UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS CARLOS EDUARDO SAMPAIO BURGOS DIAS MOVA-GUARULHOS: Educação formal ou não-formal? Guarulhos 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
CARLOS EDUARDO SAMPAIO BURGOS DIAS
MOVA-GUARULHOS: Educação formal ou não-formal?
Guarulhos
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
CARLOS EDUARDO SAMPAIO BURGOS DIAS
MOVA-GUARULHOS: Educação formal ou não-formal?
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a
Universidade Federal de São Paulo como requisito
parcial para obtenção do grau em Licenciatura em
Pedagogia.
Orientadora: Patrícia Claudia da Costa.
Guarulhos
2011
Dias, Carlos Eduardo Sampaio Burgos
MOVA-Guarulhos: educação formal ou não-formal? / Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias. – Guarulhos, 2011.
72 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em pedagogia) – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2011.
Orientadora: Patrícia Claudia da Costa
Título em inglês: MOVA-Guarulhos: formal education or non-formal?
1. MOVA-Guarulhos 2. Educação não-formal 3. Educação Popular I. Título
CARLOS EDUARDO SAMPAIO BURGOS DIAS
MOVA-GUARULHOS: Educação formal ou não-formal?
Guarulhos, 9 de dezembro de 2011
Prof. Ms. Patrícia Claudia da Costa
Universidade Federal de Viçosa
Prof. Dr. Claudia Barcelos de Moura Abreu
Universidade Federal de São Paulo
Prof. Dr. Isabel Melero Bello
Universidade Federal de São Paulo
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família e amigos que compartilharam comigo parte do
mundo que consegui apreender nestes últimos quatro anos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos colegas de curso (Tatiane Sena, Fabiana Scarpim, Gleice Fonseca, Lucia
Alves, Leandro Cescon, Bruno Roiz, Cássia Peres, Lays Pereira, Paula Franco, Caio Rosa,
Danielle Regina, Vanessa Filgueira, Daniel Dallaqua, Thiago Fijos e outros) que
compartilharam comigo os projetos e estudos sobre o MOVA-Guarulhos desde o meu
primeiro ano de Universidade Federal de São Paulo. Agradeço também aos professores
(Claudia Barcelos, Claudia Vóvio, Antonio Carlos e Márcia Romero) que também
contribuíram com esta pesquisa. Agradeço aos educadores, educandos e agentes populares
que desde 2008 foram muito solícitos em nos receber em seu movimento de alfabetização,
sempre muito atenciosos e receptivos. Destes, queria destacar o educador Djalma e agente
popular Fabiano, ambos da região dos Pimentas em Guarulhos. Alem destes, também
agradeço a equipe de formação do MOVA-Guarulhos que em muito contribuiu conosco nessa
empreitada, com destaque aos professores Hélio e Eliana. Por fim, agradeço a Patrícia
Claudia, hoje minha orientadora e professora em Minas Gerais, mas que antes foi uma das
coordenadoras do MOVA aqui de Guarulhos, e que conseguiu desde 2008 a partir de uma
aula despertar minha curiosidade e de outros colegas sobre o MOVA-Guarulhos.
EPÍGRAFE
Pedagogia do oprimido
foi a gota no oceano
era a prova que o método
não era mesmo engano
esse livro arregalou
o olho vil e opressor
do tal regime tirano
Chegou a ser preso pela
ditadura militar
causa de sua prisão
querer alfabetizar
como seu método novo
ensinar ao nosso povo
viver melhor e pensar
No ano setenta e nove
com a redemocratização
o professor Paulo Freire
sentiu profunda emoção
a luta o recompensou
então o mestre voltou
para a nossa nação
Com seu eterno carinho
logo que aqui chegou
abraçou de corpo e alma
aquela que sempre amou
sua eterna vocação
a tão divina missão
de ser sempre professor
Em duas universidades
começou a trabalhar
e mais outra empreitada
estava a lhe esperar
na capital bandeirante
num desafio importante
ele iria se empenhar
Reatou os movimentos
de educação popular
o método Paulo Freire
conseguiu se ampliar
jovens e adultos estudando
pelo país vigorando
o fruto de educar
Então Luiz Erundina
na época era prefeita
convidou Paulo Freire
para a grande empreita
Freire o convite atendeu
a cidade agradeceu
alegre bem satisfeita
Trechos da Literatura de Cordel, Paulo Freire, de Costa Senna.
RESUMO
Este estudo discute o programa MOVA-Guarulhos criado pela Prefeitura Municipal
de Guarulhos em 2002. A pesquisa apresenta um breve histórico do Movimento de
Alfabetização na cidade de São Paulo e em Guarulhos, discutindo suas conjunturas e
particularidades. Também discute conceitos de educação não-formal e educação popular,
buscando compreender como estes conceitos se aplicam na sociedade civil organizada, quais
são os diálogos com a educação formal e como se relacionam com a esfera pública.
As discussões levantadas na pesquisa são apresentadas a partir do entendimento da
função social do MOVA-Guarulhos, discutindo principalmente a dualidade entre movimento
social e Programa de Governo, e quais podem ser as implicações para cada parte envolvida.
O referencial teórico apresenta bibliografias referentes à temática, como Trilla, Gohn,
Gadotti e outros. Além da revisão bibliográfica, foram combinados procedimentos de análise
das legislações federais e municipais, de interpretação de resultados de questionários
respondidos por educadores e agentes populares, e pesquisas de campo feitas por meio de
observações em salas de alfabetização e reuniões de formação permanente.
O recorte temporal do trabalho compreende o triênio de 2008-2010, tempo de
atuação do Grupo de Estudos em Educação de Jovens e Adultos da EFLCH-Unifesp e de
desenvolvimento de projetos curriculares e de extensão.
Palavras-chave: MOVA-Guarulhos. Educação não-formal. Educação popular.
ABSTRACT
This study discusses the MOVA-Guarulhos, an education program created by the
City Govern of Guarulhos in 2002. The research presents a brief history of the “Movimento
de Alfabetização” in São Paulo and Guarulhos, the discussions of their circumstances and
peculiarities. It discusses the concepts of non-formal education and also popular education,
seeking how to understand these concepts apply in organized civil societies, what dialogues
with formal education are and how they relate to the public relational circle.
The discussions in the survey are presented from an understanding of the social
function of the MOVA-Guarulhos, mainly discussing the duality between social movements
and Government Program, and what can be the implications for each party involved.
The theoretical features related to thematic bibliographies, as Trilla, Gohn, Gadotti
and others. Besides bibliographical review, it combines some procedures of analyzes of
federal and local laws, and field observations made by means of literacy in classrooms and
meetings for ongoing formation. The timeline for work includes the triennium 2008-2010,
timeline of performance of the Group of Studies in Education of Youth and Adult EFLCH-
UNIFESP and curriculum development and projects extension.
Keywords: MOVA-Guarulhos. Non-formal Education. Popular Education.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................. 9
1 BREVE HISTÓRIA DO MOVA ................................................... 12 1.1 Breve história do MOVA-Guarulhos ........................................................... 13
2 EDUCAÇÃO: FORMAL, NÃO-FORMAL E POPULAR ............ 16 2.1 A sociedade civil organizada ....................................................................... 19
3 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E A ESFERA PÚBLICA ............. 23
4 O CONTEXTO LEGAL DO MOVA-GUARULHOS: EJA E
POLÍTICAS PÚBLICAS .................................................................. 27
5 QUAL A FUNÇÃO SOCIAL DO MOVA? .................................. 32
6 MOVA: EJA, EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL E POPULAR ........ 36 6.1 MOVA como alfabetização e pós-alfabetização ......................................... 37
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 40
REFERÊNCIAS ................................................................................ 44
APÊNDICE ....................................................................................... 47
9
INTRODUÇÃO
Este trabalho busca apresentar e problematizar o Movimento de Alfabetização
(MOVA) de Guarulhos enquanto movimento social de educação inspirado nas ideias
freireanas, relacionando sua trajetória e história enquanto movimento com as políticas
públicas municipais.
Para isto, o trabalho tem como referencial teórico algumas publicações de Jaume
Trilla, Maria da Glória Gohn, Moacir Gadotti e Miguel Arroyo, e como referencial teórico
ideológico os pensamentos freireano e marxista. É importante ressaltar isso, uma vez que boa
parte deste trabalho foi desenvolvido por meio de observação do pesquisador desde 2008
através de disciplinas do curso de Pedagogia. E este olhar, que não é neutro, pode ser
percebido através destes dois principais referencias teóricos-ideológicos citados.
A inquietação na proposição deste trabalho se deu inicialmente pela representação
progressista que Paulo Freire significa hoje para a educação brasileira, assim sendo, o MOVA
como uma de suas ações educativas como uma possibilidade ainda viva de educação
progressista. Tendo essa inquietação de saber se o MOVA, no caso de Guarulhos, está ou não
de acordo com a educação progressista de Paulo Freire, busquei desde o primeiro semestre me
envolver com a temática, e principalmente, com os sujeitos do MOVA. Posso afirmar que o
contato com os educandos do MOVA-Guarulhos foi muito satisfatório, porém superficial;
porém o contato com os educadores do MOVA-Guarulhos entre os anos de 2008 e 2010 foi
muito rico, e a troca de experiências, somadas ao contato com os coordenadores do MOVA
também foram muito satisfatórios nesse período, que culminou até com a realização de um
Encontro de Educação Popular: MOVA-Guarulhos na Unifesp. Encontro este que
possibilitou, durante alguns sábados do segundo semestre de 2009, um contato entre
estudantes e docentes da Universidade com os educadores do MOVA, que se reuniram
sobretudo no intuito de diminuir as lacunas entre a academia e a comunidade ao seu entorno.
Durante esse período, uma pesquisa foi realizada com os educadores do MOVA-
Guarulhos; pesquisa essa que serviu de trabalho final em algumas unidades curriculares do
curso, mas que, principalmente, serviu para conhecermos melhor um pouco mais desses
educadores. Essa pesquisa, assim como os relatórios que dela se fizeram, estão sendo
disponibilizados ao final deste trabalho em forma de apêndice.
Esse Trabalho de Conclusão de Curso foi pensado primeiramente como uma
devolutiva de minha investigação discente para o próprio MOVA-Guarulhos, utilizando
10
alguns dados da pesquisa realizada com os educadores e muitos questionamentos surgidos
durante esses anos. Por isso, esse trabalho não tem uma contextualização histórica profunda,
pois foi pensado para sujeitos que já possuem algum conhecimento sobre o movimento. Em
se tratando de uma devolutiva, o trabalho não buscou fazer definições sobre o movimento, e
sim apontamentos, no sentido de ser objeto de reflexão do próprio MOVA-Guarulhos.
O MOVA, movimento de alfabetização surgiu formalmente com esse nome em 1989
com Paulo Freire a frente da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, mas seus
princípios norteadores são datados da última década de 60, num amplo movimento de
educação popular que se espalhou pelo país.
O princípio norteador do MOVA é a educação para emancipação. Uma educação
voltada para transformação social, sendo a alfabetização um canal para essa emancipação,
uma vez que a leitura da escrita nos permite conhecer as conjunturas e realidades do mundo
por meio das palavras. Para se transformar a sociedade é preciso trabalho de base, por isso, o
MOVA foi pensado através de convênios com entidades e associações locais da sociedade
civil.
Este trabalho buscará desenvolver um raciocínio que problematize esse movimento
hoje, com recorte na cidade de Guarulhos, buscando compreender e conceituar o que é e como
funciona o MOVA enquanto movimento social de educação, analisando suas formas de
organização que perpassa a educação formal e não-formal, assim como suas relações com o
poder público local. Para tanto combinaremos procedimentos de análise de documentos legais
que normatizam o funcionamento do MOVA-Guarulhos, de interpretação de resultados de
questionários respondidos por educadores e agentes populares e até mesmo de incursões
etnográficas, empreendidas desde 2008, para compor a metodologia qualitativa que confere ao
raciocínio pretendido o rigor necessário a um Trabalho de Conclusão de Curso.
Algumas inquietações levantadas durante as pesquisas nos anos anteriores, 2008-2010,
serão compartilhadas neste trabalho, buscando compreendê-las dentro de suas próprias
realidades; como os princípios norteadores de educação (emancipação) defendidos por Paulo
Freire, que muitas vezes são encarados enquanto métodos, e nesse processo, muitas
prefeituras (com programas chamados MOVA) buscam solucionar o problema de
analfabetismo de seu município através deste “método Paulo Freire”.
Ao encarar o conceito do MOVA enquanto um método e não um movimento social,
inverto o movimento do movimento [social] de sentido. Essa inversão não impede que as
prefeituras solucionem seus problemas de analfabetismo, porém esvazia o movimento de
11
alfabetização de seu sentido político, de seu caráter emancipatório, por vezes, até tornando-se
dependente do poder público.
No primeiro capítulo serão apresentados breves históricos do MOVA (cidade de São
Paulo) e do MOVA-Guarulhos, no intuito de situá-los historicamente e problematizá-los
enquanto programas de combate ao analfabetismo.
O segundo capítulo apresentará uma discussão conceitual sobre educação não-formal
e popular, abordando movimentos sociais e organizações da sociedade civil, e como se dá a
relação destes com o poder público. Sendo um capítulo conceitual, o recorte será o MOVA-
Guarulhos.
Um terceiro capítulo discutirá as relações da educação não-formal com a esfera
pública, tentando compreender como se dá essa relação de parceria entre entidades e o poder
público através da autonomia, ou não, dessas entidades junto a prefeitura.
Na sequência, o quarto capítulo discutirá do ponto de vista legal como se caracteriza
o MOVA-Guarulhos, partindo da definição de educação na Constituição Federal e na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96) chegando até os decretos e portarias do
município de Guarulhos que regulam o MOVA.
O quinto capítulo problematiza o MOVA e sua função social, buscando desenhar as
possíveis funções do MOVA para cada parte de seus sujeitos envolvidos, prefeitura,
entidades, educadores, educandos, coordenadores e sociedade em geral.
Por fim, nas Considerações Finais retomamos a ideia do MOVA-Guarulhos enquanto
um movimento social, logo, como educação não-formal e popular, mas não colocando-se
como contraponto a educação formal, e sim como espaço de reflexão da mesma.
12
1 BREVE HISTÓRIA DO MOVA
O nome MOVA, como conhecemos, surgiu com Paulo Freire à frente da Secretaria
de Educação do Município de São Paulo, na gestão do Partido dos Trabalhadores, com a
prefeita Luiza Erundina no ano de 1989. Porém, sua base teórica vem desde os movimentos
eclesiais de base da década 60, antes do golpe militar.
A implementação do MOVA na cidade de São Paulo se deu em um contexto político
bem diferente dos dias atuais. A ditadura havia se acabado há poucos anos e a “Constituição
Cidadã” tinha apenas um ano. Os movimentos sociais ainda não haviam fragmentado suas
lutas e uma grande expectativa se depositava na gestão do Partido dos Trabalhadores. “Dava-
se origem, assim, a uma concepção nova de programa de educação de jovens e adultos: a
parceria entre Estado e organizações da Sociedade Civil”. (SANTOS, 2004, p.2)
Baseado nas organizações da sociedade civil, com forte presença dos movimentos
sociais, o processo de alfabetização desse programa se constituía
Para alem da decifração do código lingüístico e da lógica matemática, o MOVA objetiva despertar o sentimento de consciência de grupo, através das relações sociais que se pode estabelecer a partir deste novo horizonte, defendendo interesses comuns e questionando as desigualdades sociais (SANTOS, 2004, p.11).
Como é possível notar, o MOVA não era um simples programa de alfabetização, ele
busca (ou buscava) emancipar o sujeito e torná-lo um cidadão crítico, capaz de refletir sobre
seu próprio mundo a ponto de questioná-lo e transformá-lo. Por isso, sua organização não era
pensada no modelo de escola regular, o conhecimento era tido como um processo de
construção e não como créditos bancários1 como alertou Paulo Freire, sendo assim
É entendido que o processo de aprendizagem não obedece a um calendário preestabelecido, pois, cada alfabetizando tem um tempo, e este tempo deve ser
1 O conceito de educação bancária em Paulo Freire distingue o educador do educando, de modo que o primeiro é detentor de um determinado conhecimento, e o educando não o possuí; desse modo, a educação bancária é a transferência desse conhecimento como créditos bancários. A ideia de transferência de conhecimento nega o processo de fruição entre o educador e o educando, e é este processo de troca em que o conhecimento do educador entra em contato com diversos outros conhecimentos de seus educandos que Paulo Freire chama de educação libertadora em oposição a educação bancária. O MOVA busca se diferenciar da escola ao adotar uma educação libertadora em oposição a educação bancária que muitas vezes é praticada nas escolas: sujeitos como caixas vazias necessitados de conhecimentos advindos de seus professores. Nesse processo de educação bancária Paulo Freire entende que um “processo de educação” para a passividade, em que os sujeitos que dela recebem depósitos são educados para aceitar sua condição de oprimido na sociedade. (FREIRE, 1987; GADOTTI, 2008)
13
respeitado. Sendo assim, o processo avaliado não se resume a testes que mensurem e classifiquem conhecimento (SANTOS, 2004, p.13-14).
Tendo outras características de organização, o MOVA precisou conviver com o
velho Estado, sobretudo burocrata, e como bem aponta Santos (2004, p.2) “o novo não nasce
do velho de forma pacífica”, o Estado opera em outra lógica, não é e não está preparado para
trabalhar em parceria. Logo, dificuldades foram aparecendo. Esse Estado velho e burocrata
opera de forma vertical, hierarquizada, tendo dificuldades em reconhecer e respeitar a
autonomia dos parceiros e sua posição de horizontalidade na tomada de decisões.
O MOVA em sua concepção original constituiu-se num movimento que emergiu das comunidades por meio das entidades da sociedade civil organizada. Os programas que desenvolvem este programa a partir dos referenciais do MOVA-SP inicial procuraram manter a mesma relação de parceria, outros programas foram construídos de maneira diferenciada. Por exemplo, nos locais em que não existem ações coletivas organizadas que reivindiquem o apoio da administração para a alfabetização, o movimento de alfabetização parte da administração, esta oferece o programa e faz as parcerias e procura, em alguns casos, fomentar a organização dos movimentos. Apesar dos programas serem diferenciados, a parceria entre o poder público e as entidades procura garantir a concretização de políticas mais amplas de educação de jovens e adultos (SANTOS, 2004, p.8).
É a partir dessa ideia que vamos tentar compreender o MOVA-Guarulhos, como foi
caracterizado e como foi seu movimento de criação.
1.1 Breve história do MOVA-Guarulhos
O Movimento de Alfabetização de jovens e adultos de Guarulhos foi criado em 2002
através do decreto 21.544, de 14 de março e regulamentado pela portaria 4/2002-SE, de 22 de
abril do mesmo ano (COSTA, 2008, p.64).
Assim como em São Paulo, o programa se deu em cooperação entre as sociedades
civis locais, que firmaram convênio com a prefeitura; esta, por sua vez, disponibilizava
orientação pedagógica aos educadores e agentes populares, assim como uma ajuda de custo
para esses sujeitos. Cabia aos educadores o trabalho de alfabetização junto às comunidades,
assim como cabia aos agentes populares o trabalho de aglutinar esses educadores e
educandos, fazendo a intermediação junto à equipe de formação da prefeitura. Como coloca
Borges, o MOVA-SP tem uma característica diferente dos demais, ele foi composto por “(...)
centenas de núcleos de alfabetização de jovens e adultos, cada um com sua trajetória, que
estavam sedentos de uma ação por parte do governo” (BORGES, 2004, p.34).
14
A mesma autora também coloca que os demais MOVAs “(...) têm outro ponto de
partida, pois é o poder público que impulsiona, chamando a sociedade civil para compartilhar
da realização do Movimento de Alfabetização” (BORGES, 2004, p.34). E, é a partir desse
outro ponto de partida que vamos buscar entender o MOVA-Guarulhos, um programa da
prefeitura que busca superar o analfabetismo da cidade, e não necessariamente formar quadros
de movimentos sociais, até porque não cabe ao Estado formar movimento social, assim como
também não lhe cabe aparelhá-lo.
Nesse sentido, vamos aqui tentar entender se o MOVA-Guarulhos é visto como um
método ou como um movimento, social e político. Porém, falar do MOVA é falar de seus
sujeitos, e quem são estes sujeitos do MOVA, seja ele movimento ou método? Há poucas
referências acadêmicas sobre os sujeitos do MOVA-Guarulhos, mas dentro das referências
encontramos alguns números:
Tabela 1 – Distribuição dos educandos do MOVA-Guarulhos nos anos de 2004 e 2006
2004 2006 FAIXA ETÁRIA Números Absolutos
Percentual Números Absolutos
Percentual
16 a 20 189 5% 156 3,8% 21 a 30 588 17% 639 15,56% 31 a 40 1056 30% 1142 27,81% 41 a 50 960 27,5% 1013 24,67% 51 a 60 488 14% 679 16,54% 61 a 70 209 6% 344 8,38% 70 ou mais 18 0,5% 71 a 80 anos 96 2,33% Acima de 80 anos 12 0,29%
Fonte: Dados Coletados pelos educadores populares e sistematizados pela Equipe de Coordenação Pedagógica do MOVA-Guarulhos. (COSTA, 2008, p.67) Essa tabela apresenta em números os educandos de 2004 e 2006, e o que podemos
notar é o crescimento do número de educandos nesses dois anos. Isso significa que o
programa cresceu assim como seu atendimento. Logo, do ponto de vista do movimento social
ele cresceu e do ponto de vista do método, enquanto tentativa de superar a situação de
analfabetismo, o atendimento da demanda aumentou. Alem disso, podemos notar que
aproximadamente metade dos educandos se concentra na faixa entre 31 e 50 anos, ou seja,
uma faixa etária que podemos considerar como população ativa economicamente, o que pode
sustentar uma das hipóteses de que estes educandos procuram o MOVA por conta do mercado
de trabalho.
15
Outro dado apresentado no trabalho de dissertação de Costa (2008) diz respeito a
quantidade de educandos e de salas, sendo que em 2004 havia 3508 educandos para 179 salas,
e em 2006 havia 4105 educandos para 206 salas. Em ambos os casos a média é de quase 20
educandos por sala, e uma das prerrogativas para se abrir e manter uma sala conveniada com a
prefeitura é de que haja, pelo menos, 15 educandos por sala. Isso significa que, seja
movimento ou método, o MOVA-Guarulhos apresentou uma demanda crescente que foi
correspondida com a abertura de novas salas, diga-se de passagem, em muitos casos, em
cômodos reorganizados da casa dos próprios educadores ou educandos.
Vale lembrar que a maioria dos educadores voluntários que compõe o MOVA (não só na cidade de Guarulhos) é composta por educadores leigos, ou seja, por pessoas que não tem formação em nível de Magistério e que, também, não cursaram graduação na área da Educação. O nível mínimo de escolaridade é o Ensino Médio completo, com exceção prevista para o caso de voluntários que tenham experiência comprovada com alfabetização de adultos. Tal exceção já possibilitou que educadores populares com Ensino Fundamental incompleto integrassem o Movimento na condição de alfabetizador. Independentemente do nível de escolaridade, os educadores que se envolvem com o MOVA são pessoas que – movidas pelo desejo de ensinar, pela participação nas lutas sociais ou por simples imperativo econômico – dedicam parte de seu tempo em prol de um trabalho comunitário. Em função do exposto, denominamos as alfabetizadoras do MOVA-Guarulhos de “educadoras populares” ao invés de utilizar o termo professoras”, comumente usado pelos educandos (COSTA, 2008, p.65).
A partir dessa citação, abordaremos alguns pontos ao longo do trabalho, mas algumas
ideias iniciais já consideraremos a título de reflexão. Como o fato de uma não formação
específica desse educador, isso corresponde compreendermos esse educador como agente de
um movimento social ou apenas aplicador de um método? E o que move esse educador a ter
sua turma, afinidade com alfabetização, trabalho comunitário ou fonte econômica? Adiante
discutiremos um pouco sobre educação formal, não-formal e popular, tentando compreender
em qual espaço de organização da educação o MOVA-Guarulhos se situa.
16
2 EDUCAÇÃO: FORMAL, NÃO-FORMAL E POPULAR
Conceituar educação não-formal pode até parecer algo simples, e é facilmente
apresentado em cursos de Pedagogia ou educação em geral como aquela educação que
acontece fora da escola, mas que também segue uma metodologia e tem um objetivo.
Resumindo, uma educação que se dá fora da escola, porém com intencionalidade, sendo essa
intencionalidade a principal diferenciação entre educação não-formal e educação informal,
comumente confundidas2. Quando se coloca fora da escola, diga-se fora da estrutura
curricular escolar, não necessariamente fora da escola enquanto espaço físico e sua
comunidade. Como exemplo, podemos pensar diversas escolas que trabalham com esportes
fora de seu horário convencional.
Ao tratar de horário chegamos a uma das principais características da educação
formal: a organização do tempo. A escola tem seu tempo organizado de acordo com as
disciplinas escolares. O valor dado a cada disciplina pode variar, assim como a escolha dessas
disciplinas, porém o formato fracionado de tempo e conteúdo é uma das regras da organização
escolar. Sendo assim, a educação não-formal pode ou não ter seu tempo organizado?
Afonso nos diz o seguinte:
(...) por educação formal entende-se o tipo de educação organizada com uma determinada seqüência e proporcionada pelas escolas, enquanto que a designação educação informal abrange todas as possibilidades educativas no decurso da vida do indivíduo, construindo um processo permanente e não organizado. Por último, a educação não-formal embora obedeça também a uma estrutura e a uma organização (distintas porém das escolares) e possa levar a uma certificação (mesmo que não seja essa a sua finalidade), diverge ainda da educação formal no que respeita a não fixação de tempos e a flexibilidade na adaptação dos conteúdos de aprendizagem a cada grupo concreto (AFONSO, 1992, p.86).
Várias podem ser as definições de educação não formal, de acordo com cada autor e
suas referências e visões de mundo. Segundo Gohn
Na educação não-formal, as metodologias operadas no processo de aprendizagem partem da cultura dos indivíduos e dos grupos. O método nasce a partir de problematização da vida cotidiana; os conteúdos emergem a partir dos temas que se colocam como necessidades, carências, desafios, obstáculos ou ações empreendedoras a serem realizadas; os conteúdos não são dados a priori. São construídos no processo. O método passa pela sistematização dos modos de agir e de pensar o mundo que circunda as pessoas. Penetra-se portanto no campo do
2 Não vamos neste trabalho discutir o conceito de educação informal, mas para saber mais ver TRILLA, 2008a.
17
simbólico, das orientações e representações que conferem sentido e significado às ações humanas (GOHN, 2006, p.31).
Complementando, há uma definição de educação não formal que faz mais sentido
com o caminho que esse trabalho pretende percorrer. Essa definição não contradiz o
apresentado por Gohn, e sim complementa seu raciocínio. Segundo Trilla (2008a) uma das
possibilidades de definição de educação não-formal é distingui-la do sistema de ensino
regular:
(...) a educação formal e não-formal se distinguiriam não exatamente por seu caráter escolar ou não escolar, mas por sua inclusão ou exclusão do sistema educativo regrado. Isto é, o que vai do ensino pré-escolar até os estudos universitários, com seus diferentes níveis e variantes; ou, dito de outro modo, a estrutura educativa graduada e hierarquizada orientada à outorga de títulos acadêmicos (...) O formal é aquilo que assim que é definido, em cada país e em cada momento, pelas leis e outras disposições administrativas; o não-formal, por outro lado, é aquilo que permanece a margem do organograma do sistema educacional graduado e hierarquizado (TRILLA, 2008a, p.40).
Pensando por meio dos argumentos de Trilla, em qual seguimento podemos
compreender o MOVA? Educação formal ou não-formal? Se compreendermos que o MOVA
é um movimento social podemos compreender que ele está fora do sistema educacional
regrado, por outro lado, se compreendermos que muitos educandos do MOVA tem como
meta, ao final de seu ciclo, ingressar na Educação de Jovens e Adultos regular, na escola, e se
pensado como um acesso, podemos concluir que faz parte da educação formal. É isso mesmo?
Retomando as ideias de Gohn sobre educação não-formal, pensar sua definição
enquanto formal ou não-formal é poder caracterizá-lo na segunda opção:
Entendemos a educação não-formal como aquela voltada para o ser humano como um todo, cidadão do mundo, homens e mulheres. Em hipótese alguma ela substitui ou compete com a Educação Formal, escolar. Poderá ajudar na complementação dessa última, via programações específicas, articulando escola e comunidade educativa localizada no território de entorno da escola (GOHN, 2006, p.32).
Mas qual o objetivo de caracterizar o MOVA como educação formal ou não-formal,
quais as implicações? Trilla (2008, p.19) nos aponta que a demanda por educação não-formal
se apresenta em “setores sociais tradicionalmente excluídos dos sistemas educacionais
convencionais (adultos, idosos, mulheres, minorias étnicas, etc.)” ou relacionadas ao mundo
do trabalho “como reciclagem e formação continuada, recolocação profissional”. E nesse
sentido ele nos diz que a educação não-formal pode se dar pela
18
Crescente sensibilidade social para a necessidade de implementar ações educativas em setores da população em conflito socioeconomicamente marginalizados, deficientes etc., seja como aspiração de avanço na justiça social e no Estado de bem-estar, seja buscando a pura funcionalidade do controle social (TRILLA, 2008, p.20).
Ghanem (2008) dialogando com Trilla nos apresenta que o financiamento das
atividades em educação não-formal “provém de grande variedade de órgãos públicos,
organizações privadas, e mesmo internacionais, quando não de pessoas diretamente
beneficiárias” (GHANEM, 2008, p.75). Continua sua ideia dizendo que os custos
educacionais são controvertidos mesmo quando se trata do universo escolar, e em se tratando
de educação não-formal são menos sistemáticos, o que o leva a conclusão para pensar que os
custos sejam mais baratos, “especialmente porque os custos de pessoal podem ser menores
com uso de trabalho voluntário ou de indivíduos não plenamente profissionalizados”
(GHANEM, 2008, p.76).
Nesse sentido, o que podemos afirmar do MOVA-Guarulhos é que ele é financiado
pela administração direta, os educadores ganham menos de um salário mínimo como ajuda de
custo, logo, não possuem nenhum vínculo empregatício junto a prefeitura, e em geral não
possuem uma formação específica para ser um educador, apenas o ensino médio concluído,
ou experiência de três anos em outros programas de alfabetização.
Com esses argumentos apresentados, podemos entender o MOVA-Guarulhos
enquanto educação não-formal. Suas implicações vamos debatendo na sequência do trabalho.
Segundo Gohn, a educação não-formal já foi associada a ideia de educação de adultos
e a educação de jovens e adolescentes. Suas práticas voltavam-se prioritariamente para a
alfabetização, “principalmente no caso de adultos” (GOHN, 2010, p.24). Mais adiante ela diz
que o conceito de educação não-formal empregado como sinônimo da educação de adultos foi
utilizado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura (UNESCO)
após a II Guerra Mundial. A autora afirma que os conteúdos desenvolvidos nessa forma de
educação eram os conteúdos escolares, desenvolvidos por entidades de diversas naturezas,
sendo “o que difere da educação formal/escolar é o fato de se realizar em instituições
diferentes das escolas e utilizar métodos de ensino específicos” (GOHN, 2010, p.25).
Seguindo as ideias da autora, a educação popular também é frequentemente associada
a educação não-formal. Justifica afirmando que ambas tem uma intencionalidade de ação e
um projeto de formação dos indivíduos como cidadãos. Mas a justificativa para diferenciá-las
é que a educação não-formal não tem recorte de faixa social. “Ao nominar uma modalidade
como Popular, estou fazendo alusão à categoria povo – camadas desfavorecidas
19
socioeconomicamente; ou estou contrapondo um dualismo – haveria uma educação popular e
uma das elites ou classes e camadas mais abastadas” (GOHN, 2010, p.25).
2.1 A sociedade civil organizada
Compreender o movimento de alfabetização de Guarulhos como educação não-
formal e/ou educação popular requer uma longa discussão que primeiramente deverá
compreender este movimento como não parte do sistema regular de ensino do município.
Porém o que tentaremos entender neste subitem é como se constituem as entidades parceiras,
a sociedade civil organizada, isso porque o MOVA-Guarulhos é baseado na organização de
diversas entidades, das mais variadas finalidades, tendo como unidade de movimento a
alfabetização e a concepção freireana de educação, ao menos em tese.
Um dos primeiros aspectos a resgatar e sublinhar é a dimensão de movimento presente na proposta do MOVA e que tem nos atores da sociedade civil os principais responsáveis pela sua vitalização. É preciso recuperar a idéia de que o MOVA é um movimento social que em parceria com o Estado toma a questão da alfabetização e da pós-alfabetização como uma tarefa inicial na luta pelo direito a educação ao longo de toda a vida dos jovens e adultos. Esta dimensão coloca o desafio para os atores da sociedade civil que ingressam no MOVA a partir da prática da sala de aula e para além da mesma organizarem-se como movimento social que luta pelo direito a educação, que sabemos indissociável do conjunto dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais (PONTUAL, 2004, p.32).
Salomón (2006, p.23) define sociedade civil “como o conjunto de organizações
diversas que se mantêm independentes do Estado, com o qual se resgata o conceito residual
de que sociedade civil é tudo que não é Estado”. De certa forma as entidades que possuem
salas de alfabetização são independentes do Estado, e a verba que recebem como ajuda de
custo para materiais, limpeza e outros itens de consumo é pequena. Alem disso ela é
autônoma em sua organização. Entretanto, mesmo os educadores recebendo ajuda de custo, e
não salário, o que significa não ter vínculos formais com a prefeitura, e sim apenas com sua
entidade, para 33% dos educadores de Guarulhos essa ajuda de custo representa sua única
fonte de renda, para 15% a principal fonte de renda e para 25% equivale a metade de sua fonte
de renda3. Nesse sentido, as entidades são autônomas perante o Estado, mas e o MOVA-
Guarulhos, que é em essência a ação dos educadores, é autônomo em relação ao Estado?
3 PPP III – Relatório MOVA – Guarulhos. Trabalho apresentado para unidade curricular de Práticas Pedagógicas Programadas III – Educação de Jovens e Adultos (EJA), Movimento de Alfabetização (MOVA-
20
Continuando as ideias, há três aspectos para definirmos a sociedade civil, o primeiro
falando de sua diversidade, afirmando que alem da diversidade de temas que podem
impulsionar a organização da sociedade civil, o que garante sua solidez é sua diversidade:
“toda intenção de homogeneizá-la, classificá-la ou limitá-la atenta contra sua natureza”. Outro
aspecto já abordado é sua independência do Estado, ressaltando que as pessoas que pertencem
a organizações sociais tem o poder de influir na tomada de decisões, obedecendo uma lógica
diferente da do Estado “ainda que exista coincidência em torno de temas, aspirações ou
preocupações” (SALOMÓN, 2006, p.23). Essa independência do Estado não significa
necessariamente um confronto permanente ou a identificação de um inimigo, implica que
deve mover-se segundo sua própria lógica. O terceiro aspecto é em relação a sua
independência aos partidos políticos.
Os partidos políticos ocupam uma posição intermediária entre o Estado e a sociedade civil; têm um pé naquele e outro nesta; não são parte do Estado, porém aspiram ser parte dele, razão pela qual possuem uma lógica diferente da sociedade civil e diferente das pessoas que ocupam o Estado” (SALOMÓN, 2006, p.23).
.
Nesse sentido, assim como a sociedade civil pode ter similaridades com o Estado,
assim também pode ter com os partidos políticos, desde que operem em lógica própria, e
nesse sentido se diferem dos partidos por não aspirarem ser o Estado.
Gohn (2004, p.26) faz um histórico dos conceitos de sociedade civil nas últimas
décadas, de forma que podemos dizer que entre as décadas de 60 a 80 do século XX,
sociedade civil era sinônimo de tudo aquilo que não fosse militar. Já na década de 90 – década
da ascensão do neoliberalismo – o significado passou a ser tudo aquilo que não fosse
empresarial. E no novo século, anos 2000, o significado está associado as Organizações Não
Governamentais (ONGs).
Nessa transformação de significados da sociedade civil ao longo das décadas, o papel
de militante também se modificou, e nesse sentido Gohn afirma que
A atuação por projetos exige resultados e tem prazos. Criou-se uma nova gramática na qual mobilizar deixou de ser para o desenvolvimento de uma consciência crítica ou para protestar nas ruas. Mobilizar passou a ser sinônimo de arregimentar e organizar a população para participar de programas e projetos sociais, a maioria dos quais já vinha totalmente pronta e atendia a pequenas parcelas da população. O militante foi se transformando no ativista organizador das clientelas usuárias dos serviços sociais (GOHN, 2004, p.26).
Guarulhos) – do curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo - Guarulhos, orientado pela professora, Dra. Claudia Barcelos. Guarulhos, 2009, 28p. Ver Apêndice.
21
Com essa citação podemos discutir o caráter do educador popular do MOVA nos
dias atuais. Esse educador é um militante ou um ativista das causas sociais? Talvez possa
parecer mera nomenclatura, mas há todo um significado histórico-cultural nessas palavras:
militante é aquele cidadão que defende uma causa, que se organiza, debate, vai às ruas,
defende seus ideais, que luta por suas ideias; o educador popular é um militante que
transcende a luta pela alfabetização, ele luta por causas sociais e faz da alfabetização sua
ferramenta de luta. Já um ativista pode lutar perspicazmente pela causa da alfabetização, por
exemplo, mas atua apenas como alfabetizador, como um técnico, sem a visão do todo, sem o
caráter emancipatório e de transformação dos movimentos sociais, tornando a atividade de
alfabetização um ato mecânico e não político. Assim caracterizar o MOVA-Guarulhos apenas
como educação não-formal não basta, é preciso compreender que, alem dele se diferenciar da
escola, possui um recorte de classe, é popular, voltada para os sujeitos excluídos da escola.
Isso significa que ser popular não nega e nem confirma a educação não-formal, porém ser
apenas não-formal não justifica o MOVA enquanto movimento.
Para Gohn,
A educação não-formal tem outros atributos: ela não é organizada por séries/ idade/conteúdos; atua sobre aspectos subjetivos do grupo; trabalha e forma a cultura política de um grupo. Desenvolve laços de pertencimento. Ajuda na construção da identidade coletiva do grupo (este é um dos grandes destaques da educação não-formal na atualidade); ela pode colaborar para o desenvolvimento da auto-estima e do empowerment do grupo, criando o que alguns analistas denominam, o capital social de um grupo. Fundamenta-se no critério da solidariedade e identificação de interesses comuns e é parte do processo de construção da cidadania coletiva e pública do grupo (GOHN, 2006, p.30).
Para tratar especificamente do MOVA-Guarulhos vou utilizar como referência Costa,
em que diz o seguinte:
(...) De acordo com nossa experiência junto aos sujeitos desta pesquisa, pudemos perceber que a sensação de maior vivacidade é algo que aparece constantemente nas narrativas sobre a própria vida após a participação nas ações promovidas pela educação popular. O incremento da vivacidade surge como uma sensação que acompanha o processo de alfabetização e que não deve ser analisada simplesmente no nível da relação pedagógica entre educador, educando e objeto de conhecimento. Faz-se notório que freqüentar turma de alfabetização de adultos é uma prática que envolve muitas outras conquistas, alem da conquista do código escrito que garante o acesso a cultura letrada: quebra de rotina, saída de casa desacompanhada, convivência com pessoas diferentes de seu círculo familiar, construção de novos vínculos de amizades, troca de experiências. São detalhes que transformaram a participação num movimento popular de alfabetização numa verdadeira ação cultural anti-estigmatizante e construtora de novos sujeitos (COSTA, 2008, p.51).
22
Com essas questões colocadas podemos classificar o MOVA-Guarulhos como
educação não-formal, sobretudo naquilo que diz respeito à formação do cidadão, político e
consciente, alem do sentimento de pertencimento a um grupo específico. Mas, apesar dessa
classificação na educação não-formal o movimento tem relações com o poder público, e nesse
sentido, as ideias de movimento social e educação popular podem ser corroboradas como
podem se perder. Como já foi apresentado, para quase metade dos educadores a ajuda de
custo é sua principal, se não a única, fonte de renda, e isso pode comprometer o trabalho, uma
vez que a lógica do capital substitui a lógica da educação popular, do trabalho de
emancipação do sujeito. Alem disso, muitas vezes o MOVA serve como preparatório para a
EJA regular, não há problemas em incentivar os educandos a seguirem seus estudos, o
problema está em se delimitar um tempo para o educando frequentar o MOVA: se isso
acontece, seja lá qual for o tempo, uma das principais características da educação não-
formal/popular se desfaz. Sendo assim, o MOVA torna-se apenas preparatório para EJA
regular, o que nos possibilitaria entendê-lo não mais como um movimento social, e sim como
uma organização da sociedade civil atendendo as demandas sociais, e nesse sentido o
educador deixa de ser militante e passa a ativista. Isso pode descaracterizar o MOVA-
Guarulhos enquanto movimento social, pensando que educadores podendo atuar enquanto
ativistas e entidades participar do convênio apenas como forma de captação de recursos e
expansão de atividades.
Para tentar entender melhor como se dá essa relação, entre sociedade civil organizada
e poder público, um capítulo foi reservado.
23
3 EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL E A ESFERA PÚBLICA
Já feita uma apresentação do MOVA, seu histórico, apresentadas definições de
educação – formal, não-formal e popular – e conceitos de sociedade civil, a ideia agora é
tentar entender como todos esses conceitos se relacionam e o que implica isso tudo.
Sendo o MOVA historicamente entendido como um Movimento Social, ele não pode
de forma alguma pertencer a educação formal, entendida aqui neste trabalho a partir da
definição de Trilla (2008a), de que sendo formal ela pertence ao Estado regulamentado, e
sendo o MOVA um movimento social de alfabetização que agrupa diversas entidades da
organização civil, sua educação contraria essa lógica, dadas as prerrogativas já apresentadas,
de que para ser sociedade civil essa entidade deve ter autônoma perante o Estado.
Agora vamos discutir outro ponto: ser autônomo significa ser independente do
Estado? Considerando as características do MOVA-Guarulhos, vamos tentar entender este
Movimento que existe há quase uma década como um programa mantido com recursos da
prefeitura através de convênios com diferentes entidades da sociedade civil. Que o MOVA-
Guarulhos é mantido com recursos da prefeitura é um fato e não cabe aqui discutir se ele
existiria sem esse recurso da prefeitura. Cabe aqui tentar entender se o MOVA-Guarulhos,
mesmo com esse recurso da prefeitura é autônomo em suas decisões. Decisões essas que
passam pelo administrativo e principalmente pelo pedagógico. Quem define o calendário do
MOVA? Quem define o conteúdo do MOVA? Quem define os horários de funcionamento das
salas de MOVA?
O MOVA-Guarulhos é ligado a Secretaria de Educação, isso significa que os
recursos destinados provem desta pasta. Mas quem gere o MOVA? O próprio movimento
[social] ou técnicos da prefeitura?
Vale apresentar aqui que o MOVA possui uma equipe de coordenadores que
periodicamente se reúne com os educadores para uma formação permanente, ou seja, ao longo
de todo o ano esses educadores, assim como os agentes populares4, tem um momento de
reflexão garantido pela prefeitura. Mas é garantido ou obrigatório, uma vez que faltas a essa
formação podem fazer com que o educador seja desligado do programa?
A prefeitura entra com os recursos, sobretudo financeiro, e em contrapartida exige
dos educadores a manutenção do funcionamento de uma sala de aula de alfabetização com o
4 Estes são o elo entre as entidades e os educadores, responsáveis por até seis salas de alfabetização, ajudando a buscar educandos na comunidade.
24
número mínimo de 15 educandos em atividade de duas horas diárias, quatro dias por semana
e, quinzenalmente se reúnem nessa formação. O descumprimento dessas ações desliga o
educador do MOVA? Nada impede que o educador mantenha sua sala de alfabetização em
sua entidade sem os recursos da prefeitura, entretanto ele não fará parte do Programa.
Segundo o levantamento já apresentado (Apêndice) em que quase metade dos
educadores (48%) tem o MOVA como principal ou única fonte de renda, e para outros 25%
essa ajuda de custo representa metade de sua renda e mesmo que para 50%5 atuam no MOVA
por opção, gosto e identificação com o MOVA e com os educandos jovens e adultos, na
realidade social brasileira, poucos desses educadores conseguiriam manter suas salas sem essa
ajuda de custo. Podemos então notar que o que dá caráter de sentido as salas de alfabetização
é o seu pertencimento ao Programa MOVA-Guarulhos, e os recursos financeiros funcionando
como uma espécie de apoio e até de atrativo. No município de São Paulo o MOVA se
desligou da Secretaria de Educação por um período:
Com a mudança de gestão no governo municipal, tomou posse, em 1993, Paulo Salim Maluf. Hostil às prioridades da gestão anterior, ele não renovou os convênios com o MOVA. O Fórum dos movimentos resistiu e deu continuidade ao MOVA-SP sem apoio da SME. Essa continuidade foi assumida, principalmente, por três instituições: o Instituto Paulo Freire, o Núcleo de Trabalhos Comunitários (NTC) da PUC-SP e o Instituto de Alfabetização, Cultura e Educação Popular (Iacep), um órgão da Central Única dos Trabalhadores (CUT), sob coordenação de João Raimundo Alves dos Santos (GADOTTI, 2008, p.92).
Com o exemplo citado acima percebemos que é possível o MOVA manter-se não só
autônomo, mas independente do Estado se assim for preciso, seja lá por vontade de qual dos
lados da parceria. Em Guarulhos também há um fórum de discussão do MOVA, em que
participam não só os educadores e agentes populares, mas também os educandos e os
formadores.
Diferentemente do que aconteceu no MOVA-São Paulo, em que já haviam salas de
alfabetização anteriores ao MOVA, em Guarulhos a maior parte delas foram criadas após a
iniciativa da prefeitura, crescendo ano a ano como apontou a Tabela 1. Já havia outras
iniciativas e programas de alfabetização, mas o MOVA contribuiu não só para criação de
novas salas como também aglutinando as já existentes em um projeto único. Sendo assim,
mesmo havendo um fórum que articule os indivíduos do MOVA-Guarulhos, isso por si só não
garante que a história de continuidade protagonizada pelo MOVA-São Paulo se repita. Por
5 PPP III – Relatório MOVA – Guarulhos, 2009.
25
outro lado, a experiência dos paulistanos mostrou que havia uma necessidade de
financiamento do Programa, ou seja, do ponto de vista financeiro o MOVA não era auto-
suficiente.
O objetivo desse trabalho não é criticar a ação da prefeitura em tentar solucionar seu
problema de alfabetização, e sim tentar entender as especificidades do MOVA enquanto
movimento social constituído historicamente, e como se dá sua relação com a esfera pública,
e quais são suas possíveis implicações ou não.
A história recente da alfabetização e educação de jovens e adultos no Brasil foi marcada pela redefinição do eixo centralização-descentralização das políticas educativas. Após a extinção do Mobral em 1985, o governo federal abandonou a provisão direta da alfabetização de jovens e adultos, assumindo funções subsidiárias de financiamento e apoio técnico aos estados, municípios e organizações sociais, por intermédio da Fundação Educar (1985-1990), do Programa Alfabetização Solidária (1998-2002) ou do Brasil Alfabetizado (2003-2007). Nesses contextos, as organizações da sociedade civil continuaram ocupando um lugar importante na promoção da alfabetização de jovens e adultos, mas foram os municípios que assumiram responsabilidades crescentes na oferta de oportunidades de escolarização para os jovens e adultos, superando os estados que, até a década de 1990, eram os principais mantenedores do ensino supletivo, conforme a denominação utilizada na época (UNESCO, 2008, p.42).
Como apontado no trabalho da UNESCO, as prefeituras vieram nas últimas décadas
assumindo a responsabilidade na superação do analfabetismo, e isso se inicia no momento de
surgimento do MOVA.
(...) A descontinuidade promovida pelo prefeito Maluf não matou a experiência freireana. Pelo contrário, mostrou que Paulo Freire estava certo e os movimentos sociais a levaram a frente, aprendendo com esse novo cenário. O MOVA consolidaria sua metodologia e se transformaria, aos poucos, numa política pública alternativa de EJA (GADOTTI, 2008, p.93 – grifos do autor).
Considerando essas afirmações, observamos que nas duas últimas décadas as ações
no enfrentamento do analfabetismo passaram aos poucos aos municípios. Assim como
colocado por Gadotti, que aos poucos o MOVA se apresentou como uma política pública
alternativa de EJA, podemos compreender o MOVA-Guarulhos como uma política pública do
município.
No Brasil, diversos órgãos do governo federal propõem parcerias com empresas e com organizações não-governamentais (ONGs) para a realização de serviços de interesse da sociedade, especialmente na área da educação, saúde e assistência social. São serviços que antes eram executados exclusivamente pelo Estado, através de suas esferas municipal, estadual e federal, como políticas de governo ou mesmo como políticas de Estado. Do mesmo modo, os governos estaduais e os governos
26
municipais propõem “parcerias” com empresas e ONGs para a prestação dos mais diversos serviços públicos. As proposições são feitas independentemente de quais sejam os partidos políticos que sustentam esses governos, levando a pensar que o termo parceria e a própria prática que dela decorre é algo asséptico, que serve para qualquer gosto e qualquer tendência política, seja esta progressista ou conservadora (MUNARIM, 2005, p.31).
27
4 O CONTEXTO LEGAL DO MOVA-GUARULHOS: EJA E
POLÍTICAS PÚBLICAS
Fazendo um apanhado geral na história do Brasil é possível notar que a educação de
jovens e adultos, sobretudo naquilo que diz respeito à alfabetização, ou à educação escolar,
nunca foi prioridade em nenhum Governo. Falar em políticas públicas em EJA na história do
Brasil é anacrônico, visto que os próprios termos, políticas públicas e EJA são recentes, mas
cabe aqui destacar que durante toda a história do Brasil houve processos educadores de
adultos, principalmente ligados a aspectos profissionais ou de catequização. Não é intuito
deste trabalho discutir esse tema, apenas citar que de algum modo já houve uma educação
voltada aos adultos desde o processo civilizatório imposto a índios e negros na perspectiva de
adequação à sociedade branca européia.
Em alguns casos podemos até chamar esses processos de políticas públicas, como a
catequização promovida pelos jesuítas, interpretando-a como uma política da Corte
Portuguesa. Outros, como a profissionalização6 de escravos, não eram necessariamente uma
política de Governo, mas talvez dos senhores de engenho. O que podemos perceber é que a
educação de adultos, seja ela uma política da Corte Portuguesa, ou dos senhores de engenho,
estava voltada para o mundo do trabalho.
O Capítulo III Seção I da Constituição Federal de 1988 trata do tema Educação, e em
seu primeiro artigo define o que se entende por educação do ponto de vista constitucional, e
em seu segundo artigo organiza a educação no país.
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; (BRASIL, 1988).
Podemos notar no artigo 205 da Constituição Federal que a educação é
responsabilidade do Estado e da família, porém aberta e incentivada à colaboração da
6 Cabe aqui ressaltar que o que chamamos de profissionalização de escravos não diz respeito a uma certificação profissional como conhecemos hoje, tão menos afirmar que escravos eram reconhecidos enquanto profissionais uma vez que nem como cidadãos o eram, e sim como a transmissão de um saber profissional, que era feito principalmente de forma oralizada e prática.
28
sociedade. Logo, o MOVA-Guarulhos é mantido com recursos do Estado, do poder público
municipal, e conta com a colaboração da sociedade civil organizada.
Segundo o mesmo artigo a Educação visa preparar o indivíduo para o exercício da
cidadania e qualificá-lo para o mundo do trabalho. Podemos entender então que, o MOVA
pensando a alfabetização como um meio e não um fim em si mesma, mas um meio que
através da alfabetização está preparando o indivíduo para o exercício da cidadania,
consequentemente estará qualificando-o para o mundo do trabalho. Porém não significa
necessariamente que estará, o MOVA, formando uma pessoa no sentido de especializá-la com
conhecimentos específicos de uma determinada profissão, mas pode o MOVA também fazer
isto respaldado na constituição.
O artigo seguinte já muda o termo educação para ensino sem fazer nenhum tipo de
esclarecimento, desse modo a educação fica reduzida ao âmbito escolar, que é do que trata os
demais artigos da constituição, apenas dos processos escolares, ignorando outras
possibilidades de educação.
No mesmo sentido a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 reconhece os processos
formativos que se desenvolvem nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, no
entanto é uma legislação que trata da educação escolar, ou seja, do sistema regular de ensino.
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias (BRASIL, 1996).
O que podemos perceber então é que a educação é algo muito mais abrangente que o
sistema regular de ensino, sobretudo as escolas, e nesse sentido, entender onde o MOVA se
caracteriza juridicamente pode torná-lo engessado em determinada legislação ou em outra.
A tensão sempre posta entre experiências de educação popular de jovens e adultos e a escola tem aí um dos desencontros. Enquanto a escola pensa que fora dela, dos seus currículos e saberes não há salvação – nem cidadania e conhecimentos, nem civilização e cultura –, a educação popular já nos alerta que o correto é entender a escola como um dos espaços e tempos educativos, formadores e culturais. Tempo imprescindível, porém não único (ARROYO, 2005, p.228).
Essa fala de Arroyo representa uma ideia do senso comum que é a dualidade entre
educação formal e não-formal, entre escola e sociedade, como se houvesse uma bolha
impedindo o contato. Do ponto de vista constitucional não é no Capítulo Educação que os
29
movimentos populares e outras formas de educação não escolar tem seus direitos e deveres
garantidos, e tampouco na Lei de Diretrizes e Bases da Educação; do ponto de vista da
legislação municipal perceberemos que o MOVA tem seus direitos e deveres reconhecidos
porém compreendidos enquanto complemento do sistema regular de ensino.
Dado isso, precisamos compreender que ambas as formas de educação não devem
competir, muito pelo contrário, devem atuar conjuntamente na superação dos déficits
educacionais do país, do estado ou do município. Na ideia de superar esses déficits
educacionais a luta deve ser contínua e em todos os certames políticos, sociais e jurídicos. O
artigo 214 da Constituição Federal que foi alterado por uma emenda Constitucional, nº 59 de
2009 dizia em seu inciso primeiro em 1988 e continua dizendo mesmo após essa emenda em
2009 que é dever do sistema de educação nacional erradicar o analfabetismo.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à:Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) I - erradicação do analfabetismo (BRASIL, 2009).
Não vamos aqui discutir a alteração de conteúdo do artigo acima, mas sim
compreender que 21 anos se passaram entre a promulgação da Constituição e da emenda
complementar e o analfabetismo ainda não foi superado.
Já houve no Brasil diversas campanhas com o objetivo de tentar diminuir as taxas de analfabetismo, mas poucas delas com grande efetividade. O principal problema da maior parte dessas campanhas foi a temporalidade. Por terem sido realizadas em um curto período de tempo, acabaram impelindo os indivíduos a passarem de projeto em projeto, sem a possibilidade de empreender a continuidade do processo educacional. Em suma: havia a iniciativa, por parte dos alunos, de se matricular no curso de alfabetização, mas não havia a preocupação, por parte dos promotores dos cursos, com a continuidade dos estudos após a alfabetização (CARNEIRO, 2006, p.14).
O MOVA-Guarulhos foi instituído pelo decreto nº 21.544 de 13 de março de 2002.
Em 19 de dezembro de 2005, outro Decreto nº 23560 foi publicado alterando o Decreto de
criação do MOVA-Guarulhos. Junto a ele foi publicada a portaria 22/2005 da Secretaria de
Educação regulamentando o Programa MOVA-Guarulhos. No ano de 2009, mais
30
especificamente em 04 de dezembro, outra Portaria foi publicada no Diário Oficial de
Guarulhos, a Portaria nº 52/2009-SE7.
A partir dessa Portaria, o MOVA passou a trabalhar com os conceitos de conclusão e
certificação, regidos pelo Artigo 5º: “§ 2° O Certificado de Conclusão do MOVA será
expedido após Avaliação aplicada pela Secretaria de Educação, e os alunos encaminhados
para submeter-se a prova serão indicados pela instituição responsável, ao final de cada ano
letivo” (GUARULHOS, 2009).
O artigo 16 da mesma Portaria nos diz: “O convênio terá prazo de vigência mínimo
de 24 (vinte e quatro) meses, podendo ser renovado a critério das partes”. Assim, se o
convênio com a entidade e o educador é de no mínimo 24 (vinte e quatro) meses, podemos
entender que ou os educandos permanecem no MOVA por esse período, ou há uma
rotatividade grande de educandos nesse tempo.
O que sabemos é que os educandos tem sua inserção no MOVA de modo
diferenciado da escola. Não há necessariamente um ano letivo; há uma organização do
MOVA que corresponde ao calendário civil, mas isso não significa ao educando que há uma
aprovação ou reprovação no fim de um ano civil. O que acontece também são educandos que
participam do MOVA intermitentemente, ou seja, que não necessariamente acompanham o
fluxo do calendário civil, até pedagógico do MOVA, e sim que acompanham suas próprias
dinâmicas de vida que permitem que participem em determinados momentos e em outros não.
Coisa que dentro da escola dificilmente aconteceria, dado que faltas, ou não presenças, é uma
das formas de retenção do sistema regular de ensino. O MOVA enquanto movimento social
difere disso, não havendo aprovação ou reprovação, mesmo que exista uma certificação,
desde que a mesma não o impeça de continuar participando do movimento social.
Há um problema em certificar o educando do MOVA? O que acontece com esse
educando “formado”, segue seus estudos na EJA regular ou pode permanecer no MOVA?
O objetivo deste trabalho não é responder essas perguntas, e sim problematizar o
MOVA enquanto movimento social. A mesma portaria no item “a” do artigo 4º estabelece
como objetivo do MOVA “propiciar a jovens e adultos analfabetos o acesso à escolarização
(...)” (GUARULHOS, 2009), isso caracteriza que há um anseio da prefeitura que esses jovens
e adultos estudem no ensino regular na modalidade EJA. Por outro lado, entendem que o
MOVA é um mecanismo de acesso à escolarização, não necessariamente a escolarização.
Mais adiante no item “e” do mesmo artigo também constitui objetivo do MOVA “desenvolver
7 Dispõe sobre: Readequação de normas reguladoras do Programa Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA-GUARULHOS.
31
metodologia de Educação de Jovens e Adultos que leve em consideração as reais necessidades
do educando, partindo da realidade deste e respeitando o seu processo de conhecimento;”
(GUARULHOS, 2009). Nesse sentido o que se pode perceber é que o MOVA deve ter uma
metodologia que respeite seus educandos, e mesmo que o certifique deve respeitar seu próprio
tempo de construção de conhecimento.
A educação de jovens e adultos trabalha com sujeitos que de alguma forma foram
excluídos do sistema regular de ensino. Quando falamos sistema regular, e de ensino, estamos
falando da escola básica com todas as suas concepções históricas. A concepção da educação
de jovens e adultos transborda os limites do ensino escolar. Considerando seus sujeitos com
uma história e trajetória de vida, a educação para esses sujeitos precisa transcender o conteúdo
escolar, tornando a escola atrativa e não apenas um espaço temporal para uma certificação.
Por isso o MOVA torna-se atraente para parte considerável de seus indivíduos, que buscam
nele a oportunidade de sentir-se incluído, de pertencer a um grupo, tendo como elemento
aglutinador a alfabetização. Isso significa que a alfabetização pensada por meio de um
movimento social constitui-se num meio, e não em um fim. Por isso Paulo Freire continua tão
atual quando se aborda a educação de jovens e adultos, principalmente para alfabetização.
Quando se fala em um “método Paulo Freire de alfabetizar” não significa que há uma
metodologia em se ensinar as letras, e sim que há um respeito aos indivíduos que participam
da educação. Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire nos apresenta a ideia de que
o educador não é apenas aquele que educa, mas que enquanto educa, também é educado pelo
próprio processo de educação em diálogo com esse educando. “(...) ninguém educa ninguém,
como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p.39).
32
5 QUAL A FUNÇÃO SOCIAL DO MOVA?
Compreender o MOVA-Guarulhos enquanto um movimento que agrupa diversas
entidades da sociedade civil, que agrupam um número de educadores e educandos é pensar o
MOVA numa lógica de movimento social. Por outro lado, ter a prefeitura pensando em um
programa de superação do analfabetismo, é pensar o MOVA enquanto uma política pública.
Nesse sentido, o MOVA pode ter uma ou mais funções sociais dependendo do local em que o
sujeito está inserido e de onde faz sua observação. Educadores, educandos, as entidades, a
prefeitura e a coordenação pedagógica podem ter diferentes visões e concepções do MOVA,
alternado o entendimento de sua função social.
Em Guarulhos, o MOVA não existia enquanto Movimento Social antes do Decreto
21.544 de 13 de março de 2002. Diferentemente do que aconteceu com o MOVA-São
Paulo8, em Guarulhos não existia um movimento organizado em prol da alfabetização, não
houve uma procura das entidades ou dos movimentos sociais à prefeitura, e sim uma procura
da prefeitura pelas entidades, que acabaram por constituir o MOVA-Guarulhos. Havia sim
diversas entidades, como a Igreja, e educadores com experiência9 em alfabetização em outros
projetos, mas um movimento social orgânico não. O que temos então é um movimento social
forjado por um Decreto?
Pensando nesse sentido, cabe-nos discutir qual a função social do MOVA?
Começando pelo próprio MOVA, qual função social o MOVA cumpre na sociedade. A que se
presta o MOVA? Do ponto de vista da prefeitura, das entidades conveniadas, dos educadores,
agentes populares, educandos, e, principalmente do MOVA enquanto movimento social.
Caracterizar o MOVA enquanto educação formal ou não-formal, se é movimento
social ou política pública, implica compreender a função social do MOVA. E o que ele nos
parece, por meio destes estudos, é um sistema híbrido que muda sua classificação de acordo
com a função social a que se presta, que se enxerga para ele.
Em sendo uma política pública pode ser tanto de educação formal como não-formal,
novamente depende dos objetivos: se estiver voltada para preparar os educandos para a EJA
regular, podemos compreendê-la como uma política pública voltada a educação formal. Isso
8 O MOVA, desde seu início, se constituiu num movimento não partidário, não governamental e não-confessional, mas muitos governos do Partido dos Trabalhadores o assumiram como política pública. (GADOTTI, 2008, p.95) 9 De acordo com a pesquisa realizada em 2009 38% dos educadores já tinham experiência em outros programas de alfabetização e 69% participam de organizações da sociedade civil.
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se compreendermos o MOVA-Guarulhos como parte do sistema de educação de Guarulhos,
pensando pela caracterização dada no segundo capítulo deste trabalho, em que Trilla (2008)
nos apresenta a ideia de sistema regrado de ensino, onde aquilo que faz parte a esse sistema é
educação formal e aquilo que está à margem seria educação não-formal.
Por outro lado, se for uma política pública voltada ao combate das desigualdades
sociais, podemos situá-la como sendo voltada a educação não-formal. Trilla (2008a, p.19) nos
apresenta a ideia que dentro do contexto das educações não-formais, que foram surgindo ao
longo do século XX, estas não surgiram por geração espontânea, “mas em decorrência de uma
série de fatores sociais, econômicos, tecnológicos, etc. que, por um lado, geram novas
necessidades educacionais e, por outro, suscitam inéditas possibilidades pedagógicas não
escolares que buscam satisfazer essas necessidades”. De quais necessidades falamos?
No Brasil já foram elaborados diversos estudos que comprovam a acentuada ligação entre escolaridade e renda. E, dentre os países da América Latina, é justamente no Brasil onde essa relação se dá de forma mais acentuada. Esse dado, portanto, é mais um elemento que justifica a necessidade de fortalecer a Educação de Jovens e Adultos (EJA) (CARNEIRO, 2006, p.14-15).
No Brasil temos diversas políticas públicas que atendem grupos minoritários ou
excluídos socialmente, como os analfabetos, e parte dessas políticas se dão por meio da
educação não-formal dada a:
Crescente sensibilidade social para a necessidade de implementar ações educativas em setores da população em conflito, socioeconomicamente marginalizados, deficientes etc., seja como aspiração de avanço na justiça social e no Estado de bem-estar, seja buscando a pura funcionalidade do controle social (TRILLA, 2008a, p.20).
Assim, podemos pensar o MOVA-Guarulhos como uma política pública de educação
não-formal voltada a redução das desigualdades sociais no município, pensada como avanço
na justiça social, mas Gadotti (2008) nos faz uma ressalva:
A defesa de tese do MOVA como política pública vem carregada de ambiguidades. Se os governos assumirem o MOVA como política de governo, o MOVA perde seu caráter de movimento social, que é permanente, e se transforma num programa efêmero de um governo (p.101).
Sendo o MOVA-Guarulhos uma política pública de educação não-formal, isso não
significa que o MOVA não possa contribuir para que o educando procure a EJA regular, pelo
contrário, deve sim incentivá-lo. Por outro lado, nada impede que a educação formal
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contribua na redução das desigualdades sociais, mesmo não sendo este seu foco principal.
Ambas as formas de educação não devem competir, e sim trabalhar de forma conjunta, ou
pelo menos de forma paralela. Por vezes a educação não-formal é complementar a educação
formal, por vezes substitui, mas não deve negá-la (TRILLA, 2008). Mas é preciso entender
como se dá seu escopo, metodologia e objetivo principal. Pensar nisso é tentar compreender o
MOVA enquanto uma política pública, um programa de educação não-formal.
Também podemos compreender o MOVA enquanto um movimento social, com o
objetivo não só de superar o analfabetismo, mas, principalmente de alfabetizar seus
educandos para ler o mundo alem das letras. Nesse sentido, o MOVA mesmo contando com
uma ajuda de custo da Prefeitura, tem de ser capaz de manter o movimento em movimento,
com ou sem essa ajuda de custo.
Pensando no MOVA enquanto um Movimento Social ele não pode ser entendido
enquanto educação formal pelos conceitos apresentados neste trabalho, mas pode sim lutar
por mais e melhores espaços na EJA regular para seus educandos. Espaços que sejam
problematizados e discutidos, sendo principalmente acolhedores, que é a principal reclamação
dos educandos egressos do MOVA que não se adaptam a escola regular, com sua organização
social, temporal e espacial que não fazem sentido a esses educandos, que muitas vezes
acabam retornando as salas de MOVA em suas comunidades.
Sendo o MOVA um movimento social de educação não-formal, ao menos deveria ser
por conceito e gênese, deve ser ele um movimento acolhedor capaz de absorver o que é
convencionalmente chamado de minorias (que muitas vezes são maiorias), na verdade, os
sujeitos historicamente excluídos. Excluídos da escola e do mundo letrado, primeiro por falta
de oportunidade adequada e segundo por desconhecimento da leitura e escrita. Cabe a esse
movimento social dar ao sujeito historicamente excluído um espaço de pertencimento,
coletivo, que faça com que esses sujeitos participem da sociedade e sintam-se cidadãos de
direitos e deveres.
A educação não-formal tem outros atributos: ela não é organizada por séries/idade/conteúdos; atua sobre aspectos subjetivos do grupo; trabalha e forma sua cultura política de um grupo. Desenvolve laços de pertencimento. Ajuda na construção da identidade coletiva do grupo (este é um dos grandes destaques da educação não-formal na atualidade); ela pode colaborar para o desenvolvimento e fortalecimento do grupo, criando o que alguns analistas denominam de capital social de um grupo (GOHN, 2010, p.20).
Sendo assim, responder qual a função social do MOVA é mais conveniente aos
sujeitos que dele participam. Há sujeitos que o entendem enquanto um movimento social e os
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sujeitos que o entendem enquanto uma política pública. Há sujeitos que nele atuam pensando-
o como parte da educação formal do município e sujeitos que nele atuam acreditando não
fazer parte do sistema de ensino regular do município. Essa função social do MOVA pode ser
intrínseca a cada sujeito ou a cada entidade. Mas pode ser extrínseca também, dependendo de
como se dão as relações entre entidade e educadores ou prefeitura e educadores, por exemplo.
No âmbito deste Trabalho de Conclusão de Curso buscamos compreender essas diferentes
perspectivas.
Nesse esforço de compreensão, observamos que Prefeitura pensa o MOVA como
uma política pública de superação do analfabetismo, sustentada pela Portaria nº 52/2009-SE
em diversos de seus artigos, dos quais destacamos o inciso primeiro do artigo 12 que trata dos
convênios entre a prefeitura e as entidades e que apresenta como obrigatório no plano de
trabalho das entidades a identificação do objeto a ser executado “que deverá ser a cooperação
para o desenvolvimento complementar do Ensino Público Gratuito”. Nesse inciso é possível
perceber que a prefeitura entende o MOVA como parte do seu sistema de ensino regular.
Complementado pelo artigo 18: “A Secretaria de Educação é o órgão responsável pela gestão
do programa MOVA GUARULHOS, na sua esfera de atuação e competência”. Para
complementar o artigo 6º trata do Fórum MOVA-Guarulhos:
Art. 6° O Fórum MOVA-GUARULHOS é a instância de discussão e encaminhamento de propostas dos núcleos das instituições convenentes, nas quais é desenvolvido o programa sob a forma de indicações. § 1° A cada instituição referida no caput corresponderá um voto no Fórum MOVA-GUARULHOS. § 2° As indicações do Fórum MOVA-GUARULHOS não surtirão efeito vinculante sobre a fixação das diretrizes norteadoras das políticas públicas pela Secretaria de Educação.
Sendo assim, o que temos de entendimento é que o MOVA-Guarulhos não é
compreendido como movimento social pensado pelo ponto de vista da prefeitura,
principalmente porque lhe falta autonomia enquanto tal.
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6 MOVA: EJA, EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL E POPULAR.
Neste capítulo tentaremos entender se o MOVA pode ser considerado EJA, mais
especificamente, se o Movimento de Alfabetização de Guarulhos faz parte da Educação de
Jovens e Adultos do município. Para isso vamos retomar algumas ideias sobre educação de
adultos, educação não-formal e educação popular.
Gadotti nos apresenta a ideia de que a educação de adultos começou a ser
responsabilidade do Estado no Brasil após a II Guerra Mundial, enquanto que a educação não-
formal “esteve principalmente vinculada a organizações não governamentais, partidos
políticos, igrejas, sindicatos, etc., geralmente organizadas onde o Estado se omitiu e muitas
vezes organizada em oposição à educação de adultos oficial.” (2008, p.32). Ele ainda ressalta
que também coube à educação popular se opor a educação de adultos impulsionada pelo
Estado, mas afirma, baseado em entrevista de Paulo Freire, que, diferente da educação de
adultos, a educação popular não está necessariamente pautada na idade dos indivíduos, e sim
nas suas opções e práticas políticas assumidas na prática educativa.
Em uma publicação recente, a UNESCO fez a seguinte observação:
O campo da formação de jovens e adultos, adensado pelo ideário da educação popular, teve importante papel na transformação da educação brasileira, pois sua sensibilidade para as temáticas das camadas sociais desfavorecidas contribuiu para que o sistema educacional assimilasse conteúdos até então desconsiderados nos currículos convencionais – como a cultura e as condições de vida e trabalho dos educandos, o respeito à diversidade sociocultural e a formação para uma cidadania ativa, crítica e autônoma. Por desenvolver-se em espaços alternativos e não-formais, a educação popular usufruiu de liberdade de experimentação pedagógica, e suas inovações contribuíram para repensar a educação formal (UNESCO, 2008, p.97).
A discussão a ser feita adiante parte do pressuposto de que o MOVA-Guarulhos é uma
forma de educação de jovens e adultos, porém não-formal, não escolar, não pertencente ao
sistema regular de ensino do município. O MOVA constitui-se na ação de diversas entidades,
igrejas, associações, etc., todas por meio de seus educadores, indivíduos de suas próprias
comunidades. Porém, o MOVA não necessariamente se constitui como oposição a educação
de adultos oficial, pelo contrário, funciona como complemento, ao menos o MOVA-
Guarulhos. Assim poderíamos pensar, se o MOVA não se opõem a educação de adultos
oficial não pode ser nem educação popular, nem educação não-formal. Correto? Não. Gohn
nos diz a esse respeito:
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Os movimentos são elementos fundamentais na sociedade moderna, agentes construtores de uma nova ordem social e não agentes da perturbação da ordem, como antigas análises conservadoras escritas nos manuais antigos, ou como ainda são tratados na atualidade por políticos tradicionais. (GOHN, 2010, p.65).
Com essas ideias apresentadas o que podemos concluir é que o MOVA não faz parte
do sistema oficial10 de ensino de Guarulhos, ele não nega a escola, pelo contrário, luta pelo
acesso e garantia da mesma aos seus indivíduos, e nesse sentido pode ser compreendido como
uma modalidade de educação de jovens e adultos, não-formal e popular.
A defesa da inclusão da EJA na nova LDB trazia as marcas da concepção mais radical das experiências de educação popular – não de ensino escolar. Reinterpretar legalmente a EJA como uma modalidade das etapas de ensino fundamental e médio é um lamentável esquecimento dessa radicalidade acumulada. É violentar a lei. A trajetória poderia ser inversa, repensar o ensino fundamental e o ensino médio a partir dessa radicalidade acumulada na EJA. Nomear os sujeitos de direito, a infância, adolescência e juventude concretos, com sua história popular e assumir seu direito à educação básica, à concepção de educação ampla, plural, que sabemos não cabe no termo restritivo, ensino (ARROYO, 2005, p.224).
6.1 MOVA como alfabetização e pós-alfabetização
Gadotti em seu trabalho MOVA por um Brasil Alfabetizado conta que a proposta do
MOVA-SP era constituir uma “arrancada inicial na luta por um programa de escolarização
básica de jovens e adultos, incorporando-se a luta geral pela escola pública e popular”
(GADOTTI, 2008, p.57). Conta também que a intenção de seus idealizadores era de que o
MOVA-SP possibilitasse o prosseguimento dos estudos em nível de pós-alfabetização,
afirmando que era uma das reivindicações dos educandos continuar os estudos no sistema
formal de ensino.
Desse modo, o que temos é o MOVA surgindo como um movimento que transcendia
seu caráter de alfabetização, mas que sobretudo reivindicava uma educação pública em uma
escola popular para todos. É preciso entender que o termo escola popular procura diferenciar-
se do conteúdo escolar hierarquizado e hierarquizante, que em geral exclui os egressos das
experiências em educação popular, no nosso caso o MOVA. Então quando falamos das
dificuldades dos educandos do MOVA-Guarulhos permanecerem na EJA regular, estamos
falando da luta pela escola popular de Paulo Freire e do MOVA-SP.
10 Voltando ao capítulo anterior que entende educação como processo de ensino-aprendizagem de responsabilidades variadas, porém compreendendo o ensino/escola como uma forma de educação e de responsabilidade do Estado.
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Um programa educacional com as características do MOVA levou desafios importantes para a estrutura da Secretaria, testando profundamente suas funções sociais. A Articulação do MOVA com a esfera pública foi uma experiência singular, de relevância histórica em uma cidade em que os excluídos da “periferia” ou “do bairro” reivindicam seu direito a cidade, a leitura da palavra e do mundo. Considerando como um dos objetivos do projeto o impulsionamento de uma ação articulada entre Estado e sociedade civil, o MOVA evidenciou amplas possibilidades, alargando o campo da experiência para gestores e lideranças públicas (ARAÚJO, 2004, p.29).
Podemos perceber então que o MOVA tem uma função social que vai alem da
alfabetização dos seus sujeitos, o MOVA atua (ou deveria atuar) como instrumento de
reflexão das políticas educacionais que visam inclusão, e alem disso trabalha com uma
concepção de empoderamento dos sujeitos através dos movimentos sociais e das organizações
da sociedade civil. Contudo, Gohn faz duas importantes ressalvas:
(...) é importante distinguir as práticas cidadãs de outras que considerem os indivíduos apenas como mão-de-obra para realizar ações que o Estado não realiza, ou para gerar renda em trabalhos sem direitos sociais regulamentados (...) (GOHN, 2010, p.35) A participação da sociedade civil nas novas esferas públicas – via conselhos e outras formas institucionalizadoras – também comporta uma premissa básica: seu objetivo não é substituir o Estado, mas lutar para que este cumpra seu dever de propiciar educação de e com qualidade para todos (GOHN, 2010, p.64).
Em outro trabalho, a autora especifica um pouco mais essa relação Estado-sociedade
civil: homogeniza
A nova concepção de sociedade civil nos anos 1990, trata não apenas dos direitos, mas também de deveres, ela homogeniza os atores. Estes deveres envolvem a tentativa de responsabilização dos cidadãos em arenas públicas, via parcerias nas políticas sociais governamentais. De um lado, isso é um ganho: significa o reconhecimento de novos atores em cena. De outro, é um risco, com o qual as lideranças progressistas da sociedade civil devem estar alerta: o de assumirem o papel que deve ser exercido pelo poder público estatal pois para tal ele é eleito, ou indicado e os cidadãos pagam impostos (GOHN, 2004, p.22-23).
Assim o ideal para o MOVA seria ser um Movimento Social, de educação não-formal
e popular atuando conjuntamente com o Estado. Trilla nos diz: “Que a educação não-formal
solucione as deficiências ou fracassos da formal é defensável apenas como solução provisória.
É preciso fazer com que o sistema formal cumpra de maneira eficaz com as tarefas que deve
realizar”. (TRILLA, 2008b, p.114). Nesse sentido, o MOVA deve lutar pela sua própria
extinção, garantindo que todos os seus educandos sejam recebidos pela escola. Na verdade, o
MOVA enquanto movimento social não deve se extinguir, mas assim que a alfabetização não
for mais um problema educacional no Brasil, o movimento pode e deve rever suas pautas. É
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preciso salientar que o analfabetismo precisa ser superado em nível nacional e não apenas a
nível de municipalidade, dada a grande circulação de pessoas pelo país.
No Brasil, a Constituição de 1988 instituiu a política de descentralização de poder e descentralização administrativa que tem viabilizado as parcerias entre organizações da sociedade civil e o Estado nos mais diversos níveis. A chamada “Constituição Cidadã” de Ulisses Guimarães, estabelece princípios de participação comunitária na definição e execução das políticas sociais do Estado e reforça o princípio do fortalecimento dos municípios – a municipalização das ações do Estado em áreas diversas, como saúde, educação, assistência social etc. (MUNARIM, 2005, p.36-37).
Com essa descentralização de poder no Brasil após 1988 muitas prefeituras iniciaram
ações na área de educação buscando superar o analfabetismo. Só que, retomando as ideias de
Gohn, é preciso frisar que essa descentralização de poder que também migrou para a própria
sociedade civil não pode significar uma desresponsabilização do Estado. Não podemos
compreender a ascensão das organizações sociais no bojo do neoliberalismo. Apesar de
parecerem propostas semelhantes que dão as organizações da sociedade civil maior
autonomia, a proposta neoliberal propõem uma autonomia reduzindo a ação do Estado, ou
seja, transferindo a responsabilidade para a sociedade civil, enquanto que uma proposta
progressista é o trabalho conjunto com o Estado, e não a sua redução ou negação.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pergunta que este trabalho tentou responder é se o MOVA-Guarulhos pode ser
entendido como educação formal ou não-formal? Isso implica compreender o MOVA
enquanto parte da estrutura do ensino regular ou não.
Pelos referencias teóricos apresentados neste trabalho buscou-se desenvolver a ideia
de que o MOVA-Guarulhos não pertence ao sistema regular de ensino do município, mesmo a
legislação possibilitando essa compreensão. Os referenciais teóricos deste trabalho buscaram
não só evidenciar o MOVA-Guarulhos como educação não-formal e popular, como também
tentar reafirmar seu caráter de movimento social. E isso é muito importante inclusive para
prefeitura de um governo que se diz popular. Reconhecer o MOVA como movimento social é
compreender que a parceria junto às entidades conveniadas tem um caráter progressista, de
transformação social, negando a hipótese neoliberal de transferência de responsabilidade.
Porém, mais importante do que a prefeitura reconhecer o MOVA enquanto movimento social
é o próprio movimento se reconhecer como tal.
A princípio, o MOVA tem um recorte de classe por consequência. Os excluídos do
direito a alfabetização e a escola, também são os excluídos do sistema econômico, ficando às
margens desse sistema, pertencentes há uma das maiores desigualdades na distribuição de
renda do mundo. Porém o que faz o MOVA ser um movimento classista, é a consciência de
classe de seus sujeitos, é o anseio de transformar a sociedade.
Reconhecido como movimento social, o MOVA tem um recorte de classe por
essência. Seu público alvo é composto por sujeitos excluídos do direito à escolarização em
virtude da exclusão do sistema econômico que, há séculos, gera um círculo vicioso
alimentado pela pobreza e pelo analfabetismo. Seus militantes, por sua vez, também se situam
às margens da sociedade capitalista e são igualmente submetidos à distribuição de renda
desigual que caracteriza esse sistema econômico que tende a privilegiar financeiramente a
mão de obra especializada e as ocupações especulativas. Porém o que faz o MOVA ser um
movimento classista é a consciência de classe de seus sujeitos, é o anseio de transformar a
sociedade.
Creio que quando o MOVA cumpre com a função social de dar o sentimento de
pertencimento a diversos indivíduos, excluídos historicamente de nossa sociedade, através da
negação de um direito, o direito à escola, à alfabetização, aí sim ele pode ser compreendido
enquanto um movimento social. E isso se dá através da sua organicidade, sua unidade de
movimento, que mesmo com diferentes entidades com as mais variadas bandeiras, continua a
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luta para incluir esses sujeitos em nossa sociedade excludente, sendo a alfabetização a porta
aberta para essa possibilidade, mas que atua conjuntamente com as demais lutas sociais, como
vi no ano de 2009, em que em uma sala de alfabetização no bairro dos Pimentas, em
Guarulhos, se discutia a construção de um aterro sanitário próximo a uma Unidade Básica de
Saúde. Infelizmente, não acompanhei a discussão até o seu final, mas pude perceber o quanto
a sala de alfabetização do MOVA serviu como espaço de discussão política e social daqueles
educandos, daquela comunidade. Diversos sujeitos que poucas letras conseguiam
compreender, mas que muito do mundo sabiam ler, muito sabiam nele como intervir, e o
MOVA foi um espaço ideal de aglutinação das ideias ali postas, ele transcendeu qualquer
caráter pragmático de alfabetização, transcendeu a política pública, se fez movimento.
Segundo Gadotti (2008, p.98), Liana Borges, uma das protagonistas do MOVA-RS,
defende o MOVA como um legado de Paulo Freire, baseado no paradigma da educação
popular, e que deve estabelecer interface com as demais políticas governamentais.
Tomando essa ideia de Borges, mais a ideia em Paulo Freire de que a leitura do mundo
precede a leitura da palavra, em que a alfabetização é um instrumento para o sujeito saber ler
criticamente o mundo em que vive, e pensando a educação popular como um espaço de
atuação política para transformar a sociedade, o sujeito que do MOVA-Guarulhos faz parte e
se identifica com essas ideias e premissas pode sim afirmar que o MOVA é um movimento
social de educação não-formal, um movimento social de educação popular, que não nega a
escola, mas que luta por ela, de modo ideal a inserção de seus egressos. Compreendendo,
como diz Gadotti (2008, p.42), que a educação de jovens e adultos não é um ato de
solidariedade, e sim um direito social que foi negado ao analfabeto na infância e adolescência.
O MOVA só cumprirá sua função enquanto movimento social se não se engessar em
burocracias tipicamente características da educação escolar. Essas burocracias postas não
devem mover o movimento. O movimento deve se movimentar por suas próprias pautas, e as
burocracias advindas dos compromissos com o poder público, apesar de respeitadas, não
devem ser tomadas como fator de (i)mobilização da prática educacional.
Sendo assim, deixo como minhas considerações que o MOVA-Guarulhos pode ser
organicamente um movimento social; mas pode também ser um programa, uma política
pública da prefeitura de Guarulhos. Os modos como suas ações são colocadas em prática e
percebidas por seus próprios sujeitos apontarão a caracterização mais adequada. Nos limites
desta pesquisa, observamos um sistema híbrido que muda de classificação conforme a função
social é cumprida por cada sujeito envolvido em suas diferentes ações, como exposto
anteriormente.
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O MOVA pode ser a ponte entre a educação formal e não-formal, servindo como
proposta de um modelo de educação que faça com que a escola reflita sobre sua organização.
E esse movimento tem como funções sociais superar o analfabetismo, instrumentando a
reflexão das políticas educacionais, possibilitando ideias e oportunidades novas de inclusão
social, lutando por justiça social, contribuindo na redução das desigualdades sociais,
transformando, recriando a sociedade...
Como afirma Gohn (2010, p.33), a educação não-formal é um “processo sociopolítico,
cultural e pedagógico de formação para a cidadania”, que busca a emancipação dos sujeitos e
sua interação na sociedade com igualdade de direitos. Porém, há uma premissa básica para
compreender o MOVA como movimento social de educação não-formal: respeitar sua
autonomia enquanto movimento.
Tem uma outra coisa, a autonomia dos movimentos. O Pedro Pontual fez a sua tese sobre o MOVA e a conclusão que ele tirou foi que os movimentos populares se constituíram num grande ator social, em São Paulo, a partir do MOVA. Quer dizer, uma outra qualidade de movimento, o MOVA fortaleceu 97 entidades que fizeram essa parceria. E eu realço isso porque nós não podemos ter uma visão puramente escolar do MOVA, só de conteúdos escolares, há um ganho mais importante, a parceria no sentido freiriano. No caso de Paulo Freire, o parceiro tinha que estar junto o tempo todo, discutindo e se afinando com o projeto político, através do diálogo. É interessante porque havia dentro do próprio partido do Governo quem dissesse que o movimento social não devia participar, devia só reivindicar. A discussão era quanto mais o movimento popular participar da gestão da coisa pública, mais vai aprender a reivindicar (GADOTTI, 2004, p.25).
No mais, é preciso que a sociedade civil não assuma a responsabilidade que cabe ao
Estado. Segundo Salomón (2006, p.28), “o fato de que a sociedade civil se envolve no
político não significa que ela deve substituir os políticos”.
Mesmo como apresentado em outros capítulos, em que segundo Gadotti (2008) e
Santos (2004) o MOVA seja adotado como política pública de muitas gestões do Partido dos
Trabalhadores, que também é fruto de um mesmo contexto político, de uma mesma
conjuntura histórica da criação do MOVA-SP, isso não significa que todo MOVA é
movimento social. Havia um projeto de transformação social advindo da redemocratização na
década de 80 que conviveu com a ascensão do neoliberalismo na década de 90 e que hoje
convive com um novo projeto de Governo, que ascende a um Estado nacional forte e mais
presente, porém que não rompe com o capitalismo. Por isso, só ser adotado como uma política
pública de um partido que se diz progressista não garante ao MOVA seu caráter de
movimento social. A consciência de classe dos sujeitos que compõem o movimento, expressa
na coerência de suas ações pela construção de uma sociedade mais igualitária, deveria ser o
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elemento mais revelador da natureza de movimento social deste programa de alfabetização,
independentemente da gestão que lhe ofereça ou lhe negue parceria.
Para encerrar apresento aqui umas últimas observações e reflexões. Há uma fronteira
tênue entre a educação formal e a educação não-formal, por vezes podem até se confundir. O
MOVA-Guarulhos tem uma relação híbrida com estas, ora servindo de acesso a EJA regular,
até mesmo complementando-a, ora servindo de espaço político de organização da sociedade
civil para reivindicação de direitos que vão além do direito à educação. Diversos educandos
chamam as salas de MOVA de escola, e de fato são um espaço de aprendizagem, não a escola
que conhecemos, que faz parte do sistema formal de ensino. Boa parte desses educandos até
transferem para o MOVA suas representações sociais de escola: carteiras enfileiradas, lousa,
giz, caderno, dever de casa etc. E muito destes exigem de seus educadores: “cartilhas”,
“matérias na lousa”, “conteúdos”, em geral de português e matemática. Muitas vezes, o
educador quando pensa em uma atividade diferente, com outra dinâmica diferente de uma
aula expositiva tradicional, sofre críticas de seus educandos, que possuem em sua
representação social de educação, tranquilamente confundida com escola, um desejo por uma
educação conteudista. Há toda uma concepção de escola conteudista no Brasil moldada a
pouco mais de um século; há toda uma construção cultural e social do que é uma escola, há
toda uma representação social de escola; então não queiramos nós repetir a velha escola em
novas possibilidades de educação. Não deve o MOVA se escolarizar (burocratizar) e sim a
escola se refletir, se movimentar.
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REFERÊNCIAS:
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46
______. Portaria nº 52/2009-SE, de 04 de dezembro de 2009. Dispõe sobre: Readequação de normas reguladoras do Programa Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA-Guarulhos, e dá outras providências. Diário Oficial de Guarulhos, Poder Executivo, Guarulhos, SP, 04 dez. 2009. Disponível em: <http://novo.guarulhos.sp.gov.br/uploads/pdf/1647550577.pdf>. Acesso em 21 out. 2011 MUNARIM, Antonio. Parceria: Uma Faca de Muitos Gumes. In: MEC/UNESCO (Ed.). Construção coletiva: contribuições à educação de jovens e adultos. Brasília, DF: UNESCO/MEC/RAAAB, 2005. p.31-48. SANTOS, Maria Alice de Paula (Org.) MOVA em Movimento. Porto Alegre, RS: Ação Educativa; Instituto Paulo Freire; Secretaria de Estado de Educação-RS, 2004. PPP III – Relatório MOVA – Guarulhos. Trabalho apresentado para unidade curricular de Práticas Pedagógicas Programadas III – Educação de Jovens e Adultos (EJA), Movimento de Alfabetização (MOVA-Guarulhos) – do curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo - Guarulhos, orientado pela professora, Dra. Claudia Barcelos. Guarulhos, 2009, 28p. PONTUAL, Pedro. Parceria entre Estado e sociedade civil: uma perspectiva democrática. In: SANTOS, Maria Alice de Paula (Org.). MOVA em Movimento. Porto Alegre, RS: Ação Educativa; Instituto Paulo Freire; Secretaria de Estado de Educação-RS, 2004. SALOMÓN, Leticia. O Papel da Sociedade Civil na Construção da Democracia In: PONTUAL, Pedro, IRELAND, Timothy (Org.). Educação Popular na América Latina: diálogos e perspectivas. Brasília, DF: Ministério da Educação; UNESCO, 2006. TRILLA, Jaume. A educação não-formal. In: ARANTES, Valéria Amorim (Org). Educação formal e não-formal: pontos e contrapontos. São Paulo, Summus, 2008a. p.15-58. ______. Pontuando e Contrapondo. In: ARANTES, Valéria Amorim (Org). Educação formal e não-formal: pontos e contrapontos. São Paulo, Summus, 2008b. p.91-134. UNESCO. Alfabetização de jovens e adultos no Brasil: lições da prática. Brasília, DF: UNESCO, 2008.
47
APÊNDICE9
Bruno Roiz
Carlos Eduardo
Cássia Peres Protti
Gleice Lima
Leandro Cescon
Lucia Campos
Solange França
Vanildes de Freitas
Walkiria dos Anjos
PPP III – RELATÓRIO MOVA - GUARULHOS
Trabalho apresentado para unidade curricular de Práticas Pedagógicas
Programadas III – Educação de Jovens e Adultos (EJA), Movimento
de Alfabetização (MOVA-Guarulhos) – do curso de Pedagogia da
Universidade Federal de São Paulo - Guarulhos, orientado pela
professora, Dra. Claudia Barcelos.
Guarulhos
2009
9 Este apêndice manteve a formatação original do trabalho
48
Sumário
Apresentação do Trabalho: 03 (47)
Introdução: 04 (48)
Aspectos Sócio-demográficos: 06 (50)
Formação e Trabalho: 07 (51)
Práticas Culturais: 10 (54)
Conclusão: 13 (57)
Anexo I: 14 (58)
Relatório dos questionários pendentes: 33 (70)
49
APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Questionário elaborado por: Carlos Eduardo, Gleice Lima, Tatiane de Sena e Vanildes Nunes (graduandos de
Pedagogia da UNIFESP), Marcia Aparecida, Vanessa Filgueira e Thiago Fijos (graduandos de Ciências Sociais
da UNIFESP), Daniel Dalacqua (graduando de História da UNIFESP), Claudia Barcelos e Claudia Vóvio
(Professoras de Pedagogia da UNIFESP) e Patrícia Claudia (Coordenadora do MOVA - Guarulhos).
Pesquisas aplicadas por: Carlos Eduardo, Gleice Lima, Tatiane de Sena e Vanildes Nunes (graduandos de
Pedagogia da UNIFESP), Marcia Aparecida (hoje graduanda de Ciências Sociais da UNIFESP).
Relatório das Formações feito por: Carlos Eduardo, Gleice Lima, Tatiane de Sena e Vanildes Nunes
(graduandos de Pedagogia UNIFESP), Marcia Aparecida (hoje graduanda de Ciências Sociais da UNIFESP).
Tabulação feita por: Carlos Eduardo (graduando de Pedagogia da UNIFESP).
Análise das pesquisas feitas por: Bruno Roiz, Carlos Eduardo, Cássia Peres Protti, Gleice Lima, Leandro
Cescon, Lucia Campos, Vanildes de Freitas e Walkiria dos Anjos (graduandos de Pedagogia UNIFESP)
50
INTRODUÇÃO
O relatório a seguir tem por objetivo apresentar os resultados acerca da pesquisa realizada por
intermédio da aplicação de questionários sobre aspectos sócio-demográficos, formação, trabalho e praticas
culturais dos educadores do MOVA e suas implicações para o Movimento de Alfabetização na cidade de
Guarulhos.
O projeto MOVA é uma iniciativa da prefeitura de Guarulhos que buscou equacionar o problema de
analfabetismo no município. Através de um método semelhante ao aplicado por Paulo Freire enquanto secretário
de Educação da prefeitura de São Paulo na gestão Luiza Erundina 1989/1992. Como o próprio nome diz , esse
projeto é baseado em movimentos sociais e por isso ele é desenvolvido em parceria com entidades credenciadas
na prefeitura do município. Estas entidades que podem ser desde associações de bairro, até organizações não
governamentais (ONG’S).
Os resultados aqui apresentados são complementares ao trabalho que já vem sendo desenvolvido desde
o primeiro semestre de 2008, que objetiva traçar um perfil dos educadores populares, entendendo sua realidade,
bem como a dos jovens e adultos não escolarizados do município. A partir disso, a idéia é propor discussões e
diálogos na universidade quanto ao cenário exposto e abrir espaço para a criação de grupos de estudos e
pesquisas em educação de jovens e adultos, contando com docentes da UNIFESP, de modo a graduar os demais
cursos da instituição em parceria com Coordenadores do MOVA-Guarulhos e Agentes Populares que no
segundo semestre realizarão um curso de extensão junto aos educadores.
Esse perfil foi traçado por meio de uma pesquisa que foi realizada no segundo semestre de 2008 com
190 educadores. A aplicação dos questionários foi feita em nove das onze salas de formação continuada
oferecidas pela prefeitura. O questionário foi desenvolvido pelo grupo de alunos de pedagogia com apoio de
alunos de outros cursos, dos docentes e da prefeitura. Foi composto por quarenta e duas questões que
contemplam aspectos sócio-demográficos, questões relacionadas à formação do educador, seu trabalho em sala
de aula e suas atividades culturais.O relatório foi dividido em três eixos, aspectos sócio-demográficos, aspectos
de formação e trabalho e práticas culturais.
A partir de então, o grupo de pesquisa partiu à aplicação dos questionários, contudo, para concretizar
essa etapa da pesquisa fez-se necessário participar de algumas formações do MOVA, as quais consistem em ser
um momento de formação permanente àqueles que atuam em sala de aula, assim como aos agentes populares,
com formadores designados pela Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos.
Após a concretização da aplicação dos questionários e da nossa participação em salas de MOVA e nas
formações permanentes, deu-se o início da análise dos 190 questionários respondidos (de um número total de
304 salas), a qual se procedeu com a tabulação dos dados e com encontros nos quais o intuito era refletir,
questionar e concluir alguns elementos acerca dos resultados encontrados.
Portanto, esse relatório foi redigido a fim de explicar o processo percorrido por tal grupo de pesquisa,
guardar descrições, informações e algumas conclusões sobre o que foi observado com base na análise dos
questionários, mas, principalmente, para ser um instrumento inicial de pesquisas mais aprofundadas que venham
a contribuir com a educação de jovens e adultos, neste caso específico, tendo em vista o MOVA – Guarulhos.
51
ASPECTOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
Para traçarmos o perfil dos educadores do MOVA – Guarulhos, foi muito importante a coleta de dados
a cerca dos aspectos sócio-demográficos, pois através dos mesmos conseguimos detectar aspectos significativos
para futuras ações com os educadores do MOVA – Guarulhos, ao que diz respeito a sua formação continuada.
Tendo em vista que o maior número de educadores tem mais de 25 anos (90%), podemos afirmar que
este grupo é formado por uma população adulta e quanto ao gênero, majoritariamente do sexo feminino (89%).
Um panorama dos educadores do MOVA - Guarulhos mostra que sessenta e quatro por cento são
casados, a maioria tem filhos. A nacionalidade é totalmente Brasileira, já em relação à região de origem devido
certa dificuldade por parte dos entrevistados para responder a esta questão não foi possível identificar, logo este
dado não estará neste relatório.
A maioria destes educadores reside no município há mais de 20 anos. Quanto à etnia, estes educadores
se auto declaram a maioria: brancos, negros e pardos, sendo que uma parte significativa dos entrevistados não se
declarou (31%).
Sobre a religião a maioria se auto declarou Cristã, porém com várias subdivisões; Católicos, Espíritas e
Evangélicos (de várias denominações), a parcela da população que não se declarou Cristã é adepta do Budismo,
Candomblé e Umbanda. Nesta questão dezenove por cento dos entrevistados também não responderam.
Em relação, a questão 25 que fala sobre a ajuda de custo recebida no MOVA constatamos a metade
depende desta ajuda como fonte principal para sua renda.
52
FORMAÇÃO E TRABALHO
Para traçar o perfil dos educadores no que tange a sua formação e também ao seu trabalho nos detemos
na pesquisa realizada através dos questionários, desta forma, tudo o que foi considerado por tal relatório teve
como foco os 190 participantes atuantes no MOVA.
Do total de educadores entrevistados, todos iniciaram o ensino fundamental e apenas um não se formou.
Por conseguinte, noventa e oito por cento iniciaram o ensino médio e somente três não concluíram, sendo que
um terço daqueles que iniciaram o ensino médio, o fizeram junto com o curso normal e/ou magistério, e desses,
noventa e cinco por cento concluíram. Do total de pesquisados, cerca de quarenta por cento iniciaram o ensino
superior e, um pouco mais de um quinto deles se formaram. Apenas cinco por cento iniciaram a especialização,
sendo que apenas um por cento do total de educadores concluiu. Além dessas informações, conclui-se que
aqueles que assinalaram entre público e privado têm o ensino básico cursado a maioria no ensino público,
enquanto que o ensino superior e especialização a maioria cursou no ensino privado.
Daqueles que assinalaram terem curso superior, a metade não assinalou qual curso fez. Dos assinalados, o curso
com maior destaque foi o de Pedagogia com dezenove por cento, porém se analisarmos os cursos que podem
contar com licenciatura, chegamos a quarenta e dois por cento. Desses com grau universitário, cerca de um terço
teve contato com disciplinas de educação de jovens e adultos. Daqueles que fizeram curso com possibilidade de
licenciatura (42%), trinta e seis por cento afirmaram terem contato com disciplinas de EJA, o que podemos
considerar como um bom número.
Outro dado interessante é que metade dos educadores entrou no ensino fundamental com idade ideal,
considerada sete anos, sendo que quarenta por cento deles nunca interrompeu os estudos, e outros quarenta por
cento interromperam por uma vez; nessa pesquisa não foi contemplada por quanto tempo foi essa interrupção,
nem se completaram os estudos após essa parada na escola regular, ou em programas de aceleração, supletivo,
EJA... Soma-se a isso a afirmação que metade não informou a quanto tempo parou de estudar. Uma possibilidade
é de que a questão não tenha sido tão clara, outra possibilidade é que continuem estudando, afinal esse campo
não foi aberto na questão, apenas uma pessoa informou. Das respostas, metade parou a mais de 10 anos e a outra
metade com menos de 10 anos.
Em relação ao tempo em atividade, quase metade leciona de 2 a 4 anos e trinta e três por cento a mais
de 4 anos, dessa forma é possível compreender que a maioria dos educadores do MOVA já possui uma certa
experiência em lecionar.Dos educadores entrevistados, trinta e oito por cento afirmam já ter tido experiência com
educação de jovens e adultos. Dos que afirmam ter experiência, trinta por cento obtiveram no “Educar para
Mudar”, e dezoito por cento no “MOBRAL”, sendo Guarulhos, com quase setenta por cento, a cidade onde
conseguiram essa experiência. Desses que trabalharam em outro programa de alfabetização a maioria o fez por
até três anos. Assim sendo, a maioria dos educadores tem como experiência didática o próprio MOVA.
Apenas um quarto deles leciona em outra rede de ensino. Desses que lecionam em outra rede de ensino,
sessenta por cento são no ensino público estadual. Porém, a pesquisa não analisou em que níveis do ensino
trabalham: educação infantil, ensino fundamental ou ensino médio.
Metade dos educadores afirma trabalhar no MOVA por opção, gosto e identificação com o MOVA e os
educandos jovens e adultos, e vinte e nove por cento afirmam estarem envolvidos com o MOVA pela relação
com a comunidade local. Apenas treze por cento afirmaram ser pela remuneração, porém metade deles afirma ter
53
o MOVA como única ou principal fonte de renda. Com isso é possível supor que muitos entraram no MOVA por
gosto, mas hoje são dependentes da sua remuneração, transformando o prazer em trabalho.
Por fim, a maioria afirma estar preparado(a) para lecionar no MOVA. Metade deles afirma que o MOVA é a
única ou principal fonte de renda. E apenas doze por cento afirmam não depender muito dessa remuneração.
Quase setenta por cento participam de entidades/organizações sociais. E desses, um terço participa de
entidades/organizações religiosas, e outros vinte e cinco por cento de associações de moradores.
Portanto, a partir da análise dos questionários notam-se algumas características importantes sobre as
formações e continuada além de nos possibilitar ver que os educadores que lecionam hoje no MOVA já tiveram
alguma experiência profissional e, finalmente, o quanto esse movimento de alfabetização influencia na vida de
cada educador.
54
PRÁTICAS CULTURAIS
As questões acerca das práticas culturais que envolvem os educadores do MOVA, entrevistados por esta
pesquisa, apresentam alguns dados valiosos sobre aqueles que estão à frente das salas de alfabetização desse
movimento, principalmente ao que diz respeito sobre a concentração de respostas em atividades mais rotineiras e
de fácil acesso.
Tal afirmação deve-se ao fato de que menos de dez por cento dos educadores entrevistados afirmam ir
com freqüência a museus, cinemas e teatros, a esses lugares o que prevalece são as opções nunca ou raramente.
Já, atividades como ouvir noticiários ou outros programas em rádio ou televisão, assistir a DVDs, filmes e shows
na televisão, ir à igreja, sair com os amigos e passear com a família foram fortemente assinaladas concentrando
mais de cinqüenta por cento dos educadores, se forem somadas as opções freqüentemente e às vezes.
Todas essas informações recolhidas deixa bem claro as atividades mais procuradas e realizadas pelos
educadores e, principalmente, os meios culturais que eles usufruem, apresentando assim, possíveis dificuldades
que não os fazem desfrutar de outros meios culturais. Uma das hipóteses seria a questão financeira, uma vez que
para assistir a espetáculos teatrais e a shows é necessário desembolsar alguma quantia em dinheiro que para os
nossos educadores e uma grande parcela da população brasileira se torna inviável pensar nessa idéia ao final do
mês, contudo no município de Guarulhos há dois lugares de lazer bem conhecidos que são o Centro de Educação
Municipal Adamastor, localizados no centro da cidade e no bairro dos Pimentas, nos quais durante o ano há
atividades culturais, como as citadas acima. A partir dessa informação pode vir à tona outra hipótese acerca da
não-participação em atividades diferenciadas que consiste em argumentar sobre a falta de costume ou da
distância cultural entre essas atividades e os educadores, isto é, os educadores do MOVA, assim como outras
pessoas em nosso ambiente social, não se sentem pertencentes desse meio cultural, edificaram uma visão um
tanto conturbada atribuindo a estas atividades algum status que elas mesmas não acreditam possuir, isso é
supostamente afirmado devido ao pouco contato dos educadores apesar da existência desses lugares no
município. Todavia, é importante ressaltar que devido à abrangência do município e a quantidade populacional
que deveria usufruir desses espaços, a quantidade de locais de lazer, como quadras de esportes, praças com
playground e os próprios teatros “Adamastor”, citados anteriormente, não são suficientes para atender a demanda
populacional em questão.
Outro ponto importante a ser destacado é a fato da leitura, um ato muito importante e merecedor de
destaque neste relatório devido a sua importância para a missão assumida por eles. Dessa forma, o que se pode
destacar é o fácil acesso a jornais e revistas, visto que um número considerável, afirma ter contato com este tipo
de material. Vale ressaltar que os estilos de revistas lidos pelos educadores são diversificados, indo de revistas de
informação a fofocas, músicas e outras, contudo as três que tiveram um maior índice são as de informação
(VEJA, Istoé, Época) e as de religião. Já, no que diz respeito a leitura de livros, nota-se que um número
considerável leu entre 1 a 3 livros e, respectivamente, outra metade leu entre 4 a 6 livros, somente sete
educadores afirmam não terem lido nenhum livro.
Todavia, associado a esses números está à questão em que envolve a sugestão da equipe formadora do
MOVA, é interessante observar que apenas dezessete por cento não se ativeram a sugestão dos seus
coordenadores. Dentre os autores dos livros lidos, destaca-se o autor Paulo Freire, provavelmente pela sua forte
55
influência e pioneirismo no que tange a educação de jovens e adultos, também são citados autores importantes à
nossa literatura brasileira como Monteiro Lobato, Cecília Meireles e José de Alencar.
Como último ponto a ser ressaltado, sempre com embasamento nas pesquisas vem à tona um
instrumento tecnológico percebido como não tão próximo dos educadores do MOVA como se esperava devido a
sua função e utilidade - o computador, seu acesso e manuseio no dia-a-dia.
Tal suposição é válida, pois um número razoável de educadores afirma não utilizar desse meio para
nenhum serviço, e dentre os outros educadores, há a afirmação de utilizá-los para entretenimento, atualização nas
notícias, outros serviços que o acesso a rede permite e, também, para a preparação das atividades do MOVA. O
que torna esse fato interessante é que não há uma grande parcela dos educadores acessados à rede e utilizando
este instrumento numa era considerada como a era digital e tecnológica, logo, percebe-se que essa é uma barreira
a ser derrubada, visto que o acesso a esse meio não deve só ser facilitado, mas principalmente, ensinado.
Por fim, tal pesquisa em relação às práticas culturais ressaltou a necessidade de se superar dificuldades e
ampliar o acesso a esses distantes e tão necessários conhecimentos, pois a uma pessoa que assume a
responsabilidade de trabalhar com a educação, não importando a área em que leciona, faz-se necessário se
manter atualizado, conhecer, participar e transmitir diversos meios culturais, contudo, não se pode julgar esses
educadores e afirmar que eles não se interessam, não buscam ou não querem esse acesso, o problema está, ou
melhor, a transformação encontra-se no trabalho de difundir essa cultura um pouco mais erudita, de fazê-los
pertencentes a ela.
56
CONCLUSÃO
Entender a realidade dos educadores populares do MOVA-Guarulhos é apenas uma maneira da
Universidade inserir-se na comunidade e comungar dos seus conhecimentos.
Essa pesquisa foi, é, e será uma ferramenta de análise de uma pequena parte da população do bairro dos
Pimentas, pequena porém significativa por tratar-se de pessoas que em muito representam a própria comunidade,
e por representarem essa comunidade é possível pensar em uma Universidade que se abra a comunidade em
geral e não somente aos educadores.
Com esse diagnóstico é possível concluir que existem poucos espaços de lazer e cultura no bairro; fato
esse que implica em toda comunidade. Outro ponto interessante é o de boa parte desses educadores fazerem
parte de alguma entidade/organização social, o que representa que há um número considerável de pessoas
organizadas em prol de algo no bairro, porém falta compreender qual papel cada entidade/organização cumpre
nessa comunidade.
Em relação a formação, também é possível compreender a realidade desses educadores como a
realidade de um todo. Educação básica em escola pública, e aqueles que vão a universidade, em maior parte em
universidades privadas. Como pensar essa realidade dentro de uma universidade pública em uma região
periférica do município mais populoso da região metropolitana de São Paulo? Quantas pessoas da comunidade
estudam na Unifesp? Quantas pessoas sabem o que é uma universidade, e a que e a quem serve? Quantas pessoas
sabem que existe uma universidade no bairro e que ela é pública?
Como proposta inicial do grupo que iniciou em 2008, a unidade curricular de Práticas Pedagógicas
Programadas com tema de Educação de Jovens e Adultos seria um laboratório com intuito de buscar a inserção
da universidade na comunidade e, a inserção da comunidade na universidade. Esse relatório encerra-se com a
perspectiva de contribuir em projetos de pesquisa e extensão da Unifesp, além da devolutiva para os próprios
educadores, de se identificarem como tal, e refletirem sua própria ação educativa.
57
ANEXO I
TABELAS E ANÁLISES
1 - FAIXA ETÁRIA
Faixa Etária Total Proporção (%)
Menos de 18 anos 00 0%
De 18 a 25 anos 20 10%
De 26 a 35 anos 53 28%
De 36 a 45 anos 68 36%
De 46 a 59 anos 45 24%
Acima de 60 anos 04 2%
10% desta população são jovem, 90% é considerada adulta.
TABELA 2 - SEXO
Sexo Total Proporção (%)
1 - Feminino 169 89%
2 – Masculino 13 9%
3 – Sem definição/ resposta 03 2%
Esta população é majoritariamente do sexo feminino (89%).
TABELA 3 - COMO VOCÊ SE DEFINE EM RELAÇÃO À COR E/OU RAÇA/ETNIA?
Definição - cor e/ou raça/etnia Total Proporção (%)
Branco(a) 58 30%
Pardo(a) 45 24%
Moreno(a) 03 2%
Negro(a) 18 9%
Mestiça 03 2%
Amarelo(a) 02 1%
Indígena 01 1%
Sem definição/ resposta 60 31%
Muitos entrevistados ficaram sem responder esta questão (31). A maior parte da população se auto declarou
branca, parda e negra.
TABELA 4 - NACIONALIDADE
Nacionalidade Total Proporção (%)
1 - Brasileira 190 100%
2 – Se qual outra: 00 0%
População total tem nacionalidade brasileira
TABELA 5 – REGIÃO ONDE NASCEU?
58
Região onde nasceu Total Proporção (%)
1 – Centro Oeste 07 4%
2 - Nordeste 55 29%
3 - Norte 06 3%
4 - Sudeste 111 58%
5 - Sul 11 6%
A maioria dos entrevistados tem sua origem na região Sudeste (58%), depois são da região Nordeste (29%),
seguida pela região sul (6%), por fim vem às partes Centro Oeste (4%) e a região Norte (3 %) com empate
técnico.
TABELA 6 - ESTADO CIVIL
Estado Civil Total Proporção (%)
1 - Casado(a) 122 64%
2 – Solteiro(a) 41 21%
3 – Separado(a) judicialmente 11 6%
4 – Viúvo(a) 07 4%
5 - Outra 09 5%
A maioria desta população é casada (64%) e (21%) solteira.
TABELA 7 – NÚMERO DE FILHOS
Número de Filhos Total Proporção (%)
1 - Nenhum 36 19%
2 – 1 48 25%
3 – 2 49 26%
4 – 3 ou mais 57 30 %
19% não têm filhos, 25% têm 1 filho, 26 têm 2 filhos e 30% têm 3 filhos ou mais.
8 - RELIGIÃO
Religião Total Proporção (%)
Sem definição/ resposta 37 19%
Evangélica 56 29%
Católica 74 39%
Protestante 04 2%
Testemunha de Jeová 01 1%
Espírita 06 3%
Candomblé 01 1%
Budista 04 2%
Umbanda 01 1%
Adventista 06 3%
59
Esta população é majoritariamente Cristã.
9-RESIDE EM GUARULHOS HÁ QUANTO TEMPO?
1-( )até 5 anos 9 5%
2-( )de 6 há 10 anos 19 10%
3-( )de 11 a 20 anos 76 40%
4-( )21 a 30 anos 34 18%
5-( )31 anos ou mais 25 13%
6-( )Sempre viveu em Guarulhos 27 14%
Dentre as opções 40% das pessoas reside em Guarulhos de 11 a 20 anos, porém se comparada a questão 1 onde
35% das pessoas tem entre 36 e 45 anos, logo é possível entender que eles chegaram em Guarulhos na sua fase
de desenvolvimento econômico, dos anos 80 em diante. Se verificarmos um grupo maior, de 11 a 30 anos que
residem em Guarulhos são 58% dos educadores, do mesmo modo que de 26 a 45 anos de idade são 63%, o que
pode confirmar a hipótese.
10-ASSINALE SEU NÍVEL DE ESCOLARIDADE
10a-( )fundamental:
1-( )completo ou 189 99%
2-( )incompleto 1 1%
1-( )público ou 76 95%
2-( )privado 4 5%
10b-( )ensino médio:
1-( )completo ou 182 98%
2-( )incompleto 3 2%
1-( )público ou 83 93%
2-( )privado 6 7%
Três pessoas não completaram o Ensino Médio e 4 não responderam.
10c-( )normal ou magistério:
1-( )completo ou 60 95%
2-( )incompleto 3 5%
1-( )público ou 32 82%
2-( )privado 7 18%
Dos que completaram o Ensino Médio, 30% fizeram também o curso normal ou magistério.
De todas respostas, metade ou mais não assinalaram entre público ou privado, porém dos que assinalaram a
maioria concluiu essas etapas de escolarização no ensino público.
10d-( )superior:
1-( )completo ou 41 56%
2-( )incompleto 32 44%
1-( )público ou 2 4%
60
2-( )privado 45 96%
Quase 40% deles iniciaram o Ensino Superior, porém um pouco mais da metade deles concluiu. Sendo nesse
item, aqueles que assinalaram, quase 100% cursaram em faculdade particular.
10e-( )especialização:
1-( )completo ou 2 40%
2-( )incompleto 3 60%
1-( )público ou 1 25%
2-( )privado 3 75%
Apenas 2,5% do total iniciaram especialização, metade deles tendo concluído, novamente desses, 75% sendo em
faculdade particular.
10f-( )mestrado/doutorado:
1-( )completo ou 0 0%
2-( )incompleto 0 0%
1-( )público ou 0 0%
2-( )privado 0 0%
Sem comentários
Do total de 190 educadores:
100% iniciaram o ensino fundamental.
99,5% desses se formaram.
97,4% iniciaram o Ensino Médio.
95,8% se formaram no Ensino Médio.
33,2% iniciaram a escola normal ou magistério.
31,6% concluíram a escola normal ou magistério.
38,4% iniciaram o Ensino Superior.
21,6% se formaram no Ensino Superior.
2,6% iniciaram a especialização.
1,1% do total concluíram a especialização.
Do total de 182 educadores que concluíram o Ensino Médio:
38,4% iniciaram o Ensino Superior.
22,5% desses se formaram no Ensino Superior.
Do total de 182 educadores que concluíram o Ensino Médio:
34,6% iniciaram a escola normal ou magistério.
33% desses concluíram a escola normal ou magistério.
11-CASO TENHA FEITO SUPERIOR, ESPECIALIZAÇÃO, MESTRADO OU DOUTORADO, QUAL(IS)
CURSOS?
sem definição 36 49%
61
educação artística 2 3%
administração 1 1%
Pedagogia 14 19%
Marketing 1 1%
Gestão Logistica 1 1%
Letras 6 8%
Biologia 1 1%
Matemática 2 3%
Letras/Espanhol 1 1%
Arquitetura e Urbanismo 1 1%
Engenharia Genética 1 1%
Geografia 2 3%
Psicologia 3 4%
Psicopedagogia 2 3%
Farmacia e Bioquimica 1 1%
A metade não assinalou qual curso superior cursou. Dos assinalados o curso com maior destaque foi a Pedagogia
com 19%, porém se analisarmos os cursos que contam com licenciatura chegamos a 42%.
12-REALIZOU DISCILPLINAS/CURSO RELACIONADAS A EJA/MOVA DURANTE A GRADUAÇÃO?
1-( )Sim 26 36%
2-( )Não 47 64%
Dos que iniciaram o Ensino Superior, apenas 36% tiveram contato com disciplinas de educação de jovens e
adultos. Dos que assinalaram o curso, 42% cursaram cursos que podem ser licenciatura, e em sendo 36% deles
tiveram contato com EJA, é possível entender que a maioria desses cursos trabalha com EJA.
13- COM QUAL IDADE VOCÊ INICIOU A 1a SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL?
sem definição 22 12%
menos ou igual a 5 anos 3 2%
6 anos 26 14%
7 anos 101 52%
8 anos 17 9%
9 anos ou mais 21 11%
Nessa questão, metade dos educadores entraram no ensino fundamental com idade ideal. Se considerarmos que
cerca de 90% entrou na escola antes dos anos 90, onde se buscou colocar todas as crianças na escola, temos um
número razoável.
14-VOCÊ ALGUMA VEZ INTERROMPEU OS ESTUDOS?
1-( )Não 77 40%
2-( )Só uma vez 76 40%
62
3-( )Sim, mais de uma vez 32 17%
4-( )Não lembro 5 3%
Menos da metade, 40% nunca interrompeu os estudos, 40% também afirmaram interrompe-los por uma vez,
porém na pesquisa não foi contemplado por quanto tempo foi essa interrupção. Se completaram os estudos após
essa parada na escola regular, ou em programas de aceleração, supletivo, EJA...
15-SE VOCÊ NÃO ESTÁ ESTUDANDO, HÁ QUANTO TEMPO PAROU DE ESTUDAR NO ENSINO
FORMAL (ESCOLA OU FACULDADE)?
sem definição 97 51%
mais de 11 anos 28 15%
de 6 a 10 anos 19 10%
até 5 anos 44 23%
continua estudando 1 1%
Metade não informou a quanto tempo parou de estudar. Uma possibilidade é de que a questão não tenha sido tão
clara. Outra possibilidade é que continuem estudando, afinal essa campo não foi aberto na questão, apenas uma
pessoa informou. Das respostas, metade parou a mais de 10 anos e a outra metade com menos de 10 anos.
16-HÁ QUANTO TEMPO LECIONA NO MOVA DE GUARULHOS?
1-( )1 ano 40 21%
2-( )2 a 4 anos 88 46%
3-( )mais de 4 anos 62 33%
Quase metade lecionam de 2 a 4 anos, e 33% a mais de 4 anos. É possível compreender que a maioria dos
educadores do MOVA já possui uma certa experiência no “programa”.
17-VOCÊ JÁ TRABALHOU EM OUTRO PROJETO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS ANTES DO
MOVA?
1-( )Sim 72 38%
2-( )Não 118 62%
Desses educadores cerca de um terço, 38%, afirmaram já ter experiência com educação de jovens e adultos.
18-SE SIM:
QUAL(IS):
IBEAC 4 5%
MOBRAL 12 16%
Brasil Alfabetizado 5 7%
APEP 2 3%
Educar para mudar 22 30%
MEC 1 1%
EFA 1 1%
63
Ler e escrever 1 1%
Iderol (empresa) 1 1%
Cáritas 6 8%
CCECAS 1 1%
Saber Mais 3 4%
Particular 3 4%
Outros 13 18%
CIDADE(S)
São Paulo 2 3%
Ferraz de Vasconcelos 2 3%
Guarulhos 51 69%
Guaianazes 2 3%
Recife (PE) 1 1%
Icó (CE) 1 1%
Corrente (PE) 3 4%
Afogados de Inganzeira (PE) 1 1%
Outros 11 15%
Dos que afirmaram ter experiência 30% obtiveram no Educar para Mudar, e 18% no MOBRAL. Sendo
Guarulhos, com 69%, a cidade onde conseguiram essa experiência.
19-SE SIM, QUANTO TEMPO LECIONOU?
1-( )até 3 anos 51 69%
2-( )de 4 a 6 anos 15 21%
3-( )de 6 a 10 anos 5 7%
4-( )de 11 a 15 anos 2 3%
5-( )mais de 16 anos 0 0%
Dos que afirmaram trabalhar em outro programa, 69%, ficaram até no máximo 3 anos. Se compararmos com a
questão de 16, é possível verificar que esses educadores, a maioria, tem como experiência o MOVA.
20-LECIONA EM OUTRAS REDES DE ENSINO REGULAR ALÉM DO MOVA?
1-( )Sim 47 25%
2-( )Não 143 75%
Apenas 25% dos educadores lecionam em outra rede de ensino.
21-SE SIM, NO ENSINO:
1-( )Público municipal 5 10%
2-( )Público estadual 30 60%
3-( )Público federal 0 0%
4-( )Particular 9 18%
64
5-( )outros 6 12%
Desses que lecionam em outra rede de ensino, 60% são o ensino público estadual. Porém a pesquisa não analisou
em que nível do ensino trabalham: educação infantil, ensino fundamental ou ensino médio. Porém como a
maioria leciona no público estadual é possível chegar a conclusão de que a maioria deles atuam no ciclo II do
ensino fundamental e médio.
22-POR QUÊ ESTÁ LECIONANDO NO MOVA? PODE ASSINALAR MAIS DE UMA RESPOSTA
1-( )Por opção, gosto e identificação com o MOVA e com os educandos
jovens e adultos.
156 50%
2-( )Pela relação com a comunidade local 91 29%
3-( )Pela remuneração 39 13%
4-( )Pela falta de oportunidade no ensino regular 13 4%
5-( )Outras respostas: 14 4%
Metade dos educadores afirmam trabalhar no MOVA por opção, gosto e identificação com o MOVA e os
educandos jovens e adultos, e 29% pela relação com a comunidade local. Apenas 13% afirmaram ser pela
remuneração, porém na questão 25, metade deles afirmam ter o MOVA como única ou principal fonte de renda.
Com isso é possível supor que muitos entraram no MOVA por gosto, mas hoje são dependentes da sua
remuneração, transformando o prazer em trabalho.
23-VOCÊ SE SENTE PREPARADO PARA DAR AULAS NO MOVA?
1-( )sim 179 94%
2-( )não 9 5%
3-( )não respondeu 2 1%
A maioria afirma estar preparado(a) para lecionar no MOVA.
24-SE NÃO, CITE 3 MOTIVOS?
1-( )Falta de identificação com a função 6 30%
2-( )Falta de apoio da prefeitura 6 30%
3-( )Muitos alunos 0 0%
4-( )Falta de condições da sua sala 5 25%
5-( )Outras respostas: 3 15%
Dos educadores apenas 6% que afirmaram não estarem preparados, 30% são por falta de identificação com a
função, e outros 30% por falta de apoio da prefeitura.
25-A AJUDA DE CUSTO RECEBIDA NO MOVA É:
1-( )Sua única fonte de renda 63 33%
2-( )Sua principal fonte de renda 28 15%
65
3-( )É aproximadamente equivalente a metade da sua renda 43 23%
4-( )É menor que metade da sua renda 23 12%
5-( )Não representa muito na renda do mês 22 12%
6-( )não respondeu 10 5%
Metade deles afirmam o MOVA ser a única ou principal fonte de renda. E apenas 12% afirmam não depender
muito dessa remuneração.
OBS.: Essa questão pode ser separada entre gênero, raça/etnia, idade, formação escolar e religião.
26-PARTICIPA DE MOSTRAS/EVENTOS REALIZADOS PELA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
GUARULHOS? COMO POR EXEMPLO, A MOSTRA "QUEM É EJA QUE APAREÇA”
1-( )Sim 139 73%
2-( )Não 51 27%
Do total de educadores 76% deles afirmam participar das atividades programadas pela prefeitura, porém esse
número deveria ser de 100% uma vez que são atividades obrigatórias.
27-QUAL MATERIAL DIDÁTICO TEM UTILIZADO EM SUA PRÁTICA?
1-( )Livros didáticos 55 10%
2-( )livros diversos 124 23%
3-( )Material cedido pela prefeitura de Guarulhos 87 16%
4-( )Jornais 96 18%
5-( )Revistas 107 20%
6-( )Outros: 74 13%
Nessa questão, houve pouca diferença de um item sobre outro, os educadores optando mais por utilizarem
revistas e livros diversos.
28-LÊ JORNAL E/OU REVISTA?
1-( )Diariamente 85 46%
2-( )Uma vez por semana 37 20%
3-( )Duas vezes por semana 36 19%
4-( )Dificilmente lê jornal 28 15%
Quase metade dos educadores afirmaram ler diariamente jornal, e apenas 15% afirmam ler pouco, o que nos faz
acreditar que a maioria parece agregar algum tipo de informação por esse veículo de imprensa.
29-QUAL(IS) TIPO(S) DE REVISTA(S) ABAIXO COSTUMA LER? (PODE ASSINALAR MAIS DE UMA
OPÇÃO)
1-( )De informação semanal (Veja, Época, Isto é) 124 29%
2-( )Fofocas e novelas (Caras, Contigo, Amiga) 27 6%
3-( )Femininas (Cláudia, Nova, Marie Clarie) 17 4%
4-( )De culinária, corte e costura, tricô e crochê ou artesanato 42 10%
66
5-( )Especializadas (saúde, informática, esportes, viagens) 44 10%
6-( )Eróticas (Playboy, Sexy, Vip) 1 0%
7-( )De religião 73 17%
8-( )Quadrinhos, gibi, humor 33 8%
9-( )Música 25 6%
10-( )Outras: 35 8%
Com 29% as revistas de informação são as mais lidas pelos educadores, ficando em segundo lugar com 17% as
de religião.
30-QUANTOS LIVROS VOCÊ LEU NOS ULTIMOS SEIS MESES?
1-( )Nenhum 7 4%
2-( )de 1 a 3 livros 110 58%
3-( )de 4 a 6 livros 51 27%
4-( )de 7 a 9 livros 16 8%
5-( )mais de 10 livros 5 3%
Mais da metade, 58%, afirmam terem lido de 1 a 3 livros e 27% terem lido de 4 a 6 livros nos últimos 6 meses,
ou seja, 75% dos educadores tem uma média considerada razoável de leitura. Apenas 4% afirmam não ter lido
nenhum.
31-DOS LIVROS QUE LEU, QUANTOS FORAM SUGERIDOS PELA EQUIPE DE FORMAÇÃO DE
EDUCADORES DO MOVA?
1-( )Nenhum 32 17%
2-( )de 1 a 3 livros 130 69%
3-( )de 4 a 6 livros 26 14%
4-( )de 7 a 9 livros 0 0%
5-( )mais de 10 livros 0 0%
Dos livros sugeridos pela equipe da prefeitura, ficam 69% dos educadores, apenas 14% afirmam não ter lido
nenhum livro sugerido. É possível concluir que apesar da média alta de leitura, a maioria leu por obrigação.
32-DOS LIVROS QUE JÁ LEU E TENHA GOSTADO MUITO, CITE UM OU MAIS E/OU O NOME DO
AUTOR:
Machado de Assis 8 4%
Cecília Meireles 30 14%
Paulo Freire 75 33%
Monteiro Lobato 23 11%
José de Alencar 21 9%
Paulo Coelho 3 1%
Regina Ziberman 1 0%
Emilia Ferreira 3 1%
67
Graciliano Ramos 2 1%
Clarice Linspector 3 1%
Outros 55 25%
É preciso salientar que nessa questão foram pedidos nomes de livros e autores. Por critérios de tabulação,
classificamos apenas em autores, e os livros citados distribuímos nos respectivos autores.
Um terço citou Paulo Freire como o mais lido, 14% citaram Cecília Meireles e 11% Monteiro Lobato, ou seja,
58% dos autores mais lidos foram sugeridos pela equipe da prefeitura, o que pode comprovar a hipótese anterior
de que a maior parte das leituras foi feita por obrigação.
33-INDIQUE COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ:
33a-Vai ao cinema:
( )freqüentemente 10 5%
( )as vezes 59 31%
( )raramente 86 46%
( )nunca 33 18%
Quase metade dos educadores afirma ir raramente ao cinema. Dois pontos a serem discutidos: Falta de costume?
Não faz parte da cultura desses educadores? Ou falta de salas de cinema próximas a moradia e trabalho deles?
33b-Vai ao teatro:
( )freqüentemente 6 3%
( )as vezes 54 29%
( )raramente 76 40%
( )nunca 53 28%
28% nunca vão ao teatro e 40% raramente. Novamente as mesmas questões: é cultural ou falta de oportunidade?
Além disso, as opções que existem são acessíveis financeiramente?
33c-Assiste a shows de música ou dança:
( )freqüentemente 14 7%
( )as vezes 62 33%
( )raramente 54 29%
( )nunca 59 31%
60% nunca assistem ou raramente, contra 40% que assistem e freqüentam.
As diferenças percentuais vão diminuindo ao passo que torna-se mais popular o lazer.
33d-Ouve noticiário no rádio:
( )freqüentemente 111 59%
( )as vezes 51 27%
( )raramente 17 9%
( )nunca 10 5%
68
88% ouvem noticiário no rádio as vezes ou freqüentemente, sendo 59% freqüentemente, ou seja, o rádio é algo
bem difundido nos lares e na cultura brasileira.
33e-Ouve outros programas no rádio:
( )freqüentemente 77 41%
( )as vezes 66 35%
( )raramente 31 16%
( )nunca 15 8%
76% ouvem outros programas no rádio as vezes ou freqüentemente.
33f-Assiste a vídeos e DVD’s em casa:
( )freqüentemente 124 66%
( )as vezes 49 26%
( )raramente 10 5%
( )nunca 6 3%
92% assistem freqüentemente ou as vezes DVD’s em casa, sinal de que o aparelho de DVD e sua prática
também é bem difundida entre os educadores.
33g-Assiste noticiário na TV:
( )freqüentemente 159 84%
( )as vezes 25 13%
( )raramente 4 2%
( )nunca 1 1%
97% Assistem noticiário na televisão, desses 84% assistem com freqüência. A televisão é um eletrodoméstico
mais que popular, e o telejornal parece ser a principal fonte de informação dos educadores.
33h-Assiste filmes na TV:
( )freqüentemente 62 33%
( )as vezes 93 49%
( )raramente 30 16%
( )nunca 4 2%
82% assistem freqüentemente ou as vezes filmes na televisão.
33i-Assiste outros programas na TV:
( )freqüentemente 78 42%
( )as vezes 75 40%
( )raramente 27 14%
( )nunca 8 4%
82% assistem freqüentemente ou as vezes outros programas na televisão.
A televisão parece ser o entretenimento e um dos modos mais instrutivos dos educadores, será que não é possível
fazer algum trabalho por meio de filmes, documentários e até mesmo os programas de televisão de canais
abertos?
33j-Vai a museus ou exposições:
69
( )freqüentemente 14 7%
( )as vezes 74 40%
( )raramente 66 35%
( )nunca 34 18%
Quase metade afirma ir freqüentemente ou as vezes em exposições ou museus, porém só 7% o fazem
freqüentemente. Essa questão concentrou 75% das respostas em as vezes e raramente. Como quase não existem
opções de museus e exposições na cidade, pode-se considerar um número bom.
33l-Vai a igreja:
( )freqüentemente 116 62%
( )as vezes 49 26%
( )raramente 14 7%
( )nunca 9 5%
88% vão a Igreja freqüentemente ou as vezes, sendo 62% freqüentemente.
33m-Joga futebol:
( )freqüentemente 2 1%
( )as vezes 4 2%
( )raramente 21 11%
( )nunca 161 86%
97% afirmam nunca ou raramente jogarem futebol.
A pergunta poderia ser substituída por: Pratica atividades físicas?
33n-Passeia com a família:
( )freqüentemente 101 54%
( )as vezes 66 35%
( )raramente 13 7%
( )nunca 8 4%
89% passeiam com a família, sendo 54% o fazem freqüentemente.
33o-Sai com os amigos:
( )freqüentemente 33 18%
( )as vezes 78 41%
( )raramente 48 26%
( )nunca 29 15%
67% saem raramente ou as vezes com os amigos.
O que podemos concluir nessas 2 últimas questões é que a maioria dos educadores tem laços familiares mais
fortes que amizades.
34-QUAL SEU VINCULO COM A COMUNIDADE NA QUAL SUA SALA DE ALFABETIZAÇÃO ESTÁ
LOCALIZADA?
1-( )Reside 105 48%
70
2-( )Trabalha 41 19%
3-( )Estuda 6 3%
4-( )Tem familiares 26 11%
5-( )Outras respostas: 42 19%
Metade deles afirmam residir no local de suas salas de MOVA.
35-QUAIS ASSUNTOS MAIS TRABALHADOS COM SUA SALA DE MOVA?
1-( )Meio-ambiente 134 23%
2-( )Política 108 18%
3-( )Segurança pública 63 10%
4-( )Saúde 108 18%
5-( )Educação 138 23%
6-( )Outras respostas: 34 6%
Com exceção de segurança pública, todos os demais temas parecem ser bem abordados em sala. Se dividirmos a
quantidade de respostas (587) pelo número de educadores (190), temos uma média de quase 3 temas por
educador, sendo preferência meio-ambiente e educação.
36-OS(AS) ALUNOS (AS) PARTICIPAM DA ELABORAÇÃO DAS SUAS AULAS?
1-( )Sim 117 62%
2-( )Não 57 30%
3-( )Não sabe responder 15 8%
62% afirmam contar com a colaboração dos educandos para elaboração das aulas, o que também parece ser um
número bom.
37-SUA SALA DE MOVA PARTICIPA DE ATIVIDADES EXTRA-CURRICULARES FORA DO
AMBIENTE DO MOVA? SE SIM QUAIS?
1-( )não participa 63 23%
2-( )cinema 10 4%
3-( )teatro 35 13%
4-( )festas 54 20%
5-( )encontros religiosos 33 13%
6-( )exposições 44 16%
7-( )outros 28 11%
Quase um quarto dos educadores afirmam que suas salas não participam de atividades extra-curriculares, dos que
afirmam participar, 20% são em festas.
38-USA COMPUTADOR?
1-( )Não 64 21%
2-( )Para preparar as atividades do MOVA 85 29%
71
3-( )Para outros serviços 49 17%
4-( )Para entretenimento 26 9%
5-( )Para ficar atualizado nas notícias 52 18%
6-( )Outros: 18 6%
21% afirmam não usar computador e 29% para preparar atividades do MOVA, ou seja, metade deles não tem o
hábito de utilizar o computador.
39-COM QUE FREQUÊNCIA USA O COMPUTADOR?
1-( )1 vez por semana 18 9%
2-( )2 vezes por semana 25 13%
3-( )de segunda a sexta 13 7%
4-( )aos finais de semana 18 9%
5-( )diariamente 51 27%
6-( )não usa 66 35%
35% afirmam não usar computador, dado em contraste com a questão anterior onde 21% afirmam não usar. 14%
de diferença. Dos que utilizam, 27% afirmam usar diariamente e 7% de segunda a sexta, ou seja,
1/3 não utiliza
1/3 pouco utiliza
1/3 utiliza com freqüência
40-ENVIA E RECEBE E-MAILS?
1-( )Sim 87 46%
2-( )Não 103 54%
54% afirmam não utilizar emails, se retirarmos os 35% que não utilizam computador, sobram 19% que não
utilizam email. Hoje, século XXI, é possível compreender que o uso de correspondências eletrônicas pode
determinar algum nível de utilização de computadores. Esses números também podem auxiliar na comprrensão
se eles tem ou não prática com computadores.
41-PARTICIPA DE ORGANIZAÇÕES SOCIAS?
1-( )Sim 132 69%
2-( )Não 58 31%
69% participam de entidades/organizações sociais.
42-SE SIM, QUAL (IS)?
1-( )Associações religiosas 75 33%
2-( )Organizações não-governamentais 40 18%
3-( )Associações de moradores 52 24%
4-( )Grupos ligados ao atendimento de crianças, adolescentes e jovens 39 17%
72
5-( )Partido Político 13 6%
6-( )outras respostas: 5 2%
Desses que afirmam participar de entidades/organizações sociais:
1/3 participam de entidades/organizações religiosas.
1/4 participam de associações de moradores.
Nesse item os educadores podiam responder a mais de uma opção.
RELATÓRIO DOS QUESTIONÁRIOS PENDENTES
No 2; 22; 39; 40; 47; 53; 64; 65; 66; 67; 68; 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 89; 97; 115; 135; 178; 181;
186; 187; 188; 189; 191; 193; 195; 197; 198; 199; 201; 202; 203; 205; 207; 211 a 230 e 294 faltando
No 12, 13, 55, 69; 161 incompletos e não utilizados na tabulação
No 52 está incompleto, porém foi utilizado na tabulação
No 41 e 116; 117; 118; 119; 120; 139 a 160; 251 a 280 estão em branco
Uma pessoa mencionou falta de uma faculdade que prepare para o ensino do MOVA