte lenta e gradual.

Precisamos de entender o texto do ritual na sua acepção lendo na mesma entonação de quem o escreveu para ter nele o real significado da maço-naria. Nem tudo será fácil, nem toda batalha vito-riosa, mas vale a pena acreditar na afirmação de Winston Churchill quando disse que “o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusias-mo”.

E, como começamos com a alegoria num jar-dim, nesta mesma linha permitimo-nos dizer que, se um ou outro galho descompõe o jardim, quebra a harmonia, opõe obstáculos, obsta o entusiasmo, há de ser podado.

Entusiasmo em Loja

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Janeiro de 2019 15

No último ano presenciamos um debate acalo-rado sobre a questão da intervisitação e sua proibição nas Lojas não constantes do “List

Of Lodges”. Irmãos bradando que “somos todos irmãos”, que “a maçonaria não tem fronteiras”, que “se submeter aos critérios de reconhecimento da GLUI é abrir mão da soberania”, dentre outras mani-festações. Mas a questão não é tão simples assim.

Toda Loja Maçônica do Grande Oriente do Brasil tem dentre seus Deveres o de “identificar os visitan-tes pelo exame de praxe ou pela apresentação de suas credenciais maçônicas, salvo se apresentados por membro de seu Quadro” e dentre suas Proibições a de “admitir em seus trabalhos Maçons irregulares”. Note-se que a proibição é geral quanto a não admissão de irregulares, sejam eles do GOB ou de qualquer outra potência. Ora, como saber se um maçom é irre-gular ou não ? Se for do GOB é bem mais fácil. Basta ler o QR Code do GOB Card que se tem acesso “on line” aos dados do Irmão no cadastro geral do GOB, com situação (regular ou não), graus e datas de cola-ção, etc. Concomitantemente temos o exame pelos sinais, toques e palavras, dentre estas a Palavra Semestral.

Mas e no caso de Irmãos de outra potência ? Como saber se está regular ? Examinar pelos sinais, toques e palavras ? Examinar documentos emitidos por outras potências que não temos como apurar sua veracidade ? Acreditar num Irmão do quadro que alegue conhecer

o visitante ? Lembrando que muitas vezes esse Irmão apresentante acabou de conhecer o visitante e está se fiando unicamente da palavra dele. Para piorar a situação, a Palavra Semestral é diferente de uma potência para outra.

Segundo o Irmão José Castellani, em suas “Análi-ses da Constituição de Anderson”, a legislação tradi-cional maçônica é composta por cinco documentos básicos:

1 - A Constituição compilada em Londres por James Anderson e publicada em 1723, contendo os antigos usos e costumes acrescidos de normas admi-nistrativas, fundamentais para normatizar a Primeira Grande Loja fundada em 1717 que mais tarde seria conhecida como dos “Modernos”. Essa Constituição é o instrumento jurídico básico da moderna maçona-ria.

2 - A Constituição elaborada por Laurence Der-mott, publicada em 1756, para a Grande Loja dos “Antigos” fundada em 1751.

3 - A Constituição de Anderson reformada em 1815 que serviu de base a Grande Loja Unida da Inglaterra surgida em 1813 com a fusão da dos “Modernos” com a dos “Antigos”.

4 - Os Landmarques.5 - Os oito Princípios de Regularidade para reco-

nhecimento de Obediências e de Lojas divulgados pela Grande Loja Unida da Inglaterra em 1929, funda-mentados na Constituição de Anderson.

A Grande Loja Unida da Inglaterra é a Grande Loja Mãe do Mundo ! Portanto, obter o seu reconhecimen-to é como ter o seu registro aceito no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. O Grande Oriente do Brasil obteve o reconhecimento da GLUI em 06 de maio de 1935 com a assinatura do Tratado e Convênio de Aliança Fraternal. Uma curiosidade desse Tratado foi a permissão para a existência de Lojas em territó-rio brasileiro subordinadas diretamente a GLUI. Para

aqueles que levantam a bandeira da soberania essa permissão é bastante incômoda ...

Há que existir algum órgão supranacional que cer-tifique, que reconheça quais potências/obediências preenchem os requisitos para que seus membros rece-bam a qualificação de maçom. Na inexistência de uma Organização das Nações Maçônicas Unidas, a Grande Loja Unida da Inglaterra exerce esse papel. Portanto, se sujeitar a obter o reconhecimento da GLUI não é, de forma alguma, abrir mão da soberania em sua juri-dição. Tanto a ONU quanto a GLUI tem critérios para aceitar / reconhecer, respectivamente, novos mem-bros.

Algum tipo de controle há de existir. Do contrário seremos forçados a admitir em nossas sessões qual-quer um que domine os sinais, toques e palavras. O que não é difícil em tempos de internet. Aqui me chama a atenção aqueles Irmãos que bradam a favor da intervisitação com potências/obediências não reco-nhecidas. A adentrarmos por esse caminho também deveremos aceitar em nosso meio qualquer um que se intitule maçom, seja lá onde adquiriu esse conheci-mento, seja numa Loja física irregular ou numa Loja virtual da internet.

Muito embora não haja uma obrigatoriedade de prévio reconhecimento de uma potência/obediência pela GLUI para que o Grande Oriente do Brasil tam-bém reconheça, entendemos que enquanto não criada uma instituição supranacional que fique encarregada desse reconhecimento, a GLUI deve ser o parâmetro para tal mister.

Constam no List of Lodges, edição 2018, as seguintes Potências/Obediências sediadas no Brasil: O Grande Oriente do Brasil e suas subdivisões admi-nistrativas (Os Grão Mestrados Estaduais a ele Fede-rados), as 27 Grandes Lojas Estaduais/Distritais con-federadas na CMSB (Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil) e 02 Grandes Orientes Estaduais (Mato Grosso e Rio Grande do Sul) confederados na COMAB (Confederação Maçônica do Brasil). Para a edição de 2019 está prevista a inclusão de mais dois Grandes Orientes confederados à COMAB: Paraná e Santa Catarina. É bem verdade que o List Of Lodges não é editado pela GLUI, mas sim por uma empresa sediada nos Estados Unidos da América que segue alguns critérios para considerar regular uma potên-cia/obediência maçônica, dentre eles ser reconhecida por pelo menos dez das cinquenta e uma Grandes Lojas Americanas, o que consideramos um critério razoável levando-se em conta a descendência direta das Grandes Lojas Americanas da GLUI.

Como se vê, falta a criação de uma Organização das Nações Maçônicas Unidas para colocar ordem no caos. Enquanto isso, vamos nos virando com os oito Princípios de Regularidade para reconhecimento de Obediências e de Lojas divulgados pela Grande Loja Unida da Inglaterra em 1929 e pelas edições anuais do List Of Lodges. Ficar sem critério algum é que não pode, sob pena de recebermos “maçons” iniciados na internet em nossas Lojas. Outra opção é aceitar a exis-tência de maçons autodidatas, se chegarmos a esse ponto podemos esquecer a questão da regularidade.

GLUI – Grande Loja Unida da Inglaterra = UGLE – United Grand Lodge of England.

Vamos a todo custo e nunca a qualquer custo !!!Carlos Magno Monteiro Freitas – CIM 162.053Deputado Estadual ARLS Vale do Itapemirim –

Marataízes (ES)Presidente da PAEL GOB (ES) no Período Legis-

lativo 2007/2011Venerável Mestre da ARLS Vale do Itapemirim

de 1999/2003

Carlos Magno Monteiro FreitasDeputado Estadual PAEL - ES

Marataizes - ES

OPINIÃO

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16 Janeiro de 2019 GERAL

associação foi fundada em 6

Ade Outubro de 2012, em São Paulo, contando com a partici-

pação de 14 médicos de diferentes potências e 4 não médicos, alinhados com os ideais e propósitos da Socie-dade. Presentemente a Associação já conta com médicos maçons oriundos de 13 estados Brasileiros, tendo já realizado vários encontros, cada vez mais participados

A AMEM é uma sociedade para-maçónica independente, legalmente constituída, filantrópica e sem fins lucrativos, com sede na cidade de São Paulo, que pretende abrigar nas suas fileiras médicos maçons de todas as Potências, indistintamente, buscando a sua união fraterna e subs-tancial. A AMEM pretende veicular informações de pesquisas médicas recentes, temas maçônicos e outros que possam ser relevantes para a Sociedade e para os seus membros, visando estimular a filantropia a ser desenvolvida por seus afiliados, con-forme os preceitos maçônicos, assim como ampliar o conhecimento maçô-nico entre seus associados.

A organização tem como Objeto Social promover a união fraterna dos médicos maçons do país, de todas as Potências Maçônicas reconhecidas, com o objetivo de congregar a cate-

goria no terreno científico, ético, soci-al, econômico, cultural e maçônico. Com isto, visa:

1. contribuir para a elaboração da política de saúde e aperfeiçoa-mento do sistema médico assis-tencial do país e maçônico, rea-lizando acordos, convénios ou parcerias com pessoas jurídi-cas, pública ou privada, nacio-nal ou estrangeira, desde que compatíveis com os princípios basilares maçônicos.

2. orientar a família maçónica quanto aos problemas da assis-tência médica, preservação e recuperação da saúde;

3. utilizar de todos os recursos de comunicação ao seu alcance para promover e divulgar conhecimentos humanos, em especial aqueles ligados à Maço-naria, à saúde e aos médicos;

4. defender, em juízo ou fora dele, os interesses de seus associa-dos, desde que tais interesses possam ser caracterizados como coletivos ou difusos e pos-sam acarretar benefícios dire-tos ou indiretos, para a classe médica maçónica, como um todo;

5. fomentar o ensino médico e maçônico entre seus associa-

dos;6. editar publicações por conta

própria ou por meio de tercei-ros, tais como: revistas, jornais, encartes, boletins e informati-vos, virtuais ou impressos, diri-gidos à classe médica maçónica ou à família maçónica, com o intuito de divulgar os conheci-mentos relacionados à Maçona-ria, à saúde e de interesse da classe médica maçónica;

7. promover, quando possível, pla-nos securitários e previdenciá-rios para os associados e à famí-lia maçônica;

8. promover socialmente as mino-rias e excluídos priorizando o seu desenvolvimento, o comba-te à pobreza, dentro dos eleva-dos princípios da Fraternidade Maçónica e Filantropia;

9. promover entre seus associa-dos, a ética, a paz, a cidadania, os direitos humanos, a demo-cracia, do livre arbítrio e de todos os valores universais maçônicos.

A AMEM pode ser contactada

Conheça a Associação de Médicos Maçons (AMEM)

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Janeiro de 2019 17

A tentativa de personificar Deus ou tentar consubstanciá-lo em senti-mentos e ações é uma experiência

comum a todas as sociedades humanas.Esta prática de cunho pedagógico é exer-

cida há milhares de anos, sempre com a intenção de facilitar a compreensão dos valo-res divinos, por meio de elementos alegóri-cos enraizados naquela cultura que pretende prestar o culto.

Um dos deuses mais cultuados do hindu-ísmo é Ganesha: O deus que remove obstá-culos. Sua representação material é um ser com a cabeça de elefante.

No Egito Antigo, Anúbis era um deus com cabeça de chacal e corpo de homem, respon-sável pelo reino dos mortos antes do assassi-nato de Osíris.

Tengu, no Japão é um pássaro monstruo-so, que, no passado, carregava o estigma de ser inimigo dos budistas por corromper os Monges. Atualmente, é venerado como pro-tetor das florestas e montanhas sagradas.

Fenômenos da natureza, elementos do Universo e sentimentos são os mais usados para personificar e caracterizar entidades divinas.

Devido à herança judaico-cristã de nossa civilização, Deus está mais relacionado às ações e sentimentos elevados do que, propri-amente, à sua forma material.

O próprio Livro da Lei ensina que não há como materializar Deus; “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o ado-rem em espírito e em verdade". (João 4:24)

Nesta linha de pensamento cristão, o Apos-tolo João é muito perspicaz: “Esta é a men-sagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma. (João 1:5) e “Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor.” (João 4:8)

Não sendo a Maçonaria uma religião, não há cultos a divindades. Mas, sacraliza-se o que é humanamente justo, perfeito, de eleva-da moral, ético e que promova o enlevo do homem e a felicidade da humanidade.

Qual seria, então, o maior atributo huma-no com o qual poderíamos personificar Deus?

- DEUS É TRABALHO!A história da humanidade começa com o

trabalho de transformar o caos em ordem. A criação do mundo e de tudo mais é fruto de um trabalho de seis dias. O equilíbrio e a har-monia do Universo resultam das forças de cada astro e de cada ser empenhados em sua

função e posição.Jamais devemos perder de vista que “Ma-

çom” é apenas um título. Nossa real condi-ção deve ser de Obreiros (trabalhadores) sob os influxos da Maçonaria.

Malho, alavanca e cinzel são usados por pedreiros (freemasom). Se fossemos carpin-teiros (free carpenters) usaríamos o macha-do como instrumento da correta aplicação de força e poder, a serra representaria a paciên-cia e a inteligência para suplantar os proble-mas e a plaina seria usada para retirar as aspe-reza advindas da ignorância e preconceitos.

Esta substituição imaginária de elementos simbólicos deve ser feita permanentemente por todos nós. Cada Irmão deve estar atento "as ferramentas" que o rodeiam em sua vida, para com elas trabalhar em prol da socieda-de.

P R O VAV E L M E N T E , O I R M Ã O

J Á T E V E C O N T A T O C O M A EXPRESSÃO DE SÃO BENTO DE NÚRCIA:

“ORA ET LABORA” (rezar e trabalhar).PARA O MAÇOM, A EXPRESSÃO É:

“LABORARE EST ORARE” (até o trabalho, se feito com a intenção

correta, é, em si, uma oração)CONCLAMO por este artigo, a que todos

os Irmãos assumam sua condição de Cons-

trutores Sociais. Não há necessidade de gran-des projetos, ideias revolucionárias, ações incisivas ou manifestações calorosas.

Se você é Aprendiz, dedique-se ao apren-dizado. Se for Companheiro, compartilhe o que aprendeu. Se você alcançou o Mestrado, procure ensinar.

MAS, ANTES DE QUALQUER COISA, seja um bom filho, um bom marido, um bom pai, um bom empregado, um bom patrão e, principalmente, UM BOM SER VIVO!

Sinto muito. Me perdoe. Sou grato. Te amo. Vamos em Frente!

Neste décimo terceiro ano de comparti-lhamento de instruções maçônicas, continu-aremos incentivando os Irmãos a enriquece-rem o Quarto de Hora de Estudo. Indiferente de graus ou cargos, somos todos responsáve-is pela qualidade dos trabalhos em nossa Ofi-cina.

Imprima este trabalho e deixe entre seus materiais maçônicos, havendo oportunidade solicite ao Venerável Mestre sua leitura e promova o intercambio de idéias.

FraternalmenteSérgio QuirinoGrande Primeiro VigilanteGLMMG

OPINIÃO

COMO SE REPRESENTA DEUS NA MAÇONARIA?

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18 Janeiro de 2019 GERAL

Cuba é o lar de uma florescente comunida-de maçônica. Em 2010, foi relatado que a ilha tinha 316 lojas maçônicas e mais de

29.000 membros ativos. De acordo com Chris-topher Hodapp, autor de Maçonaria Para idiotas, a Maçonaria apareceu pela primeira vez em Cuba em 1763, viajando por meio de lojas militares inglesas e irlandesas. Os números aumentaram ainda mais com o influxo de maçons franceses fugindo da Revolução Haitiana de 1791.

A primeira parte desta história nada tem de peculiar: as antigas colônias do Caribe há muito tempo têm sido foco de atividade maçônica, como já observei em um artigo para Atlas Obscu-ra. Mas a Grande Loja de Cuba, reconhecida como regular e correta pela maioria das lojas tra-dicionais ao redor do mundo, é notável por conti-nuar a prosperar sob uma ditadura marxista-leninista. Uma das explicações populares ofere-cidas para esse quebra-cabeça indica que o pró-prio Castro era maçom.

Quando os revolucionários desembarcaram em Cuba em 1956 – os irmãos Castro, Che Gue-vara e os demais, todos os 82 deles espremidos em um iate de 12 camas chamado Granma – a ilha estava sob o domínio tirânico de Fulgencio Batis-ta. A história conta que Fidel e seu irmão foram escondidos das forças de Batista por uma peque-na loja maçônica na Sierra Maestra. Foi a partir desta loja que Castro lançou as bases para o seu Movimento 26 de julho, que em 1959 acabaria por levar a uma revolução socialista em Cuba.

Alguns dizem que o próprio Fidel Castro foi iniciado como maçom naquela época. Outras his-tórias sugerem que foi somente Raúl Castro quem ingressou, ou alguns dos outros combaten-tes revolucionários. De qualquer maneira, a gen-tileza e o apoio supostamente dado a Castro durante esses anos por uma comunidade maçôni-ca remota ofereceram uma teoria popular para a tolerância que o regime de Fidel mostraria mais tarde em relação aos praticantes da Maçonaria cubana.

Certamente esta é uma boa história, embora talvez a verdade seja mais simples; afinal, Cuba já tinha uma grande dívida com seus Maçons. Durante a luta da ilha pela independência da Espa-nha, de 1868 a 1895, muitos dos principais revo-lucionários de Cuba eram orgulhosos maçons – incluindo Carlos Manuel de Céspedes, Antonia Maceo e também o poeta, jornalista e filósofo revolucionário José Marti. Teria sido extrema-mente difícil para o regime comunista separar a memória dos heróis nacionais de Cuba das ideias que eles abertamente celebraram. Talvez eles decidissem que era melhor controlar a Maçonaria do que combatê-la.

O número de membros aumentou após a queda da União Soviética, e o governo de Fidel relaxou ainda mais as restrições sobre o Craft: abrindo novas lojas, e até mesmo permitindo que os Maçons participassem de cerimônias públicas vestidos com todos os paramentos. No entanto, as regras que governam a Maçonaria cubana ainda são uma massa confusa de contradições. “A publicação de livros maçônicos e até mesmo pan-fletos é severamente restrita”, escreve Christop-her Hodapp; no entanto, eles parecem operar suas próprias lojas com muito pouca intervenção, e até mesmo “acolhem dissidentes como membros”.

Mais de um terço dos maçons de Cuba estão

baseados em Havana, onde o impressionante edi-fício da Grande Loja domina todo um quarteirão da cidade com sua fachada de gesso pintada com símbolos esotéricos. Este é o núcleo da Maçona-ria cubana, sua face pública, seu arquivo, o centro nervoso de onde todas as 316 lojas cubanas são regulamentadas; e depois da minha semana via-jando pelas cidades do sul, esperava dar uma pas-sadinha e visitá-los.

GRANDE LOJA DE CUBADe volta a Havana, passei uma manhã vagando

pelo cemitério principal da cidade, o Cemitério Cristóbal Colón. Fileira após fileira de mármore polido, o cemitério foi fundado em 1876 pelos espanhóis – e à medida que eu vagava pelo desfile interminável de pedras branqueadas, encontrei uma massa de epitáfios esotéricos entre as lápides de sepulturas. A lojas reuniram seus mortos, cer-cas de ferro forjado separando o falecido em mau-soléus de acordo com a fraternidade maçônica. Os símbolos gravados do Craft raramente eram discretos.

À tarde, parti para a Grande Loja de Cuba no número 508 da Avenida Salvador Allende: um imponente edifício de onze andares que, antes do surgimento de uma nova onda de hotéis turísticos na capital, já foi declarado como o segundo edifí-cio mais alto da ilha. (A própria avenida, enquan-to isso, recebeu o nome do 30º presidente do Chi-le; um marxista, um Maçom e um bom amigo de Fidel Castro.)

Vi a Grande Loja de Cuba quase no momento mesmo em que entrei na avenida. Eu tinha atra-vessado as ruas secundárias a caminho de lá – passando por um carro incendiado na rua San Francisco, sob varais e cabos telefônicos como teias de aranha, onde crianças jogavam beisebol na rua – e de repente lá estava ela. Pontiacs e cor-vettes subiam e desciam a avenida enquanto no outro extremo, erguendo-se acima dos blocos e arcos coloniais, um titã amarelo quebrava o hori-zonte. Era em cada detalhe tão sutil quanto as lojas das cidades que eu vira, onze andares de Art Déco terminados com um globo, um esquadro e um compasso.

Inaugurada em 1955, a sede maçônica de Hava-na abriga o escritório do grande secretário, um museu, uma casa para maçons idosos e uma extensa biblioteca (embora, segundo rumores, o governo cubano tenha se apropriado da maior parte dos andares para seu próprio uso). Era a biblioteca que eu estava procurando, desde que eu tinha ouvido que o lugar estava supostamente aberto a pessoas comuns também. Cheguei perto – perto o suficiente para admirar o relógio do zodíaco na fachada do prédio -, mas não consegui entrar.

Um senhor negro de terno e óculos estava entre as portas e me cumprimentou com um sorri-so interrogativo. Ele fez uma pergunta em espa-nhol. Eu não entendi e então perguntei a ele: “Bi-blioteca?” Ele balançou a cabeça, ainda sorrin-do. Nada de biblioteca para mim. Eu gesticulei passando por ele, em direção às entranhas do pré-dio, e disse Por favor em espanhol junto com o melhor sorriso que eu consegui dar; mas me foi respondido com uma moção de recusa gentil.

De toda forma, o edifício é bastante extraordi-nário por dentro. EC Ballard o chama de o edifí-cio melhor-cuidado em Cuba, cheio de sofás de couro e globos luminosos, em cujas suas paredes estão dependuradas medalhas e espadas. Embora eu possa não ter visto pessoalmente, no entanto, encontrei uma explicação esclarecedora da expe-riência de outro visitante.

No seu Diário de viagem de um maçom em Cuba, o Irmão italiano Luca Scarparelli descreve uma visita à Grande Loja de Cuba, durante a qual ele foi autorizado a participar de uma reunião. “O Templo é uma grande sala bem mobiliada, mas a temperatura é realmente infernal”, ele escreve, “Um irmão dá a volta na loja distribuin-do leques (com o selo da Loja) e todos se abanam para mitigar o calor.” Durante a cerimônia de abertura, “o hino nacional é tocado em um velho gravador e todos os nossos irmãos cubanos saú-dam a bandeira cubana”.

Continua...

UM BREVE HISTÓRICO DA MAÇONARIA EM CUBA

Mausoléu da ‘Respeitável Logia Guaimaro’: Cemitério Cristóbal Colón, Havana, Cuba.

Por Darmon Richter Tradução J. Filardo

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Janeiro de 2019 19

O Craft de Cuba é único e parece ser adaptado à realidade das vidas de seus cidadãos. A tradição de jantar juntos depois de uma reunião é omitida, diz Scarparelli, “porque nenhum dos irmãos cuba-nos pode se dar ao luxo de ir a um restaurante, ainda que modesto”.

O código de vestuário entre os maçons cubanos também parece ser um pouco mais relaxado. Em lugar de ternos e gravatas, Scarparelli comenta que “alguns usam camisas que só usaríamos na praia”.

Em uma reviravolta particularmente fascinan-te, ele relata que as mulheres às vezes também são admitidas em lojas maçônicas cubanas. O folclo-rista americano EC Ballard especula como essa adaptação “é geralmente bem-vinda em uma soci-edade que formalmente evita preconceitos e dis-criminação de qualquer tipo”; e certamente mos-tra uma perspectiva mais progressista do que o tradicionalismo patriarcal praticado pelas lojas maçônicas em quase todos os outros países do mundo.

Depois da minha firme e ainda assim amigável recusa na Gran Logia de Cuba, cruzei a rua; pas-seando pelo Parque de La Varela, onde uma mulher lavava as roupas em um balde na grama, e as crianças brincavam descalças em espaços aber-tos. A parede dos fundos da praça estava gravada com um busto contornado de Karl Marx, ao lado das palavras: “PROLETÁRIOS DE TODOS LOS PAÍSES UNI-VOS!”

Trabalhadores do mundo uni-vos – esculpida em traços fortes sob um esquadro e um compasso imponentes.

Eu estava tirando outra foto do prédio quando uma voz no meu ouvido disse: “Você quer saber sobre os maçons?”

O homem ao meu lado tinha sessenta anos, tal-vez, com um rosto bronzeado, mas o corpo magro de um trabalhador agrícola. Eu o notara quando cheguei ao parque, limpando folhas enquanto fumava um charuto. “Hector”, disse ele com um sorriso travesso, quando ele apertou minha mão.

O que aconteceu depois foi uma história em si, apesar de seguir um roteiro com o qual eu já esta-va familiarizado. Hector contou-me que seu

irmão trabalhava em uma fábrica de charutos. Ele tinha coisa boa, muito barata, e se eu fosse à casa dele ele poderia me fazer um excelente preço. Em Cuba, às vezes parece que todo mundo tem um irmão que trabalha na fábrica de charutos. O golpe de Hector veio com um gancho irresistível: “Você vem, e eu te contarei tudo sobre os Maçons.” Foi o que eu fiz.

A casa de Hector ficava a alguns quarteirões de distância, passando pela Iglesia del Sagrado Cora-zón de Jesús e descendo uma série de ruas estrei-tas depois dela. Era simples, mas com um interior confortável. Hector colocou uma cadeira de made-ira para mim à mesa e serviu um copo de bebida açucarada de limão; ele acendeu um charuto, depois passou-o a mim também. Depois disso, ele apresentou uma caixa de charutos de madeira e começou seu discurso de vendas. Lembrei-lhe dos maçons, mas tudo o que ele fez foi sorrir e empurrar a caixa para mim. Então eu comprei os charutos (eles se mostraram de baixa qualidade,

nada como a amostra grátis, e uma semana depois eu os ofereceria como um presente ao santo em um santuário de vodu no Haiti) e tentei voltar a conversa que ele tinha prometido.

Hector de repente parecia cansado, não mais tão tagarela quanto antes. Ele respondeu princi-palmente minhas perguntas com sorrisos e enco-lher os ombros – não me disse nada que eu já não tinha lido – e então eu decidi ir fundo: “Fidel Cas-tro é um maçom?” Eu lhe perguntei. Ele riu.

“Talvez”, disse ele, soprando uma nuvem de fumaça. “Quem sabe? Raúl certamente é.”

E então um pensamento passou pela minha cabeça.

“Hector”, eu disse, “você é Maçom?”Hector soprou pensativo em seu charuto por

um momento, a cabeça meio perdida nas nuvens. “Se eu não sou, eu diria a você Não,” ele respon-deu. “Mas se eu sou, eu também lhe diria Não. Então ele riu, bastante enigmaticamente, e decidi deixar por isso mesmo.

“Grande Loja de Cuba”, em Havana.

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20 Janeiro de 2019 GERAL

Por José Maurício Guimarães

ndavam tranquilamente pela estrada Ao Boi e seu confrade Bode. Tranquila-mente iam, mas cabisbaixos e medi-

tabundos.Depois de dilatada ruminação com seus

botões, sopesou o Boi:– Mire, veja!, confrade caprino: inda ontem

me desgarrei da boiada por causa de perigosa travessia do rio. Sabe como funcionam as coi-sas nessas Minas Gerais... e ouvi de meus irmãos que desta vez seria eu o boi-de-piranha.

Triste sina. Rio que tem piranha, jacarés nadam de costas. Todavia, não sendo a irman-dade mamífera composta de aligatorídeos, pois o douto, Aristóteles classificou bois (que não nadam de costas) e bodes, piranhas e vaqueiros. Daí, há o vaqueiro-alfa que escolhe um boi-ômega da boiada ‒ geralmente o mais berrante ‒ sangram o bicho no pescoço e jogam o agonizante na parte inferior do rio. Atraídas pelo gosto do sangue, profanas pira-nhas juntam-se nas carnes moribundas. Enquanto isso, a boizama atravessa incólume na parte superior das águas. Do boi-de-piranha sobram ossos, nem lembranças... nem pompas fúnebres. Fica tudo por isso mesmo.

‒ Uma morte a mais, uma a menos, todos se sacrificam pelo grupo, sentenciou o Boi com voz embargada de fraternidades.

O Bode olhou com rabo de olho. E pensou: boi atolado, pau nele! boi depois de morto vira vaca...

‒ Ainda penso em nascer humano um dia, prosseguiu o Boi. Lá, entre os homens, existe mútuo respeito e mais fraternidades. Vira herói quem se sacrifica pelos outros. Não sei de gente que fica em cima do muro, dando um boi prá não entrar uma peleja, esperando pas-sarem, por exemplo, as eleições...

‒ Mas eu sei de sertanejos que dão uma boia-da prá não sair de uma briga, ponderou o Bode com voz embriagada de valentias – sei desses que não ficam só de longe, olhando.

O Boi entendeu a provocação, quis retor-quir à altura, mas preferiu prosseguir com filo-sofia estoica do Zenão de Cítio e a ciência política do Jean Bodin.

‒ Entre os homens, os corações se subju-gam em troca de benefícios. Não é como nos currais onde somos subjugados por cordas nos cornos. Na cidade, entre arranha-céus, sujei-tam-se os corações ao silêncio mediante con-decorações, ágapes e fotografias. Lá tem tudo. É outra civilização

‒ Creia-me confrade, interrompeu o Bode, antes um ovo com paz que um boi com guer-ra..., já dizia Aristóteles de Estagira na “Ética a Nicômaco”.

O Boi, apesar de muito vivido, fingiu não entender e continuou com olhos-de-boi sela-dos no horizonte, pensando em liberdade:

‒ Melhor não retrucar as palavras de um Bode-bode, bicho que fala sempre nas entreli-nhas, por símbolos. Mais dia, menos dia, todos eles acabam botando o carro na frente dos bois; então rompe-se a canga, oh! Liber-dade ainda que tardia! E bois soltos lambem-

se todos!...O Bode, que também fitava o horizonte.

Balançou regularmente três vezes a barba e declarou:

‒ Se homem e bicho são criaturas de Deus, bem que poderia haver igualdade entre ambos. Eu, de minha parte, também ando fugi-do, confrade Boi. Tive um entrevero com o pároco da minha aldeia. Fui considerado here-ge por conta de um certo Baphomet. Queriam me pegar prá bode-expiatório dos desmandos de um Éliphas Lévi, batizado Alphonse Louis Constant e presbítero em Saint-Nicolas Du Chardonnet. Até no sertão daqui a vizinhança dos párocos sabe daquele incréu ordenado sacerdote! Percebi logo o cheiro da inquisi-ção. A meninada me apupava nas ruas pela alcunha Giordano Bruno! Previ fogueira e, como dizem: bode, quando não salta, berra. Eu não berrei – visto que o bom cabrito não berra – mas saltei fora! Fugi! Costume idiota esse de jogarem os pecados do mundo nas cos-tas de um Capra hircus e espancá-lo até mor-rer.

O Bode, diga-se de passagem, estudara um pouco de Lógica, Gnosiologia, Hermenêutica, Geometria Sagrada e Cosmologia Quântica quando, ainda cabrito, devorava os livros da biblioteca de um sertanejo justo e perfeito, o Pangloss. Criara-se entre libertários e nunca concebera a ideia de que as faltas humanas fossem expiadas desancando-se um caprino.

Continua...

O BOI-DE-PIRANHA E O BODE EXPIATÓRIOFÁBULA MAÇÔNICA

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Janeiro de 2019 23

Assim ‒ ele em sua vã filosofia e o Boi em sua inútil sabedoria ‒ prosseguiram pelas gran-des veredas do sertão, agora anagramáticos, cabisbundos e meditabaixos. O Boi ainda pen-sava numa resposta para aquele pedante “ética a nicômaco” que ele entendera como “ética a manicômico”. Se soubesse escrever, haveria de compor contra o Bode uma sátira no estilo de Decimus Iunius Juvenal.

Contudo, da dialética de ambos resultou, por breve caminhada poeirenta, que boi em terra alheia é ; e, para quem ama, miraguaiscatinga de bode é cheiro. “Quod erat demons-trandum sic parvis magna ad miseri-” ou “ ”, “cordiae vultus”, e o inesperado subitou-se:

O caso eu conto como o caso foi, porque homem é homem e bois são bois. No repente, o Bode eriçou-se de olhos marejados espirrou. Encrespado. E bode quando espirra anuncia chuva. Apertaram o passo e deixaram as filo-sofias prá depois. Logo adiante a chuva caiu aos baldes. Como que caídos do céu, desabri-dos, apareceram os vaqueiros:

‒ Olha o boi fujão! gritaram – olha o bode, pega! pega!

‒ Guardem as cabras, que um bode está sol-to!

‒ De boi manso me guarde Deus, gritou outro vaqueiro ‒ que do bravo me guardo eu.

Foi um Deus nos acuda. Contra o chuço, Boi velhaco. De sonso à chifrada certa e dispa-rava os cornos a torto e à direita. Se a chuva caia aos baldes, debalde foram as tentativas de o Boi escapar.

Inútil. Com toda aquela lama o bicho derra-pou. E como a vaca, o boi foi pro brejo. E con-firmou-se o sábio Aristóteles: homens se pegam pela palavra, e pegam os bois pelos cor-nos. Boi atolado, pau nele! !!!Pá, pá, pá

O Bode, desnorteado como sempre, dava pinotes. Bode que é bode só dá chifrada em quem anda a pé. Quadrúpede embarbichado, conseguiu escapar. O vaqueiro Sigismundo arriou o chapéu e coçou a cabeça:

‒ Onde fui amarrar meu bode!Enquanto isso, contido pelos laços, o Boi

filosofou pela última vez na vida:‒ Boi velho gosta de erva tenra... e acaba

fazendo bobagem.Passada a chuva o cortejo seguiu em dire-

ção ao rio. Rastejaram o Boi-boi para a parte mais alta do remanso e prepararam o sacrifí-cio. Ritual e liturgias: uma paulada certeira; a lâmina fria no pescoço e o sangue. As piranhas efervescentes de alka-seltzer.

Ouvi dizer que o Bode foi parar longe dali. Arranjou emprego num circo, pois bode não morre mesmo de fome. Vivia pacato, certo de que se a lã não pesa à ovelha, a barba não pesa ao bode. Pensava em escrever um livro de auto-ajuda, mas mudou de ideia. Escreveu um tra-tado geológico sobre áreas fitocórias e biogeo-gráficas de Minas Gerais, em verso dodecassí-labo. Essa proeza lhe valeu o convite para ingressar na Academia Histórico-Zoológica de Pasárgada onde, conforme apurei, ele era amigo do rei. A câmara municipal de Pasárga-da concedeu-lhe o grão-colar com a condição de ele não mais berrar nem filosofar. Que per-manecesse apenas “ ” o mundo. espiandoDessa feita, nosso herói ficou conhecido como

o primeiro bode da literatura. E... espiatóriode vez em quando, no cair da tarde, ele lem-brava do confrade Boi e ficava triste, triste de não ter jeito.

Apesar disso, o resto ia muito bem naquele melhor dos mundos, onde a existência era “uma aventura, de tal modo inconsequente”, quando, um dia, descuidou-se. Foi durante expedição senil à forragem dos bovinos. Esquecera-se daquela lição de Aristóteles sobre ovos na paz e bois na guerra. Foi barba-ramente pisoteado como bode-expiatório de todas as faltas cometidas pelos mamíferos ruminantes e ancestrais artiodáctilos, confir-mando o velho ditado: “Quem tudo arou, com bois não contou”.

MORAL DA FÁBULA: quando você esti-ver triste, triste de não ter jeito, vá-se embora pra Pasárgada; lá tem tudo, é outra civilização.

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22 Janeiro de 2019 GERAL

Autor: Charles Evaldo Boller

Na Maçonaria buscam-se novos horizontes no plano do pensamento. Existem conheci-mentos que escapam ao campo da expe-

riência em virtude da limitação sensorial e analítica inerente ao homem-ego: aquele que bloqueia qual-quer atitude verdadeira e autêntica em si, tornando-se seu próprio inimigo. São noções que exigem cír-culos de juízos muito acima dos limites individuais e da linguagem humana. Ideias que ultrapassam o mundo sensível, onde a experiência não serve de guia.

São quatro as escolas que permeiam as discussões dos maçons: a Autêntica ou Histórica; Antropológica ou Primitiva; Mística ou Teológica; e Oculta ou Eso-térica. As investigações, destas diferentes escolas, partem com os pensamentos de base inicialmente teológicas e mágicas, depois metafísicas e místicas, podendo alcançar o nível da compreensão científica. Devido a estes diferentes níveis de estudo progressi-vos, a Maçonaria ressalta a importância do respeito ao pensamento do outro, enquanto a ideia passa pelas diversas fases em direção a consolidação: é quando o pensamento deixa de ser filosófico e passa a ser ciência. E é apenas nestas situações que o maçom exercita a tolerância: somente para com o pensamen-to do outro. Mau comportamento e atitudes grossei-ras nunca devem ser aceitas porque conspurcam o ambiente puro desejado para os estudos da nobre arte do pensamento, cujo alicerce é a dúvida.

O ponto forte da fraternidade maçônica é o respei-to ao pensamento do outro.

Na área da especulação, fatalmente os intelectuais enveredam no Eruditismo, o que complica a absor-ção de conhecimentos mais sutis. Outros mais tími-dos têm medo de expor seus pensamentos. Existem aqueles que conhecem, mas não compartilham seus conhecimentos. Porém, seguindo a metodologia maçônica, o entendimento de conhecimentos acima dos limites normais de entendimento é aprendido

com facilidade quando o grupo e suas dinâmicas agem sobre a pessoa, razão da necessidade de reu-niões regulares em loja: os participantes se soltam e lentamente o conhecimento de todos aumenta.

Mesmo na complexidade dos temas, não existe na Maçonaria a figura do professor, seja na pessoa do Venerável, do orador, dos vigilantes ou qualquer outro maçom: todos são mestres e aprendizes. O conhecimento suprasensorial, das vivências do homem e seu despertar pela vontade em atividades e experiências da liberdade, é transmitido de pessoa a pessoa na forma de blocos de informação que ema-nam da interação do grupo e não da imposição de algum líder.

O maçom duvida até o momento em que passa a sentir e entender fenômenos sublimes com o auxílio de sua própria capacidade intelectual e sensorial, ou na eminência de comprovação científica de suas ideias.

O processo evolutivo do pensamento atravessa distintas fases de tratamento mental: parte-se da observação concreta e abstrata, envereda-se pela meditação e análise indutiva e dedutiva para, final-mente, florescer na linguagem e nos processos men-tais racionais. Este é o caminho por onde passam todas as análises dos fenômenos invisíveis que, pelo fato de não serem acessíveis aos padrões normais, são sempre retomados e criticados: florescem da dúvida.

Informações e conceitos como Grande Arquiteto do Universo, liberdade, imortalidade, e outros, ape-nas são acessíveis e estudados pela Metafísica e Mís-tica depois de passarem pelos processos naturais de desenvolvimento. No plano espiritual os pensamen-tos são impossíveis de se definirem ou de se estabele-cerem em resultados desejáveis a priori. Daí todos os processos de busca das verdades sutis serem apenas especulações filosóficas incertas. E estas, conside-rando a ilusão sensorial a que o homem é submetido

pela própria Natureza, devem sempre serem reavali-adas, desacreditadas, reconsideradas. O Ceticismo é a atitude usual do maçom porque, apesar de perscru-tar em direção à verdade, sabe que está sendo enga-nado permanentemente pelos seus sensores primári-os, daí expandir também esta disposição aos senso-res sutis, aqueles que tem a faculdade de penetrarem na alma, na essência do ser.

Em Maçonaria, o conhecimento transcendental passa inicialmente pelo estabelecimento de lendas e ficções que servem apenas de esboço aos pensamen-tos iniciais. Estes depois são filtrados em outros níveis. Podem chegar a verdades demonstráveis por leis naturais: as ideias apenas são lançadas dentro da mente dos ouvintes que, de sua livre iniciativa, usa como guarda de trânsito o livre-arbítrio, as adaptam e modificam ao nível de sua própria evolução. Daí se afirmar que não existe a figura do educador, existe apenas autoeducação, o que elimina a figura do pro-fessor, do mestre. A maioria das revelações, em níve-is sensoriais sutis ocorre em grupo e é resultado de pura intuição individual. Pode ser percebida, mas não verbalizada, racionalizada. O acesso ao divino se dá apenas no silêncio.

Alguns maçons penetram logo naquilo que a Maçonaria provoca nestes aspectos, outros só alcan-çam a Luz, ou Aufklärung de Kant, depois de longa e penosa caminhada. Outros, mais arraigados ao seu conservadorismo, ego e vícios, jamais a veem. A divindade não pode ser pensada, falada, refletida, apenas percebida na meditação contemplativa, receptiva afastada de exercícios do intelecto.

Independente do fato de perceberem verdades mais sutis ou não, o que interessa aos maçons em suas oficinas é reunirem-se para debaterem assuntos que possibilitem a evolução individual, cujo cami-nho passa pela dúvida. Maçom desperto é homem inquieto e desejoso em decifrar os mistérios que estão velados nos rituais e na Natureza. Uma vez percebida uma particularidade ao seu redor, o maçom duvida. Não em sentido negativo, mas aten-to, de modo a reavaliar os mistérios debaixo da luz contemporânea da ciência e evolução tecnológica. É da dúvida que nascem novos e inusitados pensamen-tos que tem a pretensão de mudar o homem, e com isso a sociedade e o mundo. É a busca do homem cós-mico, integrado ao Universo, com o qual se unifica. É por isso que podem denominar o maçom iluminado como aquele que se considera “filho da heresia”: aquele que busca na dúvida reavaliar conceitos já estabelecidos para fugir da estagnação e do conser-vadorismo.

O maçom e a dúvida são companheiros insepará-veis na caminhada pelo Universo que se originou num ponto dentro de um círculo. Aquele ponto, o ovo cósmico que deu à luz a realidade que o homem é levado a acreditar, por meios fantásticos. Consciên-cia de que o homem e toda a materialidade é nada! Tudo é espaço vazio! Inclusive o próprio homem. Tomado em termos atômicos toda a realidade é ape-nas uma ilusão dos sentidos que o Grande Arquiteto do Universo criou num ato de amor.

Fonte: O Ponto Dentro do Círculo

O Maçom e a Dúvida

Page 23: O MALHETE 117 PARA PDF...Pessanha. Camilo Pessanha é considerado um dos expoentes máximos do simbolismo na poesia e foi autor do livro “Clepsidra” (1920). A Loja abateu colunas

Janeiro de 2019 23GERAL

Por Irmão Bernard Emile Pels

sse importante símbolo maçônico foi Eignorado (ou talvez seja desconheci-do) por praticamente todos os escri-

tores Maçons brasileiros.Até mesmo a literatura internacional versa

pouco sobre esse símbolo, presente desde a cultura egípcia, passando pelos romanos, usado pelos cristãos primitivos, e que, posteri-ormente, inspirou imperadores, como Napo-leão.

Com exceção do ser humano, qual o outro ser vivo trabalha muito e em equipe, vive em comunidade, produz diferentes tipos de mate-riais, constrói casa para milhares de iguais, e tem forte hierarquia e disciplina?

A abelha trabalha duro e sem descanso, não para ela, mas para todas.

Ela produz e ela constrói. Ela vive em har-monia com a natureza. A colméia é o grande emblema do resultado do trabalho da abelha, da sua capacidade de construir algo em prol de todos. A abelha é o ser construtor, assim como o Maçom pretende ser. A partir disso, é fácil

compreender como a colméia se tornou um símbolo maçônico presente em antigos estan-dartes e aventais, e no Grau de Mestre Maçom, dos Rituais mais antigos de nossa Ordem. Não se sabe a partir de quando a Colméia passou a constar nos Rituais maçônicos, mas já estava presente na Maçonaria desde, pelo menos, o início do século XVIII, como evidencia um catecismo maçônico irlandês datado de 1724:

“Uma abelha tem sido, em todas as épocas e nações, o grande hieróglifo da Maçonaria, pois supera todas as outras criaturas vivas, na capacidade de criação e amplitude de sua habi-tação. Construir parece ser da própria essência ou natureza da abelha”.

Há vários registros de colméias, como parte integrante e de destaque de Templos e Rituais maçônicos, na Inglaterra, Irlanda, Escócia e EUA, no século XVIII. Porém, com a renova-ção dos Rituais, em boa parte do Reino Unido, a partir de 1813, esse importante símbolo foi, de certa forma, ignorado, surgindo, vez ou outra, em Lojas de Pesquisa, com exceção da Maçonaria americana, que manteve sua importância no Ritual.

Para se ter uma melhor compreensão do significado maçônico da Colméia, segue pequeno trecho adaptado do Monitor de Webb:

“A Colméia é um emblema de indústria e operosidade. Ela nos ensina a prática dessas virtudes a todos os homens. Viemos ao mundo como seres racionais e inteligentes; como tais, devemos sempre ser trabalhadores, jamais nos entregando à preguiça, quando nossos compa-nheiros necessitarem, se estiver em nosso poder, auxiliá-los. …Aquele que não buscar trazer conhecimentos e entendimento ao todo, merece ser tratado como um membro inútil da sociedade, indigno de nossa proteção como Maçons.”

Enfim, um dos símbolos maçônicos com significado e ensinamentos mais profundos, simplesmente perdido nas brumas do tempo e nas páginas das incontáveis “revisões” pro-movidas pelos “sábios” de outrora.

Esse é o verdadeiro “símbolo perdido” da Maçonaria.

Fonte:https://martinlutherking63.mvu.com.br

O Símbolo perdido da Maçonaria

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