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O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MDIO:
Problematizando a cidadania e a formao docente
Walter Matias Lima (UFAL) [email protected]
Resumo:
Este artigo constitui parte das reflexes do Grupo de Pesquisa
sobre Filosofia e Ensino de Filosofia da UFAL, constitudo por
professores e estudantes do Curso de Graduao em Filosofia. A criao
do referido Grupo tem como objetivo desenvolver atividades de
ensino e pesquisa que ajudem a promover o ensino de filosofia em
Alagoas e no nordeste brasileiro. Estas anlises pretendem
contribuir com a sistematizao e criao de metodologias que atuem
como dispositivos e suportes nas atividades pedaggicas exigidas por
um ensino de filosofia que busca o pensar como atividade sem a qual
a Filosofia minimizada em seu ensino. Objetiva ainda contribuir
para a discusso, no mbito do sistema educacional, onde existe o
ensino mdio e a disciplina de filosofia, analisando sua organizao e
as condies atuais de seu ensino, especialmente, nesta fase de seu
desenvolvimento, na cidade de Macei/AL.
Palavras-chave: Ensino de Filosofia; Cidadania; Ensino Mdio.
TEACHING PHILOSOPHY IN HIGH SCHOOL: QUESTIONING CITIZENSHIP
AND TEACHER EDUCATION
Abstract:
This article is part of the reflections of the Research Group on
Philosophy and Philosophy Teaching of UFAL, consisting of teachers
and Undergraduate students of Philosophy. The creation of this
Group aims to develop teaching activities and researches that will
promote the teaching of philosophy in Alagoas and in the Northeast
of Brazil. These analyzes are intended to contribute to the
sistematization and creation of methods that act as devices and
support in educational activities required for teaching philosophy
that seeks to thinking as an activity, without which philosophy is
minimized in their teaching. It also aims to contribute to the
discussion whithin the educational system where there is High
Schools and the discipline of philosophy, analysing its
organization and conditions of teaching, especially at this stage
of its development in the city of Macei/AL.
Key-words: Teaching philosophy; Citzenship; High School.
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INTRODUO
Um dos objetivos desta Pesquisa foi promover a discusso da
cidadania e da tica nas
atividades de ensino de Filosofia no ensino mdio em Alagoas,
atravs de discusses,
produo de material didtico-pedaggico, fomento a cursos de
capacitao aos professores
que j atuam no ensino mdio e reforo queles que esto cursando a
licenciatura em
Filosofia. Ele faz parte da organizao efetiva do Grupo de
Pesquisa em Ensino de Filosofia
(UFAL/ICHCA).
Outro objetivo, que se integra ao anterior, refletir sobre a
constituio dos
Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio e, mais
especificamente, sobre o papel
do ensino de filosofia, no mbito da tica, neste segmento da
educao em Alagoas e no
Brasil.
Acreditamos que a contribuio significativa da filosofia, ao
abordar a prpria filosofia,
a educao e a cidadania, cumprir com a sua especificidade: a
ruptura com o senso comum e
com o dogmatismo, propiciando a abertura para o debate, a
crtica, a manifestao da
contradio no mbito da relao entre o pblico e o privado, naquilo
que urgente para a
construo da cidadania em Alagoas.
Assim sendo, entendemos que uma das tarefas da filosofia, que
aqui capital,
iluminar o sentido terico e prtico daquilo que pensamos e
fazemos. Que nos leve a
compreender a origem de ideias e valores que respeitamos ou
odiamos, que nos esclarea
quanto origem da obedincia a certas imposies e quanto ao desejo
de transgredi-las.
Enfim, que nos diga alguma coisa acerca de ns mesmos, que nos
ajude a compreender como,
por que, para quem, por quem, contra quem ou contra o que as
ideias e os valores so
elaborados e o que podemos fazer deles.
O trabalho da filosofia no consiste em trazer, necessariamente,
solues e respostas,
mas em pensar o existente, a experincia individual e coletiva, a
prtica. Da a necessidade de
desenvolver a capacidade de ler e de entender os textos
filosficos e a prpria realidade, de
educar os professores e alunos para o exerccio da dvida, da
contestao, do pensamento,
bem como de descobrir e de se indignar contra toda e qualquer
forma de excluso; de
trabalhar no sentido da humanizao de todos os homens e de todas
as mulheres, da criao
de instituies e sociedades verdadeiramente humanas, o que jamais
poder ser preocupao,
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compromisso e tarefa de uma s matria, mas de um trabalho
transversal e transdisciplinar
que ajude aos sujeitos, historicamente situados, a construrem
prticas efetivas de cidadania.
Seguindo essas perspectivas sobre a filosofia que entendemos a
importncia
de um trabalho de estudo e pesquisa que envolva professores e
estudantes nas escolas
no estado de Alagoas, especialmente no ensino mdio e que a UFAL,
naquilo que
possvel pelos professores do Departamento de Filosofia, possa
contribuir com a
criao de uma cultura cidad efetiva em nossa sociedade.
FILOSOFIA E CIDADANIA
Em nossos dias, muito se tem falado de cidadania. Num pas
colonizado desde
sua origem, que viu a colonizao ir mudando de mos ao sabor das
alteraes nas
foras geopolticas e econmicas mundiais, o exerccio da cidadania
tem sido sempre
tnue, eivado de controvrsias e contradies. Depois de passar por
duas dcadas de
um regime de exceo, a ltima dcada tem sido marcada pelo discurso
da construo
da cidadania. Tambm muito se tem falado da educao; a mdia, os
governos, os
empresrios, a sociedade a tm posto na ordem do dia. E no so
poucos os discursos
que colocam para a educao a tarefa de formar o cidado.
Mais recentemente, tambm a filosofia entrou na roda: a Lei de
Diretrizes e
Bases da Educao Nacional, finalmente aprovada em dezembro de
1996, afirma que
os jovens egressos do ensino mdio devem dominar os conhecimentos
de filosofia
necessrios ao pleno exerccio da cidadania. E, ainda, fala-se de
um tico exerccio da
cidadania.
Entendemos que a cidadania um atributo de todo ser humano e, ao
mesmo
tempo, uma condio poltica. Podemos definir a cidadania como a
relao de
pertena a uma comunidade. J Aristteles mostrava que inerente ao
ser humano a
condio poltica; dele a clebre afirmao de que o homem um animal
poltico.
Se somos animais polticos, o que quer dizer sobre o fato de
vivermos em sociedade,
em comunidade, que compartilhamos a vida, somos,
necessariamente, pertencentes a
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uma comunidade. Por outro, lado, a cidadania nada se no a
exercitarmos, pois
sendo inerente condio humana, ela depende de nossas aes.
A cidadania no um conceito unvoco; sua conceituao histrica e
depende
estritamente da percepo do momento histrico em que ela forjada.
Assim, uma
coisa era ser cidado na polis grega, outra era ser cidado no
calor das discusses da
Assembleia Legislativa que promoveu a Revoluo Francesa e outra,
bastante
diferente, ser cidado neste Brasil de incio de sculo. Podemos
dizer que, em termos
atuais e mais comuns, a cidadania constitui-se em direitos
(possibilidades) e deveres
(necessidades) dos indivduos articulados numa sociedade poltica,
numa comunidade.
E atravs dessa caracterizao poltica da cidadania podemos
questionar se ela
existe, de fato, no Brasil contemporneo.
Nessa perspectiva, que ensejamos nossa pesquisa, aprofundar
a
problematizao de relao entre tica, ensino de filosofia e
cidadania nas escolas
alagoanas. Nosso intuito fomentar a discusso e a reflexo sobre
questes filosficas
e polticas relacionadas ao contexto do nosso estado. Tambm
pretendemos produzir
material de apoio para que possa ser utilizado nas diversas
instncias educativas, no
mbito escolar, e que contribuamos, dessa forma, para a construo
de
conhecimentos necessrios, que possibilitem a prtica de uma
cultura cidad efetiva e
crtica. Em decorrncia, esperamos que as referidas relaes sejam
radicalizadas e
possibilitem as devidas conceituaes que permearam a compreenso e
interpretao
do tema.
Pois, trata-se, portanto, para ns brasileiros, de construir uma
cidadania de
fato, para alm de uma cidadania legal e de direito como a
cidadania burguesa
realizada nos pases ricos. Precisamos construir uma cidadania
ativa, uma verdadeira
forma de ao poltica que seja possvel para o conjunto da
sociedade e no apenas
para as minorias privilegiadas. No Brasil de hoje, por
conseguinte, urgente que
arregacemos as mangas e nos dediquemos a conquistar e construir
(o ensino a
pesquisa acadmica uma forma de ao concreta e eficaz) uma
cidadania que, se
inerente nossa condio de humanos, s ter sentido quando a
exercermos de fato.
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Assim sendo, o que vamos expor a seguir so consideraes que
resultaram do
estgio atual de nossas discusses terico-metodolgicas no mbito do
Curso de
Licenciatura em Filosofia da Ufal e com os alunos bolsistas
envolvidos em pesquisa de
Pibic.
Portanto, pretendemos levantar alguns temas sobre a filosofia no
ensino mdio
brasileiro. Temas que tm como objetivo contribuir para o debate
atual sobre a
problemtica acerca da importncia e do significado que podemos
atribuir ao ensino
de filosofia. Contudo, diante da grande diversidade e
complexidade que a questo da
filosofia no ensino mdio, no pretendemos esgot-la, nem afirmar
que essa a
melhor maneira de trat-la.
PROBLEMATIZANDO O ENSINO DE FILOSOFIA
A bibliografia que, geralmente, discute a dinmica que envolve os
processos de
ensino/aprendizagem na prxis educativa, levanta controvrsias
tericas e prticas
sobre concepes de educao e do papel da escola na sociedade, o
que coloca, para o
ensino de filosofia. A necessidade de uma tomada de perspectiva.
Partiremos da noo
de que uma das caractersticas da educao ser um processo pelo
qual nos
transformamos ao reconstruirmos nossas experincias dando-lhes
novas significaes,
ver por exemplo as contribuies de Gallo (2012); Cepas (2010); Go
(2010).
Assim sendo, concebemos que a filosofia (seria melhor dizer; as
filosofias) no
feita para refletir sobre qualquer coisa. A capacidade de
refletir uma aptido que
pode ser desenvolvida sem o auxlio da filosofia. Mesmo quando
dizemos que a
filosofia uma atividade de reflexo crtica de conjunto, rigorosa
e sistemtica, o que
parece j virou lugar comum em vrios manuais apostilados que
existem no mercado e
direcionados ao ensino mdio, a filosofia reduzida a uma
interpretao genrica.
O que a filosofia tem a dizer, o diz porque uma disciplina
criativa e inventiva
como qualquer outra e mantm transversalidades com as demais. A
importncia da
filosofia reside na sua potencialidade para construir conceitos,
entendendo os
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conceitos como necessidades que brotam da experincia humana. Os
conceitos no
existem em-si e por-si mesmos, no so entidades metafsicas que
existiriam como
essncias intemporais (nem associados, de antemo, a critrios
transcendentais de
verdade, universalidade, imutabilidade), no so anteriores prxis
das singularidades
e dos coletivos historicamente situados.
Tratamos, aqui, dos conceitos dentro da perspectiva deleuziana,
em que o fazer
filosfico trata dos acontecimentos e, estes, entendidos no como
fatos, mas como
devires. Para alm da questo o que ? (questo prioritria em uma
abordagem
metafsica), encontramos a questo o que se passou?. Contudo, no
se trata de
entender o acontecimento como preocupao exclusiva pelo presente,
no sentido de
investigar unicamente o imediato, o instantneo, uma espcie de
investigao para
encontrar o ser do presente, mas o devir do presente. Na
perspectiva deleuziana,
procuramos fornecer uma conceitualizao das tendncias que
influenciam diversas
instncias da produo filosfica, apontando os possveis sentidos do
acontecimento,
isto , abrindo para novas significaes da experincia. Eis o
trabalho do pensamento:
perguntar o que vai acontecer ou o que aconteceu; atravs dos
conceitos. Estes
dizem o acontecimento, ao invs de dizer as essncias.
Pensar criar, no unicamente refletir. colocar a questo do
sentido (da
produo do sentido e o sentido da produo), no da verdade. exercer
o
pensamento como atividade inventiva na ordem dos problemas, das
regras e dos
conceitos: o pensamento como criao. Essa uma das possibilidades
do ensino da
filosofia: experimentar novas relaes entre os seres, construir
novas composies; o
pensamento como plano de composio onde as relaes e os
acontecimentos se
constroem e se desconstroem. Porque os conceitos filosficos no
so noes
universais, mas singularidades, a filosofia formula os conceitos
adequados
contemplao, reflexo, comunicao, em que o conceito impede o
pensamento
de ser uma simples opinio, o conceito o que faz pensar em
domnios heterogneos.
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O prazer uma consequncia da necessidade de criar. E a filosofia
uma
disciplina criadora, forja conceitos por necessidade de nos
situar melhor no espao-
tempo.
Colocando o que foi dito em outra perspectiva, perspectiva que
passa de travs
com a anterior; podemos dizer que o futuro da filosofia depende
de sua capacidade de
auto-reconstruo conceitual e, ao mesmo tempo, da efetivao da
atividade filosfica
como trabalho crtico do conceito que busca a elaborao de teorias
com intenes
prticas, construindo hipteses plausveis orientadoras do sujeito
capaz do exerccio
constante de investigao. essa capacidade de auto-reconstruo
conceitual o que
torna a filosofia eficaz, dando-lhe condies de permanecer fiel
prxis que a
engendrou. Lembrando que em filosofia, mas no exclusivamente em
filosofia, as
concluses so transitrias, no definitivas; isto , abertas a novas
ponderaes.
Contudo, e como a filosofia no mais preocupao apenas da elite
cultural
no submetida ao trabalho produtivo, a atividade filosfica se faz
a partir da
capacidade de construir um corpus teortico crtico que
proporcione a elaborao de
conhecimentos com intenes prticas. Um conhecimento que possa ser
continuado
na formao de um discurso dialtico-dialgico orientador da ao,
onde haja a
possibilidade de diminuir o abismo existente entre a inteno e o
gesto, onde a ao
transcenda o mbito do sujeito singular e mergulhe na vida
cotidiana dos diversos
agentes histricos, contribuindo para a emancipao humana.
Uma das consequncias do trabalho conceitual da filosofia fazer
voz diante
dos silncios deixados pela ideologia, deixando dessa forma, de
falar sobre as coisas,
para falar das coisas. O conceito brota quando a experincia fala
de si e sobre si
mesma, buscando sua inteligibilidade e compreendendo-se. Neste
caso, podemos
dizer que o conceito advm do trabalho do pensamento, elaborando
discursos da
experincia e no sobre a experincia.
indispensvel, pois, rever a relao da filosofia com a experincia,
tomando-
se esta no como uma simples contingncia e sim como algo
necessrio e importante
para repensar o cotidiano do homem contemporneo. Urge, portanto,
pensar o
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sentido da formao do docente em filosofia, entendendo este
docente como aquele
que orienta para a construo da experincia do pensar, pensando a
experincia.
O ENSINO DE FILOSOFIA E A FORMAO DE PROFESSORES
Atualmente, no Brasil, a discusso em torno do significado e do
papel da
filosofia no ensino mdio, tem adquirido amplitudes cada vez mais
incisivas. Contudo,
queremos chamar a ateno para um tema que no tem sido muito
abordado: a
formao dos professores de filosofia. Existem pesquisas feitas no
Brasil sobre esse
tema, mas a maioria no encontrou espao maior de publicao, alm do
formato das
dissertaes e teses que encontramos nas bibliotecas das
universidades.
Colocamos essa questo porque consideramos urgente uma discusso
mais
ampla da atual situao das licenciaturas em filosofia no Brasil.
Uma vez que boa parte
do debate sobre a filosofia no ensino mdio surgiu, atualmente,
das prescries
propostas pela Lei no 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da
Educao. Nesse
documento, a filosofia e sociologia aparecem como conhecimentos
necessrios ao
exerccio da cidadania, ou seja, artefatos que aparecem como se
fossem um
sortilgio, auxiliando na compreenso do que cidadania, o que
deixa a filosofia em
situao ambgua, uma vez que no fica clara qual a posio, em relao
ao ensino da
filosofia, para a concretizao de um objetivo mais amplo que o
prprio fazer filosfico
possa oferecer ao que se chama, na LDB, de exerccio da
cidadania.
Entendemos que essa forma de abordar a filosofia, deixa em
aberto uma
questo importante: a partir dos parmetros curriculares propostos
pelo Ministrio da
Educao, a filosofia tende a se constituir como disciplina no
currculo escolar, o que
exigiria um professor qualificado para o ensino dessa
disciplina. Entenda-se
qualificado, aqui, como algum que, em princpio, graduou-se em
filosofia e que possui
habilitaes didtico-pedaggicas especficas para o ensino de
filosofia no Ensino
Mdio. No entanto, na maioria das universidades brasileiras, o
graduado em filosofia
no tem formao suficiente para exercer tal atividade, ou a exerce
de forma precria.
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Esse fato se deve, em grande parte, forma como so tratados os
contedos das
disciplinas da licenciatura, muitas vezes panormicos. Levando-se
em considerao a
falta de inter-relao e integrao entre os Departamentos de
Filosofia e os Centros de
Educao, sendo estes ltimos os responsveis, atualmente, pela
capacitao dos
licenciados.
A organizao dos cursos de graduao em Filosofia, no Brasil, ainda
obedece
ao Parecer de no 277/62, que teve como relator Newton Sucupira,
e estabelece um
currculo mnimo que abrange tanto as licenciaturas, quanto os
bacharelados. Esta
forma de organizar os currculos fez com que a maioria das
universidades fundisse
bacharelado e licenciatura em um nico perodo de graduao, em
geral, quatro anos.
Contemplando em seus Projetos Pedaggicos, tanto o incentivo
pesquisa e
produo intelectual, quanto atividade de docncia. Contudo, a
pesquisa em filosofia
est restrita praticamente aos cursos de ps-graduao em
pouqussimas
universidades (essas poucas raramente valorizam a docncia
voltada para o ensino
mdio) e a formao docente, especificamente para o magistrio do
Ensino Mdio, fica
a cargo dos Centros de Educao, aonde os alunos de filosofia vm
de forma genrica,
as disciplinas de Prtica de Ensino (mesmo com estgio
curricular), Didtica e a j velha
e cansada Estrutura e Funcionamento de Ensino.
Sendo assim, preciso que se reconstrua a compreenso do trabalho
do
professor de filosofia, levando-se em considerao o professor
como educador que
pensa sua prtica e direciona sua ao para a reestruturao de suas
condies de
trabalho, assumindo a atividade docente como prtica
transformadora. Essa uma das
tarefas que se pem como urgentes na discusso da formao do
docente em filosofia
para crianas e jovens. Precisamos alimentar o debate por uma
nova perspectiva das
graduaes em filosofia, desde a estrutura do currculo mnimo, dos
contedos
programticos das disciplinas; tanto quanto dos Parmetros
Curriculares propostos
para o Ensino Fundamental e Mdio ensejando, dessa maneira, novas
perspectivas na
licenciatura e no bacharelado em filosofia, sem mergulhar do
didatismo e construindo
tanto o pensar filosfico, como o filosofar.
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Se estivermos certos, precisamos avanar para sair de um discurso
sobre a
filosofia, aqui filosofia no Ensino Mdio, para um discurso da
prtica de ensino de
filosofia. Precisamos ouvir a voz daqueles que tm a filosofia
como experincia, isto ,
professores e estudantes.
Entendemos que a filosofia, no Ensino Mdio, deve ser inserida
como disciplina
especfica, contribuindo para a formao de comunidades de
investigao (LIPMAN,
1994), mesmo que inserida como instrumento para a reflexo sobre
o exerccio da
cidadania, o que refora ainda mais a discusso sobre as
licenciaturas em filosofia. No
se trata, aqui, de fazer a apologia mercantil da
profissionalizao do professor de
filosofia, mas de procurar, no mbito da graduao, as condies do
pensar
permanente o sentido do ensino de filosofia e suas mltiplas
realizaes nas diversas
reas da educao escolar, ou seja, perguntar constantemente: o que
ensinar, para
que ensinar e como ensinar, levando em considerao o trabalho que
j vem sendo
realizado pelos docentes nas salas de aula.
Neste caso, o trabalho conceitual da filosofia busca explorar os
limites tanto da
teoria quanto da prtica, atravs da crtica avaliadora e da
reavaliao crtica
transigente do que pode ser efetivado ou no efetivado nas
escolhas e decises das
singularidades ou coletividades situadas historicamente e que
ensejam as prticas do
Ensino Mdio; por outro lado, essa busca est permeada pelo
mergulho nos problemas
da subjetividade e da intersubjetividade, constantemente
bombardeadas pela crise
dos universais numa sociedade de mercado e de consumo que
transforma em fetiche
os valores e que confunde os devires da prxis de homens e
mulheres com o culto da
eternizao do presente.
Encontrar um sentido para o ensino de filosofia na educao de
crianas e
jovens, atualmente, requer um olhar sobre a situao da escola
brasileira que, em
geral, est permeada por uma concepo prioritariamente informativa
e enciclopdica
(s vezes ingenuamente humanstica e outras vezes cientificista).
Assim como os
discursos em defesa da filosofia no ensino mdio, com raras e
honrosas excees,
descrevem o prprio ensino da filosofia distanciado de uma
reflexo de como se
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encontra a escola brasileira, hoje. Como se o ensino da
filosofia no sofresse
determinaes, por exemplo, das polticas pblicas e do planejamento
na educao
nos nveis nacional e regional.
Isso est caracterizado no texto da LDB quando, para o exerccio
da
cidadania, a filosofia e a sociologia entram como elementos
auxiliares para o
referido exerccio.
Se, no texto da LDB, encontramos ambiguidades no que diz
respeito ao ensino
de filosofia e sociologia, o mesmo pode ser dito sobre o que se
chama exerccio da
cidadania e de como a filosofia pode ajudar a efetivar esse
exerccio, uma vez que a
obrigatoriedade do ensino de filosofia, no nvel mdio, enfrenta
uma srie de questes
que necessitam de mais investigao: a) os processos de formao
docente do
licenciando em filosofia, isto , como se estrutura no Brasil, a
partir da diretrizes
curriculares, as graduaes em filosofia tanto no bacharelado,
quanto na licenciatura;
b) quais as condies de estgio curricular para os licenciandos,
onde e como realizam
seus estgios e quais as condies de acompanhamento; c) quais as
propostas
curriculares para o ensino mdio na escola pblica e na escola
privada e a relao com
o Enade; d) a carga horria disponvel para o ensino de filosofia
e a relao com as
condies estruturais da escola, bem como com relao entre o que as
propostas
curriculares indicam e o projeto pedaggico da escola; e) urge
discutir as varincias
nacionais sobre a formao de professores de filosofia e as
diversas propostas
estaduais para o ensino mdio, especificamente entre filosofia e
sociologia e as outras
reas de saber e f) abertura para novas discusses entre ensinar
filosofia e ensinar a
filosofar.
CONSIDERAES FINAIS
Podemos definir cidadania pelos princpios democrticos, onde o
exerccio da
cidadania se consagra como constante processo de conquista e de
materializao
social e poltica de instituies (a escola, uma delas) e de
comportamentos. A
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democracia como forma de existncia social onde se estabelecem,
numa sociedade
dividida em classes, as relaes sociais, os valores e o poder
poltico, o que caracteriza
o exerccio da cidadania como a busca de efetivar os direitos
(sociais, civis e polticos)
no embate entre a igualdade como principio democrtico e a
desigualdade real
imposta pela atual sociedade. No h cidadania fora de um espao
social de luta pela
igualdade e pela liberdade daqueles que a exercem. Assim sendo,
umas das
contribuies que a presena do ensino de filosofia pode ensejar o
permanente
esforo para manter viva a capacidade do exerccio do pensar. O
pensamento e o
conceito como instrumentos de ao poltica contra a imposio de uma
ordem
estabelecida, contra as redues ideolgicas; o conceito como arma
contra o
argumento da fora, contra a violncia. O trabalho da filosofia
nos d condies de
debruarmo-nos sobre nossa experincia, discutindo nossa prtica e
transformando
nossas aes.
A prtica do ensino de filosofia como possibilitadora do
pensamento crtico
atravs do trabalho do conceito, trabalho este que no negue as
dimenses afetivas e
motivacionais do sujeito, leva crtica radical do j pensado. E
uma crtica radical
mantm a recusa por uma satisfao complacente com o status quo;
uma crtica
radical exercita uma razo coerente e emancipadora; uma crtica
radical no fecha sua
anlise reduzindo o particular em si mesmo e uma crtica radical
mantm vivo o
compromisso do engajamento. Pois enquanto membro de uma
organizao coletiva, o
sujeito constri uma comunidade historicamente real. As relaes
intersubjetivas so
radicalizadas com o objetivo de sair do reino da escassez por
caminhos que necessitam
da crtica advinda da razo dialtica, crtica essa que abre, atravs
da linguagem e da
interao entre os sujeitos, a possibilidade da constituio de
grupos autocrticos e de
uma sociedade onde o exerccio da liberdade pressuposto para a
transparncia da
prpria sociedade.
Portanto, uma das afinidades entre filosofia e educao mostrar a
correlao
entre experincia e conceito, reintroduzindo na universalidade
dos conceitos a
insupervel singularidade da aventura humana, mediante a
reconstituio
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compreensiva das mediaes em que se concretiza a prxis individual
e coletiva,
partindo da compreenso de que toda filosofia exige uma
ensinabilidade, pois no
existe filosofia que no reclame uma pedagogia. Tal a necessidade
histrica a que
responde a educao e a que responde uma prtica de ensino de
filosofia no ensino
mdio, como tambm, no superior. Isto , como atividade onde
experincia e conceito
ensejam transformaes.
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