1 Métodos tecnológicos de inclusão digital para o aluno deficiente intelectual: uma análise teórica e prática que contribui para a educação inclusiva. Amauri Oliveira Domicioli 1 Arlene Guimaraes Moreira 2 Bruno Alves de Araújo 3 Thiago Travassos 4 Vinícius Marques 5 (*) Resumo Inserida em uma sociedade contemporânea, a comunidade escolar no século XXI coexiste com o intenso avanço tecnológico. Sua maior parcela, representada pelo alunado, vive uma relação tão íntima com esse avanço, que é possível visualizar limitações, caso venha a ser impossível o uso de tecnologia em alguma produção. Na outra parte desta comunidade, representada pelo professorado, se encontra um público tímido e pouco capacitado para ser o mediador entre a construção de conhecimento e a tecnologia. Pensando em uma escola inclusiva, em específico a que recebe alunos com deficiência intelectual, torna- se mais complexo essa mediação, caso não haja uma adequação na matriz curricular, na capacitação dos professores e na criação de softwares. Esse trabalho apresenta uma breve reflexão sobre esses três pontos que devem ser adequados para que o aluno com deficiência mental, que muitas vezes é considerado um excluído social, se torne, na contemporaneidade, um incluído digital. Abstract Taking part of the contemporary society, the educational community in the 21 st century, coexists with the intense technologic advancement. The largest part, represented by students, has intimate relations with this advancement. It is possible to realize limitations, in terms of production, if the student doesn’t have the aid of technology. The other part, represented by teachers, is composed of people who are not familiar with the technology and few are skilled to be the mediator between the construction of knowledge and the technology. When we think of an inclusive school, that receives students with an intellectual disability, this problem is more complicated if there isn’t on adequate school program, the training of teachers and not adequate creation of software. In this essay, we present a short reflection about these three elements that should be adequate for students with intellectual disabilities that in many situations are socially excluded, and, in this current time, can also become digitally included. 1 Graduado em Tecnologia da Informação pela Associação Brasileira de Ensino Universitário (ABEU). 2 Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Celso Lisboa e especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade CCAA. 3 Graduado em Letras pela Universidade Estácio de Sá. 4 Graduado em Tecnologia em Informática pelo Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro. 5 Graduado em Tecnologia em Informática pelo Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro. * Todos, pós graduando em Gestão de TI em Ambientes Educacionais pelo Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro (IST-Rio),sob a orientação das professoras Rute Candida de Freitas e Marcia Marques.
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Métodos tecnológicos de inclusão digital para o aluno ... · Métodos tecnológicos de inclusão digital para o aluno deficiente intelectual: uma análise teórica e prática que
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Métodos tecnológicos de inclusão digital para o
aluno deficiente intelectual: uma análise teórica e prática que contribui para a educação inclusiva.
Amauri Oliveira Domicioli
1
Arlene Guimaraes Moreira2
Bruno Alves de Araújo3
Thiago Travassos4
Vinícius Marques5
(*)
Resumo Inserida em uma sociedade contemporânea, a comunidade escolar no século XXI coexiste com o intenso avanço tecnológico. Sua maior parcela, representada pelo alunado, vive uma relação tão íntima com esse avanço, que é possível visualizar limitações, caso venha a ser impossível o uso de tecnologia em alguma produção. Na outra parte desta comunidade, representada pelo professorado, se encontra um público tímido e pouco capacitado para ser o mediador entre a construção de conhecimento e a tecnologia. Pensando em uma escola inclusiva, em específico a que recebe alunos com deficiência intelectual, torna-se mais complexo essa mediação, caso não haja uma adequação na matriz curricular, na capacitação dos professores e na criação de softwares. Esse trabalho apresenta uma breve reflexão sobre esses três pontos que devem ser adequados para que o aluno com deficiência mental, que muitas vezes é considerado um excluído social, se torne, na contemporaneidade, um incluído digital. Abstract Taking part of the contemporary society, the educational community in the 21st century, coexists with the intense technologic advancement. The largest part, represented by students, has intimate relations with this advancement. It is possible to realize limitations, in terms of production, if the student doesn’t have the aid of technology. The other part, represented by teachers, is composed of people who are not familiar with the technology and few are skilled to be the mediator between the construction of knowledge and the technology. When we think of an inclusive school, that receives students with an intellectual disability, this problem is more complicated if there isn’t on adequate school program, the training of teachers and not adequate creation of software. In this essay, we present a short reflection about these three elements that should be adequate for students with intellectual disabilities that in many situations are socially excluded, and, in this current time, can also become digitally included.
1 Graduado em Tecnologia da Informação pela Associação Brasileira de Ensino Universitário (ABEU). 2 Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Celso Lisboa e especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade CCAA. 3 Graduado em Letras pela Universidade Estácio de Sá. 4 Graduado em Tecnologia em Informática pelo Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro. 5 Graduado em Tecnologia em Informática pelo Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro. * Todos, pós graduando em Gestão de TI em Ambientes Educacionais pelo Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro (IST-Rio),sob a orientação das professoras Rute Candida de Freitas e Marcia Marques.
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Apresentação
Durante muito tempo, educadores lutaram para que crianças e jovens com
necessidades especiais tivessem acesso à educação formal possibilitando sua inclusão
nas escolas e em salas regulares, uma vez que, esses, em sua maioria, frequentavam
instituições ou classes especiais.
Parte desta luta foi ganha já que se pode observar, atualmente, o aumento de
alunos nas instituições de ensino regular. Porém, outra batalha se trava: a de efetivar a
aprendizagem. Não basta acolher e promover a interação social. É preciso ensinar e
preparar estes alunos para sua “efetiva” inclusão na sociedade aproximando-os cada vez
mais do exercício da autonomia e consequentemente de sua cidadania.
Preocupados em atender as exigências de uma sociedade que se encontra em
frequente renovação, buscamos associar a maneira pela qual os novos recursos
tecnológicos podem auxiliar e favorecer o processo educacional para os alunos com
necessidades educacionais especiais. Sabemos que para que isso ocorra de forma
satisfatória alguns aspectos precisam ser levados em consideração como a qualificação
do professor e o ambiente adequado para este alunado.
Visando um aprendizado e maior entendimento sobre as práticas pedagógicas
aplicadas ao deficiente intelectual6 e na tentativa de conhecer, avaliar e buscar
maximizar a eficácia de estratégias, o presente artigo terá como fontes de pesquisas
literaturas pertinentes à Educação Especial e Inclusiva de Rosana Glat e Jose Geraldo
Silveira Bueno, às Tecnologias Assistivas apresentadas na 1ª Feira de Tecnologia
Assitivas do Rio de Janeiro e os estudos de tecnologia aplicada na educação de Judith
Haymore Sandholtz.
Com estes três pontos conseguimos enfim propor um projeto de inclusão digital
que caminha para a social a partir do olhar sobre um modelo educacional adequado
presente na Escola Favo de Mel que funciona como uma extensão da Fundação de
Apoio à Escola Técnica (FAETEC) localizada no bairro de Quintino no Rio de Janeiro,
que traz como proposta, além do conteúdo pedagógico, o ensino profissionalizante.
6 Termo adotado pela ONU a partir de 1995 que substitui a nomenclatura anterior deficiente mental.
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Educação Especial e a Educação Inclusiva.
Ao longo dos anos, a Educação Especial deixou de ser uma preocupação
meramente clínica para compor o ambiente nacional no campo das leis, das pesquisas e
das tecnologias. Isso, para que os direitos, as informações e recursos que visam a
acessibilidades, cheguem ao aluno com necessidades educacionais especiais.
A Educação Especial é uma modalidade de ensino oferecida por instituições de
ensino regular que trabalha com a contínua elaboração de métodos especiais. Tais
métodos têm o objetivo de auxiliar o desenvolvimento de alunos com variados tipos de
necessidades especiais. Segundo Glat (2007), pode-se ver esta modalidade de ensino
tradicionalmente como um sistema paralelo que atende o aluno com graves dificuldades
de aprendizado.
No Brasil, autorizada pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)), à sua clientela, tem assegurado, além
de recursos que atendam às suas necessidades, também, programas especiais para a
conclusão do ensino fundamental, capacitação de professores, educação voltada para o
trabalho e o acesso a benefícios de programas sociais que suplementam o ensino
regular.
No cenário mundial, anterior a LDB, já se apontava a “democratização das
oportunidades educacionais” (BUENO, 1999, p.1), pela Declaração de Salamanca7, em
1994. Uma proposta de Educação Inclusiva que sugere a inserção de alunos com
necessidades educacionais especiais nas salas de ensino regular.
Mediante a esse atraso e ao avanço científico voltado à Educação Especial, foi
possível pensar uma nova proposta que segundo Glat (2006/2007), não aparece no
cenário nacional como uma quebra de paradigma, mas sim como o desenvolvimento das
teorias e práticas permitidas por essa modalidade de ensino.
Dentro desta proposta, Bueno (1999), identifica duas perspectivas que se
apresentam na Educação Especial, a integração e a inclusão. A primeira analisa a
situação de cada educando e o integra de acordo com a sua habilitação em relação à
escola. A segunda vê o aluno sobre todas as suas possibilidades diferenciais (culturais,
7 Trata dos princípios, políticas e práticas na área das necessidades educacionais especiais.
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sociais e políticas, por exemplo), e o inclui na rede regular de ensino, cabendo à escola
realizar suas adequações para garantir sua aprendizagem.
Isso nos mostra que, nestes dois conceitos, visualizamos dois momentos. O
primeiro o aluno se adapta ao meio, ou seja, as preocupações são para tal integração. No
segundo pensa-se na adequação do meio ao aluno. Isso significa incluir o aluno com
necessidades educacional especial independente de sua necessidade.
Perspectivas Tecnológicas na Educação Inclusiva
Junto ao crescimento do olhar mais atento em direção à Educação Inclusiva, os
centros acadêmicos se destacam devido às muitas pesquisas publicadas referentes a essa
modalidade de ensino. Como consequência dessas pesquisas, a variedade de recursos
voltados à Educação Inclusiva começa a aumentar. Equiparado a este processo de
crescimento de recursos, é possível encontrar mais um campo de pesquisa que se
preocupa com essa nova política, as Tecnologias Assitivas.
Tecnologia Assistiva (TA) é termo recente, apresentado para especificar
qualquer recurso ou serviço que auxilie as habilidades de pessoas com algum tipo de
deficiência. Muito utilizada por escolas especiais, as TAs se baseiam, normalmente, em
recursos de baixa tecnologia como adaptação de brinquedos, ambientes e materiais
utilizados em sala.
Segundo Galvão (2006), dentre os grupos de tecnologias utilizadas na educação
especial, está a criação de softwares que é a alta tecnologia voltada à acessibilidade de
pessoas com necessidades especiais. Possível, devido ao avanço tecnológico da
informação e comunicação, tais recursos integram o aluno ao sistema de computadores,
e cada vez mais ganham espaço na sociedade.
Junto às baixas tecnologias, ela promove o auxílio na manipulação de um
sistema informatizado. A elaboração destes softwares e a produção de máquinas que
atendam a esse público ainda são realizadas em baixa quantidade e pouco adequadas a
grupos específicos. Mesmo assim conseguimos perceber que há uma produção de
recursos em alta tecnologia a favor da Educação Especial.
Um projeto que tem apresentado resultados positivos no auxílio à educação é o
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), DOSVOX8. Ele é um sistema
8 Criado pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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operacional que auxilia deficientes visuais na manipulação do computador e no
gerenciamento de arquivos. Comunica-se com usuário por sistema de voz, indicando
todos os possíveis comandos para a gestão da máquina.
Da mesma universidade, também é conhecido o software MICROFELIX9 v2.0.
Direcionado a indivíduos com deficiências motoras, ele apresenta na tela as opções de
comando e enquanto ilumina cada opção, aguarda um comendo de voz ou toque no
teclado para acioná-lo.
Apresentado alguns projetos, visualizamos que há de fato uma preocupação de
manipuladores da alta tecnologia, em fornecer acessibilidade a indivíduos com
necessidades especiais. Mas até o presente momento, somente conseguimos pensar na
utilização indireta destes recursos no campo da educação, ou seja, como facilitadores da
construção do processo educacional, e não o próprio processo.
Estes dois projetos, mesmo que voltados à acessibilidade, nos levam a salientar a
importância da informática na educação. Em uma pequena análise, Tajra (2008)
apresenta pontos que justificam tal importância como os editores de textos que podem
ser utilizados como caminho para abordagem das habilidades lingüísticas e os
programadores de soluções que levam ao aluno a atividade lógica e matemática,
softwares para a criação de gráficos e imagens implicando nas habilidades criativas e a
utilização da internet como meio de pesquisa e comunicação fomentando o exercício do
conhecimento.
Existem outros softwares que podem auxiliar o professor e também a instituição
de ensino na preparação de um ambiente inclusivo. Mas, a maioria está voltada à
acessibilidade de deficientes e não à necessidade educacional especial.
Professor, o mediador entre TI e a Educação Inclusiva.
Como já citamos, é preciso haver uma gestão tecnológica para obter melhores
resultados na manipulação de alguns recursos. Mesmo os possuindo no ambiente
educacional, não é possível estabelecer um ambiente inclusivo se não existir um
mediador de tecnologia. E a quem mais compete essa mediação se não ao professor.
A necessidade de mediação se amplia a partir do momento em que, dentre estes
recursos, está a alta tecnologia, como por exemplo, a Tecnologia da Informação (TI). O
9 Criado pelo professor Antonio Borges, no Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2004/5.
6
professor é “a mola mestre para o sucesso de implantação desses recursos no ambiente
educacional” (TAJRA, 2008, p. 114). Essa análise gera uma reflexão sobre a questão da
formação deste professor que vai mediar a relação entre o aluno e a TI, com o propósito
de inclusão e de construção de conhecimento.
Bueno (1999) faz uma análise direcionada a este profissional e aponta que sua
formação no Brasil sofreu pouco investimento ao longo dos anos e manteve na
formação de professores polivalentes10 a licença fornecida pelo ensino médio na
modalidade Normal. O propósito de sua análise não desmerece a titulação pela
formação Normal, mas sim aponta a falta de uma reflexão mais intensa sobre as
questões educacionais no currículo das instituições que fornecem essa licenciatura.
Diante deste pensamento, o mais indicado segundo Bueno (1999), é construir um
currículo de formação do professor baseados em dois princípios. O do professor que
possui conhecimentos que o permita ministrar aulas a diferentes grupos com
necessidades educacionais especiais; e o do professor especialista em educação especial.
Desta forma, seria possível a atuação mais flexiva da Educação Inclusiva no ambiente
regular de ensino.
A situação da formação do professor em relação à proposta de uma educação
inclusiva é complexa e requer uma mudança de estratégia política, institucional e
individual. Torna-se mais complexa quando começamos a pensar a questão da alta
tecnologia como recurso indispensável no mundo contemporâneo.
Conforme os apontamentos de Sandholtz (1997), a presença da tecnologia, como
recurso utilizado em sala de aula, adiciona mais um ponto de complexidade à vida do
professor. Esse que já possui excesso de trabalho, agora, tem que aprender e gerenciar
essa nova tecnologia. Mesmo, havendo na atualidade a existência de dois tipos de
professores, aquele que possui conhecimentos prévios em relação à informática e aquele
que não possui. No caso desse último, formado há anos e que não obteve uma reflexão
sobre a tecnologia ainda na graduação, torna-se mais densa a proposta do uso da alta
tecnologia na educação inclusiva. Fica ainda mais complexa, quando estamos nos
referindo a um alunado que necessita de trabalhos educacionais especiais.
10 Professores que lecionam do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.
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Proposta de inclusão digital e social.
A partir do momento em que, na contemporaneidade, se levanta a preocupação
com a inclusão digital de alunos com necessidades educacionais especiais, se pode
afirmar que a questão da inclusão social está, a isso, paralelamente pertinente.
E é neste ambiente de inclusão que se propõe a criação de uma estrutura que
sustentaria à aplicação da inclusão digital ainda em ambientes educacionais especiais.
Para criar essa proposta foi preciso uma revisão de literatura, que aponta, além da
importância da informática na educação, a necessidade de renovação do currículo
escolar, a especialização de profissionais de informática e a ausência de softwares,
todos, em relação às necessidades educacionais especiais.
Em conjunto a essa revisão, foi necessário um estudo de campo para identificar
a realidade destes três últimos elementos que são fundamentais para a aplicação de uma
proposta inclusiva de cunho digital.
Para isso, foi observada a Escola Especial Favo de Mel, que ao longo dos anos
vem apresentando, de acordo com a matriz curricular, projetos bem sucedidos ao longo
de sua história. Além da observação foi realizada uma entrevista com a antiga
coordenadora, professores e atual direção da escola.
A instituição observada é pública e faz parte do Centro de Educação
Tecnológica e Profissionalizante (CETEP), que é um complexo da Fundação de Apoio à
Escola Técnica (FAETEC) e seu funcionamento foi autorizado no ano de 1996.
Com o objetivo de atender o alunado com necessidades educacionais especiais,
em específico aos alunos com deficiência mental, a escola promove uma educação
especializada, voltada à inclusão social e escolar, assim como ao exercício da cidadania.
Esse serviço é oferecido às crianças, adolescentes e adultos a partir dos 6 anos de idade,
que são devidamente distribuídas em aproximadamente 22 turmas.
Junto à matriz curricular, a escola especial oferece cursos de Informática e
Culinária com o objetivo de ampliar o caminho profissional desses alunos. Fora desta
matriz é trabalhada a inclusão através de oficinas, como Teatro, Esportes, Música e
Informática; e em cursos profissionalizantes, como Marcenaria e Encadernação Gráfica;
em outras unidades do CETEP/Quintino.
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A instituição se preocupa em manter os pais e responsáveis sempre próximos,
tanto na elaboração de projetos quanto na sua própria execução. Tendo isso em vista, é
destinado um espaço para que os oriente aos temas mais diversos como sexualidade e
relações familiares, como exemplo.
Com a consciência de que é preciso uma busca contínua de atualização
educacional, a Escola Especial Favo de Mel promove capacitação mensal a todos os
funcionários junto a um treinamento sobre Sistema de Qualidade. Essa atitude garantiu
à escola o Selo ISO 9002, desde 1998, e a premiação pelo Programa Qualidade Rio em
1998 e 2000 na categoria Bronze e em 2002 na Categoria Prata. Obteve também o
reconhecimento em Gestão do Programa da Qualidade no Serviço Público, do Governo
Federal, em 2001; o Prêmio de Referência Escolar do Estado e o Nacional, promovido
pelo CONSED, pela UNESCO, Fundação FORD, Fundação Roberto Marinho, com o
apoio da UNICEF, Conselho Britânico e Embaixada Americana em 2001.
Segundo histórico fornecido pela atual e antiga direção da escola, a instituição
de ensino possui um novo desafio nos anos 2009 e 2010, que é um projeto que visa
transformar a escola em um centro de referência de profissionalização para pessoas com
deficiência intelectual. O objetivo é levar o alunado recebido pela unidade educacional
ao mercado de trabalho promovendo mais uma vez a inclusão.
Sinalizado o modelo de educação trabalhado na escola especial em destaque,
visualizamos que em seus projetos e objetivos a preocupação com a inclusão é
constante. Isso, quando analisamos e limitamos a inclusão somente à relação entre os
indivíduos no trabalho e na sociedade. Mas quando pensamos no mundo
contemporâneo, em que a evolução tecnológica ganha espaço, não só no mercado de
trabalho, mas também nos setores educacionais, de relação e comunicação, pode ser que
este modelo ainda não seja o adequado.
Embora seja uma escola especial, o que em tese elimina uma proposta de
inclusão, A instituição em questão tem efetuado ao longo de suas atividades ações
voltada para a inclusão, porém ao analisar sua matriz curricular, detectamos que ela não
9
contempla o uso da Informática. A matriz não prevê uma disciplina de informática, mas
sim sua aplicação como suporte das demais disciplinas, o que já elimina a possibilidade
de relação com o mundo em constante evolução tecnológica.
Mesmo utilizando a informática como suporte, segundo um dos professores, até
o ano de 2008 existiu uma precariedade do laboratório de informática. Situação
confirmada e mudada pela atual direção, que conseguiu parcerias com a Secretaria de
Ciências e Tecnologia do Rio de Janeiro, para a revitalização do laboratório. Ainda
assim, com um novo laboratório, não foi identificado nenhum projeto específico que
contemple a inclusão digital dos alunos.
A informática acompanha o aluno desde que ele entra na escola. A partir deste
momento ele começa a ter atividades que segundo a direção são atividades específicas,
como por exemplo, a aprendizagem de cores, a criação de desenhos e associações. É
neste ambiente de aprendizagem, conforme citado por um dos professores, que o
profissional de informática insere os conhecimentos básicos de tecnologia desde a
apresentação, como por exemplo, do que é um mouse ou um monitor, até a exposição de
como se acessa a internet.
Cientes de como é o contato do aluno com a informática, direcionamos as
observações para o mediador da tecnologia na escola. Segundo a antiga coordenadora o
profissional de informática foi contratado para substituir uma professora concursada.
Ele se cadastrou em um banco de reserva de professores e para ser contratado, segundo
a entrevistada, necessitaria de uma especialização referente à educação especial. Mas
devido à falta de profissionais com esta especialização, a direção optou por fazer um
contrato de um profissional de informática, com três meses de antecedência, para que
pudesse ser feita uma adaptação do novo professor.
Ao longo das observações voltadas ao professor, percebemos que, mesmo
possuindo somente uma licenciatura e não uma especialização voltada à tecnologia
1
aplicada à educação especial, o professor consegue cumprir o planejamento devido sua
própria experiência em turma, assim como, expõe a direção, ele aprende fazendo.
Segundo um dos professores entrevistados, esse não é um caso isolado, pois a
maior parte dos profissionais de informática que trabalharam na escola, não possuía
conhecimentos específicos no campo da educação especial. Esses buscaram
conhecimentos a partir do primeiro contato com a classe especial.
O que se pode observar, é que o profissional que trabalha com a informática na
escola assume a função de instrutor e não de professor. Este pode ser o motivo pela não
existência de uma capacitação volta a este instrutor por parte da escola. Como já
afirmado acima por um dos professores, a capacitação parte do próprio profissional,
mas apesar da informação fornecida, não há uma fiscalização, nem algum registro de
capacitação deste instrutor.
Isso não impede que a matriz curricular seja atendida. Devido a sua formação
acadêmica, o profissional consegue, pela experiência, suprir a exigência do currículo,
que insere a informática somente como suporte. Mas segundo a direção, este
profissional não atende as especificidades dos alunos especiais, enquanto mediador da
alta tecnologia assistiva voltada ao desenvolvimento educacional.
A partir desta afirmação foi pertinente observar mais dois itens na estrutura da
escola, a aprendizagem que é o resultado de toda metodologia aplicada à informática e à
alta tecnologia assistiva voltada para ao processo educativo.
Pela lógica, afirmamos que, mesmo devido à carência de mão de obra
capacitada, o processo adotado pela instituição, acarreta em uma defasagem na
aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais em relação à
informática. Com a ausência de um profissional especializado, a aplicação da
informática adaptada não supre a necessidade de um conhecimento mais específico que
permita ao aluno sua utilização de uma forma mais ampla.
Em um momento da entrevista, em que era pertinente o depoimento referente ao
domínio que os alunos possuem em relação à informática, um dos professores relatou
que alguns possuem cadastro em sites de relacionamentos, procuram visualizar fotos e
acessar sites do seu próprio interesse. Com este depoimento, é possível sinalizar um
restrito conhecimento de recursos tecnológico por parte dos alunos.
Mesmo restrito, em nenhum momento foi possível perceber a existência de
direcionamento relacionado a restrições e confiabilidade na internet, assim como, o
1
utilização de sites de relacionamento e de vídeos que podem auxiliar a educação,
respectivamente pela comunicação e pela aprendizagem lúdica.
Quanto à alta tecnologia, utilizada pela escola no desenvolvimento da
aprendizagem, podemos afirmar que não há uma carência, mas sim uma ausência de
softwares destinados aos alunos com necessidade educacionais especiais, assim como já
havíamos apresentado na revisão de literatura.
Segundo um dos professores, alguns softwares utilizados não atendem a certas
idades mentais. Um exemplo dado por ele é o trabalho com cores primárias. O professor
utiliza em uma turma de adolescentes, programas voltados a crianças de 2 e 4 anos, ou
seja, o aluno adolescente aprende com personagens infantilizados.
Outro exemplo apresentado por um dos professores refere-se a um programa que
trabalha as operações matemáticas. O aluno tem como objetivo inserir ao lado da
operação o resultado, caso ele venha a ser correto, um boneco chuta uma bola que entra
no gol.
De acordo com as observações, os softwares utilizados são apenas programas
voltados a suporte educacional, que não possuem adequação a alunos com necessidades
educacionais especiais. Mesmo que possuíssem adaptação certamente entrariam em
conflito com a idade mental de certos alunos ou mesmo com a realidade de outros. O
que pode gerar um retardo ou mesmo descaso, por parte do aluno pelo e no aprendizado.
Esses apontamentos identificam que a aprendizagem, de fato, é insuficiente em
relação à inclusão digital dos alunos com deficiência intelectual.
Com isso, fechamos o conjunto de observação sobre a estrutura da escola.
Conjunto esse que nos apresenta uma série de elementos que devem ser ajustados para
que seja possível a realização de uma proposta de inclusão digital. Isso, pois, um aluno
que possui conhecimento da Informática, somente como apoio às outras disciplinas
(apoio de softwares que não são condizentes à sua realidade), e que não tem como
1
suporte um mediador especializado, para atender às suas necessidades especiais,
certamente não estará apto ao mundo tecnológico em que vivemos.
Considerações finais
Além das adaptações em relação ao currículo escolar e à especialização do
profissional de informática, percebemos que o terceiro elemento analisado, a não
existência de um software específico aos alunos com necessidade educacional especiais,
pertence a uma atmosfera mais complexa do que os outros dois.
Mesmo coordenado por uma matriz, o projeto político pedagógico pode estar
voltado para a aplicação da informática não só como suporte. Oficinas podem ser
implantadas com o objetivo focado no direcionamento deste aluno com necessidades
especiais no ambiente virtual. Para isso é preciso capacitação constante de um
profissional em tecnologias assistivas, que seja regulamentada e indicada pela escola,
tendo em vista que é uma instituição com muitos títulos e de referência.
Já a criação de softwares requer um trabalho de pesquisa, para a identificação
das necessidades; mão de obra especializada em programação, para a elaboração do
software; e uma visão pedagógica, para que sejam atendidas as mais variadas
necessidades educacionais especiais.
Junto a esta analise é pertinente salientar a existência de uma fábrica de software
no Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro (IST-Rio) 11, que pode voltar o
seu trabalho à fabricação de softwares que atendam, não só a uma escola especial, mas
também a uma escola inclusiva. Trabalhos que não estariam voltados à adaptação de
softwares, mas sim na criação de programas voltados à inclusão.
11 É uma faculdade pública voltada para o ensino superior e tem como mantenedora é a Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC) do Estado do Rio de Janeiro.
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