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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
Comparação de eficácia e segurança de fitoterápicos contendo
Maytenus ilicifolia com fármacos antiúlcera.
Thaiani Katholin Vianna de Oliveira
Trabalho de Conclusão do Curso de
Farmácia-Bioquímica da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo.
Orientadora:
Profa. Dra. Elfriede Marianne Bacchi
São Paulo
2018
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0
SUMÁRIO
Pág.
RESUMO 1
1. INTRODUÇÃO 3
2. OBJETIVOS 12
3. MATERIAIS E MÉTODOS 12
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 14
5. CONCLUSÃO 25
6. BIBLIOGRAFIA 28
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1
RESUMO
OLIVEIRA, T.K.V. Comparação de eficácia e segurança de
fitoterápicos
contendo Maytenus ilicifolia com fármacos antiúlcera. 34f.
Trabalho de
Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de
Ciências
Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
Palavras-chave: Úlcera gástrica; Maytenus ilicifolia; Fármacos
antiúlcera;
Mecanismo de ação.
INTRODUÇÃO: A úlcera gástrica é causada por um desequilíbrio,
de
origem multifatorial, entre a taxa de secreção do suco gástrico
e o grau de
proteção da mucosa. Atualmente, o estilo de vida adotado por
grande parte
população contribui para uma maior exposição aos fatores de
risco, facilitando o
desenvolvimento de úlceras gástricas. A terapia usual consiste
no aumento do pH
gástrico e cicatrização da úlcera com os fármacos antiúlcera
disponíveis no
mercado, como os inibidores da bomba de prótons e os
antagonistas dos
receptores H2 de histamina. Além disso, o uso de plantas
medicinais para alivio
dos sintomas e cicatrização da úlcera é uma tradição ainda muito
utilizada pela
população. Desde 2006, o fitoterápico da espinheira-santa é
reconhecido e
utilizado no Sistema Único de Saúde (SUS), dado que Maytenus
ilicifolia apresenta
propriedades antiulcerogênica, citoprotetora e cicatrizante
comprovadas, sendo
que os taninos, flavonoides e terpenos são os princípios ativos
que conferem
atividade biológica à planta.
OBJETIVO: Comparar eficácia e segurança de fitoterápicos
contendo
Maytenus ilicifolia com fármacos antiúlcera.
MATERIAIS E MÉTODOS: Pesquisa de referências bibliográficas
relacionadas à comparação de eficácia e segurança de fármacos
sintéticos com
fitoterápicos, contendo Maytenus ilicifolia, utilizados no
tratamento de úlceras
gástricas, previamente selecionados em textos completos nas
bases de dados
Pubmed, Scielo, ISI Web of Knowledge, Scifinder, e Up to
date.
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2
RESULTADOS: Foi possível verificar que M. ilicifolia possui
atividade
antiulcerogênica comparável aos antagonistas dos receptores H2
de histamina e
aos inibidores da bomba de prótons, demonstrando ser uma planta
medicinal
promissora no tratamento de dispepsias e úlceras gástricas. Os
mecanismos de
ação sugeridos foram antagonismo dos receptores H2 de histamina
e até mesmo
inibição da bomba de prótons, dado que o principal efeito
observado foi a redução
do pH gástrico, seguido da redução da extensão e gravidade da
úlcera e aumento
de fatores protetores da mucosa gástrica, sugerindo também
outros mecanismos
com ação antioxidante, anti-inflamatória e gastroprotetora.
CONCLUSÃO: Considerando a alta segurança de uso da espécie
vegetal e
a eficácia comprovada da atividade antiulcerogênica, pode ser
interessante o uso
de fitoterápico da espinheira-santa como coadjuvante no
tratamento de úlceras
gástricas com os inibidores da bomba de prótons e antagonistas
dos receptores
H2 de histamina devido aos prováveis efeitos sinérgicos desta
associação que
podem reduzir os efeitos adversos dos fármacos isolados e/ ou
até mesmo reduzir
o tempo de tratamento. Entretanto, ainda são necessários mais
estudos com a
associação para quantificar o sinergismo existente e garantir
sua segurança ao
excluir interações medicamentosas que possam interferir
negativamente na
farmacocinética ou na farmacodinâmica dos fármacos isolados.
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3
1. INTRODUÇÃO
A úlcera gástrica é uma lesão bem definida formada na mucosa
gástrica e é
causada por um desequilíbrio, de origem multifatorial, entre a
taxa de secreção do
suco gástrico e o grau de proteção da mucosa, ou seja, os
fatores agressivos,
constituídos pelo ácido clorídrico e pepsina, tem suas ações
sobrepostas aos
fatores de defesa da mucosa gástrica, constituídos pelo
bicarbonato e muco,
principalmente1. Os principais fatores relacionados a este
desequilíbrio são
infecção por Helicobacter pylori, hábitos alimentares,
pré-existência de gastrite,
fumo, uso abusivo de álcool, hipersecreção de ácido, problemas
com sono,
estresse crônico, trabalho físico pesado e fatores
hereditários2.
Atualmente, o estilo de vida adotado por grande parte
população
proporciona uma maior exposição aos fatores de risco para o
desenvolvimento de
úlceras gástricas. Devido à correria do dia a dia, as pessoas
têm se alimentado de
maneira inadequada tanto pela facilidade encontrada no consumo
de fast foods,
enlatados e industrializados no geral, quanto pela dificuldade
em adequar seus
horários para realizar as refeições em intervalos regulares,
como indicado por
nutricionistas, com tempo suficiente para realizar uma refeição
tranquilamente.
Além disso, existe um excesso de estresse diário, principalmente
nas cidades
grandes, que, em conjunto com a má alimentação, insônia, uso
abusivo de anti-
inflamatórios, uso frequente de álcool, tabagismo e ansiedade,
contribuem de
forma significativa para o desenvolvimento de gastrites e
úlceras gástricas3,4.
A prevalência global de pessoas com H. pylori em 2010, segundo o
World
Gastroenterology Organisation (WGO), foi de 50%, enquanto que
este número em
adultos no Brasil foi de 82%, sendo que a infecção da mucosa do
estômago por H.
pylori está associada ao desenvolvimento de úlceras gástricas em
cerca de 70% a
80% dos casos, ou seja, cerca de 80% das pessoas que possuem o
H. pylori (50%
no mundo e 82% no Brasil) desenvolvem úlceras gástricas5. Quando
a úlcera não
é tratada, as complicações podem ocorrer em até 30% dos
pacientes, sendo as
mais frequentes hemorragia digestiva alta, correspondente a 20%
dos casos de
complicação, manifestada por perda de sangue nos vômitos ou nas
fezes, e a
-
4
perfuração em si, representando 6% destes casos6. As
complicações são causas
frequentes de internação e de mortalidade pela doença. Neste
contexto, a úlcera
gástrica pode ser considerada uma questão importante de saúde
pública,
frequentemente associada à perda na qualidade de vida, perda de
produtividade
no trabalho e crescentes gastos no tratamento das complicações
causadas pela
doença7.
O tratamento de úlceras gástricas tem o objetivo de aliviar os
sintomas,
cicatrizar as úlceras, erradicar o agente bacteriano (em casos
de infecção por H.
pylori) e prevenir recidivas e complicações, de modo a melhorar
a qualidade de
vida do paciente e reduzir os gastos diretos e indiretos
associados às
complicações da doença6.
A farmacoterapia consiste na utilização de fármacos antiúlcera
que sejam
capazes de corrigir o desequilíbrio entre os fatores que
provocam danos à mucosa
e os que a protegem, buscando uma redução da secreção dos
fatores agressivos
e/ ou aumento da secreção dos fatores protetores, de modo a
restabelecer a
mucosa com a cicatrização da úlcera8. Dentre os fármacos
disponíveis para o
tratamento de úlceras gástricas estão os que neutralizam o ácido
(antiácidos), os
citoprotetores (bismuto, sucralfato e prostaglandinas), os que
inibem a secreção
ácida (antagonistas dos receptores H2 de histamina e inibidores
da bomba de
prótons), e, no caso de úlceras oriundas de infecção por H.
pylori algumas classes
de antibióticos (penicilina e macrolídeos) também são
utilizadas9.
Os antiácidos são substâncias de natureza básica que
neutralizam
parcialmente o ácido secretado pelas células parietais do
estômago, aumentando
o pH gástrico, e proporcionam um alívio rápido dos sintomas da
úlcera gástrica.
São utilizados principalmente em tratamentos de episódios curtos
de
hiperacidez10. Os fármacos citoprotetores tem a capacidade de
potencializar o
mecanismo de defesa ou formar uma barreira protetora
(muco-bicarbonato) na
mucosa gástrica. Neste grupo se encontram: (i) os sais de
bismuto que formam
uma película protetora na base da úlcera devido às ligações com
glicoproteínas
que protege a mucosa gástrica dos agentes agressores, como a
pepsina e o ácido
clorídrico; (ii) o sucralfato que, quando dissolvido em meio
ácido ou alcalino, forma
-
5
uma substância semelhante a um gel que se liga com alta
afinidade à mucosa
normal e/ ou lesionada, protegendo-a contra ação do ácido
clorídrico, pepsina e
sais biliares; e (iii) as prostaglandinas que desempenham um
papel importante na
modulação da integridade da mucosa gástrica, pois ativam
receptores que
induzem o aumento da secreção de muco e bicarbonato na mucosa
gástrica,
favorecendo a gastroproteção e contribuindo para o
restabelecimento da mucosa
lesionada11,12.
Os antagonistas dos receptores H2 de histamina inibem a secreção
ácida,
induzida por histamina, pois competem seletivamente com a
histamina pelos sítios
dos receptores H2 gástricos, reduzindo a secreção ácida pelas
células parietais. A
histamina, ao se ligar aos receptores H2 na célula parietal,
estimula a produção
ácida, já que esta ligação eleva a produção de AMPc, que, por
meio da ativação
da proteína quinase A (PKA), fosforila as proteínas envolvidas
com o transporte da
bomba de prótons do citoplasma para a membrana plasmática da
célula parietal,
permitindo a secreção ácida no lúmen do estômago. Uma vez que os
antagonistas
dos receptores H2 de histamina impedem a ligação da histamina ao
receptor, a
cascata de fosforilação não é ativada e, portanto, não há
produção da secreção
ácida pelas células parietais, permitindo que haja um aumento do
pH gástrico. Até
o momento existem 4 representantes desta classe: cimetidina,
ranitidina, nizatidina
e famotidina11.
Os inibidores da bomba de prótons são medicamentos que
inibem
irreversivelmente a bomba de prótons (enzima H+, K+ ATPase) e
promovem a
supressão ácida gástrica, elevando o pH gástrico para maior que
4 por um período
de 16 a 18 horas. Os fármacos desta classe são bases fracas que
alcançam as
células parietais por meio do sangue e se difundem até os
canalículos secretores
ácidos, onde são protonados e se acumulam, uma vez que não
atravessam a
membrana em sua forma ionizada. Dentro destes canalículos,
devido ao alto
conteúdo ácido, o fármaco sofre a segunda ionização e é
estruturalmente
modificado de pró-fármaco para sua forma ativa. Esta forma
ativada reage, por
meio da ligação covalente com o domínio extracelular da bomba de
prótons,
inibindo a secreção ácida. Atualmente, existem seis
representantes desta classe
-
6
que são comercializados: omeprazol, lanzoprazol, pantoprazol,
rabeprazol,
esomeprazol e dexlansoprazol9.
Figura 1: mecanismo de ação dos antagonistas dos receptores H2
de
histamina e dos inibidores da bomba de prótons (Adaptado de
OLBE,
CARLSSON e LINDBERG, 2003)13
Em casos de infecção por H. pylori o tratamento conta com a
associação de
antibióticos aos anti-secretores, já que a terapia
antimicrobiana contribui para a
erradicação da bactéria, auxiliando na cicatrização da úlcera e
recuperação da
mucosa9. A primeira opção de tratamento é a terapia tríplice
convencional que
contempla inibidores da bomba de prótons, amoxicilina e
claritromicina14.
Além dos fármacos sintéticos citados acima, plantas medicinais
são
amplamente utilizadas no tratamento de diversas doenças,
incluindo de úlceras
-
7
gástricas, uma vez que possuem a capacidade de aliviar ou curar
determinadas
enfermidades. Geralmente, são utilizadas na forma de chás ou
infusões e seu uso
como remédio segue uma tradição conhecida pela população15. A
industrialização
da planta medicinal tem como resultado o medicamento
fitoterápico, o qual é
definido como o medicamento obtido com emprego exclusivo de
matérias-primas
vegetais16.
A espinheira-santa, Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek
(Celastraceae), a
planta medicinal mais utilizada na medicina popular para o
tratamento de
dispepsias e úlceras gástricas17 por apresentar propriedades
antiulcerogênica,
citoprotetora e cicatrizante, as quais são de grande interesse
do ponto de vista
farmacoterapêutico e tem sido alvo de estudo há anos por
institutos renomados de
pesquisa18. Os grupos de substâncias ativas presentes que
conferem atividade
biológica à planta são os taninos, flavonoides e os terpenos,
este último, grupo em
que estão inseridos os triterpenos19. No Quadro 1, encontra-se
descrita a relação
das substâncias ativas encontradas na espinheira-santa20.
Os taninos são metabólitos secundários da classe dos polifenóis;
estão
presentes em muitos vegetais e possuem importantes aplicações
terapêuticas
devido a suas propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes.
São capazes de se
complexar com proteínas e íons metálicos, por meio de interações
hidrofóbicas e
pontes de hidrogênio, formando uma camada sobre a mucosa
gástrica,
protegendo-a e permitindo a recuperação natural do organismo.
Além disso, são
sequestradores de radicais livres, o que confere uma ação
antioxidante a esta
classe18,19,20,21. Os taninos condensados também possuem
atividade in vivo e in
vitro contra H. pylori22.
-
8
Quadro 1 - Substâncias ativas encontradas na Maytenus ilicifolia
(Adaptado de NEGRI, M.L.S., 2007)20
Parte da Planta
Classe Substância ativa Estrutura Atividade Referências
Folhas Glicosídeos Ilicifolinosídeo A (1), B
(2) e C (3)
Antioxidante
Anti-inflamatória
(ZHU,
SHARAPIN,
ZHANG, 1998)23
(COUTINHO et
al., 2009)24
Folhas Flavonoides
heterosídicos
Luteolina (4)
Apigenina (5)
(4) R1 = H; R2 = OH
(5) R1 = OH; R2 = OH
Antioxidante
Anti-inflamatória
(XAVIER E
D'ANGELO,
1996)25
(COUTINHO et
al., 2009)24
-
9
Folhas Flavonoides
heterosídicos
Canferol (6)
Quercetina (7)
Rutina (8) (6) R1 = H; R2 = H; R3 = H; R4 = H
(7) R1 = H; R2 = OH; R3 = H; R4 = H
(8) R1 = H; R2 = H; R3 = OH; R4 = O-
rutinosila
Antioxidante
Anti-inflamatória
(TIBERTI et al.,
2007)26
(LEITE et al.,
2001)27
(COUTINHO et
al., 2009)24
Folhas Flavonoides
heterosídicos
Epicatequina (9)
Catequina (10)
(9) Epicatequina (10) Catequina
Anti-inflamatória
Cicatrizante
Antimicrobiana
(PESSUTO,
2006)28
(COUTINHO et
al., 2009)24
Folhas Taninos
Proantocianidinas*
(11)
Antocianidinas* (12)
*Cianidina *R = H
Anti-inflamatória
Cicatrizante
Protetor de
mucosa
Antimicrobiana
(XAVIER E
D'ANGELO,
1996) 25
(COUTINHO et
al., 2009)24
(MARIOT,
2007)21
-
10
Folhas Triterpenos Friedelan-3-ol (13)
Friedeline (14)
(13) R = R1 = O
(14) R = H; R1 = OH
Anti-inflamatória
Analgésica
(YARIWAKE et
al., 2005)29
(SANTOS-
OLIVEIRA et al.,
2009)30
Raiz Triterpenos Ilicifolina (15)
-
Anti-inflamatória
Analgésica
(ITOKAWA et
al., 1991)31
(SANTOS-
OLIVEIRA et al,
2009)30
Raiz Triterpenos (quinonametídeos)
Maitenina (16) Pristimerina (17)
(16) R1 = H; R2 = =O (17) R1 = COOCH3; R2 = H
Antitumoral
(NOSSAK et al., 2004)32 (SANTOS-OLIVEIRA et al, 2009)30
-
11
Os flavonoides também são metabólitos secundários da classe
dos
polifenóis e estão presentes em diversas espécies vegetais. São
importantes
agentes antioxidantes devido sua capacidade em sequestrar
radicais livres e de
quelar íons metálicos, protegendo os tecidos que seriam
lesionados pela ação dos
radicais livres. Também exercem ação anti-inflamatória devido a
sua capacidade
de influenciar na regulação e síntese de substâncias envolvidas
no processo
inflamatório, seja por reduzir a adesão de células inflamatórias
ao endotélio
vascular, ou reduzir os fatores pró-inflamatórios (como as
citocinas e quimiocinas),
ou ainda, podem agir inibindo a síntese de fatores
pró-inflamatórios (como o
TNF‒α) e bloquear determinadas enzimas que são necessárias para
desencadear
a inflamação (como a fosfolipase, COX 1 e 2 e as
lipoxigenases)18,20,23,24.
Os terpenos constituem o maior grupo de metabólitos secundários
vegetais
com origem biossintética derivada de unidades do isopreno (C5).
As atividades
farmacológicas relacionam-se diretamente com estrutura de cada
terpenoide,
podendo exercer diversas funções como, por exemplo: protetora
contra fungos e
bactérias, digestiva, anti-inflamatória, antiespasmódica,
protetora contra úlceras
gástricas, entre outras21.
A fitoterapia, terapêutica caracterizada pelo uso de plantas
medicinais em
suas diferentes formas farmacêuticas, tem crescido
consideravelmente no Brasil,
principalmente, a partir 2006, quando passou a valer a Política
Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares, que permitiu o acesso da
população a
essas terapias no Sistema Único de Saúde (SUS)33.
-
12
2. OBJETIVO (S)
É objetivo do trabalho comparar eficácia e segurança de
fitoterápicos
contendo Maytenus ilicifolia com fármacos antiúlcera.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Estratégias de pesquisa
Para a execução do trabalho, foi realizada uma revisão
sistemática da
literatura utilizando bases de dados científicas, como Pubmed,
Scielo, ISI Web of
Knowledge, Scifinder e Up to date, sendo o acesso por meio da
rede da
Universidade de São Paulo (USP). Os termos utilizados para
pesquisa foram:
gastric ulcer, Maytenus ilicifolia antiulcerogenic activity,
proton pump inhibitors
mechanism of action, H2 receptor antagonists mechanism of
action, Maytenus
ilicifolia comparative cimetidine, Maytenus ilicifolia
comparative ranitidine,
Maytenus ilicifolia comparative omeprazole.
3.2. Critérios de inclusão
Uma avaliação prévia do material foi realizada, por meio da
análise do título
e do resumo dos artigos, e foram selecionados apenas os estudos
com coerência
de conteúdo em relação ao tema definido. Além desta triagem, só
foram
considerados os estudos originais, disponibilizados
integralmente e publicados em
inglês, português ou espanhol, que foram publicados,
preferencialmente, a partir
de 2002. Entretanto, existem publicações mais antigas que foram
incluídas no
trabalho por possuírem informações relevantes para a
discussão.
3.3. Critérios de exclusão
-
13
Foram excluídos os materiais não disponibilizados
integralmente,
publicados em outras línguas que não o inglês, português ou
espanhol,
inconclusivos, com informações superficiais ou pouco
relacionados com o tema
específico.
3.4. Coleta e análise dos dados
Para auxiliar na análise dos dados, uma tabela foi elaborada
para registro e
categorização das informações que foram coletadas durante a
pesquisa. A tabela
foi segregada em: tratamentos para úlcera gástrica; mecanismo de
ação inibidores
da bomba de prótons; mecanismo de ação antagonistas dos
receptores H2 de
histamina; taninos ação farmacológica; flavonoides ação
farmacológica; terpenos
ação farmacológica; estudos comparativos Maytenus ilicifolia X
Inibidores da
bomba de prótons; estudos comparativos Maytenus ilicifolia X
Antagonistas dos
receptores H2 de histamina.
Para auxiliar na organização da estrutura do trabalho, um
roteiro foi
elaborado, a fim de sumarizar e elencar os principais pontos a
serem abordados
em cada macroestrutura do trabalho. Foi considerado o seguinte
roteiro para
introdução: definição de úlcera gástrica; fatores de risco;
prevalência;
complicações; tratamento com fármacos antiúlcera (antiácidos,
citoprotetores,
antagonistas dos receptores de H2, inibidores da bomba de
prótons e antibióticos);
tratamento com plantas medicinais (M. ilicifolia);
Espinheira-santa (uso tradicional,
propriedades farmacológicas e princípios ativos – taninos,
flavonoides e terpenos).
E este para desenvolvimento (resultados e discussão):
Apresentação dos
resultados de segurança da espinheira-santa – CEME; Interação
Medicamentosa;
Apresentação dos resultados de comparação de eficácia/ mecanismo
de ação da
espinheira-santa com fármacos sintéticos antiúlcera; comparação
de segurança da
espinheira-santa com inibidores da bomba de prótons e
antagonistas dos
receptores H2 de histamina; e controle de qualidade de plantas
medicinais – M.
ilicifolia.
-
14
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados encontrados na busca em relação à segurança da
Maytenus
ilicifolia Mart. ex Reissek foram sintetizados no Quadro 2. O
mesmo vale para os
resultados encontrados em relação à eficácia antiúlcera da
planta em comparação
com os medicamentos sintéticos utilizados no tratamento de
úlceras gástricas,
como os antagonistas dos receptores H2 de histamina e os
inibidores da bomba
de prótons.
A espinheira-santa, Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, é uma
das plantas
medicinais que possuem efeitos farmacológicos e segurança de uso
comprovados
pela Central de Medicamentos (CEME) do Ministério da Saúde do
Brasil18. Em
1988, o “Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais” publicou os
resultados de
estudos pré-clínicos realizados em ratos submetidos
experimentalmente a quatro
tipos de úlcera gástrica, a fim de verificar a ação antiúlcera
de quatro espécies
brasileiras tradicionalmente utilizadas para esta finalidade:
Maytenus ilicifolia Mart.
ex Reissek (espinheira-santa), Brassica oleracea L. (couve),
Bryophyllum
pinnatum (Lam.) Oken (folha da fortuna) e o Sedum praealtum
A.DC. (bálsamo). O
destaque da publicação foi para Maytenus ilicifolia, única
espécie de planta, dentre
as quatro estudadas, que demonstrou efeitos protetores
significantes contra
úlceras experimentais em ratos, efeitos os quais foram
comparáveis aos da
cimetidina (antagonista dos receptores H2 de histamina). Após
receber destaque
na publicação mencionada, Maytenus ilicifolia passou a ser alvo
de estudos por
centros renomados de pesquisa a fim de obter maior conhecimento
sobre sua
eficácia e segurança30,34.
Estudos toxicológicos pré-clínicos, conduzidos pela CEME,
revelaram que
os extratos obtidos da M. ilicifolia são completamente atóxicos,
mesmo
administrando doses centenas de vezes maiores do que as
ingeridas pelo homem
por até 3 meses, o que confere à planta um perfil muito
favorável como agente
terapêutico para o tratamento de enfermidades
gástricas34,35.
-
15
Quadro 2 - Resultados de segurança e de eficácia antiúlcera da
Maytenus ilicifolia em comparação com os
medicamentos sintéticos utilizados no tratamento de úlceras
gástricas.
Estudo/ Objetivo Extrato Via de
administração Medicamento de referência
Resultados Referência
in vivo - estudo de toxicologia pré-clínica aguda.
Abafados e liofilizados das folhas (doses extremamente altas -
até 1600 vezes maiores que as utilizadas pelo homem - foram
testadas em camundongos e ratos)
Oral -
1. Efeitos tóxicos não foram detectados. 2. Sem mortes e sem
modificações nos parâmetros motores, físicos e psíquicos
analisados.
(CARLINI, 1988)34
in vivo - estudo de toxicologia pré-clínica crônica.
Abafados das folhas (doses 20-40 vezes maiores que utilizadas em
humanos foram administradas durante 2-3 meses)
- - 1. Sem alterações no peso, temperatura, comportamento e
parâmetros bioquímicos séricos e hematológicos.
(CARLINI, 1988)34
in vivo - estudo de toxicologia clínica (Fase I)
Liofilizado do abafado das folhas (dosagem: o dobro da utilizada
comumente em etnofarmacologia durante 14 dias)
Oral -
1. Sem alterações nos parâmetros psicomotores, clínicos,
bioquímicos e hematológicos monitorados. 2. Efeitos adversos
detectados: boca seca, náusea, poliúria e gastralgia. Houve melhora
no decorrer do estudo. 3. Não é tóxico para o ser humano quando
utilizado da forma que é utilizado na medicina popular.
(CARLINI, 1988)34
in vivo - estudo toxicológico para avaliar os efeitos
contraceptivos e teratogênicos.
Extrato hidroalcoólico liofilizado das folhas (1000 mg/ kg/ dia)
Oral -
1. Diminuição da pré-implantação embrionária. 2. Sem efeitos
teratogênicos
(MONTANARI E BELIVACQUA, 2002)36
-
16
ex vivo -utilizando o modelo da Câmara de Ussing para avaliar a
influência das substâncias sobre a secreção de ácido gástrico na
mucosa
Aquoso liofilizado - obtido das folhas (28 mg%). Processo:
secagem; moagem; infusão aquosa; filtração; liofilização;
armazenamento do pó (-20ºC). Antes dos experimentos, o pó era
reconstituído em soluções tamponadas até a concentração
desejada.
Diretamente na superfície serosa
cimetidina (400 µM)
1. Adição histamina: aumento da taxa de secreção de H+. 2.
Adição extrato: redução da taxa de secreção de H+. 3. Adição
cimetidina: reduziu a taxa de secreção de H+. 4. Adição extrato +
cimetidina: exibiram efeitos aditivos sobre a redução da taxa de
secreção de H+. Indica sinergia da associação. 5. Adição da
acetilcolina: sem influência na taxa de secreção de H+.
(FERREIRA, 2004)37
ex vivo -utilizando o modelo da Câmara de Ussing para avaliar a
influência das substâncias sobre a secreção de ácido gástrico na
mucosa
Aquoso liofilizado - obtido das folhas (28 mg%). Processo:
secagem; moagem; infusão aquosa; filtração; liofilização;
armazenamento do pó (-20ºC). Antes dos experimentos, o pó era
reconstituído em soluções tamponadas até a concentração
desejada.
Diretamente na superfície luminal
cimetidina (400 µM)
1. Adição aceticolina: aumento da taxa de secreção de H+. 2.
Adição histamina ou extrato ou cimetidina: sem influência na taxa
de secreção de H+.
(FERREIRA, 2004)37
in vivo - utilizando modelo de indução de úlceras por restrição
a frio (-18ºC)
Extrato de hexano (320 mg/kg) - triterpenos - obtido das folhas.
Processo: secagem (36 ◦C / 72 h); pulverização (moinho de facas);
percolação com hexano; evaporação do solvente (a vácuo - 45
◦C).
Oral cimetidina (100 mg/kg)
1. Extrato reduziu a gravidade e extensão das úlceras em 74,2% e
a cimetidina 79,4%. 2. Extrato aumentou a cicatrização das úlceras
em 67,5% e cimetidina 77,6%. 3. Extrato aumentou o pH gástrico para
4 e cimetidina 6.
(JORGE, 2004)19
in vivo - utilizando modelo de indução de úlceras por restrição
a frio (-18ºC)
Extrato de acetato de etila (320 mg/kg) - taninos condensados e
flavonoides - obtido das folhas. Processo: secagem (36 ◦C / 72 h);
pulverização (moinho de facas); percolação com hexano; evaporação
do solvente (a vácuo - 45 ◦C); extração com acetato de etila;
condensação.
Oral cimetidina (100 mg/kg)
1. Extrato reduziu a gravidade e extensão das úlceras em 69,0% e
cimetidina 79,4%. 2. Extrato aumentou a cicatrização das úlceras em
58,2% e cimetidina 77,6%. 3. Extrato aumentou o pH gástrico para 4
e cimetidina 6.
(JORGE, 2004)19
-
17
in vivo - utilizando o modelo de indução de úlceras gástricas
agudas com etanol 80% para avaliar a ação gastroprotetora do
extrato rico em flavonoides
Aquoso rico em flavonoides (3, 10, 30 mg/kg) - obtido das
folhas. Processo: extração aquosa tratada com etanol, obtendo um
precipitado etanólico padronizado de catequina (2%), epicatequina
(3,1%) e galactiol (27%).
Intraperitonial omeprazol (40 mg/kg)
1. Extrato reduziu a extensão das lesões em 69,5%, enquanto o
omeprazol reduziu 53%. 2. Extrato e omeprazol não obtiveram
resultados sobre o aumento de fatores protetores da mucosa
gástrica.
(BAGGIO, 2007)38
in vivo - utilizando o modelo de indução de úlceras gástricas
agudas com indometacina 40 mg/kg para avaliar a ação
gastroprotetora do extrato rico em flavonoides
Aquoso rico em flavonoides (3, 10, 30 mg/kg) - obtido das
folhas. Processo: extração aquosa tratada com etanol, obtendo um
precipitado etanólico padronizado de catequina (2%), epicatequina
(3,1%) e galactiol (27%).
Intraperitonial omeprazol (40 mg/kg)
1. Extrato reduziu a extensão das lesões em 79,4%, enquanto o
omeprazol reduziu em 97%.
(BAGGIO, 2007)38
in vivo - utilizando o modelo de ligadura de piloro para avaliar
a ação gastroprotetora do extrato rico em flavonoides
Aquoso rico em flavonoides (3, 10, 30 mg/kg) - obtido das
folhas. Processo: extração aquosa tratada com etanol, obtendo um
precipitado etanólico padronizado de catequina (2%), epicatequina
(3,1%) e galactiol (27%).
Intraperitonial omeprazol (40 mg/kg)
1. Extrato reduziu a acidez gástrica em 79,4%, enquanto o
omeprazol reduziu em 94,2%.
(BAGGIO, 2007)38
in vivo- utilizando o modelo de indução de úlceras gástricas
crônicas com ácido acético 10% para avaliar a ação gastroprotetora
do extrato rico em flavonoides
Aquoso rico em flavonoides (3, 10, 30 mg/kg) - obtido das
folhas. Processo: extração aquosa tratada com etanol, obtendo um
precipitado etanólico padronizado de catequina (2%), epicatequina
(3,1%) e galactiol (27%).
Intraperitonial omeprazol (40 mg/kg)
1. Extrato reduziu a extensão das lesões em 64%, enquanto o
omeprazol reduziu 55%.
(BAGGIO, 2007)38
-
18
O Estudo Clínico de Fase I, também conduzido pela CEME,
evidenciou que
o extrato da espinheira-santa não é tóxico para o ser humano em
até 2000
mg/kg/dia e garantiu sua segurança de utilização em voluntários
sadios sem
apresentar alterações significantes nos parâmetros psicomotores,
clínicos,
bioquímicos e hematológicos monitorados. Os efeitos adversos
detectados foram
poucos e todos de natureza leve; nenhum estudo foi interrompido
por conta dos
efeitos adversos. Os efeitos mais detectados foram a poliúria e
a xerostomia, que
foram bem tolerados pelos voluntários, apesar de serem efeitos
adversos, e
desapareceram após descontinuação do extrato da M. ilicifolia.
Neste mesmo
estudo, os autores concluíram que, dada a comprovação de
segurança do extrato
de espinheira-santa, existem vantagens da utilização do extrato
em comparação
com os inibidores da bomba de prótons utilizados no tratamento
de gastrite e
úlceras gástricas34,35.
Um outro ponto importante verificado ainda sobre sua segurança
de uso é
que não foram identificadas interações medicamentosas com o
fitoterápico da M.
ilicifolia39,40,41. Em um estudo experimental foi sugerida uma
ação estrogênica da
planta causando perda embrionária/ dificuldade de implantação no
útero36.
Após verificação e comprovação de segurança do uso de M.
ilicifolia no
tratamento de dispepsias e úlceras gástricas, outros estudos
também foram
conduzidos com o objetivo de não só verificar e analisar a
eficácia gastroprotetora
de seus extratos, como também de elucidar os mecanismos de ação
envolvidos
em sua farmacologia ao comparar os resultados dos extratos com
os
medicamentos antiúlcera mais utilizados na terapia de úlceras
gástricas, os
inibidores da bomba de prótons e os antagonistas dos receptores
H2 de
histamina19,37,38.
O estudo realizado por FERREIRA (2004)37 teve o objetivo de
avaliar a
ação gastroprotetora de um extrato rico em flavonoides, para
tal, utilizou-se um
modelo da Câmara de Ussing (ex vivo), a qual fornece um sistema
fisiológico para
medir o transporte de íons, nutrientes e fármacos através de
vários tecidos
epiteliais. O modelo consiste em ter o epitélio que se deseja
estudar dissecado
separando duas metades de uma câmara, cada uma das quais banhada
por
-
19
soluções eletrolíticas idênticas do mesmo volume, com suprimento
constante de
oxigênio e nutrientes (sangue) necessários42. No estudo
realizado, foi avaliado o
epitélio gástrico, sendo considerados tanto a superfície serosa,
quanto a superfície
luminal do estômago. As substâncias foram adicionadas
diretamente na superfície
serosa e na luminal. A adição de concentrações crescentes de
histamina (50-
800µM), cimetidina (125-400 µM) e extrato de M. ilicifolia rico
em flavonoides (7-28
mg% - considerando 7-28g do extrato liofilizado obtido da M.
ilicifolia em 100ml de
solução aquosa) foram eficazes somente quando adicionadas
diretamente à
superfície serosa, onde estão localizados os receptores H2 de
histamina,
enquanto que a acetilcolina (400µM) só se mostrou eficaz quando
adicionada à
superfície luminal, onde estão localizados os receptores
muscarínicos M3.
Observou-se que o extrato, assim como a cimetidina, inibe a
secreção ácida
gástrica dependente da concentração37.
O estudo realizado por JORGE (2004)19 teve o objetivo de avaliar
a ação
antiúlcera dos extratos de triterpenos e de taninos condensados
e flavonoides,
obtidos das folhas da Maytenus ilicifolia, em úlceras induzidas
por restrição a frio.
Dois extratos diferentes foram preparados: 1. Rico em
triterpenos e 2. Rico em
taninos condensados e flavonoides. A administração dos extratos
(320 mg/ kg) se
deu por via oral de três formas diferentes: 1. Previamente (6
horas) à indução de
úlceras gástricas nos animais com dose única; 2. Previamente à
indução de
úlceras gástricas nos animais por 3 dias consecutivos – 1 dose/
dia; e 3.
Posteriormente à indução das úlceras por 3 dias consecutivos - 1
dose/ dia. A
cimetidina (100 mg/ kg), indometacina (20 mg/ kg) e a solução
salina (controle
utilizado) foram administrados da mesma forma que os extratos.
Foi observada
uma redução de número e de gravidade das úlceras, bem como
redução da
secreção ácida gástrica – resultando no aumento de pH – e maior
cicatrização das
lesões. Todos os efeitos foram comparáveis aos da cimetidina,
sem diferenças
significantes entre os resultados.
O estudo realizado por BAGGIO (2007)38 teve o objetivo de
avaliar a ação
antiúlcera de um extrato de M. ilicifolia rico em flavonoides em
úlceras gástricas
agudas e crônicas induzidas de quatro maneiras diferentes. As
úlceras agudas
-
20
foram induzidas por 1. etanol 80% (0,5 mL/ 200 g); 2.
indometacina (20 mg/ kg) e
3. ligadura de piloro; enquanto que as crônicas foram induzidas
por 4. ácido
acético 10% (50 µL).
No modelo de indução de úlceras agudas, os ratos foram divididos
em
grupos e tratados, separadamente, por via intraperitoneal com
solução salina (0,1
mL/ 100 g), extrato rico em flavonoides (3, 10 e 30 mg/ kg) e
omeprazol (40 mg/
kg) 30 minutos antes da administração de etanol. Os animais com
lesões gástricas
por indometacina, além do tratamento prévio como do etanol,
também foram
tratados com dose suplementar de extrato rico em flavonoides a
cada 2 horas38.
No modelo de indução de úlceras crônicas, os animais foram
anestesiados
e o abdome foi exposto a 50 µL de ácido acético. Após
recuperação da anestesia,
os animais foram divididos e tratados, separadamente, por via
intraperitonial com
solução salina (0,1 mL/ 100 g), extrato rico em flavonoides (10,
30 e 100 mg/ kg) e
omeprazol (20 mg/ kg) duas vezes ao dia durante 7 dias38.
No modelo de indução de hipersecreção pela ligadura de piloro,
uma
ligadura do piloro foi realizada sob anestesia e imediatamente
após procedimento,
os animais foram divididos em grupos e foi administrado via
intraperitoneal,
separadamente, extrato rico em flavonoides (3, 10 e 30 mg/ kg),
solução salina
(0,1 mL/ 100 g) e omeprazol (40 mg/ kg)38.
O principal efeito observado foi a redução da secreção de ácido
gástrico, o
qual sugere que o mecanismo de atuação dos extratos seja pela
inibição/ bloqueio
da bomba de prótons. Existe ainda um forte indício de que a ação
antiulcerogênica
do extrato rico em flavonoides esteja envolvida com o sistema de
ciclo-oxigenase-
prostaglandina, dada a proteção contra o surgimento de lesões
por indometacina
observada. Os efeitos antiúlcera e gastroprotetores foram
comparáveis aos do
omeprazol. Não foi observado como efeito o aumento da secreção
de fatores de
proteção da mucosa (muco e bicarbonato), o que levou a concluir
que não há
envolvimento do extrato rico em flavonoides com este mecanismo
de ação38.
A atividade antiulcerogênica da espinheira-santa está
ligada,
principalmente, aos polifenóis (flavonoides e taninos) e aos
triterpenos18. Além dos
estudos realizados pela CEME que comprovaram e publicaram estes
efeitos34,
-
21
também foi possível verificar e comprovar a ação antiúlcera por
uma série de
experimentos realizados em ratos que tiveram úlceras gástricas
induzidas
principalmente por meio de indometacina e por estresse gerado
por restrição a
frio, com administração dos extratos de diferentes formas (oral,
intraperitoneal,
previamente geração de úlceras, após geração de úlceras, entre
outras), a fim de
avaliar qual a influência dos compostos ativos presentes na
planta sobre as
úlceras gástricas. De modo geral, foi observada uma redução da
gravidade das
úlceras e um aumento da cicatrização e do pH da secreção
gástrica nestes
grupos. Além desta atividade, os pesquisadores também
verificaram atividade
anti-inflamatória, analgésica e citoprotetora da mucosa
gástrica. Após confirmar a
atividade gastroprotetora e antiulcerogênica dos princípios
ativos, os autores
também compararam os efeitos obtidos utilizando os extratos da
planta com
grupos de controle positivo que tiveram a administração de
fármacos antiúlcera,
cimetidina, ranitidina e omeprazol, com o intuito de elucidar o
mecanismo de ação
envolvido nessas atividades19,37,38.
Quando estes efeitos foram comparados aos da cimetidina e da
ranitidina,
não houve diferença significativa nos resultados dos grupos
tratados com extratos
e dos que utilizaram o fármaco de referência19. Ao comparar os
perfis de curva de
inibição da secreção ácida, notoriamente houve semelhança entre
o extrato
utilizado e a cimetidina, permitindo concluir que, dentre outros
possíveis
mecanismos, existe o antagonismo dos receptores H2 de histamina
pelo extrato
aquoso liofilizado de folhas de M. ilicifolia, obtendo efeito de
aumento do pH
gástrico por reduzir a secreção ácida37,43. Além desta
semelhança, o efeito
inibitório, tanto para os extratos, quanto para cimetidina, só
foi observado quando
ambas foram adicionadas à superfície serosa da mucosa gástrica
dos animais, ou
seja, onde estão localizados os receptores H2 de histamina,
reforçando a
conclusão de que existe uma ação antagonista de receptores H2
exercida pelos
princípios ativos da M. ilicifolia37.
O modo de indução das úlceras gástricas em ratos nos
experimentos
realizados também é importante para comparação do efeito
terapêutico com intuito
de elucidar o mecanismo de ação dos ativos da espinheira-santa.
As úlceras
-
22
induzidas por estresse muito provavelmente são mediadas pela
liberação de
histamina, o que não só aumenta a secreção gástrica, mas também
causa
distúrbios na microcirculação da mucosa e na motilidade
gástrica, reduzindo a
produção de muco e favorecendo o aparecimento de úlceras na
mucosa. A
administração do extrato eleva o pH gástrico de maneira eficaz,
reduzindo as
úlceras gástricas em número e em gravidade, indicando uma
relação de sua ação
com a inibição da secreção ácida por bloqueio de receptores de
H2, assim como
pode ser observado no efeito exercido pela cimetidina44,45.
Entretanto, este não seria o único mecanismo envolvido. Os
ativos da
planta também possuem ação gastroprotetora da mucosa devido a
sua ação
antioxidante que impede o aparecimento de novas lesões e auxilia
na redução das
úlceras já existentes por agir sequestrando os radicais livres,
impedindo que a
mucosa gástrica seja danificada pela reatividade dos mesmos.
Esta ação fica em
evidência quando se utiliza como modelo a úlcera induzida por
álcool, já que a
exposição da mucosa ao etanol propicia o aparecimento de
úlceras, porque a
metabolização do álcool gera muitos radicais livres que
danificam as células da
mucosa gástrica46.
Outro mecanismo verificado e possivelmente correlacionado com
a
atividade da espinheira-santa, considerando o modo de indução de
úlceras, foi o
de estímulo à secreção de fatores defensivos (muco e
bicarbonato), de forma
muito semelhante às prostaglandinas, contribuindo para o efeito
de proteção
contra úlceras do extrato sobre a mucosa gástrica. Esta ação foi
observada no
modelo de indução de úlcera por anti-inflamatórios não
esteroidais, como aspirina
e indometacina, já que estes medicamentos inibem a enzima
prostaglandina
sintetase, responsável pela síntese das prostaglandinas, as
quais desempenham
um papel protetor importante ao estimular a secreção dos fatores
protetores de
mucosa e o fluxo sanguíneo, permitindo que ocorra o reparo
celular47,48.
Quando os efeitos observados foram comparados ao omeprazol,
os
resultados sugeriram que os efeitos antiúlcera obtidos com o
emprego de uma
fração rica em flavonoides extraída das folhas da M. ilicifolia
se dão pelo bloqueio/
inibição da bomba de prótons, dado que o efeito mais perceptível
é a redução da
-
23
secreção ácida gástrica. Além deste mecanismo sugerido, os
resultados também
sugerem que a fração rica em flavonoides tem envolvimento com o
sistema ciclo-
-oxigenase-prostaglandina, com base no efeito protetor contra
desenvolvimento de
lesões gástricas no modelo induzido por de úlceras induzidas por
indometacina.
Não foi observado efeito sobre o aumento de fatores protetores
da mucosa
gástrica, sugerindo que os flavonoides não exercem efeito por
este último
mecanismo. Entretanto, a ação da fração rica em flavonoides
utilizada é
comparável ao mecanismo de ação do omeprazol, um inibidor da
bomba de
prótons38.
Embora a segurança do uso dos inibidores da bomba de prótons já
tenha
sido comprovada, relatos recentes têm chamado a atenção para
potenciais efeitos
adversos, principalmente a longo prazo, e também interações
medicamentosas
com esta classe de medicamentos. Alguns estudos sugerem que o
uso do
omeprazol a longo prazo em humanos pode estar associado à
diminuição da
vitamina B12 e à má absorção de cálcio pelos ossos, levando à
osteoporose e
aumentando a ocorrência de fraturas ósseas49,50. Além disso, foi
observada a
interação dos inibidores da bomba de prótons com alguns
medicamentos quando
administrados juntamente, levando ao aumento da absorção de
alguns fármacos
como nifedipino e digoxina ou à diminuição da absorção de outros
como
cetoconazol, itraconazol e astranavir. Outros estudos levantaram
a questão da
interação de inibidores da bomba de prótons com clopidogrel
(importante agente
antiagregante plaquetário), diminuindo a conversão do
clopidogrel a sua forma
ativa, o que reduz sua eficácia nos tratamentos de cardiopatias
e eventos
trombóticos50,51.
No caso dos antagonistas dos receptores H2 de histamina, os
principais
efeitos adversos descritos em bula são dores musculares e de
cabeça, cansaço,
diarreia e alergias. As interações medicamentosas detectadas
ocorreram com
medicamentos anticoagulantes, antiepilépticos, anestésicos,
utilizados no
tratamento de artrite, asma e bronquite53.
É importante lembrar que existem outras espécies vegetais,
Sorocea
bonplandii e Zollernia ilicifolia, que são morfologicamente
semelhantes à M.
-
24
ilicifolia e, por isso, são frequentemente confundidas e até
mesmo trocadas
intencionalmente na comercialização da planta medicinal. A
planta S. bonplandii
apresenta um valor medicinal similar ao da espinheira-santa
comprovado por
alguns estudos que detectaram presença de flavonoides com ação
analgésica e
antiulcerogênica. Porém, não existem estudos toxicológicos que
garantem a
segurança de uso, sendo assim, o consumo desta espécie ao invés
da espinheira-
santa verdadeira (Maytenus ilicifolia) representa um risco à
saúde. Já a Z.
ilicifolia, embora tenha estudos conduzidos que comprovem os
efeitos contra
úlceras gástricas, estudos prévios toxicológicos indicam que,
após metabolização
do glicosídeo cianogênico, princípio ativo encontrado nesta
espécie, pode haver
efeitos tóxicos e levar à morte18.
O uso indevido destas espécies pode trazer malefícios à saúde,
uma vez
que não existem estudos toxicológicos que comprovem a segurança
de uso
destas espécies, por isso o controle de qualidade da
comercialização de plantas
medicinais/ fitoterápicos deve ser rígido para evitar a
substituição da espinheira-
-santa por espécies adulterantes18.
-
25
5. CONCLUSÃO
Maytenus ilicifolia é uma planta medicinal com segurança de uso
e eficácia
comprovados. Os estudos realizados até o momento buscam elucidar
a relação
dos princípios ativos da planta com os efeitos antiulcerogênico,
anti-inflamatório,
citoprotetor e cicatrizante identificados, e os mecanismos de
ação envolvidos em
sua eficácia.
Quanto a sua segurança, estudos toxicológicos demonstraram
alta
segurança dos extratos da espinheira-santa em altas doses e em
até 3 meses de
uso. Todos os efeitos adversos identificados foram leves e
desapareceram
espontaneamente após descontinuação do tratamento com os
extratos. De acordo
com estudos realizados, não foram identificadas interações
medicamentosas com
a M. ilicifolia, exceto por uma possível propriedade estrogênica
que poderia causar
perda embrionária.
Para a relação de princípios ativos versus efeitos da planta, as
conclusões
dos autores são variadas e até divergentes, alguns estudos
apontam a maior
porcentagem do efeito antiulgerogênico aos taninos, outros aos
flavonoides e
outros aos terpenos. O mesmo acontece para as propriedades
anti-inflamatória,
citoprotetora e cicatrizante do extrato. Esta variação muito
provavelmente conta
com a influência do modelo de extração realizada, do tipo de
modelo de úlcera
induzida e outras características da planta como o solo e a
umidade do ar.
Contudo, como as plantas medicinais e os medicamentos
fitoterápicos são
caracterizados como misturas complexas de componentes químicos
que podem
apresentar diversos mecanismos de ação, é possível compreender a
variabilidade
dos estudos e concluir que é o complexo de compostos presentes
na planta que
interagem e promovem a ação medicamentosa.
Em relação aos mecanismos de ação envolvidos em sua eficácia,
alguns
estudos compararam a eficácia dos extratos com os fármacos
antiúlcera
pertencentes à classe dos inibidores da bomba de prótons e dos
antagonistas dos
receptores H2 de histamina, usualmente utilizados no tratamento
de úlceras
gástricas. Foi possível verificar que Maytenus ilicifolia possui
atividade
-
26
antiulcerogênica comparável a estes fármacos, demonstrando ser
uma planta
medicinal promissora no tratamento de dispepsias e úlceras
gástricas. Após
resultados obtidos, os mecanismos de ação sugeridos foram
antagonismo dos
receptores de H2 de histamina principalmente e inibição/
bloqueio da bomba de
prótons, dado que o principal efeito observado foi a redução do
pH gástrico,
seguido da redução da extensão e gravidade da úlcera e aumento
de fatores
protetores da mucosa gástrica, sugerindo também mecanismos de
ação que
possuem efeitos antioxidante, anti-inflamatório e
gastroprotetor.
Sendo assim, considerando a alta segurança da planta e a
eficácia
comprovada das atividades antiulcerogênicas, conclui-se que o
fitoterápico da M.
ilicifolia é altamente seguro e possui comprovada ação
farmacológica no
tratamento de úlceras gástricas comparável aos antagonistas dos
receptores H2
de histamina principalmente e aos inibidores da bomba de prótons
também. Logo,
seu uso pode ser incentivado, assim como já é pelo Sistema Único
de Saúde
desde 2006, com a consciência de que, de modo geral, não
substituem os
fármacos antiúlcera descritos em diretriz, devendo sempre ter
acompanhamento
médico da evolução clínica da gastrite e da úlcera gástrica.
Uma sugestão interessante com base nos estudos conduzidos até
o
momento seria o uso de fitoterápico de espinheira-santa como
coadjuvante no
tratamento de úlceras gástricas com os inibidores da bomba de
prótons e
antagonistas dos receptores H2 de histamina devido aos prováveis
efeitos
sinérgicos desta associação que podem reduzir os efeitos
adversos dos fármacos
isolados e/ ou até mesmo reduzir o tempo de tratamento.
Entretanto, o que se tem
até agora é que existe uma eficácia do fitoterápico da M.
ilicifolia que é
comparável à ação farmacológica de fármacos antiúlcera já
utilizados no
tratamento de úlceras gástricas, mas foram encontrados poucos
estudos que
verificam a associação do fitoterápico com os fármacos
inibidores da bomba de
prótons e antagonistas dos receptores H2 de histamina. Sendo
assim, conclui-se
também que ainda são necessários mais estudos com a associação
para
quantificar este sinergismo existente e garantir sua segurança
ao excluir
-
27
interações medicamentosas que possam interferir negativamente
na
farmacocinética ou na farmacodinâmica dos fármacos isolados.
É importante lembrar que existem outras espécies vegetais,
Sorocea
bonplandii e Zollernia ilicifolia, que são morfologicamente
semelhantes à M.
ilicifolia e, por isso, são frequentemente confundidas e até
mesmo trocadas
intencionalmente para venda da planta medicinal. O uso indevido
destas espécies
pode trazer malefícios à saúde, uma vez que não existem estudos
toxicológicos
que comprovem a segurança de uso destas espécies.
-
28
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