Escola Artística António Arroio Língua Portuguesa Professora Elisabete Miguel Lucas Vinicius nº 17 10º F
Escola Artística António Arroio
Língua Portuguesa
Professora Elisabete Miguel
Lucas Vinicius nº 17 10º F
Índice
Introdução
Liberdade, Miguel Torga
Conquista, Miguel Torga
Evolução, Antero Quental
Mors Liberatrix , Antero Quental
Liberdade, Fernando Pessoa
Ser livre é querer ir e ter um rumo, Armindo Rodrigues
Tenho a alma sem punidade, José Aparecido Botacini
As maõs, Manuel Alegre
Quem a tem… , Jorge de Sena
Ah! Como te invejo, Jose Gomes Ferreira
À morte , Orlando Neves
Se ao Mundo Predissesses teu Morre, Walter Benjamin
Quando morre um homem, Ruy Belo
Suplica, Alfredro Brochado
Morte, Francisco Joaquim Bingre
Soneto 66, William Shakespeare
Junto dele, Teixeira de Pascoaes
Olhar Eterno, Teixeira de Pacoaes
A morte chega cedo, Fernando Pessoa
A morte, Fernando Pessoa
Justificação
Conclusão
Sítios
Introdução
O trabalho dado pela professora consistia em escolhermos 20 poemas
de autores à nossa escolha, com um tema orientador, também da nossa
escolha. Tinhamos ainda que justificar a seleção dos poemas,e explicar a
razão da nossas opções. Tambem tínhamos de fazer uma ilustração de um
poema.
Durante a minha pesquisa, procurei escolher autores diversificados,
alguns muito conhecidos, outros não tanto, tendo em vista o tema que queria:
“liberdade e morte”. Escolhi não ilustrar um poema, mas sim todo o conjunto
dos versos; foi em função do tema que fiz a minha ilustração.
Penso que com este trabalho modifiquei, de certa forma, a minha
opinião sobre versos e, sem dúvida, melhorei os meus conhecimentos sobre
Poesia.
Liberdade
Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga
Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga
Evolução
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.
Antero Quental
Mors Liberatrix
Na tua mão, sombrio cavaleiro,
Cavaleiro vestido de armas pretas,
Brilha uma espada feita de cometas,
Que rasga a escuridão como um luzeiro.
Caminhas no teu curso aventureiro,
Todo involto na noite que projectas...
Só o gládio de luz com fulvas betas
Emerge do sinistro nevoeiro.
— «Se esta espada que empunho é coruscante,
(Responde o negro cavaleiro-andante)
É porque esta é a espada da Verdade.
Firo, mas salvo... Prostro e desbarato,
Mas consolo... Subverto, mas resgato...
E, sendo a Morte, sou a Liberdade.»
Antero Quental
Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca... Fernando Pessoa
Ser livre é querer ir e ter um rumo
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado,amordaçado,em sangue,exausto
e,mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
Armindo Rodrigues
Tenho a alma sem punidade
Tenho a alma sem punidade
Sem mistérios nem solidão.
Tenho sede da tal liberdade,
Quer voar solto meu coração.
Sobre mim paira uma estrela,
Que cintila numa grande constelação,
Dentro de mim trago a certeza,
De que a liberdade não é pura ilusão.
Ser liberto é ter a razão na consciência
De se estar livre da soberba e do egoísmo,
Viver respaldado pelas palmas da coerência,
Sem preconceitos, falsidades e cinismos.
José Aparecido Botacini
As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
QUEM A TEM…
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
E sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena
AH! COMO TE INVEJO
Ah! Como te invejo,
pássaro que cantas
o silêncio das plantas
-- alheio à tempestade.
Vives sem chão
ao sol a cantar
a grande ilusão
da liberdade...
(...com algemas de ar.)
José Gomes Ferreira
À Morte
Tu que mísero vives
no vão dos braços
em súbito furor
Tu de mãos cativas
senhor dos ombros
indefeso dador
Tu que os dedos secas
no liso peito
armado amador
Tu no cárcere vivo
das horas idas
impune rumor
Tu rendida palavra
íntimo trânsito
do barco raptor
Tu que na minha pele
táctil ardor
amável me esperas
Orlando Neves
Se ao Mundo Predissesses teu Morrer
Se ao mundo predissesses teu morrer
na morte a natureza ir-te-ia à frente
volvendo com mandado intransigente
no eterno esquecimento o próprio ser
O céu se rosaria docemente
por do teu corpo a roupa enfim descer
florestas tingiria o teu sofrer
de negro e a noite o mar barca silente
Luto sem nome com estrelas mede
a estela ao teu olhar no arco celeste
e a escuridão de espesso muro impede
que a luz da nova primavera preste
A estação vê nos astros que pararam
as cisternas que a morte te espelharam.
Walter Benjamin, in Sonetos
Tradução de Vasco Graça Moura
Quanto Morre um Homem
Quando eu um dia decisivamente voltar a face
daquelas coisas que só de perfil contemplei
quem procurará nelas as linhas do teu rosto?
Quem dará o teu nome a todas as ruas
que encontrar no coração e na cidade?
Quem te porá como fruto nas árvores ou como paisagem
no brilho de olhos lavados nas quatro estações?
Quando toda a alegria for clandestina
alguém te dobrará em cada esquina?
Ruy Belo
Súplica
Mortos que em certas horas me falais
Com a vossa mudez ou murmúrios subtis,
Dizei: Custa muito morrer?
Há lá, por esse mundo, uma outra vida,
Que valha a pena viver?
Mortos que em certas horas me tocais
Com a vossa mão fria,
Dizei-me: Com a morte tudo acaba,
Ou, como se nascêssemos de novo,
Um novo mundo principia?
Nada sei.
Sou inexperiente da morte,
Pois não morri ainda.
Queria saber e desvendar
Se com a morte que tomba
Alguma coisa começa,
Ou, se pelo contrário, tudo finda.
Esses que amei, com quem vivi, felizes,
Num mundo de amarguras povoado,
De novo, poderei tornar a vê-los,
Felizes ao meu lado?
Ilusões, quem as criou,
É um benfeitor
Que merece guarida!
Dai-me a ilusão, todos vós que morrestes,
De uma outra vida melhor
Para além desta vida.
Alfredo Brochado
Morte
Num imenso salão, alto e rotundo,
De caveiras iguais, ossos sem dono,
Perpétua habitação de eterno sono
Que tem por tecto o Céu, por base o mundo:
Bem no meio, em silêncio o mais profundo,
Se levanta da Morte o fatal trono:
Ceptros sem rei, arados sem colono,
São os degraus do sólio furibundo.
Lanças, arneses pelo chão, quebrados,
Murchas grinaldas, báculos partidos,
Liras de vates, pastoris cajados,
Algemas, ferros e brasões luzidos,
No terrível salão são misturados,
No palácio da Morte confundidos.
Francisco Joaquim Bingre
Soneto 66
À morte peço a paz farto de tudo,
de ver talento a mendigar o pão,
e o oco abonitado e farfalhudo,
e a pura fé rasgada na traição,
e galas de ouro es despejados bustos,
e a virgindade à bruta rebentada,
e em justa perfeição tratos injustos,
e o valor da inépcia valer nada,
e autoridade na arte pôr mordaça,
e pedantes a engenho dando lei,
e a verdade por lorpa como passa,
e no cativo bem o mal ser rei.
Farto disto, não deixo o meu caminho,
pois se eu morrer, é o meu amor sozinho.
William Shakespeare
Junto Dele
Vi um dia, e hei-de ver eternamente,
Já sepultado em flores, no seu leito,
Uma criança morta, um inocente,
Um pequenino amor, ainda perfeito.
Oh que mimosa palidez tremente
A do gélido rosto contrafeito!
E as mãozinhas de cera, docemente
Compostas e cruzadas sobre o peito!
Ó Deus cruel, que matas as crianças,
E as estrelas apagas, na amplidão,
E massacras as nossas esperanças!
Não sei quem és, eu não te entendo, Deus!
E penso, com terror, na escuridão
Desse teu Reino trágico dos céus...
Teixeira de Pascoaes
Olhar eterno
Aquele olhar tão triste,
Onde ia, feito em lagrima, o que eu sou,
Isto é, tudo o que existe,
No instante em que pousou,
Relampago do Além,
Sobre ti, meu querido e pobre Anjinho,
Já deitado na cama e tão doentinho,
Cercado da afflicção de tua Mãe;
Esse olhar fez-se eterno,
Em meus olhos ficou: é luz do inferno
Que tudo me alumia...
Parece a luz do dia!
Teixeira de Pascoaes
A Morte Chega Cedo
A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E a tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
Fernando Pessoa
A Morte
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
Fernando Pessoa
Orientei a minha pesquisa de acordo com dois temas que considero
bastante interessantes: liberdade e a morte. De algum modo, ao finalizar o
trabalho, penso que este dossiê talvez seja o embrião de uma antologia minha
sobre esta temática.
Liberdade por ser algo que toda a gente quer alcançar e que eu quero
possuir. Ter a minha liberdade, ter a opção de tomar as minhas decisões, de
fazer as minhas escolhas e, até mesmo,os meus erros. Escolhi também o tema
da morte porque penso que a maioria das pessoas têm relutância, receio, de
abordar o assunto. Usam eufemismos e perífrases para abordar a questão
‘morte’, veem o assunto como sendo algo mau, enquanto eu, ao invés, encaro
a morte como sendo natural, simplesmente acontece,e, como tal,deve ser
aceite. Por isso, considero que os dois temas coincidem na ideia de fazer o que
é necessário: viver a vida, antes que seja tarde de mais .
Os temas do meu trabalho são a Liberdade e a Morte, porque penso
serem coisas próximas, contrárias ,mas, de certa forma, interligadas.
A Liberdade, difícil de se conseguir, mas quando se a tem, é preciso ter-
se muito cuidado para que não desapareça. Ao contrario, a Morte em um
breve instante pode acontecer.
Na ilustração que fiz, a pena, a parte a vermelho, significa a Liberdade,
tao desejável, e o preto, em volta, representa a Morte, que nos cerca, e da qual
não podemos fugir .
Sítios de onde recolhi os meus textos (consultados no mês de fevereiro e de março):
www.citador.pt
http://arquivopessoa.net/textos/4307
http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/05/01.html
http://blogue.sitiodolivro.pt/2011/11/02/jorge-de-sena-2/
http://centrolenguaportuguesacc.blogspot.com/2010/02/poema-do-dia-junto-dele.html
http://arquivopessoa.net/textos/2254
http://arquivopessoa.net/textos/2345