UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA ALDO PERRONI DE QUEIROZ MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO “UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E IMPLICAÇÕES GENÉTICAS Salvador – BA 2019
49
Embed
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS ...
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GEOLOGIA
ALDO PERRONI DE QUEIROZ
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES
AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO
“UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E
IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
Salvador – BA
2019
ALDO PERRONI DE QUEIROZ
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES
AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO
“UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E
IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
Monografia apresentada ao Curso de Geologia,
Instituto de Geociências, Universidade Federal
da Bahia como requisito parcial para obtenção
do grau de Bacharel em Geologia
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo
Santana Correia de Brito
Salvador – BA
2019
TERMO DE APROVAÇÃO
ALDO PERRONI DE QUEIROZ
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES
AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO
“UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E
IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
Trabalho final de graduação aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
1º Examinador – Prof. Dr. Reinaldo Santana Correia de Brito – Orientador
Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia
2º Examinador – Prof. Dr. João Batista Teixeira Guimarães
Geólogo Consultor Independente
3º Examinador – Geólogo Eldes Bitencourt Camurugy
Yamana Gold Inc. – Jacobina Mineração e Comércio
Salvador, 29 de novembro de 2019
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA), com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
de Queiroz, Aldo Perroni Modelo descritivo das mineralizações auríferasrelacionadas ao corpo de minério Unidade Superior noalvo Jacobina-SE, Bahia e implicações genéticas / AldoPerroni de Queiroz. -- Salvador, 2019. 49 f. : il
Orientador: Reinaldo Santana Correia de Brito. TCC (Graduação - Geologia) -- Universidade Federalda Bahia, Instituto de Geociências, 2019.
1. Geologia Econômica / Metalogênese. 2. Modelodescritivo de mineralização. 3. Modelo genético demineralização. I. Brito, Reinaldo Santana Correia de.II. Título.
“’A vida mortal tem uma parte divina’. Assim
sendo, portanto, é preciso filosofar, ou ir
embora daqui de baixo dando adeus à vida,
visto que todo resto parece um amontoado de
futilidades e frivolidades” (Aristóteles)
AGRADECIMENTOS
À Virgem Maria e ao Nosso Senhor Jesus Cristo, que por meio de milagres cotidianos foram
fonte de toda força para continuar e concretizar este trabalho e para Eles todas as coisas.
A minha mãe Magali que é o grande exemplo de doação em minha vida e inspiração para
resiliência e perseverança, e por quem eu sou hoje como pessoa. A meu pai Aldo por todo
conselho, força e apoio, e por quem eu sou hoje como pessoa. A minhas irmãs Camila e
Paulinha que sempre foram e são escolas de amor dentro da difícil convivência familiar.
A minha namorada Luana pelos momentos bons e difíceis dessa caminhada.
A todos patriarcas e matriarcas das famílias Perroni e Queiroz, que carregaram bens imateriais
pelas gerações, em especial meus avós Didi, Edvaldo (in memoriam), Wagner (in memoriam)
e Esther. A toda família que sempre fez parte da minha história, da Bahia a Minas, Rio, São
Paulo e Santa Catarina, especialmente tia Rose, tio Milson.
Aos pais espirituais Pe. Josuel e Pe. Bene pelo discernimento e aos grandes amigos, meu
padrinho Victor e Silas (eremito), ao grupo SJPII e ao Bangkok Membership®.
Ao prof. Reinaldo que aceitou e me orientou nessa jornada árdua. A todos meus professores
do IGEO, especialmente Prof. Michel Holz pelo apoio na radiometria. A Antônio Marcos
(CBPM) pelas fotomictografias e a Francisca (UnB) pelas lâminas delgadas e polidas. Ao
prof. Johildo Barbosa, Rejane Lima e prof. Hailton Melo pelas experiências de estágio e
iniciação científica. Às colegas de estágio Laís, Francine e Jasmine e de IC Gabi.
A todo o grupo da exploração da Yamana (JMC) por todo aprendizado e pelo apoio, em
especial Pocay, Arthur, Eldes, Gabriel e Juliano. A equipe de estágio Geoelite que marcou a
JMC: Davi, Caetité, Raquel, Marcão e Nailson e a toda equipe de bancada e da Geologia.
A todos aqueles que se dispuseram a me ajudar no trabalho, alguns desses por falsas
promessas de cervejas, Gabriel (pelas imagens de drone), Brunão, Airton, Nilza (a intrusiva),
Glória e Ivson! Aos filhos da minha nova terra adotada Jacobina, Ângelo, Joel, Duchinha,
Alex mineirinho, Seu João meu presidente e sua exímia equipe de amostragem.
A todos colegas que de alguma forma fizeram parte da minha graduação, especialmente
Jéssica e Rebeca pelas imagens em CorelDRAW.
RESUMO
O depósito de ouro do alvo Jacobina-SE consiste de uma mineralização do tipo Au-U em
conglomerados de seixos de quartzo, da Formação Serra do Córrego, Grupo Jacobina. Este
trabalho apresenta o modelo descritivo do corpo de minério Unidade Superior da formação
supracitada. Foram realizados estudos de afloramentos, seções em garimpos, espacialização
cartográfica das informações, petrografia e análise por cintilometria de U. Os resultados
obtidos permitiram definir uma mineralização de ouro tipo reef, tendo como principal
característica o tamanho de seixos pequenos, muito pequenos e médios, que tem em seu topo
quartzitos com estruturas tipo espinha de peixe e na base um pacote de quartzito com seixos
médios a grandes. O pacote mineralizado é formado por 20 lentes de metaconglomerados bem
empacotados, em uma espessura total de 55 metros. A paragênse mineral consiste de fuchsita,
sulfetos, sericita, turmalina e hematita associadas a fraturas e falhas, veios de quartzo e ouro
dendrítico visível. Apresenta de assinatura de U radiométrico. Falhas do tipo strike-slipe
sinistrais de direção ENE-WSW deslocam o reef para oeste, falha N350 associada a minerais
de alteração hidrotermal, enquanto outras falhas ortogonais completam um sistema de cunhas
estruturais. Antigas cavas de garimpos ocorrem ao longo do reef em pontos de intensa
alteração hidrotermal e meteorização, próximo a falhas ENE-WSW, revelando uma possível
influência direta na mineralização. Correlação estratigráfica sugere duplicação por falha das
sequências de reefs no vale da Grotinha. Na petrografia dos litotipos observa-se a
superposição de reações de alteração hidrotermal e estruturas sedimentares e hidrotermais.
Por fim, o reef Unidade Superior possui características geológicas e metalogenéticas para ser
reconhecido e definido no depósito Jacobina-SE e apesar de reconhecer o modelo de placer
para a mineralização, com os dados apresentados, sugere-se uma correlação entre estruturas,
alterações hidrotermais e meteóricas e paragênese mineral para sua gênese.
with hydrothermal alteration minerals, while other orthogonal faults complete a system of
structural wedges. Old gold digs occur along the reef at points of intense hydrothermalism
and weathering, near ENE-WSW faults, revealing a possible direct influence on
mineralization. Stratigraphic correlation suggests fault duplication of the reefs sequences in
the Grotinha Valley. Overlapping hydrothermal alteration reactions and sedimentary and
hydrothermal structures are observed in petrography. Finally, the Upper Unity reef depicts
geological and metallogenetic features that allowed us to correlate with other occurrences in
metaconglomerates with the same stratigraphic position in the south of Jacobina belt. Despite
the hypotheses that the placer genetic model could be applied, with the data presented, we
would like to suggest a correlation between structures, hydrothermal and meteoric alterations
and mineral paragenesis for its genesis.
Keywords: Auriferous deposits. Jacobina-SE deposit. Upper Unit reef.
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
FIGURA 1.1: Mapa de localização e acesso a área de estudo................................................................11
CAPÍTULO 2
FIGURA 2.1: Coluna estratigráfica do Grupo Jacobina (modificado de Mascarenhas et al., 1998 e Reis
et al., 2017).............................................................................................................................................13
FIGURA 2.2: Estruturação geral da serra de Jacobina (Santos et al., 2018). ........................................14
FIGURA 2.3: Coluna estratigráfica da Formação Serra do Córrego. Pearson et al., 2005, modificado
de Molinari et al., (1987)........................................................................................................................16
CAPÍTULO 3
FIGURA 3.1: Principais unidades geotectônicas do CSF na Bahia. Modificado de Reis et al. (2017),
adaptado de Barbosa (1997), Barbosa et al. (2012), Sabaté et al. (1990) e Teixeira et al. (2001).........21
FIGURA 3.2: Mapa geológico da área de estudo com foco no reef Unidade Superior no Morro do
FIGURA 3.4: Lente de SMPC com cor típica de oxidação de sulfetos associada a fratura na cava poço
do Dionísio..............................................................................................................................................26
FIGURA 3.5: Estrutura em espinha de peixe no Hangingwall do reef Unidade Superior.....................27
FIGURA 3.6: Poço do Dionísio com sistema de cunhas esquematizadas na figura 3.8........................28
FIGURA 3.7: Seção esquemática da estrada e suas principais estruturas..............................................29
FIGURA 3.8: Seção esquemática do poço de Dionísio e suas principais estruturas..............................30
FIGURA 3.9: Seção central da área de estudo.......................................................................................31
FIGURA 3.10: Feição estrutural na Cava da brechinha e ouro associado.............................................32
FIGURA 3.11: Feições estruturais observadas em diferentes escalas da face leste do Morro do
Cruzeiro e o Unidade Superior...............................................................................................................33
FIGURA 3.12: Seção esquemática da Cava da bússola (PL03) e suas principais estruturas.................34
FIGURA 3.13: Amostras de mão com flocos de ouro livre da Cava da bússola...................................35
FIGURA 3.14: Fotomicrografias de lâminas delgadas e polidas das amostras referentes ao reef
ANEXO A- REGRAS DE FORMATAÇÃO DA REVISTA.....................................46
10
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO GERAL
Esse trabalho tem como objetivo geral caracterizar o corpo de minério aurífero Unidade
Superior na escala do depósito Jacobina-SE, Morro do Cruzeiro, na parte sul da cidade de
Jacobina. Tem como objetivo específico produzir o modelo descritivo do horizonte
mineralizado (reef) Unidade Superior por meio de seções medidas e mapeamento geológico
detalhado e estudos petrogréficos com a finalidade de identificar os elementos que o definem
em zonas hangingwall, reef sensu stricto e footwall desse corpo. O Morro do Cruzeiro possui
uma área pouco maior que 1km², uma extensão de aproximadamente 1,7 km na direção N-S.
A cidade de Jacobina tem aproximadamente 80 mil habitantes, dista 330 km da cidade de
Salvador, compõe a região Centro Norte Baiano e está situada na região fisiográfica da serra
de Jacobina (Figura 1).
Figura 1.1. Mapa de localização e acesso a área de estudo.
O histórico das atividades mineiras na cidade de Jacobina se confunde com a própria
história de povoamento e crescimento da cidade a partir de bandeirantes em busca de minérios
no século XVIII. Em 1720, o rei D. João V permitiu o garimpo de ouro, enquanto a primeira
empresa de mineração a lavrar o ouro de forma legalizada foi a Cia Minas de Jacobina em
1880. Desde então, empresas internacionais como Morro Velho, Desert Sun e atualmente
11
Yamana Gold Inc. possuíram e possui o direito de lavra para as minas de Canavieiras, João
Belo e Morro do Vento. A atual empresa, desde 2007, registrou publicamente em seu website
uma produção de mais de 140.000 onças no ano de 2018. O garimpo sempre foi uma
atividade tradicional e familiar nos diversos morros que circundam a cidade, especialmente no
Morro do Cruzeiro (depósito Jacobina SE), área cedida pela Yamana Gold Inc. para uma
cooperativa de garimpeiros, que atualmente possui permissão de lavra. A área contém
diversas e antigas cavas de garimpos com ampla exposição de camadas rochosas e uma
galeria de 156m de comprimento, localizada no vale da Grotinha. Atualmente, as atividades
de pesquisa e lavra no Morro do Cruzeiro são esporádicas.
A Serra de Jacobina é uma feição morfoestrutural decorrente de uma antiga bacia
arqueana metavulcanossedimentar com debate controverso com respeito a sua origem.
(Mascarenhas et al., 1996; Ledru et al., 1997; Leite, 2002). O evento tectono-metamórfico do
Riaciano-Orosiriano causou a colagem de quatro segmentos arqueanos crustais (Barbosa e
Sabaté., 2002) na estabilização do cráton São Francisco: o Bloco Serrinha, o Orógeno
Itabuna-Salvador-Curaçá, o Bloco Jequié e o Bloco Gavião, este último contém a norte o
Complexo Gavião, embasamento da bacia de Jacobina. Uma colisão no trend N-S resultou-se
desse efeito, evidenciado pelo lineamento Jacobina-Contendas Mirante (Sabaté et al., 1990)
com estruturas associadas. A Serra de Jacobina é composta de leste (topo) para oeste (base)
pelas unidades (Molinari & Scarpelli, 1987) Formação Cruz das Almas, Formação Rio do
Ouro e Formação Serra do Córrego, sendo a última constituída por intercalações de quartzitos
e metaconglomerados mineralizados com ouro, que receberam a denominação de reef,
baseado no modelo de mineralização da bacia arqueana de Witwatershand, na África do Sul.
Os reefs da formação Serra do Córrego apresentam tamanho de seixos, empacotamento,
espessura, minerais de alterações hidrotermais, zona de hangingwall (topo) e de footwall
(base) específicos e característicos. O reef Unidade Superior encontra-se no topo da
Formação Serra do Córrego registrado por Pearson et al., (2005) como uma faixa pouco
espessa de pacote de seixos pequenos, intercalação de lentes e quartzitos, observado tanto no
Morro do Cruzeiro como em Canavieiras.
Na década de 50, as produções científicas sobre a região da Serra de Jacobina já
associavam a mineralização aurífera desta à de Witswatershand, bem como no uso do termo
reef para denominar os corpos de minério. Os primeiros trabalhos de estratigrafia possuíam
abordagem pouco aplicada a metalogênese. Molinari & Scarpelli (1987) reconheceram ciclos
de quartzitos e metaconglomerados em unidades, nas quais um horizonte superior na
Formação Serra do Córrego já estava representado e em 2005 Pearson et al. detalharam a
estratigrafia dos reefs com a maturação histórica do entendimento das diversas mineradoras, a
confirmar o horizonte.
O depósito Jacobina SE tem sido alvo de estudos base em mapeamento geológico,
estrutural e estratigráfico. Feitosa (2017) reconheceu 5 reefs correlacionando-os com os reefs
de Canavieiras: Maneira, Holandês, MU/LU (indiviso) e Basal. Observou exposições de
garimpos aos quais sugeriu correlação com a subzona superior do Conglomerado Superior da
Formação Serra do Córrego. Contudo, até o presente momento, não há na literatura um estudo
focado no reconhecimento, delimitação e caracterização de tal horizonte metaconglomerático
no Morro do Cruzeiro. Apesar de sua breve importância na mineradora Jacobina Mineração e
Comércio (Yamana) até os dias de hoje, o aqui denominado reef Unidade Superior no
depósito Jacobina SE tem histórico favorável nos antigos garimpos próximos a entrada da
cidade de Jacobina.
O estudo de detalhe das características deste reef visa um entendimento mais detalhado
em relação ao conhecimento do modelo descritivo do depósito, bem como tecer comentários a
cerca da implicação de tais dados na gênese da mineralização no(s) Sistema (s) Mineral (is) de
Jacobina.
12
CAPÍTULO 2
ESTADO DA ARTE
Contexto Regional
O terreno geológico de Jacobina teve sua constituição no evento tectônico Riaciano-
Orosiriano, que se findou na estabilização do Cráton do São Francisco, na colagem
paleoproterozoica dos blocos arqueanos: Bloco Gavião, Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá,
Bloco Serrinha e Bloco Jequié. O evento delineou uma grande zona de sutura N-S de colisão
de aproximadamente 500 km, conhecida como lineamento Contendas-Jacobina (Sabaté et al.,
1990), além da intensa granitogênese típica (Sabaté et al., 1990).
O evento de colisão amalgamou e alongou em um trend N-S as macrounidades
Complexo Saúde, compondo o embasamento leste da serra (Melo et al., 1995; Leite, 2002); a
sequência metavulcanossedimentar do Greenstone Belt Mundo Novo (Mascarenhas et al.,
1998); os metassedimentos Grupo Jacobina (Molinari e Scarpelli, 1987); os terreno TTG do
embasamento a oeste.
O Grupo Jacobina é composto por três unidades (figura 2), à saber: intercalação de
metaconglomerados polimíticos, quartzitos micáceos e xistos e filitos, por vezes
manganesíferos da Formação Cruz das Almas; quartzitos puros de granulometria média a fina
com marcas de onda da Formação Rio do Ouro; metaconglomerados polimíticos
mineralizados e com halos de alterações hidrotermais típicas intercalados com quartzitos na
Formação Serra do Córrego.
Figura 2.1. Coluna estratigráfica do Grupo Jacobina (modificado de Mascarenhas et al., 1998
e Reis et al., 2017).
13
A serra de Jacobina está estruturada em diversos padrões de falhas, controlados por
grandes sistemas com provável extensão litosférica (figura 3). Oliveira Neto (2010) encontrou
na região das minas de Canavieiras, Morro do Vento e João Belo quatro principais famílias de
padrão: falhas NW-SE e SW-NE com cinemática destral reversa; ii) falhas com direção N-S
com cinemática sinistral reversa; iii) falhas E-W dextrais; e iv) falhas com orientação N-S
com cinemática normal sinistral e outras com orientação NW-SE com cinemática normal
destral. Mafra (2009) mapeou em Canavieiras e interpretou as referidas falhas de acordo com
a cinemática em 5 famílias: Falhas de empurrão(E-W); Falhas de retro-empurrão (W-E);
Falhas antitéticas(NE-SW) ; Falhas de acavalgamentos(S-N) ; Falhas de cisalhamento (N-S).
Figura 2.2. Estruturação geral da serra de Jacobina A) Mapa dos entornos da cidade de
Jacobina e seção geológica representativa; B) Seção geológica interpretada a partir do
modelamento gravimétrico, com detalhe para porção da crosta continental superior (Santos et
al., 2018). SFJ: Sistema de Falhas Jacobina; SFM: Sistema de Falhas Maravilha; SFP:
Sistema de Falhas Pindobaçu; SFI: Sistema de Falhas Itaitu; ZCM: Zona de Cisalhamento
Mairi.
14
No geral, as grandes estruturas N-S estão representadas por vales e associadas a
ultramáficas, enquanto as E-W associadas a diferentes máficas (figura 3) Grandes Sistemas de
falhas lístricas compartimentam blocos E-W: Sistema de Falhas Jacobina, no contato de Bloco
Gavião com a base da Formação Serra do Córrego; Sistema de Falhas Maravilha entre as
Formações Rio do Ouro e Cruz das Almas; e por fim, Sistema de Falhas Pindobaçu, dividindo
o grupo Jacobina do Greenstone Belt Mundo Novo (figura 2.2).
A mineralização de ouro da serra de Jacobina foi denominada Bahia Gold Belt (Pearson
et al., 2005) e foi classificada por Teixeira et al. (2001), utilizando o critério rocha hospedeira
e diferentes unidades geológicas da serra. Pearson et al. (2005) acrescentaram a classe da
tipologia metavulcanossedimentar. Foram descrriminadas cinco tipos de mineralização:
1. Ouro nos metaconglomerados e quartzitos
Reconhecido nas minas de Canavieiras, João Belo, Morro do Vento, Itapicuru e outros, este
tipo de mineralização ocorre em intercalações de metaconglomerados com seixos
majoritariamente de quartzo e matriz sulfetada e quartzitos.
2. Ouro nas rochas metamáficas
Reconhecido nos Garimpo de Agenor e mina da Jaqueira, esse tipo de mineralização ocorre
em diques da ordem de unidades de quilômetros associada com piritas hidrotermais
poiquiloblásticas e tension gashes e veios de tração.
3. Ouro nas rochas metaultramáficas
Reconhecido em Mina Velha de Pindobaçu e Garimpo do Jacinto, esse depósito está
associado a metaultramáficas no contato da Fm Serra do Córrego com a Fm Rio do Ouro,
com pequenos veios de quartzo com pirita e arsenopirita e zonas de cisalhamento alteradas.
4. Ouro em quartzitos
Reconhecido nas minas de Goela da Ema e Maravilha, em veios de quartzo nas zonas de
cisalhamento de contato das Formações Rio do Ouro e Cruz das Almas.
5. Ouro nas metavulcanossedimentares
Associado a pirita disseminada e veios de quartzo em zonas de cisalhamento de
metassedimentos do Greenstone belt Mundo Novo.
Neste estudo, o corpo de minério está inserido no grupo 1, na Formação Serra do
Córrego. A Formação Serra do Córrego foi compartimentada em três grandes sequências
psamíticas: o Conglomerado inferior, o Quartzito Intermediário e o Conglomerado Superior
(figura 2.3) (Molinari e Scarpeli, 1987). As zonas conglomeráticas consistem em uma
intercalação bem definida de camadas de quartzitos com metaconglomerados de
características específicas de tamanho de seixo, empacotamento, tipo de seixo, por vezes
alteração hidrotermal e minerais constituintes. Com o detalhamento da estratigrafia, os
pacotes metaconglomeráticos foram nomeados reefs (Pearson et al., 2005).
15
Figura 2.3. Coluna estratigráfica da Formação Serra do Córrego. (Seidler, 2019, modificado
de Molinari et al., 1986).
Modelos genéticos
Ao longo das últimas décadas, o debate científico ao que concerne a gênese do depósito de
ouro em Jacobina é controverso. Observa-se na literatura evidências e comparações com
outros depósitos para fundamentar tais modelos.
O primeiro modelo a ser fundamentado foi o singenético de paleoplacer (Bateman,
1958). O autor propõe a sucessão de erosão, sedimentação e deposição cíclica do ouro
associado aos seixos de quartzo de leques aluviais. As partículas de ouro estariam em
equilíbrio hidráulico de densidade das partículas silicáticas, através das evidências primárias
como sequências lenticulares e canais entrelaçados em comparação com depósitos de
Witswatersrand e Blind River. O autor não recusa a possibilidade de remobilização.
O segundo modelo, cunhado por White (1961), propôs uma origem epigenética de
mineralização por colocação de fluidos hidrotermais através de estruturas N-S ou
intraestratais e observou as evidências de que as zonas mineralizadas não se restringem a um
único litotipo na Serra, em acréscimo a ocorrência de veios e fraturas com silicificação e
registros de alterações hidrotermais. O autor exclui a possibilidade do paleoplacer. Pearson et
al. (2005) reafirmam as evidências epigenéticas com a similaridade geoquímica da
mineralização nos metaconglomerados da Formação Serra do Córrego e do sistema de falhas
de Pindobaçu que controlam a silicificação, no contato do Grupo Jacobina com o Greenstone
Belt Mundo Novo. Teixeira et al. (2001) corroboram com tal origem com suporte nas
16
evidências dos diferentes tipos de mineralização pelo fator rocha-hospedeira, a semelhante
assembleia de minerais dentre esses tipos, controle das alterações hidrotermais por
permeabilidade da rocha e associação geocronológica com fluidos cogenéticos
granitogênicos.
O terceiro modelo surgiu cronologicamente após o hidrotermal sensu stricto com a
sugestão de um paleoplacer modificado ou a remobilização epigenética de ouro de placer em
eventos de dobramentos, metamorfismo e intrusão (GROSS, 1968). As evidências para tal é a
tendência à concentração da mineralização no topo de camadas de metaconglomerados, a
ocorrência de ouro em fraturas de seixos e a associação de ouro no contato de ultramáficas.
Cox e Singer (1986) reafirmam a concentração de ouro na base de camadas depositadas em
superfície de erosão como fator típico de paleoplacer.
Por fim, o modelo mais recente a ser desenvolvido (MILESI et al., 2002) envolveu os
outros modelos no sistema “falha-reservatório hidrotermal”, no qual as grandes zonas de
cisalhamento atuaram como condutos de fluidos sin-orogênicos mineralizantes e
remobilizadores e os metaconglomerados (possíveis paleoplacers) como trapas e reservatórios
de tais fluidos. O autor recorre à nova interpretação de modelo tectônico da bacia de Jacobina
e acrescenta as grandes zonas de cisalhamento ao ciclo erosão, sedimentação e deposição do
modelo paleoplacer (BATEMAN, 1958). Os autores defendem esse modelo com a evidência
da associação de paragênese mineral ouro-pirita-minerais de Cr com estruturas de segunda
ordem na base dos reefs da Formação Serra do Córrego, e fortalece tal modelo com dados de
alto grau geotérmico de veios de zonas de cisalhamento, além de texturas de porosidade nos
metaconglomerados.
Conceito de reef nos diversos depósitos mundiais
O termo reef na metalogênese foi consagrado em depósitos típicos de Elementos do Grupo da
Platina em corpos máficos e ultramáficos e nas camadas auríferas da bacia de Witswatersrand.
Observa-se, na literatura científica bem como na prática exploratória dos corpos de minério,
que esta denominação compreende em um horizonte estratigráfico bem definido, com uma
litotipia e uma paragênese mineral específicas, com certa regularidade e lateralidade, além de
possuir um teor característico. A definição destes corpos no campo estratigráfico, litológico,
mineralógico, químico e econômico são etapas fundamentais para as próximas definições
dentro do processo exploratório e de avaliações econômicas, e foi desenvolvido no principais
depósitos estratiformes mundialmente reconhecidos: Bushveld (África do Sul), Great Dyke
(Zimbábue) e Stillwater (Estados Unidos).
Descoberto em 1924, o Merensky reef (Complexo Bushveld-África do Sul) (Vermaak et
al., 1976; Kinloch et al.,1990. Prichard et al., 2004) protagoniza historicamente no cenário
dos depósitos denominados reefs e a partir dele, muitos outros exemplos mundiais
absorveram seu modelo de pesquisa, sobretudo os semelhantes corpos de máfica e ultramáfica
estratificados, com depósitos de platinoides e ouro e textura de cumulatos típica de depósitos
ortomagmáticos.
O J-M reef (Complexo Stillwater), uma camada de 1 a 3 metros de assembleia platino-
paladífera em corpos máficos e ultramáficos bandados, é alvo de definições e atualizações a
partir da estratigrafia, petrografia dos constituintes da paragênese mineral e química (Todd et
al., 1982; Corson et al., 2002). Neste caso, Corson (et al.,2002) utilizou a metodologia de
compartimentações de pacotes Hangingwall e Footwall e seus elementos e relatou
dificuldades no reconhecimento, uma vez que a estratigrafia isolada não responde os
questionamentos da problemática.
Em Witswatersrand, Minter (1976) utilizou-se da metodologia de definição por pacotes
de topo e base na definição Vaal reef, Central Rand, um corpo mineralizado com a associação
17
ouro-urânio-sulfetos e, que a partir de dados de estratigrafia, estrutural, mineralogia e
petrologia apontou possíveis implicações genéticas. Por apresentar semelhanças entre
objetivos, serve de base para o presente artigo.
Histórico da pesquisa de urânio em Jacobina e método de perfilagem radiométrica
Desde os primeiros trabalhos descritivos e genéticos a cerca das mineralizações auríferas da
Serra de Jacobina já se destacava a ocorrência de urânio nos reefs dos metaconglomerados da
Formação Serra do Córrego (Bateman, 1958; White, 1961; Gross, 1968; Lemos, 1974).
As pesquisas do urânio em depósitos do tipo conglomerados com seixos de quartzo
estão sempre associadas ao ouro, geralmente de forma subordinada, nos exemplos Jacobina e
Witwatersrand. Há controvérsias quanto a origem do urânio e de seu principal mineral: a
uraninita. Davidson (1957) levantou a impossibilidade da uraninita de paleoplacer e
contribuição exclusiva de granitos, White (1961) corrobora com o modelo hidrotermal em
Jacobina. Smith e Minter (1980) e Robb et al., (1997) defenderam processos sedimentares na
sua gênese em paleoplacer na bacia sulafricana, e ainda Frimmel et al. (1999) relataram a
presença de uraninitas detríticas em lâminas de seção delgada.
Lemos (1974) realizou diversas seções cintilométricas em garimpos, mina de
Canavieiras, testemunhos de sondagem e amostras de mão provienientes da Formação Serra
do Córrego e constatou a associação das anomalias uraniníferas com os estratos irregulares de
metaconglomerados ricos em ouro e pirita, por vezes uma correlação U-pirita mais
significativa que a U-Au. Identificou a uraninita associada a estratos de metaconglomerados e
a torbenita a quartzitos.
O cintilômetro espectral de raios gama é um detector que consiste de um contador de
cintilação e um fotomultiplicador. O primeiro é constituído de um cristal de iodeto de sódio
que gera um feixe de fótons ao ser estimulado por raios gama, enquanto o segundo coleta e
armazena esta emissão, que será inferida em forma de energia, num intervalo de tempo. Os
elementos radioativos possuem um intervalo de energia correspondente a tal emissão, que no
caso do urânio equivale a 1,76 MeV.
A perfilagem por raios gama tem sua aplicação comum à exploração e pesquisa na
geologia de petróleo, com intuito de identificar e quantificar camadas e volumes de xisto,
qualificar tipos de minerais argílicos ou indicar fraturas. O método também é utilizado na
exploração mineral na prospecção de mineralização de urânio, a partir de perfilagem ou
modelagem espacial.
18
CAPÍTULO 3
ARTIGO
Modelo descritivo das mineralizações auríferas relacionadas ao corpo de minério
“Unidade Superior” no alvo Jacobina-SE, Bahia e implicações genéticas Descriptive model of the gold mineralization of the “Upper Unit” orebody in the target
Jacobina-SE, Bahia and genetic implications
Aldo Perroni de Queiroz
1, Reinaldo Santana Correia de Brito
1
1Instituto de Geociências - Universidade Federal da Bahia, Rua Barão de Jeremoabo s/n, 40170-290, -
Fuchsita hábito micáceo, subdioblásticas a idioblásticas, de 0,01 a 0,1 mm, até 0,8 mm em estruturas, textura decussada, ocorre na matriz, reação para limonita nas bordas
Pirita prateada, cinza creme, euédrica (marjoritariamente) e arredondada, submilimétrica, por vezes a 1 mm, ocorre na matriz ou em fraturas no seixo, fraturada e reação para goethita e limonita nas bordas
Calcopirita amarelo-ovo, euédrica e arredondada, de 0,1 a 0,5 mm, ocorre na matriz, fraturada, em reação para covelita e malaquita
Esfalerita cinza, euédrica, 0,1 mm, ocorre na matriz, fraturada, em alteração para hematita Hematita cinza claro, romboédrica, xenobástica, 0,2 mm, reação para limonita e goethita nas
bordas Especularita prateado com iridiscência, lamelar, intenso brilho, na matriz
Goethita amarela a laranja, amorfa, xenoblástica, submilimétrica, produto de reação da hematita detrítica, da pirita e fuchsita
Covelita azul com iridiscência rosa, amorfa, sibmilimétrica, produto de reação na clivagem da calcopirita
Malaquita verde, amorfa, submilimétrica, produto de reação da calcopirita
INTERPRETAÇÃO PETROGRÁFICA
Tabela 3.5. Quadro paragenético de alterações hidrotermais e modais de petrografia.
De acordo com as paragêneses minerais e as características microscópicas foi possível
identificar paragêneses singenéticas e epigenéticas, estas últimas relacionadas a alterações
hidrotermais. A tabela 3.5 expõe a composição modal dos minerais em matriz em cada
amostra.
Quart
zo
Rutil
o
Pirita
Calc
opirita
Esfa
lerita
Zircão
Ouro
Pirita
Calc
opirita
Esfa
lerita
Hem
atit
a
Covelit
a
Especula
rita
Ouro
Liv
re
Goeth
ita
Mala
quita
Ouro
Liv
re
Quartzo X
Chert X
85 <1 <1 10 <2 1
Quatzo X
Chert X
85 <2 11 <2 <1 <2
Quartzo X
Chert X
85 <1 <2 <1 9 <1 <2 <1 <1 <1 <1
Quartzo X
Chert X X
90 7 <1 <1 <1 <1 <1
Quartzo X
Chert X
85 <1 10 <2 <1 <1 <2
Quartzo X
Chert X
X X X X
Quartzo X
Chert X
X X X X X
AQ062L2
(base)
PL16
L5 AQ024
L3/L4 AQ028
L1/L2 AQ060
PL02
Seixo
Argílica
avaçada
Paragênese Hidrotermal
Seixo
Matriz
Matriz
Matriz
Oxidação
Minerais detríticos
Matriz
Matriz
Seixo
Seixo
Seixo
Matriz
Fuchsiti
zação
Seixo
PL18
Matriz
PL03
L
Principal
L3(Descrição
macroscópica)
AQ096
(Descrição
macroscópica)
Sulfetação
Aflo
ram
ento
Lente Disposição na
amostra
Seixo
PL01
Amostra
AQ009L7
37
Observa-se que as reações de oxidação sobrepõem-se as de sericitização (fuchsita) e
sulfetação, ao passo que as reações da alteração argílica são subsequentes. A amostra AQ009
é a representante de maior preservação às reações mais avançadas, corroborando sua
disposição macroscópica, fuchsítica, próximo a falha (F3) associada a fuchsitização e
silicificação. As amostras AQ028 e AQ060 apresentaram mais intensa alteração de sulfetação,
enquanto a amostra AQ062 apresentou avanço das alterações hidrotermais, visto também
macroscopicamente.
As amostras macroscópicas com ouro representam estágios distintos da alteração. A
AQ096 apresenta brecha hidrotermal de oxidação, enquanto as amostras em PL03 apresentam
paragênese de alteração argílica avançada.
DISCUSSÃO E IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
A partir dos resultados de compartimentação estratigráfica, geologia estrutural, geometria e
dimensão dos halos de alterações hidrotermais e assinatura radiométrica de urânio serão
discutidos a seguir os aspectos mais relevantes e suas implicações genéticas.
Estratigrafia
As exposições do Unidade Superior no Morro do Cruzeiro são limitadas e, aparentemente,
apenas a seção central apresenta a sequência por completo. Observa-se uma estrutura da
família da Falha da Grotinha na base da sequência superior do Unidade Superior (na seção da
estrada e na seção central), além da frequência de lineamentos fotointerpretados. Não é
descartada a possibilidade da Falha da Grotinha ser reativada e ter provocado uma duplicação
do reef no Morro do Cruzeiro.
Geologia estrutural
A falha N350º ou Falha de Grotinha ocorre em todas as cavas associada a algum tipo de
alteração hidrotermal. Na seção sul, é observada em todas as cavas de garimpo e coincide
espacialmente com o lineamento destas. Este padrão é observado também mais a nordeste no
Morro do Cruzeiro, nas cavas do Paraíba, Loro Norte e Loro Sul. Uma associação da falha
com a mineralização de ouro epigenético é sugerida, interpretada como um conduto de fluidos
que foi barrado quando interceptou estruturas ortogonais como a N90/50 na cava da Bússola.
Alteração hidrotermal
Em geral, observou-se o halo da fuchsitização com maior expressividade e extensão, em
aumento gradativo na direção ao vale da Grotinha. A sulfetação tem sua geometria restrita às
principais lentes metaconglomeráticas, enquanto o halo da oxidação acompanha estruturas
secundárias e desvanece os registros dos outros halos na matriz. Tais registros sugerem uma
contribuição da ultramáfica do vale da Grotinha para o Cr nas micas, além do Cu nos sulfetos
euédricos (calcopirita) e minerais produtos de oxidação destes (malaquita e covelita), como
observados nas lâminas AQ28 e AQ60, em lentes mineralizadas mais próximas ao vale.
Radiometria de Urânio
Nos perfis esquemáticos, o halo de urânio está associado a falhas e fraturas. Fertl (1979)
sustenta a causa de alta radioatividade de urânio em fraturas e falhas na mobilidade do U+3 e
presença de água.
38
As anomalias cintilométricas estão relacionadas às lentes metaconglomeráticas, fato
que foi afirmado por Lemos (1974) em estudo de perfilagem cintilométrica na serra de
Jacobina.
Em duas exposições, Cavas poço do Dionísio e da bússola, foi registrado decréscimo >
1,5 ppm entre dois pontos aflorantes de uma mesma lente mineralizada na proximidade ao
halo da oxidação, o que pode ser explicada pela dispersão secundária de urânio pelo halo de
oxidação. Observa-se aqui a necessidade de maior quantidade de dados para reafirmar esta
hipótese.
Modelo genético
Segundo Cox & Singer (1986) o ouro de paleoplacer tem o controle típico de mineralização
na base de camadas de conglomerados depositados em superfície de erosão, enquanto uma
evidência de remobilização seria a tendência a concentração no topo das camadas (Gross,
1968). Com os dados antigos de teores na Cava da brechinha, apesar de poucos, observa-se
mineralização no topo da camada principal do reef (9,2 g/ton), assim como ocorre em outros
reefs nas minas de ouro do grupamento mineiro de Jacobina das mineralizações de ouro do
Unidade Superior, como o MU e o LU, sugerindo fonte epitermal de tal concentração.
A partir da ocorrência de ouro live do tipo flocos dendríticos, associados a argilas de
hidróxido de ferro observadas tanto na Cava da bússola como em diversas amostras da
petrografia sugere-se aqui a influência de laterização pretérita na gênese ou reconcentração da
mineralização. Evidências do processo supergênico na região são observadas em horizontes
lateríticos sobrejacentes a rochas ultramáficas do vale da Grotinha. Dissolução, transporte e
redeposição no processo da laterização foram sugeridos por Mann (1984) em Yilgarn Block
(Austrália), a partir de evidências de perfis de óxidos e hidróxidos de ferro gerados por
soluções ácidas, geralmente de origem granitogênica. A falta de um devido estudo de
caracterização quantitativa de pureza do ouro neste trabalho é uma lacuna na devida
interpretação quanto ao modelo de ouro supergênico.
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Os resultados obtidos neste trabalho confirmam que a metodologia foi adequada para os
objetivos de definição e modelo descritivo do corpo de minério Unidade Superior no depósito
Jacobina SE, na qual as seções E-W e a compartimentação estratigráfica possibilitaram a
correlação de dados e a melhor definição de elementos para definição do reef (tabela 3.6)
O reef Unidade Superior, já mapeado em outras regiões da Serra de Jacobina, também é
reconhecido no depósito Jacobina SE e possui características geológicas e metalogenéticas
para ser definido e proposto um modelo descritivo específico a cerca:
1. Sequência estratigráfica própria, com lentes-guia e típicas camadas com seixos S, VS
e M, alta frequência de seixos de chert, de matriz fuchsítica.
2. Calcopiritas e minerais de alteração com hidróxidos de cobre em sua composição.
3. Lente regular mineralizada no topo da sequência com espessura de 0,6 a 1,5 metros e
delimitadas por falhas N350º, ENE-WSW e ESE-WNW
4. Teores de 9,2 g/ton e 5,8 g/ton ao longo da lente mineralizada.
A cerca das implicações metalogenéticas, observam-se fatores que indicam os diversos
modelos genéticos discutidos no debate científico para o(s) Sistema(s) Mineral(is) aurífero(s)
da Serra de Jacobina: a associação de estruturas penetrativas, com halos de alteração
hidrotermal pervasivas associadas as mineralizações e feições petrográficas que coadunaria
com o modelo falha-reservatório hidrotermal (MILESI et al., 2002); a continuidade da
39
mineralização nos estratos ao longo do depósito coaduna com um controle estratigráfico;
minerais opacos com feições detríticas e feições em ventifacto indicam metais pesados em
ciclo de erosão - sedimentação – deposição, o que não descarta o modelo de ouro de placer.
Concluída a etapa descritiva do corpo de minério e, consequentemente, agregada ao
mapeamento da arquitetura do depósito de trabalhos anteriores, recomenda-se estudos com
Espectrometria de Energia Dispersiva para os grãos de ouro dendrítico a fim de identificar
associações com outros elementos e sugerir influência dos efeitos da laterização; química de
rocha total como objetivo de identificar a relação dos fluidos hidrotermais e a lixiviação do
ouro no sistema; química mineral com o intuito de refinar os dados petrográficos, ao
investigar a alteração de minerais primários pelas alterações hidrotermais; inclusão fluida para
estudar a fonte e profundidade dos fluidos hidrotermais; isótopos de O e S para identificar
possíveis fontes de minerais de enxofre para explicar origem de mineralização aurífera
primários.
REFERÊNCIAS
Catuneanu, O., & Biddulph, M. N. (2001). Sequence stratigraphy of the Vaal Reef facies
associations in the Witwatersrand foredeep, South Africa. Sedimentary Geology, 141, 113-
130.
Tabela 3.6. Síntese de modelo descritivo do reef Unidade Superior. Aspecto Descrição
Forma Estratiforme Posição estratigráfica Topo da Fm. Serra do Córrego Footwall Quartzito com seixos médios, topo do Maneira
com seixos VL, contato bem definido; aprox. 18 m Hangingwall Quartzito do topo da Fm Serra do Córrego, com
estruturas em espinha de peixe de médio porte, levemente fuchsítico, contato bem definido; aprox. 170 m (MOLINARI & SCARPELLI, 1987)
Dimensões Pacote de 65 m, de 15 a 20 lentes de 10 a 150 cm,extensão de 1,7 km em Jacobina SE
Regularidade Regular, localmente irregular por rejeitos de falhas e estratigrafia
Aspectos litológicos e mineralógicos Pacotes de topo de metaconglomerados de seixos de quartzo e chert de 2 a 20 mm, bem empacotados, com matriz bem fuchsítica, hematita e hidróxidos, além de marcante ocorrência de calcopirita; pacotes de base de metaconglomerado na sequência de base para topo ML – S - MS
Paragênese de minério: (1)Minerais de minério; (2)Ganga
Minerais de minério: ouro livre e pirita com ouro Ganga: quartzo, fuchsita, pirita, calcopirita,