COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR CENTRAL DE CURATIVOS MANUAL DE CURATIVOS Elaboração: Drª. Flávia Valério de Lima Gomes – Enfermeira da SCIH / CCIH Drª. Mônica Ribeiro Costa – Infectologista SCIH / CCIH Drª. Luciana Augusta A. Mariano – Enfermeira da SCIH / CCIH 3ª Revisão: Agosto de 2005
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COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
CENTRAL DE CURATIVOS
MANUAL DE CURATIVOS
Elaboração: Drª. Flávia Valério de Lima Gomes – Enfermeira da SCIH / CCIH
Drª. Mônica Ribeiro Costa – Infectologista SCIH / CCIH
Drª. Luciana Augusta A. Mariano – Enfermeira da SCIH / CCIH
3ª Revisão: Agosto de 2005
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AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DE FERIDAS
MANUAL DE CURATIVOS
Cuidar de feridas sempre pareceu ser muito simples. Tão simples que
dificilmente era prioridade no tratamento do paciente. Qualquer pessoa
podia fazer o curativo e utilizar o que tinha disponível. Não se dava a
devida importância à técnica e a outros fatores associados.
Hoje sabemos que vários fatores interferem no processo de cicatrização
e que o mercado dispões de uma variedade de produtos que podem ser
utilizados com sucesso tanto na prevenção quanto no tratamento de
feridas.
Contudo, sabemos que para o cuidado de pacientes com feridas, é
necessária a atuação de uma equipe multidisciplinar a fim de que as
ações terapêuticas possam ser integradas.
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SUMÁRIO
Capítulo I: Princípios Básicos para Avaliação e Intervenções no Tratamento de Feridas .. 05
I. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 05
II. CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS ......................................................................... 05
01. Classificação Quanto às Causas .......................................................................... 05
02. Classificação quanto ao Conteúdo Microbiano ................................................... 06
03. Classificação quanto ao Tipo de Cicatrização ..................................................... 06
04. Classificação quanto ao Grau de Abertura .......................................................... 07
05. Classificação quanto ao Tempo de Duração ....................................................... 07
III. CONCEITO DE CICATRIZAÇÃO .......................................................................... 07
01. Fases do Processo de Cicatrização ...................................................................... 07
02. Fatores que Afetam a Cicatrização ...................................................................... 08
IV. FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO ............................................................. 09
V. PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA AVALIAÇÃO DE FERIDAS ............................... 10
necessário), luva estéril, colagenase se houver tecido desvitalizado ou necrosado, lâmina de
bisturi, se necessário desbridamento.
Procedimentos:
1. Lavar as mãos com água e sabão;
2. Reunir o material e leva-lo próximo ao paciente;
3. Explicar ao paciente o que será feito;
4. Fechar a porta para privacidade do paciente;
5. Colocar o paciente em posição adequada, expondo apenas a área a ser tratada;
6. Abrir o pacote de curativo com técnica asséptica;
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7. Colocar gaze em quantidade suficiente sobre o campo estéril, abrir todo o material a ser
utilizado no curativo;
9. Colocar gazes, compressas ou lençol próximos à ferida para reter a solução drenada;
10. Calçar luvas;
11. Remover o curativo anterior com uma das pinças usando soro fisiológico 0,9%;
12. Com a mesma pinça, pegar uma gaze e umedecê-la com soro fisiológico;
13. Começar a limpar a ferida da parte menos contaminada para a mais contaminada, ou seja,
neste momento limpar ao redor da ferida;
14. Limpar a ferida com gaze embebida com soro fisiológico;
15. Se necessário, remover os resíduos da fibrina ou tecidos desvitalizados (necrosados)
utilizando debridamento com instrumento de corte, remoção mecânica com gaze embebecida
em SF 0,9%, com o cuidado de executar o procedimento com movimentos leves e lentos para
não prejudicar o processo cicatricial ver técnica de debridamento; também poderá ser
utilizado o debridamento enzimático;
16. Embeber a gaze com pomada desbridante atingindo toda a área com tecido desvitalizado;
17. Ocluir a ferida com gaze estéril e coxim, se ferida muito exsudativa utilizar compressa;
18. Colocar o setor em ordem;
19. Lavar as mãos;
20. Fazer evolução da ferida e anotações de materiais na papeleta do paciente.
Lembre-se: Para curativos contaminados com muita secreção, especialmente tratando-se de
membros inferiores ou superiores, colocar uma bacia sob a área a ser tratada, lavando-a com
SF 0,9%.
1.6. Curativos de Feridas com Fistula ou Deiscência de Paredes:
• Feridas com Fistula ou Deiscência de Paredes: Quando ocorre uma fistula ou
deiscência de parede ou túnel torna-se difícil a realização de limpeza no interior da ferida
proporcionando um ambiente ideal para a colonização de patógenos. O ideal é realizar a
limpeza da ferida em todo o seu interior com jatos de solução fisiológica.
Material: Pacote de curativo com 02 pinças e gaze, cuba pequena estéril, cuba rim, sonda
uretral nº 8 e 12, seringa de 20ml, SF 0,9%, ácido graxo essencial se a ferida não estiver
contaminada: luva estéril.
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Procedimentos:
1. Lavar as mãos com água e sabão;
2. Reunir o material, e levá-lo próximo ao paciente;
3. Explicar ao paciente o que será feito;
4. Fechar a porta para privacidade do paciente;
5.Colocar o, paciente em posição adequado expondo apenas a área a ser tratada;
6. Abrir todo o material com técnica asséptica sobre o campo estéril;
7. Colocar SF% na cuba;
8. Colocar luva estéril;
9. Conectar sonda a seringa, aspirar o SF% e introduzir no orifício da ferida;
10. Aspirar novamente e desprezar na cuba rim;
11. Repetir o procedimento até que a secreção aspirada saia limpa;
12. Secar as bordas da ferida;
13. Se não estiver contaminado aplicar ácidos graxos essenciais;
14. Ocluir a ferida com coxim ou compressa quando necessário;
15. Colocar o setor em ordem;
16. Lavar as mãos;
17. Fazer evolução da ferida e anotações de materiais na papeleta do paciente;
02. Técnica de Desbridamento:
• Desbridamento: O desbridamento envolve a remoção de tecido necrótico para permitir a
regeneração do tecido saudável subjacente. Na ferida infectada deve ser realizado um
desbridamento seletivo de tecido necrótico minimizando danos ao tecido de granulação mais
saudável. As feridas podem ser debridadas mecanicamente, quimicamente ou por uma
combinação das duas técnicas dependendo do tipo de lesão.
Material: Bandeja contendo pacote de curativo (02 pinças), cabo de bisturi, uma cuba
pequena, lâmina de bisturi e soro fisiológico;
Procedimentos:
1. Lavar as mãos com água e sabão;
2. Reunir o material, e levá-lo próximo ao paciente;
3. Explicar ao paciente o que será feito;
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4. Fechar a porta para privacidade do paciente;
5.Colocar o paciente em exposição adequado expondo apenas a área a ser tratada;
6. Abrir o pacote com técnica asséptica;
7. Colocar sobre o campo estéril, gaze em quantidade suficiente, a lâmina de bisturi (com
cabo de preferência);
8. Colocar gazes, compressas ou lençol próximos à ferida para reter a solução drenada;
9. Calçar luvas;
10. Remover o curativo anterior com uma das pinças usando Soro fisiológico 0,9%;
11. Com a mesma pinça, pegar uma gaze e umedece-la com soro fisiológico;
12. Começar a lavar a ferida da parte menos contaminada para a mais contaminada;
13. Lavar o leito da ferida com grande quantidade de soro fisiológico 0,9%, através de
pequenos jatos com a seringa e agulha (a seringa com a agulha poderá ser substituída, se não
tiver, fazer um pequeno corte na abertura do frasco de SF % o invés de abri-lo totalmente, ou
colocando a seringa diretamente no frasco);
14. Iniciar o debridamento da área desvitalizada pela borda, com auxilio da outra pinça,
fazendo cortes superficiais ao redor do tecido desvitalizado. O debridamento deve ser
interrompido na presença de vascularização (sangramento é sinal de tecido vivo ou reação de
sensibilidade à dor);
15. Limpar o local com SF 0,9% com auxilio da mesma pinça;
16. Embeber a gaze com pomada desbridante quando a ferida apresentar pouca quantidade de
exsudato, espalhado por toda a área que ainda apresentar necrose ou fibrina residual;
17. Ocluir a ferida ou gaze estéril e coxim, se a ferida for muito exsudativa utilizar compressa
e fixar com esparadrapo ou atadura quando necessário;
18. Colocar o setor em ordem;
19. Lavar as mãos;
20. Fazer evolução da ferida e anotações de materiais na papeleta do paciente.
03. Técnica de Coleta do Material:
Não recomendamos a coleta de material superficial das feridas, pois como orienta o
Manual de Coleta de Microbiológicas da Santa Casa * , o swab de úlceras ou feridas não é
amostra mais adequada para recuperar o agente responsável pela infecção.
Os agentes responsáveis pelo processo infeccioso não estão nas secreções superficiais
que podem conter microrganismos que apenas colonizam as feridas. Os microrganismos de
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importância para o processo infeccioso estão nos tecido hiperemiados e edemaciados, porém
não desvitalizados. Portanto, antes da coleta as lesões devem ser limpas com soro fisiológico
e o material preferencialmente obtido por punção ou biópsia.
Os resultados obtidos por meio de cultura de líquidos, através da aspiração de secreção
da área mais profunda da lesão ou biopsia (retirada de um pequeno pedaço de tecido), são
considerados como mais fidedignas, uma vez que culturas de Swab proporcionam resultados
com crescimento apenas da flora superficial que pode não ser a fonte infectante.
A indicação da coleta de material para cultura deve obedecer alguns critérios:
• Ferida Operatória: com presença de sinais inflamatórios como edema, hiperemia e calor
local ou secreção com ou sem sinais sistêmicos (febre).
• Úlceras: Não recomendamos a coleta de rotina de material para cultura exceto em
pacientes com febre e sem outro foco aparente de infecção, ou com presença evidente de
secreção sem resposta ao tratamento local (curativo). A coleta de material para cultura
também poderá ser recomendada pelo SCIH para fins de vigilância de patógenos resistentes,
em rotinas a serem estabelecidas.
A coleta inadequada do material além de dificultar a interpretação, gera custos
desnecessários para processamento dos exames e induz o uso desnecessário de
antimicrobianos.
* O Manual de Coleta Microbiológica foi elaborado por profissionais do Laboratório de Análises Clínicas e
Aprovado pela CCIH em 2004.
3.1. Aspiração:
Material: Todo material para curativo mais uma seringa de 10ml e agulhas 40�12.
Procedimentos:
1. Proceder a limpeza mais solução fisiológica;
2. Coletar material utilizando seringa com agulha;
3. Identificar a amostra e encaminhar ao laboratório.
Quando não for possível a realização da técnica de aspiração, realizar a coleta com Swab.
3.2. Swab:
Material: Todo material para curativo mais um Swab com meio de cultura.
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Procedimentos:
1. Limpar minuciosamente a ferida com soro fisiológico;
2. Gire suavemente o Swab no interior da ferida e depois bordas da ferida.
3. Coloque o Swab em meio de cultura, identifique-o e encaminhe ao Laboratório
04. Uso de Antimicrobianos para o Tratamento das Feridas:
O tratamento das Úlceras infectadas deve ser primeiramente local com utilização
adequada dos curativos e acompanhamento dos casos.
O uso de antimicrobianos sistêmicos deve ser reservado para os casos em que houver
comprometimento local além das bordas, com hiperemia e calor local evidente (celulite) ou
repercussão sistêmica (p. ex. febre) sem outro foco evidente.
O uso indiscriminado de antimicrobianos pode causar seleção de patógenos resistentes
sem benefício para o paciente.
III. PRODUTOS PADRONIZADOS PARA CURATIVOS
PRODUTO TIPO DE FERIDA INDICAÇÃO
Soro fisiológico 0,9% Todos os tipos de ferida Limpeza da ferida, mantém a umidade.
Álcool a 70%
Sistema de drenos fechados, cateter venoso central e coto umbilical.
Promover anti-sepsia da ferida, remover a flora bacteriana local, diminuindo assim colonização por bactérias.
TCM (dersani)
Ferida em fase de granulação sem infecção.
Protege, hidrata o leito da ferida, restaura a pele na formação de tecido de granulação.
Pomada Desbridante.
Colagenase - mono
Feridas com crostas, tecido necrosado, fibrina, pouco exsudato
Promove a retirada do tecido necrótico superficial por ação enzimática sem afetar o colágeno de tecido sadio ou de granulação.
Alginato de Cálcio
Feridas moderadamente exsudativas.
Absorve o excesso de exsudato, estimula a agregação plaquetária, promove desbridamento, mantém a umidade e, tem
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ação bacteriostática podendo ser trocado a cada dois dias.
Carvão Ativado
Feridas com grande quantidade de exsudato e odor fétido.
Tem ação de absorção bactericida e desodorizante pode permanecer até 07 dias.
IV. PRODUTOS CONTRA INDICADOS PARA CURATIVOS
PRODUTO EFEITO NA FERIDA CONTRA INDICAÇÃO
Açúcar É esfoliante lesando o produto de granulação.
É considerada fonte de infecção, atrai pragas (formigas e insetos), exige várias trocas.
Permaganato de potássio (kmno4)
Resseca os tecidos - Impossibilita que o leito da ferida se torne úmido.
Povidine (PVPI)
Citotóxico para feridas, destrói os fibroblastos
Pode causar dermatites - Existem relatos de absorção pela mucosa e lesões, podendo levar tardiamente a uma tireoidite a até mesmo insuficiência renal se usado por tempo prolongado.
Antibiótico tópico Seleção de flora bacteriana no local da lesão, prejudicando a cicatrização.
Predispõe a hipersensibilidade ao antibiótico e dermatites.
Corticóides
Desfavorece o processo inflamatório por ação antiinflamatória retardando o crescimento tecidual
Retarda o processo de cicatrização.
Éter/benzina
Ação irritante, resfria o tecido perilesão, desidrata o mesmo.
Retarda o processo de cicatrização e promove ressecamento do tecido perilesão.
Violeta genciana
É citotoxica para os fibroblastos e dificulta a granulação normal
Promove ressecamento da lesão, pode provocar machas na pele.
Lidocaína gel Não promove efeito anestésico comprovado.
Inibe a ação de outros produtos que serão usados nas feridas ex: pomada desbridante
Vaselina Causa impermeabilização da pele
Dificulta a ação de outros produtos, não tem como garantir qualidade de esterilização o que pode promover colonização por microrganismos.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
01. APON, S; Análise e Críticas dos Modelos Propostos para Avaliação de Feridas. In:
Simpósio – “Avanços e Controvérsias no Cuidado com a Pele no Contexto da
Infecção Hospitalar”. APECIH – Associação Paulista De Estudos e Controle de
Infecção Hospitalar, 2001.
02. BACHION, M. M; NAKATANI, A. Y.K; Tratamento de Feridas. Universidade Federal
de Goiás, Faculdade de Enfermagem, Texto de Apoio Didático.
03. CCIH / HC – Unicamp: Normas para Utilização de Anti-Sépticos. Universidade
Estadual de Campinas, Hospital das Clínicas, 2000.
04. DALEY, C. Cuidando de Feridas. Atheneu, São Paulo, 1996.