UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS
HUMANAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM IMAGEM E SOM DISCIPLINA: Tpicos
de Cinema na Amrica Latina DOCENTES: Alessandro Gamo e Arthur
Autran DISCENTE: Las Lima O CINEMA BRASILEIRO E AS TENTATIVAS DE
UMA INDSTRIA CINEMATOGRFICA. Artigoentreguecomocrditofinal
paraadisciplinaTpicosdeCinema naAmricaLatina,ministradapelos
professoresAlessandroGamoe Arthur Autran. So Carlos - SP Julho de
2015 " RESUMO
Opresentetrabalhobuscarefletiracercadastentativasdeconstruoeimplantao
de um modelo cinematogrfico industrial nacional, tal qual o exemplo
da hegemnica
indstriahollywoodiana.Tendocomoexemplosastrsprincipaisempresascriadas
entre as dcadas de 30 e 50: Cindia, Atlntida e Vera Cruz.
PALAVRA-CHAVE Cinema nacional Industria Cinematogrfica Cindia
Atlntida- Vera Cruz. # INTRODUO
Estetrabalhobuscaentenderosprocessosdeerroseacertosacercadas
tentativasdeimplantaodossistemasindustriaiscinematogrficoemterritrio
nacional. Tomando como base o perodo que se estende entre as dcadas
de 30 at o
finaldosanos50.Buscaremosreflexesqueenvolveoprocessodecriaoe
instalaodessasempresas,bemcomosuaatuaonomercadocinematogrfico.
Duranteasdcadasde30e50,houvenopasumgrandeburburinhoemtornoda
produodefilmesgenuinamentebrasileiros.Umademandacrescentequesetornou
fundamental aps o surgimento do advento do cinema sonoro.
Emboraomodelodecinemaindustrialnotenhatidoxitoedurabilidadeno
Brasil, assim como teve em outros pases da Amrica Latina, a exemplo
da Argentina
eMxico,possvelnotarograndeinvestimentoeempenhodasempresasaqui
criadas,paraumaproduodequalidade.Todoesforoempregadodestasempresas,
visavaaequiparaocomehegemnicaindstriacinematogrficadeHollywood,
comseusestdiogigantesesistemasdeamparodestemodelocinematogrfico
comercial. importante olhar para trs e lembrar historicamente, um
pouco das tentativas
decriaodeumaindstriacinematogrficanopas.Paraissonecessrioobservar
as trs principais tentativas de concepo de uma indstria
cinematogrfica brasileira:
Cindia,AtlntidaeVeraCruz.Essasempresasassumiramoriscoemnomedeum
sistemadeproduodecinemadeestdio1,segundoafirmaopesquisadorJoo Luiz
Vieira:
Nahistoriografiaclssicadocinemabrasileiro,quandonosreferimosa
cinemadeestdio,apensardevriasexperinciaspasafora,emgeral
sotrsosnomesque,imediatamente,vmtona:aCindiaexemplo
inauguralquesecostumaconsiderarcomoomodelodeumdesejode estdiode
verdade,especialmenteaolongodosanos30einciodosanos 40 seguida da
Atlntida, na segunda metade dos anos 40 e ao longo dos
anos50e,finalmente,daVeraCruz,nofinaldadcadade40eata primeira
metade dos anos 50. (VIEIRA, 2010: 44)
1 VIEIRA, Joo Luiz. Cadernos de Pesquisa do Centro de
Pesquisadores do Cinema Brasileiro Nmero Especial Rio de Janeiro,
2010. " LIMA, Pedro. Cinema brasileiro. Cinearte, Rio de Janeiro,
v. IV, n 194, 13 nov. 129. (A). $ Por ser uma arte cara,
financeiramente falando, o cinema sempre teve um custo
muitoelevado,principalmentequandoserefereaomodeloindustrialinstaladonos
Estados Unidos, em Hollywood, e copiado por diversos pases,
inclusive no Brasil. O alto custo vinha desde a construo e manuteno
dos grandes estdios que abrigavam
edavamvidaaosfilmes,atspelculasecmerasparagravaodosfilmes,o
processoderevelaodosnegativosdaspelculas,aparelhosdegravaodesom,
equipamentosdeiluminao,manutenodeequipetcnica,elencofixo,ato
processo de reproduo e distribuio das produes.
Nointuitodeestabelecerumaindstriadefilmescomopadrodocinema
hollywoodiano,asempresasacimacitadasforamfundadasafimdesupriruma
carnciadaproduonacionaldefilmes,etambmparareproduziroqueditavaas
realizaeshollywoodianas,emtermosdeaspectostcnicoseestticosdassuas
produes.Essapreocupaoezelopeloempregoacertadodastcnicascinematogrficas
de captao algo de fundamental importncia para Adhemar Gonzaga,
fundador da Cindia, que antes de criar a empresa, fundou em 1926, a
revista Cinearte, da qual era
crtico.Paraele,aideiadetomadasexecutadasdemaneiraerrnea,dosfilmes
brasileiros,realizadosdeformaindependente,citandoaquiosplanosexecutadosem
locaoexterna,queporessarazoacabavamtendodescontinuidadefotogrfica,
segundoasuaacepodofazercinematogrfico,issoeraumdesperdcio,jqueas
falhas se tornavam evidentes e prejudicavam os filmes. Vale a pena
lembrar que a indstria cinematogrfica s se torna uma verdade na
Amrica Latina aps o advento sonoro, nos anos 30. Isso quer dizer,
que a produo
sistemticadefilmesemtermosregionais,tomandocomobasepasesdaAmrica
central e do sul, como Mxico, Argentina e Brasil, s teve inicio
mediante ao fato do cinema se tornar
falado.Antesdadcadade30,osfilmesconsumidosnessespaseseramemsua
totalidadeamericanos,salvoalgumasprodueseuropeias.Comoosfilmesexibidos
aquierammudos,eporassimdizer,defcilexibio,poisnohaviamdilogose suas
narrativas eram construdas para guiar o olhar doespectador. Quando
o cinema
incorporaafala,dentrodasuaestruturanarrativa,ofilmemudoperdelugareuma
necessidade de filmes falado na lngua nativa nasce a partir da.Por
conta do advento do cinema sonoro, a barreira lingustica se imps
entre os
filmesamericanoseograndepublicobrasileiro,quesemsuamaiorianoera %
alfabetizadoenotinhanoodalnguainglesa.Osdilogosqueapartirdosom
sincronizado foram inseridos nos filmes para no mais sair deles, se
configuram como uma enorme barreira entre filme e pblico. De
encontro a este fato, nascem correntes
emdefesadalnguaportuguesaeconsequentementeummovimentoproteoda
cultura nacional. Um dos defensores do cinema nacional em prol ao
cinema americano falado, foi
ocrticodecinemaPedroLima,parceirodeAdhemarGonzaganacinearte.Pedro
Lima acreditava na fora do cinema nacional, como instrumento de
fortalecimento de
umaculturanacional,ondeopovo,espectador,resistiriaaostalkies2,construindo
assim uma fora propulsora do cinema nacional. possvel notar a crena
do crtico Pedro Lima, no trecho extrado de sua coluna da revista
cinearte: Ocinemafaladoemlnguaestrangeiranoprecisadeleis,nemde
nenhumabarreiraentrens.Elecairpors.Repelidopelopblico.[...].
ShumasalvaoparaCinema.ofilmenacional.Falado,masem lngua nacional. A
no ser assim bobagem. [...]. J foi o tempo em que o
exibidoreraumabarreira.Hojeelesprecisamdosnossosfilmes.Porque eles
sero a maior fonte de renda. Ns precisamos produzir mais. (LIMA,
129B) essetipodepensamentoemtornodocinemanacionalqueincentivaaos
investidoreseamantesdaartedocinemainvestirnainstalaodeumaindstria
cinematogrficanacional.Fazendonascerassimempresasquevosepropora
fomentareestimularocinemanacional,baseadonomodelocinematogrfico
industrial,tendocomomodelodebase,osistemadaindstriacinematogrfica
hollywoodiana.
Duranteastentativasdeimplantaodeempresasquepropunhamummodelo
decinemaindustrialnoBrasil,emmeadosdosculoXX,trsempresasganham
destaque nacional e a partir delas que esse trabalho tentar
analisar os pontos altos e baixos destes empreendimentos.
CINDIA
" LIMA, Pedro. Cinema brasileiro. Cinearte, Rio de Janeiro, v.
IV, n 194, 13 nov. 129. (A). &
AntesdefalarumpoucosobreaempresaCindia,aprimeira,como
pioneirismodomodeloindustrialcinematogrfico,sefaznecessriofalarumpouco
sobre seu fundador, Adhemar
Gonzaga.OJovemAdhemarGonzaga,erafilhodepaisrico,portantoportadordeuma
herana abastada.Antes de entrar de fato no mercado cinematogrfico
brasileiro, foi
crticoecronistadosimpressosPalcoseTelas,Paratodoseem1926fundoua
Cinearte.Foicomdinheirodaheranadospas,aoquallhefoiadiantadoque
Adhemarinvestiuparacontribuircomaedificaodocinemanacional,construindo
em1930aempresaCindia.OempreendimentodeAdhemarGonzagalogose
tornouaprincipalempresabrasileira3.Sobreadimensodesteempreendimento,o
pesquisador Arthur Autran afirma: Adhemar Gonzaga comprou em 1929,
lastreado em parte da herana que receberia do pai, um terreno no
bairro de So Cristvo e logo comeou a construo do estdio; o qual era
dotado j em meados de 1930 de palcos
[defilmagem],dezcamarins,escritriosedepartamentotcnico
(GONZAGA,1987:9-10).Gonzagatambmsepreocupouemequipara Cindia e alm
das modernas cmeras Micthell, a companhia contava com ...
refletores, copiadores e reveladoras automticas (RAMOS; HEFFNER,
2012: 167-168) (AUTRAN, 2011)
Esteforteinvestimento,visavaoempenhodegarantirsprodues,omelhor
suporte tcnico que a Cindia poderia oferecer naquela poca. Este
movimento de se tornar um polo industrial cinematogrfico, uma
tentativa de se igualar aos estdios e equipamentos de ponta usados
em Hollywood.MasmesmocomtodaenergiaempregadaparacriaodaCindiae
consequentemente as suas produes, no foi o bastante para movimentar
o mercado
docinemanoBrasil.Mesmocomumempreendimentodeiniciativaprivada,a
produo dos filmes realizados pela Cindia era fraca, em termos
quantitativos muito baixo e o mercado interno totalmente dominado
pelo produto hollywoodiano.
Emboratendoumaforteconcorrnciacomosfilmesamericanos,aCindia
tinhatambm,inspiradanomodelohollywoodiano,umsistemadeamparoe
divulgaodassuasprodues,queeraarevistaCinearte,queerainteiramente
voltadaparaaartedocinema.JooLuizVieiraexemplificaoprocessode
funcionamento da revista:
3 AUTRAN, Arthur. Argentina Sono Film e cindia: uma comparao.
Universidade Federal de So Carlos. So Carlos, 2011. '
Aindadentrodeumaconcepoedesejodeimplantaoe
desenvolvimentodeumaindstriadecinemanoBrasil,tambmseguindo
omodelobemconsolidadodocinemanorte-americano,aconstruode
ummercadoconsumidornopasfoialavancadopeloqueChristianMetz
chamoudeterceiraindstria,ouseja,amdiaimpressa,muitobem
assentadaporpublicaesespeciais,comdestaqueabsolutoparaarevista
Cinearte,editadainiterruptamenteduranteduasdcadasapartirde1926.
Considerada derivativa de similar norte-americana Photoplay, tanto
em seu
aspectogrficoquantoeditorial,seuprimeironmeroseautoproclamava
ummediadornaturalentreomercadobrasileiroeoprodutornorte-americano,exaltandoepromovendoauniversalidadedomodelode
produodeHollywood,apoiadoemduasestruturasfortesedominantes
naquelecinema:oestrelismo(starsystem)eocinemadeestdio. (VIEIRA,
2010: 44)
OcinemaproduzidopelaCindiatinhacomoobjetivo,representarumaspecto
nacionalagradvelaosolhos.IssojeraclamadopeloseufundadorAdhemar
Gonzaga na revista Cinearte e foi posto em prtica nas produes de
sua empresa. E
ficaevidentenosfilmespelasescolhasdebelaslocaes,planospensados
plasticamente,figurinoeescolhadeelenco.Umcinemadeestdiodotiponorte-americano,
com interiores bem decorados e habitados por gente agradvel. 4
importante ressaltar tambm, que como j citado acima, que o
movimento em defesa do cinema nacional encabeado por Pedro Lima e
Adhemar Gonzaga, protegia
tambmaquestodamodeobra.Tcnicosestrangeirosnoerambemvindosna
indstriadocinemanacional.Ocinemanacionalerarealizadoporbrasileiros,pois
como defendia Luiz de Barros em seu artigo intitulado O valor dos
nossos tcnicos,
ostcnicosestrangeirosnoteriamcapacidadedeentenderetrabalharcomalguns
aspectospontuaisdopasquesediferenciavamdeoutrospases,aexemploda
questo da luz.
AforaasquestesdembitodetrabalhoeideolgicasaCindiateveum
nmerosignificantedeprodues.SuaprimeiraproduofoiLbiossemBeijos
(1930), dirigida por Humberto Mauro, filme ainda mudo. O segundo
filme foi Mulher (1931) dirigido por Octavio Gabus Mendes, filme
sonoro. O terceiro filme da Cindia
foiGangaBruta(1933),dirigidoporHumbertoMauro,hojeconsideradoumdos
clssicos do cinema brasileiro mas foi uma na poca de seu lanamento
foi um grande fracasso de pblico e de crtica.
$
JooLuiz.IndustrializaoecinemadeestdionoBrasil:AFabricaAtlntida.In:
Cadernos de registro do centro de pesquisadores do cinema
brasileiro Nmero Especial Rio de Janeiro, 2010. (
Diantedofracassoqueestavasendooseugrandeempreendimento,Adhemar
Gonzagaem1934seassociaaonorte-americanoWallaceDowney,aconsequncia
dessaassociaoumamudanasignificativaemdiversosmbitosdaCindia.A
comearpelosfilmesproduzidos,quemudaramdeabordagem,etinhamtemticas
carnavalescas.A produo era de baixo custo, mas o sucesso alcanado
pelos filmes
garantiuaCindiacapitalparaproduodeoutrosfilmesquepartiamdomesmo
principio carnavalescos e tambm at, um ou outro filme com temtica
diferente. ComaentradadeDowneynasociedadecomaCindia,mudoutambma
estruturamercadolgicadaempresa,possibilitandoadiminuiodoscustosda
empresaeadivisodosgastoselucrosparaacontinuidadedoempreendimento.
Sobre essa nova abordagem de negociao Arthur Autran afirma: O seja,
nesse novo modelo, em geral, a Cindia entrava com o estdio, os
equipamentoseostcnicoscontratadosdemaneirafixapelaprodutora;
enquantoosciopagavapelapelculavirgem,oscontratoscomartistas,
direitos autorais das msicas, etc.(AUTRAN, 2011) Claro que esse
modelo de sociedade e financiamento no foi uma medida fixa,
elevariavadeproduoparaproduo.EapartirdasociedadecomWallace
DowneyqueaCindiaencontraofluxodeproduoindustrialcinematogrfica.
Produzindofilmesquecaemnogostopopularecomissotendoretornofinanceiro,
que possibilita o financiamento de novas produes. ATLNTIDA No incio
da dcada de 40, em mais um impulso afim de instalar no Brasil uma
empresa cinematogrfica genuinamente nacional, exatamente no dia 13
de outubro de 1941, em assembleia, foi criada a Atlntida Empresa
Cinematogrfica do Brasil S.A.,
empreendimentoidealizadopelossenhoresMoacyrFenelon,AlinorAzevedo,Jos
Carlos, Paulo Burle, Nelson Schultz e Arnaldo Faria.
ApropostadefuncionamentodaAtlntidasediferenciavaapropostada Cindia,
nos seus primeiros anos. Em uma primeira observao, possvel notar o
no investimento na construo de estdio para abrigar a sede da
empresa. A economia da
companhiaerabaseadaemproduesdebaixocustoeretornosignificativo.Dado
) essesfatospossvelentenderumpoucodalgicadaempresasegundos
curiosidades citadas por Joo Luiz Vieira:
Nessesprimeirosanos,aideiadeumcinemadeestdiosignificava,na
Atlntida, espaos mais ou menos improvisados localizados num barraco
situadoruaViscondedoRioBranco,centrodoRio.Adireoda
empresa,entretanto,localizava-senasededoJornaldoBrasil,cujo
endereo(AvenidaRioBranco,51),donoeacionista,oCondePereira Carneiro,
imprimiam credibilidade ao projeto (VIEIRA, 2010: 47) A Atlntida
diferentemente da Cindia, tinha como objetivo a produo no setor
audiovisualdeformaexpandida.Comfinalidadedeseinserirnomercadodeuma
formaabrangente,secolocandonocenriocomercialdocinemanacional,detal
maneira,paraalmdaproduodefilmesquebuscavamalcanar,decertaforma,o
modeloclssicodocinemanorte-americano.AAtlntidatinhacomopropsitoa
produo de filmes cinematogrficos -documentrios,
artsticos-culturais, de longa e
pequenametragem,desenhosanimados,dublagensdeproduesestrangeirase
atividades afins. 5
Emsuahistria,aAtlntidatemduasdiretorias,quesedistinguempela
abordagem implantada na empresa. No primeiro perodo, que vai de
1941 a 1947, os filmes produzidos na Atlntida tinham um vis
crtico-social, a exemplo de Moleque Tio (1943), dirigido por Paulo
Burle. Em outras produes h uma preocupao com
aconscinciasocialpromovidapelocinema,emfilmesquedemandampretenses
artsticasambiciosas6.Pormfoiexperimentadotambm,pelomesmogrupodiretor,
outros modelos deproduocinematogrfica,comoas
Chanchadasoriginalizadasna Cindia.
DuranteoexercciodasegundadiretoriadaAtlntida,comaentradade
SeverianoRibeiro,comoprincipalacionista,aempresatendeamudarseu
posicionamentoemrelaoaomercado.SeverianoRibeiroeraumhomemde
negcios,capitalista,eparaeleolucroeraoseuprincipalobjetivo.Oingressode
Severiano na Atlntida no acontece por acaso, e concomitantemente a
isso ele tem o
% Joo Luiz. Industrializao e cinema de estdio no Brasil: A
Fabrica Atlntida. In: Cadernos de registro do centro de
pesquisadores do cinema brasileiro Nmero Especial Rio de Janeiro,
2010. &
JooLuiz.IndustrializaoecinemadeestdionoBrasil:AFabricaAtlntida.In:
Cadernos de registro do centro de pesquisadores do cinema
brasileiro Nmero Especial Rio de Janeiro, 2011. *+
apoiodoestadoparagarantiraexibiodosfilmesproduzidospelaempresa,
conforme pontua Joo Luiza Vieira:
AestratgicaentradadeSeverianoRibeirocomosciomajoritrioda Atlntida
no acontece por acaso e responde, diretamente, a seus interesses
como,primordialmente,exibidor(enoprodutor)depoderqueera.Seus
objetivosmaiores,associadosaospossveislucrosaseremgeradospela
produodefilmes,vinhamaoencontrodeumasituaoquelheera
favorvel,permitidapelaobrigatoriedadedereservademercadopara
filmesbrasileiros,oclebredecreton20.493de24dejaneirode1946. Tal
dispositivo determinava que os cinemas teriam que exibir,
anualmente, pelo menos trs filmes nacionais. (VIEIRA, 2010: 48)
AexperinciadaAtlntidaemtermosdeumaatividadeindustrial,forneceu
conhecimentoprticoemrelaostentativasdeimplantaodeumaempresa
cinematogrficacomdimensesindustriaisnocenriomercadolgiconacional.
Tendo de certa forma encontrado uma formula para o sucesso, embora
a mesma no
tenhasidosatisfatriaparaseusdirigentes.AsChanchadasproduzidasnaAtlntida
soconhecidasathoje,eessafoiagrandemarcadaempresa,queserviude
entretenimento para o pblico at o encerramento da companhia em
1962. VERA CRUZ Nofimdadcadade40,aCompanhiaCinematogrficaVeraCruz,
empreendimentopaulista,foicriadaem1949.SediadaemSoBernardodoCampo,
empresacriadapeloindustrialeprodutorFrancoZamparieoindustrialFrancisco
Matarazzo Sobrinho. A fundao da Vera Cruz se d em um momento de
efervescncia da cultura do
pas.TendocomosededestaexpansoacidadedeSoPaulo,duranteops-guerra.
Onde as famlias dos fundadores da Vera Cruz eram detentoras de
grandes fortunas e
tambmatuavamemprolainstalaodediversosmeiosemecanismoculturaisno
pas.AexemplodoMuseudeArtedeSoPaulo(MASP),criadoporAssis
ChateubriandeTitiloMatarazzoem1947,eoTeatroBrasileirodeComdia(TBC),
criado por Franco Zampari em 1948. Com o cenrio do cinema nacional
desacreditado pela alta sociedade paulista, e a vontade de criar um
modelo cinematogrfico reconhecido internacionalmente, nasce
aVeraCruz.Esteempreendimento,segundoacreditavamseuscriadores,pessoas
** prximaseles,comotambmtcnicosepersonalidadesimportantesdocinema
nacional,tinhatudoparaseromarcodefinitivodocinemaindustrialnopas.Havia
muitodinheirodisponvel,suportetcnicodeponta,atoresediretores,muitodeles
oriundos do TBC, empenhados para a solidificao da Vera Cruz.
MuitoemboraaboavontadeedisposiodosdiretoresaaVeraCruz, empenhados
em criar uma empresa que de ponta, no era de conhecimento de nenhum
delesomododefuncionamentodemercadocinematogrfico.Essedespreparose
torna evidente pela abstinncia da Vera Cruz no processo de
distribuio dos filmes,
depoisdeprontaasprodueserampassadasparaasempresasnorte-americana
UniversaleColumbia.SobreaquestodaeconomiaaudiovisualbuscadapelaVera
Cruz, Arthur Autran afirma:
Noseatentouparaodadocentraldaeconomiacinematogrficanorte-americananoperododostudiosystem:averticalizao,ouseja,uma
mesmaempresacontrolavaproduo,distribuioeexibiodosfilmes
nosEstadosUnidoseosexportavaatravsdesuasagnciasespalhadas
pelomundo.JaVeraCruz,desdeosseusprimrdios,entregoua
distribuiodeseusfilmesinicialmenteUniversaledepoisColumbia. Alm do
modelo de produo, no se tinha na devida conta as dificuldades
noestabelecimentoarelaoentrecustos,qualidadedoprodutoe
potencialidades concretas no mercado. (AUTRAN, 2011: 47)
Apesardonotadodespreparodosfundadoresemrelaoaotipodecomercio
criado.AVeraCruzfoiumaempresadesucessossignificantesnomeio
cinematogrfico.Aapostapelaqualidadecomeoudesdeaaquisiode
equipamentos de ponta, criao de sede contratao de renomadas pessoas
da esfera cinematogrfica, a exemplo de Alberto Cavalcante, que vem
da Europa para trabalhar na empresa.
Osfilmesproduzidospelaconquistamoseulugarnocenriodocinema
nacionalealgunsttulosconseguemreconhecimentointernacional,osfilmesO
CagaceirodirigidoporLimaBarretoeSinhMoaco-dirigidoporTomPaynee
Osvaldo Sampaio, participaram de importantes festivais de cinema
internacional.
AVeraCruzentredesdesuafundaoem1949atoencerramentodassuas atividades
em 1954, teve altos e baixos. Desde produes muito caras que no
tinham o retorno financeiro, at desentendimentos dos empregados da
companhia. Tudo isso
contribuiuparaodeclniodaempresaquenasceuapartirdosonhodaedificaodo
cinemanacional.Asituaodaempresafoidetotaldegradaoatarennciada *"
diretoriaeentregadoempreendimentoparaoprincipalacionistanapoca,oBanco
doEstadodeSoPaulo.FrancoZampariperdeutodooseudinheiroeimveis,nas
tentativas de manter a Vera Cruz. CONCLUSO
Antesdetentarfinalizarqualquertipodepensamento,arespeitodafaltade
sucessonastentativasdeimplantaodeumsistemaindustrialcinematogrfico,inspiradonomodelodeHollywood,possvelperceberavontadedocinema
brasileiro de encontrar o seu lugar, criar razes, crescer e dar
frutos. Independente de cada empreendimento criado.
NaArgentina,omodelocinematogrficoindustrialdeucerto,aexemploda
empresaArgentinaSonoFilm,fundadaem1933porD.AngelMentasti.Olhando
paraomercadocinematogrficodopasvizinho,notamosalgumasmetodologias
adotadasporMentasti,afimdesesalvaguardarfinanceiramente.Somenteapstrs
anos depois da fundao da Argentina Sono Film que se d a construo
dos estudos da companhia, diferentemente dos exemplos aqui citados.
Outraquestoquedistingueasabordagensadotaspelasindustriasnacionaise
argentina, no segundo caso a aceitao de filmes produzidos que
tiveram a aceitao
popular,tendootangocomoumpersonagemnasprodues.NoBrasil,abuscapor
umcinemarebuscadoequefosseaomesmotempoautentico,atrapalhaexitoda
indstria cinematogrfica no pas. Isso se nota nas histrias das trs
empresas citadas
nesteartigo:Cindia,AtlntidaeVeraCruz.Astrsempresasembuscadaformula
dosucessocaememumlugarcomum.Lugarestequesebaseavanasproduesde
baixocusto,usodamsicacomoprincipalmotivadordasnarrativas,quecaiamno
gostodopopular,aexemplodasChanchadas,criadanaCindia,exploradapela
Atlntida e modelo tambm copiado na Vera Cruz.
Acede,angstiaedespreparoparacriaoeimplantaodeumaindstria
cinematogrfica,baseadanomodelohollywoodiano,foramosfatoresatenuantes
ascensoequedadestasempresas.Alm,claro,daapatiadoestadoemrelaoa
criao de medidas protecionistas eficazes em defesa do cinema
nacional. *# REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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