Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária com 3º CEB de Anadia Vida de Manuela Profissional de RVC: Salomé Ramos Formador CE: Alice Costa Formador LC: Alice Costa Formador MV: Lídia Rosa Formador TIC: Dulce Sampaio Manuela Batista Novembro, 2012 Índice
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Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária com 3º CEB de
Anadia
Vida de Manuela
Profissional de RVC: Salomé Ramos
Formador CE: Alice Costa
Formador LC: Alice Costa
Formador MV: Lídia Rosa
Formador TIC: Dulce Sampaio
Manuela Batista
Novembro, 2012
Índice
Entrevista a Manuela
Pág. 3
37
Autobiografia Pág.
4
Conclusão
Pág. 23
Anexo
Pág.25
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Entrevista a Manuela…
Nome Completo: Maria Manuela Neves Conceição Batista
Data de nascimento: 19 de maio de 1944, em plena II guerra mundial e ano em que foi
inaugurado em Portugal o estádio nacional do Jamor.
Descrição física: Pessoa normal, um pouco gordinha.
Descrição Psicológica: Demasiado pensativa e nunca satisfeita com o que sou.
Família: Marido, filhos, nora e duas netinhas
Escolaridade: 4-ª classe
Profissões: Agricultora, domestica, auxiliar de cozinha, telefonista
Tempos livres: Faço rendas, arraiolos, vejo televisão e sou mensageira da paz
Música: Gosto de música popular, de igreja e fado
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Autobiografia
Se for a lembrar vivências desde os meus primeiros anos, não haverá folhas que
consigam levar tudo, mas em poucas palavras posso dizer… tenho más recordações, mas
também tenho recordações muito boas.
Nasci numa aldeia em que as pessoas viviam apenas do trabalho no campo. Uns com
mais posses, que eram os grandes agricultores, e outros que não tinham nada e passavam
muitas necessidades. Nasci numa família pobre, composta pelos meus pais e por duas irmãs
mais velhas. Eram muitas as dificuldades sentidas pela minha família, até em alimentação.
Apesar disto lá se vivia, mas hoje nem sei como seria.
Naquela época, as brincadeiras eram na rua, pois as casas não tinham condições e,
imaginem, que nem sequer havia eletricidade e água canalizada. Como não se compravam
brinquedos, as brincadeiras eram feitas por imaginação nossa, com pinhões, pedrinhas, ...... .
Também fazíamos bonecas de trapos, e estas eram tão lindas, que as conservo na minha
memória.
Recordo com alegria o dia em que entrei para a escola e o dia em que fiz a primeira
comunhão. Também recordo o dia em que chegou a eletricidade à nossa terra, parecia que
estávamos a viver num paraíso!
Os dias foram passando e os anos também até que terminei a escola primária e
comecei a trabalhar. Eu gostava de ter ido estudar, mas os meus pais não tinham
possibilidades, uma vez que, para isso, tinha que ficar internada num colégio, pois não havia
Ilustração 1: Trabalho no campo
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transportes e as distâncias não pareciam as de hoje. Hoje é tudo muito mais fácil, embora
pareça que não.
Fiquei a trabalhar no campo, em que era tudo feito com muito esforço, pois os
trabalhos eram feitos à mão ou com a ajuda de bois e vacas. Não havia máquinas no trabalho
do campo, era andar com a charrua, com a enxada ou com a foice, com o pulverizador às
costas para tratar as videiras. Todos os dias de sol a sol. Algumas pessoas que lerem estas
palavras podem até nem acreditar ou imaginar como era a vida antigamente, a realidade da
época.
O tempo não parou e os anos passaram e eu, já mulher, fui convidada para ir para
Espanha para servir em casa do Cônsul de Portugal em Madrid. Eu entusiasmei-me porque
eram pessoas conhecidas e importantes da sociedade. Embora eu já tivesse 23 anos, os meus
pais tiveram que dar autorização aos senhores. Os meus pais concordaram e eu fiquei muito
contente pois ia conhecer coisas novas e também ia ganhar 2000$00 por mês, o que já era um
grande ordenado para a época. Do dinheiro que eu ganhava, tinha que dar 500$00 aos meus
pais, uma vez que esta tinha sido uma exigência deles, para ajudar em casa.
Lá fui e cheguei a pensar que ia ficar rica. Gostei muito desta experiência e de estar
com aquelas pessoas, que eram pessoas muito civilizadas, com quem eu aprendi muitas coisas:
desde aprender a cozinhar e a servir pratos requintados, a cuidar da casa, a tratar de crianças,
uma vez que o casal tinha duas filhas ainda pequenas. Para além destas coisas, também
aprendi a ter outras maneiras e modos de comportamento, que me têm sido muito úteis ao
longo da minha vida. Este período durou apenas três anos. Apesar de ter sido uma experiência
muito rica, decidi não ir com a família do cônsul quando este foi transferido para outro país,
porque já namorava com o meu marido e vim outra vez para Avelãs de Cima.
Ilustração 2: Trabalho no campo
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De novo a viver com os meus pais, já não quis trabalhar na terra e arranjei um
emprego de telefonista numa fábrica nova. Fui colocada a trabalhar numa central de telefones,
que apesar de moderna para a época, ainda funcionava em P. B. X., isto é, funcionava tudo
com sistema de “cavilhas” quer para receber e fazer telefonemas, quer para passar as
chamadas para qualquer secção. Para enviar um telegrama para o estrangeiro, tínhamos que
comunicar a uma central e dizer letra por letra tudo o que se pretendia comunicar. Muitos
devem desconhecer tudo isto, mas foi a minha época, antes da revolução do 25 de abril.
Depois resolvemos casar e emigrar para a Venezuela, onde o meu marido já estava há
alguns anos.
Nessa época, emigrar para Venezuela não era fácil, mas como ele já lá tinha estado,
decidimos aventurar-nos e começar a vida neste país. Passados alguns anos fiquei grávida e
nasceu o meu primeiro bebé. Foi um dia muito feliz, o dia em que começava a primavera. Tudo
foi felicidade. Passados 17 meses nascia o meu segundo filhinho. Sentia-me tão feliz, pois eram
dois bebés amorosos. Apesar das dificuldades que era viver longe da família e da nossa terra,
eu e o meu marido de tudo fizemos para dar aos nossos filhos o que não tinhamos tido.
Os professores que isto estão a ler devem estar a pensar “esta até chateia”, mas como
me disseram que era para falar das nossas vivências, eu cá vou continuando a relatá-las.
Enfim, trabalhamos com muitos altos e baixos, com rosas e com espinhos também. Os
meus filhos foram crescendo, até que chegaram à idade de entrar na escola. Decidimos colocá-
los num colégio católico, administrado por bispos e sacerdotes, chamado “Colégio Cristo Rey”.
Quando o mais velho fez a 4ª classe, eu queria que eles viessem estudar em Portugal,
porque pensávamos um dia regressar todos. Como o meu marido também é de Avelãs de
Cima, decidimos fazer a nossa casa. Compramos um terreno na nossa terra e construímos a
nossa casa, da qual eu gosto muito e onde me sinto muito bem. Eu vim para Portugal, ao fim
de 14 anos, com os filhos, mas o meu marido manteve-se na Venezuela.
Ilustração 3: Fotografia de um P.B.X
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Na Venezuela sentia muitos problemas com o clima. A temperatura não tinha
alterações ao longo do ano, estava sempre calor, não era preciso muita roupa, mas o calor,
para mim, era insuportável de aguentar. Onde vivíamos, em Cidade de Bolivar, a temperatura
mantinha-se sempre entre os 38º e os 42 º graus de temperatura. Os costumes alimentares
eram muito diferentes dos nossos, mas de vez em quando lá se juntavam alguns portugueses
em nossa casa e fazíamos uns pratos típicos da nossa terra. Na Venezuela, a alimentação local
era feita à base de feijão preto e arroz que era feito de várias maneiras. Alguns dos pratos
típicos da Venezuela são arepas e hayacas. As hayacas são típicas do Natal e são feitas com
carnes variadas, enroladas farinha de milho pré-cozida. Este preparado è enrolado em carpela
de milho ou em folha de bananeira.
Apesar de gostar de muitos pratos que não são os mais indicados à saúde, no meu dia-
a-dia, procuro ter alguns cuidados, como por exemplo, fazer sempre sopa de legumes, e de
prato principal, carnes ou peixes grelhados ou simples estufados, sempre com legumes a
acompanhar. Depois há sempre uma peça de fruta para terminar e não falta o café.
A saúde é um bem que devemos preservar, cuidar e tudo fazer para a manter o melhor
possível. Não compete apenas às entidades competentes, mas antes a cada um de nós,
contribuir para que possa ser mantido um bom estado de saúde.
Muito se ouve dizer que a saúde começa na alimentação! Eu e a minha família
valorizamos uma alimentação rica e equilibrada em nutrientes, acompanhada de algum
exercício físico regular e bons cuidados básicos de higiene corporal e habitacional. Como na
minha habitação, tenho um quintal com um pomar diversificado, de lá retiro, através de uma
agricultura biológica que pratico, vegetais e legumes como a batata, couves diversas,