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1. O Desejado de Todas as Naes Ellen G. White 2007 Copyright
2013 Ellen G. White Estate, Inc.
2. Informaes sobre este livro Resumo Esta publicao eBook
providenciada como um servio do Estado de Ellen G. White. parte
integrante de uma vasta coleco de livros gratuitos online. Por
favor visite owebsite do Estado Ellen G. White. Sobre a Autora
Ellen G. White (1827-1915) considerada como a autora Ameri- cana
mais traduzida, tendo sido as suas publicaes traduzidas para mais
de 160 lnguas. Escreveu mais de 100.000 pginas numa vasta variedade
de tpicos prticos e espirituais. Guiada pelo Esprito Santo, exaltou
Jesus e guiou-se pelas Escrituras como base da f. Outras
Hiperligaes Uma Breve Biografia de Ellen G. White Sobre o Estado de
Ellen G. White Contrato de Licena de Utilizador Final A visualizao,
impresso ou descarregamento da Internet deste livro garante-lhe
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deste livro faz com que a licena aqui cedida seja terminada. Mais
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po- der financiar este servio, favor contactar o Estado de Ellen G.
i
3. White: (endereo de email). Estamos gratos pelo seu interesse
e pelas suas sugestes, e que Deus o abenoe enquanto l. ii
8. Captulo 1 Deus conosco Ele ser chamado pelo nome de Emanuel
(que quer dizer: Deus conosco). Mateus 1:23. O brilho do
conhecimento da glria de Deus v-se na face de Jesus Cristo. Desde
os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era a
imagem de Deus, a imagem de Sua grandeza e majestade, o resplendor
de Sua glria. Foi para manifestar essa glria que Ele veio ao mundo.
Veio Terra entenebrecida pelo pecado, para revelar a luz do amor de
Deus, para ser Deus conosco. Portanto, a Seu respeito foi
profetizado: Ser o Seu nome Emanuel. Isaas 7:14. Vindo habitar
conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos ho- mens como aos
anjos. Ele era a Palavra de Deus o pensamento de Deus tornado
audvel. Em Sua orao pelos discpulos, diz: Eu lhes fiz conhecer o
Teu nome misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em
beneficncia e verdade para que o amor com que Me tens amado esteja
neles, e Eu neles esteja. Joo 17:23. Mas no somente a Seus filhos
nascidos na Terra era feita essa revelao. Nosso pequenino mundo o
livro de estudo do Universo. O maravi- lhoso desgnio de graa do
Senhor, o mistrio do amor que redime, o tema para que os anjos
desejam bem atentar, e ser seu estudo atravs dos sculos sem fim.
Mas os seres remidos e os no cados encontraro na cruz de Cristo sua
cincia e seu cntico. Ver-se- que a glria que resplandece na face de
Jesus Cristo a glria do abnegado amor. luz do Calvrio se patentear
que a lei do amor que renuncia a lei da vida para a Terra e o Cu;
que o amor que no busca os seus interesses (1 Corntios 13:5) tem
sua fonte no corao de Deus; e que no manso e humilde Jesus se
manifesta o carter dAquele que habita na luz inacessvel ao homem.
No princpio, Deus Se manifestava em todas as obras da criao. Foi
Cristo que estendeu os cus, e lanou os fundamentos da Terra. Foi
Sua mo que suspendeu os mundos no espao e deu forma s flores do
campo. Ele converteu o mar em terra firme. Salmos 66:6. Seu o mar,
pois Ele o fez. Salmos 95:5. Foi Ele quem encheu a 7
9. 8 O Desejado de Todas as Naes Terra de beleza, e de cnticos
o ar. E sobre todas as coisas na terra, no ar e no firmamento,
escreveu a mensagem do amor do Pai. Ora, o pecado manchou a
perfeita obra de Deus, todavia perma- necem os traos de Sua mo.
Mesmo agora todas as coisas criadas declaram a glria de Sua
excelncia. No h nada, a no ser o cora-[10] o egosta do homem, que
viva para si. Nenhum pssaro que fende os ares, nenhum animal que se
move sobre a terra, deixa de servir a qualquer outra vida. Folha
alguma da floresta, nem humilde haste de erva sem utilidade. Toda
rvore, arbusto e folha exalam aquele elemento de vida sem o qual
nenhum homem ou animal poderia existir; e animal e homem servem,
por sua vez, vida da folha, do arbusto e da rvore. As flores exalam
sua fragrncia e desdobram sua beleza em bno ao mundo. O Sol derrama
sua luz para alegrar a mil mundos. O prprio oceano, a origem de
todas as nossas fontes, recebe as correntes de toda a terra, mas
recebe para dar. Os vapores que lhe ascendem ao seio caem em
chuveiros para regar a terra a fim de que ela produza e floresa. Os
anjos da glria acham seu prazer em dar dar amor e in- fatigvel
cuidado a almas cadas e contaminadas. Seres celestiais buscam
conquistar o corao dos homens; trazem a este mundo obs- curecido a
luz das cortes em cima; mediante um ministrio amvel e paciente
operam no esprito humano, para levar os perdidos a uma unio com
Cristo, mais ntima do que eles prprios podem avaliar. Volvendo-nos,
porm, de todas as representaes secundrias, contemplamos Deus em
Cristo. Olhando para Jesus, vemos que a glria de nosso Deus dar.
Nada fao por Mim mesmo (Joo 8:28), disse Cristo; o Pai, que vive,
Me enviou, e Eu vivo pelo Pai. Joo 6:57. Eu no busco a Minha glria
(Joo 8:50), mas a dAquele que Me enviou. Joo 7:18. Manifesta-se
nestas palavras o grande princpio que a lei da vida para o
Universo. Todas as coisas Cristo recebeu de Deus, mas recebeu-as
para dar. Assim nas cortes celestes, em Seu ministrio por todos os
seres criados: atravs do amado Filho, flui para todos a vida do
Pai; por meio do Filho ela volve em louvor e jubiloso servio, uma
onda de amor, grande Fonte de tudo. E assim, atravs de Cristo,
completa-se o circuito da beneficncia, representando o carter do
grande Doador, a lei da vida.
10. Deus conosco 9 No prprio Cu foi quebrantada essa lei. O
pecado originou-se na busca dos prprios interesses. Lcifer, o
querubim cobridor, de- sejou ser o primeiro no Cu. Procurou dominar
os seres celestes, afast-los de seu Criador, e receber-lhes, ele
prprio, as homenagens. Portanto, apresentou falsamente a Deus,
atribuindo-Lhe o desejo de exaltao prpria. Tentou revestir o
amorvel Criador com suas pr- prias ms caractersticas. Assim enganou
os anjos. Assim enganou os homens. Levou-os a duvidar da palavra de
Deus, e a desconfiar de Sua bondade. Como o Senhor seja um Deus de
justia e terrvel majestade, Satans os fez consider-Lo como severo e
inclemente. Assim arrastou os homens a se unirem com ele em rebelio
contra Deus, e as trevas da misria baixaram sobre o mundo. A Terra
obscureceu-se devido m compreenso de Deus. Para que as tristes
sombras se pudessem iluminar, para que o mundo pudesse volver ao
Criador, era preciso que se derribasse o poder [11] enganador de
Satans. Isso no se podia fazer pela fora. O exerccio da fora
contrrio aos princpios do governo de Deus; Ele deseja unicamente o
servio de amor; e o amor no se pode impor; no pode ser conquistado
pela fora ou pela autoridade. S o amor desperta o amor. Conhecer a
Deus am-Lo; Seu carter deve ser manifestado em contraste com o de
Satans. Essa obra, unicamente um Ser, em todo o Universo, era capaz
de realizar. Somente Aquele que conhecia a altura e a profundidade
do amor de Deus, podia torn-lo conhecido. Sobre a negra noite do
mundo, devia erguer-Se o Sol da Justia, trazendo salvao sob as Suas
asas. Malaquias 4:2. O plano de nossa redeno no foi um pensamento
posterior, formulado depois da queda de Ado. Foi a revelao do
mistrio que desde tempos eternos esteve oculto. Romanos 16:25. Foi
um desdobramento dos princpios que tm sido, desde os sculos da
eternidade, o fundamento do trono de Deus. Desde o princpio, Deus e
Cristo sabiam da apostasia de Satans, e da queda do homem medi-
ante o poder enganador do apstata. Deus no ordenou a existncia do
pecado. Previu-a, porm, e tomou providncias para enfrentar a
terrvel emergncia. To grande era Seu amor pelo mundo, que concertou
entregar Seu Filho unignito para que todo aquele que nEle cr no
perea, mas tenha a vida eterna. Joo 3:16. Lcifer dissera: Subirei
ao cu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. [...]
Serei semelhante ao Altssimo. Isaas
11. 10 O Desejado de Todas as Naes 14:13, 14. Mas Cristo, sendo
em forma de Deus, no teve por usurpao ser igual a Deus, mas
aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se
semelhante aos homens. Filipenses 2:6, 7. Foi um sacrifcio
voluntrio. Jesus poderia haver permanecido ao lado de Seu Pai.
Poderia haver retido a glria do Cu, e as home- nagens dos anjos.
Mas preferiu entregar o cetro nas mos de Seu Pai, e descer do trono
do Universo, a fim de trazer luz aos entenebrecidos, e vida aos que
estavam quase a perecer. Cerca de dois mil anos atrs, ouviu-se no
Cu uma voz de miste- riosa significao, sada do trono de Deus: Eis
aqui venho. Sacri- fcio e oferta no quiseste, mas corpo Me
preparaste. [...] Eis aqui venho (no rolo do livro est escrito de
Mim), para fazer, Deus, a Tua vontade. Hebreus 10:5-7. Nestas
palavras anuncia-se o cumpri- mento do desgnio que estivera oculto
desde tempos eternos. Cristo estava prestes a visitar nosso mundo,
e a encarnar. Diz Ele: Corpo Me preparaste. Houvesse aparecido com
a glria que possua com o Pai antes que o mundo existisse, e no
teramos podido resistir luz de Sua presena. Para que a pudssemos
contemplar e no ser destrudos, a manifestao de Sua glria foi
velada. Sua divindade ocultou-se na humanidade a glria invisvel na
visvel forma humana. Esse grande desgnio havia sido representado em
tipos e sm- bolos. A sara ardente em que Cristo apareceu a Moiss,
revelava Deus. O smbolo escolhido para representao da Divindade foi
um[12] humilde arbusto que, aparentemente, no tinha nenhuma atrao.
Abrigou, porm, o Infinito. O Deus todo-misericordioso velou Sua
glria num smbolo por demais humilde, para que Moiss pudesse olhar
para ela e viver. Assim na coluna de nuvem de dia e na de fogo
noite, Deus Se comunicava com Israel, revelando aos homens Sua
vontade e proporcionando-lhes graa. A glria de Deus era res-
tringida, e Sua majestade velada, para que a fraca viso de homens
finitos a pudesse contemplar. Da mesma maneira Cristo devia vir no
corpo abatido (Filipenses 3:21), semelhante aos homens. Aos olhos
do mundo, no possua beleza para que O desejassem; e no obstante era
o encarnado Deus, a luz do Cu na Terra. Sua glria estava encoberta,
Sua grandeza e majestade ocultas, para que pudesse atrair a Si os
tentados e sofredores.
12. Deus conosco 11 Deus ordenou a Moiss acerca de Israel: E Me
faro um santu- rio, e habitarei no meio deles (xodo 25:8), e
habitou no santurio, no meio de Seu povo. Durante toda a fatigante
peregrinao deles no deserto, o smbolo de Sua presena os acompanhou.
Assim Cristo es- tabeleceu Seu tabernculo no meio de nosso
acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao lado da dos homens, para
que pudesse viver entre ns, e tornar-nos familiares com Seu carter
e vida divinos. O Verbo Se fez carne, e habitou entre ns, e vimos a
Sua glria, como a glria do Unignito do Pai, cheio de graa e de
verdade. Joo 1:14. Desde que Cristo veio habitar entre ns, sabemos
que Deus est relacionado com as nossas provaes, e Se compadece de
nossas dores. Todo filho e filha de Ado pode compreender que nosso
Criador o amigo dos pecadores. Pois em toda doutrina de graa, toda
promessa de alegria, todo ato de amor, toda atrao divina
apresentada na vida do Salvador na Terra, vemos Deus conosco.
Mateus 1:23. Satans apresenta a divina lei de amor como uma lei de
egosmo. Declara que nos impossvel obedecer-lhe aos preceitos. A
queda de nossos primeiros pais, com toda a misria resultante, ele
atribui ao Criador, levando os homens a olharem a Deus como autor
do pecado, do sofrimento e da morte. Jesus devia patentear esse
engano. Como um de ns, cumpria-Lhe dar exemplo de obedincia. Para
isso tomou sobre Si a nossa natureza, e passou por nossas provas.
Convinha que em tudo fosse semelhante aos irmos. Hebreus 2:17. Se
tivssemos de sofrer qualquer coisa que Cristo no houvesse
suportado, Satans havia de apresentar o poder de Deus como nos
sendo insuficiente. Portanto, Jesus como ns, em tudo foi tentado.
Hebreus 4:15. Sofreu toda provao a que estamos sujeitos. E no
exerceu em Seu prprio proveito poder algum que nos no seja
abundantemente facultado. Como homem, enfrentou a tentao, e
venceu-a no poder que Lhe foi dado por Deus. Diz Ele: Deleito Me em
fazer a Tua vontade, Deus Meu; sim, a Tua lei est dentro do Meu
corao. [13] Salmos 40:8. Enquanto andava fazendo o bem e curando a
todos os aflitos do diabo, patenteava aos homens o carter da lei de
Deus, e a natureza de Seu servio. Sua vida testifica ser possvel
obedecermos tambm lei de Deus.
13. 12 O Desejado de Todas as Naes Por Sua humanidade, Cristo
estava em contato com a humani- dade; por Sua divindade, firma-Se
no trono de Deus. Como Filho do homem, deu-nos um exemplo de
obedincia; como Filho de Deus, d-nos poder para obedecer. Foi
Cristo que, do monte Horebe, falou a Moiss, dizendo: Eu Sou o Que
Sou. [...] Assim dirs aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vs.
xodo 3:14. Foi esse o penhor da libertao de Israel. Assim, quando
Ele veio semelhante aos homens, declarou ser o EU SOU. O Infante de
Belm, o manso e humilde Salvador, Deus manifestado em carne. 1
Timteo 3:16. A ns nos diz: Eu Sou o Bom Pastor. Joo 10:11. Eu Sou o
Po Vivo. Joo 6:51. Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Joo 14:6.
-Me dado todo o poder no Cu e na Terra. Mateus 28:18. Eu Sou a
certeza da promessa. Sou Eu, no temais. Deus conosco a certeza de
nossa libertao do pecado, a segurana de nosso poder para obedecer
lei do Cu. Baixando a tomar sobre Si a humanidade, Cristo revelou
um carter exatamente oposto ao de Satans. Desceu, porm, ainda mais
baixo na escala da humilhao. Achado na forma de homem, humilhou-Se
a Si mesmo, sendo obediente at morte, e morte de cruz. Filipenses
2:8. Como o sumo sacerdote punha de parte suas suntuosas vestes
pontificais, e oficiava no vesturio de linho branco, do sacerdote
comum, assim Cristo tomou a forma de servo, e ofereceu sacrifcio,
sendo Ele mesmo o sacerdote e a vtima. Ele foi ferido pelas nossas
transgresses, e modo pelas nossas iniqidades; o castigo que nos
traz a paz estava sobre Ele. Isaas 53:5. Cristo foi tratado como ns
merecamos, para que pudssemos receber o tratamento a que Ele tinha
direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais no tinha
participao, para que fssemos justificados por Sua justia, na qual
no tnhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que
recebssemos a vida que a Ele pertencia. Pelas Suas pisaduras fomos
sarados. Isaas 53:5. Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda
mais do que a res- taurao da runa produzida pelo pecado. Era o
intuito de Satans causar entre o homem e Deus uma eterna separao;
em Cristo, porm, chegamos a ficar em mais ntima unio com Ele do que
se nunca houvssemos pecado. Ao tomar a nossa natureza, o Salvador
ligou-Se humanidade por um lao que jamais se partir. Ele nos estar
ligado por toda a eternidade. Deus amou o mundo de tal ma-
14. Deus conosco 13 neira que deu o Seu Filho unignito. Joo
3:16. No O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em
sacrifcio por ns; deu-O raa cada. Para nos assegurar Seu imutvel
conselho de paz, Deus deu Seu Filho unignito a fim de que Se
tornasse membro da famlia [14] humana, retendo para sempre Sua
natureza humana. Esse o penhor de que Deus cumprir Sua palavra. Um
Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado est sobre os
Seus ombros. Isaas 9:6. Deus adotou a natureza humana na pessoa de
Seu Filho, levando a mesma ao mais alto Cu. o Filho do homem, que
partilha do trono do Universo. o Filho do homem, cujo nome ser Ma-
ravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Prncipe da
paz. Isaas 9:6. O EU SOU o rbitro entre Deus e a humanidade, pondo
a mo sobre ambos. Aquele que santo, inocente, imacu- lado, separado
dos pecadores (Hebreus 7:26), no Se envergonha de nos chamar irmos.
Hebreus 2:11. Em Cristo se acham ligadas a famlia da Terra e a do
Cu. Cristo glorificado nosso irmo. O Cu Se acha abrigado na
humanidade, e esta envolvida no seio do Infinito Amor. Diz Deus de
Seu povo: Como as pedras de uma coroa eles sero exaltados na sua
Terra. Porque, quo grande a Sua bondade! E quo grande a Sua
formosura! Zacarias 9:16, 17. A exaltao dos remidos ser um eterno
testemunho da misericrdia de Deus. Ele h de mostrar nos sculos
vindouros as abundantes riquezas da Sua graa, pela Sua benignidade
para conosco em Cristo Jesus. Efsios 2:7. Para que [...] a
multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e
potestades nos Cus, segundo o eterno propsito que fez em Cristo
Jesus nosso Senhor. Efsios 3:10, 11. Por meio da obra redentora de
Cristo, o governo de Deus fica justificado. O Onipotente dado a
conhecer como o Deus de amor. As acusaes de Satans so refutadas, e
revelado seu carter. A rebelio no se levantar segunda vez. O pecado
jamais poder entrar novamente no Universo. Todos estaro por todos
os sculos garantidos contra a apostasia. Mediante o sacrifcio feito
pelo amor, os habitantes da Terra e do Cu se acham ligados a seu
Criador por laos de indissolvel unio. A obra da redeno ser
completa. Onde abundou o pecado, superabundou a graa de Deus. A
Terra, o prprio campo que Satans reclama como seu, ser no apenas
redimida, mas exaltada. Nosso
15. 14 O Desejado de Todas as Naes pequenino mundo, sob a
maldio do pecado, a nica mancha escura de Sua gloriosa criao, ser
honrado acima de todos os outros mundos do Universo de Deus. Aqui,
onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glria
viveu e sofreu e morreu aqui, quando Ele houver feito novas todas
as coisas, ser o tabernculo de Deus com os homens, com eles
habitar, e eles sero o Seu povo, e o mesmo Deus estar com eles, e
ser o seu Deus. Apocalipse 21:4. E atravs dos sculos infindos,
enquanto os remidos andam na luz do Senhor, ho de louv-Lo por Seu
inefvel Dom Emanuel, Deus Conosco.[15]
16. Captulo 2 O povo escolhido Por mais de mil anos aguardara o
povo judeu a vinda do Salvador. Nesse acontecimento fundamentara
suas mais gloriosas esperanas. No cntico e na profecia, no ritual
do templo e nas oraes doms- ticas, haviam envolvido o Seu nome.
Entretanto, por ocasio de Sua vinda, no O conheceram. O Bem-Amado
do Cu foi para eles como raiz duma terra seca; no tinha parecer nem
formosura (Isaas 53:2); e no Lhe viam beleza nenhuma para que O
desejas- sem. Veio para o que era Seu, e os Seus no O receberam.
Joo 1:11. Todavia Deus escolhera a Israel. Ele o chamara para
conservar entre os homens o conhecimento de Sua lei, e dos smbolos
e pro- fecias que apontavam ao Salvador. Desejava que fosse como
fonte de salvao para o mundo. O que Abrao fora na terra de sua
pere- grinao, o que fora Jos no Egito e Daniel nas cortes de
Babilnia, devia ser o povo hebreu entre as naes. Cumpria-lhe
revelar Deus aos homens. Na vocao de Abrao, Deus dissera:
Abenoar-te-ei, [...] e tu sers uma bno [...] e em ti sero benditas
todas as famlias da Terra. Gnesis 12:2, 3. O mesmo ensino foi
repetido pelos profetas. Ainda depois de Israel haver sido
arruinado por guerras e cativeiros, pertencia-lhe a promessa: Ento
os restos de Jac estaro no meio de muitos povos, como um orvalho
que vem do Senhor, e como gotas de gua que caem sobre a erva, sem
dependerem de ningum, e sem esperarem nada dos filhos dos homens.
Miquias 5:7. A respeito do templo de Jerusalm, o Senhor declarou
por intermdio de Isaas: Minha casa ser chamada casa de orao para
todos os povos. Isaas 56:7. Mas os israelitas fixaram suas
esperanas em mundanas grande- zas. Desde o tempo de sua entrada na
terra de Cana, apartaram-se dos mandamentos de Deus e seguiram os
caminhos dos gentios. Era em vo que Deus enviava advertncias por
Seus profetas. Em 15
17. 16 O Desejado de Todas as Naes vo sofriam eles o castigo da
opresso gentlica. Toda reforma era seguida de mais profunda
apostasia. Houvessem os filhos de Israel sido leais ao Senhor, e
Ele teria podido cumprir Seu desgnio, honrando-os e exaltando-os.
Houves- sem andado nos caminhos da obedincia, e t-los-ia exaltado
sobre todas as naes que fez, para louvor, e para fama, e para
glria. Deuteronmio 26:19. Todos os povos da Terra vero que s cha-
mado pelo nome do Senhor, disse Moiss; e tero temor de ti.[16]
Deuteronmio 28:10. Os povos [...] ouvindo todos estes precei- tos
diro: Eis um povo sbio e inteligente, uma nao grande. Deuteronmio
4:6. Devido a sua infidelidade, porm, o desgnio de Deus s pde ser
executado atravs de contnua adversidade e humilhao. Foram levados
em sujeio a Babilnia, e espalhados pelas terras dos pagos. Em aflio
renovaram muitos sua fidelidade ao concerto de Deus. Enquanto
penduravam suas harpas nos salgueiros, e lamen- tavam o santo
templo posto em runas, a luz da verdade brilhava por meio deles, e
difundia-se entre as naes o conhecimento de Deus. O pagnico sistema
de sacrifcios era uma perverso do sistema que Deus indicara; e
muitos dos sinceros observadores dos ritos pa- gos aprenderam dos
hebreus o significado do servio divinamente ordenado,
apoderando-se, com f, da promessa do Redentor. Muitos dos exilados
sofreram perseguio. No poucos perde- ram a vida em virtude de sua
recusa de violar o sbado e observar as festividades pags. Quando
idlatras se levantaram para esmagar a verdade, o Senhor levou Seus
servos presena de reis e governado- res, para que estes e seu povo
pudessem receber a luz. Repetidamente os maiores reis foram levados
a proclamar a supremacia do Deus a quem seus cativos hebreus
adoravam. Mediante o cativeiro de Babilnia, os israelitas foram
realmente curados do culto de imagens de escultura. Durante os
sculos que se seguiram, sofreram opresso de seus inimigos gentios,
at que se firmou neles a convico de que sua prosperidade dependia
da obe- dincia prestada lei de Deus. Mas com muitos deles a
obedincia no era motivada pelo amor. Tinham motivo egosta.
Prestavam a Deus um servio exterior como meio de atingir a grandeza
nacional. No se tornaram a luz do mundo, mas excluram-se do mundo a
fim de fugir tentao da idolatria. Nas instrues dadas a Moiss,
Deus
18. O povo escolhido 17 estabeleceu restries associao deles com
os idlatras; estes en- sinos, porm, haviam sido mal interpretados.
Visavam preserv-los contra as prticas dos gentios. Mas foram usados
para estabelecer uma parede de separao entre Israel e todas as
outras naes. Os ju- deus consideravam Jerusalm como seu Cu, e
tinham reais cimes de que Deus mostrasse misericrdia aos gentios.
Depois da volta de Babilnia, foi dispensada muita ateno ao ensino
religioso. Ergueram-se por todo o pas sinagogas, nas quais a lei
era exposta pelos sacerdotes e escribas. E estabeleceram-se escolas
que, ao par das artes e cincias, professavam ensinar os princpios
da justia. Esses agentes perverteram-se, porm. Durante o cativeiro,
muitos do povo haviam adquirido idias e costumes pagos, os quais
foram introduzidos em seu culto. Conformaram-se, em muitos
aspectos, com as prticas dos idlatras. medida que se apartavam de
Deus, os judeus perderam de vista em grande parte os ensinos do
servio ritual. Esse servio fora institudo pelo prprio Cristo. Era,
em cada uma de suas par- tes, um smbolo dEle; e mostrara-se cheio
de vitalidade e beleza [17] espiritual. Mas os judeus perderam a
vida espiritual de suas cerim- nias, apegando-se s formas mortas.
Confiavam nos sacrifcios e ordenanas em si mesmos, em lugar de
descansar nAquele a quem apontavam. A fim de suprir o que haviam
perdido, os sacerdotes e rabis multiplicavam exigncias por sua
conta; e quanto mais rgi- dos se tornavam, menos manifestavam o
amor de Deus. Mediam sua santidade pela multido de cerimnias, ao
passo que tinham o corao cheio de orgulho e hipocrisia. Com todas
as suas minuciosas e enfadonhas imposies, era impossvel guardar a
lei. Os que desejavam servir a Deus, e procura- vam observar os
preceitos dos rabinos, arrastavam um pesado fardo. No podiam
encontrar sossego das acusaes de uma conscincia turbada. Assim
operava Satans para desanimar o povo, rebaixar sua concepo do
carter de Deus, e levar ao desprezo a f de Israel. Esperava
estabelecer a pretenso que manifestara quando de sua rebelio no Cu
que as reivindicaes de Deus eram injustas, e no podiam ser
obedecidas. Mesmo Israel, declara ele, no guardava a lei. Ao passo
que os israelitas desejavam o advento do Messias, no tinham um reto
conceito da misso que Ele vinha desempenhar.
19. 18 O Desejado de Todas as Naes No buscavam redeno do
pecado, mas libertao dos romanos. Olhavam o Messias por vir como um
conquistador, para quebrar a fora do que os oprimia, e exaltar
Israel ao domnio universal. Assim estava preparado o caminho para
rejeitarem o Salvador. Ao tempo do nascimento de Cristo, a nao
estava irritada sob o governo de seus dominadores estrangeiros, e
atormentada por lu- tas internas. Fora permitido aos judeus
manterem a forma de um governo separado; mas coisa alguma podia
disfarar o fato de se acharem sob o jugo romano, ou reconcili-los
com a restrio de seu poder. Os romanos pretendiam o direito de
indicar ou destituir o sumo sacerdote, e o cargo era muitas vezes
obtido pela fraude, o suborno e at pelo homicdio. Assim o sacerdcio
se tornava mais e mais corrupto. Todavia os sacerdotes ainda
ostentavam grande poder, e o empregavam para fins egostas e
mercenrios. O povo estava sujeito a suas desapiedadas exigncias, e
era tambm pesadamente onerado pelos romanos. Esse estado de coisas
causava geral descon- tentamento. Os levantes populares eram
freqentes. A ganncia e a violncia, a desconfiana e apatia
espiritual estavam corroendo o prprio mago da nao. O dio dos
romanos, bem como o orgulho nacional e espiritual, levaram os
judeus a apegar-se ainda rigorosamente a suas formas de culto. Os
sacerdotes tentavam manter reputao de santidade mediante
escrupulosa ateno s cerimnias religiosas. O povo, em seu estado de
trevas e opresso, e os prncipes, sedentos de poder, ansiavam a
vinda dAquele que havia de vencer seus inimigos e restaurar o reino
a Israel. Eles tinham estudado as profecias, mas sem percepo
espiritual. Esqueciam, portanto, os textos que apontavam humilhao
do primeiro advento de Cristo, e aplicavam mal os que falavam da
glria do segundo. O orgulho lhes obscurecia a viso. Interpretavam a
profecia segundo seus desejos egostas.[18]
20. Captulo 3 A plenitude dos tempos Vindo a plenitude dos
tempos, Deus enviou Seu Filho [...] para remir os que estavam
debaixo da lei, a fim de recebermos a adoo de filhos. Glatas 4:4,
5. A vinda do Salvador foi predita no den. Quando Ado e Eva ouviram
pela primeira vez a promessa, aguardavam-lhe o pronto cumprimento.
Saudaram alegremente seu primognito, na esperana de que fosse o
Libertador. Mas o cumprimento da promessa demo- rava. Aqueles que
primeiro a receberam, morreram sem o ver. Desde os dias de Enoque,
a promessa foi repetida por meio de patriarcas e profetas, mantendo
viva a esperana de Seu aparecimento, e to- davia Ele no vinha. A
profecia de Daniel revelou o tempo de Seu advento, mas nem todos
interpretavam corretamente a mensagem. Sculo aps sculo se passou;
cessaram as vozes dos profetas. A mo do opressor era pesada sobre
Israel, e muitos estavam dispos- tos a exclamar: Prolongar-se-o os
dias, e perecer toda a viso. Ezequiel 12:22. Mas, como as estrelas
no vasto circuito de sua indicada rbita, os desgnios de Deus no
conhecem adiantamento nem tardana. Mediante os smbolos da grande
escurido e do forno fumegante, Deus revelara a Abrao a servido de
Israel no Egito, e declarara que o tempo de peregrinao deles seria
de quatrocentos anos. Sairo depois com grandes riquezas. Gnesis
15:14. Contra essa palavra, todo o poder do orgulhoso imprio de
Fara batalhou em vo. Na- quele mesmo dia, indicado na promessa
divina, todos os exrcitos do Senhor saram da terra do Egito. xodo
12:41. Assim, nos divi- nos conselhos fora determinada a hora da
vinda de Cristo. Quando o grande relgio do tempo indicou aquela
hora, Jesus nasceu em Belm. Vindo a plenitude dos tempos, Deus
enviou Seu Filho. A Pro- vidncia havia dirigido os movimentos das
naes, e a onda do impulso e influncia humanos, at que o mundo se
achasse maduro para a vinda do Libertador. As naes estavam unidas
sob o mesmo 19
21. 20 O Desejado de Todas as Naes governo. Falava-se
vastamente uma lngua, a qual era por toda parte reconhecida como a
lngua da literatura. De todas as terras os judeus da disperso
reuniam-se em Jerusalm para as festas anuais. Ao voltarem para os
lugares de sua peregrinao, podiam espalhar por todo o mundo as
novas da vinda do Messias.[19] Por essa poca, os sistemas pagos iam
perdendo o domnio sobre o povo. Os homens estavam cansados de
aparncias e fbulas. Ansiavam uma religio capaz de satisfazer a
alma. Conquanto a luz da verdade parecesse afastada dos homens,
havia almas ansiosas de luz, cheias de perplexidade e dor. Tinham
sede do conhecimento do Deus vivo, da certeza de uma vida para alm
da morte. medida que Israel se havia separado de Deus, sua f se
enfra- quecera, e a esperana deixara, por assim dizer, de iluminar
o futuro. As palavras dos profetas eram incompreendidas. Para a
massa do povo, a morte era um terrvel mistrio; para alm, a
incerteza e as sombras. No era s o pranto das mes de Belm, mas o
clamor do grande corao da humanidade, que chegou ao profeta atravs
dos sculos a voz ouvida em Ram, lamentao, choro e grande pranto:
Raquel chorando os seus filhos, e no querendo ser conso- lada,
porque j no existem. Mateus 2:18. Na regio da sombra da morte,
sentavam-se os homens sem consolao. Com olhares ansiosos,
aguardavam a vinda do Libertador, quando as trevas seriam
dispersas, e claro se tornaria o mistrio do futuro. Fora da nao
judaica houve homens que predisseram o apareci- mento de um
instrutor. Esses homens andavam em busca da verdade, e foi-lhes
comunicado o Esprito de inspirao. Um aps outro, quais estrelas num
cu enegrecido, haviam-se erguido esses mestres. Suas palavras de
profecia despertaram a esperana no corao de milhares, no mundo
gentio. Fazia sculos que as Escrituras haviam sido traduzidas para
o grego, ento vastamente falado no imprio romano. Os judeus esta-
vam espalhados por toda parte, e sua expectao da vinda do Messias
era, at certo ponto, partilhada pelos gentios. Entre aqueles a quem
os judeus classificavam de pagos, encontravam-se homens que pos-
suam melhor compreenso das profecias da Escritura relativas ao
Messias, do que os mestres de Israel. Alguns O esperavam como
Libertador do pecado. Filsofos esforavam-se por estudar a fundo o
mistrio da organizao dos hebreus. A hipocrisia destes, porm,
22. A plenitude dos tempos 21 impedia a disseminao da luz. Com
o fito de manter a separao entre eles e as outras naes, no se
dispunham a comunicar o co- nhecimento que ainda possuam quanto ao
servio simblico. Era preciso que viesse o verdadeiro Intrprete.
Aquele a quem todos esses tipos prefiguravam, devia explicar o
sentido dos mesmos. Por meio da natureza, de figuras e smbolos, de
patriarcas e profe- tas, Deus falara ao mundo. As lies deviam ser
dadas humanidade na linguagem da prpria humanidade. O Mensageiro do
concerto devia falar. Sua voz devia ser ouvida em Seu prprio
templo. Cristo tinha de vir para proferir palavras que fossem clara
e positivamente compreendidas. Ele, o autor da verdade, devia
separ-la da palha das expresses humanas, que a haviam tornado de
nenhum efeito. Os princpios do governo de Deus e o plano da redeno,
deviam ficar claramente definidos. As lies do Antigo Testamento
precisavam [20] ser plenamente apresentadas aos homens. Havia entre
os judeus ainda algumas almas firmes, descendentes daquela santa
linhagem atravs da qual fora conservado o conheci- mento de Deus.
Estes acalentavam a esperana da promessa feita aos pais.
Fortaleciam a f repousando na certeza dada por intermdio de Moiss:
O Senhor vosso Deus vos suscitar um profeta dentre vossos irmos,
semelhante a mim: a Este ouvireis em tudo que vos disser. Atos dos
Apstolos 3:22. E novamente liam como o Senhor havia de ungir Algum
para pregar boas-novas aos mansos, res- taurar os contritos de
corao, proclamar liberdade aos cativos, e apregoar o ano aceitvel
do Senhor. Isaas 61:1, 2. Liam como Ele havia de estabelecer a
justia sobre a Terra, como as ilhas aguar- dariam a Sua doutrina,
(Isaas 42:4) como os gentios andariam Sua luz, e os reis ao
resplendor que Lhe nascera. Isaas 60:3. As ltimas palavras de Jac
os enchiam de esperana: O cetro no se arredar de Jud, nem o
legislador dentre seus ps, at que venha Sil. Gnesis 49:10. O
enfraquecido poder de Israel teste- munhava que a vinda do Messias
estava s portas. A profecia de Daniel pintava a glria do Seu reino
sobre um domnio que sucede- ria a todos os imprios terrestres; e
disse o profeta: subsistir para sempre. Daniel 2:44. Ao passo que
poucos entendiam a natureza da misso de Cristo, era geral a
expectativa de um poderoso prncipe que havia de estabelecer seu
reino em Israel, e que viria como um libertador para as naes.
23. 22 O Desejado de Todas as Naes Chegara a plenitude dos
tempos. A humanidade, tornando-se mais degradada atravs dos sculos
de transgresso, pedia a vinda do Redentor. Satans estivera em
operao para tornar intransponvel o abismo entre a Terra e o Cu. Por
suas falsidades tornara os homens atrevidos no pecado. Era seu
desgnio esgotar a pacincia de Deus, e extinguir-Lhe o amor para com
os homens, de maneira que Ele abandonasse o mundo satnica jurisdio.
Satans estava procurando vedar ao homem o conhecimento de Deus,
desviar-lhe a ateno do templo divino, e estabelecer seu prprio
reino. Dir-se-ia coroada de xito sua luta pela supremacia. verdade,
que, em toda gerao, Deus tem Seus instrumentos. Mesmo entre os
gentios, havia homens por meio dos quais Cristo estava operando
para elevar o povo de seu pecado e degradao. Mas esses homens eram
desprezados e aborrecidos. Muitos deles haviam sofrido morte
violenta. A escura sombra que Satans lanara sobre o mundo,
tornara-se cada vez mais densa. Por meio do paganismo, Satans
desviara por sculos os homens de Deus; mas conseguira seu grande
triunfo ao perverter a f de Israel. Contemplando e adorando suas
prprias concepes, os gen- tios haviam perdido o conhecimento de
Deus, tornando-se mais e mais corruptos. O mesmo se deu com Israel.
O princpio de que o homem se pode salvar por suas prprias obras, e
que est na base de[21] toda religio pag, tornara-se tambm o
princpio da religio judaica. Implantara-o Satans. Onde quer que
seja mantido, os homens no tm barreira contra o pecado. A mensagem
de salvao comunicada aos homens por inter- mdio de instrumentos
humanos. Mas os judeus haviam procurado monopolizar a verdade, que
a vida eterna. Entesouraram o vivo man, que se corrompera. A
religio que tinham buscado guardar s para si, tornara-se um tropeo.
Roubavam a Deus de Sua gl- ria, e prejudicavam o mundo por uma
falsificao do evangelho. Haviam recusado entregar-se a Deus para a
salvao do mundo, e tornaram-se instrumento de Satans para sua
destruio. O povo a quem Deus chamara para ser a coluna e fundamento
da verdade, transformara-se em representante de Satans. Faziam a
obra que este queria que fizessem, seguindo uma conduta em que
apresentavam mal o carter de Deus, fazendo com que o mundo O
considerasse um tirano. Os prprios sacerdotes que ministravam
24. A plenitude dos tempos 23 no templo haviam perdido de vista
a significao do servio que realizavam. Deixaram de olhar, para alm
do smbolo, quilo que ele significava. Apresentando as ofertas
sacrificais, eram como atores num palco. As ordenanas que o prprio
Deus indicara, tinham-se tornado o meio de cegar o esprito e
endurecer o corao. Deus no poderia fazer nada mais pelo homem por
meio desses veculos. Todo o sistema devia ser banido. O engano do
pecado atingira sua culminncia. Todos os meios para depravar a alma
dos homens haviam sido postos em operao. Contemplando o mundo, o
Filho de Deus viu sofrimento e misria. Viu, com piedade, como os
homens se tinham tornado vtimas da crueldade satnica. Olhou
compassivamente para os que estavam sendo corrompidos, mortos,
perdidos. Estes tinham escolhido um dominador que os jungia a seu
carro como cativos. Confundidos e enganados, avanavam, em sombria
procisso rumo runa eterna para a morte em que no h nenhuma esperana
de vida, para a noite que no tem alvorecer. Agentes satnicos
estavam incorporados com os homens. O corpo de criaturas humanas,
feito para habitao de Deus, tornara-se morada de demnios. Os
sentidos, os nervos, as paixes, os rgos dos homens eram por agentes
sobrenaturais levados a condescender com a concupiscncia mais vil.
O prprio selo dos demnios se achava impresso na fisionomia dos
homens. Esta refletia a expresso das legies do mal de que se
achavam possessos. Eis a perspectiva contemplada pelo Redentor do
mundo. Que espetculo para a Infinita Pureza! O pecado se tornara
uma cincia, e era o vcio consagrado como parte da religio. A
rebelio deitara fundas razes na alma, e vio- lenta era a
hostilidade do homem contra o Cu. Ficara demonstrado perante o
Universo que, separada de Deus, a humanidade no se po- deria
erguer. Novo elemento de vida e poder tinha de ser comunicado [22]
por Aquele que fizera o mundo. Com intenso interesse, os mundos no
cados observavam para ver Jeov levantar-Se e assolar os habitantes
da Terra. E, fizesse Deus assim, Satans estaria pronto a executar
seu plano de conquis- tar a aliana dos seres celestiais. Declarara
ele que os princpios de Deus tornavam impossvel o perdo. Houvesse o
mundo sido destrudo, e teria pretendido serem justas as suas
acusaes. Estava disposto a lanar a culpa sobre o Senhor, e estender
sua rebelio
25. 24 O Desejado de Todas as Naes pelos mundos em cima. Em
lugar de destruir o mundo, porm, Deus enviou Seu Filho para o
salvar. Embora se pudessem, por toda parte do desgarrado domnio,
ver corrupo e desafio, foi provido um meio para resgat-lo. Justo no
momento da crise, quando Satans parecia prestes a triunfar, veio o
Filho de Deus com a embaixada da graa divina. Atravs de todos os
sculos, de todas as horas, o amor de Deus se havia exercido para
com a raa cada. No obstante a perversidade dos homens, os sinais da
misericrdia tinham sido constantemente manifestados. E, ao chegar
plenitude dos tempos, a Divindade era glorificada derramando sobre
o mundo um dilvio de graa vivificadora, o qual nunca seria impedido
nem retido enquanto o plano da salvao no se houvesse consumado.
Satans rejubilava por haver conseguido rebaixar a imagem de Deus na
humanidade. Ento veio Cristo, a fim de restaurar no homem a imagem
de seu Criador. Ningum, seno Cristo, pode remodelar o carter
arruinado pelo pecado. Veio para expelir os demnios que haviam
dominado a vontade. Veio para nos erguer do p, refor- mar o carter
manchado, segundo o modelo de Seu divino carter, embelezando-o com
Sua prpria glria.[23]
26. Captulo 4 Hoje vos nasceu o Salvador Este captulo baseado
em Lucas 2:1-20. O Rei da Glria muito Se humilhou ao revestir-Se da
huma- nidade. Rude e ingrato foi o Seu ambiente terrestre. Sua
glria foi velada, para que a majestade de Sua aparncia exterior no
se tornasse objeto de atrao. Esquivava-Se a toda exibio exterior.
Riquezas, honras terrestres e humana grandeza nunca podero salvar
uma alma da morte; Jesus Se props que nenhuma atrao de natureza
terrena levasse homens ao Seu lado. Unicamente a beleza da verdade
celeste devia atrair os que O seguissem. O carter do Messias fora
desde h muito predito na profecia, e era Seu desejo que os homens O
aceitassem em razo do testemunho da Palavra de Deus. Os anjos
maravilharam-se ante o glorioso plano da redeno. Observavam a ver
de que maneira o povo de Deus receberia Seu Filho, revestido da
humanidade. Anjos foram terra do povo esco- lhido. Outras naes
estavam embebidas com fbulas, e adorando falsos deuses. terra onde
se revelara a glria de Deus, e brilhara a luz da profecia, foram os
anjos. Dirigiram-se invisveis a Jerusalm, aos designados
expositores dos Sagrados Orculos, e ministros da casa de Deus. J a
Zacarias, enquanto ministrava perante o altar, fora anunciada a
proximidade da vinda de Cristo. J nascido estava o precursor,
havendo sua misso sido atestada por milagres e profecias. As novas
de Seu nascimento e o maravilhoso significado de Sua misso tinham
sido amplamente divulgados. Todavia, Jerusalm no se estava
preparando para receber o Redentor. Com pasmo viram os mensageiros
celestiais a indiferena do povo a quem Deus chamara para comunicar
ao mundo a luz da sagrada verdade. A nao judaica fora conservada
como testemunho de que Cristo havia de nascer da semente de Abrao e
da linhagem de Davi; no entanto, no sabiam que Sua vinda se achava
agora s portas. No templo, o sacrifcio matutino e vespertino
apontava 25
27. 26 O Desejado de Todas as Naes diariamente ao Cordeiro de
Deus; entretanto, nem mesmo ali havia qualquer preparao para O
receber. Os sacerdotes e doutores da nao ignoravam que o maior
acontecimento dos sculos estava prestes a ocorrer. Proferiam suas
oraes destitudas de sentido, e realizavam os ritos do culto para
serem vistos pelos homens, mas em sua luta por riquezas e honras
mundanas, no estavam preparados para a revelao do Messias. A mesma
indiferena penetrava a[24] terra de Israel. Coraes egostas e
absorvidos pelo mundo, ficavam impassveis ante o jbilo que comovia
o Cu. Apenas alguns estavam ansiando contemplar o Invisvel. A esses
foi enviada a embaixada do Cu. Anjos assistiam Jos e Maria enquanto
viajavam de seu lar, em Nazar, cidade de Davi. O decreto de Roma
Imperial acerca do alistamento dos povos de seu vasto domnio,
estendera-se aos habi- tantes das montanhas da Galilia. Como
outrora Ciro fora chamado ao trono do imprio do mundo a fim de
libertar os cativos do Senhor, assim Csar Augusto se tornara o
instrumento para a realizao do desgnio de Deus em levar a me de
Jesus a Belm. Ela da linhagem de Davi, e o Filho de Davi deve
nascer na sua cidade. De Belm dissera o profeta: De ti que Me h de
sair Aquele que h de reinar em Israel, e cuja gerao desde o
princpio, desde os dias da eternidade. Miquias 5:2. Mas na cidade
de sua real linhagem, Jos e Maria no so reconhecidos nem honrados.
Fatigados e sem lar, atravessam toda a extenso da estreita rua, da
porta da cidade ao extremo oriental desta, buscando em vo um lugar
de pousada para a noite. No h lugar para eles na apinhada
hospedaria. Num rstico rancho em que se abrigam os animais,
encontram afinal refgio, e ali nasce o Redentor do mundo. Os homens
no o sabem, mas as novas enchem o Cu de regozijo. Com mais profundo
e mais terno interesse os santos seres do mundo da luz so atrados
para a Terra. Todo o mundo se ilumina presena do Redentor. Sobre as
colinas de Belm acha-se reunida inumervel multido de anjos. Esperam
o sinal para declarar as alegres novas ao mundo. Houvessem os guias
de Israel sido fiis ao depsito que se lhes confiara, e teriam
partilhado da alegria de anunciar o nascimento de Jesus. Mas assim
foram passados por alto. Deus declara: Derramarei guas sobre o
sedento e rios sobre a terra seca (Isaas 44:3 Aos justos nasce luz
das trevas. Salmos
28. Hoje vos nasceu o Salvador 27 112:4. Os brilhantes raios,
que descem do trono de Deus, iluminaro os que andam em busca de luz
e a aceitam com alegria. Nos campos em que o jovem Davi guardara
seus rebanhos, havia ainda pastores vigiando durante a noite. Nas
horas caladas, conversavam entre si acerca do prometido Salvador, e
oravam pela vinda do Rei ao trono de Davi. E eis que um anjo do
Senhor veio sobre eles, e a glria do Senhor os cercou de
resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: No temais,
porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que ser para
todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador,
que Cristo, o Senhor. Lucas 2:9-11. A essas palavras, vises de
glria encheram a mente dos pasto- res que as escutavam. Chegara a
Israel o Libertador! Poder, exalta- o, triunfo, acham-se associados
Sua vinda. O anjo, porm, deve prepar-los para reconhecerem o
Salvador na pobreza e na humilha- [25] o. Isto vos ser por sinal,
diz ele: Achareis o Menino envolto em panos, e deitado numa
manjedoura. Lucas 2:12. O celestial mensageiro acalmara-lhes os
temores. Dissera-lhes como poderiam encontrar Jesus. Com terna
considerao para com sua humana fraqueza, dera-lhes tempo para se
habituarem radiao divina. Ento, o jbilo e a glria no se puderam por
mais tempo ocultar. Toda a plancie se iluminou com a resplandecncia
das hostes de Deus. A Terra emudeceu, e o Cu inclinou-se para
escutar o cntico: Glria a Deus nas alturas, paz na Terra, boa
vontade para com os homens. Lucas 2:14. Quem dera que a famlia
humana pudesse hoje reconhecer este cntico! A declarao ento feita,
a nota vibrada ento, avolumar- se- at ao fim do tempo, e ressoar at
aos extremos da Terra. Quando se erguer o Sol da Justia, trazendo
salvao sob Suas asas, esse cntico h de ecoar pela voz de uma grande
multido, como a voz de muitas guas, dizendo: Aleluia, pois j o
Senhor Deus todo-poderoso reina. Apocalipse 19:6. Ao desaparecerem
os anjos, dissipou-se a luz, e mais uma vez cobriram as sombras da
noite as colinas de Belm. A mais gloriosa cena que olhos humanos j
contemplaram, permaneceu, no entanto, na memria dos pastores. E
depois que os anjos se retiraram deles para o Cu, os pastores
diziam entre si: Vamos at Belm, e vejamos o que que l sucedeu, e o
que que o Senhor nos manifestou. E
29. 28 O Desejado de Todas as Naes foram com grande pressa; e
encontraram Maria e Jos, e o Menino deitado na manjedoura. Lucas
2:15, 16. Partindo com grande alegria, divulgaram as coisas que
tinham visto e ouvido. E todos os que o ouviram se maravilharam do
que os pastores lhes diziam. Mas Maria guardou todas estas coisas,
conferindo-as em seu corao. E voltaram os pastores, glorificando e
louvando a Deus. Lucas 2:18-20. No se acham o Cu e a Terra mais
distanciados hoje do que ao tempo em que os pastores ouvi- ram o
cntico dos anjos. A humanidade hoje objeto da solicitude celeste da
mesma maneira que o era quando homens comuns, ocu- pando posies
ordinrias, se encontravam luz do dia com anjos, e falavam com os
mensageiros nas vinhas e nos campos. Enquanto nos movemos em nossos
afazeres comuns, podemos ter bem perto o Cu. Anjos das cortes no
alto assistiro os passos dos que vo e vm s ordens de Deus. A
histria de Belm inexaurvel. Nela se acham ocultas as profundidades
das riquezas, tanto da sabedoria como da cincia de Deus. Romanos
11:33. Maravilhamo-nos do sacrifcio do Salvador em permutar o trono
do Cu pela manjedoura, e a companhia dos anjos que O adoravam pela
dos animais da estrebaria. O orgulho e presuno humanos ficam
repreendidos em Sua presena. Todavia, esse passo no era seno o
princpio de Sua maravilhosa condes- cendncia. Teria sido uma quase
infinita humilhao para o Filho[26] de Deus, revestir-Se da natureza
humana mesmo quando Ado per- manecia em seu estado de inocncia, no
den. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raa havia sido
enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de
Ado, aceitou os resultados da operao da grande lei da
hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na
histria de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa
hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentaes, e dar-nos
o exemplo de uma vida impecvel. Satans aborrecera a Cristo no Cu,
por causa de Sua posio nas cortes de Deus. Mais O aborreceu ainda
quando se sentiu ele prprio destronado. Odiou Aquele que Se
empenhou em redimir uma raa de pecadores. No obstante, ao mundo em
que Satans pretendia domnio, permitiu Deus que viesse Seu Filho,
impotente criancinha, sujeito fraqueza da humanidade. Permitiu que
enfrentasse os pe- rigos da vida em comum com toda a alma humana,
combatesse o
30. Hoje vos nasceu o Salvador 29 combate como qualquer filho
da humanidade o tem de fazer, com risco de fracasso e runa eterna.
O corao do pai humano compadece-se do filho. Olha a fisio- nomia do
pequenino, e treme ante a idia dos perigos da vida. Anela proteger
seu querido do poder de Satans, guard-lo da tentao e do conflito.
Para enfrentar mais amargo conflito e mais terrvel risco Deus deu
Seu Filho unignito, para que a vereda da vida fosse asse- gurada
aos nossos pequeninos. Nisto est o amor. Maravilhai-vos, cus! e
assombrai-vos, Terra! [27]
31. Captulo 5 A dedicao Este captulo baseado em Lucas 2:21-38.
Cerca de quarenta dias depois do nascimento de Cristo, Jos e Maria
levaram-nO a Jerusalm, para O apresentar ao Senhor, e oferecer
sacrifcio. Isso estava de acordo com a lei judaica e, como
substituto do homem, Cristo Se devia conformar com a lei em todos
os particulares. J havia sido submetido ao rito da circunciso, como
penhor de Sua submisso lei. Como oferta da parte da me, a lei
exigia um cordeiro de um ano para holocausto, e um pombinho novo ou
uma rola como oferta pelo pecado. Mas a lei prescrevia que, se os
pais fossem demasiado pobres para levar um cordeiro, seria aceito
um par de rolas ou dois pombinhos, um para holocausto, e outro como
oferta pelo pecado. As ofertas apresentadas ao Senhor deviam ser
sem mancha. Re- presentavam a Cristo, de onde se conclui
evidentemente que Jesus era isento de deformidade fsica. Era o
cordeiro imaculado e sem contaminao. 1 Pedro 1:19. Sua estrutura
fsica no era maculada por qualquer defeito; o corpo era robusto e
sadio. E, durante toda a vida, viveu em conformidade com as leis da
natureza. Fsica assim como espiritualmente, Jesus foi um exemplo do
que Deus designava que fosse toda a humanidade, mediante a
obedincia a Suas leis. A dedicao do primognito teve sua origem nos
primitivos tempos. Deus prometera dar o Primognito do Cu para
salvar os pecadores. Este dom devia ser reconhecido em todas as
famlias pela consagrao do primognito. Devia ser consagrado ao
sacerdcio, como representante de Cristo entre os homens. Na
libertao de Israel do Egito, a dedicao do primognito foi novamente
ordenada. Quando os filhos de Israel estavam em servido aos
egpcios, o Senhor instruiu Moiss a ir ter com Fara, rei do Egito,
dizendo: Assim diz o Senhor: Israel Meu Filho, Meu primognito. E Eu
te tenho dito: Deixa ir o Meu filho, para que Me 30
32. A dedicao 31 sirva; mas tu recusaste deix-lo ir; eis que Eu
matarei a teu filho, o teu primognito. xodo 4:22, 23. Moiss
entregou sua mensagem; mas a resposta do orgulhoso rei, foi: Quem o
Senhor, para que eu obedea Sua voz, e deixe ir Israel? No conheo o
Senhor, e no deixarei ir Israel. xodo 5:2. O Senhor operou em favor
de Seu povo por meio de sinais e maravilhas, enviando terrveis
juzos sobre Fara. Por fim, o anjo destruidor foi incumbido de matar
o primognito do homem e dos animais entre [28] os egpcios. A fim de
que os israelitas fossem poupados, receberam instrues para pr nas
ombreiras da porta de sua casa o sangue de um cordeiro imolado.
Cada casa devia ser marcada, para que, quando o anjo viesse, em sua
misso de morte, passasse por sobre a dos israelitas. Depois de
enviar este juzo sobre o Egito, o Senhor disse a Moi- ss:
Santifica-Me todo o primognito [...] de homens e de animais; porque
Meu . xodo 13:2. Desde o dia em que feri a todo o primognito na
terra do Egito, santifiquei para Mim todo o primo- gnito em Israel,
desde o homem at ao animal; Meus sero; Eu sou o Senhor. Nmeros
3:13. Depois que o servio do tabernculo foi estabelecido, o Senhor
escolheu a tribo de Levi em lugar do primognito de todo o Israel,
para ministrar no santurio. Entre- tanto, esses primognitos deviam
continuar a ser considerados como pertencendo ao Senhor, devendo
ser reavidos por meio de resgate. Assim a lei para apresentao do
primognito se tornava particu- larmente significativa. Ao mesmo
tempo que era uma comemorao do maravilhoso libertamento dos filhos
de Israel, prefigurava um livramento maior, a ser operado pelo
unignito Filho de Deus. Como o sangue espargido nos umbrais da
porta havia salvo o primognito de Israel, assim o sangue de Cristo
tem poder de salvar o mundo. Que significao, logo, se acha ligada
apresentao de Cristo! Mas o sacerdote no enxergou atravs do vu; no
leu o mistrio alm. A apresentao de crianas era cena comum.
Diariamente o sacerdote recebia o dinheiro da redeno, ao serem as
criancinhas apresentadas ao Senhor. Cotidianamente seguia a rotina
de sua obra, prestando pouca ateno aos pais ou s crianas, a no ser
que notasse qualquer indcio de fortuna ou elevada posio dos
primeiros. Jos e Maria eram pobres; e, ao trazerem seu filho, o
sacerdote viu unicamente um homem e uma mulher trajados moda
galilia, e no
33. 32 O Desejado de Todas as Naes mais humilde vesturio. Nada
havia em sua aparncia que atrasse a ateno, e a oferta que
apresentaram era a das classes mais pobres. O sacerdote fez a
cerimnia de seu servio oficial. Tomou a criana nos braos, e
ergueu-a perante o altar. Depois de a devolver me, inscreveu o nome
Jesus na lista dos primognitos. Mal pensava ele, enquanto a criana
lhe repousava nos braos, que era a Majestade do Cu, o Rei da Glria.
No pensou o sacerdote que essa criana era Aquele de quem Moiss
escrevera: O Senhor vosso Deus vos suscitar um Profeta dentre
vossos irmos, semelhante a mim; a Este ouvireis em tudo o que vos
disser. Atos dos Apstolos 3:22. No pensou que essa criana era
Aquele cuja glria Moiss rogara ver. Mas Algum maior do que Moiss Se
achava nos braos do sacerdote; e, ao inscrever o nome do menino,
inscrevia o dAquele que era o fundamento de toda a dispensao
judaica. Aquele nome devia ser sua sentena de morte; pois o sistema
de sacrifcios e ofertas estava envelhecendo; o tipo havia quase
atingido o anttipo,[29] a sombra ao corpo. O Shekinah [presena
visvel de Deus] se afastara do santurio, mas no Menino de Belm
encontrava-se, velada, a glria ante a qual se curvam os anjos. Essa
inconsciente criancinha era a Semente prometida, a quem apontava o
primeiro altar, construdo porta do den. Este era Sil, o doador de
paz. Fora Ele que Se declarara a Moiss como o EU SOU. Fora Ele
quem, na coluna de fumo e fogo, servira de guia a Israel. Este era
Aquele sobre quem os videntes haviam predito. Era o Desejado de
todas as naes, a Raiz e a Gera- o de Davi, a Resplandecente Estrela
da Manh. O nome dAquele impotente Menino, inscrito nos registros de
Israel, declarando-O nosso irmo, era a esperana da cada humanidade.
A Criana por quem fora pago o resgate era Aquele que devia pagar o
resgate pelos pecados do mundo. Era Ele o verdadeiro sumo Sacerdote
sobre a casa de Deus (Hebreus 10:21), a cabea de um sacerdcio
perptuo, (Hebreus 7:24) o intercessor destra da Majestade nas
alturas. Hebreus 1:3. As coisas espirituais se discernem
espiritualmente. No templo, o Filho de Deus foi consagrado obra que
viera fazer. O sacerdote olhou-O como o teria feito a qualquer
outra criana. Mas, se bem que no visse nem sentisse nada de
extraordinrio, o ato de Deus em dar Seu Filho ao mundo no ficou
despercebido. Essa ocasio no
34. A dedicao 33 passou sem que Cristo fosse de algum modo
reconhecido. Havia em Jerusalm um homem cujo nome era Simeo; e este
homem era justo e temente a Deus, esperando a Consolao dIsrael; e o
Esprito Santo estava sobre ele. E fora-lhe revelado pelo Esprito
Santo que ele no morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor.
Lucas 2:25, 26. Ao entrar Simeo no templo, v uma famlia
apresentando o primognito ante o sacerdote. Sua aparncia revela
pobreza; mas Simeo compreende as advertncias do Esprito, e
profundamente impressionado quanto a ser o menino que est sendo
apresentado ao Senhor, a Consolao de Israel, Aquele que anelava
ver. Ao surpreendido sacerdote, Simeo parece um homem enlevado. A
criana fora devolvida a Maria, e ele a toma nos braos e a apresenta
a Deus, enquanto sua alma possuda de uma alegria que nunca dantes
experimentara. Ao levantar o Salvador para o cu, diz: Agora,
Senhor, despedes em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra; pois j
os meus olhos viram a Tua salvao, a qual Tu preparaste perante a
face de todos os povos; Luz para alumiar as naes, e para glria de
Teu povo Israel. Lucas 2:29-32. O esprito de profecia estava sobre
este homem de Deus, e en- quanto Jos e Maria ali permaneciam,
admirando-se de suas palavras, ele os abenoou, e disse a Maria: Eis
que Este posto para queda e elevao de muitos em Israel, e para
sinal que contraditado; (e uma espada traspassar tambm a tua prpria
alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos coraes.
Lucas 2:35, 36. [30] Tambm Ana, uma profetisa, entrou e confirmou o
testemunho de Simeo a respeito de Cristo. Ao falar Simeo, seu rosto
iluminou- se com a glria de Deus, e ela derramou suas sinceras aes
de graas por lhe haver sido permitido contemplar o Cristo do
Senhor. Esses humildes adoradores no haviam estudado em vo as pro-
fecias. Mas os que ocupavam posies de prncipes e sacerdotes em
Israel, conquanto tivessem igualmente diante de si as preciosas de-
claraes dos profetas, no estavam andando no caminho do Senhor, e
seus olhos no se achavam abertos para contemplar a Luz da vida.
Assim ainda. Acontecimentos nos quais a ateno de todo o Cu se acha
concentrada, no so discernidos, sua ocorrncia passa despercebida
pelos guias religiosos e os adoradores na casa de Deus. Os homens
reconhecem Cristo na Histria, ao passo que
35. 34 O Desejado de Todas as Naes se desviam do Cristo vivo.
Cristo em Sua Palavra, convidando ao sacrifcio, no pobre e sofredor
que implora auxlio, na causa justa que envolve pobreza e fadiga e
censuras, nestas coisas Ele no hoje mais prontamente recebido do
que o foi mil e novecentos anos atrs. Maria ponderou a vasta e
profunda profecia de Simeo. Ao olhar para a criana que tinha nos
braos, e relembrar as palavras dos pas- tores de Belm, enchia-se de
grata alegria e iluminada esperana. As palavras de Simeo
trouxeram-lhe mente as profticas declaraes de Isaas: Brotar um
Rebento do tronco de Jess, e das suas razes um Renovo frutificar. E
repousar sobre Ele o Esprito do Senhor, o esprito de sabedoria e de
inteligncia, o esprito de conselho e de fortaleza, o esprito de
conhecimento e de temor do Senhor. [...] E a justia ser o cinto dos
Seus lombos. Isaas 11:1-5. O povo que andava em trevas, viu uma
grande luz, e sobre os que habitavam na regio da sombra da morte
resplandeceu a luz. [...] Porque um Menino nos nasceu, um Filho se
nos deu; e o principado est sobre os Seus ombros; e o Seu nome ser:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Prncipe da
Paz. Isaas 9:2-6. No entanto, Maria no compreendia a misso de
Cristo. Simeo profetizara dEle como uma luz para os gentios, bem
como uma glria para Israel. Assim o anjo anunciara Seu nascimento
como novas de grande alegria para todos os povos. Deus estava
procurando corrigir a estreita concepo judaica da obra do Messias.
Desejava que os homens O olhassem, no somente como o libertador de
Israel, mas como o Redentor do mundo. Muitos anos, porm, deviam
passar antes de a prpria me de Jesus poder compreender Sua misso.
Maria esperava o reino do Messias no trono de Davi, mas no via o
batismo de sofrimento pelo qual esse trono devia ser conquistado.
Por meio de Simeo revelava-se que o Messias no teria no mundo um
caminho livre de obstculos. Nas palavras dirigidas a Maria: Uma
espada traspassar tambm a tua prpria alma, Deus, em[31] Sua
compassiva misericrdia, d me de Jesus uma indicao da angstia que j
por amor dEle comeara a suportar. Eis que Este posto para queda e
elevao de muitos em Israel, e para sinal que contraditado, dissera
Simeo. Teriam de cair os que se quisessem erguer novamente.
Precisamos cair sobre a Rocha e despedaar-nos, antes de poder ser
elevados em Cristo. O eu tem de
36. A dedicao 35 ser destronado, abatido o orgulho, se queremos
conhecer a glria do reino espiritual. Os judeus no queriam aceitar
a honra que se obtm por meio da humilhao. No receberam, portanto, o
Redentor. Ele foi um sinal contra o qual se falaria. Para que se
manifestem os pensamentos de muitos coraes. Lucas 2:35. A luz da
vida do Salvador, o corao de todos, desde o Criador ao prncipe das
trevas, manifestado. Satans tem repre- sentado a Deus como egosta e
opressor, como pretendendo tudo e no dando nada, como reclamando o
servio de Suas criaturas para Sua prpria glria, e no fazendo nenhum
sacrifcio em favor delas. Mas o dom de Cristo revela o corao do
Pai. Ele testifica que os pensamentos de Deus a nosso respeito so
pensamentos de paz, e no de mal. Jeremias 29:11. Declara que, ao
passo que o dio de Deus para com o pecado forte como a morte, Seu
amor para com o pecador ainda mais forte do que a morte. Havendo
empreendido nossa redeno, no poupar coisa alguma, por cara que Lhe
seja, se necessrio for finalizao de Sua obra. Nenhuma verdade
essencial nossa salvao retida, nenhum milagre de misericrdia
negligen- ciado, nenhum instrumento divino deixado de ser posto em
ao. Os favores amontoam-se aos favores, as ddivas acrescentam-se s
ddivas. Todo o tesouro do Cu se acha franqueado queles que Ele
busca salvar. Havendo coletado as riquezas do Universo, e aberto os
recursos do infinito poder, entrega tudo nas mos de Cristo, e diz:
Tudo isso para o homem. Serve-Te de tudo isso para lhe provar que
no h amor maior que o Meu na Terra e no Cu. Sua maior felicidade se
achar em Me amar ele a Mim. Na cruz do Calvrio, o amor e o egosmo
encontraram-se face a face. Ali teve lugar sua suprema manifestao.
Cristo vivera uni- camente para confortar e beneficiar, e, ao
lev-Lo morte, Satans manifestou a malignidade de seu dio contra
Deus. Tornou evidente que o real desgnio de sua rebelio, era
destronar o Senhor, e destruir Aquele por meio de quem o Seu amor
se manifestava. Pela vida e morte de Cristo, tambm os pensamentos
dos homens so trazidos luz. Da manjedoura cruz, a vida do Salvador
foi um convite entrega, e participao no sofrimento. Revelou o
desgnio dos homens. Jesus veio com a verdade do Cu, e todos quantos
ouviam a voz do Esprito Santo foram atrados a Ele. Os adoradores do
prprio eu pertenciam ao reino de Satans. Em sua
37. 36 O Desejado de Todas as Naes atitude em relao a Cristo,
todos manifestariam de que lado se[32] achavam. E assim todos
passam sobre si mesmos o julgamento. No dia do juzo final, toda
alma perdida compreender a natureza de sua rejeio da verdade. A
cruz ser apresentada, e sua real signi- ficao ser vista por todo
esprito que foi cegado pela transgresso. Ante a viso do Calvrio com
sua misteriosa Vtima, achar-se-o condenados os pecadores. Toda
falsa desculpa ser banida. A apos- tasia humana aparecer em seu
odioso carter. Os homens vero o que foi sua escolha. Toda questo de
verdade e de erro, na longa controvrsia, ter ento sido esclarecida.
No juzo do Universo, Deus ficar isento de culpa pela existncia ou
continuao do mal. Ser demonstrado que os decretos divinos no so
cmplices do pecado. No havia defeito no governo de Deus, nenhum
motivo de desafeto. Quando os pensamentos de todos os coraes forem
revelados, tanto os leais como os rebeldes se uniro em declarar:
Justos e verdadei- ros so os Teus caminhos, Rei dos santos. Quem Te
no temer, Senhor, e no magnificar o Teu nome? [...] Porque os Teus
juzos so manifestos. Apocalipse 15:3, 4.[33]
38. Captulo 6 Vimos a sua estrela Este captulo baseado em
Mateus 2. Tendo nascido Jesus em Belm de Judia, no tempo do rei He-
rodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalm, dizendo:
Onde est Aquele que nascido rei dos judeus? porque vimos a Sua
estrela no Oriente, e viemos a ador-Lo. Mateus 2:1, 2. Os magos do
Oriente eram filsofos. Faziam parte de uma grande e influente
classe que inclua homens de nobre nascimento, bem como muitos dos
ricos e sbios de sua nao. Entre estes se achavam muitos que
abusavam da credulidade do povo. Outros eram homens justos, que
estudavam as indicaes da Providncia na natureza, sendo honrados por
sua integridade e sabedoria. Desses eram os magos que foram em
busca de Jesus. A luz de Deus est sempre brilhando entre as trevas
do pa- ganismo. Ao estudarem esses magos o cu estrelado, procurando
sondar os mistrios ocultos em seus luminosos caminhos, viram a
glria do Criador. Buscando mais claro entendimento, voltaram-se
para as Escrituras dos hebreus. Guardados como tesouro havia, em
sua prpria terra, escritos profticos, que prediziam a vinda de um
mestre divino. Balao pertencia aos magos, conquanto fosse em tem-
pos profeta de Deus; pelo Esprito Santo predissera a prosperidade
de Israel, e o aparecimento do Messias; e suas profecias haviam
sido conservadas, de sculo em sculo, pela tradio. No Antigo Testa-
mento, porm, a vinda do Salvador era mais claramente revelada. Os
magos souberam, com alegria, que Seu advento estava prximo, e que
todo o mundo se encheria do conhecimento da glria do Senhor. Viram
os magos uma luz misteriosa nos cus, naquela noite em que a glria
de Deus inundara as colinas de Belm. Ao dissipar-se a luz, surgiu
uma luminosa estrela que permaneceu no cu. No era uma estrela fixa,
nem um planeta, e o fenmeno despertou o mais vivo interesse. Aquela
estrela era um longnquo grupo de anjos resplandecentes, mas isso os
sbios ignoravam. Tiveram, todavia, 37
39. 38 O Desejado de Todas as Naes a impresso de que aquela
estrela tinha para eles significado es- pecial. Consultaram
sacerdotes e filsofos, e examinaram os rolos dos antigos registros.
A profecia de Balao declarara: Uma Estrela proceder de Jac e um
cetro subir de Israel. Nmeros 24:17. Teria acaso sido enviada essa
singular estrela como precursora do Prometido? Os magos acolheram
com agrado a luz da verdade envi- ada pelo Cu; agora era sobre eles
derramada em mais luminosos[34] raios. Foram instrudos em sonhos a
ir em busca do recm-nascido Prncipe. Como Abrao, pela f, sara em
obedincia ao chamado de Deus, sem saber para onde ia (Hebreus
11:8); como, pela f Israel se- guira a coluna de nuvem at terra
prometida, assim esses gentios saram procura do prometido Salvador.
Esse pas oriental era rico em coisas preciosas, e os magos no se
puseram a caminho de mos vazias. Era costume, a prncipes ou outras
personagens de categoria, oferecer presentes como ato de homenagem,
e os mais ricos dons proporcionados por aquela regio foram levados
em oferta quele em quem haviam de ser benditas todas as famlias da
Terra. Era necessrio viajar de noite, a fim de no perderem de vista
a estrela; mas os viajantes entretinham as horas proferindo ditos
tradicionais e profecias a respeito dAquele a quem buscavam. Em
toda parada que faziam para repouso, examinavam as profecias; e
neles se aprofun- dava a convico de que eram divinamente guiados.
Enquanto, como sinal exterior, tinham diante de si a estrela,
sentiam interiormente o testemunho do Esprito Santo, que lhes
impressionava o corao, inspirando-lhes tambm esperana. Se bem que
longa, a viagem foi feita com alegria. Chegam terra de Israel, e
descem o monte das Oliveiras, tendo vista Jerusalm, quando eis que
a estrela que lhes servira de guia por todo o fatigante caminho
detm-se por sobre o templo, desvanecendo-se, depois de algum tempo,
aos seus olhos. Ansiosos, dirigem os passos para diante, esperando
confiantemente que o nas- cimento do Messias fosse o jubiloso
assunto de todas as bocas. So, porm, vs suas pesquisas. Entretanto
na santa cidade, dirigem-se ao templo. Para seu espanto, no
encontram ningum que parecesse saber do recm-nascido Rei. Suas
perguntas no despertavam ex- presses de alegria, mas antes de
surpresa e temor, no isentos de desprezo.
40. Vimos a sua estrela 39 Os sacerdotes repetem as tradies.
Exaltam sua prpria reli- gio e piedade, ao passo que acusam os
gregos e romanos como maiores pagos e pecadores que todos os
outros. Os magos no so idlatras, e aos olhos de Deus ocupam lugar
muito acima desses, Seus professos adoradores; todavia, so
considerados pelos judeus como gentios. Mesmo entre os designados
depositrios dos Santos Orculos, suas ansiosas perguntas no fazem
vibrar nenhuma corda de simpatia. A chegada dos magos foi
prontamente divulgada por toda Jeru- salm. Sua estranha mensagem
criou entre o povo uma agitao que penetrou no palcio do rei
Herodes. O astuto edomita foi despertado ante a notcia de um
possvel rival. Inmeros assassnios lhe haviam manchado o caminho ao
trono. Sendo de sangue estrangeiro, era odiado pelo povo sobre quem
governava. Sua nica segurana era o favor de Roma. Esse novo
Prncipe, no entanto, tinha mais elevado ttulo. Nascera para o
reino. Herodes suspeitou que os sacerdotes estivessem tramando com
[35] os estrangeiros para despertar um tumulto popular,
destronando-o. Ocultou, no entanto, sua desconfiana, decidido a
malograr-lhes os planos por maior astcia. Convocando os principais
dos sacerdotes e os escribas, interrogou-os quanto aos ensinos dos
livros sagrados com relao ao lugar do nascimento do Messias. Essa
indagao do usurpador do trono, e o ser feita a instncias de
estrangeiros, espicaou o orgulho dos mestres judeus. A indiferena
com que se voltaram para os rolos da profecia, irritou o ciumento
tirano. Julgou que estavam buscando ocultar seu conhecimento do
assunto. Com uma autoridade que no ousaram desatender, ordenou-lhes
que fizessem atenta investigao e declarassem o lugar do nascimento
do esperado Rei. E eles lhe disseram: Em Belm de Judia; porque
assim est escrito pelo profeta: E tu Belm, terra de Jud, de modo
nenhum s a menor entre as capitais de Jud; porque de ti sair o Guia
que h de apascentar Meu povo de Israel. Mateus 2:6. Herodes
convidou ento os magos a uma entrevista particular. Rugia-lhe no
corao uma tempestade de ira e temor, mas manteve um exterior
sereno, e recebeu cortesmente os estrangeiros. Indagou em que tempo
aparecera a estrela, e professou saudar com alegria a notcia do
nascimento de Cristo. Pediu a seus hspedes: Perguntai
diligentemente pelo Menino, e quando O achardes,
participai-mo,
41. 40 O Desejado de Todas as Naes para que tambm eu v e O
adore. Assim falando, despediu-os, para que seguissem seu caminho a
Belm. Os sacerdotes e ancios de Jerusalm no eram to ignorantes a
respeito do nascimento de Cristo como se faziam. A notcia da visita
dos anjos aos pastores fora levada a Jerusalm, mas os rabis a
tinham recebido como pouco digna de ateno. Eles prprios poderiam
haver encontrado Jesus, e estado preparados para conduzir os magos
ao lugar em que nascera; ao invs disso, porm, foram eles que lhes
vieram chamar a ateno para o nascimento do Messias. Onde est Aquele
que nascido Rei dos judeus? perguntaram; porque vimos a Sua estrela
no Oriente, e viemos ador-Lo. Mateus 2:2. Ento o orgulho e a inveja
cerraram a porta luz. Fossem acre- ditadas as notcias trazidas
pelos pastores e os magos, e teriam colocado os sacerdotes e
rabinos numa posio nada invejvel, destituindo-os de suas pretenses
a exponentes da verdade de Deus. Estes doutos mestres no desceriam
a ser instrudos por aqueles a quem classificavam de gentios. No
poderia ser, diziam, que Deus os passasse por alto, para Se
comunicar com pastores ignorantes ou incircuncisos pagos.
Resolveram mostrar desprezo pelas notcias que estavam agitando o
rei Herodes e toda Jerusalm. Nem mesmo iriam a Belm, a ver se estas
coisas eram assim. E levaram o povo a considerar o interesse em
Jesus como despertamento fantico. A comeou a rejeio de Cristo pelos
sacerdotes e rabis. Da cresceu seu orgulho e obstinao at se tornar
em decidido dio contra o Sal-[36] vador. Enquanto Deus abria a
porta aos gentios, estavam os chefes judeus fechando-a a si mesmos.
Sozinhos partiram os magos de Jerusalm. Caam as sombras da noite
quando saram das portas, mas, para sua grande alegria viram
novamente a estrela, e foram guiados a Belm. No tinham, como os
pastores, recebido comunicao quanto ao humilde estado da Criana.
Depois da longa jornada, ficaram decepcionados com a indiferena dos
chefes judeus, e deixaram Jerusalm menos confian- tes do que nela
penetraram. Em Belm, no encontraram nenhuma guarda real a proteger
o recm-nascido Rei. No havia a assisti-Lo nenhum dos grandes da
Terra. Jesus estava deitado numa manje- doura. Os pais, iletrados
camponeses, eram Seus nicos guardas. Poderia ser Este Aquele de
quem estava escrito que havia de restau-
42. Vimos a sua estrela 41 rar as tribos de Jac, e tornar a
trazer os remanescentes de Israel; que seria luz para os gentios, e
salvao [...] at extremidade da Terra? Isaas 49:6. E, entrando na
casa, acharam o Menino com Maria, Sua me, e, prostrando-se, O
adoraram. Mateus 2:11. Atravs da humilde aparncia exterior de
Jesus, reconheceram a presena da Divindade. Deram-Lhe o corao como
a seu Salvador, apresentando ento suas ddivas ouro, incenso e
mirra. Que f a sua! Como do centurio romano, mais tarde,
poder-se-ia haver dito dos magos do Oriente: Nem mesmo em Israel
encontrei tanta f. Mateus 8:10. Os magos no haviam penetrado os
desgnios de Herodes para com Jesus. Satisfeito o objetivo de sua
viagem, prepararam-se para regressar a Jerusalm, na inteno de o pr
ao fato do xito que haviam tido. Em sonho, porm, recebem a divina
mensagem de no ter mais comunicaes com ele. E, desviando-se de
Jerusalm, partem para sua terra por outro caminho. De igual
maneira, recebeu Jos aviso de fugir para o Egito com Maria e a
criana. E o anjo disse: E demora-te l at que eu te diga: porque
Herodes h de procurar o Menino para O matar. Mateus 2:13. Jos
obedeceu sem demora, pondo-se de viagem noite, para maior segurana.
Por meio dos magos, Deus chamara a ateno da nao judaica para o
nascimento de Seu Filho. Suas indagaes em Jerusalm, o despertar do
interesse popular, e o prprio cime de Herodes, que forou a ateno
dos sacerdotes e rabis, dirigiu os espritos para as profecias
relativas ao Messias, e ao grande acontecimento que acabava de
ocorrer. Satans empenhava-se em dissipar do mundo a luz divina, e
ps em jogo sua mxima astcia para destruir o Salvador. Mas Aquele
que no dorme nem tosqueneja, velava por Seu amado Filho. Aquele que
fizera chover man do Cu para Israel, e alimentara Elias em tempo de
fome, providenciou em terra pag um refgio para Maria e o menino
Jesus. E, mediante as ddivas dos magos de um pas gentlico, supriu o
Senhor os meios para a viagem ao Egito, e a estadia em terra
estranha. [37] Os magos estiveram entre os primeiros a saudar o
Redentor. Foi a sua a primeira ddiva a Lhe ser posta aos ps. E por
meio da- quela ddiva, que privilgio em servir tiveram eles! Deus Se
deleita
43. 42 O Desejado de Todas as Naes em honrar a oferta de um
corao que ama, dando-lhe a mais alta eficincia em Seu servio. Se
dermos o corao a Jesus, trar-Lhe- emos tambm as nossas ddivas.
Nosso ouro e prata, nossas mais preciosas posses terrestres, nossos
mais elevados dotes mentais e espirituais ser-Lhe-o inteiramente
consagrados, a Ele que nos amou e Se entregou a Si mesmo por ns. Em
Jerusalm, Herodes aguardava impaciente a volta dos magos. Como
passasse o tempo, e no aparecessem, despertaram-se nele suspeitas.
A m vontade dos rabis em indicar o lugar do nascimento do Messias,
parecia mostrar que lhe haviam penetrado o desgnio e que os magos
se tinham propositadamente esquivado. Esse pen- samento o
enraiveceu. Falhara a astcia, mas restava-lhe o recurso da fora.
Faria desse Rei-criana um exemplo. Aqueles insolentes judeus haviam
de ver o que podiam esperar de suas tentativas de colocar um rei no
trono. Imediatamente foram enviados soldados a Belm, com ordem de
matar todas as crianas de dois anos e para baixo. Os sossegados
lares da cidade de Davi presenciaram aquelas cenas de horror que,
seiscentos anos antes, haviam sido reveladas ao profeta. Em Ram se
ouviu uma voz, lamentao, choro e grande pranto; Raquel cho- rando
os seus filhos, e no querendo ser consolada, porque j no existem.
Mateus 2:18. Essa calamidade trouxeram os judeus sobre si mesmos.
Houves- sem estado nos caminhos da fidelidade e da humildade
perante Deus, e Ele haveria, de maneira assinalada, tornado sem
efeito para eles a ira do rei. Mas separaram-se de Deus por seus
pecados, e rejeita- ram o Esprito Santo, que lhes era a nica
proteo. No estudaram as Escrituras com o desejo de se conformarem
com a vontade de Deus. Buscaram as profecias que podiam ser
interpretadas para sua exaltao, e mostraram que o Senhor desprezava
as outras naes. Jactavam-se orgulhosamente de que o Messias havia
de vir como rei, conquistando Seus inimigos e esmagando os gentios
em Sua indignao. Assim haviam despertado o dio dos governadores.
Me- diante a maneira por que desfiguravam a misso de Cristo, Satans
intentara tramar a destruio do Salvador; ao invs disso, porm, ela
lhes caiu sobre a prpria cabea. Esse ato de crueldade foi um dos
ltimos que entenebreceu o reinado de Herodes. Pouco depois da
matana dos inocentes, foi
44. Vimos a sua estrela 43 ele prprio obrigado a submeter-se
quela condenao que ningum pode desviar. Teve morte terrvel. Jos,
que ainda se achava no Egito, foi ento solicitado por um anjo de
Deus a voltar para a terra de Israel. Considerando Jesus como o
herdeiro de Davi, Jos desejava estabelecer residncia em Belm;
ouvindo, porm, que Arquelau reinava na Judia em lugar de seu pai,
receou que o desgnio do pai contra Cristo pudesse ser [38]
executado pelo filho. De todos os filhos de Herodes, era Arquelau o
que mais se lhe assemelhava em carter. J sua sucesso no governo
fora assinalada por um tumulto em Jerusalm, e o morticnio de
milhares de judeus pelas guardas romanas. Novamente foi Jos
encaminhado para um lugar de segurana. Voltou para Nazar, sua
residncia anterior, e ali, por cerca de trinta anos viveu Jesus,
para que se cumprisse o que fora dito pelos pro- fetas: Ele ser
chamado Nazareno. Mateus 2:23. A Galilia estava sob o domnio de um
filho de Herodes, mas tinha uma mistura muito maior de habitantes
estrangeiros do que a Judia. Havia assim muito menos interesse nas
questes que diziam respeito especialmente aos judeus, e os justos
direitos de Jesus corriam menos riscos de despertar os cimes dos
que estavam no poder. Tal foi a recepo feita ao Salvador ao vir
Terra. Parecia no haver nenhum lugar de repouso ou segurana para o
infante Redentor. Deus no podia confiar Seu amado Filho aos homens,
nem mesmo enquanto levava avante Sua obra em benefcio da salvao
deles. Comissionou anjos para assisti-Lo e proteg-Lo at que
cumprisse Sua misso na Terra, e morresse s mos daqueles a quem
viera salvar. [39]
45. Captulo 7 Em criana Este captulo baseado em Lucas 2:39, 40.
A infncia e juventude de Jesus foram passadas numa pequenina aldeia
montanhesa. No haveria lugar na Terra que no se tivesse honrado por
Sua presena. Os palcios reais ter-se-iam sentido pri- vilegiados em
O receber como hspede. Mas Ele passou pelos lares afortunados,
pelas cortes da realeza e pelas famosas sedes do saber, para fazer
de Seu lar a obscura e desprezada Nazar. Maravilhoso em sua
significao o breve relatrio da primeira parte de Sua vida: E o
Menino crescia e Se fortalecia em esprito, cheio de sabedoria; e a
graa de Deus estava sobre Ele. Lucas 2:40. luz da presena de Seu
Pai, crescia Jesus em sabedoria e em estatura, e em graa para com
Deus e os homens. Lucas 2:52. Seu esprito era ativo e penetrante,
com uma reflexo e sabedoria alm de Sua idade. Tambm o carter era
belo na harmonia que apresentava. As faculdades da mente e do corpo
desenvolviam-se gradualmente, segundo as leis da infncia. Jesus
revelava, como criana, disposio singularmente am- vel. Aquelas mos
cheias de boa vontade estavam sempre prontas para servir a outros.
Manifestava uma pacincia que coisa alguma conseguia perturbar, e
uma veracidade nunca disposta a sacrificar a integridade. Firme
como a rocha em questes de princpios, Sua vida revelava a graa da
abnegada cortesia. Com profunda solicitude observava a me de Jesus
o desen- volvimento das faculdades da Criana, e contemplava o cunho
de perfeio em Seu carter. Era com deleite que procurava animar
aquele esprito inteligente, de fcil apreenso. Por meio do Esprito
Santo recebia sabedoria para cooperar com os instrumentos celes-
tiais, no desenvolvimento dessa Criana que s tinha a Deus por Pai.
Desde os primitivos tempos, os fiis em Israel haviam dado muita
ateno educao da juventude. O Senhor dera instrues quanto 44
46. Em criana 45 a ensinar-se as crianas desde a mais tenra
idade, acerca de Sua bondade e grandeza, especialmente segundo
estas se revelam em Sua lei, e se demonstram na histria de Israel.
Cnticos, oraes e lies das Escrituras deviam ser adaptados mente que
se ia abrindo. Os pais e mes deviam instruir os filhos em que a lei
de Deus a expresso de Seu carter, e que, ao receberem os princpios
da lei no corao, a Sua imagem era gravada no esprito e na mente.
Muito [40] do ensino era feito oralmente; mas os jovens aprendiam
tambm a ler os escritos dos hebreus, e os rolos de pergaminho das
Escrituras do Antigo Testamento eram franqueados a seu estudo. Ao
tempo de Cristo, a vila ou cidade que no providenciava quanto
instruo religiosa da mocidade, era considerada sob a maldio de
Deus. Todavia, o ensino se tornara formal. A tradio havia em alto
grau sobrepujado as Escrituras. A verdadeira educao teria levado os
jovens a que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O
pudessem achar. Atos dos Apstolos 17:27. Mas os mestres judeus
davam ateno a questes cerimoniais. A mente era sobrecarregada com
matria sem valor para o que a aprendia, e que no seria reconhecida
na escola superior das cortes do alto. A experi- ncia obtida
mediante a aceitao individual da Palavra de Deus, no tinha lugar no
sistema educativo. Absorvido na rotina das coisas ex- teriores, o
estudante no encontrava horas de sossego para estar com Deus. No
Lhe escutava a voz falando ao corao. Em sua procura de
conhecimentos, desviava-se da Fonte de sabedoria. Os grandes
elementos do servio de Deus eram negligenciados, obscurecidos os
princpios da lei. O que se considerava como educao superior
constitua o maior obstculo ao verdadeiro desenvolvimento. Sob a
influncia dos rabis, as faculdades dos jovens eram reprimidas. Seu
esprito se tornava constrangido e estreito. O menino Jesus no Se
instrua nas escolas das sinagogas. Sua me foi Seu primeiro mestre
humano. Dos lbios dela e dos rolos dos profetas, aprendeu as coisas
celestiais. As prprias palavras por Ele ditas a Moiss para Israel,
eram-Lhe agora ensinadas aos joelhos de Sua me. Ao avanar da
infncia para a juventude, no procurou as escolas dos rabis. No
necessitava da educao obtida de tais fontes; pois Deus Lhe servia
de instrutor. A pergunta feita durante o ministrio do Salvador:
Como sabe Este letras, no as tendo aprendido? (Joo 7:15) no q