O ENSINO DE ARTES EM UMA ESCOLA ESPECIAL: METODOLOGIAS E EXPERIÊNCIAS DE UMA JOVEM EDUCADORA Autora Graziela Ferreira de Mello mellograzi @hotmail.com Escola Especial Solange Dreux GT3: O ensino de arte e currículo: O papel das Metodologias, dos Fundamentos e da Autoria do Professor de Arte na Constituição dos Currículos. Palavras-chave: educação em artes, pessoa com deficiência. RESUMO: O presente texto tem a função de apresentar parte do trabalho que realizo na Escola Especial Solange Dreux, das dificuldades de uma jovem arte educadora em estabelecer um currículo e metodologias para alunos com deficiência intelectual e física. Assim como relatar praticas e experiências vividas ao longo do ano letivo, os desafios que se apresentaram, as soluções encontradas para tais desafios, a importância do lúdico e da afetividade no processo de ensino aprendizagem e aprendizado pessoal e profissional que obtive neste processo. 1- O TRABALHO Desde já quero deixar claro que o trabalho é voltado para uma educação em artes e não para arte terapia. Já que não sou arte terapeuta e, em nenhum momento encaro meu trabalho como um tratamento, o que será fundamental para nortear a escolha dos conteúdos e da metodologia aplicada. Desconheço a patologia de meus alunos, e isso na pratica faz pouquíssima diferença, sendo as limitações motoras que irão impor certas barreiras ao fazer artístico. Os limites a serem revistos são os meus como professora e pessoa: controlar os impulsos de transmitir o máximo de conteúdos possíveis, ou, querer que o aluno consiga terminar a atividade proposta no tempo de uma aula de 50 minutos. Ou ainda, que seus movimentos sejam precisos, que a criatividade esteja sempre presente. A reflexão sobre o trabalho realizado está constantemente incluída, assim como a pesquisa por metodologias que propiciem um maior aproveitamento por parte do aluno no momento de aprendizagem.
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o Ensino de Artes Em Uma Escola Especial Texto Expandido
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5/12/2018 o Ensino de Artes Em Uma Escola Especial Texto Expandido - slidepdf.com
Na lei acima citada, o termo utilizado para designar o que hoje chamamos de
deficiência intelectual na época era deficiência mental.
O primeiro grupo que vou chamar de mais intelectualizados é o de alunos cujas
limitações citadas na lei são mais brandas, conseguindo desenvolver-se até certo ponto
nas habilidades acadêmicas, lazer e trabalho. São alunos com maior autonomia em seus
cuidados pessoais, tendo alguns com capacidade se locomovem sozinhos de casa até a
escola, tendo perspectiva inclusive de, no futuro, serem incluídos no mercado formal de
trabalho.
Depois como segundo grupo, os de intelecto mais afetado, onde a dependência de
auxilio para realizar tarefas é maior e, a capacidade de compreensão dos conteúdos é
mais limitada, assim como a capacidade de se comunicar, se concentrar e de interagir com
a professora e com seus colegas de turma.
E, por ultimo, o grupo de “alunos de chão”, cujas síndromes interferem bastante na
parte física. A maioria desses alunos não se comunica através da fala, sendo esta feita
através de gestos, piscadas, olhares e sorrisos e, o trabalho é realizado na maior parte do
tempo sobre tatames.
Com a turma dos mais intelectualizados os trabalhos podem ter maisfundamentação na história da arte e, eu posso fazer uso da metodologia triangular que se
encontra nos PCNs de artes, sendo que neste houveram algumas modificações, e que
segundo o livro ‘Didática do Ensino de Artes’ envolve:
– a experiência de fazer formas artísticas e tudo o que entra em jogo nessa ação criadora:
recursos pessoais, habilidades, pesquisa de materiais e técnicas, a relação entre perceber,
- a experiência de fruir formas artísticas, utilizando informações e qualidades perceptivas e
imaginativas para estabelecer um contato, uma conversa em que as formas signifiquem
coisas diferentes para cada pessoa;
- a experiência de refletir sobre arte como objeto de conhecimento, onde importam dados
sobre a cultura em que o trabalho artístico foi realizado, a história da arte e os elementos e
princípios formais que constituem a produção artística, tanto de artistas quanto dos próprios
alunos. (MARTINS, Miriam Celeste, Gisa Picosque, M. Terezinha Guerra. Didática do Ensino
da Arte, pg. 128)
Ao longo do ano, com essa turma estudamos a arte da pré-história e, faremos uma
breve visita ao trabalho do escultor Auguste Rodin, sempre analisando imagens, discutindo
os temas, realizando o fazer artístico, possibilitando desta forma a construção de sentidosa cerca do que está sendo trabalhado, criando situações de aprendizagem significativa. E
novamente citando Miriam Celeste Martins, Gisa Picosque, M. Terezinha Guerra:
uma aprendizagem em arte só é significativa quando o objeto de conhecimento é a própria
arte, levando o aprendiz a saber manejar e conhecer a gramática especifica de cada
linguagem, que adquire corporalidade por meio de diferentes recursos, técnicas e
instrumentos que lhe são peculiares” (MARTINS, Miriam Celeste, Gisa Picosque, M.
Terezinha Guerra. Didática do Ensino da Arte, pg. 131)
Esse grupo de alunos inclusive é avaliado ao final de cada bimestre recebendo um
boletim com notas, que às vezes chegam a ser simbólicas, mas que levam em
consideração sua participação, comportamento e rendimento durante as aulas
Com o grupo dos “menos intelectualizados”, a alfabetização visual foi o norte de todo o
processo de ensino aprendizado. E, quando falo de alfabetização visual, busco a
apresentação dos elementos visuais mais básicos, tais como formas geométricas, coresprimárias, linhas e texturas. Nesse processo a presença do lúdico foi constante, mesmo
quando o grupo não se tratava só de crianças, pois devido a deficiência intelectual a parte
cognitiva de um jovem muito se assemelha a de uma pessoa com menor idade, ou seja, a
idade mental muitas vezes será diferente da idade física.
Sobre a importância do lúdico nas aulas de artes Ferraz e Fusari destacam sua
relevância dizendo:
As atividades lúdicas também são indispensáveis à criança para a apreensão dos
conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilitam o exercício e o desenvolvimento da
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Alguns alunos costumam trabalhar com a seriação e repetição de uma mesmaimagem nas criações. Que é o caso da aluna que chamarei de Y. Ela está na turma dos
mais intelectualizados, cujo pensamento consegue compreender alguns conteúdos de
disciplinas como Português, Matemática e Filosofia. Nas aulas de artes, quando lhe
oferecemos tinta, cola ou argila - materiais que sujam - ela os rejeita e, demonstra enorme
resistência em tocá-los, mesmo quando usa luvas. Mas quando lhe é oferecido um lápis e
papel ou, no caso eu lhe ofereci para fazer a tela uma caneta Posca, seu desenho flui,
com um traço bem forte e preciso, recriando imagens de seus desenhos de Animes(animação japonesa) favoritos.
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Após todo esse relato concluo que a vivencia que tive durante os sete meses que
estou trabalhando com crianças e jovens especiais, me fez repensar toda a minha pratica
como educadora de artes, da mesma forma que tive que refletir sobre a elaboração de um
currículo significativo e metodologias coerentes a esse tipo de educandos. Todos os
momentos foram de troca de experiências e aprendizado tanto para os alunos como para
mim. Um delicioso e árduo desafio que eu como jovem professora me propus a enfrentar e
a me maravilhar com tudo o que ele me trouxe.
BIBLIOGRAFIA
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. e FUSARI, Maria F. Rezende. Metodologia do ensino da arte: fundamentos
e proposições. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2009.
MARTINS, Miriam Celeste, Gisa Picosque, M. Terezinha Guerra. Didática do Ensino da Arte – A Língua doMundo. Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
BARBOSA, Ana Mãe. A Imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos tempos. 8. Ed. São Paulo:Perspectiva, 2010
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 14. Ed. Petrópolis: Vozes, 1987.
MINICURRÍCULO:
Graziela Ferreira de Mello:
Arte Educadora formada pela UFRJ, cursando pós graduação em Arte e Cultura naUniversidade Candido Mendes, atuou em diversos museus e centros culturais e hoje atuacomo professora de artes visuais na Escola Especial Solange Dreux,na Escola Estação doAprender, na rede estadual e municipal de ensino, nos municípios de Niterói, São Gonçaloe Itaboraí.