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arriscando a palavra: vieira, dos sermes histria do futuro
Risking the Word: Vieira, from the Sermons to the History of the
Future
Maria A. R. Abro *
RESUMO: Arriscar a palavra no plpito, na prpria vida, na obra de
uma vida.Em Vieira, dos Sermes Histria do Futuro, a palavra faz um
caminho. Paraalm de artifcios da retrica, para alm de convenincias
poltico-religiosas, elecoloca as bases da ao como resposta palavra
de Deus e em fidelidade a elaadotando como paradigma a histria de
Israel. Histria reveladora da iniciativade Deus, sempre primeira.
Reveladora tambm dos caminhos e descaminhos dalivre resposta
humana, da responsabilidade histrica que tal resposta comporta.
Aopropor uma leitura do modo de agir de Deus, da sua aliana com a
humanidade,Vieira alinha-se perigosamente na fileira dos que
incomodam. Lembra a impossibi-lidade de proteger-se sob o conceito
de eleio. A purificao desse conceito, bemcomo o de ser cristo
inadivel. No entanto, a postura de Vieira no isentade problemas
teolgicos. O risco de sua palavra, que abre a esse debate,
indicaigualmente ao homem os motivos para esperar, para crer na
promessa, chave daleitura do futuro.
PALAvRAS-ChAvE: Histria, Esperana, Promessa, F, Reino.
ABSTRACT: Risking the word in the pulpit, in ones life, in the
work of an entirelife. According to Vieira, from the Sermons to the
History of the Future, the wordmakes a way for itself. Besides of
the rhetoric artifices and the politico-religiousconveniences,
Vieira establishes the action bases as response to the Gods
word,and in fidelity to the same by adopting as paradigm the
History of Israel, a reve-aling, and always the first one, History
of the Gods initiative. A History that also
Maria A. R. Abro professora no Departamento de Teologia da
Universidade Catlica dePernambuco. Artigo submetido a avaliao em
03.09.2014 e aprovado para publicao em22.10.2014.
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Introduo
Duas consideraes nos levam a discorrer sobre este tema. A
primeira que a palavra est estreitamente relacionada com a pessoa
de Vieira.No uma qualquer. Mas a palavra que funda todas as outras.
Um amorreverencial palavra da Escritura inspira e atravessa toda a
sua obra. Asegunda a convico da fecundidade da palavra em si mesma,
para almdo gnio que a traz consigo.
Tanto nos Sermes como na Histria do Futuro, observamos que
Vieiratem grande domnio dos textos bblicos e familiaridade com os
mesmos,o que lhe d desenvoltura mpar na argumentao e na aplicao
deexemplos aos diversos temas. Ao fazer do texto bblico o eixo para
o seupensamento, ele nos revela por tal escolha o lugar que atribui
mesmapalavra. Acompanh-lo no movimento que constri o seu discurso
aproposta das reflexes que ora empreendemos.
Evocaremos para isso num primeiro momento alguns trechos de
seusSermes, na impossibilidade de tom-los na ntegra. Esses extratos
tmaqui por objetivo nos introduzir no modo singular da relao de
Vieiracom a palavra de Deus. A seguir, num segundo tempo,
analisaremos comoo trabalho dessa palavra, tal como Vieira a
percebe, engaja a sua prpriavida e o coloca em situaes de
sofrimentos e de risco, at o desprezo dasua reputao. No entanto,
tais situaes no so suficientes para afast--lo do projeto que o
habita: produzir uma obra que confirme o seu povo,o povo portugus,
na certeza de que Deus o Emanuel. Num terceiromomento e ltimo
veremos como, dentro de um estilo bastante diferentedos Sermes, ele
estabelece a relao com a palavra na sua obra Histriado Futuro. Ao
trmino do itinerrio estaremos aptos, assim o esperamos,a avaliar a
que contribuies suas opes teolgico-crists conduzem e aque riscos o
expem.
reveals the right paths and the wrong paths of the human
response, of the historicresponsibility that such a response holds.
When Vieira proposes the reading ofthe way God works, of the
alliance of God with the humankind, Vieira dange-rously aligns
himself with the row of those who make trouble. Vieira reminds
theimpossibility of sheltering oneself under the concept of
election. The purificationof this concept, as well as the concept
of being Christian is unpostponable. Ne-vertheless, the Vieiras
position is not free from theological issues. The risk of hisword
that opens this debate equally indicates to the man the reasons for
hopingand believing in the promise, the key for reading the
future.
KEywORDS: History, Hope, Promise, Faith, Kingdom.
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1 A palavra de Deus em excertos dos Sermes
Dentro do assunto que nos ocupa no primeiro momento, nada mais
propciopara entrar neste vasto mundo do que o texto clssico que o
prprio Vieiradesignou o Prlogo de seus Sermes (NORONHA, 1998): O
Sermo daSexagsima, crtica incisiva retrica da poca (BOSI,
2001)1:
E se quisesse Deus que este to illustre e to numeroso auditorio
sahisse hojeto desenganado da prgao, como vem enganado com o
prgador! Ouamoso Evangelho, e ouamo-lo todo, que todo do caso que
me levou e trouxe deto longe. (VIEIRA, 1951, v. 1, p.1)
O semeador saiu a semear... Prlogo de uma vida.
1.1 Ineficcia da palavra
Estamos em 1655, na Capela Real. Vieira verifica o contraste
entre aabundncia de meios para anunciar a palavra e a escassez de
resultados:
Nunca na igreja de Deus houve tantas prgaes, nem tantos
pregadores comohoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus,
como to pouco o fructo?No ha um homem que entre em si e se resolva,
no ha um moo que se arre-penda, no ha um velho que se desengane,
que isto? Assim como Deus no hoje menos Omnipotente, assim a sua
palavra no hoje menos poderosa,do que dantes era. Pois se a palavra
de Deus to poderosa; se a palavra deDeus tem hoje tantos
pregadores, por que no vemos hoje nenhum fructo dapalavra de Deus?
Esta to grande e to importante duvida, ser a matria dosermo.
(VIEIRA, 1951, v. 1, p. 7).
Qual poderia ser a causa de tal ineficcia se ela no est na
diminuiodo poder de Deus? Com seus ouvintes, ele buscar a resposta
a essa ques-to. Examina se o pouco fruto da palavra de Deus no
mundo procede dopregador, do ouvinte ou do prprio Deus. E verifica
o que necessriopara a converso por meio do sermo em que concorrem o
pregador, oouvinte e Deus respectivamente com a doutrina, com o
entendimento,com a graa. A trade persuaso, percepo e luz divina
invocadaem vista de discernir o ponto deficiente do processo.
Convicto da fidelidade de Deus que no cessa de enviar o sol e a
chuvasobre os maus e os bons, Vieira lembra a prontido de Deus para
alumiar,regar, esquentar. Rpido, na sua argumentao, conclui que a
falta de fru-tos no pode vir de Deus. Duas razes o fazem chegar a
esta concluso:
1 O fato de, por esta crtica, ter visado a um dos dominicanos no
ser esquecido mais tardequando de seu processo, como assinala A.
BOSI: Havia ainda outros motivos que explicariama animosidade do
Santo Ofcio: a antipatia que os dominicanos nutriam pela Companhia
de Jesuse, last but not least, a vaidade literria de um de seus
pregadores, Frei Domingos de Santo Toms,ferida pelas setas do nosso
orador, que traara a sua caricatura no Sermo da Sexagsima.
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a palavra da Escritura indicando que o co no falta (a chuva e
osol so enviados semente) e a palavra da Igreja. Primeiramente
porparte de Deus no falta, nem pode faltar. Esta proposio de f,
definidano Conclio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos.
O prximo passo toca a anlise dos ouvintes. Vieira reconhece que
ospregadores inculpam os ouvintes. Traduzindo o desencanto do
oradornuma verso moderna poder-se-ia dizer: Fazemos homilias, mas
nonos escutam... Cansamos de falar ao povo, mas eles no
praticam...Exortamos sem cessar mas... Contudo, ser que a ineficcia
dessa palavravem dos ouvintes? Vieira constata: a fora da palavra
divina tanta quepode, no mnimo, nascer entre pedras e espinhos.
Apostando na fora dapalavra divina e isentando tanto Deus quanto os
ouvintes, ele interrogauma vez mais e reflete que mesmo entre
pedras e espinhos os pioresouvintes da palavra esta chega a nascer.
Mas o fato de nem chegar agerminar instiga nosso pregador a
prosseguir:
... supposto que o fructo e effeitos da palavra de Deus, no
fica, nem porparte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se
por consequncia claraque fica por parte do prgador. E assim .
Sabeis, christos, por que no fazfructo a palavra de Deus? Por culpa
dos prgadores. Sabeis, prgadores, porqueno faz fructo a palavra de
Deus? Por culpa nossa. (VIEIRA, 1951, v. 1, p. 11)
E sua anlise vai passar em revista a pessoa do pregador, o seu
estilo, amatria que utiliza, a cincia que possui, a voz com que
fala.
Mesmo que as consideraes que precedem a concluso no sejam acausa
principal procurada por Vieira, elas nos deixam entrever
algumascrticas no que concerne vida do pregador, limpidez ou
clareza doestilo que utiliza, definio de um s assunto, cincia ou
voz dopregador. Curiosas aproximaes com os nossos tempos...
Permitimo-noscitar algumas...
Quanto pessoa do pregador, Vieira afirma a insuficincia de
condies:
Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, no importa nada;
as ac-es, a vida, o exemplo, as obras, so as que convertem o mundo.
O melhorconceito que o pregador leva ao plpito, qual cuidaes que ?
o conceito quede sua vida tm os ouvintes. Antigamente convertia-se
o mundo, hoje por quese no converte ningum? Porque hoje prgam-se
palavras e pensamentos,antigamente pregavam-se palavras e obras.
Palavras sem obras so tiros sembala. (VIEIRA, 1951, v. 1, p.
12)
Quanto ao estilo: O plpito, lugar cultual da pregao, converte-se
emespao que anuncia a eloquncia da vida, lida nas entrelinhas do
dis-curso. Ao mesmo tempo, isso no dispensar a objetividade do
estilo:Como ho-de ser as palavras? Como as estrellas. As estrellas
so muitodistinctas e muito claras. Assim h-de ser o estylo da
pregao (VIEIRA,1951, v. 1, p. 17).
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Quanto matria: Concentrar-se num s assunto: assim h-de ser o
ser-mo: h-de ter razes fortes e solidas, porque h-de ter um s
assumptoe tratar uma s matria (VIEIRA,1951, v. 1, p. 20).
De certa forma Vieira trai a classe denunciando-a. Como querer
que apalavra anunciada produza frutos quando a vida de quem a
anuncia uma apologia contra a doutrina?... se os ouvintes escutam
uma coisa eveem outra, como podem converter-se? (VIEIRA, 1951, v. 1
p. 15). Negaodas palavras pelas obras: obstculo para a metanoia.
Sua argumentaopara um cristianismo verdadeiro no se funda apenas
nos descompassosentre a palavra e a ao, mas na oposio entre as
duas.
No entanto a sua concluso responde pergunta: Por que se faz,
hoje,to pouco fructo com tantas pregaes? porque as palavras dos
prega-dores so palavras, mas no so palavras de Deus (...). Prgam
palavrasde Deus, mas no pregam a palavra de Deus (...) (VIEIRA,
1951, v. 1, p.27). Utilizar as palavras de Deus para faz-las dizer
o que quer o pregadorvisando aprovao dos auditores continuar com os
critrios do mundo.
1.2 A relao pregador-ouvinte
Ao fazer a leitura deste Sermo observamos que se opera um
desloca-mento progressivo. Vieira procede primeiramente a um
descentramentoda pessoa do orador. Comea relativizando aquele que
prega. E prosseguepara chegar a dizer que a resposta questo central
de seu discurso exigeum deslocamento da palavra. O pregador deve
passar de sua palavra palavra de Deus: movimento talvez
decepcionante para os ouvintes queesperam a beleza da palavra. Ao
relativizar aquele que prega, Vieira rejeita paradoxo de um retrico
por excelncia o que se encontra na fora daretrica: a capacidade de
seduo unicamente pela palavra humana , sepodemos assim dizer. Nessa
perspectiva, a vaidade se sobrepe palavrae, como aquela que caiu
entre os espinhos, sufocada pelos cuidados domundo, que aqui
poderiam se caracterizar pelo cuidado de si mesmo,atravs da busca
dos aplausos dos homens. Por isso no produz fruto. EVieira
acrescenta:
Prgavam em Coimbra dois famosos prgadores (). Altercou-se entre
algunsdoutores da Universidade, qual dos dois fsse maior prgador, e
como noha juzo sem inclinao, uns dizem este; outros, aquelle. Mas
um lente, queentre os mais tinha maior auctoridade concluiu desta
maneira : entre doissujeitos to grandes no me atrevo a interpor
juzo ; s direi uma differena,que sempre experimento. Quando oio um,
saio do sermo muito contentedo prgador ; quando oio o outro, saio
muito descontente de mim. Com istotenho acabado (VIEIRA, 1951, v.
1, p. 34).
Por sua vez, nosso jesuta recusa-se a dar prioridade ao que os
ouvintesdele esperam, pois est em jogo no o prazer, nem o
descontentamento
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dos que o escutam, mas a verdade da palavra: Por outra parte
subirao pulpito e no dizer a verdade, contra o officio, contra a
conscincia;principalmente em mim, que tenho dito tantas verdades, e
com tantaliberdade, e a to grandes ouvidos. (VIEIRA, 1951, v. 3, p.
13)
2. Encarnao da palavra: exigncias
Dizer tantas verdades, com tanta liberdade e a to grandes
ouvidos. Entra-mos aqui no segundo momento. No seria de se
estranhar se pensssemosque, como Herodes diante do Batista, seus
auditores experimentavam ummisto de magia e de incmodo
respectivamente pela beleza e pelo carterradical da palavra que
lhes era dirigida. O clebre Sermo de santo Antonioaos peixes
(1654), audaciosa crtica sociedade dos colonos do
Maranho,testemunha o seu pensar sobre a situao. Com a convico de
que paraa festa dos santos vale mais pregar com eles que sobre eles
, Vieira sedirige aos peixes, a exemplo do santo do dia santo
Antonio. Partindodo texto do Evangelho: Vs sois o sal da terra ,
ele usa a matria deseu sermo para denunciar a corrupo e pedir que
os homens cessem dese devorar mutuamente. Sua leitura tica da
situao o leva a descrevero contexto social em termos de
antropofagia.
2.1 Prtica da justia
Um dos aspectos desse contexto e um dos pilares da estratgia da
colo-nizao do Brasil por Portugal, com o qual ele no se resignava,
era aescravido. Com veemncia exorta os cristos a escutarem o que
Deuslhes pede nesta situao precisa:
Sabeis, christos, sabeis nobreza e povo do Maranho, qual o jejum
quequer Deus de vs esta Quaresma? Que solteis as ataduras da
injustia, e quedeixeis ir livres os que tendes captivos e
opprimidos. Estes so os peccadosdo Maranho: estes so os que Deus me
manda que vos anuncie: Annuntiapopulo meo scelera eorum. Christos,
Deus me manda desenganar-vos e euvos desengano da parte de Deus.
Todos estaes em peccado mortal (VIEIRA,1951, v. 3, p. 14).
Assim, no se contenta em denunciar nobreza e ao povo a injustia
co-metida, mas se posiciona como portador da palavra e, enquanto
enviado deDeus, situa-se no somente no plano tico ao denunciar as
transgresses,mas tambm no teolgico ao anunciar as consequncias
soteriolgicas dasdecises humanas.
Era na contracorrente que prosseguia sua luta. A fora destrutiva
das injus-tias continuar a se manifestar. Os colonos no vo poupar
de sua friaVieira e os Padres da Companhia de Jesus. Lembremos que
em 1661, os
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habitantes do Maranho e do Par se voltam contra os jesutas, e
AntnioVieira parte para Lisboa contra sua vontade.
Aperseguio ser uma constante neste combate. Ele se dirigir ao
prpriorei em uma carta datada de 8 de dezembro de 1655 na qual
exprime seuespanto de ser perseguido, no pelos pagos , mas por
aqueles que seapresentam como cristos. (VIEIRA, 1925, p.
452-455)
Tais afrontamentos e contrariedades o levam a reconhecer que o
trabalhojunto aos portugueses to necessrio quanto importante. Este
trabalhoconsiste na evangelizao dos cristos de todas as condies
sociais.
Entre os atores, convoca e exorta o rei em pessoa, chamando-o
respon-sabilidade no apenas diante da sociedade, mas diante de
Deus. Definiti-vamente, diante de Deus que tudo se passa e este no
indiferente sinjustias engendradas pelos homens (VIEIRA, 1925, p.
464-468).
Em sua carta de 20 de maio de 1653, Vieira faz ao rei Dom Joo IV
umrelatrio da situao e da condio de vida nas quais se encontram
osportugueses e sobretudo os ndios no Brasil. Descreve a grande
necessi-dade espiritual de uns e de outros, denuncia os maus-tratos
dispensadosaos ndios que, segundo ele, sofrem mais que os escravos
negros (VIEIRA,1925, p. 306-315).
Plenamente convencido da injustia que pesa sobre os ndios, ousa
lembrarque a autoridade do rei no absoluta. o Rei Eterno que est
acima dotemporal. A autoridade deste submissa do prprio Deus:
Se el-rei permitir que eu jure falso, deixar o juramento de ser
peccado? Seel-rei permitir que eu furte, deixar o furto de ser
peccado? O mesmo passanos ndios. El-rei poder mandar que os
captivos sejam livres; mas que oslivres sejam captivos, no chega l
sua jurisdio (VIEIRA, 1951, v. III, p. 23).
Em sua carta de 22 de maio de 1653 ao provincial do Brasil,
expressaseu esforo para lutar contra tamanha escravido.
Aproveita-se do ser-mo dominical cujo tema era o das tentaes de
Jesus. Diante do relatoevanglico, ele o analisa identificando
nestas tentaes uma oferta, umconselho, um pedido. na terceira
tentao que identifica um pedido, oqual desenvolver em seu discurso.
Para justificar seu posicionamento,afirma que a terceira tentao a
mais universal e a mais poderosa. Tudose passar segundo o preo que
Cristo pagou para resgatar cada alma eo preo que o homem paga para
vender a sua. Quais so as sedues dodemnio no Estado do Maranho?
Como ele prope esta troca? Como ohomem do Maranho se situa frente
ao aprisionamento injusto?
Preguei na seguinte dominga, que era a das Tentaes, e, tomando
por funda-mento o Haec omnia tibi dabo, que era a terceira, mostrei
primeiramente, coma maior eficcia que pude, como uma alma vale mais
do que todos os reinosdo mundo e depois de bem assentado este
ponto, passei a desenganar coma maior clareza os homens do Maranho,
mostrando-lhes com a mesma que
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todos estavam geralmente em estado de condenao, pelos cativeiros
injustosdos ndios; e que, enquanto ste habitual pecado se no
remediasse, todas asalmas dos portugueses deste Estado iam e haviam
de ir para o inferno. Propusfinalmente o remdio, que veio a ser em
substncia as mesmas resolues danossa resposta, mais declaradas e
mais persuadidas, facilitando a execuo eencarecendo a convenincia
delas; e acabei prometendo grandes bnos deDeus e felicidades, ainda
temporais, aos que, por servio do mesmo Senhor epor salvar a alma,
lhe sacrificassem esses interesses (VIEIRA, 1925, v. 1, p.
338).
Atravs do evangelho sobre as Tentaes, a exortao de Vieira a
renun-ciar aos interesses desmesurados abre a questo sobre o lugar
social ea visibilidade dos papis na sociedade: Quem nos ha-de ir
buscar umpote de agua, ou um feixe de lenha? Quem nos ha-de de
fazer duas covasde mandioca? Ho-de ir nossas mulheres? Ho-de ir
nossos filhos?()(VIEIRA, 1925, v. 1, p. 18).
2.2 Reconhecimento da dignidade humana
Incluir a questo social na teolgica no , para Vieira, um
acrscimoque enriqueceria ou ilustraria a palavra pronunciada. A
relao de poderarrasta e conduz reflexo sobre o amor de si mesmo
primando sobrea vida e a liberdade do outro. Ele sustentar nesse
mesmo Sermo, quevale mais ganhar a vida com o prprio suor do que
com o sangue dosoutros. O mesmo tema retomado em uma de suas Cartas
em que eleremete a este sermo para reafirmar que uma alma vale mais
do quetodos os reinos do mundo (VIEIRA, 1925, v. 1, p. 338).
Convida assim opovo do Maranho a um reconhecimento e os convoca a
uma converso.Converso esta que passa pela humanizao de suas relaes
e reconheceos ndios como filhos de Deus.
Quase um ano depois, em outra carta ao provincial do Brasil,
Vieira deixatransparecer uma vez mais seu sofrimento interior
frente distncia queexiste entre o que sente ser o dever dos Padres
para com os ndios, e omodo como efetivamente os tratam.
Confesso a Vossa Rev.a que fra um exerccio de grande consolao
andarcorrendo e visitando estas pobres choupanas, se juntamente se
no ouviram aslstimas e queixas dos ndios, que como eles no tm
outrem que se condade seus trabalhos, e acuda de alguma maneira por
les, seno os padres daCompanhia, em ns descarregam todas suas
lstimas, e um grande gnerode tormento ouvi-las e conhec-las, e
alcanar ainda melhor que les a muitarazo que tm, e lhes no podermos
ser bons (VIEIRA, 1925, v. 1, p. 389-390).
Nessa confisso, a expresso de no poder ser bons para eles
testemunhasua a conscincia aguda da duplicidade existente nas
relaes com a popu-lao indgena, sem todavia expressar melhor as
causas desta impotncia.
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Quase indiferente aos seus opositores, Vieira continua seu
caminho. Conhecepor dentro Portugal e o Brasil. Este conhecimento
lhe traz muito sofrimento.Sobretudo no que diz respeito situao da
escravido. Percebe melhoras injustias que esto na base da poltica
de colonizao. E as denunciadiante do rei, dos governadores,
administradores locais, ndios, escravos.Mesmo diante da Igreja,
pois tambm ela responsvel por esta situao.Era preciso enviar mais
missionrios que aliassem boa doutrina e santidadede vida. Vieira
est dolorosamente consciente de que h um descompassoentre palavra e
ao. Em suas cartas este tema voltar quando reclama daqualidade dos
missionrios enviados Colnia.
2.3 Fidelidade ao evangelho
Neste cenrio, quem Vieira para o Novo Mundo? Paiau. Pai
Grande.Assim os ndios estavam acostumados a cham-lo (CIDADE, 1959,
p. 428).
Ressaltamos por enquanto, para alm de todo aparato retrico, seu
entu-siasmo por uma encarnao da palavra de Deus. A tal ponto que
todasas realidades so convocadas a uma transfigurao luz desta
mesmapalavra. Eis por que, seguindo o ritmo do tempo litrgico, tudo
se tornaassunto a ser tratado em ctedra. E ele dirige suas
palavras, como jdissemos, ora aos reis e nobres (VIEIRA, 1951, v.
1, p. 1-36), ora aos quetm de tomar decises polticas e econmicas e
que as fazem pesar sobreo povo (VIEIRA, 1951, v. 7, p. 157-161),
ora aos escravos negros (VIEIRA,1951, v. 11, p. 296) ou para
defender os escravos indgenas (NORONHA,1950, p. 124-151), ora s
autoridades eclesiais (VIEIRA, 1951, v. 1, p. 48-50).
Reafirmamos nosso objetivo de no proceder aqui a uma anlise dos
Ser-mes. Tomando alguns de seus excertos, queremos sublinhar que
Vieirano se subtrai Palavra a ele confiada. Esta uma preocupao
contnuade nosso autor. De algum modo seria tambm por isso que
Vieira resistiatanto em trabalhar na publicao de seus Sermes? Suas
obras chamadasprofticas s quais ele atribua grande importncia,
despojadas do estilodos Sermes, seriam mais transparentes eficcia e
fora da palavra deDeus? Sem a beleza da retrica dos Sermes dariam o
verdadeiro sentidodesta palavra? Seja como for, sua deciso
fundamental agradar a Deuse no aos homens marcar sua trajetria de
modo quase dramtico.Correr o risco, mas correr o mesmo risco que a
palavra.
De fato. Acusado de heresia, Antnio Vieira comear um longo
debatecom a Inquisio portuguesa. Tentar demonstrar que sua f
profunda-mente enraizada na f da Igreja de seu tempo. Malgrado seus
esforos,no fim do processo, preso durante dois anos.
Em que sua convico e sua f em um Deus que trabalha sempre,
incan-savelmente implicado nas coisas humanas, podem causar
problema? Paraquem seriam elas uma ameaa? Ele tem pressa e sede do
dia em que Deus
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se manifestar. Sua vinda tudo transformar e outra ordem temporal
serinstaurada.
Est convicto de que a obra de Deus concerne humanidade. Cada
realidadetraduz para ele o caminho de sua promessa e indica as vias
de seu cumpri-mento. Ela se encarna na carne dos homens. por isso
que ele a confrontacom a palavra das Escrituras. Tudo o que atinge
o homem, atinge Deus.
Sua releitura do compromisso entre Deus e o homem no est isenta
deproblemas. Os conflitos de interpretao associados a um
procedimentono muito transparente por parte da Inquisio vo se
agravar sensivel-mente a partir de 1663. Vieira ser ento intimado a
comparecer diantedo Tribunal e a prestar contas das acusaes feitas
contra ele.
No face a face com o Tribunal, tentar provar sua obedincia f da
Igreja.Assaltado de um lado pela doena, de outro pelas exigncias
dos inqui-sidores, sofrer o processo que se estender at 1667,
quando finalmente pronunciada uma sentena que condena as ideias que
ele supostamentepropagaria.
Um livro que ser um compndio de sua posio sobre todas essas
matriasest sendo preparado. Ele o intitula Histria do Futuro. Por
meio delefar-se- escutar nas respostas e questes que o habitam?
As adversidades no o confundiram. Depois de tudo, e tambm graas
aoperdo que lhe fora concedido em 1668, volta ao campo de seus
combates.
3. Expor a existncia ao risco da palavra
No conjunto da Histria do Futuro, e aqui comeamos o nosso
terceiromomento Vieira arrisca-se numa leitura em que as Sagradas
Escriturase a realidade que o homem vive se iluminem
reciprocamente, permitindo--lhe sempre um novo olhar hermenutico.
Deus est presente no coraodos mais concretos acontecimentos. A
perda e a conquista da soberaniade Portugal no so circunstncias
insignificantes. Tanto na submisso Espanha quanto na restaurao do
Reino, o plano de Deus continua a serealizar. Se os caminhos so
diversos, o plano consentido por Deus atravsde seus occultos juizos
(VIEIRA, 1976, p. 131) o mesmo. Sua leiturae sua ao entreveem como
um elemento de unificao a esperana davinda do Reino de Cristo.
Vieira tem a aguda conscincia de que algo mais alm dos Sermes
deveser dito. Est em busca de um cristianismo que seja eco e
resposta pa-lavra e onde a identidade do homem no seja simplesmente
reduzida sua ascendncia, mas esteja intrinsecamente ligada
qualidade da unidadeentre discurso e ao.
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Seria o conjunto das obras profticas de Vieira, despojado do
estilo dosSermes, mais transparente fora da palavra da qual Vieira
se acreditavaservidor?
3.1 Pensar a relao entre histria e palavra
O status da palavra nos Sermes parece distinto daquele que
possui naHistria do Futuro. Da alguns elementos comuns em discursos
pronun-ciados em contextos to diversos: a palavra pronunciada no
ato litrgicofaz da liturgia provocao a um ato; a palavra
pronunciada na Histriado Futuro quer fazer uma teologia da
histria.
A referncia histria de Israel que atravessa toda a Histria do
Futuro necessria para Vieira, porque paradigmtica. Evocar essa
histria e tentarcompreend-la e interpret-la no para ele apenas um
exerccio de exegese. a leitura de uma nica histria: a da ao de Deus
e a da humanidade.
Nela o homem provocado f. Poderamos dizer que a primeira
recom-pensa da f a f. Vieira mostra-se bastante rigoroso quando se
trata daingratido ou da falta de f do homem em relao a Deus
(VIEIRA, 1976,p. 96). Busca seu argumento em santo Agostinho. Como
duvidar daqueleque j cumpriu uma parte das promessas? Como no
confiar nele para opleno cumprimento de sua palavra? A
incredulidade , pois, no fundada,indesculpvel.
Deus se deu a conhecer, assim como a sua vontade, pelas
Escrituras, pelasvises das profecias (VIEIRA, 1992, p. 267). Vieira
toma o tempo de vercomo Deus se revelou pelos Profetas. Estes sero
para ele um lugar teol-gico decisivo de reconhecimento da ao
histrica de Deus. a experinciasingular da palavra que se manifesta
numa vivncia, com tal fora quepropulsa o profeta a ser intrprete de
Deus. O profeta olha na histria aprofunda infidelidade a Deus e
aliana, os atos coletivos de idolatria, ainiquidade das
autoridades, os pactos com os pases estrangeiros. Interpelaa prtica
do povo, das autoridades, dos juzes, dos maus pastores, dosfalsos
profetas. por isso que lembrar o povo e seus dirigentes que Deus o
Emanuel, o libertador, aquele que defende o direito dos
oprimidos,um Deus ciumento que exige fidelidade absoluta: ele Deus
e no Baal.A converso assim o eixo de seu discurso. O questionamento
da infi-delidade reaviva a f em Deus, afirma o fato de que Deus se
revela nae pela histria, garantindo a aliana que fez com o seu
povo. Mas no apenas a dimenso pessoal do apelo converso que a
visada. rea-firmado tambm o aspecto tico da relao entre Israel e
seu Deus, poisa f de Israel chamada a ir alm do culto. Sob este
aspecto Vieira serparticularmente atento ao longo de sua obra.
Como todo ser humano, o cristo no est apto a dominar todas as
con-tingncias que a ele se apresentam. Mas traz em si a promessa de
Deus. E
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esta, sem suprimir os verdadeiros riscos histricos, assinala
que, no coraode todo combate humano, Deus sem deixar de estar ao
lado do homem, oprecede. Aquele que cr o sabe: no futuro, Deus quem
o espera. O futurotorna-se assim lugar da f, da esperana e ao mesmo
tempo da certeza darealizao das promessas, pois Deus no falta com a
sua palavra. Deus a promessa. No estranho que Vieira evoque o xodo
como modelo dahistria de seu povo, ou Daniel para mostrar a sucesso
das monarquias.De certo modo, o universalismo da salvao, a
realidade escatolgicaque faz com que ele desmistifique o futuro.
Este no pertence a nenhumaespeculao das cincias ocultas, mas lugar
e espao da histria deDeus com seu povo. Na Histria do Futuro,
possvel ler sua tentativa dediscernir o porvir humano na histria
sagrada, segundo a qual o futuro dohomem est definitivamente ligado
ao futuro do Cristo. Da se segue queo Reino do Cristo igualmente o
Reino do Cristo e dos cristos.
Se o futuro do homem est associado histria sagrada, ele se
associaigualmente aliana e, portanto, interpelado a acolher e
perscrutar apalavra dos profetas. Apegados aliana mais do que
ningum, os profe-tas falam em nome daquele que teve a iniciativa de
se ligar ao seu povo.A palavra dos profetas se insere ento em um
movimento de refernciacontnua a esta aliana que no poupa os homens
das provaes. Aocontrrio. A palavra que nela anunciada o expor ainda
mais, pormtraz em si a promessa que no decepciona. Ao qualificar a
aliana comouma instituio surpreendente, P. Beauchamp observa que
feita paraa estabilidade, ela se apoia no movimento (BEAUCHAMP,
1976, p. 82).Nos movimentos da histria, o profeta tambm aquele que
a discerne,sempre em busca da palavra que o possui, mas que no
propriedadede ningum. , ento, constitutivo do ministrio proftico, o
ato de fazermemria da palavra que Deus deu a seu povo, de anunci-la
como irrevo-gvel, de denunciar os desvios de toda e qualquer ordem,
de estar vigilantecontra a infidelidade e a profanao do nome do
Senhor, de consolar nasprovaes, de interceder, de romper qualquer
forma de mutismo.
Se o nico compromisso do profeta a relao com aquele que o enviou
de onde vem sua autonomia mesmo frente aos poderosos deste mundo,
possvel que o profeta deixe s vezes a impresso de uma obra
oupalavra inacabada, pois no executa um projeto por ele concebido e
calcu-lado com antecedncia, mas segue a palavra que o colocou em
movimento.Esta desconcertante e surpreendente para seus auditores,
mas tambmpara o prprio enviado.
Nele, esta palavra traz em si uma fora que convoca o auditor a
passarao papel de ator:
O ato proftico no est no que enunciado, mas no choque do fato de
enun-ciar que chama a uns e rejeita outros: a palavra um julgamento
entre profetae profeta, entre ouvinte e ouvinte. O profeta de algum
modo obriga os que
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467Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
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o escutam a profetizar por conta prpria, e s vezes na noite
(BEAUCHAMP,1976, p. 100).
Ao remeter o homem a si mesmo, no sentido de que a palavra do
profetaquase que obriga a uma sada da indiferena e provoca o
encontro decada um com aquele que o enviou, o que se manifesta a
dimenso e afora do julgamento assim como a qualidade da escuta
daquele a quemesta palavra dirigida.
O itinerrio da pregao evanglica atravessado pelo anncio da
realizaoda palavra pelos profetas. um testemunho que, pelo prprio
mistrio doque anuncia, abre o homem ao encontro que, logo aps, far
tambm deleuma testemunha. Da uma tenso sempre latente entre
presente e futuro,promessa e cumprimento, reino de Deus e realidade
humana.
A relao com as Escrituras mostrou-se essencial para Vieira, por
serem aprincipal fonte (VIEIRA, 1976, p. 155), a parte maior do
terreno sobre o qualconstruiu seu projeto. Dessa maneira, a contnua
referncia s Escrituras, afidelidade e o apego palavra de Deus a
manifestados, supem no ape-nas um leitor familiarizado com estes
textos, mas tambm a cumplicidadeda f. Sem isso, o leitor permanece
fora do universo teolgico de Vieira.
Vieira faz uma justa avaliao ao reconhecer que a palavra
proftica um dom que s Deus pode dar a quem ele quer, conforme o
mistrio desua vontade, de tal modo que outros possam disso se
beneficiar (VIEIRA,1976, p. 154). dom pessoal, mas enriquece e
amplia a compreenso dacomunidade humana. Entretanto, um trabalho
requerido para que aprofecia seja identificada, reconhecida,
realizada. Para ele, a profecia para ser conjugada com tudo o que a
razo pode conhecer. Assim, elase faz ajudar pela luz da razo. A
escuta que ele tem da Escritura no ,pois, desprovida de instncia
crtica.
A recapitulao da histria de Deus com seu povo, principalmente
aevocao do xodo, faz ressaltar no apenas uma histria de
libertao,mas a atualidade da promessa. Todos so envolvidos neste
movimentode promessa e cumprimento. A promessa d a chave do futuro,
no emtermos de adivinhao e magia (VIEIRA, 1976, p. 69), mas de
orientaodo olhar para o que o cumprimento de toda a existncia. Est
claropara Vieira que nenhum acordo com os grandes deste mundo
possvelquando est em jogo a fidelidade palavra recebida.
Ele valoriza o que a Bblia apresenta fundamentalmente: o Deus da
alian-a, o Deus da promessa. A experincia desse Deus est ligada
criaode um povo livre que se reconhece como povo de Deus. Parece
bastanteprximo da tradio bblica em que Deus no o grande ausente,
maspresente em tudo o que vivem os homens. O Reino , na sua obra,
umarealidade em movimento e que coloca em movimento.
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Set./Dez. 2014
Quaisquer que sejam as circunstncias, Deus cumprir todas as
esperanasque nutrira com suas promessas. Quanto mais a experincia
contrrias expectativas, tanto mais a esperana na promessa parece
ser avivada.Como explicar que Vieira no se decepcione diante da no
realizao desuas esperanas s vezes to concretamente esperadas?
Talvez um elementode resposta fosse precisamente o fato de acentuar
o sujeito da promessa:Deus. Isso poderia explicar, ao menos em
parte, sua esperana inabalvel.H da parte de Deus o castigo pelas
infidelidades do povo, mas h tambma mudana do castigo em bno.
3.2 A teologia da histria: convices e dificuldades dopensamento
de Vieira
O percurso do cristo adquire tons particulares: ele chamado a
conheceras promessas interiormente, a escutar as profecias, a levar
uma vida emconsequncia com a palavra escutada. Mas no se trata de
transpor oude aplicar modelos bblicos como uma repetio. O cristo
chamado aousar o novo nas situaes que so tambm novas. Passo a
passo, umelemento aps outro pode encontrar sua significao e seu
lugar na leiturade Vieira. Mas pelo simples fato de mudar de
interlocutores e de fazervaler a profecia ou o relato em seu hoje,
provoca o auditor a encontrar,orientado pelo Esprito, uma nova
sada. Como afirmar ento a audciado novo? No seu entendimento, ela
imperativa nas respostas criativasque as realidades pedem ao
homem.
A Histria do Futuro no um projeto conformista, mas um
manifestoproclamando a fora da promessa de Deus. Esta faz a histria
e instnciacrtica da histria e de toda a realidade. tambm aquela que
afiana aexperincia dos que creem (MOLTMANN, 1978, p. 176-177).
Permitindo fazer a experincia do Deus vivo, a f para Vieira o
princpiounificador de tudo e, ao mesmo tempo, a raiz do
desassossego de seu ser.A propsito, vale ressaltar que:
a f, por todo lado onde se estenda em esperana, no traz o
repouso, masa inquietao; no torna paciente, mas impaciente (). Quem
espera em Cristono pode mais se acomodar com uma dada realidade,
mas comea a sofrerpor causa dela, a contradiz-la (MOLTMANN, 1978,
p. 18).
Com efeito, para Vieira, a f no possui nenhuma semelhana com
umaideia abstrata, mas inscreve-se na convico de que Deus a Vida,
afonte de toda vida. A f sempre um processo: escatolgica, na
medidaem que completamente orientada para o ltimo. Crer j o incio
davida eterna. A f desde agora aquela que indica a realidade
definitiva.
Eis um trao essencial do projeto de Vieira: na dinmica crist, a
f no algo adquirido, mesmo em um mundo que se pretende cristo.
Eladeve tambm se afirmar como esperana, renunciando a toda
ditadura
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469Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
Set./Dez. 2014
do presente. Ele rompe com uma relao passiva com o futuro. A f
orientada para a ao, tendo como eixo Deus e sua promessa. Deus
queno est atrs do homem, mas ao seu lado e diante dele. O futuro
dohomem e do mundo no dado pelo prprio mundo, mas por Deus.A este
reservada a ltima palavra ou a palavra do fim da
histria(XHAUFFLAIRE, 1972, p. 35).
Como estar seguro do cumprimento das promessas de Deus?
Comentan-do Paulo, Moltmann sustenta que esta afirmao possvel
porque Deusressuscitou o Cristo de entre os mortos. Est a o eixo e
a manifestaoda fidelidade de Deus. Uma fidelidade que subsiste
prova do tempo.
Subjacente ao desenrolar do discurso de Vieira, a lgica da eleio
estbem presente. Ele tinha a convico da eleio de Portugal por Deus.
Ahistria de Portugal indissocivel da promessa de Deus. Seu pas
seria oinstrumento escolhido para que a instaurao do Reino de
Cristo sobre aterra se tornasse realidade. Mas esta eleio no apenas
tomada em seuaspecto passivo, o de uma escolha. considerada em sua
dimenso ativa,isto , a da resposta dos seres livres escolhidos.
importante lembrar oque j tivemos ocasio de perceber em seu
projeto: a eleio est estrei-tamente ligada converso e comporta
exigncias espirituais e ticas quederivam da adeso consciente e
livre ao projeto divino. Atravessada porsuas exigncias, a eleio
despojada de conotaes mgicas e convida auma resposta renovada,
assim como a uma constante vigilncia.
Entretanto, a insistncia sobre a escolha de Portugal faz
entrever algunsproblemas teolgicos. bem uma pessoa e uma nao que
Vieira v comoos agentes maiores nesse caminho para a instaurao do
Reino do Cristo.Reino de Cristo que para ele se identifica com o
Imprio de Cristo e doscristos constituindo o chamado Quinto Imprio,
uma das convices de seuprojeto: a Portugal que cabe, na terra, a
misso de torn-lo concreto. Essainstaurao implica uma dimenso ao
mesmo tempo individual e coletiva.
A ideia de eleio tal como aparece no projeto pode comportar, de
umlado uma falsa segurana, e de outro a ideia de uma excluso.
No decorrer da Histria do Futuro, Portugal era invocado, a
exemplo deIsrael, como o povo eleito. Uma eleio que no diminui em
nada as exi-gncias de uma ao em conformidade com a f. No entanto, a
Portugalque cabe, na terra, a misso de torn-lo concreto. No plano
teolgico, oque levou Vieira convico da instaurao do Quinto
Imprio?
Se substituir Israel por Portugal pode causar espanto e sugerir
uma vezmais a superioridade de um povo sobre outro, vale a pena
avaliar o alcanceteolgico dessa opo. Desde o AT, Deus o agente da
eleio, da qual sereserva toda iniciativa. A interpretao cristolgica
da eleio nos escritospaulinos situa-se numa dimenso protolgica. Em
virtude desta dimenso,a escolha contrasta com a ideia de excluso na
medida em que a eleio
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Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
Set./Dez. 2014
tem sua gnese na criao. Como articular desgnio de salvao
univer-sal e a parcialidade manifestada numa escolha? Qual a
finalidade daeleio seno a de tornar visvel a salvao de Deus para a
humanidade?
Analisando esta marcada preferncia de Deus por Portugal, que
Vieirainsiste em sublinhar, podemos encontrar um vestgio do que
desde oAT, os profetas no cessam de anunciar. preciso partir do
fato de quea noo bblica de justia pode parecer desencorajadora.
Deus no temnada em comum com Themis. Para o homem bblico, Deus no
neutroe indiferente, mas decididamente toma o partido das pessoas
sem apoio esem recurso. Podemos emitir a hiptese de que Vieira se
serve sem hesitardeste argumento colocando Deus ao lado daquele que
vai resgatar Portugalde tudo o que constituiu sua impotncia e sua
vergonha entre os povos.
A lgica do crer elemento indispensvel de sua teologia da
histria. Semo pressuposto da f, a Histria do Futuro, tal como a
conhecemos, noexistiria. Uma f que no simplesmente assentimento
intelectual a umaverdade, mas interpelao para que a vida seja
ordenada em coerncia comela. A vida e a experincia humana em sua
dimenso pessoal, mas tambmsocial e poltica, so para Vieira
estruturadas e regidas pela vontade deDeus. Sua vontade no outra
seno a de salvar a humanidade, submet--la ao Reino do Cristo e
instaurar a paz definitiva sobre a terra. Mas sea salvao j fora
definitivamente acabada por Cristo, Senhor Universal,o que espera
Vieira? Seu projeto nos leva a ver o desejo de poder viverdos
frutos dessa salvao. Os frutos no seriam esperados apenas paraum
alm. ainda em vida que o homem convidado a entrar no gozodesses
bens. Para Vieira, a inteligibilidade da histria s possvel luzdo
discernimento dessa vontade.
Diante de tal abordagem, como no notar a escassez do termo
pecado?Embora praticamente no se encontre em sua Histria, nem por
isso a suarealidade est ausente. Ao contrrio, aparece com toda a
sua fora, mesmoque ele no desenvolva o tema de modo sistemtico e
direto, mas o tratesob a forma de idolatria, de infidelidade, de
recusa em dar a Deus a glriaque a ele pertence. Vieira questiona
esta falta de lucidez do homem emno reconhecer que no respondera ao
amor de Deus. O homem em sualiberdade, pode assim interromper mais
ou menos abruptamente o dilogocom a graa. O pecado, fruto do poder
capaz de entravar a liberdade, assim abordado em sua dimenso
pessoal, e igualmente em sua dimensosocial e comunitria. Este
tratamento do tema revela bem a opo feitadesde o incio: ser um
leitor atento dos profetas. Ele ressalta a essnciaantropolgica do
pecado, isto , a autoafirmao do poder do homem quese estimula a
utilizar seu poder para se levantar contra Deus e oprimir ohomem. O
pecado o verme destruidor da comunidade dos que creem eda vida
social, na medida em que alimenta incansavelmente a dominaodos
povos por uma falsa lgica de superioridade.
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471Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
Set./Dez. 2014
Na mesma linha, a esperana se define num campo mais vasto. No
estritamente compreendida como reservada para outra vida. A
esperana,que desde agora quer habitar os coraes dos que creem, quer
esperaragora. Pois se apoia e repousa sobre a promessa.
Vieira passa rapidamente da promessa de Deus a um cumprimento
quecr iminente e que ocorreria ainda no decorrer do sculo XVII. Uma
im-pacincia que parece precipitar a justia e o domnio visvel e
palpvel doCristo sobre toda a realidade. Sempre esperando este
futuro, Vieira no sesepara da histria que est se desenrolando. Esta
articulao fundamentalpara compreender a proposta de sua histria.
Nela, o desenvolvimentocristolgico fortemente impregnado pelo
conceito de reino. Ao lado desteconceito e ligado a ele, vemos
tambm o desenvolvimento da soberaniae do domnio de Cristo.
Na teologia da histria de Vieira, essa noo fundamental. Antes de
tudo,Jesus Cristo Rei. O batismo de Jesus j fazia ressaltar a uno
proftica ereal. Mas como conceber sua realeza? Sua vida se
encarregar de mostr-lo.No anncio da proximidade do reino, feito por
Jesus, importante conside-rar a revelao que ele faz de Deus como
seu Pai, um Pai que se preocupacom os mnimos detalhes cotidianos da
vida de seus filhos (KASPER, 1976,p. 113). Esta relao determinante
no entendimento dessa noo.
Manifestando que no ignora a uno proftica e real do Cristo, pois
faladisso, Vieira tratar de pensar esta uno no sentido de uma
vitria triunfalsobre o mal no mundo. Como j o sublinhamos,
caractersticas do exercciodo reino esto a presentes. Como herdeiros
com o Cristo, os cristos deletomaro parte. A soberania absoluta do
Cristo sobre toda criatura rea-firmada e um conceito chave para
entender a instaurao de seu reino.
Tal instaurao no pensada somente no sentido espiritual. Sendo
aomesmo tempo espiritual e temporal, este reino ganha contornos que
tmtambm a marca humana. No ponto de partida de nossa reflexo no
difcil localizar a teologia da encarnao.
Ento, no haveria mais distino clara entre as diferentes esferas?
Pode-sedeclarar a fuso das realidades e uma divinizao total? Ser
que, nestascircunstncias, existiria ainda o humano? Uma intuio
profundamenteimportante est subjacente no debate sobre o espiritual
e o temporal. Aocriar, sustentar e resgatar a humanidade, Deus
entra em relao verdadeirae consequente com o homem, levando a srio
a realidade da carne. Porsua vez, estaria o homem pronto a tomar as
medidas deste compromisso?Deixar-se-ia atingir pelos
condicionamentos inerentes sua condio?Deveria abstrair-se de sua
carne?
A noo de justia est em estreita relao com a do reino. A justia
repre-senta um papel fundamental na elaborao da teologia da histria
de Vieira.
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Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
Set./Dez. 2014
A ausncia de um rei plenamente justo projeta esta realizao para
o tempoda instaurao do reinado de Cristo sobre a terra. A espera
deve ser umaespera ativa, provocadora, realizando j a forma
concreta que assumir.
A compreenso e o consentimento da f marcam tambm a concepo
dotempo. um privilgio viver neste tempo. De elemento que pode
marcar oesquecimento, o distanciamento, ele se torna o tempo da
graa. Malgrado arecusa do homem a Deus, no seio do tempo do pecado
que se manifestae se d a revelao da vida eterna (BALTHASAR, 1970,
p. 51). Ao escolheruma presena ininterrupta junto do homem, Deus
quis tornar-se seu contem-porneo. H uma histria do futuro que abre
o homem graa que est ase realizar. Doravante o distanciamento
cronolgico no mais uma escusapara o cristo que quer se eximir de
sua responsabilidade ou de sua faltade apego s promessas. Deus
arranca assim o homem da tentao de viveralhures. Nessa perspectiva,
o tempo recebe toda a sua densidade teolgica.
O reconhecimento do Senhorio de Deus sobre a histria um dos
eixosmaiores da teologia da histria construda por Vieira.
Concluso
Ao final dos trs momentos evocados, podemos reconhecer que todo
oedifcio de Vieira se constri sobre a palavra que ora encanta por
sua be-leza, ora surpreende por seu carter radical
desconcertantemente aplicado realidade.
Nas pegadas de Deus que arrisca a palavra nos diversos terrenos
que soos coraes dos homens, Vieira, o imperador da lngua portuguesa
para falar com Fernando Pessoa faz-se o humilde sdito de uma
palavraque a um tempo ultrapassa, precede, qualifica, purifica,
guia a sua prpriapalavra. Se a obra e a personalidade desse jesuta
marcam o seu tempo,a sua palavra o distingue para muito alm do seu
tempo. Alcanado pelapalavra de Deus, o orador de qualidade
excepcional se torna seu cmplice.Curiosamente o mestre da palavra
se perde na palavra de Deus de modoa no poder mais expressar o
sentido na ausncia dessa mesma palavra.Ela , em ltima instncia, a
responsvel pela audcia das ideias e pelatenacidade do combate desse
homem pragmtico que foi Vieira.
Na Histria do Futuro ele se refere com frequncia tanto ao xodo
comoao exlio. Se o xodo foi fundante na histria do povo, o Exlio
foi deci-sivo para perceber Deus como o Deus-conosco, o Deus que,
para alm damemria, o futuro dos seus.
O Deus do ato litrgico deve se tornar o Deus da histria. O Deus
daBblia deve se tornar o nosso Deus; caso contrrio correremos o
risco deo relegar ao passado e viver o presente indiferentes ao
futuro.
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473Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
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Vieira estima que indispensvel manter o olhar na promessa de
Deus,mesmo quando esta parece estar em ntida contradio com a
realidadeque ele experimenta. A esperana na promessa no permite que
o homemdesespere nem de Deus, nem da histria, mas o abre para o
futuro e decerta maneira fora a histria a sair de tudo o que pode
estreit-la.
Sua maneira de tecer os laos entre suas concepes f, promessa,
tem-po, esperana, reino, histria expressa que a ltima palavra sobre
todoo universo a palavra de Deus. Esta espcie de sntese
escatolgica, emVieira, longe de fechar o dilogo, abre-o sobre uma
base nova.
Haurindo sua argumentao vrias vezes nas fontes bblicas, Vieira
esfora--se por fazer dialogar a f na palavra com a luz da razo e,
na medida emque o faz, ele se distancia de uma leitura
fundamentalista das Escrituras.
Voltar sobre a questo de um Reino temporal do Cristo no quer de
modoalgum indicar aqui uma volta s relaes antigas e controvertidas
entre aIgreja e o Estado. O que importa considerar, para alm dos
condiciona-mentos socioculturais de Vieira, a real convico teolgica
de sua esperana.
Pesar a utopia do Reino e da histria com todas as suas mediaes,
osolhos fixos sobre o ltimo, , na construo de Vieira, o caminho
neces-srio para compreender que ele quer mostrar a imbricao entre
ambos,reservando a Deus o domnio de tudo.
Vieira resiste tese segundo a qual o poder de Cristo se limita
ao domnioespiritual. No hesitou em marcar uma ruptura com todo
pensamentoque pudesse diminuir o interesse de Cristo pelo temporal.
Essa rupturainstaura no a declarao que tudo divino, mas que tudo
est penetra-do pelo mistrio da Encarnao. Para ele Cristo se mostrou
o Senhor, emtodos os sentidos da palavra. Ele o expressa pelo
conceito de soberania,sem por isso suprimir o temporal.
A reflexo, a posio e a ao poltica de Vieira possivelmente no
souma ingerncia indesejvel nos negcios temporais, mas uma
consequncianatural de sua opo crist.
A trajetria da Histria do Futuro converge para isto: Deus o
futurodo homem. E este futuro no tira o homem de seu mundo, mas o
faznele imergir com o sentido aguado que neste mesmo mundo acontece
oltimo. A relativizao operada por Vieira diante deste ltimo
expressa,certamente, o corao da esperana, mas tambm uma crtica
rigorosa detoda tentativa de eternizao do provisrio.
O projeto de Vieira busca dar as razes de sua esperana e
comporta umateologia que no est isenta de ambiguidades.
Tendo somente em Deus seu fundamento ltimo, o homem se afirma
comoum ser de esperana. Esperana que, pela fora do Esprito, faz
novastodas as coisas, trabalha o homem e o prepara, por sua vez, a
dar conta
Documento:7529 Perspectiva 130 Set Dez
2014.pdf;Pgina:121;Data:18 de 12 de 2014 15:44:40;conferido
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Perspect. Teol., Belo Horizonte, v. 46, n. 130, p. 455-474,
Set./Dez. 2014
de sua esperana. Dar conta da prpria esperana em um mundo
cadavez mais pensado na imanncia e na imediatidade tambm semear.
Osemeador saiu a semear...
A concordncia entre a obra humana, o pensamento e a palavra
destejesuta (BUESCU, 1992, p. 199) poder ser inspiradora.
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1970.
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Paris: Seuil, 1976, t. I.BOSI, Alfredo. De Profecia e Inquisio, 2.
ed., Braslia: Senado Federal, Coleo Brasil500 anos, 2001, p.
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Editora, 1959, v. I.
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Fidei, n. 88.MOLTMANN, Jurgen. Thologie de lEsprance. 3. ed. Paris:
Cerf-Mame, 1978. CogitatioFidei, n 88 .
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Padre Antnio Vieira.Lisboa: Presena, 1998, (Textos de apoio n.
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VIEIRA, Antnio. Histria do Futuro (Livro Anteprimeiro), Edio
crtica prefaciada ecomentada por Jos Van den Besselaar, Mnster:
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e notas por MariaLeonor Carvalho Buescu. Lisboa: Imprensa Nacional
Casa da Moeda, 2. ed., 1992.
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Gonalo Alves, Porto,Lello&Irmo Editores, 1951, v. 1, 3, 7,
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notas de J. L Azeve-do), (Biblioteca de Escritores Portugueses,
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XHAUFFLAIRE, Marcel. La thologie politique, Paris: Cerf.
Cogitatio Fidei. n. 88.
Maria A. R. Abro Irm de Santo Andr. Professora de Teologia na
Universidade Catlicade Pernambuco. graduada em Teologia pela
Faculdade Jesuta de Filosofia e Teologia,FAJE, Belo Horizonte.
Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuta de Filosofia e
Teologia,FAJE, Belo Horizonte, com a dissertao: Teologia e
Experincia espiritual no pensamento deHans Urs von Balthasar. As
relaes entre Teologia e espiritualidade na perspectiva de So amor
digno de f. Doutora em Teologia pelo Centre Svres, Facults Jsuites
de Paris,Frana, com a tese Mystique et politique chez Antnio
Vieira. Publicou em 2012 pelas ed.Loyola: Lembra-te do futuro: a
Teologia de Antnio Vieira luz da Histria do FuturoEndereo: Rua do
Prncipe, 526
Boa Vista50050-900 Recife PE
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2014.pdf;Pgina:122;Data:18 de 12 de 2014 15:44:40;conferido
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