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Luciara Silveira de Arago e Frota
Yvone Dias Avelino
Edgar da Silva Gomes
Carlos Danilo Oliveira Lopes
(Organizadores)
No Laboratrio das Palavras: Histria da Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo
Coletnea de Documentos (1979-1985)
Fortaleza
Editora - SOCER
2015
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SOCER Editora
Coordenao Geral: Luciara Silveira de Arago e Frota
Rua Gilberto Studart, 930 / Coco
CEP.: 60190-750 / Fortaleza - CE
Conselho Editorial
Profa. Dra. Luciara Silveira de Arago e Frota
Prof. Dr. David Gueiros Vieira
Prof. Dr. Corcino Medeiros dos Santos
Profa. Dra. Yvone Dias Avelino
Prof. Dr. Edgar da Silva Gomes
Profa. Dra. Andrea Borelli
Prof. Dr. Ney de Souza
Prof. Dr. Nataniel Dal Moro
Profa. Dra. Marcia Barros Valdivia
Profa. Dra. Claudia dos Reis Cunha
Prof. Dr. Marcelo Flrio
Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
Profa. Dra. Vilma Maria Barreto Paiva
Prof. Dr. Ettore Quaranta
Copyright: Luciara Silveira de Arago e Frota, Yvone Dias
Avelino, Edgar da Silva Gomes,
Carlos Danilo Oliveira Lopes
Digitador: Francisco Celismar Ferreira de Andrade
Revisor / Seleo de Textos: Eugenia Dsire Silveira de Arago e
Frota
Arte & Capa: Edgar da Silva Gomes, Carlos Danilo Oliveira
Lopes
Imagem: Convento Carmelita - Rua Monte Alegre, dcada de 1920
Fonte: Museu de Rua. PUC Projeto e Processo, 1979.
Impresso: Grfica Kazigu
Todos os direitos dessa edio so reservados a SOCER. proibida a
duplicao, reproduo
ou comercializao desse volume, sob quaisquer meios, sem
autorizao expressa da SOCER.
No Laboratrio das Palavras: Histria da Pontifcia
Universidade
Catlica de So Paulo: coletnea de documentos (1979-1985)/
FROTA,
Luciara Silveira de Arago e; AVELINO, Yvone Dias; GOMES,
Edgar
da Silva; LOPES, Carlos Danilo Oliveira. (Orgs.). Fortaleza:
SOCER,
2015, 1 CD-ROM, 586 p.
ISBN 978-85-68767-00-9 - E-BOOK
Memria; Universidade; Documentao Oral; PUC-SP
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in memoriam
Prof. Dr. Joel Martins
Carlos Danilo Oliveira Lopes
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5
A Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP completa
70
anos em 22 de Agosto de 2016. Os significados e o valor deste
momento mpar
sobre to importante Universidade levaram a comunidade puquiana a
iniciar em
22 de Agosto de 2015 os eventos acerca deste marco.
Assim sendo, como integrantes do Ncleo de Estudos de Histria
Social
da Cidade NEHSC PUC-SP, queremos com esta obra homenagear
tambm
esta insigne Instituio de Ensino Superior, onde as ideias sempre
foram plurais,
em um palco de culturas, saberes e lutas. Trata-se esta publicao
de um
mosaico de histrias de vidas, cujos personagens vivenciaram em
pocas
distintas a histria desta Universidade, desde sua criao at os
dias atuais.
Agradecemos aos agentes que, de alguma forma, nos ajudaram a
construir
este livro, assim como aos que ainda fazem desta universidade um
espao de
discusses, debates, contribuies acadmicas e sociais, como
professores,
alunos e funcionrios, produzindo e divulgando conhecimentos para
as prximas
geraes. Que estes 70 anos nicos e de vanguardas se desdobrem por
muitos
outros, junto ao caminhar da nova juventude intelectual que,
como a de ontem,
continua mantendo dinmico este reconhecido espao democrtico.
Os Organizadores
Outubro/2015
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7
Sumrio
CONTANDO HISTRIAS: Abrindo o Laboratrio
Introduo 22
I A Histria Vivida e Contada: Confidncias na Antessala do Estdio
36
- D. Paulo Evaristo Arns 37
- Andr Franco Montoro 42
- Joel Martins 50
- Geraldo Ataliba Nogueira 95
- Jos Carlos de Ataliba Nogueira 123
- Oswaldo Aranha Bandeira de Melo 128
- Padre Enzo Campos Guzzo 138
II A Histria Vivida e Contada: Ao P do Ouvido 163
- Joaquim Alfredo da Fonseca 164
- Geraldo Pinheiro Machado 181
- Aniela Meyer Ginsberg 202
- Milton de Miranda 207
- Luis Kubinsky 230
III Histria & Histrias: Relembrando no Estdio 250
- Ary Silvrio 251
- Antnio Penteado de Azevedo 258
- Jos Massafumi Nagamine 265
- Ramon Martinez Alcaraz 282
- Osvaldo Leite de Moraes 302
IV Histria & Histrias: No Estdio Gravando 317
- Jos J. Queiroz 318
- Elza Ferreira Lobo 325
-
8
- Carmen Sylvia Junqueira 340
- Clia Sodr Dria (Madre Cristina Maria) 351
- Demerval Saviani 356
-Lus Eduardo Wanderley 368
V No Estdio Gravando: Mais Histrias 384
- Nadir Gouveia Kfouri 385
- Casemiro dos Reis Filho 391
- Ednio dos Reis Valle 413
- Antnio Joaquim Severino 424
- Clia Coelho Pereira Leite (Madre Olvia) 448
- Jos Feliciano da Rosa Aquino 456
ANEXOS
Anexo 1 467
Palestras Sobre Documentao Oral
Contribuio do Curso de Direito sob a Coordenao de Michel
Temer
- Eduardo Muylaert Antunes
- Renan Lotufo
- Manoel Alceu Affonso Ferreira
Anexo 2 534
Proposta de Criao de Laboratrios
Anexo 3 552
Museu de Rua
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9
Prefcio
Prof. Dr. Roberto Coelho Barreiro Filho1
Para um historiador, toda manifestao importante; todo mito, todo
rito, crena(s),
uma grande pessoa; isso tudo reflete a experincia e por
conseguinte implica as noes de ser,
de significao e de verdade.
O que se ver nas pginas que me sucedem so memrias, momentos de
uma
instituio que marcou a histria da Igreja, no Brasil, e a histria
de uma Universidade na
histria da nao. Quem no viveu aqueles momentos de uma resistncia
acadmica ao
controle ditatorial poder ver, nos relatos, um pouco da
trajetria da busca por democracia
que vivemos naqueles dias.
Quem, como eu, que no viu as irmzinhas de ps descalos andando
pelo pateo da
cruz, no pode saber o que foi isso naqueles dias. Quem, como eu,
no viu a transio dos
Bispos Auxiliares Reitores para os leigos s ter como lembrana os
dias atuais. Quem, como
eu, que viu o incndio do TUCA ou a invaso dos policiais na dcada
de setenta, no sabe o
que foi aquilo.
Assim como a cidade de So Paulo nasce da ideia de uma escola,
nos tempos
trentinos, a PUC-SP nasce da juno de ideais jesutas,
beneditinos, agostinianos, que se
prontificaram a fazer uma Universidade plural. Sua caminhada
mostrou um cenrio de
possibilidades acadmicas que, com o Curso Bsico (um experimento
acadmico para alunos
iniciantes), o Ps-Graduao (para os concluintes) e a Extenso,
entrelaados aos cursos de
graduao, formava no apenas alunos e sim cidados crticos
sociais.
Alguns desses construtores esto nas entrevistas que aqui se
presentificam diante
da complexida de do fazer acadmico da instituio. Poucos
trabalhos se
1 Professor Pesquisador do CELACC ECA USP, professor de
ps-graduao do SENAC-SP.
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10
debruaram sobre a histria aqui contada. So meia dzia de
pesquisas que, elaboradas,
viraram ou Teses ou livros para o registro futuro.
Embora por vrias vezes, via Ncleo de Estudos do Ps-Graduao em
Histria
(antigo grupo Cordis, hoje Ncleo de Estudos de Histria Social da
Cidade - NEHSC), se
tentou elaborar um livro com todos os relatos aqui encontrados,
mesmo que por vias da
editora da PUC-SP ou por algum outro meio, sempre a Universidade
se fez ausente de ser
parceira no resguardo histrico de sua prpria histria. A
importncia do que aqui se vai
encontrar o resgate de uma trajetria de vida de seus
participantes. Uma iniciativa de
pesquisadores e coordenadores de reas de pesquisa que, durante
todos estes anos, fizeram
crescer e ampliar a memria da universidade para o futuro dela
prpria.
A PUC-SP parece, em alguns momentos, querer esquecer o que foi
e, assim, se
transformar no que nunca quis ser. Quem no conhece sua histria
est marcado pelo destino
a repetir seus erros novamente. Se olharmos para o passado,
poderemos facilmente ver a
grandeza da PUC-SP no cenrio nacional e internacional. Foi, em
seu momento mais
expressivo, a quinta maior Universidade do pas. Relacionando
seus saberes com toda
Amrica Latina, entre outros pases, atendeu prontamente aos ecos
vindos de Medeln e
Puebla, incorporando as ideias da igreja ao seu dia-a-dia.
Abrigou tantos nomes acadmicos
em seus muros, abrigou a SBPC, proibida pela ditadura, resistiu
bravamente pela democracia.
Como veremos neste documento ora pblico, a formao das lideranas
catlicas
polticas que assumiram os quadros da sociedade civil poca, so
resultado deste projeto das
dcadas de 60, 70 e 80 na PUC-SP. O perfil filosfico-educacional
implantado marca da
imagem, at hoje verificada, quando se fala da Catlica de So
Paulo.
Fiz parte desse processo, sou criatura desse projeto. Fiz minha
personalidade moldada
pelas mo do Pe. Ednio Reis Valle, do Prof. Dr. Jorge Claudio
Noel Ribeiro Junior, da
orientao primorosa da Profa. Dra. Yvone Dias Avelino e da
Ir.
Valdete Contin e Ir. Leda Maria Pereira Rodrigues, de quem
trago
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11
minhas saudades amigas. J no estou mais por estas praias, embora
nunca a tenha deixado
por completo. A PUC-SP no sai de nossas vidas, afinal, ela nos
forma!
A PUC-SP maior que ela prpria. Ela no s paredes ou administrao
financeira.
Ela histria, projeto e processo em construo, vida acadmica que
transpira em cada sala
de aula, em cada corredor, nas conversas, no ar que circula
nesta ilha democrtica da
academia puquiana. No pode ser esquecida, no pode ser ignorada.
Deve ser, sempre,
lembrada.
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12
Apresentao
Profa. Dra. Yvone Dias Avelino2
A presente publicao, ao ser organizada, nos levou a pensar
muitos momentos
vividos, lembranas e reminiscncias de um mundo acadmico
vivenciado com toda a
plenitude de um ideal. Ecos de um passado que nos chega como se
estivssemos
contemplando o que foi e no aconteceu, o que aconteceu e que no
foi. Ideais e sonhos que
no se realizaram, lutas e embates que nos desgastaram, mas no
nos tiraram o nimo para
novas empreitadas, que nos impulsionaram a continuar e perquirir
novos caminhos, com
foras revitalizadoras e propostas ainda mais originais. uma vida
de esperanas, de
empreendimentos, realizaes, frustraes, rudos polifnicos de uma
longa e rdua
caminhada.
Apresentamos nestas pginas os resultados de uma investigao sobre
o nascedouro e
o desenvolvimento da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
(PUC-SP), atravs do
uso da tcnica da Documentao Oral, tcnica complementar de
pesquisa ligada elaborao
de documentao contempornea. Foi usada em nosso trabalho com as
mesmas preocupaes
que norteiam o historiador com relao ao documento histrico e
concepo prpria da
Histria. Por meio de entrevistas com agentes que gestaram e
vivenciaram esta Universidade,
cenrio onde se desenrolaram as tramas polticas, sociais e
religiosas de to importante e
significativa Instituio, trazemos luz tais testemunhos. Ao
alargarmos o nosso olhar, mais
nos parece que o horizonte factual fica indefinido, pois tudo o
que compe a
vida cotidiana se constitui de direito, no dizer de Paul Veyne3,
caa para o
historiador, pois na vida cotidiana que se pode refletir a
historicidade,
embora a Histria no se transforme na Histria da vida cotidiana.
Um
2 Professora Titular do Departamento de Histria da PUC-SP,
Editora da revista Cordis e coordenadora do
NEHSC da PUC-SP 3 VEYNE, Paul. Como se Escreve a Histria, In:
Foucault Revoluciona a Histria. Braslia: Universidade de
Braslia, 1982.
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13
acontecimento s tem sentido dentro de uma srie, e o nmero de
sries indefinido. Elas no
se ordenam hierarquicamente, e no convergem para formar um bloco
igualitrio de
perspectivas.
Nos Anos 80, quando coordenvamos na Ps Graduao da PUC-SP o Curso
de
Histria, nos chegou s mos uma proposta instigadora, a de
acrescentar ao currculo do nosso
Mestrado um curso de Documentao Oral, que passou ento a ser
ministrado pela Professora
Doutora Luciara Silveira de Arago e Frota, oriunda da
Universidade Federal do Cear. Eram
poucos docentes que aceitavam Documentao Oral como uma fonte
para as pesquisas
histricas contemporneas. A grande maioria era refratria, mas
mesmo assim, a PUC-SP,
depois do CPDOC, foi a pioneira na objetivao do assunto na
academia brasileira com esse
curso de Documentao Oral, e com a disseminao de pesquisadores
aptos ao emprego da
tcnica. A prpria USP s a aceitou atravs do CERU (Centro de
Estudos Rurais e Urbanos) e
dos esforos do Professor Doutor Jos Carlos Sebe Bom Meihy, do
Departamento de Histria,
nos Anos 90, com a proposta de criao da Associao Brasileira de
Histria Oral4.
Com a criao do referido curso, este projeto ora apresentado
surgiu quando o ento
Vice-Reitor Acadmico da PUC-SP, o Professor Doutor Joo Ednio dos
Reis Valle, solicitou
ao Departamento de Histria que fosse escrita a Histria desta
Universidade. Somente dois
professores do Departamento interessaram-se pelo tema, os
Professores Doutores Yvone Dias
Avelino e Euclides Marchi, que trabalharam concomitantemente na
organizao do "Museu
de Rua". Este Museu, ideia original do Professor Doutor Jorge
Cludio Ribeiro, foi exposto
em um evento festivo, por ocasio do aniversrio da Universidade.
Mais tarde, teve
4 Ns particularmente utilizamos o termo Documentao Oral, visto
que o oral apenas documento criado com o
depoimento, instrumento que muito auxilia nas pesquisas
contemporneas.
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14
seus painis distribudos sem sequencia em vrios espaos da
Instituio, e foram totalmente
danificados e violentados nos corredores do subsolo.5
O curso de Documentao Oral alocado no Programa de Estudos Ps
Graduados em
Histria recebeu um grande incentivo do Coordenador Geral do
Setor de Estudos Ps-
Graduados poca, Professor Doutor Joel Martins. Formou-se ento um
grupo especial de
pesquisa, incluindo alunos e professores, estabelecendo-se um
plano de trabalho que remetia
ao ano de 1945, organizando o levantamento de fontes nos
arquivos da prpria instituio e
entrevistas dirigidas com alguns dos agentes que fizeram a
Histria da Universidade.
Teoricamente, os historiadores reconheciam a utilidade da
tcnica, mas o seu uso
prtico era pouco, apenas restrito a alguns eruditos da rea. A
Documentao Oral parte da
descoberta do passado, e de fontes que se busca localizar,
apreendendo, compreendendo,
estabelecendo um sentido do que foi, do que aconteceu. Esta
linha de preocupaes nos
conduziu confeco de documentos no s fidedignos quanto
procedncia, mas ricos de
contedos6. Assim, fizemos muitas leituras sobre Universidade e
dos trabalhos daqueles que
foram entrevistados, submetendo-os a um processo de anlise.
Familiarizados com os seus
pensamentos, ficou mais fcil a confeco dos documentos orais.
Dentro da prpria Histria, preciso admitir que no h com o tipo
de
coleta de material oral, uma Histria que se possa chamar de
totalmente
espontnea. Tais quais outros tipos de fontes para o historiador,
o resultado da
entrevista, ou seja, o texto transcrito, deve ser submetido ao
mesmo trabalho crtico de
outros documentos e s mesmas leituras mltiplas e acuradas. A
atrao de
5 Participaram tambm do projeto deste Museu a professora Doutora
Luciara Silveira de Arago e Frota; os
Professores Doutores Jorge Cludio Ribeiro e Roberto Coelho
Barreiro Filho, ambos do Jornal Porandubas; a
Professora Mestra Selma Siqueira Carvalho, do Departamento de
Antropologia; o Professor Doutor Adilson Jos
Gonalves; e ainda contou com a colaborao do Engenheiro Jlio Abe
Wakahara, ligado documentao
fotogrfica da Prefeitura de So Paulo. 6 Cf. Frota, Luciara
Silveira de Arago e. Documentao Oral e a Temtica da Seca (Estudos).
Braslia: Centro
Grfico/Senado Federal, 1985.
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15
tornar possvel a apreenso da Histria em processo de fazer-se ,
portanto, um risco a ser
minimizado. Os caminhos ampliam-se e distanciam-se s do fazer
falar a documentao,
agora trata-se, de tornar-se responsvel tambm por elabor-la,
preservando-a para o futuro.
Muitas dificuldades fizeram com que esta ideia inicial sofresse
alteraes. Dentre elas,
podemos mencionar o pssimo estado da documentao sobre o assunto,
que empoeirada e
desorganizadamente repousava, no em "bero esplndido", mas no rs
do cho de uma sala
do "Prdio Velho" na PUC-SP. Esta documentao era imprescindvel ao
estudo dos
primeiros tempos da Universidade e no dispnhamos, na ocasio, de
condies e tempo para
catalog-la. Uma das razes foi o grupo ter sido reduzido, em
virtude dos alunos participantes
terem prazo para a entrega de suas Dissertaes de Mestrado e iam
embora aps um perodo,
gerando uma rotatividade de integrantes no projeto, que sempre
se reiniciava e, ao mesmo
tempo, avanava. Na prtica, continuaram atuando apenas dois
professores do Programa de
Estudos Ps Graduados em Histria, responsveis pelo tema7. Assim,
a falta de pessoal exigiu
uma reestruturao do plano inicial de pesquisa. De comum acordo,
optamos por inverter a
abordagem prevista, ou seja, partimos da realidade do "aqui e o
agora", levando em
considerao os personagens que pensavam e faziam a PUC-SP naquele
momento
histrico. Isto tudo, naturalmente, dentro de uma compreenso da
complexidade do
conceito de Universidade, do que era a Universidade brasileira e
especificamente
desta Universidade "democrata e pluralista".8 Esta terminologia
era voz corrente entre
os depoimentos extrados atravs das entrevistas coletadas entre
os que detinham
cargos de direo acadmica e/ou administrativos na PUC-SP. Optamos
pela
7 O trabalho passou efetivamente a ser realizado pelas
professoras Doutoras Yvone Dias Avelino e Luciara
Silveira de Arago e Frota. 8 A Universidade brasileira havia se
democratizado e era assunto de mesas redondas, palestras e
comunicaes
em simpsios nacionais. Na realidade, observava-se que em alguns
aspectos, ela havia falido, e em outros,
crescido. O binmio docncia/pesquisa cada vez mais se
solidificava. Ela "inchou" com o aumento de clientela,
mas permaneceu elitista em outros aspectos.
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16
Documentao Oral por ser, no caso, a tcnica de pesquisa mais
adequada ao nosso trabalho.
De qualquer forma, o valor da incorporao destes testemunhos nada
representam, no
fora a proposta de atravs desta forma atingir-se pela prtica a
etnolgica retrospeco de um
revisionismo, que tem como propsito, fazer construir uma Histria
com nova base, dando
palavra aos representantes das minorias culturais. Paul Thompson
vai mais longe9. Pretende
que a tcnica atue como instrumento de uma contra histria. Com o
aumento do interesse pelo
assunto, estas reflexes podem repousar sobre a concordncia com o
antroplogo sobre o fato
de que o homem percebe, pensa e se exprime nos termos da sua
cultura especfica.
Alm da falta total de um apoio institucional, do descrdito poca
da tcnica
utilizada, a professora Luciara, que conosco colaborava, por
razes pessoais prestou concurso
em uma Universidade Federal, a Fundao Universidade de Braslia
(UnB). Deixou a PUC-
SP e a proposta da Histria da Universidade. Isto apenas
institucionalmente, pois sempre nos
preocupamos em apresentar tal pesquisa, que muito rica ainda
hoje, tanto no que tange a
respeito de ideias sobre Universidade, tanto pelo ineditismo de
sua confeco e pela
importncia e significados desses agentes que ajudaram a
construir a Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo e, consequentemente, um ideal de disseminao
de saberes, que s
agora parte vem tona.
Pela sua prpria etimologia, entendemos por Universidade o local
em que o universo
dos conhecimentos at ento desenvolvidos so trabalhados de forma
a garantir a sua
conservao e o seu progresso, nos diversos ramos em que se
distribui, seja pelo
ensino, pela pesquisa, ou pela prestao de servios sociais. Se
considerarmos que,
na nossa civilizao, o conhecimento para fins de aprofundamento
e
especializao est dividido por reas, podemos considerar como
pressuposto
bsico que, uma Universidade deve trabalhar para a universalidade
dos
9 Thompson, Paul. The voice of Past: Oral History. Oxford,
Oxford Press, 1978.
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17
conhecimentos at ento desenvolvidos, de forma a garantir a sua
contribuio nesse
processo.
A Histria no se debrua na originalidade dos acontecimentos
individuais, mas nas
especificidades deles, pois a escolha de um assunto sempre
livre. Porm, dentro da temtica
escolhida, os fatos e suas ligaes so o que so, e nada poder
mud-los. Eles no existem
isoladamente e, nesse sentido, o tecido da Histria que se chama
de trama. Essa trama no
se organiza em uma sequncia cronolgica, ela pode passar de um
plano para outro, sendo
impossvel descrever a sua totalidade. O historiador nunca faz o
levantamento do mapa
factual, ele pode, no mximo, multiplicar as linhas que o
atravessam. A Histria um
caleidoscpio, onde a reflexo crtica nas entrelinhas necessria e
fundamental, onde os
cruzamentos de itinerrios possveis so rastreados e
inteligentemente recuperados.
A cidade de So Paulo despontou com os sinais do progresso. esta
a cidade que
abriga a Pontifcia Universidade Catlica. A expanso territorial e
a variedade de construes
e da populao, entremeada de paulistanos, paulistas, brasileiros
de vrios territrios e de
imigrantes, fizeram surgir nesta cidade novos bairros no incio
do Sculo XX. Alguns deles
eram territrios burgueses da elite cafeeira, como o caso de
Campos Elseos e Higienpolis,
com praas e jardins bem cuidados, ruas de traados perfeitos, com
imensas e arborizadas
manses, onde habitavam os detentores do poder.
Nos baixios e nas vrzeas dos rios situavam-se os bairros fabris,
pobres, de moradias
operrias, que eram os menos valorizados. No espao simples de uma
rea onde gorjeavam
aves chamadas perdizes, nasceu um convento de Freiras
Carmelitas, em 1908, que cederam
mais tarde este espao para a criao da sede da Universidade
Catlica de So Paulo, em
1946, uma das mais importantes, entre outras, no contexto da
Amrica Latina. Alguns anos
antes, j havia esta cidade abrigado a Universidade de So Paulo,
um centro de excelncia que
respondeu culturalmente ao desastre da perda militar na Revoluo
Constitucionalista de
1932.
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18
A Universidade Catlica de So Paulo no seu nascedouro j apontava
para as
necessidades das composies poltico-sociais e ideolgicas, atravs
da problemtica
religiosa, que afligia o Brasil naquele momento: a busca de
entendimentos da identidade
nacional, que indicava para o nacional trabalhismo, de um
populismo decalcado na crise do
ps-guerra e na necessria criatividade para responder aos
impasses e demandas
democrticos. Ressaltava-se o significado e o papel da atuao da
Igreja, no sentido de
colocar-se enquanto personagem e interlocutora do novo espao
poltico que se institua
poca. Neste cadinho, justificou-se a criao e estmulo s entidades
culturais de carter
universitrio em algumas metrpoles brasileiras, como Rio de
Janeiro, So Paulo e Porto
Alegre, a exemplo de suas congneres na Amrica Latina.
Estes setores tornaram possvel a formao de lideranas catlicas
para assumirem a
composio de quadros na sociedade civil e nos aparelhos de
Estado, estratgia para
disseminar seus princpios filosficos e participar, efetivamente,
atravs dos leigos, da
composio do poder, atingindo assim patamares mais elaborados de
divulgao distintos dos
utilizados no sentido tradicionalista e particular no
plpito.
As particularidades desta Universidade encontraram lastros no
perfil de seu projeto
filosfico-educacional, na sua organizao institucional e na
composio social dos trs
segmentos que englobava: professores, alunos e funcionrios,
destacando-se tenses e formas
especficas de insero no cenrio nacional, por seu carter
confessional. Surgiu esta
Universidade no processo de dilatao dos horizontes da Ao
Catlica, organizando-se
timidamente pela configurao dos princpios filosficos que a
orientavam, o neotomismo,
com objetivo de compor quadros e formar profissionais
competentes sem, no entanto,
enfatizar as atividades de pesquisa.
Na real dimenso da Instituio, enquanto centro de produo de
conhecimento, pela sua divulgao, encontrou caminhos que
despontaram como
uma de suas caractersticas apenas no decurso dos Anos 70, com a
interao entre
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19
ensino e pesquisa. Foram os anos da reforma educacional. Apesar
de atravessarmos um dos
momentos mais dramticos da recente Histria do pas, decalcados no
Estado Militar, o
perodo configurou-se e solidificou-se em uma enorme efervescncia
cultural. Foi marcado
por reivindicaes e presses para ampliao dos espaos, do exerccio
da cidadania, em suas
mltiplas facetas.
Ressaltava-se uma presena mais marcante dos diferenciados
setores da sociedade,
onde a Igreja apareceu como um ponto de refgio, e com uma mo
protetora, amiga daqueles
que sofreram injustias mais gritantes, por ainda no terem sido
silenciados. A longa trajetria
desta Universidade foi marcada por situaes dspares no cenrio
nacional, na cidade de So
Paulo, e na forma especfica de ao da Igreja. Vamos mergulhar no
tempo, refletir, e
recuperar esta jornada, atravs das doutas entrevistas de alguns
agentes que fizeram parte
desta histria e desta Universidade.
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20
MUSEU DE RUA: PUC-SP - PROJETO E PROCESSO
Prof. Dr. Jorge Claudio Noel Ribeiro Junior10
Inaugurado em 1980 e ativo nos seis anos seguintes, o Museu de
Rua foi uma aula ao
ar livre sobre a histria desta universidade. Essa exposio
circulava pelos campi e era
composta de 30 painis fotogrficos montados sobre bases de dupla
face, com dois metros de
altura por um de largura.
A mostra nasceu num contexto que se articulou em dois nveis. O
primeiro, nacional,
foi a resistncia a uma ditadura j nos estertores, uma frente
integrada por figuras como o
arcebispo dom Paulo Evaristo Arns, tambm gro-chanceler da
PUC-SP. O segundo nvel,
local, foi a ao da reitora Nadir Kfouri e dos vice-reitores
Casemiro dos Reis F (acadmico),
Ednio dos Reis Valle (comunitrio) e Armando Caropreso
(administrativo). Esse grupo
liderou a construo de uma universidade que anteciparia
utopicamente a nao pela qual se
ansiava e que lanaria pontes na direo do povo brasileiro.
Na rea acadmica, essa proposta se materializou na pesquisa e
docncia crtica, no
acolhimento a uma dezena de professores perseguidos pelo regime,
na abertura a encontros da
intelligentsia nacional, de lideranas estudantis e de vrios
segmentos sociais. Na frente
comunitria, destacou-se a atuao do Instituto de Estudos
Especiais, a dinamizao do teatro
Tuca apontado como templo da resistncia democrtica e o setor de
comunicao, que
vocalizava as inquietaes e conquistas da comunidade
universitria.
Desse caldo de cultura em ebulio, brotou o Museu de Rua a partir
da
colaborao de mltiplas mos. A pesquisa e as entrevistas de
histria oral ficaram a
cargo de equipe da Ps-Graduao em Histria liderada pelas
professoras
Yvone Dias Avelino e Luciara Frota; a coordenao, texto final e
diagramao foram
10
Doutor em Cincias Sociais pela PUC-SP, Livre Docente e Professor
Titular na PUC-SP, Scio Proprietrio
da Editora Olho Dgua.
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21
realizadas por Jorge Claudio Ribeiro e Roberto Coelho Barreiro
F, que editavam o
Porandubas, jornal da universidade; o design e a montagem
couberam ao experiente arquiteto
Jlio Abe Wakahara.
Os painis de PUC-SP - Projeto e Processo apresentavam textos
didticos, fotos
histricas e ilustraes atraentes. A exposio foi dividida em trs
blocos sobre eventos da
universidade, em consonncia com a histria brasileira. O primeiro
momento trazia a
concepo inicial da instituio, as unidades que a constituram e as
tendncias das dcadas
1940-50; o segundo bloco cobria a dcada de 1960, a efervescncia
poltica e cultural tanto na
sociedade como na PUC-SP, a Reforma Universitria, a Ps-Graduao,
o Ciclo Bsico e os
movimentos estudantis; o terceiro momento enfocou a dcada de
1970, a resistncia
ditadura e a afirmao da PUC-SP como espao cultural
democrtico.
O Museu de Rua foi rapidamente acolhido como algo prprio pelo
pblico a que se
destinava e que nele se mirou como ante o espelho da faceta mais
progressista de sua
identidade. Essa caracterstica teria motivado a depredao de sete
painis, em setembro de
1983, talvez prenunciando o incndio que viria a destruir o Tuca,
um ano depois.
Os pequenos estragos decorrentes do uso e transporte eram
prontamente reparados.
Entretanto, a incria infligiu dano definitivo a PUC-SP - Projeto
e Processo. Depois da
troca da equipe responsvel pelo setor, e que fazia a manuteno do
museu, alguns painis
sofreram uso inadequado, como tapumes, o conjunto foi-se
dispersando e terminou
deteriorado num depsito imprprio.
Mas, sendo da natureza da memria afrontar teimosamente o olvido,
surgem planos de
recuperar a exposio original e traz-la at os dias de hoje.
-
22
Introduo
Profa. Dra. Luciara Silveira de Arago e Frota11
A insero da Histria Oral na PUC-SP deu-se a partir de um Curso
Interdisciplinar de
Leitura Sistemtica necessrio aos estudos e projetos de mestrado
do Programa de Estudos
Ps- Graduados em Histria nos anos noventa. O curso era oferecido
no s aos demais
alunos de outros programas de Mestrado da instituio como a
alunos de vrias outras
universidades. Isto permitiu um amplo e prtico entrosamento
entre alunos da PUC e da USP,
alguns dos quais aceitos como ouvintes e gerando uma interligao
entre vrios profissionais
como arquitetos, advogados e jornalistas. Quase todos eles
pretendiam empregar a Histria
Oral nos seus trabalhos e me ocorreu, ento, propor Coordenao da
Ps-graduao, ento
dirigida pelo Doutor Joel Martins, e coordenao do Mestrado em
Histria, com a
Professora Doutora Yvone Dias Avelino, que o curso de Leitura
Sistemtica pudesse ser
dividido em duas fases. Na primeira, os alunos estudariam Teoria
da Histria, tcnicas de
entrevista utilizadas pelos mais diversos profissionais, como
mdicos, psiclogos, educadores,
e seriam encaminhados, em seminrios e exposies, a discusses
sobre a validade da Histria
Oral, seu surgimento, conceito, importncia, e introduo no
Brasil.
Nessa segunda fase do curso, os alunos tiveram acesso ao
material do I Curso de
especializao em Histria Oral dado no Brasil pelos professores
James e Edna Wilker e a
professora mexicana Eugnia Mayer do qual participei como aluna.
O curso foi patrocinado
pela Fundao Getlio Vargas e pela Universidade Federal Fluminense
com
a coordenao das professoras doutoras Aidil de Carvalho Press e
Ismnia Lima.
Utilizaram tambm, o material fornecido na Universidade de
Braslia
pelo Professor Doutor David Gueiros Vieira que ali organizou,
pela
11
Doutora em Cincia Humanas pela USP, Ps-Doctor em Cincia Poltica
pela Universidade de Buenos Aires e
Ps-Doctor em Histria pela UnB. Professora Titular da
Universidade de Braslia UnB.
-
23
primeira vez no Brasil, em 1975 um seminrio sobre a importncia
da Histria Oral do qual
tambm participou.
O interesse despertado entre os alunos do Curso Interdisciplinar
de Leitura Sistemtica
foi tanto que os prprios alunos pesquisaram, selecionaram e
propuseram textos para estudo
privado e coletivo. Em sua segunda fase, o curso de Leitura
Sistemtica tinha tambm a
proposta de ajudar o aluno a formular e redigir o seu projeto e
organizar entrevistas para o seu
trabalho monogrfico.
A interdisciplinaridade do curso favoreceu a ideia da criao de
um Laboratrio de
Documentao Sonora e Grfica do setor de Ps-Graduao da PUC/SP para
ser utilizado
pelos professores e alunos de todos os programas dos cursos da
Ps-graduao. Tanto o Dr.
Joel como a Dra. Yvone manifestaram o maior interesse pela criao
do Laboratrio sendo o
seu projeto por mim elaborado e aprovado pela Comisso de
Ps-Graduao. Mais tarde, no
Projeto PUC ano 2000, o mesmo Dr. Joel pediu que eu o
reapresentasse para que fosse
includo e implantado paulatinamente. Infelizmente, o seu plano
no vingou e a PUC/SP
perdeu um hbil administrador e um grande cientista.
Vale lembrar que um Laboratrio do porte idealizado e proposto
pedia, em funo da
doao de documentos e conservao de material gravado, como
palestras, discursos,
conferncias e propriamente a guarda das entrevistas de Histria
Oral, certo resguardo
jurdico. Sob o patrocnio dos dois coordenadores j mencionados,
doutores Joel e Yvone
foram efetuados trs palestras, pelos renomados advogados Eduardo
Muylaert, Manuel Alceu
Afonso Ferreira e Renan Lotufo a partir de um tema geral: a
documentao oral e seus
aspectos jurdicos, inclusas na parte Anexa desta publicao. Desde
a ideia da formao do
Laboratrio, numa conversa com o Dr. Joel, e a Dra. Yvone, ficou
acertado que o primeiro
dos seus projetos seria um resgate da Histria da PUC/SP a partir
de entrevistas de Histria
Oral. Os alunos de Leitura Sistemtica adoraram a ideia e se
tornaram, em
sua maioria, a partir de ento, preciosos colaboradores.
Formou-se um
corpo de entrevistadores incentivado, respectivamente, pelas
coordenaes da
-
24
Ps-Graduao em Histria, e professores como o saudoso Geraldo
Pinheiro Machado,
(CEDIC), Maria Luza, (Educao) Carmem Junqueira (Antropologia),
Maria do Carmo
Guedes (Psicologia) e Lucrcia Ferrara (Semitica).
As entrevistas aqui apresentadas so, portanto, fruto de um
trabalho feito com boa
vontade e entusiasmo. Suas imperfeies resultam das prprias
condies inerentes s
dificuldades de pesquisa, custos onerosos que um trabalho dessa
natureza requer, sem dispor,
ento, de financiamento das agncias de pesquisa e sendo as
despesas de fitas, gravadores e
transcries, repassadas aos prprios alunos do Curso.
Sem dvida, esse trabalho espera engavetado por uma publicao h j
um bom
tempo. Ao ser dado luz ele de fato ilumina o percurso da PUC
como Instituio de relevo e
que tem fornecido ao Pas vultos de destaque nacional. A PUC uma
Universidade sempre
como a Histria: um processo em construo a espera do fazer-se.
Desvelamos e revelamos
nesse trabalho alguns dos seus pilares, cones e talvez segredos.
Alguns dos entrevistados com
quem privei magnficas e solidrias criaturas, j nos antecederam
na jornada ltima. Certo,
ficou um pouco de cada um deles nas conversas, e prvias
informais e mesmo nas entrevistas.
Ainda posso ouvir o eco da fala mansa de Joel Martins e rever,
em minha imaginao, o
sorriso franco de Pinheiro Machado. Muitos sussurros, emoes e
alegrias cercaram tambm a
obteno destas entrevistas. Muitos colaboraram, alguns nem tanto,
outros muito pouco. O
que importa que em cada uma delas surgem ntidas as evidncias
perseguidas pelo
historiador convencido de que no h resgate histrico que se
sustente sem elas. Elas so o fio
condutor a surgir do emaranhado de ideias e palavras. Repetidas
revises que moldam a
orao aos fatos, a luta para abordar a verdade sugere, exige,
material mais abundante, melhor
e mais depurado. E a montagem da ltima linha traz consigo no a
certeza de estar certa, mas
a certeza de ter exaurido a evidncia12.
12 Cf. Oscar Handlin in A Verdade na Histria, (1982), trad. de
Luciara de Arago e Yvone Avelino.
-
25
O leitor, com certeza se deparar com imperfeies, mas, espero
colher daqui
algumas orientaes e informaes de como foram trabalhadas e
selecionadas as entrevistas
que compem este livro. Principiamos por recordar que
propriamente, em termos de Histria,
o recurso aos testemunhos orais antigo. J em sua Histria da
Revoluo Francesa, Michelet
pe na palavra do povo o prprio fundamento da tradio nacional.
Modernamente, em 1948,
Allan Nevins, da Universidade de Columbia, acrescentou as fontes
orais captadas junto a
testemunhos da Histria, aquelas que j constavam de arquivos
impressos e escritos. De
qualquer forma, o valor da incorporao desses testemunhos nada
representaria no fora a
proposta de atravs de esta forma atingir-se pela prtica a
etnolgica retrospeco de um
revisionismo que tem como propsito fazer construir uma histria
com nova base, dando a
palavra tambm aos representantes das minorias culturais13 . As
dificuldades sobre a sua
validade e as discusses situando-a como tcnica ou como mtodo,
assunto que conduz a
reflexes. Com o aumento crescente do interesse pelo tema, essas
reflexes podem, a partir da
concordncia com o antroplogo repousar sobre o fato de que o
homem percebe, pensa e se
exprime nos termos de sua cultura especfica. preciso admitir que
no haja como o tipo de
coleta de material oral uma Histria que se possa chamar de
totalmente espontnea. Bem
como, ainda admitir que tal quais outros tipos de fontes para a
histria o resultado da
entrevista, ou seja, o texto transcrito deve ser submetido ao
mesmo trabalho crtico de outros
documentos e as mesmas leituras mltiplas e acuradas. A atrao de
tornar possvel a
apreenso da histria em processo de fazer-se , portanto, um risco
a ser minimizado. Os
caminhos se ampliam e se distanciam a partir s do fazer falar a
documentao, trata-se agora
de um novo desafio: tornar-se responsvel, tambm, por ajudar a
elabor-la, preservando-a
para o futuro. E esta foi a proposta do Laboratrio de Documentao
Sonora e Grfica.
13Cf. David Gueiros - Palestra sobre Importncia da Historia Oral
- Universidade de Braslia, 1980.
-
26
Temos as entrevistas aqui apresentadas como um instrumento de
captao do real. Ao
pensarmos nos eventos contemporneos, observamos que eles incluem
recursos como
audiovisuais, fotografias, slides, filmes; tapes, notas
estenogrficas, gravaes, como no caso
de um jogo de futebol ou de uma corrida de automveis. Esses
recursos, assim com as
entrevistas, podem enriquecer a documentao contempornea sem se
perder de vista a
decorrncia de um processo de seleo entre o ocorrido e a verdade.
Um exemplo claro disso,
advm do fato de que um locutor de rdio, por exemplo, registra o
que pensa que viu
enquanto um estengrafo aquilo que ele pensa que ouviu. No so
estes materiais de to boa
evidncia quanto o que transcrevemos depois de repetidamente
ouvirmos uma gravao.
Consideramos as entrevistas deste livro, como um registro
seletivo de tudo aquilo que o
narrador, ator, depoente, testemunho, entrevistado, ou qualquer
outra denominao que se lhe
queira dar, disse ao entrevistador que se lembra.
A nossa posio como historiador a de procurar, nessas fontes, o
acesso rea de
memria, sem pode esquecer a sutileza da memria, daquilo que foi
percebido e o registro
propriamente dito desta memria. Contudo, o que o indivduo pensa
que ocorreu da maior
importncia dentro do trabalho de recuperao do passado. Os
esforos conscientes do
narrador para interpretar dentro do contexto emocional e
racional podem ser detectados, pois
os reflexos, no so registros nem so passados, so indcios da
nossa busca de Verdade e
Realidade. O significado que cada narrador d aos seus eventos
denota, ainda, que um
participante, naquele momento pensou no passado daquela
maneira.
Uma anlise histrica do processo de formao da PUC/SP pede,
naturalmente, muito
mais que uma srie de narraes de eventos, requerendo o estudo de
conceitos de poca,
documentos divergentes sobre o mesmo tema, comparaes, enfim, uma
gama de avaliaes e
pesos que podem levar a formulao de hipteses. Esta anlise
documental de vrias fontes
ser decerto mais suscetvel aos preconceitos do que propriamente
a coleta de memrias em
si. No percamos de vista o fato de que o significado pode se
misturar e ser forado,
-
27
dentro da prpria anlise a ser feita, pois que a anlise deve
levar em conta todas as fontes
disponveis e explicaes satisfatrias.
Quando comparamos a importncia da histria oral com outras fontes
usadas na sua
preparao, como o jornal, do qual cada vez mais o historiador
fica dependente nesse incio de
sculo XXI, verificamos que ele tambm passvel de algumas
consideraes sobre a sua
validade. O historiador no ignora que s de forma inadequada o
material necessrio
impresso diria corresponde importncia que poderia traduzir.
Isto, porque a circunstncia
do imediatismo do noticirio e a urgncia da composio e vendagem,
no horrio previsto,
no permitem a preciso. Este imediatismo vai permitir, raras
vezes, que haja uma pausa
adequada para a reflexo. O comum a superficialidade das
explicaes dos acontecimentos.
O jornal feito para informar e esta sua finalidade. Alguns
problemas adicionais podem ser
acrescentados. So os casos dos comprometimentos dos seus donos,
com o sistema de
governo, grupos financeiros ou mesmo interesses privados, ou
ainda, as compreensveis
limitaes de interpretao de analistas internacionais, a censura
oficial governamental e
mesmo simpatias e antipatias dos prprios editores a esta ou
aquela personagem.
A prpria consulta ao jornal, seja ou no, como fonte de pesquisa
para a prpria
entrevista de histria oral j se constitui um duro trabalho para
o historiador. A ele vai caber
discernir entre o fato e opinio do jornal, a circunstncia de
impresso e as diferenas entre
textos originais e cortes sofridos e mais ainda, a ligao entre a
importncia dada ao editorial,
chamada da primeira pgina e o prvistaprio contedo de manchete da
primeira pgina.
Assim, parece ridculo considerar o jornal como um tipo de
evidencia. um meio ou um
veculo que rene vrios tipos de evidncias - conselhos e
reportagens especiais com registros
de transaes efetivadas ou putativas; a testemunha das
reportagens, a retrica
dos editoriais I comentrios e cartas dos leitores e obras tais
como piadas, histrias
em quadrinhos e fotografias embora os jornais sejam uma
excelente
fonte de consulta pelo fornecimento de dados organizados, convm
no perder de vista
-
28
que o essencial encontrar neles o suficiente e no mais,
informaes e outros itens de
interesses para preencher as colunas cada vez porque os leitores
suportam-nos buscando
interesse, eles no podem permitir que sua ateno decline14.
Outro tipo de fonte, quase obrigatria, quando pensamos em
histria oral a biografia.
Suas restries principiam pelas consideraes feitas a respeito das
biografias, no passarem
geralmente de meras descries. Contudo, quando os Annales
reabilitaram as biografias
valorizando-se, o gnero biogrfico, to de agrado da histria
tradicional, pode integrar sem
maiores preconceitos o elenco de fontes da Histria Social,
dentro da ideia de que o
indivduo, por mais excepcional que seja no pode escapar ao que o
rodeia. Sem dvida, o
ideal o da interao entre o homem e o meio, pois se o grupo
social prope ou impe aos
indivduos os seus quadros de pensamentos e atividade15. As reaes
individuais podem
colaborar na modificao do meio. Se for verdade que a multiplicao
de biografias pode
permitir chamar ateno para um tipo social, no caso da
entrevista, o homem, centro em
torno do qual ela vai gravitar, tambm no dever ser visto como
parte isolada em uma
concepo individualista de histria - o seu papel como integrante
de uma sociedade no pode
ser desdenhado. Assim, mesmo que forma elementar um mnimo de
conhecimento sobre o
testemunho a ser ouvido se faz, portanto, necessrio. Na confeco
dessas entrevistas essas
premissas foram observadas.
Um ponto que talvez deva tambm ficar claro o relativo que cada
um da equipe de
trabalho, de posse dos dados essenciais construo do seu roteiro
de entrevistas, na
verificao das proposies que o interessam, mesmo estabelecendo
suas influncias, no
pode, todavia, nenhum deles, estabelecer certezas plenas.
O fio condutor encontrado nas entrevistas aqui apresentadas
pode, porm, dar
continuidade ao caminho de uma para outra entrevista. Reside a
uma das
14 Idem. Ibidem. 15 Cf. tambm este ponto de vista nos resultados
publicados no livro Documentao Oral e a Temtica da Seca,
Braslia, Senado Federal, 1978 e em separata do Projeto PUC/SP
Ano 2000.
-
29
vantagens da histria oral, pois a oportunidade de privar da
convivncia do testemunho vai
permitir colocar com acerto a palavra certa na digitao,
identificar personagem e locais
citados, e inquirir, avaliar, ajuizar ao vivo tema e personagem.
Embora, algumas vezes, de
modo restrito sua experincia seja individual, ser-lhe- possvel
ampliar ou diminuir suas
dvidas podendo conferir suas impresses originais.
Na elaborao das entrevistas aqui apresentadas, poucos foram os
problemas
encontrados. Alguns adiamentos, alguma indisponibilidade de
tempo, foram algumas das
dificuldades enfrentadas pela equipe de entrevistadores. Como um
problema comum as
entrevistas e pesquisas em geral, elas podem apresentar alguma
dificuldades de fundo.
Poderemos conjecturar, indagar: - falam livremente os
entrevistados sobre o sistema institudo
com o qual esto comprometidos.
Ou ainda: - De modo geral, quando entrevistamos algum baseado em
registros
oficiais, no incorreremos no erro de o nosso planejamento
abranger somente uma fatia da
realidade?
Estas questes so colocadas em funo de que sabemos o quanto s
condies de
presso e ansiedade atuam sobre o indivduo levando-o, inclusive,
a confundir fatos com
fantasias, ou seja, a sua capacidade de discernimento pode
sofrer alteraes. Isto posto, para
no esquecermos que quer resolvamos entrevistar empresrios,
professores ou sindicalistas,
pobres ou ricos, as dificuldades sero basicamente as mesmas. O
grau de seu compromisso
pessoal, ou mesmo a sua inexistncia em demonstr-lo e o resistir
a esta ou quela indagao
pode estar ligadas, ou no, a uma viso corporativista ou
interesseira. Todas as vises de
testemunhos esto assim dentro daquilo que eles prprios
consideraram como aceitveis.
Concluindo, foram-se os velhos e bons tempos da receita de
sntese
oriunda da consulta dos manuais de embasamento terico, pura e
simplesmente.
A generalizao, as falhas da evidencia histrica preenchidas pela
teoria so solues
-
30
passadas. Se os fatos no justificam as teorias, por sua vez,
estas tambm no requerem as
justificativas correspondentes destes.
O processo de reconstruo do passado nos nossos dias, mesmo
quando falamos de
passado recente, como o nosso caso, segue condicionado ao
respeito pelo fato conhecido -
sempre sujeito ao revisionismo - bem como, pela obrigatoriedade
de manuteno e
estabelecimento do correto registro. A entrevista de histria
oral , portanto, mais um
instrumento para a reconstruo desse passado. Instrumento
importante que exige para o seu
preparo, leitura cuidadosa de publicaes do entrevistado e de
outros autores sobre o mesmo
assunto, conversas prvias, conferncias e palestras, em suma,
observao direta aonde o
historiador, necessariamente apoiado, procura, alm do aumento do
conhecimento, a
manuteno de absoluto respeito s aspas da palavra escrita ou
falada. As entrevistas esto
apresentadas nos moldes tradicionais de perguntas e respostas,
isto, por entender que a
fluncia, a fala percebida com maior facilidade bem ou o seu
contrrio, levar o pesquisador
interessado ao delas utilizarem-se as prprias reflexes dos
entrevistadores em suas anotaes
pessoais j est, encaminhado para o seu contedo. Ele prprio
avaliar contedo e
personagem. Poder naturalmente fazer reflexes do tipo: - que
evidncias outras temos para
assegurar que o que diz verdadeiro? Parece o entrevistado forte
ou fraco, sua ao foi anloga
a sua fora ou a sua fraqueza? Ele convence na sua fala ou o que
diz demonstra insegurana?
Claro que a comprovao de suas hipteses no est restrita a histria
oral em si
mesma. Mas, ela imprescindvel como elemento para sustentar as
possibilidades surgidas e
avaliar abordagens de textos vistos em outras fontes e ainda,
para estabelecer as necessrias
comparaes entre eles.
Em tese, coloca-se por si mesma, a credibilidade do testemunho.
Como em
qualquer outro tipo de documento histrico, o problema da
credibilidade permanece mesmo
quando se trata de entrevista. Todos os cientistas sociais sabem
- e os historiadores em
particular - que a respeitabilidade de um testemunho no oferece
nenhuma
certeza precisa de exatido. Erros de percepo, lapsos de memria
e
-
31
hesitaes podem ocorrer durante a entrevista. Tambm, as tendncias
latentes em cada ser
humano podem se manifestar advindas de convices pessoais,
interesses de grupos ou de
classe, preconceitos e envolvimento pessoal e emocional. Isto no
significa necessariamente
uma mentira, podemos mesmo encontrar nesse tipo de testemunho a
mxima sinceridade.
Verdade que, embora cada testemunho nos interesse em particular,
do conjunto deles que se
nos vai oferecer um leque de vises, podendo guiar o pesquisador
rumo verdade procurada.
Passa-se, ento, a um processo de avaliao das possibilidades e
probabilidades de que
determinados eventos que interessam a nossa pesquisa tenham-se
dado desta ou daquela
forma. A certeza buscada continua, nesta e noutras pesquisas a
nos escapar na sua totalidade,
pois as concordncias dos testemunhos, assim como as discordncias
no atentam in totum
para a veracidade do que se pretende investigar. Dificuldades
que podem ser acentuadas na
razo direta do tema escolhido.
Para tanto, basta que nos lembremos de alguns pontos dos quais
partimos na
preparao para as entrevistas, com o acordo de doao assinado pelo
testemunho, e
formalizado, dando-lhe aspecto legal. Todos estes cuidados no
impedem a falncia de
obteno de uma verdade completa que continua a existir,
independente de como sejam
julgados os resultados. Sabemos, portanto, das limitaes do nosso
trabalho.
Registro puro e simples e registro de impresso ou texto literrio
as entrevistas, em seu
conjunto, podero compensar a fraqueza de alguns testemunhos.
(Falta de disponibilidade de
tempo do entrevistado, receio de exposio pessoal, questes de
sade, ferir susceptibilidades,
temperamento pessoal entre outros). Apesar dos riscos na sua
confeco, o conhecimento de
como os homens que fizeram e fazem a histria nossa de todo o dia
falam das suas
experincias, pode, em parte, diminuir os riscos da insuficincia
e simplificao da evidncia
histrica a qual esto expostos todos os historiadores nas suas
apreciaes.
-
32
A questo das entrevistas aqui apresentadas como resgate da
histria viva da
Instituio ou como fonte para registros futuros poder gerar o
prprio julgamento da medida
em que as palavras correspondem ao, e seu valor ter por base,
tambm, a conscincia
profissional dos que elaboraram este trabalho, a qual no permite
a preparao prvia da
evidncia histrica. Alguns deles j no esto entre ns como o nosso
dileto e aplicado aluno,
o arquiteto Jos Carlos Gonalves, que se transformou num grande
amigo.
Deixamos, assim, cada um de vocs com os entrevistados agentes
dessa histria, face a
face, no Laboratrio. E por ltimo, no estdio, reconhecendo a
atualidade da histria oral que,
independente do mundo globalizado, onde a valorizao do volume de
informaes sobrepuja
os significantes individuais, a significao da fala absorvida na
sua ressonncia no seno
um eco, um espelho da sociedade, uma abertura.
O homem, sua histria prpria, seus atos, gestos e palavras
continuaro sendo uma
instigante novidade. Para ele, convergem teorias, tcnicas e
mtodos de estudo desvelando o
seu caminhar no processo histrico luz da mobilidade do
testemunho no territrio das suas
prprias certezas e hesitaes. Esse trabalho foge a generalizao
compulsiva ao restituir ao
prprio sujeito, de forma individual, o balizar sua trajetria e
sua histria de vida.
-
33
Tabela de Entrevistas
Entrevistado Entrevistador(es) Temtica Data
D. Paulo
Evaristo Arns
Jorge Claudio
Luciara S. de Arago
e Frota
Jos Mario Getimane
Yvone Dias Avelino
A Universidade na
caminhada do povo 10/03/1980
Andr Franco
Montoro
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
Um poltico dentro da
Universidade Catlica 30/09/1981
Joel Martins
Luciara S. de Arago e
Frota
Carlos Lucas Mali
Experincias de trabalho
na Ps-Graduao 02/10/1980
Jos Carlos
de Ataliba
Nogueira
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
A criao da Universidade
Catlica 23/09/1981
Oswaldo
Aranha
Bandeira de
Mello
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
A Reitoria e a
Universidade na opinio
do primeiro Reitor Leigo
07/03/1979
Enzo Campos
Guzzo (Padre
Enzo)
Luciara S. de Arago e
Frota
A Universidade no
pensamento de um de seus
pensadores
29/06/1979
Geraldo
Ataliba
Nogueira
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
O perodo de Reitoria
(1972/1976) 21/06/1983
Joaquim
Alfredo da
Fonseca
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Joelza Ester
Domingues
A Faculdade de So Bento
e o curso de Geografia na
Universidade Catlica de
So Paulo
02/07/1979
Geraldo
Pinheiro
Machado
M. Paula P. de Aguiar
Vera Lcia Baleroni
Luciara S. de Arago e
Frota
A criao da Universidade
Catlica e seus propsitos
a partir do movimento do
Centro D. Vital no Rio de
Janeiro; A fundao do
CEDIC e a criatividade
filosfica
24/09/1981
-
34
Aniela Meyer
Ginsberg
Yvone Dias Avelino
Jos Carlos Gonalves
Luciara S. de Arago e
Frota
Uma experincia na
Psicologia 15/12/1980
Milton de
Miranda
Vera Lcia L. Baleroni
Vera M. D. de
Andrade Rinoldi
Projetos e administrao 26/08/1981
Luis
Kubinsck
Feigue Killer
Mrcia T.
Mielennhausen
Nlli Silva K. Rizzo
A biblioteca e a sua
formao 12/12/1980
Ari Silvrio Luciara S. de Arago
Jean-Claude Silberfield
A vida administrativa na
Universidade 28/06/1979
Antonio
Penteado de
Azevedo
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Jos Carlos Gonalves
A importncia cultural e
poltica da PUC-SP e suas
fontes de sobrevivncia
11/06/1979
Jos
Massafumi
Nagamine
Luciara S. de Arago e
Frota
Carlos Eduardo
Caldarelli
Paulo da C. Pan
Chacon
Erivaldo Fagundes
Neves
O Curso Bsico, O
movimento de reforma
universitria na PUC-SP e
o desenvolvimento
nacional
10/12/1980
Ramn
Martinez
Alcaraz
Heraluise M. de
Almeida
Eduardo Roberto D. da
Silva
A Revista da PUC-SP 12/03/1981
Oswaldo
Leite de
Moraes
Mrcia T.
Mielennhausen
Feigue Killer
O Estatuto da
Universidade. A
Faculdade de Direito
11/12/1980
Feliciano da
Rosa Aquino
Nlli Silva K. Rizzo
Manoel Severo de
Farias
Dados para a Histria da
PUC-SP 28/06/1979
Jos J.
Queiroz
Luciara S. de Arago e
Frota
Joelza Ester Vieira
A criao do Instituto de
Estudos Especiais e seus
resultados
16/12/1980
Elza Ferreira
Lobo
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Jorge Cludio
O TUCA, o Tuquinha, as
Agregadas e as
Incorporadas
07/12/1979
-
35
Carmem
Sylvia
Junqueira
Luciara S. de Arago e
Frota
Jean Claude Silberfeld
A Antropologia da
Universidade 26/04/1981
Clia Sodr
Doria (Madre
Cristina)
Adilson Jos
Gonalves
Yvone Dias Avelino
O poltico repressor, o
movimento estudantil a
criao do Instituto Sedes
Sapientiae
07/12/1980
Demerval
Saviani
Luciara S. de Arago e
Frota
Joelza Ester
Domingues
Helena Freire Moreau
O papel do educador nesta
Universidade 13/08/1981
Lus Eduardo
Wanderley
Luciara S. de Arago e
Frota
Jean Claude Silberfield
Das experincias na JUC
s experincias da PUC-
SP
04/04/1981
Nadir Gouva
Kfouri
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
O processo de
democratizao e o
episdio da invaso da
Universidade
27/09/1982
Casimiro dos
Reis Filho
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Juvenal de A. Penteado
Neto
A reforma universitria e
o Curso Bsico 10/10/1981
Ednio dos
Reis Valle
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Jean Claude Silberfeld
A USP e a PUC: dois
transplantes europeus 21/08/1982
Antonio
Joaquim
Severino
Luciara S. de Arago e
Frota
Jos Carlos Gonalves
Ilka Stern
Igreja, Universidade e
Sociedade 14/02/1981
Clia Coelho
Pereira Leite
(Madre
Olvia)
Slvia Ins Conegliani
Carrilho de
Vasconcelos
O Programa de Lngua
Portuguesa na Ps-
Graduao
10/03/1979
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36
HISTRIA VIVIDA E CONTADA
CONFIDNCIAS NA ANTE SALA DO ESTDIO
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D. PAULO EVARISTO ARNS
P- D. Paulo, ns o admiramos muito, e sabemos muita coisa sobre o
seu sacerdcio, porm
nada melhor do que o senhor mesmo para nos falar informalmente
sobre a sua vida.
R- Nasci em Forquilhinha, no dia 14 de setembro de 1921, e
realizei meus estudos
fundamentais ali mesmo. Mais tarde ingressei no seminrio
Franciscano, Seminrio Serfico
So Lus de Tolosa, em Rio Negro no Paran. Assim, sou um frade
Franciscano, um sacerdote
catlico, e Deus me confiou ser o dcimo stimo bispo de So Paulo,
o seu quinto arcebispo e
terceiro cardeal.
P- Como era o nome de seus pais?
R- Minha me foi Helena Steiner Arns, e meu pai Gabriel Arns.
P- O senhor deve ter boas recordaes de sua ordenao, no ?
R- Sem dvida. Fui ordenado presbtero, na cidade de Petrpolis, no
dia 30 de novembro de
1945. uma data inesquecvel para mim. Quem me ordenou foi o
arcebispo de Niteri, Dom
Jos Pereira Alves. Eu j exercia o meu ministrio em Petrpolis h
cerca de uma dcada,
trabalhando com a populao carente. Lecionei no Teologado
Franciscano de Petrpolis e
tambm na Universidade Catlica.
P- E quanto aos estudos do senhor na Sorbonne?
R- Fui para a Frana estudar na Sorbonne, que uma grande
Universidade. Ali aprendi muito
e tive a oportunidade de praticar bastante a lngua francesa. Meu
desejo era, contudo, retomar
minha ptria e transmitir os conhecimentos ali aprendidos. Acho
que poucos ou nenhum de
vocs precisaram ficar cerca de 12 anos e meio estudando em trs
escolas superiores e ficar
pouco tempo como professor e j me mandaram para So Paulo e eis
que aqui estou com
vocs. Bom, mas de fato, no meu retomo, fui professor nas
faculdades de Filosofia, Cincias e
Letras de Agudos e Bauru, mas no deixei de, retornando
Petrpolis, continuar a dar
assistncia aos desfavorecidos. Todas estas atividades foram
realizadas antes do meu
episcopado, pois em 2 de maio de 1966, fui eleito bispo auxiliar
de Respecta e auxiliar de So
Paulo...
P- O senhor era um jovem de 44 anos e tinha um longo percurso
pela frente como pastor...
R- Vejam, creio que continuarei sempre jovem em esprito. O meu
prprio lema EX SPE IN
SPE que significa de esperana em esperana reflete meus
sentimentos e Deus tem me
alimentado com esta esperana.
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Recebi a ordenao Episcopal na Igreja Matriz do Sagrado Corao de
Jesus na minha
saudosa Forquilhinha, tendo como sagrante principal o arcebispo
de So Paulo Dom Agnelo
Rossi e como consagrantes o bispo coadjutor de Lages Dom
Honorato Piazera, e o ento
bispo de tubaro Dom Anselmo. Mas, um das mais importantes fatos
da minha vida foi
nomeao pelo Papa Paulo VI, como arcebispo metropolitano de So
Paulo. Teve comeo
uma grande misso. Primeiro, uma misso junto ao povo; segundo,
uma misso na
Universidade. Afinal os caminhos se encontram... o que eu sempre
digo a Universidade
deve estar na caminhada do povo. Quando fui nomeado arcebispo de
So Paulo, no primeiro
encontro com a direo da PUC ressaltei vrios pontos que achei
importantes. Ento, eu disse
que a Universidade, tal como hoje, s teria sentido ajudando a
solucionar problemas reais. A
ela cabe sensibilizar os estudantes e toda a sociedade tocando o
ego do cristo no povo e no
ser somente um local de encontros, mas um laboratrio onde se
constri positivamente o que
existe dentro de uma cidade ou de uma nao.
P- E quanto s dificuldades que j se anunciavam em 1961?
R- Foi uma poca difcil para o Brasil, uma poca que teve muita
influncia na prpria
democratizao da PUC.
P- Bom, mas o senhor falava do papel da Universidade...
R- Sim, ela tambm um local privilegiado para a busca de
alternativas para a sociedade e
para a nao. Prioritariamente o local onde se faz pesquisa
consciente, onde se deve saber
falar com o povo, discutir com o povo, e onde o povo fala. A
universidade deve atuar com as
comunidades e elaborar projetos com o povo e para o povo, nos
mais diversos nveis. Por que
no aproveitar a experincia do povo se sem ela no se pode
analisar o que ele faz ou
colaborar com ele? Ao povo cabe tambm tomar a histria na mo.
P- O que o senhor prefere em suas atividades?
R- Gosto de escrever. Creio que tenho cerca de 50 livros. So
obras sobre a ao pastoral da
Igreja, e estudos da literatura crist dos primeiros sculos do
cristianismo. Voltei a atuao
pastoral para a periferia, para os trabalhadores e para a formao
das comunidades. Penso que
a ajuda aos menos favorecidos e o patrocnio dos direitos humanos
dever de todo cristo.
Quando era bispo auxiliar, trabalhei em Santana na regio norte e
o que vivenciei ali e em
outros lugares nunca me deixa esquecer a importncia do papel do
cristo e o fato de que seus
deveres no tm aspectos formais, mas de fundo, de contedo.
Durante o regime militar lutei
pelo fim da tortura no Brasil e pelo restabelecimento da
democracia. No poderia ser de outra
forma, pois o ato de torturar incompatvel com a natureza do
cristo, com a dignidade da
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pessoa humana, sagrada diante de Deus. O que me alegra e
impressiona aqui na PUC e
mesmo em So Paulo o contato pessoal com tanta gente que militou
na Ao Catlica. Ser
cristo portar o fogo de Cristo, ser acolhedor pensar novas
ideias para a juventude, para
os migrantes que devem ser tratados com compreenso, para os
casais, enfim fomentar,
implementar ideias que tomem o mundo melhor. O ideal de ser bom
e justo deve ser sempre
uma meta, um desejo sincero de nosso corao. Quando criei em 1972
a Comisso Justia e
Paz de So Paulo e incentivei a Pastoral Operria e a Pastoral da
Moradia cumpriu com esta
atividade a minha obrigao crist e pretendi colaborar para que os
demais sintam o quanto
algum se importa, o quanto a Igreja se importa com cada um
deles. A minha verso da Igreja
a de que haver uma consonncia entre ela, o homem e a participao
do homem.
P- E quanto ao papel da Universidade? A ligao entre Universidade
e democracia?
Estamos vivendo uma fase, nova fruto de vrias tentativas de
democratizao. Apesar de toda
escola formar mais para o individualismo competitivo do que para
o universalismo e o
pluralismo. A Campanha da Fraternidade de modo claro, vocs viram
o discurso de D. Hlder
Cmara? Ele soube acentuar no seu discurso o individualismo do
estudante que passa pela
escola e nunca retoma, sobe na vida, e deixa a Universidade sem
lembrar-se sem retomar para
dizer um obrigado. Nesse processo deram-se as eleies para a
Reitoria da Universidade para
chefe de Departamento e isto uma coisa nova que dever dar bons
frutos no futuro. As
reflexes da CNBB sobre orientao poltica dizem respeito a que
para ns cristos o que se
procura a democracia como forma de sociedade, como forma de
organizar-se, e neste
sentido na Universidade deve pulsar o corao da sociedade.
P- E quanto importncia dos temas, digo, dos estudos especiais
dentro da Universidade?
R- Claro que os estudos especiais tm repercusso aqui e em outras
reas l fora. Temas de
debate so as cadeias e prises, as comunidades de base, o
problema do menor o prprio
simpsio sobre Psicologia do homem de rua e outros assuntos
apontam para uma meta: a de
pelo menos encaminhar os problemas do povo.
P- As suas obrigaes como Chanceler so muito pesadas?
R- Eu no diria pesadas, mas so grandes responsabilidades, pois
tenho que cuidar dessas
diretrizes como pano de fundo, isto porque sabemos que atrs de
qualquer ao est uma
poltica e a nossa dentro da PUC manter a identidade com o
evangelho orientao da Igreja
universal, e claro, da Igreja no Brasil e a daqui de So Paulo. A
sigla CNBB conhecida
mundialmente e provoca discusses e divises e mesmo conflitos. H
sempre um grande tema
humano e social. Houve um outro documento com o que eu ganhei o
ttulo de mau brasileiro.
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P- Foi o do apelo de paz e fabricao de armas?
R- Sim. Este foi feito por uma equipe que elaborou entre os 250
bispos e notem que entre 250
bispos nenhum deles deixou de dar o seu voto a favor, ento so
250 mos nesse documento
que eu reputo muito importante.
P- Mas D. Paulo, outros temas discutidos so tambm muito
polmicos, como: Poltica
externa e conflito de terras...
R- Sim. E so questes sobre as quais devemos refletir de forma
crist.
So tambm assuntos universitrios e na Universidade deve-se
examinar o contedo e a
previso de problemas que geram consequncias sobre cidades e
pases. O tema dos direitos
humanos no deve ficar s com os bispos, a comunidade crist quem
deve assumir este
papel. No comeo, esperava-se uma soluo dada pela cria, mas o
povo pelas cartilhas
distribudas j sabe como reagir.
P- Qual a ajuda da equipe de Paulo Freire?
R- Ele nos ajudou a elaborar um caderninho e a fazer audiovisual
para as comunidades de
base. Treinaram monitores durante seis meses, bem dentro da
caminhada da igreja, nestes
ltimos dez anos, e discutindo com o povo despertou o interesse
sobre a situao brasileira em
vrias reas. Tirou-se a sntese da gravao e ficou a lio de que
este trabalho parecia ser o
de uma Universidade unida. Quando algum pergunta quando que a
Universidade vai
caminhar com o povo, ficam todos olhando e esperando pela
PUC.
P- 91% das pessoas em So Paulo trabalham remuneradas e no faz
diferena se so ricas ou
pobres. A justia e trabalho devem ser iguais para todos. Justia
e trabalho no podem ser
assumidos por uma cpula, mas voltar s mos das classes
trabalhadoras, aos sindicatos e as
comunidades de base. Contudo, isto no pode substituir o povo nas
suas reivindicaes.
Sempre nos pedem para assegurar a formao de lideranas populares
que no permitam que
o povo seja manipulado e ai a Universidade tem um grande
papel.
P- O que o senhor nos diz sobre a Campanha da Fraternidade de
1982?
R- Ela encara, em primeiro lugar, a formao do povo brasileiro.
Os cursos Primrio e
Secundrio, a realidade das escolas de periferia e do interior do
Estado so calamitosas. A
grande pergunta : o que que a Universidade pode fazer para
reanimar o ensino? O
professor, este marginalizado, est quase perdendo o entusiasmo
de ser professor. E professor
uma pessoa de vocao, mas o que desestimula a marginalidade de
suas reivindicaes.
Mas quero terminar esta entrevista com um aceno de esperana. Sei
que na Universidade est
em crise o prprio ensino isto se vincula ao econmico e ao
social, provocando uma ao
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poltica. Aqui na PUC o grande problema como conservar a
autonomia dentro de um
sistema que inclui ou determina a prpria subsistncia da nossa
Universidade. A PUC, nestes
anos, influenciou a comunidade de So Paulo e mesmo todas as
Igrejas do Brasil. Ela vem
influenciando outras Universidades nestes ltimos dias. Tivemos a
coragem de ser a primeira
instituio brasileira a conferir a D. Helder Cmara o ttulo de
Doutor Honoris Causa.
Quero est ao lado de vocs sempre, se vocs estiverem ao lado do
povo nesta caminhada que
fazemos. Meu sonho que a universidade seja o povo. De fato, a
sua alma e a sua esperana.
P- D. Paulo receba a nossa gratido e o nosso respeito. Estamos
felizes por saber o quanto o
senhor tem se destacado pela defesa dos direitos humanos. Tal
como D. Helder, o senhor
tambm mereceu o ttulo de Doutor Honoris Causa da Universidade de
Notre Dame, em
Indiana, nos Estados Unidos. Esta distino o coloca no mesmo
patamar do Presidente Jimmy
Carter, do Cardeal Stephen Kim Sou-hwan da Coria e Daniel
Lamont, bispo de Umtali da
Rodsia... No sei se lembram de que isto foi em 22 de maio de
1977. Sabe, D. Paulo, o
senhor o nosso Cardeal campeo.
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ANDR FRANCO MONTORO
P- O senhor foi o primeiro presidente da JUC, no ?
R- Em 1937, 1938, o ano exato eu no me lembro, mas fcil eu ver a
documentao, ns
organizamos, em So Paulo, os dois primeiros ncleos da Ao
Catlica, representados pelo
JOC, tendo presente, o Gesto La Creta, pela JUC, da qual eu fui
o 1 Presidente, e Rubens
Padim, hoje, D. Cnd ido Padim, o 1 Vice-Presidente. Foram dois
movimentos que tiveram,
na poca, a significao de uma mudana de atitude, e que
representavam a participao do
setor operrio e do setor estudantil no debate dos problemas
nacionais, e no encaminhamento
de solues, diante de uma perspectiva de substituio do
paternalismo do Estado e das
prprias autoridades religiosas, por uma participao responsvel e
ativa.
Eu fui, por duas vezes, presidente da JUC: a primeira vez foi a
da fase em que era Bispo
auxiliar de So Paulo, D. Jos Gaspar da Fonseca e Silva, que foi
o grande dinamizador da
Ao Catlica. Ele era um mineiro de Uberaba, jovem, ativo,
entusiasta.
Ns organizvamos vrios movimentos no campo social. Por exemplo,
ns construmos uma
colnia de frias em Itanham, que era um lugar de refeio e de
encontro de estudantes de
todas as escolas: medicina, engenharia, letras, filosofia,
educao, economia, etc. Essa colnia
foi sendo construda com campanhas nossas. Em parte, ns mesmos
trabalhvamos ajudados
por alguns irmos leigos beneditinos. Pena que essa colnia tenha
sido vendida
posteriormente.
Depois com a morte de D. Jos Gaspar, que era Arcebispo de So
Paulo. Houve um pedido de
quase interveno, realizado pela Junta da Ao Catlica, que era
comandada pelo Plnio
Correia de Oliveira. Com a nomeao do novo Arcebispo, que era D.
Carlos Carmelo de
Assuno, houve a discusso de prosseguir a Ao catlica na linha
anterior. Foi a que eu fui
chamado, mais uma vez, l, para presidir uma nova transio... essa
fase da junta.
P- Quais eram as perspectivas dos grupos de Ao Catlica?
R- Os grupos de Ao Catlica tinham uma perspectiva de uma mudana
fundamental,
fomentados pelas direes marcadas da encclica Mater Magistra, da
quadragsima, isto , de
uma reforma de uma linha no capitalista, nem individualista...
Digamos de uma afirmao
dos trabalhadores.
Pela sua repercusso, a JOC era o movimento, talvez, mais
importante. claro, os
trabalhadores tm um peso social muito maior. A grande figura da
poca era o Cnego
Cardin, que era filho de operrios, e que, no episdio histrico
que era muito citado, por
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ocasio da morte do pai que morria, assim, vtima de acidente de
trabalho, vtima do
capitalismo, prometeu dar a sua vida numa luta pelo
trabalhador...enfim, pela causa operria.
E fundou, iniciou, na Blgica, um movimento, que originou a JOC
Internacional.
Ele veio, varias vezes, ao Brasil. Eu o conheci aqui, no Brasil.
Ele tinha contato com os
operrios. Era um movimento internacional, uma luta de grande
porte. Foi to grande a
influncia do Cnego Cardim, que ele acabou sendo feito Cardeal,
Cardeal Operrio. H
expresses dele muito interessantes... Uma das frases que ns
repetimos do Cardin, era de que
Se voc quiser saber qual a situao de uma comunidade, procure
conhecer o salrio dos
trabalhadores daquela comunidade. As outras questes so
assistenciais, assistencialistas, e,
pela remunerao que ele recebe se pode medir o grau justia ou de
injustia de uma
comunidade. Esse fulgor teve repercusso no mundo inteiro: Amrica
Latina, sia, frica...
Eram reivindicaes sociais e operrias, reivindicando um lugar
para o trabalhador na vida
social; trabalhando pela maioridade de classe operria.
Havia os jucistas e os jucistas, que ocupavam assim, posies de
liderana no meio operrio.
Participavam das lutas sindicais. Queriam, tambm, as duas
polticas. Por exemplo, o
Presidente do JOC era o Zez Moraes, que foi Vereador; o Gasto La
Creta, o Z Moraes,
etc., e esta moa que est hoje na escola, na Universidade, na
parte de Servio Social... a
Suzana. A Suzana participou muito desse movimento. O movimento
da JOC... Yay Soares...
Foi um movimento precursor, na poca; era a negao do
paternalismo. Tinha uma posio,
assim, antipaternalista e muito ciosa da independncia e da
maioridade da classe operria. Os
lderes da JOC faziam concentraes, muitas vezes, com milhes de
pessoas. Agora, no
queriam se confundir com partidos polticos.
As coisas foram amadurecendo e houve transformaes, mas a JOC,
realmente, no se
confundiu nunca com um movimento poltico, com um partido
poltico. Tinha se quisermos
um sentido poltico, no sentido de mudar a direo da vida social,
querendo dar uma marca de
uma participao preponderante dos trabalhadores, mas nunca se
confundiu com um partido.
Havia muitos, por exemplo, o Zez Moraes, que entrou para o
Partido Democrata Cristo, e
eu, que pertencia Ao Catlica e fui, at, Secretrio Geral da Ao
Catlica, que na sua
fase final. Quando entrei para a ao poltica, por conselhos da
prpria direo da Ao
Catlica, desliguei-me da direo da Ao Catlica para entrar na ao
poltica com minhas
responsabilidades pessoais de cidado.
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Fui lanado candidato... Fui primeiro, candidato a vereador. Fui
candidato a Vereador,
lanado pelo grupo da JOC, do grupo operrio do Moinho Velho, no
Ipiranga. Minha votao
foi no bairro operrio do Ipiranga, embora eu tambm tivesse votao
de estudantes.
Eu fui eleito vereador, e renunciei ao mandato s no momento em
que houve, l, uma
Malufada, a compra... H homens que acham que, na ao poltica, o
prprio deve ser este:
Todo homem tem seu preo. Ento, aplicaram o princpio, e elegeram
o candidato
Presidncia, na base da compra. Em sinal de protesto, eu
renunciei ao meu mandato.
Renunciei, e meu suplente que assumiu. Meu suplente era
exatamente o lder do JOC, Jos
Moraes, que era presidente da JOC. E, eu retomei minha cadeira
na Universidade. Mas, dois
anos depois, fui candidato a Deputado estadual. Fui, tambm,
eleito, com a maior votao. E,
no dia da eleio, eu fui eleito Presidente da Assembleia. Fiquei
na Assembleia quatro anos, e
depois, fui Deputado federal.
P- O PDC foi formado pelos senhores?
O PDC no foi formado por ns. Ele foi formado aqui, em So Paulo,
a partir de So Paulo
pelo prof. Cezarino Jr. E por grupo de professores. Ns estvamos
fora da ao poltica.
Cezarino Jr. Foi o primeiro Presidente e Fundador do PDC, e era,
tambm, professor de
Direito do Trabalho da USP. Faculdade de Direito da USP. Ele e o
pessoal do Instituto de
Direito Social fundaram o PDC, logo depois da guerra, mais ou
menos na linha dos partidos
democratas cristos que surgiram no aps-guerra, na Europa, e que
tiveram uma funo
histrica notvel: foram como que os construtores da Europa: De
Gasperi, na Itlia; Adenauer
na Alemanha; Schumann, na Frana. E os outros movimentos
semelhantes na Holanda, na
Blgica e na ustria. Eles fizeram esse movimento aqui, mas no
tinham... eles eram
professores, intelectuais, no tinham ...
At que se realizou, em 1949, uma reunio em Montevidu, um
encontro de lideranas crists,
que estavam engajadas na ao poltica. Em nome do Brasil,
compareceram Tristo de
Athayde, que me convidou insistentemente para que fosse. Eu
estava saindo da Faculdade. Eu
era secretrio da Junta da Ao Catlica, quando fui convidado pelo
Dr. Alceu para ir a esse
encontro de Montevidu. E, foram, para Montevidu, trs
representantes do Brasil: Dr. Alceu,
Sobral Pinto, e eu. Eles, mais velhos, e cada um na sua vocao,
dizendo que no se
desligavam disso. E, na volta, estivemos aqui, em casa, aqui,
nesse lugar, mesmo, com um
grupo, achando que deveramos organizar um movimento democrata
cristo. E, aqui,
organizamos um movimento que se chamou Vanguarda Democrtica, que
acabou entrando
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no PDC, e pegando a direo do PDC. De algumas reunies,
participaram o Padre Lebret e D.
Hlder Cmara, aqui mesmo. E, a, entramos para poderamos dizer, um
partido.
Essa frente queria uma integrao poltica, mas no tnhamos coragem
de entrar para um
partido... Todos nos pareciam inaceitveis. Eu me lembro de que
para vencer a posio
farisaica em que a gente se colocava, eu escrevia um artigo num
jornal, no de So Paulo,
com esse ttulo: Poltica, no s digna, numa caricatura mostrando a
aposio farisaica em
que ns no tnhamos disposio para sujar as mos, e a poltica, que
era impura. O Padre
Lebret, numa das reunies, aqui, nos dizia: preciso ter a coragem
de sujar as mos, entrar
na histria. Vocs no podem ficar no escuro. E entramos na ao
poltica. Entramos no
PDC.Com a poltica interna, l, cheguei a ser expulso do partido.
Convocamos uma
Assembleia Geral, e eu acabei como Secretrio Geral desta conveno
geral do partido. E
iniciamos a experincia no PDC. Comeou pequena. Na nossa primeira
experincia poltica,
apresentamos como Deputados Federais, o Queirs Filho e o Jos
Reis; e, para Deputados
Estaduais, quatro: o Gasto Lacreta, que era presidente da JOC, o
Luiz Tolazza Filho, que
advogado ainda hoje, era representante da JUC, etc., o Clvis
Garcia, professor de teatro da
USP... o Clvis Garcia... Quem era o quarto? Ah! O Pereira
Junqueira. Esses eram quatro
candidatos a Deputados Estaduais de outra chapa do PDC. Entramos
como um grupo dentro
do PDC. Eu no era candidato, no. No pretendia ser. Trabalhei
muito por eles, mas Houve a
derrota geral. E, ai, o Queirs Filho, que era o grande poeta,
lembrava a poesia de Zanille de
Saint Martin, que dizia assim: preciso que a semente seja
esmagada para que a rvore
cresa. E na eleio seguinte, foi a eleio para vereador. Eu no
pretendia ser candidato, mas
o pessoal me lanou para candidato a Vereador. A, ns elegemos
cinco vereadores. E,
comeamos o movimento... Depois, na eleio seguinte eleger o
Queirs Filho Deputado
Federal... e, com mais dois que se elegeram em outros Estados, o
PDC tinha trs Deputados
Federais. Na eleio seguinte, foi que se elegeu sete Deputados
Federais. J, na outra, vinte; e,
nas eleies, que se realizariam em 1965, se elegeria seguramente
mais de 50 Deputados
Federais. Era a fora que mais crescia no Brasil.
A Igreja no estava, totalmente, separada desse processo, s
respeitavam a deciso, mas ns
fazamos questo de fazer.. O PSD, a UDN tinham muito mais
candidatos ligados Igreja do
que o PDC. Ns tnhamos, em lugares, dificuldades. Em muitos
setores, ns ramos suspeitos
de subverso, de comunistas. A minha tese de doutoramento da PUC
era sobre Propriedade.
Trs temas sobre propriedade. Ela foi tida como tese de
comunista, subversiva, etc. Alguns
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46
professores tentaram at recusar a tese, que desmembrava a
propriedade humana na linha de
Maurier, propriedade privada e formas particulares de
propriedade.
P- O senhor pode falar sobre a importncia do Ncleo de Ao catlica
e do nascimento da
PUC?
Nesse Ncleo de Ao catlica, tnhamos contato com D. Carlos, com
autoridades de uma
grande situao: o Almeida era o presidente da DIC, Liga dos
Intelectuais Catlicos, uma
coisa assim; tnhamos algum contato com D. Paulo, por meio de
Dominicanos, Frei Rosrio
Joffrin, que teve uma grande atuao aqui. Mas, no tinha a parte
poltica, tanto que, quando
eu entrei para a ao poltica, eu me desliguei da posio na Ao
Catlica, para separar as
experincias.
A PUC nasceu, praticamente, desse contato do cardeal de So
Paulo, D. Carlos Carmelo, com
esse grupo, que se reunia, muitas vezes, no Palcio. Ns, uma vez
por semana, ns reunamos
l, tnhamos uma missa de manh cedo, tomvamos caf com ele, com D.
Carlos Carmelo e a
presena dos Dominicanos, principalmente, Frei Rosrio Joffrin,
Romeu Detti tambm e
outros...
Da foi surgindo a ideia de se constituir uma Universidade
Catlica. Numa dessas reunies, D.
Carlos pediu que ns elaborssemos um esboo de estatuto, de
estrutura jurdica. Ns vimos
primeiro, que era preciso estabelecer uma Fundao que fosse
entidade mantenedora da
Universidade. Elaboramos todo o primeiro esboo de estatuto...
Ainda devo ter, at comigo, o
primeiro estatuto da Fundao.
E, a primeira reunio que ns tivemos, foi um desses encontros,
uma reunio noite, com D.
Carlos l no Palcio. Ns fomos chamada Pizzaria Giordano na Av.
Brigadeiro Luiz
Antnio. E, depois de uma pizza, l, cerveja, chope, no verso... A
pizza vinha numa bandeja
de papelo, e, no verso, que ns comeamos... Havia vrios advogados
presentes. Ns
sabamos que, de acordo com a lei, precisaramos constituir pontos
fundamentais;
denominao, sede, fins, estatutos, afora o que se administra e
representa... Todos os outros
itens. E, fizemos ali, no papelo mesmo, uma indicao dos pontos
fundamentais, e que foi,
depois, datilografado. Ali, no tinha papel, ento, fomos
colocando os pontos fundamentais
no papelo.
Ento, achvamos que devia ser Fundao So Paulo, e uma ideia que,
alis, estava nos
primeiros itens, quando se examinava os estatutos da Fundao So
Paulo da PUC era fazer
da Universidade de So Paulo... Nosso pensamento no era de que
ela fosse uma
Universidade Catlica, Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo. Ela deveria ter o
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esprito desse humanismo cristo, mas deveria se