8/18/2019 Movimento e Musica http://slidepdf.com/reader/full/movimento-e-musica 1/42 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Emoção, Movimento e Música Por: Mariana Carneiro Gomes dos Santos Orientadora Prof. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2010
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A tecnologia é a principal responsável pela crescente falta de interesse pelo
movimento corporal na sociedade contemporânea. As crianças de hoje vivem em
apartamentos e passam uma boa parte do seu tempo assistindo televisão ou
brincando com joguinhos no computador. Com isso, a desarmonia entre as suas
sensações e as necessidades do corpo de movimentar-se se torna cada vez mais
latente. A psicomotricidade, favorecida pela expressão corporal e música, é capazde ajudar a criança a dominar o seu corpo com desenvoltura e permitir que
exteriorize espontaneamente suas emoções, o que facilita sua vida em vários
aspectos, inclusive o social.
O presente trabalho busca uma melhor compreensão sobre a história da
Psicomotricidade, analisa o desenvolvimento psicomotor e aborda a relação entre
o movimento corporal e a música e seus benefícios para o desenvolvimento
psicomotor de crianças de 0 a 6 anos, considerando que os primeiros anos de vida
A pesquisa realizada é bibliográfica e descritiva. Foram consultadas fontes
bibliográficas, fazendo uso do material selecionado, composto por livros
científicos, artigos e textos da Internet. A proposta inicial é traçar os caminhos da
psicomotricidade, relatar o desenvolvimento motor de crianças de 0 a 6 anos eidentificar como a música e o movimento corporal podem contribuir no trabalho
corporal do tempo, do ritmo etc. Sua pedagogia propõe o desenvolvimento damotricidade aliada à sensibilidade, já que permite a exteriorização espontânea das
sensações emotivas através do corpo.
A aprendizagem do movimento através da educação musical faz-se
necessário principalmente na fase da educação infantil. A música impulsiona o
corpo a se mover no espaço, a conquistar o sentido espacial e temporal e com
isso, ajuda à criança a ter domínio dos seus gestos, trabalhando a lateralidade.
O presente trabalho pretende descrever as trajetórias da Psicomotricidade,analisar as características do desenvolvimento psicomotor e enfatizar a
importância da música e do movimento corporal para o trabalho psicomotor e a
contribuição destes três elementos para o desenvolvimento afetivo e social da
assinado um decreto ministerial introduzindo a educação psicomotora no ensinoprimário, cumprindo um horário semanal de seis horas, o que entusiasmou Le
Boulch e seus seguidores. Para esse especialista:
“A Educação Psicomotora deve ser considerada como
uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todas
as aprendizagens pré-escolares: leva a criança a tomar
consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço,
a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus
gestos e movimentos. A Educação Psicomotora deve ser
praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança,
permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já
estruturadas”. (BOULCH, 1966 p.24, 25).
O horário semanal dedicado à Educação Psicomotora na escola primária
começa a ser composto por atividades de livre expressão e exercícios que
melhoram o equilíbrio e a coordenação das crianças.
Hoje em dia, as ideias de Boulch estão presentes nas escolas. A utilização
da Psicomotricidade associada à Educação Física é trabalhada nas várias
modalidades de ensino, principalmente na Educação Infantil. A criança pequena
usa a linguagem corporal como uma forte forma de se expressar. Nessa fase, o
desenvolvimento do equilíbrio, o controle da musculatura e o trabalho de
sensibilização visual, tátil e auditiva são essenciais para as crianças. Outro
elemento importante dessa etapa é o lúdico, a necessidade de brincar. A
brincadeira proporciona diversas formas de expressão e estimula a liberdade
criativa.
A partir da década de 70, as técnicas reeducativas são abandonadas e dão
espaço para a terapia psicomotora. O psicólogo e professor Esteban Levin relata
uma quebra no pensamento voltado apenas ao plano motor e direciona toda a
perspectiva do novo trabalho para o corpo em movimento:
em cima de sua técnica, ao fazer com que se crie para as crianças um espaçofuncional de brincadeiras e fantasias de modo que esta possa expressar seus
conflitos e vivenciá-los. Já Desobeau trabalha com uma abordagem tônica-
emocional, que permite o indivíduo a engajar-se no mundo de forma harmoniosa.
Em 19 de Abril de 1980, acontece um fato muito importante na trajetória da
Psicomotricidade no Brasil. É fundada a Sociedade Brasileira de Terapia
Psicomotora, hoje Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, cujo Estatuto
apresenta objetivos claros de interesse dos profissionais da área depsicomotricidade.
“A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade é uma entidade decaráter científico-cultural, sem fins lucrativos e foi fundada com oobjetivo de agregar os profissionais que vinham se formando etrabalhando na área. Atualmente, busca a regulamentação daprofissão através de projetos de lei.A S.B.P. tem ainda como objetivo, contribuir com:1. A promoção de contatos e incentivos à cooperação entre ospsicomotricistas e entre estes e as organizações dos diferentes
Estados interessados em pesquisas científicas e nodesenvolvimento teórico - prático das disciplinas ligadas àpsicomotricidade.2. A coleta e difusão de informações sobre a psicomotricidade;estudo do currículo básico para a formação do psicomotricista;3. A organização de cursos de especialização empsicomotricidade, inclusive em colaboração com autoridadeseducacionais de saúde e outras;4. A promoção de palestras, encontros, seminários, jornadas,simpósios e congressos;5. O exame das questões éticas, morais e profissionais dospsicomotricistas, emitindo seu parecer;
6. O incentivo de todas e quaisquer atividades científicas queestejam, direta ou indiretamente relacionadas com apsicomotricidade”.(www.psicomotricidade.com.br/asociedade.htm)
Apesar dos esforços da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade,
lamentavelmente, a Psicomotricidade chega aos dias de hoje no Brasil com um
problema: a falta de regulamentação da profissão de psicomotricista. Apesar dos
inúmeros trabalhos publicados, dos vários Congressos de nível nacional
realizados e da oferta por todo o país dos diversos cursos de graduação eespecializações, não há o reconhecimento da profissão, não existe a
regulamentação da atividade profissional dos psicomotricistas nas áreas de saúde
e educação.
Em face do exposto ao longo deste Capítulo, nota-se que as trajetórias da
Psicomotricidade não evoluíram da mesma maneira e no mesmo contexto
temporal nos países adiantados e nos menos desenvolvidos. Enquanto na Europa
e nos Estados Unidos a profissão do psicomotricista é hoje reconhecida de direito,no Brasil, e em outros países da América Latina, a luta pelos direitos dos
profissionais da Psicomotricidade é intensa e, infelizmente, ainda não tem
- Fase Fálica (4 aos 6 anos) – é uma fase em que a criança precisaextravasar sua energia e utiliza-se de atividades motoras como pular, correr etc. A
criança vai ter curiosidades em tocar o seu corpo e perceber o corpo do outro.
Começa uma maior convivência e socialização através da escola. É uma fase
importante para se trabalhar atividades lúdicas e para se estimular a criatividade.
Este período vai proporcionar a formação de uma identidade sexual.
- Fase de Latência (5/6 anos aos 11/13 anos – início da puberdade) – a
criança demonstra uma tranqüilidade em relação aos impulsos sexuais porinfluência da educação. Ela procura estabelecer novos vínculos no contato social
e se dedicar a novas atividades.
- Fase Genital (11/13 anos até o início da vida adulta) – nesta fase, o jovem
se encontra em pleno desenvolvimento psicossexual devido às mudanças
fisiológicas e à reintegração de todos os outros estágios anteriores. O jovem
amadurece sexualmente e se afasta da esfera de concentração em si mesmo para
se integrar à sociedade.
O estudo das inter-relações entre a motricidade e a percepção, através de
ampla experimentação, foi a proposta do psicólogo suíço Jean Piaget. Para ele, a
criança nasce biologicamente capaz de realizar diversas respostas motoras, que
constituem a armação para os processos de pensamentos seguintes. Ele realizou
suas pesquisas sobre desenvolvimento cognitivo através da observação do
comportamento dos seus três filhos: Jacqueline, Laurent e Luciene. Em
consequência dos resultados desses estudos, ele afirma a importância do bebêreceber, desde os primeiros anos, estimulação visual, auditiva e tátil, de modo que
ele possa dispor de muitos objetos para manipular e possibilidades de se
movimentar. Isso, segundo o pesquisador, faz com que a criança forme suas
noções de espaço, tempo, objeto etc. Piaget considera cinco períodos essenciais
para o desenvolvimento humano1. São eles:
1
Alguns autores registram que Piaget considera apenas quatro estágios distintos: sensório-motor, préoperacional, operacional concreto e operacional formal.
- Sensório-motor (0 a 2 anos) – revela que a atividade intelectual da criançaconsiste em perceber o ambiente e agir sobre ele. Ela percebe e se movimenta.
Nesta fase, o beber constrói esquemas de assimilação, ou seja, ao se deparar
com algo novo tentará classificar esse novo dado a partir de sua estrutura
cognitiva prévia. Se essa estrutura não for adequada para acomodar esse dado,
irá ser transformada em função das alterações do próprio meio exterior
(acomodação). As percepções do bebê e suas ações (movimentos) são
trabalhadas pelo deslocamento do seu próprio corpo. A atenção das crianças vai
estar voltada para os objetos que as rodeiam e para seu corpo.
- Período Simbólico (2 a 4 anos) – a criança começa a utilizar símbolos e,
como conseqüência, torna-se capaz de aprender a linguagem. É um período
marcado pelo surgimento da dramatização, da linguagem, do desenho e de outras
formas de expressão. A criança, nesta fase é capaz de representar mentalmente
objetos ausentes, dando espaço para o envolvimento com a fantasia e com o faz-
de-conta. Entre as características desta fase temos dentre outras o egocentrismo,
em que a criança não consegue aceitar pontos de vistas diferentes do dela, o
animismo, em que a criança vai atribuir vida a seres inanimados e a
superdeterminação caracterizada por uma teimosia excessiva.
- Período Intuitivo (4 a 7 anos) – é a fase conhecida como a “idade dos
porquês”, já que a criança passa o tempo todo questionando, elaborando
perguntas. O pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista. A
criança neste estágio já consegue distinguir o que é fantasia do que é real.- Operações Concretas (7 a 11, 12 anos) – o raciocínio da criança é
possível apenas em relação a objetos palpáveis e visíveis. Para aprenderem
devem manipular objetos concretos. A criança já compreende o que é idade,
tempo e espaço.
- Operações Formais ou Período Operatório Abstrato (12 em diante) – o
jovem pensa de forma abstrata e já consegue formular hipóteses. O adolescente
imagem da mãe é identificada de forma clara. Em relação ao tônus e ao equilíbrio,Le Boulch afirma que no terceiro mês, o tônus da nuca e do pescoço vai se
organizar em função das posições do eixo corporal, a cabeça já está mais firme
nas posições sentado e deitado com apoio. Entre o sexto e o oitavo mês, a criança
conquista a verticalidade e consegue se equilibrar em posição sentada. No nono
mês, consegue rastejar e depois passa a marchar de quatro. Já entre o décimo e
o décimo segundo mês de vida, a criança passa a ficar em pé com apoio e, no
décimo segundo, entra no período de marcha e desenvolve sua marcha com
domínio do espaço físico e simbólico.
O período lingüístico inicia-se a partir dos doze meses e a criança começa a
falar suas primeiras palavras. Acredita-se que essas primeiras palavras
compreendidas e faladas sejam palavras que tenham um significado afetivo como
objetos familiares.
A utilização da linguagem aprimora o desenvolvimento da criança na área da
percepção e da ação. Dos quinze aos dezoito meses a criança começa a andarsozinha, apresenta linguagem de ação com organizações rítmicas e faz seus
primeiros rabiscos.
Aos três anos, fase que se destaca pela entrada da criança na pré-escola,
começa a haver a percepção do próprio corpo. Ela já se reconhece no espelho. Le
Boulch nos informa que o reconhecimento e a percepção dos objetos do espaço
ocorrem meses antes da percepção do próprio corpo. O desenvolvimento motor
de uma criança de três anos que dispôs de um ambiente saudável e da presençacarinhosa da mãe é perfeitamente harmonioso. Aos três anos, o equilíbrio já está
assegurado, já adquiriu controle esfincteriano e habilidade na coordenação óculo-
manual, manifesta assim, um bem-estar motor global.
Ao citar as experiências vivenciadas por uma criança de 3 aos 6 anos, Le
Boulch nos diz que:
“O estágio dos 3 aos 6 anos é um período transitório tanto na
estruturação espaço-temporal quanto na estruturação do
“A música atua nas fibras mais sensitivas do ser, por meio de
experiências emotivas que proporcionam, como, por exemplo, o
prazer, que é uma forma de emoção. Daí o fato de a criança
recém-nascida já se concentrar na audição de música,
adormecendo com facilidade ao som de cantigas de ninar”.
(SALLES, 2009, p.134)
A interação de música e movimento é constante. Desde o início do século
passado, Dalcroze percebe que ambos deviam caminhar juntos.
Emile Henri Jaques (Dalcroze) nasce em 1865 em Viena, filho de paissuíços. Aos 10 anos passa a viver em Genebra. Mais tarde, ingressa na
Universidade de Genebra e, dividido entre o curso de Música e o de Artes
Dramáticas, opta pelo segundo, mas nunca abandona o interesse pela música.
Em Paris, começa a compor e a participar de festivais. Nesta época conhece Nine
Faliero, sua futura esposa e grande interprete de suas obras. Em 1909, nasce seu
primeiro filho Gabriel. Nesse período, continua com suas pesquisas para o ensino
de solfejo, improvisação e rítmica. Em 1915, cria o Instituto Dalcroze, em Genebra.Logo depois, começa sua carreira de professor no Conservatório de Genebra e
começa a pesquisa para o seu método chamado na época de “Ginástica Rítmica”
(futuramente Euritmia). Morre em 1950 na cidade onde iniciou seus estudos.
Em sua pedagogia musical, Dalcroze propõe a musicalização do corpo. Sua
técnica, criada para ensinar música a seus alunos, promove a integração do som
com o movimento corporal (participação corporal no ritmo musical). A rítmica de
Dalcroze permite que a cada exercício se trabalhe as bases da natureza infantil: o
corpo, o pensamento e o poder de criar com o intuito de a criança desenvolver suacapacidade de expressão. A experiência da rítmica se abre a um caminho
educacional múltiplo e se inclina ao desenvolvimento da psicomotricidade ao
trabalhar:
• as qualidades expressivas do som (dinamismo, lentidão, intensidade etc);
• a sensibilidade nervosa;
• a relação entre o tempo e o espaço;
• a capacidade de exteriorizar as emoções; e
• o poder de imaginação.
O principal objetivo da pedagogia de Dalcroze não é enfatizar a importância
da técnica musical ou da técnica corporal; é favorecer a autonomia do indivíduo ao
permitir que ele estabeleça contato com seus sentimentos:
“Um cidadão completo deve ser, ao sair da escola, capaz não apenas de viver
normalmente, mas sobretudo de sentir com emoção a vida”. (DALCROZE, 1965 apud
MADUREIRA, 1999, p.183)
Dentre as propostas didáticas da metodologia de Dalcroze estão os
exercícios de respiração, de divisão e acentuação métrica (a criança diferencia o
tempo forte e o fraco através do corpo), de concepção de ritmos pelo sentido
muscular através da percepção das variações das durações, de equilíbrio corporal
(assegura os movimentos soltos e a segurança ao realizá-los), de dissociação do
movimento (auxilia no desenvolvimento da concentração mental), de aumento e
diminuição da velocidade para uma maior preparação corporal, de improvisação
etc. Segundo o estudioso, a música serve como ajudante de primeira ordem no
processo de desenvolvimento da criança, ao reforçar, junto com a rítmica, a
sensação de movimento por suas qualidades dinâmicas. A música age
diretamente no corpo e proporciona uma coordenação maior, além de maiores
possibilidades de ação e consciência. Em seu livro Le Rytme, La Musique et
consciência das suas possibilidades de agir e de se aceitar. Aos poucos, acriança começa a definir a sua imagem corporal baseada em percepções internas
e externas.
Equilíbrio:
Os exercícios que envolvem a noção de equilíbrio têm como objetivo o
relaxamento, o desenvolvimento do tônus e da postura. O equilíbrio permite que a
criança mantenha o eixo nos deslocamentos em posição ereta.
Lateralidade:
A lateralidade é a predominância de um dos lados do corpo na realização
dos movimentos. Esse lado vai apresentar maior agilidade e força comparado ao
outro. As brincadeiras e jogos da educação infantil podem contribuir para a
verificação da dominância dos três níveis (olho, mão e pé). Algumas crianças
podem apresentar lateralidade cruzada quando, por exemplo, utilizam a mão
esquerda, o pé e o olho direitos. Com isso, pode acontecer o caso de a criança ser
destra e usar a mão esquerda. Nessas situações é preciso haver o incentivo de
exercícios de lateralidade para uma maior organização motora.
Ritmo:
O ritmo se destaca por estar ligado às questões de tempo e espaço. O ritmo
deve ser trabalhado com crianças pequenas, pois é de grande importância para o
desenvolvimento afetivo e psicomotor. Nas atividades com música, o ritmo
estimula o movimento e a expressão corporal. O corpo já possui seus ritmosnaturais. Quando a criança percebe a sua tensão muscular acompanhada da
percepção das variações da música, começa a ser movida pela sensação de
maior ou menos amplitude no espaço e, assim, associa o seu movimento ao que
está escutando.
Coordenação:
A coordenação do movimento está associada à maturação do sistema
nervoso. Na coordenação global prevalecem os grandes músculos. O indivíduo
procura seu eixo corporal para ter maior capacidade de equilíbrio postural. Quantomais esse indivíduo desenvolver seu equilíbrio postural, mais coordenadas são
suas ações. Já a destreza manual (coordenação dos dedos e das mãos) está
relacionada à coordenação fina. A coordenação óculo-manual ou viso-motora, diz
respeito ao controle ocular.
Sociabilidade e afetividade:
A música e a expressão corporal estimulam atividades em grupo como as
rodas, as cirandas, as bandas etc. Todas essas atividades artísticas contribuempara que a criança consiga interagir e expressar seus sentimentos de forma bem
espontânea. Além disso, o contato com o grupo também vai ajudar a criança a
entender o outro e respeitar o seu espaço, assim como gosta de ter seu espaço
respeitado.
As considerações sobre os fatores que favorecem a Educação Musical e o
Movimento retromencionadas permitem afirmar que a expressão corporal,
principalmente se aliada à música, é um importante recurso para se trabalhar o
movimento com crianças desde a pré-escola.
“É muito conveniente a introdução progressiva no ensino
daquelas disciplinas que utilizam o corpo como veículo
expressivo, as quais servem como complemento às disciplinas
tradicionais que se orientam, sobretudo, para o desenvolvimento
intelectual.
Cremos que a criança não é um simples receptáculo de
informações, mas deve ser considerada como um ser criador, um
ser capaz de escolher e selecionar os instrumentos de que
necessita para seu desenvolvimento total.
(...)
Por isso, vemos como muito importante à introdução dessa
atividade desde o momento do ingresso da criança na pré-
A expressão corporal engloba como seus principais objetivos a
sensibilização e a conscientização do corpo e de atitudes. Ela está associada à
dança e a criação pessoal, por isso valoriza a criatividade manifestada pelos
movimentos da dança.
Na expressão corporal, a criança tem mais uma vez a oportunidade de
pesquisar o seu próprio corpo ao tentar reconhecer quais são suas partes moles e
duras, qual a sensação corporal do movimento rápido e do lento, até onde
consegue esticar o braço para alcançar um objeto imaginário etc. Essa pesquisatambém se estende aos demais. A comunicação não acontece só consigo mesmo,
pois envolve a pesquisa do outro (como se dá o olhar e o contato com o outro). A
pesquisa pode partir da ação e observação para a ação e imitação. A criança
observa o movimento para depois experimentá-lo.
Outra possibilidade da expressão corporal é o trabalho que envolve o corpo
e a qualidade do movimento. Atividades com movimentos fortes (energia), diretos
(elemento espacial), lentos (velocidade) etc. são ótimas para exercitar aconcentração e a coordenação da criança.
A importância da expressão corporal e da música recomenda que os
profissionais organizem atividades com o objetivo de melhorar a capacidade
motora da criança e que permitam, assim, o seu desenvolvimento. A organização
do trabalho com o corpo e o movimento deve ser contínua.
Como visto, a música e a expressão corporal devem fazer parte
integrante do programa escolar desde que a criança começa na pré-escola. Na
educação infantil, a Educação Musical deve possibilitar experimentações e
descobertas por meio de danças, brincadeiras, jogos e outras atividades
(exercícios) que estimulam a criatividade.
É importante salientar que o objetivo da Educação Musical na pré-
escola não é transmitir aos alunos a técnica musical e sim, desenvolver o gosto
pela música. Por essa razão, a música para os pequenos deve ser aplicada
sempre por meio de danças e brincadeiras. Danças e brincadeiras que envolvamcanto e movimento possibilitam a percepção rítmica, o conhecimento do próprio
corpo e o contato com outras crianças.
No que se refere à dança, o folclore infantil, transmitido de geração a
geração, assume grande importância, não só pelo seu valor, como também por se
constituir em um apoio para as crianças que têm dificuldades em coordenação
global alcançarem, no desenrolar da atividade, uma certa harmonia e bem estar. A
Ciranda, por exemplo, com seu caráter coletivo e os cantos fáceis de seremmemorizados e entoados, faz com que as crianças participem ativamente, com
alegria e encontrem uma situação favorável a sua expressão motora.
Pelo fato de que grande parte das brincadeiras serem executadas através
de movimentos para baixo, para cima, para frente, para o lado, para trás, elas se
tornam importantes para que as crianças comecem a perceber a orientação do
corpo em relação ao espaço e às outras pessoas que estão a sua volta. As
brincadeiras de roda são um bom exemplo dos benefícios proporcionados poresse tipo de atividade. Há quem afirme que é tarefa essencial do educador
permitir que as crianças brinquem.
A experiência corporal das crianças através dos jogos também deve ser
valorizada. Nos jogos a serem programados podem e devem ser usados objetos
que estimulem a exploração de movimentos. As bolas leves, de plástico, são
ótimas, pois facilitam o envolvimento das crianças. Com as bolas, pode-se
arrastar, engatinhar e ainda rolar sobre elas. Além disso, a bola ao bater no chãoemite um som, que pode ser aproveitado para exercícios coletivos de ritmos.
Outro objeto que também pode ser aproveitado nas atividades é o bambolê. O
bambolê cria novas possibilidades de movimentos e de som (do próprio bambolê
ou de quando é usado para bater no chão). Os colchões podem ser usados para
jogos dinâmicos, rolamentos, quedas voluntárias e cambalhotas. Túneis de pano
fazem com que as crianças se abaixem e utilizem a força dos músculos. Outras
deve ser feito em cadeia, dando-se as mãos e, após isso, descrevendo-se certopercurso), a serpentina (uma variação da farândola), o caracol (exercício feito em
fila aonde as crianças dão-se as mãos e avançam para frente com a mesma
velocidade) e também exercícios com três ou quatro crianças ao redor de um
bambolê. Outras possibilidades sugeridas por ele são:
- Os movimentos que acompanham os cantos:
1. Deslocamentos.
“Na escola maternal, durante os jogos espontâneos, os ritmos
naturais aparecem na locomoção. Na marcha e na corrida, a
criança descobre o salto e o galope. É interessante que a criança
possa usar estes ritmos motores em função de um determinado
ritmo sonoro dado pelo canto, a fim de realizar a melhor
sincronização possível”. (BOULCH, 1966, p.183)
2. Movimentos que chamam atenção para diferentes partes do corpo.
“Durante as danças e os jogos cantados, a locomoção, por vezes,
é interrompida para bater as mãos, para fazer movimentos de
tronco, de braços, de acocoramento, saltos que ritmem com o
canto. Às vezes, estes movimentos são ampliados utilizando
lenços, cordas, bastões e bolas”. (BOULCH, 1966, p. 183).
O autor ainda alerta para algumas questões dentro da sua metodologia.
Para as atividades atingirem seus objetivos, o ambiente deve ser descontraído, a
fim de favorecer o trabalho motor. Além disso, o professor deve incentivar um
clima positivo e orientar, sem julgar, as crianças mais inseguras. Finalmente, o
professor deve escolher, com sensibilidade, a música e os exercícios a serem
realizados, tendo em vista que a escolha correta da música permite ao profissional
obter respostas mais objetivas.
Além dos exercícios elencados, Le Boulch propõe atividades sobre a
percepção da criança que também podem ser executadas. Por exemplo:
se a atividade escolhida para uma determinada criança (ou grupo de crianças)trará um real benefício ou aumentará a sua insegurança e inibição. Deve ficar
claro para os educadores que as atividades, principalmente aquelas propostas
para os mais novos, não têm a finalidade de ensinar à criança comportamentos
motores, mas sim permitir-lhe exercer a sua função de ajustamento
individualmente ou com outras crianças.
Como se pôde perceber ao longo deste Capítulo, o desenvolvimento
psicomotor, afetivo e social da criança pode ser aprimorado através da EducaçãoMusical e da expressão corporal.
A Música e o Movimento, postos em prática através de atividades
corretamente escolhidas, estimularão o desenvolvimento psicomotor contribuindo
para a segurança e equilíbrio das crianças, permitindo que elas se relacionem de
uma melhor maneira com os meios, as situações e as pessoas com as quais
4ª semana de vidaO bebê consegue fixar a visão em umestímulo qualquer, mas não consegueainda manter o olhar de formacontínua.
0 a 18 meses - Fase OralO bebê vai buscar prazer sugando opeito da mãe e colocando objetos naboca.
0 a 2 anos - Sensório-motorA atividade intelectual da criançaconsiste em perceber o ambiente eagir sobre ele. Ela percebe e semovimenta.
5ª semanaConsegue ainda manter o olhar deforma contínua.
1,5 a 3 anos - Fase AnalA criança aprende a controlar ointestino e a bexiga e descobre asdiferenças anatômicas entre meninose meninas.
2 a 4 - SimbólicoA criança começa a utilizar símbolose como conseqüência torna-se capazde aprender a linguagem.
Entre a 6ª e 8ª semanaAparece o sorriso social.
4 aos 6 anos - Fase FálicaA criança precisa extravasar suaenergia e utiliza-se de atividades
motoras.
4 a 7 - IntuitivoÉ a fase conhecida como a “idadedos porquês”, já que o indivíduo
passa o tempo todo questionando.6 mesesO bebê começa a perceber quem é dasua família e quem não é.
5/6 anos aos 11/13 - Fase deLatênciaA criança procura estabelecer novosvínculos no contato social e a sededicar a novas atividades.
7 a 11/12 anos - OperaçõesConcretasO raciocínio da criança é possívelapenas em relação a objetospalpáveis e visíveis. A criança jácompreende o que é idade, tempo eespaço.
Entre os 7 e 8 mesesA imagem da mãe é identificada deforma clara.
11/13 anos em diante - Fase GenitalO jovem se encontra em plenodesenvolvimento psicossexual devidoàs mudanças fisiológicas e àreintegração de todos os outrosestágios anteriores.
12 anos em diante - OperaçõesFormaisO indivíduo pensa de forma abstratae já consegue formular hipóteses.
Entre o 6º e o 8º mês
A criança conquista a verticalidade e consegue se equilibrar em posição
sentada.
No 9º mês
A criança consegue rastejar e depois passa a marchar de quatro.
Entre o 10º e o 12º mês
A criança passa a ficar em pé com apoio.
No 12º mêsA criança entra no período de marcha e desenvolve sua marcha com domíniodo espaço físico e simbólico.
A partir dos 12 meses e
O período lingüístico inicia-se; a criança começa a falar suas primeiraspalavras.
Dos 15 aos 18 meses
A criança começa a andar sozinha, apresenta linguagem de ação comorganizações rítmicas e faz seus primeiros rabiscos.
3 a 6 anosAos três anos, fase que se destaca pela entrada da criança na pré-escola,começa a haver a percepção do próprio corpo.