© Copyright de Elio E. MüIler, 1992
Direitos reservados pelo autor.
Revisão: Doris Bobsin MüIler
Arte e Fotolito: Cromo Visíon
Impressão: Italprint - Gráfica e Editora Ltda
Apoio: Brehm & Cia Ltda e Irmãos Jacoby & Cia Ltda
Dedicatória:
Ao Padre Luis J. Benini
ln memoriam.
Capa: Foto apresentando Pe. Luis J. Benini.
PALAVRA AO LEITOR
Em 21.03.1992 visitei Padre Luis J. Benini, na sua casa paroquial em Três
Forquilhas.
Levava para o velho amigo o mais alguns exemplares do meu livro "TRÊS
FORQUILHAS 1826-1899", como presente.
Meu propósito principal entretanto era o de buscar a participação do Padre
Benini para a elaboração do 2º volume (1900-1950) particularmente sobre o início da
atuação dos padres no Vale de Três Forquilhas e a instalação das primeiras capelas.
Padre Benini sempre quisera escrever o seu próprio livro. Porém dizia que
agora o serviço estava sendo feito por mim e satisfazendo todas as suas expectativas.
Por isto, confiou-me naquela hora todo o seu material de pesquisa.
Ele disse: "Você saberá o que fazer com isto!"
De fato, no mesmo momento, acendeu-se uma luzinha em minha mente.
Respondi prontamente: "A primeira coisa que farei é um livreto, para apresentar
a visão do Padre Benini sobre a fase de formação da colônia (1826-1899)."
Em conjunto organizamos o material, sob dois enfoques, em forma de entrevista:
1 º - A Colônia Protestante de Três Forquilhas (1826-1899), conforme a visão
do Padre Luis J. Benini.
2º - "Três Forquilhas", o livro que o Padre Benini quis escrever.
No final da nossa entrevista veio ainda reunir-seconosco o Sr. EV ALDO
DIMER (Lanchonete Snack, da Rodoviária de Porto Alegre), acompanhado pelos pais.
Eles puderam assim ser testemunhas do momento em que Padre Benini me confiava
as suas pesquisas.
Ninguém de nós podia suspeitar que, na verdade, aquele seria também nosso
encontro derradeiro. Cinco dias depois nosso Senhor chamava Padre Benini para a
eternidade, deixando com todos nós a tristeza, pela ausência do alegre amigo, que ele
sempre foi. Que Padre Benini repouse na paz de Cristo!
Para mim aumentou o compromisso assumido.
Em memória ao amigo, quero, imediatamente, cumprir a tarefa. Desta maneira
ofereço ao povo de Três Forquilhas esse simples livreto, porém valioso pela
contribuição do Padre Luis 1. Benini, para todos aqueles que tem gosto pela história.
ELIO Eugenio MÜLLER
A COLÔNIA PROTESTANTE DE TRÊS FORQUILHAS
(1826-1899)
CONFORME A VISÃO DE PADRE LUIS J. BENINI.
Não seria justo ignorar a visão de Padre Luis J. Benini a respeito da fase
inicial da Colônia, mesmo que ainda não houvesse, na época, a presença de
padres católicos no Vale, além das esporádicas visitas que estes faziam a
fazendeiros radicados junto às Lagoas.
Organizamos quatro perguntas voltadas à formação da Colônia
Protestante de Três Forquilhas. Padre Benini concedeu suas respostas
baseadas no material já escrito, por ele, anteriormente.
PERGUNTA 1: Como o senhor vê a situação dos imigrantes
protestantes, que aqui chegaram em 1826 ?
PADRE DENINI: Na época da chegada dos imigrantes, a luta entre as
religiões era bem triste. (Hoje, graças a Deus, a convivência é muito boa. Hoje
existe muito respeito com a religião do outro).
Vejamos os sofrimentos dos colonos protestantes, naquela época. Em
primeiro lugar, havia uma lei mais para favorecer a política do governo do que
para estimular a religião. (Lembre-se que a Religião Oficial era a Católica. O
Imperador controlava a Igreja como bem entendia havendo tristes abusos de
intromissão na religião).
Como os alemães aqui vindos eram protestantes, eles tiveram que
enfrentar muitos vexames. Por exemplo:
- 1 º- O Governo não queria imigrantes que não fossem católicos. Só
descobriu que havia protestantes, depois de aqui estarem (do contrário não
teriam entrado).
2º- O absurdo da proibição de as Igrejas protestantes terem torres. (Os
templos não podiam ostentar sinais externos de identificação).
PERGUNTA 2: No seu entender, o que segurou estes colonos em Três
Forquilhas, em meio a tão grande isolamento e tantas dificuldades?
PADRE DENINI: Pode-se dizer, sem medo de errar, que a força principal
para aqui ficar e agüentar tamanhas dificuldades, foi a fé em Deuse o estímulo
do pastor Voges. Não foi o governo, não. O governo foi inconstante no
atendimento aos colonos e fazedor de promessas não cumpridas.
PERGUNTA 3: Como é que o senhor descreveria o perfil histórico do
pastor Voges ?
PADRE BENINI: O pastor Carlos Leopoldo Voges foi uma grande alma.
Sempre foi fiel a sua missão. Nunca causou problemas aos outros pastores e
muito menos aos padres católicos. Além de prestar o atendimento religioso, ele
encorajava os colonos. Lutou na produção e colocação dos produtos coloniais.
Foi um herói. De 1826 até 1893, ele dirigiu a Comunidade de Três Forquilhas.
O seu falecimento aconteceu em outubro de 1893, aos 92 anos de idade.
PERGUNTA 4: O que mais o senhor gostaria de destacar a respeito da
fase de formação da Colônia de Três Forquilhas ?
PADRE BENINI: Denota-se ao longo da história da colonização deste
vale de Três Forquilhas dois grandes pontos:
1º - A heroicidade dos colonos ao enfrentar tanto sacrifício, tantas
doenças, tanta adversidade, mas aqui permaneceram implantando o progresso
no vale. Vivam eles!
2º - Quem mais ajudou os colonos não foi o governo, sempre com
planos c mais planos mal executados ou então nunca executados. Foram os
pastores e sacerdotes e as lideranças dos próprios colonos que estimularam o
povo, implantando escolas e lutando pela melhoria de vida. Esses homens
merecem todo o nosso respeito.
Gratidão a todos os heróis do passado e que hoje descansam em
modestos cemitérios. Deus deu, certamente uma recompensa bem grande
para eles, lá na Sua Glória.
O LIVRO QUE PADRE BENINI QUIS ESCREVER.
PERGUNTA: Quais os enfoques que o senhor pretendia abordar em seu
livro ?
PADRE BENINI: Eu pretendia fazer um livreto popular, baratinho, que
fosse, mesmo sem ilustrações. O nosso povo não consegue mais comprar
livros. Tornaram-se caros demais.
O meu plano era escrever visando enaItecer a ecologia, apontando para
a natureza paradisíaca deste vale. Eu queria destacar o primeiro morador: o
índio.
Depois, eu pretendia apresentar a chegada dos imigrantes alemães que
aqui formaram uma Colônia Protestante, por decisão governamental. Quando
eles pisaram neste vale já nem mais viram um índio de verdade. Havia apenas
bugres errantes e assustados, sem vida tribal e sem raízes.
Eu pretendia também enfocar algo sobre o problema de transportes e
comuni
cações, a cultura e a arte, as doenças mais comuns e as guerras e revoluções.
A parte final abordaria a vida religiosa em Três Forquilhas, mas não
consegui concluir essa pesquisa por falta de colaboradores para coletar boas
informações.
PERGUNTA: O que o senhor pretendia acentuar a respeito dos
primeiros moradores do vale: OS ÍNDIOS?
PADRE BENINI: Sendo os ÍNDIOS os primeiros ocupantes eu coloquei
ênfase que por qualquer lei internacional, a terra era deles.
Os índios souberam respeitar as matas; os animais e os peixes. A caça
e pesca servia apenas para o sustento do dia. Permitiam que aves, peixes e
animais se multiplicassem para não haver falta no dia seguinte. Eles
mantinham um equilíbrio entre o consumo e a reprodução.
Os índios acreditavam em Tupâ, a divindade por eles adorada, que
antes de chamar os índios à existência, criara o mato com suas frutas, os
animais e as aves, as águas com seus peixes e a terra que produzisse o milho
e a mandioca. Desta maneira Tupã providenciava sustento e vida para o Índio.
Na tribo eles se tratavam como irmãos. Tudo era de todos. Quando
matavam um animal selvagem o levavam para sua Vila. Depois de assado, em
primeiro lugar as crianças eram alimentadas, depois as mulheres e os jovens
podiam comer e finalmente os homens. Calcula-se que vai a 5.000 anos a
existência dos Índios nesta região. Eram de estatura pequena, de peito largo e
muito fortes. Andavam até um dia, sempre numa espécie de trote e sem comer.
Percorriam longas distâncias sem sentir cansaço. O comércio deles estendia-
se até a Lagoa dos Patos e era bem grande e organizado.
Inicialmente viviam em nosso estado, os Carijós (de Santa Catarina),
também os Coroados, (assim chamados por causa do corte dos cabelos) e os
Botocudos, (por causa dos lábios furados com uma vareta). Por fim vieram do
sul os Cuaranls que foram expulsando os outros e tomaram conta de toda a
região.
O extermínio dos índios foi uma barbaridade provoca da pelos
bandeirantes paulistas que para cá vinham à procura de ouro e prata. Eles
passaram a levar os índios para serem vendidos como escravos em São Paulo
e Rio de Janeiro. Havia um maior interesse pelos homens e jovens, deixando
assim as mulheres e crianças no desamparo, condenados a morrer à míngua.
Os homens que resistiam eram simplesmente degolados.
Essa barbárie começou pelo ano de 1550. Mas o massacre,dos índios,
foi entre os anos de 1630 à 1650. O sarampo trazido pelos brancos dizimou
milhares deles em 1635. Padres portugueses que aqui estiveram reclamaram
dessa malvadeza. Porém os paulistas deram queixa aos governantes
quefizeram uma lei proibindo aos padres de virem até aqui.
Em 1644 à 1646 aqui estiveram os padres Tomas Moreira e depois o
Frei Manuel de Santa Maria. O que eles viram foi de cortar o coração. Aldeias
de índios queimadas, caveiras espalhadas por toda a parte; ossos de gente e
um silêncio de morte.
De 1660 à 1730 isto aqui tornou-se deserto. Foram 100 anos de atraso
para a Província do Rio Grande do Sul.
PERGUNTA: O que o senhor destaca a respeito da vinda dos imigrantes
alemães à Três ForquHhas ?
PADRE BENINI: O Imperador D. Pedro I desejava povoar o Sul do
Brasil, com imigração européia. Os escolhidos foram os alemães.
O fato de ser criada a colonização nessa região de Torres deve-se à
iniciativa de JOSÉ FELICIANO FERNANDES PINHEIRO, o Visconde de São
Leopoldo.
Quando ele foi nomeado Presidente da Província, para tomar posse veio
de navio, do Rio de Janeiro até Laguna.
Desta cidade ele seguiu à cavalo. Ao passar por Torres ele fez uma
parada para descanso. De lá dirigiu seu olhar em direção à Serra e ficou tão
encantado que decidiu que essa região seria povoada por alemães.
Fernandes Pinheiro permaneceu apenas por dois anos na Província, de
1824 à 1826. Mas foi o suficiente para abrir as colônias alemãs do sul.
A viagem dos colonos que para cá vieram foi longa e dolorosa. Mais
dolorosa foi de Palmares a Torres, em carros de boi. Levar as bugigangas, as
crianças, as mulheres em cima da carreta. Percorrendo estradas areientas,
lodaçais, calor, dormir ao relento, fazer a comida embaixo de árvores ... Pode-
se imaginar quão compridos não foram os dois meses necessários para chegar
até Torres. Depois a longa espera para receber a terra. Finalmente puderam
instalar-se e construir seu rancho. Só mesmo heróis para agüentar tanto
sacrifício.
••• É bom saber porque o rio recebeu o nome de TRÊS FORQUILlIAS.
Os colonos protestantes que para cá vinham recebiam a senha do lugar do
início da colônia. Diziam que ficava junto à terceira forquilha do rio. Esta
forquilha fica nas proximidades onde hoje se situa a "Fábrica de Conservas dos
BREIIM. Daí para cima, ia a Colônia, até o passo do cemitério.
Se o Pastor Voges não tivesse encorajado e animado esses imigrantes,
a colônia teria se esvaziado logo de novo. Ele livrou a Colônia de um fracasso.
PERGUNTA: O que o senhor escreveu a respeito dos transportes e
comunicações?
PADRE BENINI: A seqüência dos meios de transporte utilizados pelos
colonos foram: o burro ou cargueiros, o carro de bois ou carreta e o barco. Não
podemos deixar de mencionar as caminhadas feitas á pé.
As primeiras estradas não passavam de picadas. Nessa circunstância, o
burro era o mais adequado. Havia a picada pela Serra do Pinto que
possivelmente há 5.000 anos já era utilizada pelos índios. Heróicos eram os
tropeiros que por ela passaram a transitar, indo Serra acima rumo à Vacaria,
Lages e às vezes a Curitiba. Outro rumo era em direção à Passo Fundo e à
fronteira. Diante de constantes assaltos que ocorriam na Serra do Pinto, os
colonos buscaram outros meios. Iam pela base da Serra até Santo Antonio da
Patrulha e de lá até Taquara e São Lcopoldo.
Em 1847 passaram a ser usadas as primeiras canoas, descendo o Três
Forquilhas e chegando pelas lagoas até a Pinguela.
Outro meio foram os carros de boi. Eles tinham grandes rodas para não
molhar as mercadorias ao cruzar por banhados e rios. Eram puxadas por até
seis juntas de bois. Muitas vezes quebrava a roda em virtude dos solavancos
ou pelo peso da carga.
Quanto à navegação chegaram um dia os iates, movidos à vela. Eles
não podiam ser de grande calado pois os canais que ligavam as lagoas não
tinham adequada profundidade.
Voges e Diehl foram os grandes empresários da navegação pelas
nossas lagoas. Voges organizou o transporte da produção da Colônia de Três
Forquilhas. Foi um homem de grande fibra, fé e visão. Adolío Diehl, neto do
pastor Voges, entrou nos negócios da navegação pelas lagoas somente em
1886.
PERGUNTA: E a CULTURA E A ARTE?
PADRE BENINI: Os imigrantes sentiam muita saudade das suas festas,
dos seus cânticos e tradições que eles cultivavam na antiga pátria. Agora, por
falta de líderes ou gente competente tudo ia desaparecendo lentamente. A
única coisa que mantinham firme eram as festas (do Kerb e da Colheita) e o
culto dominical. Célebre foi o Coral aqui existente. Também a Banda de Música
da Colônia deixou saudade.
Quanto às escolas, se não existisse a fibra do pastor Voges tudo
também teria ido água abaixo.
Somente em 1858 fora aprovada a Escola do Governo. Ela durou três
anos.
Fechou por falta de professor. Os professores de fora não ficavam numa
solidão destas.
Aliás hoje ainda persiste esse mesmo mal. A esposa do pastor também
manteve uma escola, por muitos anos. Ela ensinava corte e costura, crochê,
bordado e outros trabalhos em roupa.
PERGUNTA: E as DOENÇAS MAIS COMUNS?
PADRE BENINI: Vejamos as doenças mais comuns e os remédios
caseiros (ervas) que eram utilizados.
Doenças do aparelho digestivo: diarréias e intestino trancado, úlcera
estomacal.
Doenças da pele: cobreira, tumores, sarna, zipra (erisipela) e varicela.
Para combater a sarna eram usados sabão e enxofre. Para madurar tumores
usavam farinha de trigo e mel, que aquecidos eram aplicados sobre o local.
Para tratar panarício usavam água quente ou fricção de álcool.
Feridas brabas: eram tratadas com folhas de aguapé, ou então faziam
um preparado com cebo, breu e sabão colonial. Se isso não curava, só
restava amarrar um pano sobre a ferida, todos os dias, mesmo que fosse pelo
resto da vida.
Mijação: abscesso ou furúnculo, era feito um emplastro de sabão e
açúcar.
Impingem: Era usado a antiga tinta de escrever, duas vezes ao dia.
Reumatismo brabo: as causas desse reumatismo geralmente eram o
excesso de comida gordurosa, a friagem por andar pelas águas ou o mau
funcionamento dos rins.
Gripes, influenza e constipações: provocadas pelas variações bruscas
do tempo. Eram tratadas com aspirina, tomada com farinha de trigo. A pessoa
ia para a cama visando tomar um bom suador.
Mal de Sete Dias: (tétano no umbigo do recém-nascido). Era provocado
pelo uso de tesoura enferrujada no corte do cordão umbilical, ou por haver sido
mal utilizado o esterco de vaca, na hora de estancar o sangue.
Dor de dente: O remédio era tomar um purgante ou então amarrar um
lenço no queixo até o dente cair da boca.
Dor de cabeça. O remédio consistia em aplicar seguidamente rodelas de
batata inglesa nas fontes da cabeça.
Verminose, proveniente da falta de higiene. A maioria dos colonos não
possuía casinha (Iatrina). As crianças defecavam ao redor da casa. O remédio
era o óleo de rícino.
Picadas de cobra ou de aranhas. O tratamento consistia na aplicação de
panos embebidos de leite da figueira, de casca branca. Também era utilizada a
aplicação de emplasro de cebola picada, sobre o local. Houve casos onde
pessoas abriam uma lata de querosene e colocavam a perna picada dentro da
mesma.
Piolho e Bicho de Pé. Tratamento dos mais variados.
PERGUNTA: E as GUERRAS E REVOLUÇÕES?
PADRE BENINI: O Rio Grande do Sul foi palco de muitas revoluções e
guerras. Torres era passagem obrigatória de qualquer força em luta. No vale de
Três Forquilhas cruzava a única estrada de razoável trafegabilidade, mesmo
que fosse para subir a Serra ou seguir a Santo Antonio da Patrulha. Em
1825/27 tivemos a Guerra Cisplatina.
Em 1835/45 a Revolução Farroupilha. Em 1870 a Guerra do Paraguai e
em 1894/95 a Revolução Federalista. Três Forquilhas sempre esteve de
alguma forma sofrendo as conseqüências desses conflitos.
Traziam de imediato o entrave para o comércio em toda a área, pela
dificuldade de transporte e os riscos de assaltos e roubos.
Famoso tornou-se o Baiano Candinho, desertor da Guerra do Paraguai
que por engano trocou a estrada que levava a Santa Catarina pelo caminho
que ia â Colônia de Três Forquilhas. No começo, ele foi bem acolhido pelos
protestantes. Ele se mostrava útil pois sabia montar, muito bem, engenhos de
cana de açúcar, alambiques e farinheiras. Porém depois ele virou ladrão,
assaltante e revolucionário (federalista).
Ele conseguiu colocar em polvorosa os moradores de Três Forquilhas.
Ele foi assassinado em dia de Canto de Reis.
PERGUNTA: Quais as FONTES BIBLIOGRÁFICAS que o senhor
consultou nessa pesquisa?
PADRE BENINI: Material da pesquisa do Pastor Elio E. MüIler; trabalhos
do Dr. Ruy Ruschel; o livro "Três Cachoeiras" de Ignácio José Schaeffer; o livro
"Remembranca" de Guido Muri; o livro "Navegação Lacustre Osório Torres", da
Professora Marina Rayrnundo da Silva; entrevistas com pessoas idosas de
Porto Alágio (Três Forquilhas); o livro "Histórias dos Voges" (A Família Justin)
de Clarestina Justin Brehm e o livro "Terra de Areia, Idéia, Sonho e Realidade",
de Generi Máximo Lipert.
PERGUNTA: O que o senhor deseja acentuar em forma de
CONCLUSÃO?
PADRE BENINI: Diversos dos autores que consultei descrevem a
exuberância da natureza deste nordeste do Rio Grande do Sul. Asmatas, um
dia ainda eram fechadas por um arvoredo de madeiras nobres. A terra era
irrigada por rios, riachos, lagoas e banhadais. Em meio a tudo isto existia uma
multiplicidade de animais, sendo alguns ferozes. Havia peixes de toda a
espécie e uma variedade enorme de aves.
Defino o vale do rio Três Forquilhas como um quase paraíso ecológico
que ainda pode ser preservado por nós. Afirmo que basta que sigamos o
exemplo que os índios, os primeiros moradores deste vale, nos deixaram.
(Entrevista realizada com Padre Luiz Benini na casa paroquial de Três
Forquilhas por Elio E. Müller).
DADOS BIOGRÁFICOS DO PADRE LUIZ JOSÉ BENINI.
Artigo de Irmã Ágata Buss
LUIZ JOSÉ BENINI, nascido em Flores da Cunha aos 17/12/1919, filho
de João Beniní e Olímpia Biazus.
Ordenado em Caxias do Sul por Dom José Barca aos 21/12/1946.
Ministério presbiteral: Coadjutor de São Marcos (1947 a 1950),
coadjuntor da paróquia de Pedro de Alcãntara de Torres (1950-1953), pároco
(1953-1971) e auxiliar no Seminário São Pio X de Torres, Pró-Vigário Geral da
Região de Torres e pároco da paróquia da Glória (1971-1974) pároco de
Caravágio e auxílíar no Santuário de Caravágio (1974-1975), auxiliar na
paróquia de São Paulo de Ivinhema, diocese de Dourados, MS (1976-1980),
pároco de Nova Araçá (1980-1984) vigário auxiliar de Torres e da Paróquia de
São José da Vila São José de Torres (1984), pároco de Três Forquilhas
(31/07/83 à 26/03/92). Faleceu dia 26/03/92 em Flores da Cunha.
Padre Luiz José Benini foi um sacerdote que se destacou pela sua vida
simples, humilde e de uma doação incansável aos irmãos. Atendeu
gratuitamente nossa Paróquia de Três Forquilhas, durante 09 anos. Além disso
atendia com amor e dedicação todos que vinham lhe solicitar auxílio, em
especial as paróquias vizinhas, à quem nunca soube dizer um "não".
Testemunhou-nos grande fidelidade a sua vida sacerdotal.
Pessoa de fé, com grande amor ao Cristo Eucarístico.
Pessoa alegre e simpática, animava a todos com suas brincadeiras e
palavras de estímulo.
Lutador incansável pela justiça e unidade.
Desprendido dos valores materiais, tendo grande preocupação pelos
valores espirituais.
Homem prudente e de grande sabedoria ...
Sacerdote honesto e corajoso. Seu grande desejo era ver o progresso
do seu povo. Nunca mediu espírito de sacrifício para o bem deles.
Grande amigo das crianças e jovens, sempre marcando presença ao
seu lado, orientando-os para o bom caminho.
Ocupava-se muito com a saúde espiritual e física das pessoas,
dedicando grande parte do seu tempo no cultivo e orientação de chás caseiros
e alimentação integral.
Uma de suas alegrias principais era a Pastoral da Criança e a
preservação da natureza.
Em resumo podemos dizer que o Padre Luiz é um grande santo lá no céu, um
amigo fiel que fica intercedendo por nós. ( Texto de Irmã Ágata Buss)
Na foto acima: a Capela de São Sebastião, no coração de
Três Forquílhas, que será enfocada pelo autor em "Três
Forquilhas 1900-1949" (2º volume).
Observe-se que a foto foi batida em um dia de enchente do rio
Três Forquilhas.
Fonte: Foto do arquivo fotográfico de Doris Bobsin Müller.
Recortes de Jornal:
Matéria publicada no Jornal Indústria & Comércio, de Curitiba – PR.
Caderno B2
Edição de 23 de abril de 1992.
TEXTO DIGITALIZADO DA MATÉRIA DO JOREV.
Pastor registra em livreto
opinião de padre
O Vale do Rio Três Forquilhas, no litoral norte do Rio Grande do Sul, é quase um
"paraíso ecológico" que ainda pode ser preservado, basta que seus moradores sigam o
exemplo deixado pelos índios, os primeiros moradores da rcgiâo.
A admoestação do padre Luis Benini, pároco católico de Três Forquilhas de
1983 a 1992, poderia ser considerada sua carta testamento.
Admirador da região. ele coletou material de pesquisa sobre o seu surgimento
e desenvolvimento, pois pretendia escrever um livro. A morte o colheu em março de
1992.
Cinco dias antes de morrer, o pastor Elio Müller visitou o padre Benini em Tres
Forquilhas (RS) e dele recebeu pequeno acervo de sua pesquisa.
Com base neste material e em entrevista que fez com o padre, c cumprindo
uma promessa, o pastor Elio escreveu o livreto popular "O livro que padre Bcnini quis
escrever", trazendo o seu enfoque sobre a fase de formação da colônia de Três
Forquilhas (1826-1899).
Coisa rara neste país, Três Forquilhas tem, inclusive, um Círculo de Estudos da
sua história, e o livreto, de distribuição gratuita, contribui para a pesquisa do Círculo.
Força pastoral...
Sem medo de errar, contou padre Benini, a força principal que manteve os
imigrantes protestantes em Três Forquilhas e lhes deu amparo para agüentar
tamanhas dificuldades, foi a fé em Deus e com o estímulo do pastor Carlos Leopoldo
Voges, pároco da comunidade local de 1826 a 1893.
"Quem mais ajudou os colonos não foi o governo, sempre com planos e mais
planos mal executados ou então nunca executados.
Foram os pastores e sacerdotes e as lideranças dos próprios colonos que
estimularam o povo, implantando escolas e lutando pela meJhoria de vida", avaliou o
padre Benini.
Foram os pastores e sacerdotes e as lideranças dos próprios colonos que
estimularam o povo, implantando escolas e lutando pela meJhoria de vida", avaliou o
padre Benini.
O governo, aliás, segundo o padre. nem queria imigrantes que não fossem
católicos. Só descobriu que havia protestantes entre eles depois que já estavam aqui,
do contrário nem teriam entrado no país. Só para ter uma idéia do abandono em que
se encontravam esses imigrantes, apenas em 1858 o governo abriu uma escola em
'Irês l-orquilhas e que funcionou por três anos. Ela fechou por falta de professores, que
não suportaram tamanha solidão. Os imigrantes, porém, trataram de ter sua própria
escola.
Padre Benini também relatou o surgimento do nome Três Forquilhas. "Os
colonos protestantes que para cá vinham recebiam a senha do lugar do início da
colônia. Diziam que ficava junto à terceira forquilha do rio. Esta forquilha encontra-se
nas proximidades onde hoje se situa uma fábrica de conservas. Daí para cima ia a
Colônia, até o passo do cemitério",
Bcniní classificou de "barbaridade" o extermínio dos índios provocado pelos
bandeirantes paulistas, que vieram para o Sul em busca de ouro e prata. Os índios
eram vendidos como escravos em São Paulo e no Rio de Janeiro. O interesse maior
recaía sobre homens e jovens, assim que as mulheres e crianças ficaram
desamparadas. O massacre ocorreu entre 1630 e 1650 e viviam na região de Três
Forquilhas os índios Carijós, os Coroados e os Botocudos. Mais tarde vieram os
Guaranis, que expulsaram os demais Índios e tomaram conta da região.
(Matéria publicada no JORNAL EVANGÉLICO, DA
IECLB, na edição da quinzena de 1º a 15 de março de 1993,
com base no livreto do pastor Elio E. Müller)..
Foto do autor, na época desta atividade.