8/18/2019 Nora Roberts - Jogos de Espelhos http://slidepdf.com/reader/full/nora-roberts-jogos-de-espelhos 1/150 JOGO DE ESPELHOS DUAL IMAGE Nora Roberts Na pele desta mulher, o passado, o desejo, a paixão e o medo… Para Doulas, o amor se resumia em !asos passaeiros" Douglas De Witt sabe que precisa evitar o desejo que o invade. Precisa a todo custo esquecer aquele corpo de mulher que o fascina, dominando-lhe os pensamentos, deixando-o delirante, louco, sedento de amor. Mas Ariel insiste. nsiste em mostrar-lhe que o segredo da vida n!o se resume em noites maldorminadas, passadas " procura de novos personagens, n!o se resume em um passo infeli# e repleto de contradi$%es. A vida est& ali com ela' no doce abandono de corpos, no doce abandono dos sentidos, nos doces murm(rios de amor) Digitalização: PalasAtenéia Revisão: EdithSuli PROJE#O R E$%S&R Estelivrofazpartedeum projetosem finslucrativos. Suadistribuiçãoélivreesuacomercializaçãoestritamente proibida.
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Na pele desta mulher, o passado, o desejo, a paixão e o medo…
Para Doulas, o amor se resumia em !asos passaeiros"Douglas De Witt sabe que precisa evitar o desejo que o invade. Precisa a todo
custo esquecer aquele corpo de mulher que o fascina, dominando-lhe ospensamentos, deixando-o delirante, louco, sedento de amor.
Mas Ariel insiste. nsiste em mostrar-lhe que o segredo da vida n!o se resumeem noites maldorminadas, passadas " procura de novos personagens, n!o seresume em um passo infeli# e repleto de contradi$%es. A vida est& ali com ela'
no doce abandono de corpos, no doce abandono dos sentidos, nos docesmurm(rios de amor)
Digitalização: Palas Atenéia
Revisão: Edith Suli
PROJE#O R E$%S&R
Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos.
Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.
/ 1ocê chegou muito cedo, Amanda. / 5avia um indício de ironia na vo da
garota.
/ Amanda, eu3 / Cameron afastou(se levemente da cunhada.
Com o olhar fi*o no casal deitado, Amanda vasculhou a gaveta da c6moda e de
lá retirou um pe!ueno revólver. Os amantes fitaram a arma, at6nitos e mudos.
7riamente, ela apontou e atirou. 4or+m, o !ue saiu do cano da arma foi uma
!uantidade imensa de confetes0
/ Ariel0
A dra. Amanda Lane 8amison, mais conhecida como Ariel 9ir2:ood, virou(se
para o seu fatigado diretor de cena, en!uanto o casal na cama e os integrantes da
e!uipe t+cnica da televis%o caíam na gargalhada.
/ esculpe, "eal, n%o dava para faer melhor0 Amanda + sempre a vítima /
disse ela, dramaticamente, revirando os olhos. / &la bem !ue podia perder a cabe$a
uma ve na vida.
/ Olhe, Ariel... / "eal tentou interrompê(la.
/ Ou at+ mesmo castigar esse marido idiota / Ariel continuou, apontando
para a cama.
-ob os aplausos do grupo, Ariel fe uma reverência e, !uando o diretor lhe
estendeu a m%o, apontou a arma para ele.
/ 1ocê + completamente louca. -empre foi assim, desde !ue a conhe$o /
disse ele, com um longo suspiro.
/ 1ocê acha mesmo, "eal; / Agora a grava$%o vai ser para valer / ele avisou, com friea. / #uero
gravar esta cena antes do almo$o0
Como n%o dava para contrariá(lo, Ariel desceu para o primeiro andar do
est<dio. &sperou com paciência, en!uanto os seus belos cabelos e a ma!uilagem eram
retocados. Amanda sempre faia !uest%o de ser a perfei$%o em pessoa organiada,
meticulosa, calma / todas as coisas !ue Ariel n%o era. &la já representava esse papelhá mais de cinco anos, na bem(sucedida novela vespertina ="ossas 1idas, "ossos
"a!uele capítulo da novela, Amanda já havia se transformado em uma
psi!uiatra bastante conceituada e seu casamento com Cameron 8amison mais parecia
um sonho. 4or+m, ele n%o passava de um grande oportunista, !ue tinha se unido a ela
? procura de dinheiro e de proje$%o social. A grande preocupa$%o dele era con!uistar
a metade da popula$%o feminina da imaginária cidade de Trader’s Bend .
Amanda esteve bem perto de descobrir toda a verdade. @as a estória foi
esticada por algumas semanas. Agora, tanto o autor !uanto a e!uipe achavam !ue já
estava na hora de Amanda saber tudo sobre o marido.
Ariel gostava de Amanda, respeitava(lhe a integridade e o e!uilíbrio. &mbora
preferisse um dia no par!ue de diverses a uma tarde no bal+, Ariel compreendia
todas as rea$es do temperamento da mulher !ue representava. #uando se encontrava
diante das cBmeras, ela era Amanda.
#uando esta cena do adult+rio fosse apresentada, os espectadores veriam uma
mulher elegante e esbelta, com cabelos loiros presos num co!ue sofisticado, um tipo
raro de belea indiferente e superior, com sinais evidentes de uma se*ualidade
reprimida3
Os olhos de Amanda, com uma tonalidade !ue lembrava água(marinha, e a
perfeita curvatura do rosto refor$avam(lhe a aparência elegante. A boca parecia
talhada para sorrisos breves e significativos.
evido a alguns incidentes, a cena foi rodada diversas vees, do come$o ao
fim. &m um deles, descobriram !ue o bi!uíni usado por -tella 4o:ell, a atri !ue
estava representando 1i22i, tinha aparecido em outra. #uando, por fim, a cBmera seapro*imava dando um close do rosto pálido e assustado de Amanda, algu+m gritou
/ Almo$o, pessoal0
A rea$%o havia sido imediata os amantes saltaram da cama. O ator 8. ). ro:n,
marido de Ariel na estória, pegou(a pelos ombros e lhe deu um longo beijo.
/ Olhe, do$ura / ele falou, como se ainda fosse Cameron /, eu e*plico tudo
mais tarde. Agora preciso falar com o meu agente. / Cretino0 / Ariel respondeu, de uma maneira !ue desagradaria Amanda. &m
seguida, pegando no bra$o de -tella 4o:ell, brincou / 4onha alguma coisa sobre
essa roupa, sen%o vai pegar um resfriado.
/ "em fale nisso, acabei de sair de um0 / -tella falou, jogando a cabeleira
castanha para trás.
/ #ue tal a gente almo$ar, agora;
/ Dtima id+ia.
/ -ó !ue n%o !uero comer a!ui no refeitório.
/ &nt%o você paga, doutora3 / -tella adorava chamar a colega de doutora.
/ -empre vivendo ? custa da irm%3 )udo bem, eu pago. @as ande logo.
&stou morrendo de fome0
"o caminho para o camarim, Ariel imaginou(se em outros dois cenários
diferentes no E.F andar do hospital e na sala de estar dos Lane, a importante família
de Amanda, em Trader”s Bend . -eria ótimo se pudesse, agora, trocar de roupa e
soltar os cabelosG mas isso significaria perda de tempo com guarda(roupa e
ma!uilagem, depois do almo$o.
&m ve disso, pegou a bolsa, enorme e deformada, !ue n%o combinava em
nada com a elegante roupa de e*ecutiva de Amanda.
/ 1amos, -tella. / Ariel enfiou a cabe$a no camarim viinho, onde -tella
acabava de vestir suas confortáveis cal$as jeans. / @eu est6mago está roncando.
/ & isso + novidade; / a colega retrucou. / Onde vamos almo$ar;
/ "a lanchonete do Hrego, logo depois da es!uina / Ariel respondeu,
dirigindo(se para a saída. O andar dela, descontraído, nada tinha a ver com a maneira
contida com !ue Amanda se movia. / 5ei, doutora0 &spere por mim0 / a colega pediu, apressando(se para
alcan$á(la.
/ "%o dá mais para esperar, !ueridinha, da!ui a pouco eu desmaio de fome.
/ outora3 acho melhor eu ficar. 1ou !uebrar o meu regime.
/ 4ara !ue e*istem as saladas; / A vo de Ariel soou com um certo sadismo.
&m seguida deu uma paradinha, olhando -tella, de cima a bai*o. / -abe, se vocên%o estivesse sempre usando a!ueles trajes reduidos frente ?s cBmeras, n%o
como + !ue você ainda n%o se envolveu com ningu+m de um modo mais s+rio.
/ K fácil e*plicar. / 4ondo na boca uma garfada de salada, Ariel mastigou(a,
devagar. / Ainda n%o encontrei !uem fiesse minhas pernas tremerem. #uando eu
achar essa pessoa, aí, sim estarei irremediavelmente apai*onada.
/ Hosto da sua objetividade.
/ A vida n%o + t%o difícil assim. A gente + !ue tem a mania de complicar tudo.
/ &la refor$ou a pimenta do churrasco. / 1ocê está apai*onada por Cliff;
-tella franiu as sobrancelhas. A resposta ?!uela pergunta era algo !ue a
dei*ava bastante insegura.
/ "%o sei, pode ser3
/ &nt%o você n%o está / Ariel atalhou, na mesma hora. / Amor + um
sentimento, uma emo$%o muito definida. )em certea de !ue n%o !uer um pouco de
churrasco;
/ -e você nunca esteve apai*onada, como pode saber; / -tella perguntou,
em desafio, sem responder ? pergunta da outra.
/ &u tamb+m nunca estive na )ur!uia, mas posso garantir !ue ela está lá, no
mesmo lugar de sempre0
4referindo mudar de assunto, -tella pegou o caf+.
/ 1ocê + impossível, Ariel, encontra resposta para tudo. @e fale um pouco do
seu novo papel.
/ &le + incrível0 / Ariel largou o garfo e, apoiando os cotovelos na mesa,
cruou as m%os. / K o melhor roteiro !ue eu já li. #uero este papel e vou consegui(
lo / acrescentou, com ar seguro. / ebeca + o personagem !ue esperei durante todaa minha vida. A personalidade dela + incrível a mulher n%o tem cora$%o0 / Ariel
apoiou o !uei*o nas m%os. / &goísta, fria, insegura. & o enredo, ent%o; /
acrescentou, com um longo suspiro, continuando seu devaneio. / K !uase t%o frio,
t%o indiferente, !uanto ela. O autor + ótimo0
/ ouglas e itt / -tella falou. / Ouvi dier !ue ele criou ebeca
baseado na personalidade da sua e*(mulher. / 4ode ser3 &, se a fofoca for verdadeira, ele, de fato, sofreu muito, nas
/ Nsto significa !ue você está bem no papel / Ariel atalhou. / -e entramos
todos os dias nas casas dos espectadores, e n%o levamos para eles nenhuma emo$%o
diferente, ent%o seria melhor !ue procurássemos outro tipo de trabalho. &, por falar
em trabalho, precisamos nos apressar.
/ &u sei3 &i0 1ocê n%o vai comer o resto disso;
indo, Ariel entregou um peda$o de rabanada a -tella, en!uanto elas se
levantavam.
8á passava bastante das nove horas !uando Ariel pagou o tá*i, em frente ao
pr+dio onde morava 4. . @arshell, na avenida @adison. &la n%o havia percebido !ue
já era t%o tarde.
Ariel costumava cumprir todos os seus compromissos com um rigor
profissional inacreditável, mas, !uando o assunto n%o estava ligado ao trabalho,
tempo era um detalhe para ser, simplesmente, aproveitado ou ignorado.
Ariel gratificou bem o motorista, jogou o troco na bolsa, sem conferir, e
enfrentando a fina garoa da rua seguiu at+ o sagu%o do edifício.
epois de dei*ar o nome na portaria, ela foi at+ o elevador, onde apertou o
bot%o !ue a levaria at+ a cobertura. "%o sentia(se nem um pouco nervosa pelo fato de
entrar nos domínios de 4. . @arshell. 4ara Ariel, a!uela n%o passava de outra festa.
-ó esperava !ue servissem champanha, a bebida !ue mais gostava.
A porta foi aberta por um empertigado e impassível homem vestido de escuro
!ue, com discreto sota!ue inglês, perguntou(lhe o nome.
epois de apresentar(se, Ariel entrou e logo serviu(se de uma ta$a dechampanha !ue lhe foi oferecida por um gar$om. &m seguida, vendo a sua
empresária do outro lado da sala, foi encontrá(la.
ouglas e itt viu a entrada de Ariel e, por instantes, lembrou(se de sua e*(
mulher o mesmo tom de pele, a mesma estatura. 4assada essa primeira impress%o,
percebeu !ue observava uma jovem mulher, com cabelos naturalmente ondulados e
<midos. Concluiu !ue o rosto dela era maravilhoso. Al+m disso, o gelo !ue elamantinha no olhar altivo derreteu(se, !uando sorriu. O sorriso era rico em vida e em
/ 1ocê adaptou(se muito bem ao personagem. / &m seguida, ele se dirigiu a
Ariel. / Como vai senhorita 9ir2:ood;
=Olhar ine*pressivo>, ela pensou. =Haranto !ue esse sujeito controla todos os
gestos...>
Ostensivamente, ouglas faia !uest%o de n%o se preocupar com modismos.
-eus cabelos, um tanto compridos, eram densos e escuros. @as Ariel precisou admitir
!ue combinavam com os tra$os do rosto dele, típicos do s+culo passado. Alto e forte,
mantinha um to!ue de asperea e rigide na boca, !ue o impedia de ser simpático.
A vo, profunda e impostada, tinha uma característica de pressa !ue denotava
impaciência. =eve ser muito observador>, ela concluiu. Ariel ainda n%o sabia se
simpatiara com ele, mas há muito tempo admirava profundamente o seu trabalho
como escritor.
/ -enhor e itt3 / A m%o de Ariel tocou a dele com firmea.
/ Acho !ue n%o estou muito a par de sua carreira / ouglas falou, em um
tom frio.
/ Ariel representa a dra. Amanda 8amison, em ="ossas 1idas, "ossos
Amores> / )onJ informou.
/ 8á andei assistindo a alguns capítulos / ouglas respondeu, com um tom
de vo !ue fe com !ue Ariel percebesse o despreo contido nas palavras.
/ O senhor tem alguma coisa contra as novelas; / ela perguntou, com
entona$%o natural, en!uanto tomava outro gole de champanha. / Ou + mais um dosintelectuais !ue detestam a arte voltada para o povo; / &n!uanto falava, ela sorria,
um rápido e eficiente sorriso, capa de desarmar !ual!uer argumento.
/ @e dêem licen$a, por um momento / )onJ pigarreou atrás dela. / 4reciso
conversar com um amigo !ue acabou de chegar.
/ &u tamb+m preciso conversar com os convidados !ue acabaram de chegar.
/ @arshell saiu na companhia de )onJ.Ao ficarem soinhos, ouglas continuou a e*aminar Ariel. A tran!Milidade dela
/ 7alando em psicologia / ela contra(atacou /, o personagem 4hil + um
=!uadrado>, apático e grosseiro. Acho !ue com ele você conseguiu mostrar direitinho
a sua própria personalidade0 / Levantando a ta$a, concluiu / oa(noite, senhor
ouglas e itt0
#uando Ariel saiu, ouglas ficou olhando para a dire$%o em !ue ela se fora,
por um bom tempo, antes de come$ar a rir. & n%o lhe ocorreu, no momento, !ue
a!uela risada era a primeira verdadeiramente espontBnea nos <ltimos dois anos.
)amb+m n%o lhe ocorreu !ue ria de si mesmo3
CAPÍTULO II
ecostado na enorme janela do escritório de @arshell, ouglas observava o
movimento de "ova Ior2. a!uela altura, ele sentia(se desligado da cidade, de sua
algaarra, e da energia !ue irradiava das ruas e cal$adas. &stava feli por estar
distante, pois muita pro*imidade significa envolvimento.
"enhuma das atries !ue ouglas de itt havia entrevistado nos <ltimos
!uine dias conseguira chegar perto da!uilo !ue pretendia. -ó ele, e mais ningu+m,
sabia e*atamente o tipo de mulher !ue podia representar ebeca.
#uando come$ara a escrever a sinopse do trabalho, ouglas percebeu !ue faia
com ele mesmo um tratamento de cho!ue. )alve at+ um trabalho terapêutico, só !uemais barato !ue um psi!uiatra, e muito mais agradável3 epois da id+ia inicial, n%o
pensou em mais nada, a n%o ser terminar logo a estória. 4recisava com urgência
livrar(se do problema. Nntuiu !ue a!uele seria o seu melhor te*to.
ouglas sabia !ue era o desgosto !ue lhe dava inspira$%o, mas, de !ual!uer
forma, ele era um escritor. &, ainda !ue fosse desagradável e*por os próprios
problemas e os erros ao p<blico, ele necessitava da!uilo no momento. "ecessitava, deuma ve por todas, e*orciar o inferno !ue vinha vivendo.
&le havia pensado !ue o mais difícil seria escolher algu+m para representar o
papel de 4hil, o personagem !ue, na realidade, era ele mesmo. @as tinha sido simples
encontrar o ator ideal. 4or+m, a lama da estória n%o era 4hil, e sim ebeca. e itt
conseguiu faer um pormenoriado espelho de sua e*(mulher, &liabeth 5unter. 'ma
atri espetacular, uma celebridade, uma mulher !ue n%o era mais capa de e*pressar
nenhum tipo de emo$%o !ue fosse sincera.
O casamento deles come$ara de uma maneira muito feli e havia terminado em
desastre. e itt tamb+m se considerava responsável pelo inferno em !ue a rela$%o
dos dois havia se transformado. 4or+m, sabia !ue o seu grande erro fora a própria
credulidade. )inha confiado demais na aparência de &liabeth, linda, charmosa, !uase
chegando ? perfei$%o. &le poderia at+ ter perdoado as falhas de personalidade !ue
logo descobriu na esposa, mas jamais perdoaria o fato de ser usado. Ainda agora,
ouglas n%o conseguia definir ao certo !uem fora realmente o culpado de tudo se
ela, pelo fato de tê(lo usadoG ou ele, por ter permitido !ue &liabeth o usasse3
4or outro lado, os tempestuosos cinco anos de casamento forneceram a
ouglas a inspira$%o para uma estória real e crua, !ue tinha tudo para se transformar
num e*celente seriado de televis%o. Como saldo desse casamento falido, ouglas
ad!uirira um enorme preconceito contra as mulheres, principalmente contra as
atries.
5á dois anos, na +poca da separa$%o, ele jurou jamais envolver(se com outra
mulher !ue se dedicasse ? arte da representa$%o !ueria distBncia de todas as atries.
-eus pensamentos voltaram(se para Ariel. )alve se lembrasse dela pela
semelhan$a com Li, mas ele estava em d<vida. "%o havia nada em comum nasatitudes, no tom de vo, no estilo de vestir. & o maior contraste parecia ficar na
personalidade Ariel o enfrentara de uma maneira incomum. @as talve a!uilo tudo
tamb+m n%o passasse de uma representa$%o. Afinal, Ariel 9ir2:ood tamb+m era uma
atri.
5á muito tempo !ue ouglas n%o guardava a imagem de uma mulher na
memória. =4ena>, pensou, =!ue n%o sirva para o papel. @as um caso com ela seriamuito bem(vindo>. Alguma coisa, dentro dele, diia !ue Ariel n%o serviria para nada,
@ostrando vago interesse, ouglas olhou para o diretor e perguntou
/ &la fe -tella;
/ "%o, lanche / Chuc2 corrigiu, e*aminando o book .
/ lanche u ois; / e itt sorria com ironia. / @as esta atri + !uine
ou vinte anos mais jovem !ue a personagem3
/ &la estava ótima no papel / Chuc2 respondeu, apenas levantando os olhos.
/ &, pelo !ue pude ver, ela fa Amanda com a mesma competência.
/ "%o está indo longe demais, Chuc2; / e itt perguntou.
/ -erá !ue preciso lhe dier !ue as novelas de televis%o nos revelaram as de
melhores atries de hoje;
/ "%o, você n%o precisa. / ouglas sentou(se, negligentemente, no bra$o da
cadeira. / @as, se há cinco anos ela fa o mesmo papel, ou n%o + suficientemente
boa para conseguir coisa melhor, em cinema ou teatro, ou n%o tem !ual!uer ambi$%o0
/ 7i!ue remoendo as suas ironias, ouglas / @arshell disse, secamente /
isso vai lhe faer bem.
ouglas contorceu o rosto numa e*press%o !ue dei*ou seu interlocutor incerto
sobre suas inten$es. epentinamente Ariel entrou na sala, causando impacto.
/ em(vinda, Ariel. / @arshell levantou(se da cadeira, estendendo(lhe a
m%o.
/ Oi, @arshell, tudo bem com você; / &la deu uma rápida e*aminada na
sala, detendo(se um pouco em ouglas, en!uanto este permanecia sentado no bra$o
da cadeira. / &ste escritório + t%o bonito !uanto sua casa0
e itt esperou, en!uanto ela foi apresentada a Chuc2. eparou !ue Arielestava vestida com muita simplicidade. O <nico e*agero ficava por conta das fai*as
de pano tran$adas !ue havia amarrado na cintura do recatado vestido aul. &ste cinto
improvisado tinha todos os tons past+is de ro*o, verde e cor(de(rosa. 'ma
combina$%o ousada e surpreendentemente efica. Os cabelos estavam totalmente
soltos, o !ue lhe dava um ar de juventude e descontra$%o, nada ade!uado ao papel
!ue ela tentava conseguir. Absorto, ouglas pegou um cigarro e o acendeu. / -enhor e itt / Ariel dirigiu(lhe um sorriso simpático, antes de se fi*ar
/ 4ode ser0 / ouglas deu uma tragada e soltou lentamente a fuma$a.
&la usou a mesma e*press%o de carência afetiva !ue e itt tinha observado
na noite da festa. &le estranhou um pouco, por!ue essa atitude de Ariel lhe parecia
meio ambígua. Ao mesmo tempo em !ue combinava com ela, parecia n%o faer parte
do seu comportamento normal.
/ 1ou contracenar com você. / ouglas continuou, procurando uma cópia
do script . / 1amos representar parte do terceiro ato.
Ariel o observava com curiosidade. "%o sabia se e itt ia gostar do teste.
)alve ele já at+ tivesse escolhido uma outra atri3 &la n%o ficava nervosa com
muita facilidade, mas, na!uele momento, sentia uma certa ansiedade. @as o !ue
realmente lhe chamou a aten$%o foi a inseguran$a demonstrada por ouglas.
/ 4or favor, gostaria de dar uma olhada no te*to antes de come$ar / ela
pediu a e itt, recebendo outra cópia do roteiro.
/ 1ocê !uer !ue algu+m dirija a cena; / ouglas deu outra longa tragada no
cigarro, e o jogou no li*o.
/ "%o0 / Ariel respondeu, já sentindo(se nervosa e com as m%os <midas.
&*celente, ela pensou. -abia muito bem ter ótimos desempenhos !uando diferentes
emo$es desafiavam(lhe as habilidades. Concentrando(se profundamente, folheou o
roteiro, at+ encontrar a cena escolhida. &sta n%o era das mais fáceis. &*igia muito de
!ual!uer atri por!ue representava a parte mais íntima da personagem ambi$%o
egoísta e se*ualidade fria. Ariel estudou(a por um minuto.
&n!uanto isso, ouglas a observava. &la passava mais a imagem de umamulher sincera e ingênua do !ue de uma pessoa calculista e autoritária. &le já estava
para desistir de fornecer(lhe um papel no filme, !uando de repente Ariel o encarou
com um sorriso frio e insensível, !ue o dei*ou completamente espantado.
/ Apesar do seu sucesso, 4hil, você n%o passa de um louco0
O tom, a infle*%o e a e*press%o do rosto eram t%o autênticos !ue ele n%o p6de
criticar. 4or um momento, ouglas n%o sabia se Ariel continuava ali na frente dele. Ofrio !ue sentiu no est6mago n%o significava atra$%o, nem tampouco fascínio, mas
/ 4reciso pensar um pouco / ouglas e itt respondeu, num tom nada
animador.
/ 1i sua representa$%o de lanche u ois, Ariel / Chuc2 observou. / &
gostei muito.
Ariel dirigiu um amável sorriso ao diretor, embora estivesse prestando aten$%o
em ouglas. =-e ele estivesse um pouco mais interessado>, ela pensou, =o teste teria
saído bem melhor.>
/ 7oi o meu maior desafio, at+ agora. / &la ajeitou rapidamente os cabelos.
/ Aguardo uma comunica$%o de vocês. / &m seguida, olhando brevemente para os
três homens saiu da sala.
Ariel dirigiu(se ao elevador, sentindo(se, de repente, bastante insegura. )alve
tivesse vencido a batalha, mas tamb+m e*istia a possibilidade de ter falhado. At+
a!uele momento n%o possuía a e*ata no$%o de como !ueria faer ebeca.
Ariel adorava a profiss%o. 4ara ela tornara(se vital enfrentar os desafios do
ofício.
#uando a porta do elevador abriu, a sensa$%o de inseguran$a já havia se
atenuado. @as o cora$%o dentro do peito ainda batia em descompasso. Ariel nem
notou !ue ouglas e itt havia se apro*imado.
/ Hostaria de conversar com você. / ouglas entrou no elevador, com ela, e
apertou o bot%o do andar t+rreo.
/ )udo bem / ela suspirou, en!uanto mudava de e*press%o / @eu eus,
estou feli0 7eli e faminta. "ada desperta tanto meu apetite !uanto um teste0
e itt tentou relacionar a mulher !ue estava ali, sorrindo para ele, atrav+s deolhos cálidos e vivos, com a mulher !ue tinha contracenado com ele. & n%o
conseguiu. &la era muito melhor atri do !ue esperava e, por isso, se tornava mais
perigosa ainda.
/ 7oi um ótimo teste, Ariel.
/ 4or !ue, ent%o, parece !ue eu estou sendo insultada; / &la olhou para ele,
de maneira estranha.#uando as portas do elevador se abriram, ouglas permaneceu parado.
/ K um trabalho permanente / ouglas replicou, en!uanto ela ria.
/ 1ocê sempre está com esse humor maravilhoso; / Ariel ironiou, parando
numa banca de flores e comprando um ramo de violetas. / #ue delícia3 / elamurmurou, fechando os olhos e aspirando profundamente o perfume das violetas. /
/ )odo esse tempo; Nmpossível... / ela sorriu para ouglas. / @as agora
acredito !ue você já tem condi$es de apreciar melhor a paisagem. Afinal, já se
passou muito tempo desde a <ltima ve.
&n!uanto a estudava, por um momento, ouglas e itt n%o disse nada. Ariel
parecia sempre estar sorrindo para ele por algum motivo particular, !ue ela guardava
para si. &staria ela, realmente, t%o em pa consigo mesma e com a vida; 5averia
algum outro homem; &nt%o, ele perguntou
/ 1ocê sabia !ue todos nós crescemos;
/ "%o tenho a menor d<vida !uanto a isso, mas o amadurecimento depende de
cada um0
Os dois dei*aram o elevador e foram para outro, !ue os levaria ao topo do
pr+dio.
=&ste + um homem !ue eu poderia admirar>, Ariel pensou, en!uanto
permanecia ao lado de ouglas. &la poderia divertir(se com a!uele sinal de seriedade
e de generosidade, e com o humor seco, !uase for$ado. Ainda por cima, o papel no
filme estava em jogo e era o !ue mais a interessava. Ariel teria de ser muito
cuidadosa, para dividir corretamente seus sentimentos entre o escritor e o homem.
@as at+ a!uele momento sempre soubera separar a mulher da atri.
@as, por en!uanto, o teste tinha acabado. -entia(se muito bem e, junto dela, se
encontrava um homem !ue apesar de desafiá(la em cada gesto, em cada palavra, só
conseguia mesmo faer com !ue a fascinasse cada ve mais.
As lojas !ue vendiam lembran$as estavam abarrotadas de gente. Ariel resolveu
comprar algo !uando saísse. e repente, surpreendeu ouglas olhando(a com osolhos ligeiramente apertados. =&le n%o desiste>, ela pensou, aprovando. Afinal, faia
o mesmo com ele, só !ue com menor intensidade. @as ouglas n%o se limitava a
olhar dissecava, analisava, conferia.
/ 1amos lá fora / ela convidou, pegando a m%o dele com firmea. / K
maravilhoso0
Abrindo a pesada porta, Ariel recebeu a primeira lufada de vento com umsorriso. Com a m%o ainda firmemente presa na dele, correu para a amurada, a fim de
Ariel nunca via "ova Ior2 como se estivesse dentro de um tabuleiro de *adre.
4elo contrário, conhecia a cidade como algo suficientemente real para ser tocada e
sentida a !ual!uer distBncia, pois jamais dei*ara de fasciná(la e e*citá(la0 -empre
havia feito !uest%o de sobreviver sem a ajuda de ningu+m ali na!uela metrópole
infinita. -abia !ue poderia conseguir tudo o !ue !uisesse da Hrande @a$%.
/ &u amo as alturas0 / &la debru$ou(se o !uanto p6de sobre a amurada e
sentiu a forte corrente de vento envolvendo(a. / -e pudesse, viria a!ui todos os dias.
"unca me cansarei disso0 / falou, como se fiesse parte da!uele lugar.
-e fosse um gesto de intimidade, ouglas teria largado a m%o dela. @as n%o o
fe. A pele de Ariel era suave e macia. -ua face estava afogueada pelo ar agitado, !ue
faia seus cabelos balan$arem selvagemente. =Os olhos>, ele pensou, =s%o muito
vivos e e*pressivos, repletos de sugestes.> 'ma mulher como esta provocaria as
mais espetaculares sensa$es, em !ual!uer um !ue tocasse. A empolga$%o !ue ele
sentia era grande, n%o podia ser contida. eliberadamente, afastou o olhar de Ariel e
olhou para bai*o.
/ 4or !ue n%o o orld )rade Center; / ele perguntou, e dei*ou sua
contempla$%o dirigir(se superficialmente para a ilha onde morava.
/ "%o e*iste nada como isto, nada. / Ariel sacudiu a cabe$a. / Assim como
só e*iste uma torre &iffel, um Hrand CanJon e uma estátua da Liberdade0 / &la n%o
se preocupou em jogar os cabelos para trás, como faia, !uando estava junto de
ouglas. / -%o maravilhosos e <nicos. o !ue você gosta;
'ma família passeava sorrindo, a m%e segurando a saia !ue o vento insistia emlevantar, o pai tentando proteger o filho. e itt os observava com aten$%o. epois
perguntou
/ &m !ue sentido;
/ &m !ual!uer sentido / Ariel sorriu. / -e você tivesse o dia de hoje
inteirinho para você, o !ue faria;
/ "avegaria / ouglas falou, sonhador. / )eria ido navegar. / 1ocê tem um barco; / O interesse apareceu nos olhos dela.
um rela*amento muscular, uma e*traordinária facilidade para pensar. Nsto chamou(lhea aten$%o para o fato de !ue se encontrava vacilante, e a apenas um passo de ceder, de
ve, aos encantos de Ariel 9ir2:ood. #uando a pessoa vacila, está perdida. & disso
ele estava bem certo.
/ "o fundo acredito !ue os dramaturgos e os roteiristas adoram competir com
os atores / Ariel disse com um sorriso sarcástico e acrescentou / Li 5unter deve
ter aprontado com você, n%o;Os olhos de ouglas faiscaram, a vo endureceu.
/ -ou uma boa atri e trabalho bastante os meus pap+is. esde a primeira ve
em !ue vi o roteiro, percebi !ue podia representar ebeca. & sou bastante perspica,
para saber !ue meu teste foi bom.
/ "%o, você n%o + tola0 / mesmo com remorso, ouglas agora sentia(se mais
seguro. iante dele se encontrava apenas uma atri em busca de um papel principal.
/ "%o diria !ue você era a pessoa !ue eu estava procurando, at+ esta tarde... mas
ningu+m chegou t%o perto do espírito verdadeiro de ebeca !uanto você0
/ & daí; / ela for$ou, sentindo a altera$%o de seu ritmo cardíaco.
/ aí !ue eu !uero !ue você leia o papel junto com 8ac2 ohrerG ele foi
escalado para faer 4hil. -e a mistura der certo, o papel será seu0
Ariel suspirou profundamente e tomou uma atitude !ue surpreendeu at+ ela
mesma jogou os bra$os em torno do pesco$o de ouglas, abra$ando(o com for$a. O
contato foi e*tasiante.
Ariel 9ir2:ood, a menininha sonhadora da rua PQE, lado Oeste, estava
chegando perto de ser a estrela de um filme com roteiro de e itt, produ$%o de 4. .
@arshell, e protagoniado por 8ac2 ohrer0 A vida n%o parava de lhe traer surpresas
admiráveis. #uando seu corpo sentiu o de ouglas, Ariel desejou !ue o tempo
parasse ali mesmo.
As m%os de ouglas automaticamente enla$aram a cintura dela, en!uanto a
risada de Ariel deleitava(lhe os ouvidos. &le estava achando a!uela sensa$%o muito
estranha. igorosamente, só se recordava de duas situa$es semelhantes do imenso
praer de sua jovem sobrinha, !uando ele lhe dera uma linda casa de bonecas, num
"atal, e o !ue sentira !uando, como homem, possuíra a primeira mulher. )oda aternura do mundo encontrava(se ali na!uele encanto especial !ue só um corpo de
mulher parecia possuir.
ouglas !ueria convidá(la para irem a um lugar mais discreto. Alguma coisa o
tentava a isso, e*atamente pela perspectiva de possuir algu+m doce e suave. Ariel, no
abra$o, encai*ava(se perfeitamente a ele. 7ace contra face, o alinhamento integral dos
corpos... Ariel encai*ara(se t%o bem !ue ouglas permaneceu como estava, semnecessidade de pu*á(la mais para perto3
ouglas soprou outra baforada de fuma$a, e, observando Ariel,
pregui$osamente falou
/ @as eu n%o sou mesmo um homem encantador.
/ @as + um e*celente profissional, disso tenho certea.
&nt%o, repentinamente, pois raramente resistia a impulsos de !ual!uer esp+cie,
Ariel beijou a face de ouglas, e colocou(lhe as violetas nas m%os, antes de sair, ?s
pressas. &le permaneceu ? mercê do vento, no ponto mais alto de "ova Ior2,
segurando um punhado de flores, en!uanto olhava, pasmado, para a corrida de Ariel...
CAPÍTULO III
ouglas de itt vivera a maior parte de sua vida profissional dentro de
est<dios, ou em torno deles e de cenários salas de visita do s+culo R1NNN, !uartos do
s+culo RR, bares, restaurantes, lojas de departamentos, naves interplanetárias e
camarotes de navio. Com infra(estrutura, cenários e talento, !ual!uer coisa poderia
ser criada.
#uando se + veterano, !ual!uer est<dio + igual a outro / t+cnicos, lues,
cBmeras, lentes, metros e metros de fio. A!uilo era uma ind<stria de imagem e de
ilus%o.7ora da!uele ambiente, ouglas nunca se sentia contente, e*ceto com sua
má!uina de escrever e suas id+ias. &le insistira, desde o primeiro roteiro !ue havia
realiado, em participar de tudo. "%o se preocupava apenas com a escrita. Aprendeu a
ser prático e a reconhecer as vantagens da aplica$%o de um Bngulo correto de
filmagem, da escolha da ilumina$%o apropriada. Al+m de tudo, possuía sensibilidade
para imaginar o est<dio e o p<blico, en!uanto planejava o enorme conjunto de pe$as para o e!uipamento. &le observava como um espectador, via como um assistente.
fácil de se agMentar0 / Levantando(se, ela saiu, para um <ltimo reto!ue na
ma!uilagem.
O cenário do hospital já estava pronto para o breve, mas importante encontro
dos antigos enamorados, Amanda e Hriff. Olheiras foram produidas sob os olhos
dela, para darem a impress%o de uma noite passada em claro. 'ma ma!uilagem com
a inten$%o de torná(la levemente pálida fora aplicada ao final.
#uando as cBmeras come$aram a rodar, Amanda estava em seu consultório,
e*aminando as fichas dos SQ pacientes. &la parecia muito calma. -ua e*press%o era
de uma serenidade total. e repente, por+m, ela bate a gaveta e levanta(se. &sta cenadeveria se encai*ar na ocasi%o da descoberta sobre o marido e a irm%.
Amanda apanhou um copo chinês !ue se encontrava sobre a mesa e o atirou
contra a parede. &nt%o, com o dorso da m%o na boca, fitou as pe$as !uebradas,
!uando uma batida na porta do consultório fê(la cerrar os punhos, esfor$ando(se para
manter o autocontrole. &m seguida, circundou a mesa e sentou(se.
/ &ntre0A cBmera fi*ou(se em Alan, no papel do dr. Hriff, o primeiro e <nico namorado
perceberia, e !ue as mais prudentes tratariam de evitar.> 7ascinada, percebeu as
batidas aceleradas do próprio cora$%o.
/ Agora preciso ir.
Com a atitude de ouglas, o encanto do momento foi !uebrado.
/ )udo bem3 / disse Ariel, embora n%o estivesse muito certa da própria
sinceridade.
@eneando a cabe$a, surpreso, ouglas retirou(se. Ariel sentou(se na ponta de
sua abarrotada penteadeira e, pela primeira ve na vida, perguntou(se se n%o estava,
por acaso, !uerendo enfrentar situa$es !ue iam al+m de suas for$as.
O sol, !ue mais parecia uma bola de fogo, se punha. Ariel pediu ao motorista
do tá*i !ue parasse a duas !uadras do pr+dio onde ouglas morava. 4recisava de
algum tempo soinha para pensar em um telefonema !ue recebera, falando de -cott,
filho de seu irm%o.=4obre garoto>, ela pensou, =t%o vulnerável, e com tantos problemas...>
Nmaginava por !uanto tempo ainda os tribunais adiariam sobre o destino dele.
&la adorava o sobrinho e o !ueria junto a si. Ariel recusava(se a acreditar !ue algo
diferente pudesse acontecer com o garoto !ue havia ficado órf%o t%o cedo. -cott
sentia(se totalmente desajustado na casa dos avós maternos.
=&les n%o o !uerem realmente>, ela pensava. &*istia uma diferen$a muitogrande entre amor e obriga$%o. & Ariel sabia !ue, se tudo corresse bem, poderia dar
incomodado com a presen$a de Ariel. Afinal, se acostumara ? solid%o. @as, ao
mesmo tempo, surpreendeu(se ao constatar !ue algo mudara no local. )alve a
presen$a de vida3
/ &ra isto mesmo !ue eu esperava encontrar / disse Ariel, pondo as m%os
nos profundos bolsos de sua saia. / &ste apartamento + adorável0 K a!ui !ue você
escreve;
/ )enho um escritório montado na outra sala.
/ &u, provavelmente, colocaria minha mesa bem a!ui0 / indo, ela virou(se
para ouglas. / Aí, onde você está, acho !ue n%o ia conseguir trabalhar direito.
Os olhos dele estavam muito sombrios e distantesG o rosto, t%o ine*pressivo
!ue n%o se podia saber se ele estava pensando em alguma coisa. Ariel, ent%o, dirigiu(
lhe a palavra
/ 4ensando em algu+m, ouglas;
/ &u acho !ue sim. #uer beber alguma coisa;
/ -im, um pouco de vermute seco, se você tiver.
Ariel admirava, embevecida, a magnífica cole$%o de cristais aterford !ue
ouglas e*punha em uma estante de cerejeira. -ó uma pessoa de muito bom gosto
saberia escolher pe$as t%o encantadoras.
/ 1ocê gosta de cristal; / ouglas chegou diante dela e ofereceu(lhe um
cálice de bebida.
/ &u gosto de coisas bonitas.
=& !ual mulher n%o gosta;>, ele pensou, mal(humorado.> 'm casaco de pele,
um solitário de brilhante3 -im, as mulheres gostam de coisas bonitas, principalmente de ganhá(las de outra pessoa.> O mal humor de ouglas aumentou.
/ &u vi seu programa, hoje / ele come$ou, para esconder suas verdadeiras
inten$es, e para sentir a rea$%o de Ariel. / 1ocê estava muito bem, como a
psi!uiatra eficiente0
/ Hosto do tipo de Amanda. / Ariel bebericou um pouco de vermute. / &la
+ uma mulher muito estável. -%o poucas as suas fra!uejadas de vulnerabilidadesentimental0 7i!uei satisfeita por ter conseguido mostrar essas fra!ueas. O !ue você
!ue você tem estado muito ocupado, dedicando(se a con!uistar o p<blico, só para
poder mantê(lo ? distBncia...
/ 1ocê acha !ue + isso !ue eu fa$o; / ele perguntou, dei*ando o copo de
lado.
/ -empre. @as isto + natural, no tipo de trabalho !ue você realia. )amb+m
percebi !ue estou para levar um =fora> de você, antes !ue a noite acabe...
Ariel sentiu !ue seu sorriso !uebrava a resistência de ouglas e, embora
cautelosa, ficou muito satisfeita.
@ais uma ve, Ariel sentiu a!uele delicioso tremor em todos os m<sculos do
corpo. Atraída, semicerrando os olhos, ela se apro*imou de ouglas. "o momento,
nada poderia afastá(la dali.
/ 1ocê n%o está curioso; / ela perguntou, bai*inho, e continuou, ao ver !ue
ele n%o respondia. / O problema + !ue eu n%o sei se vou aguentar passar a noite
toda, só pensando em como seria...
Ariel apoiou(se nos ombros de ouglas, e apro*imou(se, at+ !ue os lábios de
ambos se encontraram. 7oi um beijo natural, sóbrio, sem !ual!uer iniciativa ou
!ual!uer arroubo. 4or+m, Ariel sentiu a!uele beijo com muita intensidade. 5avia um
vulc%o prestes a e*plodir dentro dela. A boca !ue ela sentia comprimindo a sua era
mais !uente do !ue podia esperar. Como os dois n%o estavam abra$ados, a!uele
primeiro contato n%o passou de um simples ro$ar de lábios. @as Ariel sentia(se
con!uistada, vencida, e gostosamente feli...
evagar, ela afastou(se, sem perceber !ue seus olhos estavam arregalados de
surpresa. ouglas tamb+m se mostrava arrebatado pelo desejo e pelo sabor da bocade ArielG mas soube muito bem disfar$ar as próprias emo$es. &le concluiu !ue a
!ueria, e muito, tanto no papel de ebeca, !uanto em sua cama. & notou !ue n%o
tardaria muito, at+ !ue Ariel se oferecesse a ele, para conseguir / e garantir / o
papel.
ouglas era muito jovem !uando Li 5unter o tinha atraído para uma cama, a
fim de obter um papel. & agora, mais e*periente, já conhecia bem a!uele tipo de
/ &stou disposta ao melhor desempenho de minha carreira0 / &scapando da
m%o !ue a segurava, Ariel dirigiu(se para a porta de saída.
/ Ariel... / ouglas n%o tinha pretendido chamá(la de volta, mas a
lembran$a da tristea estampada nos olhos dela fê(lo mudar de id+ia. &, como Ariel
n%o se deteve, ele correu atrav+s da sala, sem poder conter(se. / Ariel0
#uando ela o encarou, ouglas percebeu !ue a dor !ue irradiava dos olhos de
Ariel parecia t%o intensa e real, !ue ela n%o poderia estar mentindo. & o desejo
fortíssimo de a ter, de novo, junto a si, era e*asperante.
/ &u nunca me perdoarei por isso0 / ele tentava se desculpar.
Ariel olhou firme para ouglas, procurando coragem de dier o !ue pensava e
de mandá(lo para o inferno. &m ve disso, ela falou
/ @as eu o perdoarei, ouglas. 4elo jeito, sua e*(mulher o feriu muito mais
do !ue eu imaginava. &stou errada;
/ "%o comento a minha vida íntima0 / A friea com !ue disse estas palavras
era assustadora.
/ O problema deve ser, e*atamente, este. 1ocê detesta as mulheres em geral
ou somente as atries;
/ 8á disse !ue n%o comento minha vida íntima com ningu+m. -erá !ue n%o
entendeu; / ouglas estava possesso.
/ K uma pena / disse ela, voltando(se, novamente, para a porta. / #uando o
gelo !ue um homem tra dentro de si derrete, esse homem torna(se respeitável.
&n!uanto isso, e at+ ent%o, eu estarei longe do seu caminho0 / Ariel abriu a porta e,
antes de sair, voltou(se para ouglas / A respeito do papel, senhor e itt, por favor, converse diretamente com o meu empresário0 / Calmamente, ela fechou a
/ &u ouvi, mesmo, dier / completou ela. / )%o grandes !ue podem at+
fugir das jaulas0
/ K mesmo; / Os olhos de -cott brilharam, com a possibilidade. Ariel
adivinhava o !ue se passava na imagina$%o dele a fuga, o pBnico, e, finalmente, o
grande gesto de heroísmo ao dominar gigantescos ursos, conduindo(os sob
chicotadas. &, naturalmente, a humildade afetada, para aceitar a gratid%o e o
reconhecimento dos guardas do oológico.
/ 1amos, titia;
Ariel dei*ou(se arrastar pelo passo apressado de -cott, igueagueando entre a
multid%o !ue viera passar o dia no oológico de ron*. =Nsto eu posso oferecer ao
meu sobrinho>, ela pensou. =)oda a alegria, todo o encanto da infBncia.> &ra uma
fase t%o curta da vida... #ueria dar liberdade a -cott, mostrar a ele at+ onde poderia
chegar e !uais limites deveria respeitar. @ais !ue tudo, Ariel !ueria lhe dar amor0
&la o amava e o !ueria consigo, n%o só pelas lembran$as !ue o sobrinho lhe
traia do irm%o, mas por ele mesmo. &mbora fosse uma mulher !ue vivia em ritmo
estonteante, sem rotina, indo e vindo de acordo com os impulsos do momento, Ariel
sempre desejara a estabilidade. Ou, pelo menos, algu+m com !uem se preocupar, a
!uem educar, alimentar, e !ue lhe retribuísse um pouco do muito amor !ue ela
oferecia. &, para isso, ningu+m melhor !ue uma crian$a, com a inocência e a
disposi$%o para dar e receber amor, sem restri$es3 @esmo agora, en!uanto corria,
gargalhava, observava tudo e aproveitava o dia, -cott a estava gratificando,
e*atamente com o amor !ue ela esperava. -e Ariel estivesse certa de !ue -cott fosse
uma crian$a feli, vivendo com os avós, n%o se preocuparia tanto com o destino dele.@as sabia !ue os velhos inibiam e abafavam toda a espontaneidade !ue havia nele.
Ariel sabia, tamb+m, !ue os avós de -cott n%o eram más pessoasG mas,
simplesmente, viviam ? moda deles, achando !ue e*istiam princípios básicos para a
forma$%o de uma crian$a. 'ma crian$a significava uma obriga$%o, e uma obriga$%o
muito s+ria. 8á para Ariel, antes de ser uma obriga$%o, uma crian$a significava
felicidade0 Os avós educariam -cott para ser responsável, educado, instruído, etc.@as n%o conheciam os segredos !ue tornavam esse trabalho uma verdadeira arte.
)udo, talve, tivesse sido mais fácil, se os avós de -cott n%o recriminassem
tanto o comportamento do genro, ou se -cott n%o tivesse sido concebido =antes da
hora>, em nome do ardor da juventude3 & para piorar a situa$%o, nem a realia$%o
do casamento, nem mesmo o nascimento de -cott, puderam aliviar a tens%o e*istente
no relacionamento de 8eremJ com os sogros. &sta hostilidade passou
automaticamente para Ariel após o trágico acidente !ue levou a vida de 8eremJ e de
sua jovem esposa. Os avós de -cott cuidariam dele, mas sempre estariam lembrando
de !ue a filha casara contra sua vontade e estava morta. Ariel olhou para -cott
emocionada e reconheceu mais uma ve !ue a vida era a maior dádiva de eus.
=&le precisa de mim>, ela pensou, ajeitando os cabelos, en!uanto -cott, muito
entusiasmado, distraía(se olhando os movimentos de um urso desajeitado. =& eu
preciso muito dele...>
e repente, sem saber bem por !uê, a imagem de ouglas preencheu(lhe os
pensamentos.
=ouglas tamb+m, precisa de mim>, ela constatou, com um curto e discreto
sorriso moldando(lhe os lábios. =&mbora ele n%o saiba. 'm homem como ele precisa
do bem(estar e dos sorrisos !ue só o amor pode traer>.
=4or !uê;>, Ariel se perguntou, encostando(se num parapeito, !ue mantinha as
jaulas dos lees a uma distBncia segura do p<blico. @as ela n%o possuía resposta para
essa pergunta. 4or+m, a intui$%o lhe diia !ue se encontrava no caminho certo.
Ariel era uma mulher !ue confiava mais nos instintos e nas emo$es !ue no
raciocínio lógico. e repente, clara como a água, uma constata$%o a emocionou
amava ouglas e itt. @as se revelasse tal sentimento a ele na certa ouglas iria pensar !ue ela mentia ou !ue, simplesmente, ficara louca. "%o seria nada fácil ganhar
a confian$a de um homem t%o fechado como a!uele. -orrindo, Ariel pegou algumas
pipocas de -cott.
/ 4or !ue você está rindo, Ariel;
&la fe um mu*o*o para -cott, e o abra$ou. O garoto sorriu, como sempre
faia, nessas ocasies de repentinas demonstra$es de carinho. / 4or!ue estou feli. 1ocê n%o está; 5oje + um dia muito feli0
/ #uando você fica comigo, estou sempre feli0 / Os bra$os de -cott
envolveram o pesco$o de Ariel. / "%o posso ficar com você; "%o posso viver na
sua casa, para sempre;
&la abra$ou o garoto, sabendo !ue seria impossível contar a -cott o !u%o
intensamente lutava para dar esse rumo ? vida dele. &m seguida, falou
/ "ós temos o dia de hoje. 1amos aproveitá(lo inteirinho0
Carregando(o, outra ve, ela p6de sentir a adorável mistura de cheiros de
sabonete, *ampu e pipoca torrada. Ainda sorrindo, Ariel p6s -cott no ch%o.
/ Agora eu !uero ver as cobras0
ouglas n%o conseguia entender por !ue Ariel n%o saía de seu pensamento. &le
!ueria ter dei*ado de pensar nela, en!uanto trabalhava, mas n%o fora capa.
-e estivesse pensando apenas na atri, s+ria candidata a representar ebeca, ele
at+ aceitaria o fato. @as a imagem !ue o perseguia era de Ariel, num dos pontos mais
altos de "ova Ior2, com os belos cabelos agitados ao vento, e os lindos olhos
e*tasiados com a magnificência do panorama. A!uela mulher n%o tinha nada em
comum com o temperamento de ebeca.
ouglas tamb+m lembrava(se da rea$%o de Ariel !uando ele fora
deliberadamente cruel. Agora o remorso o atormentavaG justo a ele, !ue resolvera
nunca mais se preocupar com mulher alguma. @as conhecia Ariel e já tinha lhe
provocado a volta de tantas sensa$es !ue havia jurado n%o e*perimentar jamais.
&mbora n%o gostasse, mas por causa de sua sensibilidade e*acerbada, ouglas
já havia percebido !ue Ariel era uma mulher diferente, especial, !ue logo estariafaendo com !ue outras sensa$es florescessem dentro dele. &nt%o, em vista disso,
determinou(se a manter uma segura, formal e profissionaliada distBncia entre eles
dois3
8á !uando viu Ariel conversando com 8ac2 ohrer, antes do teste, no escritório
de @arshell, ouglas n%o p6de seguir a linha de conduta !ue havia se imposto.
)alve, por!ue ele sempre fora sensível ? belea. & Ariel era linda. @as o !uerealmente o amedrontava era o fato de Ariel ser uma mulher especial, com a
capacidade de prender a aten$%o de algu+m para sempre.
Como escritor, ouglas n%o conseguia disfar$ar sua atra$%o pelas coisas novas.
& já percebera algumas facetas do temperamento de Ariel um certo tipo de
estabilidade e e!uilíbrio, embora se vestindo com e*travagBncia, num estilo entre
cigana e garota de deessete anos. 'ma ve lhe perguntara !uem era elaG e n%o tinha
ficado satisfeito com a resposta3
/ Acho !ue eles v%o se dar bem / @arshell murmurou, en!uanto os dois
atores se preparavam para o teste.
O ruído !ue saiu da boca de ouglas poderia ter sido de concordBncia ou de
desinteresse, mas ele n%o tirava os olhos de Ariel. -e n%o se lembrasse bem do
primeiro teste dela, ouglas julgaria ter cometido um erro ao cogitá(la para o papel
de ebeca. Agora o sorriso se mostrava muito e*agerado, os gestos lBnguidos3
Confuso, ouglas, perguntava(se !ue tipo de sentimentos a!uela mulher lhe
despertava.
esejo, concluiu. -im, ele sentia desejo. ouglas pensou, pensou, dimensionou
e mediu a constata$%o. esejo forte, intenso, e muito urgente0
Acendendo um cigarro, ele a observou, atrav+s da fuma$a aulada. -eria
interessante para ele, como escritor, ver !uantas e*presses Ariel poderia usar, e !u%o
facilmente ela poderia trocá(las.
e repente Ariel virou a cabe$a e se viu contemplada por ouglas. =&le está
diferente, hoje>, ela pensou, mas n%o p6de descobrir o motivo. ouglas ainda olhava
para ela com o mesmo olhar impertinente e sisudo, !ue sempre a desconcertava. A
distBncia programada se mantinha. & Ariel era bastante perspica para perceber !ueele sempre erguia uma parede !ue o conservava separado do resto do mundo. @as
havia alguma coisa estranha.
Ariel sorriu para ele. Como ouglas se mantivesse impassível, ela pegou uma
cópia do roteiro, preparada para come$ar o teste mais importante de sua carreira.
/ )udo bem, podem come$ar pela cena em !ue eles chegam em casa, depois
da festa. / istraído, ouglas jogou a cina do cigarro no ch%o.Atrás dele, @arshell contestou
/ -ei !ue você ainda resiste, ouglas / ela disse, secamente. / @as o meu
objetivo a!ui + faer ebeca. "%o vai se arrepender da escolha. @arshell, 8ac2, será
um praer trabalhar com vocês0
/ Ariel3 / @arshell levantou(se e apertou a m%o !ue ela lhe oferecia. 7aia
muito tempo !ue ele n%o assistia a uma cena !ue o impressionasse tanto. / A n%o ser
!ue eu falhe na suposi$%o / e eu nunca falhei / você vai valoriar, e muito, a
personagem de ebeca0
/ &u n%o suponho. &u o farei. Obrigada.
ouglas pegou o cotovelo de Ariel, antes !ue ela saísse. esejava mais do !ue
nunca tocá(la.
/ 1ou sair com você, Ariel.
-entindo a tens%o nos dedos dele, Ariel teve de resistir ? inclina$%o de procurar
acalmá(lo. ouglas n%o era homem !ue aceitasse com facilidade demonstra$es de
afeto.
/ )udo bem / ela declarou.
Os dois seguiram o mesmo caminho !ue tinham percorrido na semana anterior,
mas desta ve em silêncio. Ariel sentiu !ue ele preferia assim. #uando chegaram ?
porta da rua, ela esperou !ue ouglas tomasse a iniciativa e dissesse tudo o !ue
pretendia.
/ 1ocê está livre; / ele perguntou.
'm tanto embara$ada com a pergunta, Ariel hesitou. / 4ara um jantar rápido / e*plicou ele. / &u acho !ue estou devendo um a
você...
/ em... / Ariel afastou os cabelos do rosto. O convite, do jeito !ue foi feito,
agradou(a bastante. / )ecnicamente, este + um outro jeito de encarar as coisas3 4or
!ue você !uer jantar comigo;
-ó o fato de olhar para ela / olhos sorridentes, boca convidativa / dei*ou(oatordoado, num dilema seguir em frente, antes de perdê(la, ou sair fora da situa$%o,
/ O senhor está se oferecendo; / Ariel beijou o rosto do viinho, antes de
subir o restante dos degraus.
/ 4oderei dan$ar uma ve com você, na festa do !uarteir%o; / perguntou ele.
/ -enhor Vimmerman / Ariel girou a cabe$a e piscou para ele /, dan$ará
comigo !uantas vees !uiser.
#uando já se encontravam dentro do pr+dio, Ariel come$ou a reme*er a sacola,
em busca das chaves.
/ -ou louca por ele / disse a ouglas. / K um professor de m<sica,
aposentado, e, ainda por cima, ensina algumas crian$as. 7ica sentado ali, para ver as
mulheres passando. / Ariel achou as chaves, num grande e espalhafatoso chaveiro
de plástico. / &le + um homem terrível0
/ Como você sabe disso; / ouglas perguntou.
/ asta !ue você veja os olhares dele !uando passa algu+m de saia0...
/ Nnclusive a sua;
/ &u me encontro na categoria de sobrinha...
Ariel abriu a porta. ouglas, !ue tinha esperado encontrar coisas
surpreendentes, n%o ficou desapontado3
A pe$a principal da sala de estar era uma rede gigante, balan$ando em ganchos
pendurados na parede. 'ma ponta da sala estava abarrotada de almofadas e num
canto havia uma pia !ue continha uma vela das mais grossas, !uase toda !ueimada.
)udo muito colorido, num estilo indefinido.
O sofá era dos grandes, curvado, estilo 7ran$a antiga, revestido de um tecido
cor(de(rosa, desbotado, en!uanto !ue um enorme aparador de vime servia de mesa decaf+. Como no camarim de Ariel, toda a sala estava em desordem, com farta
variedade de livros, pap+is e odores. ouglas identificou, por e*emplo, cheiro de cera
de vela, de flores frescas e muitos outros, misturados. @uitos ramos de flores da
+poca ocupavam in<meros vasos. 'm par de luvas de bo*e pendia do canto !ue
ficava atrás da porta...
/ 1ocê deve ter aprendido bo*e com um peso pluma / ouglas brincou.Ariel acompanhou a dire$%o do olhar dele e sorriu.
contra a perna de Ariel, antes de gingar em dire$%o ao sofá e pular para uma
almofada. / 1ocê n%o acha difícil cuidar de três animais em um apartamento de
cidade, trabalhando em um ramo t%o absorvente;
/ "%o / ela sorriu. / 1ou preparar a carne.
/ Onde; / ouglas franiu a testa.
/ "o terra$o / Ariel caminhou e abriu uma porta. o lado de fora, havia uma
varanda repleta de vasos de gerBnio e uma min<scula churras!ueira a carv%o.
=O terra$o0>, ouglas murmurou, com seus botes. -ó um otimista incurável,
ou um sonhador desesperado, poderia chamar a!uilo de terra$o0 & ele gostou de !ue
Ariel o fiesse. indo, ouglas foi at+ a porta.
epois de arrumar a grelha, Ariel olhou para ele.
/ em, bem0 Nsto + ótimo0 1ocê sabe !ue + a primeira ve, desde !ue nos
conhecemos, !ue você riu espontaneamente;
/ Acho !ue estou meio sem prática... / ouglas encolheu os ombros e levou
o copo ? boca.
/ A gente pode dar um jeito nisso / disse Ariel, sorrindo, estendendo a m%o
para ele. / Aceita a parada;
ouglas procurou alguma coisa no bolso, mas o fulgor dos olhos de Ariel fê(lo
mudar de id+ia. Com um passo, ele a pegou pelos ombros e a beijou.
&le a pegou desprevenida. Ariel n%o esperava !ue ouglas fiesse nada por
impulso. Antes !ue desse conta do !ue acontecia, a emo$%o do beijo a dominou por
inteiro.
"%o era, desta ve, um simples ro$ar de lábios. ouglas sentiu a erup$%o dodesejo e procurou abrandá(la. 8á haviam passado anos, muitos anos, desde a <ltima
ve em !ue ele tivera, realmente, desejado uma mulher. & era esse o tipo de pai*%o
!ue ele sentia agora. )alve precisasse dela, mais do !ue pensava03
& era o medo de vir a precisar dela !ue o faia !uerer afastar(se en!uanto a
desejava, mais e mais.
#uando as suas bocas se separaram, os olhos de Ariel abriram(se devagar.Olhou diretamente nos olhos de ouglas e viu mais !ue seu próprio refle*o viu
ouglas n%o tinha pretendido encostar em Ariel, mas reparou !ue sua m%o
ro$ava(lhe a face.
/ -ua pele / ele murmurou /, ela + linda0 4arece porcelana e tem a te*tura
do cetim... / O olhar dele passeou pelo rosto de Ariel, por sua boca, antes de
encontrar(lhe o meigo olhar. / &u nunca teria tocado você...
O cora$%o de Ariel disparou0 )ernura. A!uilo foi inesperado e a derrotou
completamente.
/ 4or !uê, ouglas;
/ K uma longa estória... / Os dedos dele acariciavam(lhe os cabelos e, logo,
suas m%os se afastaram. / &u n%o tenho mais nada para dar, e você deve estar
!uerendo alguma coisa de mim / murmurou.
A respira$%o de Ariel tornou(se ofegante. "unca tinha imaginado o !uanto seria
desconcertante ver suas emo$es mais íntimas descobertas por algu+m. 8amais
passara por isso.
/ ouglas, n%o seria mais fácil a gente jantar;
#uando Ariel tentava voltar(se para a pia, ouglas a deteve.
/ "ada, no caso, será fácil0 -e as coisas continuarem assim, nós vamos acabar
dormindo juntos3
/ ouglas, sou uma mulher adulta. &u + !ue resolverei se irei para a cama
com você ou n%o.
/ 4ode ser. / &le balan$ou a cabe$a. / &u só !uero ter o direito de tamb+m
decidir por mim / virando(se, a dei*ou soinha, junto ? pia.Ariel suspirou profundamente e, na!uele momento, decidiu !ue n%o teria
nenhum caso com ele. "em caso, nem nada parecido. &le precisava aprender a
con!uistar, sem caprichos e sem imposi$es. 4egando a bandeja de costeletas, ela
dirigiu(se para a sala.
/ Alegre(se, e itt / falou Ariel, imperiosamente, percebendo um sinal de
surpresa no rosto de ouglas, !uando passava em dire$%o ? churras!ueira. / &utenho de conviver com melodramas e muita mis+ria, em cada capítulo de minha
mesmo !ue algu+m possa viver soinho; "%o sente falta de amiade, companhia e
amor, ouglas;
-oprando a fuma$a, ele tentou disfar$ar !ue a pergunta o atingira em cheio.
@esmo por!ue já havia passado mais de dois anos tentando se convencer de !ue
poderia viver só. 4or !ual motivo iria, justamente agora, t%o de repente, reconhecer a
impossibilidade disso;
/ Cada uma dessas situa$es e*ige reciprocidade, e eu n%o estou a fim de
oferecer nada a ningu+m, por muito tempo0
/ 7inalmente, você está sendo honesto em suas palavras. / O olhar de Ariel
era firme, e sua boca n%o mostrava o habitual sorriso. / #uanto mais estou junto devocê, mais me certifico de !ue fa !uest%o de continuar se enganando.
/ 1ocê n%o me conhece direito. / ouglas amassou o cigarro e enfiou as
m%os nos bolsos. / & ainda está muito longe de conhecer0
/ -erá; / replicou Ariel, meneando a cabe$a. Como ele n%o respondesse,
completou, em seguida / 1ocê no fundo, gosta de se faer de vítima, ouglas.
Os olhos dele ficaram parados, com uma e*press%o gelada. / "%o abra um armário sem saber o !ue está dentro, Ariel0
/ &le + demais0 / A garota !ue mascava chicletes sorriu. / &u morreria se
Hriff olhasse para mim como olha para você0
Ariel pensou em outro par de olhos verdes e esteve a ponto de rir de si mesma. / 1amos esperar, para ver o !ue acontece; &stou contente !ue vocês gostem
da novela. / Afastando(se do grupo de f%s, chamou um tá*i e desabou no banco
traseiro, en!uanto dava o endere$o ao motorista.
&la n%o entendia bem por !ue sentia(se t%o cansada. Acreditava !ue fosse a
perspectiva do encontro !ue a esgotara tanto. &, na verdade, ela n%o tinha dormido
bem, como costumava. @as sabia !ue já havia passado por outras noites de ins6nia,
sem maiores problemas.
ouglas0 -e ouglas fosse a <nica pessoa !ue a preocupasse, talve fosse fácil
conciliar as id+ias. @as havia -cott0
A id+ia de enfrentar os avós dele num tribunal n%o a amedrontava, mas a
aborrecia, e bastante. 8á havia ocorrido outros encontros, antes, e n%o e*istia ra%o
nenhuma para crer !ue um pró*imo pudesse ser diferente.
Ariel lembrou(se de como -cott ficara entusiasmado com o passeio no
oológico. 'm passeio t%o simples, e t%o importante para o garoto.
O !ue seria melhor para ele; Ariel precisava de algu+m !ue lhe respondesse a
essas perguntas, !ue a orientasse, !ue a confortasse. @as, pela primeira ve na vida,
pressentiu !ue seria impossível encontrar uma pessoa em !uem confiasse... #uanto
mais ela guardasse segredo, menor seria a possibilidade do sobrinho ser afetado pelo
problema. &la só teria, ent%o, de seguir sua intui$%o e esperar pelo encerramento do
processo de tutela !ue envolvia -cott.
Com muitos outros pensamentos embaralhados na mente, Ariel pagou o tá*i e
entrou no elegante e solene pr+dio de a$o onde ficava o escritório de seus advogados.
"o trajeto entre o sagu%o e o trig+simo andar, recapitulou todos os argumentos. &sta
seria, talve, a <ltima oportunidade !ue teria para conversar com os avós de -cott,antes da audiência do processo de tutela e da decis%o final do jui. 4recisava, por
isso, agir com toda a cautela e com o melhor desempenho possível.
A leve contra$%o !ue sentia no est6mago era idêntica ?!uela !ue sentia nos
palcos. 4rocurando livrar(se da!uela sensa$%o, Ariel entrou em =igbJ, Leibo:it X
7eirson, Advogados>. / oa(tarde, senhorita 9ir2:ood. / A recepcionista ensaiou um sorriso para
/ -im, isto será necessário0 / igbJ pegou a pasta do caso de Ariel. / 1ocê
vai conhecer o advogado dos Anderson, asil 7ord. &le + muito meticuloso e
conservador. 8á atuei contra ele, antes.
/ Acha !ue teremos chances de ganhar; / ela perguntou, aflita.
/ "ós estamos preparados para tudo / igbJ respondeu. / & já !ue este +
um encontro voluntário, informal, n%o há muito para os advogados faerem. @as, se
ele fier alguma pergunta, você n%o deve responder. &u temo !ue isso poderia
prejudicá(la. / Com cuidado, igbJ e!uilibrou a *ícara no pires. / @as eu lhe pe$o
uma coisa n%o perca sua calma e seu controle. -e !uiser gritar, chorar, *ingar, espere
at+ !ue eles tenham saído3
/ 1ocê já me conhece profundamente / ela murmurou. / &ntendi. &u
estarei calma e l<cida.
#uando a campainha da mesa dele tocou, Ariel sentiu o cora$%o disparar.
/ 7a$a(os entrar, @arlene. & traga mais caf+0 / &le olhou para Ariel,
procurando comparar o cansa$o estampado nos olhos dela com a sua for$a interior.
/ -erá só uma conversa, uma discuss%o / ele lembrou. / K !uase impossível !ue
alguma coisa vá ser decidida a!ui, hoje.
Ariel recostou a cabe$a e procurou rela*ar as m%os. #uando a porta se abriu,
igbJ levantou(se, jovialmente.
/ asil, !ue praer em vê(lo0 / &le estendeu a m%o para o outro advogado,
um homem empertigado, com poucos cabelos, grisalhos. / -enhor e senhora
Anderson, por favor, sentem(se. Logo teremos um caf+. asil, esta + Ariel 9ir2:ood0Ariel !uase dedicou um sorriso discreto ?!uela apresenta$%o t%o vulgar e
desnecessária.
/ Como vai, dr. 7ord; / &la achou firme o aperto de m%o do dr. 7ord e
aterroriante seu olhar.
asil 7ord sentou(se, lentamente, ao lado de sua pasta.
/ Como est%o, senhor e senhora Anderson;Ariel recebeu como resposta um aceno de cabe$a da sra. Anderson e um aperto
para todo esse tempoG n%o podemos dedicar alguns momentos ao sonho; -cott precisa
soltar o inconsciente, ainda mais depois de tudo !ue perdeu. 4or favor... / O olhar
de Ariel dirigiu(se ? mulher hirta, no sofá. / 1ocês já sabem o !ue + tristea. -cott
perdeu as duas pessoas !ue, no mundo, significavam amor, seguran$a, estabilidade.
&ssas sensa$es devem ser devolvidas a ele0
/ 4or você; / A senhora Anderson perguntou, sem alterar a e*press%o. @as,
em seus olhos, Ariel viu reminiscências de dor. / O filho de minha filha será criado
por mim0
/ -enhorita 9ir2:ood / 7ord interrompeu, polidamente, e cruou as pernas.
/ 4ara sermos práticos, sei !ue você tem, atualmente, um papel importante em uma
novela. Nsto significa um emprego permanente, com uma renda estável. @as, para ser
e*ato, + comum, no seu ramo, !ue as situa$es se alterem. Como você sustentaria
uma crian$a se o seu contrato n%o for renovado;
/ @inha renda mensal n%o será reduida0 / ela respondeu com muito esfor$o
para n%o gritar.
igbJ percebeu, pelo olhar de Ariel, !ue por muito pouco ela conseguiu se
controlar. / Al+m deste contrato atual, vou faer um filme com 4. . @arshell. /
"otando o impacto da informa$%o, Ariel bendisse a intui$%o !ue a tinha feito levar a
conversa para a!uela dire$%o...
/ Nsto + ótimo para você. / 7ord disse a ela. / &ntretanto, estou certo de !ue
você + a primeira a reconhecer !ue sua profiss%o caracteria(se pelos altos e bai*os...
/ -e estamos falando de estabilidade financeira, doutor 7ord, eu lhe asseguro
de !ue sou capa de atender a todas as e*igências materiais de -cott. -e houver algum contratempo em minha carreira artística, eu terei como me defender, pois já
tenho prática em lojas de com+rcio e restaurantes0 @as n%o posso crer !ue cada um
de nós tenha de apresentar seu saldo bancário !uando estamos discutindo uma
crian$a0
/ &stou certo de !ue todos concordamos !ue a disponibilidade monetária, em
favor da crian$a, + de fundamental importBncia / igbJ aduiu. O tom de sua voera uma advertência a Ariel. / "%o há d<vida de !ue tanto os avós de -cott !uanto
Ariel esfregou(lhe a barba, com os nós de seus dedos.
/ &u estou bem / disse, em tom definitivo /, e você está ocupado... /
Afastando(se, ela pegou a bolsa, pensando em sair de lá para respirar ar fresco e
ordenar as id+ias.
=&u só preciso passear um pouco>, ela decidiu. ="o caminho pensarei melhor
nisso tudo e resolverei o !ue será melhor...>
8á na porta de saída, Ariel olhou para trás e viu igbJ ainda na janela, com uma
e*press%o de in!uietude no rosto.
/ 1ocê poderia me dier se temos possibilidade de vencer;
/ -im, isso eu posso dier. @as gostaria de dier mais0
Abanando a m%o, Ariel abriu a porta.
/ Nsso já basta0 Agora + continuar firme e forte0
CAPÍTULO VI
ouglas considerou sem sentido tudo o !ue tinha escrito durante o dia e
resolveu es!uecer(se da!uilo. )alve, no dia seguinte, mais inspirado, pudesse salvar
alguma coisa.&le n%o conseguia lembrar(se da <ltima ve em !ue ficara t%o blo!ueado.
epois de ter ficado, por mais de de horas, trabalhando no script , com todo o
empenho, o resultado n%o o satisfaia. A!uilo era fora do comum e frustrante.
Ariel...
#ue tipo de obsess%o havia criado; ouglas estava assustado com a !ueda da
!ualidade de sua produ$%o. 8amais mulher alguma, nem mesmo Li no apogeu de seudesastrado casamento, afetara tanto o trabalho de ouglas. @as esta mulher... &sta
sentimentos e de sua mente... & !uando sentiu o corpo entregar(se, a mente fra!uejar,
Ariel admirou(se de ouglas n%o ter ouvido a alma dela gritando de amor...
ouglas se encontrava surpreso e at+ chocado com o ardor de Ariel. "unca
tinha estado com uma mulher t%o ardente e !ue e*igisse tanto. & o problema, para ele,
n%o era de ordem física, já !ue ele sentia o mesmo desejo por ela. @as o !ue o inibia
era a e*periência anterior, com Li, !uando a imprudência, em situa$%o semelhante,
custara(lhe bastante3
esolveu, ent%o, tratá(la com solidariedade. &le daria a ela um apoio de alguns
momentos, para o !ue a afligia na!uela hora, e nada mais. ouglas acariciou os
bra$os e os ombros de Ariel e perguntou
/ #ue tal este lindo dia;
Ainda com a boca muito pró*ima da dele, as m%os acariciando(lhe o rosto,
Ariel só se moveu para um sorriso.
/ &stá maravilhoso.
/ 1amos embora. / ouglas conduiu(a, pela m%o, at+ a porta.
/ Obrigada0 / Ariel encostou a cabe$a no ombro dele. O gesto, com o !ual
n%o estava acostumado, enterneceu(o e o dei*ou preocupado.
/ Obrigada por !uê;
/ 4or!ue você n%o me fe perguntas.
/ &u, geralmente, n%o me intrometo em assuntos alheios.
/ K verdade; / Ariel sorriu, ironicamente, e continuou / 4ois eu sou uma
intrometida incorrigívelG todos nós somos e gostamos de saber da vida dos outros,
como você, só !ue o mocinho a!ui disfar$a melhor do !ue a maioria3 / "%o + nada pessoal, n%o +; / perguntou ouglas, !uando o elevador
chegou ao t+rreo.
Ariel riu e contestou, en!uanto caminhavam pelo sagu%o
/ K pessoal mesmo0 K, sim0
ouglas notou uma segunda inten$%o no olhar dela...
/ -im, / admitiu ele. / K isso mesmo. @as acontece !ue, como escritor, eu posso observar, analisar, introduir(me nos pensamentos e sentimentos alheios, sem a
ouglas, de repente, pulou no balan$o em movimento e com muita agilidade,
em p+, segurando(se nas correntes, impulsionava(o mais e mais.
Ariel, espantada, dei*ou !ue sua cabe$a repousasse abandonada, em um par de
co*as firmes e musculosas...
/ @ais alto0 @ais alto0 / Ariel pedia, com um gargalhar e*citado.
/ 8á !ue você !uer...
/ "ós n%o vamos cair0 @ais alto, ouglas, por favor0 / Ariel n%o se continha
de praer.
#uando ela virou o rosto para ele, ouglas ficou deslumbrado. Ariel estava
linda, mas n%o com a!uela belea fria e estudada !ue as cBmeras mostravam. "%o
lembrava em nada as figuras de ebeca e de Amanda.
&ra apenas Ariel. 4ela primeira ve, desde !ue tinha come$ado a sair com ela,
ouglas sentiu alguma esperan$a em um futuro feli.
& entre risadas e entusiasmo contagiantes, os dois es!ueceram(se do mundo em
volta e dei*aram(se levar, mais e mais rápido, mais alto, at+ a e*aust%o.
-altando do balan$o, Ariel n%o parava de sorrir.
/ Oh, como foi maravilhoso0 Agora estou morrendo de fome0
/ @as você já tomou sorvete0 / ouglas retrucou, pulando do balan$o.
/ @as ainda estou faminta0 &u preciso de um cachorro(!uente de verdade,
com todos os acompanhamentos0
/ 'm cachorro(!uente... / a maneira !ue ela falou foi t%o natural !ue
ouglas curvou(se para beijá(la. / 1ocê sabe o !ue eles pem nessas comidas;
/ "%o e nem !uero saber0 #uero + me empanturrar com !ual!uer ingrediente!ue o sanduíche tenha e saciar a minha fome.
/ 1ocê + uma mulher incrível / ouglas afagou(a, com carinho.
/ Nsto foi a coisa mais linda !ue você já me disse. / O sorriso de Ariel ficou
mais meigo. / eije(me de novo, a!ui e agora, en!uanto ainda me sinto totalmente
romBntica.
ouglas pu*ou(a, atendendo(lhe o pedido. &, mais uma ve, surpreendeu(se pela forma com !ue um gesto natural, um beijo t%o suave, p6de dei*á(lo t%o e*citado.
/ 4elo jeito, você confia mesmo em mim / ele disse, en!uanto pagava o
lanche.
/ & por !ue n%o confiaria;
/ Com essa conversa, vai faer com !ue o meu ego estoure0
/ -ua pe$a =A ebeli%o> foi brilhante, bem(feita, muito forte, com e*celentes
caracteria$es3 @as n%o foi t%o divertida !uanto =)er$a(feira )riste> / ela
comentou, en!uanto e*perimentava o sanduíche.
/ #uando escrevo, minha finalidade n%o + sempre a de divertir / ele
e*plicou.
/ -ei disso. @as + a minha opini%o de espectadora. Como atri, devo entreter
o p<blico. Como espectadora, por+m, eu !uero mesmo + ser entretida0
)emperando o cachorro(!uente, ouglas retrucou
/ 1ocê di isso por causa da novela...
/ "%o fale desse jeito, por favor. / Ariel dirigiu(lhe um olhar cheio de
censura. / -e eu fosse boa acrobata ou e!uilibrista, estaria muito feli em um circo0
ouglas percebeu !ue a!uele cachorro(!uente era a melhor coisa !ue tinha
comido nos <ltimos tempos.
/ 1ocê + talentosa / ele disse, mas n%o notou a surpresa !ue isso causou. /
"%o entendo por!ue você n%o está num filme de classe, ou no teatro. 'm seriado,
mesmo sendo semanal, + um trabalho e*austivo, e nunca muito reconhecido0 Nr ao ar,
como personagem principal, cinco dias por semana, + terrível, e*austivo para você e
para o p<blico0
/ "%o + bem assim3 Adoro faer novela, por!ue ela + um desafio diário !ueme mant+m sempre ocupada. @as tamb+m gosto muito de teatro3
/ @as você está representando o mesmo personagem há cinco anos...
/ 4ois +, mas as novelas s%o cheias de surpresas, at+ para os artistas. &u nunca
sei o !ue v%o faer com o meu personagem. e uma hora para outra, para melhorar
os índices de audiência, ou para adaptar o enredo, eles mudam tudo. Agora, por
e*emplo, Amanda está encarando o fracasso de seu casamento, uma acusa$%o deaborto e o reaparecimento de seu velho amor. "%o + nada monótono0 & embora seja
segredo, vou contar !ue ela, como psi!uiatra, vai ajudar a polícia no diagnóstico do
=&s!uartejador de )raderYs end>0
/ O !uê;
/ Como em =O 7ilho de 8ac2, o &stripador> / disse ela, suavemente. / O
antigo namorado dela, Hriff, + o suspeito n<mero um0
/ 1ocê n%o acha !ue + uma trama muito complicada para um lugarejo já t%o
problemático como )raderYs end;
/ 'm pouco.
/ Acho !ue todo escritor precisa pensar muito antes de escrever.
&m seguida, os dois caminharam em silêncio. Ariel pensava em Amanda e no
!ue ainda lhe estava destinado. ouglas, de repente, parecia estar muito longe dali.
&le se mostrava t%o absorto !ue foi necessário Ariel detê(lo !uando chegaram
na frente do pr+dio onde ele residia. @uito trabalho, privacidade e a solid%o
normalmente t%o apreciada estavam lá em cima, ? espera dele. @as ouglas tinha
outras inten$es.
/ -uba comigo / ele sugeriu.
O convite foi simples, mas a inten$%o bastante clara. & Ariel estava muito
inclinada a aceitar3 @as resistiu
/ "%o, + melhor !ue eu n%o vá0
/ 4or !uê; A gente se deseja, Ariel. / ouglas agarrou a m%o dela, antes !ue
Ariel pudesse evitar.
=-e tudo fosse t%o simples3>, pensou ela, en!uanto sentia crescer, dentro de si
o desejo de ser possuída por ele. Ariel sabia muito bem !ue nada seria muito simples, para cada um deles, depois !ue tudo come$asse. 4ara ouglas, havia muita
desconfian$a a superar, para ela, muitas fra!ueas a revelar...
/ -im, eu !uero você0 / Ariel respondeu, reconhecendo !ue a fuga na!uele
momento era a pior atitude a ser tomada. / @as, se eu subir, nós vamos acabar indo
para a cama, e nenhum de nós está preparado para isso0
/ Ariel, se você está !uerendo se faer de difícil, n%o perca seu tempo0&la largou imediatamente a m%o dele e falou num tom seco
/ &u gosto de representar, e sei fingir muito bem0 @as nunca com esses
assuntos0
/ & eu n%o tenho mais paciência para romances de folhetim, com champanha
e lu de velas.
/ 7elimente, n%o preciso desse tipo de vulgaridade0 / 8á mais calma, ela o
beijou. / 4ense em mim / pediu, en!uanto voltava(se para ir embora.
1endo(a partir, ouglas reconheceu !ue estava pensando nela um pouco
demais3
CAPÍTULO VII
O trabalho seria estafante, os dias, longos, e as noites, maldormidas, com muito
desgaste físico e mentalG mas Ariel adoraria tudo isso...
Os produtores da novela estavam colaborando plenamente com @arshell / a
estrat+gia da emissora estava voltada para a valoria$%o de cada profissional. A
palavra(chave era, sempre, =índices de audiência>. @as foi Ariel !uem teve de
encontrar tempo para estudar dois pap+is e decorar longos trechos das falas de
Amanda e de ebeca.
&m outras circunstBncias, Amanda poderia at+ ficar afastada por alguns
capítulos, mas com o reatamento de seu caso com Hriff, e com o es!uartejador ?solta, isso n%o foi possívelG Amanda tinha muita importBncia nessas tramas.
Al+m de tudo, Ariel precisou gravar in<meras cenas em um curtíssimo espa$o
de tempo de três semanas, vivendo e*clusivamente para o novo filme. @esmo
por!uê, se este atrasasse, Ariel iria precisar faer Amanda e ebeca nos mesmos dias.
As perspectivas de acordar ?s cinco da manh%, para trabalhar deoito horas,
n%o arrefeciam o entusiasmo dela. 4ara Ariel, isto, al+m de ser natural, a ajudava aes!uecer, por alguns períodos, o processo de tutela, no !ual tinha audiência marcada
& havia ouglas... A id+ia de trabalhar com ele, em contato diário, num mesmo
filme, era muito estimulante e dava mais disposi$%o a Ariel. Ainda mais por!ue os
ensaios mostraram !ue ele estaria t%o envolvido no filme !uanto os artistas e a e!uipe
t+cnica.
&m todas as reunies de !ue participava, ouglas falava pouco / e n%o era
contestado. A ra%o parecia simples ele só abria a boca !uando tinha a absoluta
certea de estar falando algo verdadeiro.
Apesar, da necessidade !ue ela sentia de manifestar seu amor, a!uele período
n%o a apro*imou de ouglas. @as o tempo conspirava contra isso. O problema maior
era a falta de confian$a demonstrada por ele.
#uantas vees, durante os ensaios, Ariel sentiu !ue ouglas a observava com
grande interesseG e !uantas vees viu !ue ele se afastava dela, ostensivamente, sem
!ual!uer motivo0
O dilema de Ariel era !ue !uanto melhor desempenhava ebeca, mais ouglas
a rejeitava. & ela n%o sabia como modificar esse estado de coisas.
"o elegante cenário onde, ? meia(lu, ebeca e 4hil jantavam lagosta com
champanha, um guarda do est<dio notou !ue as jóias !ue Ariel usava, gargantilha e
brincos, com brilhantes e safiras, n%o eram de imita$%o, palavra proibida nas
produ$es de @arshell...
&ssa ceia íntima estava, na realidade, acontecendo ?s oito da manh%, na
presen$a de todo o pessoal do est<dio. )omando um gole de guaraná !uente de sua
ta$a de champanha, Ariel riu, asperamente, e chegou perto de 8ac2.&la sabia o !ue a cena e*igia se*ualidade pura e simples, sob um ligeiro verni
de sofistica$%oG isto, mais nos gestos, nos olhares, !ue nos diálogos, de tal forma !ue
ela teria !ue representar um papel dentro do próprio papel. ebeca, sua personagem,
era uma mulher essencialmente falsa !ue, na!uela noite, por e*emplo, resolvera usar
a fachada de esposa sedutora3 & a fun$%o de Ariel era mostrar !ue ebeca
representava, e !ue o faia muito bem. -e o desempenho da atri Ariel n%o fosse bom, isso prejudicaria as rea$es de 4hil e, em conse!Mência, toda a estória.
4ouco antes de repetirem a cena de novo, ela notou mais uma ve o olhar de
ouglas. 1isualiou a barreira !ue ele !ueria colocar entre os dois, e resolveu
esconder(se dentro de sua personagem3
#uando a cena come$ou a ser filmada, Ariel já ignorava a bebida morna e a
presen$a de toda a e!uipe t+cnica com suas má!uinasG concentrava(se, apenas, no
homem em frente a ela, !ue tinha dei*ado de ser um colega ator para ser uma vítima
programada de uma mulher trai$oeira. &la sorriu para alguma coisa dita por ele /
um sorriso !ue ouglas conhecia muito bem sedutor como renda preta, frio como
gelo0 "%o havia homem nenhum, sobre a face da terra, !ue resistisse a ela.
"o momento da frase !ue Chuc2 tinha mencionado, Ariel parou, mergulhou a
ponta do dedo na ta$a de 8ac2, tocou seus próprios lábios umedecidos, e, em seguida,
os lábios de 8ac2. At+ mesmo !uando aprovou o brilhante improviso, ouglas sentiu
uma ponta de ci<me...
=&la aprendeu a conhecer ebeca>, pensou ele, =!uase t%o bem !uanto eu>.
Aliás, t%o bem !ue, para ouglas, era muito difícil separar as duas em seus
pensamentos. 4or !uem ele sentia ci<me, !uem o atraía; "a verdade, ouglas havia
misturado realidade e fic$%o, sem limites bem delineadosG procurara / e achara /
uma atri !ue fosse capa de respeitar o !ue tinha escrito. Agora, sentia(se indeciso
entre a estória e a vida real. & a mulher !ue ele desejava tanto poderia ser a lu de seu
futuro como poderia ser, novamente, a escurid%o.
/ Corta0 Corta e imprime no filme definitivo0 7antástico0 / indo muito,
Chuc2 correu e beijou a ambos, Ariel e 8ac2. / 1ocês foram muito felies, a cena
saiu magnífica0 / Obrigado pelo incentivo / 8ac2 falou, sorrindo. / @as você sabe ser
chato, hein, Chuc2;
/ e minutos / o diretor avisou. / 4reparem(se para as cenas seguintes0
ouglas, o !ue você achou;
/ &*celente0 / Com os olhos fi*os em Ariel, já sem os ci<mes !ue o
afligiram, e notando !ue ela n%o tinha nada de =gata>, agora, pois parecia esgotada,ouglas caminhou em dire$%o a ela, transbordando de vontade de tocá(la.
4or um curto momento, estiveram em conflito na!uele camarim, a ra%o e os
sentidos corpóreos, a necessidade de conten$%o e a vontade de ser livre, a lógica e os
sentimentos3 @as o simples encontrar dos lábios de ambos deu a Ariel todo o
sentido de vida !ue esperava. -eguindo os impulsos fren+ticos do cora$%o, seu corpo
enroscou(se no de ouglas, oferecendo(se todoG seus lábios afastaram(se,
convidando, sua língua tocou a dele, provocando, a respira$%o entrecortada3
Ariel sentiu !ue o mundo girava. A vontade de se entregar aos próprios desejos
aumentava a cada instante.
O corpo de ouglas contra o seu a instigava. Abandonou(se totalmente ao
praer intenso, !ue lhe a!uecia e a faia vibrar...
A!uela entrega fe ouglas lembrar da mulher ideal, !ue sonhava e*istir em
seus romances. Ariel, no entanto, era real e estava ali, muito mais ardente do !ue ele
podia esperar, mais espontBnea em suas emo$es !ue !ual!uer outra mulher.
-e o desejo de ouglas era forte durante as filmagens, e aumentou !uando a
viu cochilando no camarim, agora ficara incontido com a sensualidade de Ariel, com
a variedade de emo$es !ue ela demonstrava e o faia sentir. econheceu !ue
precisava dela, como nunca tinha precisado de ningu+m, e como nunca pensou
precisar3
e repente, um tanto confuso, imaginou se n%o seria muito tarde para os dois3
)arde para come$ar, tarde para desistir3 @as os gestos alucinados !ue o
provocavam fieram !ue ele se es!uecesse de tudo.
"um relance, ouglas despiu(a do roup%o, vendo um corpo t%o doce e t%o
delicado !ue parou, com medo de machucá(lo3 @as a!uele corpo era !uente, eaderiu ?s m%os e ao corpo dele com um abra$o terno, profundo, de absoluta
rendi$%o3
&ra, entretanto, pouco para os desejos de Ariel, !ue sentiu a roupa de ouglas
ferindo(lhe a pele, impedindo(a de um contato maior. &nt%o, vagarosamente, ela o
despiu.
#uando se inclinou para o sofá, Ariel n%o resistiu. )%o logo viu(se deitada, pu*ou a cabe$a de ouglas e o beijou sofregamente, agitada por deliciosos tremores,
/ 4or !uê; / 4elo espelho, ouglas viu a raiva estampada no rosto dela.
/ &sta + a sua pergunta predileta; 4or !uê; / &nfurecida, Ariel vestiu a blusa
e falou / em, eu vou responder, e você n%o vai gostar + por!ue você ainda me
compara a ela0 / & !uando ouglas cal$ava os sapatos, Ariel refor$ou a dose /
@esmo depois do !ue já aconteceu entre nós, você ainda me compara a ela0
/ K possível... / ouglas vestiu o su+ter. / K bem possível !ue eu compare,
mesmo0
/ Nsto me ofende0 / Ariel enfiou de !ual!uer jeito suas cal$as jeans.
/ esculpe(me / murmurou ele.
ouglas n%o esperava por a!uelas palavras, !ue, por sua simplicidade, sua
sinceridade, desarmaram(no.
/ &u nunca fui muito gentil, Ariel... / Chegando mais perto dela, ouglas
percebeu o !uanto a havia magoado.
/ &u sei / ela respondeu /, mas + difícil para mim acreditar !ue um homem
t%o inteligente possa estar t%o aprisionado3
/ )alve seja mais prático dier !ue você n%o fa parte dos meus planos
futuros... / ele falou, de maneira seca.
/ Nsto já está bem claro0 @as !uero lembrá(lo !ue vivo intensamente cada
momento da minha vida pessoal. / Ariel fe uma pausa e depois acrescentou / &
de uma ve por todas gostaria !ue entendesse !ue eu n%o sou a personagem !ue você
criou e muito menos a mulher !ue a inspirou0
/ Ariel0 / A vo dele agora mais parecia um apelo. / Ariel0 &u a ferirei denovo0 4or mais !ue eu tente evitar, se continuar a vê(la eu a ferirei de novo0
Ariel rela*ou, com um suspiro.
/ -im, eu sei3
/ & mesmo sabendo, tamb+m, !ue você poderá ser um transtorno para a
minha vida, eu !uero continuar a me encontrar com você... / ele falou.
Ariel enla$ou a m%o !ue ouglas colocou em seu ombro. / @as você n%o sabe por !uê3 n%o +, ouglas;
/ 4e$a o jantar para nós dois. / Ariel apoiou a cabe$a no ombro de ouglas.
/ 5á duas coisas definidas eu estou faminta e !uero jantar com você0 epois do
jantar, poderemos conversar ? vontade3
=&la +, de fato, e*traordinária>, pensou ouglas, beijando a testa de Ariel.
/ e acordo0 O !ue você !uer comer;
/ 4ia de champignons com vinho branco.
/ 4ia;
/ as grandes0 & com bastante champignon0
-orrindo amigavelmente, ouglas abra$ou Ariel, já imaginando !ue n%o
pretendia mais dei*á(la, e maravilhando(se com a!uele jantar t%o simples !ue
marcava o início de um lindo romance, cheio de esperan$as.
CAPÍTULO VIII
Ws sete horas da manh%, o movimento era intenso no est<dio. &m meio a todo
a!uele burburinho, en!uanto relia pela <ltima ve o te*to !ue seria encenado, Ariel
recebia os <ltimos reto!ues em sua ma!uilagem.
A cena n%o era das mais fáceis e, tendo de se apresentar soinha em boa parte
dela, Ariel !ueria estar bem entrosada com o seu ritmo para n%o perder o trabalho detodo o elenco.
@as ela n%o conseguia se concentrar...
O domingo em companhia de -cott, fora maravilhoso, salvo na despedida cheia
de lágrimas. 4or ter sido a primeira ve em !ue isso havia acontecido, por ter sido na
presen$a dos avós de -cott, e sob os olhares acusadores destes, Ariel sentia(se a
responsável e estava presa a um processo de culpa !ue teimava em n%o a abandonar.esde o momento em !ue dei*ara -cott com os avós, Ariel n%o parava de se
/ &u tamb+m mas me conte... / O olhar de -tella resvalou pelo vestido de
Ariel !ue, embora recatado, era bastante sensual. / Como você se sente
representando a mulher má, para variar;
/ K maravilhoso / os olhos de Ariel brilharam /, mas cansativo. K o papel
mais árduo !ue já representei0
/ 1ocê sempre disse !ue gostaria de representar o meu personagem... /
-tella esticou o assunto.
/ K3 )alve tenha e*agerado um pouco. / Ariel concordou. / @as n%o me
lembro de nenhum trabalho t%o penoso !uanto este0
/ 4or !uê;
/ eve ser por causa da própria ebeca, !ue está sempre representando um
papel. Nsto me obriga a assimilar meia d<ia de personalidades e transformá(las em
uma só pessoa...
/ @as você anda se saindo muito bem / observou -tella.
/ K o !ue parece.
/ & o seu gal%, 8ac2 ohrer; #ue tal como colega;
/ Hosto de trabalhar com eleG + um perfeccionista, como todos os outros da
turma0
/ & o ilustre ouglas e itt;
/ Conhece tudo do ramo / Ariel tentou desconversar.
/ Nnclusive a atri principal, pelo !ue ouvi dier3
/ 7ofocas, -tella, fofocas...
/ )odos a postos0 / Ouviu(se o grito de um dos t+cnicos, !ue conferia a posi$%o das pessoas e do cenário.
/ Agora preciso ir, -tella... / Ariel beijou a amiga e se afastou.
e p+, apoiando(se em uma parede, já !ue era muito raro ele sentar(se,
ouglas ficou observando a filmagem de uma longa cena. O restante da programa$%o
do dia seria cumprido ao ar livre uma festa, a primeira !ue o casal ebeca e 4hiliriam após o casamento, e, mais tarde, na intimidade, uma cena de sedu$%o...
ebeca mais parecia uma estátua de geloG suas palavras eram cortantes e
trai$oeiras. @esmo com toda a f<ria reprimida, a e*press%o dela se mostrava
impassível. &sse foi o =to!ue> encontrado por Ariel para caracteriar o sangue(frio da
personagem, en!uanto suas palavras a$oitavam3
A cena abordava mais uma das in<meras crises do casal. esta ve, 4hil estaria
cheio de ci<mes pelo sucesso artístico !ue a esposa come$ava a obter. & !uando esta
ridiculariava um pe!ueno defeito de dic$%o de 4hil, alimentando o clima emocional
do !uadro, a cena, para alívio de Ariel, foi cortada.
"o íntimo, desejava !ue a!uele filme, onde representava a mulher !ue havia
martiriado ouglas, terminasse de uma ve3
/ )odos a seus lugares0 1amos come$ar de novo0...
4ela terceira ve, na!uela manh%, Ariel e todo o elenco voltaram aos lugares
designados para o início da filmagem da cena...
O final deveria mostrar ebeca tirando um copo de uís!ue da m%o de 4hil,
tomando um gole, com um sorriso artificial, e jogando a sobra no rosto dele. @as,
para surpresa geral, Ariel derramou o conte<do do copo num vaso de flores. 8ac2
tomou o copo da m%o dela e o atirou no ch%o.
/ Corta0
1oltando(se, Ariel encarou o diretor.
/ Oh, eus, Chuc2, eu n%o sei por !ue fi isso0 @e desculpe0
/ "%o, n%o0 e jeito nenhum0 / Com um abra$o apertado em Ariel, ele
continuou / Nsto foi ótimo0 4ena !ue a id+ia n%o foi minha0 ebeca teria feito
e*atamente isto0 / &, virando(se para um canto / "%o +, ouglas; / -im, n%o + preciso filmar de novo... / Com os olhos presos em Ariel, ele
tamb+m !uis ser o autor da id+ia. / Chuc2, agora você parece conhecer ebeca
melhor !ue eu.
/ Nsto + um elogio; / Chuc2 es!uivou(se de um comovido aperto de m%o de
Ariel, para apro*imar(se de ouglas.
/ Apenas um comentário. &u n%o !uero dar carta branca completa a ningu+mGmas estou disposto a concordar !ue você e Ariel tenham uma certa liberdade para
Ariel, entretanto, n%o reclamava. Acima de tudo, por!ue gostava de representar,
mesmo depois de ter repetido de vees uma cena em !ue ebeca montava uma
bicicleta, en!uanto discutia um novo contrato3
Com os m<sculos doloridos, ela dei*ou a bicicleta, en*ugando o suor real !ue
escorria(lhe pelo rosto, !uando viu -tella.
/ 4obre garota0 / e*clamou -tella. / Lembre(se de !ue, na nossa novela, o
trabalho n%o + t%o pesado0
/ ebeca era fanática por seu corpo / resmungou Ariel, dando de ombros.
/ &*ercício sempre + muito bom / Chuc2 brincou com ela, de passagem. /
)ome uma chuveirada !uente, você rela*ará0
/ 1amos, farei companhia para você, en!uanto se arruma. epois, terei um
encontro maravilhoso0 / -tella tentava animá(la.
/ &ncontro;
/ -im, o meu novo dentista. 7ui lá para uma revis%o e no fim.
/ #ue coisa boa... / Ariel entrou em seu camarim.
/ &le + t%o doce, t%o s+rio no trabalho0 / -tella, nervosa, tamb+m entrou no
camarim. / &... / Nnterrompendo(se, -tella desabou no sofá, ainda em desordem3
/ &u me lembro de uma defini$%o de amor !ue você deu há algumas semanas. & +
e*atamente isso n%o parei de sonhar desde !ue me sentei na!uela cadeira reclinável,
t%o aconchegante, e vi a!ueles olhos auis...
/ Nsto + lindo0 / "a!uele momento, Ariel es!ueceu(se das dores !ue sentia e
do suor !ue ainda gotejava. / Nsto + realmente lindo, -tella0
/ Ouvi dier !ue as pessoas apai*onadas conseguem identificar(se umas comas outras. / &la olhou com firmea para Ariel, como se !uisesse ler a alma da amiga.
/ e acordo com essa teoria, desconfio !ue você está apai*onada por ouglas e
itt0
/ & + a primeira ve0 / Ariel continuava a despir a roupa !ue usara no
est<dio.
/ 1ocê sempre gostou de pap+is difíceis3 / -tella olhou, ironicamente, paraAriel.
!ue a pró*ima bicicleta !ue eu andar por de !uil6metros n%o vai ficar presa no ch%o.
/ K, você nunca ficaria contente sempre no mesmo lugar0 / ouglas ro$ou
os lábios dela com os seus, recuando !uando Ariel !uis transformar a!uele simples
contato num beijo. / &u lavarei suas costas...
/ Hostei da id+ia, mas devo avisá(lo de !ue gosto da água bem !uente, !uase
fervendo0
Ao caminharem para o banheiro, ouglas abra$ou(a, sentindo !ue a
temperatura de Ariel correspondia ? ansiedade dele3
/ 1ocê acha !ue eu n%o irei agMentar;
/ Acho !ue você + bastante forte para um escritor3 / Ariel come$ou a
desabotoar a camisa de ouglas.
"um movimento brusco, ele arrancou(lhe a blusa e deu(lhe uma leve mordida
no ombro.
/ & eu já disse !ue você + bastante macia para uma atri3 / falou, correndo
as m%os para bai*o, e a pu*ando pela cintura.
/ 1ocê ganhou0... / foi o !ue Ariel conseguiu murmurar, já !uase sem
respira$%o, !uando ele continuou a despi(la. &, entre frases inconse!Mentes e carícias
s6fregas, Ariel tamb+m o despiu. Afastando(se, ela abriu as torneiras, e logo em
seguida respingos de água e uma densa nuvem de fuma$a ocupou todo o banheiro.
Ariel fechou os olhos e abandonou(se ao calor, aos perfumes e ? pro*imidade deouglas.
&ssa característica de Ariel era uma das !ue o cativavam a capacidade !ue ela
possuía de sentir, de viver intensamente cada momento, de um modo t%o original !ue
o faia parecer <nico. &, por ser <nico, e*citante3
#uando a água corria entre eles, ouglas abra$ou(a, pelas costas, e sentiu
ternuraG afei$%o e ternura, como nunca havia e*perimentado antes. & Ariel, sob o jatode água, resumiu, numa fra$%o de segundo, !ue, para ela, n%o faltava mais nada, al+m
nos bolsos. / -ó n%o posso + dei*á(la soinha, a!ui ou em !ual!uer lugar.
/ &u n%o !uero você, nem ningu+m comigo / gritou ela, já descontrolada. /
"%o dá para entender !ue eu preciso ficar soinha;
&le a encarou, en!uanto Amanda, trêmula, esfor$ava(se para segurar as
lágrimas.
/ &u amo você, @andJ0 / falou, com uma vo frágil, !ue mal p6de ser
ouvida3
'ma cBmera, bem pró*ima, registrou uma <nica lágrima escorrendo pela face
de Amanda.
/ "%o0 / suspirou ela, tentando afastar(se. @as os bra$os de Hriff
seguraram(na, traendo(a de novo para perto dele.
/ -im, você sabe !ue + verdade. 1ocê + o <nico amor de toda a minha vida0
-em você, eu morrerei.
Com o olhar vago, Amanda descansou a m%o sobre o ventre, onde sabia !ue o
filho de Cameron estava sendo gerado, um bebê !ue Hriff nunca aceitaria e !ue ela
n%o poderia rejeitar.
/ 4or favor, dei*e(me em pa, Hriff.
/ "ós nos pertencemos... / ele murmurou, repousando o rosto na cabe$a
dela. / "ós sempre pertencemos um ao outro, @andJ3
/ 1ocê precisa entender, Hriff, !ue tudo acabou.
/ Nsso nunca, Amanda0 / &le abriu a porta e saiu sem olhar para trás.
Logo em seguida, Amanda atirou(se no sofá, enterrou o rosto num travesseiro,
e chorou. A cBmera apro*imou(se, devagar, da janela, para mostrar uma sombra dehomem, oculta atrás das cortinas fechadas3
/ em, bem / ironiou ouglas /, pelo jeito a sua amiga n%o se deu ao
trabalho de economiar fita gravou tamb+m o intervalo comercial. / epois, de
maneira mais s+ria, comentou / Amanda tem lá seus problemas, n%o, Ariel;
/ & como tem0 / &la acomodou(se melhor nas almofadas. / K o !ue
acontece nas novelas para cada problema resolvido, logo surgem outros três. / &nt%o, ela está levando Hriff a uma crise só para ser mais fácil agarrá(lo;
Antes !ue ouglas pudesse responder ? inesperada confiss%o de Ariel, ela jáestava sendo chamada para reiniciar as filmagens. @as antes precisaria refaer o
sua típica postura de manter distBncia, sem estar longe3 & n%o demonstrou a menor
rea$%o ao olhar !ue sua e*(mulher lhe mandou...
"em mesmo Ariel conseguiria, na!uela hora, descobrir o !ue se passava na
mente dele3
/ &u n%o consegui ler a estória / Li continuava a conversar com @arshell,
os olhos fi*os em ouglas /, mas soube de alguns episódios. 7i!uei fascinada0 &
um tanto aborrecida, por!ue você n%o me convidou para faer o filme0...
Os olhos de @arshell arregalaram(se, mas ele desvencilhou(se com diplomacia
/ 1ocê + inacessível, Li3
/ & n%o apropriada para o papel / acrescentou ouglas, frio.
/ Ah0 ouglas0 -empre a inteligente e autoritária =<ltima palavra0> / Li
jogou fuma$a em dire$%o a ele e sorriu.
Ariel conhecia, das telas, a!uele sorriso mortífero.
O ambiente n%o estava bom. "%o declaradamente hostil, mas gelado. Ariel
olhava em volta, analisando as impresses !ue captava. -entia(se soinha, com uma
profunda sensa$%o de abandono.
/ em... / Li falou, de maneira fulminante. / K fácil deduir !ue a!uela
ali + ebeca.
/ "%o0 / Nnconscientemente, Ariel usou o sorriso padr%o de Li. / &u sou
Ariel 9ir2:ood. ebeca + apenas uma personagem.
/ "%o e*iste a menor d<vida0 / O altivo franir da testa de Li já havia sido
visto em deenas de filmes. / &u + !ue tenho a mania de assumir a personagem !ue
estou representando. / & o fa maravilhosamente bem, senhorita 5unter. &u só consigo !uando as
lues est%o acesas / respondeu Ariel, com absoluta sinceridade.
/ -erá !ue eu já vi você em outro papel, !uerida; / 'm vago sinal de
contrariedade aparecia nos olhos de Li.
/ 4ossivelmente / Ariel respondeu.
ouglas n%o estava gostando nem um pouco de vê(las juntas. @as o reencontrocom a e*(esposa fora muito bom n%o havia sentido absolutamente nada por ela, nem
@as a chegada de Ariel o havia confundido. As duas poderiam ser irm%s. A
semelhan$a física era real$ada pelo fato de Ariel estar vestida de ebeca e acentuada
pelo penteado e a ma!uilagem.
/ 1amos voltar ao trabalho0 / ordenou ouglas, secamente. Li dedicou(lhe
outro olhar col+rico.
/ "%o se preocupe comigo, estarei fora do caminho. / Li sentou(se a um
canto do est<dio, junto com estranhos, para observar as filmagens.
A plat+ia perturbava Ariel. A cena !ue filmariam era difícil, e nela Ariel estava,
mais !ue em !ual!uer outra, envolvida com a personalidade de ebeca.
Com uma e*press%o levemente aborrecida, Li assistiu ? cena. O diálogo n%o
fora feito como uma cópia fiel do !ue ocorrera entre ela e ouglas na vida real, mas
ela reconheceu a própria identidade3 =@aldito>, ela pensou, com um pe!ueno
vestígio de raiva em seu rosto, =@aldito, pela boa memória e pelo talento0 & maldito,
por!ue se vinga assim0>
e repente, o ci<me de Li foi se transformando em inveja e em f<ria. =O
papel deveria ser meu>, ela pensou, =e eu teria acrescentado muito mais ? figura de
ebeca.>
&nt%o, seus olhos encontraram os de ouglas, e ela !uase soltou um palavr%o
!uando percebeu !ue ele ria para ela, tran!Milamente. =1ocê vai me pagar por isso>,
ela pensou.
ouglas lembrou(se de !ue Ariel tinha dito !ue o amava. -eria possível; 'ma
ve ele havia acreditado em uma mulher !ue lhe falava as mesmas palavras... & ele,será !ue amava Ariel; 'm dia acreditou !ue tinha encontrado o amor, mas na verdade
fora traído por uma belea estonteante, por um grande talento, e por um modo
indiferente de encarar o se*o. @as o conceito !ue Ariel faia do amor tamb+m o
assustava. A!uilo poderia afetar as coisas !ue ele mais preava, !ue eram sua
privacidade e seu sossego.
/ Corta0 Corta, e está aprovado0 / Chuc2 co$ou a cabe$a para aliviar atens%o. / 4rofiss%o desgra$ada0 / &, para Ariel e 8ac2 / 1ocês s%o ótimos0 Chega
A água estava um tanto agitada, e no c+u havia um pren<ncio de tempestade.
@as haveria ainda duas horas, no mínimo, para uma atraca$%o segura, e, pelo
menos, mais uma hora de sol e c+u límpido. ouglas, !ue usava apenas short e
sandálias, tinha aproveitado / como o fiera nos <ltimos dias / para velejar o
má*imo possível, depois de noites de e*austivo trabalho.
@as, nesses dias !ue reservara para isolamento e descanso, n%o havia
encontrado a pa de espírito nem a felicidade !ue esperava. )alve estivesse com
comple*o de culpa por ter se afastado do trabalho. @as, no fundo, sabia !ue sua
presen$a n%o era t%o indispensável no est<dio e, al+m disso, seria natural !ue ele se
distanciasse, por alguns dias, das presses da filmagem e do próprio perfeccionismo.
"ada disso, entretanto, era verdade. O !ue ele havia procurado, realmente, fora
afastar(se de Ariel e fugir da fortíssima influência !ue ela vinha e*ercendo sobre seus
sentimentos, e n%o obtivera sucesso embora procurasse n%o pensar nela, ouglas
sentia !ue a imagem de Ariel n%o lhe saía da mente. =@as dos males o menor>,
pensou ele, por!ue, se pensar nela o consumia, vê(la, tocá(la, senti(la, o feria muito
mais.
&ntre um gole e outro de cerveja, ouglas continuava ?s voltas com o seu
grande conflito íntimo n%o !ueria ser responsável por nenhum sentimento de
ningu+m n%o !ueria provocar amores e n%o !ueria amar ningu+m, a n%o ser o
trabalho. @as sabia !ue estava só, sentia !ue faltava algu+m em sua vida. "esse clima, ouglas atribuía muitos erros a Ariel de apro*imar(se dele, o de
cativá(lo, o de ser t%o atraente, o de n%o pedir nada em trocaG mas sabia !ue por causa
de tudo isso se encontrava irremediavelmente vencido.
ouglas lembrou(se de !ue o trabalho o esperava. ecidiu, ent%o, cuidar só de
manobrar o barco, usando os m<sculos e a for$a do vento. =4ensar>, resolveu, =só na
hora de escrever de novo... 1ou me manter fisicamente afastado de Ariel at+ !ueconsiga es!uecê(la depois, retomarei a vida normal, como era antes do aparecimento
O tempo, na cidade, tamb+m era amea$ador. &ra a mesma tempestade !ue se
aviinhava, precedida de muito calor. Ariel, seminua em seu apartamento, estava
debru$ada na janela, vendo a f<ria do c+u e3 imaginando como andaria, agora, o
humor de ouglas depois da discuss%o !ue tiveram no est<dio, após a visita de Li
5unter3
A sala de estar de Ariel estava repleta de novas telas, pintadas desde o dia da
visita de Li ao est<dioG elas mostravam bem o estado de espírito de Ariel, a partir da
discuss%o e da ausência de ouglas3
-abendo !ue a defini$%o de seu relacionamento com ouglas poderia acontecer
de uma hora para outra ou demorar alguns anos, Ariel pensou em -cott. A audiência
seria realiada no final da semana e era, tamb+m, um assunto importantíssimo, mas
!ue estaria resolvido em breve. & Ariel preferiu pensar em um só tipo de solu$%o para
o caso ganharia a tutela do garoto0 & logo0 At+ por!ue, ? medida !ue o tempo
passava, cada visita de Ariel, cada passeio !ue ela faia com -cott, eram marcados
pela felicidade !ue ele demonstrava por lhe ser permitido estar com ela, pelos
sofridos abra$os de despedida e pelo desconforto moral !ue o garoto aparentava por
ser obrigado a viver com os avós.
& foi pensando com todas as for$as numa decis%o favorável do jui !ue Ariel
decidiu viver os dias !ue a separavam da audiência.
&n!uanto isso, ouglas, !ue se havia abrigado a tempo da grande tempestade,estava ocupado em seu trabalho de escritor. 4or+m, a chuva cessou, e ele resolveu,
tamb+m, parar por um tempo indeterminado. K !ue a inspira$%o tinha desaparecido, e
ele sabia !ue, !uando isso acontecia, o melhor era n%o insistirG a solu$%o era
interromper, at+ !ue seu c+rebro voltasse ?s condi$es normais de e!uilíbrio3
@as, desta ve, a situa$%o era bem diferente ouglas deu(se conta de !ue
sentia fome, de !ue n%o tinha providenciado o jantar, de !ue o silêncio tornava(sedeprimente e a solid%o, insuportável.
mais fáceis e neste tamb+m, na certa, saberá sair(se bem0
/ & sua parceira; / &ra a pergunta !ue ob !ueria faer e !ue, como ele
percebeu, tirou o autocontrole de Li.
/ K uma mo$a !ue trabalha numa telenovela, eu creio. &u a viG + encantadora,
mas n%o me lembro do nome dela. ouglas, muitas vees, prefere tentar novas
e*periências a trabalhar com artistas já formados.
/ Como aconteceu com você;
/ -e você !uiser, pode considerar assim0 / 'ma leve mudan$a na e*press%o,
no tom de vo, indicou !ue Li n%o estava gostando do rumo da entrevista.
/ &nt%o você diria !ue Ariel 9ir2:ood, n%o + este o nome dela;, + um
capricho pessoal de ouglas e itt;
/ em, eu acho !ue +0 @as n%o posso garantir, ainda... / ela sorriu, com todo
o encanto / ...especialmente numa entrevista ao vivo0
/ A semelhan$a física entre ela e você + impressionante0
/ 1ocê acha; / O olhar de Li ficou duro, gelado. / &u preferiria ser a
<nica, embora fi!ue envaidecida de saber !ue algu+m procura me imitar...
"aturalmente, desejo a melhor sorte a essa mo$a...
/ K simpático de sua parte, Li...
/ #uem me conhece sabe bem como sou, ob0 & eu, na realidade, estou
pensando só em ver o filme pronto, em ver tudo isso acabado0
/ )udo isso acabado; 4or !ue =tudo isso>; &stá havendo algum problema por
lá;
/ "ada !ue eu deva comentar, por en!uanto / disse ela, com indisfar$adarelutBncia. / @as você sabe a diferen$a !ue e*iste entre filmar uma estória e
divulgar fatos, ?s vees desabonadores, referentes a uma pessoa3
/ Algum plano para !uei*as, processos e investiga$es;
&la sorriu, mais por obriga$%o, para enfeitar a resposta
/ Acho !ue isto ajudaria a valoriar e divulgar o filme, ob3
urante o intervalo comercial, ouglas percebeu !ue estava irritadoG n%o comas eventuais conse!Mências das críticas e ironias de Li contra o filme, mas pelo fato
/ &u o farei andar de novo / ele se inclinou e a beijou com pai*%o.
-urpreendida pela vol<pia do beijo e pela inesperada apari$%o dele, Ariel se
entregou ao carinho.
/ & agora como está seu cora$%o; / murmurou ele.
/ 4ode dispensar a ambulBncia / Ariel suspirou, entreabrindo os olhos.
ouglas olhou, ent%o, para a cama desarrumada e para a roupa de Ariel.
/ 1ocê estava cochilando;
/ "%o, senhor0 &u estava trabalhando0 / contestou ela, afetadamente. / K
hora de almo$o e logo mais recome$aremos. / Ajeitando o cabelo, ela prosseguiu,com naturalidade / & você, o !ue fa a!ui; "%o + hora de estar criando frases
inteligentes;
/ -enti vontade de ver você.
/ Nsto + bom0 / &la o abra$ou. / Nsto + ótimo0
&n!uanto a conservava abra$ada, ouglas imaginava !ual seria a rea$%o de
Ariel !uando soubesse o !uanto ele resistira ? id+ia de unir(se a ela, e !uanto estavafeli agora !ue resolvera admiti(la como parte da vida dele. & decidiu !ue ? noite,
/ &u irei levá(la. &n!uanto você troca de roupa, eu aviso !ue, por hoje, você
n%o trabalha mais.
Ariel percebeu !ue deveria mesmo trocar de roupa, pois ainda estava vestida
como Amanda, de camisola.
/ &starei pronta num instante.
&m poucos minutos, realmente, estavam os dois em um tá*i, onde ouglas
redobrava seus esfor$os para tran!Miliar Ariel. @as ela n%o conseguia afastar da
mente a imagem de um se!Mestro, com um estranho arrastando -cott e o for$ando a
entrar em um automóvel...
#uando chegaram ? casa de Ariel, o silêncio do telefone soou como uma
acusa$%o para ela. Apesar de decorridos somente trinta minutos desde !ue soubera do
desaparecimento de -cott, a!uelas três horas e meia sem notícias significavam muito
tempo para um garotinho estar sumido e, para Ariel, uma eternidade...
ouglas era o apoio !ue Ariel tanto precisava, mas n%o bastava para traer
-cott de volta.
/ @eu eus, ouglas, eu n%o sei o !ue faer0 "%o !uero ficar parada0
"a!ueles momentos de afli$%o, ouglas notou o !uanto Ariel precisava dele.
/ Calma, !uerida. / &n!uanto falava, ele a conduiu para uma cadeira. /
1ou preparar um drin!ue para você, um caf+, um calmante, o !ue você preferir.
/ "%o !uero beber agora, e n%o preciso de calmantes0
/ &nt%o, eu vou faer um caf+ / disse ouglas, dei*ando Ariel na sala
andando sem parar, e cada ve mais in!uieta por estar impotente diante da situa$%o.#uando, minutos mais tarde, ela olhou para o relógio, teve a primeira crise de choro.
/ Ariel0 / ouglas traia duas *ícaras de caf+, !uente e forte.
O choro tornou(se convulsivo.
/ ouglas, onde estará ele; -cott + muito novo. &le n%o tem medo de
estranhos0 A culpa + minha, por!ue...
/ 4are com isso0 / ouglas falou com suavidade, mas conseguindo conter o palavreado confuso de Ariel. / 7ale(me sobre -cott, !uerida0
/ &le tem !uatro anos, !uase cinco. 1ai !uerer ganhar um trem el+trico
amarelo no aniversário. &le gosta de ser homenageado. -cott + lindo0 )em uma
imagina$%o prodigiosa0 -e você der uma cai*a de papel%o para ele, + capa de ver
uma nave espacial, um submarino, um navio... & ele vê tudo isso mesmo. 1ocê sabe o
!ue !uero dier; #uando 8eremJ e arbara morreram, ele ficou muito desorientado.
Os três eram muito felies juntos, muito unidos0
ouglas ouvia com interesse, en!uanto Ariel, sentada ao seu lado, m%os dadas
com ele, continuava, sem interrup$es
/ -cott + muito parecido com o pai, tem a mesma simpatia, a mesma
curiosidade... Após o acidente, os Anderson foram nomeados tutores de -cott. #ueria
!ue ele ficasse comigo, mas, na ocasi%o, at+ achei mais natural !ue ele fosse morar
com os avós. @as, agora3 / ela olhou angustiada para o telefone / eles n%o
conseguem entender um menino de !uatro anos3
/ 4or isso, você decidiu pleitear a tutela;
/ -im0 &u ficava / e ainda fico / apavorada com a id+ia de !ue ele irá
crescer sem todo o amor !ue poderia ter0
/ Nsso n%o vai acontecer com ele0/ ouglas beijou a testa e os olhos
chorosos de Ariel. / epois !ue você obtiver a tutela, nós n%o dei*aremos !ue ele
cres$a sem amor, fi!ue tran!Mila.
Cautelosamente, como !ue acordando de um pesadelo, Ariel olhou para
ouglas.
/ "ós;
/ -cott n%o fa parte de sua vida; / ouglas n%o desviou o olhar. / -im, ele...
/ &nt%o fará parte da minha, tamb+m0 / &le beijou(a, agora na boca. / &u
amo você0
/ ouglas, onde está -cott; &stou com muito medo... / Ariel p6s(se a chorar
descontroladamente, agarrando(se a ele. ouglas, embora perito no uso das palavras,
sabia !ue, na!uele momento, nada !ue dissesse, por mais inteligente !ue fosse, seriacapa de afastá(la de todo sofrimento. &nt%o, em silêncio, ele a abra$ou e, mantendo(
/ @e for$ar, Ariel; "%o fale isso, por favor, eu amo você...
/ 1ocê ainda está assustado; / Ariel apenas sorriu.
/ 4ode ficar sossegada, nunca me senti t%o tran!Milo...
/ Lembre(se de !ue você vai ser =papai> de um garoto de !uatro anos0 &
muito levado0 / Ariel advertiu.
/ 1ocê n%o acredita na minha capacidade de educar uma crian$a;
/ "%o + isso0 K !ue eu dei*ei você louco com a minha desorgania$%o...
/ K só você n%o desorganiar o meu escritório. O resto3 pode ficar por sua
conta.
Ariel abra$ou(o, ternamente, e o sentiu deslumbrado, como, de fato, ele
estava3 &la, por sua ve, com ouglas e -cott ao seu lado, n%o !ueria mais nada. &sabia !ue dava um passo gigantesco para a seguran$a afetiva !ue sempre almejara na
vida.
/ &u vou estragar -cott / ela murmurou, mordendo o pesco$o de ouglas.
/ & o resto dos nossos filhos...
ouglas acariciou(lhe as costas, apertando um pouco mais o bra$o.
/ #uantos est%o incluídos no =resto> a !ue você se referiu; / A escolha + sua, ouglas. / epois, em tom ombeteiro, ela concluiu /