1 O bordel A partir de o balcão de jean genet
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O bordel A partir de o balcão de jean genet
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Espaço arquitetônico
Grande, de preferência que não esteja catalogado dentro da
"convencionalidade" do espaço teatral ortodoxo. Servem-nos velhos
armazéns, conventos palacianos, quadras desportivas, fábricas
abandonadas; ou seja, qualquer espaço onde a estrutura espacial
concebida para a representação de o bordel possa encaixar-se,
inclusive um grande espaço cênico à italiana, desde que aberto as
prováveis mudanças estruturais necessárias, na arquitetura do espaço
original.
Espaço cênico
Espaço cênico de o bordel é constituído por 04 estruturas que
margeiam e delimitam o espaço de representação. Essas estruturas
são construídas a partir de tubos de ferro. A
Dimensão de cada estrutura é de: 10 mts comprimento, 06mts de
altura. Sendo que todas as 04 estruturas têm uma passarela de 02 mts
de largura, que estão localizadas a 03 mts de altura e são acessadas
por escadas laterais. Além de dar suporte à representação, as
estruturas permitem resolver dificuldades surgidas na utilização dos
meios técnicos necessários para a realização da encenação.
Cenografia
A cenografia básica da representação de o bordel, será constituída
exclusivamente por objetos de cena, que além do seu valor e utilização
intrínsecos, terão funções de alicerçar a leitura simbólica da
representação no contexto dramatúrgico da encenação. Permitindo a
construção de vários cenários no decorrer da representação.
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Figurino
Todos os personagens utilizarão um figurino básico, composto por bota
da tropa e ceroulas brancas. Em cada quadro, a utilização de
determinado adereço, definirá a diferenças entre os personagens.
Serão os adereços que marcarão as diferentes caracterizações de cada
ator.
A iluminação
A iluminação da representação será sustentada pela estrutura do
espaço cênico.
A sonoplastia
A sonoplastia será a base da musicalidade da representação. É a partir
dela que a representação se sustenta. Tanto a musicalidade sonora
como a musicalidade corporal-visual da encenação. Ela ditará os
espaços-tempo e a movimentação dos estímulos sensoriáis da fábula.
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A interpretação
A interpretação percorrerá dois caminhos. Um será construído a partir
de uma linguagem burlesca, exagerada, sem no entanto cair no
caricato da anedota. O outro, percorrerá o caminho do hiper-
naturalismo levado ao seu extremo.
Personagens
Revoltosos mulher violentada bispo juiz ladra égua general
manifestantes velho dos piolhos rapariga 1 chantal roger revoltoso
cães rainha bispo drogados mendigo carmen escravo chefe de policia
papa presidente da republica cardeal solano os 03 pastorzinhos
(multidão) nsrª de qualquer coisa
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1.quadro i
A insurreição
2.o público aguarda em seus lugares o início do espetáculo. Ao fundo
ouve-se o som de música festiva da idade média.
3.as luzes apagam-se. Um contra luz, vindo do fundo, cega a platéia.
Ao mesmo tempo que sons pesados de um conflito militar invade a
cena. Oito figuras levantam-se da platéia e caminham para o centro do
espaço cênico. As figuras fazem uma barreira humana entre a contra
luz e a platéia. As figuras começam a despirem-se. Ficam totalmente
nus. Seus corpos mostram-nos somente suas silhuetas.
4.progressivamente a contra luz desaparece dando lugar a oito focos
em pino que iluminam claramente as figuras. As figuras agora
totalmente desnudas, agarram suas roupas que estão a seus pés e
envergonhadas desaparecem de cena.
5.em cena apenas resta um personagem, vestese com pedaços de
panos que estão aos seus pés. Dois focos paralelos as paredes laterais
rasgam o espaço, formando dois caminhos de luz. Em cada caminho
dois atores representam a insurreição da revolução. São os primeiros
passos para a derradeira explosão popular. No foco da direita, a frente
da cena, um homem vestindo ceroulas, botas da tropa e um capacete
que na realidade é uma velha panela, prepara seu equipamento de
trabalho. Sua função é dinamitar alvos precisos.
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Seu corpo está coberto de bananas de dinamite. Carrega a tiracolo um
detonador e um rolo de fios.
Trabalha meticulosamente e com muito
Cuidado. Ao fundo da cena, no mesmo foco, um
Tocador de tambor prepara seus passos. Veste
Ele também ceroulas, botas da tropa e uma
Panela velha como capacete. Do lado
Esquerdo da cena, ao fundo, um soldado
Revoltoso prepara-se para avançar no terreno, carrega consigo todo o
tipo de armas mortíferas. Sua função é proteger todas as etapas do
movimento da revolta, garantindo com sua vida, a integridade física
de todos os revoltosos. A frente do soldado,
Mais ao centro do foco, um homem observa os
Horizonte, carrega consigo vários
Instrumentos de observação. Tem todo o
Aparato necessário para vigiar
Minuciosamente o inimigo. Mais a frente da
Cena, outro homem, é o carregador,
Responsável em organizar e transportar as
Necessidades que exige a revolução. Sua atenção e seu cuidado são
exageradamente excessivos.
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6.dois outros focos rasgam o espaço paralelo
Ao chão, por detrás do ator do centro que
Confessa seus pecados. Nesse foco uma
Mulher do povo está totalmente desorientada,
Caminha insistentemente da direita para a
Esquerda e vice-versa. Carrega consigo instrumentos e todo o tipo de
elementos necessários para uma orientação correta.
7.todos esses personagens usam ceroulas
Brancas, botas da tropa e panelas como capacetes, com exceção da
mulher do povo que não usa capacete.
8.enquanto o ator do centro reza sua
Catártica oração, os outros seis atores,
Representam progressivamente, o desfeixo
Fatal. A mulher quase desnuda foge de um
Perseguidor invisível. Um homem nú vestindo apenas uma mitra surge
em cena perseguindo
Desesperadamente a mulher. Pode-se notar no corpo da mulher
grandes manchas de sangue que vazam dentre suas pernas. O homem
consegue agarrá-la e tenta violentamente violá-la. Ela luta com todas
as suas forças.
9.mulher- senhor perdoai esta alma
Que nas imensidões das distâncias
Que separam os corpos translúcidos
Das cadeias de montanhas longínquas
Na extremidade do universo paralelo
Dos nossos desejos infernais
Que nos atormentam diariamente
Fazendo com que nossas cansadas
Vistas cansadas
Obscureçam-se na monotonia das tempestades
Cerebrais
Que marcam nossos corpos
Transfigurados com as imensidades
Esperanças traçadas nas almas desses seres
Tão leves
E insustentavelmente incoerentes
Das terras onde os gritos desesperados
Das banalidades bestiais que perfuram nossos
Pés molhados na manhã nebulosa
Que marcam nossos dias futuros
Como a carne putrificada da criança
Que suga o peito caído e fétido
De outra carne sem vida
Sem sina
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Sem maneiras coerentes
De visualizar as imagens
Metaforicamente esquecidas
Nas puras pretensões pessoais
E inacessíveis à outra face desconhecida
Mergulhada no âmago das entranhas
Do sofrimento dos desprazeres
Inconsequentes
Dos momentos efêmeros
Passados num tempo extremamente confuso
Onde a vontade do ser
Totalmente puro e liberto
Dos tormentos que nos obrigam
A assumir perante os outros
Também cruéis seres
Ferozmente defensivos no seu medo do
Exterior
Que domina sua alma gélida Que vaga entre tantas incertezas
Na esperança de que seu corpo Matéria orgânica sem vida
Transcenda além das entrelinhas
Que dividem o lado
obscuro
Do
Desconhecimento que cerram nossos olhos
Fazendo com que a mais pura manifestação
Da verdade escondida
Em nossos corações de pedra calcário
Que constrói diques intransponíveis
E que desaguam na mais pura abstração
Como o uivo lunático dos lobos
Que nas noites cheias de lua espelhada
Cheiram no ar úmido da madruga
Os odores liberados dos poros secos e
Castrados
Que desfiguram o que de bom temos todos
Sem nos permitir
Qualquer deslize insignificante
Perante o que realmente importa
Sem ao menos termos a chance prematura
De nos posicionarmos como os fetos
Que protegidos no ventre materno
Esticam suas frágeis pernas
Lembrando-nos que o próximo
Passo da nossa infinita eternidade
Marcará sua presença
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Nos chamando à razão
Para essa tão besta inexistência
Caótica e disforme
Dos nossos corpos que vagam
Incansavelmente por caminhos
Totalmente transformados em pedras
Pontiagudas que rasgam nossa pele
E perfuram nossas almas
Ventiladas com os prazeres sofredores que nos limitam a visão reta desse caminho infindável do ser.
10.ela consegue fugir do homem. Um outro foco
Rasga o espaço na diagonal, iluminando uma imagem do grande
holocausto. O homem foge em direção as imagens.
11.esse foco move-se, parando sempre numa
Nova imagem do grande holocausto. O foco aumenta e percebe-se
agora que as imagens do grande holocausto formam uma grande cruz.
O foco aumenta ainda mais. Vê-se que a cruz faz
Parte da vestimenta de um grande bispo
Estilizado. Seu corpo é muito grande e sua
Cabeça demasiada pequena para o seu
Tamanho. Nota-se que essa figuna nada mais é do que o homem nú
com a mitra na cabeça sob um gigantesco figurino bispal.
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12.enquanto isso as cenas paralelas dos
Revoltosos, seguem o curso normal da revolução. Os planos traçados,
agora são
Executados meticulosamente. Todos os
Revoltosos realizam suas funções com o
Objetivo de distrair e iludir as forças da
Ordem estabelecidas. Apesar de estarem momentaneamente na
surdina, avançam
Vitoriosamente.
13.um outro pequeno foco ilumina somente o rosto do bispo. Nesse
momento ouve-se uma grande explosão provocada pelo detonador.
Todas as cenas paralelas e as luzes que
Cortam o espaço desaparecem por completo, restando apenas as luzes
do bispo e a do personagem que confessa.
14.o bispo ouve-a com grande entusiasmo e devota alegria. Sua aurea
e calma e serena, fala com tranquilidade.
15.bispo- na verdade o que deve definir o
Verdadeiro prelado
Não é tanto a doçura e a unção
Mas a mais rigorosa inteligência
Coração perde-nos
Julgamos ser senhores da nossa bondade
E acabamos escravos duma serena indolência
Mas não é bem de inteligência que se trata
É de outra coisa
Talvez de crueldade
E para lá desta crueldade
E através dela
Uma caminhada
Hábil e vigorosa na direção da ausência
Na direção da morte
Deus talvez
E tu mitra em forma de barrete de bispo
Fica a saber
Que quando os meus olhos se fecharem pela
Última vez
Serás tu
Meu belo chapéu dourado
A última coisa que fixarei por detrás das
Pálpebras
E tu meu caro espelho
Responde ao que eu te pergunto
É para descobrir o mal e a inocência que venho
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A esta casa
Mas quem sou eu refletido em ti
Para chegar a bispo precisei lutar para não o
Ser e de fazer aquilo que me levasse a sê-lo
Uma vez bispo
Foi preciso que não deixasse de me considerar
Como tal para poder exercer as minhas
Funções
Oh rendas
Trabalhadas por milhares de mãozinhas ternas
Para cobrirem tantas gargantas em fogo
Gargalos rostos e cabelos
Uma função é uma função
Não é um modo de ser
Ser bispo é um modo de ser
É um cargo
Um fardo
Que se lixe a função
A majestade
A dignidade que dão brilho à minha pessoa
Não provém das atribuições da minha função
Nem mesmo dos méritos pessoais
A majestade e a dignidade que me iluminam
Vêm de um esplendor mais misterioso
Do fato do bispo me preceder
Ouviste espelho
Imagem dourada
Enfeitada como uma caixa de charutos cubanos
Quero ser bispo na solidão
Pela simples aparência
E para destruir qualquer função
Trago comigo o escândalo para te arregaçar
Minha puta putona putéfia peidorreira
E com estes paramentos e rendas
Regresso a mim próprio
Reconquisto um domínio
Investi contra uma praça forte e antiga
Donde me expulsaram
Instalo-me agora numa clareira
Onde o suicídio é finalmente possível
Julgamento depende de mim
E eis-me frente a frente com a minha morte
Paramentos mitras rendas
E tu capa dourada
Acima de tudo tu
Que me escondes do mundo
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Onde estão as minhas pernas
E os meus braços
Tu minha capa rígida
Que permites a elaboração no calor e na
Obscuridade
Da mais terna
Da mais luminosa doçura
A minha caridade que inunda o mundo
Destilei-a sob esta carcaça
Que as vezes surgia como uma faca na minha
Mão para abençoar cortar guilhotinar
Como a cabeça de uma tartaruga afastava a
Fímbria
E depois regressa ao rochedo
Oculta minha mão sonhava
Oh capas paramentos mitra..
16.sons de metralhadoras, bombas e lamentos invadem o espaço. O
bispo assusta-se. As luzes apagam- se.
17.quadro ii
A tomada da cidade
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18.05 focos laterais, saídos da diagonal, do
Chão para o teto, invadem a cena , formando
Caminhos, que rasgam o espaço, ligando as
Extremidades da cena. O espaço então é
Invadido por revoltosos que atravessam a
Cena, pelo ar, da direita para a esquerda e vice-versa. Estão de arma
em punho e fazem muito alarido quando passam.
19.invadem a cidade, pelos seus telhados
Vermelhos. Andam sobre eles
Sorrateiramente. Avançam em direção aos bairros do norte. Por onde
passam
Bombardeiam a população passiva. Faz-se noite. As noites são
perigosas. O fogo ilumina o silêncio da metrópole.
20.enquanto a revolução queima a cidade,
Espalhando cadáveres por todos os lados; no
Palácio da justiça, a espada da lei estabelecida, afia suas lâminas.
Pode-se ouvir ao fundo o sussurrar da grândula morena.
21.um foco saindo do chão em direção ao teto,
Corta o espaço na diagonal. No teto um homem
Nú, pendurado de cabeça para baixo, com sangue escorrendo pelo seu
corpo, parece
Desmaiado. Os alaridos paralelos dos
Revoltosos continuam enquanto a cena do julgamento desenrola-se,
ficando no entanto em “off”.
22.surgindo do nada, invadindo o foco do
Homem, uma bela mulher com roupas de rendas
Coladas negras com um chicote a tiracolo e
Usando saltos altos, invade a cena ela
Circunda o homem, interrogando-o com
Soberba e maestria. Nota-se da parte do
Homem, do fundo da sua alma, um prazer
Sarcástico qualquer. Uma cena sado-
Masoquista.
23.mais à frente no espaço, um outro foco em pino, ilumina o carrasco.
Ele caminha circularmente, ao redor do juiz e da ladra.
Seu caminhar é traçado por focos em pino que
Acendem-se e apagam-se a medida que ele se
Movimenta. Ele caminha de “quatro” e,
Enquanto caminha, chicoteia-se. Toda a vez que chicoteia-se, o juiz
solta um grito de profunda dor. A ladra goza.
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24.durante esse tempo os revoltosos avançam e conquistam 03
importantes posições.
25.juiz- sim, és uma ladra! Apanharam-te em
Flagrante...e quem? A polícia... Já te esqueceste
De que tenho uma rede subtil e sólida... Os meus
Chuis de aço... Os meus homens são como
Insectos de olhar inconstante, montados
Sobre rodas, sempre a espiar-vos. A todas! E
Todas vós, cativas são trazidas por eles, aqui, ao palácio... Que tens tu
a dizer-me? Apanharamte em flagrante...
26.ladra- não!
27.juiz- isso mesmo minha filha: primeiro deves
Negar e só depois confessar para alcançares o
Arrependimento. Quero que desses belos olhos
Saltem lágrimas ardentes. Sim quero ver-te
Encharcada em lágrimas. Oh santo poder das lágrimas!... Onde pus eu
o código?
28.ladra- já chorei o bastante!
29.juiz- quando te batiam. Mas eu quero lágrimas
De arrependimento. Só ficarei totalmente
Satisfeito quando te ver molhada como um prado....és muito nova.
Sem experiência. Menor provavelmente...
30.ladra- menor não senhor.
31.juiz- chama-me senhor doutor juiz.
32.ladra- sim senhor doutor juiz.
33.juiz- enfim recomecemos. Portanto
Aproveitas-te do sono dos justos, aproveitaste do sono repentino para
roubares,
Surripiares, furtares, despojares...
34.ladra- não senhor doutor juiz, é mentira!
35.juiz- volto a repetir: roubaste?
36.ladra- sim senhor doutor juiz!
37.juiz- muito bem. E agora responda-me depressa e sem hesitações:
o que é que tu roubaste?
38.ladra- roubei pão porque tinha fome.
39.juiz- sublime função a minha! Tudo vai ser julgado por mim. Oh
minha querida filha só tu
Consegues reconciliar-me com o mundo. Vou
Ser juiz de todos os teus actos! De mim vai depender a medida, o
equilíbrio. O mundo é uma maçã para eu cortar ao meio: os bons e os
maus.
E tu meu deus, aceitas ser a parte má? Nada nas mãos, nada nos
bolsos, extirpar o podre e deitá-lo fora. Mas que ocupação dolorosa!
Habito esta região da liberdade exacta. O rei dos infernos, todos os que
eu julgo, estão como eu: mortos. Esta está como eu: morta.
40.ladra- faz-me medo senhor doutor juiz!
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41.juiz- cala-te. No fundo dos infernos faço a
Partilha dos humanos que se arriscam a chegar
Aqui. Uma parte para a fogueira outra para o
Tédio dos campos de asfodelos. Tu minha ladra,
Minha espiã, minha cadela, ouve o que minos te diz, ouve a decisão...
Não estiveste a mentir-me?
Pois não?... Sinto-me quase feliz... O que é que tu
roubaste?...responde-me ou não? O que é que tu roubaste mais?
Onde? Quando? Como? Quanto? Porquê? Para quem? Responde!
42.ladra- entrei em muitas casas pela escada de
Serviço, aproveitando a ausência das
Criadas...abri armários, parti mealheiros dos
Garotos...uma vez disfarcei-me de senhora
Honesta. Vesti uma saia e um casaco comprados
Na feira da ladra, pus um chapéu preto de palha enfeitado com um ramo de cerejas, um véu e uns sapatos pretos e entrei... 43.juiz- onde? Onde? Onde' onde? Onde é que tu entraste?
44.ladra- já não me recordo!
45.juiz- onde é que tu entraste? Diz-me onde é que tu entraste? Onde?
Onde' onde?
46.ladra- juro que não me lembro.
47.juiz- diz-me onde entraste? Diz-me o que roubaste? Diz, não sejas
má...
48.ladra- não me trates por tu, ouviu?
49.juiz- minha menina...minha senhora. Por favor,
Suplico-lhe... Não posso acreditar. Ouve bem o
Que te digo: continua a dissimular, a fingir o mais que puderes e os
meus nervos
Suportarem. Continua a negar, a negar sempre,
Para me obrigares a sofrer, a bater com os pés
No chão, a espumar de raiva, a suar, a ganir de impaciência, a
rastejar... Queres que eu rasteje?
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50.ladra- rasteje!
51.juiz- que me obrigues a rastejar depois de eu
Ser juiz, está bem minha marota, mas se te recusares definitivamente
ao teu papel, isso seria um crime minha cabra!
52.ladra- chama-me minha senhora e seja mais educado!
53.juiz- e terei o que pretendo?
54.ladra- roubar não é fácil sabe!
55.juiz- mas eu pago, pago o que for preciso minha senhora.
56.se deixasse de poder separar o bem do mal para que serviria eu,
diga-me, para que serviria?
57.ladra- isso pergunto eu a mim própria!
58.juiz- ainda a pouco estavas prestes a
Transformar-me em minos... Como tu eras cruel,
Terrível! E eu impiedoso preparava-me para encher os infernos de
condenados. Encher as prisões... Minha senhora diga que sim por
favor. Posso lamber-lhe os sapatos se quiser, mas por favor confesse
que é uma ladra..
59.ladra- primeiro lambe. Lambe meu cãozinho rafeiro...
60.bombas e rajadas de metralhadoras
Invadem a cena. Black’out.
61.quadro iii
A explosão das barragens
62.em todo o espaço cênico, bombas
Verdadeiras explodem. Dois focos laterais
Invadem a cena, deixando a mostra do lado
Direito, uma grande multidão com cartazes
Simpatizantes a revolta. No outro extremo,
Três soldados tentam salvar o que resta do
Arsenal bélico do exercito. Eles carregam de
Um lado ao outra da cena, grandes sacas com
Material bélico, tentam salvá-las da
Inundação provocada pela destruição da
Barragem. A água não cessa de correr,
Encharcando toda a cena. Do outro lado, os manifestantes-revoltosos
gritam palavras de ordem.
63.no centro do espaço um foco em pino ilumina um velho nu, que
aguarda impacientemente.
Parece medroso. Uma bela jovem entra no seu
Espaço. Trás consigo algumas peças de roupa
Interior. Começa a vesti-lo enquanto conversam. As manifestações populares continuam em segundo plano.
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64.general- até que enfim que chegou, com meia hora de atraso,
tempo mais que suficiente para se perder uma batalha... E o sangue,
não vejo nenhum sangue.
65.rapariga- o sangue secou, não se esqueça que se trata de sangue
de antigas batalhas.
66.general- que andaste tu a cheirar por aí? Não te deram o teu saco
de aveia? Tu sorris?
Sorris para o teu cavaleiro? Estás a
Reconhecer esta mão suave e firme meu corcelzinho orgulhoso? Quantas correrias não fizemos juntos minha bela égua! 67.rapariga- e faremos muitas mais. Estes cascos bem ferrados, estas
patas nervosas, anseiam por correr mundo.
68.general- está bem. Mas primeiro põe-te de joelhos, vamos de
joelhos, vá dobra-me esses jarretes minha linda!... Bravo, bravo minha
colomba!
69.rapariga- o pé esquerdo continua inchado!
70.general- claro é o pé da partida, é o pé que bate e que aperreia.
Como esse teu cascozinho quando me fazes as vénias.
71.rapariga- quando faço o quê?
72.general- és um cavalo ou uma ignorante? Se és um cavalo então
sabes fazer vénias.
73.rapariga- faço o que devo fazer!
74.general- já estás a revoltar-te? Espera que eu esteja pronto.
Quando te meter os freios nos dentes...
75.rapariga- oh não, isso não..
76.general- era o que faltava, um general a ser
Chamado à ordem pelo seu próprio cavalo! Sim
Senhor... Terás o freio, as rédeas, os arreios, a cilha, e só então, de
botas, chibata e chapéu te saltarei em cima!
77.rapariga- è horrível o freio, fico com as gengivas a sangrar, e os
lábios todos gretados, e depois babo sangue.
78.general- ah, a espuma cor de rosa e o
Crepitar do fogo. Que cavalgadas. Entre
Campos de centeio, no meio da luzerna,
Atravessando prados, caminhos poeirentos,
Por montes e vales, deitados ou de pé, da
Aurora ao pôr do sol...as medalhas estão todas aí? É melhor contá-
las!
79.rapariga- estão meu general.
80.general- e a guerra, onde está a guerra?
81.rapariga- está perto meu general. Vai desenrolar-se num campo de
macieiras. O céu está calmo e róseo, uma paz repentina que banha
toda a terra, o tempo está agradável, as coisas sustêm a respiração, a
guerra foi declarada, e está bom tempo.
82.general- e de repente...
83.rapariga- alcançámos o prado, páro de escoucinhar, de relinchar,
sinto as tuas coxas quentes a apertar-me os flancos.
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84.general- e de repente...
85.rapariga- a morte fica a postos, põe um dedo
Nos lábios convida-nos ao silêncio. Uma bondade extrema ilumina as
coisas, nem tu dás pela minha presença.
86.general- e de repente...
87.rapariga- o próprio vento esperava ordens
Para desfraldar as bandeiras, e de repente foi
O ferro e o fogo. Muitas viúvas. Foi preciso
Tecer quilómetros de crepe para enlutar os
Estandartes. A smães e as esposas tinham os
Olhos secos e ocultos pelos véus. Os sinos
Caiam das torres bombardeadas. Ao virar uma
Rua espantei-me com um pano azul e ergui as
Patas, mas tua mão doce e pesada logo me aclamou, e recomecei o
trote. O h meu herói, como eu te amava.
88.general- e os mortos? Não havia mortos?
89.rapariga- os soldados morriam beijando o estandarte. Tu não eras
senão vitórias e bondade. Uma tarde, recordas-te?
90.general- fiquei tão doce que me pus a nevar, a nevar sobre os meus
homens, cobrindo-os com o mais suave dos lençóis...
91.rapariga- em suma a morte não parava,
Ligeira andava de um lado para o outro, fazendo uma chaga, vazando
um olho, arrancando um braço, abrindo uma veia, esmagando um
rosto, estrangulando um grito, amordaçando um cântico, até não poder
mais. Por fim, esgotada, morta de fadiga, acabou por adormecer em
cima dos teus ombros.
92.general- pára, pára, ainda não chegou o momento. Mas já estou a
sentir que vai ser
Maravilhoso... Eis o que sou nesta pura aparência, nada. Atrás de mim
não arrasto nenhum contigente, surjo simplesmente.
Atravessei guerras sem morrer, atravessei
Misérias sem morrer, subi patentes sem morrer,
Sem morrer para viver este minuto próximo da
Morte. Quando eu já não for nada, a não ser a
Minha imagem reflectida nestes espelhos até
Ao infinito quero que a minha égua esteja bem
Arreada, daqui a pouco quando as trombetas
Soarem, desceremos os dois para a glória e para a morte.
93.rapariga- o meu general morreu anteontem.
94.general- eu sei... Mas é uma descida solene, insólita, por degraus
inesperados.
95.rapariga- sois um general morto, mas mesmo assim eloquente.
96.general- eloquente porque estou morto meu caro tagarela. Isto que
te digo com tão bela
Voz é o exemplo, sou apenas a imagem daquele que fui... Estás pronta
minha colomba?
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97.rapariga- começou o desfile, atravessamos a
Cidade, ao longo do rio, sinto-me triste, o céu está pesado e o povo
chora o seu belo herói que morreu na guerra...
98.general- colomba.
99.rapariga- sim meu general!
100.general- acrescenta que morri de pé! 101.rapariga- o meu herói morreu de pé. O desfile continua, os oficiais marcham à minha frente, depois passo eu, colomba, oteu cavalo de batalha, a banda militar toca uma marcha fúnebre...
102.quadro iv
A guerra dos tomates
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103.um foco em pino vindo do teto invade a cena. No foco um velho
nu, aguarda impacientemente.
Da direita para a esquerda um tomate voa em
Direção ao velho, ele abaixa-se desviando-se
Do tomate. Da esquerda para a direita um
Tomate voa na direção do velho, ele abaixa-se
Desviando-se do tomate. Da direita e da
Esquerda vários tomates voam na direção do
Velho, ele tenta desviar-se, mas é atingido em
Cheio. A chuva de tomates intensifica-se,
Rasgando na horizontal a cena. Dois focos
Laterais, unindo a esquerda e a direita do
Espaço, cortam a cena. Percebe-se agora, que os tomates são
munições na batalha dos revoltosos com os soldados.
104.do lado direito encontram-se os
Camponeses, agora revoltosos. Estão
Abrigados por uma barricada formada por sacos de areia, têm em seu
poder muitas caixas de tomates. Combatem arduamente.
105.do lado esquerdo encontra-se a polícia de choque. Estão eles
também protegidos por uma barricada formada por sacos de areia.
Possuem também uma grande quantidade de caixas de tomates
roubadas dos camponeses. 106.velho nessa altura da batalha,
Praticamente virou suco de tomate. Seu corpo está coberto dos pés a
cabeça com restos de tomates.
107.entra em cena uma bela rapariga. Trás a
Tiracolo uma velha peruca. Os focos que
Iluminam as cenas dos camponeses e soldados desaparecem por
completo, restando da sua presença apenas o odor de tomate podre.
108.velho ao pegar a peruca fica alegremente excitado.
109.velho- e os piolhos?
110.rapariga- está cheia deles.
111.a rapariga sai de cena deixando-o só. O
Velho está radiante. 05 focos em pino iluminam
05 espelhos ao redor do velho, de maneira que
O velho e a plateia fundem-se num mesmo
Plano. O velho encara a plateia com um sorriso lascivo e débil. Sons de
metralhadoras e de bombas invadem o espaço. Black’out.
112.quadro v
Chantal adere a revolução
21
113.o movimento de revolta chega ao seu ápice. Chantal junta-se a
revolução e vira ícone dos revoltosos.
114.focos de luzes cortando o espaço
Paralelamente ao público iluminam as conversas dos revoltosos.
Enquanto chantal
E roger conversam a frente da cena, três
Revoltosos fazem-se de guarda-costas e são iluminados por 03 focos
pinos que saem do teto.
115.um foco ilumina um canto das margens da
Cena. No foco a rainha de ceroulas e coroa,
Borda. Está sentada sobre escombros. Parece
Impaciente e nervosa. Na outra extremidade do
Espaço, revoltosos estão reunidos em pequenos grupos. Buscam pela
rainha. Estão desejosos de vingança e deveras enraivecidos.
Focos laterais rasgam as margens do espaço
Cênico. Começa uma incansavel perseguição a
Rainha. Ela desesperada foge por todos os
Cantos do palácio real, que agora encontrase em ruínas. Chantal é uma
menina e brinca o
Jogo da macaca, acompanhada da sua boneca
De trapos. Roger é um velho senil e tarado,
Veste apenas um chapéu, um par de meias e
Sapatos, tem dificuldade em andar, por isso
Faz-se acompanhar por uma velha e clássica
Bengala. Carrega sempre consigo pirulitos
Deliciosos. Enquanto conversam chantal não
Pára de jogar a macaca e roger movimenta-se
Por toda a cena, procurando achar o melhor
Angulo de visão para deliciar-se com a cuequinha da chantal.
Resumindo: é um
Pedófilo.
116.chantal- podes guardar-me no teu coração, se quiseres meu amor.
Mas agora deixa-me partir.
117.roger- amo-te com o teu corpo, os teus
Cabelos, o teu pescoço, o teu ventre, as tuas tripas, os teus humores,
os teus odores. Tu és minha chantal.
118.chantal- já sei. Mas és tu quem eu amo e só tu.
119.roger- sim, mas eu não posso ir atrás de ti nessa corrida heróica
e estúpida ao mesmo tempo.
120.chantal- ora, ora. Tens ciúmes de quem ou
De quê? Dizem que pairo gloriosa, acima da
Insurreição, que sou a voz e a alma dela, enquanto tu não consegues
erguer-te da
Terra. É o que te torna tão triste.
121.roger- por favor chantal não sejas
22
Ordinária, não te fui roubar para te transformares num licórnio ou
numa águia de duas cabeças.
122.chantal- não gostas de licórnios?
123.roger- nunca soube fazer amor com eles. Nem contigo aliás.
124.chantal- queres tu dizer que não sei amar? Que desaponto. Mas
eu gosto de ti roger. E tu alugaste-me a troco de cem vivandeiras.
125.roger- perdoa-me chantal, fui obrigado a
Isso. Também eu te amo, amo-te e não to sei dizer e não sei cantar. E
o último recurso é ainda cantar.
126.chantal- tenho de me ir embora antes que se faça dia, caso
contrário nunca mais sairemos deste bordel.
127.roger- só mais um minuto meu amor, minha vida. Ainda é noite.
128.chantal- é a hora em que a noite se desfaz no dia meu pombinho,
deixa-me partir.
129.roger- não conseguirei suportar os minutos que vou passar sem ti.
130.chantal- juro-te que não vamos estar
Separados. Quando falar com eles num tom glacial, murmurarei para
ti palavras de amor.
Podes ouvi-las daqui e eu ouvirei aquelas que tu me disseres.
131.roger- eles podem dominar-te chantal. São fortes, são fortes como
a morte, é o eles são, a morte.
132.chantal- não tenhas receio meu amor,
Conheço o poder deles. Para mim é mais forte o
Poder do teu carinho e da tua ternura. Irei
Falar-lhes com voz severa e dizer-lhes o que o
Povo exige. E eles ouvir-me-ão porque terão medo. Deixa-me partir
133.roger- amo-te chantal.
134.chantal- também te amo roger, por isso não posso perder tempo.
135.roger- amas-me?
136.chantal- amo-te porque és terno e doce, tu
O mais duro, o mais severo dos homens. O teu
Carinho e a tua ternura tornam-te leve como o
Farrapo de tule, subtil como um floco de
Bruma, aéreo como um capricho. Os teus
Músculos espessos, os teus braços, as tuas
Cozas, as tuas mãos são mais irreais que a passagem do dia para a
noite. Envolves-me e estás contido em mim.
137.roger- eu amo-te chantal porque tu és dura
E severa, a mais terna e doce das mulheres. O
Teu carinho e a tua ternura tornam-te severa
Como uma lição, dura como a fome, inflexível
Como um pedaço de gelo. Os teus seios, a tua pele, os teus cabelos
são mais reais que a certeza do meio-dia. Envolves-me e estás contida
em mim.
138.chantal- quando estiver com eles, quando
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Lhes falar, hei de ouvir dentro de mim os teus suspiros e os teus
queixumes, o bater do teu coração. Deixa-me partir.
139.roger- ainda tens tempo, ainda é escuro à volta dos muros.
140.revoltoso- está na hora chantal.
141.chantal- ouves? Estão a chamar- me ! 142.roger- mas porque hás
de ser tu? Nunca conseguirás falar com eles.
143.chantal- conseguirei melhor que ninguém, possuo dons especiais.
144.roger- mas eles são manhosos.
145.chantal- inventarei gestos, as atitudes, as
Frases. Antes deles dizerem qualquer palavra,
Já eu compreenderei tudo, poderás orgulharte da minha vitória.
146.roger- que os outros estejam
Contigo...ponham-se a caminho. E se têm medo irei eu dizer-lhes que
devem submeter-se a nós, porque nos somos a lei.
147.chantal- não lhe dêem ouvidos, está
Embriagado... Eles só sabem combater e tu só
Sabes amar-me. É esse o nosso papel que
Aprendemos a representar. O bordel serviu-me
De escola, foi graças a ele que aprendi a arte de fingir e de representar.
Fui obrigada a tantos papéis que os sei praticamente todos.
Tive tantos parceiros...
148.roger- chantal!
149.chantal- conheci tantos sábios, tantos
Manhosos, tantos falantes que através deles adquiri uma ciência, uma
astúcia, uma eloquência incomparáveis.
150.roger- conhece todos os papéis não é verdade?
151.chantal- isso aprende-se depressa.
152.roger mostra e oferece a chantal um
Delicioso pirulito, ela deixa de jogar a macaca e vai correndo sentar-se
ao seu colo. Chupa seu pirulito delicioso. Roger geme de prazer.
153.revoltoso- chega de paleio. Toca a andar.
154.chantal sai de cena disparada.
155.roger- não vás chantal-
156.chantal- envolvo-te e estás contido em mim meu amor.
157.chantal desaparece.
158.roger- tive tantos parceiros, conheci
Tantos manhosos, tantos sábios... Chantal vai
Precisar de muita coragem para lhes dar a
Resposta. A resposta que eles exigem, chantal
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Vai ter agora parceiros manhosos e sábios, chantal será a resposta que
eles tanto anseiam...
159.roger sai de cena. Os revoltosos encontram a rainha, e como
animais no cio, lincham-na literalmente.
160.quadro vi
161.desfile da conspiração vitória
162.o chefe de polícia almeja abafar a
Revolução. Os revoltosos dominam
Praticamente tudo. Os senhores do poder desfilam pelas ruas da
metrópole, que estão totalmente desertas.
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163.enquanto caminham pelas ruas desertas, planejam sua
conspiração
164.uma música latina melancólica invade a
Cena. Um bispo caracterizado apenas com uma
Mitra invade o espaço ao mesmo tempo que na
Extremidade contrária um rei trajado com um manto, uma coroa e um
penis de arame adentra a cena. Elas confrontam-se. Encaram-se.
Aproximam-se e dançam colados. Dança sobre
Uma cruz suástica estilizada. Dançam sempre
Acompanhado e formando coreografias sobre a cruz. Afastam-se e
saem de cena. Rajadas de metralhadoras rasgam o espaço.
165.chantal é assassinada. A revolução é abafada. O chefe de polícia
torna-se herói dos poderes estabelecidos. Chantal é canonizada.
166.mendigo - viva a rainha
167.rajadas de metralhadoras e bombas
Rasgam o silêncio.
168.quadro vii
Mausoléu
169.ao fundo do espaço um foco ilumina uma grande escadaria de
pedra. O espaço é um grande mausoléu todo de pedra.
170.a população, agora não mais revoltosos, caminha sem rumo nas
escuras ruas da cidade. Parece-se com um grupo de drogados
"robotizados".
171.o chefe de policia está deitado nú sobre
Uma cama. Carmem entra em cena com um balde,
Uma pequena toalha e sabão. Sua função é
Lavá-lo e prepará-lo para a cerimônia. Um escravo nú e ensanguentado
rasteja
Literalmente pela cena.
172.carmem-(dando-lhe um cigarro) oferta da
Casa
173.roger- obrigado... O escravo?
174.carmem- estão a desatá-lo.
175.roger- e ele está corrente do que se passa?
176.carmem- de tudo.
177.roger- quantos escravos trabalham aqui?
178.carmem- o povo inteiro. Metade da população trabalha de noite e
a outra metade durante o dia.
179.roger- é verdade que não veio ninguém aqui antes de mim?
26
180.carmem- sim.
181.roger- ficarei realmente só?
182.carmem- tudo está calafetado, as portas
São acolchoadas e as paredes também. Quanto
À luz, a obscuridade é de tal modo compacta que os seus olhos
conseguirão desenvolver capacidades incomparáveis. O frio é o da
morte.
Os homens continuam a gemer para que o
Senhor tenha um nicho de granito.
183.roger- disseste que os homens gemem?
Posso ouvir seus gemidos?
184.carmem- aproxima-te.
185.roger- é isto?
186.carmem- é belo não acha? É magro, tem
Piolhos e chagas e só sonha em morrer por vós. Quer que o deixe
sozinho?
187.roger- com ele? Não!
188.carmem- obrigue-o a falar.
189.roger- és capaz de falar? E que mais sabes fazer?
190.escravo- sou capaz de me enrolar sobre mim próprio e de me
enterrar.
191.roger- de te enterrares? Mas aqui não há lama.
192.escravo- todo o meu corpo está enterrado
Em lama meu senhor. Livre só tenho a boca aberta para vos elogiar e
para soltar os gemidos que me tornaram célebre.
193.roger- célebre? Mas tu és célebre?
194.escravo- célebre pelos meus cânticos
Senhor. Cânticos que saldam toda a vossa glória.
195.roger- portanto a tua glória acompanha a
Minha glória. Quer dizer que a minha reputação, depende
necessariamente das suas palavras? E se ele se calasse eu deixaria de
existir?
196.carmem- teria todo o prazer em responderlhe, mas as perguntas
não estão incluídas nesta representação.
197.roger- sem mim, sem meu suor, sem as minhas lágrimas, sem o
meu sangue, o que serias de tu?
198.escravo- nada meu senhor.
199.roger- e o que mais fazes tu?
200.escravo- esforço-me por apodrecer de pé. E
Isso não é fácil, acredite. A vida muitas vezes tenta levar a melhor,
mas nós resistimos, e vamos diminuindo um pouco a cada dia.
201.roger- isso pouco importa, quando a minha
Realidade é a realidade das tuas frases. Mas os outros saberão? A noite
conhece-me? E a morte? E as pedras?
202.escravo- o cimento que as mantém ligadas, umas às outras
contemplam vosso túmulo.
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203.roger- tudo fala de mim, tudo me respira e
Me adora. Vivi a minha história para que fosse
Escrita uma página gloriosa, que depois será lida. O importante é a
leitura... Para onde ele foi?
204.carmem- saiu para cantar a vossa glória.
205.roger- e que mais? Que mais poderá dizer?
206.carmem- a verdade: que estais morto e que a vossa imagem,
como o vosso nome se repercute ao o infinito.
207.roger- ele sabe que a minha imagem está em toda a parte?
208.carmem- inscrita, gravada, imposta pelo medo em toda a parte.
209.roger- nas mãos dos estivadores? Nos jogos dos garotos? Nos
dentes dos soldados?
210.carmem- em toda a parte.
211.roger- está também nas prisões?
212.carmem- sim.
213.roger- na curva dos caminhos?
214.carmem- não se deve pedir o impossível! Mas agora o seu tempo
acabou, tem de ir embora!
215.roger- mas ir para onde? Voltar para a vida.
Retomar as minhas ocupações?
216.carmem- não sei o que o senhor faz e não tenho o direito de saber,
mas agora tem de se ir embora, o seu tempo acabou.
217.roger- aqui não se perde tempo, porque é que queres que eu volte
de onde vim?
218.carmem- já não tem nada a fazer aqui. 219.roger- nem aqui nem lá fora 220.carmem- vá-se embora depressa.
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221.roger- não saio.
222.carmem- o senhor está doido, não é o primeiro a julgar que tem o
poder nas mãos. 223.roger- nada a mim já não resta mais
Nada...(castra-se).
224.carmem- não pode fazer isso aqui.
225.roger- minha imagem vai perpetuar-se em
Segredo, mutilada, será rezada uma missa à minha glória. Previnam
as cozinheiras, quero que me preparem comezaina para dois mil anos.
226.rajadas de metralhadoras e bombas invadem a cena.
227.quadro viii
O papa é pop(e)
29
228.o som de aglomeração humana invade a
Cena, seguida pelo som melódico de canções
Religiosas cerimoniais. Entra em cena um papa
Velho, moribundo e totalmente nú, vem sendo
Carregado por um revoltoso. Apesar da
Movinmentação corporal do papa ser
Orquestada pelo esforço corporal do
Revoltoso, ela faz o possível para dissimular
A situação. O revoltoso leva o papa até uma
Cadeira central, prende seus punhos a duas cordas que estão
dependuradas sobre a
Cadeira e senta-o na cadeira. Ele prende
Outras duas estremidades das cordas em seus
Punhos e assim manipulala as movimentações do papa. Mantem-se
em pé atrás do papa.
229.a voz off do presidente da república invade
O espaço. O seu discurso faz as honras da
Casa, bla-bla-bla...o papa ouve dormitando. O revolto faz pequenos
movimentos de maneira a fazer com que o papa pareça interessado.
Termina seu discurso. Som de multidão invade a cenas. Pode-se ouvir
algumas palmas.
230.o revolto puxa as cordas com violência de
Maneiras a fazer com que o papa se levante. O
Papa seguindo as forças da natureza, fica meio
Em pé meio arqueado. O som off da voz do papa
Invade a cena. Ele retribuir o discurso do
Presidente e faz as honras do visitante
Ilustre. O espaço é invadido por palmas e gritos apafados. O som
gregoriano invade a cena. O papa é sentado.
231.a voz off do bispo de leiria corta o espaço,
Ele discursa enobrecendo o dito papa.o papa é
Levantado e vestido cerimonialmente com um
Cetro e uma mitra. É o momento da beatificação
Dos 03 pastorinhos. A voz off do papa invade a
Cena. Ele discursa extensivamente. Termina seu discurso. A multidão
ovaciona em delírio. A voz off do meio de comunicação invade a cena.
Eles comentam sobre determinada instrução que o bispo de leiria teria
dado à irmã lucia quando o papa dissese tal coisa.
232.o papa faz o seu discurso final e é literalmente levado para fora de
cena.
233.enquanto o papa é tirado de cena, uma
Música sacra invade o espaço, ao mesmo tempo
30
Em que a voz off do cardeal solano ministro do vaticano preenche a
saída do papa. Ele discursa sobre o 3º segredo de fátima.
234.quadro ix
Nossa senhora dos desesperados
235.um foco acende-se no centro do espaço. No foco nsª dos
desesperados, está imóvel.
236.entram em cena dois homens que carregam
Pelos braços um velho papa da "quermética"
Igreja católica. Tem em suas mãos rosas
Vermelhas. Os homens levam-no até nsª. Ele é
Ajoelhado pelos homens. Chora compulsivamente, enquanto não tira
seus olhos lacrimejantes da face da santa.
237.outros homens juntam-se aos três e rezam ajoelhados a volta de
nsª.
238.nsra- as luzes que serão precisas, 100
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Contos de eletricidade por dia...trinta e oito
Salões, todos dourados e todos eles aptos a
Encaixarem-se uns nos outros, a combinaremse... E todas estas
representações para que eu
Fique sozinha, dona e sub-dona desta casa e de
Mim própria... Enfim tudo está preparado, os
Pratos já estão confeccionados: a glória está
Em descer para o tumulo com toneladas de comezaina...daqui a pouco
é necessário
Começar tudo outra vez, acender novamente
Tudo , vestir tudo de novo, distribuir os papéis,
Enfiar o meu...preparar o vosso, juizes,
Generais, bispos, camareiros, revoltosos que
Deixam fugir a revolta. Preciso de preparar os
Salões para amanhã, e vocês, precisam de voltar para as vossas casas,
onde tudo, tenham a certeza, será mais falso que aqui... Podem sair
pela direita... O último que sair feche a porta por favor.
239.enquanto diz seu texto nsrª despe-se. O
Mesmo fazem os outros atores. Terminado seu
Texto, irma e os outros atores, estão
Novamente vestidos com suas roupas do dia à
Dia. Acendem-se as contra luzes e os atores retornam à seus lugares
na plateia.
240.sons de rajadas de metralhadoras e bombas silenciam o espaço.
241.the end.
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