Marcelo Odebrecht ameaça derrubar a República “Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”, dizia Emilio Odebrecht, sobre possível prisão do filho. O presidente da Odebrecht, Marcelo, foi preso nesta sexta FILIPE COUTINHO, THIAGO BRONZATTO E DIE GO ESCOSTEGUY 20/06/2015 - 00h11 - Atualizado 20/06/2015 00h14
“Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”, dizia Emilio Odebrecht, sobre possível prisão do filho. O presidente da Odebrecht, Marcelo, foi preso nesta sexta
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7/18/2019 Marcelo Odebrecht Ameaça Derrubar a República
Marcelo Odebrecht, preso pela PF. “Não haverá República na segunda-feira” (Foto: Luis
Ushirobira/Valor/Folhapress)
>> Trecho de reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
Desde que o avançar inexorável das investigações da Lava Jato expôs ao Brasil o desfecho que,
cedo ou tarde, certamente viria, o mercurial empresário Emilio Odebrecht, patriarca da família
que ergueu a maior empreiteira da América Latina, começou a ter acessos de raiva. Nesses
episódios, segundo pessoas próximas do empresário, a raiva – interpretada como ódio por
algumas delas – recaía sobre os dois principais líderes do PT: a presidente Dilma Rousseff e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha,
e do Senado, Renan Calheiros, outros dois poderosos alvos dos procuradores e delegados da
Lava Jato, Emilio Odebrecht acredita, sem evidências, que o governo do PT está por trás das
investigações lideradas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se prenderem oMarcelo (Odebrecht, filho de Emilio e atual presidente da empresa), terão de arrumar mais três
celas”, costuma repetir o patriarca, de acordo com esses relatos. “Uma para mim, outra para o
Lula e outra ainda para a Dilma.”
Na manhã da sexta-feira, 19 de junho de 2015, 459 dias após o início da Operação Lava Jato,
prenderam o Marcelo. Ele estava em sua casa, no Morumbi, em São Paulo, quando agentes e
delegados da Polícia Federal chegaram com o mandado de prisão preventiva, decretada pelo
juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal da Justiça Federal do Paraná, responsável pelas
investigações do petrolão na primeira instância. Estava na rua a 14ª fase da Lava Jato,
preparada meticulosamente, há meses, pelos procuradores e delegados do Paraná, emparceria com a PGR. Quando ainda era um plano, chamava-se “Operação Apocalipse”. Para
não assustar tanto, optou-se por batizá-la de Erga Omnes, expressão em latim, um jargão
jurídico usado para expressar que uma regra vale para todos – ou seja, que ninguém, nem
mesmo um dos donos da quinta maior empresa do Brasil, está acima da lei. Era uma operação
contra a Odebrecht e, também, contra a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira do
país. Eram as empresas, precisamente as maiores e mais poderosas, que ainda faltavam no
cartel do petrolão. Um cartel que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, fraudou licitações daPetrobras, desviou bilhões da estatal e pagou propina a executivos da empresa e políticos do
PT, do PMDB e do PP, durante os mandatos de Lula e Dilma.
Os comentários de Emilio Odebrecht eram apenas bravata, um desabafo de pai preocupado,
fazendo de tudo para proteger o filho e o patrimônio de uma família? Ou eram uma ameaça
real a Dilma e a Lula? Os interlocutores não sabem dizer. Mas o patriarca tem temperamento
forte, volátil e não tolera ser contrariado. Também repetia constantemente que o filho não
“tinha condições psicológicas de aguentar uma prisão”. Marcelo Odebrecht parece muito com
o pai. Nas últimas semanas, segundo fontes ouvidas por ÉPOCA, teve encontros secretos com
petistas e advogados próximos a Dilma e a Lula. Transmitiu o mesmo recado: não cairiasozinho. Ao menos uma dessas mensagens foi repassada diretamente à presidente da
República. Que nada fez.
Quando os policiais amanheceram em sua casa, Marcelo Odebrecht se descontrolou. Por mais
que a iminência da prisão dele fosse comentada amiúde em Brasília, o empresário agia como
se fosse intocável. Desde maio do ano passado, quando ÉPOCA revelara as primeiras
evidências da Lava Jato contra a Odebrecht, o empresário dedicava-se a desancar o trabalho
dos procuradores. Conforme as provas se acumulavam, mais virulentas eram as respostas do
empresário e da Odebrecht. Antes de ser levado pela PF, ele fez três ligações. Uma delas para
um amigo que tem interlocução com Dilma e Lula – e influência nos tribunais superiores em
Brasília. “É para resolver essa lambança”, disse Marcelo ao interlocutor, determinando que orecado chegasse à cúpula de todos os poderes. “Ou não haverá República na segunda-feira.”
Antes mesmo de chegar à carceragem em Curitiba, Marcelo Odebrecht estava “agitado,
revoltado”, nas palavras de quem o acompanhava. Era um comportamento bem diferente de
outro preso ilustre: o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Otávio Azevedo,
como o clã Odebrecht, floresceu esplendorosamente nos governos de Lula e Dilma. Tem uma
relação muito próxima com eles – e com o governador de Minas Gerais, o petista Fernando
Pimentel, também investigado por corrupção, embora em outra operação da PF. Otávio
Azevedo se tornou compadre de Pimentel quando o petista era ministro do Desenvolvimento
e, como tal, presidia o BNDES.
Não há como determinar com certeza se o patriarca dos Odebrechts ou seu filho levarão a
cabo as ameaças contra Lula e Dilma. Mas elas metem medo nos petistas por uma razão
simples: a Odebrecht se transformou numa empresa de R$ 100 bilhões graças, em parte, às
boas relações que criou com ambos. Se executivos da empresa cometeram atos de corrupção
na Petrobras e, talvez, em outros contratos estatais, é razoável supor que eles tenham o que
contar contra Lula e Dilma.
A prisão de Marcelo Odebrecht encerra um ciclo – talvez o maior deles – da Lava Jato. Desde o
começo, a investigação que revelou o maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil
mostrou que, em 2015, é finalmente possível sonhar com um país com menos impunidade.Pela primeira vez, suspeitos de ser corruptores foram presos – os executivos das empreiteiras.