Top Banner
ANTÓNIO JOSÉ PALMA ESTEVES ROSINHA PAOLO ROSI D’ÁVILA RODOLFO DE CASTRO RIBAS JR. MARCOS AGUIAR DE SOUZA VALERIA MARQUES DE OLIVEIRA LUÍS ANTÔNIO MONTEIRO CAMPOS ORGANIZAÇÃO CLÁUDIA BRANDÃO BEHAR LUÍS ANTÔNIO MONTEIRO CAMPOS 1ª edição SESES rio de janeiro 2014 Psicologia nas Organizações
144

LIVRO PROPRIETÁRIO - PSICOLOGIA NAS ORGANIZAÇÕES.pdf

Nov 05, 2015

Download

Documents

Alex Silveira
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
  • ANTNIO JOS PALMA ESTEVES ROSINHAPAOLO ROSI DVILARODOLFO DE CASTRO RIBAS JR.MARCOS AGUIAR DE SOUZAVALERIA MARQUES DE OLIVEIRALUS ANTNIO MONTEIRO CAMPOS

    ORGANIZAO CLUDIA BRANDO BEHARLUS ANTNIO MONTEIRO CAMPOS

    1 edio

    SESES

    rio de janeiro 2014

    Psicologia nas Organizaes

  • Comit editorial externo rodolfo de castro ribas junior, marcos aguiar de souza e paolo rosi d avila

    Comit editorial interno claudia brando behar, patrcia maria de azevedo pacheco e luis antnio monteiro campos

    Organizadores do livro lus antnio monteiro campos e cludia brando behar

    Autores dos originais antnio jos palma esteves rosinha (captulo 1), paolo rosi dvila (captulo 2), rodolfo de castro ribas jr (captulo 3 e 6), marcos aguiar de souza (captulo 4 e 6),

    valeria marques de oliveira (captulo 5), lus antnio monteiro campos (captulo 6)

    Projeto editorial roberto paes

    Coordenao de produo rodrigo azevedo de oliveira

    Projeto grfico paulo vitor fernandes bastos

    Diagramao victor maia

    Superviso de reviso aderbal torres bezerra

    Redao final e desenho didtico roberto paes, rodrigo azevedo de oliveira e jarclen ribeiro

    Reviso lingustica aderbal torres bezerra, cludia lins e daniela reis

    Capa thiago lopes amaral

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quais-

    quer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou

    banco de dados sem permisso escrita da Editora. Copyright seses, 2014.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (cip)

    P974 Psicologia nas Organizaes

    cludia brando behar e lus antnio monteiro campos [organizador].

    Rio de Janeiro: Editora Universidade Estcio de S, 2014.

    144 p

    isbn: 978-85-60923-18-2

    1. Psicologia. 2. Organizao. I. Ttulo.

    cdd 158

    Diretoria de Ensino Fbrica de Conhecimento

    Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus Joo Ucha

    Rio Comprido Rio de Janeiro rj cep 20261-063

  • Sumrio

    1. Apresentao 7

    2. Viso histrica e conceitual da Psicologia 9

    Introduo 10

    Conceito e viso histrica da Psicologia 11

    Mas o que justifica condutas to diferenciadas nas pessoas? 11

    Momento I A Influncia Filosfica 12

    Momento II A Psicologia Cientfica 13

    Momento III A Psicanlise 13

    Momento IV O Behaviorismo e a Psicologia da Forma (Gestalt) 14

    Momento V A Psicologia Cognitivista 15

    Desenvolvimento histrico sobre a interpretao do comportamento humano 16

    O estudo da inteligncia 16

    Abordagem psicomtrica 16

    Abordagem cognitiva 18

    Abordagens contextuais e Sistmicas 19

    O estudo da personalidade 20

    A natureza da personalidade 20

    Uma viso integradora de personalidade 20

    A Psicologia na viso contempornea 21

    Origem da Psicologia Social 21

    Mudana Metodolgica 23

    3. Psicologia Aplicada ao Espao Organizacional 29

    Introduo 30

    A Psicologia no Contexto Organizacional 30

    A influncia do processo de intrustrializao no surgimento

    da Psicologia Organizacional 32

    Teoria da Administrao 33

    reas de atuao do psiclogo na organizao 39

    Psicopatologia do Trabalho 44

    O dilogo entre o indivduo e a organizao 45

    Caractersticas Culturais 46

    Caractersticas Sociais 47

  • 4. Diferenas Individuais e Processo Decisrio 55

    Introduo 56

    Diferenas Individuais e Tomada de Deciso 56

    Diferenas individuais, Personalidade e tomada de decises 57

    O que personalidade? 58

    Cinco perspectivas psicolgicas acerca da personalidade 59

    Perspectiva Biolgica ou Gentica 59

    Perspectiva Psicanaltica ou Psicodinmica 60

    Estrutura da personalidade na perspectiva psicanaltica 61

    Perspectiva Behaviorista ou Comportamentalista 62

    Ivan Petrovich Pavlov e o condicionamento respondente 62

    B. F. Skinner e o condicionamento operante 64

    Perspectivas dos traos de personalidade 66

    Extroverso e Introverso em Carl Jung 66

    Raymond Cattell, Personalidade e a Estatstica Moderna 66

    O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five Model) 68

    O Modelo dos Cinco Grandes Fatores no Mundo do Trabalho 68

    Perspectiva Humanista da Personalidade 69

    Abraham Maslow e a busca da autorrealizao 69

    A hierarquia de necessidades de Abraham Maslow 70

    Carl Rogers e a perspectiva centrada na pessoa 71

    Personalidade e Cultura 71

    Pensamento Intuitivo e Pensamento Analtico 71

    Personalidade e estilos de pensamento 72

    Processo de Deciso Individual e em Grupo 72

    5. Seleo nas Organizaes 77

    Introduo 78

    Processo seletivo nas organizaes 78

    Anlise do cargo, anlise do trabalho e perfil profissiogrfico 80

    Recrutamento de pessoal 83

    Conceituao, objetivos e avaliao da seleo de pessoal 85

    A entrevista 87

    Testes psicomtricos 88

    Simulaes de desempenho 89

    Dinmicas de grupo 89

    Distores no processo avaliativo | Vieses 92

    A seleo de pessoal sob o ponto de vista do candidato 94

  • 6. Treinamento e gesto de pessoas 97

    Introduo 98

    Treinamento 99

    Aprendizagem nas corporaes 99

    Condies facilitadoras de aprendizagem no meio organizacional 102

    Treinamento | Conceituao, objetivo e avaliao 105

    Mtodos e programas de treinamento 108

    1) Avaliao de necessidades de treinamento 109

    2) Definio de objetivos 110

    3) Planejamento do projeto ou programa de treinamento 112

    4) Aplicao do treinamento 114

    5) Avaliao do treinamento 114

    Gesto de pessoas 115

    Conceituao e objetivos 116

    Gesto de conflitos, relaes interpessoais e relaes de poder 118

    Avaliao de desempenho 120

    7. Comportamento Organizacional 127

    Introduo 128

    tica e comportamento organizacional 132

    O processo de pesquisa no comportamento organizacional 138

    Que ideia bsica poder estar por trs dessas investigaes? 139

  • 7Apresentao

    Este livro de Psicologia nas Organizaes destinado no apenas a psiclogos, mas a todos

    os profissionais que atuam em organizaes. Alm de desenvolver brilhantemente aspec-

    tos relacionados ao comportamento organizacional, consegue de forma resumida promo-

    ver um panorama geral da histria da psicologia e ainda desenvolve o tema personalidade

    atravs das mais diversas abordagens da psicologia, dando ao profissional que trabalha na

    rea a possibilidade de interpretar o comportamento humano sob diferentes perspectivas.

    O livro Psicologia nas Organizaes apresenta as principais ferramentas para capacitar

    o profissional no desenvolvimento das atividades necessrias para a sua atuao nos dife-

    rentes nveis organizacionais, tais como: recrutamento e seleo, treinamento e gesto de

    pessoas, processo decisrio e gesto de pessoas.

    O presente livro consegue reunir doutores renomados da rea organizacional de insti-

    tuies de referncia, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade

    Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade de Lisboa e Escola de Comando e

    Estado-Maior do Exrcito Brasileiro (ECEME).

    Outro diferencial do livro refere-se forma didtica com que ele desenvolvido,

    iniciando cada captulo com os objetivos de aprendizado e finalizando com um estudo

    de caso, alm de um resumo e indicao de sites, vdeos e filmes referentes ao assunto

    abordado, o que enriquece a aprendizagem e facilita a consolidao da informao de

    forma diversificada e prtica.

    A psicologia nas organizaes tem crescido muito em funo da necessidade de inte-

    grar os interesses dos empresrios com as necessidades dos trabalhadores. A psicologia

    se prope ento a desenvolver um dilogo entre as partes com o objetivo de criar um equi-

    lbrio dinmico, ampliando os ganhos e reduzindo as perdas para ambos. Trabalho rduo

    que os autores conseguem desenvolver de forma fascinante.

    Estava faltando nessa rea um livro que unisse a teoria proveniente do espao acadmi-

    co com a prtica de profissionais que atuam no mercado de trabalho. Por esse motivo, esse

    livro que voc tem em mos tem todos os requisitos necessrios para tornar-se um livro de

    referncia no assunto.

    claudia brando behar e lus antnio monteiro campos

  • Viso histrica e conceitual da Psicologia

    antnio jose palma esteves rosinha

    11

  • 10 captulo 1

    Introduo

    OBJETIVOS

    1. Identificar o objeto de estudo da Psicologia;

    2. Apresentar uma viso crtica sobre a evoluo histrica da Psicologia;

    3. Descriminar os principais momentos e marcos histricos da Psicologia;

    4. Posicionar a inteligncia e a personalidade como disciplinas distintas, mas essenciais e complementa-

    res na interpretao do comportamento;

    5. Classificar e explicar as diferentes abordagens ao estudo da inteligncia;

    6. Diferenciar a abordagem nomottica da ideogrfica no estudo da inteligncia;

    7. Clarificar o conceito de inteligncia personalidade;

    8. Avaliar e posicionar os conceitos de estabilidade e mudana da personalidade;

    9. Posicionar a Psicologia Social como base para a anlise do comportamento social e das relaes in-

    terpessoais.

    Abordar o tema do comportamento humano e os processos que lhe esto associados, passa

    numa primeira fase por compreender a evoluo das concepes sobre o homem e por po-

    sicionar aspectos centrais do seu funcionamento, o domnio cognitivo inteligncia e

    o domnio conativo personalidade. A discusso sobre o trabalho evidentemente ampla

    demais para um s captulo, no admira que cada corrente da Psicologia lhe tenha procu-

    rado dar resposta, mas preciso clarificar que o comportamento do homem s pode ser

    entendido nas suas idiossincrasias e pluralidade com uma viso integrada e em contexto.

    Para isso, comea-se pelas concepes filosficas do Homem, com repercusso na Psico-

    logia. Posteriormente reflete-se sobre os dois grandes pilares estruturantes do indivduo,

    inteligncia e personalidade, abordando diferentes perspectivas que traduzem uma viso

    mais nomottica e idiossincrtica do homem. Olhamos por fim, para a disciplina que na

    atualidade mais se interliga temtica da Psicologia das Organizaes e das relaes inter-

    pessoais: a Psicologia Social.

    ATENO

    Em particular destacam-se temticas como o conformismo, obedincia, as atitudes, a dissonncia cognitiva.

    Por fim contrapem-se a abordagem construcionista cognitivista, enquanto viso contempornea do homem

    social, que aponta no para uma Psicologia cognitiva individual, mas para uma Psicologia Social psicolgica.

    1 Viso histrica e conceitual da Psicologia

  • captulo 1 11

    Conceito e viso histrica da Psicologia

    A interrogao que prevalece e que sempre apaixonou todos aqueles que estudam Psicologia

    quem sou eu? mantem-se bastante atual. Temas como o comportamento e a conduta huma-

    na, que sempre cativaram os investigadores, assumiram diversos contornos ao longo dos anos.

    CONCEITO

    Mas o que a Psicologia? Qual o seu objeto de estudo?

    A Psicologia uma disciplina, um campo de pesquisa que se interessa pelo que o ser humano sente, pensa,

    quer, gosta, faz, como faz e porque faz. por inerncia a cincia do homem.

    Diversos autores como Davidoff (2006), Vergara (2007) e Bergamini (2010), entre outros,

    so consensuais em apont-la como a cincia do comportamento. Porm importante

    considerar que a Psicologia se dedica ao estudo de diversos fenmenos que no esto di-

    retamente relacionados com o comportamento. Estuda os mundos internos e externos, a

    conscincia e os comportamentos do indivduo, independentemente do que possam pen-

    sar e sentir. A Psicologia estuda ainda os processos mentais, ainda que tenha de usar o

    comportamento como referncia a esses processos.

    Enquanto cincia tem como objetivo encontrar princpios gerais e no acontecimentos

    especficos referentes a uma pessoa. Parte assim de leis gerais para compreender o com-

    portamento individual. Entretanto, procurar a unidade da Psicologia uma utopia, porque

    embora tenha o seu prprio objeto de estudo a mente humana confina com outras

    cincias, as biolgicas, as sociais, a Antropologia, a Lingustica, e mais recentemente as

    neurocincias e a ciberntica, o que lhe confere plasticidade e vitalidade.

    Mas o que justifica condutas to diferenciadas nas pessoas?

    A Psicologia ajuda-nos a esclarecer as questes das diferenas campo central na Psico-

    logia Diferencial, que atende s diferenas intra e inter individuais no indivduo e nos grupos

    e as questes das relaes interpessoais, to importantes na gesto contempornea.

    Estudar o comportamento significa observ-lo no seu curso, o que envolve inmeras vari-

    veis. Isto proporciona aos prprios estudantes uma srie de aprendizagens em vrios temas.

    A Psicologia viabiliza assim um conjunto amplo de aprendizagens acerca do autoconheci-

    mento, do ajustamento social, da identificao das diferenas individuais, da aquisio de

    habilidades sociais, da administrao de conflitos e da gesto de pessoas, entre outras.

    fato que o crescente interesse pela compreenso da conduta faz gerar um conheci-

    mento, muitas vezes compartilhado, que no se associa ao escopo da cincia psicolgica, o

    que chamamos de senso comum. O senso comum discute fenmenos observados, toman-

    do como foco explicaes populares e, portanto, no produzidas por pesquisas cientficas.

    REFLEXORefletir sobre o passado da Psicologia refletir sobre o prprio conceito de cincia psicolgica e fazer uma

    viagem para compreender as ideias defendidas pelos seus interlocutores. A viagem que nos propomos

  • 12 captulo 1

    fazer tem como fio condutor os quatro momentos propostos por Andr Amar (In: Gauquelin e Gauquelin et

    al., 1987): a influncia filosfica, a Psicologia Cientfica, a Psicanlise, a Psicologia Fenomelgica e a

    Psicologia cognitiva.

    Momento I A Influncia Filosfica

    Embora a Psicologia enquanto cincia seja jovem, o estudo do comportamento humano,

    ainda que de forma no sistemtica, to antigo quanto a existncia da humanidade. A

    maioria dos estudiosos que descrevem a histria da Psicologia identifica as suas origens

    mais remotas nas reflexes dos antigos filsofos gregos, nos seus questionamentos sobre a

    natureza, o carter e o comportamento do ser humano.

    A mitologia grega, enquanto narrativa sagrada sobre a origem do desconhecido alimen-

    tou muitas das explicaes sobre os fenmenos, mas tornou-se insuficiente. No incio do

    sculo VI a.C., nasce a Filosofia, como forma caracterstica de pensar e que tornou possvel

    estabelecer as bases e os princpios fundamentais de conceitos como razo, racionalidade,

    tica, poltica, arte, fsica, pedagogia e cincia, entre outros.

    Na Antiguidade, filsofos como Scrates (469/ 399 a.C.), Plato (387 a.C.) e Aristteles

    (335 a.C) foram os pioneiros na investigao da alma humana, instigados pela razo, atitu-

    des, crenas, diferenas de comportamento, capacidade criativa e a loucura.

    Para Scrates a caracterstica principal do ser humano era a razo aspecto que permitiria ao

    homem sobrepor-se aos instintos e deixar de ser um animal irracional. A verdade encontra-se no

    devir e no no ser. Usando um mtodo prprio, chamado de maiutica (trazer Luz - fazer nascer),

    partia de perguntas feitas s pessoas, fazendo com que "fizessem surgir as suas prprias ideias"

    sobre as coisas.

    Para Plato, discpulo de Scrates, falar da Psicologia [psuchlogos] falar da concepo da

    alma [psych]. O cerne do pensamento de Plato sintetiza-se no Mito da Caverna, que trata da

    ascenso do filsofo, que sai do mundo sensvel em direo ao mundo inteligvel. Plato deu um

    grande passo ao definir um lugar para a razo no corpo humano - a cabea. Precursor do Inatismo,

    defende que as pessoas nascem com saberes adormecidos que precisam ser organizados para

    se tornarem conhecimentos verdadeiros. As primeiras referncias s diferenas individuais datam

    deste perodo. Plato fala dos dotes naturais para uma profisso. Os indivduos devem dedicar-se

    para o que so dotados.

    Aristteles, discpulo de Plato entendia corpo e mente de forma integrada, a psiqu era o princpio

    ativo da vida, sendo-lhe creditada a paternidade da Psicologia pr-cientfica. Postulava que tudo

    aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta, possui a sua psych ou alma. Estudou as diferenas

    entre razo, percepo e sensao. Da anima pode ser considerado o 1 tratado em Psicologia. A

    funo do homem a atividade da sua alma, que segue ou implica um princpio racional.

  • captulo 1 13

    Momento II A Psicologia Cientfica

    As diversas influncias fisolficas trouxeram um rpido desenvolvi-

    mento cincia moderna e psicologia e, em meados do sculo XIX, o

    pensamento europeu mesclado por um novo esprito o Positivismo

    oriundo de Auguste Comte (1798-1857). O conhecimento da realidade

    apenas possvel atravs de fatos que podiam ser comprovados cientifi-

    camente, observveis e indiscutveis.

    Foram vrios os cientistas que recorreram ao mtodo experimental

    para o estudo da Psicologia. Mas o mrito principal recai sobre Wundt,

    que considerado o fundador da Psicologia Cientfica.

    Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo, as

    operaes mentais resultam da organizao de sensaes elementares

    que se relacionam com a estrutura do sistema nervoso. Titchener (1867-

    1927) e os estruturalistas deram contribuies assinalveis Psicologia,

    ao definirem claramente o seu objeto de estudo a experincia cons-

    ciente. Embora o objeto de estudo dos estruturalistas esteja hoje ultra-

    passado, a introspeo ainda usada em muitas reas da Psicologia. As

    crticas mais fortes ao estruturalismo foram dirigidas ao seu mtodo e

    tentativa de analisar processos conscientes atravs da sua decomposi-

    o em partes, dado que a totalidade de uma experincia no pode ser

    recuperada pela associao das suas partes. A experincia ocorre apenas

    em totalidades unificadas.

    Aps a contribuio de Wundt como fundador da Psicologia Cient-

    fica, surgiram opositores, como o influente psiclogo norte-americano

    William James (1842-1910), que no se identificou com nenhum mo-

    vimento. O autor via o estruturalismo como sendo limitado, artificial e

    extremamente inexato, terminando por encabear um novo movimen-

    to o funcionalismo cujo objetivo era o estudo do funcionamento

    dos processos mentais. Para James, a conscincia subjetiva, est em

    constante evoluo, e tem como principal funo a adaptao dos in-

    divduos aos seus ambientes.

    Momento III A Psicanlise

    No final do sculo XVIII Freud d incio a seus estudos que mais tarde da-

    riam forma Psicanlise. Nesse contexto, os doentes mentais eram tra-

    tados por magnetizadores, que aplicavam os princpios da Fsica ao cor-

    po, explicando as perturbaes psicolgicas com base em distrbios na

    circulao dos fluidos corporais. Surgiu depois o hipnotismo, baseado na

    relao entre causas fsicas e psicolgicas. Como nem todos conseguiam

    ser hipnotizados, Freud desenvolveu o mtodo da coero associativa, le-

    vando os pacientes a recordar situaes traumticas passadas.

    CURIOSIDADE

    Positivismo

    O ideal do Positivismo era a concepo

    de que um nico mtodo seria adequado

    para explicar qualquer tipo de fenmeno,

    no importando se era do campo da Fsi-

    ca, da Qumica, ou mesmo da Psicologia.

    AUTORWundt

    Wundt funda seu laboratrio em Leip-

    zing, na Alemanha. O objeto da Psicolo-

    gia para Wundt o contedo da cons-

    cincia: sensaes, imagens e afetos.

    Defendia que a Psicologia era uma ci-

    ncia emprica, cujo objeto de estudo

    a experincia interna ou imediata. O ter-

    mo experincia representaria um todo

    unitrio e coerente, considerado a partir

    de dois pontos de vista distintos, porm

    complementares: experincia analisada

    pelo seu contedo puramente objetivo

    - experincia mediata (que remete para

    o mundo externo, para os seus objetos)

    - ou pelo seu contedo subjetivo - ex-

    perincia imediata (que remete para o

    mundo interno, para os seus contedos)

    (Araujo, 2009).

  • 14 captulo 1

    CONCEITO

    Mas o que a Psicanlise? a disciplina fundada por Freud, onde se podem distinguir 3 nveis (Laplan-

    che e Pontalis, 1998, p.384): 1) Um mtodo de investigao que consiste em evidenciar o significado in-

    consciente das palavras, das aes e das produes imaginrias do indivduo; 2) Um mtodo psicoterapu-

    tico baseado nesta investigao e especificado pela interpretao controlada da resistncia, da

    transferncia e do desejo; 3) Um conjunto de teorias psicolgicas e psicopatolgicas em que so sistema-

    tizados os dados introduzidos pelo mtodo psicanaltico de investigao e de tratamento.

    Freud contraria a forma de pensar da poca, desenvolvendo o conceito de inconsciente e a

    ideia de que o ser humano por ele governado. Na atualidade a Psicanlise adquiriu um es-

    pao prprio, de interpretao dos fatos psquicos, mas no se pode dizer que influenciou

    toda a Psicologia. Teve o mrito de ultrapassar o campo da Patologia e de centrar o homem

    na sua totalidade, na relao com as suas manifestaes biolgicas e expresses culturais.

    Momento IV O Behaviorismo e a Psicologia da Forma (Gestalt)

    O ponto de partida do Behaviorismo consiste na necessidade de eliminar da investigao

    cientfica a noo subjetiva da conscincia, para explicar o comportamento a partir da rela-

    o entre estmulo e resposta. O objetivo era chegar a uma Psicologia to objetiva como a F-

    sica ou a Biologia (Gauquelin e Gauquelin, et al., 1987, p. 294). Os behavioristas rejeitaram

    os mtodos introspectivos, restringindo a Psicologia apenas aos mtodos experimentais.

    As ideias do psiclogo norte-americano John B. Watson, em 1912 sobre o estudo do

    comportamento atravs da observao e de mtodos objetivos leva ao nascimento do Beha-

    viorismo. Em 1913, Watson publica o manifesto Psychology as the Behaviorist views it, como

    contraposio tendncia at ento mentalista, isto , internalista, focada nos processos

    psicolgicos internos, como memria ou emoo. Com uma viso positivista de que a cin-

    cia apenas capaz de estudar os fenmenos visveis e observveis, o Behaviorismo rapida-

    mente incorporou uma linguagem tcnica prpria, compreendendo termos como estmu-

    lo, resposta, reforo (positivo e negativo) e condicionamento (clssico e operante).

    O afastamento prematuro de Watson da vida acadmica abriu as portas a diversos tipos

    de behaviorismo. Walter Thompson teve sucesso ao aplicar os princpios do behaviorismo

    publicidade. Mead, em 1934, introduz o behaviorismo social orientado para a construo

    social do self. Em campos opostos, relativamente complexidade terica, surgem Skinner

    e Hull (Richards, 2010). A abordagem de Skinner (1938) puramente terica, centrada no

    estudo emprico da formao do comportamento atravs do reforo contingente, negligen-

    ciando por completo os eventos internos do indivduo. J Hull (1943) introduz uma teoria

    ambiciosa, com postulados, teoremas e quantificao. Apesar disso, Skinner atravs do

    mtodo do condicionamento operante deixou um legado para a aplicao das suas tcni-

    cas na predio e controle do comportamento.

    Surgem crticas ao behaviorismo colocadas pela nova investigao etolgica do com-

  • captulo 1 15

    portamento animal, em particular por Konrad Lorenz (1935) e Niko Tinbergen (1951). An-

    tes de Lorenz, o comportamento era considerado fluido e indescritvel, a partir daqui h

    uma teoria que permite considerar a organizao comportamental de uma espcie e a fun-

    o dos vrios elementos do comportamento na interao com o meio.

    ATENOEnquanto o Behaviorismo crescia na Amrica outro movimento dava os seus primeiros passos na Alemanha:

    a Gestalt. A Gestalt, conhecida como "Psicologia da forma", surge em Berlim com o fundamento de que a

    realidade percebida como um todo e procura compreender a percepo, o pensamento e a resoluo de

    problemas. Este movimento tambm foi opositor ao Estruturalismo e ao Behaviorismo. Kohler, chama de con-

    servadores aqueles que no tm em considerao seno o que mensurvel. Fala numa ordem espacial que

    ser sempre estruturalmente idntica a uma ordem funcional na repartio dos processos de base no interior

    do crebro (Guaquelin e Guaquelin, 1987, p.294). O que leva a dizer que existe analogia, ou isomorfismo en-

    tre a forma que percebemos no espao e aquela que o funcionamento dos nossos rgos perceptivos adota.

    Os comportamentos complexos, de ordem superior, tais como tocar um piano ou a aprendizagem da lin-

    guagem, entre outros, comearam a levantar problemas, assistindo-se ao declnio do behaviorismo e ao

    emergir do cognitivismo.

    Momento V A Psicologia Cognitivista

    Spearman (1923) publicou The Nature of Intellingence and the Principles of Cognition. Na Sua,

    Jean Piaget comeou a estudar o desenvolvimento cognitivo da criana. Os psiclogos cogni-

    tivistas comearam apenas a equacionar o pensamento de uma nova forma.

    Os avanos tecnolgicos, motivados pela Segunda Guerra Mundial, como a inveno do radar e

    a interao homem-mquina, foram alguns dos impulsionadores da Psicologia Cognitiva. Mas a

    inveno que mais contribuiu para a conceitualizao da cognio foi o computador eletrnico

    atravs de trs ideias chave: informao, feedback e programao.

    Apesar do cognitivismo ter se desenvolvido ao longo de uma dcada, o trabalho de

    Miller, Galanter e Pribram (1970) o primeiro passo de sistematizao e de compreen-

    so do fenmeno, assumindo-se como um manifesto para o cognitivismo na Psicologia

    Americana. O argumento central reside na convico de que o comportamento humano

    pode ser melhor compreendido atravs do agrupamento de planos programas para a

    ao, sob o qual o organismo executa de modo a atingir os seus objetivos. Enquanto

    que para o Behaviorismo a unidade central era o S-R, estes autores propuseram a uni-

    dade TOTE (Test-Operate-Test-Exit). Trata-se de um loop de feedback capaz de explicar

    os comportamentos mais complexos.

    O cognitivismo estendeu-se a diversos campos de estudo, como a linguagem (Noam

    Chomsky), a memria (Baddeley), o raciocnio silogstico (Watson e Johson-Laird), a criativi-

    dade (Boden), o modelo da modularidade da mente (Fodor), a perceo (David Marr), a dis-

  • 16 captulo 1

    sonncia cognitiva (Festinger) e as bases para a inteligncia artificial (Smith e Miller). Bruner

    (1965) redescobriu e incorporou a Psicologia Piagetiana no cognitivismo americano. Apesar

    de poder ser questionada a hegemonia da Psicologia cognitivista relativamente s aborda-

    gens computacional, conexionista e sobre o processamento paralelo distribudo (Boden, 2006),

    a mesma continua na ordem do dia.

    A Psicologia Cognitiva est de tal modo entrelaada com a Inteligncia artificial,

    que os outros ramos da Psicologia, especialmente nos Estados Unidos, tm menor im-

    pacto, colocando-a sob olhar da Psicologia Humanista e do construcionismo social

    (movimento de crtica Psicologia Social modernista e que tem em Kenneth Gerson

    (1985) a sua principal referncia terica.

    Desenvolvimento histrico sobre a interpretao do comportamento humano

    A interpretao do comportamento humano s possvel atendendo s duas grandes

    dimenses do sujeito, a sua inteligncia e personalidade. Aborda-se o tema da inteligncia

    seguindo em particular duas abordagens, a psicomtrica e a cognitivista. A personalidade

    abordada analisando-se fatores determinantes do par estabilidade-mudana.

    O estudo da inteligncia

    Abordagem psicomtrica

    Segundo Wechsler (1958), inteligncia o agregado ou capacidade global do indivduo para

    atuar de modo finalizado, pensar racionalmente e proceder com eficincia em relao ao am-

    biente. Essa capacidade global no a mera soma dos seus elementos ou aptides, qualitati-

    vamente diferenciveis, mas parcialmente independentes. O pensamento inteligente tem um

    fim, permite adaptar-se ao meio. Outra inovao notvel o fato de caracterizar o desenvolvi-

    mento intelectual no s at adolescncia, mas tambm nos adultos ao longo de toda a vida.

    Na perspectiva psicomtrica a inteligncia compreendida principalmente a partir de

    sua mensurao. A viso da inteligncia sempre uma concepo globalista, independen-

    temente de se tratar de inteligncia geral ou de inteligncia mais especfica, manifestada

    atravs das aptides (DUARTE In: GLEITMAN et al., 1998, p. 786). Na realidade, quer num,

    quer noutro caso inteligncia vista como unidade ou inteligncia vista como mltiplas

    manifestaes do funcionamento intelectual traduz o funcionamento global do indivi-

    duo perante os problemas com que se depara. Quando se fala da inteligncia, concebida

    por Binet ou Weschler, apesar de substancialmente distintas, est-se numa perspectiva

    como conceito global, no qual cabe uma grande diversidade de operaes, atividades e for-

    mas de funcionamento.

    AUTORSpearman (1904) desenvolveu a primeira verso da anlise fatorial, tcnica estatstica a partir da qual se

    pode extrair o fator comum partilhado por todos os testes, a inteligncia geral ou g.

  • captulo 1 17

    Trata-se de uma teoria monrquica, dado tratar-se de um atributo mental que est subjacente a qualquer

    tarefa intelectual. Constata que as intercorrelaes entre os resultados dos testes eram melhor explicadas

    por um conjunto de aptides mentais subjacentes do que apenas por um nico factor g. Nesta linha sur-

    gem as concepes de Thurstone, que extrai os fatores bsicos, a que chamou aptides mentais primrias

    (espacial, numrica, verbal e de raciocnio, entre outras).

    Guilford (1967) props uma classificao tridimensional das funes intelectuais, com 120 fatores, que

    levam ao fracionamento excessivo das aptides humanas. O seu modelo pode ser sintetizado em trs as-

    pectos, que traduzem a forma como as tarefas intelectuais podem ser classificadas: 1) pelo tipo de opera-

    o que o indivduo convidado a realizar (avaliao, memria); 2) pelos materiais com que tem que traba-

    lhar (figuras visuais, significados verbais) e; 3) pelo resultado final que lhe pedido (relaes, implicaes).

    Wechler (1958) definiu a inteligncia como um conceito global, onde cabem um conjunto de operaes,

    de fatores ou aptides. Na verdade esses fatores nunca so medidas simples. So sempre complexas, pois

    uma determinada aptido s exercida porque tem outros elementos cognitivos em que se apoia (perce-

    o, memria, aptido numrica, linguagem, entre outros).

    RESUMOA grande diferena entre Wechsler e os outros autores que props a priori (anos 1930) uma concepo

    de inteligncia, deixando de ser apenas a definio de Binet inteligncia o que o meu teste mede (BI-

    NET e SIMON, 1908, citados por Anastasi, Urbina, 2000).

    Os que seguem a anlise fatorial, em particular Cattel (1963) do um contributo importante

    na relao entre a inteligncia e a idade. A comparao de diferentes curvas de idade em dife-

    rentes subtestes de escalas de inteligncia permitem-lhe distinguir duas aptides intelectu-

    ais a inteligncia fluida (aptido para lidar com novos problemas) a inteligncia cristalizada

    (repertrio de informao, competncias cognitivas e estratgias adquiridas pela aplicao

    da inteligncia fluida a vrios domnios) (DUARTE In: GLEITMAN, et al., 1998).

    CONCEITOA inteligncia fluida diminui com a idade e a cristalizada no. Na meia-idade, o indivduo alm de possuir

    um maior nmero de conhecimentos, aperfeioou os meios de organizao desses conhecimentos para

    uso posterior. Estamos aqui claramente perante conceitos definidos por Sternberb (2000), por inteligncia

    prtica medida atravs dos testes de conhecimento tcito.

    A psicometria deu um contributo positivo ao estudo da inteligncia ao proporcionar diver-

    sos instrumentos de avaliao, que nos permitem diagnosticar, de modo preciso e vlido

    (i.e. com boas caractersticas metrolgicas) a deficincia mental, nos seus diversos graus;

    predizer o sucesso escolar e profissional e; avaliar uma grande variedade de aptides, umas

    mais gerais e outras mais especficas, ainda hoje muito utilizados como instrumentos de

    seleo profissional.

    A viso psicomtrica teve como mrito mostrar que o desenvolvimento da inteligncia

    aumenta ao longo dos anos, diminuindo a partir de determinada idade, assistindo-se di-

    minuio da eficincia do funcionamento intelectual, cujo decrscimo no idntico em

    todas as pessoas.

  • 18 captulo 1

    Esta abordagem permite uma avaliao e diagnstico diferencial, ou seja, permite compa-

    rar o desempenho das pessoas umas com as outras nos testes. Assim o desempenho de um

    indivduo num dado teste avaliado em comparao com a norma da populao geral. A

    psicometria ajuda-nos a comparar o desempenho de um indivduo com a distribuio nor-

    mal da inteligncia, isto , mostra-nos a posio do indivduo num contnuo da distribui-

    o de indivduos com as mesmas caractersticas, que representa os vrios graus segundo

    os quais se manifesta a inteligncia. Esta perspectiva constata que se verificam variaes

    na forma como os indivduos processam a informao, mas no nos fornece as causas das

    diferenas, no nos esclarece sobre os mecanismos que levam resoluo de problemas.

    Abordagem cognitiva

    A Psicologia Cognitiva procura compreender os conhecimentos, as destrezas e os proces-

    sos, implicados na realizao de diferentes tarefas e na soluo dos diferentes tipos de pro-

    blemas. Pretende-se ligar a realidade dos testes ao modo como os indivduos processam

    a informao. Quando percecionam, prestam ateno, memorizam, pensam, recordam,

    armazenam, transformam e utilizam a informao. Estamos aqui interessados nos meca-

    nismos e no na avaliao (DUARTE In: GLEITMAN, et al., 1998, p. 752).

    ATENO

    De uma maneira geral, h acordo de que a ateno, a perceo, a memria, o raciocnio, a resoluo de

    problemas, a forma como adquirimos e organizamos a informao e vamos usar o conhecimento, so pro-

    cessos centrais da compreenso do funcionamento cognitivo do indivduo, e de determinar as diferenas

    individuais usadas na resoluo desses problemas.

    Existem muitas divergncias sobre os processos e metodologias a empregar no estudo dos

    processos centrais de processamento da informao.

    EXEMPLO

    Existem 2 tipos de estudos que foram realizados para explicar as diferenas individuais, denominados de

    correlatos cognitivos simples e componentes cognitivas complexas.

    As aptides para a execuo das operaes cognitivas, esto longe de corresponder quilo que, basica-

    mente se considera nveis de inteligncia. Os correlatos cognitivos simples so operaes extremamente

    simples, como por exemplo os tempos de reao (intervalo de tempo que um indivduo leva a reagir

    presena de um estmulo que lhe apresentado) usados numa operao.

    A ideia dos tempos de reao, est ligada ideia de Galton, segundo a qual, mais inteli-

    gente aquele que resolve os problemas mais rapidamente. H a ideia de que as diferenas

    na capacidade mental esto relacionadas com a velocidade do processamento. Para se ve-

    rificar esta hiptese, alguns estudiosos tentaram correlacionar o tempo de reao com a

    eficincia, em testes de inteligncia. Indivduos com tempos de reao mais baixos apre-

  • captulo 1 19

    sentavam nveis intelectuais mais elevados nos testes (Hunt, 1976). Verificou-se ainda que

    quanto mais complexa a tarefa proposta mais ntida a correlao entre o desempenho e a

    eficincia intelectual.

    Mas a pertinncia destes estudos foi colocada em questo dado que o valor das correla-

    es entre os tempos de reao e o nvel intelectual, medido atravs dos testes, significa-

    tivo, mas, baixo. Na realidade, as variveis que podem interferir numa resposta aos tempos

    de reao, so tantas, para alm da velocidade de reao meramente fisiolgica do sistema

    nervoso, procurando-se por isso resposta em nveis mais complexos. Surgiram algumas

    tentativas para estudar os processos cognitivos de nvel elevado que formam a base da in-

    teligncia, os chamados componentes cognitivos. Um desses estudos foi empreendido por

    Sternberg (1977) sobre o raciocnio analgico. Os problemas de analogia, de semelhanas,

    so testes, frequentemente utilizados na medida do raciocnio abstrato, sendo considera-

    dos uma boa medida do factor g - Inteligncia Geral.

    Nestes estudos, eram apresentadas s pessoas, diversas analogias em que a soluo

    parecia ser uma operao simples, na realidade, a soluo dos problemas implicava em 5

    operaes diferenciais (DUARTE, apud GLEITMAN, et. al., 1998): a codificao (operao

    que implica traduzir um estmulo numa representao mental, sobre a qual se podero

    realizar, posteriormente, outras operaes); a inferncia (que implica identificar ou gerar

    a relao entre dois ou mais elementos codificados); a categorizao (que implica relacio-

    nar regras ou conceitos conhecidos, com outras regras e outros conceitos); a extrapolao

    das relaes (se o indivduo percecionou a semelhana entre dois elementos, entende que

    aplica ao segundo par a relao inferida entre os outros dois, permitindo identificar a res-

    posta); e a deciso e resposta (que implica decidir quando um indivduo tem de escolher,

    entre vrias alternativas de resposta, qual delas a mais adequada, o que exige comparar as

    vrias solues propostas, entre si, para ver qual se ajusta melhor relao extrapolada e,

    depois, comunicar a resposta escolhida).

    possvel afirmar que a anlise dos componentes das tarefas cognitivas complexas, nos

    ajuda a compreender a inteligncia? A resposta a esta questo exige saber, se esses com-

    ponentes detm um nvel elevado de generalidade, havendo ainda muita investigao em

    aberto de modo a obter-se uma resposta segura.

    Abordagens contextuais e Sistmicas

    Para a abordagem contextual a capacidade humana para raciocinar e agir s pode ser com-

    preendida na ligao ntima ao contexto onde o sujeito opera. A inteligncia no um trao

    universal ou um conjunto de aptides que pode ser medido de forma precisa pelos testes

    convencionais de inteligncia. So enfatizados os fatores externos e a importncia de se

    atender cultura na interpretao da inteligncia. Neisser (1976, citado por STERNBERG,

    2000, p. 41) destacou:

    a importncia de associar a investigao em Psicologia Cognitiva com as evidncias do mundo real.

  • 20 captulo 1

    Finalmente as teorias sistmicas entendem a inteligncia como multifa-

    cetada e multidimensional, envolvendo diversas caractersticas humanas.

    Segundo Sternberg (2000) englobam-se nestas, a Teoria das Inteligncias

    Mltiplas de Gardner (1983), a Teoria Bioecolgica da Inteligncia de Ceci

    (1990), a Teoria Trirquica da Inteligncia Humana (STERNBERG, 1985,

    1996) e a Teoria da Inteligncia Funcional (STERNBERG, 1997). Para Ster-

    nberg (1997) e Rosinha (2009), as teorias convencionais tratam apenas de

    uma pequena parte da inteligncia e no traduzem o que chama de inteli-

    gncia funcional, a aptido para o indivduo se adaptar, moldar e selecio-

    nar contextos que traduzam os seus objetivos.

    O estudo da personalidade

    A estabilidade e mudana da personalidade ao longo do curso de vida

    constitui um tema central que remete para algumas dvidas ou ques-

    tes como:

    REFLEXO

    Em que momento da vida podemos identificar as caractersticas nicas de um sujei-

    to e quando que a personalidade est desenvolvida? Trata-se de um constructo

    unitrio ou multidimensional?

    A natureza da personalidade

    Apesar de a personalidade ser discutida em maiores detalhes no captu-

    lo 3, na considerao das diferenas individuais e o processo decisrio,

    alguns aspectos sero apresentados no presente captulo.

    Relativamente sua natureza psicolgica, a personalidade um

    constructo estvel, mas com possibilidade de mudana e alteraes

    com o decorrer do tempo. A teoria dos traos defende uma maior estabi-

    lidade da personalidade, sendo esta relativa a aspectos mais estruturais,

    o que se revela concordante com as caractersticas identificadas pelos

    traos e pelos instrumentos que tm sido utilizados para os avaliar.

    Uma viso integradora de personalidade

    A teoria de Dan McAdams (1994) apresenta uma viso integradora, ao

    defender que a personalidade apresenta vrios nveis de anlise, cujas

    caractersticas podem facilitar ou no a mudana.

    Um olhar sobre a Psicologia da personalidade implica necessaria-

    mente a concepo dos traos disposicionais, dos seus constructos pes-

    soais e da sua narrativa de vida. Deste ponto de vista, perceber a estrutu-

    CURIOSIDADE

    Personalidade

    O conceito de personalidade tem v-

    rias operacionalizaes possveis. Re-

    cuando origem da palavra, deriva do

    latim persona, que designa a ms-

    cara que os atores gregos e romanos

    usavam para indicar as personagens

    que representavam.

  • captulo 1 21

    ra da personalidade s pode ser realizado com uma concepo que no se interesse apenas

    em medir os traos de personalidade, como defendem as abordagens mais psicomtricas;

    no se interesse apenas em perceber episdios e histrias contingentes que o sujeito apre-

    senta, com vista a fornecer a sua experincia fenomenolgica; e, no se posicione apenas

    na narrativa, na imagtica e nos temas que nelas esto presentes, os valores ou ideologias,

    os episdios da sua vida mais marcantes ou os ideais do self.

    Os trs nveis de anlise da personalidade propostos por McAdams constituem uma

    forma parcimoniosa de estudar a personalidade. uma teoria vlida, sobretudo, porque

    transmite a ideia de que a personalidade no um bloco macio e uniforme e porque a per-

    sonalidade implica o funcionamento, a nveis eventualmente diferentes, no hierrquicos,

    mas paralelos.

    A articulao e integrao defendidas na avaliao da personalidade esto relacionadas

    com dois conceitos, o de consistncia e o de convergncia dado que presidem articulao

    da informao.

    CONCEITO

    Acerca da consistncia deve ser estabelecida uma convergncia entre o plano terico e uma determinada

    observao de comportamento (o sujeito no pode ser psicopata e, simultaneamente ter ressonncia emo-

    cional, isto inconsistente no plano terico). Relativamente convergncia, se estamos a caracterizar um

    comportamento antissocial, h um conjunto de caractersticas que apesar de diferentes, convergem para

    a identificao do grupo. Isto , deve-se atender continuidade ou mudana da personalidade, atendendo

    ao plano ideogrfico e nomottico.

    A Psicologia na viso contempornea

    O estudo sistemtico do comportamento permite inferir que desenvolvemos processos

    psicolgicos (aprendizagem, emoo, motivao e outros) para nos adaptarmos aos mais

    diversos meios. Rodrigues (2001) observa que o estudo da interao social o cerne para a

    compreenso das relaes em vrios meios e, especialmente, no trabalho. Acrescenta ain-

    da que a Psicologia Social tem muito a oferecer aos profissionais da rea de gesto de pes-

    soas, psiclogos, administradores, pedagogos, assistentes sociais entre outros.

    Optou-se neste ltimo ponto por abordar o campo da Psicologia Social, dado que uma

    das disciplinas onde a anlise do contexto sociocultural se faz sentir com maior intensida-

    de, base essencial para a anlise do comportamento social e das relaes interpessoais nos

    mais diversos contextos e em particular no organizacional. O seu objeto de estudo o com-

    portamento dos indivduos em situao coletiva, procurando compreend-los e prev-los.

    Origem da Psicologia Social

    A origem da Psicologia Social alvo de diversas disputas. As suas origens remontam aos fi-

    nais de 1700 e incio de 1900, na Alemanha, mas a sua forma moderna teve incio na Frana

    com Gustav Le Bon e a publicao do livro The Crowd (1896). Dois anos depois, em 1898, o

  • 22 captulo 1

    socilogo Gabriel Tarde publica Etudes de Psychologies Sociale, onde afirma que o fenme-

    no social por excelncia, cujas leis permitem compreender a maior parte dos fenmenos

    a imitaotodas as semelhanas so devido a repeties (TARDE, 1890, p15, citado por

    LEYENS e YZERBYT, 2008).

    Le Bon traz como contribuio a ideia de que as pessoas na multido perdem as inibi-

    es e os padres morais, tornando-se altamente emotivas. As multides so massas efer-

    vescentes onde a irracionalidade governada pelo contgio mental via poder da sugesto

    criando ao que chamou de mente coletiva, que nos faz sentir, pensar e agir de maneira dife-

    rente quando comparado ao comportamento individual. O comportamento pode vir assim

    ser determinado pelas percees do indivduo sobre as aes de outros que o rodeiam. O

    carter uniforme da iluso coletiva garantido pela sugesto contagiosa - imitao recipro-

    ca entre os membros de uma multido a partir de uma primeira sugesto de um dos seus

    membros, reproduzindo-se por afirmao, repetio e contgio. O grupo psicolgico um ser

    provisrio, formado por elementos heterogneos que por um momento se combinam. O

    comportamento das massas compreensvel em termos de uma nova abordagem cient-

    fica da sugesto e do hipnotismo. Sabemos agora que esta mensagem emergiu num dos

    textos de Hitler Mein Kampf sendo interpretada e assimilada por outros como Stalin e

    Mussolini (RICHARDS, 2010).

    CURIOSIDADE

    Para outros autores a origem da Psicologia Social se d na Amrica em 1908, com a publicao de Social

    Psychology do socilogo Ross e com a publicao de Introdution to Social Psychology do psiclogo Mac

    Dougall, apesar de Triplett, j em 1898 ter publicado uma experincia que viria a chamar-se de facilitao

    social. H, todavia, uma clara divergncia entre os dois autores, McDougall afirma a primazia do instinto na

    vida coletiva, j Ross define o comportamento coletivo como produto da sugesto/imitao.

    Verifica-se que na Frana o estudo das multides tem eco nos meios polticos, apesar de

    pouco impacto no meio cientfico, contrariamente aos estudos em laboratrio que acom-

    panham a maioria dos estudos na poca.

    Le Bon influenciou diversos psiclogos europeus como McDougall e Ginsburg, na pro-

    cura da compreenso da mente grupal como explicao psicolgica para o declnio das

    naes e dos povos. Freud equiparou a estrutura social estrutura social individual, esta-

    belecendo a relao entre lder-seguidor ou hipnotista-sujeito. As massas representam cla-

    ramente o inconsciente, na tradio da Psicologia Dinmica. O pensamento de Carl Jung

    sobre o inconsciente coletivo aproxima-se deste conceito (RICHARDS, 2010).

    Nos Estados Unidos destacam-se, Floyd Allport (1924) que refere que a Psicologia Social

    envolve o uso de mtodos cientficos para explicar a forma como a pessoa, influenciada

    nos pensamentos, emoes e comportamentos, perante a presena real ou imaginada de

    outros e James Williams, que escreve os Principles of Social Psychology (1922), onde refere

    que a Psicologia Social a cincia dos motivos das pessoas que vivem em relao social.

    Os motivos so baseados nos instintos, moldados pelos hbitos e pela aprendizagem em

    disposies, que uma vez estabelecidos tendem a manter-se de forma conservadora. James

    Williams segue uma via distinta da abordagem experimental, articulando conhecimentos

  • captulo 1 23

    da Economia, Sociologia e Histria, de modo a responder a questes de ordem prtica, com

    incidncia nos conflitos de interesse nas relaes econmicas, polticas, familiares, cultu-

    rais, educacionais e laborais (Richards, 2010).

    Mudana Metodolgica

    At aos anos 1930, a Psicologia social americana centrou-se nos estudos sobre o indivduo e a

    sua situao social. Aps os anos 1930 assiste-se a uma mudana metodolgica significativa,

    com Thorndike e Likert, atravs da introduo dos mtodos de investigao por questionrio

    e das escalas de atitudes, aplicadas ao diagnstico e interveno sobre a realidade social.

    A viso contempornea das atitudes confere-lhes uma posio mental estvel, direcio-

    nada para um objeto ideia ou pessoa, fruto de uma combinao de crenas, normas e

    avaliaes que levam a uma predisposio ou inteno para agir. As atitudes so assim,

    disposies favorveis ou desfavorveis relativamente a objetos, pessoas e acontecimentos,

    ou em relao a alguns dos seus respectivos atributos. So trs os componentes de uma

    atitude: afeto, cognio e predisposio para agir.

    ATENO

    Neste contexto, destaca-se o estudo inicial de LaPiere (1934). O autor investigou, numa poca em que

    existiam preconceitos muito fortes contra os orientais, a recusa de gerentes de hotis para servirem pes-

    soas chinesas quando solicitados por carta, e o seu comportamento efetivo quando confrontados presen-

    cialmente com um casal oriental acompanhado por dois jovens estudantes e um professor de raa branca.

    Os resultados evidenciaram que o comportamento era muito diferente de uma situao para outra. A expli-

    cao adotada foi em funo das presses situacionais que subalternizam o preconceito.

    O polmico estudo de Santley Milgram (1963), sobre a obedincia autoridade, com a si-

    mulao de choques eltricos, tem como objeto de estudo as reaes individuais em face

    de indicaes concretas de outros.

    EXEMPLO

    No estudo, os sujeitos eram encarregados do papel de professor numa experincia sobre aprendizagem,

    cabendo ao experimentador instruir os sujeitos a aplicar punies, na forma de choques eltricos, a um

    aprendiz (comparsa do experimentador), que est numa sala adjacente. Diversas modificaes ao procedi-

    mento, nomeadamente manipulando a proximidade da vtima, demonstrou que se a vtima s podia ser ouvida,

    65% dos sujeitos iam at ao limite. Se houvesse contacto visual, a percentagem baixava significativamente.

    Quando o experimentador dava as instrues pelo telefone, s 20,5% continuavam a obedecer. Quando

    manipulada a influncia social, atravs da presena de um segundo sujeito, a obedincia chegava aos 92%.

    Se o outro recusava, somente 10% dos sujeitos chegava aos 450 volts. Quando era manipulada a legitimida-

    de da autoridade, experincia conduzida num edifcio normal de escritrios e no na universidade, a obedin-

    cia caa para 48%.

  • 24 captulo 1

    Ainda relativamente s atitudes destaca-se o estudo de Leon Festinger et al. (1956), que

    abordou a teoria da dissonncia cognitiva. Estamos na presena de dissonncia cognitiva

    quando coexistem cognies que no se ajustam entre si.

    EXEMPLOPor exemplo, um homem que se considera atencioso, mas que se esquece do aniversrio da me, encontra-

    se numa situao de dissonncia cognitiva. Um indivduo que, apesar de acreditar que fumar muito provoca

    cancer do pulmo, fuma 3 maos de tabaco por dia, encontra-se numa situao de dissonncia cognitiva.

    A teoria da dissonncia cognitiva tem forte aplicao nos anncios e campanhas publici-

    trias contra o tabaco, ao usar imagens reais, extremamente agressivas com tumores em

    maos de tabaco. A dissonncia pode ser explicada por 5 motivos principais:

    1 Tomada de conscincia da inconsistncia entre pensamentos;

    2Mecanismo de atribuio interna, isto para que algum se sinta mal-estar pela prtica de um ato desprezvel, ter de assumir a responsabilidade por este;

    3 Presena de um estado de mal-estar fisiolgico e psicolgico;

    4 O estado de dissonncia ser atribudo ao comportamento;

    5O estado de dissonncia cognitiva ser psicologicamente desagradvel, constituindo uma motivao, uma ativao do organismo, no sentido da reduo ou eliminao da dissonncia.

    Nos anos 1960, assiste-se ascenso do self e da autoestima, com o desafio situacionista,

    que tem em considerao as disposies individuais e a influncia interacional. O incio

    dos anos 1970 de crise, aps duas dcadas de comportamentalismo social, assistindo-se

    no seu final revoluo cognitivista. Nos anos 1980, h o ressurgimento da pesquisa sobre

    conflitos de grupo, raa, preconceito tnico e os esteretipos.

    Os desafios impostos Psicologia Social correspondem abertura deste campo de in-

    vestigao a uma diversidade muito ampla de objetos de estudo, onde se destacam os efei-

    tos sobre o comportamento das massas em situaes especficas como o pnico, a diminui-

    o de condutas agressivas, a coeso dos grupos, a liderana, os mecanismos da tomada de

    deciso, a persuaso, entre outros. de assinalar que a Psicologia Social ocupa um espao

    de afirmao e de conquista de uma produo intelectual capaz de compreender constela-

    es complexas da relao indivduo-sociedade, dentro de cenrios marcados por desigual-

    dades de diversas ordens.

  • captulo 1 25

    Teoricamente o campo da Psicologia Social encontra-se polarizado entre duas percectivas:

    a Psicologia Social psicolgica, de tradio experimental, focando processos relativos a in-

    divduos e interaes em pequenso grupos, e a Psicologia Social sociolgica, fazendo uso

    de metodologias qualitativas e do estudo do comportamento em grupos mais amplos e at

    mesmo em nvel societal.

    RESUMO

    De modo a encerrar o capitulo, reafirma-se que Psicologia uma cincia que oferece contributos para uma

    melhor compreenso da natureza humana e, consequentemente, da sua conduta. O controle total da con-

    duta pode ser uma ambio, nunca uma certeza. Apenas contextualizando e precisando o nvel de anlise

    a que nos referimos somos capazes de decompor parte da intrincada teia que o comportamento humano

    e os processos que lhe esto subjacentes.

    A Psicologia cresce e muda a cada dia, mas suas razes fundamentais continuam as mesmas, a

    alma, natureza humana ou mente, pois apesar de sofrer inovaes e mudanas lembremos que a Psicolo-

    gia uma cincia nova, mas com um longo passado. Constatamos que o estudo do comportamento to

    antigo quanto a prpria existncia do Homem, sofrendo influncias do campo da Filosofia, da Fsica, da

    Medicina, da Estatstica, da Psicanlise, percorrendo diversas correntes desde ao positivismo ao cognitivis-

    mo, o que expande tambm a sua aplicabilidade.

    Constatou-se que a popularizao dos conceitos da Psicologia induzem, muitas vezes, utiliza-

    o do senso comum para explicar vrias condutas, mas que a afirmao da Psicologia enquanto cincia

    passa pela consolidao do seu mtodo e da sua linguagem.

    Abordamos os dois grandes vetores estruturantes do homem, que o fazem agir de forma fi-

    nalizada a inteligncia e de modo tendencialmente consistente a personalidade. Relativamente

    inteligncia, apontaram-se as abordagens psicomtricas, cognitivistas, existencialistas e sistmicas. Distin-

    guiu-se a perspectiva mais descritiva e quantitativa da abordagem psicomtrica no estudo da inteligncia

    da abordagem cognitivista, mais explicativa dos motivos que levam identificao de diferenas intra e

    inter-individuais.

    Abordou-se a importncia do estudo das multides, do conformismo e da influncia autoridade, revi-

    sitando os conceitos de mente grupal, inconsciente coletivo, como explicaes do comportamento e da conduta.

    Referimos que o estudo da influncia social est orientado para o modo como os outros influenciam

    o nosso comportamento, estudando temas como o conformismo e a obedincia. A cognio social, orientada

    para o modo como ns percecionamos os outros, estuda temas como as atitudes, a identidade, os estereti-

    pos, o preconceito e a atrao. Destacou-se o tema da dissonncia cognitiva como motor para a mudana das

    atitudes. Por fim contraps-se a abordagem cognitivista construcionista, corrente que na atualidade procura

    descrever de modo contextualizado e mais positivo as interaes do homem com a sociedade.

  • 26 captulo 1

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem Psicolgica. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

    ARAUJO, S. Wilhelm Wundt e a fundao do primeiro centro internacional de formao de psiclogos.

    Temas em Psicologia, v. 17, n. 1, p. 9-14, 2009.

    BERGAMINI, C. Psicologia aplicada administrao de empresas. So Paulo: Campus, 2005.

    BERGAMINI, C. Psicologia aplicada administrao de empresas psicologia do comportamento organiza-

    cional (4 ed.). So Paulo: Atlas, 2010.

    BEAUMONT, G. . Introduction to Neuropsychology. Second edition. New York London: The Guilford Press, 2008.

    BODEN, M. A. Mind as Machine: A History of Cognitive Science, 2 vols. (Oxford: Oxford University Press), 2006.

    BRUNER, J. The growth of mind. American Psychologist, v. 20, 1007-1017, 1965.

    CARMICHAEL, C., MCGUE, M. A Longitudinal Family Study of Personality Change and Stability. Journal of

    Personality, v. 62, p.1-20, 1994.

    CASPI, A., MOFFITT, T. E. When Do Individual Differences Matter? A Paradoxical Theory of Personality

    Coherence. Psychological Inquiry, v. 4, n. 4, p. 247271, 1993.

    CATTELL, R. B. Theory of fluid and cristallized intelligence: A critical experiment. Journal of Educational

    Psychology, v. 54, p. 1-22, 1963.

    CHARLES, S. REYNOLDS, C., GATZ, M. Age-Related Differences and Change in Positive and Negative

    Affect Over 23 Years. Journal of Personality and Social Psychology, v. 80 n. 1, p 136-151, 2001.

    CIPRIANI, D. Stability and Change in Personality across the Life Span: Behavioural-Genetic versus Evolu-

    tionary Approaches. Genetic, Social, General Psychology Monographs,122, 19p, 1996.

    CORBIN-SICOLI, M. Continuity and Change in Personality, Vocational Orientation and Study Habits, Attitu-

    des of College Students. Comunicao apresentada no Encontro Anual da Eastern Psychological Associa-

    tion dos Estados Unidos (Baltimore, 12 a 15 de Abril), 1984.

    DAVIDOFF, L.Introduo Psicologia. 3. ed.. So Paulo: Pearson, 2010.

    FESTINGER, L., RIECKEN,H., SCHACHTER, S. When Prophecy Fails: A Social and Psychological Study of

    a Modern Group that Predicted the End of the World. University of Minnesota Press, 1956.

    FRAIZ, P. O racismo em Monteiro Lobato: um estudo de O choque das raas ou O presidente negro in "Pen-

    sar e Dizer", Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1991.

    GERGEN, K. J. Realities and relationships: Soundings in social construction. Cambridge: Harvard University

    Press, 1994.

    GERGEN, K. J. The social constructionist movement in modern psychology. American Psychologist, n. 40,

    p. 266-275, 1985.

    GLEITMAN, H., FRIDLUND, A., REISBERG, D. Psicologia. 3. ed. Lisboa: Fundao Caloust Gulbenkian, 1998.

    GREENE, R. Stability of MMPI Scale Scores Within Four Code types Across Forty Years. Journal of Perso-

    nality Assessment, 55, p. 1-6, 1990.

    GUILFORD, J.P. The nature of human intelligence. New York: McGraw-Hill, 1967.

    HULL, C. Principles of Behavior. Nova York : D. Appleton-Century, 1943.

    HUNT, E. Varieties of cognitive power. In Resinick, L. B. ed., The nature of intelligence, p. 237-60. Hillsdale,

    N. J.: Erlbaum, 1976.

    HURLOCK, E. Personality Development. McGraw Hill: New Delhi, 1974.

    LAPIERE, R. T. Attitudes vs actions. Social Forces. 13, 230-237, 1974.

    LAPLANCHE, J., PONTALIS, J. Vocabulrio da Psicanlise. So Paulo: Martins Fontes, 1998.

  • captulo 1 27

    LEEK, M. R. Adaptive procedures in psychophysical research. Perception, Psychophysics, v. 63, n. 8, p.

    1279-1292, 2001.

    LEYENS, J. P., Yzerbyt, V. Psicologia Social. Trad. Bertrand Lalardy e Lusa Porto. Porto: Edies 70, 2008.

    LORENZ, C. Companionship in Bird Life. In Instinctive Behavior: The development of a modern concept,

    edited by C. H. Schiller. New York: International Universities Press, 1935..

    MCADAMS, D. Can Personality Change? Levels of Stability and Growth in Personality across the Life Span.

    In T. Heatherton, J. Weinberger (eds.), Can Personality Change? Washington : APA, 1994. p. 299-314.

    MCCRAE, R. Constancy of Adult Personality Structure in Males: Longitudinal, Cross-Sectional and Times

    -of-Measurement Analyses. Journal of Gerontology, 35, 6, 877-883, 1980.

    MILGRAM, S. Behavioral study of obedience. Journal of Abnormal and Social Psychology, v. 67, n. 4, p.

    371-378, 1963.

    MILLER, G., GALANTER, E., PRIBRAM, K. H. Plans and the Structure of Behavior, New York : Holt, Rinehart

    and Winston, 1970.

    NORLANDER, T., BERGMAN, H., ARCHER, T. Relative Constancy of Personality Characteristics and Ef-

    ficacy of a 12-Month Training Program in Facilitating Coping Strategies. Social Behavior, Personality: An

    International Journal, v. 30, n. 8, p. 773-783, 2002.

    RICHARDS, G. Putting psychology in its place: Critical historical perspective. 3. ed. Londres: Routledge, 2010.

    ROBINS, R., FRALEY, R. ROBERTS, B., TRZESNIEWSKI, K. A Longitudinal Study of Personality Change in

    Young Adulthood. Journal of Personality, v.69, n.4. 2001.

    RODRIGUES, A. Comemorando um sculo de Psicologia social experimental. Mente Social, v. 5, n.1-2, p.

    11-36, 2001.

    ROSENBERG, B, Life Span Personality Stability in Sibling Statuses. Comunicao pessoal apresentada

    no Encontro Bienal da Society for Research in Child Development dos Estados Unidos (Boston, 2 a 5 de

    Abril), 1981.

    ROSINHA, A. J. Conhecimento Tcito em Contexto Militar: Incurses na Promoo do desenvolvimento de

    Competncias de Comando. Dissertao de Doutoramento em Psicologia dos Recursos Humanos do Traba-

    lho e das Organizaes. Universidade de Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao, 2009.

    SIMES, M. A Personalidade do Adulto: Estabilidade e/ou Mudana. Psychologica, v. 22, p. 9-26, 1999.

    SKINNER, B. The Behavior of Organisms, Nova York, Appleton-Century, 1938.

    SPEARMAN, C. The nature of intelligence and the principles of cognition. Ney York: Arno Press, 1923.

    SPRUNG, L., SPRUNG, H. Historia de la Metodologia en la Psicologia Moderna Etapas de Desarrolo y

    Situacion actual en Alemania. Revista de Historia de la Psicologia, 19, 2-3, p. 85-94, 1998.

    STERNBERG, R. J. Intelligence, information processing, and analogical reasoning: The componential analy-

    sis of human abilities. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1977.

    STERNBERG, R. J. Intelligence and lifelong learning: What's new and how can we use it? American Psy-

    chologist, 52, 1134-1139, 1997.

    STERNBERG, R. J. The Concept of Intelligence. In R. Sternberg (Eds.), Handbook of Intelligence (p. 3-15).

    New York: Cambridge University Press, 2000.

    TINBERGEN, N. The study of instinct. Oxford: Claredon Press, 1951.

    VERGARA, S. Projetos e relatrios de pesquisa em administrao. 8. ed. So Paulo: Atlas, 2007.

    WARBUTON, N. Elementos Bsicos de Filosofia. Trad. Desidrio Murcho. Lisboa: Gradiva, p.78-79, 2007.

    WECHSLER, D. Wechsler Intelligence Scale for Children. San Antonio, TX: Psychological Corporation, 1949.

    WECHSLER, D. The measurement and apraisal of adult intelligence. Baltimore: Williams, Wilkins, 1958.

  • Psicologia Aplicada ao Espao Organizacional

    paolo rosi dvila

    12

  • 30 captulo 2

    Introduo

    OBJETIVOS1. Definir Organizaes

    2. Conceituar Psicologia Organizacional

    3. Identificar reas de trabalho do psiclogo nas organizaes

    4. Analisar questes relevantes no dilogo entre o indivduo e a organizao

    Da infncia at a idade adulta as pessoas interagem socialmente e integram os mais di-

    ferentes grupos sociais, entre os quais se podem destacar a famlia, o crculo de amizades,

    os colegas do ambiente escolar, o grupo de trabalho bem como outros grupos formados nas

    diferentes organizaes culturais, econmicas, filosficas e religiosas em que uma pessoa

    possa fazer parte. Atualmente, as interaes sociais se tornaram cada vez mais acessveis

    populao no s pelas facilidades proporcionadas pelos meios de comunicao e de trans-

    porte, mas tambm, e principalmente pelo uso cada vez mais difundido das redes sociais.

    Embora se julgue oportuno destacar a relevncia social da internalizao e aplicao

    das normas sociais e legais caractersticas das relaes organizacionais para o ambiente de

    trabalho e para a produtividade, o foco do presente captulo reside em identificar concei-

    tos ligados Administrao, s organizaes e em como a Psicologia pode contribuir para

    o espao organizacional. Ao se trabalhar com o desenvolvimento de recursos humanos,

    aceitvel que se estimule a expectativa social e educacional de que a compreenso do papel

    social desempenhado (seja como gestor, psiclogo, integrante de determinada organiza-

    o ou mesmo como cidado) aliado aplicao de prtica de conhecimentos, habilidades

    e atitudes possa contribuir de forma mais efetiva e eficaz para as interaes sociais no con-

    texto organizacional.

    A Psicologia no Contexto Organizacional

    A relevncia da coordenao de pessoas em proveito da realizao dos objetivos organizacio-

    nais tem sido fortemente enfatizada (ETZIONE, 1973). Tal assertiva complementada pelo

    posicionamento segundo o qual o problema das organizaes modernas a maneira de reu-

    nir agrupamentos humanos que sejam to racionais quanto possvel e, ao mesmo tempo,

    produzir um mnimo de consequncias secundrias indesejveis e um mximo de satisfao

    (...) (ETZIONE, 1973, p.9). Assim, pode-se verificar que a coordenao de grupos humanos

    consiste em uma das necessidades fundamentais para as organizaes e o atendimento das

    mesmas requer a habilidade de saber lidar com interesses pessoais e organizacionais, que

    podem ser concordantes, mas por vezes conflitantes ou at mesmo antagnicos.

    Algumas causas de conflito podem ser apresentadas, tais como: a luta pelo poder, o de-

    2 Psicologia Aplicada ao Espao Organizacional

  • captulo 2 31

    sejo de sucesso econmico, a busca pelo status e a explorao humana. Considera-se que os

    conflitos sejam resolvidos de acordo com um modelo de soluo de problema ganhar-ga-

    nhar em alternativa ao mtodo ganhar-perder o qual acarreta onerosas consequncias

    para as organizaes. Quando as partes envolvidas no conflito estiverem satisfeitas poder-

    se- chegar soluo do conflito (LIKERT, LIKERT, 1979, p. 3-8).

    Carvalhal (2011) realizou uma anlise sobre o processo de negociao, uma das formas

    adotadas para a soluo de conflitos. A escolha da abordagem mais adequada para a solu-

    o dos conflitos deve ser precedida de uma interpretao das provveis consequncias dos

    conflitos em termos de tendncia, urgncia e gravidade. Aps destacar a habilidade de ne-

    gociao como relevante para a soluo de conflitos organizacionais, torna-se conveniente

    registrar que essa soluo no deve se constituir um fim em si mesmo, mas sim reduzir

    eventuais prejuzos s metas e objetivos organizacionais. Assim sendo, ao voltar ateno

    para as organizaes, convm reforar a definio apresentada por Parsons (1960) segun-

    do a qual As organizaes so unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencional-

    mente construdas e reconstrudas, a fim de atingir objetivos especficos. (p.17). Etzione

    (1973) se fundamenta na definio proposta por Talcott Parsons, enfatiza a importncia

    pela busca dos objetivos organizacionais.

    ATENOExistem trs definies de organizao que merecem destaque (CARAVANTES E KLOECKNER, 2005).

    Na primeira definio, a organizao definida como um sistema de atividades pessoais ou de foras

    que esto intencionalmente coordenadas.

    A segunda definio refere-se organizao como um grupo de pessoas que trabalham de forma coor-

    denada sob a orientao de um lder e que visam consecuo de um objetivo.

    A terceira definio se baseia na concepo da organizao como uma integrao impessoal de um

    grande nmero de especialistas que operam para atingir algum objetivo de forma altamente racionalizada

    e com base em uma estrutura de autoridades.

    Tambm merece destaque a definio apresentada por Schein (1982) segundo a qual:

    Uma organizao a coordenao planejada de atividades de uma srie de pessoas para a con-

    secuo de algum propsito ou objetivo comum, explcito, atravs da diviso do trabalho e funo

    e atravs de uma hierarquia de autoridade e responsabilidade (p.12).

    Zanelli (2008) tambm aborda a questo da organizao na medida em que menciona:

    O termo organizao, como tem sido amplamente compreendido, representa um sistema social

    orientado, em essncia, para a consecuo de objetivos especficos. Termos, tais como instituio

    e estabelecimento, ou empresa e firma, semelhana da interpretao de Etzioni (1980, p.vii), so

    denotados como similares. Nesse sentido, fbricas, escritrios de servios, hospitais, escolas, orga-

    nizaes militares, igrejas, clubes de recreao, agncias governamentais, sindicatos, associaes

    de bairro, etc so genericamente denominadas organizaes. (p.26).

  • 32 captulo 2

    Complementarmente, Stoner e Freeman (1982), destacam algumas justificativas da im-

    portncia social das organizaes:

    Refletirem valores e necessidades socialmente aceitos, o que torna a

    convivncia social civilizada;

    Contriburem para a coordenao de esforos de diferentes indivduos em

    proveito da conquista de metas;

    Preservarem e promoverem o desenvolvimento do conhecimento adquirido;

    Contriburem para o oferecimento de oportunidades de trabalho, satisfao

    e autorrealizao pessoal.

    Alm de se definir e evidenciar a importncia social das organizaes convm destacar

    por oportuno o papel da Administrao para a organizao, o que realizado por Stoner e

    Freeman (1982, p.5) ao afirmarem que:

    A administrao o processo de planejar, organizar, liderar e controlar os esforos realizados

    pelos membros da organizao e o uso de todos os outros recursos organizacionais para alcanar

    os objetivos estabelecidos.

    O exame e a anlise dos resultados organizacionais so abordados por Zanelli e Bastos

    (2004) em quatro nveis:

    INDIVIDUALH uma priorizao do papel do indivduo e suas caractersticas como determinantes para a explicao da ao humana no trabalho e dos seus resultados.

    ORGANIZACIONAL

    Verifica-se a importncia de considerar os aspectos da organizao que tm impacto sobre os resultados organizacionais e entre estes aspectos podem ser destacados a estrutura organizacional, a dinmica cultural e poltica e o desenho das tarefas da organizao.

    GRUPALVerifica-se a considerao da dinmica grupal e das equipes na anlise dos resultados e dos produtos organizacionais que dependam da ao humana no trabalho.

    CONTEXTUALOU AMBIENTAL

    O quarto nvel de anlise dos resultados organizacionais se refere s consideraes sobre as caractersticas ambientais tais como as influn-cias polticas, econmicas, sociais e culturais que afetam as organizaes. (ZANELLI, BASTOS, 2004).

    1

    2

    3

    4

    A influncia do processo de intrustrializao no surgimento da Psicologia

    Organizacional

    O processo de industrializao caracterstico do final do sculo XIX influenciou o surgi-

    mento da Psicologia Organizacional na medida em que havia a demanda crescente da apli-

    cao da Psicologia na soluo de problemas dentro das organizaes (SPECTOR, 2010).

  • captulo 2 33

    Walter Dill Scott foi um psiclogo experimental

    que publicou, em 1903, uma obra pioneira na

    rea da Psicologia da Publicidade: The Theory of

    Advertising. Em 1913, Hugo Mnsterberg escre-

    veu o livro Psychology and Industrial efficiency,

    considerado o primeiro compndio sobre Psi-

    cologia Organizacional. A obra de Mnsterberg

    caracterizou-se pelo interesse na seleo de fun-

    cionrios e aplicao de testes psicolgicos.

    ATENO

    Scott e Mnsterberg so considerados psiclogos experimentais pioneiros no cam-

    po da Psicologia Organizacional (ZANELLI, BASTOS, 2004).

    Dentre as linhas da Escola Clssica da Administrao pode-se ressal-

    tar a Escola da AdministraoCientfica cujos princpios foram propos-

    tos por Frederick Wislow Taylor.

    A influncia do campo da Engenharia j observada nos estudos de

    Taylor (engenheiro) tambm foi verificada nas pesquisas realizadas pelo

    casal Frank e Lillian Gilbreth sobre o que ficou conhecido pelo estudo

    de tempos e movimentos. O trabalho dos Gilbreth contribuiu para es-

    tudos posteriores sobre o fator humano e sobre como se pode melhor

    projetar a tecnologia para as pessoas (SPECTOR, 2010, p.15).

    Teoria da Administrao

    Contrastando com a abordagem norteamericana de Taylor, desenvol-

    veu-se, na Frana, a Teoria da Administrao cujo principal represen-

    tante terico foi o industrial francs HenriFayol.

    Fayol identificou as funes bsicas da Administrao: planejamen-

    to, organizao, direo, coordenao e controle.

    A Teoria da Administrao enfocava na estrutura formal das organi-

    zaes e tratava seus empregados como extenses dessa estrutura dentro

    de uma viso econmica do ser humano (BOWDITCH & BUONO, 2004).

    Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) foi verificada a

    necessidade, nos Estados Unidos, de selecionar militares e aplic-los

    de forma mais adequada. Nesse contexto, foram desenvolvidos testes

    psicolgicos visando aplicao profissional e houve um significativo

    avano no campo da Psicologia Organizacional (SPECTOR, 2010).

    Elton Mayo realizou uma srie de estudos nas dcadas de 1920 e

    1930 na Western Eletric Company, os quais ficaram conhecidos como

    a experincia de Hawthorne. O objetivo era verificar a relao existente

    CURIOSIDADE

    Administrao Cientfica

    A administrao cientfica enfocava ba-

    sicamente a medio e a estrutura do

    prprio trabalho, tinha como objetivo

    criar a forma mais eficaz de se realizar

    tarefas e lidava com as pessoas como

    seres racionais e econmicos (BOWDI-

    TCH & BUONO, 2004, p. 8).

    AUTOR

    Henri Fayol, o fundador da Teoria Cls-

    sica da Administrao.

  • 34 captulo 2

    entre a iluminao no ambiente de trabalho e a produtividade do trabalhador. Na experin-

    cia realizada foi constatado que independentemente da alterao provocada nas condies

    de trabalho, a produtividade do grupo no aumentava. Os resultados tiveram o mrito de

    chamar a ateno para os fatores sociais no ambiente de trabalho, para a importncia da

    satisfao das necessidades individuais e do grupo alm das necessidades financeiras das

    organizaes (CARAVANTES, KLOECKNER, 2005).

    Bowditch & Buono (2004, p.11) ainda destacaram que os estudos de Hawthorne, confirmaram a

    importncia do grupo de trabalho, e identificaram a existncia de uma organizao informal dentro

    da estrutura formal da empresa.

    O esforo de guerra ocorrido na Segunda Grande Guerra Mundial aumentou a demanda

    por trabalhos na rea da Psicologia Organizacional, particularmente no que se refere: sele-

    o e colocao de pessoal, treinamento, aspecto moral, avaliao de desempenho, desen-

    volvimento de equipes e projeto de equipamentos (SPECTOR, 2010).

    Na dcada de 1950, surgiu a Escola Comportamental, a qual contou com o traba-

    lho de tericos que transcenderam as perspectivas da Escola das Relaes Humanas

    no sentido de que passaram a considerar com mais profundidade e cientificidade a

    possibilidade de as pessoas terem acesso ao desenvolvimento de suas habilidades e ao

    prprio crescimento pessoal.

    Dentre os principais tericos da Escola Comportamental se destacam Abraham Mas-

    low (proponente de uma hierarquia de necessidades humanas), Douglas McGregor (au-

    tor das suposies em torno da Teoria X e a Teoria Y), Rensis Likert (estudioso sobre a im-

    portncia da participao nos sistemas gerenciais), Chris Argyris (terico que destacou a

    responsabilidade da organizao em assegurar que o potencial das pessoas seja assegu-

    rado), Frederick Hezberg (responsvel pela distino entre fatores higinicos e motiva-

    cionais) e David McClelland (responsvel pelos conceitos das necessidades de poder e de

    realizao). (BASTOS, ZANELLI, 2004; CARAVANTES, CARAVANTES, KLOECKNER, 2005;

    BOWDITCH & BUONO, 2004).

    Ribeiro (2003) conclui sua obra sobre as teorias da Administrao abordando quatro

    Escolas da Administrao que influenciaram as organizaes na segunda metade do sculo

    XX: a Escola dos Sistemas, a Escola da Administrao por Objetivos, a Escola do Desenvol-

    vimento Organizacional e a Escola das Contingncias. Caravantes, Caravantes e Kloeckner

    (2005) apresentam, ainda, a Qualidade Total e a Reengenharia como duas escolas contem-

    porneas que influenciaram as organizaes a partir da dcada de 1980.

    A necessidade de compreenso do comportamento nos grupos fez crescer as pesqui-

    sas sobre interao e contribuiu para o surgimento da Psicologia Organizacional. Schein

    (1982) realizou estudos na rea da Psicologia Organizacional e destacou o desenvolvi-

    mento e as transformaes pelas quais este campo de estudo da Psicologia vivenciou en-

    tre as dcadas de 1960 e 1980. Entretanto, o que criou a Psicologia Organizacional como

    disciplina independente foi a descoberta de que a organizao consiste em um sistema

    social complexo que no pode dispensar o estudo do comportamento humano nas orga-

    nizaes (SCHEIN, 1982).

  • captulo 2 35

    Na viso de Spector (2010) a Psicologia Industrial/Organizacional entendida como

    uma especializao da Psicologia que apresenta duas divises: a industrial e a organizacio-

    nal. Enquanto o foco de interesse da diviso industrial se encontra no gerenciamento da

    eficincia organizacional com base no emprego adequado dos recursos humanos, a divi-

    so organizacional se dedica compreenso do comportamento humano e ao aumento do

    bem-estar dos funcionrios no ambiente de trabalho.

    CONCEITO

    No que se refere denominao de Psicologia Industrial/Organizacional, Spector (2010) aborda o fato de

    que, aps a Segunda Guerra Mundial, a Psicologia adquiriu maior reconhecimento, tendo sido criada, em

    1944, a Diviso de Psicologia Comercial e Industrial, a qual passou a ser denominada Diviso de Psicologia

    Industrial e Organizacional, em 1970, e hoje conhecida como Sociedade de Psicologia Industrial e Orga-

    nizacional - SIOP.

    Paul M. Muchinsky, pesquisador de renome internacional na rea da Psicologia Orga-

    nizacional, aborda a Psicologia Industrial/Organizacional como a rea de estudo que se

    ocupa do comportamento em situao de trabalho e a define como:

    uma rea de estudo cientfico e da prtica profissional que trata de conceitos e princpios psicol-

    gicos no mundo do trabalho (MUCHINSKY, 2004, p.3).

    Com base nessa definio, pode-se verificar uma preocupao conceitual no que se refere

    aplicao prtica no trabalho dos conhecimentos obtidos sobre o comportamento huma-

    no. Tal viso complementada por Spector (2010) quando esse estudioso afirma que tanto a

    prtica quanto a pesquisa so igualmente importantes no campo organizacional (p.8).

    A questo relacionada produtividade acrescentada definio da Psicologia Or-

    ganizacional proposta por Cascio (2001) citado por Rothmann e Cooper (2008) segundo

    a qual a Psicologia Organizacional e do Trabalho definida como uma diviso aplica-

    da da Psicologia preocupada com o estudo do comportamento humano relacionado ao

    trabalho, s organizaes e a produtividade (p.4). Segundo Rothmann e Cooper (2008)

    a Psicologia Organizacional e do Trabalho integrada por dois ramos: a Psicologia do

    Trabalho (classificada tambm como Psicologia Industrial) e a Psicologia Organizacional

    (classificada muitas vezes como comportamento organizacional). Enquanto a Psicolo-

    gia do Trabalho concentra sua rea de atuao sobre assuntos ligados gesto de pessoas

    (com foco em pequenas unidades) a Psicologia Organizacional direcionada compre-

    enso do comportamento de indivduos, grupos e organizaes na situao de trabalho

    (ROTHMANN e COOPER, 2008, p.4).

  • 36 captulo 2

    Ainda de acordo com Rothmann e Cooper (2008), as reas de Interesse da Psicologia do

    Trabalho e Psicologia Organizacional envolvem:

    PLANEJAMENTO DE RECURSOS HUMANOS DIFERENAS INDIVIDUAIS E DIVERSIDADE

    ANLISE, DESCRIO E ESPECIFICAO DE CARGOS MOTIVAO

    RECRUTAMENTO E SELEO COMPORTAMENTO DE GRUPO

    EDUCAO, TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO COMUNICAO

    COMPENSAO LIDERANA

    AVALIAO DE DESEMPENHO QUALIDADE DE VIDA E COMPORTAMENTO PROBLEMTICO

    DESENVOLVIMENTO DE CARREIRAPLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E

    CULTURA ORGANIZACIONAL

    PSICOLOGIA DO TRABALHO PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

    Diferentemente de Rothmann e Cooper (2008), Krumm (2005) adota uma diviso da

    Psicologia Organizacional em trs reas de especializao: a Psicologia de Pessoal, a Psico-

    logia Organizacional e a Engenharia dos Fatores Humanos ou Ergonomia.

    CONCEITONa rea ligada Psicologia de Pessoal so abordadas questes ligadas ao recrutamento e seleo, treina-

    mento e desenvolvimento, avaliao do desempenho, anlise de cargos, a programas de motivao, satisfa-

    o no trabalho e reduo do estresse. Na Psicologia Organizacional a ateno destinada ao estudo das

    influncias do grupo sobre os indivduos, sendo reas de interesse a estrutura da organizao, a comunica-

    o, a diversidade entre os empregados, o clima, a cultura organizacional e as tomadas de deciso de grupo.

    Finalmente, a Ergonomia trata da interao entre o ser humano e a mquina no ambiente de trabalho, po-

    dendo ser inserido nesse contexto o local de trabalho, o design de equipamentos e programas de segurana.

    Algumas reas recentes tm acrescentado caractersticas novas aos tradicionais tpicos

    da Psicologia Industrial/Organizacional, entre essas reas Krumm (2005, p.5) destaca o es-

    tudo da adequao fsica e da sade dos empregados, o equilbrio entre a vida familiar e o

    trabalho e os investimentos em aes e ttulos.

    A reviso histrica do campo da Psicologia Organizacional permite identificar seus

    principais tpicos de estudo na atualidade:

    1 Questes legais e sociais tais como decises judiciais, padres de segurana e emprego justo

    2Recrutamento e reteno de empregados, juntamente com o estudo das necessidades futuras dos recursos humanos

  • captulo 2 37

    3 Anlises das necessidades de treinamento e avaliao dos programas de treinamento

    4 Cultura organizacional

    5 Forma fsica, sade e estresse

    6 Efeitos de novas tecnologias sobre o local de trabalho e sobre os empregados

    7 Necessidades futuras e desafios enfrentados pelas organizaes

    8 Internacionalizao

    9 Crescente diversidade do local de trabalho (KRUMM, 2005)

    Spector (2010) destaca como exemplos de aplicaes prticas dos conhecimentos da

    Psicologia Organizacional as seguintes atividades:

    EXEMPLO

    Analisar a natureza de uma atividade (anlise de tarefa), conduzir uma anlise para determinar a soluo de

    um problema organizacional; fazer/realizar uma pesquisa sobre sentimentos e opinies dos funcionrios,

    projetar sistemas para avaliao do desempenho dos funcionrios, projetar sistemas de seleo de funcio-

    nrios/programas de treinamento, desenvolver testes psicolgicos, avaliar a eficcia de uma atividade ou

    prtica, como um programa de treinamento, programar mudanas organizacionais como, por exemplo, um

    novo sistema de bonificao e gratificao para os funcionrios que tm bom desempenho.

    No Brasil, Zanelli e Bastos (2004) adotam a terminologia Psicologia Organizacional e

    do Trabalho e a definem como a rea do conhecimento que busca: compreender o com-

    portamento das pessoas que trabalham, tanto em seus determinantes e suas consequn-

    cias, como nas possibilidades da construo produtiva das aes de trabalho, com preser-

    vao mxima da natureza, da qualidade de vida e do bem-estar humano (p.483). Zanelli

    e Bastos (2004) apresentam um esquema de articulao dos fenmenos que integram a

    Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) com base nas ideias de Drenth, Thierr e

    Wolff (1998). Segundo o esquema mencionado, o comportamento humano no trabalho, ou

    o fazer humano analisado sob a perspectiva da Psicologia do Trabalho, da Psicologia

    Organizacional e da Gesto de Pessoas. De acordo com o referido esquema de articulao

  • 38 captulo 2

    em torno da POT, a Psicologia do Trabalho tem como interesse as interaes entre o com-

    portamento humano e o trabalho, especialmente no que se refere ao: mercado de trabalho;

    anlise do trabalho (cargos); desempenho; fatores que afetam o desempenho e sade no

    trabalho. A Psicologia Organizacional tem como interesse central a compreenso e o trato

    com os processos psicossociais que contribuem para que as organizaes atinjam suas me-

    tas e objetivos com a coordenao de seus integrantes. Como terceiro subcampo de POT, a

    Gesto de Pessoas se ocupa da relao entre a ao humana e a organizao como um todo,

    englobando o conjunto de polticas e prticas relacionadas estratgia utilizada para orga-

    nizar a ao individual e coletiva de forma congruente com os seus objetivos.

    No campo da Administrao, a rea de Recursos Humanos possui estreita ligao com

    a Psicologia Organizacional, sendo responsvel por absorver grande parte dos psiclogos

    que atuam nas organizaes, especialmente nas reas de seleo e recrutamento em fun-

    o da utilizao de testes psicolgicos e conduo de entrevistas e dinmicas de grupo.

    Snell e Bohlander (2009) destacam como desafios competitivos para a rea de recursos hu-

    manos a globalizao, a tecnologia, a gesto de mudanas, o capital humano, a prontido

    de reao ao mercado e a conteno de custos.

    No Brasil, Idalberto Chiavenato, autor de vrias obras na rea de gesto de pessoas, tem

    tratado a Gesto de Pessoas como uma funo que colabora para que os integrantes de

    determinada organizao alcancem os objetivos organizacionais. Chiavenato (2000, p. 14-

    15) considera que a moderna Gesto de Pessoas integrada por seis processos dinmicos

    e interativos:

    1 Agregar Pessoas, processo que envolve as atividades de incluso de pessoas nas organizaes tais como seleo e recrutamento

    2

    3

    4

    5

    6

    Aplicar Pessoas, processo que envolve atividades orientando a atuao das pessoas nas organizaes tais como o desenho de cargos e avaliao de desempenho

    Recompensar Pessoas, processo que env