SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE PROJETO DE PESQUISA – PROFESSORA PDE – TURMA 2010 A PROCURA DA POESIA: NA ESCOLA E NA VIDA 1 / 2 0 0 7 p o r F e r n a n d o O l i v e i r a S a n t a n a J ú n i o r e m h t t p : / / 2 0 0 7 p o r F e r n a n d o O l i v e i r a S a n t a n a J ú n i o r e m h t t p : / / 2 0 0 7 p o r F e r n a n d o O l i v e i r a S a n t a n a J ú n i o r e m h t t p : / / 2 0 0 7 p o r F e r n a n d o O l i v e i r a S a n t a n a J ú n i o r e m h t t p : /
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL – PDE
PROJETO DE PESQUISA – PROFESSORA PDE – TURMA 2010
A PROCURA DA POESIA: NA ESCOLA E NA VIDA
1
/2007 por Fernando Oliveira Santana Júnior em http://www.weba
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The present work aimed to stimulate an appreciation of poetry in the context of
school and everyday life, because we know that the lyric is the faithful companion of
people in tackling and solving problems and ills that the common life imposes to all
humans by their own human condition. This proposition implies to cultivate the
practice of reading and writing poems in the school and habitual environment. The
activities were by speakers / the students / the school and their relatives. We work
with them a list of selected poems in order to guarantee the esthetic experience of
the phenomena deriving aisthesis poiesis e katharsis,it means: to get that the
student lover of poetry, might feel pleasure to understand himself like co-author of the
1 Professor PDE: Maria Lúcia Kleinhans Pereira, professora especialista em ensino de língua portuguesa – SEED/ Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone de Cascavel; Poeta.2 Professora Orientadora IES-UNIOESTE: Valdeci Batista de Melo Oliveira, professora doutora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
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work, may renew and broaden their perception of the world and himself and vent
tem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?
(Carlos Drummond de Andrade)
Este artigo é resultante do trabalho e da vivência de uma professora de
Língua Portuguesa que é ao mesmo tempo poeta. Assim ele implica em uma
reflexão mesclada por esta dupla experiência, a começar pela percepção de que a
poesia lírica é capaz de desenvolver pensamentos e emoções sui generis,
dificilmente vividas e pensadas de outro modo. Acrescente-se que, além de vivê-las
e pensá-las, a poeta professora acredita poder transmiti-las as outras pessoas
organizando-as em poemas. A respeito da poesia lírica podemos dizer que desde
Aristóteles, passando por Hegel, Benedetto Croce, Theodor Adorno e tantos outros
pensadores, que se debruçaram sobre o ser da poesia lírica, o mais humilde poema,
quando imbuído de humanidade é poesia.
Segundo D’Onofrio (1995), a poesia é vista como a excelência da recordação,
que em sentido lato significa relembrar com o coração. A potência da poesia neste
aspecto é o recordar do que não fomos e poderíamos ter sido ou ainda poderíamos
ser, recordar os nossos momentos de maior felicidade, angústia e os travamentos,
numa auto compreensão dos entraves que nos impediram de desenvolver as mais
líricas de nossas potencialidades. O ser e o fazer da poesia lírica se organiza num
tempo de estrutura circular em incessantes voltas de indagação e questionamentos
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nos refolhos dos nossos afetos e da nossa imaginação. Contrária aos nexos causais
e lineares a poesia lírica nunca se organiza por estes caminhos, tais quais outros
gêneros literários se organizam. Nesse sentido a poesia lírica é em tudo contrária ao
“agir-racional-com respeito-a-fins” que são próprios da dominação legitimada pela
hegemonia capitalista em sua crescente administração das vidas pública e privadas
de todos nós.
É próprio da lírica evocar uma teleologia perdida da emancipação humana e do
desenvolvimento pessoal, evocar os resquícios, os fantasmas das felicidades
perdidas e almejadas; das tão almejadas autonomia e liberdade, das metas, sonhos
e caminhos que deixamos para trás ou fomos forçados a fazê-lo. Longe das
pressões do cotidiano a poesia lírica se instala em outras coordenadas, nas
palavras de Salvatore D’Onofrio,
Na emaranhada teia na qual se constroem e consomem os afetos, o início se instala num passado permanentemente reencenado no presente. O sentimento que atravessa a lírica, dilacerado, espraia-se por cada palavra disseminando a emoção poética que, posicionando o texto para além da rotina emaranhada dos dias e noites, instala-a numa temporalidade outra, apartada do cotidiano macerante.(1995, p. 48)
Afirmamos também que urge fazer da poesia um instrumento de reflexão nas
atividades pedagógicas em sala de aula, as quais em sua grande maioria
apresentam o poema como ponto de partida para desenvolver outra atividade que
não o desenvolvimento de competências voltadas para o exercício de transformar
emoções em palavras, mais precisamente em poemas, o recorte deste trabalho, em
que o humano entrega-se ao lírico emaranhando-se entre palavras e emoções
orientado por seu conhecimento de mundo.
Octavio Paz, em O Arco e a Lira (1982) afirma que
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal.
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Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia, e pelo desespero. (1982, p.15)
A belíssima proposição de Octavio Paz, assim como a de tantos outros
poetas, filósofos e teóricos demonstra o quanto a poesia pode contribuir para que as
nossas condições de intérpretes ou compositores de obras poéticas amplie as
possibilidades que melhor nos permitem conviver com a emoção advinda das
palavras e também nos ajudem no desenvolvimento das potencialidades que de
outra forma poderiam permanecer embotadas. A citação também é um atestado
cabal de que a poesia pode oferecer outro olhar sobre um mesmo mundo aos
alunos/alunas da Educação Básica. Este outro olhar deve conter uma “estranheza3"
para um mundo, em que tudo se tornou natural. Esta árdua tarefa não deve ser
delegada apenas à poesia à Língua Portuguesa e à leitura, é tarefa de toda a
educação e escola que mereça este nome.
Entretanto cabe à leitura de poesia ser uma atividade instigante, orientada
para tirar o leitor de sua condição passiva e fazê-lo estranhar o “mundo
administrado”4 e, em seguida refletir sobre a realidade até então pacificamente
aceita como normal ou natural. No mundo administrado a naturalização da barbárie
acontece com a conivência das próprias pessoas mutiladas em sua possibilidade de
construir uma significação, diferente dos sentidos impostos, permitidos e
estimulados por este mundo. Nele aceitamos a condição de expectadores e
3 Em arte e em literatura o termo estranhamento significa distanciamento com a finalidade de propiciar novas percepções que possam promover mudanças através da reflexão artística. Por meio do estranhamento o leitor desconstrói e confronta sua pseudo concreticidade movimentando e chacoalhando sua zona de conforto e promovendo a fruição estética no sentido de pertencimento à obra. Segundo o formalista russo Chklovsky ( 1971) “a finalidade da arte é dar uma sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o processo de singularizarão [ostranenie] dos objetos e o processo que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção nem arte é um fim em si e deve ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objeto, aquilo que já se “tornou” não interessa mais a arte. p.82.
4 Na obra Dialética do Esclarecimento, Adorno utiliza a expressão "mundo administrado" para dar conta da realidade do mundo burocrático, mercantil, competitivo que nos rodeia. Adorno fala da sociedade capitalista que amplia cada vez mais o processo de mercantilização e burocratização das relações sociais, bem como da competição em todas as esferas sociais, produzindo uma sociabilidade e mentalidade adequadas e reprodutoras deste processo. Segundo Adorno a sociedade repressiva produz uma mais-repressão, que tende a desencadear energias destrutivas.
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consumidores até pelo fato de a lógica utilitária nos acenar com aparentes
vantagens, ainda que momentâneas. Adorno ( 1994) afirma que
as condutas e hábitos em que são prescritas – assim como as pessoas que nelas se espelham – são produtos de um sistema de vida mais amplo, que não é aceito sem resistência interior, exigindo o emprego mais ou menos consciente da vontade para se transformarem em comportamento. ( p.96)
Quanto ao proposto em relação a escrever poemas, foi considerado que
deveria se tratar de um exercício dinâmico que envolvesse apropriar-se da condição
de usar a diversificação e os princípios básicos de domínio da língua materna, suas
variantes linguísticas, suas articulações que oportunizam o desenvolvimento da
criatividade e da confiança para escrever, respeitando de cada possível escritor, seu
relacionamento e capacidade de interpretação do mundo e das sutilezas possíveis
com as palavras para com elas comporem textos poéticos, em que o lirismo fosse a
ponte entre o dizer e o sentir. Antonio Cândido [em seu artigo Direitos Humanos e
Literatura afirma:
Mas as palavras organizadas são mais do que a presença de um código: elas comunicam sempre alguma coisa, que nos toca porque obedece a certa ordem. Quando recebemos o impacto de uma obra literária, oral ou escrita, ele é devido à fusão inextricável da mensagem com a sua organização. Quando digo que um texto me impressiona, quero dizer que ele impressiona porque a sua possibilidade de impressionar foi determinada pela ordenação recebida de quem o produziu. Em palavras usuais, o conteúdo só atua por causa da forma, e a forma traz em si, virtualmente, uma capacidade de humanizar devido à coerência mental que pressupõe e que sugere. O caos originário, isto é, o material bruto a partir do qual o produtor escolheu uma forma, se torna ordem; por isso o meu caos interior também se ordena e a mensagem pode atuar. Toda obra literária pressupõe esta superação do caos, determinada por um arranjo especial das palavras e fazendo uma proposta de sentido.
Organizar o nosso caos interior é a tarefa maior da Literatura e entre os
gêneros literários a poesia lírica é a forma estética que mais cumpre essa visada,
mesmo porque a poesia é plasmada pela organização formal de versos, sons,
ritmos, rimas, imagens e afetos, elementos que reunidos formam o poema que é a
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forma estética de onde brota a poesia.Sabemos que depois da publicação da obra
As Flores do Mal (1857) de Charles Baudelaire, o poeta se tornou o proscrito, o
maldito que vive a arrosta a sensaboria burguesa e que fazer poesia dentro deste
enquadramento está cada vez mais difícil e raro, mesmo assim a empreitada vale a
pena para aqueles que ousam percorrer uma terceira margem.
II. JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAÇÃO
Realmente, vivemos tempos sombrios!A inocência é loucura. Uma fronte sem rugasdenota insensibilidade. Aquele que riainda não recebeu a terrível notícia que está para chegar. Que tempos são estes, em queé quase um delito falar de coisas inocentes,pois implica em silenciar sobre tantos horrores.(Bertolt Brecht)
Na sociedade reificada, administrada pela mercadoria, e banalizada pela
indústria cultural a poesia perde cada vez mais espaço, como se nós humanos
perdêssemos a capacidade de interagir, compartilhar e transmitir ideias, desejos,
opiniões e emoções. Nesta sociedade urge que o professor/a de Língua Portuguesa
e, portando, de Literatura se dedique a enriquecer o efetivo grau de inteligibilidade
de seus alunos a respeito do mundo sociocultural que os rodeia ou, pelo menos,
para reorientar a maneira de o interrogar. A ideia de construção do sentido é nuclear
à disciplina em questão, todavia é preciso mencionar que poema é obra de
amplitude imensurável e pode tratar de todas as temáticas, sendo portanto possível
que poema e poesia ocupem espaços importantes em todas e com todas as
disciplinas, mudando os procedimentos didáticos que correspondem a essa
sociedade que atribui desvalia à obra poética por não contextualizar emoção com
capital. O sentido existe somente como resultado de uma construção efetuada pelos
sujeitos "em situação". Todo o sentido é efeito duma aplicação contextual. No caso
em tela estamos a falar do sentido que emana da leitura do poema lírico
Brandão e Micheletti (apud CHIAPPINI, 1997, p.25) em seu artigo “Teoria e
prática da Leitura”, afirmam que
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A escola é uma instituição não apenas social, mas claramente a serviço de uma sociedade. A sociedade capitalista voltada para a tecnologia e o acúmulo de bens avalia resultados quantificando a produção. Nesse cenário, a linguagem valorizada é a conceitual, que aponta com clareza para a informação. As comunicações interpessoais ficam restritas a trocas de um capital técnico e científico acumulado, bem como à transmissão de valores morais que a sociedade deseja perpetuar, para manter não só a sua organização, mas para garantir certas hegemonias. Assim, a linguagem da escola volta-se, equivocadamente, apenas para a praticidade, por isso encara a literatura como algo suspeito, frívolo.
As autoras afirmam também que há muitos trabalhos no processo de ensino
que podem ser comparados com adestramentos, reduzindo o/a leitor/a a
decodificadores de textos e que no mesmo nível
ler poesia significa preparar-se para a recitação mecânica em algum evento, ou um simples divertimento. Serve para relaxar ou para preencher algum vazio. Qualquer vazio, menos o que existe em qualquer ser, espécie de ânsia, de desejo que é ao mesmo tempo emoção e razão, que é sentir e pensar. É claro que a poesia, como o romance, propiciam prazer e podem ser tomados como lazer, mas não só. A escola deveria, desde as séries iniciais, encarar a literatura como atividade produtiva no sentido mais amplo. (Brandão e Micheletti apud CHIAPPINI, 1997, p. 26)
Para haver a inserção da obra poética nos processos educacionais, é preciso
antes de tudo, estabelecer um diálogo entre obra poética e leitores/as, fazendo uma
ponte com o interesse e as necessidades humanas que vão além desse contexto da
sociedade de consumo. Brandão e Michelleti ao mencionarem a presença do poema
em sala de aula, afirmam ser essa obra um texto marginalizado, e o fazem
manifestando as seguintes questões:
O texto poético está presente na sala de aula; mas como circula
entre os alunos? Quais são as leituras que se tem dele? Ele é
considerado em si? Ou é pretexto para uma análise de aspectos
metalingüísticos? (Brandão e Micheletti apud CHIAPPINI, 1997, p.
29)
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Para que esse paradigma seja quebrado, é necessário que haja distanciamento de
atividades mecanicistas frequentes em sala de aula e transforme-se o poema no
centro das atenções com estratégias de trabalho em que o lirismo dê lugar ao
automatismo de leituras sem emoção. Primando por obra escritas em verso,
apresentamos atividades que podem tornar-se eficientes atrativos para a imersão
dos/as leitores/as até mesmo na condição de autores. Num texto literário, além da
significação, as palavras são selecionadas de forma a evidenciar a sonoridade, a
tensão, a ambiguidade, a possível formação de imagens, cores, descrição de
O poema é o gênero literário que melhor se presta a essas circunstâncias. A
linguagem literária
[...] estabelece-se como uma cortina que deve ser aberta para que o referente ao qual alude seja apreendido, Assim, interpretação do texto literário obriga o leitor a desvendar o alcance e a significação dos diferentes recursos usados (símbolos, metáforas, comparações, valor das imagens, etc.) e sua incidência na funcionalidade estética do texto (KAUFMAN; RODRIGUES, 1995, p. 14).
Essa linguagem literária, conforme já afirmado, pode ser o elemento principal
para envolver alunos/as em atividades em que a poesia seja o centro das atenções,
o principal objeto de estudo, a obra a ser construída.
Nesse contexto, questiona-se: exercícios de produção escrita de textos
poéticos que empreguem a liberdade estética e a originalidade podem despertar
maior aproximação dos/as alunos/as com a poesia?
A presença da poesia na vida humana é constante, especialmente nas letras
de músicas, nas quais há manifestações diversas, tais como: protestos sociais,
cotidianidades, interação entre emoções e natureza, devaneios românticos com
discursos de conquistas ou perdas de um grande amor, entre outros. Há aqueles/as
que, ao despertarem para as relações afetivas, passam a exercitar composições
poéticas, e há ainda aqueles/as que em seus processos de formação educacionais
receberam motivações para o prazer da leitura e escrita de textos poéticos,
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incorporando essa prática como um exercício de sensibilidade, de manifestação de
sentimentos.
No sistema educacional paranaense, a valorização da obra poética e sua
possibilidade de criação é uma das sugestões de formação apontadas nas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, que dedicam estudos
significativos com relação à prática da leitura, capacidade interpretativa,
contextualização e competência produtiva referente a obras literárias, dentre elas o
poema. A exploração de diferentes gêneros provoca a ampliação das noções
técnicas do ato de escrever.
Temos na literatura uma vasta possibilidade de seduzir o escritor, desenvolver
a sensibilidade. Um trabalho com poesia que valorize em especial a emoção por ela
despertada pode encontrar embasamento no capítulo das Diretrizes Curriculares
Estaduais - DCEs (2008) dedicado à Literatura, onde se sugerem ações aplicáveis
em sala de aula que levem o aluno/a ao entendimento do que é arte, de como essa
arte insere-se ao seu meio social. Também se sugerem possíveis rupturas e
ampliação dos horizontes de expectativas, além de se pontuar a possibilidade de se
despertar a sensibilidade por meio do trabalho com o texto poético.
No caso da leitura de textos poéticos, o professor deve estimular, nos alunos, a sensibilidade estética, fazendo uso, para isso, de um instrumento imprescindível e sem, dúvida, eficaz: a leitura expressiva. O modo como o docente proceder à leitura do texto poético poderá tanto despertar o gosto pelo poema como a falta de interesse pelo mesmo. […] Cabe ao professor, portanto, observar quais recursos de construção do poema devem ser considerados para a leitura e, como mediador do processo, contribuir para que os discentes sejam capazes de identificá-los e, sobretudo, permitir a eles que efetivem, de fato, a experiência de ler o texto poético em toda a sua gama de possibilidades (PARANÁ, 2008, p. 76).
Levando em conta o valor do poema, como obra literária, este projeto prevê
atividades que visem a habilitar um indivíduo, ainda que com ressalvas, a ler,
analisar e emitir opinião sobre textos poéticos reconhecidos canonicamente ou de
escritores ainda não inclusos nas academias. Pretende-se também possibilitar ao
leitor tornar-se autor, sugerindo-se técnicas de produção poética dirigida, bem como
oportunizar aos então escritores anônimos a socialização de suas habilidades
poéticas. Propõe-se, assim, um trabalho que seja motivador para o reconhecimento 10
tão necessário da importância das obras poéticas.
As proposições de atividades que foram previstas e executadas no decorrer
deste projeto de PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional para falar de
poema/poesia, ouvindo, lendo, declamando e escrevendo poemas como quem
dialoga com as próprias emoções, demonstraram que é possível estimular e orientar
pessoas, não dadas à prática da escrita de poemas e que elas podem produzir
textos poéticos livres, que traduzam emoções e dialoguem com seus possíveis
leitores/as.
Os recursos que compuseram as metodologias utilizadas para desenvolver as
oficinas, embasados na teoria da recepção, foram suficientes para demonstrar que
também é possível aproximar-se do poema entremeando-se entre emoções e
competência poética, ainda que com menor intensidade daquela verve que possuem
os poetas oblatos do ofício de poetar e academicamente reconhecidos, aqueles que
já possuem o hábito de escrever no exercício de ser poeta. Os envolvidos nas
atividades deste PDE puderam escrever bons poemas, ao serem devidamente
motivados a dialogar com suas emoções.
. Importante pensar qual o é papel da escola ao trabalhar com poesia. Sobre esta
questão JOLIBERT (1994, p. 195) afirma:
Quando a escola não exerce seu papel de mediadora, o campo da poesia pode permanecer totalmente estranho para muitas crianças, em particular às que pertencem a um meio familiar onde pouco ou nada se lê e onde as urgências funcionais mascaram a necessidade do imaginário (...), onde não se vê nem se ouve poemas na televisão (...) o imaginário segue outros caminhos que não a linguagem escrita.
As ações que foram propostas e desenvolvidas a partir do projeto deste PDE,
primaram por estabelecer uma amostragem dos vínculos que o ser humano possui
com o poema, com a lírica e consequentemente, como são manifestadas as
emoções Eliot (1975), por outro lado, defende que:
"(...) A poesia tem um significado social deliberado e consciente. (...) Podemos observar que a poesia difere de qualquer outra arte por ter para o povo da mesma raça e língua do poeta um valor que não tem para os outros. (...) nenhuma arte é mais obstinadamente nacional do
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que a poesia (...) a poesia que é o veículo do sentimento". (1975, p.86)
Eliot (1975) arremata: "A poesia é uma constante lembrança de todas as coisas que
só podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis". E como tarefa de poeta,
Eliot (1975), defende que primordialmente e sempre se leve a efeito uma revolução
na linguagem, articulada com musicalidade de imagens e de sons. Pound,
entretanto, acrescenta: "Cada homem é o seu próprio poeta", defendendo que
ninguém será um poeta escrevendo hoje com um jeito de anos atrás e que a
linguagem deve ser usada com eficiência. Não é pretensão deste artigo abordar
todas as questões suscitadas pela lírica, aqui tão somente cabe destacar uma
prática e uma vivência a partir de algumas reflexões teóricas.
III APLICANDO O MÉTODO DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
Sendo assim, o trabalho com poemas, aqui proposto, objetivou favorecer a
aproximação de alunos/as com os processos de leitura e escrita tendo o poema em
verso no foco das atividades e a possibilidade de serem eles/elas os/as poetas,
os/as escritores/as. Para o desenvolvimento deste projeto/oficina, houve contato
prévio com os professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio do Colégio
Estadual Padre Carmelo Perrone, da cidade de Cascavel/PR, cabendo a eles
proporem a seus alunos/as a participação nas oficinas em sala de aula e estabelecer
as datas de possível execução, cumprindo o calendário deste projeto, considerando
as expectativas de ampliação das habilidades de leitura e produção de textos
poéticos.
A execução das atividades foi dividida em três etapas, com tempo de duas
aulas para cada uma. Aos/às alunos/as foi ofertadas atividades de leitura, debate e
prática de escrita poética, com indicação de leituras complementares e
apontamentos de estratégias para superação das dificuldades relativas ao ato de
escrever textos poéticos. Os processos de produção envolveram motivação,
organização temática, leitura, produção de textos poéticos, exposição das obras em
atividades como declamações, varal de poemas e mural de poemas, entre outras. O
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trabalho desenvolvido não esteve atrelado a compromissos estéticos, de estilo ou
período literário. As obras que foram utilizadas como objeto de estudo e motivação
serviram para ilustrar, cada uma com suas características, a expressão do eu
poético do autor, indicando diferenças e possibilidades que cada poeta encontra
para produzir e fazer suas manifestações.
Os/as estudantes foram recebidos/as no auditório do colégio, onde aconteceu
a primeira oficina e encontraram lá uma decoração especial, com aspectos de certo
romantismo, de místico, muito diferente do dia a dia, recebendo um impacto visual,
onde o varal de poesias da Academia Cascavelense de Letras e dos poetas
selecionados para o trabalho destacava-se, pairando sobre o ambiente. Uma mesa
especial tendo sobre ela um abajur, lembrando um candelabro, com livros e poemas
impressos que foram utilizados no decorrer da oficina. Esse cenário objetivava
causar impacto, despertar a curiosidade, envolver os/as alunos/as com as atividades
que se seguiram. Considerando a atenção que dispensaram a essa apresentação do
Projeto, concluímos que o objetivo foi alcançado. Para destacar a obra poema, o
varal de poesias sobre o ambiente da sala apresentava obras decoradas e
impressas em folhas coloridas. As palavras iniciais da oficinista foram a leitura
declamada do poema Psicografia, de Fernando Pessoa, seguido do Poema A
estrela, de Manuel Bandeira. Só então foi relatado de que se tratava e feito a
proposição para que aceitassem participar da sequência do trabalho.
O rol de poemas selecionados teve como critério apresentar autores
diferentes, com temáticas também diversas. Além disso, privilegiou-se obras que
possibilitassem analisar riqueza de recursos empregados, desde a imagem do
poema até os elementos retóricos, com um trabalho voltado à desmistificação das
obras e aproximação do/a leitor/a da essência da obra, da emoção. Após ter
informado aos/às alunos/as como seria desenvolvida a oficina, o poema Convite de
José Paulo Paes, foi a obra que deu início aos conatos com os poemas, por tratar-
se de uma obra que brinca com a ideia de fazer poesia, como quem brinca de bola,
entre outras situações; ou seja, é um poema que naturaliza o nascimento de uma
obra poética. A linguagem do poema, impregnada de sensibilidade, é acessível a
qualquer leitor; trata-se de um verdadeiro convite, tendo portanto sido apropriado
para o processo de sensibilização dos participantes. Ao ser apresentada cada obra,
fizemos uma breve apresentação de seus autores, situando-os no tempo e no
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espaço para melhor aproximar o/a ouvinte leitor/a de cada uma dessas obras.
O segundo poema apresentado e analisado oralmente após sua leitura
declamada, foi Soneto do Amor Total, de Vinícius de Moraes, que permitiu colocar
os/as participantes diante de uma estrutura poética elaborada, o soneto. Mesmo que
o trabalho não objetivasse formar criadores de sonetos, mencionamos o conceito de
soneto apresentado por Massaud Moisés em seu Dicionário de Termos Literários,
(1978, p. 480): “Composição poética de catorze versos, dispostos em dois quartetos
e dois tercetos”, sendo a obra de Vinícius o referencial para o entendimento dessa
modalidade poética. Os processos para análises dos poemas tiveram como
referência a obra Carossel de Antonio Candido, em que o autor analisa o poema O
rondó dos cavalinhos de Manuel Bandeira, obra que também compôs os poemas
expostos na oficina.
Na sequência dos trabalhos, num varal de poemas, estiveram expostas as
seguintes obras:
1) Mudanças, de Domingos Pellegrini Jr., escritor paranaense,
contemporâneo, c om um texto provocativo sobre as dificuldades que se tem com
relação a mudar coisas, atitudes, hábitos.
2) No meio do caminho, de Carlos Drummond de Andrade, poeta renomado,
academicamente reconhecido, com uma obra instigante, complexa.
3) Ouvido, de Paulo Leminski, poeta paranaense, com um poema concreto,
uma nova modalidade a importante para que o grupo conhecesse.
4) O Girassol, de Toquinho e Vinícius, uma obra que está eternizada em
música, sendo apresentada em sua versão gráfica, objetivando um análise do nível
de sensibilidade apresentado por seus autores. O poema também oferta a condição
de análise do recurso da repetição na obra poética, a ênfase decorrente dessa
repetição, ao contrário do que ocorre, em geral, nos demais tipos de texto, enriquece
a ênfase que se dá à ideia manifesta.
5) Cemitério, de autor anônimo, também compôs o varal, por ser um poema
com quebra de sequência, um recurso diferente dos apresentados até então.
6) Gato da China, também de autor anônimo, foi exposto para uma leitura
com quebra de paradigmas, considerando ser obra um poema com características
muito próprias, aproximando-se de um trava línguas.
7) De Gramática e de Linguagem, poema de Mário Quintana, compôs o
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grupo por ser um poema que apresenta rima, estrofes e metalinguagem. Outra
característica que o diferencia dos textos até então apresentados é sua extensão;
um poema longo, que traz em si definições de algumas das classes gramaticais de
palavras.
8) Hão de chorar por ela os cinamomos, de Afonso Henriques da Costa
Guimarães, poeta simbolista foi incluída no trabalho e apresentada por trata-se de
uma obra mesclada de romantismo envolvendo a natureza humana e ambiental.
9) De repente, de Júlio César Cardoso, um poeta anônimo, não participante
das análises acadêmicas; porém, com uma obra rica em cotidiano, em medo
humano, natureza compôs o conjunto de obras a serem apresentadas para
exemplificar a existência de poetas não reconhecidos academicamente com obras
respeitáveis, ou seja, anônimos que produzem cultura poética.
10) O assinalado, de João Cruz e Souza, um poema simbolista, amargo e ao
mesmo tempo cativante, retornando aos poetas academicamente reconhecidos.
11) A estrela, de Manuel Bandeira, por trazer em si um tom de suavidade, de
beleza, de humano, mais um dos poemas componentes do varal que traz em si a
sensibilidade, a ideia de solidão, de busca, de necessidade de companhia.
12) Psicografia, de Fernando Pessoa, por tratar-se de um poema que expõe a
ousadia do poeta, que é capaz de convencer o outro e a si mesmo de emoções que
não tem, expondo assim o jogo da criação, a força da arte. Tanto Psicografia como A
Estrela já haviam sido mencionados nas atividades iniciais, quando fizemos aos/às
estudantes a apresentação e proposição do projeto mesmo assim, por atenderem os
objetivos do projeto complementaram o rol de poemas para o varal.
Os poemas acima elencados, obrigatoriamente, compuseram os trabalhos
desenvolvidos durante a oficina de poemas, entretanto, objetivando aproximar o
número de poemas ao número de estudantes, foram incluídas novas obras, as quais
também atenderam a necessidade de diversificação, porém para elas não houve a
previsão de serem destacadas com análises diferenciadas, como ocorreu com as
doze obras listadas acima, as demais obras foram mencionadas nas proposições de
atividades que trataram de todos os procedimentos para a intervenção pedagógica,
compuseram o varal, algumas foram lidas durante as atividades desenvolvidas no
encerramento do projeto, quando a comunidade também recebeu convite e
participou fazendo leitura declamada de poemas.
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Após a introdução, os/as participantes da primeira oficina foram
convidados/as a escolher uma das obras poéticas expostas no varal para fazerem
leitura silenciosa; na sequência, foram motivados/as a trocarem os textos entre si,
podendo ter acesso a uma série de obras, o que foi prazerosamente realizado por
todos/as os/as participantes durante um tempo de mais ou menos vinte minutos.
Ainda nessa fase, foi solicitado aos/às estudantes que alguns/mas voluntários/as
realizassem leitura oral, declamada ou não, dependendo da habilidade já
componente dos conhecimentos de cada um/uma. Após cada leitura, foi aplaudido/a
quem a realizou e foi dado um tempo para análises orais, comentários,
identificações e/ou críticas de cada poema apresentado. Essas atividades
compuseram o processo motivacional para conduzir os/as participantes ao próximo
passo, o ato de escrita, quando escreveram seus poemas.
Na segunda etapa, trabalhamos a revisão das figuras de linguagem, tendo
como referencial Branca Granatic (1997). E, em seguida, os/as alunos/as foram
convidados/as a indicar, cada um/uma, um substantivo, fazendo-se o registro das
palavras indicadas no quadro, de maneira que todos/todas tivessem acesso visual
às palavras. Em seguida, foi proposto que todos indicassem três adjetivos para cada
substantivo, considerando que todos já detinham conhecimento sobre tais classes
gramaticais de palavras. Essa etapa foi vencida tendo participação coletiva, como
era esperado o que contribuiu para melhorar os processos de motivação. A próxima
atividade foi um exercício de composição coletiva, em que foram utilizados, para
cada composição, um substantivo e seus respectivos adjetivos, tendo como
referência Belline (1994), que traz em seu livro Trabalhando com a Descrição uma
série de atividades que foram devidamente adaptadas para as composições
poéticas a partir da associação de um substantivo a adjetivos. A adaptação consistiu
em direcionar para que compusessem poemas em verso, com ou sem rima,
despertando a curiosidade para criar e utilizar o conhecimento de mundo em suas
criações. Em seguida foi solicitado que cada realizasse sua produção individual,
orientando para que escolhessem um substantivo da lista exposta com seus
respectivos adjetivos, sendo o substantivo selecionado o tema da obra a ser
produzida. É importante ressaltar que os textos deveriam ser escritos em verso.
Durante esse trabalho fui passando de carteira em carteira, acompanhando as
possíveis produções, ouvindo suas falas, ora exclamativas do tipo “Poema eu nunca
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escrevi” ora de deslumbramento, como em especial um dos alunos que diante de
seu poema já escrito, exclamou e expressou com o olhar o sorriso e as palavras o
deslumbramento diante de sua obra “Minha nossa, nunca pensei que eu fosse capaz
de fazer um poema”. Esse relato expressa o quanto pode ser grandioso um trabalho
como esse, em que o desafio era fazer com que os/as participantes chegassem ao
ato de escrever numa sequência pacífica, resultante da apropriação de habilidades
despertadas no processo do projeto. As obras foram recolhidas e anexadas a elas o
formulário de autorização devidamente preenchido para que fossem incluídas na
sequência dos trabalhos que envolveram esse projeto.
A terceira e última fase da aplicação do projeto consistiu na divulgação dos
poemas produzidos em ambiente próprio, nesse caso no auditório do colégio, com
extensão à comunidade escolar não participante do projeto e à comunidade em
geral, especialmente aos pais dos então poetas. Foi muito bem recebido o convite e
a comunidade lotou o auditório. Os recursos de exposição foram o varal de poemas,
em se tratando da materialização das obras, e leituras declamadas para socialização
de seus conteúdos. Essa atividade consolidou-se num sarau poético, em que tanto
os/as alunos/as escritores/as quanto a comunidade convidada foram estrelas de
suas próprias obras podendo fazer leituras declamadas de poemas, fazendo com
que a obra poética fosse o centro das atenções e dialogassem com as emoções de
todos os participantes. A cada leitura declamada houve aplausos de incentivo e
reconhecimento ou agradecimento pelas participações. Enfim, esse foi um momento
grandioso, em que poetas e poemas estiveram no topo, como estrelas que
iluminavam o ambiente e ao mesmo tempo contavam de suas emoções para as
emoções de outrem. Quem participou desse sarau levará em si mais humanidade,
mais amor, mais beleza, mais sintonia com o olhar do outro, com as emoções que
nos fazem melhores e mais, lembrará dos aplausos e de como é bom emocionar ao
outro de maneira a ser carinhosamente aplaudido e abraçado.
IV FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Escrever, talvez, não tenha outra justificativa senão tratar de responder a essa pergunta
17
que um dia nos fizemos e que, por não ter recebido resposta, não cessa de nos aguilhoar.(Octávio Paz)
Em O arco e a lira, Octávio Paz fala da inquietude de quem escreve e de qual
a razão desse escrever. O poema ao nascer pode ser uma manifestação de
emoções de vivências do autor, todavia, ao existir e para valorizar sua existência, o
poema precisa encontrar novas vozes, dialogar com o leitor. O autor afirma que
O poema não é uma forma literária, mas o lugar de encontro entre a poesia e o homem. O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou emite poesia. Forma e substância são a mesma coisa. (PAZ, 1982, p.17)
Falando mais sobre poesia, Moisés (1978) afirma que esta se trata de uma
das temática mais controvertidas. Isso porque, apesar de a poesia ter estado
presente na literatura desde o início das produções literárias conhecidas pela
humanidade compondo os escritos de teoria e filosofia da literatura, nos contextos
educacionais, em muitas circunstâncias, continua sendo relegada a segundo plano,
servindo de objeto para estudo da língua ao invés de arte a ser estudada como tal. A
Bíblia, com seus diversos livros, e sua antiguidade, privilegia a obra poética; em
Cântico dos Cânticos, destacam-se toda a beleza das relações humanas e a
sensibilidade que pode existir nas mais diferentes manifestações de amor. Vejamos
um exemplo:
Louvores do esposo- Como és bela e graciosa,ó meu amor, ó minhas delícias!Teu porte assemelha-se ao da palmeira, de que teus dois seios são os cachos.“vou subir à palmeira, disse eu comigo mesmo,e colherei os seus frutos”.Sejam-me os teus seioscomo cachos de vinha.E o perfume de tua boca como o odor das maçãs;teus beijos são com um vinho deliciosoque corre para o bem amado,
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umedecendo-lhe os lábios na hora do sono. (CATÓLICO, 1996, p. 833).
E esse é apenas um dos exemplos possíveis encontrados na Bíblia, o que
reforça a ideia de uma grande sintonia entre a emoção e os valores humanos.
Podemos encontrar grandes poemas no livro dos Salmos e orações em forma de
poesia em Eclesiástico. Também na Literatura Clássica, a poesia teve seu lugar de
destaque. Gil Vicente, reconhecido como o maior dramaturgo da época e da história
literária portuguesa, compunha suas obras, conhecidas como auto, em formato de
poemas. Os temas de suas obras eram o cotidiano e as importâncias de então,
igreja, alma, anjo, diabo, os quais se apresentavam nas obras como personagens,
transmitindo os conceitos e críticas possíveis. Lima (s/d) reproduz a obra Anjo, de Gil
Vicente, na qual podemos constatar a presença do poema:
Alma humana formadaDe nenhũa cousa, feitaMui preciosa,De corrupção separada,E esmaltadaNaquela frágoa perfeitaGloriosaPlanta neste valle postaPera dar celestes floresOlorosas,E pera serdes trepostaEm alta costa Ode se criam primoresMais que rosas;Planta sois e caminheira,Que, ainda estais, vos isDonde viestes. (LIMA, s/d, p. 44)
Desde então até a contemporaneidade, muitas foram as situações de
incorporação da poesia como principal meio para comunicar emoções humanas.
Incentivar a produção poética significa reconhecer, dentre outras coisas, a
importância do cultivo da sensibilidade e da produção poética como arte que pode
ser resultado de manifestações intimistas ou de técnicas a serem desenvolvidas
visando a criar textos que tratem das emoções humanas universalizadas,
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especialmente do bem, e a encantar e transmitir conhecimentos. Para Chalhub,
Diante do novo que transforma a arte […] a poesia posta-se face à necessidade de resguardar sua identidade, procurar caminhos que assegurem o que é próprio dela, o que é específico. […] tanto o fato de criar como o de criar-inventando novas formas de poesia, explorando essa função poética da mensagem – e, ao leitor é dado ver, ouvir, ler o modo como construiu o texto […] (CHALHUB, 1997, p.45/46).
Sendo assim, desenvolver atividades que aproximem alunos/as da poesia,
em sala de aula, exige quebrar os paradigmas que em geral estão atrelados a essas
atividades, como os exercícios oferecidos pelos livros didáticos que tratam desse
gênero discursivo como pretexto para levar alunos/as a discutirem aspectos da
língua, relegando o valor literário a segundo plano.
Em outra direção, este projeto tem uma proposta que vai ao encontro da
emoção. Para Lajolo (1997), é fundamental que os exercícios e atividades a serem
desenvolvidos focalizando poemas contribuam para o relacionamento mais intenso
dos estudantes com aquele texto em particular. Naturalmente, o bom uso da língua
determina maior valor à obra literária; porém, esse não deve ser o principal enfoque,
considerando, em especial, as funções sociais do texto (CARVALHO, 2006).
Em se tratando dos atos de ler e escrever, ambos são comunicativos verbais,
um poema, portanto, ao ser escrito, terá em si a perspectiva do autor, a partir de
então, será espaço impregnado dos significados de cada leitor. E a leitura de
poemas, na perspectiva deste trabalho, será sempre com o intuito de valorizar a
obra poética, suas características, as marcas que constituem a coerência entre o
fato, as emoções do autor e o que despertam no leitor. Ao pensarmos na
organização de atividades formativas que enriqueçam os processos de
aprendizagem voltados ao contato com o poema/poesia, devemos incluir em nosso
projeto a perspectiva de uma interação com os sujeitos envolvidos.
Considerando a criação poética de cada aluno/a como uma possível
manifestação de particularidades, interesses, sutilezas, sentidos, habilidades ou
valores eleitos nas mais diversas perspectivas de produção de um indivíduo, o
trabalho proposto procurará incentivar os processos de descoberta com relação à
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competência para a leitura, análise e escrita de poemas em verso. Desenvolvendo
as atividades na perspectiva de quem acredita na importância do reconhecimento
das obras poéticas, poemas, como obras que contribuem para a valorização e o
respeito às emoções humanas, sensibilização a partir da arte de leitura e escrita de
poemas em verso, em especial os/as alunos/as envolvidos no projeto, serão
levados/as a refletir sobre as diferentes emoções humanas, desenvolvendo aspectos
da sensibilidade que humanizam.
No livro O prazer do texto: perspectivas para o ensino de literatura, Vieira
(1989) afirma:
Causa-nos pesar, de um lado, a falta de contato dos jovens com o texto poético que, por sua própria natureza, deve ser essencialmente fruído, por meio da subjetividade, da emotividade e da afetividade. Tal fato talvez seja consequência dos cansativos exercícios de análise feitos em classe, que prejudicam o prazer da leitura do texto poético. De outro lado, o estudo de poemas, nas escolas, muitas vezes é relegado ao plano secundário. […] Esquece-se que a poesia envolve o homem desde o seu nascimento: são cantigas de ninar, de roda, brincadeiras, quadrinhas, ritmo, sons capazes de despertar o instinto poético (VIEIRA, 1989, p. 97).
Assim como Vieira, outros tantos autores que tratam da temática poema e
poesia na sala de aula defendem o desenvolvimento de atividades que coloquem a
obra poética no centro das atenções. Entende-se que é possível instigar a
capacidade criativa, desenvolvendo-se habilidades que envolvam o ler, o interpretar
e fazer poesia. Marisa Lajolo, no livro Palavras de Encantamento, nos fala de
poetas, poemas e poesia:
[…] poeta brinca com as palavras […] parece que o poeta diz o que a gente nunca tinha pensado em dizer […] […] um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Além de diferentes pela sonoridade e pela disposição na página, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas […][…] poeta é, assim, quem descobre e faz poesia a respeito de tudo: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia a dia da vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com pessoas que
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conhecemos, de episódios que nunca imaginamos que poderiam acontecer e até a própria poesia! […] (LAJOLO, 2001, p. 6).
Todavia, como já sinalizamos anteriormente, a poesia vem sendo relegada a
planos secundários nos processos de formação oficiais, ou seja, na escola. Autores
como Olavo Bilac, ainda em 1904, Alceu Amoroso Lima, na década de 1980,
revelava preocupações em relação ao trato relacionado à poesia nas escolas,
preocupação essa citada por Marisa Lajolo (1997) em sua obra Do Mundo da Leitura
para a Leitura de Mundo. A autora afirma haver, na escola, uma unanimidade de
julgamento de três instâncias da instituição literária:
[...] o escritor, o editor e o crítico. Contemplando o panorama da literatura infantil brasileira, nos arredores de seu início, dispensam-lhe todos o mesmo veredito implacável. Ao longo do tempo que nos separa da publicação dos versos bilaquianos, o panorama da poesia infantil brasileira parece ter sofrido consideráveis alterações. Tais alterações no entanto, parecem não ter sido suficientes para invalidar os desencontros e entreveros que marcam o relacionamento literatura e escola e em particular o relacionamento poesia e escola (LAJOLO, 1997, p. 42).
No âmbito das deliberações oficiais que regem as ações escolares, os
Parâmetros Curriculares Nacionais, 1º e 2º ciclos, (BRASIL, 1996, p. 37-38) criticam
o uso da obra literária como simples instrumento para valorizar o estudo da língua,
evidenciando a importância das obras poéticas nos contextos de ensino:
A questão do ensino da literatura ou leitura literária envolve, portanto, esse exercício de reconhecimento das singularidades e das propriedades compositivas que matizam um tipo particular de escrita,. Com isto, é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do “prazer do texto” etc. Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias (BRASIL, 1997, p. 37-
22
38).
Um leitor de poemas deverá perceber as sutilezas que essa obra apresenta
quando se trata do uso da língua, afora os aspectos estruturais; um poema pode
utilizar palavras cotidianas e, no entanto, a forma como essas palavras são usadas
no texto poético podem determinar novos significados, distanciando a palavra de sua
definição em dicionário, passando a valer a intenção do autor e a criatividade do
leitor. Num poema, as representações, as figuras, o significado associado, a
linguagem figurada são elementos que estabelecem a intensificação do efeito que o
poema causará ao leitor.
Candido, ao falar da linguagem dos poemas afirma que:
[...] a linguagem figurada é como um manto que recobre e vivifica o sentido banal das palavras, [...]. Na linguagem literária, ocorrem igualmente as duas modalidade de expressão. O poeta usa as palavras em sentido próprio e em sentido figurado. Mas, tanto num caso quanto noutro, de maneira diferente do que ocorre na linguagem quotidiana. As palavras em sentido próprio são geralmente dirigidas pelo poeta conforme um intuito que desloca o seu sentido geral; as palavras com sentido figurado são usadas com um senso de pesquisa expressional, de criação, de beleza, explorados sistematicamente, o que lhes confere uma dignidade e um alcance diversos dos que ocorrem na fala diária (CANDIDO, 1996, p. 70).
Considerando que as idéias aqui elencadas sinalizam para a necessidade de
novas alternativas de apresentação dos poemas para alunos/as nos meios
escolares, este projeto tem como principal proposição levar poemas até os alunos/as
com o pressuposto básico de que a formação de leitores/as escritores/as
competentes de obras poéticas está vinculada à constância dos trabalhos realizados
com o gênero em sala de aula. Toma-se, então, poemas como ponto de partida, em
especial, neste projeto, poemas em verso, tendo ainda como referência o que está
previsto no Plano Curricular Nacional e nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica do Estado do Paraná. As atividades desenvolvidas estão voltadas à
exploração do uso das palavras em sentido figurado, considerando-se a
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expressividade, a capacidade de criação, a interatividade e, por que não, a beleza
que compõem as emoções poéticas.
V CONCLUSÃO
A experiência estética decorrente dos fenômenos aisthesis, poiesis e
katharsis, ou seja: de fazer com que o/a aluno/a apreciador da poesia possa sentir
prazer de se sentir co-autor da obra, falar de poetas, poesias e provocar novos
escritores/as tornou este trabalho muito agradável, pois o lirismo transforma o
corriqueiro em deslumbramento, o trivial em profético, o decadente em aceitável, a
dor em sentimento uníssono com a humanidade, num infinito catálogo de devaneios
etéreos, capazes de encantar.
A verdadeira motivação recebeu eco nos corações e nas emoções dos/as
convidados/as a participarem das oficinas, comprovando que projetos com essa
característica podem ser desenvolvidos em prol do poema, mas de verdade
melhoram os seres humanos. Paz (1982, p. 21) afirma: “Os estilos nascem, crescem
e morrem. Os poemas permanecem, e cada um deles, dos estilos, constitui uma
unidade auto-suficiente, um exemplar isolado, que não se repetirá jamais.”
Esse trabalho concretizou-se na valorização da obra poética inserida à vida de
estudantes que a partir dos exercícios desenvolvidos terão uma relação mais
afinada com o lirismo que compõe suas vidas.
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