5158 MÍDIAS , INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM COLABORATIVA: DISCUTINDO OS FUNDAMENTOS DA EAD Emerson Pessoa VIDAL, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Marcia Cristina BACIC, Universidade de São Paulo Eixo 08: Educação à distância na formação de professores [email protected]1. Introdução Uma enxurrada de informações invade a vida diária com múltiplas fontes e uma complexidade que parece deixar o professor atônito. São mobilizadas competências e habilidades que exigem não só do aluno, mas do professor uma consciência aprofundada de conteúdos que antes não lhes era requisitada. Em nossa sociedade as mídias ocupam um lugar de destaque, pois vivemos em uma época em que a informação provém de inúmeras fontes e de espaços diversos. Atualmente ensinar e aprender demanda muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo; menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e comunicação (Moran, 1999). O mesmo autor ainda nos diz que: “temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro de nossa mente e da nossa vida” (MORAN, 1999, p.1). Dessa forma pode-se dizer que aprendizagem está cada vez menos centrada no professor, as tecnologias da informação disponibilizam muitas informações e dados e o papel do professor está muito investido de ser o facilitador dessa aprendizagem, auxiliando o aluno a interpretar, relacionar e contextualizar elementos informativos. Mas para que esse aluno possa aprender de fato, exige-se destes educadores um nível maturidade e autonomia que lhes permita motivar e dialogar com o aprendiz, enriquecendo o ambiente de aprendizagem não com certezas, mas com verdades provisórias que relativizem e valorizem a diferença propiciando novas descobertas e novos apanhados de conhecimento. Segundo Garnim e Dainese (2010), a Educação a Distância utiliza os recursos tecnológicos para a gestão acadêmica, administrativa e para mediar o ensino-aprendizagem. A gestão da EaD precisa considerar a intensa interação que deve existir entre todos os atores deste processo, aluno, tutor, professor e instituição. Para efetivar tal interação é preciso um sistema tecnológico que seja pensado a fim de facilitar e possibilitar a interação desejada, valendo desta maneira de diferentes mídias. Ao contrário do ensino tradicional no qual o professor é previsível e não nos surpreende, pois passa a ditar o conhecimento de maneira uniforme sem oscilação e repetitivamente, o professor sensível e humano que surpreende na diferença e na busca por uma dialética
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MÍDIAS , INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM COLABORATIVA: DISCUTINDO OS
FUNDAMENTOS DA EAD
Emerson Pessoa VIDAL, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Marcia Cristina BACIC, Universidade de São Paulo
satisfatório; e menos de 2% consideraram insatisfatório. Os cursos conquistaram conceitos
satisfatórios de 78% dos estudantes, o que demonstra que os cursos estão atingindo os objetivos
de apresentação de uma plataforma interativa e agradável para os alunos.
Os estudantes destacaram a importância das mídias para a aprendizagem em suas
respostas: 65% relataram que todas as mídias contribuíram para sua aprendizagem e 35%
disseram que algumas contribuíram. Nenhum estudante relatou que as mídias não tivessem
contribuído para sua aprendizagem. Esses dados acompanham aqueles da literatura que dizem
que as mídias são propiciadoras e potencializam a aprendizagem. Segundo Moran (2007) as
mídias colaboram com o desenvolvimento de habilidades, atitudes e das inteligências e não só
isso, mas também de habilidades espaço-temporais, sinestésicas e criadoras.
Abordando a questão da escrita, leitura e conhecimentos teóricos, podemos dizer que os
participantes apontaram as mídias como propiciadoras da ampliação da capacidade dos alunos.
Assim podemos dizer que segundo os respondentes dos questionários, a ampla maioria considera
que as mídias de alguma forma amplificam a capacidade de leitura e escrita das pessoas que dela
se utilizam. Com 49 pessoas de 51 fazendo tal afirmação contra apenas 2 que disseram o
contrário e que representam apenas cerca de 4% do questionário respondidos.
Figura 1/Autoria própria
Para os sujeitos em análise a questão da colaboratividade é algo essencialmente
importante, sendo que 69% daqueles que responderam ao questionário julgam importante fazer o
trabalho conjuntamente. Apenas 10% disseram que preferem fazer o trabalho sozinho. Isso
implica em sujeitos mais dispostos ao trabalho colaborativo e a construção de um conhecimento
em grupo. Esses dados podem ser observados nas Figuras 1 e 2.
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Figura 2/ Autoria própria
Para Souza (2013) a aprendizagem autônoma não deve ser confundida com acentuação
do individualismo, mas antes como a capacidade de pensar por si próprio em situações que
requerem compartilhamento/troca de informações, cooperação e diálogo, ressaltando o saber de
cada membro de um grupo em busca do saber coletivo. O ambiente que proporciona resolução de
problemas é aquele que pode desenvolver as habilidades do sujeito.
Com relação à colaboratividade proporcionada pelo ambiente virtual de aprendizagem,
cerca de 63% dos respondentes acredita que o mesmo esteja proporcionando tais atividades
satisfatória e plenamente. Apenas 6% consideram o trabalho colaborativo insatisfatório (figura 2).
Esses dados corroboram os anteriormente apresentados de que a colaboratividade é
importante tanto para os alunos, quanto para o curso que o estimula em suas atividades. O fato de
o curso ter mídias de qualidade disponíveis e atividades colaborativas é o que o torna singular e
atrativo para os estudantes.
Segundo os respondentes dos questionários o ambiente de aprendizagem no qual
estavam inseridos possibilitava a adequada interatividade, trocas de ideias e manifestação da
opinião e reflexão grupal, foram mais de 90% que disseram que pelo menos razoavelmente o
ambiente proporcionava interação, sendo que desses 45% disseram que o ambiente era muito
interativo. Sendo assim podemos dizer que o ambiente de aprendicagem está proporcionando o
devido relacionamento e um alto grau de cooperatividade entre seus membros.
Mídias, colaboração e interação, um passo para o pleno desenvolvimentointelectual/cognitivo
Um aspecto importante das mídias é que elas podem proporcionar inquietação e servir
como abertura para um tema abrindo novas perspectivas de interpretação, de olhar, de perceber,
sentir e de avaliar com mais profundidade (Moran, 2004).
Moran (2000), ainda nos diz que o processo de compreensão, de síntese pessoal de tudo
que foi lido, ouvido, discutido e observado, se dá através da interiorização, e se equilibrarmos o
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interagir e o interiorizar conseguiremos avançar mais, compreender melhor o que nos rodeia, o
que somos; conseguiremos levar para aqueles que nos cercam novas sínteses e não seremos só
papagaios, repetidores do que ouvimos.
Percebemos que, dentre os cursistas há muitos bem adaptados e em consonância com a
metodologia aplicada nesses cursos em EaD, dentre eles, destacam-se os alunos da graduação
em Pedagogia. Apesar de uma boa parcela (49%) ser de alunos que está cursando uma
graduação pela primeira vez, 46% dos alunos, aproximadamente, já concluiu pelo menos um
curso a distância. Esses dados nos revelam que se trata de uma população mais adaptada à
metodologia EaD e que concorda e atribui valor a seus instrumentos de aprendizagem.
Inter-relacionando os dados obtidos na pesquisa podemos dizer que temos um sujeito
que acredita estar em um processo de aprendizagem onde as mídias ocupam lugar de destaque
e de importância estrutural. Sendo o trabalho colaborativo algo que se dá entre os membros
participantes do curso e que é visto como algo que ocupa um importante lugar na cadeia de
aquisição de conhecimento. Temos por base que o individuo respondente está com uma ampla
afinidade com os materiais que constituem o curso e que estes estão servindo como meio para
intermediação de interações entre os participantes, principalmente no que tange o fórum que se
constitui em um lugar para reflexão e debate, prevalecendo a troca de opinião interativa e crítica.
Além disso, o vídeo e os fóruns (ambos apontados como importantes na construção do
conhecimento) são ferramentas que permitem ao aluno uma intensa rememoração cognoscente.
Conforme assinala Mattar (2009) o vídeo tem sido muito utilizado como recurso em função de
alcançar múltiplos estilos de aprendizagem e de inteligência, uma vez que, uma grande parcela
dos discentes aprende mais quando submetidos a estímulos visuais e sonoros, nisso a EaD difere
da maioria dos cursos presenciais no qual o material impresso é o principal recurso utilizado. O
vídeo enquanto recurso pedagógico toca a sensibilidade auditiva e visual do educando,
possibilitando uma linguagem que vai de encontro às necessidades dele, uma vez que permite o
encontro entre palavras, gestos e movimentos. Ela sai da linearidade da aprendizagem e entra em
um estado de “desorganização” criadora de novos conceitos. Segundo Moran (1995) o vídeo
entrelaça o imaginário, a intuição com a razão, tornando o processo ensino-aprendizagem mais
emocional, mais intuitivo e sedutor.
Já o fórum é o cerne da construção da leitura e escrita bem como do embate de ideias e
construção de novos conhecimentos que advirão por meio do debate. Ter um aluno que confere
um alto grau de importância a tal instrumento, é ter um aluno que valoriza a interação e
construção do conhecimento. Conforme nos diz Jonassen (1996), “as tecnologias podem ser
usadas para aliciar e apoiar o pensamento reflexivo, conversacional, contextual, complexo,
intencional, colaborativo, construtivo e ativo do estudante à distância”. É assim que quando os
estudantes se envolvem nesses significados e na construção dos processos, a aprendizagem
significativa surgirá naturalmente, uma vez que aprendizagem a partir de uma perspectiva
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construtivista fundamenta-se no diálogo, ou seja, em interações consigo mesmo, com os outros e
com objetos que lhes permitam uma fácil comunicação e reflexão.
5. Considerações finais
Na pesquisa realizada podemos notar que os sujeitos atribuíram um grande valor para a
incorporação de mídias ao desenvolvimento das atividades de natureza acadêmica e
reconheceram a importância dos momentos de interação como nos fóruns. Percebemos também
a importância atribuída às mídias audiovisuais, uma vez que os vídeos foram a segunda mídia
mais citada.
Segundo dados dos questionários obtidos, o ambiente de aprendizagem possibilita a
interatividade entre esses alunos, cerca de 90% dos respondentes afirmaram que o ambiente era
proporcionador de razoável a muita interatividade. Acreditamos que mídias como fóruns, vídeos e
links (que foram as mais citadas) como forma de contribuição com a aprendizagem sejam
importantes porque intensificam o contato com o outro, ou seja, permitem trocas entre os alunos e
entre os tutores, professores e alunos.
Os conceitos de interação relacionados à Vygotsky sempre envolvem pessoas em
relacionamento, ou seja, a pessoa que ensina, a pessoa que aprende e a relação entre elas. De
fato o significado para Vygotsky da aprendizagem está intrinsecamente relacionado ao conceito
de interação social e de interdependência entre os indivíduos que fazem parte de um processo tão
imbricado como é a aprendizagem.
As ferramentas do AVA devem estimular a interatividade e a troca de ideias, bem como a
construção compartilhada do conhecimento que é o cerne para a funcionalidade do processo de
aprendizagem.
As mídias incorporadas à metodologia de ensino/aprendizagem são benéficas no sentido
em que promovem uma desestabilização do sujeito e de sua condição passiva, e num contexto de
interação com outras pessoas se torna ainda mais enriquecedora. Elas são motivadoras de um
processo dialético, que não ocorre em muitas situações concretas do dia a dia, pois segundo
Moran (2004, p. 249): “se vê diluído pelo peso da organização, da massificação, da
burocratização, da rotinização, que freia o impulso questionador, superador e inovador”.
É dessa forma que podemos afirmar embasados em autores como Moran e Vygotsky, que
o foco de um curso deve ser o encontro entre um sujeito e o outro de modo a permitir a
desestruturação de paradigmas que permitam ao individuo incorporar novos conhecimentos,
tendo a mídia como aliada e como ponte entre a aula e o mundo e tornando a aula de algo
concreto e estático, para um algo mais dinâmico e menos linear. Quando os recursos tecnológicos
são combinados entre si, eles potencializam o desenvolvimento do educando e dos diferentes
tipos de inteligência.
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As mídias em associadas a esse conjunto de pessoas e de opiniões diversas permitem
que uma maior e melhor captação da realidade e de seu conteúdo que é transmitido ao aluno e
por ele construído. Por volta de 69% dos questionários disseram que fazer o trabalho
conjuntamente eram importantes e contribuíam para a construção de um dado conhecimento
conjuntamente. Além disso, essas mídias atuavam como possibilitadoras da ampliação de algo
mais que a simples capacidade de interação, como a leitura e a escrita. Cerca de 96% dos
respondentes disseram que o curso ampliava a leitura e a escrita e também contribuía para o seu
aprimoramento.
Nesta pesquisa em particular conseguimos observar que os cursos analisados estão
possibilitando a seus alunos uma relação mais íntima com as mídias e com a construção do
conhecimento colaborativo, isso fica evidente pelos diversos dados coletados e analisados.
Podemos dizer que temos um aluno que em termos de aprendizagem tem mais chance de
construção de um espírito autônomo do que propriamente alguém que frequente regularmente um
curso tradicional. Essas informações estão de acordo com aquelas trazidas por diversos autores
como Moran (1995), Souza (2013), Kenski (2006), entre muitos outros que atribuem um caráter
inovador, provocador e instigador às mídias do AVA, que não somente têm a capacidade de
mobilizar uma série de recursos cognitivos do aprendente como também de estimular seus
sentidos e curiosidade. Queremos frisar que a mídia é potencializadora e não age sozinha, mas
deve ser acompanhada de um processo envolvendo uma série de atitudes, emoções e dedicação
por parte do aluno que acabe por imputar uma construção compartilhada de saberes, que envolva
o corpo discente como um todo. Como nos diz Souza (2013), a aprendizagem individual é parte
do processo de colaboração, porém é na interação entre os indivíduos que o entendimento do
significado se faz presente, dessa forma a predisposição do indivíduo à colaboração é intrínseca e
essencial e acompanhada de ferramentas de comunicação e colaboração, permitirão a ele tanto a
manifestação individual como a construção coletiva do pleno conhecimento. E que possibilitem
tanto ao individuo em interação quanto usuários de mídias a devida síntese do conhecimento, que
não deve ser objeto de acomodação, mas antes de inquietação.
Considerando os acertos da educação a distância ao promover, através do suporte
midiático interações, mediações e aprendizagens, contando com a motivação dos alunos, que em
nosso estudo demonstraram estar satisfeitos com essa abordagem, podemos arriscar sugerir que
o uso de alguns recursos da EaD como o vídeo e o fórum pode ser muito enriquecedor, também
para a educação presencial, gerando motivação e estimulando o desenvolvimento do pensamento
crítico e da capacidade de estruturar o próprio pensamento através da escrita de modo a
convencer outros. Escrever com intencionalidade e eficiência acolhendo a crítica e se
aperfeiçoando, sendo não só consumidor de conteúdos, mas também um produtor de cultura.
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