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Nuvem - Nascimento, Cesar

Dec 19, 2015

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Nuvem

Cesar Nascimento

Copyright © 2012 by Cesar NascimentoTodos os direitos reservados

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CONTEÚDO O AMOR INDIVISÍVELPEQUENO LAMENTOEX OFFICIOCANTIGANUVEMAUTO-CRÍTICASOBRE O MEDOPROMESSANUDEZLIMIARPOEMA NÁUTICOINSTANTÂNEOSER FELIZBRASÍLIAFAZER POLÍTICAVINHETAA VIDA OUTRA VEZRACHADURASE PERDE A ALMA?O NOME DA ROSAO AMOR COMO DESEJOOITO VERSOS SOBRE O AMOR

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NOVAMENTE MENINOGASTRONOMIAINSÔNIA

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O AMOR INDIVISÍVEL Dizem que o amor faz de dois um.Sim, mas não completamente!Dois são um quando um, ausente,Ressurge no sonho do outro,Que acorda com olhos dormentesE sonha de dia, acordado. Dois são um, sim, e se amam,E, no entanto, é amor incompleto,Pois, amantes, seus corpos reclamamO direito de se ter mais perto,De dormir também um, apertados,Com a boca úmida, quentes, suados.

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PEQUENO LAMENTO Perdoa-me, amor, meu pranto,Que me custa portar-se assim.Perdoa-me e foge de mim.Perdoa-me por tudo, por nada.Perdoa-me pelo que não fiz.Mas perdoa-me, amor, calada,Que já hoje não sou feliz.Sim, meu amor, perdoa-mePor tudo o que ainda te peço.(Eu sei que é caro o perdão.)Perdoa esse amor confesso.Perdoa esse amor em vão.

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EX OFFICIO A bailarina,Com suas meias longasE seus passos finos,Tropeça O palhaço,Cansado de risoE sem sonho, ri,E desconversa

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CANTIGA TemoNão ser alguém,Um dia. Medo bobo,Mamãe diria. Mas as mães sãoFelizesCom os filhosQue têm. Como pode dar erradoMeu neném?

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NUVEM O corpo porosoIncorpora ao vácuoO vapor que calcina.Do poro, o suorAo céu se insinua,Ínfima neblinaQue a pele nuaExpele, expia.

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AUTO-CRÍTICA Dois pesos, duas medidas.Sou ora um, sempre que escrevo;Ora outro sou, quando critico. Severo e cruel eu sou,Num caso;Singelo e fiel, se o casoÉ o outro. Sou poeta medíocreE crítico raso.

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SOBRE O MEDO Tenho a noção exataDo meu medo. Temo o amor pacatoE seu sossego; Temo o acordar tardioPara a sorte; Temo vir algum diaA temer a morte.

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PROMESSA São duasAs coisas que me enfadam.Uma é a falta de idéias,A outra é nada. O homemQue se repete é chato.Se me encontrar de novo,Me mato.

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NUDEZ Transborda de mimUm segredoSe tento calá-loMe calaA nudez é meuÚnico medoEu no banhoE a visita na sala

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LIMIAR O corpo sonhaEstar vivoE está,Um momento,Seguro.Mas o próximoInstante,Ainda imaturo,O defrauda.Rompe-seO filamentoE a lâmpadaSe apaga.

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POEMA NÁUTICO Como querer te comparar ao marSe o mar é parte do que cabe em ti,E se o resumo disso que sentiÉ o só desejo de te navegar? Por ti me ponho a enfrentar o mar,E navegar-te é meu maior prazer.E além de tudo que eu puder dizer,Conservo o sonho e o querer te amar. Mas eis que surge na procela um vão,E o vento, a onda, escuridão sem fimE o mais que habita tua imensidãoTranstornam nauta e nau em não e sim, Como se o vento os quisesse virar,E o navegante não dá mais de siE o rivaliza e joga a vela ao mar,Eis que disposto a naufragar em ti.

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INSTANTÂNEO Três senhoras no sofáE a mesa postaE o jantar A primeira salivaE se inquieta A segunda bocejaSem sono A outraNão tira os olhosDo mordomo

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SER FELIZ Ser feliz não bastaÉ preciso ser bom ou ruimÉ preciso ter sonhos e planosVer correrem os anosSer feliz assim

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BRASÍLIA Um tremorUm temporalUma nuvemPequenaNormalUma calúniaContra o solUm dia de chuvaAfinalQualquer coisaUm contratempoQue dê notíciasDo ventoE quem sabe umaExplosãoComo o estrondoDe um trovão

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FAZER POLÍTICA Fazer política é tarefa comum.Conquista-se um voto,Eleva-se um ponto:Metade mais um. Fazer política não é complicado.É saber costurarQuando a linha faltarAo já mal remendado. Fazer política é fazer-se calado,Esquecer o que ouvirE não mais discutirO que for acordado. Fazer política é fazer a notícia;É ser bem comentado,Para não ser cassadoE encarar a polícia. Fazer política só tem um mistério:O segredo é fugirQuando se houver de rir –O político é sério!

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VINHETA ...E num calor deserto de orvalho,Em que se deve suar bastante,Calafrios de já mais que antesEm mim, sedento de outro cenário. Sofrendo esse incansável instante,Em que penar era apenas pouco,Carpida voz de um desejo roucoBalbuciava: refrigerante!

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A VIDA OUTRA VEZ A velhice é fardo odiosoPara quem rejeita o pouco que viveuMas eu quero ver tudo de novoCada marca que a vida me deuVem, amante, deita-te a meu ladoVem, mulher, e me dá um filho teu

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RACHADURA Há no mundo o espaçoCorreto e exatoPara o salto comedidoQue fende o osso sem gemidoComo um pequeno percalço E no mundo há o espaçoLargo e abstratoPara o risco descabidoSem o que não se há vividoO vôo que ora alço

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SE PERDE A ALMA? A medida do meu sucessoÉ estar sozinhoOnde não sei quem sou,Bebendo o whisky disponívelOu a cerveja que há,Incauto de quando conhecereiAlguém, ou quando alguémSaberá de mim. Não tenho para onde voltar.Nem mesmo lembro de onde vim.

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O NOME DA ROSA A rosa é tão doceQue, não fosse rosa,Ainda rosa seria.O nome de rosa,Em verso ou em prosa,É tudo o queA rosa não tem.A rosa tem somenteAquilo que ela é:Rosa apenasE rosa tambémQuando ainda em seu botãoOu, já quase uma não-rosa,É só pétalas no chão.

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O AMOR COMO DESEJO O amor é o resumo dos desejosDesejo de corpo, seguro,Desejo de idéias,De ter uma alma-gêmea,Do ensejo de serHomem junto a fêmeaDesejo de amar,Por certo,O doce de teu beijo

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OITO VERSOS SOBRE O AMOR Pernas se entrelaçamNum abraçoBraços nus defendemCada avançoMembros se despedemDo cansaçoO corpo é mais firmeDo que o aço

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NOVAMENTE MENINO Num reino que imaginei quando infante,Minha rainha tinha os olhos teus.E naquele reino, agora distante,Eu enfrentava a inveja de Deus. Mas eis-me velho, sabido, cansado,Desenganado e entre os filisteus.Foi-se a rainha e o reino dissipado.Morto o menino, seu sonho morreu. Mas a despeito do passado inglório,Vi que o destino jamais me esqueceu,Pois só com o brilho que sai de teus olhos,Tu me tornaste o maior dos plebeus.

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GASTRONOMIA Como muito.Como como!Como como muito,Como como comemAqueles comedoresQue comem compulsivos. Como… como…Como como, comoComo comeriam quatro! O que como,Como com quem comaO que quer que eu coma. Coma! coma!Coma o que comer.Mas coma até cair em coma,Coma até morrer!

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INSÔNIA Insone, em sonho, já não sei quem sou.Se a insônia some, sonho então que estouNa espera insana de surgir o diaEm que se afaste essa eterna vigília. Insone, sinto que me escapa o sono,Que, como a sombra de um furtivo ser,Se esquiva sob um semelhante assomo:Seja um suspiro, seja um só ranger! Insone, é certo que, se Deus quiser,Será um dia esse suplício findo,E só a esperança desse dia lindoMe surta o sono e me deixa de pé! Insone, em suma, já não sonho maisEsses sonhos que se fazem sozinhos,E espero a noite, que não vem jamais,Em que acabe de contar carneirinhos!

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Sobre o autor: Cesar Nascimento nasceu no Rio de Janeiro eviveu em vários países, como diplomata decarreira. Sua paixão pela literatura vemdesde a infância e sua mãe diz que veio dela.Quem saberá a verdade? Publicou seuprimeiro volume de poemas, The RemainingDifficulty, em 2012. Internet:http://cesarnascimento.com/en/ Facebook:https://www.facebook.com/CesarNascimento.author Contato:[email protected] Mais livros do autor (originais em inglês): The Remaining DifficultyISBN: 1479175285 Lessness and More

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ISBN: 1479369675 Capa e foto de capa: Cesar Nascimento