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ANTNIO JOS PALMA ESTEVES ROSINHAPAOLO ROSI DVILARODOLFO DE
CASTRO RIBAS JR.MARCOS AGUIAR DE SOUZAVALERIA MARQUES DE
OLIVEIRALUS ANTNIO MONTEIRO CAMPOS
ORGANIZAO CLUDIA BRANDO BEHARLUS ANTNIO MONTEIRO CAMPOS
1 edio
SESES
rio de janeiro 2014
Psicologia nas Organizaes
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Comit editorial externo rodolfo de castro ribas junior, marcos
aguiar de souza e paolo rosi d avila
Comit editorial interno claudia brando behar, patrcia maria de
azevedo pacheco e luis antnio monteiro campos
Organizadores do livro lus antnio monteiro campos e cludia
brando behar
Autores dos originais antnio jos palma esteves rosinha (captulo
1), paolo rosi dvila (captulo 2), rodolfo de castro ribas jr
(captulo 3 e 6), marcos aguiar de souza (captulo 4 e 6),
valeria marques de oliveira (captulo 5), lus antnio monteiro
campos (captulo 6)
Projeto editorial roberto paes
Coordenao de produo rodrigo azevedo de oliveira
Projeto grfico paulo vitor fernandes bastos
Diagramao victor maia
Superviso de reviso aderbal torres bezerra
Redao final e desenho didtico roberto paes, rodrigo azevedo de
oliveira e jarclen ribeiro
Reviso lingustica aderbal torres bezerra, cludia lins e daniela
reis
Capa thiago lopes amaral
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser
reproduzida ou transmitida por quais-
quer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao)
ou arquivada em qualquer sistema ou
banco de dados sem permisso escrita da Editora. Copyright seses,
2014.
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (cip)
P974 Psicologia nas Organizaes
cludia brando behar e lus antnio monteiro campos
[organizador].
Rio de Janeiro: Editora Universidade Estcio de S, 2014.
144 p
isbn: 978-85-60923-18-2
1. Psicologia. 2. Organizao. I. Ttulo.
cdd 158
Diretoria de Ensino Fbrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus Joo Ucha
Rio Comprido Rio de Janeiro rj cep 20261-063
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Sumrio
1. Apresentao 7
2. Viso histrica e conceitual da Psicologia 9
Introduo 10
Conceito e viso histrica da Psicologia 11
Mas o que justifica condutas to diferenciadas nas pessoas?
11
Momento I A Influncia Filosfica 12
Momento II A Psicologia Cientfica 13
Momento III A Psicanlise 13
Momento IV O Behaviorismo e a Psicologia da Forma (Gestalt)
14
Momento V A Psicologia Cognitivista 15
Desenvolvimento histrico sobre a interpretao do comportamento
humano 16
O estudo da inteligncia 16
Abordagem psicomtrica 16
Abordagem cognitiva 18
Abordagens contextuais e Sistmicas 19
O estudo da personalidade 20
A natureza da personalidade 20
Uma viso integradora de personalidade 20
A Psicologia na viso contempornea 21
Origem da Psicologia Social 21
Mudana Metodolgica 23
3. Psicologia Aplicada ao Espao Organizacional 29
Introduo 30
A Psicologia no Contexto Organizacional 30
A influncia do processo de intrustrializao no surgimento
da Psicologia Organizacional 32
Teoria da Administrao 33
reas de atuao do psiclogo na organizao 39
Psicopatologia do Trabalho 44
O dilogo entre o indivduo e a organizao 45
Caractersticas Culturais 46
Caractersticas Sociais 47
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4. Diferenas Individuais e Processo Decisrio 55
Introduo 56
Diferenas Individuais e Tomada de Deciso 56
Diferenas individuais, Personalidade e tomada de decises 57
O que personalidade? 58
Cinco perspectivas psicolgicas acerca da personalidade 59
Perspectiva Biolgica ou Gentica 59
Perspectiva Psicanaltica ou Psicodinmica 60
Estrutura da personalidade na perspectiva psicanaltica 61
Perspectiva Behaviorista ou Comportamentalista 62
Ivan Petrovich Pavlov e o condicionamento respondente 62
B. F. Skinner e o condicionamento operante 64
Perspectivas dos traos de personalidade 66
Extroverso e Introverso em Carl Jung 66
Raymond Cattell, Personalidade e a Estatstica Moderna 66
O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five Model) 68
O Modelo dos Cinco Grandes Fatores no Mundo do Trabalho 68
Perspectiva Humanista da Personalidade 69
Abraham Maslow e a busca da autorrealizao 69
A hierarquia de necessidades de Abraham Maslow 70
Carl Rogers e a perspectiva centrada na pessoa 71
Personalidade e Cultura 71
Pensamento Intuitivo e Pensamento Analtico 71
Personalidade e estilos de pensamento 72
Processo de Deciso Individual e em Grupo 72
5. Seleo nas Organizaes 77
Introduo 78
Processo seletivo nas organizaes 78
Anlise do cargo, anlise do trabalho e perfil profissiogrfico
80
Recrutamento de pessoal 83
Conceituao, objetivos e avaliao da seleo de pessoal 85
A entrevista 87
Testes psicomtricos 88
Simulaes de desempenho 89
Dinmicas de grupo 89
Distores no processo avaliativo | Vieses 92
A seleo de pessoal sob o ponto de vista do candidato 94
-
6. Treinamento e gesto de pessoas 97
Introduo 98
Treinamento 99
Aprendizagem nas corporaes 99
Condies facilitadoras de aprendizagem no meio organizacional
102
Treinamento | Conceituao, objetivo e avaliao 105
Mtodos e programas de treinamento 108
1) Avaliao de necessidades de treinamento 109
2) Definio de objetivos 110
3) Planejamento do projeto ou programa de treinamento 112
4) Aplicao do treinamento 114
5) Avaliao do treinamento 114
Gesto de pessoas 115
Conceituao e objetivos 116
Gesto de conflitos, relaes interpessoais e relaes de poder
118
Avaliao de desempenho 120
7. Comportamento Organizacional 127
Introduo 128
tica e comportamento organizacional 132
O processo de pesquisa no comportamento organizacional 138
Que ideia bsica poder estar por trs dessas investigaes? 139
-
7Apresentao
Este livro de Psicologia nas Organizaes destinado no apenas a
psiclogos, mas a todos
os profissionais que atuam em organizaes. Alm de desenvolver
brilhantemente aspec-
tos relacionados ao comportamento organizacional, consegue de
forma resumida promo-
ver um panorama geral da histria da psicologia e ainda
desenvolve o tema personalidade
atravs das mais diversas abordagens da psicologia, dando ao
profissional que trabalha na
rea a possibilidade de interpretar o comportamento humano sob
diferentes perspectivas.
O livro Psicologia nas Organizaes apresenta as principais
ferramentas para capacitar
o profissional no desenvolvimento das atividades necessrias para
a sua atuao nos dife-
rentes nveis organizacionais, tais como: recrutamento e seleo,
treinamento e gesto de
pessoas, processo decisrio e gesto de pessoas.
O presente livro consegue reunir doutores renomados da rea
organizacional de insti-
tuies de referncia, como a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade de Lisboa
e Escola de Comando e
Estado-Maior do Exrcito Brasileiro (ECEME).
Outro diferencial do livro refere-se forma didtica com que ele
desenvolvido,
iniciando cada captulo com os objetivos de aprendizado e
finalizando com um estudo
de caso, alm de um resumo e indicao de sites, vdeos e filmes
referentes ao assunto
abordado, o que enriquece a aprendizagem e facilita a consolidao
da informao de
forma diversificada e prtica.
A psicologia nas organizaes tem crescido muito em funo da
necessidade de inte-
grar os interesses dos empresrios com as necessidades dos
trabalhadores. A psicologia
se prope ento a desenvolver um dilogo entre as partes com o
objetivo de criar um equi-
lbrio dinmico, ampliando os ganhos e reduzindo as perdas para
ambos. Trabalho rduo
que os autores conseguem desenvolver de forma fascinante.
Estava faltando nessa rea um livro que unisse a teoria
proveniente do espao acadmi-
co com a prtica de profissionais que atuam no mercado de
trabalho. Por esse motivo, esse
livro que voc tem em mos tem todos os requisitos necessrios para
tornar-se um livro de
referncia no assunto.
claudia brando behar e lus antnio monteiro campos
-
Viso histrica e conceitual da Psicologia
antnio jose palma esteves rosinha
11
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10 captulo 1
Introduo
OBJETIVOS
1. Identificar o objeto de estudo da Psicologia;
2. Apresentar uma viso crtica sobre a evoluo histrica da
Psicologia;
3. Descriminar os principais momentos e marcos histricos da
Psicologia;
4. Posicionar a inteligncia e a personalidade como disciplinas
distintas, mas essenciais e complementa-
res na interpretao do comportamento;
5. Classificar e explicar as diferentes abordagens ao estudo da
inteligncia;
6. Diferenciar a abordagem nomottica da ideogrfica no estudo da
inteligncia;
7. Clarificar o conceito de inteligncia personalidade;
8. Avaliar e posicionar os conceitos de estabilidade e mudana da
personalidade;
9. Posicionar a Psicologia Social como base para a anlise do
comportamento social e das relaes in-
terpessoais.
Abordar o tema do comportamento humano e os processos que lhe
esto associados, passa
numa primeira fase por compreender a evoluo das concepes sobre o
homem e por po-
sicionar aspectos centrais do seu funcionamento, o domnio
cognitivo inteligncia e
o domnio conativo personalidade. A discusso sobre o trabalho
evidentemente ampla
demais para um s captulo, no admira que cada corrente da
Psicologia lhe tenha procu-
rado dar resposta, mas preciso clarificar que o comportamento do
homem s pode ser
entendido nas suas idiossincrasias e pluralidade com uma viso
integrada e em contexto.
Para isso, comea-se pelas concepes filosficas do Homem, com
repercusso na Psico-
logia. Posteriormente reflete-se sobre os dois grandes pilares
estruturantes do indivduo,
inteligncia e personalidade, abordando diferentes perspectivas
que traduzem uma viso
mais nomottica e idiossincrtica do homem. Olhamos por fim, para
a disciplina que na
atualidade mais se interliga temtica da Psicologia das
Organizaes e das relaes inter-
pessoais: a Psicologia Social.
ATENO
Em particular destacam-se temticas como o conformismo,
obedincia, as atitudes, a dissonncia cognitiva.
Por fim contrapem-se a abordagem construcionista cognitivista,
enquanto viso contempornea do homem
social, que aponta no para uma Psicologia cognitiva individual,
mas para uma Psicologia Social psicolgica.
1 Viso histrica e conceitual da Psicologia
-
captulo 1 11
Conceito e viso histrica da Psicologia
A interrogao que prevalece e que sempre apaixonou todos aqueles
que estudam Psicologia
quem sou eu? mantem-se bastante atual. Temas como o
comportamento e a conduta huma-
na, que sempre cativaram os investigadores, assumiram diversos
contornos ao longo dos anos.
CONCEITO
Mas o que a Psicologia? Qual o seu objeto de estudo?
A Psicologia uma disciplina, um campo de pesquisa que se
interessa pelo que o ser humano sente, pensa,
quer, gosta, faz, como faz e porque faz. por inerncia a cincia
do homem.
Diversos autores como Davidoff (2006), Vergara (2007) e
Bergamini (2010), entre outros,
so consensuais em apont-la como a cincia do comportamento. Porm
importante
considerar que a Psicologia se dedica ao estudo de diversos
fenmenos que no esto di-
retamente relacionados com o comportamento. Estuda os mundos
internos e externos, a
conscincia e os comportamentos do indivduo, independentemente do
que possam pen-
sar e sentir. A Psicologia estuda ainda os processos mentais,
ainda que tenha de usar o
comportamento como referncia a esses processos.
Enquanto cincia tem como objetivo encontrar princpios gerais e
no acontecimentos
especficos referentes a uma pessoa. Parte assim de leis gerais
para compreender o com-
portamento individual. Entretanto, procurar a unidade da
Psicologia uma utopia, porque
embora tenha o seu prprio objeto de estudo a mente humana
confina com outras
cincias, as biolgicas, as sociais, a Antropologia, a Lingustica,
e mais recentemente as
neurocincias e a ciberntica, o que lhe confere plasticidade e
vitalidade.
Mas o que justifica condutas to diferenciadas nas pessoas?
A Psicologia ajuda-nos a esclarecer as questes das diferenas
campo central na Psico-
logia Diferencial, que atende s diferenas intra e inter
individuais no indivduo e nos grupos
e as questes das relaes interpessoais, to importantes na gesto
contempornea.
Estudar o comportamento significa observ-lo no seu curso, o que
envolve inmeras vari-
veis. Isto proporciona aos prprios estudantes uma srie de
aprendizagens em vrios temas.
A Psicologia viabiliza assim um conjunto amplo de aprendizagens
acerca do autoconheci-
mento, do ajustamento social, da identificao das diferenas
individuais, da aquisio de
habilidades sociais, da administrao de conflitos e da gesto de
pessoas, entre outras.
fato que o crescente interesse pela compreenso da conduta faz
gerar um conheci-
mento, muitas vezes compartilhado, que no se associa ao escopo
da cincia psicolgica, o
que chamamos de senso comum. O senso comum discute fenmenos
observados, toman-
do como foco explicaes populares e, portanto, no produzidas por
pesquisas cientficas.
REFLEXORefletir sobre o passado da Psicologia refletir sobre o
prprio conceito de cincia psicolgica e fazer uma
viagem para compreender as ideias defendidas pelos seus
interlocutores. A viagem que nos propomos
-
12 captulo 1
fazer tem como fio condutor os quatro momentos propostos por
Andr Amar (In: Gauquelin e Gauquelin et
al., 1987): a influncia filosfica, a Psicologia Cientfica, a
Psicanlise, a Psicologia Fenomelgica e a
Psicologia cognitiva.
Momento I A Influncia Filosfica
Embora a Psicologia enquanto cincia seja jovem, o estudo do
comportamento humano,
ainda que de forma no sistemtica, to antigo quanto a existncia
da humanidade. A
maioria dos estudiosos que descrevem a histria da Psicologia
identifica as suas origens
mais remotas nas reflexes dos antigos filsofos gregos, nos seus
questionamentos sobre a
natureza, o carter e o comportamento do ser humano.
A mitologia grega, enquanto narrativa sagrada sobre a origem do
desconhecido alimen-
tou muitas das explicaes sobre os fenmenos, mas tornou-se
insuficiente. No incio do
sculo VI a.C., nasce a Filosofia, como forma caracterstica de
pensar e que tornou possvel
estabelecer as bases e os princpios fundamentais de conceitos
como razo, racionalidade,
tica, poltica, arte, fsica, pedagogia e cincia, entre
outros.
Na Antiguidade, filsofos como Scrates (469/ 399 a.C.), Plato
(387 a.C.) e Aristteles
(335 a.C) foram os pioneiros na investigao da alma humana,
instigados pela razo, atitu-
des, crenas, diferenas de comportamento, capacidade criativa e a
loucura.
Para Scrates a caracterstica principal do ser humano era a razo
aspecto que permitiria ao
homem sobrepor-se aos instintos e deixar de ser um animal
irracional. A verdade encontra-se no
devir e no no ser. Usando um mtodo prprio, chamado de maiutica
(trazer Luz - fazer nascer),
partia de perguntas feitas s pessoas, fazendo com que "fizessem
surgir as suas prprias ideias"
sobre as coisas.
Para Plato, discpulo de Scrates, falar da Psicologia
[psuchlogos] falar da concepo da
alma [psych]. O cerne do pensamento de Plato sintetiza-se no
Mito da Caverna, que trata da
ascenso do filsofo, que sai do mundo sensvel em direo ao mundo
inteligvel. Plato deu um
grande passo ao definir um lugar para a razo no corpo humano - a
cabea. Precursor do Inatismo,
defende que as pessoas nascem com saberes adormecidos que
precisam ser organizados para
se tornarem conhecimentos verdadeiros. As primeiras referncias s
diferenas individuais datam
deste perodo. Plato fala dos dotes naturais para uma profisso.
Os indivduos devem dedicar-se
para o que so dotados.
Aristteles, discpulo de Plato entendia corpo e mente de forma
integrada, a psiqu era o princpio
ativo da vida, sendo-lhe creditada a paternidade da Psicologia
pr-cientfica. Postulava que tudo
aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta, possui a sua psych
ou alma. Estudou as diferenas
entre razo, percepo e sensao. Da anima pode ser considerado o 1
tratado em Psicologia. A
funo do homem a atividade da sua alma, que segue ou implica um
princpio racional.
-
captulo 1 13
Momento II A Psicologia Cientfica
As diversas influncias fisolficas trouxeram um rpido
desenvolvi-
mento cincia moderna e psicologia e, em meados do sculo XIX,
o
pensamento europeu mesclado por um novo esprito o
Positivismo
oriundo de Auguste Comte (1798-1857). O conhecimento da
realidade
apenas possvel atravs de fatos que podiam ser comprovados
cientifi-
camente, observveis e indiscutveis.
Foram vrios os cientistas que recorreram ao mtodo
experimental
para o estudo da Psicologia. Mas o mrito principal recai sobre
Wundt,
que considerado o fundador da Psicologia Cientfica.
Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo,
as
operaes mentais resultam da organizao de sensaes elementares
que se relacionam com a estrutura do sistema nervoso. Titchener
(1867-
1927) e os estruturalistas deram contribuies assinalveis
Psicologia,
ao definirem claramente o seu objeto de estudo a experincia
cons-
ciente. Embora o objeto de estudo dos estruturalistas esteja
hoje ultra-
passado, a introspeo ainda usada em muitas reas da Psicologia.
As
crticas mais fortes ao estruturalismo foram dirigidas ao seu
mtodo e
tentativa de analisar processos conscientes atravs da sua
decomposi-
o em partes, dado que a totalidade de uma experincia no pode
ser
recuperada pela associao das suas partes. A experincia ocorre
apenas
em totalidades unificadas.
Aps a contribuio de Wundt como fundador da Psicologia Cient-
fica, surgiram opositores, como o influente psiclogo
norte-americano
William James (1842-1910), que no se identificou com nenhum
mo-
vimento. O autor via o estruturalismo como sendo limitado,
artificial e
extremamente inexato, terminando por encabear um novo
movimen-
to o funcionalismo cujo objetivo era o estudo do
funcionamento
dos processos mentais. Para James, a conscincia subjetiva, est
em
constante evoluo, e tem como principal funo a adaptao dos
in-
divduos aos seus ambientes.
Momento III A Psicanlise
No final do sculo XVIII Freud d incio a seus estudos que mais
tarde da-
riam forma Psicanlise. Nesse contexto, os doentes mentais eram
tra-
tados por magnetizadores, que aplicavam os princpios da Fsica ao
cor-
po, explicando as perturbaes psicolgicas com base em distrbios
na
circulao dos fluidos corporais. Surgiu depois o hipnotismo,
baseado na
relao entre causas fsicas e psicolgicas. Como nem todos
conseguiam
ser hipnotizados, Freud desenvolveu o mtodo da coero
associativa, le-
vando os pacientes a recordar situaes traumticas passadas.
CURIOSIDADE
Positivismo
O ideal do Positivismo era a concepo
de que um nico mtodo seria adequado
para explicar qualquer tipo de fenmeno,
no importando se era do campo da Fsi-
ca, da Qumica, ou mesmo da Psicologia.
AUTORWundt
Wundt funda seu laboratrio em Leip-
zing, na Alemanha. O objeto da Psicolo-
gia para Wundt o contedo da cons-
cincia: sensaes, imagens e afetos.
Defendia que a Psicologia era uma ci-
ncia emprica, cujo objeto de estudo
a experincia interna ou imediata. O ter-
mo experincia representaria um todo
unitrio e coerente, considerado a partir
de dois pontos de vista distintos, porm
complementares: experincia analisada
pelo seu contedo puramente objetivo
- experincia mediata (que remete para
o mundo externo, para os seus objetos)
- ou pelo seu contedo subjetivo - ex-
perincia imediata (que remete para o
mundo interno, para os seus contedos)
(Araujo, 2009).
-
14 captulo 1
CONCEITO
Mas o que a Psicanlise? a disciplina fundada por Freud, onde se
podem distinguir 3 nveis (Laplan-
che e Pontalis, 1998, p.384): 1) Um mtodo de investigao que
consiste em evidenciar o significado in-
consciente das palavras, das aes e das produes imaginrias do
indivduo; 2) Um mtodo psicoterapu-
tico baseado nesta investigao e especificado pela interpretao
controlada da resistncia, da
transferncia e do desejo; 3) Um conjunto de teorias psicolgicas
e psicopatolgicas em que so sistema-
tizados os dados introduzidos pelo mtodo psicanaltico de
investigao e de tratamento.
Freud contraria a forma de pensar da poca, desenvolvendo o
conceito de inconsciente e a
ideia de que o ser humano por ele governado. Na atualidade a
Psicanlise adquiriu um es-
pao prprio, de interpretao dos fatos psquicos, mas no se pode
dizer que influenciou
toda a Psicologia. Teve o mrito de ultrapassar o campo da
Patologia e de centrar o homem
na sua totalidade, na relao com as suas manifestaes biolgicas e
expresses culturais.
Momento IV O Behaviorismo e a Psicologia da Forma (Gestalt)
O ponto de partida do Behaviorismo consiste na necessidade de
eliminar da investigao
cientfica a noo subjetiva da conscincia, para explicar o
comportamento a partir da rela-
o entre estmulo e resposta. O objetivo era chegar a uma
Psicologia to objetiva como a F-
sica ou a Biologia (Gauquelin e Gauquelin, et al., 1987, p.
294). Os behavioristas rejeitaram
os mtodos introspectivos, restringindo a Psicologia apenas aos
mtodos experimentais.
As ideias do psiclogo norte-americano John B. Watson, em 1912
sobre o estudo do
comportamento atravs da observao e de mtodos objetivos leva ao
nascimento do Beha-
viorismo. Em 1913, Watson publica o manifesto Psychology as the
Behaviorist views it, como
contraposio tendncia at ento mentalista, isto , internalista,
focada nos processos
psicolgicos internos, como memria ou emoo. Com uma viso
positivista de que a cin-
cia apenas capaz de estudar os fenmenos visveis e observveis, o
Behaviorismo rapida-
mente incorporou uma linguagem tcnica prpria, compreendendo
termos como estmu-
lo, resposta, reforo (positivo e negativo) e condicionamento
(clssico e operante).
O afastamento prematuro de Watson da vida acadmica abriu as
portas a diversos tipos
de behaviorismo. Walter Thompson teve sucesso ao aplicar os
princpios do behaviorismo
publicidade. Mead, em 1934, introduz o behaviorismo social
orientado para a construo
social do self. Em campos opostos, relativamente complexidade
terica, surgem Skinner
e Hull (Richards, 2010). A abordagem de Skinner (1938) puramente
terica, centrada no
estudo emprico da formao do comportamento atravs do reforo
contingente, negligen-
ciando por completo os eventos internos do indivduo. J Hull
(1943) introduz uma teoria
ambiciosa, com postulados, teoremas e quantificao. Apesar disso,
Skinner atravs do
mtodo do condicionamento operante deixou um legado para a
aplicao das suas tcni-
cas na predio e controle do comportamento.
Surgem crticas ao behaviorismo colocadas pela nova investigao
etolgica do com-
-
captulo 1 15
portamento animal, em particular por Konrad Lorenz (1935) e Niko
Tinbergen (1951). An-
tes de Lorenz, o comportamento era considerado fluido e
indescritvel, a partir daqui h
uma teoria que permite considerar a organizao comportamental de
uma espcie e a fun-
o dos vrios elementos do comportamento na interao com o
meio.
ATENOEnquanto o Behaviorismo crescia na Amrica outro movimento
dava os seus primeiros passos na Alemanha:
a Gestalt. A Gestalt, conhecida como "Psicologia da forma",
surge em Berlim com o fundamento de que a
realidade percebida como um todo e procura compreender a
percepo, o pensamento e a resoluo de
problemas. Este movimento tambm foi opositor ao Estruturalismo e
ao Behaviorismo. Kohler, chama de con-
servadores aqueles que no tm em considerao seno o que mensurvel.
Fala numa ordem espacial que
ser sempre estruturalmente idntica a uma ordem funcional na
repartio dos processos de base no interior
do crebro (Guaquelin e Guaquelin, 1987, p.294). O que leva a
dizer que existe analogia, ou isomorfismo en-
tre a forma que percebemos no espao e aquela que o funcionamento
dos nossos rgos perceptivos adota.
Os comportamentos complexos, de ordem superior, tais como tocar
um piano ou a aprendizagem da lin-
guagem, entre outros, comearam a levantar problemas,
assistindo-se ao declnio do behaviorismo e ao
emergir do cognitivismo.
Momento V A Psicologia Cognitivista
Spearman (1923) publicou The Nature of Intellingence and the
Principles of Cognition. Na Sua,
Jean Piaget comeou a estudar o desenvolvimento cognitivo da
criana. Os psiclogos cogni-
tivistas comearam apenas a equacionar o pensamento de uma nova
forma.
Os avanos tecnolgicos, motivados pela Segunda Guerra Mundial,
como a inveno do radar e
a interao homem-mquina, foram alguns dos impulsionadores da
Psicologia Cognitiva. Mas a
inveno que mais contribuiu para a conceitualizao da cognio foi o
computador eletrnico
atravs de trs ideias chave: informao, feedback e programao.
Apesar do cognitivismo ter se desenvolvido ao longo de uma
dcada, o trabalho de
Miller, Galanter e Pribram (1970) o primeiro passo de
sistematizao e de compreen-
so do fenmeno, assumindo-se como um manifesto para o
cognitivismo na Psicologia
Americana. O argumento central reside na convico de que o
comportamento humano
pode ser melhor compreendido atravs do agrupamento de planos
programas para a
ao, sob o qual o organismo executa de modo a atingir os seus
objetivos. Enquanto
que para o Behaviorismo a unidade central era o S-R, estes
autores propuseram a uni-
dade TOTE (Test-Operate-Test-Exit). Trata-se de um loop de
feedback capaz de explicar
os comportamentos mais complexos.
O cognitivismo estendeu-se a diversos campos de estudo, como a
linguagem (Noam
Chomsky), a memria (Baddeley), o raciocnio silogstico (Watson e
Johson-Laird), a criativi-
dade (Boden), o modelo da modularidade da mente (Fodor), a
perceo (David Marr), a dis-
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16 captulo 1
sonncia cognitiva (Festinger) e as bases para a inteligncia
artificial (Smith e Miller). Bruner
(1965) redescobriu e incorporou a Psicologia Piagetiana no
cognitivismo americano. Apesar
de poder ser questionada a hegemonia da Psicologia cognitivista
relativamente s aborda-
gens computacional, conexionista e sobre o processamento
paralelo distribudo (Boden, 2006),
a mesma continua na ordem do dia.
A Psicologia Cognitiva est de tal modo entrelaada com a
Inteligncia artificial,
que os outros ramos da Psicologia, especialmente nos Estados
Unidos, tm menor im-
pacto, colocando-a sob olhar da Psicologia Humanista e do
construcionismo social
(movimento de crtica Psicologia Social modernista e que tem em
Kenneth Gerson
(1985) a sua principal referncia terica.
Desenvolvimento histrico sobre a interpretao do comportamento
humano
A interpretao do comportamento humano s possvel atendendo s duas
grandes
dimenses do sujeito, a sua inteligncia e personalidade.
Aborda-se o tema da inteligncia
seguindo em particular duas abordagens, a psicomtrica e a
cognitivista. A personalidade
abordada analisando-se fatores determinantes do par
estabilidade-mudana.
O estudo da inteligncia
Abordagem psicomtrica
Segundo Wechsler (1958), inteligncia o agregado ou capacidade
global do indivduo para
atuar de modo finalizado, pensar racionalmente e proceder com
eficincia em relao ao am-
biente. Essa capacidade global no a mera soma dos seus elementos
ou aptides, qualitati-
vamente diferenciveis, mas parcialmente independentes. O
pensamento inteligente tem um
fim, permite adaptar-se ao meio. Outra inovao notvel o fato de
caracterizar o desenvolvi-
mento intelectual no s at adolescncia, mas tambm nos adultos ao
longo de toda a vida.
Na perspectiva psicomtrica a inteligncia compreendida
principalmente a partir de
sua mensurao. A viso da inteligncia sempre uma concepo
globalista, independen-
temente de se tratar de inteligncia geral ou de inteligncia mais
especfica, manifestada
atravs das aptides (DUARTE In: GLEITMAN et al., 1998, p. 786).
Na realidade, quer num,
quer noutro caso inteligncia vista como unidade ou inteligncia
vista como mltiplas
manifestaes do funcionamento intelectual traduz o funcionamento
global do indivi-
duo perante os problemas com que se depara. Quando se fala da
inteligncia, concebida
por Binet ou Weschler, apesar de substancialmente distintas,
est-se numa perspectiva
como conceito global, no qual cabe uma grande diversidade de
operaes, atividades e for-
mas de funcionamento.
AUTORSpearman (1904) desenvolveu a primeira verso da anlise
fatorial, tcnica estatstica a partir da qual se
pode extrair o fator comum partilhado por todos os testes, a
inteligncia geral ou g.
-
captulo 1 17
Trata-se de uma teoria monrquica, dado tratar-se de um atributo
mental que est subjacente a qualquer
tarefa intelectual. Constata que as intercorrelaes entre os
resultados dos testes eram melhor explicadas
por um conjunto de aptides mentais subjacentes do que apenas por
um nico factor g. Nesta linha sur-
gem as concepes de Thurstone, que extrai os fatores bsicos, a
que chamou aptides mentais primrias
(espacial, numrica, verbal e de raciocnio, entre outras).
Guilford (1967) props uma classificao tridimensional das funes
intelectuais, com 120 fatores, que
levam ao fracionamento excessivo das aptides humanas. O seu
modelo pode ser sintetizado em trs as-
pectos, que traduzem a forma como as tarefas intelectuais podem
ser classificadas: 1) pelo tipo de opera-
o que o indivduo convidado a realizar (avaliao, memria); 2)
pelos materiais com que tem que traba-
lhar (figuras visuais, significados verbais) e; 3) pelo
resultado final que lhe pedido (relaes, implicaes).
Wechler (1958) definiu a inteligncia como um conceito global,
onde cabem um conjunto de operaes,
de fatores ou aptides. Na verdade esses fatores nunca so medidas
simples. So sempre complexas, pois
uma determinada aptido s exercida porque tem outros elementos
cognitivos em que se apoia (perce-
o, memria, aptido numrica, linguagem, entre outros).
RESUMOA grande diferena entre Wechsler e os outros autores que
props a priori (anos 1930) uma concepo
de inteligncia, deixando de ser apenas a definio de Binet
inteligncia o que o meu teste mede (BI-
NET e SIMON, 1908, citados por Anastasi, Urbina, 2000).
Os que seguem a anlise fatorial, em particular Cattel (1963) do
um contributo importante
na relao entre a inteligncia e a idade. A comparao de diferentes
curvas de idade em dife-
rentes subtestes de escalas de inteligncia permitem-lhe
distinguir duas aptides intelectu-
ais a inteligncia fluida (aptido para lidar com novos problemas)
a inteligncia cristalizada
(repertrio de informao, competncias cognitivas e estratgias
adquiridas pela aplicao
da inteligncia fluida a vrios domnios) (DUARTE In: GLEITMAN, et
al., 1998).
CONCEITOA inteligncia fluida diminui com a idade e a
cristalizada no. Na meia-idade, o indivduo alm de possuir
um maior nmero de conhecimentos, aperfeioou os meios de
organizao desses conhecimentos para
uso posterior. Estamos aqui claramente perante conceitos
definidos por Sternberb (2000), por inteligncia
prtica medida atravs dos testes de conhecimento tcito.
A psicometria deu um contributo positivo ao estudo da
inteligncia ao proporcionar diver-
sos instrumentos de avaliao, que nos permitem diagnosticar, de
modo preciso e vlido
(i.e. com boas caractersticas metrolgicas) a deficincia mental,
nos seus diversos graus;
predizer o sucesso escolar e profissional e; avaliar uma grande
variedade de aptides, umas
mais gerais e outras mais especficas, ainda hoje muito
utilizados como instrumentos de
seleo profissional.
A viso psicomtrica teve como mrito mostrar que o desenvolvimento
da inteligncia
aumenta ao longo dos anos, diminuindo a partir de determinada
idade, assistindo-se di-
minuio da eficincia do funcionamento intelectual, cujo decrscimo
no idntico em
todas as pessoas.
-
18 captulo 1
Esta abordagem permite uma avaliao e diagnstico diferencial, ou
seja, permite compa-
rar o desempenho das pessoas umas com as outras nos testes.
Assim o desempenho de um
indivduo num dado teste avaliado em comparao com a norma da
populao geral. A
psicometria ajuda-nos a comparar o desempenho de um indivduo com
a distribuio nor-
mal da inteligncia, isto , mostra-nos a posio do indivduo num
contnuo da distribui-
o de indivduos com as mesmas caractersticas, que representa os
vrios graus segundo
os quais se manifesta a inteligncia. Esta perspectiva constata
que se verificam variaes
na forma como os indivduos processam a informao, mas no nos
fornece as causas das
diferenas, no nos esclarece sobre os mecanismos que levam
resoluo de problemas.
Abordagem cognitiva
A Psicologia Cognitiva procura compreender os conhecimentos, as
destrezas e os proces-
sos, implicados na realizao de diferentes tarefas e na soluo dos
diferentes tipos de pro-
blemas. Pretende-se ligar a realidade dos testes ao modo como os
indivduos processam
a informao. Quando percecionam, prestam ateno, memorizam,
pensam, recordam,
armazenam, transformam e utilizam a informao. Estamos aqui
interessados nos meca-
nismos e no na avaliao (DUARTE In: GLEITMAN, et al., 1998, p.
752).
ATENO
De uma maneira geral, h acordo de que a ateno, a perceo, a
memria, o raciocnio, a resoluo de
problemas, a forma como adquirimos e organizamos a informao e
vamos usar o conhecimento, so pro-
cessos centrais da compreenso do funcionamento cognitivo do
indivduo, e de determinar as diferenas
individuais usadas na resoluo desses problemas.
Existem muitas divergncias sobre os processos e metodologias a
empregar no estudo dos
processos centrais de processamento da informao.
EXEMPLO
Existem 2 tipos de estudos que foram realizados para explicar as
diferenas individuais, denominados de
correlatos cognitivos simples e componentes cognitivas
complexas.
As aptides para a execuo das operaes cognitivas, esto longe de
corresponder quilo que, basica-
mente se considera nveis de inteligncia. Os correlatos
cognitivos simples so operaes extremamente
simples, como por exemplo os tempos de reao (intervalo de tempo
que um indivduo leva a reagir
presena de um estmulo que lhe apresentado) usados numa
operao.
A ideia dos tempos de reao, est ligada ideia de Galton, segundo
a qual, mais inteli-
gente aquele que resolve os problemas mais rapidamente. H a
ideia de que as diferenas
na capacidade mental esto relacionadas com a velocidade do
processamento. Para se ve-
rificar esta hiptese, alguns estudiosos tentaram correlacionar o
tempo de reao com a
eficincia, em testes de inteligncia. Indivduos com tempos de
reao mais baixos apre-
-
captulo 1 19
sentavam nveis intelectuais mais elevados nos testes (Hunt,
1976). Verificou-se ainda que
quanto mais complexa a tarefa proposta mais ntida a correlao
entre o desempenho e a
eficincia intelectual.
Mas a pertinncia destes estudos foi colocada em questo dado que
o valor das correla-
es entre os tempos de reao e o nvel intelectual, medido atravs
dos testes, significa-
tivo, mas, baixo. Na realidade, as variveis que podem interferir
numa resposta aos tempos
de reao, so tantas, para alm da velocidade de reao meramente
fisiolgica do sistema
nervoso, procurando-se por isso resposta em nveis mais
complexos. Surgiram algumas
tentativas para estudar os processos cognitivos de nvel elevado
que formam a base da in-
teligncia, os chamados componentes cognitivos. Um desses estudos
foi empreendido por
Sternberg (1977) sobre o raciocnio analgico. Os problemas de
analogia, de semelhanas,
so testes, frequentemente utilizados na medida do raciocnio
abstrato, sendo considera-
dos uma boa medida do factor g - Inteligncia Geral.
Nestes estudos, eram apresentadas s pessoas, diversas analogias
em que a soluo
parecia ser uma operao simples, na realidade, a soluo dos
problemas implicava em 5
operaes diferenciais (DUARTE, apud GLEITMAN, et. al., 1998): a
codificao (operao
que implica traduzir um estmulo numa representao mental, sobre a
qual se podero
realizar, posteriormente, outras operaes); a inferncia (que
implica identificar ou gerar
a relao entre dois ou mais elementos codificados); a categorizao
(que implica relacio-
nar regras ou conceitos conhecidos, com outras regras e outros
conceitos); a extrapolao
das relaes (se o indivduo percecionou a semelhana entre dois
elementos, entende que
aplica ao segundo par a relao inferida entre os outros dois,
permitindo identificar a res-
posta); e a deciso e resposta (que implica decidir quando um
indivduo tem de escolher,
entre vrias alternativas de resposta, qual delas a mais
adequada, o que exige comparar as
vrias solues propostas, entre si, para ver qual se ajusta melhor
relao extrapolada e,
depois, comunicar a resposta escolhida).
possvel afirmar que a anlise dos componentes das tarefas
cognitivas complexas, nos
ajuda a compreender a inteligncia? A resposta a esta questo
exige saber, se esses com-
ponentes detm um nvel elevado de generalidade, havendo ainda
muita investigao em
aberto de modo a obter-se uma resposta segura.
Abordagens contextuais e Sistmicas
Para a abordagem contextual a capacidade humana para raciocinar
e agir s pode ser com-
preendida na ligao ntima ao contexto onde o sujeito opera. A
inteligncia no um trao
universal ou um conjunto de aptides que pode ser medido de forma
precisa pelos testes
convencionais de inteligncia. So enfatizados os fatores externos
e a importncia de se
atender cultura na interpretao da inteligncia. Neisser (1976,
citado por STERNBERG,
2000, p. 41) destacou:
a importncia de associar a investigao em Psicologia Cognitiva
com as evidncias do mundo real.
-
20 captulo 1
Finalmente as teorias sistmicas entendem a inteligncia como
multifa-
cetada e multidimensional, envolvendo diversas caractersticas
humanas.
Segundo Sternberg (2000) englobam-se nestas, a Teoria das
Inteligncias
Mltiplas de Gardner (1983), a Teoria Bioecolgica da Inteligncia
de Ceci
(1990), a Teoria Trirquica da Inteligncia Humana (STERNBERG,
1985,
1996) e a Teoria da Inteligncia Funcional (STERNBERG, 1997).
Para Ster-
nberg (1997) e Rosinha (2009), as teorias convencionais tratam
apenas de
uma pequena parte da inteligncia e no traduzem o que chama de
inteli-
gncia funcional, a aptido para o indivduo se adaptar, moldar e
selecio-
nar contextos que traduzam os seus objetivos.
O estudo da personalidade
A estabilidade e mudana da personalidade ao longo do curso de
vida
constitui um tema central que remete para algumas dvidas ou
ques-
tes como:
REFLEXO
Em que momento da vida podemos identificar as caractersticas
nicas de um sujei-
to e quando que a personalidade est desenvolvida? Trata-se de um
constructo
unitrio ou multidimensional?
A natureza da personalidade
Apesar de a personalidade ser discutida em maiores detalhes no
captu-
lo 3, na considerao das diferenas individuais e o processo
decisrio,
alguns aspectos sero apresentados no presente captulo.
Relativamente sua natureza psicolgica, a personalidade um
constructo estvel, mas com possibilidade de mudana e
alteraes
com o decorrer do tempo. A teoria dos traos defende uma maior
estabi-
lidade da personalidade, sendo esta relativa a aspectos mais
estruturais,
o que se revela concordante com as caractersticas identificadas
pelos
traos e pelos instrumentos que tm sido utilizados para os
avaliar.
Uma viso integradora de personalidade
A teoria de Dan McAdams (1994) apresenta uma viso integradora,
ao
defender que a personalidade apresenta vrios nveis de anlise,
cujas
caractersticas podem facilitar ou no a mudana.
Um olhar sobre a Psicologia da personalidade implica
necessaria-
mente a concepo dos traos disposicionais, dos seus constructos
pes-
soais e da sua narrativa de vida. Deste ponto de vista, perceber
a estrutu-
CURIOSIDADE
Personalidade
O conceito de personalidade tem v-
rias operacionalizaes possveis. Re-
cuando origem da palavra, deriva do
latim persona, que designa a ms-
cara que os atores gregos e romanos
usavam para indicar as personagens
que representavam.
-
captulo 1 21
ra da personalidade s pode ser realizado com uma concepo que no
se interesse apenas
em medir os traos de personalidade, como defendem as abordagens
mais psicomtricas;
no se interesse apenas em perceber episdios e histrias
contingentes que o sujeito apre-
senta, com vista a fornecer a sua experincia fenomenolgica; e,
no se posicione apenas
na narrativa, na imagtica e nos temas que nelas esto presentes,
os valores ou ideologias,
os episdios da sua vida mais marcantes ou os ideais do self.
Os trs nveis de anlise da personalidade propostos por McAdams
constituem uma
forma parcimoniosa de estudar a personalidade. uma teoria vlida,
sobretudo, porque
transmite a ideia de que a personalidade no um bloco macio e
uniforme e porque a per-
sonalidade implica o funcionamento, a nveis eventualmente
diferentes, no hierrquicos,
mas paralelos.
A articulao e integrao defendidas na avaliao da personalidade
esto relacionadas
com dois conceitos, o de consistncia e o de convergncia dado que
presidem articulao
da informao.
CONCEITO
Acerca da consistncia deve ser estabelecida uma convergncia
entre o plano terico e uma determinada
observao de comportamento (o sujeito no pode ser psicopata e,
simultaneamente ter ressonncia emo-
cional, isto inconsistente no plano terico). Relativamente
convergncia, se estamos a caracterizar um
comportamento antissocial, h um conjunto de caractersticas que
apesar de diferentes, convergem para
a identificao do grupo. Isto , deve-se atender continuidade ou
mudana da personalidade, atendendo
ao plano ideogrfico e nomottico.
A Psicologia na viso contempornea
O estudo sistemtico do comportamento permite inferir que
desenvolvemos processos
psicolgicos (aprendizagem, emoo, motivao e outros) para nos
adaptarmos aos mais
diversos meios. Rodrigues (2001) observa que o estudo da interao
social o cerne para a
compreenso das relaes em vrios meios e, especialmente, no
trabalho. Acrescenta ain-
da que a Psicologia Social tem muito a oferecer aos
profissionais da rea de gesto de pes-
soas, psiclogos, administradores, pedagogos, assistentes sociais
entre outros.
Optou-se neste ltimo ponto por abordar o campo da Psicologia
Social, dado que uma
das disciplinas onde a anlise do contexto sociocultural se faz
sentir com maior intensida-
de, base essencial para a anlise do comportamento social e das
relaes interpessoais nos
mais diversos contextos e em particular no organizacional. O seu
objeto de estudo o com-
portamento dos indivduos em situao coletiva, procurando
compreend-los e prev-los.
Origem da Psicologia Social
A origem da Psicologia Social alvo de diversas disputas. As suas
origens remontam aos fi-
nais de 1700 e incio de 1900, na Alemanha, mas a sua forma
moderna teve incio na Frana
com Gustav Le Bon e a publicao do livro The Crowd (1896). Dois
anos depois, em 1898, o
-
22 captulo 1
socilogo Gabriel Tarde publica Etudes de Psychologies Sociale,
onde afirma que o fenme-
no social por excelncia, cujas leis permitem compreender a maior
parte dos fenmenos
a imitaotodas as semelhanas so devido a repeties (TARDE, 1890,
p15, citado por
LEYENS e YZERBYT, 2008).
Le Bon traz como contribuio a ideia de que as pessoas na multido
perdem as inibi-
es e os padres morais, tornando-se altamente emotivas. As
multides so massas efer-
vescentes onde a irracionalidade governada pelo contgio mental
via poder da sugesto
criando ao que chamou de mente coletiva, que nos faz sentir,
pensar e agir de maneira dife-
rente quando comparado ao comportamento individual. O
comportamento pode vir assim
ser determinado pelas percees do indivduo sobre as aes de outros
que o rodeiam. O
carter uniforme da iluso coletiva garantido pela sugesto
contagiosa - imitao recipro-
ca entre os membros de uma multido a partir de uma primeira
sugesto de um dos seus
membros, reproduzindo-se por afirmao, repetio e contgio. O grupo
psicolgico um ser
provisrio, formado por elementos heterogneos que por um momento
se combinam. O
comportamento das massas compreensvel em termos de uma nova
abordagem cient-
fica da sugesto e do hipnotismo. Sabemos agora que esta mensagem
emergiu num dos
textos de Hitler Mein Kampf sendo interpretada e assimilada por
outros como Stalin e
Mussolini (RICHARDS, 2010).
CURIOSIDADE
Para outros autores a origem da Psicologia Social se d na Amrica
em 1908, com a publicao de Social
Psychology do socilogo Ross e com a publicao de Introdution to
Social Psychology do psiclogo Mac
Dougall, apesar de Triplett, j em 1898 ter publicado uma
experincia que viria a chamar-se de facilitao
social. H, todavia, uma clara divergncia entre os dois autores,
McDougall afirma a primazia do instinto na
vida coletiva, j Ross define o comportamento coletivo como
produto da sugesto/imitao.
Verifica-se que na Frana o estudo das multides tem eco nos meios
polticos, apesar de
pouco impacto no meio cientfico, contrariamente aos estudos em
laboratrio que acom-
panham a maioria dos estudos na poca.
Le Bon influenciou diversos psiclogos europeus como McDougall e
Ginsburg, na pro-
cura da compreenso da mente grupal como explicao psicolgica para
o declnio das
naes e dos povos. Freud equiparou a estrutura social estrutura
social individual, esta-
belecendo a relao entre lder-seguidor ou hipnotista-sujeito. As
massas representam cla-
ramente o inconsciente, na tradio da Psicologia Dinmica. O
pensamento de Carl Jung
sobre o inconsciente coletivo aproxima-se deste conceito
(RICHARDS, 2010).
Nos Estados Unidos destacam-se, Floyd Allport (1924) que refere
que a Psicologia Social
envolve o uso de mtodos cientficos para explicar a forma como a
pessoa, influenciada
nos pensamentos, emoes e comportamentos, perante a presena real
ou imaginada de
outros e James Williams, que escreve os Principles of Social
Psychology (1922), onde refere
que a Psicologia Social a cincia dos motivos das pessoas que
vivem em relao social.
Os motivos so baseados nos instintos, moldados pelos hbitos e
pela aprendizagem em
disposies, que uma vez estabelecidos tendem a manter-se de forma
conservadora. James
Williams segue uma via distinta da abordagem experimental,
articulando conhecimentos
-
captulo 1 23
da Economia, Sociologia e Histria, de modo a responder a questes
de ordem prtica, com
incidncia nos conflitos de interesse nas relaes econmicas,
polticas, familiares, cultu-
rais, educacionais e laborais (Richards, 2010).
Mudana Metodolgica
At aos anos 1930, a Psicologia social americana centrou-se nos
estudos sobre o indivduo e a
sua situao social. Aps os anos 1930 assiste-se a uma mudana
metodolgica significativa,
com Thorndike e Likert, atravs da introduo dos mtodos de
investigao por questionrio
e das escalas de atitudes, aplicadas ao diagnstico e interveno
sobre a realidade social.
A viso contempornea das atitudes confere-lhes uma posio mental
estvel, direcio-
nada para um objeto ideia ou pessoa, fruto de uma combinao de
crenas, normas e
avaliaes que levam a uma predisposio ou inteno para agir. As
atitudes so assim,
disposies favorveis ou desfavorveis relativamente a objetos,
pessoas e acontecimentos,
ou em relao a alguns dos seus respectivos atributos. So trs os
componentes de uma
atitude: afeto, cognio e predisposio para agir.
ATENO
Neste contexto, destaca-se o estudo inicial de LaPiere (1934). O
autor investigou, numa poca em que
existiam preconceitos muito fortes contra os orientais, a recusa
de gerentes de hotis para servirem pes-
soas chinesas quando solicitados por carta, e o seu
comportamento efetivo quando confrontados presen-
cialmente com um casal oriental acompanhado por dois jovens
estudantes e um professor de raa branca.
Os resultados evidenciaram que o comportamento era muito
diferente de uma situao para outra. A expli-
cao adotada foi em funo das presses situacionais que
subalternizam o preconceito.
O polmico estudo de Santley Milgram (1963), sobre a obedincia
autoridade, com a si-
mulao de choques eltricos, tem como objeto de estudo as reaes
individuais em face
de indicaes concretas de outros.
EXEMPLO
No estudo, os sujeitos eram encarregados do papel de professor
numa experincia sobre aprendizagem,
cabendo ao experimentador instruir os sujeitos a aplicar punies,
na forma de choques eltricos, a um
aprendiz (comparsa do experimentador), que est numa sala
adjacente. Diversas modificaes ao procedi-
mento, nomeadamente manipulando a proximidade da vtima,
demonstrou que se a vtima s podia ser ouvida,
65% dos sujeitos iam at ao limite. Se houvesse contacto visual,
a percentagem baixava significativamente.
Quando o experimentador dava as instrues pelo telefone, s 20,5%
continuavam a obedecer. Quando
manipulada a influncia social, atravs da presena de um segundo
sujeito, a obedincia chegava aos 92%.
Se o outro recusava, somente 10% dos sujeitos chegava aos 450
volts. Quando era manipulada a legitimida-
de da autoridade, experincia conduzida num edifcio normal de
escritrios e no na universidade, a obedin-
cia caa para 48%.
-
24 captulo 1
Ainda relativamente s atitudes destaca-se o estudo de Leon
Festinger et al. (1956), que
abordou a teoria da dissonncia cognitiva. Estamos na presena de
dissonncia cognitiva
quando coexistem cognies que no se ajustam entre si.
EXEMPLOPor exemplo, um homem que se considera atencioso, mas que
se esquece do aniversrio da me, encontra-
se numa situao de dissonncia cognitiva. Um indivduo que, apesar
de acreditar que fumar muito provoca
cancer do pulmo, fuma 3 maos de tabaco por dia, encontra-se numa
situao de dissonncia cognitiva.
A teoria da dissonncia cognitiva tem forte aplicao nos anncios e
campanhas publici-
trias contra o tabaco, ao usar imagens reais, extremamente
agressivas com tumores em
maos de tabaco. A dissonncia pode ser explicada por 5 motivos
principais:
1 Tomada de conscincia da inconsistncia entre pensamentos;
2Mecanismo de atribuio interna, isto para que algum se sinta
mal-estar pela prtica de um ato desprezvel, ter de assumir a
responsabilidade por este;
3 Presena de um estado de mal-estar fisiolgico e psicolgico;
4 O estado de dissonncia ser atribudo ao comportamento;
5O estado de dissonncia cognitiva ser psicologicamente
desagradvel, constituindo uma motivao, uma ativao do organismo, no
sentido da reduo ou eliminao da dissonncia.
Nos anos 1960, assiste-se ascenso do self e da autoestima, com o
desafio situacionista,
que tem em considerao as disposies individuais e a influncia
interacional. O incio
dos anos 1970 de crise, aps duas dcadas de comportamentalismo
social, assistindo-se
no seu final revoluo cognitivista. Nos anos 1980, h o
ressurgimento da pesquisa sobre
conflitos de grupo, raa, preconceito tnico e os esteretipos.
Os desafios impostos Psicologia Social correspondem abertura
deste campo de in-
vestigao a uma diversidade muito ampla de objetos de estudo,
onde se destacam os efei-
tos sobre o comportamento das massas em situaes especficas como
o pnico, a diminui-
o de condutas agressivas, a coeso dos grupos, a liderana, os
mecanismos da tomada de
deciso, a persuaso, entre outros. de assinalar que a Psicologia
Social ocupa um espao
de afirmao e de conquista de uma produo intelectual capaz de
compreender constela-
es complexas da relao indivduo-sociedade, dentro de cenrios
marcados por desigual-
dades de diversas ordens.
-
captulo 1 25
Teoricamente o campo da Psicologia Social encontra-se polarizado
entre duas percectivas:
a Psicologia Social psicolgica, de tradio experimental, focando
processos relativos a in-
divduos e interaes em pequenso grupos, e a Psicologia Social
sociolgica, fazendo uso
de metodologias qualitativas e do estudo do comportamento em
grupos mais amplos e at
mesmo em nvel societal.
RESUMO
De modo a encerrar o capitulo, reafirma-se que Psicologia uma
cincia que oferece contributos para uma
melhor compreenso da natureza humana e, consequentemente, da sua
conduta. O controle total da con-
duta pode ser uma ambio, nunca uma certeza. Apenas
contextualizando e precisando o nvel de anlise
a que nos referimos somos capazes de decompor parte da
intrincada teia que o comportamento humano
e os processos que lhe esto subjacentes.
A Psicologia cresce e muda a cada dia, mas suas razes
fundamentais continuam as mesmas, a
alma, natureza humana ou mente, pois apesar de sofrer inovaes e
mudanas lembremos que a Psicolo-
gia uma cincia nova, mas com um longo passado. Constatamos que o
estudo do comportamento to
antigo quanto a prpria existncia do Homem, sofrendo influncias
do campo da Filosofia, da Fsica, da
Medicina, da Estatstica, da Psicanlise, percorrendo diversas
correntes desde ao positivismo ao cognitivis-
mo, o que expande tambm a sua aplicabilidade.
Constatou-se que a popularizao dos conceitos da Psicologia
induzem, muitas vezes, utiliza-
o do senso comum para explicar vrias condutas, mas que a afirmao
da Psicologia enquanto cincia
passa pela consolidao do seu mtodo e da sua linguagem.
Abordamos os dois grandes vetores estruturantes do homem, que o
fazem agir de forma fi-
nalizada a inteligncia e de modo tendencialmente consistente a
personalidade. Relativamente
inteligncia, apontaram-se as abordagens psicomtricas,
cognitivistas, existencialistas e sistmicas. Distin-
guiu-se a perspectiva mais descritiva e quantitativa da
abordagem psicomtrica no estudo da inteligncia
da abordagem cognitivista, mais explicativa dos motivos que
levam identificao de diferenas intra e
inter-individuais.
Abordou-se a importncia do estudo das multides, do conformismo e
da influncia autoridade, revi-
sitando os conceitos de mente grupal, inconsciente coletivo,
como explicaes do comportamento e da conduta.
Referimos que o estudo da influncia social est orientado para o
modo como os outros influenciam
o nosso comportamento, estudando temas como o conformismo e a
obedincia. A cognio social, orientada
para o modo como ns percecionamos os outros, estuda temas como
as atitudes, a identidade, os estereti-
pos, o preconceito e a atrao. Destacou-se o tema da dissonncia
cognitiva como motor para a mudana das
atitudes. Por fim contraps-se a abordagem cognitivista
construcionista, corrente que na atualidade procura
descrever de modo contextualizado e mais positivo as interaes do
homem com a sociedade.
-
26 captulo 1
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Psicologia Aplicada ao Espao Organizacional
paolo rosi dvila
12
-
30 captulo 2
Introduo
OBJETIVOS1. Definir Organizaes
2. Conceituar Psicologia Organizacional
3. Identificar reas de trabalho do psiclogo nas organizaes
4. Analisar questes relevantes no dilogo entre o indivduo e a
organizao
Da infncia at a idade adulta as pessoas interagem socialmente e
integram os mais di-
ferentes grupos sociais, entre os quais se podem destacar a
famlia, o crculo de amizades,
os colegas do ambiente escolar, o grupo de trabalho bem como
outros grupos formados nas
diferentes organizaes culturais, econmicas, filosficas e
religiosas em que uma pessoa
possa fazer parte. Atualmente, as interaes sociais se tornaram
cada vez mais acessveis
populao no s pelas facilidades proporcionadas pelos meios de
comunicao e de trans-
porte, mas tambm, e principalmente pelo uso cada vez mais
difundido das redes sociais.
Embora se julgue oportuno destacar a relevncia social da
internalizao e aplicao
das normas sociais e legais caractersticas das relaes
organizacionais para o ambiente de
trabalho e para a produtividade, o foco do presente captulo
reside em identificar concei-
tos ligados Administrao, s organizaes e em como a Psicologia
pode contribuir para
o espao organizacional. Ao se trabalhar com o desenvolvimento de
recursos humanos,
aceitvel que se estimule a expectativa social e educacional de
que a compreenso do papel
social desempenhado (seja como gestor, psiclogo, integrante de
determinada organiza-
o ou mesmo como cidado) aliado aplicao de prtica de
conhecimentos, habilidades
e atitudes possa contribuir de forma mais efetiva e eficaz para
as interaes sociais no con-
texto organizacional.
A Psicologia no Contexto Organizacional
A relevncia da coordenao de pessoas em proveito da realizao dos
objetivos organizacio-
nais tem sido fortemente enfatizada (ETZIONE, 1973). Tal
assertiva complementada pelo
posicionamento segundo o qual o problema das organizaes modernas
a maneira de reu-
nir agrupamentos humanos que sejam to racionais quanto possvel
e, ao mesmo tempo,
produzir um mnimo de consequncias secundrias indesejveis e um
mximo de satisfao
(...) (ETZIONE, 1973, p.9). Assim, pode-se verificar que a
coordenao de grupos humanos
consiste em uma das necessidades fundamentais para as organizaes
e o atendimento das
mesmas requer a habilidade de saber lidar com interesses
pessoais e organizacionais, que
podem ser concordantes, mas por vezes conflitantes ou at mesmo
antagnicos.
Algumas causas de conflito podem ser apresentadas, tais como: a
luta pelo poder, o de-
2 Psicologia Aplicada ao Espao Organizacional
-
captulo 2 31
sejo de sucesso econmico, a busca pelo status e a explorao
humana. Considera-se que os
conflitos sejam resolvidos de acordo com um modelo de soluo de
problema ganhar-ga-
nhar em alternativa ao mtodo ganhar-perder o qual acarreta
onerosas consequncias
para as organizaes. Quando as partes envolvidas no conflito
estiverem satisfeitas poder-
se- chegar soluo do conflito (LIKERT, LIKERT, 1979, p. 3-8).
Carvalhal (2011) realizou uma anlise sobre o processo de
negociao, uma das formas
adotadas para a soluo de conflitos. A escolha da abordagem mais
adequada para a solu-
o dos conflitos deve ser precedida de uma interpretao das
provveis consequncias dos
conflitos em termos de tendncia, urgncia e gravidade. Aps
destacar a habilidade de ne-
gociao como relevante para a soluo de conflitos organizacionais,
torna-se conveniente
registrar que essa soluo no deve se constituir um fim em si
mesmo, mas sim reduzir
eventuais prejuzos s metas e objetivos organizacionais. Assim
sendo, ao voltar ateno
para as organizaes, convm reforar a definio apresentada por
Parsons (1960) segun-
do a qual As organizaes so unidades sociais (ou agrupamentos
humanos) intencional-
mente construdas e reconstrudas, a fim de atingir objetivos
especficos. (p.17). Etzione
(1973) se fundamenta na definio proposta por Talcott Parsons,
enfatiza a importncia
pela busca dos objetivos organizacionais.
ATENOExistem trs definies de organizao que merecem destaque
(CARAVANTES E KLOECKNER, 2005).
Na primeira definio, a organizao definida como um sistema de
atividades pessoais ou de foras
que esto intencionalmente coordenadas.
A segunda definio refere-se organizao como um grupo de pessoas
que trabalham de forma coor-
denada sob a orientao de um lder e que visam consecuo de um
objetivo.
A terceira definio se baseia na concepo da organizao como uma
integrao impessoal de um
grande nmero de especialistas que operam para atingir algum
objetivo de forma altamente racionalizada
e com base em uma estrutura de autoridades.
Tambm merece destaque a definio apresentada por Schein (1982)
segundo a qual:
Uma organizao a coordenao planejada de atividades de uma srie de
pessoas para a con-
secuo de algum propsito ou objetivo comum, explcito, atravs da
diviso do trabalho e funo
e atravs de uma hierarquia de autoridade e responsabilidade
(p.12).
Zanelli (2008) tambm aborda a questo da organizao na medida em
que menciona:
O termo organizao, como tem sido amplamente compreendido,
representa um sistema social
orientado, em essncia, para a consecuo de objetivos especficos.
Termos, tais como instituio
e estabelecimento, ou empresa e firma, semelhana da interpretao
de Etzioni (1980, p.vii), so
denotados como similares. Nesse sentido, fbricas, escritrios de
servios, hospitais, escolas, orga-
nizaes militares, igrejas, clubes de recreao, agncias
governamentais, sindicatos, associaes
de bairro, etc so genericamente denominadas organizaes.
(p.26).
-
32 captulo 2
Complementarmente, Stoner e Freeman (1982), destacam algumas
justificativas da im-
portncia social das organizaes:
Refletirem valores e necessidades socialmente aceitos, o que
torna a
convivncia social civilizada;
Contriburem para a coordenao de esforos de diferentes indivduos
em
proveito da conquista de metas;
Preservarem e promoverem o desenvolvimento do conhecimento
adquirido;
Contriburem para o oferecimento de oportunidades de trabalho,
satisfao
e autorrealizao pessoal.
Alm de se definir e evidenciar a importncia social das
organizaes convm destacar
por oportuno o papel da Administrao para a organizao, o que
realizado por Stoner e
Freeman (1982, p.5) ao afirmarem que:
A administrao o processo de planejar, organizar, liderar e
controlar os esforos realizados
pelos membros da organizao e o uso de todos os outros recursos
organizacionais para alcanar
os objetivos estabelecidos.
O exame e a anlise dos resultados organizacionais so abordados
por Zanelli e Bastos
(2004) em quatro nveis:
INDIVIDUALH uma priorizao do papel do indivduo e suas
caractersticas como determinantes para a explicao da ao humana no
trabalho e dos seus resultados.
ORGANIZACIONAL
Verifica-se a importncia de considerar os aspectos da organizao
que tm impacto sobre os resultados organizacionais e entre estes
aspectos podem ser destacados a estrutura organizacional, a dinmica
cultural e poltica e o desenho das tarefas da organizao.
GRUPALVerifica-se a considerao da dinmica grupal e das equipes
na anlise dos resultados e dos produtos organizacionais que
dependam da ao humana no trabalho.
CONTEXTUALOU AMBIENTAL
O quarto nvel de anlise dos resultados organizacionais se refere
s consideraes sobre as caractersticas ambientais tais como as
influn-cias polticas, econmicas, sociais e culturais que afetam as
organizaes. (ZANELLI, BASTOS, 2004).
1
2
3
4
A influncia do processo de intrustrializao no surgimento da
Psicologia
Organizacional
O processo de industrializao caracterstico do final do sculo XIX
influenciou o surgi-
mento da Psicologia Organizacional na medida em que havia a
demanda crescente da apli-
cao da Psicologia na soluo de problemas dentro das organizaes
(SPECTOR, 2010).
-
captulo 2 33
Walter Dill Scott foi um psiclogo experimental
que publicou, em 1903, uma obra pioneira na
rea da Psicologia da Publicidade: The Theory of
Advertising. Em 1913, Hugo Mnsterberg escre-
veu o livro Psychology and Industrial efficiency,
considerado o primeiro compndio sobre Psi-
cologia Organizacional. A obra de Mnsterberg
caracterizou-se pelo interesse na seleo de fun-
cionrios e aplicao de testes psicolgicos.
ATENO
Scott e Mnsterberg so considerados psiclogos experimentais
pioneiros no cam-
po da Psicologia Organizacional (ZANELLI, BASTOS, 2004).
Dentre as linhas da Escola Clssica da Administrao pode-se
ressal-
tar a Escola da AdministraoCientfica cujos princpios foram
propos-
tos por Frederick Wislow Taylor.
A influncia do campo da Engenharia j observada nos estudos
de
Taylor (engenheiro) tambm foi verificada nas pesquisas
realizadas pelo
casal Frank e Lillian Gilbreth sobre o que ficou conhecido pelo
estudo
de tempos e movimentos. O trabalho dos Gilbreth contribuiu para
es-
tudos posteriores sobre o fator humano e sobre como se pode
melhor
projetar a tecnologia para as pessoas (SPECTOR, 2010, p.15).
Teoria da Administrao
Contrastando com a abordagem norteamericana de Taylor,
desenvol-
veu-se, na Frana, a Teoria da Administrao cujo principal
represen-
tante terico foi o industrial francs HenriFayol.
Fayol identificou as funes bsicas da Administrao:
planejamen-
to, organizao, direo, coordenao e controle.
A Teoria da Administrao enfocava na estrutura formal das
organi-
zaes e tratava seus empregados como extenses dessa estrutura
dentro
de uma viso econmica do ser humano (BOWDITCH & BUONO,
2004).
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) foi verificada
a
necessidade, nos Estados Unidos, de selecionar militares e
aplic-los
de forma mais adequada. Nesse contexto, foram desenvolvidos
testes
psicolgicos visando aplicao profissional e houve um
significativo
avano no campo da Psicologia Organizacional (SPECTOR, 2010).
Elton Mayo realizou uma srie de estudos nas dcadas de 1920 e
1930 na Western Eletric Company, os quais ficaram conhecidos
como
a experincia de Hawthorne. O objetivo era verificar a relao
existente
CURIOSIDADE
Administrao Cientfica
A administrao cientfica enfocava ba-
sicamente a medio e a estrutura do
prprio trabalho, tinha como objetivo
criar a forma mais eficaz de se realizar
tarefas e lidava com as pessoas como
seres racionais e econmicos (BOWDI-
TCH & BUONO, 2004, p. 8).
AUTOR
Henri Fayol, o fundador da Teoria Cls-
sica da Administrao.
-
34 captulo 2
entre a iluminao no ambiente de trabalho e a produtividade do
trabalhador. Na experin-
cia realizada foi constatado que independentemente da alterao
provocada nas condies
de trabalho, a produtividade do grupo no aumentava. Os
resultados tiveram o mrito de
chamar a ateno para os fatores sociais no ambiente de trabalho,
para a importncia da
satisfao das necessidades individuais e do grupo alm das
necessidades financeiras das
organizaes (CARAVANTES, KLOECKNER, 2005).
Bowditch & Buono (2004, p.11) ainda destacaram que os
estudos de Hawthorne, confirmaram a
importncia do grupo de trabalho, e identificaram a existncia de
uma organizao informal dentro
da estrutura formal da empresa.
O esforo de guerra ocorrido na Segunda Grande Guerra Mundial
aumentou a demanda
por trabalhos na rea da Psicologia Organizacional,
particularmente no que se refere: sele-
o e colocao de pessoal, treinamento, aspecto moral, avaliao de
desempenho, desen-
volvimento de equipes e projeto de equipamentos (SPECTOR,
2010).
Na dcada de 1950, surgiu a Escola Comportamental, a qual contou
com o traba-
lho de tericos que transcenderam as perspectivas da Escola das
Relaes Humanas
no sentido de que passaram a considerar com mais profundidade e
cientificidade a
possibilidade de as pessoas terem acesso ao desenvolvimento de
suas habilidades e ao
prprio crescimento pessoal.
Dentre os principais tericos da Escola Comportamental se
destacam Abraham Mas-
low (proponente de uma hierarquia de necessidades humanas),
Douglas McGregor (au-
tor das suposies em torno da Teoria X e a Teoria Y), Rensis
Likert (estudioso sobre a im-
portncia da participao nos sistemas gerenciais), Chris Argyris
(terico que destacou a
responsabilidade da organizao em assegurar que o potencial das
pessoas seja assegu-
rado), Frederick Hezberg (responsvel pela distino entre fatores
higinicos e motiva-
cionais) e David McClelland (responsvel pelos conceitos das
necessidades de poder e de
realizao). (BASTOS, ZANELLI, 2004; CARAVANTES, CARAVANTES,
KLOECKNER, 2005;
BOWDITCH & BUONO, 2004).
Ribeiro (2003) conclui sua obra sobre as teorias da Administrao
abordando quatro
Escolas da Administrao que influenciaram as organizaes na
segunda metade do sculo
XX: a Escola dos Sistemas, a Escola da Administrao por
Objetivos, a Escola do Desenvol-
vimento Organizacional e a Escola das Contingncias. Caravantes,
Caravantes e Kloeckner
(2005) apresentam, ainda, a Qualidade Total e a Reengenharia
como duas escolas contem-
porneas que influenciaram as organizaes a partir da dcada de
1980.
A necessidade de compreenso do comportamento nos grupos fez
crescer as pesqui-
sas sobre interao e contribuiu para o surgimento da Psicologia
Organizacional. Schein
(1982) realizou estudos na rea da Psicologia Organizacional e
destacou o desenvolvi-
mento e as transformaes pelas quais este campo de estudo da
Psicologia vivenciou en-
tre as dcadas de 1960 e 1980. Entretanto, o que criou a
Psicologia Organizacional como
disciplina independente foi a descoberta de que a organizao
consiste em um sistema
social complexo que no pode dispensar o estudo do comportamento
humano nas orga-
nizaes (SCHEIN, 1982).
-
captulo 2 35
Na viso de Spector (2010) a Psicologia Industrial/Organizacional
entendida como
uma especializao da Psicologia que apresenta duas divises: a
industrial e a organizacio-
nal. Enquanto o foco de interesse da diviso industrial se
encontra no gerenciamento da
eficincia organizacional com base no emprego adequado dos
recursos humanos, a divi-
so organizacional se dedica compreenso do comportamento humano e
ao aumento do
bem-estar dos funcionrios no ambiente de trabalho.
CONCEITO
No que se refere denominao de Psicologia
Industrial/Organizacional, Spector (2010) aborda o fato de
que, aps a Segunda Guerra Mundial, a Psicologia adquiriu maior
reconhecimento, tendo sido criada, em
1944, a Diviso de Psicologia Comercial e Industrial, a qual
passou a ser denominada Diviso de Psicologia
Industrial e Organizacional, em 1970, e hoje conhecida como
Sociedade de Psicologia Industrial e Orga-
nizacional - SIOP.
Paul M. Muchinsky, pesquisador de renome internacional na rea da
Psicologia Orga-
nizacional, aborda a Psicologia Industrial/Organizacional como a
rea de estudo que se
ocupa do comportamento em situao de trabalho e a define
como:
uma rea de estudo cientfico e da prtica profissional que trata
de conceitos e princpios psicol-
gicos no mundo do trabalho (MUCHINSKY, 2004, p.3).
Com base nessa definio, pode-se verificar uma preocupao
conceitual no que se refere
aplicao prtica no trabalho dos conhecimentos obtidos sobre o
comportamento huma-
no. Tal viso complementada por Spector (2010) quando esse
estudioso afirma que tanto a
prtica quanto a pesquisa so igualmente importantes no campo
organizacional (p.8).
A questo relacionada produtividade acrescentada definio da
Psicologia Or-
ganizacional proposta por Cascio (2001) citado por Rothmann e
Cooper (2008) segundo
a qual a Psicologia Organizacional e do Trabalho definida como
uma diviso aplica-
da da Psicologia preocupada com o estudo do comportamento humano
relacionado ao
trabalho, s organizaes e a produtividade (p.4). Segundo Rothmann
e Cooper (2008)
a Psicologia Organizacional e do Trabalho integrada por dois
ramos: a Psicologia do
Trabalho (classificada tambm como Psicologia Industrial) e a
Psicologia Organizacional
(classificada muitas vezes como comportamento organizacional).
Enquanto a Psicolo-
gia do Trabalho concentra sua rea de atuao sobre assuntos
ligados gesto de pessoas
(com foco em pequenas unidades) a Psicologia Organizacional
direcionada compre-
enso do comportamento de indivduos, grupos e organizaes na
situao de trabalho
(ROTHMANN e COOPER, 2008, p.4).
-
36 captulo 2
Ainda de acordo com Rothmann e Cooper (2008), as reas de
Interesse da Psicologia do
Trabalho e Psicologia Organizacional envolvem:
PLANEJAMENTO DE RECURSOS HUMANOS DIFERENAS INDIVIDUAIS E
DIVERSIDADE
ANLISE, DESCRIO E ESPECIFICAO DE CARGOS MOTIVAO
RECRUTAMENTO E SELEO COMPORTAMENTO DE GRUPO
EDUCAO, TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO COMUNICAO
COMPENSAO LIDERANA
AVALIAO DE DESEMPENHO QUALIDADE DE VIDA E COMPORTAMENTO
PROBLEMTICO
DESENVOLVIMENTO DE CARREIRAPLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E
CULTURA ORGANIZACIONAL
PSICOLOGIA DO TRABALHO PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
Diferentemente de Rothmann e Cooper (2008), Krumm (2005) adota
uma diviso da
Psicologia Organizacional em trs reas de especializao: a
Psicologia de Pessoal, a Psico-
logia Organizacional e a Engenharia dos Fatores Humanos ou
Ergonomia.
CONCEITONa rea ligada Psicologia de Pessoal so abordadas questes
ligadas ao recrutamento e seleo, treina-
mento e desenvolvimento, avaliao do desempenho, anlise de
cargos, a programas de motivao, satisfa-
o no trabalho e reduo do estresse. Na Psicologia Organizacional
a ateno destinada ao estudo das
influncias do grupo sobre os indivduos, sendo reas de interesse
a estrutura da organizao, a comunica-
o, a diversidade entre os empregados, o clima, a cultura
organizacional e as tomadas de deciso de grupo.
Finalmente, a Ergonomia trata da interao entre o ser humano e a
mquina no ambiente de trabalho, po-
dendo ser inserido nesse contexto o local de trabalho, o design
de equipamentos e programas de segurana.
Algumas reas recentes tm acrescentado caractersticas novas aos
tradicionais tpicos
da Psicologia Industrial/Organizacional, entre essas reas Krumm
(2005, p.5) destaca o es-
tudo da adequao fsica e da sade dos empregados, o equilbrio
entre a vida familiar e o
trabalho e os investimentos em aes e ttulos.
A reviso histrica do campo da Psicologia Organizacional permite
identificar seus
principais tpicos de estudo na atualidade:
1 Questes legais e sociais tais como decises judiciais, padres
de segurana e emprego justo
2Recrutamento e reteno de empregados, juntamente com o estudo
das necessidades futuras dos recursos humanos
-
captulo 2 37
3 Anlises das necessidades de treinamento e avaliao dos
programas de treinamento
4 Cultura organizacional
5 Forma fsica, sade e estresse
6 Efeitos de novas tecnologias sobre o local de trabalho e sobre
os empregados
7 Necessidades futuras e desafios enfrentados pelas
organizaes
8 Internacionalizao
9 Crescente diversidade do local de trabalho (KRUMM, 2005)
Spector (2010) destaca como exemplos de aplicaes prticas dos
conhecimentos da
Psicologia Organizacional as seguintes atividades:
EXEMPLO
Analisar a natureza de uma atividade (anlise de tarefa),
conduzir uma anlise para determinar a soluo de
um problema organizacional; fazer/realizar uma pesquisa sobre
sentimentos e opinies dos funcionrios,
projetar sistemas para avaliao do desempenho dos funcionrios,
projetar sistemas de seleo de funcio-
nrios/programas de treinamento, desenvolver testes psicolgicos,
avaliar a eficcia de uma atividade ou
prtica, como um programa de treinamento, programar mudanas
organizacionais como, por exemplo, um
novo sistema de bonificao e gratificao para os funcionrios que
tm bom desempenho.
No Brasil, Zanelli e Bastos (2004) adotam a terminologia
Psicologia Organizacional e
do Trabalho e a definem como a rea do conhecimento que busca:
compreender o com-
portamento das pessoas que trabalham, tanto em seus
determinantes e suas consequn-
cias, como nas possibilidades da construo produtiva das aes de
trabalho, com preser-
vao mxima da natureza, da qualidade de vida e do bem-estar
humano (p.483). Zanelli
e Bastos (2004) apresentam um esquema de articulao dos fenmenos
que integram a
Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) com base nas
ideias de Drenth, Thierr e
Wolff (1998). Segundo o esquema mencionado, o comportamento
humano no trabalho, ou
o fazer humano analisado sob a perspectiva da Psicologia do
Trabalho, da Psicologia
Organizacional e da Gesto de Pessoas. De acordo com o referido
esquema de articulao
-
38 captulo 2
em torno da POT, a Psicologia do Trabalho tem como interesse as
interaes entre o com-
portamento humano e o trabalho, especialmente no que se refere
ao: mercado de trabalho;
anlise do trabalho (cargos); desempenho; fatores que afetam o
desempenho e sade no
trabalho. A Psicologia Organizacional tem como interesse central
a compreenso e o trato
com os processos psicossociais que contribuem para que as
organizaes atinjam suas me-
tas e objetivos com a coordenao de seus integrantes. Como
terceiro subcampo de POT, a
Gesto de Pessoas se ocupa da relao entre a ao humana e a
organizao como um todo,
englobando o conjunto de polticas e prticas relacionadas
estratgia utilizada para orga-
nizar a ao individual e coletiva de forma congruente com os seus
objetivos.
No campo da Administrao, a rea de Recursos Humanos possui
estreita ligao com
a Psicologia Organizacional, sendo responsvel por absorver
grande parte dos psiclogos
que atuam nas organizaes, especialmente nas reas de seleo e
recrutamento em fun-
o da utilizao de testes psicolgicos e conduo de entrevistas e
dinmicas de grupo.
Snell e Bohlander (2009) destacam como desafios competitivos
para a rea de recursos hu-
manos a globalizao, a tecnologia, a gesto de mudanas, o capital
humano, a prontido
de reao ao mercado e a conteno de custos.
No Brasil, Idalberto Chiavenato, autor de vrias obras na rea de
gesto de pessoas, tem
tratado a Gesto de Pessoas como uma funo que colabora para que
os integrantes de
determinada organizao alcancem os objetivos organizacionais.
Chiavenato (2000, p. 14-
15) considera que a moderna Gesto de Pessoas integrada por seis
processos dinmicos
e interativos:
1 Agregar Pessoas, processo que envolve as atividades de incluso
de pessoas nas organizaes tais como seleo e recrutamento
2
3
4
5
6
Aplicar Pessoas, processo que envolve atividades orientando a
atuao das pessoas nas organizaes tais como o desenho de cargos e
avaliao de desempenho
Recompensar Pessoas, processo que env