Página 1 de 26 Área de Competências-Chave Cultura, Língua e Comunicação RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário Núcleo Gerador 2 – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE DR4 – Tema: Clima
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Núcleo Gerador 2 AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE DR4 Tema: Climacqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG2 AS - DR4... · gases e, consequentemente, o efeito de estufa, contribuindo
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Área de Competências-Chave
Cultura, Língua e Comunicação
RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário
Núcleo Gerador 2 – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
DR4 – Tema: Clima
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Tema 4: Clima
COMPETÊNCIA: Agir de acordo com a compreensão dos diversos impactos das alterações climáticas nas actividades humanas.
O país das renas (...) Saí dali com um bilhete e, no dia seguinte, já instalado no avião que me levaria a Kiruna, lembrei-me
dos dias felizes vividos na Lapónia em meados dos anos oitenta. Estivera lá durante o mês de julho, em dias
intermináveis e de visita a uma estranha mulher chilena que se tornou lapónia por amor.
Chamava-se - e espero que continue a chamar-se - Sonia Hidalgo, uma antropóloga que chegou à Lapónia
em 1979, quando o governo norueguês anunciou a construção de uma central hidroelétrica em Altaev.
Para isso tinham de desflorestar
uma enorme região de que os lapões
sempre usufruíram, o que deu origem a
um forte protesto, não apenas dos
lapões da Noruega, Suécia e Finlândia,
mas também de numerosas organiza-
ções ecologistas. (...)
Os lapões perderam aquela batalha,
a central foi construída, e a recordação
de uma absurda lei sueca promulgada
em 1971 tornou mais amarga essa der-
rota: determinava ela que a cultura, o
idioma, o artesanato, a tradição, a ligação histórica ou o lugar de nascimento não eram determinantes para se
ser ou não lapão. (...)
Paisagem da Lapónia - Imagem disponível em: http://www.equalityturismo.com.br/pacotes-viagem-internacionais/laponia-encantada-e-
paris
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Kiruna é uma bela cidade que, do ar e no inverno, se avista como uma delicada mancha vermelhada sobre
um panorama uniformizado pela penumbra criada pela neve e pela obscuridade. No verão, em compensação,
aparece como uma alegre mansão rodeada por uma paisagem intensamente verde, com centenas de lagos e rios
que a circundam.
Está um frio de rachar. Vinte e oito graus abaixo de zero, mas a roupa térmica alugada em Estocolmo dá
segurança e, assim, deito pés ao caminho em busca de duas recordações.
A cidade é sede de numerosas instituições científicas que investigam sobre a vida em condições tão
extremas e sobre a assombrosa fragilidade desta enorme região. O comércio oferece todas as novidades da
moda e as tecnologias aos esforçados trabalhadores das minas de ferro que, a setecentos metros de
profundidade, escavam as entranhas desta terra gelada. Por fim, perto da estação de comboios, chego a uma
das minhas recordações.
É um monumento semioculto pela neve, que
mostra quatro homens carregando um pedaço de
carril. Trata-se de uma homenagem aos legendários
protagonistas de uma proeza sobre-humana; entre
1882 e 1900 construíram a linha férrea que, saindo de
Lulea, passando por Malmberget e Kiruna, atravessa
depois quinhentos quilómetros de montes, glaciares,
pântanos e bosques, até chegar ao porto de Narvik, na
Noruega, onde o ferro era e é embarcado para o resto
do mundo.
Quatro mil lapões, homens e mulheres,
conseguiram tal façanha. Trabalharam com
temperaturas de cinquenta graus abaixo de zero,
suportaram doenças, ataques de ursos, de lobos, e
sofreram acidentes que mataram mais de metade. Os seus corpos, enterrados primeiro junto das linhas, foram
anos mais tarde reunidos no cemitério ferroviário de Torneham, na fronteira sueco-norueguesa. Diante deste
monumento, saúdo como Romain Gary: Glória aos ilustres pioneiros! (...)
De Kiruna e de qualquer outro lugar da Lapónia, todos os caminhos levam a Jokkmokk. (...) Jokkmokk é a
duzentos e vinte quilómetros a sul de Kiruna, e viajar até lá no Verão é particularmente belo, porque a estrada
atravessa soberbos bosques de bétulas, lagos e a estupenda cidade de Gallivare, onde fazem um incomparável
gelado de leite, mel e açafrão, e ainda porque se dá a volta ao parque nacional de Muddus; mas no Inverno as
baixas temperaturas nada mais oferecem - e nada menos - que uma paisagem branca de neve e árvores
cristalizadas. (...)
Em Jokkmokk vivem três mil e duzentas pessoas, na sua maioria lapões. Moram em casas de madeira
unifamiliares com o Volvo ou o Saab diante da porta. Só usam as suas coloridas roupagens tradicionais para as
festas e abundam os bonés de basebol. O museu de Jokkmokk permite lançar um olhar à fascinante cultura
lapónia, ligada à criação de renas desde o ano de 1600. (...)
Saímos do museu e é chocante saber e aceitar que muitos jovens lapões cada vez mais - vão para o sul em
busca de oportunidades que eles consideram melhores, e a maioria nunca mais regressa. (...)
No dia seguinte àquele em que chegámos a Kvikkjokk, a temperatura desce a 34 graus abaixo de zero. (…)
Luís Sepúlveda, As Rosas de Atacama (adaptado)
“As alterações climáticas são já uma realidade: as temperaturas estão a aumentar, os padrões da
precipitação estão a mudar, os glaciares e a neve estão a derreter e o nível médio das águas do mar está a
subir. É de esperar que estas alterações prossigam e que se tornem mais frequentes e intensos os
fenómenos climáticos extremos que acarretam perigos como inundações e secas. Na Europa, os impactos e
as vulnerabilidades no que respeita à natureza, à economia e à nossa saúde diferem entre regiões,
geração com as seguintes. Em todo o caso as abordagens de ataque ao problema concorrem com outros
objetivos identificados como necessários à
sustentabilidade, desde a conservação da
biodiversidade à segurança do abastecimento ener-
gético, da redução da poluição ao desenvolvimento
humano justo. Melhoria de comportamentos, de
regulamentos e de tecnologia formam um triângulo
virtuoso que permite ter esperança no sucesso.
Estamos realmente nas fronteiras da Ciência
quando para fundamentar e tornar operacional no
concreto a mitigação das alterações climáticas
necessitamos perspetivar o que irá suceder - através
da prospetiva quantitativa, que recorre à complexa
modelação de milhares de aspetos do futuro, do
Clima à Sociedade e à Tecnologia. [...]
Ricardo Aguiar - Na fronteira da Ciência, Ciência Viva, 18 de Junho de 2008 In www.cienciaviva.pt/divulgacao/fronteira/aguiar.asp. Junho 2010 [adaptado)
Impactos e vulnerabilidades das alterações climáticas
Na Europa, os maiores aumentos da temperatura verificam-se no sul do continente e na região do Ártico.
As quedas mais acentuadas da precipitação são registadas no sul, enquanto no norte e noroeste se registam
aumentos. Os aumentos previstos da intensidade e frequência das vagas de calor e das inundações, assim
como as alterações da distribuição de algumas doenças infetocontagiosas e dos pólenes têm efeitos adversos
para a saúde humana.
As alterações climáticas constituem uma pressão suplementar para os ecossistemas, levando várias
plantas e espécies animais a deslocarem-se para norte e para terrenos de maior altitude. Esta situação afeta
negativamente a agricultura, a silvicultura, a produção de energia, o turismo e as infraestruturas em geral.
Entre as regiões europeias particularmente vulneráveis às alterações climáticas contam-se:
o sul da Europa e a bacia do Mediterrâneo,
onde Portugal se integra (devido ao aumento das
vagas de calor e da seca);
as zonas de montanha (devido ao aumento
do degelo);
as zonas costeiras, deltas e planícies aluviais
(devido à subida do nível médio das águas do mar e
ao aumento das chuvas intensas, inundações e
tempestades);
o extremo norte da Europa e o Ártico (devido
ao aumento das temperaturas e ao degelo).
In Alterações Climáticas, Agência Europeia do Ambiente. Disponível na Internet: http://www.eea.europa.eu/pt/themes/climate/
Estratégia nacional de adaptação às alterações climáticas
As alterações climáticas têm vindo a ser identificadas como das maiores ameaças ambientais, sociais e
económicas que o planeta e a humanidade enfrentam na atualidade. As alterações verificadas nos padrões
climáticos são já bastante marcadas, tendo a maioria dessas alterações ocorrido durante a segunda metade
do último século. Segundo o IPCC AR4 (4.º Relatório de avaliação) é altamente provável que o aumento
observado da temperatura média global, desde meados do século XX, seja na sua maior parte uma con-
sequência do aumento da concentração dos gases com efeito de estufa de origem antropogénica. À escala
global, o aquecimento antropogénico dos últimos 30 anos teve provavelmente uma influência discernível nas
alterações observadas em muitos sistemas físicos e biológicos.
In Programa Nacional para as Alterações Climáticas, disponível em: http://sniamb.apambiente.pt/infos/geoportaldocs/Consulta_Publica/DOCS_QEPIC/150515_PNAC_Consulta_Publica.pdf
Confrontar as alterações climáticas é, portanto, um duplo desafio: atacar a origem do problema, isto é, as
emissões de gases com efeito de estufa; e preparar as sociedades em todo o mundo para lidar com os
impactes biofísicos e socioeconómicos das alterações do clima. (...)
A estratégia nacional de adaptação às alterações climáticas encontra-se estruturada sob quatro objetivos,
que pretendem também traduzir a metodologia geral de organização dos trabalhos.
O primeiro objetivo - Informação e Conhecimento - constitui a base de todo o exercício de adaptação às
alterações climáticas e foca-se sobre a necessidade de consolidar e desenvolver uma base científica e técnica
sólida.
O segundo objetivo - Reduzir a Vulnerabilidade e Aumentar a Capacidade de Resposta - constitui o fulcro
desta estratégia, e corresponde ao trabalho de identificação, definição de prioridades e implementação das
principais medidas de adaptação.
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O terceiro objetivo - Participar, Sensibilizar e Divulgar - identifica o imperativo de levar a todos os
agentes sociais o conhecimento sobre alterações climáticas e a transmitir a necessidade de ação e,
sobretudo, suscitar a maior participação possível por
parte desses agentes na definição e implementação
desta estratégia.
O quarto objetivo - Cooperar a Nível lnternacional-
aborda as responsabilidades de Portugal em matéria de
cooperação internacional na área da adaptação às
alterações climáticas, bem como no acompanhamento
das negociações levadas a cabo nos diversos fóruns
internacionais.
Uma abordagem por domínios e setores
estratégicos permite identificar medidas de adaptação
setoriais de forma mais consistente. No entanto, não
devem descurar-se as inter-relações funcionais entre
alguns dos domínios e setores identificados, pelo que se deve tentar maximizar as possíveis sinergias e evitar
a criação de efeitos perversos entre as medidas de adaptação identificadas para cada domínio ou setor:
Ordenamento do Território e Cidades; Recursos Hídricos; Segurança de Pessoas e Bens; Saúde Humana;
Energia e Indústria; Biodiversidade; Agricultura, Florestas e Pescas; Turismo; Zonas Costeiras.
Proposta de Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, Comissão para as Alterações Climáticas (adaptado ]
In www.portugal.gov.pt/pt/Documentos/Governo/ MAOTDR/ Adaptacao_Alteracoes_Climaticas_Portugal.pdf, Junho 2010
Em resumo:
As atividades humanas estão a provocar alterações na atmosfera a um ritmo sem precedentes, como
consequência do aumento da poluição: as emissões de gases perturbadores do efeito de estufa (gás
carbónico, metano, óxido de azoto) continuam a aumentar, contribuindo para a alteração do equilíbrio
térmico do planeta, cuja principal consequência será o aumento médio da temperatura do planeta entre
1,4°C e 5,8 °C até ao ano 2100.
O ritmo de concentração de gases de efeito de estufa é superior à capacidade humana para impor
restrições às suas atividades. Como resultado dessas concentrações, destacam-se:
- o aumento do nível médio das águas do mar, em resultado da expansão térmica dos oceanos e da fusão
dos glaciares e das calotas de gelo polares;
- a desertificação de vastas áreas, sobretudo em
regiões intertropicais, ampliada pela agricultura
intensiva, desflorestação, queimadas, etc.;
- as alterações do ciclo hidrológico, com profundas
consequências nos ecossistemas naturais e na
agricultura, devido às mudanças na distribuição e
frequência das precipitações a nível mundial;
- a diminuição drástica da calota polar ártica.
Para estabilizar imediatamente a concentração
destes gases aos níveis atuais, o que não impedirá uma
alteração do clima da Terra, seria necessário reduzir
sem demora as emissões mundiais em 50 a 70%,o que
Consequências das alterações climáticas Disponível na Internet:
E se nos preocupássemos com a proveniência dos produtos que consumimos e com as condições de
trabalho das pessoas que os confecionam?
E se a produção estivesse ajustada às necessidades de todas as pessoas?
“Temos nas mãos o terrível poder de recusar”. E com essa liberdade uma enorme responsabilidade.
A força que temos enquanto cidadãos e consumidores é gigante. E entre nós e ela somente a nossa
decisão, que, apesar de ser individual, deve ser pensada globalmente.
É urgente a opção por modelos de consumo e gestão informados e responsáveis.
O trabalho digno e produtivo no setor público e privado é factos chave para a redução da pobreza e
fomenta uma globalização mais justa.
É preciso que cada país use consistente e coerentemente modelos de consumo e de produção sustentável
para criar oportunidades de trabalho de qualidade para todas as pessoas, promover políticas de proteção
social, fomentar a inclusão e fazer cumprir os princípios e direitos fundamentais, com benefícios para as
gerações atuais e futuras — só assim a paz e a felicidade serão possíveis. Na construção de um mundo justo e
livre, o investimento tem de ser nas pessoas. Em todas as pessoas!
Aprendermos a pensar e agir em conformidade é o caminho mais direto para um mundo melhor.
CLÁUDIA SEMEDO*, in jornal Público de 15/11/2015 - *Embaixadora do Ano Europeu para o Desenvolvimento
Quem é quem: um guia dos interesses nas negociações climáticas
Como os países se posicionam na busca de um acordo para travar o aquecimento global.
Com 196 países na mesma sala, chegar a um acordo nas negociações climáticas das Nações Unidas é uma dor
de cabeça, ainda mais porque as decisões têm de ser aprovadas por consenso. Eis alguns dos principais
protagonistas e o que levam na bagagem para Paris.
Estados Unidos
Obama tornou-se num líder climático, invertendo a imagem dos EUA como
força de bloqueio. Em Copenhaga, promoveu a solução agora em vigor, em
que são os países a dizer o que vão fazer, e não a ONU a impor metas. Em
2014, deu as mãos à China. E tem compromisssos concretos de redução do
CO2. Obama quer um acordo em Paris que prescinda da sua ratificação
pelo hostil Congresso, que nunca o faria.
Contribuição: reduzir as emissões em 26-28% até 2025, em relação aos
níveis de 2005
China
A China sempre se escudou no grupo dos países em desenvolvimento para
evitar compromissos, enquanto crescia em ritmo galopante. Agora rendeu-
se à evidência de que tem a segunda maior economia do mundo, é o
principal emissor global de CO2 e precisa de acabar com a poluição. De
mãos dadas com Obama no clima, o Presidente Xi Jinping faz de Paris um
palco para a China na diplomacia ambiental.
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Contribuição: reduzir as emissões por unidade de PIB em 60-65% em relação a 2005, até 2030. Atingir o pico
de emissões nessa data, ou antes, e depois comear a baixá-las.
França
A grande missão de François Hollande é evitar que Paris repita o fracasso de
Copenhaga em 2009. Mas o Governo preparou tudo ao milímetro,
mobilizando a sua potente máquina diplomática em todo o mundo, e é
grande a possibilidade de um acordo.
Contribuição: incluída na da UE
Polónia
A Polónia vai a Paris com um governo recém-eleito que quer rever a política
climática europeia. O país depende do carvão para 90% da sua electricidade.
Pode ser uma pedra no sapato da unidade europeia nas negociações.
Contribuição: incluída na da UE
Portugal António Costa vai estar em Paris na abertura da cimeira. Mas como a UE
responde como um bloco, Portugal não terá grande protagonismo. A
delegação portuguesa integra técnicos experientes em cimeiras do clima,
empresários e organizações não-governamentais.
Contribuição: incluída na da EU
Índia
Com um sexto da população do mundo, mas apenas 6% do consumo
energético global, a Índia conta com o carvão para o seu futuro – tal como o
fez a China. Em 2040, metade da energia primária consumida no país virá
deste que é o mais poluente dos combustíveis fósseis. É natural que se
coloque muito mais na defesa em Paris, do que outros dos seus parceiros
entre as economias emergentes.
Contribuição: reduzir as emissões por unidade de PIB em 33% a 35% até
2030, em relação a 2005
Brasil Das grandes economias emergentes, o Brasil foi quem apresentou a
contribuição mais ambiciosa para a luta climática. Promete reduzir as suas
emissões em termos absolutos no curto prazo, e não em relação à trajectória
normal ou ao PIB, como México, África do Sul, Índia ou China. Em 2009, Lula
da Silva prometeu até ajudar os países mais pobres. Agora, Dilma Rousseff
tem um problema: o país está em recessão.
Contribuição: reduzir as emissões em 37% até 2025, em relação a 2005, e 43%
em 2030.
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Rússia
Puttin chega com um espinho na garganta: as limitações à venda do seu “ar
quente” – créditos pela enorme redução de emissões nos países do Leste
europeu nos anos 1990, dados como moeda de troca para que aceitassem o
Protocolo de Quioto. Há três anos, foram porém impostas restrições à sua
venda. E a UE, seu potencial comprador, já disse que não os quer. A questão
pode de alguma forma reemergir em Paris.
Contribuição: redução das emissões em 25% a 30% em relação a 1990, até
2030.
Arábia Saudita
Sempre levantou obstáculos, em favor da sua indústria petrolífera. Mas o seu
consumo de energia disparou e, com ele, a demada interna de petróleo, em
detrimento das exportações. O país começa a sentir a necessidade de mais
renováveis ou combustíveis limpos. Isto poderá eventualmente moderar o
seu posicionamento, mas não deverá provocar alterações radicais.
Contribuição: alcançar até 2030 uma redução anual 130 milhões de toneladas
de CO2, mas desde que se garanta o crescimento do país, com exportações de
petróleo.
Venezuela
Tem tido uma presença vociferante e ideológica nas cimeiras climáticas,
juntamente com os outros países da Alba – a Aliança Boilvariana para os Povos
da Nossa América, criada por Hugo Chavez e Fidel Castro em 2004. Mas
Nicolas Maduro não possui o magnetismo do seu antecessor e enfrenta uma
profunda crise interna, política e económica. Vai a Paris enfraquecido.
Contribuição: até 27 de Novembro ainda não tinha apresentado
Maldivas
Estão na presidência do grupo AOSIS, a aliança dos pequenos estados
insulares, que defende uma limite de 1,5ºC do aumento máximo da
temperatura global até ao final do século. Com 2ºC, a meta acordada
internacionalmente, muitas ilhas hoje habitadas podem desaparecer sob o
mar, incluindo várias das 1190 que compõem as Maldivas.
Contribuição: reduzir em 10% o aumeno das emissões até 2030, ou 24%, se
houver ajuda financeira internacional
Butão
O pequeno Butão chega a Paris com a fama de exemplar: já é neutro em
carbono. As suas emissões brutas de CO2 são baixas, equivalentes às de uma
fábrica de cimento. Mas as suas florestas absorvem tudo. O saldo final até é
negativo. O país quer manter tudo como está.
Contribuição: manter-se neutro em carbono
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União Europeia
Ensombrada pela dupla EUA-China, a UE advoga agora o papel de lider “pelo
exemplo”. Mas a sua ambiciosa política climática nunca foi suficiente para
convencer o mundo a seguir o mesmo caminho. A UE quer em Paris um acordo
vinculativo, com reforço progressivo da sua ambição. Vai aplicar aí a sua
influência e as boas pontes que tem com os países mais pobres. Mas tem as
suas próprias divergências internas.
Contribuição: redução das emissões em pelo menos 40% até 2030, em relação a
1990.
Gracia, Ricardo. Publicado no Jornal Público em 29 de novembro de 2015
De cimeira em cimeira até Paris
O sinuoso percurso das negociações até ao acordo que se espera agora 1992
Rio de Janeiro, Brasil A histórica Cimeira da Terra aprovou a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Tudo o que tem sido discutido desde então está subordinado a este tratado. O seu objetivo é estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera a um nível que impeça uma interferência humana perigosa sobre o clima. Nela ficou também estabelecido o princípio das “responsabilidades comuns mas diferenciadas”. Assim, todos os países devem agir, mas conforme as suas circunstâncias. 1997 COP3, Quioto, Japão À 3.ª conferência das partes (COP) da convenção, surgiu o Protocolo de Quioto. Al Gore assinou-o pelos EUA. Os países industrializados prometeram reduzir em 5% as suas emissões de CO2 até 2012, face a 1990. Mas foi preciso introduzir “mecanismos de flexibilidade” para os convencer, como o comércio de emissões. Para as nações em desenvolvimento, não havia metas. 2000/2001 COP6, Haia, Holanda/COP6-bis, Bona, Alemanha Em Haia deveriam ser concluídos os pormenores para aplicação de Quioto, para que fosse ratificado e posto em prática. Mas não houve acordo, a COP teve de ser suspensa e foi retomada seis meses depois, em Bona. Pouco antes, os Estados Unidos, sob a presidência de George W. Bush, abandonaram o protocolo, por comprometer a sua economia e só vincular os países desenvolvidos. Com isso, anos antes de entrar em vigor, o tratado já estava ferido de morte. Ainda assim, chegou-se a acordo em Bona, à custa de concessões ao Japão, Canadá, Austrália e Rússia. Quioto, sem os EUA, tinha pernas para andar. 2005 COP11, Montréal, Canadá A Rússia resistiu durante anos a ratificar Quioto e só em 2005 é que o protocolo finalmente entrou em vigor. Na COP11, lançou-se logo a discussão sobre o que se deveria fazer depois de 2012. A ideia era fixar um novo período, com novas metas. Mas, com os EUA fora do barco, a discussão já estava inquinada e outros países começavam a torcer o nariz a Quioto. 2007 COP13, Bali, Indonésia Em Bali, as negociações climáticas transformaram-se numa serpente com duas cabeças. De um lado, continuou-se a discutir o futuro do Protocolo de Quioto. Do outro, lançou-se um diálogo paralelo para uma
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cooperação global de longo prazo, entre todos os países — incluindo os EUA —, sob a égide apenas da convenção de 1992. Em dois anos, ambos os caminhos deveriam chegar a conclusões. Portugal, na presidência da UE nessa altura, teve um papel central nas negociações em Bali. 2009 COP15, Copenhaga, Dinamarca Esperava-se da COP15 um acordo que salvasse o mundo. Foi um desastre. As negociações não estavam maduras, a Dinamarca perdeu as rédeas da conferência e a presença de 119 líderes mundiais atrapalhou mais do que ajudou. No final, os Estados Unidos, China, Índia, Brasil e África do Sul reuniram-se numa sala e de lá saíram com o Acordo de Copenhaga, um texto à margem do processo negocial, que o plenário da conferência não aprovou. Nele, porém, estava o germe do que está agora na mesa em Paris: que cada país dissesse, nos meses seguintes, o que poderia fazer na luta climática. Quase todos aceitaram o desafio. Do fracasso nasceu uma hipótese de solução. 2010 COP16, Cancun, México Na ressaca de Copenhaga, a COP16 adoptou decisões importantes. Determinou que tudo deverá ser feito para que o termómetro global não suba mais do que 2oC até ao fim do século. E fixou que até 2020 os países
desenvolvidos financiarão os mais pobres com 100 mil milhões de dólares anuais. Parte desse dinheiro será canalizada pelo Fundo Climático Verde, também criado em Cancun. 2011 COP17, Durban, África do
Sul O Protocolo de Quioto foi estendido até 2020, mas completamente esvaziado. Do mundo desenvolvido, só lá ficaram a União Europeia, Noruega, Austrália e Suíça — apenas 11% das emissões globais de CO2. Com Quioto encostado a um canto, Durban deu mais gás à outra linha de negociação, que começava a gerar consenso. Definiu-se 2015 como o prazo para adopção de um novo acordo internacional, com compromissos de todos os países, para vigorar a partir de 2020. 2015 COP21, Paris, França O longo percurso chega agora a Paris. Um acordo provavelmente será aprovado, agregando as “contribuições” de cada país, mas por ora insuficientes para a meta dos 2oC.
João Manuel Rocha, publicado no Jornal Público 29/11/2015
Papa divulga encíclica histórica sobre ambiente e alterações climáticas
Francisco diz que "o clima é um bem comum" e que a humanidade tem de mudar o seu estilo de vida.
Clima, biodiversidade, água, poluição do ar, energia, resíduos, tecnologia. Praticamente todos os aspectos
da crise ambiental mundial estão abordados numa encíclica do Papa Francisco inteiramente dedicada à
protecção do planeta, divulgada esta quinta-feira pelo Vaticano.