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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM1
Gil Miguel de Sousa Cmara2
1. INTRODUO
A cultura do amendoim feita visando a obteno de gros,
destinados
principalmente alimentao humana. Os gros podem ser consumidos na
forma
in natura, torrados ou empregados na arte culinria da confeco de
doces.
Industrialmente, o gro processado para a extrao do leo, sendo
este de
qualidade nobre e rico em cido olico, tambm utilizado na
indstria de conservas
(alimentos enlatados) e de produtos medicinais. Presta-se ainda,
para fins
carburantes, tendo sido includo em proposta de um programa de
leos vegetais
para fins energticos no Pas (Pr-Diesel), no incio dos anos
oitenta.
Na nutrio animal, as ramas das plantas (hastes + folhas) em
culturas bem
conduzidas, representa excelente alimento para ser usado como
forragem na forma
de feno. A torta ou farelo, subproduto da extrao do leo, possui
elevado valor
comercial. Devido a sua riqueza em protena indicada para a
alimentao animal,
principalmente bovinos de corte, sob a forma de farelo.
Entretanto, devido ao
problema da aflatoxina, tem sido mais comum a sua utilizao como
adubo
orgnico em culturas perenes, principalmente em caf e citros.
De 1996 a 2005 a cultura do amendoim passou por uma nova fase
de
evoluo tecnolgica, efetivando a transio de uma tecnologia de
produo
semimecanizada para totalmente mecanizada. Essa transio
tecnolgica surgiu da
necessidade de adaptao da cultura aos atuais moldes de
gerenciamento tcnico e
empresarial da produo vegetal, voltada conquista de novos
mercados, tanto
internos como externos. Mercados estes, cada vez mais exigentes
em qualidade do
produto obtido.
1.1. Origem e Difuso Geogrfica
O amendoim cultivado planta originria do continente sul
americano.
Justifica-se esta origem pelo fato de no mundo, espcies
selvagens serem
encontradas em abundncia, apenas na regio compreendida entre o
sul do estado
1 Texto bsico da disciplina optativa LPV 506: Plantas
Oleaginosas, do curso de graduao em Engenharia Agronmica da
USP/ESALQ.
2 Professor Associado do Departamento de Produo Vegetal da
USP/ESALQ e Professor Responsvel pela disciplina LPV 506: Plantas
Oleaginosas.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 2
do Amazonas, no Brasil, e o norte da Argentina, aproximadamente
entre as
latitudes de 10 e 30 Sul. Atualmente, admite-se que o local
referente regio dos
vales dos rios Paran e Paraguai (antigo lago do Gran Chaco),
seja o principal
centro de origem gentica do amendoim (Gillier & Silvestre,
1970).
Os indgenas foram os responsveis pela difuso inicial do amendoim
s
diversas regies da Amrica do Sul, sendo levado s ilhas do mar
das Antilhas e,
possivelmente, Amrica Central e Mxico. Sua introduo na Europa
ocorreu no
sculo XVIII, sendo cultivado inicialmente no Jardim Botnico de
Montpellier e, ao
final deste sculo, proveniente da Amrica, foi introduzido em
Valena na Espanha,
onde sua cultura se propagou (Peixoto, 1972).
A primeira referncia escrita sobre o amendoim data de 1578 e foi
registrada
por Jean De Lery, a partir de relatos de viagens de franceses
pelo Nordeste do
Brasil, compilados no texto Voyage au Brsio.
Existiram duas rotas de distribuio da cultura do amendoim pelo
mundo. No
incio do sculo XIX, os portugueses levaram o amendoim do Brasil
para a costa
ocidental da frica. Ao mesmo tempo, os espanhis o disseminaram
do Peru para
as costas do Oceano Pacfico, chegando posteriormente s
Filipinas, de onde foi
transportado para a China, Japo e ndia. A sua entrada nos
Estados Unidos
corresponde ao perodo de escravatura, quando do comrcio de
escravos negros a
partir da costa ocidental africana.
1.2. Importncia da Cultura
O gro de amendoim, seja in natura, seja semi ou totalmente
processado
industrialmente, proporciona uma srie de produtos e subprodutos
que atendem a
mercados especficos, gerando empregos e rentabilidade econmica,
desde os
pequenos grupos familiares, que manufaturam os gros nas chamadas
fabriquetas
de fundo de quintal, at as grandes agroindstrias nacionais e
multinacionais.
A importncia scio-econmica da cultura reside na comercializao
e
utilizao dos produtos e subprodutos descritos a seguir.
1.2.1. Produtos derivados dos gros de amendoim
O gro de amendoim pode ser consumido in natura (cru) ou,
preferencialmente, torrado. Inicialmente de produo caseira, cada
vez mais tem
sido industrializado, devido ao seu largo consumo como
aperitivo. So
comercializados em diferentes embalagens por vrias empresas, na
forma de gros
despeliculados e salgados, amendoim japons, pralins e outros. Os
gros devem
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
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sofrer uma torrao parcial para liberar a pelcula que os recobre,
sendo destinados
a amendoim torrado sem pelcula. Tambm podem ser utilizados no
recheio de
bolos, bombons, chocolates, sorvetes e em inmeras outras
formas.
A utilizao do gro em confeitos rotineira no Brasil,
principalmente para a
confeco das paocas e ps-de-moleque, tradicionais doces
brasileiros de paladar
e aroma agradveis. Estes produtos so obtidos tanto em grandes
empresas do
ramo alimentcio, como em micro empresas caseiras, gerando renda
para
considervel segmento da economia informal. As diferenas entre os
produtos
residem nos padres de qualidade que cada estrutura capaz de
estabelecer e
manter. Alm do amendoim torrado e modo, os seguintes
ingredientes entram na
composio das paocas: sal, acar, mel, xarope de glicose, gua e
aditivos
conservadores.
Pastas e cremes de amendoim so produtos derivados dos gros
desintegrados e finamente divididos, de textura suave, podendo
ou no ser
adicionados de outros ingredientes como: sal, acar, mel, gordura
e aditivos. Os
cremes so elaborados para consumo direto no po, por exemplo, ou
para uso em
confeitarias. As pastas so mais usadas em bolos, biscoitos,
sorvetes, bolachas,
produtos de confeitaria e em batidas de aguardente.
O uso mais tradicional dos gros tem sido a extrao do leo,
originando,
como subproduto, o farelo ou torta de amendoim. Entretanto, o
maior destino
comercial dos gros de amendoim tem sido a agroindstria
alimentcia,
especificamente a de confeitaria, seja na linha doce ou salgada.
Atualmente, a
produo de leo est condicionada ao que exceder para uso como
alimento, ou
sobra de gros inapropriados para consumo humano.
1.2.2. Produtos derivados do leo de amendoim
O leo de amendoim refinado possui as propriedades exigidas
pelo
consumidor, sendo utilizado tanto para alimentao, quanto para
usos
farmacuticos e medicinais. um leo de belo aspecto, sabor
agradvel, aroma
suave, fluido, pouco solvel em lcool e pouco suscetvel ao rano.
Do leo podem-
se obter os seguintes produtos derivados:
Maionese: emulso cremosa obtida com ovos e leo vegetal,
adicionada de
condimentos e outras substncias comestveis. No pode ser
adicionada de
corantes e deve ter, no mnimo, duas gemas de ovo por litro de
leo e 65% de leo
vegetal comestvel em sua composio. No mximo, pode ter 0,5% de
amido e
conter alguns aditivos das classes dos acidulantes,
conservadores e acidificantes,
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 4
de acordo com a legislao brasileira.
Gordura hidrogenada: elaborada a partir da hidrogenao parcial do
leo,
sob condies controladas e especficas, para originar um produto
com plasticidade
desejada que atenda as mais variadas necessidades da indstria de
panificao,
confeitaria e para frituras.
Margarina: emulso de gua em leo, onde a fase gordurosa uma
mistura de
leos e gorduras vegetais, s vezes, animais, em quantidade e
proporo suficientes
para assegurar sua solidificao em temperaturas ambientes
normais. A fase
aquosa constituda por leite magro, ou gua, ou uma mistura de
ambos.
Como todo leo vegetal, o leo de amendoim possui elevado valor
energtico
para fins carburantes, visando a substituio total ou parcial do
leo diesel. Foi o
prprio Rudolph Diesel, na Alemanha, quem props o uso de leos
vegetais como
combustveis de motores, ao usar leo de amendoim in natura para
funcionar, com
sucesso, um motor Elko. Entretanto, ainda existem alguns
obstculos a serem
considerados, como: alta viscosidade, ausncia de volatilidade
nas temperaturas
normais de trabalho dos motores e tendncia deposio de gomas e
vernizes.
Atualmente, poucas agroindstrias processam amendoim visando a
extrao e
exportao de leo bruto, cujos principais compradores so os
Estados Unidos e a
Unio Europeia. Alm dos usos apresentados, o leo de amendoim
pode,
potencialmente, ser utilizado como substituto do silicone em
prteses mamrias.
1.2.3. Produtos derivados do farelo de amendoim
Aps a extrao do leo, sobra uma massa parcialmente
desengordurada
denominada de torta (leo residual > 1%) ou farelo (leo
residual < 1%) de
amendoim. O farelo de amendoim foi muito utilizado at 1961/62,
quando se
constatou o problema da presena da aflatoxina em raes para
animais. Nessa
poca, houve significativa mortalidade de perus ingleses, cujo
fato foi atribudo
rao elaborada a partir de farelo de amendoim importado do
Brasil. Desde ento, o
farelo de amendoim brasileiro sofre com esse estigma e foi,
gradativamente,
substitudo pelo farelo de soja.
A torta, resduo da extrao do leo por prensagem, contm de 7 a 12%
de
leo. No utilizada em raes e nem em outras finalidades, pois o
teor de leo
deve ser recuperado, possuindo maior valor econmico que o
farelo. O uso do farelo
com torta desaconselhvel, pois o leo pode ranar, originando
sabor
desagradvel e rejeio pelos animais.
O farelo, com teor de leo de 0,5 a 0,8%, comercializado de
acordo com o
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
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seu valor protico, exigindo-se no mnimo, 45% de protena em sua
composio.
A qualidade do farelo funo direta do processo de obteno e da
qualidade
do amendoim processado. Podem-se encontrar dois tipos de farelo:
a) farelo
proveniente do processamento do amendoim descascado: neste caso,
de melhor
qualidade, contendo 45% de protena, mdia de 8,5% de matria graxa
e no
mximo 9,5% de celulose; b) farelo obtido a partir do
processamento de amendoim
em vagem: neste caso de qualidade inferior (Tasso Junior et al.,
2004).
Farelos de qualidade inferior, com presena de areia e com risco
de aflatoxina,
devem ser direcionados ao mercado de fertilizantes orgnicos,
onde so utilizados
na adubao de caf e citros.
1.2.4. Subprodutos derivados do processamento do amendoim
Borra: no processo de extrao do leo, resta um subproduto
constitudo por
gua, leo residual e pequena quantidade de glicerdeos, denominado
de borra.
Esta tem aplicao direta na confeco de sabes, aps sofrer um
processo de
saponificao e lavagem.
Cascas: o amendoim vem do campo em vagens, que so debulhadas
para a
retirada dos gros, sobrando assim as cascas. Estas so
lignificadas e ricas em
carboidratos, normalmente encontrando-se as seguintes utilizaes:
a)
combustvel sendo queimadas nas caldeiras da prpria indstria
extratora de
leo; b) rao animal onde, aps triturao, as cascas so misturadas
em raes
para ruminantes, embora os valores energtico e nutritivo sejam
baixos;
entretanto, este uso no comum, devido ao problema da aflatoxina;
c)
fertilizante, isolada, ou em mistura (compostagem) com outros
produtos
orgnicos, inclusive o farelo, destinada adubao orgnica de
culturas perenes.
1.3. Conjuntura Atual: Brasil e Mundo
O continente asitico o que mais produz amendoim no mundo. A
produo
de amendoim em vagem se concentra em 10 pases, que representam
mais de 80%
da produo mundial. A China o principal pas produtor, com cerca
de 41% do
volume produzido. Juntos, China e ndia produzem 55% do volume
mundial de
amendoim (tabela 1). Os maiores importadores mundiais de
amendoim so
Holanda, Reino Unido, Canad, Japo e Singapura.
Com relao produo nacional de amendoim em casca, dez estados
da
federao so produtores, destacando-se o estado de So Paulo como o
maior
produtor, respondendo por cerca de 90% da produo brasileira
(tabela 2).
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 6
O Brasil j foi um grande produtor de amendoim. Na segunda metade
do
sculo XX, a cultura se expandiu a partir dos anos 50, quando as
gorduras animais
comearam a ser substitudas pelos leos vegetais, especialmente de
amendoim e
algodo, em decorrncia do processo crescente de urbanizao do pas.
Em funo
disso, a produo aumentou ano a ano, at atingir o volume de 1,7
milhes de
toneladas em 1972. Porm, com o crescimento da cultura da soja,
mais barata e
abundante, as reas de cultivo e a produo foram diminuindo
gradativamente,
estabilizando-se na faixa atual de 85 mil a 95 mil hectares
cultivados, com volume
de produo entre 300 mil e 350 mil toneladas por ano.
Tabela 1. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de
amendoim em
vagem dos principais pases produtores em 2012
Pases 1 Produo
(t)
Relao (%)
rea Colhida
(ha)
P. A. 4
(kg ha-1) P/M 2 A/M 3
01 China 16.800.000 40,8 - 4.700.000 3.574
02 ndia 5.779.000 14,0 54,8 4.900.000 1.179
03 Nigria 3.070.000 7,5 62,3 2.420.000 1.269
04 EUA 3.057.850 7,4 69,7 650.740 4.699
05 Myanmar 1.371.500 3,3 73,0 880.000 1.559
06 Sudo 1.032.000 2,5 75,5 1.619.520 637
07 Tanznia 810.000 2,0 77,5 839.631 965
08 Indonsia 712.874 1,7 79,2 559.532 1.274
09 Argentina 685.722 1,7 80,9 307.166 2.232
10 Senegal 672.803 1,6 82,5 708.986 949
Sub-Total 33.991.749 - - 17.585.575 -
Outros 7.194.184 17,5 100,0 - -
17 Brasil 334.224 0,8 - 110.366 3.028
Mundo 41.185.933 - 100,0 24.709.458 1.667 1 Pases classificados
por volume de produo. 2 P/M = participao percentual do pas em relao
ao Mundo. 3 A/M = participao percentual acumulada dos pases em
relao ao Mundo. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: FAOSTAT
(2014).
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
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Tabela 2. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de
amendoim em
vagem (total duas safras) dos principais estados brasileiros
produtores.
Safra 2012/2013
Estados 1 Produo
(t)
Relao (%)
rea
(ha)
P.A. 4
(kg ha-1) E/P 2 A/P 3
01 SP 293.000 89,8 - 80.500 3.640
02 MG 9.800 3,0 92,8 2.900 3.379
03 PR 6.800 2,1 94,9 2.400 2.833
04 TO 6.000 1,8 96,7 1.500 4.000
05 RS 5.200 1,6 98,3 3.400 1.529
06 BA 3.100 1,0 99,3 3.000 1.033
07 SE 1.400 0,4 99,7 1.100 1.273
08 PB 400 0,1 99,8 500 800
09 CE 300 0,1 99,9 1.100 273
10 MT 300 0,1 100,0 200 1.500
Brasil 326.300 100,0 - 96.600 3.378 1 Estados classificados por
volume de produo. 2 E/P = participao percentual do estado em relao
ao Brasil. 3 A/P = participao percentual acumulada dos estados em
relao ao Brasil. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: CONAB
(2014).
Historicamente, os principais fatores que explicam a reduo da
atividade
econmica com amendoim no Brasil so:
a) a concorrncia crescente da soja, cujo processo de produo
sempre foi
totalmente mecanizado, desde a semeadura at a colheita;
b) a baixa produtividade por rea em alguns anos, devido a
adversidades
climticas e ou ocorrncia de doenas foliares para as quais h
carncia de
gentipos resistentes;
c) baixa qualidade do produto quanto aos nveis permitidos de
ocorrncia de
aflatoxina nos gros;
d) variao sensvel nos preos, principalmente quando da
comercializao;
e) escassez, em alguns anos, de sementes de boa qualidade,
refletindo-se na
elevao dos preos das sementes, e consequentemente, encarecendo o
custo de
produo;
f) custo elevado do arrendamento da terra, variando de 15 a 20%,
conforme a
regio produtora;
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 8
g) dificuldade de captao de crdito em virtude de ser considerada
cultura de
alto risco e de produo incerta pelos agentes financiadores;
h) desvalorizao cambial da moeda nacional, encarecendo os
insumos,
aumentando os custos de produo e a descapitalizao dos produtores
de
amendoim.
Tradicionalmente, o amendoim em vagem sempre foi beneficiado e
os gros,
debulhados, destinados indstria extratora de leo bruto e ou
pequenas
indstrias, geralmente caseiras, para a fabricao de confeitos.
Entretanto, a partir
de meados da dcada de oitenta, uma nova linha de processamento
industrial
cresceu no estado de So Paulo, caracterizada pela utilizao de
gros grados de
amendoim na fabricao de diversos produtos alimentcios, tanto na
linha de doces
como na de salgados. Mais exigente em qualidade, este novo tipo
de produto gerou
forte competitividade na rea agrcola e do pr-processamento. Em
conseqncia,
forou a seleo de produtores, de maneira que, os mais cuidadosos
com a
tecnologia da produo e com a qualidade do produto colhido,
permaneceram no
mercado.
Atualmente, no estado de So Paulo, a produo ocorre em duas
regies
distintas: a regio Norte, antigamente conhecida como Alta
Mogiana,
representada, pelos municpios de Ribeiro Preto, Jaboticabal,
Sertozinho e
Dumont e a regio Sudoeste, antigamente conhecida como Alta
Paulista,
representada pelos municpios de Marlia, Tup, Lins, Pompia e
Oswaldo Cruz.
A primeira caracteriza-se pelo predomnio de solos mais
argilosos, com
fertilidade varivel de mdia a alta, onde predomina o cultivo do
amendoim das
guas em reas de reforma de canaviais. Nesta regio, as reas
cultivadas variam
de 90 a 1.450 hectares (40 a 600 alq.), com maior diversificao
de cultivares.
tambm, nesta regio, que se observam maiores esforos no sentido
de evoluir a
tecnologia da produo de amendoim. Na tabela 3 so apresentados os
principais
estados da federao, responsveis pela produo da 1 safra de
amendoim, mais
conhecida como amendoim das guas.
Na regio norte do estado de So Paulo, o amendoim cultivado nas
reas de
reforma de canaviais. Feito o ltimo corte econmico da
cana-de-acar, o solo
preparado e corrigido quimicamente para receber um novo ciclo
canavieiro.
Normalmente, a rea de reforma liberada pelas usinas e
destilarias em setembro
ou outubro, para o cultivo do amendoim das guas. Este deve ser
colhido
preferencialmente, at meados de fevereiro, ou no mais tardar, at
a primeira
semana de maro, quando feito o plantio da
cana-de-ano-e-meio.
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
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Tabela 3. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de
amendoim em
vagem, primeira safra (amendoim das guas), nos principais
estados
brasileiros produtores. Safra 2012/2013
Estados 1 Produo
(t)
Relao (%)
rea
(ha)
P.A. 4
(kg ha-1) E/P 2 A/P 3
01 SP 284.900 92,9 - 77.600 3.671
02 MG 9.800 3,2 96,1 2.900 3.379
03 PR 6.800 2,2 98,3 2.400 2.833
04 RS 5.200 1,7 100,0 3.400 1.529
Brasil 306.700 100,0 - 86.300 3.554 1 Estados classificados por
volume de produo. 2 E/P = participao percentual do estado em relao
ao Brasil. 3 A/P = participao percentual acumulada dos estados em
relao ao Brasil. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: CONAB
(2014).
Na regio Sudoeste, predomina solos mais arenosos, com
fertilidade varivel
de mdia a baixa, onde era mais freqente o cultivo do amendoim
das guas
seguido pela cultura do amendoim da seca, principalmente nas
antigas fazendas
de caf com problemas de nematides formadores de galhas. Tambm
era comum o
arrendamento de terras de pastagens degradadas para produtores
de amendoim.
Neste caso, o produtor de amendoim assumia os custos das operaes
de calagem
e adubao da cultura. O tempo mnimo de arrendamento era de dois
anos, aps o
qual, o proprietrio recebia a terra de volta com resduos
minerais e orgnicos
provenientes das duas safras de amendoim, podendo reinstalar a
pastagem.
Hoje, a regio Sudoeste se caracteriza pela consolidao da expanso
da
atividade canavieira, iniciada a partir de meados dos anos
noventa. Tambm se
observa maior participao do amendoim das guas em relao ao
amendoim da
seca, em reas cultivadas que variam de 25 a 1.200 hectares (10 a
500 alqueires).
Das guas e da seca so terminologias de mercado, prprias da
cultura do
amendoim, e referem-se s pocas de colheita das vagens. Assim,
quando a
colheita do produto se concentra nos meses de janeiro e
fevereiro, tem-se a colheita
do amendoim das guas, devido a maior freqncia das chuvas nesses
meses.
Quando a colheita do amendoim ocorre nos meses de junho a julho,
tem-se a safra
do amendoim da seca, devido ao predomnio de ambiente mais seco
nessa poca do
ano. Atualmente, veem sendo adotadas as terminologias amendoim
primeira safra
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 10
e amendoim segunda safra em substituio aos termos amendoim das
guas e
amendoim da seca, respectivamente.
Em ambas as regies, a produo agrcola realizada por produtores
que
cultivam o amendoim em terras prprias e ou arrendadas, sendo o
arrendamento
mais comum.
1.4. A Rede Agroindustrial do Amendoim
Independente da regio de produo, a unidade bsica de
comercializao no
mercado a saca de 25 kg de amendoim em vagem. Normalmente, o
amendoim
avaliado pelo comprador, denominado cerealista, que d preferncia
ao produto
que no tenha tomado chuva (amendoim chuvado), livre de
aflatoxina (micotoxina
causada por Aspergillus flavus) e que apresente, no mximo, 12%
de umidade na
vagem e renda mnima de 16 a 17 kg de gros para os cultivares de
porte ereto e
de 18 a 19 kg de gros para os de hbito rasteiro.
Renda a terminologia prpria do comrcio de amendoim utilizada
pelos
cerealistas e se refere relao percentual, em massa, de sementes
para frutos,
para designar a quantidade de gros que todas as vagens rendem ou
produzem.
Em mdia, os cultivares nacionais apresentam uma renda de 70%,
isto , de
cada 100 kg de amendoim em vagem, retiram-se 70 kg de gros, ou,
trs sacas de
25 kg de amendoim em vagem rendem, aproximadamente, uma saca de
50 kg de
gros HPS. Com estas caractersticas, o produtor recebe o melhor
preo pelo
produto.
Como cerealista ou maquinista compreende-se a pessoa jurdica
(particular, agroindstria, cooperativa, etc.) ou seu
representante comercial, que
possui a infraestrutura de beneficiamento. Ele recebe o produto
em vagens
ensacadas ou a granel, armazenando-o em pilhas ou a granel,
enquanto no
encaminhado para a pr-limpeza (ventilao).
A seqncia bsica de beneficiamento para produo de sementes :
a) recepo das vagens (em sacas ou a granel);
b) ventilao das vagens a granel (ou aps a abertura das
sacas);
c) separao das impurezas (tocos de cana-de-acar, torres de solo,
pedras,
pedaos da prpria planta, alm de outras);
d) debulha das vagens (abertura da vagem e retirada das
sementes);
e) classificao das sementes por tamanho em peneiras de crivos
circulares e
em mesas densimtricas;
f) tratamento qumico das sementes com fungicida e
inseticida;
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
11
g) acondicionamento em sacas com capacidade para 40 kg, seguido
do
armazenamento.
A seqncia bsica de beneficiamento para produo de gros HPS :
a) recepo das vagens (em sacas ou a granel);
b) ventilao das vagens a granel (ou aps a abertura das
sacas);
c) separao das impurezas (tocos de cana-de-acar, torres de solo,
pedras,
pedaos da prpria planta, alm de outras);
d) debulha das vagens (abertura da vagem e retirada dos
gros);
e) classificao dos gros por tamanho em peneiras de crivos
circulares e em
mesas densimtricas;
f) seleo eletrnica dos gros com descarte automtico daqueles que
se
encontram fora de padro (despeliculados, ardidos, manchados,
quebrados);
g) seleo manual dos gros para retirada daqueles que ainda se
encontram
fora de padro, aps passagem pela seleo eletrnica.
h) acondicionamento em sacas com capacidade para 50 kg, seguido
de
armazenamento.
Paralelamente ao beneficiamento, o cerealista determina o grau
de umidade
do amendoim e a presena ou no de aflatoxina. Para tanto, possui
laboratrio
prprio com tcnico devidamente treinado, ou contrata servios de
terceiros.
Grandes cerealistas possuem o seu prprio laboratrio de avaliao
de aflatoxina
em amendoim.
A classificao por qualidade para o mercado mais exigente da
agroindstria
alimentcia feita em duas seqncias bsicas de seleo: eletrnica e
manual.
Nesta ltima, os gros maiores so encaminhados por meio de
esteiras rolantes at
as mquinas de ensacamento. Em ambos os lados das esteiras,
funcionrias
devidamente treinadas, retiram, literalmente com as mos, todos
os gros fora de
padro. Este produto conhecido como amendoim HPS (Hand Picked
up
Selected). Atualmente, todo processo de beneficiamento e
classificao
mecanizado e informatizado.
O amendoim do tipo HPS o que recebe maior remunerao, pois
vendido
s grandes indstrias de alimentos nacionais e multinacionais.
Estas avaliam em
laboratrio prprio os nveis de aflatoxina nos gros. Se no
estiverem de acordo
com o padro nacional e ou internacional (tipo exportao) de
toxicidade, o lote do
produto devolvido ao cerealista. Uma vez aprovado, o produto
encaminhado
para a torrao com despeliculamento simultneo. Em seguida, entra
nas linhas de
produo de confeitos doces e salgados, que sero adquiridos pelo
consumidor
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 12
final, normalmente mais exigente.
Os gros menores, porm, de razovel qualidade, so vendidos aos
pequenos
empresrios que produzem as paoquinhas e ps-de-moleque de fundo
de
quintal, enquanto os ardidos, despeliculados e quebrados, muito
pequenos, so
vendidos para a indstria extratora de leo bruto. Nesta, o
rendimento industrial
da ordem de 41% para a extrao de leo e de 57% para a produo de
farelo, ou
seja, de cada 100 kg de gros, obtm-se 41 kg de leo e 57 kg de
farelo.
A semente de amendoim representa um insumo relativamente oneroso
para o
produtor de amendoim. Na figura 1 encontra-se, de maneira
sumarizada, a rede
agroindustrial do amendoim.
1.5. Fatores que Influenciam o Preo do Amendoim
Basicamente, so quatro os fatores que interferem no preo do
amendoim no
campo:
1.5.1. Clima
As chuvas constituem o principal componente do clima que
determina o preo
do amendoim. A gua disponvel no solo e a umidade no ambiente so
importantes
durante todo o ciclo da cultura. A falta no incio determina a
perda ou o atraso na
semeadura do amendoim das guas, reduzindo a produo e sugerindo
a
elevao do preo no mercado. A seca durante os estdios da granao
da vagem
resulta no chochamento destas, dando origem ao amendoim
bombinha, isto , ao
ser pressionado pelos dedos da mo estoura, produzindo um som
caracterstico de
vagem vazia. Isto se reflete em frustrao de safra e elevao de
preos. Por outro
lado, chuvas na poca da colheita, seja amendoim das guas ou da
seca,
acarretam em perda de qualidade do produto, risco de aflatoxina
e com certeza,
reduo do preo pago ao produtor.
1.5.2. Preo da cana-de-acar
Se o preo da cana-de-acar diminui, a tendncia do fornecedor que
sabe
cultivar amendoim aumentar o cultivo desta espcie nas reas de
reforma e
buscar a compensao na venda do amendoim em vagem. O mesmo
raciocnio
adotado pelas usinas, ofertando mais terras para
arrendamento.
Conseqentemente aumenta a oferta do produto com a inevitvel
reduo de preo.
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
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Figura 1. Resumo da rede nacional do agronegcio amendoim.
1.5.3. Poltica de exportao
No momento no interfere tanto, pois o amendoim produzido no
Brasil
consumido internamente, sendo muito pouca a quantidade
exportada. Entretanto,
se for pensada uma poltica de produo visando o mercado externo,
h que se
tomar cuidado sob trs aspectos bsicos: a) a Argentina, mais
agressiva no
mercado internacional, possui maior quantidade de terras em
cultivo com
amendoim, com volumes de produo, conforme o ano safra, duas a
trs vezes
maiores que a produo brasileira; alm disso, o custo de produo do
amendoim
argentino tem sido menor que o do correspondente brasileiro; b)
no se pode abrir
total e repentinamente o mercado de exportao, sem antes preparar
o nosso
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 14
produtor para enfrent-lo; caso contrrio, corre-se o risco de
alijar bons
agricultores do sistema produtivo; c) estimular a estruturao e
ou reestruturao
de todo o setor produtivo, de maneira a estabelecer anualmente,
um fluxo contnuo
e de grande escala, para atender a demanda do mercado
internacional liderada
pelos pases asiticos, especialmente China.
1.5.4. Taxa de cmbio
A taxa de cmbio influencia diretamente nos preos dos insumos
utilizados na
instalao e conduo da cultura, aumentando as relaes de troca, o
custo de
produo e reduzindo a margem de lucro do produtor. Portanto, atua
mais nos
custos de produo do que propriamente no preo do produto.
2. O INCENTIVO DA COPLANA CULTURA DO AMENDOIM
2.1. Introduo
Localizada no municpio de Jaboticabal, SP, a Cooperativa dos
Produtores de
Cana da Regio de Guariba (COPLANA), possui toda a infraestrutura
necessria
recepo, beneficiamento, armazenamento e comercializao do
amendoim
produzido nas reas de reforma de cana-de-acar e provenientes de
todas as
regies abrangidas pela cooperativa.
2.2. Histrico
A tecnologia adotada pelos cooperados no era diferente daquilo
que
tradicionalmente se fazia ao longo dos anos 60, 70 e at 80, ou
seja, predomnio do
cultivar Tatu, que apresenta hbito de crescimento indeterminado,
limitando a
produo devido aos problemas que ocorrem nas operaes manuais de
arranquio
e chacoalhamento das plantas e vagens de amendoim arrancadas e
no subsequente
enleiramento manual das plantas, para secagem no campo e
posterior
recolhimento mecanizado. Havendo descuido nas operaes
relacionadas
colheita, principalmente o chacoalhamento e enleiramento,
ocorria o contato
indesejvel do solo com as vagens midas, possibilitando assim, o
desenvolvimento
do fungo Aspergillus flavus e a ocorrncia de aflatoxina em nveis
totalmente fora
do admissvel pelo mercado consumidor. Face situao crtica a que
chegou a
atividade durante os anos 90, agravada ainda mais pela reduo na
oferta de mo-
de-obra qualificada para as operaes manuais de colheita e
perante a importncia
econmica do amendoim para os produtores da regio, a COPLANA
assumiu a
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Oleaginosas (2014)
15
posio pioneira de programar estudos avanados e aplicados na
cultura do
amendoim para que a atividade adquirisse um novo conceito
profissional e
competitivo, de acordo com os atuais padres da economia
globalizada.
2.3. Pesquisa
Por meio de convnios e parcerias com pessoas e instituies afins,
a partir de
meados dos anos noventa a COPLANA deu incio busca de
conhecimentos sobre
os sistemas de produo de amendoim em uso nos Estados Unidos da
Amrica e
na Argentina, para, a partir de uma viso mais ampla, direcionar
os estudos
bsicos que possibilitassem a aplicao de uma nova tecnologia de
produo de
amendoim no Brasil, porm, acessvel tcnica e economicamente ao
produtor
brasileiro. Paralelamente, em reas de produo sob sua influncia,
a COPLANA
passou a avaliar novos cultivares de hbito prostrado (argentinos
e brasileiros, com
destaque ao IAC-Caiap), de ciclo mais longo e com dormncia de
sementes, de
maneira que pequenos atrasos de colheita no resultassem em
germinao de
sementes nas vagens dentro da terra como acontece normalmente
com o cultivar
Tatu. Da mesma forma, passou a estudar, por meio da utilizao de
mquinas e
implementos agrcolas importadas dos EUA e da Argentina, a
mecanizao total da
cultura, principalmente das operaes de colheita, o que
facilitado pelo porte
prostrado dos desses novos cultivares. Alm disso, avaliou e
continua avaliando a
tolerncia e a resistncia gentica dos cultivares s principais
doenas do
amendoim, resultando na confirmao do cultivar IAC-Caiap como
resistente
verrugose e tolerante s cercosporioses.
2.4. Mecanizao Total do Sistema de Colheita de Amendoim
Em reas de reforma de canaviais, o amendoim cultivado quase
que
exclusivamente sem adubao, semeando-se, preferencialmente para
mecanizao
total, um cultivar que apresente porte mais decumbente
(prostrado), em linhas
espaadas entre si de 90 cm, com densidade de semeadura de 14
sementes/m.
Cultivares argentinos e o prprio IAC Caiap foram avaliados
nessas condies,
obtendo-se inicialmente, rendimentos comerciais da ordem de 100
sacas de 25 kg
por hectare ou 2.500 kg de amendoim em vagem por hectare.
Lagartas e larva
alfinete so as principais pragas que demandam vigilncia e
controle. As principais
doenas so as tradicionais manchas preta e parda, a verrugose e a
ferrugem.
Devido significativa crise de deficincia de mo-de-obra no ano
agrcola
1997/98, a COPLANA importou quatro implementos arrancadores dos
EUA,
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 16
provenientes da Gergia, maior estado norte americano produtor de
amendoim.
O implemento denominado no Brasil de Arrancador Invertedor
de
Amendoim ou Arrancador Enleirador de Amendoim oferecido,
predominantemente, no modelo de duas linhas. Trata-se de
implemento com
massa bruta varivel de 950 a 1050 kg, tracionado por trator
traado de 80 a 90 HP
de potncia recomendada (engate de trs pontos), cuja TDP
trabalhando entre 540
e 1000 rpm aciona os componentes ativos que promovem, em uma
nica passada
sobre fileiras duplas de amendoim, o corte da raiz, arranquio e
enleiramento das
plantas (Figuras 2 e 3). Em plena operao, esse implemento
arranca e enleira 7 ha
de amendoim por dia de 8 horas de trabalho, o que equivale a
substituir 120
homens-dia no campo.
Esse implemento utilizado h mais de quarenta anos nos EUA e o
princpio
de funcionamento reside nos seguintes aspectos: a) sistema de
corte da raiz
principal do amendoim; b) sistema de elevao e chacoalhamento das
plantas; c)
sistema de inverso e enleiramento das plantas.
O sistema de corte da raiz principal constitudo de duas lminas,
que podem
trabalhar em profundidades variveis de acordo com o tipo de solo
e cultivar.
Assim, para cultivares que frutificam mais superficialmente ou
para solos arenosos
ou pouco argilosos a profundidade de corte de 10 cm; j para
cultivares cuja
frutificao seja mais profunda ou para solos mais argilosos as
facas aprofundam a
15 cm no solo.
O sistema de elevao e chacoalhamento das plantas constitudo de
uma
esteira metlica vibratria que capta as plantas arrancadas,
elevando-as e
chacoalhando-as de maneira a retirar o excesso de terra e
promover uma rpida
secagem no campo.
O sistema de inverso e enleiramento constitudo por duplo jogo de
discos
(tambores) giratrios e aletas (varetas) metlicas. Ao atingirem o
topo da esteira
elevatria, as plantas caem por gravidade sobre os discos
giratrios e as varetas
metlicas dispostas lateralmente na parte posterior do
implemento, promovem a
inverso das plantas e a sua deposio de cabea para baixo ou com
as vagens
para cima em leiras uniformes sobre o solo (Figuras 4 e 5).
Cultivares com porte prostrado e frutificao mais superficial
permite melhor
eficincia do sistema mecanizado de arranquio e enleiramento, de
maneira que as
leiras formadas so uniformes em altura e largura. Quando se
trabalha com o
cultivar Tatu ou outro que apresente porte mais ereto, h
necessidade de se roar
parcialmente a parte area para que o implemento promova uma boa
inverso e
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Oleaginosas (2014)
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enleiramento das plantas. Apesar da vantagem dos cultivares de
porte decumbente,
imprescindvel o acompanhamento e monitoramento da fase de
maturao do
amendoim, para que no se perca o ponto de colheita, pois, caso
contrrio, poder
ocorrer a germinao de sementes na vagem (cv. Tatu) ou
desenvolvimento dos
fungos Sclerotinia minor ou Sclerotinia sclerotiorum causadores
da doena Mofo
Branco, que causar perdas de vagens, independente do cultivar
(Figura 6). Essa
doena favorecida por baixas temperaturas (18C), umidade relativa
do ar elevada
(95% a 100%) e solo mido (Barreto, 1997).
Uma vez enleiradas as plantas de amendoim, finaliza-se a
primeira etapa da
colheita mecanizada. No momento do arranquio das plantas, o
amendoim colhido
com cerca de 45% de umidade nos gros. No havendo chuvas, o
amendoim
enleirado seca no campo, reduzindo a umidade para cerca de 16% a
10% em 2 a 6
dias, conforme as condies de insolao, temperatura e ventilao do
ambiente.
Aps a secagem do amendoim no campo, realizada a segunda etapa
da
colheita mecanizada, conhecida como recolhimento. No sistema
tradicional, o
recolhimento das leiras secas (11% a 10% de umidade no gro)
feito por
implementos recolhedores que tambm so tracionados por tratores
de mdia
potncia (engate de trs pontos) e cuja TDP aciona o molinete
captador ou
recolhedor de plantas na leira, elevador de correia que conduz
as plantas at o
cilindro batedor, onde as vagens sofrem o despencamento mecnico,
isto ,
separao fsica das vagens em relao planta me. Esta picada e
direcionada
ao saca palhas, retornando na forma de palha ao solo agrcola.
Nos implementos
antigos, as vagens eram encaminhadas para o sistema de
ensacamento e
acondicionadas em sacos de polietileno de malha grossa com
capacidade para 25
kg. Atualmente, aps o despencamento, as vagens so encaminhadas
ao tanque
graneleiro de tela metlica do implemento. Atingida a plena
carga, o conjunto trator
+ implemento desloca-se para fora do talho, onde por meio de
bscula lateral,
abastece um veculo de transporte, que conduz as vagens a granel
para o sistema
de beneficiamento.
No sistema COPLANA, as leiras de amendoim so recolhidas quando
a
umidade nos gros encontra-se em 16%. Desta forma, reduz-se o
tempo de
secagem de 5 a 6 dias, quando se quer 11% a 10% no campo, para 2
a 3 dias
apenas. Posteriormente as vagens sofrem duas pr-limpezas,
retirando-se as
impurezas grosseiras. Em seguida, as vagens so encaminhadas para
a secagem
artificial.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 18
2.5. Determinao da Renda e do Teor de gua
Quando o amendoim mido chega do campo, retirada uma amostra
homognea desse material para ser analisado em laboratrio. A
amostra
constituda por 500 gramas de vagens onde retirado e calculado o
percentual de
impurezas. Em seguida, as vagens so debulhadas, isto , abertas
para a retirada
dos gros. Estes so separados em bons, brocados e ardidos,
calculando-se o
percentual em peso de cada categoria. Por exemplo: se 500 g de
vagens
corresponderam a 375 g de gros de boa qualidade, isto significa
que a amostra
revelou renda de 75% ou seja, o lote de amendoim representada
pela amostra de
500 g rende 17,5, isto , 25 kg de amendoim em vagem do campo
rendero 17,5
kg de gros no beneficiamento.
Para determinao da umidade, utilizado o mtodo de Brow Duwel,
que
consiste na retirada de 100 g de gros provenientes da mesma
amostra. Estes so
colocados em um erlenmeyer, no qual se adiciona leo at cobrir o
nvel dos gros
de amendoim. Em seguida, o sistema aquecido a 180C, de maneira
que o vapor
dgua a 100C volatiliza e passa por um condensador. Aps 10
minutos a gua
condensada coletada e seu volume medido. Por exemplo: se a mesma
amostra
considerada anteriormente resultou em 17 ml de gua, isto
significa que o lote de
amendoim amostrado contem 17% de umidade no gro. Como a umidade
desejada
de 8%, aplica-se um valor de correo, que reverter em certa
penalizao ao
produtor daquele amendoim. Lembrar que o produto remunerado com
base na
sua renda e umidade no gro.
2.6. Secagem
Aps as duas operaes de pr-limpeza, as vagens so depositadas
em
carretas secadoras, isto , carretas que possuem sistema de
captao de ar quente.
O ar aquecido em pressurizadores que a cada 15 segundos queimam
gs
liquefeito de petrleo (GLP) e injetam ar quente no interior da
carreta. Esta
secagem deve ser feita a baixa temperatura (41C), para que no
haja quebra dos
gros durante o beneficiamento posterior secagem. O ar quente
insuflado na
parte inferior da carreta, onde passa de maneira ascendente pela
massa de vagens
e gros. Cada carreta comporta cerca de 250 sacas de 25 kg de
amendoim em
vagem, cuja umidade inicial nos gros situa-se entre 18% e 16%.
Aps 16 a 20
horas de secagem, a umidade nos gros diminui para 8%. Neste nvel
de umidade e
aps ser beneficiado, o amendoim pode ser armazenado sem risco de
ser
contaminado pelo fungo Aspergillus flavus, cujo desenvolvimento
favorecido por
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Oleaginosas (2014)
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umidade no gro acima de 8% (Figuras 7 e 8).
2.7. Beneficiamento e Classificao
Na COPLANA e em muitas outras beneficiadoras, o beneficiamento
do
amendoim era ou ainda feito por mquinas adaptados do caf.
Primeiramente o
amendoim proveniente do campo passa por um processo de
pr-limpeza e secagem
(item anterior).
A pr-limpeza retira os pedaos de colmos e de touceiras de
cana-de-acar e
funciona com base em trs princpios: vibrao, peneiramento e
ventilao. Aps a
pr-limpeza, o amendoim passa por um catador de impurezas
grosseiras,
separando pedras, torres, etc. Em seguida, as vagens so
encaminhadas ao
debulhador, que consiste em um sistema de quatro facas que
promovem a
abertura da vagem e a retirada dos gros. Na prxima etapa, os
gros passam por
uma coluna de ar que separa os gros inteiros dos cotildones ou
amendoim
banda e das impurezas mais leves (casquinha ou pelcula,
pedacinhos de gros e
embrio). Em seguida, o amendoim passa por um classificador com
peneiras
vibratrias, que os separam em diferentes classes de tamanho,
conforme o
dimetro dos orifcios padronizados em dcimos de avos de
polegadas. Por exemplo,
peneira 20 representa o dimetro dos gros de lotes de amendoins,
que passaram
pela peneira 21, porm, foram retidos pela peneira 20, cujos
orifcios possuem o
dimetro de 20/64 avos de polegada.
Os gros de tamanho inferior ao da peneira 16 vo para a indstria
de leo.
Os gros de peneiras 16 e 17 so destinados para as indstrias de
confeito. Os de
peneiras 18, 19 e 20 so os preferidos para semente, pois tm
maior rendimento na
semeadura; por exemplo, usando amendoim da peneira 18, os
produtores gastam
cerca de 200 kg de sementes por alqueire ou 83 kg/ha. Os
cultivares de porte
rasteiro, do grupo Virgnia, como por exemplo, os cultivares
Runner e IAC 886
apresentam mais de 60% dos gros classificados na peneira 24 ou
acima.
Alm do classificador, o amendoim passa pelas mesas densimtricas,
que
separam o amendoim com base no peso especfico dos gros. Nessas
mesas
identificam-se os gros mais pesados que ficam na parte superior
da mesa
densimtrica (cabea) e que so encaminhados ao seletor eletrnico
para separao
de amendoins de melhor padro de qualidade para atender o mercado
mais
exigente; a poro intermediria que destinada aos mercados menos
exigentes e a
parte inferior (calda) que fica na parte mais baixa da mesa
densimtrica e
constituda pelos gros mais leves e que so destinados s indstrias
de leo. Os
-
INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 20
gros quebrados correspondentes aos cotildones separados so
denominados de
amendoim banda e so destinados a confeitaria mais caseira que
produz as
famosas paoquinhas e ps-de-moleque.
O termo HPS (Hand Picked up Selected) significa em portugus
o
amendoim catado e selecionado mo (Figura 9), correspondente ao
amendoim
da peneira 18 e que, antigamente, era selecionado por mo-de-obra
feminina.
Devido ao custo dessa mo-de-obra especializada, atualmente essa
operao feita
atravs de uma mquina denominada seletora eletrnica, tambm
adaptada do
produto caf, que substitui, aproximadamente, 20 funcionrias
seletoras.
2.8. Seletora Eletrnica
Trata-se de um equipamento que classifica eletronicamente os
gros de
amendoim com base em sua colorao. Nesse equipamento, os gros de
amendoim
caem em forma de bica corrida, deslizando por dois roletes de
metal. Em um
determinado ponto do trajeto, passam por um feixe de fibra tica,
que promove um
reflexo da tonalidade da cor dos gros. O sistema reconhece
quatro cores, a saber:
a) branco para os cotildones (banda); b) amarelo para os gros
imaturos ou de
cultivares de colorao creme; c) preto para os gros ardidos e
batatinhas de
tiririca; d) vermelho para os gros inteiros e desejveis. O
seletor ajustado de
acordo com a cor do tegumento dos gros do cultivar em
classificao. Por exemplo,
se este for vermelho como o cv. Tatu, o ajuste ser feito para a
retirada dos gros
de outra cor; para isto, o ajuste da cor vermelha fica no nvel
zero, enquanto os
demais nveis so determinados de acordo com o rigor da seleo. A
capacidade da
mquina de 600 gros/segundo. O gro descartado recebe um jato de
ar,
desviando-o para outra bica. Os gros descartados ou rejeitados
so encaminhados
para outra mquina seletora eletrnica, de maneira a retirar
somente os gros
ardidos. Estes vo para as indstrias de leo. Os demais,
quebrados, bandas e
inteiros passam novamente por uma mesa densimtrica para
separ-los.
A seleo eletrnica determina os defeitos dos gros e os
classificam de
acordo com as especificaes que constam em uma tabela de padres
de
amendoim, definidos pelo Ministrio da Agricultura. Segundo essa
tabela os
amendoins classificam-se em HPS 1, HPS 2 e HPS 3. Aps a seleo
eletrnica os
gros so acondicionados em sacas com capacidade de 50 kg ou em
big bags com
capacidade para 1.000 kg. De cada 2 toneladas de amendoim
ensacado retirada
uma amostra para anlise de aflatoxina.
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
Oleaginosas (2014)
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2.9. Anlise de Aflatoxina
Na prpria COPLANA existem laboratrio e tcnicos qualificados
para
realizao da anlise de aflatoxina nos gros. Essa anlise consiste
em
cromatografia de camada delgada. O Ministrio da Sade permite at
20 ppb de
aflatoxina, com exceo do tipo B1 que se for o nico presente no
gro, no pode
ultrapassar o limite de 5 ppb. A amostra composta de vrias
subamostras de 20 g
coletadas de sacas de 50 kg. Aps o preparo da amostra, esta
comparada com o
padro, sob luz ultravioleta; o reflexo dessa luz identifica o
nvel e o tipo de
aflatoxina.
Figura 2. Vista posterior do arrancador enleirador de
amendoim estacionado.
Figura 3. Vista posterior do arrancador enleirador de
amendoim, em operao.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 22
Figura 4. Vista posterior dos componentes de
chacoalhamento, elevao e inverso das plantas de amendoim.
Figura 5. Leiras de amendoim distribudas mecanicamente pelo
implemento
arrancador enleirador de amendoim.
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USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas
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Figura 6. Doena mofo branco em plantas enleiradas
de amendoim, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum.
Figura 7. Pilhas de amendoim em vagem a espera da
pr-limpeza.
Figura 8. Carretas secadoras de amendoim em vagem.
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INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 24
Figura 9. Seleo de gros de amendoim pelo mtodo da
catao manual.
BIBLIOGRAFIA
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Gros Safra 2013/2014. Braslia, 2014. Disponvel em: . Acesso em: 18
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