VEÍCULOS DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 2006 CLASSIFICADOS 2.420 OFERTAS PARA ANUNCIAR LIGUE (31) 3228-1661 ● WWW.MELHORPRAVENDER.COM.BR ESTADO DE MINAS ● EDITOR: Boris Feldman ● E-MAIL: [email protected] ● TELEFONE: (31) 3263-5078 DESIGUALDADE Manobristas de pontos badalados da noite belo-horizontina contam as histórias e enumeram os possantes que guiam enquanto trabalham e sonham com carro de luxo DANIEL CAMARGOS Heberth e Kelberth têm rima suficiente para pisar no palco da churrascaria em que trabalham, esmerilar o gogó e fazer as vezes das duplas sertanejas que emba- lam as noites de quinta-feira. Mas a sincronia da dupla se restringe ao lado de fora do Porcão, na Avenida Raja Gabáglia, Luxemburgo. Heberth Glaysson dá o tom principal e coordena os manobristas, que se apresen- tam solícitos, abrem as portas dos carros e guiam os veí- culos dos glutões até as vagas no estacionamento. Kel- berth Armstrong é um entre os vários manobristas que aceleram os passos – e os carros – para cumprir os dois minutos e meio considerados suficientes para comple- tar o serviço. “Existe esse tempo que é ideal, mas é preciso fazer o serviço com excelência”, pondera Heberth, com a ex- periência de quase três anos na função. Com 26 anos, ele sempre foi um apaixonado por carros, tão apaixo- nado que, aos 16, faltando dois anos para poder dirigir, comprou uma VW Brasília para dar as primeiras vol- tas. Depois trocou-a por um Chevrolet Monza e mais tarde por um Fiat Tipo. Gostou tanto que hoje está no quarto Tipo. Vestir a camisa social vermelha, com calça e sapato sociais, além da gravata, é o traje para entrar em um conto de fadas em que Brasília, Monza e Tipo não pas- sam de distantes modelos fora de linha. Os olhos de He- berth brilham quando recita os bólidos que dirige com freqüência durante o serviço. Em coro com Kelberth a dupla lista modelos das ale- mãs Mercedes-Benz e Audi: “Tem aquele Q7 que apare- ceu aqui outro dia”, ressalta Heberth. Na voz de Kelber- th, os BMW são chamadas com intimidade, apenas de “BM”: “Vem muito X5 aqui. Acho que é o que eu mais gosto”, diz com um pouco de dúvida diante da infinida- de de modelos. Sobre os X5 ele revela que a maioria é blindada e diz que é fácil descobrir pelo peso da porta. A inevitável pergunta sobre as míticas Ferrari traz à tona a frustração de Kelberth e o orgulho de Heberth. “Só vi chegar três ou quatro aqui até hoje, mas só duas vezes que os donos deixaram manobrar”, conta Heber- th, que está na casa desde a inauguração e foi um dos manobristas que guiou a máquina italiana, sonho de 10 entre 10 fanáticos por carro. “Se chegar uma aqui dá até briga para estacionar”, diz em tom de brincadeira He- berth, há 10 meses no emprego e virgem quando o as- sunto é Ferrari. Ao posar para foto em uma “BM” 320i, Kelberth Ar- mstrong faz jus ao sobrenome que homenageia o as- tronauta americano e se imagina chegando desfilando com o carro pelo Bairro São Paulo, na região Nordeste, onde mora. “Iria ficar até bonito”, diz. Porém, no fim da noite o sonho termina, a roupa social entra na bolsa e o Armstorng belo-horizontino aterrissa na realidade do ponto de ônibus e da espera por algum ônibus sem o charme das carruagens e que se assemelha às grandes, lotadas e sacolejantes abóboras onde ele pode sonhar com a compra de um carro Palio. Por uma vaga na vida FOTOS JORGE GONTIJO / EM Iria ficar até bonito dirigindo uma BMW (320i) dessas lá no bairro São Paulo ■ Kelberth Armstrong Só vi chegar três ou quatro Ferrari aqui até hoje, mas só duas vezes que os donos deixaram manobrar ■ Heberth Glaysson Kelberth e Heberth atendem clientes no Porcão, no bairro Luxemburgo, e ficam satisfeitos com a oportunidade de dirigir diferentes máquinas ❚ ❚ LEIA MAIS SOBRE TRABALHO DOS MANOBRISTAS PÁGINA 2 c m y k c m y k CYAN MAGENTA AMARELO PRETO CYAN MAGENTA AMARELO PRETO