1 Cidades, estados... Homenagens na Passarela do Samba! Saber histórico, patrocínio e propaganda no carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro (1995-2012) LUIZ ANSELMO BEZERRA * Introdução Antes de dizer exatamente a que venho, preciso expressar minha gratidão a todos aqueles que vêm colaborando de forma generosa, direta ou indiretamente, para o trabalho que decidi desenvolver no curso de doutorado iniciado em março de 2014 no PPGH-UFF. Uma experiência de estudo anterior, do mestrado sobre a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, realizado entre 2008 e 2010, mostrou-me a complexidade do universo das grandes escolas da samba do Rio de Janeiro (BEZERRA, 2010). Sem falsa modéstia, assumo que ainda hoje não me considero um pesquisador devidamente envolvido com o universo social da pesquisa, lamento minha falta de formação especializada para tratar de música ou artes plásticas, e vejo que cada agremiação é um mundo em si mesmo, tem sua identidade, sem falar nas particularidades dos seus seguimentos: bateria, ala de compositores, ala das baianas, velha guarda, comissão de carnaval, diretorias e mais diretorias... Para pesquisa de doutorado, estou me valendo muito da criação de laços de respeito e confiança com colaboradores da primeira experiência de estudo e isso tem sido fundamental para abertura de novas portas, especialmente no tocante ao tema central da pesquisa sobre o financiamento das escolas do chamado Grupo Especial, de 1984 até os dias atuais. Por fim, quero parabenizar os organizadores desse Encontro e agradecê-los pela leitura e aceitação desse pequeno texto de comunicação que apresento muito mais como um levantamento de hipóteses para a pesquisa ainda em andamento do que propriamente um conjunto de conclusões. O suporte do PPGH- UFF para a pesquisa tem sido importantíssimo, não só pela concessão da bolsa de estudos, mas, sobretudo, pelo apoio de minha orientadora, a professora Juniele Rebêllo de Almeida. * Professor do Departamento de História da Universidade Cândido Mendes (UCAM-IUPERJ) e doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). Bolsista pelo CNPq.
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Cidades, estados... Homenagens na Passarela do Samba! Saber histórico, patrocínio e
propaganda no carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro (1995-2012)
LUIZ ANSELMO BEZERRA*
Introdução
Antes de dizer exatamente a que venho, preciso expressar minha gratidão a todos
aqueles que vêm colaborando de forma generosa, direta ou indiretamente, para o trabalho que
decidi desenvolver no curso de doutorado iniciado em março de 2014 no PPGH-UFF. Uma
experiência de estudo anterior, do mestrado sobre a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis,
realizado entre 2008 e 2010, mostrou-me a complexidade do universo das grandes escolas da
samba do Rio de Janeiro (BEZERRA, 2010). Sem falsa modéstia, assumo que ainda hoje não
me considero um pesquisador devidamente envolvido com o universo social da pesquisa,
lamento minha falta de formação especializada para tratar de música ou artes plásticas, e vejo
que cada agremiação é um mundo em si mesmo, tem sua identidade, sem falar nas
particularidades dos seus seguimentos: bateria, ala de compositores, ala das baianas, velha
guarda, comissão de carnaval, diretorias e mais diretorias... Para pesquisa de doutorado, estou
me valendo muito da criação de laços de respeito e confiança com colaboradores da primeira
experiência de estudo e isso tem sido fundamental para abertura de novas portas,
especialmente no tocante ao tema central da pesquisa sobre o financiamento das escolas do
chamado Grupo Especial, de 1984 até os dias atuais. Por fim, quero parabenizar os
organizadores desse Encontro e agradecê-los pela leitura e aceitação desse pequeno texto de
comunicação que apresento muito mais como um levantamento de hipóteses para a pesquisa
ainda em andamento do que propriamente um conjunto de conclusões. O suporte do PPGH-
UFF para a pesquisa tem sido importantíssimo, não só pela concessão da bolsa de estudos,
mas, sobretudo, pelo apoio de minha orientadora, a professora Juniele Rebêllo de Almeida.
* Professor do Departamento de História da Universidade Cândido Mendes (UCAM-IUPERJ) e doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). Bolsista pelo CNPq.
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Abordando essa temática do financiamento, pretendo apresentar aqui algumas
reflexões sobre uma forma de captação de recursos que se tornou corrente entre as grandes
escolas de samba a partir de meados do final da década de 1990. As diretorias assumiram a
prática de promover “homenagens” a estados e/ou cidades brasileiras tendo em vista a
obtenção de aporte financeiro para o custeio da produção do desfile de carnaval, e essa
modalidade de enredo financiado ficou conhecida como enredo “CEP” no meio do carnaval.
Na verdade, um assunto mais específico motivou a proposta desta comunicação, diz
respeito às formas de apropriação do saber histórico que estão envolvidas no desenvolvimento
de um enredo com tal propósito. A concepção é influenciada por disputas de memória e
valorização de determinados elementos da construção de identidades locais e regionais.
No âmbito deste trabalho foi necessário, logicamente, fazer escolhas para tentar uma
abordagem razoável do tema, pois são inúmeros os casos recentes de enredos voltados para
homenagens a estados e/ou cidades do Brasil. Tomamos para estudo as experiências daquela
escola de samba do Grupo Especial que pode ser considerada a mais dedicada a essa
modalidade de enredos, a Beija-Flor de Nilópolis. Identificamos, da década de 1990 para cá:
(1998) Pará, o mundo místico dos caruanas nas águas do Patu Anu; (1999) Araxá - lugar alto onde
primeiro se avista o sol; (2001) A saga de Agotime – Maria Mineira Naê; (2004) Manôa - Manaus -
Amazônia - Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz; (2005) O vento
corta as terras dos Pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos na fé e na
dor... Sete missões de amor; (2006) Poços de Caldas, derrama sobre a Terra suas águas milagrosas –
do caos inicial à explosão da vida, a nave- mãe da existência; (2008) Macapaba: equinócio solar,
viagens fantásticas ao meio do mundo; (2010) Brilhante ao sol do Novo Mundo, Brasília do sonho à
realidade, a capital da esperança; (2012) São Luís: o poema encantado do Maranhão.
Entre as fontes de pesquisa, dispomos das sinopses dos enredos, de edições da
publicação anual da escola que apresenta uma justificativa do enredo e o que será
representado em cada um dos setores do desfile através de alas fantasiadas e alegorias, e ainda
das gravações e letras dos sambas-enredo com identificação dos respectivos autores.
Antes de nos voltarmos para análise dos enredos mencionados, convém fazer breves
considerações acerca da problemática atual do financiamento do carnaval das grandes escolas
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de samba do Rio de Janeiro. No entanto, reconheço que o conhecimento dos novos
mecanismos de patrocínio requer investigação mais profunda no âmbito da pesquisa atual.
O fenômeno da comercialização dos enredos
É difícil ter a percepção de qual das partes envolvidas costuma se manifestar primeiro
o interesse de transformar um dado lugar em enredo de escola de samba. Deve-se considerar a
força e o prestígio da agremiação carnavalesca, valores e termos do acordo para o aporte
financeiro, e ainda a atuação de mediadores que, muitas vezes, nem fazem parte do universo
do carnaval, mas, por sua habilidade para ligar contatos com políticos e empresários,
viabilizam um determinado projeto de enredo obtendo comissão sobre o valor total do aporte.
Na imprensa, e mais ainda nos blogs dedicados à cobertura do carnaval, surgem
questionamentos contundentes acerca da real necessidade das escolas de samba para adoção
de tal prática, a qual conta com outras modalidades, em função da fonte do aporte financeiro:
empresas privadas, personalidades brasileiras e estrangeiras, governos de outros países.
Sabe-se que as escolas têm arrecadação significativa com participação nas receitas
geradas pelo próprio espetáculo, no entanto, segundo informações que circulam no mundo do
samba, modificou-se o tradicional padrão de generosidade dos patronos banqueiros do jogo
do bicho, cada vez menos dispostos a “tirar do bolso” para custeio da produção dos desfiles.
É inegável que a estrutura empresarial da Liga Independente das Escolas de Samba do
Grupo Especial (LIESA) foi importante para o aumento da rentabilidade do espetáculo de
carnaval, mas isso acentuou seu caráter midiático e turístico, o que contribui para o fenômeno
de comercialização dos enredos. A fundação da LIESA em 1984, criada praticamente no
momento da construção do Sambódromo, é reveladora do reconhecimento social que as
agremiações carnavalescas mantiveram ao longo de todos os anos desde sua oficialização.
Como disse, não tenho condições de apresentar uma explicação consistente desse
fenômeno que, aparentemente, indica uma mudança no padrão de financiamento do carnaval.
Existem indícios de resistência da parte dos banqueiros do jogo do bicho quanto à entrada de
empresas privadas legais no financiamento das escolas de samba durante a década de 1980.
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Pesquisadores do carnaval, como por exemplo, o historiador Luiz Antonio Simas e o
jornalista Fábio Torres Bastos, consideram a prisão da cúpula do jogo do bicho em 1993 um
fator para mudança de postura da mesma no sentido da abertura desse mercado (2015).
De acordo com os mesmos pesquisadores, podemos considerar como marco da fase
recente de comercialização dos enredos o carnaval do ano de 1995 da Escola de Samba
Imperatriz Leopoldinense, Mais vale um jegue que me carregue do que um camelo que me
derrube... lá no Ceará, de autoria da carnavalesca Rosa Magalhães. Tornou-se um marco da
institucionalização dos enredos vinculados a homenagens de estados, na medida em que o
então governador do Ceará, Tarso Jereissati (PSDB), colocou-se como um articulador
importante na obtenção de recursos privados para produção do desfile Imperatriz. Isto é
relatado rapidamente por Rosa em sua entrevista na série Depoimentos para a Posteridade, do
Museu da Imagem e do Som, no ano de 2104. Como se sabe, Tarso é um grande empresário,
o que nos faz pensar na hipótese de que realmente não tenha disponibilizado recursos públicos
do seu estado para o financiamento de tal desfile, mas de toda forma precisamos confirmar.
No mesmo ano, outras escolas apresentaram enredos na linha das “homenagens”, resta saber
detalhadamente como se deram as negociações entre suas diretorias e respectivos parceiros.
De 1995 para cá, podemos fazer o levantamento de um número grande de enredos
nessa modalidade, mas nossa pesquisa não conseguirá dar conta de todos os casos existentes
nem no curso completo do doutorado. Dependendo das escolhas teóricas, da metodologia e da
abordagem do pesquisador, um só caso de estudo poderia render uma tese, basta considerar de
forma minuciosa todas as fases da produção de um desfile: negociações para escolha do tema
de enredo, trabalhos para elaboração da concepção plástico-visual do desfile, concurso de
samba-enredo, etapas de montagem das alegorias no barracão, confecção das fantasias,
ensaios, atividades de divulgação do carnaval, o desempenho da escola no desfile com sua
repercussão midiática... Nessa linha, teríamos mais propriamente um trabalho etnográfico.
Os enredos de homenagem prestados pela Beija-Flor de Nilópolis
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No caso da Beija-Flor, o tipo de proposta em questão começou a acontecer com a
criação da Comissão de Carnaval chefiada por Luiz Fernando do Carmo, o Laíla, para os
preparativos do desfile de 1998. Embora não seja um carnavalesco, Laíla vem exercendo a
direção geral da equipe de artistas encarregados da concepção e da produção do carnaval.
Para aquele carnaval, a diretoria consagrou a escolha de um tema ligado às tradições
religiosas do estado do Pará. Essa primeira experiência com enredo vinculado a um lugar teve
seu desenvolvimento feito de forma bem sucedida. Há referência direta ao estado tanto no
texto da sinopse quanto na letra do samba - nesse caso, no título e no segundo refrão - mas
está bem definida a intenção de focar através do enredo a tradição da pajelança cabocla:
Beija-flor / E o mundo místico dos Caruanas / Nas águas do Patu Anu / Mostra a
força do teu samba
Contam que no início do mundo / Somente água existia aqui / Assim surgiu o
girador, ser criador / Das sete cidades governadas por Auí / Em sua curiosidade,
aliada à coragem / Com seu povo ao fundo foi tragado / O que lá existia aflorou, o
criador semeou / Surgindo os seres viventes em geral / E de Auí se deu a flora, fauna
e mineral
Sou caruana eu sou / Patu Anu nasceu do girador, obá / Eu trago a paz, sabedoria e
proteção / Curar o mundo é minha missão
Pajé, a pajelança está formada / Eu vou na barca encantada / Anhangá representa o
mal / Evoque a energia de Auí / Pra vida sempre existir / Oferenda ao mar pra
isentar a dor / Com a proteção dos caruanas Beija-flor / A pajelança hoje é cabocla /
Na Ilha de Marajó, vou dançar o carimbo / Lundu e siriá, marujada e vaquejada /
Minha escola vem mostrar / O folclore que encanta / O estado do Pará
(Autores: Alencar de Oliveira, Wilsinho Paz, Noel Costa, Baby e Marcão)
A Comissão de Carnaval, assumindo a autoria do enredo, destacou que teve como base
o livro O mundo místico dos Caruanas e a revolta de sua ave, escrito pela pajé Zeneida Lima
(1991), da Ilha de Marajó. A pajé Zeneida é tema de um estudo a respeito de sua atuação
religiosa (MAUÉS e VILLACORTA, In: PRANDI, 2004), e daí podemos supor a
profundidade da discussão para uma análise criteriosa do conteúdo desse enredo se levamos
em conta a questão da autoridade e todo trabalho de construção dessa mitologia dos caruanas.
Esse não é o objetivo aqui, pois pretendo apenas destacar a letra samba-enredo como sendo
um dado significativo do desfile que não se perdeu numa simples promoção turística do
estado homenageado. Pode até ser que a abordagem centrada na trilha do samba tenda para
uma compreensão parcial do que foi aquele carnaval, entretanto, a importância do samba-
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enredo em si o torna uma peça fundamental do conjunto artístico do desfile, e por isso mesmo
ainda hoje ele costuma ser tratado como uma tradução da linha proposta no enredo.
É preciso ressaltar que em 1998, depois de 15 anos, a Beija-Flor conquistava mais um
título! Para seus componentes, a divisão do primeiro lugar com a Mangueira provavelmente
não representou demérito, e muitos moradores de Nilópolis ficaram até surpresos com um
campeonato depois de tanto tempo. Registro o fato a partir de experiência pessoal, pois sendo
morador da cidade eu nunca tinha vivenciado conscientemente uma conquista de carnaval.
Tentou-se repetir a “fórmula do sucesso” no carnaval de 1999, com Araxá - lugar alto
onde primeiro se avista o sol, mas aí o enredo se voltou para a divulgação turística do lugar:
Araxá, Araxá... (obá, obá) / Paraíso hospitaleiro / Onde do alto / Se avista o sol
primeiro
És fonte de conhecimentos pra ciência / Prova fiel da existência / Dos primitivos
animais / Cenário onde índios e negros / Em luta constante / Contra bravos
bandeirantes / O sangue fluía a todo instante / Nasceu enfim, São Domingos do
Araxá / Um solo livre pra explorar / Uma nova colonização / Com a vinda do
Ouvidor / Surge a libertação
Ana Jacintha de São José... (É beija) /Josefa Carneiro de Mendonça... (Rara beleza) /
Josefa Pereira é força e fé... (Que sedução) / A escrava Filomena... (É fascinação)
Tem cheiro bom no ar / Este tempero nos convida a viajar / Quero renascer em tuas
águas / Para prolongar a vida / Me hospedar no Grande Hotel / Do seu conforto
desfrutar / Com sua genial arquitetura / A Beija-flor em alto astral / Neste carnaval
nos traz / Belo recanto de Minas Gerais
(Autores: Wilsinho Paz – Noel Costa – Serginho do Porto)
Outro enredo relacionado à tradição cultural de um estado foi apresentado em 2001, e
dessa vez com abordagem focada numa temática sensível e relevante para o mundo do samba:
A saga de Agotime, Maria Mineira Naê. A letra do samba se refere à memória de fundação da
Casa das Minas, no Maranhão, mas em nenhum dos versos há menção ao nome do estado. Há
apenas uma referência indireta nos versos “A Casa das Minas / É orgulho desse chão”. A
riqueza do enredo abre uma interessante discussão sobre mito, memória, história, tanto que
estimulou a produção de artigos de antropólogos e sacerdotes da religião dos orixás contra a
versão encampada pela Comissão de Carnaval com assessoria da pajé Zeneida Lima.
Maria Mineira Naê / Agotime no clã de Daomé / e na luz dos seus Voduns / Existia
um ritual de fé / Mas isolada do reino um dia / escravizada por feitiçaria / Diz seu
vodum que do seu culto / Um novo mundo renasceria
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Vai seguindo seu destino (de lá pra cá) / Sobre as ondas do mar / o seu corpo que
padece (bis) / Sua alma faz a prece / pro seu povo encontrar
Chegou nessa terra santa / Bahia viu a nação Nagô-ô-ô / e através dos orixás / O
rumo do seu povo encontrou / Brilhou o ouro, com ele a liberdade / Foi pra terra da
magia/ Do folclore e tradição / Um buquê de poesia / A casa das minas / É o orgulho
desse chão
Sou Beija-Flor / e o meu tambor / Tem energia e vibração/ Vai ressoar em São Luiz
do Maranhão
(Autores: Déo, Caruso, Cleber, Osmar)
Pierre Verger escreveu sobre a hipótese da fundadora da Casa das Minas ter sido a
mãe do rei Guezo, do antigo Daomé, supostamente vendida como escrava pelo enteado
Adandozan logo após que este assumiu provisoriamente o trono pela morte do pai Agongolo.
(VERGER, 1990). Já o antropólogo Sérgio Ferretti, professor da UFMA e estudioso da Casa
das Minas, publicou artigo desaprovando a versão reproduzida pelo enredo de que a
fundadora da Casa das Minas teria deixado descendentes, e que este seria o caso da pajé
Zeneida (FERRETTI, 2001). Notemos como a concepção de um enredo de escola de samba e
sua produção plástico visual demanda embasamento de saber histórico, tanto é assim que as
grandes escolas passaram contratar auxiliares especializados para os carnavalescos.
Nesses dois carnavais, a Beija-Flor não venceu o campeonato. Outro enredo prestando
homenagem nessa linha só viria acontecer em 2004, para Manaus. Nesse intervalo de tempo,
outras estratégias de obtenção de patrocínio através dos temas de enredo foram implantadas, e
podemos supor que existem diversas razões para tanto, inclusive o “insucesso” nos carnavais
que acabamos de comentar. Não temos como abrir aqui uma frente de trabalho tão vasta,
assim, continuaremos com a análise comparativa das homenagens prestadas a estados/cidades.
Aquela realizada em 2004 teve claro perfil de propaganda para o estado do Amazonas,
dando destaque à capital Manaus, embora versasse pelo apelo discurso “politicamente
correto” da preservação da floresta amazônica. Diferentemente dos enredos de 1998 e 2001,
não houve a proposta de centrar num tema específico dentro do universo cultural da região, do
estado ou mesmo de sua capital. Contudo, considera-se que este samba de 2004 teve uma das
melhores melodias dos últimos anos na escola, e isso quer dizer muito se estamos tratando de
uma tradição cultural que se fundou e se reproduz, ainda, com base na oralidade, sem falar
que a Beija-Flor conquistou ali o segundo bicampeonato de sua história. Vejamos o samba:
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A ambição cruzou o mar / Trazida pelo invasor / A Espanha veio explorar / Pilhar e
semear a dor / Amazônia Terra Santa / Dos igarapés, mananciais / Alimenta o corpo,
equilibra a alma / Transmite a paz / Brilhou o Eldorado no coração da mata as
guerreiras / Belezas naturais, riquezas minerais / O reino de Tupã ergue a bandeira
Êh! Manôa / Minha canoa vai cruzar o Rio Mar / Verde paraíso é onde / Iara me
seduz com seu cantar
Força, mistério e magia / Fruto da energia o meu guaraná / A lágrima que o trovão
derramou / A terra guardou semente no olhar / Maués, Anauê, cultura milenar /
Anauê, Manaus, Mamirauá / Viva a Paris Tropical / Água que lava minh´alma / Ao
matar a sede da população / Caboclo ê a homenagem hoje é / A todo povo da
floresta um canto de fé
Se Deus me deu vou preservar / Meus filhos vão se orgulhar / A Amazônia é Brasil,