1 Serviço Público Federal Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Curso de Educação Ambiental – aperfeiçoamento 180h Grupo de Pesquisa Política, Natureza e Cidade. Tutor: Lic. Marcelo Gomes /[email protected]Módulo 3 – Temas geradores e Mudanças globais Submódulo 2 – Mudanças Climáticas MUDANÇAS CLIMÁTICAS Dinair Velleda Teixeira 1 Marcelo Gomes 2 O contexto socioambiental e as mudanças climáticas As sociedades apoiadas na agricultura estiveram baseadas num padrão de desenvolvimento e de uso de energia diferente da matriz atual. Hoje em dia, no que podemos chamar de sociedade moderna, o uso dos combustíveis fósseis – carvão e petróleo – têm predominado e impulsionado a economia de maneira substancial. Com o aprimoramento da indústria e consequente evolução dos meios de transporte, o número de pessoas nas áreas urbanas cresceu e, assim, as cidades começam gradualmente a concentrar mais pessoas do que no campo. 1 Publicitária, Especialista em Marketing, Mestre em Educação Ambiental - PPGEA /FURG. 2 Biólogo, Tutor no Curso de Aperfeiçoamento em Educação Ambiental UAB/FURG.
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Serviço Público Federal
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Curso de Educação Ambiental – aperfeiçoamento 180h
O contexto socioambiental e as mudanças climáticas
As sociedades apoiadas na agricultura estiveram baseadas num padrão de
desenvolvimento e de uso de energia diferente da matriz atual. Hoje em dia, no que
podemos chamar de sociedade moderna, o uso dos combustíveis fósseis – carvão e
petróleo – têm predominado e impulsionado a economia de maneira substancial.
Com o aprimoramento da indústria e consequente evolução dos meios de
transporte, o número de pessoas nas áreas urbanas cresceu e, assim, as cidades começam
gradualmente a concentrar mais pessoas do que no campo.
1 Publicitária, Especialista em Marketing, Mestre em Educação Ambiental - PPGEA /FURG.
2 Biólogo, Tutor no Curso de Aperfeiçoamento em Educação Ambiental UAB/FURG.
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O crescimento e a concentração de pessoas em determinadas áreas, surgem,
também, os centros de informação, como universidades, bancos de dados, veículos de
comunicação. E com o crescimento das cidades e do capitalismo, muda, também, o
padrão de vida da sociedade, políticas e ações de saneamento, de planejamento e de
organização. E com isso, o consumo de matérias-primas, da exploração de terras e das
florestas é convertido em mercadorias, para atender à intensificação dessa demanda.
Acontece todo esse processo de transformação, decorrente da ação humana
através do trabalho, enquanto coletividade em empresas, indústrias e, também, em
governos e nas atividades que esses desenvolvem. No entanto, todo esse processo é
baseado na exploração do trabalho humano e no alto consumo de matérias-primas e
fontes de energia não-renováveis, cujos resíduos poluentes, gerados ao longo do
processo produtivo, contaminam o ar, o solo e as águas numa velocidade sem
precedentes.
E na medida em que o sistema evolui, amplia-se e atinge todo o globo,
intensifica-se a exploração da natureza. À qual é justificada por um conjunto de crenças,
valores e atitudes em relação ao meio ambiente – nas quais os recursos naturais são
tomados como inesgotáveis e à disposição da sociedade - de forma irrestrita, para
satisfazer as ambições e os desejos da humanidade. Esse paradigma vem da crença de
que o ser humano e a natureza são distintos, colocando-se a espécie humana em uma
posição de superioridade e domínio em relação à natureza e demais seres vivos. Essa
relação de desrespeito, exploração e dominação do ser humano sobre a natureza e
demais seres vivos, bem como as concepções que as justificam, fazem parte da questão
ambiental e foram as causas imediatas da crise socioambiental.
No entanto, tais questões vieram à tona em meados do século XX (mais
particularmente, a partir de 1970) quando assuntos relacionados às questões ambientais
como aquecimento global (1990), organismos transgênicos, perda da biodiversidade,
massificação cultural, a questão urbana, entre outros se tornaram agenda cotidiana e
mundial. Mas, também os movimentos sociais ambientais e ecológicos destacaram-se
na luta em colocar em evidência a questão e a chamar a atenção da opinião pública.
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Diante disso, outros atores sociais começaram a perceber a extensão da crise
ambiental que hoje se enfrenta e, gradualmente, através da justiça ambiental, começa a
ser associada à disparidade entre ricos e pobres; a localização dos resíduos na cidade; as
regiões mais degradadas ou ribeirinhas são onde os mais pobres e discriminados têm
suas casas. Isso tudo ocasionando problemas de toda ordem, como fome e doenças das
mais diversas, afetando também a educação e intensificando as relações de poder, além
de estar esgotando os bens naturais. Em face dessas questões, podemos afirmar que
estamos diante de uma grave crise ambiental global, onde a mudança do clima é
somente um aspecto dessa crise, mas que afeta o todo, uma vez que tudo está
interligado.
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Neste sentido, que nesta parte, ao abordar o tema a partir do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima – IPCC (sigla da denominação em inglês)
– decorre de um grupo de cientistas que acompanham e avaliam informações científicas,
técnicas e socioeconômicas sobre a mudança do clima e sua influência na população
humana.
Contextualizamos o que está acontecendo no país e no mundo no período das
reuniões do IPPC (2007), para depois destacar as mudanças do clima no Brasil e no Rio
Grande do Sul, por fim, avaliamos como os diversos fatores contribuem para esta crise
sem precedentes, afetando, inclusive, as mudanças do clima3, e como eles impactam nas
cidades e na vida das pessoas.
Ressaltamos que, não pretendemos tratar a questão ambiental como puramente uma
questão do ecossistema4, ou como uma questão natural ou da natureza; mas, sim, que a
mesma decorre, fundamentalmente, no último século da forma de interação entre sociedade
e natureza. Essa interação pressupõe uma mudança de atitude na sua forma de produção,
consumo, distribuição e demais interações, conforme sintetiza Leff (2001, p. 17):
“o ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo”.
Portanto, das relações das sociedades (dos seres humanos) com a natureza, com os
ecossistemas, enfim, com a biosfera.
Esse entendimento é de suma importância para dar início à mudança, tão
necessária que aconteça, em prol de uma vida mais justa no planeta para todas as
espécies que nele habitam.
3 Veja análise completa em: VELLEDA TEIXEIRA, Dinair. A ética no discurso do jornal Zero Hora
sobre as Mudanças Climáticas. Dissertação de Mestrado, 2008. 4 “Formas de vida y otros elementos naturales presentes en un espacio físico determinado cuya
interacción forma ciclos de retrogeneración de vida y que conforman un sistema u organización
sustentable por sí misma” (BACCHETTA, 2000, p. 205).
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As mudanças climáticas e os meios de comunicação
A Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) analisou, em cinquenta
jornais diários brasileiros, o debate sobre as chamadas mudanças climáticas no período
de julho de 2005 a junho de 2007. A pesquisa5 analisa o tratamento editorial dispensado
por esses jornais ao assunto. Constata que, a partir do último trimestre de 2006, as
redações desses jornais começaram a dedicar espaço mais expressivo de suas páginas ao
agendamento do debate sobre as mudanças climáticas. A pesquisa avaliou uma amostra
de 997 editoriais, artigos, colunas, entrevistas e matérias veiculadas entre 1º de julho de
2005 e 30 de junho de 2007. A pesquisa firma que, os resultados dessa radiografia da
cobertura podem contribuir diretamente para avanços ainda mais pujantes na estratégia
até hoje conduzida pelos veículos para cobrir essa matéria, já que destacam as alterações
e mudanças que estamos passando no mundo em relação ao tema. Ao mesmo tempo,
podem ser relevantes para que as fontes de informação aprimorem o seu diálogo com os
meios em relação a essa discussão. Disso, podemos constatar que é notório o
crescimento do interesse pelo assunto, que, por ser pauta diária dos mass media, passou
a ser, também, tema de muitas pesquisas6.
Conforme Kandel (2002), os primeiros programas nacionais de pesquisa sobre
mudança climática desenvolveram-se por volta de 1975. A primeira Conferência Mundial
sobre o clima foi organizada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em
Genebra, em 1979. Foram tratadas ali questões científicas sobre o efeito estufa, as
conseqüências de um reaquecimento para a sociedade em diversas áreas, tais como
agricultura, florestamento e saúde e, finalmente, as questões do desenvolvimento que
poderiam se mostrar relevantes para o esforço de reduzir esses riscos. Podemos dizer que,
desde então, o interesse e a visibilidade do assunto só tem aumentado, passando
inclusive a ser valor-notícia7 para grande parte dos jornais brasileiros, conforme a
pesquisa citada anteriormente.
5 Disponível em http://observatoriodaimprensa.com.br.
6 Inclusive da minha dissertação de mestrado conforme já citada. VELLEDA TEIXEIRA, Dinair. A ética
no discurso do jornal Zero Hora sobre as Mudanças Climáticas. Dissertação de Mestrado, 2008. Rio
Grande: Universidade Federal do Rio Grande/Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental,
2008. 7 Valor-notícia – Originalmente desenvolvida por dois pesquisadores noruegueses, Johan Galtung e Mari
Ruge (1965), a teoria dos valores-notícia busca explicar por que algum tema transforma-se em notícia e
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No entanto, ainda conforme a pesquisa da ANDI, a emergência dos temas
ambientais e das mudanças climáticas nos meios de comunicação decorreu da
ampliação dos fenômenos naturais, e desses como prováveis consequências das
alterações no clima.
outros não. Posto de outra forma, isso significa analisar quais são os valores contidos em determinado
acontecimento que podem levá-lo a “galgar o degrau”, que o torne “digno” de ser considerado como uma
notícia pelas empresas jornalísticas.
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GRÁFICO 1 – Mudanças e Aquecimento na Imprensa
Principal tema guarda-chuva abordado no texto
29,4
70,6
Mudanças Climáticas
Aquecimento Global
Como vemos, no Gráfico 1 (é o quinto da pesquisa), os jornais destacam mais a
expressão “aquecimento global” (um tipo de mudança climática) do que a expressão
“mudança climática” (que inclui o aquecimento global, mas também outros tipos de
alterações no clima). Disso podemos dizer que, há versões ou formas de noticiar ou dar
destaque às informações que não necessariamente são neutras. É o que vemos, também,
por parte de cientistas, e mostramos isso numa versão sobre o tema e, adiante,
apresentamos a outra, para comparação e debate.
As Mudanças Climáticas para a Ecologia
O ecólogo Odum (2001) disserta que o fenômeno vem se manifestando ao longo
dos anos.
Os autores dizem que o final do século XX mostra registros oscilantes do CO2
(dióxido de carbono no ar); e o nível de concentração cai no verão, quando o dióxido de
carbono é absorvido pela fotossíntese dos vegetais, e aumenta no inverno, quando há
demanda respiratória e maior consumo pelas indústrias.
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Porém, a cada ano o dióxido de carbono, aumenta em proporção a sua baixa, em virtude
do excesso de consumo de combustíveis fósseis e da devastação das florestas. O dióxido
de carbono na atmosfera elevou-se de 290 a 367 ppm (partículas por milhão) desde o
início do século passado.
Queima de combustíveis fósseis pela atividade industrial e veículos motores.
Poluição atmosférica tem causado dano nocivo a saúde humana.
Eles dizem ainda que o dióxido de carbono lembra a vidraça de uma estufa
ardendo em calor, e que a imprensa assume como fato que o calor dessa estufa está
aumentando rapidamente a temperatura da Terra e o nível do mar. Entretanto, a
temperatura registrada para toda a atmosfera observada do espaço não mostrou muito
aumento.
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Para o que acontece com e efeito estufa proveniente do crescente dióxido de
carbono é que, quando a temperatura do mar tropical se eleva, uma quantidade maior de
água se evapora, transformando em vapor a energia retida do calor. Mais tarde, essa
energia proveniente do vapor de água provoca grandes tempestades que devolvem a
água na forma de chuva e neve, enquanto liberam o calor ao topo da atmosfera, e esse
calor se dilui no espaço.
Grandes tempestades também causam longos períodos de seca no seu interstício.
Para eles “os dados obtidos das estações de medição de temperatura na superfície
terrestre, que evidenciam um sutil aumento na temperatura do ar, podem estar
relacionados aos longos períodos de estiagem e céu claro. Os mares levemente
aquecidos e com mais precipitações tendem a derreter o seu gelo e as partes rasas de
suas geleiras, enquanto acrescentam mais neve e gelo ao topo das geleiras” (p. 14).
Para o pesquisador José Marengo8, do CPTEC/INPE (site), durante a
apresentação sobre as conclusões do quarto relatório do IPCC, “O aquecimento [do
planeta] é um processo natural que já aconteceu antes, mas tem sido acelerado pelas
atividades humanas”. Nos últimos séculos, mas sobretudo em decorrência da sociedade
de consumo e da exploração ilimitada dos recursos naturais, os ambientes urbanos
tornam-se insuportáveis para a vida humana. E começam a colocar em risco a própria
vida sob a face da Terra. São agravantes para o ambiente urbano os congestionamentos
de veículos, a poluição do ar, o excesso de edifícios, a expansão das áreas periféricas e o
nível elevado de ruído. Está havendo, também, incremento na mudança dos ventos e das
correntes marítimas, salinização das águas continentais, chuvas abundantes e furacões
em determinadas áreas, enquanto noutras observa-mos o agravamento das secas e da
desertificação. Extensas áreas agrícolas estão sendo comprometidas pelo mau uso do
solo, desperdício de água e utilização indiscriminada de defensivos químicos.
Portanto, há causas naturais relacionadas às mudanças climáticas, mas os
humanos e suas relações nos últimos séculos aceleraram tais alterações.
8 Pesquisador José Marengo, do CPTEC/INPE, durante a apresentação sobre as conclusões do quarto
relatório do IPCC. Disponível em (http://www.sbmet.org.br/noticias_mclimaticas/).