CESÁRIO LOURENÇO MARTINS NÍVEIS DE ANTICORPOS CONTRA O SARAMPO ENTRE AS MULHERES EM IDADE FÉRTIL NA POPULAÇÃO DA GUINÉ BISSAU EXPOSTAS A SARAMPO NATURAL E A IMUNIZAÇÃO CONTRA SARAMPO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Saúde Pública, área de concentração em Epidemiologia Geral, do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. ORIENTADORA: MARIA DO CARMO LEAL CO-ORIENTADOR: LUIZ ANTONIO BASTOS CAMACHO RIO DE JANEIRO 2002
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NÍVEIS DE ANTICORPOS CONTRA O SARAMPO ENTRE AS … · cesÁrio lourenÇo martins nÍveis de anticorpos contra o sarampo entre as mulheres em idade fÉrtil na populaÇÃo da guinÉ
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CESÁRIO LOURENÇO MARTINS
NÍVEIS DE ANTICORPOS CONTRA O SARAMPO ENTRE AS MULHERES EM IDADE FÉRTIL NA POPULAÇÃO DA GUINÉ
BISSAU EXPOSTAS A SARAMPO NATURAL E A IMUNIZAÇÃO CONTRA SARAMPO
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Saúde Pública, área de
concentração em Epidemiologia Geral, do
Departamento de Epidemiologia e
Métodos Quantitativos em Saúde da
Escola Nacional de Saúde Pública,
Fundação Oswaldo Cruz, como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre.
ORIENTADORA: MARIA DO CARMO LEAL
CO-ORIENTADOR: LUIZ ANTONIO BASTOS CAMACHO
RIO DE JANEIRO
2002
ii
Aos meus pais, Domingas e Lourenço, pelo exemplo
de vida, e por terem me ensinado o valor do trabalho
e do estudo.
À minha esposa Numa e à minha filha Anita,
por vocês qualquer esforço vale a pena. Pelos
momentos que não ficamos juntos, momentos que
não voltarão, mas, com certeza, teremos muitos
outros...
iii
Agradecimentos
“Tudo posso naquele que me fortalece”... Obrigado meu Deus!
A Peter Aaby, à Amabelia Rodrigues, à equipe do sarampo e a todos os
funcionários do Projeto de Saúde de Bandim que tornaram possível este sonho.
À Maria do Carmo Leal e Luiz Antonio Bastos Camacho, por toda a atenção,
carinho e dedicação. Sem as suas orientações teria sido muito difícil avançar neste momento
de iniciação científica. Os seus ânimos e os seus “insights” foram contagiantes e me levaram
junto no amadurecimento desta pesquisa. Muito obrigado!
Aos meus colegas do curso de mestrado, em especial a Abrantes Araújo Silva
Filho, amigo de toda a vida, pelo estímulo, pelos conselhos, cuja boa vontade sem limite foi
decisiva para tornar possível o meu sonho.
Agradeço, finalmente, aos demais, que de forma direta ou indireta contribuíram
para que eu tivesse tempo, disposição e paciência para concluir este trabalho
A todos vocês, o meu mais profundo e sincero agradecimento.
iv
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tenho amor, sou
como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tenha o dom de profecia, e conheça todos os mistérios da ciência, e
ainda que tenha toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, se não tenho amor, nada
sou...”
1 Coríntios 13:1,2
v
SUMÁRIO
RESUMO ........................................................................................................................... IX
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE MONOGRAFIA ............................................11
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ......................................................................................12 1. ASPECTOS BIOLÓGICOS, CLÍNICOS E FISIOPATOLÓGICOS DO SARAMPO
CAPÍTULO IV- SUJEITOS E MÉTODOS 4.1. Área do estudo...............................................................................................................35
4.2. População do estudo......................................................................................................35
4.3. Coleta de dados .............................................................................................................36
4.4. Desenho do estudo ........................................................................................................37
4.5. Determinação de títulos de anticorpos contra o sarampo..............................................37
4.6. As variáveis estudadas...................................................................................................38
4.7. Processamento e análise de dados.................................................................................39
Determinar o estado imunitário e investigar o impacto da infecção natural do
sarampo e da imunização na infância sobre os níveis de anticorpos contra sarampo nas
mulheres em idade fértil em uma população com exposição ao vírus selvagem.
Objetivos específicos
Descrever os níveis de anticorpos contra o sarampo nas mulheres em idade fértil
de Bandim;
Investigar a associação entre infeção natural do sarampo e os níveis de anticorpos
contra o sarampo nas mulheres do estudo;
Investigar a associação entre a história de imunização contra o sarampo e os níveis
de anticorpos nas mulheres do estudo;
Comparar os níveis de anticorpos contra o sarampo entre as mulheres imunizadas
pela infecção natural e pela vacina;
Investigar o efeito da infecção natural do sarampo e da imunização nos níveis de
anticorpos das mulheres segundo a história reprodutiva;
Investigar o efeito da presença de caso de sarampo no domicílio nos níveis de
anticorpos das mulheres;
Investigar o efeito do número de doses de vacina contra o sarampo nos níveis de
anticorpos das mulheres.
CAPÍTULO IV – SUJEITOS E MÉTODOS
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4.1 - Área do estudo
O estudo foi feito em Bissau, capital da Guiné-Bissau, em quatro áreas urbanas e
semi-urbanas, Bandim I, Bandim II, Belém e Mindará, as quais vem sendo acompanhadas
demograficamente, com vigilância de nascimentos, óbitos, gravidezes, adoecimentos e
vacinações, desde 1978 até então. As informações foram coletadas a cada três meses, quando
um entrevistador visitou o domicílio de todos os moradores.
No bairro de Bandim I a imunização contra o sarampo foi iniciada em 1979
através de campanhas de vacinação. A proposta era a de vacinar todas as crianças até os sete
anos de idade, caso não tivessem tido sarampo (Aaby 1994). Desde então, a imunização e a
vigilância do sarampo são realizadas em Bandim.
Esse programa de vigilância gerou um banco de dados de informações sobre as
imunizações e/ou infecções do sarampo na infância de uma coorte de mulheres residentes na
área do projeto.
4.2 - População de estudo
A população de estudo compreende todas as mulheres nascidas em Bandim I entre
os anos de 1976 a 1982 que ainda estavam vivendo nas quatro áreas sob controle do projeto.
Foram incluídas também as mulheres que nasceram em outras áreas, mas que vieram morar
em Bandim I nos anos acima mencionados antes de ter completado os três anos de idade e que
continuavam a viver nesses locais. Com esses critérios foram selecionadas todas as possíveis
candidatas no sistema de registro do banco de dados de Bandim I do Projeto de Saúde
Bandim. Os dados gerais da pessoa, tais como nome, data de nascimento, número de
identidade, bairro e zona de residência, incluindo o número da casa, nome da mãe e a data da
vacina contra sarampo foram preenchidos em uma ficha. Com essa lista partiu-se para terreno
a fim de identificar os participantes.
4.3 – Coleta de dados
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Aplicaram-se os questionários após uma prévia explicação detalhada dos
objetivos do estudo. Todas as mulheres que satisfizeram os critérios de seleção e aceitaram
participar do estudo, bem como suas mães, foram incluídas.
O questionário (Anexo 1) consta de duas colunas com as mesmas perguntas em
cada coluna, uma para ser respondida pela própria pessoa e a outra pela mãe, avó ou tia,
objetivando coletar dados específicos que identificassem a exposição ao sarampo e ao mesmo
tempo coletar as amostras de sangue para determinação do título de anticorpo.
Durante a entrevista sobre a exposição de interesse para o sarampo, priorizamos a
resposta dada pela mãe, avó ou tia, se foi a pessoa que viveu com a entrevistada durante a
infância. Se não foi possível obter as respostas dessas pessoas, a resposta da entrevistada foi
tomada em conta. Em relação ao estado vacinal, o registro foi retirado do sistema de
informações do banco de dados do projeto.
Utilizou-se como critério para a definição de caso informado de sarampo o mesmo
que vem sendo usado pelo Projeto Saúde Bandim, ou seja, a identificação da doença pelos
entrevistados do estudo, uma vez que, devido à sua alta incidência, larga experiência de
convívio acumulada e seu quadro clínico bem característico ela é facilmente reconhecida pela
população local.
Após a entrevista, o participante foi encaminhado para coleta de um ml de sangue
em micro tubo pelo técnico de laboratório, através de picada no dedo com lanceta. As
amostras coletadas no terreno foram conservadas em caixas térmicas e enviadas ao
Laboratório Nacional de Saúde Pública, onde foi feita a separação do soro. Os soros
separados foram congelados em freezer apropriado para tal e depois enviados para Gâmbia, ao
laboratório Medical Reserch Center - MRC, onde os títulos de anticorpos foram
determinados.
O estudo foi iniciado no final de dezembro de 1997 e teve duração de doze meses.
A coleta de dados se estendeu por um período maior do que o inicialmente previsto, de seis
meses, devido à grande mobilidade populacional, sobretudo nesses bairros, nos meses de
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março, abril e maio que são meses da campanha de caju, maior fonte de receita da população
guineense.
4.4 - Desenho do estudo
Este estudo caracteriza-se por utilizar um inquérito de soroprevalência para
determinação da situação imunológica para o sarampo de uma população definida da área
estudada, conforme diagrama anexo.
Todas as mulheres que satisfizeram os critérios de seleção e aceitaram participar
foram incluídas no estudo.
4.5 - Determinação do título de anticorpo
As amostras de soro foram coletadas no período compreendido entre o final de
dezembro de 1997 e maio de 1998, e analisadas para o teste da Inibição da Hemaglutinação
(HAI) do sarampo no laboratório MRC na Gâmbia.
Em resumo, o teste HAI para o sarampo foi executado desintegrando plasma, no
qual foi absorvido durante a noite com um terço de volume de célula de macaco. O plasma foi
diluído em salina contendo 0,5% de albumina de soro bovino e 0,1% de ácido sódico em
microtubos de placa não estéril. Unidades de antígeno de aglutinação de anticorpos, em
número de quatro, contendo fosfato buffered salina foram adicionados em cada diluição de
plasma e incubados a 37°C, por 3 horas. Então 25µL de 0,5% de células de macaco em
suspensão foram adicionados por cada um dos orifícios. Após 2 horas em temperatura
ambiental, as placas foram deixadas durante a noite a uma temperatura de 4°C e lidas por
vista desarmada na manhã seguinte (Maluf 1985; whittle 1990).
O título mínimo detectável depende de como os soros foram diluídos. Se a
diluição é um por dois (1:2) e o teste tinha a sensibilidade de 15,6 mIU/ml, o mínimo título
detectável no soro simples foi de 31,2 mIU/ml.
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Nesse nosso estudo de mulheres em idade fértil, os soros simples foram diluídos
em um por oito (1:8), e a sensibilidade do teste foi de 15,6 mIU/ml. Com esta diluição o
mínimo título detectável foi de 124,8 mIU/ml. (tabela 1).
Tabela 4.1: Conversão em miu/ ml (teste de Inibição da Hemaglutinação) Usando teste de Inibição da Hemaglutinação Diluição standard = 1:8 Sensibilidade = 15,6 miu/ ml
Categoria usada Equivalente em miu/ml0 0 Título de anticorpo indetectável1 124.8 miu/mlTítulo detectável2 249.6 miu/ml3 499.2 miu/mlAlto nível de proteção4 998.4 miu/ml5 1996.8 miu/ml6 3993.6 miu/ml7 7987.2 miu/ml8 15974.4 miu/ml9 31948.8 miu/ml
4.6 - As variáveis estudadas
Título de anticorpo: esta é a variável dependente que foi analisada de forma
contínua, variando de 0 (zero), que significa título de anticorpo não detectável, até 9 (nove)
que significa o máximo título de anticorpo contra sarampo detectável. Também essa mesma
variável foi categorizada de forma dicotômica, em títulos de anticorpos protetores, que na
escala contínua compreendem os valores que vão de 1 a 9, e outro grupo correspondente ao
título de anticorpos não protetores, que é o valor 0 da mesma escala.
Sarampo: a variável foi analisada de forma dicotômica, ou seja quem teve a
doença e quem não teve.
Situação vacinal: a informação desta variável foi tirada no nosso sistema de
registro de todas as doses da vacina contra sarampo recebidas e as datas da aplicação. Apenas
para duas dessas mulheres em idade fértil não foi possível identificar a data da vacinação no
registro. Esta variável foi analisada de forma dicotômica, em vacinadas e não vacinadas.
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Quanto às doses recebidas, considerou-se duas categorias: quem recebeu apenas uma dose e
quem recebeu duas ou mais doses.
Exposição a caso de sarampo: foi considerada exposta a pessoa que teve caso de
sarampo na casa, e também foi analisada de forma dicotômica, em expostos e não expostos.
Óbito de sarampo em casa: Esta variável é válida quando os casos da doença
resultaram em óbitos. A variável foi analisada de forma dicotômica, um para óbito e dois para
não óbito.
Já deu à luz: perguntado na entrevista se já havia dado à luz as mulheres foram
classificadas de forma dicotômica. Às que deram à luz, perguntou-se pelo número de vezes e
classificaram-se as mulheres em dois grupos: os que deram à luz uma vez e as que deram mais
de uma vez.
4.7 - Processamento e análise dos dados.
O banco de dados foi digitado em dBASE 5.0, a recodificação das variáveis foi
realizada eletronicamente utilizando-se software EpiInfo versão 6.0. Para análise univariada,
bivariada e multivariada utilizou-se o pacote estatístico SPSS 9.0 .
Foi constituído um banco de dados com as informações coletadas através do
questionário aplicado durante as entrevistas, conforme descrito na metodologia.
Procedeu-se uma análise inicial para identificação de erros de codificação,
inconsistências e a presença de categorias ausentes ou em pequenos números, fazendo
correções quando necessário. Recodificou-se algumas variáveis com o intuito de facilitar a
análise e o novo banco de dados foi gravado com as modificações realizadas. Esse banco
modificado foi utilizado para análise.
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4.7.1 - Análise univariada
Foi realizada uma análise exploratória dos dados, permitindo-se conhecer o perfil
epidemiológico da população estudada. As variáveis foram analisadas através de métodos
gráficos e proporções.
4.7.2 - Análise bivariada e estratificada
Inicialmente construímos tabelas nas quais a soroproteção foi tomada como
variável dependente e qualquer uma das variáveis independentes categóricas, para estudar a
distribuição das variáveis. A análise das diferenças entre as proporções foi feita com o χ² .
A associação (não ajustada) entre as variáveis de exposição e soroproteção foi
avaliada através de Odds Ratio das expostas e não expostas e descrito o seu intervalo de
confiança de 95%. Uma análise estratificada foi realizada para identificar as variáveis que
potencialmente causam confundimento na associação entre a variável de exposição e a
soroproteção, bem como para identificar as possíveis variáveis modificadoras de efeito.
4.7.3- Análise multivariada
De acordo com o resultado das análises univariada e bivariada realizamos uma
análise de regressão logística não-condicional para ajustar a associação entre os antecedentes
de sarampo e soropositividade controlada ao efeito das demais variáveis no modelo.
A estratégia de seleção de modelos utilizada foi a “eliminação hierárquica
reversa”, começando com a definição de um modelo completo “hierarquicamente bem
formulado” e testado a retirada de termos de maior ordem em primeiro lugar, até a retirada de
termo de menor ordem.
Os testes de hipóteses entre os modelos “completo e “reduzido” foram realizados
através do teste da razão de verossimilhança. A avaliação do “ajuste” do modelo foi realizado
através do teste Hosmer and Lemeshow goodness-of-fil e de método gráfico.
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A avaliação de confundimento foi realizada notando-se a mudança na odds ratio
quando da entrada ou retirada de termos no modelo.
Para a representação gráfica das variáveis estudadas utilizou-se o recurso do
Excel.
4.8- Considerações éticas
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Ministério da Saúde
Pública em Bissau e pelo laboratório de Medical Reserch Consul (MRC) de Gâmbia e pelo
Comitê de Ética na Dinamarca.
O consentimento das mulheres foi verbal dado o nível de alfabetização (mais de
80% das mulheres não sabem escrever). Estudos anteriores como este utilizaram o
consentimento verbal e a cooperação foi boa.
O estudo foi explicado em termos da necessidade de determinar os níveis de
proteção contra o sarampo dentre as mulheres em idade fértil, já que isso é importante para a
proteção de suas crianças. Essa informação pode ter implicação futura para a política de
imunização. Também foi explicado todo o processo de estudo, desde a sua participação na
entrevista e coleta de amostra sangüínea.
A coleta de amostra de sangue retirada do dedo não é considerada um risco para as
mulheres. Aquelas que tiveram níveis de anticorpos em valores não protetores foram
beneficiadas com a reimunização oferecida pelo nosso projeto.
42
CAPÍTULO V - RESULTADOS
Das 2240 mulheres em idade fértil que nasceram em Bandim I ou vieram morar
nesse bairro antes dos três anos de idade entre 1976-1982 e que foram registradas, somente
783 (34,6%) foram encontradas dentro da zona sob controle de projeto. Das 1457 (65,4%) que
não tinham sido encontradas na zona de estudo, os principais motivos da perda foram
mudança de endereço e falecimento.
Em 783 mulheres que se encontravam na área foram aplicados os questionários e
coletadas as amostras de sangue. Das 783 amostras de sangue enviadas até o laboratório para
exame dos títulos de anticorpos, somente 420 (53,6%) foram processadas. A comparação das
características das mulheres que tiveram avaliação sorológica com as que não tiveram mostra
que houve diferença entre elas. Foi mais elevada a proporção de mulheres que foram
vacinadas naquelas que fizeram sorologia e o inverso, mais elevada a proporção de mulheres
que tiveram sarampo na infância, no grupo para o qual não se tem resultado da sorologia. Os
grupos são, portanto, diferentes em relação às variáveis de interesse para o estudo, como
mostrado na Tabela 5.1, devendo estas diferenças serem consideradas na análise dos dados e
na interpretação dos resultados.
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Tabela 5.1: Comparação das características das mulheres com e sem sorologia. Bandim I – Guiné-Bissau, 1998
Com Sorologia Sem sorologia P-valorCaracterísticas N % N %Faixa etária14 - 19 anos 270 64.7 176 62.4 0.52820 - 25 anos 147 35.3 106 37.6Já deu à luzSim 140 33.6 124 35.5 0.570Não 277 66.4 225 64.5Ter sido vacinadaSim 281 66.9 206 58.4 0.014Não 139 33.1 147 41.6Uma dose de sarampo 252 90.0 182 89.2 0.499Duas doses de sarampo 28 10.0 21 10.3Intervalo de vacinacão11 - 13 anos 34 12.2 18 11.3 0.09514 - 16 anos 111 39.8 65 40.617 - 19 anos 134 48.0 77 48.1Ter tido sarampoSim 131 32.4 132 39.4 0.049Não 273 67.6 203 60.6Ter sido exposto ao sarampoSim 135 33.5 118 34.7 0.725Não 268 66.5 222 65.3
A Tabela 5.2 mostra que das entrevistas sobre a exposição ao sarampo, somente
em 417 mulheres, 57,6% do total, pôde-se obter a informação com as mães, avós ou tias, nas
42,4% restantes o dado foi coletado com a própria entrevistada. Destas, somente 0,5% disse
não ter recordado a história do sarampo.
Mais da metade das mulheres, 279 (66,9%), receberam pelo menos uma dose de
vacina contra o sarampo, sendo que apenas 28 delas, 6,7%, receberam duas doses. No total,
109 mulheres (26,1%) não chegaram a receber vacina. Em um caso (0,2%) temos a
informação de que foi vacinada, mas não temos a data da sua vacinação.
Em relação à ocorrência de sarampo na infância, 130 (31,2%) afirmaram que
tiveram a doença e 271 (65%) negaram ter passado pela infecção de sarampo. Apenas 16
mulheres (3,8%) não sabiam informar se tiveram ou não sarampo.
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A presença de um caso de sarampo no domicílio da entrevistada foi referida por
135 (32,4%) das mulheres. As restantes, 268 (62,0%), negaram ter alguém doente de sarampo
em casa no período analisado e 16 (3,8%) informaram não se recordar.
A história reprodutiva das mulheres em estudo mostrou que 139 delas (33,3%) já
haviam dado à luz, 275 (66,0%) eram nulíparas e 3 (0,7%) não responderam.
O resultado do teste HAI mostrou que em 43 (10,3%) dos soros testados não
foram detectados anticorpos contra o sarampo e que 374 (89,7%) das mulheres apresentavam
títulos protetivos contra o sarampo.
Tabela 5.2: Distribuição das freqüências das variáveis estudadas
Bandim- I Guiné-Bissau 1998
Variáveis N %
Resposta da exp pela mãe 240/417 57.6Vacina anti-sarampo 279/417 66.9Uma dose anti-sarampo 278/417 66.7Duas doses anti-sarampo 28/217 6.7Ter tido sarampo 130/417 31.2Ter sido exposta ao sarampo 135/417 32.1Ter tido parto 139/417 33.3Títulos de anticorpos não detectáveis 43/417 10.3Títulos de anticorpos detectáveis 374/417 89.7
Quanto à distribuição etária das mulheres estudadas, mostrado na Figura 5, a
amplitude foi de 14 a 25 anos, com a média de 18 anos. Observa-se que 50% das mulheres
tinham entre 16 e 20 anos de idade.
A análise da idade foi dicotomizada em 14 a 19 e 20 a 25 anos. A maior proporção
(64,7%) das mulheres pertenciam ao primeiro grupo, eram adolescentes e 147 (35.3%)
estavam entre 20 e 25 anos.
45
Figura 5.1: Distribuição das mulheres segundo idade
Bandin-I Guiné-Bissau, 1998
0
20
40
60
80
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Idade
Núm
ero
Como se pode ver na figura 5.2 , quase 40% das mulheres foram vacinadas há 18
anos atrás. Quando analisada a idade com que elas foram vacinadas, pode-se constatar que a
média foi de 1,9 anos. Um quarto delas, 25%, foram vacinadas até um ano de idade e 75%
com até três anos.
Figura 5.2: Distribuição das mulheres segundo o tempo ocorrido entre a
vacinação e a coleta de sangue em Bandim I Guiné-Bissau 1998
020406080
100120
11 12 13 14 15 16 17 18 19
Tempo em anos
Núm
ero
46
Pode-se observar na tabela 5.3 que a distribuição da faixa etária entre as vacinadas
e as não vacinadas mostrou uma maior proporção das mulheres de 14 a 19 entre as vacinadas
(69,9%) comparadas às outras (54,3%). As vacinadas tenderam a ser mais novas do que as
não vacinadas e as diferenças foram estatisticamente significativas.
Tabela 5.3: Cobertura vacinal das mulheres segundo faixa etária.
Bandim – Guiné-Bissau 1998
Faixa etária p-valor
N % N % N %
14 - 19 anos 195 69,9 75 54,3 270 64,7 0,002
20 - 25 anos 84 30,1 63 45,7 147 35,3
TotalVacinadas Não vacinadas
A tabela 5.4 descreve a prevalência de soroproteção segundo as variáveis de
exposição. A história pregressa de sarampo foi a única variável que mostrou diferença
significativa, com um p valor de 0,050. Ter sido vacinada na infância não mostrou a diferença
esperada, pois verificou-se uma proporção quase igual de soroproteção naquelas que não
foram vacinadas em relação às que foram. As demais variáveis, idade, história reprodutiva,
número de doses de vacina contra o sarampo e a ocorrência de um caso ou óbito de sarampo
no domicílio não se mostraram discriminadoras das prevalências da soroproteção.
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TABELA 5.4: Proporção da soroproteção para o sarampo segundo variáveis de
interesse do estudo, Bandim I Guiné – Bissau, 1998
Variáveis % N P-ValorFaixa etária
14 - 19 91.5 270 0.103
20 - 25 86.4 147
Já deu à luz
Sim 87.8 139 0.382
Não 90.5 275
Ter sido vacinada
Sim 89.6 279 0.937
Não 89.9 138
Uma dose anti-sarampo 89.2 250 0.548
Duas doses anti-sarampo 92.9 28
Ter tido sarampo
Sim 93.8 130 0.050
Não 87.5 271
Caso sarampo no domicilio
Sim 91.1 136 0.398
Não 88.3 266
Óbito sarampo no domicilio
Sim 94.4 18 0.474Não 89.1 383
Na tabela 5.5 analisou-se a associação medida através das OR brutas e ajustadas
entre as variáveis de exposição e a soroproteção. Foi de duas vezes maior a chance de estar
protegida contra a doença naquelas mulheres que adoeceram de sarampo em relação às que
não adoeceram, ficando os valores no limite da significância estatística (p – valor = 0,055).
A variável ter sido vacinada, não se mostrou associada com a soroproteção contra
o sarampo, apresentando uma OR 0,94 nas mulheres vacinadas em relação às não vacinadas.
48
As mulheres que foram expostas a um caso de sarampo no domicílio apresentaram
uma prevalência de títulos protetores contra o sarampo ligeiramente superior às que não
sofreram esta exposição, mas as diferenças também não foram estatisticamente significantes.
As mulheres que já haviam dado à luz apresentaram um OR de 0,75 em relação às
que não tinham ainda a experiência da maternidade, mas esse valor não foi estatisticamente
significativo.
No exame das OR ajustadas observa-se que a inclusão dos fatores no modelo
alterou ligeiramente o resultado da análise anterior. Ou seja, ter tido sarampo na infância
aumentou-se o OR para 2,30, com um p valor = 0,051 e ter sido vacinada deixou de ser uma
associação negativa para soroproteção. As variações ocorridas nas variáveis “já deu à luz” e
“ter caso de sarampo no domicilio” não são expressivas.
TABELA 5.5: Resultados das regressões logísticas simples e multiplas tendo como
variável resposta a ocorrência de soroproteção, nas mulheres de 14 a 25 anos de Bandim
I Guiné-Bissau, 1998
Variável Categoria OR bruto Significância IC 95% OR ajustado Significância IC 95%
Ter tido Sim 2.19 0.055 0,98-4,87 2.30 0.051 0,99-5,29
sarampo Não 1.00 - - 1.00 - -
Ter sido Sim 0.97 0.937 0,50-1,91 1.08 0.83 0,52-2,22
vacinada Não 1.00 - - 1.00 - -
Já deu à Sim 0.75 0.383 0,39-1,43 0.69 0.285 0,36-1,36
luz Não 1.00 - - 1.00 - -
Caso de sarampo Sim 1.35 0.399 0,67-2,73 1.28 0.502 0,63-2,68no domicilio Não 1.00 - - 1.00 - -
Na tabela 5.6 as mulheres foram agrupadas em quatro categorias, as que foram
vacinadas e tiveram sarampo (62), as que não foram vacinadas e tiveram sarampo (68), as que
foram vacinadas e não tiveram sarampo (207) e, por último, as que não foram vacinadas e
49
nem tiveram sarampo (64). Analisaram-se as proporções de anticorpos contra o sarampo
nesses grupos de mulheres segundo as variáveis de interesse do estudo.
As proporções dos títulos protetivos de anticorpos variaram entre os quatro
grupos, sendo mais baixos naquelas que não foram vacinadas e nem tiveram a doença, onde a
proporção média foi de 85,9% e mais elevados nas que não foram vacinadas e que tiveram
sarampo, com a proporção média de 94,1%.
Observa-se que quando ocorreu um caso ou óbito de sarampo no domicílio a
proporção de mulheres com títulos protetores contra o sarampo não foi diferente daquelas que
não tiveram esta experiência.
No que diz respeito à história reprodutiva, as mulheres que já haviam dado à luz
têm títulos mais baixos do que as nulíparas, chegando a ter a mais baixa proporção naquelas
que não foram vacinadas e nem tiveram a doença. As diferenças foram estatisticamente
significativas, em nível de 5%.
Quanto ao efeito do número de doses sobre os valores da proporção dos títulos
protetivos verificou-se que as que receberam duas doses e tiveram a doença têm as mais
elevadas proporções em todos os quatro estratos em que as mulheres foram agrupadas.
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Tabela 5.6: Prevalência da soroproteção para o sarampo em estratos de exposição ao
vírus, segundo variáveis de interesse do estudo. Bandim-I Guiné-Bissau 1998