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MEDITAES DOMINICAIS ANO C 2009 XV Domingo Comum.Quem ama os
irmos revela Jesus O amor que nos torna prximos dos outros.Dt
30,10-14; Sl 68; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37.(Dt 30,10-14) Alocuo
litrgica a comunidade exlica.
Sermo de carter cultual, pois enfatiza a palavra hoje (v. 2, 8,
11, 15-16, 18-19), a experincia de proximidade de Deus ao
chamamento converso (30,15s). Liturgia de renovao da aliana, pe a
comunidade frente necessidade de comprometer-se numa deciso
vinculante.
Dt 30,11-14 faz parte de 30,11-20, que a concluso da lei
deuteronmica feita pelo profeta (cf. 12,127,26). Em seu sentido
imediato, o texto indica como a palavra no pode ser considerada
oculta (cf. J 28,12-28) ao homem, porque Deus a revelou e o profeta
a colocou na boca de seus irmos e a fez penetrar em seus coraes.
Essa personificao da palavra leva s fontes da teologia do Verbo (),
que ter seu pice em Jo 1,1-18, depois de ter sido amadurecida nos
livros sapienciais (cf. Pr 8; Sb 7).
Cl 1,15-20.
Composio potica de contedo cristolgico. caracterizado tambm como
hino celebrativo.
O primado de Cristo na criao (1,15-18a). O hino serve para
ilustrar a figura e o papel de Cristo, o Filho amado de Deus, para
cujo reino os batizados so transferidos e por meio do qual eles
tem, agora, a libertao, i.., o perdo dos pecados. A primeira
afirmao atribui a Cristo dois ttulos que definem seu papel em relao
a Deus e ao mundo criado:
Ele a imagem () do Deus invisvel, como primognito () de toda
criao.
O homem criado imagem de Deus (Gn 1,26-27). Na tradio
sapiencial, o papel da imagem de Deus atribudo sabedoria (Sb 7,26).
Filn apresenta o logos como imagem de Deus.
Jesus a face histrica de Deus, aquele que o manifesta de modo
nico e definitivo, tomando o lugar de todas as prefiguraes
histricas, tanto da sabedoria como da lei judaica.
Primognito () segundo o ttulo que define o papel de Cristo em
relao ao mundo criado. A tradio bblica, que atribui ao primognito
(heb. bekor) um papel de precedncia em relao aos irmos e uma
dignidade especial em relao ao pai, permite o esclarecimento do
sentido da expresso: Cristo no s tem um papel mediador na criao,
como a sabedoria, mas enquanto primognito o primeiro a exercer o
seu influxo e senhorio sobre ele. Jesus no somente a imagem de
Deus, enquanto realmente nele se torna manifesta a face escondida e
inacessvel de Deus; porque primognito, todo mundo criado atribudo,
nele, para o mundo de Deus.
O primado na redeno (1,18-20). A segunda estrofe abre-se com
duas afirmaes cristolgicas. Em Cristo, por divina, gratuita e livre
disposio, habita a plenitude divina, para a realizao histrica da
salvao. Por meio de Cristo, realiza-se a reconciliao universal, que
como prefigurao, graas ao amor fiel e solidrio expresso na morte de
cruz.
Cristo, morada de Deus, plenitude dos dons salvficos, espao
ideal no qual se cumpre a reconciliao. No Cristo, cabea universal,
o mundo cu e terra reencontra a amizade e a paz com Deus. A
reconciliao pacificao se d num processo histrico, que, embora tenha
seu ponto de partida em Deus-sujeito oculto dos verbos, realiza-se
em Cristo e, na sua morte de cruz.
O amor para com o prximo (Lc 10,25-37).No caminho para Jerusalm,
Jesus prope aos discpulos o ensino acerca do modo prtico de
realizar a vontade de Deus. A lio se desenvolve em dois momentos
articulados entre si: a) o dilogo de Jesus com o perito legista
judeu; b) o relato do bom samaritano. A resposta de Jesus indica
qual deve ser a conduta do verdadeiro discpulo: a dos sbios e
prudentes e a dos humildes (cf. 10,21-22). O dilogo inicia com a
pergunta que os discpulos judeus costumam fazer a seus mestres: Que
devo fazer para ter a vida eterna? (18,18). O acento posto na
prxis, segundo uma caracterstica do pensamento bblico judaico.
Jesus responde, segundo as regras da discusso escolstica, com uma
contrapergunta, que reenvia o perito telogo a seu patrimnio
cultural e religioso.
Na lei, entendida como revelao j est contida a vontade de Deus,
no h necessidade de novas formulaes. O mestre hebreu (especialista
da Lei) relembra o grande princpio do amor total a Deus, o nico,
como estava formulado em Dt 6,5, e retomado na orao cotidiana do
Shem (Dt 6,4-9). O outro princpio, o do amor para com o prximo,
reconhecido na tradio bblica, na frmula sinttica de Lv 19,18. A
unio desses dois grandes princpios da vida religiosa e moral
remonta melhor tradio judaica.
Jesus no acrescenta um novo ensino terico sobre os deveres do
homem no que diz respeito vontade de Deus, mas prope uma nova
perspectiva e d uma nova possibilidade de realiz-la no cotidiano.
Aqui, Jesus e o legalista se divergem. Jesus concorda com o
representante do judasmo acerca do contedo da vontade de Deus, mas
se separa dele no modo de p-la em prtica.
A segunda pergunta do legalista oferece o ensejo para este salto
qualitativo: Quem meu prximo? (10,29). Esta tambm uma questo aberta
nas discusses dos mestres judeus. A prtica do amor a Deus pode ser
inculcada, recomendada com exortaes e exemplos; mas o amor ao
prximo levanta todo tipo de perguntas ligadas s divises e
estratificaes da vida social e religiosa. At onde vai o amor para
com o prximo? No AT, prximo era o compatriota, membro do povo de
Deus, e tambm o migrante inserido na comunidade israelita (Lv
19,33-34).
No tempo de Jesus, acrescentara-se outras restries e, assim, o
prximo era praticamente o membro da seita ou do grupo religioso
(fariseu, essnios, zelotas etc.). A resposta de Jesus prope uma
situao concreta da vida, e no uma resposta terica sobre a noo de
prximo, nem constri uma casustica abstrata. A histria narrada por
Jesus colhe seus motivos em circunstncias muito realistas: a
estrada que liga Jerusalm (a 740 m de altura) a Jeric (350 m sob o
nvel do mar), cobrindo um desnvel de 1000m, atravessa uma regio
desrtica cheia de despenhadeiros e escarpas, refgio ideal de ladres
espreita.
Os outros personagens da cena: um sacerdote e um levita,
servidor ou cantor do templo de Jerusalm.
Jeric uma cidadezinha que hospeda os sacerdotes e os levitas que
voltam para casa depois do turno semanal a servio do templo. Os
dois agregados ao culto veem o infeliz na estrada e passam ao
largo. O sacerdote, poder-se-ia pensar, no tinha a obrigao de
socorrer o ferido, porque se tornaria inapto para o culto
(sacrifcio), caso o homem viesse a morrer em suas mos (Lv 21,1), ou
este no era um membro de seu grupo.
Neste ponto, para a surpresa de todo o mundo, aparece um
protagonista inesperado: um mestio, samaritano bastardo e herege.
Agora Jesus se compraz em descrever minuciosamente os gestos de
socorro e de ajuda prtica: o curativo com desinfetante (o vinho
fortemente alcolico da Palestina) e o leo para aliviar a dor, o
transporte at a hospedaria e o pagamento das despesas de comida e
hospedagem. Essa atitude do bom samaritano no semelhante de Deus
para conosco? Ele aproximou-se do homem cado (Ado), sentiu-se
compaixo dele (), tornou-se prximo e salvou-o por amor,
gratuitamente.
A este ponto, a narrao d um giro imprevisto e supera
repentinamente o horizonte do cotidiano, revelando uma nova
dimenso. Jesus, com uma pergunta, constrange seu interlocutor a
tomar posio e se tornar ele mesmo protagonista. No se deve
questionar quem pode ser objeto de amor, mas quem o sujeito: no
quem o prximo, mas como algum se torna prximo (10,36).
A medida do amor para com o prximo no estabelecida na base das
fronteiras da pertena religiosa ou do grupo social, mas unicamente
na base da necessidade do outro. O prximo , qualquer pessoa que se
aproxima dos outros com amor operativo e generoso sem levar em
conta as barreiras religiosas, culturais e sociais.
A concluso de Jesus retoma a pergunta inicial e d uma resposta
nova: o caminho para a vida o amor operativo para com todo homem
(10,37). este o distintivo do autntico discpulo. Atravs da hbil
urdidura da narrao parablica, o evangelho sugere tambm que o amor
autntico nos torna criadores e livres.
S o samaritano, um herege fora da lei, faz realmente a vontade
de Deus, porque aberto ao amor. O sacerdote e o levita, fechados em
seu sistema jurdico, no esto em condio de reconhecer a autntica
vontade de Deus, que se efetua no amor para com o prximo.
Nesta contraposio, no se reconhece apenas a polmica de Jesus
contra um culto estril, separado do amor prtico, mas tambm a rejeio
de um sistema legalista, que o acusa de menosprezar a vontade de
Deus, porque acolhe e ajuda aos pobres, os infelizes e os pecadores
(Jo 8,48; Lc 5,30-32). No bom samaritano, Jesus no apenas prope um
belo exemplo a ser imitado, mas tambm abre uma nova perspectiva na
organizao das relaes humanas. Esta j uma realidade inaugurada pela
sua maneira de falar e agir com os homens de seu tempo.
Carssimos, Jesus ensinou aos seus apstolos e ensina a ns, seus
discpulos, o verdadeiro mandamento do amor. Ensinamento de Deus,
outrora transmitido pelos profetas caminho para a vida (torah) e
cuja prtica o amor ao prximo, o necessitado de nosso amor. O amor a
Deus e ao seu ensinamento encontra sua plenitude na f que se
concentra em Cristo (...) imagem [] do Deus invisvel, (...)
primognito [] de toda criao e sua palavra, proclamada no Evangelho.
Cristo que restabeleceu nossa amizade com Deus.
Que o Senhor nos ajude a escut-lo, am-lo e fazer com amor o que
Ele nos ensinou e ensina com sua Palavra.
Senhor, abre hoje os nossos coraes, / para que eles estejam
sempre disponveis para os nossos prximos.
Que ns os reconheamos em todos os momentos / e em todas as
situaes.
Que ns estejamos sempre dispostos a ajudar, / a servir os nossos
prximos,
no para aliviarmos as nossas conscincias, / mas por amor Senhor,
por amor.
Para que seja verdade e vida em ns / o Teu Mandamento:
Amars ao Senhor, teu Deus, com todo o teu corao, com / toda a
tua alma, com todas as tuas foras e com todo o teu entendimento, /
e ao teu prximo como a ti mesmo.
Amm.XVI Domingo Comum A hospitalidade que nos torna discpulos de
Jesus.Gn 18,1-10a; Sl 15; Cl 1,24-18; Lc 10,38-42.
A moldura sempre a da grande viagem que levar Jesus a Jerusalm,
meta do evangelho de S. Lucas. Ao longo deste caminho, alternam-se
as cenas de acolhimento e de rejeio, de hospitalidade cordial e de
convites ambguos. Na casa das duas irms, Jesus encontra o
acolhimento e a hospitalidade que lhe foram recusados no comeo da
viagem, no pas dos samaritanos (9,53).
Marta vive tremendamente atarefada; Maria desenvolve um papel
que, para a mulher novo e essencial: ficar aos ps do Mestre como
discpulo (At 22,3) No soa acontecer que mulheres participassem
oficialmente do culto (sinagoga), e no podiam dedicar-se ao estudo
da Lei. Jesus rompe com essa mentalidade. Ademais, uma mulher Maria
torna-se modelo do discpulo que Ele procura.
S. Lucas apresentou, no incio de seu evangelho, outra mulher
como modelo de discipulado: Maria de Nazar. Disponvel ao do E.S.,
solcita em cumprir a palavra de Deus (1,35-38), torna-se me do
Salvador e se coloca a servio de Isabel e do anncio da novidade
trazida por Deus (1,39). a primeira contemplativa na ao.
bem-aventurada porque acreditou na palavra de Deus (1,45).
O que aconteceu com Maria de Nazar, acontece tambm aqui, Maria
tipo do discpulo (sentada aos ps de Jesus) no pelo fato de nada
fazer, e sim porque coloca, como base de seu discipulado, a
acolhida da palavra de Deus que vem a ela na pessoa de Jesus.
Ela, na contemplao est em sintonia com o Mestre, que est a
caminho de Jerusalm. Ela busca descobrir, na orao e no
discernimento, seu papel dentro do projeto de Deus, exatamente como
agiu Jesus que, foi ao mesmo tempo, contemplativo, mstico e
construtor de uma nova sociedade, transformando as relaes
humanas.
Maria escolheu o unum necessarium e no lhe ser tirado. A melhor
parte, o nico necessrio s pode ser o prprio Deus. Uma s coisa
necessria: aquele Deus altssimo em que o Pai, o Filho e o Esprito
Santo so um s ser. Isso significa que somos chamados para a
unidade. O amor da unidade, comunidade daqueles que creem, unidos j
no amor do Cristo eucarstico.
O equvoco de Marta consistiu em querer demonstrar hospitalidade
sem acolher o dom que Deus lhe fazia em Cristo, a palavra de
Deus.
So Lucas almeja por em relevo a atitude essencial e distintiva
do discpulo: escutar a palavra do Senhor condio para que o servio
no se torne estril agitao no vazio pela necessidade de
autogratificao. A nica coisa que conta o relacionamento pessoal e
fiel para com o Senhor, que antecipa desde j a plena e definitiva
comunho de vida.
Atualizao.1) A hospitalidade crist, como acolhimento da presena
transtornadora do outro na prpria vida (Mt 25,35-36) e sobremodo
como aceitao do outro por ns mesmo sendo nosso inimigo, um sinal
privilegiado da fidelidade ao mandamento novo, sem fronteiras.
Hospedar o outro hospedar Cristo. Abrao ao acolher trs incgnitos
viajantes hospedava o prprio Deus. Ele via neles a presena do
prprio Deus, um Deus preocupado com o desejo mais profundo do ser
humano: o anseio pela vida.
2) A Igreja lembra que sobretudo, nos nossos tempos, temos a
imperiosa obrigao de nos tornarmos prximos de qualquer homem,
indistintamente; se ele se nos apresenta, devemos servi-lo
ativamente quer seja um velho abandonado por todos, ou um operrio
estrangeiro injustamente desprezado, ou um exilado, ou uma criana
nascida de unio ilegtima sofrendo imerecidamente por uma falta que
no cometeu, seja um faminto que interpela a nossa conscincia
recordando a voz do Senhor: Toda as vezes que fizestes isto a um
destes meus irmos pequeninos a mim que fizestes (GS 27).
Carssimos, que o Senhor nos ensine a acolhermos com amor a
palavra de Jesus; buscar primeiro o Reino de Deus e a desenvolver
projetos certos pondo em prtica a palavra de Deus.
O verdadeiro fundamento da existncia.
Lc 12,13-21.Os discpulos devem ser livres perante os bens.
Segundo o julgamento de Jesus, no se trata de uma renncia estica e
maniquesta aos bens materiais. Na realidade, o grupo itinerante de
Jesus e dos discpulos provido de bens materiais com certa
continuidade e largueza (cf 8,3). Aquilo que estigmatizado na seo
(12,13-21) a aspirao acumulao como garantia de segurana e de vida.
A sugesto para a interveno de Jesus, como em outros casos, dada
pela pergunta de um annimo no meio da multido (cf. 10,25; 11,45;
14,15). Pede-se de Jesus que intervenha para decidir numa questo de
herana entre irmos. Esta matria de carter jurdico, mas com motivaes
religiosas (cf. Nm 27,8-9; Dt 21,17), era de competncia dos rabis
ou peritos da lei. Jesus se recusa a resolver a questo em termos
casusticos, mas vai raiz do contraste entre os irmos: a cobia
insacivel. Um projeto de vida fundamentado na acumulao dos bens no
tem solidez, porque a fonte da vida no est nos bens e a sua
segurana no proporcional posse. Este princpio geral ilustrado com
uma parbola de inspirao sapiencial. O protagonista um homem rico,
mais exatamente, um latifundirio afortunado, ao qual a lavoura deu
uma boa colheita. Do solilquio emerge a alma do dono, o homem
satisfeito e seguro, sem outros problemas a no ser o de programar
um futuro seguro e cheio de promessas. A mentalidade do proprietrio
totalmente envolvido no seu mundo solitrio muito bem destacada pela
montona repetio: minha colheita, os meus celeiros, os meus bens! No
h lugar para outros num mundo onde o centro de gravidade o eu
monopolizador de bens e segurana. Mas de repente uma voz quebra o
vu das iluses: Insensato! () O homem fechado a Deus e aos outros na
sua solido destitudo daquela solidez que permite acolher as exatas
propores da realidade. Insensato na linguagem bblica o homem que no
toma em considerao Deus (cf. Sl 14,1); o homem vazio e tolo que pe
toda sua confiana num falso fundamento. O rico acredita ter em
punho a sua prpria vida: Direi a mim mesmo: descansa..., e no
repara que ela sem solidez e garantias. A pergunta que ressoa de
repente, fora de lugar, deve abrir os olhos aos ouvintes. A
perspectiva do fim, no s e no tanto da morte individual, ajuda a
reencontrar o justo valor da vida, daquilo que conta na existncia
humana. A concluso moral da parbola (acrscimo redacional) exorta os
discpulos ao comportamento reto perante os bens. A nica maneira de
resgatar a posse dos bens faz-los circular, distribu-los aos
outros, aos pobres (cf. 12,33-34).
O homem solitrio no se abre para os outros.
Ele deve sair-se de si mesmo. Que relaes podemos tecer dessa
parbola com a do bom samaritano (Lc 10,25-37)? O samaritano
pergunta quem seu prximo.
O rico comete o erro da avidez, pois no partilha. Incorre no
erro da riqueza no partilhada. A terra do homem que produz a
riqueza, e no de graa como dom. Ele no pode e no quis
partilhar.
O nico fundamento seguro da existncia Deus. Nele adquire sentido
o uso das coisas boas em si. No sero mais instrumento de diviso,
mas de comunho. Elas podero ser transformadas em sinal de amor.
Para a Igreja Deus destinou a terra, com tudo que ela contm,
para o uso de todos os homens e povo, de tal modo que os bens
criados devem bastar a todos, com equidade, sob as regras da
justia, inseparvel da caridade. Sejam quais forem as formas de
propriedade, adaptadas s legtimas instituies dos povos, segundo
circunstncias diversas e mutveis, deve-se atender sempre a esta
destinao universal dos bens (GS 69).
Ecl 1,2; 2,21-23.
O aparente pessimismo de Qohlet pode desconcertar o leitor.
Porm, trata-se de um livro crtico, lcido e realista sobre a condio
do povo na Palestina, por volta do sc. III a.C. A Palestina era
colnia do Imprio Grego dos Ptolomeus, ao qual devia pagar pesados
tributos, que eram arrecadados pela famlia dos Tobadas, que
controlava o comrcio, a economia e a poltica externa. O autor
escreve durante esse tempo de explorao interna e externa (250
a.C.), que no deixava esperanas de futuro melhor. Num mundo sem
horizontes, ele reflete sobre a condio humana, buscando
apaixonadamente uma perspectiva de realizao.
O povo explorado, trabalha demasiadamente e nem mesmo de noite
repousa seu corao (2,23). Quando algum gasta suas energias e
criatividade trabalhando (2,21a), mas no usufrui o trabalho, pois
v-se obrigado a deixar tudo em herana para outro que em nada
colaborou (2,21b), ento a vida se torna iluso e grande desgraa
(2,21c). Para o Eclesiastes a felicidade poder usufruir plenamente
dos frutos do trabalho, pois esse o dom que Deus concede a
todos.
Sl 90,3-4.5-6.12-13.14.17:Cl 3,1-5.9-11.O texto est na segunda
parte da epstola (3,14,1). Esta se caracteriza pela exortao, e
mostra as conseqncias da f na vida da comunidade. E Paulo encoraja
a comunidade a ser coerente com o nome que traz (3,14,1). Na
primeira parte, o apstolo ajuda a comunidade a enxergar melhor a
razo da sua f (1,152,23).
1) Uma opo de vida (3,1-4).
Na base da vida crist est um fato: a solidariedade de destino
com o Cristo morto e ressuscitado. Quem ressuscitou participa desde
agora da condio do Cristo, que est entronizado como Senhor no cu.
Esse fato se traduz numa opo de vida: Buscar e pensar nas coisas do
cu, no nas deste mundo.
2) Uma nova humanidade (3,5-11).
O que significa deixar para trs as coisas da terra, deste mundo?
Isso ilustrado com duas listas de vcios. Morrer com Cristo
significa neutralizar as atitudes e opes erradas, que tem sabor de
morte.
A segunda parte de vcios, nova lista, ressalta os vcios-pecados
relativos s relaes fraternas. A insistncia sobre as palavras que
afetam as relaes sociais chama a ateno para o fato de que no se
trata s de sentimentos ou estados de esprito, mas de reais relaes
entre as pessoas. A lista fechada (e comentada) com o convite a no
mentir uns para os outros. Nesse tema enxerta-se imediatamente a
motivao crist que evoca o contexto batismal com a imagem do
despojar-se/revestir-se do homem velho/novo (/).
O homem novo, que vai se renovando sempre, segundo a imagem do
seu criador, evoca o tema inicial do hino cristolgico: Ele imagem
do Deus invisvel (1,15). O modelo j realizado da nova humanidade,
mas ao mesmo tempo o seu dinamismo interior e histrico, Cristo, o
novo Ado, o projeto ideal da nova criao, Mas tudo isso se realiza
de modo progressivo e histrico, atravs da experincia espiritual e
maturao existencial que chamada de pleno conhecimento (). No se
trata de uma realidade pessoal e ntima, mas de um fato histrico que
abraa tambm as relaes sociais, polticas e religiosas da
humanidade.
A presena libertadora e unificadora de Cristo, aceita na f e
vivida nas opes histricas, torna ativo e eficaz o projeto da nova
humanidade.XXI Domingo Comum Estreita a porta para entrar no Reino
A Eucaristia antecipa a salvao que Deus reservou para todos. Porm,
no basta comer e beber na presena do Senhor, no basta ter ouvido
sua palavra, porque a Eucaristia a porta aberta para a prtica da
justia.I leitura: Is 66,18-21.O terceiro Isaas (56-66) um profeta
annimo do ps-exlio. Ele assegura a esperana do povo na reconstruo
nacional. No texto acima, ele critica o integrismo e o formalismo
religioso, pois vida nova significa, sobretudo levar Deus a srio.
Os repatriados almejavam reconstruir seu mundo fechado. Mediante o
profeta, Deus lhes mostra que o projeto Dele universal: reunir
todas as naes e lnguas; elas vo chegar e ver a Sua glria (66,18).
Desde o tempo da torre de Babel (Gn 11) as naes haviam sido
dispersadas. Agora Deus as quer reconduzir a si, para formar de
todas elas um s povo. O fim da profecia de Isaas evoca a revelao
universal da glria de Deus: uma utopia. Olhar para o futuro, como
faz o profeta ps-exlico de Is 66, no necessariamente fuga da
realidade presente; pode tambm ser um passo ao encontro da
realidade messinica que vem de Deus. Trata-se do futuro criado por
Deus! Ele envia mensageiros a todos os povos, at os mais distantes,
os que nunca ouviram falar dele! Ento faro subir a Sio esses povos
e suas riquezas para santificarem o Senhor no Templo alguns at como
sacerdotes! O profeta v Israel como o lugar da manifestao dos
grandes feitos de Deus. De fato, a prpria pessoa de Jesus, o judeu,
ser desse lugar.
Is 66,18-19 so denominados pela presena da glria de Ihwh. Qual
ser a glria de Deus que as naes iro ver e anunciar?Is 66,20
continua a descrever a ao dos missionrios das naes: sero promotores
do reencontro de todos os judeus, apresentando-os ao Senhor no
monte santo, em Jerusalm. No v. 21 o autor, firma a ideia de um
novo sacerdcio cuja funo consiste em estar a servio da libertao das
pessoas, pois elas pertencem nica e exclusivamente a Deus.
Evangelho: Lc 13,22-30.Segunda parte da viagem a Jerusalm
(13,2217,10).
Lucas situa o texto de hoje: atravessava cidades e aldeias,
ensinando e seguindo viagem rumo a Jerusalm (13,22). No plano da
obra lucana, a viagem uma moldura literria para situar o ensino de
Jesus e dar-lhe um matiz de urgncia e de empenho que deriva da
perspectiva da morte prxima.Jesus, como um missionrio modelo, passa
por todos os lugares ensinando, mas sem perder de vista a sua meta:
Jerusalm, o lugar da plena manifestao do reino de Deus (cf. 19,11).
A questo do interpelante annimo: So poucos os que se salvam?, era
debatida tambm nos crculos religiosos hebraicos. Segundo a teologia
rabnica, o povo de Israel na sua totalidade tomaria parte de um
reino futuro, enquanto, segundo alguns dos grupos apocalpticos,
poucos se salvariam. Jesus no entra nessa casustica quantitativa,
nem d informaes sobre a modalidade da salvao, mas faz um apelo
urgente ao empenho.Jesus no pretende descrever o reino de Deus
futuro i.., a situao salvfica definitiva como um banquete acessvel
apenas por uma porta estreita, que a certo momento vai ser fechada.
A linguagem simblica, comum a muitos contextos religiosos, serve
para estimular a reflexo e incita a tomar uma deciso. No h pessoas
recomendadas junto a Deus, nem privilegiados que possam se gabar
diante dele com base em sua pertena tnica, cultural ou religiosa:
Comemos e bebemos em tua presena e tu ensinaste em nossas praas
(13,26). Esta denncia da falsa segurana dos judeus pode ser atual
tambm para os cristos, porque igualmente agora a nica condio para
ser reconhecido pelo Senhor do festim, para fazer parte da comunho
salvfica, esta: praticar a justia (Sl 6,9).Tampouco contam os
direitos de pertena ou os privilgios de grupo, pois Deus chamar os
que eram considerados excludos, os longnquos. J os antigos profetas
tinham deixado entrever esta abertura universal (cf. Is 25,6-8; 60;
66,18-22; Sl 107,1-3). Mas, com Jesus, ela se torna realidade, que
se atualiza agora, na Igreja missionria de Lucas.
O evangelho de hoje deve ser entendido luz da f na salvao
universal: a todos deve ser apresentado o convite do Reino. Algumas
pessoas, preocupadas, perguntam a Jesus se so poucos os eleitos que
vo participar do reino de Deus. Jesus no responde, mas evoca trs
imagens.As duas primeiras imagens que Jesus evoca so restritivas:
1) a porta estreita, mas a vocao, universal; porm preciso
esforar-se (13,23-24; cf. 16,16); 2) em determinado momento a porta
ser fechada, e ento ser tarde para chorar por entrar (13,25-27).
preocupao apocalptica de saber o nmero dos eleitos e as chances de
entrar, Jesus responde: o nmero dos eleitos no importa; importa a
converso, esforar-se para entrar e no ficar gracejando, exibindo um
ar de interessado, sem nada empreender. Pois vem o momento em que o
dono da casa se levanta e fecha a porta; ento, no reconhecer os que
estiveram com ele nas praas, porm s de corpo presente, sem dar
audincia sua palavra. Ora, a festa em si, ela est aberta a todos os
que quiserem esforar-se. Mas Jesus dirige uma crtica queles em
cujas praas ele ensinou (13,26): deixaram-no falar, mas no
obedeceram a seu apelo de converso, talvez por estarem seguros de
pertencer ao nmero dos eleitos. Eles so os primeiros que se tornam
ltimos, enquanto os ltimos os desprezveis pagos , quando se
convertem, se tornam os primeiros, para sentar com Abrao, Isaac e
Jac (que provocao para os judeus!) na mesa do banquete escatolgico,
vindos de todos os cantos do mundo.
Aparece aqui a terceira imagem: o banquete dos povos. Apesar da
excluso dos primeiros, que recusaram o convite, Deus realizar o
banquete escatolgico para todos os povos, incluindo os gentios (os
ltimos) (13,28-30). Portanto, Deus no mesquinho, no prepara a festa
para um nmero restrito, mas para todos. Espera, porm, o empenho da
f, vivida na caridade, como resposta palavra da pregao: qualquer um
que responder a essa exigncia poder participar. Para compreender
melhor essa combinao entre o chamado universal e a exigncia de
disposio e empenho pessoal, pode-se ver a parbola do banquete
universal segundo Mateus, seguida da parbola do traje de festa que
se exige para participar (Mt 22,1-14).
Essa mensagem no perdeu sua atualidade. O que Jesus recusa o
calculismo e a falsa segurana a respeito da eleio. Esta no responde
a nenhum critrio humano. a graa de Deus que nos chama sua presena.
Diante desse chamado, todos, seja quem for, devem converter-se,
pois ningum digno da santidade de Deus nem de seu grande amor.
Ningum se pode considerar dispensado de lhe prestar ouvido e de
transformar sua vida conforme a exigncia de sua palavra. No existe
um nmero determinado de eleitos ( bom repeti-lo, em vista de certas
seitas por aqui). O que existe um chamado universal e permanente
converso. E esse chamado vale tambm para os que j vm rotulados de
bons cristos. Pois a f nunca conquistada para sempre. como o man do
deserto: se a gente o quer guardar at a manh seguinte, apodrece
(cf. Ex 16,20)! Quem no retoma diariamente o trabalho de responder
Palavra com autntica converso gritar em vo: Senhor, participei de
retiros e assisti a pregaes, palestras e cursos em teu nome (e
tambm comi e bebi nas tuas festinhas paroquiais)... E tambm hoje os
ltimos podero ser os primeiros: os que no vo igreja porque no tm
roupa decente, porque devem trabalhar, porque tm filhos demais ou,
simplesmente, porque se sentem estranhos entre tanta gente de
bem... Para cham-los que Jesus no ficou nos grandes centros, mas
entrou nos bairros e vilarejos.II leitura: Hb 12,5-7.11-13.A
segunda leitura apresenta um tema delicado: o sofrimento como
pedagogia de Deus. Nossa atual condio humana precria, frgil (Hb
5,15). O Filho de Deus participa dessa fragilidade, para nos
ajudar. Ele conheceu tentao, sofrimento e morte: aprendeu a
obedincia (5,8). Do mesmo modo, os fiis devem passar pela escola de
Deus: assim chegaro justia, retido, salvao. Deus nos educa para a
vida (12,9-10).Esse texto entra em choque com a mentalidade
esclarecida. O texto diz que Deus castiga para nos educar: Pois o
Senhor educa a quem ele ama e castiga todo que acolhe como filho
(Hb 12,6; cf. Pr 3,11-12). Achamos horrvel: Deus castiga, faz
sofrer? No. Educa-nos, como um bom pai educa seu filho,
corrigindo-o. Essa a resposta dos antigos para o escndalo do
sofrimento, e do nosso povo simples tambm. Ser que eles se enganam?
Enquanto os eternos disputadores acusam Deus por permitir o
sofrimento, os simples veem no sofrimento uma escola de vida. O
importante no de onde vem o sofrimento, a no ser que seja
consequncia da maldade. Importante saber o que fazer com ele! Que o
sofrimento existe inegvel. Muitas vezes, causado pelos homens, mas
nem sempre. A quem sofre importa menos explicar as causas do que
dar um sentido ao sofrer. O sofrimento pode ter o valor de educao
para uma vida que agrade a Deus, j que este, em Cristo, tambm o
encarou. No errada tal valorizao do sofrimento, j que no se
consegue escapar dele, nem mesmo no admirvel mundo novo da era
tecnolgica. Como cristos, devemos aprender a viver uma vida nova,
diferente da vigente. Isso no possvel sem sofrer. Porm, esse
sofrimento no deprime, no torna fatalista, mas faz crescer a fora
para produzir frutos de paz e justia: Levantai, pois, as mos
fatigadas e os joelhos trmulos; dirigi vossos passos pelo caminho
reto! (Hb 12,12).
Para reflexo.A vocao salvao universal, mas nem por isso todos os
que a ouvem esto salvos. Existem muitos cristos acomodados e
seguros que fazem formalmente todo o prescrito, porm no assumem com
o corao o que Jesus deseja que faam, sobretudo o incansvel amor ao
prximo. Eles ficaro de fora se no se converterem, enquanto outros,
considerados pagos, vo encontrar lugar no Reino. Os que s servem a
Deus com os lbios e no com o corao e de verdade, o Senhor no os
conhecer!Contudo, essa chegada de um novo tipo de cristos, muitas
vezes vindos de longe, no significa que o ser cristo esteja ficando
mais fcil. Pelo contrrio, exige desinstalao. Exige busca permanente
do que realmente ser cristo: no apegar-se a frmulas farisaicas, mas
entregar-se a uma vida de doao e de amor, que sempre nos
desinstala.
Ento a questo no se poucos ou muitos vo ser salvos. A questo se
estamos dispostos a entrar pela porta estreita da desinstalao e do
compromisso com os que sempre foram relegados. A questo se abrimos
amplamente a porta de nosso corao, para que a porta estreita se
torne ampla para ns tambm. Deus no fechou o nmero. A ns cabe nos
incluir nele...XXIII Domingo Comum Opo de f, opo radical Sb
9,13-19; Sl 89; Fm 9b-10.12-17; Lc 14,25-33.
A renncia ao mundo um gesto que s se torna possvel pela graa da
f no fato de que, em Jesus, Deus se d gratuitamente ao mundo e que
essa graa no pode ser arrancada nem pelo uso do mundo e o
compromisso com ele nem pela simples fuga. Alis, s quem tem com o
mundo uma relao positiva pode abandon-lo como valor positivo (Karl
Rahner).Se no evangelho, como na percope de hoje, Jesus multiplica
os apelos renncia, se convida a carregar a prpria cruz e segui-lo,
no para que o homem fuja do mundo, mas sim para que o assuma e seja
radicalmente fiel condio humana.O cristo convidado a enfrentar a
vida com o mximo realismo. Mediante o sofrimento e mesmo da morte,
ele d sua contribuio insubstituvel ao xito da aventura humana. Ele
sabe que a morte o caminho para a vida. Porm, somente obter isso
seguindo Jesus sob o impulso do seu Esprito.A f algo radical e
precisamos interrogar-nos se estamos prontos para tudo. opo de um
homem maduro, que avalia atentamente o que lhe prope a mensagem
crist. No f de convenincia nem fcil romantismo nem desejo de
pertena sociolgica.Uma opo madura para a f exige autonomia e
dedicao, valores inseparveis. A autonomia, pela qual algum ele
mesmo, inclui a aceitao de si mesmo, a aceitao dos outros aos quais
se pertence na convivncia, a aceitao do outro no amor e no
matrimnio, a aceitao do sentido da existncia. Ela implica, ainda,
um plano de realizao de si que leve em conta esse contexto
ambiental e uma tomada de posio pessoal que se torna abertura
dedicao. Dedicao significa capacidade de estreitar laos com as
pessoas desinteressadamente, respeitando o valor das pessoas e das
coisas, respeitando a prpria dignidade.A educao para a f,
especialmente nos jovens, dever levar em conta essas observaes. Se
no se forma uma personalidade autnoma nas relaes consigo mesmo, com
o prximo e com Deus mediante experincia, corre-se o risco de
comprometer o crescimento. Educao para a f educao integral; parte
da recusa da simples aprendizagem mnemnica, da cultura livresca, e
procura inserir o jovem na comunidade como lugar de experincia do
encontro com Deus.A famlia o lugar ideal para a educao da f. O amor
e a dedicao entre pai e me, a doao de todas as suas energias aos
filhos possibilitam a compreenso do amor de Deus por ns e estimulam
a corresponder concretamente.Sb 9,13-19: Quem poder imaginar o quer
o Senhor?O livro da Sabedoria o ltimo livro do AT. Foi escrito em
grego, provavelmente no ano 50 a.C. Seu autor um judeu piedoso de
Alexandria, capital cultural do helenismo e muitos judeus da
dispora moravam a.O que a Sabedoria? Fundamentalmente a Lei,
mediante a qual o homem aprende o que agrada a Deus e alcana a
salvao (v. 18).Sb 9 uma orao atribuda a Salomo. Os judeus de
Alexandria apropriaram-se dela, a fim de que iluminasse as
exigncias da f em meio ao mundo dos gentios em que se encontravam.
Ainda hoje ela indica a atitude fundamental daquele que deseja
perscrutar os desgnios de Deus para se comprometer com seu
projeto.Fm 9b-10.12-17: O ser cristo elimina as desigualdades
sociais.Filemon habitava, provavelmente, em Colossas. Sua casa era
uma igreja domstica. L se reuniam os fiis (v. 2) para a orao e a
Ceia do Senhor. Ele tinha um escravo domstico de nome Onsimo (=
til) que abandonou a casa do patro. Onsimo encontra Paulo na priso
(talvez em feso). na priso que Paulo gera Onsimo f em Jesus (v.
10).Paulo sabe como Filemon deveria se comportar em relao a Onsimo,
deixa que quele decida o que deve fazer, limitando-se a suplicar
(v. 10) em vez de impor ().Como reagir Filemon em relao ao escravo?
Os escravos fujes eram severamente punidos e, no raro, mortos. Ele
o acolher, no mais como escravo, mas como irmo?Paulo deixa que
Filemon descubra, luz do ser cristo, como se relacionar como
Onsimo.
Paulo trata com o mesmo amor, tanto a Filemon quanto a Onsimo.
Para ele, ambos so iguais.
A escravido intil, para nada serve: No passado ele te foi til
(v. 11). A verdadeira utilidade de Onsimo nasce do amor e da
supresso das diferenas sociais. Onsimo tornou-se til para Paulo
porque entre eles foi criada uma relao de pai-filho: Ele como se
fosse meu prprio corao (literalmente entranhas , v. 12).A
liberalidade de Paulo comandada pelo amor desinteressado.
Perdendo um escravo, Filemon ganha um irmo tanto no plano humano
como no plano da f no Senhor (v. 16), ou seja, no somente nos
sentimentos, mas tambm nas relaes recprocas, abolindo para sempre o
sistema desigual e estabelecendo relaes iguais e livres para
todos.
Lc 14,25-33: Condies para seguir Jesus.S. Lucas tem sua disposio
algumas sentenas sobre as condies para o seguimento de Jesus e as
introduz com um novo cenrio. Jesus est a caminho e uma numerosa
multido o segue. A este pblico ele recorda o estatuto do
discpulo.
A primeira condio uma liberdade total no que diz respeito s
ligaes de parentesco. Do discpulo de Jesus pede-se a dedicao sem
reservas que qualificava o grupo levtico em servio da palavra de
Deus e aliana (cf. Dt 33,8-11). Agora, no lugar da palavra da
aliana, h uma pessoa concreta e histrica, Jesus, que pede o
descentramento total, que chega at o sacrifcio de si.
Carregar a cruz, significa enfrentar a morte violenta, ao
exemplo de Jesus e por fidelidade a Ele. Estas situaes-limite se
tornam reais em tempo de perseguio. Mas quem quer seguir a Jesus
deve levar em conta tambm este risco. O par de parbolas que segue,
a do construtor ( - v. 28) e do rei em guerra (v. 31a) um convite a
refletir e ponderar bem o risco daquele que quer se tornar
discpulo. Trata-se de uma deciso carregada de consequncias. provvel
que o Cristo no queira desencorajar os entusiastas que almejam
segui-Lo, mas sugerir as condies para perseverar.
Na comunidade lucana, recordam-se estas palavras de Jesus,
diante das traies, das rendies e defeces dos cristos perante as
primeiras dificuldades.A aplicao das duas parbolas, no v. 33, pode
deixar a impresso de certo simplismo: Qualquer um de vs que no
renunciar a tudo aquilo que possui no pode ser meu discpulo.
Pode-se tambm suspeitar que Lucas ceda aqui a uma tendncia que o
leva a ver nas riquezas um perigo para a perseverana crist, e a
considerar a posse como inconcilivel com a condio de discpulo (cf.
12,13-34; 16,1-13; 18,24-30). Talvez o evangelho seja mais realista
do que ns pensamos. A liberdade do discpulo e a sua coragem, o
desapego radical e a seriedade do compromisso tornam-se palavras
vazias e abstratas at quando ele no comear a perder os bens,
entendidos no sentido mais amplo. este o so materialismo evanglico,
que d densidade histrica ao projeto de liberdade no seguimento de
Cristo.A este propsito calha bem a sentena acerca do sal. As
palavras precedentes pediam a radicalidade do empenho, esta ltima
exige a integridade. No se pode ser discpulo pela metade; um
discpulo que perdeu a fora inovadora originria intil, ou antes,
perigoso. Certamente, a proposta de Jesus no para uma casta de
puros, nem para um grupo de eleitos. Mas, por outro lado, um
evangelho aguado e adaptado a cristos s de registro est bem longe
do projeto de Jesus. Mas na base de quais critrios deve-se
estabelecer a genuidade do evangelho e dos discpulos? Lucas prope
um teste simples e verificvel sem subterfgios jurdicos e
bizantinismos teolgicos: Qualquer um de vs que no renunciar a tudo
aquilo que possui no pode ser meu discpulo (14,33).
Diante de Jesus tudo o mais se torna relativo.XXIV Domingo Comum
A misericrdia acolher o fraco e o arrependido Ex 32,7-11.13-14; Sl
50; 1Tm 1,12-17; Lc 15,132.
1Tm 1,12-17: Paulo agradece a Cristo a misericrdia para com
ele.Paulo deixou Timteo em feso para organizar essa comunidade
dividida por conflitos entre lideranas. A epstola nos d algumas
indicaes a esse respeito. Alguns lderes foram contaminados pelo
vrus que ronda sobretudo as hierarquias: o poder que faz a cabea
das lideranas, levando-as a se considerar invulnerveis, donas do
saber, que sempre tem razo (1,4-7). As consequncias disso so
variegadas. So incapazes de reconhecer os prprios limites e erros,
no tem misericrdia para com os outros e no assumem sua funo como
diakonia.A partir de sua experincia, Paulo procura iluminar essas
questes. Primeiramente, ele afirma que Jesus confia no pecador,
chamando-o a seu servio no porque seja perfeito, ou porque um dia
venha a s-lo, mas porque Deus bom. E isso motivo de ao de graas
(1,12). Ora, foi justamente o que aconteceu com Paulo: no passado
era blasfemador, perseguidor e insolente, mas Deus teve misericrdia
(1,13). Em segundo lugar, somente Jesus fiel e sua fidelidade se
manifestou sob forma de amor que envolve os pecadores,
transformando-os por sua misericrdia (1,14).1,15 sintetiza o texto
de hoje: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o primeiro.Lc 15,132: As parbolas da misericrdia.No
centro de seu evangelho, S. Lucas reuniu trs parbolas. Elas
ilustram o mesmo tema: participar na alegria de Deus, que agora,
por meio de Jesus Cristo, acolhe e salva os pecadores. Esta a
prpria substncia do evangelho. O amor e a bondade de Deus, visveis
e operantes em Jesus, libertam o homem de suas misrias, da solido e
do desespero.
A finalidade das trs parbolas era um convite dirigido aos justos
judeus para entrarem na lgica do amor e da bondade de Deus, que se
revelam em Jesus. No contexto da igreja de Lucas, as trs narraes
podiam servir para aplainar as resistncias e as crticas daqueles
cristos observantes e empenhados que viam com suspeita o ingresso
dos novos convertidos na comunidade crist.
Lc 15,1-10: A ovelha e a moedas reencontradas.O evangelho, no
seu sentido etimolgico, a boa nova () que Deus anuncia a todos os
homens mediante Jesus. O contedo dessa boa nova a esperana de
salvao, de acolhimento, comunho e vida para os excludos e os que
esto longe. Jesus, por meio de seu comportamento e de suas
palavras, proclama a todos que Deus est aqui para acolher, reunir
os desesperados e os perdidos. Nisto consiste a alegria e a festa
de Deus. Porm, o comportamento de Jesus, que anda em companhia de
gente equvoca, pecadores e mpios, choca-se com a ortodoxia
religiosa de seu ambiente, que quer manter claramente separadas as
duas categorias: os justos de um lado, os pecadores do outro.De
fato, o cumprimento exato das normas jurdicas contidas na Torh leva
justia, i.e., ao estado pelo qual o homem pode apresentar com
segurana perante Deus. O pecador compromete a aliana e a salvao do
povo de Deus. Da se deduz que os justos devem se separar daquele
que transgride a lei, de proscrev-lo. O justo evitar todo contato
com o pecador, para no se contaminar com seu estado de impureza.Na
situao eclesial, as duas parbolas de S. Lucas so um convite aos
cristos praticantes, a fim de que faam lugar para todos os que vem
de fora e se alegrem pela sua converso. De fato, a converso crist o
encontro dos pecadores com Jesus e o seu acolhimento. a comunidade
dos discpulos que agora tem o compromisso de tornar visvel o estilo
de Deus como Jesus o testemunhou e atualizou.E um clima de festa
alegre deveria caracterizar a comunidade crente que torna atual e
visvel a ao salvfica de Deus no mundo.
Lc 15,11-32: Parbola do filho reencontrado (dos dois irmos, ou
do pai misericordioso).O trio das parbolas sobre a bondade de Deus
alcana seu ponto alto na parbola do filho reencontrado, comumente
conhecida como parbola do filho prdigo. Na verdade, o protagonista
o pai, que d unidade s duas cenas em que intervm os dois irmos: o
filho mais jovem (15,11-24) e o filho maior (15,25-32).(...)Todos
os pormenores descritivos esto em funo da mensagem central: o amor
e a bondade de Deus se revelam numa forma que transtorna os
esquemas e as expectativas humanas.
A temtica dos dois irmos percorre todo o AT, a comear com Caim e
Abel, passando por Ismael e Isaac, at Esa e Jac, espelha-se de um
outro modo na relao dos 11 filhos de Jac no que se refere a Jos. Na
histria das eleies domina uma notvel dialtica entre os dois irmos,
que permanece no AT como uma questo aberta. Jesus retomou esta
temtica numa nova hora da ao de Deu na histria e imprimiu-lhe um
novo rumo.Seguiremos a parbola passo a passo. Encontramos, em
primeiro lugar, a figura do filho mais novo, mas logo no princpio,
vemos tambm a grandeza do corao do pai. Ele atende o desejo do
filho pela sua parte da riqueza e divide a herana. D ao filho a
liberdade. Ele pode imaginar o que o filho mais novo vai fazer, mas
deixa-lhe o caminho livre.O filho vai para uma terra distante. Os
Padres da Igreja viam aqui principalmente o interior alheamento do
mundo do pai o mundo de Deus, a ruptura interior da relao, a
extenso do afastamento do que prprio e do que autntico. O filho
esbanja a sua herana. Ele quer saborear a vida at o extremo, ter,
segundo seu pensamento, uma vida em plenitude. No quer estar
submetido a nenhum mandamento, a mais nenhuma autoridade: ele
procura a radical liberdade; quer apenas viver para si mesmo.O
abandono de tudo o que at agora se tinha alcanado e a caminhada
para uma liberdade sem limites? A palavra grega que est na parbola
para a fortuna esbanjada significa, na linguagem da filosofia
grega, essncia (). O filho prdigo esbanja a sua essncia, a si
mesmo.No fim, est tudo gasto. Ento, aquele que se tornara
totalmente livre torna-se agora escravo: guardador de porcos, que
seria feliz se recebesse a comida dos porcos como alimento. O homem
que entende a liberdade como radical arbitrariedade da prpria
vontade e do prprio caminho vive na mentira, pois ele, por essncia,
faz parte de um convvio, a sua liberdade uma liberdade
compartilhada; a sua essncia traz em si mesma instruo e norma, e
assim a liberdade seria esta interior unidade. Por isso, uma falsa
autonomia conduz escravatura.Para os judeus, o porco um animal
impuro servir aos porcos a expresso da extrema alienao e da extrema
misria do homem. O totalmente livre tornou-se escravo
miservel.Neste momento ocorre a mudana. O filho mais moo percebe
que est perdido. Que na casa de seu pai que era livre e que os
servos do seu pai so mais livres do que ele. Entrou em si mesmo
(15,17). Aparece aqui como uma palavra vinda de uma terra distante
(...): longe da casa, vivendo longe de sua origem, este homem tinha
tambm se afastado de si mesmo. Ele vivia longe de sua existncia.A
sua mudana, a sua converso, consiste em que ele reconhece, se
concebe como alienado, que realmente foi para o estrangeiro e que
agora regressa a si mesmo. E em si mesmo ele encontra a indicao do
caminho para o pai, para a verdadeira liberdade de um filho. As
palavras que ele preparou para o seu regresso permitem-nos
reconhecer a peregrinao interior que ele ento atravessa.O pai v o
filho de longe e vai ao seu encontro. Ele ouve a confisso do filho
e v assim o caminho interior que este percorreu, v que o filho
encontrou o caminho da verdadeira liberdade. O pai no o deixa
acabar de falar, abraa-o e beija-o e manda preparar um grande
banquete de alegria. alegria porque o filho, que j estava morto
(15,32) quando partiu com a sua fortuna e que agora vive,
ressuscitou; estava perdido e foi de novo encontrado.
Os Padres da Igreja viram na imagem do filho perdido a imagem do
homem em si, de Ado, que somos todos daquele Ado, de quem Deus foi
ao encontro e que agora acolheu de novo na sua casa. Na parbola, o
pai encarrega os criados de trazerem depressa o melhor vestido.
Para os Santos Padres este melhor vestido a referncia ao vestido
perdido da graa, com o qual o homem tinha sido vestido no princpio
e que tinha perdido no pecado. Agora lhe oferecido de novo este
melhor vestido o vestido do filho. Na festa, que ento organizada,
eles veem uma imagem da festa da f, da eucaristia festiva, na qual
antecipada a eterna refeio festiva. Literalmente, segundo o texto
grego, o irmo mais velho, ao regressar para casa, ouve sinfonias e
coros de novo para os S. Padres uma imagem para a sinfonia da f,
que transforma o ser cristo em alegria e em festa.
Mas o essencial do texto no est nesse pormenor; o essencial
agora claramente a figura do pai. compreensvel um pai agir assim?
P. Grelot chama ateno para o fato de que Jesus aqui fala totalmente
com base no AT: o modelo desta viso de Deus, do Pai, encontra-se em
Osias (11,1-9).Agora entra em ao o filho mais velho. Ele regressa a
casa vindo do trabalho no campo, ouve a festa em casa, informa-se
acerca da causa dela e fica muito zangado. Ele no pode achar justo
que a este vadio que dissipou com prostitutas toda a fortuna o bem
do pai agora, sem prova nem tempo de penitncia, imediatamente e com
brilhante esplendor, lhe seja oferecida uma festa. Ora, isso
contradiz o seu sentido de justia (): uma vida de trabalho, que ele
passou parece sem importncia perante o indecente passado do outro.
Fica cheio de amargura: H tantos anos que te sirvo e nunca
transgredi um sequer dos teus mandamentos diz para o pai, e nunca
me deste nem sequer um cabrito para fazer festa com meus amigos
(15,29). Tambm com ele foi ter o pai, e agora lhe fala cheio de
bondade. Uma vez mais ele toma a iniciativa; ele sai e suplica ao
filho, a fim de que participe da sua alegria.
O irmo mais velho no sabe de nada a respeito da mudana interior
e das peregrinaes do outro, do caminho para o longnquo afastamento,
da sua runa e do seu reencontrar-se. Ele s v a injustia. Tambm
quando o filho que permanecer fiel, com clculo frio, culpa o pai de
injustia e parcialidade pelo seu gesto de bondade e de amor para
com o filho egresso, ele no sabe fazer outra coisa a no ser repetir
o que tinha dito ao fim do primeiro encontro: um filho
reencontrado, para um pai como um novo nascimento vida. Ento a nica
reao espontnea e justa a alegria e a festa.
(...) Na amargura da bondade humana perante a bondade de Deus
torna-se evidente uma amargura mais interior da obedincia cumprida
(calculada), que anuncia os limites desta obedincia. Por meio da
parbola, Deus que fala conosco mediante o Cristo - que permanecemos
em casa - para que tambm nos convertamos verdadeiramente e
estejamos alegres por causa de nossa f.Esta obra-prima do terceiro
evangelho sela perfeitamente a mensagem das duas parbolas
precedentes. Quer ser um convite a descobrir na imagem do pai o
amor e a bondade acolhedora de Deus, a se deixar envolver pela
dinmica deste amor, a participar na sua alegria. Esta a nova justia
que no pode ser entendida pelo teimoso e montono observador de todo
mandamento - o irmo maior - incapaz de entrar na nova lgica. O
evangelho no diz como reagiu o filho mais velho ltima resposta do
pai. Tambm ele, que se reputava justo e fiel, perante o pai deve se
converter ao amor, e antes de tudo ao amor fraterno.Desta sorte,
Jesus responde s crticas que lhe movem os fariseus e escribas, os
piedosos observantes do judasmo (15,1-2). Mas a novidade que o amor
extraordinrio e desconcertante do pai no somente uma bela imagem
religiosa mas tambm uma realidade presente e visvel nos gestos e
nas palavras de Jesus. Este , em ltima anlise, o ncleo mais
original do evangelho, da boa nova. Agora os homens so chamados a
tomar parte na alegria de Deus, abrindo-se a um amor que tem o
mesmo horizonte daquele de Deus.Ex 23,7-11.13-14: Deus mesmo d
exemplo de compaixo.A intercesso de Moiss prefigura a de Cristo,
que se fez solidrio com o homem (Hb 4,15), intercede por ns junto
do Pai (Hb 7,25).
XV Domingo Comum A riqueza para construir a fraternidade Am
8,4-7; Sl 112; 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13.Am 8,4-7: Lesar os pobres
lesar a Deus.Vises de Ams: I (7,1-3: os gafanhotos [Ex 32; Nm 14);
II (7,4-6: a seca); III (7,7-9: o prumo); IV (8,1-14: cestos de
frutos maduros); V (9,1-10: a queda do santurio); Dia da restaurao
(9,11-15).
O profeta Ams, apesar de ser do Sul, exerceu sua atividade
proftica no Reino do Norte no tempo de Jeroboo II (783-743 a.C.),
num perodo marcado por fortes injustias sociais e manipulaes
religiosas. Jeroboo foi responsvel pelo expasionismo territorial,
levou as fronteiras de Israel l onde tinham sido postas no apogeu
do imprio de Davi.O ltimo orculo da srie escutai (8,4-8) se
concentra no comrcio injusto. Esses comerciantes consideram o sbado
como interrupo do negcio (Is 58,13; Jr 17,19-27); fazem dos pobres
mercadoria humana, obrigando-os a venderem por dvidas mesquinhas.Os
santurios de Betel e Guilgal fervilhavam de fiis, sacrifcios e
ofertas. Mas era um culto que acobertava os desmandos dos poderosos
e servia poltica corrupta do rei.(8,7) O Senhor (...) no esquecer
(no esquecer = no perdoar).1Tm 2,1-8: A orao: sintonia com o
projeto de Deus.Entre as primeiras normas que Paulo d a seu
discpulo, bispo de feso, esto as que se referem orao pblica
(2,1-15). provvel que ele considere a orao o centro da vida
comunitria Nela no h exclusivismos: deve-se orar por todos (2,1),
tambm pelos que so constitudos em autoridade (2,2; cf. Rm 13,1-7;
Tt 3,1). O fundamento dessa ordem a vontade salvfica universal de
Deus (2,3-4; Ez 18,23), que nos foi revelada na obra do nico
mediador Jesus (2,5; Hb 8,6), que deu sua vida em resgate por todos
(2,6; Mt 20,28; Gl 1,4). Este o evangelho anunciado por Paulo.Tambm
eles so chamados salvao (2,3-4; cf. Ez 18,23), que o conhecimento e
o reconhecimento da verdade do evangelho (Mt 20,28). No se pede o
castigo, mas a converso; o primeiro passo que sejam agentes da
paz.
Salvao conhecimento da verdade (2,4c; cf. 4,3; 2Tm 2,25; 3,7; Tt
1,1). Mas este conhecimento comporta o empenho de toda a vida (Os
2,22; Jo 8,32; 10,4; 2Ts 2,12 etc).
Lc 16,1-13: O administrador astucioso (negligente).O captulo 16
forma uma unidade literria construda ao redor de um tema: o uso da
riqueza. Na parbola do administrador astucioso (16,1-9) faz-se um
urgente convite aos discpulos para uma deciso corajosa: garantir-se
um futuro salvfico libertando-se da riqueza em favor dos pobres
(16,10-12), enquanto a escravido ao dolo do poder econmico, o
dinheiro, impede de ser livres para o servio de Deus (16,13).A
inspirao desta parbola vem de um escndalo administrativo, como
podia acontecer na gerncia das grandes fazendas da Galilia ou da
Transjordnia. Um latifundirio que confiou a contabilidade da
fazenda a um administrador recebe denncias contra este ltimo a
respeito de sua gerncia. Segundo o costume tolerado na Palestina
naquela poca, o administrador tinha o direito de conceder
emprstimos com os bens do seu senhor. E, como no era remunerado,
ele se indenizava aumentando, no recibo, a importncia dos
emprstimos. Assim, na hora do reembolso, ficava com a diferena. No
presente caso, ele no havia emprestado, na realidade, seno
cinquenta barris de leo e oitenta medidas de trigo. Colocando no
recibo a quantia real, ele estava se privando apenas do benefcio
para dizer a verdade, usurrio que havia subtrado. Sua desonestidade
(16,8) no consiste, pois, na reduo dos recibos o que no seno um
sacrifcio de seus interesses imediatos, manobra hbil que o senhor
pode louvar , mas antes nas malversaes anteriores que motivaram a
sua demisso (v. 1).Em geral o administrador ou gerente de um
latifundirio gozava de uma notvel liberdade e responsabilidadeNum
momento crtico, ele agia com extrema deciso e prudncia, tirando
proveito de sua posio para assegurar para si um futuro e refazer a
vida. O relato evanglico cita dois exemplos da manobra de cobertura
posta em ao pelo administrador: um em favor do atacadista que
comprou cem barris de leo, e um em prol do negociante que comprou
cem medidas de trigo.
O administrador que tem entre os seus papis os contratos dos
devedores remite ou diminui cerca de 50% ao primeiro e 20% ao
segundo devedor. Assim, ele renuncia em parte compensao que de
costume tirava das operaes anlogas e, com prejuzo de seu senhor,
assegura-se clientes amigos ligados a si pela cumplicidade na
fraude. Ento se compreende por que o senhor da fazenda tem palavras
de elogio para a hbil manobra de seu funcionrio, que, contudo,
claramente desonesto na frmula de tirar proveito. A sentena de
Jesus (16,8b) tem um tom pessimista: ele ope a deciso e inteligncia
com que agem os homens ligados ao sistema presente, filhos deste
mundo, indeciso e indolncia dos filhos da luz. As expresses filhos
da luz e filhos deste mundo so comuns nos ambientes religiosos dos
monges de Qumran, onde se recomenda clara separao entre os filhos
da luz membros da comunidade, e os filhos deste mundo, ou das
trevas (cf. sQs I,9; CD XX,34).Talvez Jesus polemize contra esta
separao maniquesta e convide os discpulos a se empenhar no mundo
social e econmico, mas com critrios diametralmente opostos aos do
sistema pecaminoso no qual se inspirava o administrador desonesto.
Eles devem se servir do capital, o dinheiro que em todo caso e
sempre inquo, enquanto fruto de acumulao e fonte de falsa confiana
, para criar uma solidariedade que vai alm da esfera e dos
interesses mundanos. Em outras palavras, devem dar os bens aos
pobres, que assim se tornam seus amigos e clientes junto de Deus
(12,33). Esta a deciso corajosa e sbia que deve distinguir os
discpulos: garantir seu verdadeiro futuro enquanto tem
possibilidade, mas com critrios alternativos em relao aos do
sistema mundano.
(16,9) O dinheiro chamado da iniquidade no s porque aquele que o
possui o adquiriu mal, mas ainda, de maneira mais geral, porque na
origem de quase todas as fortunas h alguma desonestidade.Esta
parbola conserva algumas expresses de sabor semtico aramaizate:
administrador da iniquidade, mamon da iniquidade; outras expresses
lembram o modo do ambiente apocalptico judaico, como habitaes ou
tendas eternas, para indicar a morada eterna junto com Deus, filhos
da luz e deste mundo. Nesta base foi proposta uma nova traduo para
Lc 16,9, apoiada no subjacente texto aramaico original: Fazei
amigos antes que mamon (riqueza). Assim como o administrador astuto
fez amigos, assim tambm os discpulos devero assegurar amigos que os
possam realmente proteger, e no tanto por sua confiana no dinheiro
ou na riqueza (cf. P. COLELLA. De mamona iniquitatis, in. RBiblt
19, 1971, p. 427-428; ZNT 64 [1973], p. 124-126.
(16,13) Mmn (), deus das riquezas, quer ser servido como rival
ou competidor de Deus (cf. Is 65,11). O dinheiro para ser
administrado como meio de fazer o bem, no como sujeio a ele (Mt
6,24): Quem ama o dinheiro ser por ele extraviado... Feliz o homem
que se conserva ntegro e no se perverte com a riqueza (Eclo
31,5.8).Quem se compadece do pobre empresta ao Senhor (Pr
19,17).
O dinheiro visto tambm como algo pequeno, coisa mnima, da quem
for fiel nas coisas pequenas, tambm o ser nas grandes.
XXVI Domingo Comum A riqueza que aliena dos bens de Deus.Am
6,1a.4-7; Sl; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31.
Am 6,1a.4-7: Vs, que estais deitados em camas de marfim, ireis
acorrentados frente dos cativos!No h maior insulto indigncia dos
pobres do que o luxo desenfreado e vergonhoso dos ricos (6,5-6).
Contra esses Ams fala em nome de Deus, ameaando-os com castigo.Os
nobres da Samaria capital poltico-administrativa do Reino do Norte
sentiam-se tranquilos e seguros por duas razoes: a) as conquistas
do rei Jeroboo II trouxeram paz e bem-estar, ainda que para uma
minoria; b) Esperava-se o dia de Yhwh, no qual essas conquistas
assumiriam propores imensas, pelo fato de Israel ser o escolhido de
Deus.
(...) A sentena de Yhwh radical: eles iro puxar a fila dos que
sero levados para o exlio (6,7a). S um pequeno resto ir sobrar
(6,10), os que no exploraram os outros.Lc 16,19-31: Parbola do rico
e de Lzaro.O cenrio o da viagem de Jesus a Jerusalm (9,5119,27).
Nessa viagem teolgico-catequtica so apresentadas as caractersticas
fundamentais de ser cristo, com os riscos e as exigncias que isso
implica.A parbola um convite ao discernimento. uma provocao.S.
Lucas o nico a narrar este relato simblico que, a modo de exemplo,
ilustra o perigo da riqueza e prope um apelo converso.
Na percope podem-se distinguir duas partes.Na primeira, dominam
as duas cenas de contraste entre o rico e o pobre, antes e depois
da morte, com a inverso total da situao (16,19-26). A segunda,
prolonga o dilogo entre o rico atormentado na morada dos mortos e o
pai Abrao, para concluir com o convite converso antes que seja
tarde (16,27-31).A parbola descreve a situao eterna daquele que no
ps em prtica o ensinamento da palavra de Deus contida em Moiss e
nos profetas (Dt 8,12-14; Sl 72). O amor da riqueza tornou-o cego
para Deus e para o pobre (Mt 6,22-23). Quem est bem nutrido no se
dispe a ceder suas riquezas nem diante dos maiores sinais, como por
exemplo, a ressurreio de um morto. De fato, Cristo ressuscitou, mas
muitos ainda continuam a ser cegos e no se decidem diante dessa
realidade (Lc 16,27-31).Lzaro forma abreviada de Eleazar = Deus
auxilia. H um papiro antigo, nico, que traz o nome do personagem
rico: Enas.A figura do rico visualizada segundo o clich oriental:
um homem que exibe roupas caras e festeja com a mesa sempre
preparada. o tpico folgazo, fechado no seu mundo dourado, sem
problemas e angstias. Perto dele jaz o pobre, que tem um nome
significativo: Eleazar - Deus ajuda. Tambm para o pobre dois traos
caractersticos bastam para apresent-lo: um mendigo que est sempre
com fome e doente, a tal ponto que no consegue afastar os cachorros
vagabundos e molestos.A morte do home rico e do pobre Lzaro o
intervalo que prepara a cena seguinte. Aqui, as partes esto
invertidas. Lzaro agora est sentado no alto, no banquete feliz, no
lugar de honra perto de Abrao; o rico est embaixo, na morada dos
mortos, no meio dos tormentos. O dialogo entre o rico e Abrao serve
para comentar a inverso das situaes. O destino do homem rico,
indiferente para com o pobre, conclui-se com uma runa total e
irreversvel. O destino do pobre, prottipo do homem justo e fiel, no
fim uma esplndida comunho de vida com todos os justos.O evangelho
no pretende dar-nos informaes sobre o alm, nem sobre a geografia
escatolgica, a morada dos mpios e dos justos. Para falar do risco
total da riqueza, que fecha o homem aos outros e ao futuro, o
evangelho recorre a um relato simblico abrindo a viso para alm da
morte.
Para descrever a condio dos dois protagonistas no alm, ele
utiliza as imagens e as representaes imaginrias conhecidas na
tradio bblica e judaica contempornea.No estado intermdio, antes do
grande julgamento em que ser determinado o destino definitivo, os
justos esto separados dos mpios: os primeiros se acham num mundo
ideal de felicidade, os segundos so atormentados pelo fogo e pela
sede.
Na segunda parte da parbola, o dialogo fictcio entre o rico,
relegado na morada de tormento, e o patriarca Abrao sublinha a
urgncia da converso enquanto houver tempo. O versculo final (16,31)
define muito bem a substncia da mensagem contida na parbola: tambm
os milagres mais espetaculares, como a ressurreio de um morto, so
inteis, quando no existe a escuta e a adeso ao testemunho histrico
que Deus oferece na Escritura, Moiss e os profetas.Na realidade,
perante a ressurreio de Lzaro de Betnia, como relata o evangelho
segundo Joo, os chefes dos judeus no somente no se converteram, mas
decidiram matar tambm a Lzaro (Jo 12,1-11). O milagre no conduz f,
mas sim ao endurecimento (Jo 11,45-53).As mais elevadas verdades no
podem ser foradas mesma evidncia emprica que prpria das coisas
materiais.Os cristos do tempo de Lucas, perante a incredulidade dos
judeus ou a sua rejeio da ressurreio de Jesus, remetiam para a
condio prvia da f crist: o acolhimento do testemunho da Escritura
(cf. Lc 24,27;44).
Esta abertura aos sinais histricos da ao de Deus, sinais
interpretados pelos profetas, fica tambm para o tempo presente como
caminho normal para comear o processo de converso que leva f. Deve
fazer refletir o fato de que, na parbola de Jesus, o homem incapaz
de se abrir proposta salvfica de Deus seja o rico acomodado. O
evangelho no privilegia, nem condena de maneira maniquesta, uma
condio econmica ou outra, a pobreza ou a riqueza, mas certamente d
a entender que a converso e a f no podem amadurecer sem fazer
explodir a situao socioeconmica em que o homem se encontra.1)
16,19-22:
O rico esbanja luxo e requinte nas roupas finas e elegantes
(lit.: prpura e linho, que eram artigos de luxo importados da
Fencia e do Egito) e no teor de vida (banquetes dirios).Do outro
lado, Lzaro, que tem seu ponto de mendicncia porta do rico. Sua
situao de total marginalidade: est coberta de lceras (= impuro, cf.
J 2,7-8) e faminto. Desejava matar a fome com o que caa da mesa do
rico (16,21), i.., no as migalhas que caam no cho, mas pedaos de po
que se usavam para limpar os pratos e enxugar as mos e que depois
se atiravam sob a mesa.2) 16,23-31:Mensagem e atualizao.
Pobreza e necessidade de partilha. Situao de pobreza na
Palestina no tempo de Jesus.
Presena de pessoas com diferentes situaes sociais no seio da
comunidade lucana.
Durante a viagem de Jesus a Jerusalm, Ele diz que necessrio
discernimento. Ao permanecer insensvel como os gananciosos fariseus
(Lc 16,14), seu caminho no se identificar com o de Jesus, e no
participaro do Reino. Mas se assumirem as opes de Jesus,
partilhando os bens, como fez o administrador da parbola anterior
(16,1-13), possuiro a vida (cf. At 2,42-47: a partilha leva vida
para todos; At 5,1-11: ambio e acmulo geram morte).Notas:
O pecado do rico e seus irmos consiste em entregar-se boa vida
sem preocupar-se com os necessitados (Is 22,13; Ez 16,49; Am 6,4-6;
Sb 2). Uma riqueza empregada assim injusta. Acrescenta-se o no
fazer caso da Escritura, Moiss e os profetas. Na Escritura bem
clara e reiterada a exigncia de socorrer o pobre (Dt 15,1-11; Is
58).De Lzaro contam-se os sofrimentos, no as virtudes. Estas se
deduzem do fato de ele ser levado ao cu pelos anjos. Imagina-se j
cumprido o anncio de Daniel: Muitos dos que dormem no p despertaro:
uns para a vida eterna, outros para a vergonha perptua (Dn 12,2). O
rico sepultado, o pobre no, pelo contrrio, levado ao cu, onde o
primeiro patriarca ocupa o lugar de honra.Lc 16,22b: Expresso
judaica que corresponde antiga locuo bblica reunir-se a seus pais,
i.., aos patriarcas (Jz 2,10; Gn 15,15; 47,30; Dt 31,16). A imagem
exprime intimidade (Jo 1,18) e proximidade com Abrao no banquete
messinico (cf. Jo 13,23; Mt 8,11).
16,24: O fogo como tormento no tradicional. o elemento divino, o
inacessvel, em Is 33,14; o aniquilador em Sl 68,3.v. 25: A resposta
de Abrao desmente uma teoria da retribuio nesta vida. Pobreza e
riqueza esto em correlao. A riqueza de um, desfrutada com egosmo,
provocou e conservou a pobreza do outro. As vtimas inocentes que
choram sero consoladas.
v. 26a: O abismo simboliza a impossibilidade, tanto para os
eleitos como para os condenados, de modificar o prprio destino.Como
pano de fundo, que nos abre a compreenso desta narrativa, devemos
considerar uma srie de salmos, nos quais o lamento do pobre sobe at
Deus, que vive na f em Deus e na obedincia aos seus mandamentos,
mas que s experimenta infelicidade, enquanto os cnicos, que
desprezam Deus, caminham de sucesso em sucesso e saboreiam toda a
felicidade da terra (cf. Sl 44; 73; 17).(...) Na realidade, o
Senhor que com esta histria introduzir-nos no processo do
despertar, que est sedimentado nos salmos. No se trata aqui de uma
condenao barata da riqueza ou dos ricos nascida da inveja. Nos
Salmos, vencida toda a inveja: ao orante torna-se precisamente
evidente que a inveja desta espcie de riqueza insensata, porque ele
mesmo conheceu o verdadeiro bem. O Senhor quer conduzir-nos de uma
esperteza insensata para a verdadeira sabedoria, ensinar-nos a
conhecer o verdadeiro bem.Podemos embora no conste no texto dizer,
a partir dos salmos, que o libertino rico era j neste mundo um
homem de corao vazio, que queria na sua devassido apenas abafar o
vazio, que j constava no alm. A parbola, medida que nos desperta,
ao mesmo tempo um apelo para o amor e para a responsabilidade que
precisamos agora ter para com os nossos irmos pobres, quer no plano
da sociedade mundial quer na pequenez do nosso cotidiano.
Na representao do alm que se segue na parbola, Jesus detm-se nas
representaes que se encontravam no judasmo do seu tempo. Jesus toma
elementos das imagens disponveis, sem formalmente as elevar sua
doutrina sobre o alm. Ele afirma claramente a substncia das
imagens. Sendo assim, no sem importncia que Jesus agarre nas
representaes do estado intermedirio entre a morte e a ressurreio,
que entretanto se tinham tornado patrimnio comum da f judaica. O
rico encontra-se no Hades como um lugar provisrio, no na Gehenna
(inferno), que o nome do lugar definitivo. Jesus no conhece uma
ressurreio na morte. Mas isto, no a autntica doutrina que o Senhor
nos quer ensinar nesta parbola. Trata-se antes, como J. Jeremias
apresentou de modo convincente, num segundo ponto culminante da
parbola, da exigncia de sinais.O homem rico diz no Hades a Abrao, o
que muitos homens de hoje dizem ou gostariam de dizer a Deus: se
quiseres que acreditemos e que organizemos a nossa vida segundo a
palavra a revelao da Bblia, ento deves ser mais claro. Manda-nos
algum do alm, que nos possa dizer que de fato assim realmente. O
problema da exigncia de sinais, da exigncia de uma maior evidncia
da revelao, percorre todo o Evangelho. A resposta de Abrao, bem
como a resposta de Jesus, exigncia de sinais dos seus contemporneos
fora do mistrio clara: quem no acredita na palavra da Escritura
tambm no acreditar em algum que venha do alm.Uma coisa clara: o
sinal de Deus para os homens o Filho do homem, Jesus. E Ele o
profundamente no seu mistrio pascal, no mistrio da morte e
ressurreio. Ele mesmo o sinal de Jonas. Ele, o crucificado e o
ressuscitado, o verdadeiro Lzaro: a parbola, que mais do que uma
parbola, convida-nos a acreditarmos e a seguirmos este grande sinal
de Deus. Ela fala da realidade, da realidade mais decisiva da
histria em absoluto.1Tm 6,11-16: O cristo , na sociedade, a prpria
presena de Jesus.Ao escrever a Timteo, seu verdadeiro filho na f,
Paulo lhe atribui o ttulo de homem de Deus (6,11), exatamente como
foram chamados Elias e Eliseu. Com isso, caracteriza a funo do
cristo na sociedade: seu papel proftico pela denncia e anncio. O
apstolo recomenda: Fuja dessas coisas (6,11). Tais coisas foram
apresentadas em 6,2b-10.Paulo pede moderao a Timteo (6,8) para no
comprometer a mensagem. E d-lhe a ordem de seguir a justia, a
piedade, a f, o amor, a firmeza, a mansido (v. 11). Essas virtudes
so, no nas cartas pastorais, a sntese do ideal cristo. A justia a
retido para com as pessoas; a piedade a retido em relao a Deus; a f
a adeso plena a Jesus Cristo; o amor a concretizao dessa f, norma
do comportamento comunitrio; a perseverana a capacidade de superar
os conflitos internos e externos; a mansido tpica de quem cristo.Os
versculos 15-16 contm um hino litrgico do qual Paulo aproveitou
para salientar trs coisas: 1) o cristo deve prestar culto somente a
Jesus. Ele o nico Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
2) S Jesus possui imortalidade, i.., o nico que pode dar vida
plena. 3) Jesus supera a capacidade de compreenso que as pessoas
tem dele. intil pretender possuir a plena compreenso dos mistrios
de Deus.
XXVIII Domingo Comum A f se torna ao de graas.2Rs 5,14-17; Sl
97; 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19.O anncio do Reino de Deus anncio de
salvao, proclamado no s com a palavra, mas tambm com aes.Os
milagres confirmam o triunfo do Esprito sobre satans, e por isso
que Jesus, investido do Esprito, entra em luta com o demnio no
deserto. Cristo o homem forte, que lutando arduamente, retira ao
esprito maligno aquilo que ele usurpou. Jesus inaugura o reino
messinico destruindo a obra do adversrio.
Os milagres entram nesta perspectiva da inaugurao do reino
messinico, que s ser revelado definitivamente quando o ltimo
inimigo, a morte, for vencido. Os milagres, com algumas excees e
por razes nem sempre fceis de compreender, so vivificaes. Por isso,
profetizam a vivificao definitiva, a vida eterna. Por meio do
milagre, o poder vivificador de Deus irrompe no tempo. Insere-se
num mundo que declina para a morte.
O milagre uma ruptura na orientao normal das coisas, e essa
ruptura nos atinge como sinal de transcendncia.
No intervalo do tempo, os milagres so penhor da realidade
futura. Realam concretamente a eficcia invisvel da Palavra de
Salvao (cf. Ch. Duquoc).2. A ao de graas no simples reconhecimento
humano.A mensagem das leituras deste domingo, no um simples
ensinamento sobre o dever moral do reconhecimento humano. Naaman, o
srio, passa da cura f; no reconhece mais outro Deus seno o Deus de
Israel.
O leproso de Evangelho segundo Lucas volta, louvando a Deus em
alta voz (Lc 17,15b). O milagre abriu os olhos para o sentido da
misso e da pessoa de Jesus. D graas a Deus, no tanto por ter sido
satisfeito seu desejo de cura, mas porque compreende que Deus est
em Jesus e nele atua. Reconhece que Cristo o Salvador em quem Deus
opera no s a salvao do corpo, mas a do homem todo. Isto f. Em
Jesus, v manifestar-se a glria de Deus.Por isso, S. Lucas conclui a
narrativa com a palavra de Jesus: Levanta-te e vai; tua f te salvou
(17,19b).
Salvou-o no s da lepra. mas salvou-o no sentido cristo do termo.
A salvao da lepra apenas sinal de uma outra salvao.3. Um ato de f.A
ao de graas do leproso curado nasce, pois, antes de tudo, da f e no
da utilidade; contemplao jubilosa e gratuita do amor salvador de
Deus, mais do que alegria pela sade readquirida.O Evangelho nos
ensina que a ao de graas a atitude fundamental do homem que
descobriu, na f, que salvao provm s da ao de Deus em Cristo.
4. Gratido e Eucaristia.H uma continuidade entre gratido humana
e ao de graas divina. Elas se identificam.Porm, quando as relaes
pessoais se baseiam unicamente na utilidade e no prazer assaz
difcil abrir-se contemplao do amor gratuito de Deus. A mentalidade
utilitarista e egocntrica hodierna desvirtua os atos religiosos. O
homem de hoje precisa descobrir o sentido de receber para abrir-se
ao agradecimento.
A Eucaristia (; brak = bendizer dar glria a Deus, cf. Lc 17,16)
no tanto uma lei a observar para ter a conscincia em dia, nem
apenas o alimento da comunho fraterna. ao de graas sem outra
utilidade, sem outro fim seno ela mesma. a alegria que brota da
contemplao do Deus que grande no amor, que nasce da descoberta de
sermos salvos gratuitamente.
2Rs 5,14-17: Uma terra onde se manifesta o Deus da vida.(!'(,
significa: deleite, amenidade).
Atingido pela hansenase, Naaman, o srio, (comandante do exrcito
arameu) vai ao pas inimigo da Samaria, a conselho de sua escrava
(5,3) para procurar Eliseu (5,5). Mas, ao chegar a, deveria
humilhar-se; em lugar de ser submetido a um tratamento digno de sua
posio, teria que mergulhar sete vezes ao Jordo (5,9-11), no sendo
enfim aceito o pagamento que oferece (5,15-16). Deus no pode e no
que ser pago. O homem deve reconhec-lo como o nico Deus (5,17) e
aprender a receber tudo dele: a salvao um gratuito de Deus (Rm
3,24).2Tm 2,8-13: Se com ele sofremos, com ele reinaremos (2,11c)
convices e prticas dos cristos.Paulo exorta a Timteo a conservar
intacto o depsito da f (1Tm 6,20), e tambm a transmiti-lo a pessoas
dignas de confiana, que saibam, por sua vez, transmiti-lo a outros
(2,2). Neste ministrio no faltaro os sofrimentos (2,3), mas Timteo
sair vencedor da luta; como um bom soldado ou como um atleta
(2,4-5), cuidar de imitar o exemplo de Paulo (2,9-10; Fl 1,13-18;
Cl 1,24) que, anunciando a ressurreio de Cristo (2,8), sabe dela
tirar as conseqncias prticas para viver daquela esperana que
certeza (2,13; Rm 6,5; 8,17).
Lc 17,11-19: No h nenhum outro que tenha voltado para dar glria
a Deus seno este estrangeiro? (17,18) O samaritano agradecido.Incio
da terceira e ltima parte da grande viagem a Jerusalm, Jesus se
encontra com um representante dos samaritanos: um leproso curado,
que reconhece com f o dom salvfico. S. Lucas tem particular
interesse pelos samaritanos. Os leprosos observam a lei (17,12-13;
Lv 13,45-46), obedecem palavra de Jesus, porque um cumprimento da
lei (v. 14; Lv 14,1-2), mas se julgam curados por serem
observantes; consideram-se merecedores. E igualmente, essa a imagem
fiel de muitos cristos, presos a um legalismo mortal (Rm 9,30-32;
10,3). Apenas um reconhece que tudo sempre e exclusivamente dom da
bondade de Deus que se revela em Jesus, volta a ele e recebe a
palavra de salvao (17,15-19).Este o ponto focal de toda a narrao,
sublinhado intencionalmente pela trplice pergunta de Jesus
(17,17-18).Todos os dez confiam na palavra de Jesus: Ide
mostrar-vos aos sacerdotes (17,14), que contm j uma promessa de
cura. Todos tinham invocado a ajuda de Jesus chamando-o com o nome
usado somente pelos discpulos: Mestre (17,13). Mas somente um, o
samaritano na mentalidade hebraica assimilado aos pagos e aos
estrangeiros volta atrs, no s e no tanto para agradecer a Jesus
quanto para louvar a Deus. Com isso S. Lucas quer indicar-nos o
reconhecimento da interveno salvfica de Deus. Jesus, por sua vez,
reconhece no comportamento do samaritano a f salvfica.
Dez foram curados, mas um s salvo. (...) Importa lembrar aqui o
episdio inaugural de Nazar, quando seus patrcios queriam gestos de
cura em seu favor como um direito adquirido. Jesus responde que
este no o estilo de Deus. E o exemplo do profeta Eliseu curando o
estrangeiro Naaman deve servir de lio (cf. 4,27). Ora, tambm
Naaman, curado da lepra, regressou ao profeta Eliseu proclamando a
sua f no Deus nico de Israel (2Rs 5,15). Os judeus, que
ambicionavam os gestos salvficos como um direito exclusivo, ficaram
alheios e refratrios ao dom salvfico de Deus. O estrangeiro porm, o
excludo e menosprezado como um pago, fazia agora parte da categoria
de pobres e pequenos aos quais foi destinado o reino de Deus. Os
cristos observantes e piedosos por costume, arriscam considerar-se
os nicos donos da salvao, esquecendo a gratuidade absoluta de sua
condio.Relao com a Epstola de S. Paulo aos Romanos: Todos esto
salvos, mas a f faz reconhecer que estou salvo pela graa de Deus.
Os doentes incurveis se movem em grupos.XXIX Domingo Comum A orao,
clamor que nasce de nossa pobreza.Ex 17,8-13a; Sl 120; 2Tm 3,144,2;
Lc 18,1-8.
O tempo da expectativa pela ltima vinda de Cristo o da f e da
orao. F e orao esto intimamente unidas. Se verdade que para orar
preciso crer, tambm para crer necessrio orar. A orao perseverante
expresso e alimento da f em Deus.
1. Rezar fazer silncio para ouvir a Deus.A orao crist, antes de
ser palavra que implora, silncio profundo para ouvir e acolher em
si a palavra de Deus. As pessoas entram em comunho ouvindo-se. Ns
entramos em comunho com Deus e nos dispomos a fazer sua vontade,
ouvindo-o. Como a f, a orao tambm nasce da escuta; uma resposta
vivencial, mas tambm verbal.Esta assumir variegadas formas: uma ao
de graas pelo que Deus fez, uma contemplao cheia de admirao, uma
profisso de f, uma declarao de entrega, um pedido.A orao de pedido
tambm uma resposta ao convite de Jesus a orar sempre, orar sem
desanimar (Lc 18,1); Pedir algo a Deus no certamente pretender que
Ele faa, em nosso lugar, o que ns devemos fazer.
A orao de splica reconhece o limite da condio humana, constata
que a libertao total e a plena realizao de si no dependem
unicamente do homem. O homem no pode salvar a si mesmo.
2. A orao de splica, um ato de verdade e de f.A orao de splica
sinal de confiana em Deus. Quando se tem certeza de que algum nos
quer bem verdadeiramente, pedimos-lhe tudo que necessitamos e que
bom, com naturalidade e espontaneidade.S. Joo define a f como crer
no amor de Deus por ns (1Jo 4,16-17). Quem cr tem confiana to
grande em Deus, que lhe pede tudo com simplicidade e se entrega a
Ele.A parbola do juiz inquo e da viva persistente ensina a
necessidade de orar sem desanimar, mesmo que o Senhor tarde e parea
ausente s nossas splicas.
3. Orar no forar Deus a fazer nossa vontade.A splica crist no um
pedido de interveno imediata de Deus, no uma frmula mgica que
resolve os problemas, mas adere e aceita a liberdade e a pacincia
de Deus.
No evangelho segundo S. Lucas, Jesus nos diz que Deus nos dar no
tanto o que pedimos, mas o Esprito Santo para compreendermos o
significado daquilo que nos compete e para sermos suas testemunhas
(cf. Lc 11,13). O modelo da orao de splica a de Jesus no Getsmani:
Pai, se queres, afasta de mim este clice! Contudo, no seja feita a
minha vontade, mas a tua (Lc 22,42).Aquele que cr no pretende
obrigar Deus a fazer a prpria vontade, utiliz-lo para realizar seus
desejos, mas obter a graa de conformar sua vontade de Deus. Somente
Ele sabe o que verdadeiramente o nosso bem.
A orao de splica, quando autntica, fonte de energias para
comearmos a fazer aquilo que pedimos. Orar pela paz leva a comear a
empenhar-se por sua realizao; orar para que cessem os sofrimentos,
leva a ajudar quem sofre. A orao no aliena o homem, mas aumenta sua
responsabilidade.Ex 17,8-13a: Enquanto Moiss ficava com as mos
levantadas, Israel vencia (Ex 17,11).O trecho serve para ilustrar
com um exemplo do AT o tema da orao contnua e insistente,
apresentado pela leitura de S. Lucas. Ademais, acentua que sem a
orao no se obtm a vitria e esclarece outro tema neotestamentrio
fundamental: o povo de Deus no pode cumprir sua misso se no pedir
continuamente auxlio a Ele, na orao.
O povo de Deus est a caminho da Terra Prometida. Deus sustenta
essa caminhada provindo-lhe de alimento (Ex 16), de gua (Ex 17,1-7)
e dando-lhe vitria sobre o inimigo (Ex 17,8-16). Os amalecitas
habitavam o Negueb, no deserto entre o Sinai e Cana (1Sm 15,7).
Eram descendentes de Esa (Gn 14,7; 36,12). Entre Israel e Amalec
sempre houve inimizade profunda que, segundo a tica primitiva da
guerra de sangue, exigia o extermnio total do inimigo. Amalec a
personificao do maior inimigo de Israel, e este deve extermin-lo
(cf. Dt 25,17-19).Amalec foi, ao longo da histria do povo de Deus,
a personificao da hostilidade e do perigo. Ele representa os que
tentam abortar as promessas de Deus, impedindo que o povo possua a
terra e, por conseguinte, a vida. Os amalecitas atacam Israel em
pleno deserto, como primeira tentativa de suplantar o projeto de
Deus (17,8; cf. Dt 25,17-19). Deus vem ao socorro de Israel,
mediante a intercesso de Moiss. Este a figura-tipo do intercessor
ou mediador entre Deus e seu povo no AT (cf. EX 32,11-14.30-33).Lc
18,1-8: Parbola do juiz que adia a administrao da justia.Diviso da
parbola: 1) introduo redacional, que apresenta o seu por qu (18,1);
2) a parbola em si (18,2-5); 3) aplicao da parbola feita pelo
Senhor (18,6-8a); 4) interrogao, atribuda a Jesus, sobre a perda da
f (18,8b).Jesus compara a ao de Deus com aquilo que ocorre nas
vicissitudes humanas: a) um arrombo noturno; b) um escndalo
administrativo, e aqui; 3) uma boicotagem da justia por parte de um
magistrado que, enfim, se entrega para no ser mais incomodado.
Pode-se entender todo o efeito da histria narrada por Jesus
recordando a praxe processual em vigor no seu ambiente. Uma pobre
viva, morte de seu marido, ficava privada do amparo social e, em
caso de controvrsias, se no tinha dinheiro, devia confiar na
honestidade dos magistrados. Em nosso caso trata-se mui
provavelmente de uma mulher que deve defender seus direitos contra
as pretenses de um adversrio; pode-se tratar de pendncias
judicirias ou dvidas deixadas pelo seu marido, de hipotecas sobre a
herana patrimonial etc.Nessa situao, ela pode apresentar a sua
causa a um tribunal local ou a um juiz que resolva pessoalmente a
causa via administrativa. Ora, a mulher, com coragem e deciso
inslita, no escolhe advogados, nem procuradores, mas contra o
costume de seu ambiente, apresenta ela mesma a instncia ao juiz.
Este, segundo o relato evanglico, um magistrado inquo, sem f e sem
lei. Porm, ele cede para no ser mais incomodado pela viva
importuna.Nesta altura, segue a aplicao. Deus com certeza assumir a
causa de seus eleitos, far justia plena aos que lhe suplicam. Esta
interpretao da parbola, que pe em comparao um juiz inquo deste
mundo com o modo de agir de Deus, baseia-se no pressuposto bblico
de que Deus o defensor dos fracos e dos oprimidos (cf. Sr 35,12-18.
Dt 10,17-18).No contexto atual de Lucas, a parbola est relacionada
com a situao dos discpulos que vivem numa condio de perseguio,
enquanto se faz esperar a interveno libertadora de Deus. Por que o
Senhor demora? Por que fica calado? a pergunta que atormentava os
justos oprimidos na histria do povo de Deus (Sl 44,23-25; 89,47;
Hab 1,2-4). Na igreja lucana, esta interrogao sobre o silncio de
Deus se torna pergunta acerca da vinda do Filho do Homem. Quando,
Senhor? Perante esta espera, capaz de se tornar decepo, o
evangelista lembra a promessa de Deus: com certeza Ele intervir
para libertar os que o invocam (18,7).
A demora no devida ao descuido, como no caso do juiz inquo, mas
pacincia de Deus, que com a espera quer deixar espao para a
converso e salvao (cf. 2Pd 3,9; Ap 6,9-11). Mas exatamente em relao
a isso h motivo para refletir e se perguntar: Quando o Filho do
Homem vier, encontrar f sobre a terra? (18,8b). estranha esta
concluso da parbola, deixada suspensa. Tambm a meno ao Filho do
Homem, embora evocando o contexto literrio de Lc 17,22-27, no se
adapta imediatamente ao teor da mesma. Mas o pensamento do
evangelista se torna suficientemente homogneo e linear.Por parte de
Deus, h a garantia e a promessa de uma interveno libertadora e
salvfica, apensar do silncio evidente e da demora. Porm, por parte
do homem, e da comunidade dos discpulos, ser que realizada a condio
para acolher o Filho do Homem como salvador? Esta condio a f que,
nas dificuldades e perseguies, transforma-se em fidelidade e
coragem no testemunhar diante dos homens (cf. 9,26; 12,9). Tal
fidelidade se expressa e se alimenta na orao constante e
insistente. Uma orao que no conhece depresses e desnimos (18,1).
Nesta nova interpretao, a parbola se torna um ensino sobre a orao;
e a viva que, com sua insistncia, constrange o juiz interveno, um
modelo de perseverana. Esta aplicao da parbola pode parecer
reducionista; mas, em compensao, a mensagem concreta. Esperar com
firmeza e fidelidade a vinda do Filho do Homem, ou seja, a libertao
definitiva, condio para uma orao corajosa. Libertao essa que no se
realiza de maneira mgica ou mecnica com o passar do tempo, numa
progresso cronolgica rumo ao fim, mas com a cobertura decidida e
corajosa para a possibilidade do novo e gratuito, contra todos os
determinismos que alimentam a resignao e a passividade.2Tm 3,144,2:
A Bblia d sentido vida do povo de Deus.2Tm possui um carter
testamentrio. Paulo tem conscincia que morrer em breve e, por isso,
quer transmitir sua experincia de vida a Timteo, seu filho na f.No
captulo 3, o Apstolo vislumbra que haver uma grande apostasia, onde
muitos guardaro as aparncias da religio, negando, porm, o poder de
Deus (3,5).Timteo tem na av, na me e em Paulo, modelos de prtica
crist (2Tm 3,14). Sua formao crist slida desde a infncia (v. 15a).
Desde aos 5 anos, conforme a tradio hebraica, aprendeu a Torh; aos
dez a Mishn e aos quinze o Talmud. Mas, foi em contato com Paulo
que conheceu Jesus Cristo. A Bblia tem o poder de comunicar a
sabedoria que conduz salvao pela f em Cristo Jesus (v. 15b). Jesus
a chave de leitura de toda a Sagrada Escritura. Ele a sabedoria de
Deus, isto , a manifestao da salvao do mundo, concretizada em sua
vida e palavras (1Cor 1,172,16).Com efeito, todo o AT conduz a essa
sabedoria. E o NT insere o cristo na prtica de Jesus. A Bblia ,
pois, o sentido da vida do povo de Deus. Ela revela o projeto
divino, a prtica de Jesus e a ao do cristo. Da: toda Escritura
inspirada por Deus e til para instruir, para refutar, para
corrigir, para educar na justia (...). Desta sorte, o homem de Deus
ser perfeito (Mt 5,48) e qualificado para toda boa obra (v.
16-17).A funo da Bblia , segundo o texto, educar, i.., mostrar o
projeto de Deus humanidade; denunciar e corrigir, ou seja, remover
os possveis desvios que afastem as pessoas desse projeto; educar na
justia, i.., sustentar a prxis crist que visa criar nova
mentalidade e nova ao entre as pessoas.
A instruo bblica constitui o equipamento vital do homem de Deus,
que a pe em prtica ao desempenhar seu dever (3,15-17). Esses
versculos so o documento escriturstico mais explcito sobre a
natureza da Bblia. De um lado, ela inspirada por Deus que fala ou
escreve por meio de homens cheios do seu Esprito (2Pd 1,21; Mt
22,43); de outro, cristocntrica e leva salvao (DV 16; 25).XXXI
Domingo Comum Deus, amigo da vida e compassivo.Sb 11,2312,2; Sl
144; 2Ts 1,11-12; Lc 19,1-10.A converso de Zaqueu em Jeric o ltimo
episdio da viagem de Jesus a Jerusalm. Jeric a parada obrigatria
para os peregrinos que chegam do norte, atravessando a Peria. Aqui
prosperam os funcionrios da alfndega. Zaqueu justamente um cobrador
e chefe, e por isso, rico. Suas qualificaes: funcionrio do fisco e
rico, aos olhos do povo faz de Zaqueu um caso sem soluo. Ele
pertence categoria dos pecadores e, ainda mais, rico. Sabemos pelo
episdio do notvel rico que impossvel a um rico salvar-se (cf.
18,24-25), pois ele faz de sua riqueza o seu deus.Note-se que o
nome Zaqueu significa Deus se recorda ou ainda, aquele que puro.Mas
no encontro com Jesus acontece o imprevisvel. S. Lucas no faz a
psicologia da converso, mas descreve as grandes etapas da caminhada
salvfica... O homem pequeno corre na frente da multido, que sobe
numa rvore para ver a Jesus, superando o complexo de dignidade e
prestgio, j est no caminho da salvao.
Aqui, inicia-se a segunda parte da cena, na qual Jesus toma a
iniciativa (19,5). Ele v Zaqueu, chama-o, e se autoconvida para ir
casa dele. Jesus entra de modo ousado na vida deste homem,
solidariza-se com ele sem meias medidas, desafia as crticas dos
bem-pensantes. Do outro lado, Zaqueu responde de maneira
extraordinria ao convite de Jesus. Ele desceu depressa e o recebeu
com alegria. E o dilogo entre Jesus e Zaqueu completa o sentido de
toda a cena.Diante de Jesus, Zaqueu se decide por uma mudana
radical. Converso, para um rico, quer dizer uma nova maneira de
usar os bens e novas relaes de justia social.
Jesus quer ir casa de Zaqueu (oikos); Zaqueu cuida da oikonomia
(lei que rege a casa), do dinheiro do povo, que era enviado aos
romanos. Jesus, ao convidar esse homem para ser seu dis