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112 112 1. INTRODUÇÃO Como não me canso de sublinhar, a arqueolo- gia da Pré-História Recente Peninsular tem vivido numa verdadeira revolução empírica, nos últimos anos, sendo raras as regiões que não têm surpreendido. Este ritmo acelerado de descoberta ocorre num contexto curioso, que tem a virtude de o tornar bem mais inte- ressante: o de uma progressiva maior diver- sidade teórica nas abordagens à Pré-História Peninsular. As “descobertas empíricas” são, agora, acompanhadas de “pluralidades inter- pretativas”, que alimentam debates mais ou menos apaixonados. Estas opções teóricas, tal como os fundamen- tos epistémicos que as sustentam, são resulta- do de escolhas que tanto reportam a aspectos internos da teoria (coerência, potencialida- des, rendimento, bateria conceptual), como a factores externos, frequentemente não for- malizados (comprometimentos éticos, ideoló- gicos, institucionais, psicológicos). As teorias nunca são formulações racionais neutras e as suas vinculações epistemológicas e ideológi- cas tendem a “gerar” formas particulares de relacionamento com o real, frequentemente contraditórias ou incompatíveis entre si. Todavia, e de forma simultânea, são as pró- prias especificidades de cada abordagem, as suas limitações e potencialidades, os seus desenvolvimentos metodológicos e conceptu- ais particulares, que justificam uma interac- ção entre os grandes programas teóricos, no aprofundamento do conhecimento do fenó- meno social. Os diferentes quadros teóricos têm uma existência relacional. Influenciam- ANTÓNIO CARLOS V ALERA 1 1 ERA-Arqueologia, S.A. ([email protected]). Mapeando
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Mapeando o Cosmos: Uma abordagem cognitiva aos recintos da Pré-História Recente (ERA 8/2008)

Jan 26, 2023

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1. INTRODUÇÃOComo não me canso de sublinhar, a arqueolo-gia da Pré-História Recente Peninsular tem vivido numa verdadeira revolução empírica, nos últimos anos, sendo raras as regiões que não têm surpreendido. Este ritmo acelerado de descoberta ocorre num contexto curioso, que tem a virtude de o tornar bem mais inte-ressante: o de uma progressiva maior diver-sidade teórica nas abordagens à Pré-História Peninsular. As “descobertas empíricas” são, agora, acompanhadas de “pluralidades inter-pretativas”, que alimentam debates mais ou menos apaixonados.Estas opções teóricas, tal como os fundamen-tos epistémicos que as sustentam, são resulta-do de escolhas que tanto reportam a aspectos internos da teoria (coerência, potencialida-

des, rendimento, bateria conceptual), como a factores externos, frequentemente não for-malizados (comprometimentos éticos, ideoló-gicos, institucionais, psicológicos). As teorias nunca são formulações racionais neutras e as suas vinculações epistemológicas e ideológi-cas tendem a “gerar” formas particulares de relacionamento com o real, frequentemente contraditórias ou incompatíveis entre si.Todavia, e de forma simultânea, são as pró-prias especificidades de cada abordagem, as suas limitações e potencialidades, os seus desenvolvimentos metodológicos e conceptu-ais particulares, que justificam uma interac-ção entre os grandes programas teóricos, no aprofundamento do conhecimento do fenó-meno social. Os diferentes quadros teóricos têm uma existência relacional. Influenciam-

ANTÓNIO CARLOS VALERA1

1 ERA-Arqueologia, S.A. ([email protected]).

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se, definem-se também por oposição ou rejei-ção e apetrecham-se (conceptual e metodo-logicamente) para abordar diferentes níveis do social. Uma teoria é um enquadramento dinâmico, com coerência interna, mas aberto ao confronto com outras teorias e às refor-mulações que daí resultam. Frequentemente, a discussão teórica corresponde à tentativa de demonstração da inadequação das outras teorias e à afirmação das virtudes da nossa, por vezes, de forma tão violenta como a do combate ideológico. Mas a inter-relação é um processo enriquecedor e o desacordo ou a contradição não impedem a relação. Trata-se de defender um carácter relacional da produção de conhecimento, onde operam processos de adesão e rejeição, de tradição e de inovação, onde o conhecer é perspectivado

como um processo dinâmico de interacções convergentes e divergentes, que se amplia nas suas competências interpretativas e explica-tivas e se diversifica em termos de recursos teóricos disponíveis. Neste sentido, afasta-se da perspectiva kuneana – evolução linear por substituição paradigmática –, aproximando-se de uma imagem de avanço por alarga-mento, onde diferentes paradigmas podem coexistir, interagindo de forma relacional. Se consideramos o mundo complexo e rela-cional, não há razão nenhuma para subtrair a produção de conhecimento a essa dinâmica, condenando-o a uma evolução paradigmática linear. Será mais útil (e, porventura, mais correcto) perspectivá-lo como um caminho de progressiva abertura de fronteiras e de estabelecimento de diálogos, mesmo entre

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o que se nos afigura como incompatível. Como afirmou Feyerabend, a propósito de um pretenso caos filosófico moderno: “Sus-tento que a colaboração não carece de ideo-logia comum”. É esta perspectiva que inspirou a sessão orga-nizada no UISPP (e que esteve na base da eleição dos seus participantes, que represen-tam regiões e percursos teóricos distintos). Quanto ao assunto – os recintos e o papel que desempenham no desenvolvimento das comunidades neolíticas e calcolíticas penin-sulares –, tem sido um dos centros recentes desta dinâmica, tendo rapidamente assumido um acentuado protagonismo, no âmbito das disputas teóricas.

No que a este ensaio diz respeito, o objectivo é evidenciar, usando alguns exemplos portu-gueses, o potencial da aplicação das aborda-gens cognitivas às problemáticas dos recintos pré-históricos, nomeadamente, de uma apli-cação histórica do modelo finalista, desen-volvido a partir da psicognética da dinâmica dos processos cognitivos e do seu compor-tamento histórico (Piaget, 1973; Baginha, 1985). E se os formalismos lógicos em que se apoiam as noções de estádios cognitivos e os próprias classes definidas são hoje questioná-veis (Gardner, 2002: 167), o recurso às suas propostas, na construção de modelos teóricos que funcionem como ferramentas de aborda-gem a formas de pensar diferentes, mantém potencialidades que justificam exploração, sem que com elas se pretendam estabele-cer proposições generalizantes. Como referia Criado Boado, numa nova “visita” a Lévi Strauss, tratam-se de recursos “para pensar sobre ellos, más que entidades naturales o empíricas” (Criado Boado, 2000: 300).

2. O MODELO FINALISTA (RETIRADO DE VALERA, 2006)Desde tempos mais recuados que a arque-ologia se permitiu discursar sobre aspectos da psicologia dos povos e das mentes dos “Homens Primitivos”. Esses discursos, con-tudo, não se sustentavam numa linguagem formalizada e numa investigação sólida sobre os processos cognitivos humanos. O desen-volvimento da investigação dos processos cognitivos, tanto no âmbito da ciência cogni-tiva, como da psicologia e do estruturalismo antropológico, viriam a ser responsáveis pelo desencadear, no último quarto de século, de um alargado interesse por uma arqueologia cognitiva, alertando para a dinâmica histó-rica da forma como se processam categorias

básicas de representação, cujo entendimento permite o tratamento contextualizado do sen-tido e facilita a emergência “das diferenças do passado”. Desenvolvimentos – nomeadamente no âmbi-to da Cibernética e Teoria da Informação – permitiram “considerar os processos cog-nitivos independentemente de uma repre-sentação específica” (Gardner, 2002: 46) e analisar a sua historicidade e a sua contin-gência, reconhecendo-se diferentes formas de pensamento, através de uma antropologia cognitiva. Como Putnam notou, recorrendo precisamente aos desenvolvimentos infor-máticos, se, do ponto de vista biológico, o Homem será basicamente o mesmo nos últi-mos milhares de anos (hardware), as suas for-mas de pensar e representar (software) podem variar e variam.A ideia de um hardware que se mantém basi-camente o mesmo é, desde cedo, assumida na antropologia. No início do século XX, Lucien Lévy-Bruhl, começando por estabe-lecer a existência de uma “mente primitiva” diferente da nossa, firmada em pensamentos pré-lógicos, viria, mais tarde, a duvidar da existência dessa mente primitiva diferente, estabelecendo as diferenças como uma ques-tão de grau integrando-as numa “estrutura permanente”. Posição análoga foi partilhada por outros antropólogos, como Boas, sugerin-do que as potencialidades cognitivas são as mesmas e que as diferenças se ficam a dever aos contextos intelectuais distintos (Gardner, 2002). Lévi Strauss defenderia que existe um número limitado de modos de funcionamen-to da mente humana e que o conhecimento se processa através de mecanismos de classifi-cação que operaram, essencialmente, da mes-ma maneira. Na perspectiva das propostas estruturalistas de Lévi Strauss, este hardware corresponderá ao “Espírito Humano”, estável e inalterável, o qual conformaria os modos de racionalidade (Criado Boado, 2000), resu-mindos a apenas dois – o “selvagem” e o “doméstico” –, os quais se expressam através de formas históricas específicas, versões que cada padrão de racionalidade pode assumir. Haverá, contudo, que questionar se a histo-ricidade das estruturas cognitivas não está bem estabelecida no processo de hominiza-ção, não ficando esclarecido por que razão, de repente, com o Homem moderno, se exclui-riam da história e se tornariam “essências”. De qualquer forma, independentemente da discussão da historicidade dos mecanismos biológicos cerebrais, devemos conceber o reconhecimento como um processo contin-

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gente, estando vinculado a morfologias cog-nitivas, também elas históricas (e não essen-ciais). As teorias modulares da evolução da estrutura cognitiva apontam, precisamente, no sentido de que a transformação dessas estruturas ultrapassa a questão da evolução física e que as culturas exercem uma acção reestruturadora nas formas de pensamento, não só ao nível dos conteúdos, mas tam-bém ao nível da organização neurológica fundamental: “a cultura pode, literalmente, reconfigurar os padrões de uso do cérebro” (Donald, 1999: 25).Este espaço que se abriu à arqueologia tem sido dominantemente dirigido para ques-tões relativas à hominização, com particular incidência nos estudos dedicados à “questão Neanderthal” (Mithen, 2001). Contudo, um amplo espaço de exploração existe para perí-odos mais recentes. A consciência da vincula-ção das estruturas cognitivas à historicidade abre espaço à tentativa de caracterização de esquemas mentais operativos que poderiam ter funcionado na Pré-História Recente e que nos podem ajudar a abordar formas de reconhecimento e de construção de sentido que nos proporcionem novas perspectivas interpretativas, neste caso concreto, relativa-mente a formas específicas de arquitectura e da organização espacial.Os modelos de estádios cognitivos estabele-cem que as estruturas mentais do indivíduo revelam um comportamento histórico rela-tivamente ao domínio de categorias centrais, no processo de representação. O modelo finalista assume essa evolução e transfere-a para o plano da abordagem histórica. Gene-ricamente, são estabelecidos dois pólos, duas posições antagónicas que delimitam toda uma gama de estádios intermédios possíveis. De um lado, a centração, enquanto absoluti-zação de uma situação, que não é articula-da com outras possíveis. Estabelece-se uma homologia entre objecto e perspectiva do objecto, fazendo com que aspectos particu-lares da perspectiva sejam atribuídos como propriedade ao objecto, num processo de absolutização de um sistema de referências. Esta posição centrada é associada a estrutu-ras mentais designadas por finalistas de fun-damentos pré-operatórios. No outro extremo, está a descentração, caracterizada pela rela-tivização de uma dada situação, através de uma tentativa de articulação ou coordenação de diferentes centros (perspectivas). Está associada a estruturas mentais designadas por operatórias. Estas estruturas mentais são relativas, do ponto de vista do modelo

teórico, a um “sujeito epistémico” (Piaget, 1973), um sujeito ideal (teórico) de conheci-mento, ou seja, traduzem-se nos mecanismos comuns de conhecimento e representação característicos de um grupo de indivíduos numa determinada época. Mas, tal como acontece com o indivíduo, a complexidade da realidade é simplificada pelo modelo, e o “sujeito epistémico” não deve ser confundido com qualquer quadro real, sempre mais hete-rogéneo e complexo. As estruturas mentais finalistas apresentam características cognitivas, que se traduzem na gestão centrada das relações do sujeito epistémico no mundo e estabelecem as bases da conformação das suas representações: a reduzida capacidade de reversibilidade e de recurso ao princípio da conservação.Nas sequências causais, os momentos ten-dem a ser vistos como “qualidades” (dotados de características essenciais) que se justa-põem, sem que se estabeleçam elos de ligação relativa entre eles. O pensamento reversível torna-se, assim, inviável. Por outras pala-vras, determinada situação não é passível de ser reconduzida a momentos anteriores da sequência que lhe deu origem. Trata-se de um modo de raciocínio que se centra nos estádios términos dos processos: o ponto de chegada é visto como o único possível (ou quase) – o que conduz ao fatalismo – e não como uma possibilidade entre outras, sujeita a processos de reversibilidade que permitem a sua antecipação e percepção como uma possibilidade num campo mais vasto de pos-síveis. Institui-se, desta forma, um finalismo: a situação do momento é a situação natural e inquestionável.Estas formas de pensamento finalista pré-operatório interferem decisivamente nos processos classificativos de organização do mundo, tendendo para o estabelecimento de homologias e para o desenvolvimento de mecanismos de participação. Essa capacida-de de participação permite, por exemplo, que propriedades das pessoas se transfiram para os objectos e ideias ou sejam por elas partici-padas, dando origem a formas de animismo e a situações onde o significante se dilui no significado e o símbolo passa a pertencer à coisa simbolizada: não se diz o nome, porque isso convoca a coisa e, por isso, muita gente não diz cancro (fala de doença prolongada) e Harry Potter não deve pronunciar o nome de Voldemort. Por outro lado, a centração nos estádios tér-minos dos processos é potenciadora do arti-ficialismo que está na base do pensamento

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criacionista (tanto de natureza mítica como religiosa), numa assimilação do mundo e do seu funcionamento aos modelos de acção pró-pria. O pensamento finalista é, assim, gerador de formas de animismo, de magia e de arti-ficialismo que se estabelecem como formas de causalidade psicomorfa (Baginha, 1985), reveladoras de estádios de indiferenciação entre sujeito e objecto, estabelecendo uma confusão entre as propriedades de ambos. Estas modalidades cognitivas manifestam-se em categorias básicas e estruturantes dos mecanismos de representação: na causali-dade, no tempo e no espaço. Interessa aqui desenvolver, sobretudo, o Tempo e o Espaço.Numa estrutura mental finalista, a medi-ção do tempo não é associada a uma escala regular (homogénea), mas aos fenómenos e acontecimentos. O Tempo é o tempo próprio de cada realidade, de cada objecto. É con-cebido em função do trabalho realizado, do espaço percorrido, do acontecimento e da sua repetição. Trata-se de um tempo subjectivo, fenomenológico. Contar o tempo em luas ou em dias não altera esta visão heterogénea do tempo, na medida em que o que se conta é o aparecimento da Lua Cheia ou do Sol, não sendo necessário para o sistema que esses acontecimentos se registem em intervalos de tempo regulares e contínuos. Naturalmente que a interacção com o mundo natural gera a noção de cicli-cidade, mas esses tempos são perspectivados como tempos próprios dessas coisas e não como algo abstracto e independente delas. O tempo de gestação do ser humano ou de um animal é percebido; o ciclo agrícola é domi-nado; os movimentos celestes são captados. Mas os seus tempos não lhes serão indepen-dentes e participam nas qualidades desses objectos, desses acontecimentos. Os tempos são qualitativos e diferentes, com os quais se organizariam, de forma compartimentada, partes diferentes da vida, mundos diferentes, mas simultaneamente vividos.

Este tempo, sendo vinculado ao objecto, ao acontecido, é um tempo descontínuo e irre-gular, que organiza os fenómenos de forma qualitativa e heterogénea. Por exemplo, uma necrópole megalítica a que se vão irregu-larmente acrescentando novos monumentos pode funcionar como uma forma de marcar o tempo e dotar de duração cognoscível a pro-fundidade de um dado presente: o número de sepulcros identifica a juventude ou a maturi-dade dessa comunidade. Tempos múltiplos

que geram múltiplas narrativas que decorrem lado a lado, articuladas ou desencontradas, de forma arritmada (Thomas, 1996).

Naturalmente, este tempo irregular e hete-rogéneo não é contínuo. Pode “regressar” e reiniciar-se (retorno), pode interromper-se, pode chegar ao fim. O indivíduo, ou a comu-nidade, participa nestes tempos diferentes e até no que “está fora do tempo”, no que não muda, colocando lado a lado um tempo móvel (ou tempos móveis) e um tempo imóvel (onde normalmente se situa o criador). A transição entre os diferentes tempos é possível e fre-quentemente está socialmente normalizada. Estas noções de tempo estabelecem uma forte ligação às características que o espaço apre-senta e que a vida quotidiana assume.

Por sua vez, o Espaço é percebido de forma centrada. Tal como o tempo, é finito, descon-tínuo e heterogéneo: o centro dispõe de qua-lidades que outros pontos não têm e é orga-nizado de forma frequentemente polarizada. Tende a tornar-se num espaço hierarquizado qualitativamente, cujo domínio do código semântico se torna necessário para o seu entendimento. Determinados locais são con-cebidos e perspectivados como centros, com qualidades próprias (deles inseparáveis e não transferíveis), organizando-se o restante espa-ço, de forma qualitativa e hierarquizada, em função destes centros. O reflexo da centração nos estádios términos dos processos, na aná-lise espacial, traduz-se numa noção pouco desenvolvida de movimento dos processos espaciais, gerando a concepção de que o local actual é o local natural (teria que ser aquele). Formam-se, assim, concepções finalistas do espaço, isto é, atribuição de intenções às sequências causais espaciais: as coisas estão onde têm que estar com as características que têm e existem com uma finalidade, que é a sua razão de ser. Consequentemente, muitos espaços não são vistos como um todo com-posto por partes diferentes. Pelo contrário, as partes são vistas como entidades independen-tes agregadas. Um exemplo é proporcionado pelas aldeias Bororo, na América do Sul: uma organização circular é dividida em duas partes, que são consideradas como entidades distintas, com as suas propriedades, faltando a ideia de “aldeia” como um todo.

Naturalmente, o pensamento finalista é uma formulação teórica que não tem correspondência prática plena. A utilização do modelo – como acontece com todos os modelos – deverá ser

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adequada e ponderada, relativamente a cada condição histórica concreta, com a cons-ciência de que o resultado (discurso) será um compromisso da relação estabelecida entre ambos (modelo e situação concreta). As categorizações que estabelece, obviamente, com gradações e especificidades, podem ser consideradas adequadas para a abordagem de estruturas de pensamento pré-modernas e, dentro de um apertado controlo, aplicáveis a contextos espaciais e temporais pré-históri-cos, com o objectivo de contribuir para que se torne possível uma maior reciprocidade na intersubjectividade presente / passado, ou seja, para que o primeiro não esteja demasia-do espelhado no segundo.

3. MAPEANDO O COSMOS. ASPECTOS FINALISTAS NA ABORDAGEM AOS RECINTOS PRÉ-HISTÓRICOS

3.1. Diversidade, vivência e designA construção de recintos, sendo um fenóme-no que se espalha por quase toda a Europa, apresenta uma significativa diversidade for-mal, à qual será espectável que correspon-da uma igualmente significativa diversidade conceptual. Também na própria Península Ibérica essa diversidade é assinalável (Valera e Filipe, 2004), sendo um dos aspectos mais interessantes, a discutir no futuro, o da inclu-são ou não dos recintos murados numa mes-ma categoria genérica dos recintos de fossos. Essa diversidade faz-se sentir nas plantas, na topografia de implantação, na dimensão dos recintos e na sua complexidade, nas dimen-sões das estruturas, nos seus momentos de fundação, na sua temporalidade, na natureza dos contextos que albergam. Como Scarre afirma, este tipo de contextos pode ser muito diversificado e funcionar de formas distintas, sendo, para isso, mais prudente falar de uma ideia de clausura, desenvolvida de formas diferentes, para responder a “necessidades” sociais concretas (Scarre, 2001).Esta diversidade, nomeadamente nas ver-sões mais efémeras destes contextos, tem sido “aproveitada” no âmbito da designada “dwellig perspective”, para sublinhar que a importância destas construções residiria, essencialmente, no acontecimento ou na acti-vidade de construir e usar. O sentido e as qualidades espaciais emergiriam na sequên-cia fenomenológica da construção (Evans, 1988). Estes recintos teriam, assim, uma forma em permanente emergência e nunca acabada. Não haveria uma forma anterior à

construção, a qual é resumida à sua sequên-cia vivencial (num contexto relacional com todos os elementos do mundo) e a emergência do sentido produzir-se-ia na volatilidade da experiência (Ingold, 2000). Esta perspectiva pronuncia-se contra a ideia de design como etapa prévia e separada da vivência desses espaços.Embora se possa facilmente aderir aos fun-damentos da recusa da separação entre o sujeito e o objecto e sublinhar a componente vivencial de toda a representação, não deixo de reconhecer a excessiva vinculação à vola-tilidade existencial a que algumas destas abordagens parecem deixar-se conduzir. Se é certo que sentidos nascem na vivência, não será menos certo que eles tendem a fixar-se. Sem isso nem sequer poderia haver, em últi-ma instância, linguagem, logo, pensamento e conhecimento. Se os sentidos são históricos e se dois indivíduos não podem ter exactamen-te a mesma experiência ou vivência do que quer que seja, essa dinâmica tem ritmos que permitem que se estabeleçam pré-conceitos comungados que orientam e condicionam a acção. A não ser assim, estaríamos perante uma nova forma de renovar a dicotomia entre estrutura e acção, entre social e indivíduo. Se o sentido de uma construção se forma tam-bém no acto da sua construção, não é menos verdade que é igualmente condicionado por significados prévios enraizados na tradição (e genericamente comungados por grupos de pessoas) e por desígnios também enquadra-dos por essa mesma tradição (recordemos o papel que Gadamer confere à tradição, no processo hermenêutico).Whittle (2006) recentemente sublinhou, pre-cisamente, a existência de um conjunto de recorrências em vastas áreas geográficas, nomeadamente, a tendência para a circu-laridade e para formas concêntricas, facto que parece indiciar a existência de ideias partilhadas que participam activamente na conformação das arquitecturas e organiza-ções dos territórios e paisagens. Essa partilha e os condicionalismos que imporia à acção, contudo, não deverá conduzir-nos por uma vez a discursos que não permitam que os par-ticularismos e as especificidades contextuais se evidenciem.

3.2. Cosmografias: possibilidades interpretativas do modelo de estrutura mental finalistaA investigação arqueológica tem vindo a evidenciar a importância das leituras cos-mológicas na forma como as comunidades

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pré-históricas se organizam no espaço e como desenvolvem as suas arquitecturas. A biblio-grafia disponível é hoje muito extensa e, genericamente, sublinha as formas como as cosmovisões se reflectem nos elementos sim-bólicos, na arte, na arquitectura e na organi-zação da paisagem de cada comunidade, ou seja, fala-nos de cosmografias.No que respeita aos recintos da Pré-História Recente, as abordagens cosmológicas, inspi-radas pela fenomenologia, têm sublinhado a inadequação de perspectivar, de forma com-partimentada, as vivências das comunidades pré-históricas, nomeadamente, as separações entre sagrado e profano e entre o humano e o natural: a vida quotidiana, o cosmos, a religião constituiriam uma unidade não separada e não separável. As arquitecturas e as formas de organização do espaço faziam parte dessa unidade e traduziam-na, agindo sobre ela. São apresentados inúmeros exem-plos etnográficos de arquitecturas, de casas a sítios inteiros, em que a construção é toda ela impregnada por cosmologias.Estas organizam o cosmos em zonas de carac-terísticas próprias, com fronteiras delimi-tadas, mas permeáveis. Paul-Lévi e Segaud (1983) sublinham a importância da noção de limite como modo de classificação do espaço e da construção dos seus sentidos. Os dispositivos simbólicos, as representações, necessitam de estabelecer descontinuidade para poderem funcionar. Requerem fron-teiras. Barth insiste, particularmente, em que toda a identificação é simultaneamente diferenciação (Barth, 1999). A organização qualitativa e a hierarquização de espaços estabelecem modos de demarcação, frontei-ras que, contudo, não são linhas estanques ou sempre muito bem definidas, mas espaços intermédios de transição (Appadurai, citado em Silvano, 2001), o que faz com que os ele-mentos espaciais de ligação (ex., entradas) ganhem relevo simbólico.Assim, o espaço cosmológico aparece, fre-quentemente, tripartido, com um mundo superior (associado aos céus, aos astros, aos picos das montanhas e à visão aérea), um mundo intermédio (a superfície da terra) e um mundo inferior (sob a superfície da ter-ra), enquadrados pelos trajectos solar e lunar (Figura 1), com mecanismos de circulação entre eles. Por vezes, surgem etapas, espaços intermédios na ligação entre estes territórios cosmológicos principais. Num quadro fina-lista, esta organização é qualitativa, heterogé-nea e hierarquizada e, na sua representação, actuarão mecanismos de participação, ou

seja, a cosmografia (representação do cos-mos) participa das propriedades do cosmos. Representação e representado apresentam níveis de fusão. O suporte das representações físicas das visões do cosmos é o mesmo que está na base da construção dessas visões: o mundo e a sua vivência. Neste âmbito, a arquitectura e a organização da paisagem surgem como formas de mapear o universo, cujas carac-terísticas e histórias associadas podem ser “lidas”, “lembradas” e “vividas”, uma vez que estão inscritas em suportes físicos específi-cos, tanto do território como da vida animal e vegetal envolvente. A arquitectura e a orga-nização do território podem transformar-se em mapas que representam e participam das qualidades do cosmos e os aspectos físicos particulares de cada paisagem, como a topo-grafia, a hidrografia, ou geologia, surgem como recursos ao serviço dessa organização semântica, expressando, de forma polari-zada, aspectos dicotómicos de cosmologias partilhadas (Figura 2). Mas, numa estrutura cognitiva finalista, estes “mapas” não são simples representações: uma vez que as parti-cularidades físicas escolhidas para expressar dicotomias cosmológicas participam das pro-priedades desses campos cosmológicos, elas são o que representam. Uma montanha não representa simplesmente um mundo supe-rior, ela é o mundo superior ou faz parte dele, podendo o mesmo acontecer com a parte de uma casa ou de uma aldeia.O criticismo relativamente à projecção de dicotomias modernas na investigação de sociedades passadas não deve conduzir à minimização do papel estruturante que o pensamento dicotómico terá desempenha-do nas organizações sociais pré-históricas. Sobretudo, não nos deve levar a perspectivar o pensamento dicotómico como um dualismo simplista.A Antropologia diz-nos que as organiza-ções sociais e cosmológicas estruturadas por dicotomias são, frequentemente, expressas por sistemas dualistas de elementos opostos. Contudo, na sua análise do dualismo, Lévi--Strauss (2003) sublinha que as estruturas dualistas simétricas e recíprocas são extre-mamente raras, questionando mesmo a sua real existência. Distingue duas formas de estruturas dualistas: a estrutura diametral e a concêntrica. A diametral seria expres-sa pela divisão dos elementos em partes aparentemente simétricas e recíprocas. Pelo contrário, nas estruturas concêntricas é reco-

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nhecida uma hierarquia de centro / periferia entre os elementos e a sua relação torna-se assimétrica e menos recíproca. É estabele-cida uma desigualdade entre os elementos opostos, aparentemente ausente na expressão dualista diametral. Por outro lado, a relação recíproca e simétrica tende a gerar uma estrutura diametral fechada, enquanto uma organização concêntrica tende a projectar-se nas periferias, prolongando a hierarquização dos elementos.Contudo, na maioria dos casos, a simetria diametral é apenas aparente (idem). Fre-quentemente, os dois elementos do dualismo representam dicotomias assimétricas, tais

como Identidade / Transformação; Estabili-dade / Mudança; Situação / Processo. Nou-tros casos, uma situação de tríade esconde-se por trás de um aparente dualismo ou surge combinada com estruturas diametrais e con-cêntricas em representações e organizações sociais mais complexas.Assim, deveremos ter presente que maiores níveis de complexidade terão estado subja-centes aos exemplos que seguidamente se apresentarão.

Figura 1

Exemplos de representações cosmológicas. Da esquerda para a direita: cosmologia dos Barasana (Colômbia); Estela de Triora (Alpes Ligures, Itália); cosmologias da Mesoamérica.

Figura 2

Três exemplos de recursos ao serviço das representações cosmográficas: A. Conjugação da linearidade horizontal do percurso Este/Oeste do Sol com a linearidade vertical que se estabelece entre Céu/Superfície da Terra/ Subsolo; B. Utilização dos cursos de água como expressão de dicotomias cosmológicas: eixos estabelecidos pela divisão em margens e eixo estabelecido pela direcção da corrente (montante / jusante); C. Utilização da topografia na expressão de dicotomias cosmológicas (ex., planalto / vale encaixado). Estes diferentes recursos podem surgir conjugados, por exemplo: direcção do curso de água / percurso solar; eixo planalto-vale / percurso solar.

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3.3. Três exemplos concretos em Portugal: os recintos dos Perdigões e Porto Torrão e a rede de povoamento de Fornos de Algodres Serão agora apresentados três exemplos de organização espacial e soluções arquitectóni-cas que podem ser interpretadas no quadro de modelos de representação cosmológica, auxiliando-nos na hermenêutica de alguns recintos e das suas paisagens.Na recente interpretação que formulei sobre os recintos de fossos dos Perdigões, no Sul de Portugal, sublinhei a correspondência com o percurso solar da sua orientação e da geome-tria da sua planta (Valera, 2003, e Valera et. al., no prelo). As simetrias e orientações coin-cidentes com pontos cardiais são reveladoras de intenção e de planeamento e evidenciam a importância das relações de continuidade significante com espaços prévios organiza-dos e codificados. Os dados actualmente disponíveis parecem apontar para aquilo que Criado Boado designa por organização da paisagem megalítica, estruturada a partir de polarizações de luz/trevas, mundo dos vivos / mundo dos mortos, frente /costas, dicotomias essas associadas ao nascer e pôr-do-sol e, portanto, aos pontos cardiais Este e Oeste. Neste sentido, os Perdigões localizam-se na extremidade ocidental do vale do Álamo e da rede de povoamento que este alberga. O sítio está implantado numa depressão, aberta a Este, por onde se tem acesso ao vale. Para Oeste, Sul e Norte, a visibilidade a partir do interior do sítio é restrita aos próprios limites topográficos do sítio. A área definida pelos fossos exteriores corresponde não a um pon-to alto, destacado na paisagem, mas a uma espécie de anfiteatro aberto para o vale. Um ponto marca, claramente, o centro do recinto, a partir do qual a visibilidade é como que direccionada pela topografia para o eixo Este que termina com a elevação de Monsaraz no horizonte, “onde” o Sol nasce, para fazer o seu trajecto sobre o vale e desaparecer mesmo por trás dos limites do recinto (Figura 3).

O ponto central é envolvido por uma sequên-cia de linhas de fossos grosseiramente con-cêntricas, os quais são, por sua vez, integrados por duas linhas de fossos muito próximas, de circularidade perfeita, apenas interrompida a Este para a estruturação semicircular de um espaço de necrópole, com os seus sepulcros orientados para o quadrante Este e, imedia-tamente abaixo, o recinto de menires. As duas portas conhecidas, com uma localização simétrica relativamente ao eixo Oeste-Este, abrem-se igualmente para o vale (Figura 3).

O percurso que se realizaria no acesso a esse recinto traduzia-se num movimento finalista em direcção não a um simples espaço cerca-do, mas em direcção a um centro, detentor de qualidades a partir das quais se organizaria e hierarquizaria o restante território. Con-jugam-se, aqui, os dois modos primários de residência (“dwelling”) definidos por Casey (1993): o “Hestial dwelling” (nome inspirado na deusa grega do coração, Hestia), e que aponta para a centralidade, para a circu-laridade e para o auto-encerramento; e o “Hermetic dwelling” (inspirado no deus dos caminhos e do movimento, Hermes), que tra-duz o movimento e a linearidade na vivência residencial. Estes duas experiências conju-gam-se na vivência de um espaço residêncial e podem expressar-se na forma como este é arquitectado e organizado. Quer a organização espacial do recinto, quer a forma como se articula e integra na paisa-gem do Vale do Álamo sugerem uma orga-nização marcada por preceitos relativos à forma como estas comunidades entendiam o mundo (e que exemplifica a situação A da Figura 2). A própria organização e desenho do sítio pode traduzir o mapeamento de uma determinada organização cosmológica, de espaços hierarquizados em função de um ponto central. Poderemos mesmo questionar se a planta horizontal não expressa a “estra-tigrafia” vertical em que se pode organizar determinada cosmologia (note-se que muitas representações da cosmologia tripartida são feitas graficamente através de representações circulares). Por outro lado, a própria contingência da geologia local (Figura 4), com a sua organi-zação concêntrica, pode sustentar homologias cosmológicas semelhantes.

O recinto é escavado na área geologicamente favorável (Dioritos e Gabros associados muito alterados, fáceis de escavar), mas escolhe um ponto descentrado relativamente a essa man-cha, revelando o interesse pela morfologia e enquadramento específico daquele ponto, face ao vale e à elevação de Monsaraz. Num quadro de centração nos estados términos de processos, esta configuração geológica pode-ria ser dotada de finalismo, com sentidos e intencionalidades bem estabelecidas e a coin-cidência de centralidades (recinto e mancha de rocha que permite a sua construção) ser motivo de reforço da organização cosmológi-ca do território local.A informação empírica necessária ao deba-te destas hipóteses interpretativas é ainda

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Figura 3

Vista aérea do recinto dos Perdigões (com indicação de áreas específicas e orientações) e sua localização no contexto da ribeira do Vale do Álamo (pontos pequenos negros correspondem a monumentos megalíticos; os restantes a povoados).

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escassa, uma vez que as áreas intervenciona-das arqueologicamente continuam residuais, com repercussões no desconhecimento da natureza ocupacional de grande parte dos espaços, da temporalidade do sítio e da sua dinâmica construtiva (aspectos centrais para a sua interpretação). Mas estas possibilida-des de sentido, sem inviabilizarem outras de natureza mais funcionalista, constituem, a meu ver, indiscutivelmente, um enriqueci-mento do questionário de abordagem arqueo-lógica a este contexto.

Outras possíveis formas de estruturação sig-nificante podem recorrer a outros aspectos da paisagem. No Porto Torrão (Beja, Potugal), a área do sítio arqueológico é atravessada, sen-sivelmente a meio da sua área estimada, pela ribeira de Vale do Ouro, com uma orientação Este-Oeste que é também a do sentido da cor-rente. Sabemos da existência de, pelo menos, dois recintos. Embora não se tenha ainda obtido a sua planta, é, contudo, provável que esses recintos sejam atravessados pela ribeira, à imagem do que acontece no recinto da Pijo-tilla, na Extremadura espanhola (Figura 5).

Estes casos exemplificam a situação B da Figura 2, apresentando situações onde a com-partimentação e a linearidade criada por um curso de água pode ser utilizada na organi-zação do espaço, com potenciais homologias cosmológicas.

Um terceiro exemplo que pode documentar a situação C, expressa na Figura 1, é a estru-turação do povoamento na área de Fornos de Algodres (Portugal Central), que tenho vindo a trabalhar nas duas últimas décadas (Valera, 2006). Aí, a paisagem apresenta um carácter morfológico dual, composto por uma área aplanada na metade oeste e por dois vales sucessivos, profundamente encaixados a Este (Figura 6).

Numa estrutura mental finalista, a organi-zação do espaço, mesmo que dotada de certa historicidade, é regulada por fixações em estádios términos de processos e por movi-mentos de próximo em próximo. As sugesti-vas unidades espaciais locais (área aplanada e vales encaixados) não seriam lidas como resultantes de um processo dinâmico con-tínuo, antes traduziriam níveis de centra-ção que dotariam essas unidades espaciais (associadas ou não a nomes) de qualidades que estariam na base de hierarquizações espaciais que estruturariam a organização

Figura 4

Contexto geológico de implantação do recinto dos Perdigões. A organização concêntrica da geologia e a coincidência da centralidade das rochas brandas, fáceis de escavar, permite pensar que esta organização natural poderia suportar homologias cosmológicas associadas às do recinto.

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das comunidades naquele espaço. Do lado poente, o planalto, com as suas necrópoles megalíticas herdadas do milénio anterior e comprovadamente activas funcional e simbo-licamente; do outro lado (nascente), os vales de Cortiçô e da Muxagata, com os férteis solos de aluvião. A dividir esta dualidade espacial, uma linha perpendicular de comu-nicação entre duas unidades morfológicas de outra escala (a Plataforma do Mondego e os Planaltos Centrais). É ao longo dessa via de trânsito, que segue a linha de festo que liga planalto e vales de fractura, que os contextos residenciais e cerimoniais do 3.º milénio se vão implantar, evidenciando que a estrutura de implantação dos sítios se conjuga com o eixo central de mobilidade, no reforçar e no sublinhar desta dualidade da paisagem local.

Nesta área, a conjugação da morfologia do terreno com a implantação dos sítios e a eventual cosmologia subjacente a uma valo-rização dualista da paisagem terão gerado, ao longo do 3.º milénio, um eixo de circulação privilegiado na construção deste espaço de tradição local. É plausível que uma estrutu-

ração mental do espaço deste tipo tenha sido dotada de intenções finalistas. Independen-temente da sua configuração e propriedades reconhecidas poderem ser explicadas atra-vés de mitos ou lendas que lhes garantam alguns níveis de historicidade cíclica, é pro-vável que tenham sido perspectivadas como o resultado de intenções e que o seu estado final fosse perspectivado de forma absolu-ta, como o estado natural que não admite outras possibilidades. A configuração dos rasgados vales que terminam abruptamente uma área mais plana e elevada estariam do lado em que, naturalmente, teriam que estar, apresentariam as qualidades e os sentidos que, naturalmente, teriam que ter. Essa sua essência espelharia ou constituir-se-ia como uma “cosmologia local” que exprimiria uma “cosmologia global”.

4. NOTAS FINAISSem dúvida que a passagem de uma situação de fluidez (que assumimos como hipótese para o povoamento neolítico inicial) a uma condição mais sedentária, com a correspon-dente contracção de territórios e de consti-tuição de fronteiras mais bem demarcadas, resulta num relacionamento com o território que implica maiores investimentos e cria maiores dependências, tendo implicações a níveis mentais. Como se sublinhou atrás,

Figura 5

Projecção hipotética dos dois fossos conhecidos do Porto Torrão, salientando a possibilidade de serem cortados a meio pela ribeira de curso Este-Oeste. No canto inferior esquerdo, o exemplo de La Pijotilla (Extremadura, Espanha).

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os contextos culturais têm interferência nos processos cognitivos. A intervenção, cada vez mais “domesticadora”, do homem na paisa-gem permite que vão germinando formas de pensamento que perspectivam o espaço como algo progressivamente mais aberto à intenção transformadora humana. Por outro lado, o desenvolvimento do “movimento cultural” megalítico gera novas imagens de tempo associadas à tradição e à memória social (Criado Boado, 2000; Bradley, 2004), as quais implicam mudanças nos padrões de raciona-lização e experimentação do espaço.

Este processo é, em grande medida, o abrir da porta à futura separação que o Homem vai estabelecer entre humano e natural e à redefinição das suas relações. O controlo do natural selvagem (ainda que não totalmente conceptualizado como tal), com as represen-

tações e conceptualizações que isso implica, tem repercussões cognitivas sobre a própria forma de processamento da categoria de espaço. Todavia, se as primeiras práticas de actividades produtivas e as primeiras arqui-tecturas duradouras se fazem acompanhar, de forma articulada, de alterações nas capa-cidades de processar mentalmente o espaço; se essa tendência se aprofundará com as dinâmicas produtivas, construtivas e tecnoló-gicas do processo de calcolitização; nada nos permite pensar que, no quadro de sociedades com que lidamos, essas “pequenas” transfor-mações mentais, esse maior controlo da natu-reza, se excluam a uma visão essencialmente qualitativa de um espaço hierarquicamente organizado de tipo finalista.

Figura 6

Estrutura do povoamento na área de Fornos de Algodres (Portugal Central). Do lado Oeste, a área planáltica, onde se localizam as necrópoles megalíticas; do lado Este, os vales férteis e encaixados; distribuição do povoamento ao longo da linha de junção destas duas unidades geomorfológicas (que é um trajecto tradicional de circulação Norte / Sul entre as bacias dos rios Douro e Mondego – marcado pela linha), sublinhando o carácter dualista da paisagem e sustentando a possibilidade de homologias entre organização dessa paisagem e referências cosmológicas.

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Assim, assume-se a viabilidade da interpre-tação de alguns destes contextos como locais ao serviço da gestão identitária, funcionando como pólos de agregação e coesão social num dado território. Participando activamente na construção de paisagens e nos processos de identificação, estes contextos são entendi-dos como particulares que estabelecem uma relação de homologia com as organizações cosmológicas que orientavam a existência colectiva e individual destas comunidades e como formas de elas próprias, através de processos psicológicos de participação, se relacionarem com o seu universo idealizado e de o controlarem. A validade da vinculação cosmológica na organização do espaço esten-de-se mesmo ao tratamento das paisagens e à forma como espaços de sentido nelas se organizam e hierarquizam.

Esta viabilidade interpretativa é reforçada no contexto de estruturas mentais finalistas, onde os processos mentais de participação actuam de forma acentuada. Se aspectos duradouros da cultura material (no seu sen-tido lato) podem participar das qualidades de determinada comunidade, eles transfor-mam-se em parte integrante dessa comuni-dade, ou seja, assumem um sentido totémico. Desta forma, elementos fixos seleccionados na paisagem, elementos construídos, ou a conjugação dos dois podem assumir esse carácter participativo, onde não só represen-tam simbolicamente o cosmos ou a comuni-dade, mas participam das suas qualidades, correspondendo à sua materialização, através da qual podem ser simbolicamente controla-das e reproduzidas. No Senhor dos Anéis de Tolkien, a cidade branca de Gondor é mais

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que uma representação dos humanos, é a sua personificação. A destruição da Bastilha, para muitos, mais que um acto simbólico, foi a destruição de um mal concreto, de cujas qualidades o edifício partilhava. O pensa-mento participativo tende a diluir a parte no todo e é uma das bases em que assentam as homologias entre todo e parte.

Este fenómeno acentua-se quando, na paisa-gem, emerge o território, ou seja, quando se projecta qualquer tipo de direito privilegiado sobre ela. O território gera e é gerado simul-taneamente por sentimentos de pertença e de posse (Muir, 1997), os quais, em esquemas finalistas, dão origem a processos mentais de participação e transferências de qualidades. Muir sublinha, precisamente, a importância dos trabalhos de psicogenética de Piaget para a compreensão da importância do território na gestão dos processos identitários.

Esta possibilidade extensível da participação das qualidades de um dado lugar opera na categoria de espaço, mas também no tempo, e é outro factor que estimula o prolongamento simbólico de certos lugares, para além dos seus momentos de desactivação funcional. Assim, a arquitectura dos recintos, como a dos sepulcros megalíticos, não se limita a reflectir e a comunicar a organização social e cosmológica, mas também participa na sua produção e reprodução. Dado o carác-ter impressivo que pode ter na paisagem e, sobretudo, tendo em conta os níveis de perenidade de que se podem revestir, teriam tido um elevado potencial de armazenagem de informação e de comunicação à distância (tanto espacial, como temporal), com reflexos nos mecanismos cognitivos de processamen-to da categoria de espaço.

A estrutura mental finalista apresenta as características cognitivas que possibilitam o progressivo controlo simbólico do cos-mos através da arquitectura humana e das homologias que lhe são associadas. Percorrer quotidianamente ou num ritual periódico um destes “mapas do cosmos” é percorrer o próprio cosmos e os seus mundos compar-timentados. Os fenómenos de participação permitem o controlo do representado através do controlo do representante. Neste contexto interpretativo, muitos recintos e as paisa-gens em que se integram ganham outras possibilidades interpretativas, que, contudo, não creio poderem ser extensíveis a todos, num novo movimento de generalização inter-

pretativa. Por outro lado, e no contexto de debate actual, podem muitos destes contextos ser considerados povoados? Porque não? As casas dos Barasana não deixam de ser casas, por representarem, na sua arquitectura, as cosmologias desta comunidade. Há apenas que libertar a área residencial do espartilho estritamente funcionalista em que tem sido mantida.

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