NEGÓCIOS DIGITAIS – A INTERNET COMO PLATAFORMA DE SERVIÇOS 1 Fernando da Silva Pontes 2 RESUMO A Internet nos últimos anos tem evoluído exponencialmente. Tanto no crescimento da quanti- dade de usuários e sites, quanto em serviços oferecidos para os internautas. O que antes era restrito a compartilhamento de informações, envio de emails, bate-papo por parte dos usuá- rios, hoje há uma gama de serviços disponíveis, que vão desde serviços bancários, passando por redes sociais, compras coletivas, chegando até a sites que oferecem reservas de mesas de diversos restaurantes ao redor do planeta. Diante desta nova fase da Internet, chamada de Web 2.0, este artigo tem o objetivo de demonstrar, através da pesquisa e estudos bibliográficos, que há um mercado com grande potencial a ser explorado por pessoas de vários setores, inclusive os da área de Sistemas de Informação. Este artigo discute o conceito de Startup Digital e pro- cura explicar o movimento empolgante de jovens empreendedores que criam soluções que, ao mesmo tempo em que solucionam problemas dos seus usuários, geram receita para suas Star- tups, com o objetivo de verificar se a Internet é viável como plataforma de serviços para o surgimento de novos modelos de negócio. Palavras-chave: Internet; Startups Digitais; Empreendedorismo; Modelos de negócio; Plata- forma de serviços. ABSTRACT Internet in the last years has exponentially developed. Both in the growth of the number of users and sites, and in services offered to internet users. What before was restricted to sharing information, sending e-mails, chat among users, there is now a range of available services, ranging from banking services, going through social networks, collective purchasing, reaching sites which offer reservation for tables in many restaurants around the planet. Given this new phase of the internet, called Web 2.0, this article aims to demonstrate, through the research and bibliographical studies, that there is a market with great potential to be explored by peo- ple from many sectors, including the ones from the area of Systems of Information. This arti- cle discuss the concept of Digital Startup and looks for explaining the exciting movement of young entrepreneurs who create solutions that, at the same time they solve problems of their users, generate revenue for their startups, in order to verity if Internet is practicable as a plat- form of services to the emergence of new models of business. Keywords: Internet; Digital Startup; Entrepreneurship; Business Models; Service platform. 1 Artigo Científico apresentado ao curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Imperatriz (FACIMP), como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Sistemas de Informação, sob a orientação do Prof. Es- pecialista Jorge Ferreira da Costa. 2 Graduando do Curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Imperatriz – FACIMP.
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A Internet nos últimos anos tem evoluído exponencialmente. Tanto no crescimento da quantidade de usuários e sites, quanto em serviços oferecidos para os internautas. O que antes era restrito a compartilhamento de informações, envio de emails, bate-papo por parte dos usuários, hoje há uma gama de serviços disponíveis, que vão desde serviços bancários, passando por redes sociais, compras coletivas, chegando até a sites que oferecem reservas de mesas de diversos restaurantes ao redor do planeta. Diante desta nova fase da Internet, chamada de Web 2.0, este artigo tem o objetivo de demonstrar, através da pesquisa e estudos bibliográficos, que há um mercado com grande potencial a ser explorado por pessoas de vários setores, inclusive os da área de Sistemas de Informação. Este artigo discute o conceito de Startup Digital e procura explicar o movimento empolgante de jovens empreendedores que criam soluções que, ao mesmo tempo em que solucionam problemas dos seus usuários, geram receita para suas Startups, com o objetivo de verificar se a Internet é viável como plataforma de serviços para o surgimento de novos modelos de negócio.
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NEGÓCIOS DIGITAIS – A INTERNET COMO
PLATAFORMA DE SERVIÇOS1
Fernando da Silva Pontes2
RESUMO
A Internet nos últimos anos tem evoluído exponencialmente. Tanto no crescimento da quanti-
dade de usuários e sites, quanto em serviços oferecidos para os internautas. O que antes era
restrito a compartilhamento de informações, envio de emails, bate-papo por parte dos usuá-
rios, hoje há uma gama de serviços disponíveis, que vão desde serviços bancários, passando
por redes sociais, compras coletivas, chegando até a sites que oferecem reservas de mesas de
diversos restaurantes ao redor do planeta. Diante desta nova fase da Internet, chamada de Web
2.0, este artigo tem o objetivo de demonstrar, através da pesquisa e estudos bibliográficos, que
há um mercado com grande potencial a ser explorado por pessoas de vários setores, inclusive
os da área de Sistemas de Informação. Este artigo discute o conceito de Startup Digital e pro-
cura explicar o movimento empolgante de jovens empreendedores que criam soluções que, ao
mesmo tempo em que solucionam problemas dos seus usuários, geram receita para suas Star-
tups, com o objetivo de verificar se a Internet é viável como plataforma de serviços para o
surgimento de novos modelos de negócio.
Palavras-chave: Internet; Startups Digitais; Empreendedorismo; Modelos de negócio; Plata-
forma de serviços.
ABSTRACT
Internet in the last years has exponentially developed. Both in the growth of the number of
users and sites, and in services offered to internet users. What before was restricted to sharing
information, sending e-mails, chat among users, there is now a range of available services,
ranging from banking services, going through social networks, collective purchasing, reaching
sites which offer reservation for tables in many restaurants around the planet. Given this new
phase of the internet, called Web 2.0, this article aims to demonstrate, through the research
and bibliographical studies, that there is a market with great potential to be explored by peo-
ple from many sectors, including the ones from the area of Systems of Information. This arti-
cle discuss the concept of Digital Startup and looks for explaining the exciting movement of
young entrepreneurs who create solutions that, at the same time they solve problems of their
users, generate revenue for their startups, in order to verity if Internet is practicable as a plat-
form of services to the emergence of new models of business.
Keywords: Internet; Digital Startup; Entrepreneurship; Business Models; Service platform.
1 Artigo Científico apresentado ao curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Imperatriz (FACIMP),
como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Sistemas de Informação, sob a orientação do Prof. Es-
pecialista Jorge Ferreira da Costa. 2 Graduando do Curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Imperatriz – FACIMP.
2
1 INTRODUÇÃO
Conforme o relatório Broadband: State of Broadband3 publicado pela ONU em setem-
bro de 2012, existem 2.26 bilhões de usuários de Internet, onde o Brasil já é a quarta nação
que acessa mais a Internet no mundo, com cerca de 70% de penetração. O mesmo relatório
aponta o crescente acesso à Internet por dispositivos móveis e que só os smartphones somarão
cerca de 3 bilhões de unidades até 2017. Atrelado a esta pesquisa o Ibope Media divulgou em
setembro de 2012 que o Brasil alcançou 70,9 milhões4 de pessoas com acesso à Internet no
local de trabalho ou em sua residência, resultado de um aumento de 7% nos últimos seis me-
ses e de 16% no período de um ano.
Através destas informações, percebe-se o real potencial de uma mídia que teve seu ob-
jetivo inicial com o intuito de conectar mainframes e compartilhar seu poder de processamen-
to e hoje é considerada pela ONU um dos direitos humanos. Por trás deste potencial, revela-se
um mercado promissor para aqueles que se aventuram em desenvolver serviços que solucio-
nem uma diversidade de problemas para esta quantidade enorme de internautas que estão ávi-
dos por ferramentas que ajudem a melhorar as suas vidas.
Sendo assim, com o presente artigo, busca-se verificar através de pesquisa e estudo bi-
bliográficos se a fase atual da Internet Mundial é o momento propício para aqueles que que-
rem investir tempo e dinheiro para desenvolver soluções que utilizem a Internet como plata-
forma de serviços, onde qualquer um pode criar uma ferramenta que, ao mesmo tempo em
que solucione os problemas de várias pessoas no mundo, também seja rentável, podendo as-
sim verificar se há também um mercado para absorver estes empreendimentos. Esta nova fase
também é conhecida como a segunda5 era das Startups Digitais
3 Relatório que avalia a implantação da Banda Larga em todo o mundo. Disponível em: <
http://www.broadbandcommission.org/Documents/bb-annualreport2012.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2012. 4 Internet no Brasil cresceu 16% em um ano. Disponível em: < http://www.ibope.com.br/pt-
jan. 2012. 5 A primeira era aconteceu nos anos de 1993 até o estouro da bolha da Internet no ano 2000. 6 São empresas de pequeno porte, recém-criadas ou ainda em fase de constituição, com atividades ligadas à pesquisa e desen-
volvimento de ideias inovadoras, cujos custos de manutenção sejam baixos e ofereçam a possibilidade de rápida e consistente geração de lucros (SEBRAE).
3
2 O INÍCIO DA INTERNET AO SEU CONTEXTO ATUAL
A Internet atual está anos luz do que foi na sua fase inicial. Não se sabe ao certo quan-
do e onde foi criada realmente, o que se sabe é que na década dos anos de 1960, tanto nos
Estados Unidos, com a ARPANET7, quanto na Europa – mais precisamente no Reino Unido –
com a NLP Data Communications Network, existiam projetos para o desenvolvimento de
redes de computadores. Nestes laboratórios, também foram desenvolvidos protocolos como o
TCP/IP8 e outras técnicas como a comutação de pacotes.
Em 29 de outubro de 1969, Leonard Kleinrock, então membro da equipe da ARPA-
NET, conseguiu pela primeira vez transmitir uma mensagem9 entre mainframes interligados
por microcomputadores, os IMPs (Interface Message Processor), na rede da ARPANET. Um
pouco antes na Inglaterra, o governo britânico desenvolvia e implantava a “Mark I”, uma das
redes pioneiras que utilizava o conceito de comutação de pacotes. Porém, devido à burocracia
e o desinteresse do GPO (General Post Office), órgão do governo britânico responsável pelo
monopólio do sistema de comunicação, a rede que entrou em operação em 1967, funcionou
somente até 1973 em caráter experimental (CARVALHO, 2006, p. 14).
Após vários acontecimentos, surgia em 1972, o primeiro programa para enviar e rece-
ber mensagens eletrônicas (emails). O mesmo foi desenvolvido pela necessidade que a AR-
PANET tinha de coordenar as suas atividades internas entre vários técnicos e cientistas. Daí
em diante, o uso do email cresceu até se tornar, durante mais de uma década, a aplicação mais
utilizada em toda a rede, contrariando as previsões iniciais de que a ARPANET seria, princi-
palmente, usada para o compartilhamento de recursos computacionais (CARVALHO, 2006,
p. 20).
No entanto, para que a ARPANET se consolidasse como uma tecnologia pronta seria
necessário convencer seus usuários finais. E em outubro de 1972, a ARPANET foi apresenta-
da durante a primeira International Conference on Computer Communications (ICCC), em
Washington, nos Estados Unidos, e o resultado foi surpreendente. Até mesmo os mais céticos,
como as empresas telefônicas, se rederam ao potencial que a ARPANET representava. A par-
tir daí muitas empresas foram criadas para explorar os recursos que a rede disponibilizava, e
7 Advanced Research Projects Agency Network. 8 Transport Control Protocol - Internet Protocol. 9 Eles conseguiram transmitir o "l" e "o", e então o sistema caiu! Portanto, a primeira mensagem na Internet foi
"lo". Eles foram capazes de fazer o login completo cerca de uma hora mais tarde. (Informação disponível em:
outras foram criadas para aperfeiçoá-la e assim tornar-se uma rede mundial conhecida como
Internet (CARVALHO, apud SALUS, 1995, p. 70).
Até então a Internet era composta por um aglomerado de informações em texto puro,
sem qualquer estilo de design como é apresentada hoje. Alguns esforços foram feitos para
melhorá-la esteticamente, mas algo que realmente iria mudar a “cara” da Internet só surgiu 20
anos depois da primeira transmissão de dados da ARPANET. Foi em 1989, através de Tim
Berners-Lee, um engenheiro de software que trabalhava no CERN10
, que a Rede Mundial de
Computadores ganhou uma nova face, a World Wide Web (WWW).
A Web, como é mais conhecida, é uma das aplicações que rodam sobre a Internet e é
constituída por três tecnologias fundamentais. São elas:
HTML: HyperText Markup Language. É a linguagem de marcação responsável
por formatar as páginas e possibilitar a criação de links que dão acessos a outras
páginas.
URI: Uniform Resource Identifier. É uma espécie de endereçamento único para
cada recurso Web.
HTTP: HyperText Transfer Protocol. Como o próprio nome diz, é o protocolo de
transferência de dados para hiper-texto.
Através deste tripé, que continua como base até hoje, que foi construída a Web atual.
Porém foi com o HTML que as páginas que outrora eram somente texto puro, pudessem apre-
sentar mais recursos, como imagens, vídeos e áudios. Para que isso fosse possível Tim desen-
volveu o primeiro editor/navegador web, o WorldWideWeb, e também o primeiro Web Ser-
ver, o httpd. No entanto, estas tecnologias estavam restritas somente a algumas universidades
e cientistas do CERN e a liberação para o público em geral só seria feita em abril de 1993.
Desde o princípio, a Web foi construída com o propósito de servir como uma plata-
forma de compartilhamento de conhecimento, conforme afirma Tim Berners-Lee, “eu criei a
World Wide Web (W3) para servir como uma plataforma global, uma loja online de conheci-
mento, que contém informações de diversas fontes, e acessíveis para os usuários da Internet
ao redor do mundo”11
(BENERS-LEE, 1996. Tradução nossa). Com a abertura da Web para o
mundo, o número de sites crescia a cada dia, o que no início era um punhado de sites, em ja-
neiro de 2013 já somam aproximadamente 630 milhões de sites publicados12
.
10 Um dos maiores laboratórios de pesquisa da Europa, com sede em Genebra na Suíça. 11 Declaration presented by Tim Berners-Lee. Disponível em <http://www.w3.org/People/Berners-
Lee/9602affi.html>. Acesso em: 20 jan. 2013. 12 Relatório da NetCraft. Disponível em <http://news.netcraft.com/archives/category/web-server-survey/>. Aces-
so em 20 jan. 2013.
5
Muitas revistas importantes de negócios dos EUA publicaram matérias sobre o poten-
cial da Internet e a chamaram de “supervia da informação”. Uma dessas revistas foi a tão con-
sagrada Business Week, em que, em uma de suas matérias da edição de 11 de Julho de 1993,
cujo título era Media Mania, relatava o poder de uma nova mídia que estava surgindo e que
prometia revolucionar o entretenimento. “Fabricantes de computadores e companhias telefô-
nicas estão se esforçando para entrar no "derby" digital. Todos eles veem a oportunidade de
reinventar o entretenimento doméstico e os serviços de informação” (BUSINESS WEEK,
Disponível em <http://www.businessweek.com/stories/1993-07-11/media-mania>. Acesso
em: 6 jan. 2013. Tradução nossa).
Assim muitas empresas “pontocom” iniciaram suas operações para vender seus produ-
tos e serviços através da Web. Já em 1998, a Nasdaq estava repleta de Startups de Internet,
fundada por empresários, financiadas por capitalistas de risco e contaram também, com inves-
timentos de bancos para abertura de seus IPO’s13
(ABURJANIDZE, Nana; BOUCHER, Jen-
nifer; NOALL, Sarah; PARKINSON, Joshua; ZHENG, Samuel). Foi durante este período que
empresas como AOL.com, Amazon, Ebay, Yahoo e Google surgiram, seja com ideias de uni-
versitários, como no caso do Google14
e Yahoo15
, ou de pessoas comuns que perceberam que
podiam solucionar um determinado problema de um grupo de usuários, no caso do Ebay16
com seus leilões online, ou de pessoas que tiveram um espírito visionário como o criador da
Amazon17
, que iniciou suas operações vendendo livros digitais, onde na época soava meio que
loucura por parte de muitas pessoas.
O enorme potencial comercial que a Internet representava, reforçou a ideia entre os in-
vestidores de uma “nova era”, onde isso significou uma grande oportunidade para as empresas
criarem formas inovadoras para resolverem problemas de seus consumidores. Com isso, vá-
rias pessoas passaram a ver estas empresas como uma ótima oportunidade para investir, e es-
tas últimas uma ótima oportunidade para conseguir investidores através da abertura de capital
na bolsa de valores, entre elas a Nasdaq18
. Desde então, várias empresas iniciantes, conheci-
das como Startups, começaram a chamar a atenção de investidores de risco.
13 Oferta pública inicial, usualmente referida como IPO (do inglês Initial public offering), é o evento que marca a
primeira venda de ações de uma empresa no mercado de ações. 14 Larry Page e Sergey Brin estudantes de Ciências da Computação. 15 David Filo e Jerry Yang. Candidatos a Ph.D. em Engenharia Elétrica pela Universidade de Stanford. 16 Programador Pierre Omidyar queria ter um lugar onde as pessoas pudessem comprar e vender coisas novas e
usadas. 17 Jeff Bezos, fundador e CEO. 18 A Nasdaq (National Association of Securities Dealers Automated Quotation) foi a primeira bolsa eletrônica do
mundo, composta por empresas de tecnologia. Porém, as negociações não seguem o padrão mundial. Elas são
realizadas através de uma rede de computadores, diferentemente do tumulto dos pregões convencionais, onde
operadores fecham negócios literalmente no grito.
6
[A Internet] é comparável em importância com o computador pessoal ou, antes
mesmo, que a televisão. Na verdade, a impressão que transmite, é que o futuro mu-
dou e que o entusiasmo é maior do que o produzido quando os televisores ou com-
putadores pessoais entraram nas casas. Usando a internet dá às pessoas um senso de
domínio do mundo. Eles podem eletronicamente percorrer o mundo e realizar tarefas
que antes eram impossíveis. Eles podem até mesmo criar um site e se tornarem um
fator na economia mundial de formas inimagináveis... Por causa desta sensação de
imediatismo que a internet causa, as pessoas acham plausível supor que ela também
tem grande importância econômica (SHILLER, 2005, p. 38. Tradução nossa).
Foi um período intenso de investimentos de capital de risco. Muitas empresas de “dot-
com”, como eram chamadas as Startups de tecnologia, receberam milhões de investimento
sem se quer gerar um centavo de lucro. Com isso, as ações destas empresas na Nasdaq come-
çaram a serem super valorizadas, causando um efeito nunca visto até então. Muitos analistas
começaram a anunciar a existência de uma nova bolha especulativa, desta vez seria a “dotcom
bubble”. Já em meados de março de 2000, o que era previsto por alguns analistas aconteceu, o
índice da Nasdaq pulou dos 600 em 1995 para 5.000 pontos em 2000, a bolha tinha estourado.
Eu defino uma bolha especulativa como uma situação em que as notícias de au-
mentos de preços das ações estimulam o entusiasmo dos investidores, que se espa-
lha por contágio psicológico de pessoa para pessoa, as histórias em processo de
amplificação que possam justificar os aumentos de preços e trazendo uma classe
cada vez maior de investidores, que, apesar das dúvidas sobre o real valor de um
investimento, são atraídos para ela em parte por inveja de sucessos dos outros e,
em parte, através da excitação de um investidor. (SHILLER, 2005, p. 3. Tradução
nossa).
Figura 1 – Pico da Nasdaq19
Assim foi o período conhecido como “dotcom bubble”. Com a falência de várias em-
presas dotcom, centenas de milhares de profissionais de tecnologia perderam seus empregos,
19 The Dot-com Bubble. Disponível em <http://www.stock-market-crash.net/dot-com-bubble/ >. Acesso em 10
jan. 2013.
7
e muitos que investiram seu dinheiro na compra de ações destas empresas perderam grande
parte de suas economias. O ano de 2001 foi marcado pelo esvaziamento da bolha, a falência
de várias empresas pontocom e com a destruição das Torres Gêmeas em 11 de setembro, este
ultimo contribuiu mais ainda para queda da bolsa de valores por várias vezes.
Os anos se passaram, e com eles várias empresas dotcom desapareceram, porém a In-
ternet continuou a seguir seus passos, e com ela também algumas empresas que souberam
lidar com a fase ruim do final dos anos 1990. Entre estas empresas destacam-se Google, Ya-
hoo, Amazon, Ebay, que com planos de negócios bem definidos e consagrados souberam lidar
com a turbulência do estouro da bolha e firmaram-se ainda mais como empresas sólidas e
consistentes. No Brasil não foi diferente, empresas como Buscapé e Apontador estavam nas-
cendo no período do estouro da bolha, mais assim como os grandes players da Internet, sou-
beram enfrentar as dificuldades, cresceram e se tornaram modelos de Startups Digitais de su-
cesso nacional.
Os tempos mudaram, e mesmo depois de mais de dez anos do estouro da bolha, o de-
sejo de várias pessoas ao redor do planeta de empreender e criar algum produto Web que, ao
mesmo tempo em que possa ajudar a solucionar os problemas das pessoas, possa também ge-
rar receita, continua. A partir deste desejo é que surgiram atualmente empresas como o Face-
book, Twitter, Flickr, Thumblr, LinkedIn e Groupon. Hoje o Facebook já soma mais de um
bilhão de pessoas conectadas em sua rede, o Twitter ultrapassou os 500 milhões de usuários e
o LinkedIn já conta com mais de 175 milhões de profissionais compartilhando informação,
currículos, ideias e oportunidades.
Portanto, mesmo com um cenário semelhante ao final dos anos 1990, onde se presen-
cia grandes investimentos nas Startups Digitais, o que podemos afirmar é que as empresas de
Internet atuais, com as redes sociais como pontas de lança, estão mais maduras e mais organi-
zadas, diferente daquelas dos anos de 1990. Hoje empresas como Facebook, Google e Twitter
possuem equipes altamente capacitas gerenciando seus passos, além de mentores e conselhei-
ros experientes e os investidores estão mais cautelosos e atentos aos princípios tradicionais da
economia. Mesmo com todas as turbulências, a Internet firma-se como uma plataforma de
serviços, favorecendo a criação e desenvolvimento de novos modelos de negócio.
8
3 A INTERNET E O EMPREENDEDORISMO DIGITAL
Desde a criação da Internet, o empreendedorismo20
esteve intrínseco aos seus criado-
res. Foi assim a partir da concepção da ideia de conectar mainframes e compartilhar o poder
de processamento que cada um tinha, até a primeira mensagem enviada pelas redes da Arpa-
net. Várias foram as dificuldades até a Internet alcançar o potencial que tem hoje, porém
mesmo com as adversidades, o espírito empreendedor sempre esteve presente entre aqueles
que se aventuram em investir tempo e dinheiro com a Internet. Exemplos disso já foram co-
mentados anteriormente, sucessos e fracassos fizeram, e ainda vão fazer parte desta, que hoje
se tornou uma plataforma de serviços21
.
Tim Berners-Lee em seu artigo intitulado “The Future of the Web”22
, submetido aos
representantes do Comitê de Energia e Comércio e Subcomitê de Telecomunicação e Internet
dos Estados Unidos em 2007 já classificava a W3 como uma plataforma de serviços.
A Web não foi apenas um espaço para a livre troca de ideias, mas também tem sido uma plataforma para a criação de uma grande e inesperada variedade de novos ser-
viços. Aplicações comerciais, incluindo o eBay, Google, Yahoo e Amazon.com são
apenas alguns exemplos da extraordinária evolução que é possível por causa dos pa-
drões abertos e da tecnologia livre de royalty que compõe a web (BERNERS-LEE,
2007. Tradução nossa).
A Internet como plataforma de serviços inaugurou uma nova fase da WWW, a Web
2.0. O que antes era somente sites com uma variedade enorme de informações, hoje possui
sites que oferecem desde a possibilidade de reservar uma mesa em algum restaurante ao redor
do mundo, passando por sites bancários que possibilitam consultar extratos e realizar transfe-
rências, até sites que possibilitam agendar uma consulta com médicos em sua cidade. A partir
da Web 2.0 Conference23
, a Internet deixou de ser uma rede mundial de computadores e se
tornou uma plataforma. Nesta mesma conferência foram apontadas algumas das principais
características da Web 2.0, que são:
20 O conceito de empreendedorismo vem sofrendo constantes inovações. Ainda relacionado a práticas pró-ativas
e inovadoras, gradativamente se abandona uma visão reducionista do empreendedorismo associado exclusiva-
mente ao exercício de uma atividade econômica e se passa a lhe associar a qualquer atividade humana; como,
aliás, pode-se observar em todas as áreas do saber, que paulatinamente fazem do ser humano sua razão e seu fim.
Os empreendedores são encontrados, agora, em casa, na comunidade, dentro de uma organização ou no meio de uma assembléia sindical, ou seja, em qualquer lugar onde existam pessoas. (SEBRAE). 21 A Internet deixou de ser um aglomerado de sites que forneciam somente informações, para se tornar uma pla-
taforma de serviços, onde agora existem softwares online que rodam na Internet, oferecendo serviços para seus
usuários, como por exemplo, sites de bancos onde os usuários podem consultar saldo, realizar transferências e
etc. 22 Digital Future of the United States: Part I -- The Future of the World Wide Web. Disponível em
<http://dig.csail.mit.edu/2007/03/01-ushouse-future-of-the-web.html>. Acesso em: 20 jan. 2013. 23 É um evento anual, realizado em São Francisco, Califórnia, com discussões sobre a World Wide Web. O even-
to foi iniciado em 2004 por Tim O'Reilly. É organizado pela empresa O'Reilly.
9
O compartilhamento de informações.
A ascensão dos blogs e assim do RSS24
.
A utilização do Ajax25
.
A exploração de banco de dados de diversos sites – como Amazon, Google, Ya-
hoo.
O fim do ciclo de lançamento de software, ou seja, o software deixa de ser um
produto e passa a ser um serviço, devido a isso a presença do termo BETA em vá-
rios sites.
O acesso da informação por vários canais, como celulares, tablets e TV’s interati-
vas.
E somadas a tudo isso, a nova fase da Internet tem proporcionado uma experiência
mais rica para o usuário.
Com a ascensão da Internet como plataforma de serviços, uma legião de pessoas, entre
elas jovens, estudantes, investidores, empreendedores individuais, começaram a empreender
nesta nova plataforma. Várias são as motivações que levam estas pessoas a empreenderem,
entre estas podemos destacar a liberdade de decisão, administrar o próprio horário, fazer o que
gosta, ver um projeto crescer, trabalhar em casa, não ter chefe ou simplesmente para ajudar as
pessoas. Foram e continuam sendo, essas algumas das motivações que levam pessoas a em-
preender em um novo negócio, entre eles implantar e desenvolver uma ideia na Internet. As-
sim foi com Shawn Fanning que criou a Napster26
, Lary Page e Sergey Brin que criaram o
Google, David Filo e Jerry Yang do Yahoo, Pierre Omidyar do Ebay, Mark Zuckerberg com
sua rede social Facebook, David Karp que criou o Tumblr, uma plataforma de blogs e tantos
outros que estão no anonimato, mas que conquistaram sua independência financeira através da
Internet. Este fenômeno que começou na década de 1990 nos Estados Unidos se espalhou pelo
mundo, e mesmo após a bolha das “pontocom”, continua com força e está conquistando mais
e mais pessoas ao redor do planeta.
No Brasil esta tendência têm se confirmado nos últimos anos, segundo a Associação
Brasileira de Startups, já somam 300, a quantidade de Startups associadas e o SEBRAE já
24 É um subconjunto de "dialetos" XML que servem para agregar conteúdo ou "Web syndication", podendo ser
acessado mediante programas ou sites agregadores. 25 Acrônimo em língua inglesa de Asynchronous Javascript and XML, em português "Javascript e XML Assín-
cronos", é o uso metodológico de tecnologias como Javascript e XML, providas por navegadores, para tornar
páginas Web mais interativas com o usuário, utilizando-se de solicitações assíncronas de informações. 26 Primeiro programa de compartilhamento de música MP3 da Internet.
10
promove ações voltadas exclusivamente para esse segmento, visando o desenvolvimento do
ecossistema das Startups Digitais.
A atuação da entidade está baseada em três linhas de ação: capacitação, destinada à
disseminação do conhecimento específico; ações de inovação, para potencializar as
metodologias e adaptar os modelos de negócios; e ações de mercado, que preveem a
preparação dos empreendimentos (SEBRAE. Disponível em:
Além do mercado gigantesco, cerca de 70 milhões de usuários – segundo o Ibope Me-
dia, outros pontos tem facilitado o movimento das Startups Digitais no país. O barateamento
do acesso a Internet, de hardwares e softwares, o crescente acesso da classe C à tecnologia, a
expansão da banda larga e a adesão do cloud computing. Somando-se a isso os exemplos de
Startups nacionais de sucesso como, o Buscapé27
de Romero Rodrigues, o site de compras
coletivas Peixe Urbano de Julio Vasconcelos e o site referência no mercado de busca local e
geolocalização, Apontador de Rafael Siqueira. Ter heróis nacionais é um dos mais poderosos
fatores de motivação para quem quer abrir um negócio próprio.
Com todos estes pontos favoráveis, empresas, universidades e governo, têm incentiva-
do através de palestras e campanhas o empreendedorismo em todos os setores, inclusive o
digital. Incentivos financeiros também estão se tornando comuns, como o do Governo Federal
que anunciou através do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação no final de novembro
de 2012, um plano de 40 milhões de reais em investimentos para incentivar a área de tecnolo-
gia no país através do programa Start-up Brasil28
. Além destes incentivos, as Startups Digitais
podem também trilhas outros caminhos, como os investimentos provenientes dos investidores
Anjos, as incubadoras tecnológicas ou as aceleradoras.
Segundo o Startup Ecosystem Report 201229
, o Brasil representado pela cidade de São
Paulo, é o décimo terceiro ecossistema do mundo para o surgimento de empresas de base tec-
nológica. O relatório foi realizado utilizando como base mais de 50 mil startups espalhadas
pelo mundo, onde o Silicon Valley está na primeira posição, e segundo o relatório, São Paulo
é o maior ecossistema de startups do Brasil.
27 Foi comprado por um grupo de mídia sul-africano Naspers em 2009 por US$ 343 milhões. 28 Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Disponível em <
on-line foi realizada no período de 05 a 22 de janeiro de 2013 e a off-line nos dias 18 e 21 de
janeiro do mesmo ano.
Com os dados coletados, foram feitos análises qualitativas em relação aos referenciais
teóricos para fundamentar o posicionamento dos pesquisados e análises quantitativas, que são
demonstrados através de tabelas estatísticas para melhor entendimento e para complementar
os dados qualitativos.
PERGUNTA: “Qual a sua idade?”
RESULTADO: No questionário aplicado on-line, a faixa etária que predominou foi a de 21 a
30 anos, correspondendo a 64%, já no questionário off-line a faixa predominante foi a de 15 a
20 anos, com 44% dos entrevistados.
Quadro 1 – Respostas dos entrevistados sobre a sua faixa etária (%)
Descrição VERSÃO
ON-LINE
VERSÃO
OFF-LINE TOTAL
15 a 20 anos 21,00 44,00 30,39
21 a 30 anos 64,00 30,00 50,00
31 a 40 anos 11,00 19,00 14,37
41 a 50 anos 3,00 6,00 4,57
50 ou mais 1,00 0,00 0,67
Fonte: pesquisa de campo (2013)
Os dados acima demonstram que há uma predominância da geração Y31
e Z32
em rela-
ção à geração X33
, ou os chamados Baby Boomer34
. Confirmando assim, a pesquisa35
feita
pelo IBOPE em 2008 sobre o acesso a Internet nos lares brasileiros, onde a porcentagem da-
queles que estão na faixa etária entre 15 e 30 anos são maiores do que aqueles com faixa entre
os 40 anos ou mais.
31 Chamada também de geração da Internet, são aqueles nascidos em meados de 1970 até 1990. 32 São aqueles nascidos a partir de 1991 a 1999. 33 Geração nascida no início dos anos 1960 até o final dos 1970. 34 É uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional - Baby Boom em inglês,
ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Em geral, se refere aos filhos da Segunda Guerra Mundial, já que
logo após a guerra houve uma explosão populacional. 35 Acesso à Internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2008. Disponível em <