Meditação enquanto processo terapêutico auto sustentado Eficácia comprovada 74 ZEN ENERGY Outubro 2014 Toda a ajuda exterior tem efeito transitório se não se sustentar no empenho e na mudança gradual de quem recorre à ajuda. A prática regular, disciplinada, de exercícios no quadro de um processo que entre nós se convencionou designar de ‘meditação’ abre portas a essa mudança. processo terapêutico
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Meditação enquanto processo terapêutico auto sustentado · de aprendizagem ao longo da vida conduziram-nos à noção de que toda a fonte ... meus alunos e clientes à prática
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Meditação enquanto processo terapêutico
auto sustentado
Eficácia comprovada
74 ZEN ENERGY Outubro 2014
Toda a ajuda exterior tem efeito transitório se não se sustentar no empenho e na mudança gradual de quem recorre à ajuda. A prática regular, disciplinada, de exercícios no quadro de um processo que entre nós se convencionou designar de ‘meditação’ abre portas a essa mudança.
processo terapêutico
O ra, os nossos processos de aprendizagem ao longo da vida conduziram-nos à noção de que toda a fonte
de felicidade está no exterior, fora de nós. Por repetição sistemática – alimentada culturalmente - essa noção tornou-se uma convicção (uma crença) na qual baseamos, consciente e inconscientemente, os nossos padrões de comportamento. E estes nem sequer geralmente os questionamos…
Como exteriorizamos normalmente esta percepção? Quer esperando algo idealizado (emprego, companheiro, casa, corpo, saúde, felicidade ou outro), quer alimentando o nosso sistema de crenças dualistas (de bem e mal, de acordo com os padrões standard, de sorte e azar, de vítima e vilão…), quer delegando em outros a nossa fonte de felicidade, permitindo que eles façam a gestão dos nossos índices de bem-estar. Assim, procuramos o médico, o comprimido, o terapeuta, o guru, o livro, o que for, que nos garanta o céu, o reino perdido de Shambhala, a felicidade…
Ora, os processos terapêuticos clássicos são, geralmente, longos e onerosos, e os recursos que naturalmente exigem acabam por nos afastar deles. Mesmo quando ten-tamos abordagens mais breves e transfor-madoras, os resultados que são alcançados são indiscutivelmente eficazes, mas não longamente perduráveis. E porquê? Nada está errado nem com o terapeuta, nem com a técnica. Mas, uma parte (a mais importante) do processo de triangulação está ausente ou assume um papel (quase) passivo: a própria pessoa.
A transferência de responsabilidades do cliente para o terapeuta é a manutenção de um determinado status quo, o que vem perpetuar a ilusão de que a resolução dos problemas está sempre fora de si mesmo. Mudar significa assumir a responsabilidade pelo próprio processo de mudança (self empowerment). Chegamos ao sofrimento, à dor e à doença pelo nosso sistema de crenças (pensamentos). O veneno só é extirpado pelo próprio antídoto, cuja constituição é parte integrante de si mesmo – a vacina é o próprio vírus ou, como dizem os orientais, os desejos são fonte de iluminação. Assim, só os nossos próprios pensamentos – fonte do nosso mal-estar e disfunções – podem curar e tratar-nos.
Na meditação toma-se consciência de si mesmo: olha-se
o próprio corpo, emoções e
pensamentos
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processo terapêutico
Meditação terapêutica
Na meditação toma-se consciência de si mesmo: olha-se o pró-prio corpo, emoções e pensamentos. Assim, a meditação é um proces-so terapêutico em que o meditador se torna no próprio terapeuta. Como começar? Como andar e por onde ir? Como lidar com as
dificuldades? Como proceder quando a vontade afrouxa? Como monitorizar o processo? Como saber avaliar e in-tegrar resultados? Estas e muitas outras questões colocam-se natural e le-gitimamente para quem começa.
Mas, tudo se aprende, desde que se deseje genuinamente aprender e mudar.
Terapia aconselhada a todas as pessoas Salvo raríssimas excepções, a meditação – enquanto processo cognitivo – é aconselhada a todos. Exceptuam-se apenas os indivíduos com alguns tipos e graus de patologia psíquica (que me escuso de citar) ou sob o efeito de álcool ou outros produtos psicotrópicos; nestes casos os benefícios da prática não podem ser atingidos por não estarem reunidas as condições necessárias à meditação (como, por exemplo, uma boa capacidade cognitiva); o processo é inviabilizado ou mesmo distorcido, podendo ter consequências diversas das pretendidas.
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processo terapêutico
Mestre em Gestão de Recursos HumanosFormadora e Terapeuta em Desenvolvimento Pessoalwww.harmonizando.com
Isabel Gonçalves
Os mecanismos da acção terapêutica
Os mecanismos da acção terapêutica da meditação são enumerados na teoria S-ART desenvolvida por investigadores das ‘neurociências’:
1. Tomada de consciência ou autocons-ciência (Self-Awareness)
2. Ajustamento/Adaptação ou Autocon-trolo (Self-Regulation)
3. Transformação/Mudança/Superação ou Autotranscendência (Self-Transcendence)
A meditação ‘cura’, porque: (a) ajuda a descobrir a razão oculta de pensamentos e comportamentos adoptados inconscien-temente; (b) a descoberta é genuína, pois é feita pelo próprio, por si mesmo e para si mesmo; a sua eventual partilha com um mestre ou coach-terapeuta serve apenas para ir aferindo resultados e ajustá-los ao próprio processo.
Por esse motivo, sustento os processos terapêuticos que oriento entre sessões individuais de ‘coaching transpessoal’ e aulas de meditação – ajudando as pessoas a descobrir-se.
Como é que a meditação é terapêuti-ca? Em primeiro lugar, esta prática permite aquietar a agitação do corpo e dos pensa-mentos; à medida que os pensamentos vão deixando de ser tão frequentes, a mente fica mais clara, tornando mais acessível a consciência dos factos e dos fenómenos
(por exemplo, é nesta fase que a percep-ção sobre as relações de causa-efeito dos fenómenos se reformula naturalmente e a natureza compassiva emerge sem qualquer esforço e livre de qualquer dogma). Ao fim de se sentar algumas vezes para meditar – voluntária, consciente e disciplinadamente –, quem se senta não é mais o mesmo. E é esta mudança que faz toda a diferença: ninguém está lá para dizer «o que» e «como» mudar além da própria percepção do meditador/observador.
Z
Não tem tempo para meditar?
É que não há empresa sustentável sem investimento; e cada um de nós é como uma empresa (na complexidade dos seus diversos factores) e, neste caso, o investimento é o tempo, além da vontade… Tempo? Bastam 15-20min diários numa fase inicial. E à medida que o prazer da prática se instala, à medida que as descobertas ocorrem, queremos prolongar o tempo. Nessa fase, quando o ‘querer’ é mestre e impera, a disponibilidade surge porque então sabemos como ajustar horários….Descobri por mim mesma que se não trabalhar com empenho (amor + disciplina/regularidade) não transformo nada. Quando, hoje, encorajo os meus alunos e clientes à prática regular da meditação, sempre cito o meu ‘mestre-raiz’ (Jigmé K. Rinpoche) que em amor, alegria e sabedoria nos aconselhava alguns preceitos: «Cultiva a postura de calos nas tuas nádegas», tal como o bom executante de música adquire calos nos seus dedos… isto significa – empenho! E empenho traduz-se em – resultados!