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LIVRO DE RESUMOS Goiânia, 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2015.
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LIVRO DE RESUMOS - SIGRH

Feb 22, 2023

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Khang Minh
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Page 1: LIVRO DE RESUMOS - SIGRH

LIVRO DE RESUMOS

Goiânia, 27 de Setembro a 02 de Outubro de 2015.

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Conteúdo Simpósios Temáticos ......................................................................................................................................................... 3

ST: "Sedimentos Culturais" Depositados nas Margens do Madeira: A Arqueologia no Sudoeste Amazônico ............ 3

ST: A arqueologia e as fronteiras do capitalismo .......................................................................................................... 6

ST: Arqueologia para quem? Refletindo sobre a relação arqueologia, museus e sociedade ..................................... 12

ST: Arqueologia das Práticas Rituais ........................................................................................................................... 15

ST: Arqueologia dentro e fora d’água: discussão sobre questões culturais em ambientes aquáticos ....................... 22

ST: Arqueologia dos contextos da diáspora africana no Brasil ................................................................................... 27

ST: Arqueologia e Comunidades Negras: desafios contemporâneos a partir do passado ......................................... 31

ST: Arqueologia e Educação: como chegamos às escolas? ......................................................................................... 34

ST: Arqueologia Histórica e Meio Ambiente ............................................................................................................... 37

ST: Bioarqueologia ...................................................................................................................................................... 40

ST: Contribuições de abordagens tecnológicas para a pré-história da América do Sul: perspectivas teóricas e

estudos de caso ........................................................................................................................................................... 45

ST: Dinâmicas das paisagens na Amazônia Pré-Colombiana: abordagens interdisciplinares .................................... 49

ST: Estudos de Cultura Material na Amazônia: questões espaciais e simbólicas ....................................................... 54

ST: Geoarqueologia ..................................................................................................................................................... 57

ST: Muitos patrimônios, muitas práticas: desafios em torno do patrimônio arqueológico na Amazônia ................. 64

ST: Paisagem, lugar e materialidade ........................................................................................................................... 66

ST: Plantas, Paisagens e Culturas no passado: a contribuição da Arqueobotânica .................................................... 72

ST: Povoamento e diversidade técnica [UISPP - Comissão América] ......................................................................... 76

ST: Povoamento inicial da América visto a partir do contexto Arqueológico Brasileiro ............................................ 81

ST: Práticas Arqueológicas Colaborativas: Desafios e Perspectivas ........................................................................... 85

ST: Teorias feministas e gênero na arqueologia brasileira - por que não? ................................................................. 91

Comunicação Avulsa ....................................................................................................................................................... 94

Eixo Temático Arqueologia Contemporânea .............................................................................................................. 94

Eixo Temático Arqueologia de Contrato ..................................................................................................................... 95

Eixo Temático Arqueologia Histórica .......................................................................................................................... 97

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica .................................................................................................................. 101

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Amazônia ............................................................................................... 111

Eixo Temático Arqueologia Pré-Histórica - Arte rupestre ......................................................................................... 115

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Sambaquis ............................................................................................. 118

Eixo Temático Arqueologia Pública ........................................................................................................................... 119

Eixo Temático Educação Patrimonial ........................................................................................................................ 122

Eixo Temático Etnoarqueologia ................................................................................................................................ 122

Eixo Temático Geoarqueologia ................................................................................................................................. 124

Eixo Temático Musealização da Arqueologia ........................................................................................................... 125

Eixo Temático Teoria e Método ................................................................................................................................ 126

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Apresentação de Pôster ................................................................................................................................................ 129

Eixo Temático Arqueologia Clássica e do Mundo Antigo .......................................................................................... 129

Eixo Temático Arqueologia Contemporânea ............................................................................................................ 130

Eixo Temático Arqueologia de Contrato ................................................................................................................... 131

Eixo Temático Arqueologia e Antropologia Biológica ............................................................................................... 133

Eixo Temático Arqueologia Histórica ........................................................................................................................ 135

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica .................................................................................................................. 145

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Amazônia ............................................................................................... 153

Eixo Temático Arqueologia Pré-Histórica - Arte rupestre ......................................................................................... 159

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Sambaquis ............................................................................................. 163

Eixo Temático Arqueologia Pública ........................................................................................................................... 166

Eixo Temático Arqueologia Subaquática .................................................................................................................. 169

Eixo Temático Educação Patrimonial ........................................................................................................................ 171

Eixo Temático Etnoarqueologia ................................................................................................................................ 174

Eixo Temático Geoarqueologia ................................................................................................................................. 175

Eixo Temático Musealização da Arqueologia ........................................................................................................... 178

Eixo Temático Teoria e Método ................................................................................................................................ 180

Exibições Audiovisuais .................................................................................................................................................. 182

Lançamento e Venda de Livros ..................................................................................................................................... 185

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Simpósios Temáticos

ST: "Sedimentos Culturais" Depositados nas Margens do Madeira: A Arqueologia no Sudoeste Amazônico

Coordenador: Fernando Ozorio de Almeida (Departamento de Arqueologia - UFS)

Proposta: O sudoeste Amazônico é considerado uma área de grande diversidade lingüística e

cultural, com grupos indígenas de matriz cultural Tupi, Macro Jê, Arawak, Pano e outras línguas isoladas. O passado dessa região provavelmente guarda o centro de origem e dispersão dos povos Tupi, bem como um integrando de sistemas multi-étnicos com esferas de interações e redes de comércio e comunicação, envolvendo os povos de matriz cultural Arawak. As pesquisas arqueológicas evidenciam a longa seqüência histórica e cultural da ocupação indígena na região, desde o final do Pleistoceno e durante todo o Holoceno, praticamente sem hiatos. A complexidade no registro arqueológico dos últimos cinco mil anos é identificada na construção de estruturas de terra em valas, cabais e montículos, sambaquis fluviais, manejo e domesticação de plantas, formação de terras pretas antigas, aumento no número e tamanho dos sítios, com grande variabilidade nos sistemas de assentamento, e na tecnologia lítica e cerâmica. Esse simpósio tem como propósito discutir os dados e as interpretações do registro arqueológico obtidos nos últimos anos pelos pesquisadores no sudoeste Amazônico, bem como as propostas teóricas e metodológicas adotadas no sentido de compreender contextos etnogênicos, sistemas multiétnicos, fronteiras culturais, lugares persistentes, estabilidade nos sistemas de assentamento, permanências e mudanças tecnológicas, e sobre a relação entre arqueologia, lingüística histórica e etnografia, na construção da história indígena da região na longa duração.

Apresentações:

Antigos caçadores-coletores no Alto Rio Madeira: eles existiram?

Guilherme Zdonek Mongeló (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

A presença de sítios a céu aberto com camadas profundas de ocupações pré-ceramistas na calha do Rio Madeira, e primordialmente na adjacência de grandes cachoeiras, foi uma assertiva levantada por Eurico Miller, ainda nos anos 1970.. São contextos pouco comuns no registro arqueológico Amazônico, tratam-se sítios multicomponenciais, com estatigrafias complexas que revelam tanto ocupações pré-ceramistas em latossolo estéril como ocupações pré-ceramistas em solo antrópico, além dos conjuntos cerâmicos presentes nas camadas superiores. Miller definiu dois diferentes tipos de ocupações pré-ceramistas no Alto Rio Madeira: uma mais antiga, denominada Complexo Girau, datada do Holoceno Inicial, que se caracteriza por contextos rasos e pouco representativos de indústrias lascadas em quartzo e sílex, presentes no latossolo amarelado. O outro, datado do Holoceno Médio, representa um contexto de alta antropização do meio ambiente, com o aparecimento da Terra Preta (um tipo de solo antopizado comum em contextos arqueológicos na Amazônia), e a manutenção do instrumental basicamente sob a plataforma de rochas, eventualmente com polidos. Depois de Miller, nenhum outro arqueólogo debruçou-se sobre estes contextos. Na dissertação de mestrado “O Formativo e os Modos de Produção: ocupações pré-ceramistas no Alto Rio Madeira –

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RO”,foi possível retornar a esses contextos do Holoceno Médio e Inicial evidenciados no sítio Teotônio e obter uma série de dados que contribuem, de certa forma, para o melhor entendimento da ocupação humana no sudoeste amazônico. Diante dos contextos evidenciados e dos dados das indústrias líticas presentes em solo antropizado, procuraremos estabelecer um debate mais amplo sobre as formas de organização das antigas populações da calha do Alto Madeira, estratégias de obtenção de recursos e outros elementos que as caracterizariam como grupos “caçadores-coletores”.

Arquebotânica e Zooarqueologia no Alto Madeira: primeiros estudos e perspectivas

Myrtle Pearl Shock (Universidade Federal do Oeste de Para), Jennifer Watling (Universidade de São Paulo)

Estudos arqueobotânicos e zooarqueológicos na região Amazônia são ainda escassos e bastante preliminares. Neste simpósio apresentaremos resultados preliminares e objetivos de pesquisa de projetos em andamento na região do sudoeste Amazônico. No sítio Teotônio, um sítio de terra preta ocupado desde o Holoceno Medio na região do Alta Rio Madeira (RO), análises de restos macrobotânicos (carvões) e microbotânicas (fitólitos e grãos de amído) estão em curso e procuram entender mudanças no uso de recursos ao longo do tempo, tipos e escalas de transformações da paisagem e, por fim, a relação entre mudanças climáticas e formas de ocupação da terra firme. No sítio Teotônio a presença de grande pacotes de solos antropizados, contendo material lítico e concentrações de carvões, vem nos colocando questões acerca da relação entre produção cerâmica e agrícola. Paralelamente, a retomada das escavações no sambaqui de Monte Castelo (RO) se mostra como uma grande oportunidade para o avanço dos estudos baseados em vestígios orgânicos, em primeiro lugar pela preservação excepcional dos restos e em segundo lugar, pela notável sequência de ocupações que abarcam os últimos 8.000 anos. Observações preliminares da fauna de Monte Castelo indicam que a diversidade de espécies de peixes variou consideravelmente ao longo do tempo, no entanto, a enguia de água doce (muçum, gênero Synbranchus) parece ser um animal chave na sequência estratigráfica deste sítio. O conjunto das pesquisas em andamento nos levam a reflexões sobre as formas de manejo faunístico e florístico no sudoeste Amazônico e ganham mais embasamento quando refletimos acerca dos dados a serem publicados para sítios localizados nas regiões de Llano de Mojos, leste do Acre e Rio Guaporé (Itenez).

Sambaquis, Geoglifos e a Cerâmica Arqueológica do Extremo Sudoeste Amazônico: uma perspectiva de longa duração sobre a construção da paisagem no Pantanal do Rio Guaporé, Rondônia.

Thiago Berlanga Trindade (MAE / USP), Francisco Antonio Pugliese Junior (MAE/USP)

Nesta comunicação, serão apresentados alguns dos resultados das pesquisas arqueológicas desenvolvidas pelo Projeto Médio Guaporé – PMG entre os anos de 2014 e 2015. Nesse contexto, pretendemos discutir duas questões principais: 1. A escavação dos sítios e a análise dos conjuntos cerâmicos classificados originalmente como fases Bacabal e Corumbiara/Pimenteiras têm indicado que a área de ocorrência dessas cerâmicas deve ser ampliada para além dos arredores do sambaqui Monte Castelo. Elementos decorativos típicos desses conjuntos cerâmicos são encontrados em uma ampla região, que inclui a bacia do rio Branco e as planícies pantaneiras, mas também se estende por áreas distantes daquelas onde haviam sido primeiramente na região do médio rio Guaporé. 2. A presença de sítios com valas e leiras construídas, geralmente semicirculares ou em arco, onde a ocorrência de vestígios cerâmicos associados à fase Corumbiara/Pimenteiras tem sido registrada. Na bacia do médio rio Guaporé encontram-se sítios com estruturas em terra de grandes dimensões, em comparação aos demais sítios desse tipo encontrados no sudoeste da bacia amazônica. As

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estruturas são extensas e ultrapassam 500 m de diâmetro em alguns casos, mas com valas de porte reduzido (em geral chegam no máximo a 10 m de largura e cerca de 1 m de profundidade), assumindo formas tanto abertas quanto fechadas, irregulares, mas sempre razoavelmente precisas. Os resultados têm apontado que os sítios do médio Guaporé e dos Llanos de Mojos orientais têm em comum não só elementos decorativos impressos nas cerâmicas, mas também características como a profundidade da TPI e a presença de certos tipos de estruturas construídas em terra que podem ser a chave para a identificação de padrões de assentamento assemelhados.

Uma história de longa-duração no Sítio Teotônio (Porto Velho/RO): a variabilidade das ocupações ceramistas

Thiago Kater Pinto (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP), Fernando Ozorio de Almeida (Departamento de Arqueologia - UFS)

A região do alto rio Madeira, no sudoeste amazônico, tornou-se alvo de interesse de arqueólogos, linguistas e antropólogos, por conta de uma dinâmica particular, que difere de grande parte das terras baixas do continente. Apontada por especialistas como: (a) o provável centro de domesticação da mandioca (Manihot esculenta) e da pupunha (Bactris gasipaes); (b) centro de origem e dispersão dos povos de língua Tupi, (c) marcada por uma sequência de ocupação humana bastante longa, quase sem hiatos, iniciada há cerca de 7000 AP, com ocupações ceramistas ao redor de 2500 AP, assim como por (d) uma alta diversidade cultural e linguística, na qual interagiam grupos de matrizes linguísticas diversas, em um intricado sistema de trocas e comunicação. A maneira pela qual se configuram essas condições perpassam processos históricos, políticos e culturais. A Arqueologia possui, portanto, um papel fundamental na compreensão desses processos. O Sítio Teotônio, localizado no município de Porto Velho/RO, na margem direita do rio Madeira, pode ser encarado como um microcosmo do sudoeste amazônico. Com indícios consistentes de ter sido ocupado quase continuamente nos últimos seis mil e quinhentos anos, nota-se uma grande variabilidade de vestígios arqueológicos: líticos, paleobotânicos e cerâmicos. Parte-se da perspectiva de que o sítio é um lugar significativo e persistente, o que lhe confere um papel central no entendimento da história dessa região na longa-duração. A partir disso, o objetivo é apresentar os resultados das análises cerâmicas da unidade N10041E995, escavada em junho de 2013. Com os diferentes conjuntos cerâmicos identificados pelas análises realizadas, que complexificou o cenário proposto para o sítio e para a região, pretende-se caracterizar cada um deles e esboçar prováveis intrusões nos conjuntos tipológicos definidos. Através dessas definições, são possíveis reflexões sobre perguntas chaves como redes de troca, variabilidade e diversidade cultural.

Variabilidade nas tecnologias cerâmicas mais antigas no Alto rio Madeira (RO)

Silvana Zuse (Fundação Universidade Federal de Rondônia)

Este trabalho pretende discutir as ocupações ceramistas mais antigas no alto rio Madeira, relacionadas aos contextos Pocó/Açutura/Saladóide e Barrancóide/Borda Incisa/Inciso Modelada. Os sítios arqueológicos abordados localizam-se em terraços e planícies de inundação do rio Madeira, entre a cachoeira de Santo Antônio e a foz do rio Jaciparaná, no município de Porto Velho, Rondônia. A partir da comparação dos atributos que caracterizam o processo de confecção dos artefatos cerâmicos e dos contextos arqueológicos evidenciados, pretende-se problematizar a seqüência cultural das ocupações ceramistas na região, situadas entre aproximadamente 2.700 e 900 anos antes do presente. Identificamos uma grande variabilidade nos sítios pesquisados, em relação à frequência dos materiais, às características das camadas arqueológicas e nas escolhas

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tecnológicas na confecção dos artefatos cerâmicos, decorrente da complexa história indígena de longa duração na região, incluindo a presença de elementos que podem ser associados à presença dos povos de matriz cultural Arawak.

ST: A arqueologia e as fronteiras do capitalismo

Coordenadores: Andrés Zarankin (UFMG), Alejandro Haber (UNCa/CONICET)

Debatedor: Alfredo Ruibal Proposta: O capitalismo, como modo de produção econômico-social-civilizatório, se caracteriza por sua tendência expansiva. As fronteiras são as áreas geográficas, sociais e epistêmicas sobre as quais ele se expande, e a arqueologia geralmente é visitante ou participante direta das mesmas. É nos territórios de fronteira que as resistências e as construções hegemônicas são particularmente ativas, e é ali que travam lutas epistêmicas de forma mais visível. As transformações da paisagem em grande escala e as mais sutis intervenções exploratórias que as precedem são, em quantidade e variedade crescente, tema de interesse arqueológico como projeto de conhecimento. Ao mesmo tempo, a arqueologia intervém, também de maneira crescente, na ativação e reconversão do conhecimento em produção de novos bens mercantis, assim como o licenciamento de áreas de fronteira para a intervenção do capital e/ou a criação de infraestrutura para a expansão do capital de fronteira. “Arqueologia do capitalismo” e “Arqueologia para o capitalismo” (embora normalmente nomeada “Arqueologia para o desenvolvimento”) costumam ser analisadas separadamente no âmbito da disciplina arqueológica. Com isso, a capacidade de reflexão sobre a relação entre a arqueologia nos contextos de fronteira, por um lado, e os conteúdos de seu discurso e as maneiras de sua prática, por outro, torna-se severamente limitada. A partir de propostas teóricas derivadas do debate pós-colonial se abriram novas possibilidades para refletir criticamente o lugar que a disciplina têm como ator que contribue à compreensão e expansão do capitalismo. Assim, neste simpósio interessa-nos discutir, de forma ampla, de que maneiras se tramam na fronteira as relações entre o capitalismo e a arqueologia, seja como empresa de conhecimento ou como participante, direto ou indireto, da intervenção ou, ainda melhor, como ambas as coisas.

Apresentações:

A cobra bonita que tudo engole: as seduções do capitalismo, sociedades indígenas e arqueologia

Jóina Freitas Borges (UFPI - Universidade Federal do Piauí)

Na escola indígena da Tapera, terra indígena de Almofala (CE), Evandro Tremembé me olhou resignado e em desabafo me contou a história da cobra bonita: “uma cobra pequenina, que cresceu no seio de uma aldeia, e porque era bonita, as pessoas a alimentavam e com o passar do tempo, essa cobra cresceu, cresceu, nutrida pelas próprias pessoas, e cresceu de tal forma que engoliu toda a aldeia”. Evandro olhou fundo nos meus olhos e perguntou: “Aonde vamos Jóina? E esse vazio que ficou?”. Essa pequena história me despertou para o meu papel naquele lugar, entre aquelas pessoas. Que “ingênua boa vontade” a minha, acreditar que com a arqueologia eu posso ajudar no enfrentamento de uma cobra tão grande, como a cobra do capitalismo. Como, uma disciplina que nasceu imbricada nas estruturas de poder construídas pela sociedade ocidental, pode fugir do seu papel colonizante? Qual o papel da arqueologia como ciência que se propõe a disciplinar o que as pessoas entendem pelo seu patrimônio e pela sua história, na alimentação do sistema capitalista?

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Mesmo praticando uma arqueologia colaborativa, há como escapar da enorme boca dessa cobra que está engolindo o território tremembé através da agroindústria, do avanço dos posseiros, da pesca indiscriminada, da expansão das usinas eólicas? É necessária uma autorreflexão ainda mais profunda no que tange ao papel da arqueologia junto às comunidades indígenas, devido a região de fronteira e de conflito em que se encontram. Muitos trabalhos questionam a multivocalidade, o agenciamento, a simetria entre os conhecimentos tradicionais e acadêmicos. Mas e o ativismo do arqueólogo? Ainda se ouvem ecos positivistas argumentando sobre a “neutralidade” científica, este ranço oriundo do berço colonialista que não enxerga que não há arqueologia neutra, limita a ação política do pesquisador, que ao escolher uma posição “neutra”, alimenta, ele também, a cobra bonita.

A fronteira interna do capitalismo: o "valor" em arqueologia e seus limites estruturais

Pablo Alonso Gonzalez (University of Cambridge)

Certamente que os conflitos epistemológicos e políticos se apresentam de forma mais evidente em áreas de fronteira geográfica. No entanto, isto pressupõe, em primeiro lugar, a existência de uma "exterioridade" ao capitalismo; e, por outro lado, a associação da arqueologia com o seu modo de expansão colonial "tradicional", vinculado à expansão dos Estados-nação ou corporações mercantis. Em um contexto de desvalorização generalizada do capital global e sua tendência à financeirização, os Estados-nações e suas meta-narrativas nacionalistas de legitimação, parcialmente baseadas nos repositórios simbólicos da arqueologia e do patrimônio, estão a se fragmentar. Portanto, talvez a maior fronteira da arqueologia, e a que aflige todos os países do mundo, é mesmo o limite da própria exploração capitalista. Poderíamos falar de uma fronteira interna que afeta mais fortemente os países de maior desenvolvimento capitalista (o centro), e muito menos as regiões de desenvolvimento capitalista mais tardio (ou periferia). Também ficam afetados em menor medida os países pós-coloniais, onde o Estado-nação ainda está em processo de construção. Esta apresentação entra tangencialmente no debate sobre as fronteiras do capitalismo através da discussão do conceito de valor em arqueologia a partir de uma nova leitura de Marx. Argumenta-se que as leituras do conceito de valor em arqueologia sempre assumiram valores e premissas da economia política clássica (capitalista e burguesa) e, portanto, têm sido incapazes de compreender a valorização do capital na área arqueológica, nem mesmo com a retórica do “patrimônio cultural”. Apesar da complexidade do argumento, serão apresentados alguns exemplos para ilustrar as diferentes concepções de valor e limites internos da valorização em arqueologia.

Arqueologia sem Sentidos: Anestesia Cultural e o Capitalismo.

José Roberto Pellini (Universidade Federal de Sergipe)

A arqueologia comercial emprestou do capitalismo sua filosofia e seu sistema de trabalho, assumindo um caráter fragmentado, serial e industrializado. Assim como o operário diante da linha de produção o arqueólogo comporta-se automaticamente, seu gesto é sempre uma repetição que obedece, tão somente, aos estímulos que a máquina lhe dirige. A máquina aqui é o próprio sistema de mercado que rege as relações dentro da arqueologia comercial aniquilando o tempo e valorizando apenas o capital. Neste processo, o trabalho se torna impenetrável à experiência, a memória dá lugar às respostas condicionadas, o aprendizado é substituído pelo adestramento e a destreza pela repetição. Parafraseando Benjamim: Na linha de montagem, é o arqueólogo que se submete ao ritmo de trabalho que a máquina impõe, e não o contrário. No trabalho automatizado não há acumulo de conteúdos e nem de aprendizado e assim a experiência se distância cada vez mais do pesquisador. A mecanização que as práticas de mercado impõem sobre a arqueologia através das práticas repetitivas e respostas treinadas como as que se observam nas linhas de

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produção fordista cujos indivíduos realizam ações sem vivencia-las entorpecem o corpo, adormecem o organismo, insensibilizam os sentidos e reprimem a memória causando uma total anestesia. Tal processo segundo Buck-Morss, gera uma divisão tripartida da experiência em agencia, objeto e observador, que resulta em uma auto-alienação, um falso reconhecimento que permite as massas observar o mundo e viver sem dor. Esse processo de anestesia torna por fim o arqueólogo suscetível à manipulação política ao prejudicar sua capacidade de determinar as diretrizes e agendas da pesquisa. As experiências sensoriais opressivas, violentas e repetitivas operam como uma espécie de narcótico sensorial que impedem uma experiência crítica e consciente do dia a dia. Precisamos despertar de nosso estado de anestesia e alienação.

Arqueologia vai à feira: lugar e paisagem da resistência no centro histórico de Ouro Preto, Minas Gerais

Vinícius Melquiades dos Santos (MAE USP)

Meu primeiro contato com a “Feirinha de pedra-sabão” foi em 2012 durante minha pesquisa de mestrado. Na ocasião constatei que a história de vida desse coletivo (feira-livre) esteve relacionada às das panelas de pedra-sabão desde o surgimento das comunidades de artesãos na região de Ouro Preto e Mariana no século XVIII. Ainda durante as atividades do mestrado busquei informações sobre a feira, mas a única referência era um texto que dizia que “atualmente, a Feirinha de pedra-sabão se constitui numa ocupação irregular da década de 1980”. Não convencido disso, devido à divergência dos discursos e à ausência de informações sobre a feira, eu já havia definido que, caso a pesquisa se estendesse para o doutorado eu faria também um estudo para construir as relações feira-vasilhas de pedra-sabão através da materialidade, espacialidade e dos discursos e histórias dos feirantes, artesãos ou não. Com esse intuito, e dentro das perspectivas da arqueologia Simétrica, com as quais me identifiquei já na pesquisa de mestrado, retornei à feira em 2014, sendo essa a experiência que pretendo relatar nesta apresentação. As contribuições de tal relato estão numa reflexão sobre como estudos com perspectivas simétricas podem contribuir para os debates sobre paisagem, espaço e lugar, tal como vem sendo colocados pelas Arqueologias contemporâneas. Além disso, denuncia um colonialismo sútil e cotidiano, vivo e visto através da mobilidade híbrida da feira e dos seres humanos e não humanos que a compõem. Por fim, trata-se de um exercício que aborda, a partir das relações com a paisagem, os modos de vida e existência ocidental moderna que não podem abarcar um todo homogêneo. Conforme pretendo demonstrar, pessoas e coletivos que vivem no “ocidente moderno” podem não compartilhar do “pensamento ocidental moderno” ou da “cosmologia moderna”, ou mesmo se relacionam com essa “constituição moderna” de diferentes maneiras e com diferentes intensidades.

Arqueologia, Capitalismo e Política no Estado de Mato Grosso, 1995-2013

Luciano Pereira da Silva (Universidade do Estado de Mato Grosso)

O Diagnóstico das pesquisas arqueológicas licenciadas em Mato Grosso– DIPAMAT traça o perfil da Arqueologia no Estado. Cruzou-se tais licenças (DOU) com a “Localização de Centrais de Geração e Linhas de Transmissão de Energia Elétrica de Mato Grosso, 2011” do Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Gás de Mato Grosso. Observou-se, em especial, no ano de 2010 foram emitidos 1280 requerimentos minerários (site oficial Estado de MT) contra sete pesquisas arqueológicas em 15 anos. Constata-se: 1) outros diversos passivos arqueológicos do setor privado e público; 2) expatriação de bens arqueológicos; 3) educação patrimonial carente de parâmetros; 4) datações devem ser solicitadas; 5) demanda por difusão dos resultados; 6) o Estado de MT não forma arqueólogos e a sociedade não compartilha desse ofício e

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trabalho; 7) a relação entre concentração de licenças por arqueólogo e qualidade de resultados. O DIPAMAT tornou-se notícia de fato no MPF-Cuiabá e auto-administrativo (passivos arqueológicos/fev. 2014). Em dez. 2015 a Recomendação do MPF autua a SEMA e o IBAMA e comunica a 4ª Câmara de Revisão e Coordenação do MPF Brasília. Em 29/04/2015 na 3ª Reunião da SAB-CO apresentou-se a “Carta - Patrimônio Cultural para Todas as Pessoas: em defesa da diversidade étnica, sustentabilidade e inclusão social no Estado de Mato Grosso”. Manifestou-se Moção de Apoio a Carta sob dois aspectos: criar um programa de gestão pública do patrimônio arqueológico e aprimorar a fiscalização. No momento, faz-se: 1) gestão política e científica; 2) atualização do DIPAMAT; 3) Educação Patrimonial pautada na mobilização e sensibilização geral, capacitação de professores e pilotos de inclusão social; 4) planejamento para serviços ecossistêmicos; 5) indicadores. Questiona-se o papel do Poder Público, SAB, arqueólogos e o futuro da Arqueologia nesse Estado.

Espaços para o capital? “Questões” arqueológicas e sociais – impressões

Fabrícia de Oliveira Santos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE), Rosângela Dantas Barros (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

As discussões sobre “questões sociais” figuram em vários projetos e debates nas ciências humanas que estudam o patrimônio cultural brasileiro. Todavia, apesar das exigências das legislações vigentes, costumam aparecer entre brumas e/ou desvencilhadas da totalidade de relações que as engendram. Diluir a névoa, desvelar as contradições desse processo/discurso – preservação do patrimônio versus “questões sociais” - implica em situar que o social não é um fato isolado, a-histórico, natural, assim como as referências culturais também não o são. A partir dessa compreensão delineia-se como proposta de pesquisa, sob o arcabouço do materialismo histórico e dialético, um exame de referências culturais em localidades rurais (e urbanas), situadas nos ‘sertões’ do Centro Norte do Piauí e do Noroeste e do Agreste de Sergipe, que assinala para questões em comum, mas, também, desvela singularidades sobre a formação territorial desses locais. A seleção do recorte espacial decorre de reconhecimento de áreas para pesquisas acadêmicas, arqueológicas e geográficas, com atividades realizadas, e em curso, entre 2010 a 2015. A proposta foi/é inserida em projetos de iniciação científica, monografias, e atividades em grupo de pesquisa, e tem desvelado que há, nas referências patrimoniais levantadas e/ou inventariadas, assim como nos discursos sobre as “questões sociais”, a influência do sistema sociometabólico do capitalismo no Brasil, sobremodo, a partir da segunda metade do século XIX, que fomenta dilemas contemporâneos, como o acirramento de fronteiras entre problemas sociais e a preservação do patrimônio cultural, a homogeneização de valores, com fins de esvaziar o sentido que o patrimônio local pode trazer às comunidades, e deixá-las “abertas” à produção de espaços para o capital. A consciência crítica das comunidades sobre esse processo pode contribuir para minimizar os seus efeitos nocivos.

Louças trigal, fascismo e construção da identidade italiana no sul do Brasil

Luís Cláudio Pereira Symanski (UFMG - FAFICH), Rafael de Abreu e Souza (NEPAM/UNICAMP)

Pesquisas arqueológicas realizadas na região nordeste do Rio Grande do Sul na década de 1990, em uma área de colonização predominantemente italiana, revelaram um grande número de pequenas unidades domésticas rurais referentes às primeiras décadas do século XX. Esses sítios apresentaram um conteúdo material caracterizado por louças de produção nacional, dentre as quais se destacaram, em todos os casos, aquelas decoradas nas bordas com representações de espigas de trigo em relevo, denominadas como Padrão Trigal ou Ceres. Pesquisas mais recentes, realizadas na Fábrica de Louças Santa Catharina (sítio Petybon), revelaram ser este o principal núcleo de

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produção dessas louças, permitindo realizar a conexão entre o núcleo produtor e uma área de consumo final. Um aspecto comum, extremamente significativo, ligava esses dois espaços: a identidade italiana do proprietário da fábrica, Francesco Matarazzo - assim como de seus mestres louceiros e de uma grande parcela do operariado da mesma – e dos consumidores da louça no nordeste do Rio Grande do Sul. Neste trabalho pretendemos discutir os modos como essas louças atuaram na construção de uma identidade italiana nesta última região, ao remeterem, metonímica e metaforicamente, a valores caros aos imigrantes das regiões que vieram a compor o Estado-Nação italiano, destacando-se o trabalho no campo, a família e a religiosidade católica. Discutiremos ainda como tais valores foram adotados e veiculados pelo regime fascista italiano, visando a construção de uma identidade nacional trans-atlântica, que ligava os imigrantes, como italianos no exterior, à pátria-mãe, fazendo daqueles portadores da civilização do novo império romano projetado por Mussolini.

Perspectivas de análises pós-coloniais no licenciamento ambiental: empreendimentos de mineração de ferro em Minas Gerais

Luana Carla Martins Campos (UFMG)

Esta comunicação pretende abordar a atuação de profissionais das ciências humanas e sociais em trabalhos de licenciamento ambiental frente à crescente demanda do mercado. Para tanto, o entendimento do enunciado e do enunciador, do lugar de onde se fala e de quem se fala, bem como os procedimentos de criação de vocábulos e categorias específicas, referem-se à configuração de estratégias e discursos nem sempre reconhecíveis nos documentos técnicos produzidos. No bojo desta prática contemporânea, faz-se necessário discutir algumas questões que envolvem o patrimônio cultural, com foco nos bens arqueológicos, e a sua relação com a legislação em vigor que, em grande medida, está filiada ao Direito Ambiental. Tal análise fundamenta a discussão sobre o processo de patrimonialização experienciado pela sociedade contemporânea, no qual ocorrem disputas de forças sociais de diferentes interesses e perspectivas, especialmente no tocante à análise dos estudos de viabilidade ambiental de grandes empreendimentos filiados à mineração de ferro no estado de Minas Gerais.

Por Trás das “Casas Velhas”: reflexões acerca da Arqueologia praticada em cidades históricas.

Karina Lima de Miranda Pinto (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

O trabalho é uma reflexão acerca dos discursos produzidos sobre as cidades históricas do Nordeste que possuem uma grande diversidade de sítios históricos e que são tratados de forma homogênea no que se refere a projetos de gestão do patrimônio arqueológico. Nesse padrão, observamos a lógica de mercado que utiliza o patrimônio cultural para mediar relações econômicas, onde as comunidades locais (no ideário de projetos sociais) poderiam dispor desse aporte para geração de renda. Dentro dessa perspectiva, o discurso é criado de forma verticalizada, onde o Estado oferece os meios de sustentabilidade a partir de modelos pré-estabelecidos sem levar em consideração as comunidades que vivem no entorno desses espaços. A proposta é refletir, através do aporte teórico da Arqueologia Pós-Colonial (Gosden 2007; Liebmann 2008, Patterson, 2008) e Pública (Haber 2011; Gnecco 2010; Funari, Carvalho 2009), como a disciplina está influenciando, se a favor ou contra a perpetuação desse modelo de gestão do patrimônio. Nessa perspectiva, alguns questionamentos surgem: como os profissionais estão manipulando a materialidade revestida da nomenclatura de patrimônio cultural nos sítios urbanos? Será que as construções da “memória local” levam em conta a ancestralidade dos grupos divergentes do discurso oficial? Será que o modelo aplicado está sendo funcional para essas populações? Essas, por sua vez, realmente participam ativamente da construção da memória, ou esse modelo vem sendo implantado através de projetos unificados, de

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forma que falam de inclusão, mas de uma inclusão que não leva em conta particularidades dos grupos?

Tire sua cultura do caminho que eu quero passar! – Legislação para quem?

Luis Vinicius Sanches Alvarenga (IPT/UTAD Portugal)

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as atuais diretrizes para o patrimônio arqueológico e as relações de impactos de grandes empreendimentos e dos processos de expansão urbana sobre as comunidades locais e seu respectivo modo de vida. Essa discussão tem como pano de fundo o modo produção capitalista e nas suas relações com os diplomas legais correlatos ao patrimônio cultural, que atualmente, espelhados em normas internacionais impõe uma classificação de bens culturais como mais ou menos importantes segundo um ponto de vista unilateral e amparados em registros oficiais de setores dominantes. A necessidade de legalização de obras de grande porte impõe a pesquisadores e a comunidade seja ela “tradicional” ou não padrões para documentar seu modo de vida sem se preocupar com os desdobramentos da obra que o afetará. Assim temos uma constituição protecionista de um lado e de outro uma legislação que propõe a amputação de sítios arqueológicos ao invés de estuda-los. De certa forma há uma imposição velada de um “modo de vida capitalista” em frente a outros.

“Estas panelas são feias e toscas. Ninguém quer comprar...”: Conhecimento tradicional, Colonialismos e Arqueologia

Daniella Magri Amaral (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP)

Nesta apresentação pretendemos discutir em que medida os preceitos capitalistas colonialistas estão presentes na sociabilidade das populações sertanejas do agreste central pernambucano e nas relações que estas estabelecem entre si e sua cultura material. Nos debruçaremos, mais especificamente, sobre produção dos utensílios cerâmicos, conhecidos localmente como loiça de barro e na relação destes com as artesãs que os produzem, as loiceiras, e com os demais segmentos da sociedade local. Argumentaremos que tais populações passam por um processo histórico de marginalização e de desvalorização social, econômica e cultural que podem ser associados aos modelos de colonialismo adotados desde o início da colonização do Nordeste brasileiro e que engendraram visões cristalizadas e, na maioria das vezes, preconceituosas sobre estas populações e suas formas de vida tradicionais, associando-as negativamente à miséria, pobreza, rusticidade e sujeira. Neste sentido, a permanência e a ampliação destas visões têm contribuído para gerar algumas alterações no uso destes objetos e, por conseguinte, no conhecimento tradicional envolvido no saber-fazer loiça de barro, que paulatinamente estão relegando ao esquecimento tanto este conhecimento, quanto os objetos e as formas de vida características do agreste associadas a eles. Finalmente, refletiremos sobre o papel dos arqueólogos na reprodução destes conceitos e preconceitos ao identificar sítios na região e classificar/valorar a cultura material presente nestes locais.

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ST: Arqueologia para quem? Refletindo sobre a relação arqueologia, museus e sociedade

Coordenadoras: Alejandra Saladino (UNIRIO e Museu da República), Camila Azevedo de Moraes Wichers (Universidade Federal de Goiás)

Proposta: Desde 2008, membros da Rede de Museus e Acervos Arqueológicos (REMAAE) procuram reunir, presencial e virtualmente, agentes envolvidos com os desafios da preservação e da valorização do patrimônio arqueológico brasileiro onde a troca da experiências e a reflexão sobre as demandas e os impasses da atualidade têm como fito a proposição de linhas de ação voltadas à preservação daquela categoria de bem. Se por um lado a agenda desenvolvimentista promoveu a prática da arqueologia, ampliando as possibilidades de conhecer e produzir conhecimento acerca dos sítios arqueológicos impactados pelos empreendimentos, por outro tornou ainda mais dramática a gestão das coleções arqueológicas por parte das instituições fiéis depositárias, forçando a urgente reformulação das políticas públicas para dar conta do problema. Se por um lado, a realização de projetos de revitalização e adequação de espaços urbanos a demandas específicas e a realização de grande projetos de infra-estrutura posibilitaram a visibilidade de algumas referências patrimoniais e a sua fruição, por outro promoveu a gentrificação e colocou em risco os direitos à memória, à terra e à própria vida de alguns grupos sociais . E, ainda, se por um lado as políticas de patrimônio procuram garantir a socialização do patrimônio arqueológico por meio de recursos como a musealização, a educação patrimonial e o turismo cultural, por outro podemos questionar as diretrizes, metodologias e resultados alcançados em boa parte dos projetos desenvolvidos. Assim sendo, este simpósio tem como objetivo abrir um novo espaço de apresentação e discussão sobre o impactos, positivos e negativos, das ações de preservação e socialização do patrimônio arqueológico sobre a sociedade.

Apresentações:

Arqueologia da Diáspora e Processos de Musealização: reflexões acerca da representação de situações traumáticas

Luciana Bozzo Alves (Universidade de São Paulo)

Os artefatos associados ao período da escravidão negra são frequentes em instituições museológicas. Nos discursos expositivos, ainda é recorrente a apresentação desses artefatos de forma a reiterar situações traumáticas, sem a “compreensão dos limites que temos em reproduzir o passado, quando as experiências vivenciadas trazem dor, humilhação e sofrimento” (SANTOS, 2008:175). Nesses contextos, são frequentes as imagens de navios negreiros, por exemplo. Por outro lado, novas propostas têm sido efetuadas no âmbito da musealização dos objetos da diáspora, destacando a exaltação da contribuição que os africanos escravizados trouxeram para o Brasil. No Museu Afro-Brasil, por exemplo, percebemos a condução de narrativas que visam associar a inclusão dos africanos na sociedade brasileira, por meio de seus saberes. Ao analisar essa instituição, no que concerne ao núcleo Trabalho e Escravidão, Matos (2013) evidencia que esse espaço tem “o objetivo de ressaltar os saberes e tecnologias trazidas pelos africanos escravizados no campo do trabalho” (MATOS, 2013: 87). Ao desenvolver uma pesquisa acerca da diáspora africana no litoral norte paulista e, especificamente, do tráfico ilegal de africanos, tenho no navio negreiro um objeto de análise por excelência (ALVES, 2015). Dialogando com premissas da Arqueologia Pública e da Musealização da Arqueologia, objetivo também refletir sobre a forma como esses artefatos e narrativas tem sido apresentados nos museus. Marcelo Cunha (2008) adverte que essa representação das histórias e culturas africanas tem sido permeada de silêncios e

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omissões, nesse sentido, a Arqueologia da Diáspora poderia fomentar narrativas que permeiem de maneira produtiva a presença negra no Brasil? Sabemos que os acervos são campos de disputas simbólicas que expressam disputas políticas (BARBOSA, 2008), nesse sentido, defendo que a pesquisa arqueológica e a musealização da Arqueologia devem estar integradas, contribuindo para a construção de discursos mais plurais.

Curso de Educação Patrimonial para Arqueólogos: Repensando Práticas e Criando Novos Caminhos

Cristiane Eugênia Amarante (Universidade Federal de Sergipe)

O curso de Educação Patrimonial, oferecido em 2015, pela Contextos Arqueologia, empresa de consultoria científica em arqueologia,visava apresentar um histórico da educação patrimonial voltada para a arqueologia no Brasil,por meio da discussão de suas práticas. Os encontros foram divididos em três temáticas: metodologias da educação patrimonial, educação patrimonial nos museus de arqueologia e educação patrimonial na arqueologia de contrato. Os inscritos eram todos arqueólogos graduados ou pós-graduados, e o público possibilitou a análise de questões sobre a interface entre educação e arqueologia para além do esperado. As discussões geraram novas reflexões sobre a gestão do patrimônio arqueológico no Brasil e a necessidade de conhecimentos de educação por parte dos arqueólogos. Durante os módulos, foram abordadas as metodologias de educação patrimonial e suas aplicações nos museus de arqueologia e na arqueologia de contrato e, por fim, houve a elaboração coletiva de um plano estratégico. Tal experiência possibilitou uma reflexão sobre semelhantes em espaços diversos. Assim, o objetivo de novas propostas deve ser de criar um público de especialistas preocupados com as questões educacionais na arqueologia, uma vez que a Educação Patrimonial ligada a trabalhos arqueológicos vai muito além das exigências de legislação. Na perspectiva da arqueologia pública, aquela é parte intrínseca ao processo de pesquisa e, nesse sentido, a educação tem a função de oferecer ferramentas para que as pessoas avaliem as evidências arqueológicas e tirem suas próprias conclusões. Essa é a essência da elaboração construtiva da interpretação do patrimônio.

Entre coisas, lugares e narrativas: reflexões sobre a relação entre Arqueologia, Etnografia e Museologia a partir de alguns discursos expositivos

Camila Azevedo de Moraes Wichers (Universidade Federal de Goiás)

Nesse trabalho proponho o entrelaçamento entre os campos da Arqueologia, Etnografia e Museologia, visando à análise e à construção de discursos expositivos a partir de uma perspectiva descolonizante. Essa preocupação, ao inserir-se em diálogo aberto com os estudos pós-coloniais (BHABHA 1994; SAID 1978/2007; SPIVAK, 1988; HALL 2011), assume determinados eixos teóricos e horizontes políticos no âmbito dos três campos escolhidos. No âmbito da Arqueologia, destaco as perspectivas pós-processuais, as quais enfatizam a diversidade de olhares acerca do passado e o caráter ativo da cultura material, colocando o indivíduo como ator social cujo contexto dará o significado ao registro arqueológico (SHANKS & TILLEY, 1987/1992). A inserção da Etnografia, por sua vez, se dá a partir da Arqueologia Etnográfica (CASTAÑEDA, 2008), onde a Arqueologia é o sujeito da Etnografia, sendo abordada em seu contexto sociológico, sua agência e seus processos de engajamento com o mundo (BEZERRA, 2011). Por seu turno, a Museologia Social se caracteriza pelos compromissos sociais que assume e com os quais se vincula, comprometendo-se com a redução das injustiças e desigualdades sociais, com o combate aos preconceitos e com a utilização do poder da memória (CHAGAS & GOUVEIA, 2015: 17). Destaco três projetos onde a integração entre arqueologias pós-processuais e a construção de exposições resultaram em acervos e narrativas cujos contornos expressam uma pluralidade significativa de reapropriações e

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ressignificações do patrimônio arqueológico, analisadas aqui a partir da Etnografia Arqueológica. Nesse sentido, as exposições itinerantes “Expresso Educação”, “Mãos no Barro da Cidade” e “Alto Sertão da Bahia: território dinâmico e de diversidade cultural”, ao englobarem objetos arqueológicos, recursos tecnológicos (como objetos 3D e Realidade Aumentada) e narrativas comunitárias, teceram discursos multivocais acerca da cultura material trazida à tona a partir da pesquisa arqueológica.

Entre narrativas: os significados e apropriações sobre o patrimônio arqueológico - município de Carangola, Minas Gerais

Louise Prado Alfonso (UFPEL), Thaíse Sá Freire Rocha (Universidade Federal de Pelotas)

No presente trabalho objetivamos verificar os significados atribuídos e as apropriações do patrimônio arqueológico efetuadas pelas comunidades do município de Carangola, impactadas direta ou indiretamente pelas pesquisas arqueológicas realizadas na região ao longo das últimas décadas. O município de Carangola emergiu como um cenário adequado para a pormenorização das análises, devido a profusão de pesquisas arqueológicas, que redimensionaram as interpretações sobre a presença indígena na região. O intuito é perceber as conexões e ressignificações estabelecidas entre patrimônio arqueológico, memória social e identidade cultural, levando em consideração as narrativas desenvolvidas, bem como o contexto das relações firmadas entre pesquisadores e comunidade. Ao mesmo tempo problematizar e analisar as formas nas quais o patrimônio arqueológico foi empregado na construção de discursos sobre o passado, levando em consideração as vicissitudes do contexto político que envolve a Arqueologia regional e as interpretações do passado que foram socialmente construídas. Com esse exercício, será possível problematizar e refletir a respeito das estratégias conduzidas no tocante a interpretação e destinação dos dados levantados com as pesquisas arqueológicas, de modo a testar e problematizar a hipótese de existência de um cenário de conflitos e tensões. Para isso, seguiremos a abordagem da Arqueologia Pública que procura compreender a correlação entre comunidade e patrimônio arqueológico, oferecendo os subsídios para refletir e discutir as estratégias que são conduzidas no tocante as interpretações e destinação dos dados levantados com as pesquisas arqueológicas. Desse modo, teremos elementos para refletir sobre algumas possibilidades de gestão do patrimônio arqueológico, tendo em vista as especificidades dos contextos sociais, políticos e históricos onde estão inseridos.

Histórias esquecidas da arqueologia brasileira: o arquivo pessoal de Valentin Calderón no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA

Mara Lucia Carrett de Vasconcelos (Universidade Federal da Bahia), Tainã Moura Alcântara de Oliveira (MAE/UFBA)

No ano de 2013, o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia recebeu o arquivo pessoal do pesquisador através de uma doação de sua viúva, Lídia Calderón. São correspondências, fotografias, medalhas, recortes de jornais, notas e outros documentos, através dos quais pode ser contado muito da história das artes e das ciências humanas e sociais aplicadas, e em especial da Arqueologia, da Bahia e do Brasil entre as décadas de 1950 e 1980. Em função do recebimento deste espólio, o MAE/UFBA desenvolveu o projeto Herança, memória e esquecimento: por uma musealização do espólio intelectual do arqueólogo Valentin Calderón, que objetiva realizar o processamento museológico dos objetos, ou seja, as ações de pesquisa, documentação, conservação e comunicação deste acervo. O nome do projeto surge a partir da inferência de que existe uma dicotomia em relação ao lugar de Calderón enquanto pesquisador – se na memória ou no esquecimento de seus pares e instituições. Por este motivo, o MAE/UFBA busca contribuir para uma melhor compreensão sobre quem foi Valentin Calderón e quais a extensão de sua obra, se

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configurando o projeto, portanto, como uma oportunidade concreta de ampliar os conhecimentos a respeito deste arqueólogo e de seu trabalho. A revisão e organização dos dados das pesquisas arqueológicas de Calderón possibilitarão a compreensão, divulgação e o acesso destes dados pelo público especializado, e permitirão também o aprofundamento das informações a respeito dos objetos arqueológicos que estão em exposição no MAE/UFBA. Contextualizar e traçar mecanismos de compreensão da pesquisa de Valentin Calderón é também um caminho para compreender o desenvolvimento da pesquisa arqueológica na Bahia e dos acervos museológicos originados destas, para, a partir destes dados, dar passos mais sólidos no avanço desse tipo de conhecimento no estado.

“Reserva Técnica Viva”: Extroversão do Patrimônio Arqueológico no Laboratório de Arqueologia Peter Hilbert.

Daiane Pereira (Universidade Federal de Sergipe)

A limitação dos processos de extroversão das informações e dos bens arqueológicos é uma realidade corrente. Isso mantém as coleções maciçamente armazenadas, enquanto uma pequena parcela participa de exposições e ações educativas. Tendo como objeto de estudo a reserva técnica e as coleções do Laboratório de Arqueologia Peter Hilbert, vinculada ao Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), a comunicação proposta apresenta os resultados da pesquisa realizada em nível de mestrado que analisou os mecanismos conceituais e práticos que contribuem para a potencialização da reserva técnica do Laboratório de Arqueologia Peter Hilbert em espaço “vivo” de extroversão das informações e do patrimônio arqueológico. Ao problematizar as possibilidades e os desafios atuais da gestão das coleções arqueológicas em reservas técnicas, a pesquisa aborda os aspectos da cadeia operatória da museologia e da cadeia produtiva da arqueologia, utilizando como arcabouço teórico a relação interdisciplinar entre a arqueologia e a museologia, relativa ao processo de musealização do patrimônio arqueológico. A musealização do patrimônio arqueológico oferece à pesquisa o conjunto de ações e reflexões necessárias para alcançar a preservação dos bens arqueológicos, perfazendo a salvaguarda (conservação e documentação) e a comunicação (exposição e ações educativas- culturais).

ST: Arqueologia das Práticas Rituais

Coordenadoras: Cristiana Nunes Galvao de Barros Barreto (Museu de Arqueologia e Etnologia USP), Daniela Magalhães Klökler (Universidade Federal de Sergipe)

Proposta: Nas sociedades ameríndias, e de tradição oral em geral, a maneira mais comum de reatualizar a identidade cultural e bases cosmológicas compartilhadas pelo grupo é através de práticas rituais. Rituais podem tomar forma em diferentes tipos e sequências de atividades: coletivas ou individuais, em cerimônias variadas, festins, reclusões, tabus alimentares, etc., envolvendo uma miríade de recursos sensoriais materiais e imateriais. Quase sempre estes envolvem coisas materiais, objetos, comidas, imagens e uso estruturado do espaço; elementos passíveis de serem estudados pela arqueologia. No entanto, o que encontramos no exercício da interpretação arqueológica, são categorias tais quais “cerimonial” ou “ritual” que tendem a se tornar repletas de ambiguidade. No Brasil, com exceção dos estudos sobre práticas funerárias, sobretudo em sambaquis, pouco se tem avançado no entendimento de comportamentos rituais, desde a fabricação e uso de objetos e imagens, práticas de preparação e consumo de bebidas e comidas e usos de substâncias alucinógenas, até a estruturação de espaços para as performances rituais. Este simpósio tem por objetivo explorar as diferentes maneiras de reconstruirmos estas práticas rituais para melhor entendermos as identidades e cosmologias das sociedades que

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estudamos. O simpósio busca assim a contribuição e o diálogo entre pesquisadores que trabalham com arqueologia das práticas funerárias; arqueologia da religião, práticas xamanísticas; fabricação, usos e descarte de objetos e imagens rituais; subjetificação ritual de objetos, incluindo agência e “tecnologias de encantamento”, ou ainda estudos mais conceituais sobre rituais e performance em geral.

Apresentações:

A materialidade de Deus. Rituais: Impressionando os sentidos e criando memórias.

José Roberto Pellini (Universidade Federal de Sergipe)

O cheiro adocicado do incenso, a luz trêmula das velas, o ranger dos bancos de madeira, o movimento ritmado, quase coreografado das pessoas, a coloração intensa dos mosaicos, o som vibrante do órgão, o ritmo marcado e enérgico do coro, a frieza angustiante do mármore, tudo impressionava meus sentidos. O tempo se diluía. As cortinas de veludo vermelho marcavam a separação entre o mundo externo mundano e o mundo interno sagrado. Aromas, luzes, sons, texturas, movimentos se uniam criando uma paisagem corporal e sensorial unificada. Maravilhado sentia meu corpo sendo invadido pelo ritmo do ritual. Se o deus católico existe, ele estava ali, sua presença era material e se manifestava a cada shock que meu corpo sentia. Mesmo não sendo católico, experimentava uma sensação de coletividade que me tornava por instantes, parte daquela comunidade. Neste dia ficou claro para mim que assim como todas as vivencias do dia a dia envolvem e dependem dos sentidos, a experimentação do sagrado não era diferente. Encontros sensoriais com o mundo criam memórias e substanciam histórias coletivas e individuais complexas. A maneira como a materialidade do mundo nos impressiona através dos sensos determina a força e a qualidade dos processos de lembrar e esquecer. Ritual neste contexto opera dentro de uma relação corporal onde a estimulação ou o controle sensorial criam e sedimentam memórias, desde que situações nas quais os sensos são estimulados de maneira não usual, não cotidiana acabam por gerar processos mnemônicos mais intensos, permitindo a criação e reprodução de discursos e narrativas específicas. Essa é a força que está por detrás de eventos cerimoniais como holocaustos, rituais funerários e celebrações. Nos eventos rituais católicos como os que presenciei em Notre Dame de Paris, as diferentes entidades materiais fazem parte de um drama teatral onde o estímulo sensorial é um aspectos chave dentro do processo de interação e criação de memória.

A roça Asurini e o fogo bonito de Ai

Caroline Fernandes Caromano (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

Após a ignição de alguns pequenos focos de fogo na vegetação seca e derrubada, um conjunto de palavras em Asurini é entoado em voz alta de forma quase musical. Trata-se do chamado de Ai. O que antes era vegetação se transforma em um conjunto de chamas de barulho ensurdecedor, seguido por rajadas de vento circulares que levantam as cinzas e carvões em um redemoinho negro. “Ai está respondendo, vindo varrer para fazer o fogo bom”. Chamar Ai é um ato comum na queima da roça para que o fogo seja bom, bonito e grande. A queima é uma prática comum nos sistemas tradicionais de agricultura de pequena escala de corte-e-queima, como o dos Asurini. O fogo reduz o trabalho intensivo, tal como a limpeza de vegetação, capinagem, remoção de resíduos após a colheita e remoção de troncos e galhos que permanecem nas clareiras logo que elas são abertas, tratando-se deliberadamente de uma ferramenta de construção da paisagem. As queimadas controladas para a preparação das roças incluem o controle de fatores diversos, como o grau de secagem das madeiras derrubadas, o regime das chuvas, a temperatura, a direção e velocidade dos ventos e também a relação com o sobrenatural. Assim, pretendo demonstrar nesta apresentação

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como o fogo, peça essencial do processo de plantio em coivara, toma dimensões simbólicas na roça Asurini que servem para ilustrar as múltiplas facetas deste agente de transformação do meio.

Arte Rupestre e possíveis práticas rituais nas carvernas de Rurópolis, Pará

Edithe da Silva Pereira (MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI - SETOR DE ARQUEOLOGIA), Roberto Vizeu Pinheiro (UFPA), Anne Rapp Py-Daniel (Universidade Federal do Oeste do Pará), Clóvis Wagner Maurity (UFPa), Trinidad Martínez i Rubio (Arquivolta Patrimonio i Societat), Hannah Fernandes Nascimento (Museu Paraense Emílio Goeldi), Carlos Augusto Palheta Barbosa (Universidade Federal do Piauí), Vinicius Eduardo Honorato de Oliveira (Institute of Archaeology da University College London)

Pinturas e gravuras rupestres na Amazônia brasileira estão presentes principalmente em locais a céu aberto. São poucos os registros sobre a presença de arte rupestre em zonas de penumbra e praticamente ausente a presença de arte rupestre em zonas afóticas no interior de cavernas. Rurópolis, município situado no sudoeste do estado do Pará, parece ser uma exceção, visto que abriga uma grande quantidade de cavernas em arenito, no interior das quais há pinturas e gravuras pré-históricas em zonas afóticas. O estudo de dois sítios arqueológicos nessa região - a Caverna das Mãos e a Caverna do 110 – revelou em um deles ausência de vestígios materiais nas escavações associado a painéis muito diversos (tanto pela temática quanto pela técnica) e, no outro, a presença de arte rupestre em zona afótica no interior profundo da caverna. Tais contextos suscitam questões sobre possíveis práticas rituais relacionadas à execução dos grafismos rupestres.

Deposições, estruturas funerárias e práticas rituais no Amapá

João Darcy de Moura Saldanha (IEPA), Mariana Petry Cabral (IEPA)

Práticas rituais e modificações na paisagem tem sido pontos centrais nos estudos da ocupação pre-historica da Amazônia. O debate tem se focado em como, por um lado, a intensificação de rituais e alterações na paisagem estão relacionados com mudanças como diferenciação de status sócio-políticos, crescimento populacional, territorialidade e ideologia. O Amapá foi local de florescimento de uma série de culturas pré-colonais, caracterizadas por estilos cerâmicos específicos e com uma diversidade de formas de construção e uso de estruturas que poderão serem caracterizadas como cerimoniais. Algumas delas são monumentais e impressionantes como megalitos, poços e cavernas; algumas são mais humildes, com pequenas fossas contendo urnas ou fragmentos cerâmicos. Entretanto ambas apresentam claramente um desejo de intervir na paisagem, ativando locais através de deposições específicas. Apresentaremos uma síntese das práticas relacionadas com estas estruturas, explorando as formas e conteúdos das deposições, e encarando-as como resíduos materiais de uma sequencia de ação ritual que tem por finalidade estabelecer ligações com alguns locais específicos. Desta forma, elas são deposições estruturadas, comunicando significados através de sua forma, conteúdos e qualidades simbólicas.

Festejar para memorializar: festins em sambaquis

Daniela Magalhães Klökler (Universidade Federal de Sergipe)

Pesquisas sobre as práticas rituais dos povos sambaquieiros demonstraram avanços nos últimos 15 anos, desenvolvimento também sentido em estudos sobre concheiros em outros países. Mudanças nas perspectivas teóricas impactaram sobremaneira o entendimento das relações entre comunidades pescadoras-coletoras e o mundo animal. Atualmente não é mais possível considerar os depósitos faunísticos em sambaquis como resultantes de acumulações aleatórias de refugo, mas sim correspondentes a deposições episódicas coordenadas e concomitantes à atividades rituais funerárias. Análises de estruturas funerárias intra-sítio sugerem papel importante de espécies de

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peixe estuarinas em festins funerários e seus elementos como portadores de força mágica. Neste trabalho apresentarei resultados de pesquisas em sítios de Santa Catarina e Rio de Janeiro onde análises zooarqueológicas foram empregadas para gerar subsídios para estudos sobre comportamento ritual.

No compasso do caos: protagonistas do hurin nos contextos rituais da costa norte andina

Marcia Arcuri (Universidade Federal de Ouro Preto)

Estudos recentes da cultura material arqueológica da costa norte andina vêm demonstrando a importância que era conferida aos seres do hurin nas práticas rituais vinculadas ao sacrifício e nos ritos funerários das sociedades que ocuparam a região nos períodos Formativo, Intermediário e Tardio. A maioria das cosmologias andinas até hoje conhecidas identificam o hurin, ou “mundo abaixo”, com os âmbitos noturno, das águas, do oceano, feminino e da morte. As dinâmicas provocadas pelos seres do hurin são mais recorrentes no registro arqueológico das práticas rituais da costa norte andina, se comparadas às evidencias em relação às práticas rituais que evocam seres do hanan, ainda que seja inegável e necessária (nessas cosmologias), a interface permanente entre os dois mundos. Tal protagonismo parece evidente não apenas pela predominância do hurin no registro arqueológico, mas pela ênfase dada à sua capacidade reprodutiva, de ativação da passagem pelos espaços/tempos de disjunção. Os entes do hurin são aqui entendidos como atuantes nas zonas fronteiriças, conduzindo as “tensões” e engendrando ciclos, caminhos e lugares que se originam pelos princípios ontológicos de alteridade e reciprocidade. São sujeitos de uma agentividade cujo principio estrutural fundamenta-se em orquestrar a fluidez, a assimetria e a descontinuidade. Nesta comunicação apresentaremos uma análise do protagonismo de animais de hábito noturno e aquático na cerâmica ritual da costa norte andina, com ênfase nas figuras e cenas vinculadas às práticas de sacrifício. Também será discutida a presença desses seres em contextos funerários. O objetivo é estimular o debate sobre a necessidade de adequação das categorias de análise usualmente adotadas pelos estudos andeanistas para interpretar a iconografia e a variabilidade estilística do material arqueológico em questão.

O fogo, a vida e a morte: Cremação como prática funerária nas terras altas do sul do Brasil

Priscilla Ferreira Ulguim (Teesside University)

Evidências arqueológicas provenientes de aterros anelares localizados nas terras altas do sul do Brasil apontam o desenvolvimento de rituais funerários centrados na prática da cremação a partir de c. AD 1000 até o período de contato. Os aterros anelares são estruturas construídas em terra, localizadas em topos de morros com ampla visibilidade em paisagens altamente estruturadas, apresentando anéis circulares ou elípticos com montículos centrais. Contextos arqueológicos no interior desses montículos frequentemente exibem remanescentes cremados, vestígios de pira funerária, acompanhamentos e evidências de feasting, em plazas. Tais evidências vem sendo associadas ao aumento da complexidade entre as populações Jê do Sul. Este trabalho visa explorar essas evidências analisando a cremação enquanto um espetáculo, um processo central transformador com aspectos sociais, tecnológicos e rituais resultantes da agência humana. Para tal, informações etnográficas, bioarqueológicas e etnohistóricas serão empregadas para interpretarmos a importância da identidade e da cosmogonia nesses sítios. Análises bioarqueológicas apontam a cremação eficiente de um ou múltiplos indivíduos em box-pyres de Araucaria angustifolia. Remanescentes humanos parecem ter sido coletados da pira para serem enterrados em outros espaços, sendo a construção de montículos presente sobre ambos os locais.

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Depósitos secundários cremados circundados por sedimento podem estar representado materiais orgânicos, cestos. Tal como nos aterros, evidências de relatos etnohistóricos sugerem uma dualidade na cosmogonia similar a apresentada pela parcialidade étnica dos Kaingang. Portanto lugares, objetos e rituais parecem ter sido permeados de significados. Reforçando assim, relações sociais e de identidade através da celebração dos ancestrais, de rituais e feasting. Socialmente tais eventos requerem tempo, esforço, recursos e conhecimentos específicos, os quais podem ter sido utilizados para reafirmar a coesão social.

OBJETOS DE PODER: desempenho social das tangas cerâmicas marajoara

Emerson Nobre da Silva (Universidade Cruzeiro do Sul)

Na última década, sobretudo a partir dos desdobramentos dos escritos de Alfred Gell, a arqueologia tem se preocupado com o papel dos objetos e imagens enquanto veículos de negociação e poder e por isto pensa-se o que e como eles podem mobilizar socialmente. Nisto, estudos mostram que objetos e imagens têm poder sobre as pessoas e têm sido considerados personagens integrantes de rituais, capazes de reatualizar mitos, crenças e valores ideológicos. As tangas de cerâmica da fase marajoara são encontradas, muitas vezes, em contextos funerários. Entretanto, exames dos orifícios usados para prender estes objetos ao corpo mostram que elas apresentam desgastes que apontam para o fato de que não eram feitas exclusivamente para uso funerário. Uma análise da iconografia destas peças evidencia que há um número de maneiras de dividir e estruturar simetricamente os seus campos gráficos e uma tentativa de se reproduzir conjuntos de peças semelhantes. Nisto, há um esforço para diferenciar uma peça da outra pela introdução de certos elementos e motivos que podem alterar a sua simetria. Aqui, se pretende discutir como a construção e reprodução destes objetos-imagens pode estar relacionada ao seu desempenho em rituais.

Os diferentes modos dos ceramistas tupiguarani de tratar e sepultar os seus mortos

Pedro Ignácio Schmitz (INSTITUTO ANCHIETANO DE PESQUISAS), Fabiane Maria Rizzardo (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

Ao longo das últimas décadas, muitos trabalhos arqueológicos sobre a tradição cerâmica Tupiguarani foram publicados. Poucos têm como objeto de estudo os sepultamentos pertencentes a esta tradição cultural. O objetivo de nosso trabalho é reunir e estudar os diferentes modos de sepultar os mortos, abrangendo tanto a área correspondente à subtradição Pintada (associada aos Tupinambá), quanto à subtradição Corrugada (associada aos Guarani). A metodologia do estudo consistiu em uma ampla revisão bibliográfica, possibilitando perceber o padrão de sepultamento presente nas duas subtradições. Na subtradição Pintada identificamos que as estruturas funerárias são formadas por uma urna, uma tampa, uma sobre-tampa e tigelas que reforçam a urna. Já na subtradição Corrugada, existem ocorrências de sepultamentos diretamente no solo (com corpo estendido ou fletido) sempre com cerâmica junto ao crânio, além de sepultamentos dentro de vasilhames. As urnas desta subtradição nem sempre apresentam tampas, porém algumas vezes se nota a presença de vasilhas defendendo a cabeça, tal como acontece em sepultamentos diretos no solo. Acompanhamentos funerários como tembetá, machado polido, cerâmica pequena (copo) são comuns. A partir dos dados registrados podemos inferir que os ceramistas da subtradição Pintada, considerando a quantidade de peças cerâmicas que compõem a estrutura funerária, possuíam uma preocupação maior em proteger o corpo inteiro do indivíduo, enquanto os ceramistas da subtradição Corrugada, considerando as poucas peças cerâmicas que compõem a estrutura funerária e a ocorrência frequente de vasilhame sobre o crânio, se preocupavam mais em proteger a cabeça do indivíduo.A subtradição Corrugada também apresenta o hábito de acompanhar o morto

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com objetos que pertenceram a ele em vida ou com pequenas oferendas. As diferenças entre uma e outra subtradição parecem constituir variações regionais.

Para além de potes e panelas: cerâmica e ritual na Amazônia précolonial

Cristiana Nunes Galvao de Barros Barreto (Museu de Arqueologia e Etnologia USP)

Este trabalho parte de uma perspectiva que busca entender as relações entre objetos e pessoas no passado arqueológico de forma a desvendar aspectos das cosmologias nativas, esperando oferecer parâmetros alternativos para o mapeamento espaço-temporal das diferentes identidades ou culturas arqueológicas com que lidamos no passado pré-colonial da Amazônia. A partir de diferentes observações de contextos arqueológicos e estudos de coleções de objetos cerâmicos específicos, este trabalho explora três tipos de engajamento ritual que os habitantes da Amazônia pré-colonial desenvolveram em relação às cerâmicas. O primeiro é o enterramento intencional de objetos cerâmicos em bolsões que parecem estar relacionados à marcação identitária de lugares. A segunda é a fabricação e uso de objetos cerâmicos antropomorfos, tais quais urnas funerárias e estatuetas para a replicação e criação de seres humanos ou sobrenaturais, ou para a fixação da forma humana em seres transformacionais, sobretudo em contextos funerários. O terceiro é o uso das cerâmicas enquanto suporte para a fabricação de imagens quiméricas, isto é imagens em que a relação entre o tema iconográfico e a percepção visual produz e reproduz ontologias específicas. Propõe-se assim uma leitura dos usos rituais das cerâmicas dentro de uma matriz ameríndia mais ampla na qual objetos são subjetificados, repletos de agência e constituem índices e vetores de reprodução de cosmologias específicas.

Práticas Funerárias na Amazônia

Anne Rapp Py-Daniel (Universidade Federal do Oeste do Pará)

O mundo funerário proporciona contextos particularmente interessantes para explorarmos questões como a importância dos gestos. Como afirma Nilsson-Stutz, desde os primeiros questionamentos feitos por Bourdieu sobre a importância da “prática”, arqueólogos têm trabalhado com esse conceito, pensando na repetição e na padronização dos gestos, que nem sempre estão diretamente relacionados com a padronização de significados ou interpretações simbólicas, mas que estão mais próximos do que poderia ser visto, pela sociedade, como a maneira certa de morrer. Assim, as ações que devem ser realizadas para que o morto, o espírito e a sociedade como um todo se sintam “contemplados” não são fruto de modas passageiras. As diferenças encontradas dentro de uma única sociedade estão ligadas tanto à identidade do morto quanto à maneira como o mesmo era reconhecido dentro do seu ambiente (familiar, profissional, social, etc.) ou o local e a forma como faleceu. Aplicar os conceitos acima, associados à metodologia da arqueologia da morte (proposta por Henri Duday e Claude Masset), aos contextos da arqueologia Amazônica, permitiu que fizéssemos um levantamento dos gestos e práticas, materializados, no passado. Concomitantemente e comparativamente buscamos dentro dos rituais funerários descritos por antropólogos, naturalistas e outros relatos para identificar quais seriam os gestos que poderiam deixar marcas permanentes sobre o(s) corpo(s) após a morte e que seriam passíveis de serem observados por um arqueólogo. Para a realização dessa pesquisa diversos fatores também tiveram que ser considerados, como a filiação linguística, a espacialidade, contatos entre populações diferentes, o impacto da colonização a partir do século XVI. Como resultado temos atualmente um panorama inicial dos gestos e práticas funerárias em diferentes regiões da Amazônia, que constituem um corpo de dados passível de ser comparado às grandes teorias de ocupação dessa vasta localidade.

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Práticas rituais e de descarte entre os Tapajó: discutindo os bolsões do sítio Porto

Anna Barbara Cardoso da Silva (Universidade Federal do Pará), Tallyta Suenny Araujo da Silva (UFMG)

A cidade de Santarém-PA é conhecida arqueologicamente pela imensa riqueza de artefatos arqueológicos encontrados no subsolo. Além do material cerâmico e lítico, é comum encontrar em contextos arqueológicos no Tapajós estruturas conhecidas como bolsões, que são cavidades geralmente em formato de sino invertido contendo solo antropogênico, restos faunísticos e florísticos e fragmentos arqueológicos diversos, normalmente profusamente decorados. Diversos bolsões foram encontrados no sítio Porto de Santarém, incluindo três contíguos. Tendo como hipótese que os materiais encontrados nessas feições são provenientes de práticas rituais, pretendemos nesse trabalho apresentar algumas interpretações iniciais sobre o uso e descarte dos materiais encontrados nessas feições e sua relação com possíveis práticas rituais dos Tapajó.

Sambaquis da costa Sudeste e Sul do Brasil

Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira (MUSEU NACIONAL-DEPTO. DE ANTROPOLOGIA-SETOR DE ARQUEOLOGIA)

Os monumentais sambaquis do sul do Brasil já foram sistematicamente estudados e agora cabe investigar e estabelecer comparações com pequenos sambaquis do litoral Sudeste do país. Tratam-se de sítios arqueológicos decorrentes da acumulação de material faunístico, estratigrafia complexa e inúmeros sepultamentos humanos. Buscou-se estabelecer comparações a partir da investigação da formação de sambaquis e estudo das estruturas funerárias, estratégia adequada para estudar um sistema social que colonizou um amplo território e que esteve ativo durante vários séculos. Os resultados indicam que os sambaquis do entorno da Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, apesar de suas especificidades relacionadas com a dimensão, foram construídos através do mesmo conjunto de atividades que resultaram na construção de sambaquis monumentais em Santa Catarina. A repetição de rituais funerários com fogueiras e oferendas mortuárias são pertinentes às duas regiões e indicam que o cuidado com os corpos era um costume recorrente no litoral brasileiro e estruturador do modo de vida dos sambaquieiros.

Um olhar sobre a indústria lítica de um sítio cemitério

Davi Comenale Garcia (Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/USP))

O presente trabalho apresenta os resultados parciais da pesquisa abordando a indústria lítica do sítio do Mar Virado, localizado na ilha do Mar Virado, Ubatuba, São Paulo. Encontram-se na ilha vestígios de ocupações de grupos pescadores-coletores, que utilizavam a ilha como cemitério. Foram exumados 54 sepultamentos e não há vestígios de habitação, o que permitiu aos estudos anteriores concluir que estes grupos retornavam ao local periodicamente, somente para o enterramento dos mortos e realização de cerimônias funerárias. As datações mostraram que este uso da ilha se deu por cerca de mil anos, entre 3465 ± 31 AP até 2570 ± 70 AP. A indústria lítica do sítio apresenta características típicas dos sambaquis, com escassez de artefatos formais, predominando o uso de lascas e seixos em forma bruta. A análise do material revelou que os artefatos lascados eram produzidos no próprio sítio, a partir de blocos e seixos previamente desbastados. Além disso, observou-se que não somente lâminas de machado e percutores faziam parte dos acompanhamentos funerários, mas também lascas e detritos, o que sugere uma associação entre a própria atividade de lascamento e as práticas funerárias do grupo. Diante disto, pretende-se debater a relação entre a indústria lítica presente no sítio e o contexto funerário em que estava inserida sua manufatura e utilização.

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Vasos Pintados e Rituais Fermentados na História dos Tupi-Guarani

Fernando Ozorio de Almeida (Departamento de Arqueologia - UFS)

O consumo de bebidas fermentadas é geralmente negligenciado pela literatura arqueológica, que trata a questão como tema de interesse secundário (recreativo) na história das populações humanas. Entretanto, a literatura etnográfica das sociedades indígenas das terras baixas sul-americanas indica exatamente o oposto: é o alimento vegetal sólido e não alcoólico que tende a possuir um papel secundário na vida cotidiana e ritualística de diversos coletivos. Os dados arqueológicos aprofundam temporalmente essa relação entre o ser humano e os fermentados. Além disso, os vasos cerâmicos arqueológicos utilizados para o preparo e consumo desses fermentados são fundamentais para a compreensão de processos e eventos históricos que modelaram a dispersão de uma série de grupos pelo continente.

Vasos que encantam: estilo tecnológico, performance e agência na cerâmica Guarita da Amazônia central

Erêndira Oliveira (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

Esta apresentação pretende expor dados de análise de características formais da cerâmica da Fase Guarita, da Tradição Polícroma da Amazônia, a partir de conjuntos provenientes do médio Solimões - AM. Tal análise parte da interlocução entre a abordagem tecnológica e o conceito de agência dentro de performances específicas. A presença de morfologias particulares na fase Guarita, como é o caso dos “vasos com flange mesial” poderia sugerir a existência de objetos vinculados à atividades específicas, compartilhadas entre grupos. Isto porque este vaso apresenta-se de forma padronizada, desde o baixo rio Madeira, passando pelo Solimões até os rios Napo e Ucayali. Tal recorrência, ainda que dentro de uma variabilidade regional, poderia indicar a sobrevivência de um gênero cerâmico relacionado a determinadas atividades. Este tipo morfológico poderia ainda estar relacionado a contextos cerimoniais, assim como alguns objetos particulares descritos etnograficamente, como os vasos para preparo de Masato, entre os Shipibo-Conibo, no Peru, ou o vaso de caapí, entre os Tukano, do alto Rio Negro. Em ambos os casos, os campos iconográficos estão diretamente relacionados à condução das visões provocadas pela infusão alucinógena e a mediação e controle entre os diferentes âmbitos, acessados durante os rituais. Tais objetos poderiam ser descritos dentro de performances rituais e sensoriais, nas quais se prioriza a eficácia estética, ritual e/ou simbólica dos mesmos. Desta forma, propõe-se descrever os vasos com flange da fase Guarita, a partir de uma ótica de performances de encantamento, incluindo assim, as tecnologias de encantamento de Gell dentro das variáveis tecnológicas que influem na performance do objeto, conforme o conceito definido por Schiffer e Skibo, com foco em aspectos do estilo tecnológico e iconográfico e de que forma estes dados poderiam contribuir para um maior entendimento da configuração do estilo Guarita.

ST: Arqueologia dentro e fora d’água: discussão sobre questões culturais em ambientes aquáticos

Coordenadores: Beatriz Brito de Ferreira Bandeira (Museu Nacional, UFRJ), Gilson Rambelli (Universidade Federal de Sergipe)

Proposta: Este simpósio tem o objetivo de unir pesquisadores da arqueologia histórica, pré-histórica e etnoarqueologia, para apresentar e debater temas relacionados à arqueologia de ambientes aquáticos no Brasil. Os estudos podem ter sido, ou estar sendo, realizados em ambientes

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submersos, de interface e emersos. Os sítios podem ser de embarcações naufragadas, cidades portuárias, localidades ribeirinhas, espaços lacustres e afins. A arqueologia de ambientes aquáticos está relacionada ao estudo das conexões do homem com os ambientes úmidos, observando as relações culturais que envolvem uma porção de água próxima. No Brasil, a arqueologia subaquática tem início na década de 1990, com o objetivo de conscientizar acadêmicos sobre a importância da proteção do patrimônio arqueológico submerso. Nos anos 2000, foram desenvolvidas diversas temáticas da arqueologia marítima no litoral sul de São Paulo. Nesse período, houve também a luta para a revisão da legislação brasileira, a fim de seguir as normas da Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2001). Atualmente, algumas universidades vêm desenvolvendo pesquisas com diversas temáticas sobre ambientes aquáticos, e a arqueologia subaquática está se tornando disciplina obrigatória em vários cursos de graduação em Arqueologia. Isso denota que esse ramo da ciência se consolidou e conquistou seu espaço no cenário nacional. Acreditamos que, por meio do diálogo com diferentes especialistas que lidam com culturas pretéritas próximas a cursos d’água, este simpósio pode trazer novos conhecimentos para a arqueologia brasileira. É também uma oportunidade de desmistificar alguns conceitos que ainda persistem, como a ideia da marginalidade da arqueologia subaquática e a de que só alguns poucos que mergulham podem colocá-la em prática. Acima de tudo, as discussões visam inspirar a valorização do patrimônio arqueológico molhado.

Apresentações:

A Canoa monóxila pré-histórica da lagoa de Extremoz, RN, Brasil

Carlos Celestino Rios e Souza (UFPE), Valdeci dos Santos Júnior (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN)

Canoa monóxila é o nome dado às embarcações primitivas ou remanescentes confeccionadas com um único tronco de árvore. Elas são encontradas em quase todos os continentes. Dos anos 1990 em diante quatro canoas monóxilas foram encontradas na Lagoa de Extremoz, RN, Brasil. O Departamento de Arqueologia da UFPE efetuou o levantamento planimétrico e imagético das mesmas e as submeteu a datação pela técnica do C–14. O resultado das análises apontou que uma das canoas é do período Pré-histórico (700 ± 30 BP). O presente trabalho classifica, morfologicamente, essa canoa segundo a tipologia de Arnold, descreve detalhes construtivos navais e suas relações com o ambiente aquático, bem como se reveste de importância como possível referencial cronológico para a mais antiga canoa indígena pré-histórica de águas abrigadas do Brasil

Arqueologia de Ambientes Aquáticos em Sergipe: desafios e possibilidades

Gilson Rambelli (Universidade Federal de Sergipe)

Apresentar o projeto que vem sendo desenvolvido junto ao Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LAAA-UFS), lotado no Campus de Laranjeiras (www.laaa.ufs.br), que visa a formação de novos especialistas (alunos de graduação e de pós-graduação em Arqueologia) nessa área do conhecimento arqueológico. Alicerçado nas prerrogativas do Curso de Bacharelado em Arqueologia do Departamento de Arqueologia e do PROARQ-UFS (Mestrado e Doutorado em Arqueologia) da Universidade Federal de

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Sergipe, também com sede no Campus de Laranjeiras, o projeto entende ser de extrema importância para a sociedade brasileira a inclusão dessa linha de pesquisa no cenário nacional, com a formação de novos especialistas em Arqueologia de Ambientes Aquáticos (Subaquática, Náutica e Marítima), bem como a realização de inventários pormenorizados do patrimônio cultural subaquático existente, por meio de levantamentos arqueológicos sistemáticos, e a promoção de atividades voltadas à conscientização, à educação patrimonial, ao turismo cultural subaquático, por meio da visitação monitorada aos sítios submersos pesquisados. Nesse contexto, o projeto em questão (Bolsa PQ2/CNPq) junto ao Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos da UFS, assume a responsabilidade não só pelas pesquisas desse tipo, mas também, pela inclusão dessa linha de pesquisa inédita na grade curricular do curso de Bacharelado e da Pós-Graduação em Arqueologia, pela realização de cursos de Extensão Universitária e de Difusão Cultural abertos a todos os públicos, e pela difusão desse conhecimento em grande escala. E assim, contribuir para uma mudança na política nacional que ainda não compreende a importância do patrimônio cultural subaquático brasileiro.

Arqueologia Marítima na Baía de Todos os Santos: Um Mar de Possibilidades

Cristiane Eugênia Amarante (Universidade Federal de Sergipe)

Região economicamente ativa desde o período colonial, a Baía de Todos os Santos (BTS) possui ambiente marítimo com diversidade de sítios arqueológicos. Os mais conhecidos, os naufrágios, são estimados em 120 embarcações no total, muitas dasquaistêm fácil acesso e apresentam facilidade para o mergulho, oportunizando a pesquisa arqueológica. Se considerados somente os naufrágios, estes já oferecem muitas possibilidades, visto que cada um pode ser estudado por anos, dependendo da importância, história, carga que transportava, do local onde foi produzido, dentre outrosaspectos, como o mapeamento desse tipo de sítio. Temos ainda os acervos gerados por eles em museus e coleções particulares originadas por ações diversas e que são, portanto, passíveis de observação. Há também a perspectiva de criarmos a musealização in situ de alguns naufrágios que se encontram em porções mais rasas da BTS. Além das opções apresentadas até então, há outras expectativas. Em 2012, foram encontrados vestígios submersos da produção de açúcar na Bahia e, na grande maioria dos estudos sobre os engenhos de cana-de-açúcar, o que existe é a análise do ponto de vista agrário. Existe a oportunidade de identificar a relação dos engenhos de cana-de-açúcar com as porções úmidas,pelo mapeamento de antigas estruturas emersas e submersas, além de análise de artefatos já encontrados. Outras questões e tipos de sítios podem ser levantados nesse espaço geográfico (BTS), o que permite a elaboração de novos temas além dos já expostos. As pesquisas, uma vez que estão em fase inicial, têm a chance de terem em suas etapas estratégias participativas de diagnóstico, estudo e divulgação, contribuindo para o diálogo com as arqueologias pública e colaborativa e com a etnoarqueologia. No Brasil, a arqueologia marítima é muito recente, o que oferece o ensejo de serem criadas novas abordagens teóricas e metodológicas como contribuição para a arqueologia brasileira.

Arqueologia portuária em Sergipe: resultados iniciais e reflexões

Paulo Fernando Bava de Camargo (Departamento de Arqueologia, Universidade Federal de Sergipe)

Nesta apresentação pretendo discorrer sobre alguns dos resultados alcançados até o momento pelo projeto “Arqueologia portuária em Sergipe: inventário e contextualização de estruturas”, desenvolvido desde 2013 dentro do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos, do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe. Na comunicação darei destaque aos vestígios e estruturas identificados ao longo do rio Sergipe, bem como aos naufrágios que foram localizados nos rios Real (BA) e São Francisco (AL), limítrofes ao estado de Sergipe.

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O objetivo principal deste projeto é o de estabelecer as bases para o desenvolvimento de um programa sistemático de Arqueologia portuária no estado de Sergipe, abrangendo a localização, inventário, mapeamento e contextualização de bens portuários, sejam eles estruturas, edificações ou equipamentos, móveis ou imóveis. Em uso ou abandonados. O referido projeto já produziu significativa quantidade de informações sobre as atividades portuárias oitocentistas e novecentistas em Sergipe e estados vizinhos, a despeito de ainda não contar com financiamento e da não realização de trabalhos de campo invasivos (escavação e coleta de material). Exceção à regra foi a pesquisa realizada no sítio arqueológico Ruínas do Teatro, em Laranjeiras, cidade sede do curso de Arqueologia da UFS. Como consequência das ações para atingir o objetivo pretendido se destaca a proposição de metodologias para o estudo das paisagens portuárias sergipanas, as quais poderão contribuir, dentro em breve, com a consolidação da Arqueologia dos portos no Brasil.

Da Tolda à coberta: uma arqueologia náutica documental da vida no mar

Leandro Domingues Duran (Universidade Federal de Sergipe)

A arqueologia náutica remonta mesmo ao século XIX, tendo se especializado em discussões técnicas relacionadas à arte de navegar e ao mapeamento das diferentes tradições de construção naval. Pouco depois, ainda na primeira metade do século XX, a historiografia, principalmente de origem ibérica, se lançou ao debate acerca das condições de vida abordo das embarcações do “Descobrimento/Conquista” europeia da América, proposta que se ampliaria com o desenvolvimento da chamada História Cultural, de inspiração antropológica e muito voltada para os temas do cotidiano. Apesar de tais abordagens terem gerado importantes conhecimentos acerca dos processos históricos relacionados às Grandes Navegações, a questão da correlação entre as práticas náuticas e a sensorialidade à elas relacionadas continua a ser marginalmente tratada. Nesse sentido, a presente comunicação visa contribuir para os esforços de superação de tais barreiras, ao propor alguns insights interpretativos construídos a partir de relatos textuais e representações iconográficas dos elementos arquitetônicos formativos desses “mundos de madeira” (embarcações) e da vida ali constituída e operacionalizada.

NÓS e AMARRAS das Fibras Vegetais do Sambaqui Cubatão I, Etnoarqueologia e Arqueologia Experimental.

Julio Cesar de Sá (Univille), Dione da Rocha Bandeira (MUSEU ARQUEOLÓGICO DE SAMBAQUI DE JOINVILLE E UNIVILLE)

Esta comunicação, relacionada à pesquisa realizada na Especialização em Arqueologia da Univille, apresenta os resultados das análises de artefatos confeccionados com fibras vegetais, conservados encharcados, coletados na base do Sambaqui Cubatão I (3.000 a 2.500 AP), datada em 3000 anos AP, a partir de projeto iniciado em 2006 (BANDEIRA et al 2009). Nesta camada foram coletados trançados, cordas, nós e estrutura de madeiras unidas por fibras vegetais de Philodendron corcovadensis, pertencentes à família Aracea (PEIXE, et al, 2007), conhecido popularmente por cipó imbé. Foram encontrados dez tipos de nós, corda torcida de três fibras e acabamento tipo falcaça na ponta das cordas. A interpretação destes artefatos, empregando metodologias da etnoarqueologia e arqueologia experimental, reforça o entendimento de que os habitantes do Sambaqui Cubatão I, eram pescadores, navegadores, construtores, realizavam trabalhos em equipe, e que existiam, provavelmente, atividades diferentes para homens e mulheres. Vale destacar o pioneirismo desta metodologia de pesquisa sobre fibras vegetais e em especial oriundas de um sambaqui. Parte das informações comprovam hipóteses formuladas por arqueólogos e abre espaço para novas interpretações sobre a comunidade sambaquiana da região da baia da Babitonga.

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Percorrendo entre o Banco S. Antônio e a localização do sítio de naufrágio Galeão Sacramento (1668): estudos preliminares.

Beatriz Brito de Ferreira Bandeira (Museu Nacional, UFRJ)

Antes de realizar uma intervenção subaquática sobre um sitio de naufrágio, deve-se valer de diferentes pesquisas, tanto quanto possível, para adquirir informações precisas sobre a ocorrência do acidente, entre eles, uma caracterização geomorfológica das circunstâncias que levaram a ocorrência do naufrágio. Como parte dessa pesquisa, pretende ser mostrado os resultados do levantamento com o sonar de varredura lateral, e, os resultados de uma vistoria técnica entre o trecho que compreende o Banco de Areia S. Antônio e o sítio Galeão Sacramento (1668), buscando então reconhecer uma área potencial de riscos de naufrágio.

Programa de Pesquisa Arqueológica Subaquática do Canal da Praia Do Francês, Município de Marechal Deodoro – Alagoas

Luis Felipe F.D. Santos (Universidade Federal de Sergipe), Gilson Rambelli (Universidade Federal de Sergipe), Orlando Pedreschi Neto (UFS)

A presente comunicação tem como objetivo apresentar a proposta de um programa de pesquisa arqueológica subaquática do Canal da praia do Francês, localizado no município de Marechal Deodoro, Estado de Alagoas, no qual buscaremos por meio da pesquisa sistemática, a identificação e estudo dos bens de interesse arqueológico e histórico inseridos nesse ambiente submerso. Atualmente o conhecimento científico sobre o patrimônio cultural subaquático da região é inexistente, logo, uma pesquisa que assuma o interesse de mensurar e produzir conhecimento sobre esse patrimônio torna-se uma ação de ampla relevância, por oportunizar a criação de uma relação das comunidades locais para com o seu patrimônio arqueológico. Iniciado no ano de 2015 pelo Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos – LAAA/UFS, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe – PROARQ/UFS, o programa de pesquisa arqueológica no Canal da praia do Francês está sendo desenvolvido seguindo três principais abordagens de atuação: I. A identificação e mapeamento de bens de interesse histórico-arqueológico no Canal; II. A escavação arqueológica subaquática das áreas de maior potencial; III. A execução de atividades de educação patrimonial, divulgação científica e de popularização da ciência arqueológica com as comunidades locais e turistas. Até o presente momento já pudemos identificar, por meio de visita técnica realizada no mês de maio do corrente ano, que a área apresenta grande potencial arqueológico, isso se confirmou na identificação de sítios depositários (resultado da atividade de descarte intencional e acidental de objetos no ambiente aquático) e de um possível sítio de restos de embarcação naufragada. A existência de testemunhos materiais nesse local demonstra uma realidade de séculos de desenvolvimento de atividades marítimas, que agora poderem ser estudadas e compartilhadas com diferentes públicos.

Z 14 Pescando Memórias

Beatriz Brito de Ferreira Bandeira (Museu Nacional, UFRJ), Luana Silva Santos (Universidade Federal de Sergipe), Giuliana Rodrigues Alves Jubilut (Universidade Federal de Sergipe), Jane Viana Almeida de Carvalho (Universidade Federal de Sergipe)

A Cidade de Laranjeiras, interior de Sergipe, está localizada a 18 km de Aracaju. Com uma população de 23 mil habitantes, possui um grande potencial histórico e arqueológico. Situada no coração do Vale do rio Cotinguiba, foi considerada, no ano de 1824, a povoação mais rica da província de Sergipe, destacando-se pelo cultivo da cana-de-açúcar. Em 1832 foi elevada a Vila tornando-se o maior porto explorador da região. Laranjeiras é uma cidade com um verdadeiro espaço de

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memórias coletivas, conservação e comunicação das mais diversas formas de representações e saberes populares. (Nunes, 2007). Na cidade existe uma colônia de pescadores, denominada “Z14”, por ser a décima quarta na região de Sergipe, assim são intituladas todas as colônias em ordem numérica. Essa colônia atingiu seu auge de desenvolvimento na década de 60, com sede própria, porém essa história foi perdida e atualmente vem sendo recuperada pelo líder da colônia, José Carlos dos Santos. A colônia propõe melhorias para os pescadores da região, procurando sempre manter a tradição da pesca artesanal, seja na cultura material ou imaterial. Dessa forma, os objetos refletem a história dos pescadores, mostrando seu universo particular. Eles confeccionam os instrumentos usados na pesca de forma artesanal e prezam por essa arte, fazendo questão de conservar seus hábitos e seu conjunto cultural. Neste sentido, podemos dizer que essa forma de relação entre a cultura oral e manual passada para as gerações seja um instrumento patrimonial que caracteriza a colônia de pescadores com uma arte própria traduzida em seus objetos.

ST: Arqueologia dos contextos da diáspora africana no Brasil

Coordenador: Luís Cláudio Pereira Symanski (UFMG - FAFICH)

Proposta: Os últimos anos assistiram a um significativo aumento no número de pesquisas em contextos relacionados à diáspora africana no Brasil. Se nas décadas de 1980 e 1990 o estudo de contextos de quilombos marcou a emergência da arqueologia da diáspora africana no país, neste começo do século XXI pesquisas em senzalas de engenhos de açúcar, de fazendas de café e de charqueadas, bem como em cemitérios, terreiros, comunidades remanescentes de quilombos e mesmo em um porto de desembarque de africanos, têm levado a um melhor entendimento da vida material, social e simbólica dos africanos e afro-descendentes escravizados. A proposta deste simpósio é reunir pesquisadores que têm se detido sobre tais contextos para traçar um panorama geral das pesquisas recentes e dos principais temas que vêm sendo abordados, incluindo crioulização e processos de reconstrução de identidades, religiosidade e cosmologias, poder, resistência e negociação social, práticas cotidianas e economia. Esperamos, assim, que o foco nesses contextos diversificados nos permita começar a vislumbrar as similaridades e diferenças na vida material, nas práticas e nas representações desses grupos, bem como o papel que as dimensões econômicas, sociais e culturais exerceram sobre as formas diversificadas de vida material que vêm sendo evidenciadas nesses contextos.

Apresentações:

A patrimonialização dos vestígios da diáspora africana: Os bens culturais negros na Baía Babitonga

Fernanda Mara Borba (Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE)

Este trabalho apresenta um estudo no âmbito da História e da Arqueologia sobre a patrimonialização das estruturas e artefatos (re)elaborados por africanos e afrodescendentes presentes em antigas áreas litorâneas de Santa Catarina, com o intuito de discutir os bens culturais da diáspora africana nesses locais. A antiga vila de Nossa Senhora da Graça de São Francisco começou a ser povoada no século 16 e desde seu início apresenta uma diversidade de ocupantes e vestígios que contam suas histórias. Por outro lado, esses espaços apresentam poucas discussões mais expressivas sobre a cultura material ligada à diáspora africana como bens patrimoniais reconhecidos. Esse trabalho pretende apresentar como os vestígios materiais da diáspora africana situados nas atuais cidades de São Francisco do Sul, Joinville, Garuva, Balneário Barra do Sul e

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Araquari, se tornaram patrimônio com o auxílio dos registros escritos, iconográficos e orais. Considerando a pouca discussão dos estudos patrimoniais no campo da cultura material africana e afrodescendente em Santa Catarina, a perspectiva conjunta da Arqueologia e da História possibilita entender as diversas ressignificações contemporâneas presentes nos vestígios da diáspora transformados em patrimônio no Estado e, em especial, no litoral catarinense.

Arqueologia da Diáspora Africana na Amazônia

Diogo Menezes Costa (UFPA)

Estudos sobre a história da presença Africana na Amazônia vêm sendo conduzidos já ao longo do tempo, porém o potencial arqueológico dos sítios históricos na região ainda é pouco explorado. Aqui pretendemos apresentar um breve panorama destas pesquisas, começando com os estudos contemporâneos sobre a escravidão e a diáspora Africana; aspectos internos e externos da presença Africana na Amazônia; e o potencial da temática da escravidão e da diáspora Africana e Afro-Brasileira na Amazônia, através de um estudo de caso no Engenho do Murutucu – Belém/PA.

Estimativas de uso de mão de obra escrava em sítios de sítios de mineração colonial de ouro nas margens do rio das Velhas

Marcio Walter de Moura Castro (autônomo)

Este estudo tem por finalidade apresentar estimativas de uso de mão de obra escrava em sítios de mineração colonial de ouro nas margens do rio das Velhas. Sabemos que praticamente a totalidade da mão de obra envolvida em atividades de mineração de ouro no século XVIII em Minas Gerais era constituída por escravos. A pesquisa inicialmente apresenta método de localização de sítios de mineração com uso do Google Earth desenvolvido pelo autor. Através deste método, com rápida observação de um trecho do médio rio das Velhas foram encontrados 15 sítios de mineração de ouro. Os sítios possuem semelhanças nas modificações da paisagem e nas estruturas que contém, apresentando grandes deslocamentos de terra que recortaram os terraços em busca das camadas de seixos enterrados, nas quais havia ouro. Utilizando um dos sítios como exemplo, foi calculado o volume aproximado de solo retirado em duas cavas de mineração. A partir do volume de solo calculado neste sítio foram estabelecidas taxas de volumetria de solo retirado por hectare, e assim projetadas hipóteses de solo retirado para outros sítios. Assim, foram são desenvolvidos exercícios com estimativas do uso de mão de obra escrava ao longo do tempo. Estas estimativas foram elaboradas através de diversas combinações nas variáveis: volume de solo retirado, número de escravos por sítio, esforço humano/dia e tempo. Esta pesquisa não tem a intenção de chegar a valores definitivos, pois há enorme carência de registros históricos sobre métodos de operação e duração destas minas de ouro na região. O objetivo destas estimativas é, sobretudo, ampliar a compreensão sobre os possíveis cenários da ubíqua presença de escravos nas atividades de mineração no médio rio das Velhas.

Genealogia Quilombola: estudos sobre a formação do registro arqueológico na comunidade remanescente de quilombo do Boqueirão/MT

Patricia Marinho de Carvalho (MAE/USP)

A discussão proposta para a presente comunicação trata dos processos de formação do registro arqueológico, que tenho observado desde 2008, ano no qual iniciei as pesquisas no Quilombo do

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Boqueirão, em Vila Bela/MT. Em janeiro de 2015 retornei à comunidade remanescente para a realização da primeira etapa de campo da pesquisa de doutorado, desdobramento do mestrado e provisoriamente intitulada “A visibilidade do Negro na arqueologia: estudos de paisagem e do registro arqueológico de comunidade quilombola – Vila Bela/MT”. A partir das experiências vivenciadas por mim nesse lugar ao longo desses anos, tendo partido de perspectivas etnoarqueológicas com foco na paisagem, tive e estou tendo a oportunidade de presenciar hábitos (processos e eventos) de transformação do registro e paisagem arqueológica, que envolvem o abandono de antigas áreas e habitações de pau-a-pique e a escolha de novos lugares para a construção de novas casas de alvenaria. Esse processo de deterioração causado por essa dinâmica atinge não só a habitação em si, mas todo o entorno, o quintal e inclusive afeta árvores que têm sido o foco da análise da paisagem por seu interesse simbólico. Nesta comunicação discutiremos questões teórico-metodológicas pertinentes aos estudos dos processos de formação, que têm orientado a elaboração de quadro analítico capaz de contribuir com as interpretações futuras do contexto do sítio arqueológico SArqPB, que escavaremos em campanha programada para 2016. Ainda nesta comunicação traremos para o debate o ponto de vista de membros da comunidade sobre esses processos associados a formação do registro, que para eles são práticas cotidianas de manutenção da vida. Tentamos assim, uma interação prática entre pesquisador e comunidade, neste projeto de doutoramento que também se orienta pelos pressupostos de uma arqueologia colaborativa, com o intuito de dar voz aos membros da comunidade, neste fórum arqueológico-científico.

Maria Mendes: um Sítio Arqueológico e seu Legado

Viviane Martins de Moura Nóbrega (FUNDAÇÃO AROEIRA)

Esta comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos resultados das pesquisas realizadas para a Dissertação “O barro na mão do oleiro: representações e sensibilidade através da cultura material” defendida no Mestrado em História da PUC Goiás (2014). A pesquisa teve como objeto de análise o oleiro que produziu o material cerâmico exumado do Sítio Arqueológico Histórico Maria Mendes, datado como das primeiras décadas do século XIX e identificado como parte do contexto de escravidão da Província de Goiás. Buscando não definir o oleiro apenas como um confeccionista de cerâmica, e sim, como uma ideia de agência criativa, envolvendo sensibilidade e estilo sobre as escolhas realizadas para a confecção e uso da cerâmica naquele local. Mesmo porque os diferentes resultados observados na cerâmica, de espessuras, queimas, formas e outros aspectos tecnomorfológicos nos leva a acreditar em diferentes fontes de fabricação, não necessariamente em outro local, mas em épocas ou por pessoas diferentes, no decorrer da ocupação do sítio Maria Mendes. Neste contexto, e diante da pluralidade de signos que traduzem um inegável predomínio da influência de grupos africanos sobre a coleção do sítio Maria Mendes, discuto as representações observadas a partir de ressignificações agenciadas por um oleiro de origem africana. Nisto, considero que os caminhos tomados, ou impostos, a esse oleiro levaram-no a produzir, como resultado de um convívio anterior, uma cerâmica carregada de signos. Esses signos foram escolhidos por lhe gerar afinidades sentimentais, traduzindo e transmitindo sua visão de mundo.

O Ouro, o Café e as Senzalas: vestígios da Diáspora Africana

Camila Fernandes de Morais (Laboratório de Arqueologia da Fafich/UFMG), Carlos Magno Guimarães (Laboratório de Arqueologia da FAFICH/UFMG)

O trabalho aborda a possibilidade de tratamento de registros e evidências arqueológicas, iconográficas e fotográficas de senzalas dos séculos XVIII e XIX nas regiões do Ouro e do Café,

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respectivamente, com vistas à possibilidade de identificação/constatação de padrões no tocante a diferentes aspectos como arquitetura, vida cotidiana, práticas culturais etc. O modelo tradicionalmente identificado como “pavilhão” é a referência adotada e a partir da qual podem ser estabelecidas conexões com aspectos então presentes no contexto da Diáspora Africana. Também são consideradas algumas perspectivas identificadas por pesquisadores em trabalhos anteriores sobre este universo temático. A definição/utilização do espaço doméstico e as atividades nele desenvolvidas poderiam estar configurando contextos que expressam tanto uma herança ancestral quanto as imposições do sistema escravista.

O uso de utensílios cerâmicos produzidos por africanos em contextos urbanos do século XVIII e XIX na Província de Goiás: preferências ou possibilidades?

Gislaine Valerio de Lima Tedesco (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)

Fragmentos de cerâmica com elementos decorativos que os relacionam a grupos de negros que participaram da diáspora africana, estão presentes em vários contextos arqueológicos dos séculos XVIII e XIX identificados nos núcleos urbanos do Brasil, revelando a importância destes utensílios no cotidiano da população destes espaços. Ao analisar a distribuição espacial destes objetos no núcleo urbano de Vila Boa de Goiás, atual cidade de Goiás, observou-se a presença, nos depósitos arqueológicos escavados, de variados padrões decorativos incisos, indicando que estes foram utilizados por diferentes grupos sociais ali presentes. Assim, a presença das decorações incisas foi consentida em determinadas áreas da residência como o espaço da cozinha, ou a utilização destes utensílios cerâmicos se tornou banal e costumeira a ponto da presença destas decorações terem sido naturalizadas? Assim, buscamos discutir se o uso de utensílios com marcas de grupos africanos pela população livre foi uma escolha consciente já que, para uma mesma forma de recipiente, havia variedade de padrões decorativos como a decoração incisa, pintada e também sem decoração.

Senzala e Paisagem no Engenho Monjope

Scott Joseph Allen (Universidade Federal de Pernambuco)

O sítio arqueológico Monjope foi fundado como fazenda de Jesuítas no final do século 17, obtendo destaque como engenho de açúcar de grande importância em Pernambuco na primeira metade do século 19. A paisagem construída desse engenho foi modificada em pelo menos três ocasiões no decorrer dos seus 415 anos de existência, cada momento trazendo impactos profundas à formação e transformação do regsitro arqueológico. Durante a década passada, o Engenho Monjope foi alvo de investigações arqueológicas buscando compreender as tecnologias de produção bem como tecnologias construtivas e aspectos arquitetônicos da casa grande. Mais recentemente, o sítio foi incorporado nas atividades didáticas do Departamento de Arqueologia da UFPE, servindo como escola campo de métodos e técnicas em Arqueologia Histórica. A realização anual do Projeto Arqueológico Monjope objetiva, além do treinamento de alunos de graduação e pós-graduação, interpretar o cotidiano dos grupos que viviam no engenho, se quer trabalhadores escravizados ou livres, proprietários, gerentes ou outros. Nesse trabalho, serão apresentados os resultados preliminares das últimas campanhas que revelaram evidências de uma parte da senzala desde então apagada da paisagem.

Senzalas em unidades rurais do Sudeste e Oeste do Brasil: práticas, representações e diversidade material

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Luís Cláudio Pereira Symanski (UFMG - FAFICH)

Pesquisas arqueológicas em senzalas de engenhos de açúcar e de fazendas de café do Sudeste e Oeste do Brasil revelaram uma cultura material diversificada, que informa sobre as formas diferenciadas como grupos de cativos africanos e afro-descendentes buscaram agenciar suas vidas frente às restrições do sistema escravagista. Nesta apresentação pretendo discutir as similaridades e diferenças no conteúdo material presente nesses contextos, relacionadas, por um lado, com as formas diversificadas como os cativos utilizaram a cultura material para expressar identidades e valores próprios, e por outro, com as limitações estruturais que caracterizaram cada contexto produtivo.

Um terreiro no miolo da cidade: o Candomblé da Rua do Tijolo, Salvador/BA

Samuel Lira Gordenstein (UFBA)

Esta comunicação apresenta o espaço construído e alguns dos objetos descobertos durante escavações arqueológicas num local usado por um culto afro-brasileiro no centro histórico de Salvador entre o último quartel do século XIX e a década de 1920. A partir de analogias etnográficas com fontes no presente (especialistas religiosos vinculados a cinco terreiros baianos) e no passado (principalmente etnografias baianas), o trabalho de pesquisa permitiu reconhecer que o porão de um sobrado foi palco de um candomblé urbano, um tipo de espaço religioso ainda comum nos dias atuais, mas menos intensamente pesquisado pelos cientistas sociais.

Vivendo em senzalas: arquitetura, espacialidade e experiência no interior das habitações escravas de Goiás durante os séculos 18 e 19

Marcos André Torres de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais)

Os africanos deslocados para o trabalho compulsório no Brasil, bem como seus descendentes, representaram uma parcela muito significativa da sociedade brasileira no passado. Ao se dedicar ao estudo arqueológico desses grupos, os pesquisadores têm a chance de revelar algumas das suas visões de mundo, crenças, experiências e práticas. Tem também a chance de buscar um melhor entendimento das complexidades ligadas à relação estabelecida entre livres e escravos. Tendo esses pontos em mente, pretendo apresentar uma síntese de alguns dos resultados da minha pesquisa sobre as comunidades escravizadas em Goiás durante os séculos 18 e 19. Usando exemplos de diferentes sítios, pretendo me focar no espaço das senzalas, tocando nos seguintes pontos: 1) sua arquitetura e espacialidade, 2) sua vida interior, e 3) a cultura material encontrada nesses espaços e seus possíveis significados.

ST: Arqueologia e Comunidades Negras: desafios contemporâneos a partir do passado

Coordenadora: Louise Prado Alfonso (UFPEL)

Proposta: As mudanças ocorridas na Arqueologia nas últimas décadas tem se configurado importantes para a autocrítica das práticas ainda coloniais ligadas à criação da disciplina. Tornam-se mais constantes os debates sobre a inserção social da Arqueologia e dos arqueólogos e seus múltiplos interesses, tanto no passado, como no presente. O passado e o presente se constroem diariamente e a Arqueologia possui elementos para trazer para o debate questões contemporâneas como: exclusão, escravidão, preconceito e poder. Buscando valorizar a diversidade cultural e social dos territórios, incentivar a inclusão de diferentes

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grupos sociais e favorecer uma reflexão crítica sobre um mundo onde vivem e convivem diferentes vozes. Não apenas a partir da divulgação de suas referências culturais, memórias e narrativas de forma plural, mas também, ao favorecer processos de transformação social. O objetivo do simpósio é de reunir trabalhos que tragam diferentes abordagens sobre a apropriação de elementos patrimoniais do passado do negro e seu uso no presente, evidenciando olhares de diferentes grupos para o passado da escravidão, identificando estratégias de legitimação identitária na contemporaneidade e incentivando reflexões por meio do discurso e da prática arqueológica. É refletir sobre: qual a relação entre a práxis arqueológica e as comunidades negras das regiões pesquisadas? Como as diferentes comunidades que de uma localidade compreendem ou se apropriam do passado da escravidão? Quais as narrativas sobre o passado, construídas e reconstruídas, por diversos grupos? Como construir um diálogo democrático e plural entre comunidades, arqueólogos e movimentos sociais negros? Qual o papel da cultura material na construção destes diálogos?

Apresentações:

A Arqueologia também vai ao quilombo: etnoarqueologia e memória do território da comunidade quilombola Fazenda Cachoeira, município de Piratini, Rio Grande do Sul

Jorge Eremites de Oliveira (Universidade Federal de Pelotas)

O estudo, realizado por uma equipe do PPGAnt/UFPel, apresenta resultados finais da pesquisa etnoarqueológica realizada junto à comunidade quilombola Fazenda Cachoeira, no município de Piratini, Rio Grande do Sul. Foi realizado por meio de pesquisa etnográfica, durante a qual foi feito o uso do SIG (Sistema de Informação Geográfica) para a compreensão do território de uma comunidade remanescente dos quilombos. Para isso foram considerados locais de ocupação tradicional: paisagens de valor simbólico (cursos d’água, morros, locais associados à época da escravidão etc.), taperas, cemitérios, áreas de descarte de diversos materiais, hortas etc. Esta parte das pesquisas foi feita em consideração à memória social do coletivo sobre sua trajetória na região, sendo, portanto, relevante para a identificação, delimitação e compreensão do seu território. O estudo também serviu para o mapeamento de importantes lugares de convivência no cotidiano das pessoas: casas, áreas de caça e pesca, locais de coleta, hortas, cercados para a criação de animais etc. Isso tudo possibilitou entender o modo como os quilombolas vivem e fazem uso do território, uma área em processo de regularização oficial, pois a comunidade possui a posse de apenas uma pequena parcela do território e ali a falta de terra, como para a agricultura e a criação de animais (ovelhas, porcos, cavalos, galinhas etc.), compromete sua reprodução física e cultural, colocando-a em situação de vulnerabilidade social. Neste sentido, o presente estudo foi realizado a partir da ideia de uma arqueologia aplicada ao atendimento de demandas territoriais de povos e comunidades tradicionais, os quais historicamente têm tido direitos elementares violados por parte do Estado e de setores ligados às elites políticas e econômicas da sociedade nacional.

A diversidade do interior rural brasileiro: a experiência de um quilombo paulista

Silvia Corrêa Marques (Faculdade de Ciências Sociais e Agrária de Itapeva)

Caro à antropologia, o conceito de quilombo nas últimas décadas, passou a ter a contribuição mais efetiva da arqueologia, com a produção de conhecimento a partir da cultura material, bem como do cotejamento entre as fontes arqueológicas, etnográficas, históricas e orais. Este comunicação, fruto de minha tese de doutorado desenvolvida junto ao quilombo do Jaó, no município de Itapeva, Estado de São Paulo (MAE/USP, 2012), apresenta o relato da minha experiência de campo, a metodologia empregada, os aspectos considerados na construção da narrativa da tese a partir dos

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indicadores da memória passíveis de identificação e análise pela arqueologia da paisagem. Para tanto, foram priorizados a participação da comunidade no trabalho de campo, na identificação, valorização e ressignificação de lugares, objetos e paisagens, trabalhados como referências patrimoniais do grupo na perspectiva da musealização da arqueologia. O dialogo com a documentação cartorial, a caracterização do contexto regional voltado ao tropeirismo, os antigos moradores do Jaó como proprietários das terras, agricultores, foram elementos analisados em conjunto. Os resultados mostraram que os quilombos comportam particularidades regionais, trocas culturais, podem ser descritos como locais de abrigo e socialização dos grupos marginalizados da sociedade brasileira, afrodescendentes, indígenas, mestiços e brancos pobres e, finalmente, fornecem novas informações sobre a diversidade do interior rural brasileiro.

Aflorando Memórias: Narrativas da Escravidão do Passo dos Negros (Pelotas, RS)

Louise Prado Alfonso (UFPEL), Simone de Freitas Ortiz (Universidade Federal de Pelotas), Dayanne Dockhorn Seger (Universidade Federal de Pelotas), Isis Karinae Suárez Pereira (Universidade Federal de Pelotas), Jaciana Marlova Goncalves Araujo (UFPEL)

A presente comunicação é resultado das ações realizadas no antigo “Passo dos Negros” em Pelotas - RS, durante o segundo semestre de 2014. As ações tiveram o objetivo de realizar uma pesquisa com as comunidades que habitam a localidade atualmente, de modo a levantar narrativas sobre o passado do local através de uma perspectiva de memórias pluralistas e subjetivas, submetidas ao interesse de diferentes grupos. No decorrer do século XIX, durante o auge da produção de charque, Pelotas teve grande concentração de mão de obra escrava. À época, o Passo dos Negros, às margens do canal São Gonçalo, foi um local de embarque e desembarque de escravos. A localidade agrupou diversas charqueadas que se baseavam no modo de produção escravista e abrigou mais tarde um dos maiores engenhos da América do Sul durante o ciclo do arroz, de modo que os descendentes dos trabalhadores das charqueadas permaneceram na região durante a época da expansão da cultura do arroz (que substituiu o charque), quando o uso da mão de obra escrava já não era permitido no país. Considerando a construção mútua entre passado e presente, o projeto traz questões “antigas” à luz de acontecimentos contemporâneos, buscando favorecer um processo de transformação social, preservação e valorização de referências culturais do passado. Os dados logrados, até agora, são resultado de diálogos com a comunidade em idas a campo, que compuseram grande registro documental de entrevistas com moradores antigos e atuais da região e um mapeamento de memórias do local. Ao final da primeira etapa de levantamento de narrativas, constatamos preocupações atuais com problemas de infraestrutura, conflitos sociais e uma crescente marginalização da área em relação aos demais bairros da cidade, e entendemos que as narrativas registradas podem fortalecer a comunidade e são um meio de despertar a valorização dos seus saberes e memórias, dentro de um contexto contemporâneo de esquecimento.

Arqueologia em territórios tradicionais na Amazônia: patrimônio e conflito nos quilombos do Cunani (Amapá) e Aproaga (Pará).

Irislane Pereira de Moraes (Universidade Federal do Amapá), Decleoma Lobato Pereira (Universidade Federal do Pará), Cesar dos Santos Rodrigues Filho (Universidade Federal do Amapá)

Este trabalho realiza-se a partir dos pressupostos teórico-metodológicos e abordagens da arqueologia etnográfica e da arqueologia pública. Nesse sentido, tem-se como objetivos estudar e analisar as relações sociais que as comunidades tradicionais quilombolas constroem em torno das paisagens do passado e da cultura material arqueológica encontradas em seus territórios étnicos. Nesse sentido, temos como locus de pesquisa o território étnico dos Povos do Aproaga e do

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quilombo do Cunani, respectivamente, localizados no estado do Pará e do Amapá. Esses dois territórios são agenciados por quilombolas e suas memórias sobre o passado de “aquilombamento”, bem como, pelas continuidades e mudanças étnico-culturais que alcançam o tempo presente ainda marcados por diversos conflitos. Através de entrevistas, identificação de materiais arqueológicos em superfície, mapeamento de lugares de memórias e de praticas de colecionismo, temos compreendido que esta pesquisa, e mais amplamente a arqueologia, coloca-se diante de um grande de desafio epistêmico para interpretar novas noções de materialidades e narrativas do patrimônio quilombola na Amazônia.

Atuação arqueológica no território quilombola dos Mandira: dois momentos distintos.

Fabio Guaraldo Almeida (ERM Brasil Ltda)

A proposta central desta comunicação é discutir a relação entre a Arqueologia e as comunidades quilombolas no Brasil. Nesta reflexão nos perguntamos: qual a relação entre a práxis arqueológica e as comunidades quilombolas das regiões pesquisadas? É possível construir um diálogo inclusivo que objetive a pluralidade dos discursos sobre o patrimônio arqueológico e cultural entre comunidades, arqueólogos, poder público, interesses de empresas privadas e movimentos sociais? Como os sítios arqueológicos são acionados a partir desta relação? Para ilustrar os caminhos desta reflexão utilizarei como estudo de caso os resultados que sucederam dois distintos momentos de atuação de arqueólogos no território da comunidade quilombola Mandira, localizada no município de Cananéia, litoral sul do estado de São Paulo. O primeiro momento ocorreu entre os anos de 1981 a 1984, com um trabalho do pesquisador Caio Del Rio Garcia, atuando como pesquisador do Instituto de Pré-História, resultando em um parecer da Dra. Dorath Uchôa como membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turismo – CONDEPHAAT do Estado de São Paulo. E o segundo de 2009 a 2012, com a minha dissertação de Mestrado pelo Programa de Pós-graduação do MAE/USP, titulada “Terra Negra de Quilombo”.

Paredes do tempo dos escravos e o lugar do outro na construção do conhecimento

Camilla Agostini (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O trabalho se ocupa de diferentes apropriações de locais historicamente ligados ao tráfico de escravos no litoral sul-fluminense. A pesquisa que vem sendo desenvolvida atualmente em Mangaratiba / RJ procura manter a atenção para possibilidades de inclusão de outros saberes e sentidos conferidos a um complexo de ruínas localizado na praia do Sahy, seja para refletir sobre contextos do século XIX, seja para considera-los no processo de produção do conhecimento. O intuito é valorizar os saberes tradicionais não apenas como fonte, mas também pensar em como incluí-los do ponto de vista epistemológico e metodológico. Nesse sentido, assim como as paredes de pedra arruinadas, o próprio processo de construção do conhecimento é admitido como um patrimônio para ser compartilhado. Um princípio que para a prática acadêmica oferece implicações metodológicas, epistemológicas e sociais.

ST: Arqueologia e Educação: como chegamos às escolas?

Coordenadores: Cilcair Lima de Andrade Carvalho Ramos (Museu Nacional / UFRJ), Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira (MUSEU NACIONAL-DEPTO. DE ANTROPOLOGIA-SETOR DE ARQUEOLOGIA)

Proposta: Com a publicação da Portaria 230/02, ainda que a Educação Patrimonial seja citada de forma discreta, foi possível perceber o aperfeiçoamento de práticas educacionais que incluem o

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conhecimento proveniente das pesquisas arqueológicas no contexto da educação escolar (Bastos et al. 2008) e, de acordo com as características que definem a Educação Patrimonial, uma série de ações orientadas por diferentes linhas teóricas e metodológicas têm sido realizadas visando a construção do conhecimento, da identidade e da memória através do patrimônio arqueológico. Partindo da premissa de acesso ao conhecimento como base para a preservação do patrimônio arqueológico, um grande número de pesquisas arqueológicas vem investindo na realização das atividades de Educação Patrimonial dentro das instituições escolares com o objetivo de atingir um público cujo conhecimento está em formação e, dessa maneira, influenciar nas decisões futuras sobre a proteção do patrimônio cultural. Entretanto, essas ações precisam ser avaliadas de forma abrangente com a finalidade de se observar sua efetividade junto ao público escolar e seu alcance no que tange à preservação. Questionamentos como a continuidade das atividades propostas pelos programas de Educação Patrimonial, a inclusão da pesquisa arqueológica nos livros didáticos, quais as disciplinas que podem abordar a construção do conhecimento através dos resultados da pesquisa arqueológica, entre outras, permanecem em um debate distante das diretrizes da Educação Brasileira. Foram necessárias, pelo menos, sete décadas para que o tema chegasse ao universo escolar, entretanto, a velocidade da produção de informações na atualidade permite aos arqueólogos interferir e dinamizar a inclusão de suas pesquisas nesse meio, porém é preciso estar atento à continuidade desse processo.

Apresentações:

Dimensões de uma convergência: Arqueologia de Contrato, Arqueologia Acadêmica e Educação Patrimonial em Candelária, RS

Alexandre Pena Matos (Pontifícia Universidade Católica - PUCRS), Filipi Gomes de Pompeu (PUCRS), Marcus Antonio Schifino Wittmann (IAB), Juliana Konflanz de Moura (IAB)

O objetivo desta comunicação é divulgar os projetos e pesquisas do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas/MCT/PUCRS, no município de Candelária, e também levantar questionamentos sobre o patrimônio e a atual definição de Educação Patrimonial pelo IPHAN. Como consequência de um projeto de Arqueologia de Contrato no município de Candelária/RS, surgiu a oportunidade de evidenciar uma convergência desta e da Arqueologia Acadêmica, principalmente no que tange as ações de Educação Patrimonial. O primeiro contato, a nível patrimonial, se deu no Museu Paleontológico Carlos Aristides Rodrigues, onde o diretor, Carlos Nunes Rodrigues, nos propiciou uma visita ao local da Missão Jesuítica-Guarani de Jesus Maria (1633-1636) e uma discussão sobre o potencial arqueológico do município em contraste com o acervo disponível no Museu, reduzido a apenas três peças da Missão. A equipe observou que as pesquisas arqueológicas já feitas na região parecem ter se limitado apenas a esfera acadêmica: a comunidade possui poucas informações ou mesmo desconhece a história pré-colonial e missioneira da cidade. A partir deste contexto surgiram oficinas de Arqueologia, Educação Patrimonial e Povos Indígenas para as turmas e professores de ensino fundamental e médio do Colégio Nossa Senhora Medianeira. Além deste tipo de divulgação, a Equipe de Arqueologia da PUCRS foi convidada para uma entrevista na Rádio Triângulo FM sobre os projetos desenvolvidos na região, auxiliando a fomentar o conhecimento e a contextualização do potencial arqueológico do município para os moradores do mesmo. Como resultado destas ações e do retorno positivo da comunidade ao trabalho desta equipe, se prevê uma construção coletiva de um projeto acadêmico abrangendo a Arqueologia, a História, a Museologia e a Educação para a Redução de Jesus Maria, bem como uma carta de potencial arqueológico do município e a ampliação das estratégias de divulgação e oficinas patrimoniais.

Educação Patrimonial: Desafios da Transversalidade do Ensino Formal

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Gislaine Valerio de Lima Tedesco (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS), Adelbiane Conceição Campos (Núcleo de Arqueologia da Universidade Estadual de Goias NARQ/UEG)

Esta comunicação, tem a finalidade de apresentar os desafios enfrentados na implantação de ações de Educação Patrimonial em escolas da rede pública de ensino dos municípios de Faina e Barro Alto – GO. A resistência dos gestores escolares, tem promovido a busca por estratégias que levem diretores, coordenadores e professores a compreender como é possível relacionar os Bens Culturais materiais e imateriais, da região, com os conteúdos previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). O desafio é evidenciar como trabalhar os diversos elementos do patrimônio cultural de forma transversal, espalhados nas diferentes disciplinas que a Matriz Curricular oferece. Desta forma, apresentaremos alguns resultados alcançados nas oficinas de capacitação de professores como veículos para romper resistências e oferecer suporte na inserção da temática como recurso primordial para o desenvolvimento e o exercício da cidadania, promoção ao sentimento de pertença, valorização e conhecimento de cultura local.

Experiências didático – pedagógicas em escolas públicas, no âmbito da arqueologia preventiva no Maranhão

Arkley Marques Bandeira (Instituto do Ecomuseu do Sítio do Físico), Virginia Marques da Silva Neta (Brandi & Bandeira Consultoria Cultural), Adilson P. Nascimento Júnior (Brandi e Bandeira Consultoria Cultural)

As práticas educativas no âmbito da arqueologia preventiva, além de requisitos normativos, são imprescindíveis para a socialização dos resultados obtidos nas pesquisas com a comunidade, pois contribuem para o conhecimento, valoração e preservação do patrimônio arqueológico brasileiro. Esta comunicação objetiva apresentar os resultados alcançados nas Oficinas de Socialização do Conhecimento e em outras atividades de Educação Patrimonial desenvolvidas ao longo de dois anos na rede pública de ensino do estado do Maranhão. Para tanto, versaremos sobre metodologia de trabalho, as estratégias didático-pedagógicas adotadas e os resultados obtidos junto ao público escolar.

O ensino da arqueologia em sala de aula por meio de maquetes de sítios arqueológicos

Camilo de Mello Vasconcellos (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP)

A proposta pretende discutir aspectos relevantes para o ensino da arqueologia em sala de aula por meio de materiais pedagógicos especialmente concebidos para este fim. Trata-se de experiência recentemente implantada pelo MAE-USP.

Patrimônio Arqueológico, Sustentabilidade e Educação Patrimonial

Rossano Lopes Bastos (IPHAN)

O Relatório Brundtland editado em abril de 1987, resultado do trabalho de uma comissão, que teve como presidentes Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid. apresenta uma visão complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade e as inter-relações entre a economia, tecnologia, sociedade e política. Com a sua publicação dissemina-se o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual vinha, desde os anos 1970, sendo refinado. Nosso olhar vem para a educação enquanto desenvolvimento, enquanto categoria prática e exponencial da vida, ou seja a própria vida. Aqui nesta seara de mil matizes é que desejo introduzir as possibilidades da educação patrimonial enquanto categoria de alfabetização cultural, legitimo segmento da educação que utiliza do conhecimento tradicional, do campo do patrimônio cultural, dos saberes, dos fazeres e das celebrações para sensibilizar, estimular, criar, inventar e inventariar as mais diversas formas

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de compreender o mundo e nele se colocar e recriar. Adiante das formas e formas de se educar, a educação patrimonial no Brasil tem adquirido, ainda com muito esforço, um lugar que objetiva oportunizar as mais diversas manifestações das populações tradicionais e indígenas que se coadunam com o desenvolvimento sustentável e com as práticas de convivência e tolerância harmoniosas com os diferentes modos de vida. Sendo assim, nossa contribuição visa lançar luz sobre este instrumento de educação, que pode se confirmar num elemento chave para alfabetização cultural e para o conhecimento emancipatório. Diante da insuficiência dos caminhos educativos até aqui desenvolvidos e implantados, acreditamos que somar estratégias que combinam patrimônio cultural, saberes e tolerância possa ser um caminho para uma sociedade mais igualitária, socialmente mais justa e culturalmente diversa.

ST: Arqueologia Histórica e Meio Ambiente

Coordenadores: Diogo Menezes Costa (UFPA), Marcos André Torres de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais)

Proposta: Uma das maiores lacunas nos estudos arqueológicos acerca da paisagem no Mundo Moderno diz respeito ao meio ambiente. Pautando-se em um viés dicotômico, que coloca em lados opostos cultura e natureza, a Arqueologia histórica tem, por um lado, privilegiado a chamada “paisagem social”, focando-se nos seus componentes estritamente culturais e, por outro, deixado o ambiente natural quase que inteiramente de lado. Este simpósio propõe-se a abrir um espaço, há muito necessário, para reflexões e debates inovadores acerca da relação entre sítios históricos e meio ambiente. Levando em conta um interesse crescente da Arqueologia, orientado pelo uso de abordagens mais simétricas acerca do passado, são propostos, para este simpósio, três eixos nos quais estudos de caso ou reflexões teórico-metodológicas podem se pautar: 1) materialidade, agência material e ambiente, 2) impactos e desastres ambientais, e 3) Ontologias acerca do ambiente e da natureza.

Apresentações:

Arqueologia e a questão ambiental: degradação e recuperação

Camila Fernandes de Morais (Laboratório de Arqueologia da Fafich/UFMG), Carlos Magno Guimarães (Laboratório de Arqueologia da FAFICH/UFMG)

O trabalho busca evidenciar algumas das possibilidades da Arqueologia no tocante a identificação/tratamento das evidências de degradação ambiental decorrentes de atividades desenvolvidas em alguns contextos regionais dos séculos XVIII e XIX. Tomando como referência os denominados ciclos do Ouro e do Café, através da atividade minerária e da agricultura, são abordados contextos arqueológicos que evidenciam impactos por meio de alterações na paisagem, como: modificações no relevo original, esgotamento do solo, ressecamento de cursos d’água e alterações na cobertura vegetal, dentre outras. Embora apresentassem estruturas e dinâmicas diferentes as atividades minerária e agrícola impactaram o ambiente de tal forma que “os resultados” ainda se fazem presentes e não só como vestígios arqueológicos. Na “direção contrária” são identificadas evidências que apontam para uma “recuperação” natural em áreas nas quais vestígios arqueológicos (valos de divisa e canais de adução) atuam como suportes. Além das evidências arqueológicas, são utilizadas outras fontes como a iconografia antiga e a

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documentação fotográfica e textual em uma perspectiva de complementaridade dado o potencial informativo que apresentam. Para a realizada pesquisa contamos com financiamento parcial do CNPQ.

Arqueologia Histórica e Ambiental na Amazônia

Diogo Menezes Costa (UFPA)

Este trabalho pretende apresentar alguns fatos históricos da presença europeia na Amazônia, bem como os impactos ambientais gerados e sua cultura material legada. Quais são as razões que tem levado a sociedade ocidental tentar transformar a floresta amazônica nos últimos 500 anos de ocupação? Para responder a esta questão serão investigados quando, onde e como estas alterações no meio ambiente veem ocorrendo, e também os vestígios arqueológicos provenientes. Como também, para que e para quem estes estas transformações tem ocorrido na história de ocupação da Amazônia.

Nem cru nem cozido. Refletindo sobre novas linhas de pesquisa para estudos das paisagens.

María Jimena Cruz (Universidade Federal de Minas Gerais)

No presente trabalho, me proponho discutir e problematizar a dicotomia entre os aspectos culturais das paisagens e o ambiente natural. Para isso, argumento que é preciso gerar analises que considerem a existência das pessoas em relação com o mundo desde múltiplas dimensões. Com isso em mente, desenvolvo uma proposta analítica baseada no aspecto corporal da existência humana. Tomando como estudo de caso os grupos foqueiros e baleeiros que trabalharam na Antártica no século XIX, reflito sobre como as pessoas interagiram com as paisagens (no sentido amplo) a partir de um eixo que implica materialidades e espaços específicos: a alimentação. Sugiro que se a alimentação envolve diretamente ao corpo (pensado como o mediador de nossa experiência), a partir de seu estudo as paisagens podem ser pensadas em tanto contextos dinâmicos, onde elementos “naturais” e “culturais” formam um continuum que se transforma reciprocamente.

O fim dos pescadores paulistanos

Rafael de Abreu e Souza (NEPAM/UNICAMP)

Com a mudança no ambiente urbano paulistana em meados do século XX, frente a vitória absoluta do modelo rodoviarista e a transformação dos cursos d'água, que cortavam a cidade, em grandes avenidas, a terra das cheias passou a ser conhecida como a terra das enchentes. Hoje São Paulo lida com uma (quase) paradoxal falta de água. A construção da cidade moderna expurgou os traços de "natureza" do mundo urbano, controlando e submetendo à vontade humana o sistema de drenagens que compõe a bacia do Alto Tietê. Com isso, também deu golpe definitivo nas práticas sociais que conformavam a identidade de um grupo em especial: os pescadores. Viso, aqui, evidenciar características de uma atividade pouco conhecida entre os paulistanos, mas que teve imprescindível peso na história do planalto paulista: a pesca. Através de fontes materiais e históricas referente à pesca na cidade no século XIX e XX, arqueologicamente discreta, dar-se-á atenção aos impactos ambientais das mudanças urbanas e em como estas afetaram saberes tradicionais e comunidades de São Paulo, como os pescadores. Ressalto as tensões e contradições de uma economia capitalista de pesca que se estruturou na cidade junto de políticas de controle às tecnologias artesanais que representavam grupos cada vez mais marginais à ideia da cidade

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cosmopolita industrializada. A luta pela sobrevivência impetrada pelos pescadores fez com que, em meados do século XX, eles próprios passassem a ser vistos pelo poder público como grandes destruidores dos recursos hídricos e do meio ambiente aquático fluvial.

Paisagem, meio ambiente e materialidade: um exame do processo de expansão de sesmarias em uma região do Brasil Central

Marcos André Torres de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais)

Com a descoberta de ouro no Brasil Central no início do século 18, pessoas com diferentes bases étnicas e culturais foram postas em contato. Nesse processo, núcleos urbanos foram criados para abrigar os mineiros e mineradores, bem como unidades produtivas rurais, destinadas ao abastecimento desses núcleos. Um projeto de longa duração que vem sendo realizado em Goiás busca uma melhor compreensão dessas interações e processos. Nesta comunicação, vou me focar em um dos resultados desse projeto, examinando o processo de expansão de um grupo de sesmarias localizado na Serra Dourada, Goiás. Por meio do uso combinado de dados arqueológicos e documentais, pretendo examinar a criação e expansão dessas sesmarias em uma fase específica de ocupação da região. Os nexos que conectam a paisagem natural e essas unidades rurais serão examinados. As discussões serão iluminadas por debates arqueológicos recentes envolvendo a relação entre pessoas e coisas.

Paisagens em movimento. Arqueología do “cimarronaje negro” na costa norte de Colômbia, séculos XVII e XVIII

Johana Caterina Mantilla Oliveros (Departamento de História Ibero-americana e de América Latin)

No âmbito da diáspora africana em América, um dos desafios das arqueologias e outras disciplinas interessadas no devenir (becoming) dos diferentes seres (humanos e não humanos) que coabitaram num lugar, está em aprender a identificar os rastros do silenciado, do não estático e do móvel; aquelo que escapa "do controle do sentido oficial" – neste caso representado pelas autoridades espanholas. Assim, além das noções de hostilidade e ferocidade que aparecem em fontes escritas militares e religiosas em relação aos animais, montanhas, rios e negros quilombolas dos “Montes de Maria” aoredor dos anos 1650 e 1713, surge um mundo diferente. Um habitado por animais que se transformam em pessoas e pessoas que tornanse em animais; de Santos que vão e voltam do mundo dos mortos, objetos-vivos e lagoas habitadas por seres que gravitam entre mundos. Então surge um espaço em que os relacionamentos não-simétricos, operam e articulam espaços, atores e universos que vistos a partir da lógica moderna, poderiao ser pensados como diferentes e distantes. Nesta apresentação, pretendo expor os resultados parciais da minha pesquisa doutoral, focada no análise da paisagem de três assentamentos quilombolas localizados na costa norte de Colômbia, durante os séculos XVII e XVIII. Com base no estudo inicial de fontes documentais, identifico características geográficas, materiais (objetos que circulam), espaciais e de população relevantes para uma compreensão primeira do meio, que mesmo assim, serve como base para a realização da seguinte fase prospecção arqueológica. Desta forma, tento ilustrar um contexto histórico (material e social) em que o movimento e não o seu oposto, surge como condição de possibilidade para a persistência no tempo de lugares habitados por sujeitos – antes Araraes, Minas, Kongos, Karabalies, agora cimarrones – . Finalmente, é necessário perguntarse: Como compreender um mundo em constante movimento, um mundo, que não é apenas um, mas em permanente gestação?

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Sítios Arqueológicos Urbanos em Pelotas/BR e Habana/Cuba - séc XIX

Karla Maria Fredel (UFPEL - RS)

O trabalho trata de relações entre a arqueologia histórica e o meio ambiente. Ao intervir em áreas ja povoadas, a arq. histórica liga-se às memórias coletivas e suas interações com os ambientes. Os locais citados, foram pólos mutantes e transformadores dos respectivos ambientes.

ST: Bioarqueologia

Coordenadores: Danilo Vicensotto Bernardo (Instituto de Ciências Humanas e da Informação - Universidade Federal do Rio Grande), Pedro José Tótora da Glória (Universidade de São Paulo)

Proposta: A bioarqueologia é entendida como uma disciplina que se utiliza de teorias biológicas e socioculturais a fim de investigar os remanescentes biológicos humanos em contexto arqueológico. Nesse sentido, os remanescentes humanos compõem um importante elemento do registro arqueológico, possibilitando ao bioarqueólogo reconstruir as vidas e mortes de pessoas do passado e de suas comunidades, e não meramente descrever esqueletos. Neste simpósio temático, convidamos os pesquisadores da área de bioarqueologia a mostrarem seus trabalhos com remanescentes humanos de forma integrada com o contexto arqueológico. Entendemos o bioarqueólogo como participante ativo tanto do campo como da análise do material arqueológico, compartilhando teorias e hipóteses com outros arqueólogos. Os estudos na área devem apresentar um carácter populacional, podendo versar sobre história populacional e biodistância, arqueologia funerária e rituais mortuários, ou saúde e estilo de vida. Os trabalhos podem abordar esses temas sob diversas escalas, desde estudos globais e continentais, como a ocupação do continente americano, até estudos de um único sítio, buscando relações particulares e locais. O simpósio se faz ainda mais importante pelo expressivo número de esqueletos humanos depositados em museus brasileiros. Os estudos bioarqueológicos devem cumprir o objetivo de mostrar a relevância desse material, pois esses remanescentes podem vir a fazer parte da maneira como as pessoas significam seu passado. O objetivo do simpósio, portanto, é enfatizar três pontos cruciais: 1) a conexão entre remanescentes biológicos e contexto arqueológico; 2) a riqueza de análises interpretativas do campo da bioarqueologia para o entendimento das populações do passado; e 3) a importância de valorizar o patrimônio bioarqueológico depositado em museus brasileiros.

Apresentações:

Arqueologia do Corpo de Mulheres do Recolhimento da Luz – São Paulo – Séculos XVIII E XIX

Tainã Moura Alcântara de Oliveira (MAE/UFBA)

"Esta pesquisa teve início após a percepção da complexidade dos resultados obtidos durante as escavações arqueológicas realizadas no Mosteiro da Luz, em São Paulo. Durante as intervenções, foram evidenciados onze corpos de mulheres que estiveram na condição de enclausuradas durante os séculos XVIII e XIX o que, por conseguinte, permitiu o estudo de como foram suas vidas. As intervenções foram realizadas em seis túmulos de parede na cripta mortuária do claustro. Em cinco dos seis túmulos de parede, puderam ser verificados dois sepultamentos não simultâneos e no outro, apenas uma inumação. Ademais, esse que foi inumado sozinho e outros quatro indivíduos apresentaram mumificação total ou parcial. Essas mulheres foram estudadas arqueologicamente, buscando entender os aspectos da vida cotidiana e como se deu a formação dos corpos dentro da instituição rígida de clausura, com controle das ações. Para tanto utilizou-se uma metodologia baseada em diversas fontes, característica da Arqueologia História, onde foi possível investigar o

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corpo vivo através de variáveis da pesquisa documental, e o corpo morto por meio de variáveis da Arqueologia Funerária (corpo cultural) e da Bioarqueologia (corpo biológico). As análises permitiram o reconhecimento dos gestos e posturas recorrentes, além da identificação das características comuns a todos os indivíduos e as particulares, que aludem a uma nova resignificação da identidade.

Curadoria de remanescentes ósseos humanos: o que podemos aprender com as instituições do Reino Unido

Maria Mercedes Martinez Okumura (MN-UFRJ)

Remanescentes ósseos humanos são parte importante do registro arqueológico e um grande número desses remanescentes encontra-se sob a guarda de instituições no Brasil. Dado o crescente aumento no número de estudos envolvendo esse materiais, torna-se urgente a discussão sobre práticas de curadoria dessas coleções em museus brasileiros. O objetivo deste trabalho é apresentar algumas práticas e experiências da autora como curadora da Coleção Duckworth (Universidade de Cambridge, Reino Unido) entre 2006 e 2010 e contribuir ao debate acerca do manejo de coleções osteológicas no Brasil. Além de discutir aspectos específicos do contexto britânico (como as legislações sobre remanescentes humano), também serão abordados aspectos gerais cujo debate não tem recebido a devida atenção no Brasil. Esse é o caso das políticas de uso desses materiais para análises destrutivas, os códigos de ética relativos ao manuseio e análise desses restos, assim como a higiene e segurança nas instalações. Além disso, serão incluídas questões sobre a organização (abrangendo limpeza, restauro, condicionamento, catalogação e documentação), a manutenção e monitoramento de espécimes frágeis ou sob ataque de pragas e o gerenciamento relativo ao repatriamento, pesquisa, empréstimo e uso desses materiais em atividades de ensino e extensão. Nesse sentido, cabe enfatizar a importância do curador, que não apenas deve conhecer profundamente a coleção e manter bons registros a seu respeito, como também deve manter-se atualizado sobre as mais diversas técnicas empregadas para o estudo de esqueletos humanos, incluindo aquelas mais modernas.

Fanning the Flames: The Importance of Burned Bones and the “Archaeology of Cremation”.

Priscilla Ferreira Ulguim (Teesside University)

Burned bone from archaeological contexts has been perceived as a source of limited information when compared to unburned bone, in part due to misconceptions of fire as a destructive rather than transformational process. With the exception of important early works this resulted in fewer studies in comparison to those on unburned bone. However, burned bone accounts for a significant portion of human remains from archaeological sites, and thus has the potential to answer important bioarchaeological questions, in particular regarding cremation. Recently, increasing numbers of methodological studies have refined our understanding of heat-induced change in burned bones. Although these studies are revolutionising our comprehension of the burning process, not all apply this to specific archaeological contexts. This paper explores the process of heat-induced transformation of the body, with the specific aim of promoting the “Archaeology of Cremation” as a bioarchaeological approach for analysing burned bone in context. This implies the use of those methodological developments to investigate both the visible, macroscopic transformations occurring as bone is heated, known as secondary-level heat-induced changes, such as colour change, fracture, warping and dimensional change, as well as advanced analysis of microscopic primary level changes in bone crystal structure and size, which are the cause of all other secondary level heat induced changes. It should also acknowledge the influence of biological and environmental variables: the composition of the body, relative exposure of the bone,

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and factors influencing the intensity, temperature and duration of the fire, such as fuel, atmosphere and contaminants. The application of this framework, in conjunction with clearly defined terminology, systematic in-situ excavation, interpretation, recovery, conservation and analysis has important implications for the improved study of burned bone from archaeological contexts.

Ficar ou partir: colaboração da genética para questões migratorias a partir de doenças incapacitantes

Judas Tadeu Nunes Nobrega (autonomo), Viviane Martins de Moura Nóbrega (FUNDAÇÃO AROEIRA)

A incansável busca do homem pelo conhecimento de sua origem terminou por aproximar a Genética e a Arqueologia. Aproximação que, através principalmente da análise de variações do DNA mitocondrial, vem abrindo possibilidades de se pensar modelos de migrações populacionais. Baseando-se nestas possibilidades genéticas, este trabalho propõe pensarmos em migrações tendo como foco as possíveis doenças incapacitantes das quais nossos ancestrais podem ter sido acometidos e que podem ter motivado a fragmentação dos grupos e sub-grupos no passado influenciando assim na decisão de permanência e/ou na locomoção destes indivíduos ou seja, na decisão de partir ou ficar. Para tanto as patologias incapacitantes são aqui entendidas basicamente como todas as enfermidades que, temporária ou permanentemente, incapacitam o pleno desenvolvimento de nossas atividades, incluindo: distrofias, surdez, cegueira, diversas síndromes, deficiências sensoriais, fibroses, albinismo, hidrocefalia, fenilcetonuria, hipotireoidismo e inúmeras outras, descritas pela literatura médica mundial como no caso da endometriose relatada em papiros do ano 1600 a.C.. Graças aos avanços das pesquisas genéticas essas patologias podem ser detectadas, diagnosticadas, prevenidas e em alguns casos evitadas. Acompanhando esses avanços, na atualidade, já é possível extrair DNA de ossos de enterramentos tanto pré-históricos quanto históricos, como comprovado pelo protocolo de NÓBREGA, 2012, e prosseguindo nessa linha de pesquisa em ossos ancestrais, acreditamos ser possível, através de métodos e primers adequados, a possibilidade de diagnosticar polimorfismos genéticos de possíveis doenças incapacitantes que, teriam influenciado ou mesmo modificado, de alguma forma, o “modus vivendi” dos grupos de indivíduos no passado.

Integrando Fronteiras para compreender o passado e moldar o futuro através da Bioarqueologia

Sabine Eggers (Depto Genética e Biologia Evolutiva IBUSP)

No intuito de compreender saúde, subsistência e estilo de vida de sociedades pretéritas, verificou-se que o poder interpretativo de marcadores osteológicos, dentais e arqueológicos avaliados em conjunto não é suficiente. Numa visão bioarqueológica, a inclusão de outras abordagens e o desenvolvimento de novas linhas de pesquisa ampliaram substancialmente as possibilidades de testar hipóteses. O posicionamento desse contexto local em um cenário mais regional embasou a construção de um banco de dados interdisciplinar que possibilita esclarecer diferentes trajetórias seguidas por sociedades adaptadas a distintos ambientes. Entretanto, as questões sobre complexificação social na costa atlântica da América do Sul ainda permanecem em aberto devido a má preservação do material, escassez de estudos sistemáticos e limitações de acesso a coleções. Já na costa pacífica, o estudo da complexificação social é mais viável, pois a preservação da cultura material e de matéria orgânica é assombrosa, permitindo avaliações bioarqueológicas mais completas. Isso nos permitiu refinar a metodologia para averiguar, entre outros, o grau de dependência de recursos amiláceos, tecnologias de armazenamento e preparo de alimentos: elementos necessários para viabilizar grandes construções através do trabalho orquestrado de indivíduos com distintas habilidades, direitos e deveres. Estas estratégias não só aprofundam o

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conhecimento sobre as trajetórias das sociedades da costa pacifica, como também retroalimentam e melhor contextualizam os estudos sobre a costa atlântica. Por fim, integrando a pesquisa sobre o passado com a atualidade, a inclusão de atividades bioarqueológicas no ensino fundamental, via kits educacionais e material (para-) didático visa não só divulgar a própria disciplina, mas também moldar o comportamento da geração futura.

Interpretação das estruturas funerárias e análises bioarqueológicas dos remanescentes ósseos humanos evidenciados no adro da Igreja Matriz de São José, Santa Catarina.

Luciane Zanenga Scherer (MArquE/UFSC)

Este trabalho apresenta os dados de arqueologia funerária e de bioarqueologia de oito estruturas funerárias localizadas no adro da Igreja Matriz de São José, município de São José, Santa Catarina, e que foram evidenciados durante os trabalhos de monitoramento arqueológico das obras de restauração desta igreja. Foram evidenciados 09 sepultamentos humanos. Destes, cinco indivíduos pertenciam ao sexo masculino, dois ao sexo feminino, e em dois casos, não foi possível determinar o sexo. Em relação à idade, dois eram adultos jovens, dois adultos, quatro adultos maduros e apenas uma criança com aproximadamente 11 anos ± 11 meses de idade. Na maioria dos indivíduos foram observadas patologias ósseas (especialmente as degenerativas) e dentárias, bem como marcadores de atividades cotidianas (alterações entésicas). Todos os esqueletos foram evidenciados na parte externa da igreja, e apenas um sepultamento possuía evidências contundentes de caixão. Em relação aos acompanhamentos funerários quase nada se preservou. A união dos dados de arqueologia funerária e bioarqueologia sugere que o status socioeconômico da maioria dos indivíduos não deveria ser alto, uma vez que foram sepultados no adro da igreja, a maioria possivelmente sem caixão, e apresentando alterações ósseas que apontam para uma demanda laboral bastante significativa.

Mudanças de Abordagens Metodológicas em Paleopatologia para o Avanço nas Interpretações em Arqueologia

Andersen Liryo da Silva (Museu Nacional / UFRJ)

Uma das grandes fontes da bioarqueologia para interpretação dos contextos sociais passados é a paleopatologia, sendo que a análise das osteoartroses tem sido nas últimas décadas uma das mais exploradas. Porém, apesar das muitas contribuições que os estudos das alterações articulares trouxe à arqueologia, houve uma estagnação das interpretações, já que o tipo de abordagem metodológica, que se fazia até então destas lesões, não trazia mais nenhum avanço nos resultados. Buscando uma outra forma de trabalhar esta questão e de trazer novo aporte interpretativo, foi proposto no trabalho de tese do presente autor, o mapeamento das superfícies ósseas articulares junto com a análise das lesões por grau de comprometimento das subáreas articulares. Foram estudadas 4 séries de crânios históricos urbanos do Brasil e de Portugal, totalizando 260 indivíduos. Registrou-se as lesões de osteoartrose das articulações temporomandibulares (ATMs) do tipo labiamento, eburnação, rugosidades, facetamento e erosão. As superfícies ósseas articulares foram mapeadas, tendo sido divididas em quadrantes. E, as lesões foram registradas pela extensão de comprometimento de cada quadrante. Poucas lesões foram encontradas nas ATMs, sendo que as mais comuns foram as áreas de rugosidade na junção do tubérculo articular com a fossa glenóide, correspondente à posição dos côndilos quando a mandíbula se encontra em repouso. A divisão das superfícies ósseas articulares por quadrante possibilitou identificar diferentes frequências por subárea articular, que pelo método antigo apenas mostraria frequências totais semelhantes. E, o

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registro das lesões por extensão corrigiu o aspecto hierárquico, que não correspondia necessariamente à realidade do comprometimento articular. Este estudo mostrou que o mapeamento das lesões das articulações possibilitou ter novos resultados, o que permitiu fazer interpretações que, com o método antigo, não seriam possíveis de serem alcançadas.

Novos valores isotópicos da dieta entre grupos horticultores da Bacia do Prata

Mirian Carbonera (Universidade Comunitária da Região de Chapecó-Unochapecó)

Este trabalho objetiva comparar resultados dos valores isotópicos da dieta de grupos horticultores pré-coloniais das unidades arqueológicas Guarani e Taquara. As amostras analisadas, provém de sítios arqueológicos localizados em diferentes áreas do Planalto sul brasileiro, província de Misiones e do Delta do rio Paraná na Argentina. Os valores isotópicos das dietas foram processados a partir de amostras de 24 indivíduos e assinalam diferenças entre as unidades arqueológicas, além de uma importante dispersão em cada grupo. Os dados Guarani apresentam uma clara tendência de dieta mista, com significativo consumo de plantas com padrão fotossintético C4, que corresponde muito provavelmente ao consumo de milho. Já as amostras Taquara, revelam valores de dietas baseadas em plantas C3 e animais consumidores desses vegetais. A pesquisa integra as atividades do projeto binacional “Arqueologia da Floresta Atlântica Meridional Sul americana”, mantido pelo Ministério da Cultura da República Argentina e a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Autores= Mirian Carbonera; Daniel Loponte

Reconstrução de paleodieta baseada em conteúdo de cálculo dentário

Celia Helena Cezar Boyadjian (Museu Nacional UFRJ), Sabine Eggers (Depto Genética e Biologia Evolutiva IBUSP)

A micropaleoetnobotânica consiste no estudo de vestígios botânicos microscópicos, como grãos de amido e fitólitos, recuperados de contextos arqueológicos para reconstruir o uso de plantas em diversos aspectos da vida de populações passadas como dieta, produção de alimento, rituais, entre outros. A análise dessas partículas possibilita, não só, identificar as plantas utilizadas, mas também fornece pistas sobre os hábitos e tecnologias desses grupos, como o modo de preparo de alimentos, por exemplo. Uma das fontes de obtenção mais seguras dessas micropartículas é o cálculo dentário (tártaro). Logo que se verificou que a extração de vestígios microscópicos bem preservados de plantas a partir do cálculo era possível e extremamente informativa para a bioantropologia e bioarqueologia, o reconhecimento desta abordagem no meio acadêmico internacional cresceu significativamente. Ela tem particular importância em sítios já escavados em que os macrovestígios botânicos não puderam ser recuperados (ou sua recuperação foi negligenciada) e cujas coleções osteológicas se encontram depositadas em museus. Portanto, em muitos casos, ela é a única via de acesso aos restos das plantas utilizadas pelo grupo estudado, além de produzir dados diretos sobre dieta e subsistência pré-históricas. No Brasil, as análises micropaleoetnobotânicas baseadas em conteúdo de cálculo dentário pioneiras foram aplicadas em sítios do tipo sambaqui. Atualmente, estão em curso projetos que utilizam esta abordagem em sítios de Minas Gerais (Lapa do Santo e Cemitério da Caixa d’agua) com intuito de reconstrução de dieta e uso de plantas. Também estão em andamento estudos de conteúdo de cálculo em sítios dos Andes Centrais (Peru) visando reconstrução de dieta e detecção de mudanças nas estratégias de subsistência de grupos do Período Formativo. Os resultados preliminares desses trabalhos serão tratados nesta apresentação.

Variação craniana humana atual e passada no Novo Mundo

Manon Galland (University College Dublin, School of Archaeology, Dublin, Irlanda)

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A variação craniana humana na América tem sido interpretada como resultantes de várias ondas de migração ou, alternativamente, de um processo relativamente contínuo com um maior importância da diferenciação local. Este trabalho trata da estrutura da variabilidade craniana e da influência de vários fatores externos. Os objetivos deste estudo foram 1) detectar diferenças morfológicas entre grupos cronológicos e geográficos que podem indicar a presença de vários eventos de dispersão e/ou diferenciação local; 2) testar as afinidades morfológicas de espécimes fósseis isolados; 3) avaliar a relação entre variação cranial, ambiente e linguagem. A amostra inclui 72 fósseis da América do Norte e do Sul datados de 2000 até 11.000 anos AP, e 20 populações modernas que cobrem todo o continente. Os dados craniométricos foram coletados por meio de um scanner de superfície 3D. Os métodos de morfometria geométrica foram aplicados para analisar as variáveis de tamanho e conformação independentemente (sobreposição de Procrustes e estatísticas multivariadas). Nossos resultados demonstram uma grande variabilidade no tempo e no espaço. No entanto, eles destacam que a maior parte da variação observada pode ser explicada pelas diferenças regionais. Eles confirmam que os fósseis representam extremos da variação total, que diferem dependendo da região a que pertencem e segundo a sua antiguidade. Os resultados também enfatizam o impacto significativo das condições ambientais extremas, especialmente na face, bem como as correlações muito fortes entre conformação craniana e distribuição de famílias lingüísticas. Nosso estudo parece mais favorável a hipótese de um grande evento seguido por uma diferenciação local e fluxo gênico recorrente.

ST: Contribuições de abordagens tecnológicas para a pré-história da América do Sul: perspectivas teóricas e estudos de caso

Coordenadoras: Maria Jacqueline Rodet (MHN-UFMG - SETOR DE ARQUEOLOGIA), Barbara Romina Sacur Silvestre (FFyL - UBA)

Proposta: Na América do Sul, a consolidação da Arqueologia como disciplina científica decorreu, em parte, por influências de países onde a disciplina já era consagrada, através de missões americanas e francesas disseminadas pelo território. Além de modelos de ocupação humana, as escolas trouxeram também perspectivas teóricas diversas e técnicas de campo inovadoras. Em particular, a Escola francesa trouxe metodologias de análise de vestígios, que ainda hoje são atuais. Aos poucos, os fundamentos de base da análise tecnológica se adequam às peculiaridades da arqueologia sul americana. As lógicas produtivas dos pré-históricos e suas especificidades técnicas temporais e regionais emergem através das técnicas presentes nos objetos. A aplicação dos conceitos de cadeia operatória, sistema técnico e economia, vêm ampliar as possibilidades de compreensão do passado e permitem explorar novos campos como o cognitivo. Ainda, estudos que buscam compreender a relação populações/meio ambiente renovam-se com a aplicação da análise tecnológica, respondendo questões mais amplas, como mobilidade, subsistência e vínculos tecnológicos. De fato, análises de vestígios cerâmicos, líticos, ósseos, faunísticos etc., realizadas segundo perspectivas tecnológicas de produção, utilização, descarte muito têm contribuído para a compreensão e reflexão sobre o passado humano. Este simpósio busca reunir trabalhos que adotem a análise tecnológica como metodologia, visando relacionar os diversos tipos de vestígios arqueológicos. A partir de estudos de caso ou pesquisas mais abrangentes, envolvendo coleções líticas, cerâmicas, ósseas, etc., pretende-se discutir os avanços da análise tecnológica na compreensão dos sistemas técnicos, econômicos e culturais pré-históricos. Soluções inovadoras aplicadas à metodologia são desejadas. Espera-se, desta forma, promover a integração de especialistas da América do Sul, construindo uma rede colaborativa de troca de informações e perspectivas teórico-metodológicas diversas.

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Apresentações:

Análise tecnológica, tafonomia e contexto arqueológico: estudo da coleção lítica de superfície do sítio Praça de Piragiba

Juliana de Resende Machado (Université Paris Ouest Nanterre La Défense)

Coleções arqueológicas de superfície sempre devem ser questionadas quanto a sua temporalidade e homogeneidade. Como no caso da coleção lítica do sítio Praça de Piragiba localizado no estado da Bahia. Desde 1996, este sítio é estudado pela equipe de arqueologia da UFBA. Recentemente, o grupo de Tecnologia Lítica do MHNJB-UFMG colaborou nos trabalhos de campo, realizando coletas sistemáticas em superfície. O propósito deste trabalho é demonstrar os aportes da análise tecnológica, junto com observações tafonômicas e o conhecimento da arqueologia regional, na avaliação da homogeneidade de uma coleção em contexto complexo. Nosso corpus totaliza 2.964 peças líticas vindas de duas áreas do sítio. Reconhecer os estigmas específicos a cada técnica de lascamento e fazer a leitura diacrítica das retiradas são procedimentos de base na metodologia de análise. Estes, aliados à distinção dos estados técnicos dos instrumentos e à identificação dos suportes escolhidos, permitem a identificação das grandes tendências de uma indústria. As duas áreas têm coleções bem distintas. Na primeira, a série é mais homogênea. Existem peças bifacialmente lascadas e seus resíduos de produção, destacados por percussão direta dura. Ademais, há contas de colar e pingentes com parte de sua cadeia operatória de produção. Já na segunda, além destes mesmos vestígios, encontram-se peças plano-convexas realizadas sobre suportes diferentes, lascas de percussão direta macia em processo de dessilificação, e dois fragmentos de pontas de projétil, retocadas por pressão. As diferentes técnicas de lascamento e matérias-primas empregadas para cada classe de objeto sugerem a existência de sistemas técnicos de períodos arqueológicos distintos coexistindo no sítio. Ainda, os conjuntos não responderam da mesma forma aos fenômenos tafonômicos. Assim, um sítio por muitos anos considerado uniocupacional, conexo à tradição Aratu, teria parte de sua coleção lítica relacionada a outros períodos mais antigos.

Caracterização Tecnológica e Morfológica da Cerâmica do Sítio Lago Rico, Aruanã, Goiás

Rosicler Theodoro da Silva (Instituto Goiano de Pre-Historia e Antropologia - IGPA/UCG), Daniela Dias Ortega (Pontifícia Universidade Católica de Goiás)

Este trabalho visa apresentar os resultados preliminares obtidos a partir da análise tecnológica e morfológica da cerâmica do sítio arqueológico Lago Rico, localizado à margem esquerda do rio do Peixe, afluente pela margem direita do rio Araguaia, município de Aruanã, Goiás. Este sítio, pertencente a grupos de agricultores ceramistas, está inserido no projeto “Escavação do sítio arqueológico Lago Rico, interflúvio dos rios Araguaia e Peixe, Nova Crixás/Goiás”, coordenado pelo prof. Dr. Julio Cezar Rubin de Rubin (IGPA/PUC Goiás), com financiamento do CPNq e FAPEG. Os restos culturais analisados procedem das coletas em superfície e da abertura de duas unidades de escavação de 25m² cada, sendo uma por níveis naturais (Unidade de Escavação 1 – UE1) e outra por níveis artificiais (Unidade de Escavação 2 – UE2). Até o momento, as análises proporcionaram informações sobre as variáveis tecnológicas e morfológicas as quais estão diretamente associadas à Tradição tecnológica ceramista Uru, Fase Aruanã, além de possibilitar a inserção deste sítio em um contexto regional e cultural mais amplo.

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Continuidade e mudança: Os Fornos Jê do Alto Paranaíba

Wagner Magalhães (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP - MAE/USP)

A presente comunicação objetiva relatar parte dos resultados da pesquisa de Mestrado desenvolvida junto ao sitio arqueológico Inhazinha, localizado no município de Perdizes no Triângulo Mineiro, onde partindo de uma problemática relacionada ao conceito de cadeias operatórias que propôs avaliar a existência de conexões entre os vasilhames e as fontes de matéria prima, buscando suporte para obtenção de respostas numa ampla gama de análises arqueométricas, evidenciou-se uma nova zona arqueológica para o sítio Inhazinha, que se caracteriza por um sistema de produção cerâmica composto por três fornos escavados, associado a um horizonte cultural (agricultores ceramistas históricos) até então desconhecido para a região de estudo. Datada em 212±19 anos AP (AMS-CENAUSP/ SP), e 190±30 anos AP (C14-BETA/EUA), tal assentamento, se constitui de uma nova ocupação relacionada aos Cayapós Meridionais que viveram na região do Triângulo Mineiro até o final do século XIX. Os vestígios encontrados, revelam não só a continuidade presente nas características socioculturais do grupo, mas também demonstram a mudança devido aos processos de “interação” decorrentes do inevitável contato com o homem branco. Os resultados obtidos por meio de estudos arqueométricos demonstram que os vasilhames cerâmicos não possuem correlação com as fontes argilosas evidenciadas no entorno do sítio arqueológico.

Experimentação e Traceologia: explorando a funcionalidade dos “calibradores” dos sítios arqueológicos de tradição tupi-guarani, Argentina.

Barbara Romina Sacur Silvestre (FFyL - UBA), Natacha Buc (CONICET - INAPL), Silvia Adriana Dominguez (Centro Atomico Constituyentes - Comisión Nacional de Energía Atómica)

A produção e uso de artefatos líticos utilizados pelos grupos de filiação amazônica, historicamente denominados como Guarani é pouco conhecida na Argentina. Esta situação tem mudado nos últimos anos, graças ao renovado interesse na sua arqueologia. De fato, este trabalho forma parte dum programa de pesquisa desenvolvido nos últimos anos, ligado ao explorar e analisar as estratégias tecnologias empregadas pelas populações que ocuparam a extensa área de distribuição geográfica guarani. Os “calibradores” são um tipo de artefato com alta representação nestes sítios arqueológicos. Neste caso, analisaremos o material recuperado de dois sítios da Bacia do Paraná: Arroyo Fredes (Provincia de Buenos Aires) e Corpus (Misiones). Trata se de artefatos grandes, feitos a partir de matérias primas friáveis com diversos graus de silicificação, porém não se descarta a presença de outras matérias primas, como por exemplo, cerâmica. Estes artefatos apresentam sulcos ou caneletas de fundo em “U”, que apesar de serem de comprimento profundidade variável, apresentam uma regularidade em relação ás suas variáveis métricas. As hipóteses funcionais propostas tem sido múltiplas: afiadores de pontas ósseas; regularizadores de hastes de pontas de projétil; manufatura de tembetás cilíndricos de quartzo, e inclusive fabricação e terminação de contas de valva. Neste trabalho, avaliaremos estas idéias a partir do desenvolvimento dum programa experimental. Do conjunto resultante se registram as características morfológicas, variáveis métricas, assim como o padrão de rastros microscópicos. Para isto, se utilizam diferentes dispositivos óticos como lupa binocular, microscópio eletrônico de barrido e microscópio metalográfico. Finalmente, seguindo estes critérios, se analisa a coleção arqueológica dos mencionados sítios. O alvo principal é a partir de técnicas atualísticas contribuir ao conhecimento das estratégias tecnológicas empregas por estes grupos.

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Metodologia para análise tecnológica em cristais de quartzo

Luis Felipe Bassi Alves (Centro Especializado em arqueologia Pré-Histórica UFMG)

Esta apresentação aborda um tema discutido na dissertação de mestrado (Bassi, 2012) sobre a análise tecnológica do cristal de quartzo, proveniente do sítio arqueológico Bibocas II, em Jequitaí/MG. Através da análise dos ângulos entre as facetas naturais do cristal é possível identificar elementos importantes sobre os processos de lascamento. Dessa forma, a análise tecnológica das peças, através da metodologia proposta, permite a identificação da localização da lasca no suporte/núcleo, além do mapeamento de possíveis métodos de lascamento. A construção de uma comunicação somente sobre o cristal de quartzo se propõe a questionar a simplicidade e superficialidade com que este tema geralmente é tratado, sendo quase sempre uma descrição de estigmas, apresentação morfológica e/ou análise estatística sem problemáticas definidas. O objetivo é apresentar uma metodologia de análise baseada na identificação dos eixos do cristal através das facetas naturais, o que permite levantar discussões sobre as sequências de lascamento, mesmo na ausência de núcleos ou instrumentos. Dessa forma, é possível analisar somente lascas e conseguir diferenciar sequências de cadeias operatórias específicas, desde que existam peças com facetas de cristal em quantidades suficientes. A análise das facetas permite identificar métodos de lascamento e formas de abordagem de cristais, ou seja, é possível discutir escolhas relacionadas a técnicas e métodos de gestão desta matéria-prima, a preferência do primeiro golpe para abertura de um plano de percussão e também algumas formas de façonagem do núcleo/suporte.

Os caçadores-coletores do médio vale do Paranaíba, Minas Gerais: estudo das cadeias operatórias e sistema tecnológico do sítio ATM-691, Tupaciguara – MG e análise comparativa com o sítio Rezende, Centralina – MG.

Alex Sandro Alves de Barros (Museu de Arqueologia e Etnologia - MAE-USP)

A presente comunicação objetiva apresentar o projeto de pesquisa em desenvolvimento no sítio arqueológico ATM-691, localizado no município de Tupaciguara, no Triângulo Mineiro. O projeto tem como objetivo realizar o estudo tecnológico, tanto no nível de compreensão da cadeia operatória quanto de detecção do sistema tecnológico de seus vestígios líticos. Na década de 1990, três campanhas de campo resultaram na coleta sistemática de 224 vestígios líticos, além da coleta de carvão vegetal, retiradas junto aos três estratos que compõem o sítio. As datações a partir do carvão vegetal resultaram na divisão entre dois horizontes temporais: 3.200 ± 130 e 2.900 ± 70 anos A.P. (C14 – CENA/USP). Tais campanhas ocorreram no âmbito do projeto de salvamento arqueológico relativo à implantação do poliduto REPLAN – Paulínia-Brasília, seção “C” da PETROBRÁS, por meio do convenio firmado entre a empresa e a Universidade de São Paulo, por intermédio do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP), sob a coordenação de Scatamacchia e Alves. A aplicação dos conceitos de cadeia operatória e de sistema tecnológico da escola francesa no estudo dos vestígios líticos do sítio ATM-691 visa: identificar e compreender as fontes de matéria-prima petrográficas; da energia empregada no transporte das rochas e dos minerais, desde suas fontes de origem até o assentamento; das técnicas de debitagem e de retoque das peças líticas; da morfologia dos artefatos; seu emprego social — reuso, descarte, etc —, além da detecção das técnicas empregadas na confecção de artefatos líticos. Por fim, será realizada uma análise intrasítio junto aos dados levantados por Fagundes (2004), no âmbito do projeto Quebra Anzol no sítio Rezende, localizado no município de Centralina no Triângulo Mineiro, verificando possíveis permanências e mudanças tecnológicas dos grupos de caçadores-coletores que ocuparam estes sítios a céu aberto, localizados no médio curso do vale do Paranaíba.

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Potenciais da abordagem tecnológica para compreensão dos aspectos cognitivos relacionados às indústrias de artefatos arqueológicos

João Carlos Moreno de Sousa (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Uma vez que entendemos a cognição como o conjunto de processos de aquisição e transmissão do conhecimento, torna-se possível caracterizar alguns aspectos desta relação das sociedades humanas com o meio ambiente e os objetos materiais. A tecnologia, enquanto estudo dos métodos e técnicas, tem demonstrado ser muito eficaz para caracterizar as indústrias de artefatos. Casando com a abordagem de cadeia-operatória, é possível tentar compreender diversos aspectos cognitivos das sociedades humanas. Nesta comunicação será defendido o papel da abordagem tecnológica nos estudos de indústrias como um viés para busca dos aspectos cognitivos dos indivíduos responsáveis pela idealização, produção e utilização dos artefatos.

Sistema tecnológico, Cadeia Operatória e Perspectivas Iniciais sobre a Indústria Lítica de Sítios Arqueológicos em Abrigos e a Céu Aberto na Mesorregião Central do Estado do Rio Grande do Norte

Luiz Carlos Medeiros da Rocha (Universidade Federal de Sergipe)

A mesorregião central do Estado do Rio Grande do Norte, vem sendo alvo de pesquisas arqueológicas mais recentemente desde a década de 2000, sobretudo pelo enorme potencial referente a contextos da pré-história. Em específico, destacam-se os materiais líticos lascados entre esses vestígios dos grupos humanos que ocuparam essa região. Dessa forma, a presente apresentação tem como objetivo trazer as primeiras perspectivas acerca do sistema tecnológico e da cadeia operatória das indústrias líticas exumadas de sítios arqueológicos com duas configurações e localizações diferentes dentro do que foi considerado área central do Estado. Os sítios arqueológicos em abrigos e semi-abrigos sob rocha estão localizados no que foi denominado de Enclave Arqueológico Granito Flores (EAGF), entre os municípios de Angicos e Afonso Bezerra; o sítio arqueológico a céu aberto, e, nesse primeiro momento, em superfície, denominado Sítio Arqueológico Gado Perdido, localizado cerca de 30 km de distância do EAGF, está localizado no município de Santana do Matos. No que diz respeito a análise dos materiais líticos, está sendo utilizado uma análise tecnológica, procurando tanto nos produtos finais (instrumentos) como nas lascas, núcleos e suportes, as intenções dos artesãos na fabricação dos instrumentos. Dessa forma, será apresentado as primeiras perspectivas acerca dessa indústria lítica, afim de discutir possibilidades e caminhos que caracterizem esses materiais, baseando-se principalmente na ideia de uma antropologia das técnicas.

ST: Dinâmicas das paisagens na Amazônia Pré-Colombiana: abordagens interdisciplinares

Coordenadoras: Daiana Travassos Alves (University of Exeter), Denise Pahl Schaan (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

Proposta: O emprego combinado de métodos da arqueobotânica, arqueologia, etnobotânica, paleoecologia, geografia e ciências do solo orientados pela perspectiva de co-produção do ambiente amazônico por elementos antropogênicos e ecológicos tem permitido uma melhor compreensão de temas como usos da terra, domesticação de plantas, atividades agrícolas, sistemas de subsistência, transformações da paisagem e biodiversidade, dentre outros. Portanto, este simpósio tem como objetivo reunir estudiosos das diferentes disciplinas que investigam os impactos das atividades

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humanas pretéritas na construção das paisagens Amazônicas para debater e compartilhar metodologias e resultados concernentes à essa temática.

Apresentações:

A ecologia histórica e os compromissos com o futuro

Denise Pahl Schaan (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

A ecologia histórica é um programa de pesquisa que busca integrar diversas perspectivas das ciências humanas e naturais de forma a melhor entender a história das paisagens modificadas e vividas pelas sociedades humanas. Pesquisas em ecologia histórica são construídas a partir de diversos tipos de conhecimento, incluindo a participação do público, não apenas para resolver problemas científicos, mas também para responder a problemas sociais e políticos. A arqueologia tem um papel importante na produção de conhecimento sobre o uso das paisagens através de longos períodos de tempo e pode contribuir significativamente para informar políticas públicas para melhor planejar o futuro. Apoiando-se em exemplos amazônicos, esse trabalho busca mostrar as possibilidades desse tipo de abordagem e inclui considerações sobre a atuação da rede IHOPE-The Integrated History and Future of People on Earth.

Análise espacial dos Recintos Geométricos do leste da Amazônia Ocidental – uso e aplicabilidade do geoprocessamento

Antonia Damasceno Barbosa (Universidade Federal do Pará)

Foi realizada uma análise espacial com um universo de 419 recintos geométricos localizados no leste do estado do Acre, utilizando ferramentas de geoprocessamento e considerando fatores ambientais e culturais que poderiam ter influenciado nas decisões de grupos sociais quanto ao local de construção e forma desses sítios arqueológicos. O estudo apontou que técnicas construtivas padronizadas foram utilizadas na construção dos recintos e que sua localização levava em conta proximidade de fontes de água, tipos de solo e altitude. Além disso, características morfológicas estavam associadas a tamanho e localização. Desta forma o uso e aplicabilidade do geoprocessamento na arqueologia possibilita uma análise das características espaciais dos sítios arqueológicos, de forma a conhecer as combinações de variáveis culturais e naturais que determinam a localização de um sítio arqueológico.

As paisagens culturais de Carajás (PA)

Marcos Pereira Magalhães (MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI - SETOR DE ARQUEOLOGIA), Renata Rodrigues Maia (Universidade Federal de Minas Gerais)

A ocupação humana na Amazônia, além de muito recuada no tempo, também exerceu forte influência sobre o meio. Esta influência foi movida pela seleção cultural de espécies e pela disperção delas no entorno dos locais de assentamento, fossem eles sazonais ou permanentes. Em Carajás encontramos diversas evidências arqueológicas e botânicas dessa influência, respectivamente, em níveis com datação de milhares de anos e na cobertura vegetal atual.

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Atividade tarde Pre-Columbian Fogo no Baixo Amazonas

Shira Yoshimi Maezumi (University of Exeter)

A Amazônia é um importante reservatório de biodiversidade que tem sido influenciado por actividades antropogénicas por milênios. Compreender a resiliência das florestas amazônicas para perturbações antropogénicas é fundamental para tomar decisões políticas informadas sobre os futuros sustentáveis para florestas amazônicas. Esta pesquisa investiga o uso pré-colombiano (3000-1492 dC) da terra em paisagens amazônicas perto da confluência dos rios Tapajós e Amazonas, uma região outrora ocupada pela capital do cacicado Tapajós (ca. 1000-1600 dC). Esta área apresenta grande heterogeneidade de habitats resultando em uma gama diversificada de comunidades vegetais. Existem> 100 sítios de Terra Preta de Índio documentados em um raio de 30 km evidenciando perturbações antropogénicas de alta densidade através de um ecótono floresta-savanna. Núcleos de sedimentos foram coletados para análise de carvão em dois lagos: Lago Jacaré e Lago Caranas. A reconstrução das atividade de queima nas florestas tropicais úmidas sugere que presença de fogo é atribuída a perturbação humana. Comparações de registros de carvão regionais do banco de dados global de carvão vegetal (GCD) sugere que locais de ecossistemas florestais contrastam a partir de registros de carvão vegetal dos ecossistemas florestais sazonalmente secos. A heterogeneidade de habitats na região sugere um potencial legado de assentamentos pré-históricos de alta densidade. Os resultados preliminares sugerem várias hipóteses de trabalho: em primeiro lugar, os sítios arqueológicos de alta densidade correspondem a alta heterogeneidade de habitats e regime de fogo. Em segundo lugar, os registros de carvão sub-centenário do Lago Jacaré e Lago Caranas seguem padrões semelhantes de queima de biomassa regional. Em terceiro lugar, a densidade sítio arqueológico pode criar um legado de longo prazo que devem ser considerados ao gerenciar a atividade de fogo moderno em vários tipos de habitat na Amazônia.

Diário de campo: Métodos do Levantamento Arqueológico realizado na Alta Flona-Tapajós em 2014

Camila Guarim Figueiredo (Universidade de Toronto)

O intuito dessa apresentação é mostrar como que o uso de diversos métodos durante o levantamento de campo, enfatizando a colaboração com as comunidades tradicionais nessa etapa, contribuiu para uma melhor entendimento das mudanças e construções das paisagens causadas pelos habitantes do passado, e do presente, ao longo dos anos; para o planejamento de futuros trabalhos arqueológicos e de futuras oficinas de devolução de dados para as comunidades locais. Mais especificamente, iremos discutir os métodos utilizados e os resultado da prospecções arqueológicas realizadas no ano de 2014 em três sítios pré-coloniais localizados na Flona-Tapajós, Santarém, PA: Serra do Jamaraquá 1, Serra do Jamaraquá 2 e Piquiatuba. Nos dois primeiros sítios localizados no planalto os fragmentos cerâmicos encontrados pertencem à fase Santarém. No sítio Piquiatuba localizado próximo a margem do rio Tapajós, a maioria dos fragmentos assemelham-se com a tradição Borda Incisa (Gomes 2005, 2008), notando que também foram encontrados fragmentos de cerâmica de estilo Konduri e Santarém, além de um número significativo de artefatos de pedra polida e lascada. Em última instância, essa apresentação pretende mostrar que métodos de arqueologia colaborativa (e.g. Beale 2012; Gomes 2006) associados a métodos mais tradicionais de prospecção (Banning 2002) não apenas contribuem para a localização e mapeamento preliminar de um número maior de sítio arqueológicos e modificações de paisagens, mas também contribuem para a construção do conhecimento arqueológico e para o engajamento do pesquisadores com a comunidade local e da mesma com o projeto arqueológico.

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Escalas de impacto antrópico nas paisagems dos geoglifos, Acre, Brasil

Jennifer Watling (Universidade de São Paulo), Denise Pahl Schaan (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

Um debate que tem recebido muita atenção nos últimos anos é a maneira e a escala de impacto antrópico pre-Colombino nas terras baixas amazônicas, rejeitando, há muito tempo, a noção de Amazônia como ‘natureza intocada’. Este impacto tem sido percebido em escalas diferentes nas diversas regiões amazônicas, e pesquisas recentes na amazônia ocidental apontam para uma uma escala menor e de modo mais esporádico do que aqueles observados nas regiões central e oriental, sugerindo que a região sustentou populações esparsas no passado. O descobrimento de mais de 400 geoglifos no estado do Acre, até recentamente encobertos pela floresta tropical, tem levantado questões importantes sobre as sociedades que os construíram e os impactos gerados nas paisagens de terra firme. Tais contextos oferecem uma grande oportunidade de contribuição para a reconstrução de interações homem-ambiente. Focados nesta reconstrução, realizamos as primeiras investigações a partir da análise paleoambiental de perfis de solo da região. A partir dos dados obtidos apresentamos os possíveis cenários de transformação da paisagem, suas diversas escalas de impacto e relações crono-espaciais. Estes dados, também apontam para a necessidade de reconsiderarmos o como ‘medir escalas’ de impacto na Amazônia, além de demonstrar que uma melhor compreensão da diversidade de interções homem-ambiente exige o estudo combinado de proxies arqueológicos e paleoambientais.

Feições que ficam no solo: paisagens subterrâneas no sítio Porto de Santarém, Baixo Amazonas

Tallyta Suenny Araujo da Silva (UFMG), Anna Barbara Cardoso da Silva (Universidade Federal do Pará)

A ocupação tapajônica na área onde se localiza atualmente o município de Santarém produziu várias transformações na paisagem deixando vestígios da presença humana no local. Algumas dessas transformações são percebidas por meio de feições arqueológicas, com tipos de materiais e funcionalidades variadas. A composição dessas feições ajudam a inferir os tipos de atividades desenvolvidos em cada espaço ocupado e os impactos causadas pelas mesmas na constituição da paisagem do baixo tapajós. Um tipo de estrutura encontrada é denominada de bolsão, que corresponde a cavidades cheias de húmus e alta densidade de material arqueológico. Esses bolsões se destacam na estratigrafia do restante do solo por sua coloração mais escura, além dessa mudança na paisagem abaixo do espaço habitado pelos tapajó, a existência dos bolsões também fomenta outros questionamentos sobre a paisagem visível: eles seriam cobertos logo depois que o material era depositado? Considerando a proximidade entre três dos bolsões da área analisada e a ausência de sobreposição, eles ficariam por algum tempo abertos ou estariam demarcados? Considerando todas esses questionamentos, essa pesquisa tem como problemática a investigação dos tipos de feições identificadas no sítio Porto de Santarém (PA-ST-42), focalizando especialmente os bolsões encontrados em uma das áreas escavadas.

Integrando análises de fitólitos aos estudos dos sambaquis do Monte Castelo (RO) e do Tucumã (PA), a fim de determinar o manejo de espécies vegetais.

Lautaro Maximilian Hilbert (UNIVERSITY OF EXETER)

O trabalho tem como objetivo interpretar os vestígios microbotânicos (fitólitos) dos Sambaquis do Monte Castelo (base da ocupação 9343 calB.P) em Rondônia e do Tucumã (presumido ter entre 7.000 -4.000 B.P) no Pará, os quais se destacam não somente como possíveis centros de domesticação de plantas como a mandioca (Manihot esculenta) e pupunha (Bactris gasipaes), mas

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também por sua cronologia ocupacional que engloba o Holoceno Inicial e Medio. Resultados preliminares do sitio Monte Castelo apresentam notavelmente microvestigios de abóbora (Cucúrbita sp.), milho (Zea mays) e arroz selvagem (Oryzeae) evidenciando o acesso dos sambaquieiros a plantas originárias de outras regiões do continente e apontando para a possibilidade de um manejo incipiente de plantas na área. Dados posteriores poderão ser mais elucidativos quanto à essa possibilidade.

Late Holocene climate change and Guarani spread in south-eastern South America

Jose Iriarte (Department of Archaeology, University of Exeter)

The dispersal of agriculturalists is arguably the most important process in Holocene human history. The investigation of past population expansions and its correlation with existing distribution of archaeological sites, contemporary languages and human population genetics is one of the most controversial topics in linguistics, archaeology and human genetics in lowland South America. The expansion of the archeologically-defined TupiGuarani Tradition along some 5,000 kilometers of the Atlantic coast and through the major rivers in the hinterland during the Late Holocene represents one of the major migration processes taking place in the lowlands of South America during the Late Holocene. However, until now the correlation of the dispersion of this linguistic family and climate changes has not been explored. In this paper, we tested the hypothesis that a more humid Late Holocene climate caused the expansion of tropical forest in southern Amazonia, which in turn, facilitated, along with other social factors, the expansion of the TupiGuarani from SW Amazonia enabling them to practice tropical forest agriculture and allowing them to move more freely through the Rio de la Plata waterways. Archaeological and paleoclimatic data are presented to discuss this hypothesis.

Manejo de plantas no Baixo Tapajós (1610 BC to 1500 AD) sob uma abordagem arqueobotânica

Daiana Travassos Alves (University of Exeter)

Os solos de Terra Preta são reconhecidamente um dos mais marcantes traços da transformação humana da paisagem amazônica. No Baixo Tapajós as áreas de Terra Preta comumente estão associadas à cerâmica Tapajó e posicionadas em diferentes zonas ecológicas i.e. várzea, terra firme e topo de montanha. Meu objeto de pesquisa é o manejo de recursos vegetais nessas diferentes zonas e sua relação com a formação dos solos antropogênicos, a partir de uma abordagem arqueobotânica.

Terra Preta de Índio em Território Quilombola: um estudo dos padrões de assentamentos – estudando o passado, entendendo o presente

Lilian Rebellato (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ), Aldo Luciano Corrêa de Lima (UFOPA), Murilo Barbosa Bento (Universidade Federal do Oeste do Pará)

Este trabalho versa sobre os estudos de terras pretas de índio em uma região localizada próxima à área de confluência dos rios Amazonas e Tapajós, PA. O principal objetivo é entender o processo de formação dos sítios arqueológicos do Lago do Maicá, Santarém – PA. Como objetivos específicos procura-se entender as distintas ocupações através do tempo, a formação de solos antropicamente alterados por populações pré-coloniais e o atual uso desse solo pelas comunidades quilombolas. Através da química e física do solo de terra preta, busca-se entender as atividades e processos que levaram a geração desses solos, que são considerados um dos mais férteis do mundo. Pretende-se também trabalhar com a classificação e interpretação dos solos de terra preta pelos atuais

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quilombolas, estendendo também para abordagem etnopedológica. Como resultado, busca-se interpretar as novas classificações e usos dos solos pelas comunidades, correlacionando atividades agrícolas levadas a cabo na atualidade com possíveis usos para produção de alimentos no passado.

ST: Estudos de Cultura Material na Amazônia: questões espaciais e simbólicas

Coordenadora: Denise Maria Cavalcante Gomes (Museu Nacional - UFRJ)

Proposta: As sociedades complexas da Amazônia e suas expressões materiais por várias décadas dominaram os debates sobre a arqueologia da região. Embora as reflexões sobre a organização social e as instituições políticas não tenham sido abandonadas, observa-se uma guinada em direção a temas que indicam uma preocupação em definir a essência dessas sociedades pré-coloniais do passado e não simplesmente em rotulá-las como complexas ou simples. Estudos voltados à compreensão do espaço interno dos sítios e de suas atividades, além da construção da paisagem regional, muitas vezes estão articulados a questões simbólicas. Esse é um reflexo das contribuições no campo da antropologia social relativas ao debate ontológico, cujas influências no âmbito da arqueologia se fazem sentir tanto nos estudos de cultura material quanto no que se refere à compreensão da paisagem como um cenário de interações entre seres humanos e não humanos. O presente simpósio explora tais conexões. As apresentações são relativas ao Alto Madeira, ao Baixo Tapajós e à Baixada Maranhense e se organizam em torno de dois grandes eixos: as análises intra-sítio e os levantamentos regionais.

Apresentações:

A Multifuncionalidade da cerâmica no espaço do sítio Ilha Dionísio

Angislaine Freitas Costa (Museu Nacional/UFRJ)

Este trabalho pretende apresentar dados que contribuem para o entendimento das diferentes áreas de atividades (domésticas e cerimoniais) e da multifuncionalidade da cerâmica no sítio Ilha Dionísio, implantado em uma ilha fluvial no rio Madeira junto à foz do rio Jaci-Paraná, afluente da margem direita, a 80 km da cidade de Porto Velho. O sítio apresentou uma dispersão de vestígios arqueológicos que configurou uma morfologia semi-circular, dispersa em uma área de 640 x 320 m (20,4 ha). Foram evidenciadas duas camadas arqueológicas, a primeira ocupação mais tardia é definida por baixa densidade de material arqueológico (cerâmica bastante fragmentada com pasta escura) e a segunda mais recente, densamente ocupada (cerâmica com pasta clara) é caracterizada por um contexto de uma provável área de habitação e duas áreas funerárias/cerimoniais localizadas nas extremidades norte e sul do sítio com vasilhas inteiras e semi-inteiras, sendo esta última área próxima a pedrais com figuras rupestres. A partir de uma abordagem contextual, o material cerâmico foi analisado com a adoção de categorias tecnofuncionais baseadas em critérios etnográficos que permitiram por meio de variáveis morfológicas e de estudos sobre alteração de uso predizer suas funções, demonstrando a ocorrência de vasilhas provavelmente utilizadas para cocção, armazenamento, processamento e serviço, mas que posteriormente foram usadas em contexto cerimonial. Desta forma a análise funcional das vasilhas abre possibilidades para inferir no espaço do sítio as áreas onde as pessoas estavam morando (cozinhando e processando alimentos) e enterrando seus mortos, considerando a história de vida dos artefatos até o seu descarte.

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As estearias do Maranhão: novos enfoques

Alexandre Guida Navarro (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)

As estearias foram moradias lacustres construídas com esteios de madeira que serviam de sustentação para as construções superiores, dando origem, assim, às palafitas pré-históricas. Estão situadas na Baixada Maranhense, uma microrregião situada a oeste e sudeste da ilha do Maranhão, compreende uma área de aproximadamente 20 mil km2 dentro da Amazônia Legal, sendo uma região que conta com mais de 500 mil habitantes (censo IBGE 2006). As estearias estão localizadas ao longo dos diversos lagos que se caracterizam pela formação de um sistema hídrico composto de rios, campos inundáveis e lagos de variados tamanhos que se definem pela sazonalidade do clima (as inundações ocorrem no primeiro semestre de cada ano). O objetivo principal do projeto que desenvolvemos é a confecção de uma carta arqueológica, com a indicação dos sítios arqueológicos catalogados ao longo da pesquisa. Como marco teórico utilizamos conceitos de análise espacial elaborados por Ian Hodder, dando ênfase aos aspectos de presença/ausência de elementos espaciais nos sítios, além de definir as fronteiras espaciais entre estes sítios. Nesta apresentação evidenciaremos o mapeamento de alguns sítios com o GPS e GIS (Geographical Information System), um deles de grandes proporções, chegando a 13 hectares de tamanho. Apresentar-se-ão, também, as características gerais das coleções cerâmicas, enfatizando a presença de apliques zoomorfos, as estatuetas e a descrição do muiraquitã encontrado nos trabalhos de campo, que vêm sendo estudados sob uma abordagem dos conceitos de agência e perspectivismo ameríndio (Gell e Viveiros de Castro).

As Grandes Aldeias Pré-Coloniais Amazônicas: o exemplo de Santarém

Denise Maria Cavalcante Gomes (Museu Nacional - UFRJ)

Na década de 1990 com a revalorização dos relatos etno-históricos na Amazônia sobre o período do contato as hipóteses sobre a existência de sociedades complexas hierarquizadas e centralizadas se valiam de inúmeras referências sobre grandes densidades populacionais, em especial aldeias que poderiam ser consideradas cidades. Essas possuíam um correlato arqueológico – os grandes sítios de terra preta, alguns com uma extensão de até 4 ou 5 km. Meggers (1990) contestava a existência destes, alegando que haviam se formado por meio de inúmeras reocupações. Ao mesmo tempo em que a autora aponta a necessidade de se realizar trabalhos detalhados de delimitação do espaço interno desses sítios, dados ora disponíveis sugerem diferentes configurações. Essa apresentação, baseada numa pesquisa interdisciplinar sobre os sistemas cosmológicos pré-coloniais amazônicos e suas correlações com as esferas de poder político, expõe os resultados dos trabalhos de delimitação e escavação arqueológica realizados na área urbana de Santarém, PA, revelando sua composição, cronologia e conteúdo: lixeiras associadas a ocupações domésticas, bolsões cerimoniais e micro vestígios decorrentes de atividades de caça e pesca.

Diacronia e espaço doméstico no sítio Laranjal do Jari 01: um assentamento associado às cerâmicas Jari e Koriabo (670 a 1450 AD), sul do Amapá.

Bruno de Souza Barreto (Universidade Federal de Sergipe)

Na pré-história das Guianas, a cerâmica Koriabo fornece diversas lacunas à arqueologia da região e suscita controvérsias relacionadas à sua origem, cronologia e afiliação cultural. A grande maioria das pesquisas realizadas até o final dos anos 1990 privilegiaram abordagens generalizantes e explicaram toda uma região a partir de pequenos cortes estratigráficos, sem muitas investigações aprofundadas dos contextos locais; além de utilizar a cerâmica como principal elemento

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diagnóstico. Por outro lado, acredito que uma outra abordagem voltada para o estudo sistêmico do espaço intra-sítio, e suas relações com as demais tecnologias, é um dos caminhos para contribuir com esta discussão para além de questões histórico-culturais. De forma a atender isso, apresento nesta comunicação os resultados finais da pesquisa de mestrado no sítio arqueológico Laranjal do Jari 01, um assentamento à céu aberto situado no baixo rio Jari que possui cerâmica vinculada à Fase Koriabo. Este sítio foi resgatado pelo Núcleo de Pesquisa Arqueológica do IEPA, através de duas campanhas de arqueologia preventiva para construção de uma escola técnica federal. Como o sítio foi escavado em áreas amplas, permitindo a identificação e registro de diversas estruturas arqueológicas, a abordagem realizada privilegiou a articulação de dados qualitativos das tecnologias cerâmica e lítica com as informações contextuais da análise espacial e de onze datas radiocarbônicas, no intuito de evidenciar os aspectos sincrônicos (cotidiano) e diacrônicos (cronologia) do assentamento. A distribuição espacial das diversas estruturas arqueológicas foi tomada como uma totalidade integrada, que só possui sentido pela relação entre elas e em contexto com outras classes de vestígios. Os resultados alcançados atestaram a existência de dois horizontes culturais distintos, observados através das diferenças na tecnologia cerâmica, no tamanho e organização espacial das estruturas habitacionais e na cronologia absoluta obtida.

Distribuição Espacial de Sítios Arqueológicos com Terras Pretas: analisando correlações e produzindo modelos preditivos de ocupações tardias no Baixo Amazonas, Santarém, PA.

Lilian Rebellato (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ), Edvaldo Pereira (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ), Hudson Romário Melo de Jesus (UFOPA), Majd Nidal Aboul Hosn (Universidade Federal do Oeste do Pará)

O significado da distribuição geográfica das terras pretas na Amazônia apresenta lacunas interpretativas que revelem as dinâmicas e padrões de assentamentos das sociedades pré-coloniais, sua temporalidade e formas de manejo da paisagem. A exemplo de pesquisas recentes que apontam para um padrão urbano de distribuição de sítios no Alto Xingu, com pequenas vilas satélites interconectadas por estradas a um centro mais populoso, a região de Santarém (PA) apresenta uma densa distribuição de terras pretas com inserções bastante heterogêneas na paisagem, com grande variação, tanto intra com inter-sítios. Essas características de distribuição de sítios na área fazem da construção de um modelo preditivo/ interpretativo do padrão de ocupação e sua interação regional um complexo problema metodológico e analítico. Localizados em topos de colinas, próximo aos rios e igarapés, e em platôs, a diversidade geográfica da presença desses solos antrópicos através da paisagem pode ser relacionada a uma longa cronologia de ocupação, bem como derivada de um incremento na densidade populacional e complexificação social. Serão apresentados dados relativos a localização espacial dos sítios e sua áreas de possíveis localizações de acordo com modelos preditivos.

Espaços domésticos e a classificação da cerâmica Jatuarana

Cliverson Gilvan Pessoa da Silva (Universidade Federal do Pará)

No alto rio Madeira, sítios com ocupações ceramistas têm sido reclassificados, onde se observa que a cerâmica da Tradição Policroma da Amazônia, denominadas regionalmente como Subtradição Jatuarana, ocorre no topo dessas ocupações sendo a manifestação mais recente ao longo de 3 mil anos de história de grupos ceramistas. A jusante da cachoeira de Santo Antônio, na margem esquerda do rio Madeira, foi escavado o sítio Novo Engenho Velho no âmbito do projeto Arqueologia Preventiva nas áreas de Intervenção da UHE Santo Antônio, RO. O sítio está implantado em um terraço fluvial com visibilidade para o rio Madeira e revelou a existência de montículos que continham vestígios arqueológicos distribuídos ao redor de uma área plana. Os processos deposicionais, a distribuição dos montículos ao redor de uma área central e a ideia de que esse sítio

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representa uma aldeia, portanto, uma única ocupação, tornou o seu registro um importante componente para o enfoque da arqueologia das atividades domésticas e para aproximação de padrões etnográficos encontrados na região, especialmente porque a única datação dessa ocupação não tem muita profundidade temporal (490 ± 50 BP). A aplicação da classificação estrutural sobre os vestígios cerâmicos demandou a reconstituição hipotética das vasilhas cerâmicas desse sítio as quais serviram para contribuir na classificação da Subtradição Jatuarana. A análise da cerâmica mostrou um padrão rígido da produção dessas vasilhas (onze modos), sendo que a variabilidade verificada pode ser atribuída a diferentes atividades funcionais. Ao fim, quando se conjuga a análise desse contexto com a cerâmica, aumentam as possibilidades de apontar como o espaço foi utilizado observando a distribuição dos artefatos nas dimensões espaciais.

Paisagens Diferentes e Complementares: Um estudo de caso na Alta Flona-Tapajós

Camila Guarim Figueiredo (Universidade de Toronto)

O objetivo desta apresentação é contribuir para o debate em curso sobre o impacto das sociedades humanas na formação das paisagens na Amazônia. Paisagens, neste caso, resultam da ação humana e de mudanças ambientais ao longo do tempo, fornecendo um conjunto de dados fundamentais para a compreensão das práticas sociais de uma forma historicamente particular (Balée 1998, 2006; Bowser e Zedeño 2009; Erickson 2003; Ingold 1993 de 2000). Nesta apresentação pretendemos enfatizar a importância de padrões de assentamento de sítios pré-coloniais localizados na Flona-Tapajós, Santarém, PA. Os resultados de um levantamento realizado em seis comunidades serão apresentados, com ênfase na análise espacial com uso do SIG e na identificação dos complexos cerâmicos. A maioria dos 12 sítios mapeados apresentou fragmentos cerâmicos típicos da fase Santarém. Entretanto, em dois sítios próximos ao rio Tapajós a cerâmica de estilo Konduri foi encontrada. Em outro sítio, a maioria dos fragmentos pertence à tradição Borda Incisa, semelhante ao que ocorre na comunidade de Parauá, localizada na margem oposta do rio (Gomes 2005, 2008). Além disso, caminhos de índios que ligam o planalto à região ribeirinha sugerem que os sítios arqueológicos localizados em diferentes tipos de paisagem são complementares. Alguns sítios no planalto estão localizados em posição estratégica, com grande visibilidade, o que sugere uma função defensiva. A presença da árvore samaúma em alguns sítios, considerada sagrada por determinados grupos indígenas, pode indicar um uso simbólico desses locais. Em última análise, esta apresentação oferece uma contribuição à teoria arqueológica uma vez que associa abordagens sobre a paisagem à ecologia histórica, a qual tem sido percebida como o resultado da interação entre entidades humanas e não-humanas (Walker 2012), continuamente modificada ao longo do tempo incorporando a história dos grupos humanos.

ST: Geoarqueologia

Coordenadora: Rosicler Theodoro da Silva (Instituto Goiano de Pre-Historia e Antropologia - IGPA/UCG)

Proposta: A abordagem geoarqueológica tem aumentado na arqueologia brasileira e sul-americana. Nos últimos eventos científicos e nos congressos da Sociedade de Arqueologia Brasileira o tema possibilitou a apresentação e discussão de trabalhos abordando temáticas como geoarqueologia, terras pretas arqueológicas, dinâmica superficial e costeira, além de apresentações em outras mesas temáticas, reforçando a importância da abordagem geoarqueológica no contexto da pesquisa arqueológica. A partir da criação do Grupo de Estudos Geoarqueológicos da América Latina (GEGAL) em 2012, durante a realização do VI Reunião de Teoria Arqueológica da América do Sul, em Goiânia, as pesquisas geoarqueológicas têm proporcionado reuniões/encontros entre profissionais de toda a America Latina e publicação de livros sobre o assunto e incrementado ainda mais inúmeras discussões.

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O Simpósio tem como objetivo criar um espaço de discussão sobre a utilização da Geoarqueologia na pesquisa arqueológica em todas as regiões brasileiras a partir dos trabalhos de pesquisadores de diferentes instituições nacionais e internacionais.

Apresentações:

Aluviões, cinzas de fogueiras e regolitos nos abrigos do Brasil central: estudo geoarqueológico e experimental sobre o papel dos "lagoassantenses" na sedimentação holocênica da Lapa do Niáctor

André Prous (MUSEU DE HISTORIA NATURAL DA UFMG - SETOR DE ARQUEOLOGIA), Leandro Vieira da Silva (USP)

A comunicação tem por objetivo expor os resultados quantitativos sobre o grau de impacto da ação antrópica no registro arqueossedimentar e, a partir deles apresentar uma tentativa de interpretação sobre a ocupação humana pré-histórica no contexto do Brasil Central. A Lapa do Niáctor, também, conhecida como Lapa Grande do Taquaraçu, localiza-se no município de Jaboticatubas, região cárstica de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Trata-se de um abrigo sob rocha que foi frequentado por populações caçadoras-coletoras entre 9.900 a 8.010 BP. A pesquisa partiu, primeiramente, da identificação da composição material que forma a matriz sedimentar, para a qual foram apontadas três possibilidades para explicar sua gênese. Com a aplicação da Mineralogia e da Micromorfologia identificou-se uma significativa participação antrópica no registro sedimentar, oferecendo, subsequentemente, a oportunidade da realização de fogueiras experimentais, bem como a observação direta de uma fogueira de significativa proporções, que terminaram por oferecer elementos quantitativos que foram fundamentais para a discussão e consequente interpretação sobre a dinâmica e a funcionalidade daquele abrigo na pré-história. Assim, os resultados obtidos apontaram para o entendimento de que o abrigo poderia ter desempenhado como um local de ocupação humana bastante esporádica e sazonal. A metodologia de trabalho empregada se demonstrou viável na aplicação em contextos arqueológicos semelhantes, tanto para o exame de questões ligadas à identificação sedimentológica, como para o uso de espaços abrigados.

Arqueologia da paisagem: proposta geoambiental para os padrões de assentamentos no Enclave Arqueológico Granito Flores, microrregião de Angicos (RN)

Valdeci dos Santos Júnior (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN)

O trabalho tem como objetivo evidenciar os resultados alcançados por meio de pesquisas acadêmicas de campo e em laboratório que permitiram efetuar inferências arqueológicas sobre critérios de escolhas geoambientais, além de conhecer o cotidiano e a dinâmica cultural, de grupos pré-históricos que ocuparam, durante mais de quatro milênios, o Enclave Arqueológico Granito Flores (EAGF), localizado na microrregião de Angicos, Estado do Rio Grande do Norte. Para auxiliar no entendimento dos critérios de escolhas, a análise buscou caracterizar os padrões de assentamentos pretéritos da área direta e indireta do EAGF pela perspectiva da arqueologia da paisagem. Para tanto, foram adotados procedimentos metodológicos procedentes da geoarqueologia, tais como elaboração de mapas de análise geoambiental com a inserção dos padrões de assentamentos identificados por meio dos lugares arqueológicos, escavações em abrigos rochosos, coletas em tanques naturais e métodos arqueométricos. A partir da análise espacial da distribuição dos padrões de assentamentos humanos, tipologia, localização e gênese de formação dos vestígios arqueológicos nesses locais, foi possível sugerir um modelo hipotético interpretativo de ocupação pré-histórica da área, onde fatores geoambientais, principalmente

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presença da água em tanques naturais, existência de abrigos rochosos e fontes de matéria-prima próximas para produção lítica, tiveram influência determinante nas escolhas.

Assinaturas geoquímicas identificadoras de padrão de assentamentos pré-históricos em sítios com TPA e TMA no Baixo Amazonas Jucilene Amorim Costaa, Marcondes Lima da Costaa & Dirse Clara Kernb

Jucilene Amorim Costa (Universidade Federal do Amapá)

Os solos tipo Terra Preta Arqueológica (TPA) e Terra Mulata (TMA) em Juruti, no Baixo Amazonas, ocupam extensas áreas, em região de domínio de Latossolos Amarelos. Enquanto os solos TPA apresentam coloração escura e elevado conteúdo em fragmentos cerâmicos (FC), os TMA são escuros, mas são desprovidos de FC. Análises químicas multi-elementares de amostras de solos TPA e TMA do nível 10-20 cm (horizonte A2) mostram que os solos TPA se destacam pelos teores mais elevados de P2O5, CaO, K2O, MgO, Cu, Mn e Zn, enquanto os TMA pelos valores medianos e os Latossolos adjacentes pelos valores mais baixos. Esses elementos químicos constituem a assinatura geoquímica destes solos, enquanto os elementos Al2O3, Fe2O3, TiO2, Cr, Sr, La, Li, Ni, Pb, V, Y e Zr a assinatura geoquímica dos Latossolos, que pode ser identificada ainda nas TPA e TMA. Os mapas de isoteores dos elementos das duas associações geoquímicas permitiram delimitar as áreas de TPA como de ocupação permanente, a TMA como temporária, possivelmente associada à atividade agrícola. Sete aldeias foram delimitadas, agrupadas em dois núcleos principais, separadas por corredores. As aldeias se instalaram as margens do rio, e ao fundo, quase paralelo ao rio, as áreas de cultivos, foram temporariamente ocupadas. A identificação de padrões funcionais a partir de associações geoquímicas e do mapa de FC, além do conteúdo de MO revelaram que a área de ocupação se estendeu por mais de 350 ha. A assinatura geoquímica P2O5-CaO-MgO-Na2O-K2O-Zn-Cu-Mn-Ba-Sr-Li-Ni que traduz como resultante da ação humana permanente sobre os Latossolos Amarelos.

Bacia Fluvial Quaternária do Bananal Sob a Perspectiva Arqueológica

Julio Cezar Rubin de Rubin (Pontifícia Universidade Católica de Goiás), Maira Barberi (Pontifícia Universidade Católica de Goiás), Cidney Rodrigues Valente (Instituto Federal de Goiás)

A arqueologia do Planalto Central Brasileiro apresenta poucas informações em relação à ocupação da área para o final do Pleistoceno e o início do Holoceno. Destacam-se as pesquisas realizadas em Santa Elina, no Abrigo-do-Sol e em Serranópolis. Algumas áreas apresentam grande potencialidade em relação a esta questão, dentre elas a Bacia Fluvial Quaternária do Bananal (BFQB), bacia intracratônica que faz parte da Bacia do Araguaia (médio Araguaia), resultante de processos denudacionais e que abrange uma área de aproximadamente 106.000km2. Ao norte da bacia ocorre a Ilha do Bananal que ocupa uma área de 20.000Km2. Na BFQB ocorrem unidades deposicionais inseridas no Pleistoceno Médio (240.000 +/- 29.000 e 159.600 +/-18.542 anos Antes do Presente), no Pleistoceno Superior (121.000 +/-15.000 e 17.200 +/- 2.300 anos AP) e no Holoceno (9.800 +/- 1.100 anos AP). Estas unidades apresentam registros de mudanças paleohidrológicas e paleoclimáticas. Também significativo para a arqueologia são as datações obtidas em sedimentos da Formação Araguaia que indicam que a BFQB foi objeto de alterações no padrão fluvial em tempos recentes, mais precisamente durante o Pleniglacial médio (56.600 +/- 5.900 e 34.000 +/- 4.600 anos AP) e no Pleniglacial superior (26.400 +/- 3.100 e 17.200 +/- 2.300 anos AP). Uma sondagem realizada na década de 1970 evidenciou uma espessura de 47.9 metros para a Formação Araguaia. As informações referentes à BFQB apresentam uma significância científica para a arqueologia da região, quando analisados principalmente aspectos como a distribuição espacial, a espessura do pacote deposicional e a cronologia já conhecida. Diante disso, consideramos oportuno retomar esta

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questão, dando continuidade as discussões que vêm sendo desenvolvidas principalmente nos últimos anos, visando a integração de pesquisadores das diversas instituições nacionais e internacionais interessadas no tema, voltados principalmente para a Arqueologia e para a Geologia do Quaternário.

Carta arqueológica do Rio Grande do Sul: Mapeando o patrimônio arqueológico do estado

Alexandre Pena Matos (Pontifícia Universidade Católica - PUCRS), Daniely Alves Machado (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Jeaniny Silva dos Santos (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Carlos Eduardo Ferreira Melchiades (IAB)

O objetivo desta comunicação é divulgar os projetos e pesquisas do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas/MCT/PUCRS, desenvolvidos no Estado do Rio Grande do Sul. Através de parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN do Estado, o Laboratório de Arqueologia está mapeando os sítios, e nesse primeiro momento, a região do Litoral Norte do Estado. A concretização de um mapeamento do patrimônio pré-histórico do Rio Grande do Sul através da elaboração de uma Carta Arqueológica da região consiste em uma ação estratégica ampla, condizente com as propostas dos diversos Centros de Estudos de Arqueologia do estado e do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A Carta Arqueológica do Rio Grande do Sul se apresentará como uma ferramenta de trabalho capaz de auxiliar os mais diferentes setores da nossa sociedade, assim como pretende consolidar mecanismos de capacitação para especialistas em Arqueologia. Trata-se de uma tendência da Arqueologia moderna preocupar-se com o inventário dos sítios arqueológicos e é importante lembrar que nos últimos trinta anos não foram poucos os documentos internacionais que recomendaram, entre outros aspectos, a necessidade de se conhecer o potencial patrimonial de cada país, a fim de se poder definir as medidas adequadas para a sua proteção. O objetivo de nosso trabalho é apresentar a pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Pesquisas Arqueológicas da PUCRS, que visa a criação da Carta Arqueológica dos sítios pré-históricos do Rio Grande do Sul, servindo como ferramenta para se conhecer e garantir a proteção e a gestão do patrimônio cultural arqueológico no estado do Rio Grande do Sul.

Discussão sobre a classificação geológica dos artefatos líticos polidos na pré-história do Rio Grande do Norte

Roberto Airon Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Orlando Augusto de Figueiredo Filho (UFRN)

A quantidade de artefatos líticos polidos encontrados até agora em sítios arqueológicos pré-históricos no Rio Grande do Norte pode chegar a alguns milhares. E, a consulta aos trabalhos que abordam este tema tem sugerido o uso de rochas escuras, muito pesadas e resistentes ao choque (resistência à compressão simples), como as preferidas, seguidas de rochas pesadas e claras, que também são resistentes ao choque. Isto por si só já seria um critério de escolha quanto ao tipo de rocha desejado. Assim, rochas ígneas e metamórficas seriam o “objeto” de procura (prospecção) e, naturalmente, aquelas já alteradas, portanto de menor peso, eram certamente descartadas. Todavia, a exata classificação litológica nem sempre é possível, pois, muitas vezes, o pedaço de rocha utilizado pode apresentar feições de alteração superficial, uma espécie de crosta silicosa ou oxidada, adquirida ao longo do tempo geológico, desenvolvendo superfícies que mascaram os minerais e a textura da rocha, dificultando sua identificação. No entanto, a principal questão é classificar a rocha. Que pedra é essa? Sabe-se que rochas metamórficas possuem características bem peculiares, e que talvez seja o bandeamento metamórfico o que mais se destaca, isto porque artefatos em gnaisse polidos podem ser de fácil identificação devido ao bandeamento metamórfico. Algumas discussões cabem no trato dos artefatos fabricados em rochas ígneas plutônicas básicas,

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como por exemplo gabro e diorito. Como se pode diferenciar? A petrografia macroscópica não alcança a resposta. Neste caso, rigorosamente, apenas a petrografia microscópica (análise modal) pode permitir isto. Portanto, certamente, muito dos artefatos líticos polidos pode ter sido equivocadamente classificado, isto causando interpretações errôneas quanto às fontes de matérias-primas e às movimentações de grupos pré-históricos no Rio Grande do Norte.

Dunas ruiniformes holocênicas e a cultura material arqueológica: preservação estratigráfica no litoral do estado do Ceará, Brasil

Marcélia Marques (Universidade Estadual do Ceará)

Próximo à linha de costa, em quase toda a extensão do estado do Ceará, ocorrem dunas reliquiares de aspecto ruiniforme ou eolianitos, constituídas de areias quartzosas biodetríticas cimentadas por carbonato de cálcio, as quais preservam estratificações cruzadas plano-paralelas. Ressalta-se que estudos geológicos apontam para a raridade destas unidades holocênicas no litoral brasileiro. As superfícies desses depósitos exibem formas de relevo, essencialmente produzidas por abrasão eólica, conhecidas pelos nativos sob a denominação de “cascudos”, em referência à sua rigidez e compactação de sedimento, comparativamente aos demais depósitos eólicos. Nestas unidades holocênicas há dispersão de cultura material arqueológica constituída por artefatos líticos, fragmentos cerâmicos, carvões, restos ósseos e outros. A estratigrafia dos eolianitos está preservada em algumas destas ambiências humanas pretéritas. Em nossos estudos, elegemos uma área do litoral oeste do Estado do Ceará, compreendida pelas praias de Mundaú, Flexeiras e Guajirú, onde outros sítios em contextos geológicos diferentes, como o sopé de dunas barcanas e as redes de drenagem fechadas, as lagoas, são mais bem conhecidos. Nossa expectativa é que possamos gerar informações que permitam estudos comparativos regionais diante destes contextos pouco referidos em perspectivas arqueológicas, levando-se em consideração os estudos sedimentares e geomorfológicos que realizamos.

Geoarqueologia dos sambaquis de São Paulo: investigações regionais e cronológicas

Marisa Coutinho Afonso (USP - MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA), Davi Comenale Garcia (Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/USP))

Os sambaquis têm sido foco de grande interesse arqueológico e de inovações conceituais e metodológicas na arqueologia. Desde 2012, o projeto “Geoarqueologia costeira: os sambaquis do Estado de São Paulo” está em desenvolvimento com o objetivo principal de investigar os sítios costeiros do Estado de São Paulo, propiciando a integração dos dados arqueológicos e ambientais de forma a contribuir para a compreensão do povoamento do litoral. Os objetivos específicos são: elaborar um banco de dados informatizado sobre os sítios; sistematizar os dados obtidos nas pesquisas antigas e recentes; produzir mapas temáticos; continuar a organização e o gerenciamento das coleções arqueológicas dos sítios costeiros salvaguardados no Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo; analisar a indústria lítica e a indústria conchífera; cruzar as informações geológicas atualizadas com as arqueológicas, para permitir o melhor entendimento das interações homem-ambiente. As pesquisas realizadas nos sambaquis do litoral do Estado de São Paulo tiveram abordagens interdisciplinares desde seu início no século XX, mas faltam uma sistematização e uma síntese da produção do conhecimento arqueológico. Neste trabalho, pretende-se apresentar alguns aspectos do projeto como a revisão do estado da arte da pesquisa geoarqueológica nos sambaquis do Estado de São Paulo considerando o padrão de assentamento e o panorama das datações radiocarbônicas disponíveis para o melhor entendimento da cronologia de ocupação das áreas costeiras.

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Interpretação multidisciplinar das feições arqueológicas e das alterações antrópicas da paisagem e dos solos na região de Tefé

Jaqueline Belletti (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá), Wenceslau Geraldes Teixeira (Pesquisador)

A região do médio Solimões ainda possui poucos estudos arqueológicos, paleoclimáticos e pedológicos. O objetivo deste trabalho é apresentar uma discussão sobre resultados das análises químicas de solos antropizados, Terra Preta de Índio, provenientes do sítio Conjunto Vilas, localizado em Tefé. Essa região apresenta sítios arqueológicos em áreas de paleo várzeas e de terra firme. Os sedimentos silto-argilososos da Formação geológica Solimões-Iça se constitui no material da origem dos solos dos barrancos altos na região. Esta formação é muito distinta da Formação Altér do Chão que predomina na região de Manaus e Santarém, prevale nesta região os Latossolos Amarelos argilosos, muito argilosos e de textura média, mas ocorrendo solos com elevados teores de silte nas áreas de terra firme. Na analises de amostras de solos dos sítios arqueológicos estudados no Conjunto Vilas foram encontrados camadas com elevados percentuais de silte, com algumas amostras apresentando teores> 300 g de silte kg-1 de solo, nesta região predominam os Argissolos, Cambissolos e Plintossolos. Em muitos dos perfis estudados a transição entre o horizonte antrópico e o horizonte subjacente é abrupta e clara, as razões para a baixa pedoturbação nestas áreas ainda não está esclarecida e parece indicar um processo de movimentação antrópico dos sedimentos. Os teores de fósforo trocável e cálcio disponível apresentam valores muito elevados > 1000 mg kg-1 de P e 10 cmolc kg-1, valores maiores que a média dos valores encontrados nas TPI da Amazônia Central. Podendo indicar um maior aporte das fontes fosfatadas, um maior tempo de aporte deste nutriente, um ambiente mais conservador deste elementos ou um aporte de sedimentos quartenários no material de origem destes solos. Os registros geológicos, geomorfológicos, pedológicos, arqueológicos, paleoclimáticos e históricos mostram que esta região vem sendo alterada de forma dramática num contínuo de alta intensidade.

Mirando Perfis: Algumas Reflexões Sobre o Fazer Geoarqueológico

Daniel dos Santos Correa (Pesquisador), Cristian Favier (INCUAPA-CONICET)

Durante a pesquisa arqueológica, o arqueólogo deve estar atento a vários elementos que compõe um sítio arqueológico para que possa interpretar como se formaram os depósitos arqueológicos e se produziu a transformação da paisagem. Isto ressalta o que Renfrew diz sobre “todo problema arqueológico se iniciar com um problema geoarqueológico”. Desta forma, ao sair do estado de conforto para observar outras realidades, outros sítios arqueológicos, o arqueólogo é instigado a pensar sobre os diversos processos que levaram a formação dos depósitos arqueológicos que encontramos no presente. Assim, a partir do intercambio realizado em Olavarría - Argentina - durante as atividades teóricas e as saídas para campo do curso de Geoarqueologia, possibilitou que os pesquisadores visualizassem diferentes ambientes que poderiam conter sítios arqueológicos, como: ambientes fluviais; áreas de interflúvio; perfis estratigráficos com diferentes estágios de pedogênesis; perfis com contatos entre formações pleistocênicas e holocênicas; a visita a sítios arqueológicos e a reinterpretação de perfis estratigráficos com a presença de vestígios antrópicos e também faunísticos. Deste modo, o aperfeiçoamento do pesquisador deve ser constante com leituras, saídas a campo e o dialogo com outros pesquisadores através de cursos e intercâmbios para que seus conhecimentos não se estagnem e a pesquisa arqueológica não se transforme em uma ação mecânica. Também, foi possível verificar a necessidade de uma uniformização dos elementos básicos a serem observados para as caracterizações dos perfis estratigráficos, tendo em vista garantir elementos que possibilitem a comparação entre perfis dos sítios arqueológicos.

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O monitoramento dos processos geomorfológicos em reservatórios de usinas hidrelétricas e a revelação do patrimônio arqueológico

Emília Mariko Kashimoto (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/PROPP)

Esta comunicação apresenta os resultados da pesquisa geoarqueológica do alto curso do rio Paraná, Mato Grosso do Sul, especificamente no tocante à mensuração periódica e o registro dos processos de erosão dos sítios arqueológicos situados nas faixas de depleção dos reservatórios das usinas hidrelétricas Eng. Sérgio Motta, Ilha Solteira e Jupiá, no período de 2004 a 2015. Documentou-se a continuidade dos processos de erosão laminar e por cisalhamento/fatiamento das margens desses reservatórios, com o consequente impacto sobre os sítios arqueológicos nelas implantados; o maior índice de erosão medido foi no sítio PD9: 60,50 m de largura de margem no período de 26/01/2004 a 27/10/2014. O monitoramento arqueológico também revelou o quão preciosa é a possibilidade de pesquisa das margens de reservatórios em eventos de seca excepcional, como nos anos de 2014/2015: as margens do reservatório da UHE Ilha Solteira, formado no ano de 1978, passaram a aflorar em extensões de mais de 200 m de largura, constituindo-se numa oportunidade única para se pesquisar o seu conteúdo arqueológico até então desconhecido. Dessa forma, o monitoramento arqueológico de margens de reservatórios de empreendimentos hidrelétricos se constitui numa prática necessária para se assegurar que as exigências legais de preservação do patrimônio arqueológico sejam rigorosamente cumpridas.

Ocupações Pré-Históricas do Sul do Brasil: Contexto geoarqueológico das ocupações paleoindias no Alto rio Uruguai

Marcos Cesar Pereira Santos (Università degli studi di Ferrara-Italia)

Autores: Marcos César Pereira Santos, Pierluigi Rosina, Antoine Lourdeau, Marta Arzarello, Mirian Carbonera. Esta comunicação apresentará os dados parciais do projeto geoarqueológico inserido no contexto das primeiras ocupações humanas Pré-Históricas do Brasil Meridional, mais especificadamente no Alto vale do rio Uruguai, Oeste de Santa Catarina, entre os municípios de Águas de Chapecó-SC e Alpestre-RS. Partindo de um enfoque regional, a pesquisa visa o estudo dos padrões de povoamento e de subsistência da região em consonância com as mudanças ambientais ocorridas na transição Pleistoceno/Holoceno e Holoceno inicial, com objetivo de definir a sequência das formações fluviais nas quais se encontram os sítios arqueológicos da região, contribuindo assim para o quadro pré-histórico cronocultural de ocupação da região Sul do Brasil. Esta pesquisa ocorre em paralelo com a Missão Franco Brasileira denominada Peuplements préhistoriques dans la vallée du fleuve Uruguay-POPARU.

Os sítios dunares da Reserva Biológica Santa Isabel e as estratégias de visibilidade. Pirambu e Pacatuba, Sergipe, Brasil.

Fernanda Libório Ribeiro Simões (Contextos Arqueologia)

Essa comunicação tem por objetivo refletir sobre as possiblidades interpretativas que podem ser atribuídas aos sítios dunares no estado de Sergipe, tendo como objeto de estudo os sítios arqueológicos da Reserva Biológica Santa Isabel (Município de Pirambu e Pacatuba, Sergipe, Brasil). Utilizando a proposta de Criado Boado (1991), sobre as estratégias de visibilidade aplicada à exposição do material arqueológico no sítio de acordo com as feições geomorfológicas das dunas. São propostas quatro estratégias principais de visibilidade: inibição – ausência de intenção de

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visibilidade dos resultados da ação humana; ocultação – intencionalidade de tornar invisíveis os resultados da ação humana; exibição – intencionalidade em tornar visíveis os resultados da ação humana no presente social; e monumentalização - intencionalidade em tornar visíveis os resultados da ação humana e pretensões de permanência. As relações das feições geomorfológicas que compõe o ambiente dunar possuem associação direta com as escolhas de implantação do grupo que habitou a região. O levantamento geomorfológico e arqueológico orientou as interpretações e variáveis utilizadas no protocolo de registro de sítios arqueológicos em dunas, confeccionado ao longo da pesquisa, para viabilizar uma interpretação dos sítios atenta para as diferentes variáveis de deposição e erosão do sedimento eólico. A utilização dos dados da geomorfologia costeira contribuiu na análise da conservação dos sítios, dimensionamento dos variados riscos identificados e caracterização da implantação paisagística.

Sítio Arqueológico Pré-Colonial Lago Rico: Canal Fluvial, Lagos e Hipóteses

Julio Cezar Rubin de Rubin (Pontifícia Universidade Católica de Goiás), Rosicler Theodoro da Silva (Instituto Goiano de Pre-Historia e Antropologia - IGPA/UCG), Daniel dos Santos Correa (Pesquisador), Sergia Meire da Silva (MRS Estudos Ambientais), Jordana Batista Barbosa (Pontifícia Universidade Católica de Goiás)

O sítio Lago Rico (Aruanã, Goiás) localiza-se na margem esquerda do rio do Peixe, afluente do rio Araguaia, junto a um lago de 2700m2. A área de distribuição dos vestígios culturais, delimitado por prospecção superficial visual, é de 360.000m2, a qual vem sendo utilizada com atividades relacionadas à agricultura e a pecuária desde a década de 1960. No decorrer da pesquisa foi identificado o sítio cerâmico Lago do Campo, com delimitação preliminar de aproximadamente 30.000m2, também próximo a um lago de 9420m2, e distante 1420m do limite do Lago Rico, tendo entre eles uma drenagem sazonal de segunda ordem. Os lagos estão no terraço aluvial. Os resultados obtidos através da abertura de duas unidades de escavação de 25m2, da análise do solo e do contexto ambiental, permitiram identificar no sítio Lago Rico uma cerâmica com semelhança a da Tradição Uru, Fase Aruaña; uma estratigrafia bem definida, apesar da ação antrópica e dos processos erosivos; o estabelecimento do potencial produtivo dos solos para culturas como mandioca e milho; e a proposição de um modelo de subsistência. O contexto geoarqueológico do sítio Lago Rico favorece a formulação de pelo menos duas hipóteses envolvendo sistemas fluviais e lacustres. A mais conservadora correlaciona a formação do lago ao sistema fluvial e a consequente utilização do mesmo, um claro exemplo de apropriação de feições naturais. Por outro lado, a hipótese da estruturação intencional do lago também é viável, considerando o padrão meandrante predominante do rio do Peixe próximo ao sítio, e no fato de que para represar o canal e formar o lago bastariam dois pontos de barramento, o que poderia ser assimilado por meio da observação do comportamento do rio na planície aluvial. Esta segunda hipótese está sendo investigada, tendo como maior dificuldade a identificação de seções estratigráficas que a corrobore.

ST: Muitos patrimônios, muitas práticas: desafios em torno do patrimônio arqueológico na Amazônia

Coordenadores: Carla Gibertoni Carneiro (MAE/USP), Maurício André Silva (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP)

Proposta: O objetivo deste simpósio temático é provocar o encontro de reflexões sobre aspectos relacionados às múltiplas possibilidades de interações e interpretações que tangenciam o patrimônio arqueológico. Este é um campo que se torna cada vez mais premente e conquista novos espaços no âmbito da arqueologia, evidenciando também, dada sua complexidade, a busca e a relação com outras áreas do saber. Assim pesquisas e experiências relacionadas à musealização da arqueologia, etnoarqueologia, arqueologia simétrica, antropologia, história oral, educação, entre

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outras, vêm revelando complexas e diversas formas de apropriações em torno deste segmento do patrimônio cultural brasileiro, indicando novos desafios para gestão. A Amazônia, dada sua grandiosidade, diversidade ambiental e social, revela múltiplas formas que populações pretéritas e contemporâneas desenvolveram para moldar este território adequando-o às suas necessidades de subsistência, aos seus padrões simbólicos, em síntese, às suas escolhas culturais. Esse processo é marcado por momentos de continuidade e mudança. O patrimônio arqueológico constitui-se como registro e parte desse continuum; nesse sentido, na dinâmica cultural, evidenciam-se muitas formas de relações que incluem novos usos, transformações estéticas, formações de coleções, produção de réplicas, criação de museus entre diversas outras que desafiam a pratica da arqueologia e os caminhos da preservação. Dessa forma, busca-se discutir novas experiências, com o enfoque na região amazônica, que vêm se debruçando sobre essas questões, nas quais se possibilita caminhos criativos de atuação em torno do patrimônio cultural e arqueológico, fomentando e valorizando a diversidade.

Apresentações:

Arqueologia e Patrimônio para quem? O Neocolonialismo na Arqueologia de Contrato Brasileira e o caso da Chacrinha dos Pretos (MG).

Caroline Murta Lemos (Universidade Federal de Sergipe)

A Arqueologia de Contrato, numericamente majoritária no país, tem como principal preocupação a preservação física do patrimônio material para as futuras gerações e, consequentemente, a preservação das cargas informativas a ele ligadas que podem servir como base para a construção da memória e história nacional. Neste cenário, são os arqueólogos, autoridades científicas, e o Estado, que por meio da legislação regulamenta os procedimentos das pesquisas arqueológicas, que definem o que é patrimônio, o que deve ser preservado e de que forma. Em outras palavras, com essas pesquisas “patrimonialistas” tira-se dos grupos subalternos, localizados nas fronteiras do capitalismo, que não se encaixam e que não têm voz na construção da memória e história nacional, o direito de construírem histórias alternativas por meio da apropriação do patrimônio arqueológico que, de acordo com a decisão dos arqueólogos e com a legislação, ficará salvaguardado e isolado nas reservas técnicas ou será impactado pelos empreendimentos da expansão capitalista (territorial, ambiental e sociocultural). Neste contexto, as minorias se tornam reféns do discurso científico e dos interesses do Estado, o que dificulta a legitimação de suas lutas por meio do patrimônio arqueológico pelos direitos que lhe foram historicamente negados. A Chacrinha dos Pretos, por exemplo, comunidade quilombola que vive sob os restos de uma fazenda do século XVIII, símbolo de sua história escrava, na Serra da Moeda (MG), por muito tempo teve o direito de construção de sua própria história e identidade negado por meio do preconceito racial e da marginalização social, cultural e econômica. Essa situação começou a se modificar na década de 90 e as ruínas dessa fazenda tiveram um papel fundamental neste processo. Reconhecendo então a importância do patrimônio arqueológico na construção de memórias e identidades em um país desigual, se torna imprescindível perguntar: Arqueologia e Patrimônio para quem?

Arte rupestre de Monte Alegre - Difusão e memória do Patrimônio Arqueológico da Amazônia

Edithe da Silva Pereira (MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI - SETOR DE ARQUEOLOGIA)

As pesquisas realizadas na região de Monte Alegre, no estado do Pará, Amazônia já demonstraram a importância do patrimônio arqueológico da região e a necessidade de sua preservação. Conhecer a importância desse patrimônio é o primeiro passo para evitar a sua destruição. Para isso é preciso oferecer as informações produzidas pelas pesquisas científicas realizadas na área através de

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diferentes produtos de forma a atingir um público amplo e diversificado. A divulgação desse conhecimento científico foi feita através de diversos produtos que aliam pintura, poesia, educação, fotografia, recursos expositivos, impressos, vídeos, multimídias, divulgação jornalística e nas redes sociais. Além disso, o projeto integrou alunos e professores da rede pública de Monte Alegre e alunos das escolas de Belém. O projeto apresentou um circuito completo que abrangeu produção acadêmica, formação dos recursos humanos, aplicação do conhecimento, divulgação científica ampla, impacto em políticas públicas, interação com o universo escolar, inclusão social e geração de renda.

Dar ouvidos as semânticas locais, o patrimônio arqueológico no sudoeste amazônico.

Maurício André Silva (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP)

Nas últimas décadas pesquisas relacionam diferentes olhares sobre o patrimônio arqueológico e ampliam as discussões em torno de uma gestão compartilhada e engajada com diferentes demandas locais. Esta comunicação busca discutir as apropriações do patrimônio arqueológico pela população de migrantes no sudoeste amazônico, especificamente no estado de Rondônia, e a criação do Centro de Pesquisas e Museu Regional de Arqueologia de Rondônia (CPMRARO). Buscou-se por meio da escuta das narrativas dos moradores elementos para a reflexão sobre a história recente da migração, o desmatamento, os conflitos entre muitos grupos, os medos frente ao desconhecido, o encontro com o diferente, o contato com os vestígios arqueológicos, a descoberta da área de arqueologia e a implantação do museu. Destaca-se a formação do acervo do CPMRARO pela doação de materiais arqueológicos coletados pela população da zona rural em suas atividades com a terra, dessa forma se apresentaram diferentes curadorias desses materiais. Esses objetos, hoje musealizados indicam caminhos identitários e de produção de memórias que podem contribuir com a atuação da própria instituição. Essas problemáticas indicam passados em jogo, vinculados a diferentes grupos e a museologia, assim como a arqueologia podem considerar essas semânticas com o objetivo de realizar uma reflexão conjunta a respeito do passado e do presente, contribuindo para a produção de novas memórias e para um futuro desejado.

Patrimônio Arqueológico da Transamazônica – Trecho Miritituba - Rurópolis

Wagner Fernando da Veiga e Silva (Sócio-Diretor da Inside Consultoria), Antonia Damasceno Barbosa (Universidade Federal do Pará)

O patrimônio arqueológico identificado ao longo da Transamazônica (trecho Miritituba- Rurópolis) atesta que a região possui alto potencial arqueológico, o qual se reporta às ocupações pré-coloniais. Um estudo desenvolvido na região identificou e registrou de 11 (onze) sítios e 02 ocorrências arqueológicas, os sítios identificados certamente não correspondem à totalidade do patrimônio arqueológico existente na região. Esse número, portanto, deverá crescer à medida que mais pesquisas arqueológicas sejam desenvolvidas na região.

ST: Paisagem, lugar e materialidade

Coordenadores: Klaus Peter Kristian Hilbert (PONTIFÍCA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - DEP.HISTÓRIA.), Marcélia Marques (Universidade Estadual do Ceará)

Proposta: A proposta maior deste simpósio é a criação de um espaço onde todos os interessados possam estabelecer diálogos entre os mais diferentes conceitos contemporâneos de paisagem. Ao questionarmos conceitos tradicionais de paisagem, como a compreensão positivista que apenas observa a paisagem composta por partes concretas e objetivas da superfície da Terra, ou as

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perspectivas essencialistas que, ao contrário, concedem a paisagens o status de organismos vivos com atributos específicos, com valores e identidades próprias, pretendemos contrastar essas interpretações com as diversas visões construtivistas da paisagem. O conceito da paisagem híbrida, por exemplo, nos permite ter uma visão simétrica entre as realidades materiais e as socioculturais. A vantagem de perspectivas holísticas –construtivistas - é que elas nos fornecem um conceito, um plano de ação interdisciplinar e multidimensional que nos auxilia a retratar melhor as realidades híbridas entre as práticas humanas, os espaços naturais e outras condições físicas e materiais. Pesquisas construtivistas da paisagem podem levar em conta, não somente as percepções híbridas, mas abordagens que consideram paisagens como experiências estéticas e ideológicas, paisagem como diferença e paisagem como dualidade. Estudos contemporâneos da paisagem se concentram, recentemente com maior intensidade, no papel do poder nas construções sociais das paisagens. Paisagens são vistas, simultaneamente, como meios e produtos de relações de poder, no qual grupos sociais poderosos “naturalizam” seus sistemas ideológicos. A materialidade, mais uma vez, se constitui num aspecto relevante de investigação, pois as relações e condições de poder se apresentam como materialidades de paisagens.

Apresentações:

A Ação do Tempo sobre o Abrigo e as Pinturas: 40 Anos de Estudos das Imagens no Abrigo GO-CP- 09, Palestina De Goiás/Goiás (Brasil).

Fernanda Elisa Costa Paulino e Resende (FACSO/UNICEN Argentina)

Na década de 1970 do século XX, surgiu no centro oeste brasileiro um grupo de pesquisadores que propuseram o Programa Arqueológico de Goiás, que subdividido em vários projetos, “amostrou a arqueologia do Estado, principalmente em elementos cronológicos, distribucionais e ecológicos” (SCHMITZ, 1997). Esse grupo documentou e descreveu as pinturas e gravuras dos sítios arqueológicos brasileiros estudados em vários municípios de Goiás e oeste da Bahia. A descrição levou em consideração: sítios, painel, motivo, cor, composição e forma. Eles identificaram ainda a presença de 15 matizes de cores para as pinturas rupestres da região estudada (baseadas na escala de Munsell). As pesquisas realizadas tiveram grande relevância e contribuição para os estudos dessa natureza no Brasil. Resultaram em dezenas de publicações e na implantação do uso de técnicas até hoje consideradas de alta eficiência para esses registros. Para Palestina de Goiás (antigo município de Caiapônia), numa extensão de cerca de 20 km2, foram catalogados mais 40 abrigos rupestres com características semelhantes, porém de ocupações pré-históricas distintas (SCHMITZ, 1984). Passados mais de 40 anos desses registros, um novo estudo atualiza os dados existentes acerca de alguns abrigos, assim como promove análises in loco da degradação dos suportes rupestres, ocorrida ao longo desse tempo. Principalmente, os registros fotográficos realizados em 1970, foram resgatados no sentido de permitirem um estudo comparativo com vistas a, mais do que buscar por cronologias, tradições, concentrações e distribuições, enfrentar o desafio da recuperação do conhecimento herdado do passado pré-histórico. O trabalho aqui apresentado traz a amplitude do estudo, com foco em um sitio em especial, o GO-CP-09.

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A Inserção e Interação dos Sítios de Pintura Rupestre do Complexo Arqueológico Campo das Flores na Paisagem, Vale do Araçuaí - Minas Gerais

Valdinêy Amaral Leite (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS), Andrei Isnardis Horta (Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG)

A presente exposição visa apresentar a pesquisa de mestrado “A Inserção e Interação dos Sítios de Pintura Rupestre do Complexo Arqueológico Campo das Flores na Paisagem”. Esta área arqueológica está localizada entre os municípios de Senador Modestino Gonçalves-MG e Itamarandiba - MG, na sub-bacia do rio Araçuaí, borda leste da serra do Espinhaço. Por meio das prospecções da equipe do Laboratório de Arqueologia Estudo da Paisagem-LAEP/UFVJM, com o Projeto Arqueológico Alto Jequitinhonha – PAAJ, localizaram-se nesta área 11 sítios de arte rupestre. Esse projeto tem como objetivo aprofundar e ampliar as pesquisas nesta região, buscando investigar quais as relações que podemos tecer entre esses sítios, se houve ou não padrão de inserção na paisagem e se eles foram ocupados diacronicamente ou sincronicamente. Como metodologia, estamos realizando análises espaciais para identificar se houve ou não “escolhas” dos abrigos e, ao mesmo tempo, análises intra/inter-sítios, que consistirão na construção de uma cronoestilística das figurações rupestres, a fim de estabelecer uma estratigrafia (as) cultural (is) dos painéis rupestres. Nas análises de cronoestilísticos, trabalharemos não somente para apresentar uma estratigrafia cultural das figurações, pretende-se ir mais longe, estudando os comportamentos de um conjunto gráfico em relação aos antecessores. Como se dão as relações entre os grafismos e conjuntos cronoestilísticos? Há reconhecimento e/ou apropriação dos grafismos anteriores? Há continuidade ou ruptura nos traços? Quais e como são as associações temáticas sincrônicas e diacrônicas? Após responder estas questões, este estudo buscará de forma sistemática construir diálogos com outros estudos já realizados em áreas arqueológicas adjuntas. Objetivando correlacionar os dados do repertório cultural de cada área, e assim, criar hipóteses de como se deu o uso e ocupação desses espaços culturais no alto curso do rio Jequitinhonha.

A Paisagem Sambaquieira na Baía de Guanabara

Marcela Nogueira de Andrade (Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Os sambaquis do Rio de Janeiro são alvo de interesse e estudo desde o século XIX. Ao final do referido século e no início do XX, curiosos e estudiosos afirmavam que não existiam mais sambaquis no Rio de Janeiro. Segundo Sales Cunha (1965) havia uma indagação que todos sambaquis do Rio de Janeiro haviam sido destruídos pela fabricação de cal. No entanto, a Baía de Guanabara foi tema de pesquisa sistemática desde a segunda metade do século XX e até o momento foram identificados 38 sambaquis, provenientes de pesquisas com diferentes tipos de intervenções e abordagens científicas. Assim, a presente pesquisa, que faz parte de tese de doutorado ainda em desenvolvimento, trata de uma abordagem que reúne as reflexões vinculadas à Arqueologia da Paisagem e que põe em foco construção do espaço, visibilidade, transporte e subsistência, procura nos arranjos espaciais e nas formas que resultam da intervenção do meio físico uma via de acesso para construir interpretações sobre organização social e universo simbólico dos sambaquieiros. Abordagem que privilegia a investigação do meio aquático, entendendo que do ambiente líquido provinha a subsistência e o transporte e que propicia a formação de noção peculiar de território. São hábitos e costumes que se estruturaram em profunda associação às especificidades do mar, lagoa e rio.

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As paisagens políticas do planalto Sul brasileiro

Silvia Moehlecke Copé (UFRGS)

Ao longo de doze anos de pesquisa nas terras altas brasileiras, identificamos cinco momentos marcantes na construção social da paisagem cultural moderna do planalto sul brasileiro: 1. Os pioneiros grupos de caçadores e coletores que chegaram há mais de 7.000 anos antes do presente; 2. Os caçadores, coletores e construtores de estruturas semissubterrâneas que se estabelecem no início da nossa era e se expandem entre os anos AD 800 e 1000; 3. Os caçadores, coletores e construtores de grandes aldeias superficiais e das estruturas funerárias e cerimoniais no período de AD 1200 até a conquista; 4. Os grupos históricos Xokleng e Kaingang, falantes do tronco linguístico Jê e denominados Jê Meridionais, os grupos Guarani e o colonizador europeu; e 5. Os diversos grupos que constituem as comunidades atuais. Este ensaio objetiva dar continuidade a uma reflexão iniciada em 2011 sobre o potencial do registro arqueológico para inferir/deduzir complexidade social nos diferentes momentos da ocupação humana no planalto sul brasileiro.

Cortiços, portões e diversos: a paisagem dos excluídos em uma cidade portuária (Rio Grande/RS - 1888)

Maritza dos Santos Dode (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O trabalho aqui apresentado demonstra um estudo de caso considerando a paisagem enquanto construção social, política e ideológica. Tal pesquisa ancorou-se na utilização de um SIG para promover suas análises. Neste sentido, busco destacar o potencial desta ferramenta para a compreensão de uma paisagem pensada em termos construtivistas. Tendo como objetivo compreender a existência de cortiços na paisagem da cidade do Rio Grande/RS, em fins do século XIX, procurou-se entender a relação da sociedade riograndina da época com os cortiços e, da mesma forma, apreciar a composição dos moradores destas habitações a partir de suas localizações na malha urbana. Além de cortiços, agregou-se às análises as categorias portão e diversos. Estes três tipos de habitação foram encontradas no Livro de Estatística da População de Rio Grande de 1888. As pesquisas deram-se a partir de jornais, relatórios municipais, códigos de postura, além do próprio recenseamento. Verificou-se, pois, a ocorrência de uma esfera de sentidos que associa tal habitação a negros e suscetibilidade à criminalidade. Os cortiços, diversos e portões foram ratificados como moradias de segmentos desfavorecidos. Observou-se, com o posicionamento na malha urbana das três habitações, relacionadas aos diferentes moradores que as compõem, uma segmentação social do espaço da cidade para este ano de 1888.

Lugar Arqueológico: a aproximação de um conceito antropológico na vivência da paisagem

Marcélia Marques (Universidade Estadual do Ceará)

O alcance da discursividade acerca de fenômenos naturais, de acontecimentos pré-históricos, assim como históricos, e culturais reside, sobretudo, na capacidade de tradução do que é vivido. Do mesmo modo, a construção do mundo arqueológico se realiza por narrativas, imagens, objetos ou por outras formas de comunicação que traduzam as vivências do “outro” num passado arqueológico. Algumas expressões são largamente referidas no discurso arqueológico, a saber, “ocupações pré-históricas” e “ocupações humanas”, para citar algumas. O “conceito de lugar” foi o que se apresentou mais aproximado e ao mesmo tempo, mais expansivo quando repensado o conceito de ocupação. Antes da antropologia circunscrever o “lugar” nas interpretações culturais, a Geografia há muito o demarcara como conceito aproximativo. De acordo com o geógrafo Edward

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Relph, a Geografia em seus primórdios foi concebida como o estudo dos lugares e regiões, embora estas noções nem sempre tenham sido claras. Entre os anos 1970 e 1980 a fenomenologia é dimensionada na geografia, especialmente com inspiração nos filósofos Husserl e Heidegger. Na dimensão da cultura, das vivências marcadas fisicamente no espaço, seja material ou simbólico, se institui o lugar antropológico, que na compreensão de Marc Augé abarca o lugar de quem o habita e de quem o observa. Nesta visão, o lugar antropológico é uma construção concreta e simbólica do espaço, é portanto um lugar investido de sentidos pelas ações sociais e pela materialidade das coisas. A cultura material denominada pelos arqueólogos irá configurar os sentidos dos “lugares arqueológicos” numa aproximação ao modo em que foram apreendidos pela antropologia. A diferença crucial é que o “lugar arqueológico”, num primeiro momento, é circunscrito à materialidade cultural, que, por sua vez, é instituída de sentidos na discursividade do arqueólogo ou arqueóloga.

Manifesto do Eu atrofiado: buscando coerência para o conceito de Paisagem

Felipe Benites Tramasoli (Museu Nacional/UFRJ)

A ideia de paisagem, nas últimas décadas, tem recebido uma crescente atenção por parte dos arqueólogos enquanto um elemento legítimo de inquirição. Muito tem-se dito acerca das potencialidades discursivas que as paisagens apresentam, trazendo-as como mais um ponto nas imbricadas disputas entre diversos grupos sociais, sejam como legitimadoras, contestadoras ou construtoras de ideologias. Isto, em detrimento de uma perspectiva mais tradicional, onde a paisagem é entendida como sinônimo de natureza. É certo que este caráter discursivo representa um avanço ao possibilitar a superação do entendimento limitador que o antecedia, que reproduz a ideia de uma paisagem passiva, mas o é na medida em que reforça a premissa de que existe uma distinção ontológica entre o ser humano e o todo que o circunda. O não reconhecimento das propriedades intrínsecas e, por consequência, da integridade das coisas, reforça uma separação violenta entre o indivíduo e a totalidade da vida, que, assim, torna-se acessível somente a partir das subjetivações e relega a experiência enquanto uma dimensão legítima da nossa existência. O que eu proponho, aqui, é um entendimento enraizado numa existência onde as diferenças sejam entendidas relativamente e não pela oposicionalidade representada pelo sujeito que conhece e o modo de conhecer as coisas. A compreensão da ideia de Paisagem, à luz da premissa de que não existe uma diferença ontológica entre os entes que compõem o mundo, não representa um novo ponto de partida nas discussões sobre o tema, senão que oferece uma oportunidade para conciliarmos as duas perspectivas correntes em uma ideia só, que ganha em coerência e em fluidez.

Os agenciamentos semióticos no cariri paraibano – reflexões sobre as composições dos signos rupestres em paisagens

Carlos Xavier de Azevedo Netto (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - DEPT CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO)

O Cariri paraibano, em uma visão preliminar no tocante as suas manifestações rupestres, tem apresentado um comportamento não enquadrado na norma classificatória para este tipo de fenômeno no Nordeste brasileiro. Nessa área do semiárido paraibano são encontrados inúmeros sítios de arte rupestre onde seus grafismos apresentam configurações que se distanciam dos modelos classificatórios vigentes para a arte rupestre do nordeste. Em função da situação que pode acarretar problemas nos processos comparativos e de entendimento da dispersão dos grafismos rupestres nessa região em particular, surge a necessidade de proceder a uma revisão dos modelos atributivos que são utilizados nos processos classificatórios. Considerando os grafismos rupestres como fenômenos de natureza semiótica, no sentido atribuído por Gardin (1992) e Molino (1992), e

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portanto simbólica, observa-se que o ordenamento dos signos nos painéis apresenta a possibilidade de uma subordinação das ações que esses signos exercem entre si, que possibilitem a inferência de uma dimensão ritualística. Mas considerar somente os signos como elemento de indicação da posição de cada sítio/painel ainda apresenta limites que podem restringir o entendimento dos processos composicionais destes. Para minimizar o distanciamento entre a possível intenção dos produtores originais, do que é considerado pelos observadores atuais é necessário assumir uma postura politética (CLARK, 1984), onde elementos de suporte e de entorno dos painéis também devem ser levados em considerados no processo de composição das unidades classificatórias, tais como orientação e natureza do suporte, visibilidade, inserção ambiental e etc, onde esse diferentes atores, grafismos, suporte e entorno, configuram deste modo uma paisagem específica. Assim, a partir de discussões e experimentações com dados desta região espera-se que se possam constituir unidades classificatórias com a acurácia que os novos dados impõem.

Paisagem em movimento, ambientes construídos e os cerritos do sul do Brasil

Rafael Guedes Milheira (UFPEL), Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro (UFPEL), Anderson Marques Garcia (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Desde o século XIX são pesquisadas estruturas arqueológicas constituídas basicamente por sedimentos acumulados pela ação humana. São sítios arqueológicos compostos por montículos predominantemente de terra, denominados de cerritos, os quais são associados a estruturas anexas, como microrrelevos, negativos topográficos, caminhos, praças e lagos artificiais que configuram complexos arqueológicos comumente encontrados no ambiente pampeano do sul do Brasil e Uruguai. Construídos a partir do período Formativo Antigo, essas estruturas arqueológicas sistemicamente conectadas reportam a um estilo de vida aldeão bastante antigo (ca. 4500-5000 A.P.) que perdurou por mais de 4000 mil anos, até, pelo menos, o século XVIII. Se pensadas até os anos 1970 como simples plataformas para moradia em áreas alagadas, resultado de acúmulos de sedimento involuntário causado pelos sucessivos processos de ocupação por pequenos bandos de caçadores-coletores, atualmente as pesquisas arqueológicas vêm demonstrando que se tratam de estruturas relacionadas a um amplo sistema de engenharia, que envolve traços de monumentalidade, planificação arquitetônica e multifuncionalidade. No sul do Brasil, na porção meridional da Laguna dos Patos, complexos de cerritos vêm sendo pesquisados com o intuito de demonstrar um cenário particular de ocupação e modo de vida dessas populações “construtoras de cerritos”, iniciado a partir de 2500 A.P.. Um desses complexos, o sítio arqueológicos do Pontal da Barra, localizado no município de Pelotas, é composto por 18 cerritos que foram sincronicamente ocupados, compondo uma comunidade de pescadores e caçadores, agentes de uma história de longa duração, que se conecta a outros lugares arqueológicos em redes ao longo de um amplo sistema hidrológico do estuário da laguna dos Patos.

Patrimônio Arqueológico Pré-colonial da Costa Leste de São Francisco do Sul Arqueologia e Paisagem Costeira

Dione da Rocha Bandeira (MUSEU ARQUEOLÓGICO DE SAMBAQUI DE JOINVILLE E UNIVILLE), Maria Cristina Alves (Autônoma), Graciele Tules de Almeida (Universidade da Região de Joinville - Univille), Magda Carrion Bartz (univille),

Este trabalho apresenta resultados preliminares de pesquisa do patrimônio arqueológico pré-colonial em desenvolvimento na região da costa leste da Ilha de São Francisco, litoral norte de Santa Catarina.Com 39 sítios registrados, em sua maioria por sambaquis, com um sambaqui em abrigo, duas ocorrências com cerâmica Jê em camada superficial e uma oficina lítica de polimento. Os sítios conhecidos estão alinhados no sentido norte sul,assentados sobre cordões de dunas ou afloramentos rochosos e apresentam dimensões que variam entre 2m a 25 m de altura.Dois

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sambaquis, Enseada I e Bupeva II, situados nos extremos norte e sul da área, respectivamente, foram alvo de pesquisas. Há 4 sítios datados: dois sambaquis clássicos sem cerâmica - 3.850 ± 200 (Praia Grande II) e 3.600 ± 180 (Lagoa do Acaraí I) anos AP e dois com cerâmica sendo os horizontes

sem cerâmica datados em 3.920 40 (Enseada I) e 2.325 25 (Bupeva II) e os cerâmicos em 1.390 40 anos AP e 375 ± 40 anos, respectivamente.Com abordagem teóricapautada naArqueologia da Paisagem Costeira e da Etnicidade,busca-se propor um modelo interpretativo sobre a identidade destes grupos, a partir do conceito de etnicidade, o modo como os grupos se instalaram na região, em que momento, em que ambiente, e as relações que estabelecerem entre si e com o ambiente.A metodologia envolve pesquisa sobre as intervenções históricas nos sítios, sondagens nos sítios tendo em vista a caracterização da matriz arqueológica e a coleta de amostras para datação, escavação do sambaqui em abrigo, reestudo das coleções dos sambaquis Enseada I e Bupeva II (zoo e arqueometria) e caracterização geoarqueológica da área com base em dados disponíveis.O contexto maior em que se situa a pesquisa é a Baía Babitonga e numa perspectiva mais ampla o projeto visa contribuir com o entendimento dos processos de ocupação humana pré-colonial desta região toda.

ST: Plantas, Paisagens e Culturas no passado: a contribuição da Arqueobotânica

Coordenadoras: Caroline Bachelet (MNHN-USP), Rita Scheel-Ybert (Museu Nacional, UFRJ)

Proposta: As relações entre sociedades humanas e o mundo das plantas são estudadas pela arqueobotânica através da análise dos restos vegetais encontrados em contexto arqueológico. Entre suas inúmeras aplicações, ela permite caracterizar ambientes e paisagens passados e suas transformações ao longo do tempo, entender os modos de exploração e de gestão dos recursos vegetais (coleta ou cultivo de alimentos, aquisição de madeira para combustível, artefatos ou material de construção, etc.), compreender aspectos culturais e econômicos de sociedades antigas (uso de plantas na alimentação, no artesanato, na medicina, nos rituais, etc.) e inclusive fornecer uma série de outras informações importantes para a arqueologia, como a compreensão de processos de formação de sítio, indicadores de mobilidade na paisagem, entre outros. Nos últimos anos, estas questões vêm sendo abordadas por muitos estudos arqueobotânicos realizados a partir dos macro e microvestígios vegetais provenientes de sítios históricos e pré-históricos de diferentes grupos culturais, localizados em todo o Brasil. Este simpósio temático tem por objetivo reunir especialistas de diferentes disciplinas (antracologia, carpologia, micropaleoetnobotânica) visando discutir os resultados mais recentes e gerar debates e intercâmbios, a fim de promover a atualidade das pesquisas nacionais nos diversos domínios da arqueobotânica.

Apresentações:

A antracologia como ferramenta para compreender processos de formação em sambaquis

Rita Scheel-Ybert (Museu Nacional, UFRJ)

Carvões integram os vestígios mais frequentes na maioria dos sítios arqueológicos, refletindo a antiga e profunda associação entre humanos e fogo. Fogueiras e carvões dispersos são ubíquos em sambaquis, demonstrando ter sido o fogo um elemento central para estes grupos. Tradicionalmente valorizados somente para acessar a cronologia dos sítios, há cerca de duas décadas estudos antracológicos ressaltam sua importância como indicadores de paisagem, território de ocupação e modos de vida, informando sobre economia do combustível, uso de plantas em contextos cotidianos e rituais, dieta etc. Diversos estudos demonstram ainda a importância destes vestígios

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para entender processos de formação de sítios, pois a concentração e diversidade dos fragmentos nas camadas arqueológicas refletem a intensidade e duração da atividade. Exemplos são oferecidos por análises nos sambaquis Jabuticabeira-II, Cabeçuda, Encantada-III (SC), do Forte e Amourins (RJ). Na maior parte dos sítios, a abundância e alta diversidade dos carvões sugerem atividades duradouras e fogueiras rituais de longa duração. Carvões presentes em depósitos construtivos também são compatíveis com uma longa duração, sugerindo que eles foram acumulados em um contexto doméstico ou de descarte, contém vestígios de múltiplas atividades envolvendo o uso do fogo, e apenas secundariamente foram transportados para o sambaqui. No Jabuticabeira-II, a antracologia apoia a hipótese de realização de festins fúnebres. No Encantada-III, a raridade, pequeno tamanho e baixa diversidade específica dos fragmentos foram interpretados como indicadores de uso não cotidiano, assim como de uma utilização de curta duração das estruturas de combustão que deixaram estes vestígios, sugerindo que o sítio não foi longamente ocupado após sua construção. Desse modo, o desenvolvimento da antracologia permite ultrapassar o objetivo de pura reconstituição paleoambiental, revelando importantes informações ecológicas e culturais nas mesmas amostras.

Análises micropaleoetnobotânicas a partir de cálculo dentário (tártaro) no sambaqui Jabuticabeira-II (SC)

Celia Helena Cezar Boyadjian (Museu Nacional UFRJ)

A análise do conteúdo de cálculo dentário de coleções osteológicas permite acessar diretamente informação sobre os vegetais que foram ingeridos por grupos passados, sendo, portanto, uma ferramenta poderosa para a Bioantropologia e a Bioarqueologia. Este tipo de estudo é particularmente importante em sítios como os sambaquis, onde a recuperação de restos botânicos é baixa. A análise de cálculos dentários de indivíduos do sambaqui Jabuticabeira-II permitiu a recuperação e identificação de grãos de amido, fitólitos e diatomáceas. Dentre estes, destacam-se vestígios de palmeiras (Arecaceae), batata-doce (Ipomoea batatas), cará (Dioscorea sp.), maranta (Calathea sp.), gramíneas (Poaceae) incluindo o milho (Zea mays), além de plantas das famílias Araceae (família do inhame) e Myrtaceae (com várias plantas comuns na restinga que produzem frutos comestíveis como pitanga, cambuí, araçá entre outros). Dentre todas estas plantas consumidas por estes sambaquieiros, algumas são silvestres e podem ter sido coletadas nas cercanias do sítio (palmeiras, gramíneas, mirtáceas), enquanto outras consistem em espécies domesticadas (batata-doce, milho). A identificação das diatomáceas reafirma o uso de recursos do ambiente lagunar no entorno do sitio. O número e a distribuição dos microrrestos variaram consideravelmente entre indivíduos, sugerindo uma dieta mais diversificada para alguns. Porém, comparando-se assembléias de microrrestos por sexo, idade de óbito, patologias e características dos sepultamentos, não houve diferença entre eles. Grãos de amido danificados foram observados, indicando processamento alimentar (cozimento). Finalmente, a diversidade de tipos de microrrestos encontrados sugere que esse grupo vivia em um sistema de economia mista, em que a pesca e coleta eram associadas à horticultura e, provavelmente também, ao manejo de algumas espécies importantes.

Economia de combustíveis e paisagem no início do Holoceno no abrigo Santa Elina (MT).

Caroline Bachelet (MNHN-USP)

Pesquisas conduzidas no abrigo Santa Elina (Cuiabá / MT) destacaram uma sucessão de ocupações datadas do final do Pleistoceno até o Holoceno. A descoberta de várias estruturas de combustão em todos os níveis de ocupação indica que o fogo era importante nas atividades cotidianas e na vida dos grupos que habitaram a região. Estudar e analisar os vestígios de combustão (madeira,

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sementes, frutos, tubérculos carbonizados, etc.) fornece informações importantes sobre o uso dos recursos vegetais, ambiente e paisagem. As análises antracológicas apresentadas neste trabalho foram feitas a partir de macro-restos carbonizados amostrados em fogueiras datadas de 10.000-9.000 anos AP. A partir da identificação taxonômica dos carvões, objetiva-se destacar as práticas dos grupos humanos relacionadas à coleta e utilização da madeira (lenha, propriedades do combustível, seleção de espécies, áreas de abastecimento, etc.), e caracterizar o ambiente vegetal e a paisagem do início do Holoceno na região de estudo. Resultados preliminares demonstraram que a lenha era coletada ao redor do abrigo. Os grupos humanos coletavam principalmente a madeira seca, de fácil acesso, nas florestas decídua, semi-decídua e no cerrado. Madeiras de boas qualidades, árvores frutíferas, espécies com propriedades medicinais (etc.), foram identificadas em todas as estruturas. Estes resultados corroboram os obtidos em níveis mais recentes por diversas análises arqueobotânicas desenvolvidas anteriormente, e fornecem novos dados sobre os comportamentos dos caçadores-coletores e suas relações com o ambiente vegetal daquela região, no início do Holoceno.

Economia de combustíveis e tecnologia de fogueiras em sítios Proto-Jê do Sul nas terras altas do Brasil meridional

Leonardo Waisman de Azevedo (Museu Nacional - UFRJ), Rita Scheel-Ybert (Museu Nacional, UFRJ)

O estudo de fogueiras de quatro sítios Proto-Jê do Sul da região de Pinhal da Serra (RS) permitiu compreender questões relacionadas à economia de combustíveis e à tecnologia de fogueiras dessa sociedade. As fogueiras foram analisadas a partir de uma perspectiva qualitativa, considerando suas características estruturais e contextuais; os combustíveis foram analisados a partir de uma metodologia antracológica. Foi possível descobrir a existência de aspectos recorrentes relativos às práticas de aquisição e uso do fogo, que provavelmente determinavam o posicionamento, a forma e a presença de elementos constitutivos nas fogueiras, bem como a compreensão de questões relativas ao uso e seleção de combustíveis, captação de recursos, vegetação e paisagem. Os resultados da pesquisa levam a crer que as fogueiras constituíam um polo de atividades, central em todos os espaços em que eram acesas, domésticos ou cerimoniais. As características estruturais de cada uma delas, como base côncava, forma, pedras e, por vezes, a posição no sítio, representam escolhas tecnológicas e um conhecimento amplo do processo de combustão. Apresentam-se evidências do uso específico de palmeira, bambu e taxa de Leguminosae que sugerem alguma forma de seleção de combustíveis. Quanto à coleta de lenha, provavelmente era realizada através do recolhimento de madeira morta caída na mata e da derrubada de árvores, em uma região de Mata de Araucárias com vegetação alterada.

Estudos preliminares de microvestígios vegetais em artefatos líticos do Sambaqui de Cabeçuda (SC, Brasil)

Yann Paranaguá Selle (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O Sambaqui de Cabeçuda, escavado por Luiz de Castro Faria na década de 1950, foi o primeiro sambaqui de grandes dimensões sistematicamente estudado. Entre 2010 e 2012, um grupo de pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro concluiu que devido à ausência de elementos constitutivos de residência, e baseado na análise estratigráfica, o Sambaqui de Cabeçuda caracteriza um monumento funerário e não um local de habitação. Análises arqueobotânicas têm contribuído para ampliar o conhecimento sobre a relação destes grupos com o meio vegetal; estudos antracológicos têm informado sobre os tipos de vegetação onde esses sítios

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estavam inseridos, recursos do meio e economia do combustível; estudos de microvestígios vegetais, especialmente fitólitos e grãos de amido, têm dado relevante contribuição à reconstituição de sua dieta. Associadas entre si, estas análises subsidiaram a hipótese de que estes grupos possam ter praticado manejo ou horticultura incipiente. Deste modo, o presente trabalho visa contribuir para os estudos de uso de plantas em Sambaquis, a partir da análise de microvestígios vegetais presentes em artefatos líticos coletados no Sambaqui de Cabeçuda. A metodologia empregada consiste em extrair o sedimento associado ao uso dos artefatos através de banho de ultrassom. Os primeiros resultados obtidos por este método, a partir da análise de um seixo com marcas de uso em suas extremidades e um artefato basal com queima, coletados em 2011, permitiram recuperar fitólitos característicos de palmeiras e outros não diagnósticos no artefato basal, além de outros microvestígios como diatomáceas, sugerindo que este artefato possa ter sido usado no processamento de coquinhos e possivelmente outros vegetais; enquanto que no seixo apareceram poucos fitólitos, que apesar de não serem diagnósticos indicam que este material entrou em contato com vegetais.

Muito Além dos Quintais:cenários sociais e paisagens na região do rio Trombetas, Pará

Marcos Pereira Magalhães (MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI - SETOR DE ARQUEOLOGIA)

Dentro da perspectiva de que todo território cultural apresenta ambientes transformados em artefatos sociais, as paisagens neles construídas podem reproduzir as representações espirituais, políticas e econômicas de uma sociedade. Sendo assim, um território pode apresentar um mosaico de áreas focais e tributárias, tais como locais de habitação, cultivo, caça, pesca, coleta, cerimônias e etc. Estudos arqueológicos realizados na região de Porto Trombetas (PA desde os anos 1950 já identificaram mais de uma centena de sítios. Recentemente, as pesquisas arqueológicas na região têm investigado a maneira como as sociedades relacionadas aos estilos cerâmicos Pocó e Konduri ocuparam e alteraram diferentes ambientes, resultando em diversas paisagens relacionadas a distintas finalidades. Assim, considerando a rede das relações sociais, culturais e econômicas associadas ao estilo Konduri, escavações arqueológicas, inventário botânico e estudo da cultura material realizadas no sítio Greig II permitiram testar a hipótese de que o local seria reservado para atividades especiais de cunho cerimonial.

Variação da cobertura vegetal em dois sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara, durante o Holoceno

Luana Cristina da Silva Campos (UTAD), ), Rui José dos Santos Teixeira (UTAD), Ana Isabel Peres Correia Rodrigues (IPMAR)

O Parque Nacional Serra da Capivara (PNSC), localizado no Piauí, é caracterizado pela sua grande riqueza arqueológica, geológica e ambiental. A análise de dados isotópicos δ13C obtidos a partir da matéria orgânica de solos provenientes de sondagens realizadas na proximidade dos sítios arqueológicos Toca da Ema do Sítio do Brás I e Toca do Baixão do Perna I permitiram compreender a variação da cobertura vegetal nesses locais do PNSC. Os valores de δ13C da matéria orgânica das amostras de solos recolhidos na sondagem I localizada nas imediações do sítio arqueológico Ema I e na sondagem II do Perna I, localizada numa zona mais aplanada, a 2600 m do sítio arqueológico Perna I, apresentam resultados semelhantes, mostrando um empobrecimento isotópico de δ13C desde o Holoceno médio (ca. 6 073 anos cal. BP) até à atualidade. Porém, na sondagem I do Ema I o empobrecimento isotópico é de apenas 1.79 ‰ (de - 24.69 ‰ a - 26.48 ‰), enquanto na sondagem II do Perna I os valores de δ13C obtidos variam desde -20.97 ‰ (na base) a - 25.86 ‰ (no topo), correspondendo a uma variação de 4.89‰ que apontando para uma modificação da vegetação de cobertura ao longo do tempo, de mais aberta

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com a presença de gramíneas C4 e provavelmente árvores (plantas C3), para mais densa (predomínio de plantas C3, e.g. árvores), provavelmente associada à presença de um clima mais úmido. Uma situação contrastante com as que foram descritas anteriormente ocorre nos solos da sondagem I do Perna I onde os valores de δ13C registrados variam pouco ao longo do tempo (1.25 ‰), indicando pouca variação no tipo de vegetação, situação que poderá ser explicada pela sua localização num vale extremamente encaixado, onde as condições ambientais seriam propícias à manutenção de valores médios umidade ao longo do tempo. O valor médio de δ13C obtido para este local (-23.88 ‰) aponta, por isso, para o predomínio de plantas do tipo C3 e eventual presença de plantas C4.

ST: Povoamento e diversidade técnica [UISPP - Comissão América]

Coordenadores: Antoine Lourdeau (Muséum National d'Histoire Naturelle), Sibeli Aparecida Viana (INSTITUTO GOIANO DE PRÉ-HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA-IGPA/UCG)

Proposta: O simpósio abordará a questão do povoamento e a ocupação na América tomando por referência os estudos tecnológicos das indústrias líticas e a sua diversidade técnica. A diversidade técnica é vista em uma perspectiva diacrônica de longa duração, onde os fenômenos culturais são considerados como evidencias de conhecimentos e de comportamentos técnicos presentes em grupos particulares ou de uma coletividade maior. Longe de considerar como um resultado de instabilidade, de inabilidade ou de limitação de competência técnica, exprime uma importante fluidez cultural entre as sociedades.

Apresentações:

A Tradição Umbu na Planície litorânea do Extremo Sul Catarinense. O sítio Oratório: Antiguidade e Estratégia Tecnológica.

Marcos Cesar Pereira Santos (Università degli studi di Ferrara-Italia), Juliano Bitencourt Campos (UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC)

Os sítios arqueológicos mais antigos do Brasil Meridional estão diretamente associados a grupos humanos com habito de caça e coleta portadores de um sistema técnico de redução bifacial com a produção de pequenas pontas de projétil denominado culturalmente como Tradição Umbu. Esses sítios apresentam uma cronologia inicial por volta dos 10.000 anos AP até o século XVII, indicando uma longa duração desse grupo cultural. Na planície litorânea do Extremo Sul Catarinense nenhum dado desse tipo de ocupação foi publicado, indicando um hiato cronológico dessa ocupação na região. Está comunicação pretende apresentar os dados obtidos até o momento sobre o sítio arqueológico Oratório, sua antiguidade e estratégia tecnológica, contextualizando com as ocupações culturalmente diferenciadas no Holoceno Final da região litorânea Catarinense. Esta pesquisa está inserida no projeto de pesquisa Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba, coordenado pelo grupo de pesquisa arqueologia e gestão integrada do território.

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As indústrias líticas das ocupações ceramistas da Amazônia: Estudo do sítio PA-OR- 127: Cipoal do Araticum, região de Porto Trombetas, estado do Pará

Déborah Lima Duarte Talim (PPGAN-UFMG)

Esta comunicação pretende apresentar os principais resultados obtidos no desenvolvimento de uma dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Antropologia da UFMG. Trata-se do estudo tecnológico, com metodologia adaptada da Escola Francesa, da coleção lítica do sítio arqueológico Cipoal do Araticum, localizado na região de Porto Trombetas, no baixo curso do rio Amazonas, entre os rios Trombetas e Nhamundá, no estado do Pará. A região enfocada tem sido alvo de estudos arqueológicos de caráter científico desde pelo menos a década de 1920, tendo sido, até recentemente, estudada pela equipe do Museu Paraense Emilio Goeldi, no contexto de arqueologia de Salvamento, sob coordenação da arqueóloga Vera Guapindaia. O contexto arqueológico revela para a região a recorrência de duas ocupações, com estilos cerâmicos distintos: Pocó (65 a.C ± 95 a 205 ± 115 AD) e Konduri (AD 1400 ±100 – Hilbert, 1955; Hilbert & Hilbert, 1980). O sítio escolhido (PA-OR-127: Cipoal do Araticum) localiza-se no compartimento de interflúvio, sendo que essa sequência cronológica não é tão clara quanto para outros sítios da região, tidos como referência, como o PA-OR-63: Boa Vista. A questão, então, é saber se o material lítico acompanha as modificações ocorridas entre um período e o outro, procurando compreender melhor a dinâmica de ocupação dos sítios, por meio do estudo de outra categoria de vestígios, até então preterida de análises mais profundas.

As lâminas de pedra polida e as escolhas técnicas regionais: contribuições para um panorama do povoamento da parte oriental da América do Sul

Gustavo Neves de Souza (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

No presente trabalho realizamos uma análise das lâminas líticas polidas produzidas pelos habitantes do território brasileiro em tempos pré-coloniais, provenientes de diferentes regiões, grupos e modos de vida. A partir do estudo de coleções arqueológicas pretendemos compreender melhor as peculiaridades apresentadas por estas lâminas polidas em cada região e as eventuais relações entre os conjuntos regionais. Com isso, pretendemos contribuir para um panorama mais rico da diversidade cultural e para o povoamento, sobretudo da parte ocidental do continente sul-americano. Foram analisados 926 artefatos, entre lâminas, fragmentos e alguns percutores. As peças integram coleções de museus centrais em diferentes regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Sudeste e Sul). São principalmente coleções antigas, que apresentam objetos provenientes de diversas partes de cada um dos estados, possibilitando uma cobertura territorial ampla. A despeito dos parcos dados de procedência das peças foi possível caracterizá-las regionalmente de forma bastante clara, demonstrando que morfológica e tecnologicamente há variações significativas de uma região para a outra. Em alguns casos foi possível ir ainda mais longe, permitindo propor atribuições culturais a determinados tipos, relacionando-os a algumas Tradições Arqueológicas. No entanto, se tornou evidente também que a partilha dos modos de fazer regionais tem importância capital, que quase sempre vai além das escolhas culturais de um grupo específico. Finalmente, conseguimos lançar luz sobre a importância das lâminas mostrando-as como ferramentas importantes para a compreensão do processo de ocupação do território.

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Changements climatiques et peuplements

Eric Boëda (Univeristé Paris X - Nanterre)

L’histoire des peuplements s’appuie en général sur trois registres de données : stratigraphique, datation et technique. Les données techniques sont en général réduites à l’utilisation de « fossile directeur » qui appartiennent à un registre mémoriel actuel, telles les pointes de projectiles etc., ou qui s’en situe en dehors. Dans ce dernier cas, le choix du nom pour nommer les artefacts est très fluctuant, puisant dans différents registres : animalier (limace), fonctionnel imaginaire (chopper), analogique (ethnographique ou actualiste) voire totalement « surréaliste » (mode 1, 2…). Mais ces données ne sont pas toujours jugées suffisantes, ne corroborant pas le modèle dominant. Dans le cas du peuplement américain, l’abandon récent du paradigme de Clovis nous permet une ouverture historique, où tout devient à nouveau possible. Dans le cadre de cette ouverture il est important de réfléchir à l’importance des changements climatiques majeurs qui se sont succédés depuis le MIS4. Les nombreuses données provenant depuis une vingtaine d’années des fouilles du Piaui, ainsi que d’autres données permettent d’envisager de nouveaux modèles de peuplements depuis et durant les MIS 3 et 2. L’importance de ce dernier (dernier maximum de la dernière glaciation) est d’autant plus important qu’il modifie considérablement les espaces et en particulier ceux d’Amérique du nord. La baisse du niveau de la mer qui libère des territoires concomitante à une extension des zones glaciaires qui supprime des espaces viables, l’extension vers le sud des zones périglaciaires qui repoussent vers le sud les conditions de vie favorables, l’existence d’une banquise (hiver comme été) qui ne laisse aucune trace matérielle, mais qui peut être un lieu de vie comme nous le montre l’ethnologie sont autant d’éléments à prendre en compte pour envisager tout modèle de peuplement.

Indústrias líticas do Holoceno médio, entre variabilidade e homogeneidade : o caso do sítio Cajueiro, Serra Geral, Bahia

Amélie Da Costa (Université Paris Ouest-Nanterre)

Os dados atuais disponíveis sobre o Holoceno médio no Brasil central parecem indicar que tem sido um período com muitas mudanças. Essas mudanças foram tanto ambientais, o clima tornando-se mais seco e impactando a fauna e a flora, quanto antrópicas. Por essas últimas, nota-se uma forte diminuição do número de sítios arqueológicos deste período, podendo refletir, com cautela, uma redução da densidade de ocupações humanas. Observa-se também transformações técnicas notáveis nas indústrias líticas, com o desaparecimento dos artefatos façonados unifacialmente, elemento considerado como marcador do período anterior. Nesta comunicação, apresentaremos os resultados do estudo tecnológico e tecnofuncional do material do sítio Cajueiro, localizado na Bahia e escavado por Schmitz e Barbosa no âmbito do projeto Serra Geral do Pronapa, no início da década 80. Dos resultados do estudo, ressalta o fato que, com exceção da forte variabilidade morfológica que a levou a ser qualifida como "arcaica", a indústria lítica do Cajueiro apresenta uma homogeneidade no seus conceitos e métodos de produção, assim como uma estrutura recorrente das suas ferramentas. Colocando em perspectiva os resultados do estudo à luz dos dados disponíveis para este período, entregamos uma compreensão nova das indústrias do Holoceno médio.

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La tecnología y el espacio en las sierras de Tandilia

Nora Flegenheimer (CONICET-Area AyA, Museo de Ciencias Naturales, Necochea), Celeste Weitzel (CONICET, Area A y A, Museo de Ciencias Naturales, Necochea), Natalia Mazzia (CONICET-Área Arqueología y Antropología, Museo de Ciencias Naturales, Necochea)

La mayoría de los sitios tempranos de la Región Pampeana Argentina se concentran en las sierras de Tandilia. En una microrregión de unos 300 km2 ubicada en el sector centro oriental se han excavado siete sitios con dataciones entre 13000 y 9400 años AP. Se trata de Cerro La China 1, 2 y 3, Cerro El Sombrero Cima y Abrigo 1, Los Helechos y Cueva Zoro. Una característica saliente de los conjuntos líticos es su gran variabilidad intersitio, que evidencia las elecciones técnicas realizadas en distintos momentos de la cadena operativa: especialmente la selección de materias primas y el empleo desigual de técnicas de manufactura. Respecto a las materias primas, aunque la ortocuarcita Grupo Sierras Bayas es la más frecuente, los colores seleccionados varían. Las rocas secundarias se emplean de forma variable, por ejemplo la ortocuarcita local fue usada en todos los sitios excepto en Cerro El Sombrero Cima. Allí, en cambio, se descartaron más artefactos de cuarzo, incluso de cristal de cuarzo, ausente en el resto de los contextos. La distribución desigual de técnicas de manufactura se observa en la frecuencia de empleo de picado, abrasión y pulido, grabado, talla bifacial y bipolaridad en los distintos contextos. También están representados desigualmente los momentos del proceso productivo en diferentes sitios. Mientras que en varios sitios se recuperaron desechos de momentos intermedios, Cerro El Sombrero Cima sólo posee evidencias de los momentos finales de producción. Finalmente, este sitio presenta un índice de fragmentación muy elevado vinculado al descarte de artefactos al fin de su vida útil. Es decir, el escenario es el de grupos sociales con un amplio repertorio tecnológico que se distribuye de forma variable. Esta variabilidad responde a la selección de espacios donde se llevaron a cabo sólo una parte restringida de las actividades desarrolladas por el grupo y donde por lo tanto, hoy se registra sólo una parte restringida del repertorio tecnológico.

Mudanças técnicas da transição Pleistoceno-Holoceno ao Holoceno Médio no interior do Nordeste: indústrias líticas da sequência arqueológica da Toca do João Leite – PI

Lívia de Oliveira e Lucas (Universidade Federal do Vale do São Francisco)

A faixa temporal que corresponde à transição Pleistoceno-Holoceno ao Holoceno médio representa um período importante no povoamento do continente Americano. Intensificação e consolidação da ocupação do território, e mudanças, climáticas e culturais, ocorreram. No plano técnico, o elemento mais ressaltado é a mudança de uma indústria lítica marcada por instrumentos façonados unifacialmente do Tecnocomplexo Itaparica, para uma indústria marcada por instrumentos pouco modificados. Para abordar esse assunto, o sítio Toca do João Leite, sudeste do Piauí, mostrou-se particularmente interessante. A sequência estratigráfica desse sítio demonstra a presença de quatro conjuntos arqueo-estratigráficos, que aliados a datações radiocarbônicas, indicam ocupações que vão de 10.800 anos BP a 1.330 anos BP. Para esse estudo foi escolhido dois destes conjuntos: o quarto conjunto com datações de 10.520 e 10.810 anos BP com presença marcante de peças façonadas unifacialmente. E o segundo conjunto, com datas de 3.190 e 4.970 anos BP, com número marcante de instrumentos sobre seixos. As análises, tecnológica e tecnofuncional, dos conjuntos selecionados permitiram o conhecimento dos elementos que marcam cada um, viabilizando as comparações entre os sistemas técnicos das diferentes indústrias e entre indústrias contemporâneas da região Nordeste e Planalto Central do Brasil. Apresenta-se aqui os resultados deste estudo.

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Persistência Técnica e Estabilização Estilística: a automatização do movimento na produção de características padronizadas e a abordagem tecnológica como medida compreensiva

Everaldo dos Santos Junior (Universidade Federal do Pará)

Persistência leva a perfeição, ditado comum quanto aos efeitos disciplinar numa atividade, ainda mais às práticas manuais decorrentes de movimentos controlados – técnico – consciente e automático que ocasionará padronização de seus produtos com suporte mais amplo a habilidade em realizar uma atividade resultante da tríade persistência, regularidade e controle. A habilidade encontra-se na frequente realização. A padronização de um aspecto social na ótica antropológica do início do século XX correspondia a algo extrassomático. Assim a forma de um artefato é fruto de um conhecimento técnico aplicado regularmente dependente da habilidade do artesão fruto do processo de aprendizagem e constância na execução de uma atividade onde o julgar do padrão fica a encargos da sociedade no duelo entre a habilidade do artesão e os padrões do grupo. Aplicação do conhecimento técnico na transformação de uma matéria caracteriza-se como a intercessão entre o natural/cultural - não apenas humano - interligado entre a habilidade do artesão e seu universo social configurando o aspecto cultural de um grupo em termos tecnológicos, sendo o indivíduo não somente passivo do seu meio. A habilidade manual ocasiona a simetria formal dos produtos como a falta ocasionará o inverso, sem simetria não há estética e o conteúdo é responsável por causar sentimentos emocionais, às vezes restrito na mente do artesão. Com isso percebemos quanto volátil é a compreensão de um artefato seguindo a forma buscando o conteúdo numa perspectiva descritiva quando estamos preocupados com questões analíticas. Como buscar conteúdo no sentido de representação de um artefato quando seu produtor não mais existe? Como buscar conceitos de forma, padrão, simetria apenas através do sentimento emocional que essa tríade causa? Penso que a categoria analítica competente para compreender esse processo entre forma e conteúdo nos artefatos arqueológicos que utilizam a técnica do lascamento em sua produção seria a análise tecnológica

Povoamento humano da Bacia do Paraná setentrional (MS): peças líticas entre cerca de 12000 e 3500 A.P.

Emília Mariko Kashimoto (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/PROPP)

Esta comunicação apresenta uma síntese relativa aos resultados obtidos nas pesquisas arqueológicas realizadas na Bacia do Paraná, MS, desenvolvidas pela equipe do MuArq/UFMS, no período de 1993 a 2015, especificamente no tocante ao povoamento humano da transição Pleistoceno/Holoceno ao Holoceno médio e seus respectivos testemunhos líticos lascados, tendo-se como referências os sítios em ambientes abrigados (AS4 e Casa de Pedra-MS.PA.02 (AS12)) e em sítio a céu aberto, no terraço fluvial do rio Paraná (BR8). A escavação arqueológica do sítio AS4, um abrigo sob rocha na margem do rio Sucuriú, permitiu a identificação da cronologia arqueológica de, pelo menos, 12 ocupações humanas, entre cerca de 3000 e 11000 A.P.; no sítio Casa de Pedra-MS.PA.02 (Alto Sucuriú 12-AS12) situado a 30 km de distância do sítio AS4, evidenciaram-se 6 camadas sotopostas, no intervalo cronológico entre aproximadamente 1200 e 12000 A.P., destacando-se, nesse conjunto, a datação de um bloco com grafismos rupestres na camada de 8000 A.P.; no sítio BR8, enfoca-se o conjunto artefatual datado em cerca de 3.500 A.P. A problemática que ora se coloca é a possibilidade de se identificar variações nos instrumentais líticos das ocupações humanas do planalto e planície da Bacia do Paraná, MS, no período entre aproximadamente 12000 e 3500 anos A.P., para contribuir na análise das fronteiras entre as culturas arqueológicas do Brasil Central e Meridional, tais como as denominadas tradições Itaparica/Serranópolis e Umbu.

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Povoamentos pré-históricos no alto rio Uruguai: primeiros resultados da escavação de ACH-LP-07

Antoine Lourdeau (Muséum National d'Histoire Naturelle)

Autores: Antoine Lourdeau, Mirian Carbonera, Sirlei Hoeltz, Marcos César Pereira Santos, Christine Hatté, Michel Fontugne, Sibeli Aparecida Viana, Amélie Da Costa, Silvano Silveira da Costa, Lívia de Oliveira e Lucas Resumo: A região da foz do rio Chapecó, no alto vale do rio Uruguai (SC/RS), foi alvo de pesquisas de arqueologia preventiva durante a década de 2000 pela Scientia Consultoria Científica, no âmbito da construção de uma usina hidrelétrica. Os resultados das escavações foram inesperados. Revelaram uma presença humana de mais de 9.000 anos AP, que corresponde a uma das ocupações mais antigas do Estado de Santa Catarina, além de ocupações com grupos ceramistas do Holoceno tardio. Nas camadas do Holoceno antigo, além das “clássicas” indústrias líticas tradicionalmente associadas à tradição Umbu (peças bifaciais, entre as quais pontas de projétil, instrumentos variados sobre lascas...) foi encontrada uma produção de lâminas, até então desconhecida no Brasil. Devido ao importante potencial arqueológico da região um programa franco-brasileiro de pesquisas arqueológicas teve início em 2013, com o objetivo de explorar as partes desses sítios não impactadas pelas obras da usina. Apresentamos aqui os primeiros resultados dessa nova pesquisa de campo e colocamos esses dados na perspectiva mais ampla dos povoamentos pré-históricos do Sul do Brasil.

Tecnologia Lítica no Médio Paranapanema: Um estudo de caso das ocupações da transição Holoceno Inicial/médio do sítio Brito (Sarutaiá/SP)

Diego Teixeira Mendes (IPHAN)

O presente trabalho é referente ao estudo das indústrias líticas do sítio Brito, localizado na margem direita do rio Paranapanema, no Estado de São Paulo. Os materiais estudados estão associados a datações recuadas a transição Holoceno Inicial/Médio, entre, aproximadamente, 8.000 BP e 6.500 BP. O nosso primeiro objetivo concerne à caracterização tecnológica das indústrias líticas a partir de uma abordagem centrada no conceito de cadeia operatória visando reconstituir os processos técnicos e as estratégias de uso das matérias primas que geraram a variabilidade artefatual observada. O segundo objetivo trata da verificação, por meio da análise da distribuição vertical e horizontal dos vestígios, da integridade de solos de ocupação identificados durante a escavação. Propomos que as indústrias líticas mais antigas do sítio Brito estão distribuídas em um nível arqueológico caracterizado por um palimpsesto de ocupações.

ST: Povoamento inicial da América visto a partir do contexto Arqueológico Brasileiro

Coordenadores: Andrei Isnardis Horta (Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG), Lucas de Melo Reis Bueno (departamento de historia - ufsc)

Proposta: Entre 12.500 e 8.000 anos BP, a porção oriental da América do Sul estava ocupada por uma população estável e diversificada de grupos de caçadores-coletores. A predominância de sistemas de subsistência generalistas e a grande variabilidade de estilos regionais das indústrias líticas desse período destacam os limites dos modelos clássicos sobre o povoamento da América. Somada às crescentes evidências de ocupações pleistocênicas, a diversidade de estratégias

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adaptativas, indicada em pesquisas recentes sugere que o processo de colonização inicial das terras baixas sulamericanas incluiu diferentes dinâmicas de ocupação e deslocamento, com diferentes rotas de dispersão e ocupações interioranas. A proposta do simpósio é discutir as bases sobre as quais se estabelece nosso presente conhecimento sobre o início e consolidação da ocupação do território hoje brasileiro e, nessa reflexão, explorar perspectivas alternativas para continuidade das pesquisas Os trabalhos que comporão este encontro englobam apresentação de estudos de caso, discussão de contextos regionais e reflexões de conjunto sobre a construção desse contexto e problemáticas a ele relacionadas. Assim, articulando diferentes escalas e perspectivas, nossa intenção é contribuir para o incremento da discussão sobre o povoamento inicial de nosso continente apresentando olhares a partir do contexto arqueológico brasileiro. Esta proposta está atrelada a um projeto de cooperação internacional financiado pela Capes no âmbito do Edital CAPES-COFECUB 2015.

Apresentações:

A experimentação, um protocolo analítico dos comportamentos técnicos dos homens pré-históricos. Exemplo dos adornos de Santa Elina

Denis Vialou (Muséum National d'Histoire Naturelle)

Em uma das mais antigas ocupações do abrigo de Santa Elina, dois adornos feitos em osteodermes mostram uma nítida criatividade tecnológica. O nível técnico atingido para fabricar esses objetos de prestígio é bem superior ao da macro-indústria lítica. Entretanto é comparável ao da micro-indústria em rocha silicosa. O grau de acabamento dos dois adornos perfurados em osteodermes, encontra-se em outros tipos de adornos nas ocupações datadas do Holoceno. Somente alguns utensílios bem elaborados dessas ocupações holocênicas oferecem uma caraterística comparável de elaboração técnica e morfológica. A fabricação experimental in loco de dois adornos em osteodermes, comparáveis às peças originais, bem como as experiências de lascamento e de talhe do lítico (calcário e arenito) permitem de destacar e de dissociar competências técnicas distintas e, sem dúvida, tendências guiadas pelos objetivos técnicos diferentes e as diversas valorisações sociais ligadas aos objetos.

A indústria lítica Lagoassantense no contexto do povoamento inicial da América

João Carlos Moreno de Sousa (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O território leste sul-americano, durante a transição Pleistoceno-Holoceno, é conhecido por ter um povoamento inicial de duas principais unidades culturais representadas por duas principais categorias de indústrias líticas: uma categoria de indústrias ao norte, conhecida pela grande presença de artefatos plano-convexos produzidos por lascamento unifacial (lesmas); e uma categoria de indústrias ao sul, conhecida, basicamente, pela grande presença de pontas produzidas por lascamento bifacial. A estas duas categorias de indústrias líticas foram dadas os nomes de, respectivamente, Tradição Itaparica e Tradição Umbu, durante pesquisas arqueológicas da segunda metade do século XX. No entanto, uma cultura arqueológica distinta, que apresenta uma indústria lítica nada similar às famosas tradições Itaparica e Umbu, e ao mesmo tempo contemporânea a elas, vem ganhando destaques nas últimas décadas: a cultura arqueológica Lagoassantense. Este trabalho tem o objetivo de caracterizar a indústria lítica da região de Lagoa Santa em meio ao contexto do povoamento inicial do Brasil e da América, além de fornecer explanações para suas diversas particularidades.

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A sequência arqueológica da Serra da Capivara, PI. Novo olhar sobre as indústrias do final do Pleistoceno ao Holoceno médio

Antoine Lourdeau (Muséum National d'Histoire Naturelle)

Autores: Antoine Lourdeau, Marina Pagli, Niède Guidon Resumo: Apresentamos um estudo sintético da sequência arqueológica da Serra da Capivara, PI, a partir de novas análises das indústrias líticas de vários sítios da região e suas implicações para o entendimento dos povoamentos humanos no Brasil do final do Pleistoceno ao Holoceno médio. A densidade das ocupações pré-históricas nesta área e sua relativa continuidade cronológica fornecem uma oportunidade para o entendimento das continuidades e mudanças culturais, das inovações tecnológicas e processos de povoamento ao longo do tempo. As análises dos vestígios líticos dos sítios da Serra da Capivara concentraram-se principalmente nos contextos pleistocênicos. Propomos aqui uma visão diacrónica das produções técnicas baseada sobre o resultado de novos estudos de vários sítios escavados nas últimas décadas pela Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), com sequências estratigráficas bem datadas. As grandes tendências da variabilidade técnica permitem assim delinear um quadro preliminar das mudanças nas produções líticas durante a pré-história na Serra da Capivara, que podemos discutir e integrar na perspectiva mais ampla dos povoamentos do Brasil e da América do Sul.

O material lítico dos níveis mais antigos do sítio arqueológico Bibocas II, Jequitaí/MG

Luis Felipe Bassi Alves (Centro Especializado em arqueologia Pré-Histórica UFMG)

Este trabalho apresenta uma síntese da dissertação de mestrado realizada sobre o material lítico escavado dos níveis mais antigos do sítio arqueológico Bibocas II, localizado no município de Jequitaí, MG. O sítio encontra-se sob um abrigo de quartzito, muito próximo ao entroncamento de dois córregos (Bibocas e Sítio) afluentes da margem direita do rio Jequitaí. Foram realizadas três campanhas de escavação e foram analisadas mais de 4300 peças entre lascas, instrumentos e núcleos/suportes. As datações de C14 indicam 10.400 +/-70 para os níveis mais profundos do sítio, sendo que a maior concentração de vestígios se encontra nesta camada estratigráfica. Através desta análise dos vestígios pétreos, praticamente o único registro representativo das ocupações pré-coloniais encontrado na escavação, pretende-se construir interpretações diacrônicas acerca das possíveis atividades de lascamento e a forma como as matérias-primas líticas foram geridas. A análise tecnológica e a montagem de cadeias operatórias são integrantes centrais desta proposta de identificação e delimitação de mudanças e continuidades ao longo da estratigrafia. Dessa forma é possível construir interpretações sobre as formas de uso e ocupação do abrigo ao longo do tempo, sob uma perspectiva intra-sítio. Além disso, a localização geográfica de Jequitaí pode conectar contextos arqueológicos conhecidos e pesquisados desde os anos 80. Isso permite realizar um levantamento quantitativo e qualitativo comparável com outros sítios locais e regionais. Passados três anos da defesa da dissertação, hoje é possível discutir com mais clareza o significado das alterações tecnológicas na estratigrafia e as possibilidades de comparação, além de poder elaborar problemáticas para as futuras pesquisas regionais.

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Ocorrência de Pontas do Tipo Rabo-de-Peixe em Território Brasileiro e Suas Implicações para o Entendimento do Antigo Território Paleoíndio da América do Sul Meridional

Maria Mercedes Martinez Okumura (MN-UFRJ), Mirian Carbonera (Universidade Comunitária da Região de Chapecó-Unochapecó), Daniel Loponte (CONICET)

As pontas bifaciais conhecidas como “Rabo-de-Peixe” ou Fell, muito comuns nos atuais territórios da Argentina e do Uruguai, são associadas a contextos de grupos caçadores-coletores da transição Pleistoceno-Holoceno. Numerosos autores têm assinalado desde a segunda metade do século XX que o território destes grupos Paleoíndios incluía o sul do Brasil. Um trabalho recente sistematizou os dados métricos, matérias-primas e procedência de 20 pontas “Rabo-de-Peixe” recuperadas principalmente nos estados do Sul do Brasil (Loponte et al 2015). Neste trabalho, apresentamos informação inédita sobre pontas localizadas em diferentes coleções públicas e privadas, sendo a maioria delas oriundas dos estados meridionais do Brasil. Faremos uma sistematização dos novos achados, incorporando dados sobre as matérias-primas utilizadas, as variáveis métricas e sua relação com os achados já conhecidos. Serão discutidas as implicações desses artefatos para o entendimento de territórios pretéritos de grupos caçadores-coletores Paleoíndios no atual território brasileiro.

Santa Elina : indústria lítica do final do pleistoceno em relação às diversas atividades cotidianas durante as ocupações

Agueda Vialou (Muséum National d'Histoire Naturelle)

As ocupações do abrigo rupestre Santa Elina (MT), do Pleistoceno final 25-27000 anos AP e do Holoceno antigo, caracterizam-se fundamentalmente pela associaçao direta de uma fauna extinta de uma preguiça gigante - Glossoterium aff. Gl. Letsomi. com os artefatos e os vestígios de atividades humanas. As análises das indústrias líticas desses dois períodos apresentam especificidades tecnológicas quanto ao modo de lascamento e de confecção de utensílios a partir de um aprovisionamento em matérias-primas apropriadas. Esse comportamento técnico estaria relacionado a uma adaptação ao contexto ambiental, pela sua localização serrana e pela configuração do abrigo como um habitat fechado, em um meio particular de fauna e de flora.

Tecnologia e Território no médio rio Tocantins: implicações para o povoamento do Planalto Central Brasileiro no Holoceno Inicial

Lucas de Melo Reis Bueno (Departamento de História - UFSC)

Nesta apresentação faremos uma síntese dos trabalhos realizados na região do médio rio Tocantins nos últimos dez anos, enfatizando dois aspectos que nos permitem contribuir para a discussão sobre povoamento inicial do Planalto Central Brasileiro: Tecnologia e Território. A partir de uma caracterização dos conjuntos líticos identificados em sítios arqueológicos a céu aberto e em abrigos e da distribuição espacial e temporal destes sítios pretendemos discutir a dinâmica de ocupação do espaço nesta região ao longo do Holoceno Inicial, realçando suas implicações tanto no que se refere aos seus momentos iniciais, associados à consolidação da ocupação dessa macro-região, quanto ao seu momento tardio (Holoceno Médio), vinculado a um processo de transformação local e diversificação regional. Este enfoque procura inserir a análise do contexto arqueológico local (médio rio Tocantins no Holoceno Inicial) em uma escala temporal e espacial mais ampla de forma a viabilizar uma discussão sobre processo de povoamento na longa duração.

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Uma leitura da arqueologia das ocupações mais antigas do Centro e Norte de Minas Gerais

Andrei Isnardis Horta (Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG)

A proposta desta contribuição ao simpósio é rever criticamente alguns dos elementos que caracterizam as ocupações da transição Pleistoceno/Holoceno e do Holoceno Inicial no Centro e Norte de Minas Gerais, a partir da bibliografia hoje disponível. Refletindo sobre o modo de construção dos conhecimentos e sobre seu alcance para discussões de processos de povoamento no interior do Brasil, procuro atentar para a natureza dos questionamentos dirigidos pelos pesquisadores ao registro arqueológico desse período, para os métodos através dos quais esse registro foi abordado e para o modo como os resultados se integraram à compreensão das ocupações mais antigas do Brasil Central. Esta revisão não se pretende exaustiva em relação às regiões em que ocupações desse período foram reconhecidas, mas nela estão incluídos elementos dos contextos arqueológicos identificados e estudados em áreas que se estendem desde o carste de Lagoa Santa e da Serra do Cipó, no Centro de Minas Gerais, até o extremo Norte do estado, nos limites com a Bahia.

ST: Práticas Arqueológicas Colaborativas: Desafios e Perspectivas

Coordenadora: Fabíola Andrea Silva (Museu de Arqueologia e Etnologia USP)

Proposta: Nas últimas décadas, o surgimento das chamadas “arqueologias colaborativas” representou o desencadeamento de novas formas de se pensar e fazer arqueologia, onde a multivocalidade e a reflexividade são entendidas como componentes fundamentais da prática arqueológica. Cada vez mais se fortalece a noção de que existem múltiplas arqueologias e que estas não dizem respeito exclusivamente ao passado, mas remetem ao presente e futuro dos coletivos humanos. As experiências colaborativas desenvolvidas ao redor do mundo já demonstraram que não é tarefa fácil construir um conhecimento multivocal e reflexivo sobre o registro arqueológico, bem como tornar as políticas patrimoniais mais inclusivas e democráticas. No entanto, isto não tem impedido a proliferação dessas experiências, ao contrário, elas vêm aumentando e transformando a face da arqueologia no século XXI, reforçando cada vez mais o seu papel social e político. Neste simpósio pretendemos refletir sobre o modo e os contextos nos quais estas práticas colaborativas vêm sendo desenvolvidas pelos arqueólogos no Brasil. O objetivo, num primeiro momento, é abrir um foro de discussão entre os pesquisadores a fim de que estes possam expor os desafios que têm enfrentado ao longo de suas experiências com diferentes comunidades locais (indígenas e não indígenas). Acreditamos que se queremos de fato tornar nossas práticas mais simétricas é fundamental que tenhamos momentos de reflexão e auto-crítica para melhorarmos a nossa interlocução com os “outros” interessados pelo registro arqueológico.

Apresentações:

Arqueologia (N)ativa: Em busca dos marcos tradicionais com os tremembés

Jóina Freitas Borges (UFPI - Universidade Federal do Piauí), Ludiane das Chagas Vilela (Universidade Federal do Piauí), Tailine Rodrigues Valério da Silva (UFPI)

A praia de Almofala está situada no município de Itarema, no litoral oeste do estado do Ceará. Essa região, possui informação de ocupação pelos índios tremembés, desde pelo menos o século XVII. Na área indígena e arredores, existem sítios arqueológicos os quais são relacionados pelos tremembés atuais como “ as antigas moradias dos ancestrais”: assim o patrimônio arqueológico era comumente apropriado pela comunidade. Após as primeiras aulas do MITS - Magistério Indígena Tremembé

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Superior/UFC, a partir do ano de 2006 (em 2013 foram formados 36 professores indígenas), eles tomaram consciência de que esses lugares ancestrais eram também patrimônio arqueológico e bens acautelados. Os tremembés, em processo de demarcação de suas terras, passaram a entender que a arqueologia poderia ser usada como um mecanismo para comprovar sua ancestralidade na região, além de ser um meio a mais para se reivindicar a proteção de seus territórios, tão espoliados. Partiu dos próprios índios, a demanda por prospecções arqueológicas nas áreas por eles reconhecidas como marcos territoriais tradicionais, com o fim de encontrá-los e verificar a existência de material arqueológico, para dar a eles mais relevo e proteção. Os marcos, segundo os próprios tremembés, reforçam sua identidade indígena, pois são elementos que dizem respeito à sua história, logo, são patrimônio. Este trabalho consiste na descrição das etapas de prospecção realizadas aos marcos territoriais tremembé, e das apropriações que foram realizadas. A pesquisa arqueológica está aos poucos sendo construída com eles, e mais do que um meio no processo de valorização étnica, almeja-se que se forneça um campo de discussão e militância, uma arqueologia colaborativa que contribua na construção de conhecimentos e perspectivas de ver o mundo, promovendo ações concretas no sentido de se escutar e de se fazerem valer as demandas indígenas.

Arqueologia colaborativa na Terra Indígena Lalima, Miranda/MS

Eduardo Bespalez (Departamento de Arqueologia, Núcleo de Ciências Humanas, Universidade Federal de Rondônia)

O ano de 2015 marca uma década de pesquisas arqueológicas e etnoarqueológicas na Terra Indígena Lalima, uma comunidade multiétnica, constituída principalmente por índios Guaikuru, Terena, Kinikinao e Laiana, localizada na margem direita do rio Miranda, em Miranda/MS, no Pantanal. Inicialmente, o projeto de pesquisa foi elaborado com o objetivo de investigar a história cultural da ocupação indígena regional. Contudo, com o passar dos anos, se bem que os objetivos históricos e culturais não foram postos de lado, o projeto passou a se interessar mais por questões etnográficas relacionadas à etno-história, à territorialidade e à paisagem. Entre outros fatores, essa ampliação de interesses se deu em função da incorporação de perspectivas teórico-metodológicas pós-colonialistas e colaborativas, tendo em vista o combate ao colonialismo e a descolonização do conhecimento arqueológico, e a prática da multivocalidade e da reflexividade. Como resultado, foram traçadas as linhas gerais da dinâmica histórica e cultural de longa duração da ocupação indígena na área, iniciada há ao menos mil anos, e do processo de formação territorial da TI Lalima, marcado pelos processos de estabelecimento, manutenção e transformação territorial agenciado por índios Guaikuru e Guaná, ancestrais do coletivo indígena atual, em uma paisagem previamente indigeneizada por povos portadores da Tradição Pantanal e pelos Guarani, e posteriormente territorializada pelo colonialismo.

Arqueologia, Ensino Superior Diferenciado e o Professor Indígena

Luciano Pereira da Silva (Universidade do Estado de Mato Grosso)

Trata-se da dissertação Arqueologia e ensino superior indígena: uma experiência na Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Barra do Bugres (2006-2007) (defendida em dez. 2007, PPGHIS/UFGD). As fontes estudadas procedem de dois cursos realizados em 2006 junto a professores indígenas que cursam as licenciaturas em Línguas, Artes e Literaturas; Ciências Matemáticas e da Natureza; e Ciências Sociais no então “Programa de Educação Superior Indígena Intercultural” (PROESI), UNEMAT, campus de Barra do Bugres. Os cursos foram “Arqueologia e Habitação Indígena” e “Arqueologia” junto a cem professores indígenas de vinte e duas etnias do Estado de Mato Grosso. Os professores(as) indígenas pesquisaram e produziram conhecimentos que demonstram formas plurais de refletir e agir sobre o seu patrimônio cultural. A análise dos dados mostra formas particulares e diversas de discutir a construção histórica estigmatizada e

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estereotipada do indígena no Brasil, e por outro lado demonstra uma presença atual de resistência à colonização e intensa afirmação étnica. A concepção dos professores indígenas sobre Arqueologia relaciona-se a questões políticas e históricas em seus aspectos materiais, sociais, culturais, simbólicos e afetivos. A dissertação foi apresentada para os professores indígenas no PROESI em janeiro de 2008. Em maio de 2014 é publicado o livro Arqueologia Indígena: protagonismo indígena, interlocução cultural e ciência contemporânea, em junho foi lançado por ocasião de uma etapa de formação das licenciaturas indígenas. Foram doados 200 exemplares para os professores índios, 100 com os quais se realizou a pesquisa, e outros 100 para os professores indígenas presentes na ocasião do lançamento em função das licenciaturas. Realiza-se pelo facebook o contato com os professores nas aldeias para avaliar a recepção e alcance desse livro na comunidade. Reflete-se qual é o significado dessa experiência na Arqueologia Brasileira.

As marcas do começo do mundo: reflexões sobre os efeitos de uma pesquisa colaborativa na transformação de saberes e práticas wajãpi

Mariana Petry Cabral (IEPA), Dominique Tilkin Gallois (Universidade de São Paulo)

Entre 2013 e 2014, foi desenvolvido com apoio do IPHAN o projeto “Jane ypy: Documentação dos saberes wajãpi sobre a formação da terra e da humanidade”. Esta foi uma oportunidade de experimentarmos uma prática colaborativa entre arqueóloga, antropóloga e um grupo de jovens wajãpi, participantes de um programa de formação em pesquisa coordenado pela antropóloga. O projeto teve como foco a identificação e mapeamento de marcas na paisagem – mas também nos corpos de humanos e não humanos – que remetem a eventos e transformações que ocorreram no começo dos tempos, e que seguem exercendo seus efeitos na atualidade. Para além dos resultados técnicos do projeto – como um mapa de lugares de memória na Terra Indígena Wajãpi, o registro e a sistematização de narrativas, e a própria elaboração do relatório final (com uma parte expressiva produzida pelos pesquisadores indígenas) – o exercício de colaboração também pode ser avaliado no seu impacto sobre as reflexões dos Wajãpi não apenas sobre suas formas de conhecimento, mas sobre sua continuidade, sobre a manutenção de saberes e práticas que têm sido silenciados nos últimos anos. É sobre este desafio da prática colaborativa que vamos discorrer.

Co-produção e colaboração: desafios (a)simétricos

Juliana Salles Machado (MAE - USP)

O desafio da simetria no processo de construção do conhecimento nos impõe novos questionamentos sobre o fazer científico como um todo e, mais especificamente, sobre a prática arqueológica. A inclusão de novos atores traz consigo um novo redimensionamento de nossa pesquisa que abrange desde um deslocamento de sua problemática, do tempo e forma de sua execução, até os próprios objetos da pesquisa e formas de análise e divulgação dos resultados. Tais deslocamentos imprimem grandes desafios ao pesquisador que precisa conciliar os tempos nativos com os acadêmicos, estes últimos regidos em grande parte por prazos institucionais das universidades e agências de fomento, sem falar em consultorias ainda menos flexíveis. No entanto, este mesmo desafio tem o potencial de ampliar nossos questionamentos teórico-metodológicos, extrapolando nossas perspectivas e modelos de pesquisa. Usarei minha experiência recente entre os Laklãnõ (Xokleng) para refletir sobre produções coletivas, colaborações e co-produções acerca do passado. Mais do que participantes de uma pesquisa, estes novos atores/colaboradores indígenas tem se interessado em co-produzir conhecimento sobre o seu passado a partir de distintos objetos do pensar e meios de interlocução. Acredito que a flexibilidade prevista em nossos modelos para pesquisas colaborativas possa ser entendida de maneira mais profunda. Indo além da re-ordenação de nosso cronograma ou da decisão de onde escavar ou realizar ou não alguma intervenção, isto

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signfica, permitir que o conhecimento produzido no meio científico possa ser permeado por perspectivas de mundo distintas, as quais podem re-estruturar nossas próprias associações pré-estabelecidas e assim, de certa forma, indigenizar nossas categorias de análise.

Das sementes, às folhas e frutos: a construção de um projeto etnoarqueológico e colaborativo – Vila Bela/MT

Patricia Marinho de Carvalho (MAE/USP)

A partir de um breve resumo da trajetória dos estudos em desenvolvimento desde 2008, junto a membros de comunidade afro-religiosas e moradores da comunidade remanescente de quilombo em Vila Bela/MT, pretendo apresentar uma avaliação dos desafios da prática colaborativa praticada no desenvolvimento do Projeto de doutoramento Visibilidade do Negro na arqueologia: estudos de paisagem e do registro arqueológico de comunidade quilombola – Vila Bela, aprovado junto ao PPGArq-MAE/USP em junho/2014, que da continuidade as investigações iniciadas durante o mestrado em arqueologia. O contexto histórico da formação das comunidades de afrodescendentes ao longo do Guaporé e seus afluentes levou a uma configuração única, também marcada pela resistência frente tráfico atlântico durante a expansão colonialista europeia. A colaboração entre familiares e amigos foi fundamental para a manutenção dessas comunidades ao longo dos séculos. O primeiro desafio vivenciado foi como estruturar em conjunto – pesquisadores e comunidade, um projeto colaborativo, representativo orientado a partir dessa vivencia ancestral dos próprios membros da comunidade e dos pressupostos de uma arqueologia centrada na aplicação de metodologias descolonizantes, tal qual a pratica colaborativa.

De volta aos argonautas do Pantanal: etnoarqueologia, história e território da comunidade Guató da Ilha Ínsua

Jorge Eremites de Oliveira (Universidade Federal de Pelotas)

Os Guató são um povo indígena canoeiro do Pantanal, cuja língua nativa está filiada ao tronco Macro-Jê e à família linguística Guató. Seu território de ocupação tradicional inclui áreas pertencentes aos estados brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, havendo uma parte na Bolívia. A partir da década de 1970, após terem sido declarados extintos em um estudo publicado nos anos 1950, foram reconhecidos como povo indígena por parte do Estado Brasileiro. Na década de 1990, sobretudo, tiveram o reconhecimento de parte da Ilha Ínsua e adjacências como terra indígena. Contudo, o processo de identificação e delimitação oficial restringiu a área da Terra Indígena Guató ao estado de Mato Grosso do Sul, permanecendo de fora extensões circunvizinhas, como ilhas existentes na Lagoa Uberaba, situadas em Mato Grosso. Neste sentido, no presente trabalho será apresentado um estudo sobre a história recente dos Guató na Ilha Ínsua, bem como uma discussão de natureza etnarqueológica e etnológica a respeito de seu território tradicional e sua organização sócio-espacial. Os trabalhos realizados fazem parte de um projeto de pesquisa mais amplo que conta com o financiamento do CNPq e a colaboração da própria comunidade indígena. Para tanto foi realizado um estudo por meio da utilização do método etnográfico, bem como analisadas diversas fontes escritas (publicações de natureza acadêmica, documentos oficiais etc.). Também foi iniciado o levantamento de evidências arqueológicas existentes na área e compreendido o sentido que a cultura material antiga possui para os Guató no tempo presente. Foi começado ainda o registro da memória social de pessoas idosas que vivem na Terra Indígena Guató, os quais possuem o papel de guardiães da memória desse povo canoeiro.

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Desenterrando o passado em territórios tradicionalmente ocupados no alto rio Tapajós

Bruna Cigaran da Rocha (Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); Institute of Archaeology - University College London)

A apresentação visa refletir sobre as estratégias de pesquisa arqueológica adotadas entre comunidades beiradeiras e Munduruku no alto rio Tapajós, em um contexto de conflito social devido principalmente aos planos do governo federal de construir o Complexo Hidrelétrico do Tapajós. A maneira desses grupos conceberem o passado também impacta a forma de olhar para o material arqueológico escavado. A discussão será elencada sobre exemplos de situações específicas ocorridas em campo, como a escavação de uma urna funerária entre os Munduruku na aldeia Sawre Muybu e outros debates cotidianos com beiradeiros e Mundurukus sobre o significado das marcas do passado em seus territórios.

É Pote de Parente Antigo! A relação de indígenas Apurinã da Terra Indígena Caititu com os sítios e objetos arqueológicos, Lábrea/AM

Elaine Cristina Guedes Wanderley (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN)

Esta comunicação propõe uma reflexão sobre as relações que o povo indígena Apurinã da Terra Indígena Caititu (porção norte), município de Lábrea/AM estabelece com os sítios e objetos arqueológicos presentes em suas terras. Entender os processos históricos que se constituíram nesta região marcada pelo violento sistema extrativista, o próprio envolvimento dos Apurinã nesse sistema e a sua relação com indígenas de outras etnias no passado compõem parte importante do levantamento bibliográfico inicial. O contraste entre aquilo que os documentos históricos falaram sobre este povo e aquilo que pude observar durante os meus trabalhos de campo ajudaram a compor um ensaio etnográfico acerca dos Apurinã sobre os quais apresento aspectos do seu cotidiano e alguns elementos acerca dos seus modos de vida. Apontados pelos documentos históricos como povos guerreiros os Apurinã empreendiam embates frequentes com outros povos e foram gradativamente ampliando seus domínios territoriais ao longo de toda a calha do rio Purus, entretanto, essa ampliação de espaços continua a ocorrer ainda hoje de outras formas. A ideia é demonstrar que estes indígenas se apropriam das cerâmicas arqueológicas existentes em suas terras como uma forma de demarcar territórios historicamente conquistados, autenticando a partir dos artefatos a posse desses espaços. Ao mesmo tempo, os artefatos arqueológicos são utilizados como meio de legitimar sua identidade cultural o que contribui para a existência de uma memória coletiva. Discuto a ideia do espírito expansionista, conquistador de territórios atribuído aos Apurinã se projetar para o espaço das aldeias e imprimir uma lógica muito particular de delimitar limites territoriais, (re)afirmar identidades culturais e balizar os conflitos entre eles. Nesse contexto, os objetos arqueológicos são, sobretudo, percebidos como forma de conferir materialidade a presença Apurinã e a de seus antepassados naquela região.

Experiências e Condições: Dando Voz a Pastores em Santa María, Catamarca

Milena Acha (MAE-USP)

A arqueologia vem enfrentando uma série de mudanças nas últimas décadas, em relação à teoria e ao método, assim como na relação com os coletivos que rodeiam a prática arqueológica. Estas mudanças refletem diretamente na etnoarqueologia. Por sua vez, o Noroeste Argentino apresenta uma longa tradição de estudos arqueológicos, ainda quando pouco se tem feito visando uma proposta integradora.

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Trabalhando com uma comunidade de pastores em Santa Maria, Província de Catamarca (Argentina), as diferentes experiências que representam o que eles consideram como passado e presente e a relação com a paisagem permitiram repensar o panorama arqueológico da região e as distintas categorias. A multivocalidade e a reflexividade foram componentes fundamentais neste processo. Aqui, varios pastores que eram guias passivos de expedições arqueológicas mudaram o panorama com um proposta colaborativa, o que trouxe resultados frutíferos. Diante disto, neste trabalho me proponho a destacar algumas condições e experiências sobre o trabalho colaborativo nesta região do Noroeste Argentino, buscando mostrar como se estabeleceu um diálogo aberto, para poder discutir as novas propostas da prática arqueológica.

Nas malhas da rede ou nas cordas do espinhel: seguindo a cultura material na pesca artesanal.

Lucas Antonio da Silva (Museu Nacional-UFRJ)

O estudo da cultura material é um campo vasto e que concentra diversas áreas do conhecimento. Esse caráter plural, sobretudo a partir da década de 1980, configurou aos Estudos de Cultura Material um status de disciplina independente. Nela, a Arqueologia ganha destaque, especialmente por se tratar da ciência que se dedica com maior atenção a cultura material em seus mais diversos contextos e tempos. A etnoarqueologia, por sua vez, considerada um campo da Arqueologia, busca através da etnografia a compreensão das dinâmicas materiais das populações do presente. Nesse sentido, busca-se com este trabalho, compreender os fluxos de vida e relações da cultura material na pesca artesanal, mais especificamente em uma comunidade de pescadores do litoral do Rio Grande do Sul. Para isso, utilizar-se-á três elementos da cultura material, o espinhel, a rede e a gaiola de pesca para evidenciar as diversas relações possíveis através da percepção e da construção de conhecimentos baseados na vivência das pessoas no ambiente-mundo. De modo geral, esses elementos da cultura material, tomados muitas vezes como representativos da pesca, possuem fluxos de vida muito diversos, relacionados com a água, a terra, o vento, os animais, histórias de vida etc., demonstrando que uma perspectiva funcional é insuficiente para explicar a complexidade e a diversidade da cultura material.

Sítios arqueológicos controlado por comunidades indígenas: prática acadêmica e interação indígena.

Frederic Mario Caires Pouget (UNICAMP)

A história dos índios Quilmes, situados no noroeste argentino, representa um caso paradigmático no campo da arqueologia contemporânea, já que nos permite analisar as permanências materiais e culturais de um grupo étnico desde o momento do contato colonial até a atualidade. Toda essa trajetória pode ser lida na ‘Ciudad Sagrada de los Quilmes’, este sítio arqueológico está localizado na província de Tucumán, noroeste argentino . Neste local não só se encontram os vestígios arqueológicos monumentais dessa antiga cultura andina, mas também vestígios arqueológicos contemporâneos que refletem aspectos de dominação e resistência por eles vivenciados ao longo dos séculos. Isso ressalta o caráter de agentes históricos das populações nativas e revela como elas atuam frente a “verdades” históricas (acadêmicas ou não) exteriormente construídas e de como elas elaboram o seu sentido de etnicidade. Assim a proposta dessa comunicação é apresentar algumas reflexões (e desafios) decorrentes da prática da Comunidade Indígena Quilmes do controle sobre o sítio arqueológico.

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Terra Indígena Kwatinemo: prática arqueológica, diferentes narrativas

Lorena L. W. Gomes Garcia (MAE/USP)

Esta comunicação apresenta os resultados dos trabalhos de levantamento arqueológico realizado na T.I. Kwatinemo em áreas de abrangência do médio-baixo Xingu, onde se encontram as aldeias antigas e atuais dos Asurini. Essa arqueologia da história recente dos Asurini traz à superfície histórias de um passado pré-colonial, materializadas nos sítios arqueológicos existentes em suas terras. Na T.I. Kwatinemo, os solos de terra preta, as cerâmicas e as oficinas líticas tornam-se elementos formadores de paisagens, constituem a noção de território para os Asurini e estão entrelaçados à diferentes narrativas (arqueológicas e Asurini) e temporalidades. O modo como o registro arqueológico é engendrado nessas narrativas e nas paisagens do Xingu é o que guiará a presente comunicação.

“Não me diga munuvi, não, que dá vontade de chorar”: Reflexões sobre plantas cultivadas e a construção de identidades entre os Asurini do Médio Rio Xingu, Amazônia

Leandro Matthews Cascon (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

Ao longo do último século, a trajetória histórica de populações indígenas Asurini tem sido marcada por fortes episódios de dor, luta e resistência. Em seus relatos sobre os processos de deslocamento, resultantes de numerosos conflitos, são recordadas não somente as perdas de aldeias, de objetos e até de pessoas, mas também frequentemente de plantas cultivadas. Nos antigos períodos de fuga até o estabelecimento de uma nova aldeia, referidos por alguns como os tempos ‘bravos’ ou ‘de mato’, as estratégias de resistência compreendiam desde perigosas incursões de retorno ao antigo território para recuperar alguns cultivos perdidos até a elaboração de técnicas de aproveitamento de recursos improváveis sob a forma do tradicional mingau Asurini. Hoje, determinadas variedades de mandioca, de batata-doce, de cará e de outras plantas são ainda encontradas somente na memória de roças e refeições passadas, por alguns indivíduos, transformando estas plantas em fontes de saudade e pesar para os mais velhos e de curiosidade e estranhamento entre os mais jovens. Não obstante, o sentimento de perda em relação a certas plantas convive com o da posse orgulhosa de outras plantas da roça, como de variedades de kumaná, favas que aparentam constituir um importante elemento de identidade da roça Asurini. Por fim, a existência da possibilidade de que algumas plantas perdidas, como certas variedades de kumaná e batata-doce, possam ser recuperadas através da troca com comunidades próximas e a constatação de uma tentativa individual de recuperação do munuvi (amendoim) através da troca com parentes de locais mais distantes, demonstra a vontade dos Asurini na manutenção desse aspecto de sua cultura e nos aponta caminhos que possam ser trilhados para uma Arqueologia que vá ao encontro destes anseios e questões.

ST: Teorias feministas e gênero na arqueologia brasileira - por que não?

Coordenadora: Loredana Marise Ricardo Ribeiro (DAA-ICH/UFPel)

Proposta: A crítica à normatividade e o reconhecimento da pluralidade e da heterogeneidade são algumas das principais preocupações feministas na arqueologia contemporânea. É central nestas proposições o reconhecimento das implicações políticas das pesquisas arqueológicas e da performatividade do trabalho acadêmico, resultando na defesa de uma prática científica generificada e explicitamente inspirada por preocupações feministas. Entretanto, teorias feministas, e mesmo estudos de gênero e diversidade, ainda são pouco freqüentes na produção da arqueologia no Brasil. Como entender esta relativa ausência na arqueologia quando o campo dos estudos

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feministas no Brasil cada vez mais tem acolhido profissionais de diferentes áreas de conhecimento e se diversificado tanto em termos de temáticas quando de abordagens teórico-metodológicas? Quais são os obstáculos que precisamos ver superados para o reconhecimento das teorias feministas como uma plataforma legítima para o estudo arqueológico e o crescimento dos estudos feministas na arqueologia brasileira? Este Simpósio Temático busca reunir pesquisadoras e pesquisadores que atuam ou têm interesse no campo e cujas contribuições permitam debater, reformular e ampliar as questões acima. São propostos os seguintes eixos para organização das comunicações: a) estudos empíricos de gênero e diversidade nos mais diferentes contextos temporais; b) problematização do conceito de gênero, outras abordagens feministas e seu emprego na arqueologia; c) crítica epistemológica da produção acadêmica brasileira e dos discursos arqueológicos sobre o passado; d) uso de teorias feministas nos cursos/disciplinas de graduação e pós-graduação em arqueologia.

Apresentações:

A Saia Justa da Arqueologia Brasileira: mulheres e feminismos em apuro bibliográfico

Loredana Marise Ricardo Ribeiro (DAA-ICH/UFPel), Bruno Sanches Ranzani da Silva (MAE/USP), Lara de Paula Passos (UFMG), Sara Kelly Silva Schimidt (Universidade Federal de Minas Gerais)

A comunicação apresenta e discute os resultados preliminares de um estudo bibliométrico de temas feministas na produção e formação de arqueólogas/os no Brasil. Três conjuntos de dados são analisados para avaliar tanto a freqüência com que obras de mulheres e temas e autoras feministas são utilizadas, quanto para discutir o papel de arqueólogas e de teorias feministas nos processos de construção e comunicação científica da arqueologia no Brasil. Inicialmente, são analisadas as publicações dos três periódicos especializados nacionais melhor classificados pelo Quais Periódicos que circulam desde os anos de 1990. Depois, são analisadas as matrizes curriculares e respectivas ementas dos PPPs (Projetos Político Pedagógicos) dos cursos de graduação em Arqueologia, quantificando-se a proporção de obras indicadas como bibliografia básica ou complementar que são: a) assinadas por mulheres; b) assinadas por brasileiras; c) textos feministas e/ou sobre gênero. Finalmente, a mesma análise de disciplinas se debruça sobre as ofertas dos PPGs em (ou com área de concentração em) Arqueologia. Os resultados obtidos até o momento indicam: i) baixo interesse por temas ou teorias feministas dentre o público nacional das revistas especializadas; ii) a raridade da oferta (ou invisibilidade) de disciplinas específicas e regulares sobre a temática nos cursos de graduação e, em geral, o mesmo desinteresse no uso de temas e/ou teorias feministas em sala de aula; iii) tanto autoras quanto autores brasileiras/os podem ser sumariamente ignorados nas indicações bibliográficas dos cursos de formação em prol de pesquisadores estrangeiros – especialmente anglofônicos; iv) ainda que timidamente, parece ser a pós-graduação que inicia o processo de legitimar espaço para a temática na arqueologia brasileira, apresentando disciplinas específicas sobre teorias feministas e/ou estudos de gênero e um número maior de indicações de obras correlatas.

Boudica: a heroína dos Britânicos

Tais Pagoto Bélo (University College London)

Esta apresentação tem como intuito demonstrar os usos do passado sobre Boudica, rainha Bretã, da tribo dos Iceni, que liderou um exército contra o Império Romano durante o século I d.C. A exposição também terá a finalidade de demonstrar como uma personagem mulher foi elegida como heroína Britânica e como ela ainda está presente na memória coletiva do grupo. Boudica é tida hoje como um símbolo polivalente para os Britânicos, representando a heroína de

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uma nação, a rainha guerreira e a primeira mulher a liderar um exército, além de ter sido uma reprodução de força feminina para as mulheres de poder da Inglaterra, tais como as rainhas Elizabeth I e Vitória e utilizada como uma insígnia de luta para as sufragistas no início do século XX. O século XIX e o início do XX valeram-se dessa imagem e a legitimaram por meio de uma cultura material constituída por estátuas localizadas nas cidades de Londres, Cardiff e Colchester, e por um vitral, que está nessa última localidade. A validação da rainha guerreira, pelo poder governamental, se deu a partir do uso de alguns símbolos para fins nacionalistas, ou seja, o governo de Vitória, em um momento de auge imperial, escolheu uma outra mulher, de suas raízes históricas, para a personificação da nação, através de algo palpável e material, como uma estátua, a primeira de quatro, para assim eternizá-la. Contudo, a tomada de decisão para este projeto se deu pela intensão de analisar se Boudica está na memória coletiva de Ingleses e Galeses, e a área da Arqueologia que atualmente trata dessa relação com o público é a Arqueologia Pública. Para isso foram executadas entrevistas em regiões escolhidas de acordo com a participação de Boudica na história de formação da cidade e/ou locais onde suas estátuas estão presentes.

Eu, tu, elxs e as coisas

Bruno Sanches Ranzani da Silva (MAE/USP)

O objetivo desta apresentação é partir das reflexões teóricas e experiências empíricas até o momento vividas em minha pesquisa de doutorado. Ao tentar construir uma arqueologia colaborativa, dentro de um projeto de arqueologia da escravidão em Pelotas/RS, me deparei com uma série de situações que moldaram minha pesquisa e experiência de vida. Tenho apoiado meu arcabouço teórico em 5 conceitos básicos, os quais foram modificados e enriquecidos pelo contato com a arqueologia feminista e de gênero. A memória e representação são abordados como mecanismos de protagonismo de si, uma das fontes sociais e pessoais de acesso e construção do conhecimento sobre o passado – sua relação com a história é equiparada em peso cognitivo. A paisagem, lugar e espaços, conformam o relevo das atividades, encorporando-se um ao outro. Agência equaliza a participação de humanos e não humanos como protagonistas da vida cotidiana, influenciando-se concomitantemente. O conceito de narrativa é trabalhado para reconfigurar a escrita científica, sua pouca acessibilidade, torna-la mais agradável, operacionalizar seu caráter político e, também, equiparar discursos acadêmico e leigo. Embora já conhecesse o feminismo como perspectiva teórica e luta política, nunca aproximei efetivamente meu trabalho de sua abordagem. Os textos, “Manifesto Ciborgue” e “Saberes Localizados”, de Donna Haraway, me vieram ao conhecimento durante um curso conjunto de pós-graduação e graduação sobre feminismos, ministrado pelas professoras da UFPel Loredana Ribeiro, Flávia Rieth e Lori Altman, em 2014. Esses dois textos me mostraram como o feminismo é uma via de pesquisa engajada com o contexto social, preocupada em produzir conhecimento responsável, consciente dos limites de nós mesmos, dedicada à derrubada do machismo e suas práticas opressoras – vão ao encontro dos meus objetivos. Como homem, tenho consciência que muito me falta ainda entender e conhecer do feminismo de hoje e ontem. Mas, enfim, porque não?

Indicadores de gênero na pré-história brasileira: cultura material, contexto funerário e corporalidade.

Glaucia Aparecida Malerba Sene (Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ))

Para o nosso estudo de gênero foram selecionados os contextos funerários de grupos horticultores do noroeste de Minas Gerais, que ocuparam a Gruta do Gentio II entre 10.190 ± 120 anos AP e 3.490 ± 120 anos AP.

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Sob a égide teórica da Arqueologia de Gênero e com base na análise de variáveis e subvariáveis, relacionadas ao ritual funerário (tratamento dado ao corpo, posição, orientação, direção da face, características da cova, distribuição temporal e espacial, e acompanhamentos funerários) e aos remanescentes ósseos e dentários (sexo, idade, fraturas, doenças, linhas de Harris, facetas da tíbia, degeneração das superfícies articulares do esqueleto axial e apendicular, além de cáries, abrasão dentária, hipoplasia, doença periodontal, cálculos, abcessos dentários e perda ante-mortem) foi possível compreender parte dos papeis sociais desempenhados por homens, mulheres, além de adolescentes e crianças, no contexto arqueológico supracitado. Dentro de uma perspectiva multidisciplinar, a pesquisa teve a colaboração de especialistas em botânica, lítico, cerâmica, bioarqueologia, entre outros, tendo sido analisados inúmeros remanescentes esqueléticos e dentários, além de 448 fichas de campo, 139 fichas de enterramento com desenhos e fotos, provenientes de quatro etapas de campo entre 1976 e 1987. Foram identificadas e analisadas 23 estruturas funerárias, com 47 indivíduos, sendo 14 masculinos, 11 femininos, 20 crianças e 02 adolescentes, com farto e diversificado acompanhamento funerário.

Comunicação Avulsa

Eixo Temático Arqueologia Contemporânea

As Práticas da Arqueologia da Repressão e da Resistência na Compreensão das Ações do Regime Ditatorial em Aracaju, Sergipe - Brasil

Adriano Batista dos Santos (Universidade Federal de Sergipe - UFS)

A ditadura militar brasileira representa um capítulo ainda nebuloso na historiografia recente do nosso país. Diferentemente dos nossos vizinhos latino-americanos, que sentiram a necessidade de enfrentar os traumas causados pelos seus respectivos regimes ditatoriais, buscando, sobretudo, a compreensão dos fatos ocorridos e as respostas para tais atos, no Brasil, por sua vez, por anos tentou simplesmente esquecer esses traumas, porém não há como esquecer feridas ainda abertas, talvez até incuráveis para a sociedade. Nesse sentido, a Arqueologia vem dando uma significativa contribuição nos estudos da repressão e resistência dos regimes militares desses países sul-americanos e encontra no Brasil um amplo leque de possibilidades de estudos. Todas as regiões do Brasil sofreram os impactos desse regime autoritarista, alguns Estados de forma mais intensa, outros de forma mais branda. O Estado de Sergipe, localizado na região nordeste do país, segundo informações historiográficas, teve uma repressão branda, se comparada a outros grandes centros urbanos. Essa comunicação traz como objetivo principal fazer um levantamento dos locais ou espaços onde se praticavam os atos de Repressão e Resistência durante o período militar na cidade de Aracaju, capital do Estado, sob uma perspectiva da Arqueologia da Repressão. Ao mesmo tempo, busca um diálogo entre esses achados, no intuito de compreender como se davam as dinâmicas dessas ações na capital sergipana.

Cidade dos Vivos e Cidade dos Mortos: arqueologia urbana no Cemitério do Senhor do Bonfim, Belo Horizonte

Luísa de Assis Roedel (UFMG), Fernanda Codevilla Soares (UFMG)

Em uma perspectiva contextual, crítica e simbólica, analisamos as relações entre o Cemitério Nosso Senhor do Bonfim e a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Tivemos por objetivo analisar os discursos existentes nas quadras, ruas, túmulos, sepulturas, mausoléus e estatuário da cidade dos mortos. Enquanto um superartefato da cidade, entendemos que o estudo da

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materialidade do cemitério informa sobre a forma pelo a qual os diferentes grupos sociais que formavam a cidade dos vivos classificaram esse espaço social, exibindo sua própria maneira de ser no mundo e marcando de “modo visível e perpétuo a existência do grupo, da comunidade ou da classe” (Chartier 1991:183). O trabalho foi realizado a partir de visitações ao local, levantamento de fontes documentos e da Aplicação do Mapa Axial. A partir do levantamento realizado, podemos afirmar que a cidade de Belo Horizonte, na qual o cemitério está relacionado, se estruturou na unidade familiar patriarcal, católica, segregacionista, excludente e que compartilhava uma série de ornamentos padrões, mas que, ao mesmo tempo, construía fronteiras simbólicas que representavam distinção social e identidades entre seus mortos. Em tempos modernos, a materialidade das sepulturas e mausoléus foram utilizadas para demarcar fronteiras que delimitavam espaços sociais da vida na morte.

Rabiscando celas: Arqueologia Cognitiva aplicada na Penitenciária Tenente Zeca Rúben em São Raimundo Nonato - PI

Celito Kestering (UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO – UNIVASF), Rosivânia de Castro Aquino (Univasf)

Com o advento da Arqueologia Contemporânea, os estudos relacionados a eventos coloniais e pós-coloniais têm sido cada vez mais frequentes. Compartilhando do enfoque de Schiffer (1975) de que o objeto da Arqueologia é a relação entre o comportamento humano e a cultura material em todos os tempos e lugares, realiza-se o presente trabalho com o propósito principal de estudar e analisar as manifestações rupestres pós-coloniais da Penitenciária Zeca Rúben, na cidade de São Raimundo Nonato - PI, que esteve em vigência entre 1967 (período da ditadura militar) até 2007. Como se sabe, o homem pré-colonial pintava as paredes de abrigos, rochas alcantiladas, superfície de afloramentos e matacões para expressar suas memórias e aspectos relevantes de sua vida cotidiana. Nas pichações, nas obras de arte e em outras expressões de grafite, realizadas em suportes rochosos, paredes de concreto ou de alvenaria rebocada, perpetua-se essa prática até a contemporaneidade. Com base nessas constatações a pesquisa realizada na penitenciária, partiu do pressuposto de que os dispositivos parietais das celas contêm um tipo de comunicação consciente e simbolicamente estruturada. Nela se compreende, por meio da arqueologia cognitiva, as unidades pictóricas impressas nas paredes e no teto, colocando-os como vetores das internas relações sociais dos presidiários. Deste modo, os registros rupestres pós-coloniais estão carregados de encargos intrinsicamente conectados. Segregam-se e analisam-se os registros e se faz a relação deles com informações orais para evidenciar o mapa cognitivo dos presos e a relação do que eles pensavam com as ideologias dominantes e com grupos minoritários da sociedade de São Raimundo Nonato – PI e da região Sudeste do Piauí.

Eixo Temático Arqueologia de Contrato

Arqueologia na Área de Implantação da PCH Cachimbo Alto, Vale do Rio Branco, Alta Floresta D'Oeste (RO)

Patrícia de Freitas Lopes Rodrigues (Independente / USP), Sirlei Hoeltz (ARCHAEO: Pesquisas Arqueológicas)

Os trabalhos de Resgate Arqueológico na PCH Cachimbo Alto, desenvolvidos entre 2012 e 2013, resultaram na escavação de 10 sítios litocerâmicos e no levantamento de 02 oficinas líticas de polimento na área de influência direta da PCH. Situada no município de Alta Floresta D’Oeste, Estado de Rondônia, a área integra o atual bioma amazônico, encontrando-se sobre rochas ígneas básicas, nas margens do Rio Branco, bacia do Rio Guaporé.

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Proporcionando vastos conjuntos artefatuais com características comumente associadas à tradição Tupi, a pesquisa complementa o quadro de dados disponíveis à investigação, oferecendo leituras detalhadas sobre a variabilidade artefatual, tecnologias de produção lítica e cerâmica, repertórios morfofuncionais e potenciais dinâmicas de troca ou intercâmbio. Os resultados obtidos apontam para fortes paralelismos com industrias identificadas pelo menos até a Bacia do Ji-Paraná, contribuindo ao conhecimento arqueológico sobre a complexidade da ocupação pré-histórica no sudoeste Amazônico, região que assume, atualmente, suma importância na discussão sobre os primórdios do povoamento Tupi e as origens da agricultura.

Arqueologia na Barragem Serro Azul: um estudo de caso

Rúbia Nogueira de Andrade (Laboratório de Arqueologia da UFPE), Taciana Mendes Taboza (FADE)

Estudos voltados para o licenciamento ambiental de empreendimentos veem possibilitando a ampliação do conhecimento acerca da Arqueologia Brasileira. Entre os anos de 2011 e 2014 foram realizadas pesquisas arqueológicas voltadas para o licenciamento da Barragem de Serro Azul, localizada em área de transição entre a região da zona da mata e o agreste Pernambucano. Este trabalho busca apresentar a metodologia aplicada na área e os resultados preliminares obtidos com as atividades realizadas pela equipe da Arqueolog Pesquisas. Tomando por base o Diagnóstico, optou-se pela seleção de áreas de potencial arqueológico para a realização das prospecções intensivas a partir de uma avaliação geoarqueológica. O resultado obtido, até o momento, corresponde a identificação de 15 áreas com vestígios arqueológicos. Deste total, 7 apresentaram vestígios pré-históricos, 7 históricos e 1 com ocorrência de ambos os tipos de vestígios. De forma geral, os vestígios pré-históricos identificados na fase de prospecção intensiva correspondem a sítios cerâmicos, com ocorrência de fragmentos esparsos, em áreas de topo e encosta e, com menor frequência, em área de vale, nas margens do Rio Una. Tais vestígios estão associados à Tradição Ceramista Tupiguarani, com cronologia entre os séculos XIV e XVII. Um único sítio foi identificado como pertencente à Tradição Ceramista Aratu, com cronologia entre os séculos XIV e XV. Os vestígios históricos ocorrem de forma esparsa, em áreas de vale e encosta suave, próximas às margens do Rio Una, com cronologia entre os séculos XIX e XX. Em alguns casos foi possível associar os vestígios a antigas unidades habitacionais e produtivas. Contudo, na maioria dos casos, não foi possível identificar maiores detalhes sobre o contexto arqueológico dos vestígios, uma vez que, a maior parte do terreno encontra-se perturbado por intervenções agrícolas. Os resultados da pesquisa veem contribuindo para o conhecimento arqueológico desta região do estado de Pernambuco.

Arqueologia no Noroeste do Rio Grande do Sul

Rafael Casagrande da Rosa (UNIVERSIDADE DE TRAZ OS MONTES E ALTO DOURO), Josiel dos Santos (Universidade Federal de Pelotas), Marlon Borges Pestana (UNESC), Hérom Silva de Cezaro (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar os dados referentes a uma campanha de investigação arqueológica desenvolvida na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, realizada no âmbito de um projeto de arqueologia de contrato executado pelo Setor de Arqueologia da Universidade do Extremo-Sul Catarinense – UNESC durante o ano de 2015. Abrangendo um território de 200 km entre os municípios de Santo Ângelo e Maçambará, os trabalhos de diagnóstico interventivo e prospecção sistemática realizados na área possibilitaram a retomada das investigações nesta região de fundamental importância para a compreensão do processo de ocupações humanas pré-históricas no sul do Brasil. Foram identificados 70 sítios e 11 áreas de ocorrências arqueológicas representativos de contextos

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culturais associados às Tradições Umbu, Humaitá e Tupiguarani. De forma geral, os grupos pré-históricos que povoaram a área do estudo optaram por estabelecer suas ações principalmente nas proximidades dos grandes rios da região (Uruguai, Ibicuí, Piratini, Icamaquã e Ijuí) e seus afluentes, ocupando áreas de terraços e vertentes, geralmente nos topos e patamares médio e superior. Assim, a ocupação Humaitá nas áreas próximas ao Planalto Meridional, e de Tradição Umbu de maneira destacada nas áreas de relevo plano e ondulado, típicos do pampa gaúcho, vão ao encontro do que propõe a vasta bibliografia sobre pré-história do Rio Grande do Sul.

Cartografia temática na interpretação dos sítios arqueológicos da LT 230 kV Cascavel Oeste – Cascavel Norte, região oeste do Paraná

José Eduardo Abrahão (Arquivos da Terra)

A elaboração de cartas temáticas ‘arqueológicas’ como ferramenta para análises interpretativas em âmbito local/regional não é tema novo, sendo explorada mesmo antes das novas tecnologias (GoogleEarth, ArcGis, Autocad...). Entretanto, desde a definição de procedimentos de registro/coleta em campo foi necessária à clareza dos produtos cartográficos a ser gerados. Contextualizando, a LT abrange o alto curso da Microbacia do Cascavel, formador do Andrada, este tributário do Iguaçu, no limite entre o Planalto do Baixo Iguaçu (relevo dissecado) e o de Cascavel (relevo mais suave), onde a Microbacia está sob a influência do rio Piquiri. Embora, todos os sítios tenham sido identificados na primeira subunidade morfoescultural citada, a identificação de ocorrências isoladas na segunda determinou uma carta geral, com escala compatível à leitura da distribuição das evidências na área da pesquisa, e de dados secundários de sítios já cadastrados. Individualmente, os dados dos sítios arqueológicos foram sintetizados em linguagem cartográfica. Dois deles, Ribeirão da Paz 2 e Braço do Cascavel, permitiram a geração de temáticas produzidas no cruzamento de informações básicas: localização e caracterização do material segundo análises laboratoriais. Para a geração das cartas, a princípio se construiu uma base geral, filtrando-se então aspectos a serem destacados, como dispersão/concentração por tipos, dispersão de líticos quanto à classe, etc. No caso do BC a leitura cartográfica permitiu aferir áreas onde a cerâmica formava concentração, sendo nomeadas arbitrariamente de clusters, podendo-se observar frequência de bordas, bases e paredes e predominância de exemplares da cerâmica Guarani ou Jê (i.e. Tradição Tupiguarani e Itararé). Também a carta sobre as classes de artefatos, e o cruzamento com os demais dados, trouxe grande contribuição para as hipóteses de a ocupação referir-se a áreas sazonais, ligadas à lavoura no BC, enquanto o RP2 como de oficina lítica.

Eixo Temático Arqueologia Histórica

A bebida no espaço antártico foqueiro do século XIX

Fernanda Codevilla Soares (UFMG), Will Lucas Silva Pena (Universidade Federal de Minas Gerais), Taísa Corrêa Jóia (Universidade Federal de Minas Gerais), Luiz Alberto Silveira da Rosa (Universidade Federal de Minas Gerais), André Cruz Moreno Siqueira (UFMG)

As pesquisas arqueológicas antárticas têm por objetivo principal compreender as estratégias humanas de ocupação do continente e o seu processo histórico de incorporação no mundo moderno. Os trabalhos são realizados pelo LEACH-UFMG a partir do projeto “Paisagens em branco:arqueologia histórica Antártica”. Nesse projeto, entende-se que a conquista da Antártica não se deu de forma fortuita ou casual, conforme apresenta a história oficial, pelo contrário, acredita-se que a ocupação esteve inserida em um processo mundial de expansão do capitalismo, no qual os grupos foqueiros e baleeiros foram trabalhadores explorados, que se dirigiam ao continente a fim de caçar animais marinhos e utilizar o couro e a gordura destes para fomentar a

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indústria do vestuário em expansão, o crescimento urbano e o desenvolvimento fabril. A pesquisa em tela discorre especificamente sobre a análise dos materiais vítreos recuperados em campo, a partir dos quais vem sendo possível discutir o dia a dia dos acampamentos, a relação dos foqueiros com a bebida e de que forma esse tipo de vestígio materializa uma prática social e a vivência do espaço antártico. A análise foi realizada em um conjunto de 157 fragmentos, os quais foram remontados e deram corpo a 11 garrafas de bebidas. A desta foi possível identificar o período de produção das garrafas (1780-1820); o local de fabricação (Inglaterra) e a que tipo de bebida se destinavam (cerveja, vinho ou ginebra). A associação desses vestígios com o contexto arqueológico, histórico e documental; tem sugerido que a informalidade, o compartilhamento e a sociabilidade fizeram parte do cotidiano dos acampamentos. As particularidades do território antártico e seus agentes sociais conferiram singularidades ao espaço que ali se estruturava. A análise da materialidade da bebiba nos leva a supor que naqueles sítios ocorreram uma conjugação de performatividades culturais pré-industriais e modernas que caracterizaram o mundo moderno em estruturação.

A Fortaleza de Santa Cruz e o Forte Orange

Darlene Maciel de Souza (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE)

Construída no séc. XVIII pelos portugueses em Itamaracá, hoje município de Pernambuco, a Fortaleza de Santa Cruz é uma fortificação abaluartada, cuja alvenaria de pedras em cantaria luta contra o avanço do mar. Ainda que tenha quase três séculos de existência é conhecida pela população local por outro nome: Forte Orange. Deve essa denominação a outra estrutura fortificada, construída anteriormente pelos holandeses, naquele mesmo sítio. Como um monumento representativo do período histórico da ocupação holandesa em Pernambuco, está sendo restaurado de modo a tornar-se um museu que represente a presença holandesa e portuguesa naquelas terras. Dentro desse espírito, um projeto de pesquisa arqueológica foi desenvolvido em cooperação entre pesquisadores brasileiros do Laboratório de Arqueologia da UFPE e pesquisadores holandeses da Mowic Foundation, que buscavam vestígios materiais de uma herança comum. O resultado da pesquisa revelou estruturas das duas fortificações, trazendo à tona ainda um rico acervo de vestígios arqueológicos móveis, relacionados à hábitos alimentares, rituais religiosos, economia e armamento. O resultado das escavações e sua contribuição à história, não apenas do monumento, mas do processo de formação da cultura pernambucana, testemunha a importância de estudos arqueológicos precederem às restaurações de monumentos históricos.

Análises preliminares do estudo de sítios coloniais na foz do rio amazonas.

Marcos Jesse Lopes da Silva (Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá)

A foz do rio Amazonas tem um rico potencial arqueológico histórico decorrente principalmente das relações sociais e econômicas que europeus e ameríndios mantiveram nos séculos XVI, XVII e XVIII. Pensando nesta riqueza, tomamos a decisão de nos dedicar a pesquisa de sítios coloniais existentes na foz do rio Amazonas (margem esquerda) e também de seus tributários, um tema ainda incipiente na arqueologia da região. Tal pesquisa deve fornecer subsídios para a criação de uma carta arqueológica, que servirá como instrumento de apoio a futuras pesquisas arqueológicas na região. Até o momento, a pesquisa teve como base metodologias complementar de levantamento em possíveis áreas de sítios coloniais, fazendo uso de fontes primárias e secundárias, informações orais e prospecções pedestres. Nas primeiras etapas desse mapeamento, foram registrados 18 sítios do período colonial, dos quais três apresentaram vestígios de material histórico colonial (louças europeias) associado com cerâmicas indígenas, o que parece indicar a importância das relações entre populações nativas e os colonizadores europeus neste período. Nesta apresentação, vamos

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discutir o potencial da metodologia empregada e mostrar os resultados preliminares, que reforçam a riqueza do patrimônio arqueológico histórico na costa do Estado do Amapá.

Arqueologia e restauração em contextos urbanos: A Fonte da Carioca

Cristiane Loriza Dantas (Pontifícia Universidade Católica de Goiás)

O estudo da Fonte da Carioca, na Cidade de Goiás, busca discutir os processos de formação do sítio arqueológico integrado ao contexto de Vila Boa de Goiás. Tanto a fonte quanto as suas imediações tratam-se de locais que possuem relevância na história de constituição da cidade, pois foi porta de entrada por meio da estrada do nascente (rota imperial), foi fazenda, que se transformou em fonte pública de abastecimento de água, e que por meio da pesquisa arqueológica alcança o cotidiano de grupos que tinham seus ofícios associados as suas águas. As relações estabelecidas nesta localidade permitiram que partes da cultura material se tornassem presentes no registro arqueológico, para cada uso dado a fonte marcas foram deixadas no contexto de ocupação.

Arqueologia nos trilhos das Ferrovias: primeiras impressões

Igor Morais Mariano Rodrigues (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Adriano Batista de Carvalho (Peruaçu Arqueologia)

Como um ramo da Arqueologia da Industrialização, a Arqueologia das Ferrovias é um dos campos fundamentais na construção de uma história das estradas de ferro. Trata-se de uma das principais vias entendidas como elemento fundamental na construção das paisagens industriais lineares. A maioria dos trabalhos sobre ferrovias no Brasil se fundamenta basicamente no levantamento documental e arquitetônico. Poucos trabalhos abordam essa temática dentro da arqueologia, especialmente em Minas Gerais, apesar da grande malha ferroviária deste estado, sendo estes principalmente voltados também para os aspectos arquitetônicos. A partir de um pequeno ramal ferroviário da extinta E.F.C.B. do início do século XX e ainda em atividade em Minas Gerais, apresentaremos uma variedade de testemunhos da mencionada histórica Estrada de Ferro que carecem de estudos aprofundados. Estações ferroviárias e paradas arruinadas, assim como outras estruturas associadas a elas, tais como “casas de turma”, pontilhões, obras de arte (galerias para passagem de água dentre outras), túneis, rocha escavada e diversos trilhos históricos reutilizados ou abandonados, são alguns dos elementos abordados. Os trilhos em particular, itens fundamentais da ferrovia, apresentam uma série de características que informam desde transformações na própria via até relações internacionais de comércio, abrindo assim uma discussão que ultrapassa a ferrovia por si só. Nossa intenção com esta comunicação almeja sobretudo ressaltar a importância do estudo desses vestígios e bens, especialmente pelo fato de que nem todos os itens elencados acima são normalmente entendidos como bens de valor histórico e artístico nacional, no âmbito do chamado Patrimônio Ferroviário, logo não estão legalmente protegidos. Tal fato, a nosso ver, é de extrema relevância notadamente em tempos de desenvolvimento e readequação de ferrovias pelo país.

Caçadores-Coletores e Paleoíndios no Interior Paulista: Pesquisas realizadas e Projeções futuras

Fabio Grossi dos Santos (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP)

Através de trabalhos já realizados na região centro-oeste paulista, foram identificados a analisados diretamente 3 sítios líticos - Boa Esperança II, Boa Esperança III e Dois Córregos, nos municípios

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homônimos -, juntamente com a comparação e análise de dados de mais outros 20 sítios líticos. Todos foram associados a ocupações de caçadoras-coletores. Dois sítios foram datados, sendo uma data de 4.500 AP e outra de 14500 +- 3000. Além da datação por LOE foram feitas também análises pedológicas. Através dos dados obtidos, surgiram várias questões que levaram a continuidade das pesquisas, no sentido de entender, especificamente a ocupação que mostrou um potencial pleistocênico. Por isso, os estudos que se iniciam agora, no projeto de doutorado em questão, pretendem focar na questão do tema Paleoíndio, retomando as pesquisas no sítio BES II (com a suposta data pleistocênica), além de análise de outros sítios que também possuem o potencial para essa antiguidade, no interior de São Paulo: sítio Bauru I (Bauru), Pitangueiras II (Pitangueiras), Carcará (São José dos Campos), Sítio Três Rios (Dois Córregos) e São Manuel III (São Manuel), para assim, compreendermos melhor como se deu a ocupação grupos humanos no Estado de São Paulo.

Considerações iniciais sobre os cachimbos do Forte Orange, PE, Brasil

Sarah de Barros Viana Hissa (UFRJ - MN)

Como etapa inicial de uma pesquisa mais ampla, que visa compreender o uso de cachimbos de cerâmica branca (ball clay) no Brasil, foi estudada a coleção de referência dos cachimbos do Forte Orange / Forte de Santa Cruz, localizado no importante canal de Santa Cruz em Itamaracá, PE. O Forte Orange foi erguido pelos holandeses em 1631, recebendo algumas alterações durante a ocupação neerlandesa, e, em 1640, serviu de prisão para frades carmelitas, são-bentenses e franciscanos. Os luso-brasileiros, quando da retomada do Brasil em 1654, ocuparam o Forte Orange e, anos depois, deram início à construção do Forte de Santa Cruz, que se sobrepõe ao forte predecessor. A coleção, exumada sob coordenação do prof. Marcos Albuquerque (UFPE), apresenta cachimbos de cerâmica branca e de cerâmica vermelha. Os cachimbos brancos, foco principal da pesquisa, apresentam certa homogeneidade, no que se constitui de uma maioria esmagadora de cachimbos holandeses, especialmente da região de Gouda e predominantemente datados do século XVII. Já os cachimbos vermelhos, apesar de apenas parcamente examinados, apresentam grande variação de morfologia, técnica de manufatura e decoração. Considera-se que a coleção de referência analisada apresenta uma importante base material para discutir questões tais como as relações comerciais que envolvem a aquisição destes produtos ou o uso feito destes pelas pessoas que habitavam o forte.

Lixo Urbano do Século XIX no Cemitério dos Pretos Novos: Uma abordagem da Arqueologia Histórica

Natalia Borges da Costa (Faculdade Redentor)

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma abordagem do aspecto social do lixo urbano que foi introjetado no sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos paralelamente à sua formação.

Paisagens na História do Xingu

Lorena L. W. Gomes Garcia (MAE/USP)

Na “pintura” da paisagem xinguana do século XIX, expedicionários com diferentes intensões e objetivos narram os caminhos do rio e aldeias indígenas que lá existiam. O Xingu, acima da cachoeira conhecida historicamente como Volta Grande, foi provavelmente uma das últimas barreiras ao avanço da sociedade nacional. Na Terra Indígena Kwatinemo, localizada no médio-baixo Xingu, a descrição das fontes históricas se junta à percepção arqueológica do caráter

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participativo dos lugares na constituição das paisagens (Bowser; Zedeño, 2009) e suas transformações ao longo do tempo (Oliver, 2010). Essa perspectiva dialoga com abordagens da arqueologia do contato, as quais têm assumido discussões cada vez mais importantes no trato dos contextos pós-coloniais de formação de territórios tradicionais (Basso, 1996; Silva, 2013), e que remetem à processos de continuidades históricas de ocupação indígena (Neves, 2006; Linares, 2008; Oliver, 2012). Uma das contribuições dos estudos da arqueologia do contato se dá na compreensão de que a separação entre arqueologia histórica e ‘pré-histórica’ afeta negativamente o estudo sobre as histórias indígenas, levando a uma visão segregada do passado onde as situações de contato são compreendidas como uma ruptura com o passado ‘pré-histórico’, especialmente em contextos multiétnicos e plurinacionais (Lightfoot, 1995). A partir dessa premissa entende-se que a arqueologia como história das populações nativas é também uma arqueologia histórica. Parte dessa percepção está ancorada no estudo da paisagem em suas múltiplas dimensões (ecológica, social, sagrada, política) e temporalidades. A presente comunicação faz uso de diferentes fontes de conhecimento (historiográficas, etnográficas, arqueológicas e etnoarqueológicas) a partir das quais serão tecidas as reflexões sobre o que busco qualificar como ‘paisagens na história do Xingu’.

Texturas arqueológicas na paisagem da mineração: apontamentos sobre temporalidades e ritmos no Complexo do Serrinhas I.

Danielle Raquel Lima (Fafich/UFMG), Flávia Maria da Mata Reis (Cooperativa Cultura), Vinícius Melquiades dos Santos (MAE USP)

O surgimento de demandas provenientes dos processos de licenciamento ambiental amplia o número de pesquisas em sítios arqueológicos de mineração. Este fato se dá porque as áreas de exploração atual são em grande parte as mesmas mineradas no passado. O trabalho aqui analisado é parte dos resultados do Programa de Salvamento e Monitoramento do Patrimônio Arqueológico da Estrada de Ligação da Mina de Pico à Mina de Fábrica. O sítio situa-se no município de Itabirito, Minas Gerais, região conhecida como Quadrilátero Ferrífero e famosa por seu apogeu colonial com a exploração aurífera na primeira metade do século XVIII. A Arqueologia da Mineração possui características muito específicas, relacionadas às dificuldades no reconhecimento, levantamento e análise de seus vestígios. Alguns fatores podem ser citados, como: as estruturas muitas vezes estarem diluídas na paisagem; os sítios possuírem grandes extensões; sua intensa e constante reutilização; além da relativa baixa densidade de materiais móveis, utensílios e ferramentas encontrados in situ. Assim, a paisagem ganha uma dinâmica difícil de ser decodificada, permanecendo uma materialidade imbuída de muitos significados. Nesta análise, propomos uma reflexão sobre a paisagem mineira como um espaço em permanente transformação, sendo agente e produto das relações ali estabelecidas. Nesse sentido, a paisagem não só define os elementos incrustados em seu físico, mas permeia várias esferas como a social, a experiencial, a epistemológica, entre outras tantas permitidas. Desenvolve-se como resultado das diversas relações com o lugar e com seu grupo, conformando-se como uma malha viva e orgânica que vai tecendo texturas através dos ritmos das atividades, concedendo historicidade às formas físicas. Na apresentação em questão pretendemos apontar, com base nos estudos arqueológicos de um complexo de mineração, para a necessidade em se considerar os diferentes participantes nas dinâmicas de vida dessa paisagem e território.

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica

Análise tecnológica e espacial dos materiais líticos evidenciados no Sítio Itanguá 02, Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.

Átila Perillo Filho (Universidade Federal de Pelotas)

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O Sítio Itanguá 02 está localizado sob um abrigo de rocha quartzítica no Alto Vale do Jequitinhonha, MG. Sua escavação resultou em uma coleção de vários milhares de peças líticas decorrentes de todas as etapas do processo de lascamento. Este conjunto artefatual tem possibilitado a compreensão mais assertiva da procura, técnicas de redução e mesmo uso social das ferramentas líticas, cooperando para um entendimento mais sensível da ocupação pré-colonial do Vale do Jequitinhonha. A pesquisa tem como objetivo descrever o processo de produção de objetos líticos no sítio, contribuindo assim com a caracterização das ocupações pré-coliniais do Alto Vale do Jequitinhonha. Até o momento podemos ressaltar sobre o conjunto analisado: (a) apesar de uma variedade de matérias-primas presente no conjunto existe uma preferência na utilização do quartzo hialino (80% do total); (b) é uma indústria lítica focada na produção de instrumentos retocados e lascas cortantes obtidas a partir de suportes de cristais de quartzo hialino de pequeno e médio porte; (c) a pouca evidenciação de córtex e facetas de cristal nas peças indica uma extração da matéria-prima em outra localidade; (d) a exploração dos cristais de quartzo ocorre quase que totalmente a partir da percussão unipolar; (e) a grande quantidade de lascas de retoque e a pequena quantidade de instrumentos sugere um uso do local principalmente exclusivamente – ou sobretudo – como oficina lítica. Deste modo os resultados obtidos ao final das análises serão comparados com resultados já encontrados durante pesquisas anteriores desenvolvidas no Alto Vale do Jequitinhonha para que com isso seja possível inserir o sítio em um quadro maior a respeito das ocupações humanas na região.

Apontamentos sobre a tradição aratu no leste de São Paulo, no Vale do Paraíba Paulista

Renata de Pierro (Origem Arqueologia)

Até o momento, a maior parte dos achados arqueológicos no estado de São Paulo refere-se aos povos Tupi, falantes das línguas tupi-guarani. A presença dos povos falantes da língua Jê, relacionados às tradições arqueológicas cerâmicas Aratu-Sapucaí e Uru, aqui no estado, se manifestou com maior frequência na região norte do estado. Embora o Vale do Paraíba Paulista possua um grande potencial para estudos arqueológicos, são mínimos os projetos de pesquisa nesta região de São Paulo. Assim como no resto do estado, a maioria dos achados se referem à tradição tupi. Até o ano passado haviam 2 sítios de tradição Aratu na região: o Caçapava I, no município de Caçapava e o Light, no município de Jacareí. Nesta apresentação serão abordados estes sítios com uma ênfase à mais recente descoberta: o sítio Tamoios I. Este sítio corresponde à tradição arqueológica Aratu, e foi encontrado pela Origem Arqueologia em 2013, no âmbito do licenciamento ambiental da obra de Duplicação da Rodovia dos Tamoios (SP 99), no município de Paraibuna. O sítio apresenta uma área de aproximadamente 5.000 m², com idade aproximada de 1.400 anos A.P. e abundância de material cerâmico em superfície e alguns líticos lascados e polidos, assim como restos de urnas funerárias.

Arqueologia da Paisagem e Gestão de Território, Médio/Alto Rio Tocantins

Luis Vinicius Sanches Alvarenga (IPT/UTAD Portugal)

O conceito paisagem surge na Idade Média para designar uma região de dimensões médias em cujo território desenvolviam-se pequenas unidades de ocupação humana. Considerando a primeira ciência a debruçar-se sobre esse conceito no século XIX, a geografia ocidental contemporânea entende como paisagem o produto visual de interações entre elementos naturais e sociais. Entretanto, paisagem não é o mesmo que espaço (SANTOS, 1996), mas faz parte dele, funcionando como um parâmetro de análise espacial. A análise da paisagem deve ser feita levando em consideração a natureza dinâmica sobretudo após a interação com o ser humano e a partir daí vê-la como resultado do processo histórico.

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A ideia de interpretação do registro arqueológico considerando o todo onde está inserido reforça a necessidade de uma abordagem interdisciplinar ja que em termos cronológicos a ocupação humana está em um horizonte muito pequeno em relação as feições geológicas por exemplo, e sua capacidade efetiva de transformação do meio está restrita a alguns milhares de anos. O aumento da complexidade cultural e das estruturas ligadas ao modo de vida ocidental, faz com que tenhamos que pensar formas de preservar o patrimônio cultural e arqueológico. A gestão do território deve assim levar em consideração o processo histórico e o registro arqueológico resultado dele em um espaço. Essa gestão deve estar alinhada com ferramentas já existentes como planos diretores municipais, Zoneamento Ecológico Econômico, Planos de Manejo entre outros. A pesquisa apresentada aqui leva está sendo aplicada em um projeto de prospecção arqueológica para implantação da Linha de transmissão Xingu – Estreito tendo como foco os sítios pré-históricos da região do médio/alto Rio Tocantins. Bibliografia SANTOS, MILTON A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo. Ed. Hucitec, 1996.

Arqueologia dos Jê Meridionais na Bacia do Rio Grande: Os indígenas no Sertão Paulista e no Triângulo Mineiro

Renan Pezzi Rasteiro (Museu de Arqueologia e Etnologia - MAE/USP)

Essa comunicação tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a etnohistória e arqueologia da região norte do estado de São Paulo e sul de Minas Gerais, tendo como foco os grupos indígenas Jê, denominados nos documentos como Cayapó Meridionais (ou do sul). A partir da documentação relacionada a cronistas, naturalistas, viajantes, religiosos e exploradores que percorreram a área entre os séculos XVI e XIX, pode-se notar o movimento de resistência empreendido pelos indígenas em relação as frentes de expansão sertanistas da época. Através de um levantamento e da sistematização de dados a respeito dos sítios arqueológicos já identificados na região, será possível uma projeção de uma história de longa duração desses povos. Dessa maneira a apresentação irá fornecer dados que auxiliem na inserção do indígena no discurso de formação da história regional, além de colaborar com as futuras pesquisas da Arqueologia na região da Bacia do Rio Grande.

Arquitetura doméstica e espaço intra-aldeia: examinando a organização social proto-Jê meridional a partir do sítio Baggio I

Jonas Gregorio de Souza (University of Exeter)

Neste trabalho serão apresentados os resultados das primeiras escavações no sítio Baggio I, um sítio de estruturas semi-subterrâneas proto-Jê meridional localizado em Campo Belo do Sul, SC. O sítio, composto por 18 estruturas semi-subterrâneas, contém em seu recinto principal uma estrutura de grandes dimensões cercada por estruturas pequenas. As escavações foram direcionadas à estrutura de grandes dimensões (denominada Casa 1), a uma das estruturas pequenas (Casa 2), a áreas de atividade externas e a um montículo associado às habitações. Foram evidenciadas diferenças significativas entre as Casas 1 e 2 em termos de história da ocupação (distintas práticas de abandono e reocupação) e composição dos conjuntos artefatuais. Tais dados trazem conseqüências importantes para o debate relativo à função das estruturas semi-subterrâneas de grandes dimensões, as quais já foram interpretadas como habitações de famílias extensas, de indíviduos de status superior ou, ainda, como estruturas comunais de função não-doméstica.

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As estratégias de ocupação do território pela população Guarani pré-colonial no litoral sul catarinense

Josiel dos Santos (Universidade Federal de Pelotas), Juliano Bitencourt Campos (UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC), Rafael Guedes Milheira (UFPEL)

Esta comunicação pretende apresentar os resultados parciais do projeto “As estratégias de ocupação do território pela população Guarani pré-colonial no litoral sul catarinense”, cujas atividades ocorrem numa área piloto delimitada no extremo sul-catarinense, que engloba o cordão lagunar regional, as dunas próximas ao Oceano Atlântico e à foz do rio Araranguá, adentrando até áreas do interior que distam 10 quilômetros do mar, onde foram identificados nos últimos anos um total de 41 sítios arqueológicos associados aos grupos Guarani. Além da diferença quanto à inserção no ambiente, estes sítios também se caracterizam por distinguirem-se em sua composição, densidade e variedade de vestígios materiais. Partindo de uma perspectiva de Arqueologia Regional, busca-se, através do cruzamento destas informações, confrontar os dados resultantes de prospecções, análises in situ e escavações, com a literatura que discorre sobre os padrões de assentamento na arqueologia Guarani. Os dados preliminares resultantes das atividades de campo e laboratório já realizadas e em andamento apontam que estes sítios representariam as diversas estratégias de domínio territorial, apontando não somente aldeias, mas também acampamentos associados a atividades especializadas (caça, pesca, roça), interpretações estas que serão refinadas conforme o andamento da pesquisa. No entanto, acredita-se que, desde já, estes dados contribuem no sentido de avançar nas discussões dos aspectos (culturais, sociológicos, econômicos e cognitivos) que concorrem para a constituição de uma paisagem cultural Guarani na costa Atlântica. Por fim, destaca-se que esta pesquisa está inserida no âmbito de um projeto regional mais amplo, denominado “Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba”.

Complementos para uma arqueologia do Oeste Paranaense: Bacia do rio Xambrê e do rio Cascavel

Rucirene Miguel (Arquivos da Terra), Wender Alves de Souza (Arquivos da Terra)

Em função de duas LTs, com transecto Umuarama Guaíra e, contornando a zona leste da cidade de Cascavel, foram identificados sítios arqueológicos relacionados à história indígena, desde povos ditos pré-cerâmicos aos ceramistas, com datações absolutas que recuam em mais de 3.000 A.P., até a metade do século XX. Embora o alto grau de alteração dos pacotes arqueológicos, devido à agricultura, tenha imprimido limitações interpretativas, as análises, especialmente das indústrias líticas, permitem traçar hipóteses e levantar questões sobre uma possível continuidade no modo de fazer ferramentas líticas. A quase ausência de estudos comparativos da talha lítica de grupos ceramistas, no caso paranaense Tradições Itararé e Tupiguarani, para a indústria das Tradições pré-ceramistas Humaitá e Umbu, bem como a falta de perspectiva voltada ao estudo dos padrões de usufruto da terra, suas redes sociais e agências políticas, onde a mobilidade e outros elementos chaves ao entendimento dos modos de vida não são considerados, ao mesmo tempo que se coloca como obstáculo, abre novos paradigmas para o estudo de uma história indígena dinâmica e interativa, cujos processos de rupturas e continuidades culturais poderão ser (re) pensados com maior profundidade.

Cronologia e espacialidade dos sítios arqueológicos Tupi em Pernambuco: resultados preliminares

Ana Cláudia de Arthur Jucá (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

A presente pesquisa propõe compreender e apresentar o estado d’arte do conhecimento sobre os sítios relacionados a populações falantes do Tronco Tupi no estado de Pernambuco. Englobando a

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análise da distribuição espacial, profundidade cronológica dos sítios arqueológicos e apresentação das cerâmicas nas coleções que apresentam vasilhas destes sítios. Sendo válido ressaltar que os termos “Arqueologia Tupi” e “sítios Tupi” são utilizados neste projeto para nos referirmos a contextos e vestígios arqueológicos produzidos por populações falantes de línguas do Tronco Tupi. A pesquisa dará ênfase a coleta e organização de considerável gama de informações disponíveis na bibliografia arqueológica sobre os sítios Tupi em Pernambuco, através do levantamento em fontes iconográficas e documentais primárias e secundárias, sistematizando os trabalhos de arqueologia que envolvam os sítios das populações Tupi. A presente proposta surge da necessidade de uma visão regional dos dados disponíveis para os sítios Tupi, com o intuito de aperfeiçoar e refinar os modelos existentes, já que um grande número de novas informações foram coletadas durante décadas de pesquisas acadêmicas e recentemente pela arqueologia de contrato. Assim, tal visão regional dos dados disponíveis atualmente permitirá, com sua manipulação e interpretação, comparar a variabilidade dos conjuntos espacialmente e cronologicamente. A priori apresentamos os dados e resultados obtidos na primeira fase da pesquisa, resultando em mais de setenta sítios com vestígios Tupi e dezoito datações.

Elementos estruturais acerca da tecnologia lítica do Sítio Santa Clara

Bruno Gato da Silva (Universidade Federal de Pelotas (UFPel)), María Elida Farías Gluchy (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - FURG)

Este trabalho apresenta os principais resultados obtidos a partir da estudo tecnológico da coleção lítica proveniente do sítio Arqueológico Santa Clara. Este sítio está localizado na mesorregião sudoeste do Estado Rio Grande do Sul, mais especificamente, no município de Quaraí, próximo da fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina. O sítio apresenta um horizonte ocupacional datado pelo método de LOE entre 2.135 ± 330 e 12.870 ± 2.050 A.P. Porém por uma série de específicas de questões estas datas precisam ser revisadas e problematizadas em trabalhos futuros. No estudo é realizada uma revisão das principais indústrias líticas existentes na região da tríplice fronteira Riograndense, assim como uma discussão crítica sobre as mesmas, visando uma contextualização do sítio no cenário pré-histórico regional. Para a análise do material lítico foi utilizada a metodologia tecnológica, buscando romper com os estudos tipológicos tradicionais que predominaram até então na região de pesquisa. Com isso, busca-se uma melhor compreensão dos sistemas de lascamento do sítio Santa Clara, visando a interpretação das cadeias operatórias para assim proporcionar um substrato técnico que possibilite atingir elementos de um patamar conceitual subjacente aos testemunhos líticos.

Estruturas de combustão em casa subterrânea Jê Meridional no Planalto Catarinense

Pedro Ignácio Schmitz (INSTITUTO ANCHIETANO DE PESQUISAS), Natália Machado Mergen (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

A finalidade da comunicação é divulgar os resultados da escavação do sítio SC-CL-51, localizado no município de São José do Cerrito, Planalto de Lajes, SC. O sítio constitui-se de seis casas subterrâneas, sendo duas geminadas (casas 1-2 e 3-4). Foram realizadas intervenções nas casas 2, 4, 5 e 6, sendo a casa 5 o objeto desta comunicação. A estrutura possui 7,60 m de diâmetro e 1,90 m de profundidade e se instala sobre uma pequena elevação do terreno, entre as demais casas. Foi aberto um corte de 1 x 2 m, numa área um pouco deslocada do centro, devido à presença de árvores, os sedimentos foram removidos de 10 em 10 cm. A intervenção alcançou 1,10 m de profundidade, com uma camada de 20 cm de entulho, proveniente de tocas de tatu e com lixo contemporâneo. Foram identificados 9 níveis arqueológicos: de 1 a 6 correspondem à sedimentos

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areno-argilosos de cor avermelhada, com presença de basalto decomposto, muitas raízes, carvão, líticos e numerosos fragmentos cerâmicos dispersos na quadrícula. Entre os níveis 7 e 9 os sedimentos areno-argilosos são marrom escuros, com menos raízes e diferentes estruturas de combustão, consistindo em fogueiras estruturadas com pequenos blocos e instrumentos líticos, contendo grânulos bem constituídos de carvão e cerâmica atribuída à Tradição Taquara/Itararé, que foi abandonada no local da utilização. Esta camada de ocupação assenta-se sobre sedimento argiloso compactado e saibroso. O fato de a camada continuar por 30 cm é sinal de estabilidade de ocupação, o número de fogões, cinco em 1 x 2 m, é sinal de densidade de ocupação da casa. A cerâmica é característica da Tradição Itararé e repete a que tinha aparecido na casa 4 do mesmo sítio, datada no século XVII e na área de Urubici, estudada por Rafael Corteletti, datada entre o século XIV e XV.

O Ambiente do Guarani Litorâneo no extremo sul catarinense: Estudo de caso dos Sítios SC-ARA-008 (Campo Mãe Luzia 1) e SC – ARA – 009 (Campo Mãe Luzia 2).

Rafael Casagrande da Rosa (UNIVERSIDADE DE TRAZ OS MONTES E ALTO DOURO)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar os dados parciais referentes a pesquisa no âmbito do programa de Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro, Portugal, com orientação do Prof. Doutor Jairo José Zocche. O conhecimento do ambiente natural contribui para o entendimento das estratégias de ocupação do território de comunidades humanas pré-históricas, para esse estudo notadamente os grupos ceramistas Guarani. No litoral do extremo sul-catarinense são escassos os dados que possa embasar a construção de um modelo estrutural que possa descrever a disposição dos recursos utilizados pelos Guarani como artifícios de subsistência. Com isso, essa pesquisa utiliza software de Sistema de Informações Geográficas (SIG), base de dados disponível como, geologia, geomorfologia, vegetação e ortofotocarta retificadas buscando um panorama atual do ambiente, bem como inferindo situações ambientais pré-históricas cruzando com dados da escavação do Sítio Arqueológico SC – ARA – 08 (Campo Mãe Luzia 1) e SC – ARA -09 (Campo Mãe Luzia 02) compondo um cenário ambiental regional do espaço de convivência dos grupos Guarani ocupante destes sítios. Destaca-se que esta pesquisa está inserida no âmbito de um projeto regional mais amplo, denominado “Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba” do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada do Território da Unesc.

O contexto de ocupação pré-colonial Jê Meridional nas Bacias Hidrográficas dos Rios Forqueta e Guaporé/RS

Sidnei Wolf (Centro Universitário Univates)

As Bacias Hidrográficas dos Rios Forqueta e Guaporé estão localizadas no centro/norte do Estado do Rio Grande do Sul, pertencendo a bacia Taquari/Antas. A região apresenta uma formação vegetal que mescla ambientes com campos nativos, Mata de Araucária e a Floresta Estacional Decidual. Esta diversidade também aplica-se a geomorfologia, onde identificam-se relevos levemente ondulados, acidentados, como planícies nas proximidades dos maiores recursos hídricos. Objetiva-se apresentar resultados parciais decorrentes de intensos e sistemáticos levantamentos realizados nos últimos anos, aliadas a escavação de diferentes sítios associados a ocupação pré-colonial Jê. Ao contrário de regiões com características de relevo e vegetação semelhantes, onde a alta densidade de sítios superficiais lito-cerâmicos, e a baixa incidência de sítios arqueológicos com estruturas subterrâneas prevalece, na área de estudo são registrados sítios com alta densidade de estruturas subterrâneas e inúmeros sítios líticos superficiais. O padrão de assentamento regional demonstra uma preferência pela instalação dos sítios com funcionalidades habitacionais ao longo dos divisores

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de bacia, enquanto que os sítios superficiais, associados ao manejo agroflorestal, encontram-se predominantemente nas proximidades dos recursos hídricos, no interior de profundos vales. A cronologia dos assentamentos registra uma ocupação entre os séculos VIII e XI da Era Cristã.

Os Sítios Líticos a Céu Aberto da Área Arqueológica de Caiapônia

Sibeli Aparecida Viana (INSTITUTO GOIANO DE PRÉ-HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA-IGPA/UCG), Marcos Paulo de Melo Ramos (PUC - Goiás), Antoine Lourdeau (Muséum National d'Histoire Naturelle), Eric Boëda (Univeristé Paris X – Nanterre), Maria Amélia Rossi (PUC - Goiás)

As ocupações pretéritas na área arqueológica de Caiapônia, região sudoeste do Estado de Goiás, foram inicialmente estudadas entre as décadas de 1970 e 1980. Cerca de 20 anos após a última publicação referente à pré-história da área (Schmitz, et al 1986) as pesquisas na região voltaram a ser desenvolvidas, baseadas em outros aportes teóricos e metodológicos (Viana, 2006 e 2010). A área está estrategicamente localizada, próxima a importantes complexos arqueológicos, como Serranópolis à sudoeste do Estado de Goiás, os sítios da região centro-sul de Mato Grosso e aqueles da região leste de Mato Grosso do Sul. Á área destaca-se ainda pela sua proximidade a importantes bacias hidrográficas (Araguaia/Tocantins e Paraná) que interligam diversas regiões do Brasil, propiciando interações culturais. Enfocaremos nesta apresentação a ocupação humana relacionada ao Holoceno Médio da região arqueológica de Caiapônia, de forma particular a tecnologia de produção de ferramentas líticas localizadas em sítios abertos, denominados pela bibliografia tradicional de “campos de seixos”. Nestes sítios a cultura material predominante é caracterizada pelos materiais líticos, representados em diferentes classes. A metodologia de análise segue as proposições que consideram os objetos líticos concebidos e materializados em relação ao seu ambiente humano, isto significa estarem relacionados aos sujeitos que produzem, usam e conferem o status de instrumentos aos objetos líticos. Em uma perspectiva sincrônica, essas ferramentas serão analisadas a partir do conceito de cadeia operatória. A partir da perspectiva diacrônica, com base na concepção de estrutura técnica, discutiremos sobre a técnica de confecção dos objetos ao longo do tempo com a intenção de compreender suas transformações técnicas e suas correlações com materiais arqueológicos presentes em regiões próximas.

Pesquisas arqueológicas na bacia do Rio Três Forquilhas, RS

Jairo Henrique Rogge (INSTITUTO ANCHIETANO DE PESQUISAS), Suliano Ferrasso (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

Desde 2013 estão sendo desenvolvidas pesquisas arqueológicas ao longo da bacia do rio Três Forquilhas, no nordeste do Rio Grande do Sul, abrangendo parcialmente os municípios de Três Forquilhas, Terra de Areia, Itati e São Francisco de Paula. O objetivo da pesquisa é conhecer a diversidade e a variabilidade dos assentamentos pré-coloniais e compreender as formas de ocupação e exploração dos diferentes ambientes ecológicos distribuídos entre o planalto, a encosta e a planície costeira. Foram realizados levantamentos em diferentes áreas ao longo do vale, com o registro de 15 sítios: com casas subterrâneas, relacionadas à tradição Taquara/Itararé, nas áreas mais altas, pequenos abrigos-sob-rocha em paredões basálticos e cascalheiras na margem de arroios, com evidências de material lítico lascado nas partes do médio vale, que poderiam estar associados também à tradição Taquara/Itararé e, nas áreas mais baixas, próximo à foz do referido rio, sobre terraço sedimentar na margem ocidental da Lagoa Itapeva, sítios cerâmicos relacionados à tradição Guarani. Além desses, também foram localizados 2 sítios históricos que remetem ao início da formação da colônia alemã de Itati, em meados do século XIX. Uma análise preliminar do espaço ocupado pelos diferentes grupos humanos associados às tradições arqueológicas ao longo

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do vale indica que a mobilidade entre o planalto e a planície não foi uma característica efetiva na dinâmica de ocupação do vale, estando os diferentes grupos relativamente circunscritos a duas áreas principais: às partes altas do planalto e às áreas baixas da jusante do vale, sendo que as áreas de médio vale e alta encosta parece formar uma espécie de buffer ou uma zona de fronteira impermeável entre os diferentes grupos. As pesquisas na região ainda terão continuidade, voltando-se agora especialmente para a região do baixo Rio Três Forquilhas, ao longo do terraço onde estão sendo localizados os sítios Guarani.

Presença Tupiguarani na Zona da Mata Norte de Pernambuco: distribuição espaço-temporal

Milena Duarte de Oliveira Souza (Laboratório de Arqueologia da UFPE / FADE)

A presença humana mais remota registrada na Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco remete, em grande parte, à ocupação de grupos da Tradição Ceramista Tupiguarani. Atualmente, 17 municípios integram a microrregião, distribuídos em uma área de 3.200 km². Evidências de material pré-histórico filiado à tradição ceramista Tupiguarani foram localizadas na região por equipes ligadas à UFPE. Amostras de cerâmica foram datadas, por iniciativa do Laboratório de Arqueologia da UFPE, através do método da Termoluminescência, a fim de se obter um perfil cronológico destas ocupações. Este estudo visa apresentar, com base na produção de tais pesquisas, resultados recentes de datações obtidas para a cerâmica Tupiguarani na área. Pretende-se, ainda, por meio da cartografia, apresentar a distribuição espaço-temporal da presença Tupiguarani na microrregião. No conjunto, 17 sítios arqueológicos foram identificados. Na cartografia, pode-se perceber que a distribuição espacial dos sítios não corresponde à mobilidade Tupiguarani dos grupos no território, e sim a escassas evidências decorrentes de poucas pesquisas executadas. As datações de 07 amostras indicam que no século XI grupos Tupiguarani já se faziam presentes na porção setentrional do município de Goiana. A presença foi constante ao longo dos séculos subsequentes, com grupos dispersos no território. As datações de 08 amostras indicam ainda que a ocupação ocorreu durante praticamente todo o período colonial – do início do século XVI à segunda metade do século XVIII. Os dados ratificam, portanto, que a ocupação Tupiguarani na região norte do Estado de Pernambuco remete a pelo menos quatro séculos antes da chegada dos europeus e se estendeu por quase todo o período colonial. Todavia, não se sabe se estavam de passagem ou fixados nos locais onde foram encontradas as cerâmicas. Espera-se que novas pesquisas venham compor o quadro espacial e cronológico que se apresenta neste trabalho.

Repensando os Processos Formativos de um conjunto de sítios sobre dunas no litoral do Piauí, Brasil

Flávio Rizzi Calippo (Universidade Federal do Piauí - UFPI), Hebert Rogério do Nascimento Coutinho (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ)

Este estudo, que objetiva o entendimento do processo de formação de um conjunto de sítios arqueológicos que se localizam sobre as dunas costeiras da praia de Carnaubinhas (porção leste do litoral do Piauí, Brasil), integra o projeto de pesquisa “Arqueologia do Litoral do Piauí”, que vem sendo realizado, sob a coordenação de Calippo, desde meados de 2014, com financiamento do CNPq. Embora esses sítios tenham sido cadastrados, no passado, como sambaquis, tal classificação agora está sendo revista. No âmbito deste projeto eles são interpretados como relativos ao período em que se deram os primeiros contatos entre o colonizador europeu e os povos Tremembés e Tupiguaranis que ocupavam a região. Para fundamentar a interpretação da materialidade que compõe tais sítios, além da análise dos elementos zoarqueológicos, líticos e cerâmicos, de natureza indígena, e dos diversos de origem

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europeia, estão sendo analisados também, através de abordagens geoarqueológicas e de perspectivas calcadas na percepção da paisagem, os processos culturais e naturais que indicam os modos através dos quais os espaços naturais eram apropriados pelos povos indígenas. Embora o projeto ainda se encontre em andamento, já nos é possível estabelecer considerações. A primeira, é que esses sítios não são do tipo sambaqui. Com base na cultura material, no estudo dos processos formativos e em referências históricas, propomos que a história indígena dessas populações seja compreendida também através de uma perspectiva de longa duração. Além disso, defendemos que a ocupação dos topos das dunas era uma estratégia para manter o controle do território terrestre e marítimo e para também informar os navegadores europeus sobre o domínio dos indígenas sobre a região. Mesmo nos sítios que se encontram após as dunas, parece haver uma relação onde a estratégia é importante. Nesses locais, em vez dos sítios se destacarem na paisagem, eles se encontrariam protegidos, pelos campos de dunas, da visão dos navegadores.

Sítio arqueológico do Pororó (Pinhal Grande - RS): um Cerrito em terras altas

Anderson Marques Garcia (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Essa comunicação traz um estudo de caso sobre o processo de formação do Pororó, um sítio arqueológico implementado sobre uma elevação natural localizada na região central do estado do Rio Grande do Sul, composto apenas por sedimento e materiais líticos correlacionáveis com a chamada tradição Umbu proposta pelo PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas). Durante a escavação do Pororó foi possível perceber que houve uma atividade de manejo na área, com adição de sedimentos e blocos de rochas sobre a sua porção mais elevada, adequando o relevo. Essa situação permite interpretá-lo como um Cerrito – denominação regional para os montículos artificiais da região pampiana – e sugere a existência de distintos fenômenos sociais com construções monticulares no Rio Grande do Sul, visto que o caso analisado difere dos existentes no litoral desse estado e do Uruguai.

Tecnologia lítica Xetá: um olhar arqueológico para a coleção etnográfica de lítico lascado e polido do MAE-UFPR

Fabiana Terhaag Merencio (MAE-UFPR, Preservar Arqueologia)

Esta comunicação irá expor os resultados da reanálise do lítico lascado e polido dos Xetá, que compõem a coleção etnográfica do MAE-UFPR. O conjunto é resultado das coletas realizadas pelas expedições de pesquisa do Setor de Antropologia da UFPR, entre 1956 e 1961, na região ocupada pelos Xetá, à margem esquerda do rio Ivaí, noroeste do Paraná. Os Xetá são um grupo de caçadores-coletores com alta mobilidade, organizados em pequenos núcleos familiares, com uma população estimada de 100 a 300 indivíduos, e com língua associada ao sub-ramo I da família Tupi-Guarani. As caracterizações prévias enfatizam o aspecto simples dos artefatos e do processo de lascamento, associando morfologia à funcionalidade. Há ainda estudos etnoarqueológicos cujo foco foi a descrição das técnicas utilizadas pelos Xetá para produzir artefatos líticos favoráveis aos trabalhos com madeira e osso. Contudo, este trabalho indica que a caracterização desse conjunto lítico é precária, pois os tipos identificados também são associados nas caracterizações das tradições arqueológicas definidas para a região sul. Em uma abordagem inicial desse material, constatou-se que a coleção é formada por dois grupos, sendo o primeiro constituído pelos artefatos coletados por José Loureiro Fernandes, e o segundo por Laming-Emperaire. A análise neste trabalho pautou-se em pressupostos de sequências reducionais (abordagem tecnológica), sendo a primeira vez que o conjunto lítico Xetá foi abordado sobre essa perspectiva. Os objetivos principais foram: (1) caracterizar o sistema tecnológico lítico Xetá, buscando-se correlacionar as demais categorias de artefatos presentes, (2) identificar as escolhas tecnológicas efetuadas pelo grupo no sistema

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tecnológico, (3) apontar os possíveis fatores condicionantes da variabilidade do sistema tecnológico Xetá, e por fim, (4) fornecer dados que subsidiem a comparação entre conjuntos líticos provenientes da mesma região ocupada pelos Xetá, ou seja, a bacia do rio Ivaí.

Territorialidade e paisagem: reflexões sobre o sítio Rincão dos Albinos, localizado no planalto catarinense

Raul Viana Novasco (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS)

O sítio Rincão dos Albinos é composto por 107 estruturas subterrâneas, as quais são atribuídas ao processo de ocupação Jê nas terras altas do sul do Brasil. Neste trabalho pretendemos levantar algumas questões e propor reflexões a respeito do registro arqueológico presente neste sítio, bem como os dados cronológicos nele obtidos, à luz de conceitos como territorialidade e paisagem.

Variabilidade de contextos funerários Guarani da bacia do rio Paranapanema e Tupi do litoral do estado de São Paulo

Mariana Alves Pereira Cristante (Universidade de São Paulo)

Os sepultamentos Guarani e Tupi são bastante conhecidos pela arqueologia brasileira, mas ainda há poucos estudos que tratem desses contextos funerários em detalhe. Sabe-se que esses sepultamentos apresentam uma certa variabilidade, podendo ser dentro ou fora de urna, primário ou secundário. Os que foram feitos em urna também variam, pois são encontrados com ou sem vasilhas associadas, e em recipientes com tratamentos de superfície variados. Também é conhecido que as urnas usadas para sepultamento eram, de início, vasilhas utilizadas para se preparar e servir líquidos, especialmente o cauim, bebida ritual muito consumida por esses grupos. Quanto à distribuição dos sepultamentos, não há um local único para se sepultar (um “cemitério”), sendo que aparecem em locais variados dentro e fora do espaço entre as manchas de terra preta. Há relatos de cronistas sobre sepultamentos dentro do local de moradia, que é associado pela arqueologia à mancha escura. A lógica dessa variação de locais de sepultamento - ou seja, quais mortos eram enterrados onde e de que maneira -, ainda não foi muito estudada. Nossa pesquisa tem como objetivo analisar contextos funerários de sítios Guarani da bacia do rio Paranapanema e Tupi do litoral do estado de São Paulo, para tentar entender a variabilidade dessas estruturas funerárias quanto aos artefatos que a compõem e à distribuição desses sepultamentos. A análise das práticas mortuárias Guarani e Tupi pode ser uma ferramenta útil para se compreender tanto os contextos funerários encontrados quanto aspectos simbólicos e cosmológicos desses grupos.

Vestígios líticos de um sitio Tupi no Médio rio Doce: resultados preliminares

Alexandre Pinto Coelho de Almeida (Universidade Federal de Pelotas)

Este trabalho apresenta dados preliminares da pesquisa de Mestrado (PPGant/UFPel) baseada na coleção lítica de um sítio Tupi. O sítio arqueológico Florestal I - localizado na região médio rio Doce, Minas Gerais, está inserido em nicho topográfico pouco comum às demais ocupações Tupi pré-coloniais identificadas na região, pois encontra-se situado em um topo de morro de elevação abrupta, enquanto que as demais se situam a meia encostas de colinas suaves e próximos a cursos d’água. Os vestígios arqueológicos são fragmentos de utensílios cerâmicos, objetos pétreos polidos ou lascados e estruturas formadas por blocos brutos líticos. O material lítico utilizado é predominantemente bruto ou pouco modificado (em maior ou menor intensidade através de polimento, picoteamento ou debitagem) para diferentes finalidades e funções, sejam elas para atividades cotidianas, de extração, produção, de uso simbólico ou decorativo. Serão apresentados

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os primeiros resultados da pesquisa, tendo como fundo da discussão, as escolhas tecnológicas empregadas para se obter os instrumentos identificados e de que maneira estas escolhas auxiliam a compreensão da utilização e ocupação do espaço. Iremos nos prender ao entendimento e execução da cadeira operatória de produção destes artefatos a fim de entender os procedimentos técnicos e motores, que por sua vez, são dinâmicos e particulares, mas ao mesmo tempo são coletivos e internos a um grupo, portanto, uma importante fonte para o entendimento dos hábitos culturais e da dinâmica social desta população pretérita que habitou essa região de Minas.

Zooarqueologia do sítio Galheta IV: Implicações ecológicas, econômicas e simbólicas do grupo pré-histórico Jê do Sul no litoral Catarinense

Deisi Scunderlick Eloy de Farias (UNISUL), Jéssica Mendes Cardoso (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

O sítio arqueológico Galheta IV está associado a uma ocupação Jê, foi datado entre 1200 e 600 anos A.P. e está localizado ao sul do Estado de Santa Catarina, no município de Laguna. As escavações deste sítio foram realizadas pelo GRUPEP-Arqueologia/UNISUL em parceria com o MAE/USP no âmbito do projeto “Sambaquis e Paisagem” (processo FAPESP 2004/11038-0), coordenadas por Deisi S. E. Farias e Paulo DeBlasis entre 2005 e 2007. Foi evidenciado grande quantidade de remanescentes faunísticos, além de sepultamentos, cerâmica, concreção e material lítico. Estudos realizados neste sítio apontam para a funcionalidade cerimonial de atividades fúnebres e festividades de grande consumo alimentar. Análises zooarqueológicas inferem na interpretação dos processos construtivos do sítio arqueológico, estabelece informações de dieta, captação e seleção de recursos, assim como traz significados simbólicos desses animais para o grupo ao longo da ocupação no ambiente litorâneo.

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Amazônia

Arqueologia da Foz do Amazonas Revisitada: Novos resultados de pesquisas no Amapá

João Darcy de Moura Saldanha (IEPA)

A região da foz do Amazonas é conhecida como uma das mais diversificadas em termos de estilos cerâmicos da história pré-colombiana da Amazônia. A partir do estudo sistemático da área por Meggers e Evans (1957), uma série de complexos cerâmicos foram reconhecidos e organizados em cronologias. Para o atual estado do Amapá, novos dados, no entanto, têm contribuído para a compreensão da ocupação pré-colonial na região: a cronologia se extendeu para o Holoceno médio, com sítios relacionadas à caçadores-coletores; sitios com cerâmica antiga, datada entre 4000 e 3000 AP, foram encontrados; e a proliferação de estilos de cerâmica foi documentada, com a coexistência de pelo menos cinco diferentes estilos na área desde o segundo milênio D.C. Este artigo tem como objetivo apresentar dados arqueológicos atuais relacionados aos complexos de cerâmica até agora reconhecidos no Amapá, estabelecendo uma estrutura cronológica e estilística destes complexos, bem como delineando seus padrões de assentamento característicos, para finalmente propor uma nova síntese cultural para a região

As rochas que descem o rio “são os pedrais”: O estudo prévio da espacialidade de polidores fixos no Rio Araguari, Amapá

Kleber de Oliveira Souza (IEPA)

Na literatura arqueológica brasileira, os estudos envolvendo os polidores fixos têm sido incomuns, apesar da atenção dada pelos arqueólogos aos objetos de pedras polidas. Este trabalho aborda uma

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etapa de um projeto de levantamento dos sítios arqueológicos no médio curso do Rio Araguari, parte central do Estado do Amapá. A pesquisa em questão busca apontamentos para uma classificação funcional e tipológica dos polidores fixos, de forma a observar suas variações e inferir sequências gestuais, buscando mapear as diferentes etapas da cadeia operatória para a produção de peças polidas neste local. A partir da bibliografia consultada sobre o tema buscou-se uma definição para polidores fixos com morfologias semelhantes ao que ocorre na região da pesquisa. Na etapa de campo, para o registro utilizamos a técnica de levantamento topográfico e geodésico, pois permite a representação planimétrica e altimétrica dos pontos plotados sobre o terreno, numa escala predeterminada, possibilitando a representação de certos detalhes inscritos na declividade, na inclinação e desnível do terreno. Já em laboratório, os dados de rastreio foram descarregados e reajustados em formato Shapefile com uso do Sistema de Informações Geográficas, para seguidamente ser gerado um mapa ilustrando a espacialização dos polidores fixos, conforme a sua tipologia. A partir de análise intra-sítio, a dispersão dos polidores em escalas de uso testemunha etapas distintas do processo produtivo de peças polidas, que pode estar relacionado com um processo de aprendizagem.

Cacos, Urnas e Ossos: A variabilidade dos poços de um sítio na Foz do Amazonas

Alan Silva Nazaré (IEPA)

O presente resumo se propõe a divulgar alguns resultados referentes às pesquisas arqueológicas do Sítio Arqueológico Curiaú Mirim 1. O sítio está localizado dentro de uma olaria de tijolos se expandindo até os limites do Quilombo do Curiaú Mirim na cidade de Macapá, capital do Amapá. Cobrindo uma área estimada de aproximadamente 10.000 m2, o sítio passou por duas campanhas de escavação cobrindo um espaço pouco mais de 900 m2 com 121 estruturas escavadas divididas em buracos de poste, deposição de vasilhas, fossas e poços. Das duas campanhas de escavação (2011 e 2014), a última ainda encontra-se em franca atividade de análises. Este trabalho lança um olhar particular para os poços como estruturas negativas que apresentaram tamanhos, formas e conteúdos diferenciados. O objetivo deste trabalho é descrever os diferentes modelos de poços do Sítio Arqueológico Curiaú Mirim 1, com a intenção de discutir seus possíveis usos e as práticas culturais ocorridas neste espaço. A metodologia aplicada consiste em pesquisa bibliográfica de outros sítios escavados na região assim como informações etnográficas e etno-históricas. Serão apresentadas alguns dados das análises tecno-morfológicas da cerâmica, e das análises esqueléticas humanas e restos faunísticos. Nossos resultados até o momento indicam a presença de quatro tipo de poços com características diferentes entre si.

Dos cacos as ideias: Contextos regionais da Tradição Polícroma da Amazônia e os modelos de expansão

Jaqueline Belletti (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá)

O objetivo deste trabalho é pensar os modelos de expansão formulados para a Tradição Polícroma da Amazônia (TPA) em diferentes momentos da arqueologia da região a partir dos dados encontrados no Lago Tefé e de uma revisão geral sobre os dados dessa Tradição em outras regiões. Três grandes modelos buscaram explicar a ampla dispersão do material da TPA pela calha Amazônica: os de Meggers, Lathrap e Neves. As principais diferenças entre esses modelos se referem aos pressupostos ambientais e hipóteses de centros de origem. Para Meggers o ambiente Amazônico seria incapaz de sustentar grandes populações de modo que a presença de cerâmica polícroma seria correlato de ondas migratórias de grupos vindos de fora da Amazônia. Já Lathrap propôs uma capacidade do ambiente Amazônico em sustentar grandes populações, como consequência a Amazônia Central seria o centro de origem de grupos linguísticos que teriam se

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dispersado a partir dessa área levando com sua expansão conjuntos artefatuais, dessa forma a TPA seria o correlato da expansão de grupos Tupi. Neves propõe uma relação dialética entre paisagem e homem, mais do que determinante; ele também associa a dispersão da TPA expansão de grupos Tupi, contudo, propõe como centro de origem o alto Madeira. Entretanto, como propõe Correia, mais do que pensar em centros de origem, rotas de expansão e vinculação linguística esse trabalho tem maior interesse em entender como um estilo tecnológico surge, se mantém e muda através do tempo para pensarmos os mecanismos que envolveram os grupos produtores das cerâmicas polícromas. Os materiais da TPA no lago Tefé apresentam continuidades tecnológicas com conjuntos policromos de outras regiões, todavia, apresentam variações locais, o mesmo se dá em relação ao registro arqueológico. Essa relação de continuidade e variedade, assim como, a cronologia e os fluxos tecnológicos locais fazem com que os dados do Lago Tefé a luz de uma escala macroregional coloquem em debate os modelos vigentes para TPA.

Fragmentos de estilos tecnológicos: a cerâmica entre os Kaiabi no Teles Pires

Meliam Viganó Gaspar (Museu de Arqueologia e Etnologia USP)

A análise de fragmentos cerâmicos arqueológicos coletados na T. I. Kaiabi, no rio Teles Pires (MT/PA), pôde revelar diferentes modos de se fazer vasilhas cerâmicas. Os atributos analisados em relação ao tipo de argila utilizada, ao antiplástico, à morfologia, à coloração e ao acabamento de superfície foram correlacionados para auxiliar na separação de conjuntos, já que diferentes escolhas em cada etapa de produção (sendo elas tanto pragmáticas como simbólicas) nos permitem pensar em diferentes estilos tecnológicos. Assim, apresento aqui os 4 conjuntos cerâmicos definidos na pesquisa de mestrado, cada um com diferentes características em relação à sequência de produção e à performance, mas que ainda precisam ser mais aprofundados para que possamos compreender melhor seu significado em relação à diferentes funções, grupos culturais ou mesmo estilos individuais, além de poder fortalecer as comparações com outros conjuntos cerâmicos na Amazônia Meridional e no Brasil Central.

Fronteiras cambiantes entre as cachoeiras do Tapajós?

Bruna Cigaran da Rocha (Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); Institute of Archaeology - University College London)

Um século após as descobertas de Nimuendaju ao longo do baixo Tapajós, a recorrência de sítios arqueológicos contendo Terra Preta de Índio e cerâmica da Tradição Inciso Ponteada levou a ampla aceitação de que, a partir de aproximadamente 1000AP sociedades interligadas, possivelmente relacionadas às expansões territoriais Caribe a partir do médio Orinoco, desenvolveram-se na região. Entretanto, nosso conhecimento sobre a Arqueologia do alto curso do rio Tapajós segue muito restrito. A pesquisa doutoral em desenvolvimento espera começar a equilibrar esta situação. Serão apresentadas evidências arqueológicas de dois sítios arqueológicos multi-componenciais que aparentam refletir fronteiras cambiantes entre diferentes grupos etno-linguísticos durante os períodos pré-colonial e pós-conquista. Ao superar essa tradicional divisão pré/pós-colonial, pretendemos desafiar a frequente dicotomia notada por John Monteiro (2001) entre concepções de “pureza original/contaminação pós contato” relativas a povos ameríndios.

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Nem só na várzea vivia o homem: Primeiros dados sobre a ocupação pré-colonial no rio Unini, rio Negro

Márjorie do Nascimento Lima (Universidade de São Paulo)

Essa apresentação tratará dos primeiros dados arqueológicos da bacia do rio Unini. Localizado na confluência do baixo-médio curso do rio Negro, o rio Unini tem localização privilegiada, sendo historicamente conhecido pela passagem natural entre os rios Solimões e Negro. Em 2009, um levantamento assistemático percorreu o baixo e médio curso da bacia do Unini. Foram identificados 10 sítios arqueológicos, dos quais dois foram escavados. Essas atividades estabeleceram um período cronológico inicial para região que teve início a partir do século III a.C. e se manteve até pelo menos até o século IX d. C. A ocupação dessa área não parece ter sido ininterrupta, mas foi densa o suficiente para a formação de solos antrópicos. Esses resultados apontam um quadro de diversidade na forma de ocupar o território do rio Negro no período pré-colonial, isso porque se comparados os contextos do rio Unini com outras regiões da bacia do rio Negro, como o seu alto curso (baixo e médio Uaupés), onde também ocorreram pesquisas arqueológicas, as características dos sítios e a cronologia de ocupação são distintas. Contudo, apesar dessas especificidades ambas as áreas apontam para uma longa cronologia de ocupação que tem início até três séculos antes do período cristão. Além disso, foram identificadas semelhanças com outras áreas, como a região do Lago Amanã, no médio Solimões. Ainda que haja semelhanças (manufatura da cerâmica, forma de ocupar os sítios), indicando o compartilhamento de alguns traços culturais, há especificidades locais em ambos os contextos, essa condição pode indicar a formação de unidades políticas locais durante o período pré-colonial.

Novas tecnologias para antigas questões: bancos de dados, georeferenciamento e compartilhamento de informações arqueológicas na Amazônia

Eduardo Kazuo Tamanaha (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá)

Nos últimos anos surgiu uma série de ferramentas que podem auxiliar o arqueólogo na organização, georreferenciamento e compartilhamento de informações através da internet. Muitos desses avanços tecnológicos foram desenvolvidos para um público leigo, permitindo que pesquisadores ou grupos organizem seus dados, estruturem suas ideias, disponibilizando o conteúdo na internet e atraindo novos olhares para um determinado tema, de forma gratuita e em tempo real. O intuito desse trabalho é apresentar essa possibilidade sendo aplicada a arqueologia amazônica e envolvendo três pesquisadores residentes em três estados diferentes. Através da utilização de plataformas Google (Planilhas Google, Google Earth, Google Maps e Google Fusion Table) para a organização e visualização espacial dos dados e, posteriormente, sua aplicação em programas de SIG (Quantum GIS ou ArcGIS) para a interpolação dessas informações. A utilização dessas novas ferramentas de trabalho permite o desenvolvimento de pesquisas com grandes quantidades de informações, fazendo análises em macro escala, otimizando o seu processamento e criando parcerias entre pesquisadores, mesmo que distantes fisicamente, através da internet.

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Eixo Temático Arqueologia Pré-Histórica - Arte rupestre

A Preservação da Arte Rupestre como elemento para entender o mundo: O caso de SC/ Sul do Brasil.

Rossano Lopes Bastos (IPHAN)

A preservação da arte rupestre pré-histórica tem uma importante contribuição no desenvolvimento do conhecimento da humanidade e pode ser caracterizada como um marcador importante na transmissão de praticas humanas ao longo dos tempos. Sua conservação é vital para o entendimento de dinâmicas sociais, culturais e simbólicas. Em Santa Catarina, sul do Brasil, a arte rupestre tem forte presença tanto no interior como no litoral. Aqui tem características geométricas e até antropomorfas com elevado simbolismo que desafia os investigadores na sua interpretação. Os grafismos aqui encontrados pertencem a um período que remonta a pré-história brasileira e podem chegar a (5.000 A. P.) cinco mil anos antes do presente ou mais. Sua manifestação pode ser encontrada em matriz rochosa, geralmente em conjuntos e estilos uniformes geométricos com algumas variações antropomorfas. Sua preservação carece de inserção social e patrimonial que indica que enquanto não existir uma real apropriação do publico sobre este rico patrimônio, as ações em curso terão alcance limitado. Nosso interesse é investigar e propor as formas mais eficazes de preservação e conhecimento. Desta forma, apontar para uma perspectiva inclusiva que reconheça os diferentes discursos sobre as diferentes formas de representação no contesto arqueológico. Com esta intenção trabalharemos com alguns conjuntos que nos parecem relevantes e abordaremos a musealização de elementos e seus desdobramentos.

A questão Levantina: arqueologia rupestre em um contexto de transições.

Neemias Santos da Rosa (Universitat Rovira i Virgili - Espanha)

Desenvolvido no âmbito da tese de doutoramento intitulada “Technological analysis of the Levantine Rock Art from Maestrazgo, Castellón: towards a chrono-cultural affiliation”, o presente trabalho tem por objetivo apresentar o debate existente em torno do enquadramento crono-cultural da Arte Rupestre Levantina, também conhecida pelo nome de “Arte Rupestre del Arco Mediterráneo de la Península Ibérica”. Após mais de um século de investigações, aquelas pinturas e gravuras predominantemente naturalistas continuam sendo objeto de controvérsias entre os especialistas, sem que se tenha chegado a um consenso definitivo tanto em relação ao momento cronológico de seu surgimento quanto sobre quem seriam seus autores. Esta indefinição surge, principalmente, devido à ausência de exemplares de arte móvel que possuam desenhos equiparáveis aos tradicionalmente levantinos e que sejam provenientes de contextos arqueológicos estratigráfica e cronologicamente bem definidos. Soma-se a este panorama a falta de datações diretas, de realização complexa devido ao tamanho geralmente pequeno das figuras e a aplicação majoritária de pigmento vermelho na realização das mesmas, o que dificulta a coleta de amostras para obtenção de datações por C14. Apresentando e discutindo os dados atualmente existentes sobre o problema de estudo, através de uma abordagem teórico-metodológica alternativa, voltada ao diálogo com as demais áreas da ciência arqueológica, defendemos a associação da Arte Rupestre Levantina à grupos caçadores-coletores herdeiros de um tradição paleolítica que teriam iniciado a produção daquelas representações durante a transição pleistoceno-holoceno, dando continuidade ao longo dos milênios seguintes mesmo em um contexto de convivência com grupos já neolitizados.

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Grafismos Rupestres da Volta Grande do Rio Xingu, Pará

Fúlvio Vinícius Arnt (Scientia Consultoria Científica)

Este pretende demonstrar a diversidade de sítios com gravuras rupestres registrados no âmbito do Programa de Arqueologia Preventiva da UHE Belo Monte, na região da Volta Grande do rio Xingu, estado do Pará, e sua possível ligação com sítios cerâmicos enquanto marcador territorial. Apesar de boa parte destes grafismos rupestres já ter sido alvo de levantamentos anteriores (Araújo Costa & Caldarelli, 1988 e Pereira, 2001) a equipe retornou aos sítios, aprofundando o trabalho realizado anteriormente, registrando novos painéis ou novos sítios que não estavam evidentes quando dos primeiros levantamentos, utilizando métodos tradicionais de registro aliados a equipamentos de última geração (laser scan e Breukman) capazes de proporcionar uma reconstituição 3D dos pedrais onde ocorrem e dos próprios grafismos, em escala micrométrica. Esse tipo de documentação permitirá não apenas usos para fins educativos/turísticos, visto que alguns sítios ficarão submersos no Reservatório da UHE, como também para estudos científicos sobre a produção desses grafismos.

Mulher não é só sexo na serra: O feminino nas cenas de pinturas rupestres em São Raimundo Nonato – PI

Michel Justamand (UFAM-BC)

O presente resumo refere-se a apresentação de cenas rupestres contendo a representação feminina dentro dos limites do Parque Nacional Serra da Capivara e ou de seu entorno. Esse parque é reconhecido mundialmente pelas pesquisas arqueológicas entre outras desenvolvidas ali desde os anos 70 do século passado. Parte desses estudos liderados pela arqueóloga Niède Guidon. Dentre as diversas especificidades estudadas e analisadas na região do parque as pinturas rupestres receberam importante consideração e investimentos intelectuais. Muitos artigos, mas também teses e dissertações acadêmicas e livros foram escritos. Elas também já proporcionaram debates em diversos eventos científicos. Ajudaram a construir uma das maiores polemicas arqueológicas do fim do século passado nas Américas, que é a questão das origens dos grupos humanos no continente. E as pinturas rupestres foram destaques em suas diversas temáticas, tais como: as de sexo, as de luta, de rituais, de cerimoniais, de andanças, de partos, de animais, entre outras. Nessa apresentação nos deteremos nas cenas com representações do feminino, mas não somente onde aparecem as vulvas, como já foi comentado por Anne-Marie Pessis (a autora indica que o feminino esta representado apenas nas cenas da sexualidade como as de penetração). Para nós existem outras cenas da representatividade do feminino ancestral nas rochas. As cenas que apresentaremos já foram publicadas em artigos e ou livros de nossa autoria, frutos de trabalhos de campo realizados na época do nosso doutoramento e ou do pós-doutoramento, e compõem um breve inventário das que existem no parque e ou em seu entorno. Esperamos com essa apresentação contribuir com a discussão de gênero entre outras possíveis. Referências bibliográficas FUNARI, Pedro Paulo de Abreu e JUSTAMAND, Michel. Representações da sexualidade e dos falos nas cenas rupestres de São Raimundo Nonato – PI: muito antes de 1500. Revista Sodebrás. Vol. 9, n. 99, março de 2014, pp. 53-56.

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Passagem e memória: o caso da gruta Casa de Pedra, Madalena, Ceará: da pré-história aos tempos atuais

Cristiane de Andrade Buco (IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

A Casa de Pedra é uma caverna em ambiente cárstico localizada no povoado de São José dos Guerras, assentamento das Umarizeiras, município de Madalena, na mesorregião dos sertões cearenses. Essa caverna está sendo alvo de estudos científicos e ações de preservação desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos sobre o Patrimônio Espeleológico do Ceará, uma iniciativa do Ministério Público do Estado do Ceará, através do seu Centro de Apoio Operacional de Proteção à Ecologia, Meio Ambiente, Urbanismo, Paisagismo e Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (CAOMACE). O grupo conta com o apoio técnico de diversas instituições estaduais e federais, de ensino, proteção ao meio ambiente e ao patrimônio cultural e, tem viabilizado discussões, visitas de campo, produção de relatórios técnicos e audiências públicas com o objetivo de fomentar a preservação do patrimônio espeleológico (no qual insere-se um tipo específico de patrimônio arqueológico), tendo como ponto de partida o caso da Caverna Casa de Pedra. O IPHAN, no Estado do Ceará, é o órgão responsável pelo patrimônio material e imaterial e os estudos arqueológicos a serem realizados através do grupo de estudos. Foram identificados três blocos com gravuras pré-históricas em uma das três entradas da caverna, paralelamente há registros gráficos recentes, pintados e gravados, sobre as paredes da caverna e nos blocos com gravuras pré-históricas. Esses testemunhos de um tipo de socialização com base em visitação frequente, desorganizada e inconsciente sobre as gravuras pré-históricas podem ser abordados como ações sociais, como marcadores de passagem e memória da sociedade recente. Questiona-se, quais intervenções teriam mais valor arqueológico e antropológico e, até que ponto o discurso preservacionista tem desclassificado a importância das intervenções recentes com o objetivo de salvaguardar as intervenções pré-históricas para as gerações futuras.

Patrimônio arqueológico do município de Chaval-Ceará: construindo uma proposta integrada de gestão

Cristiane de Andrade Buco (IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

A presente comunicação tem como propósito discutir um modelo integrado de gestão do patrimônio arqueológico para o município de Chaval, localizado numa zona fronteiriça dos estados do Ceará e Piauí, a 415 quilômetros de Fortaleza. Até o momento foram cadastrados quatro sítios arqueológicos junto ao banco de dados do IPHAN, mas a população local relata um número superior a uma dezena. Os sítios já identificados estão circunscritos a áreas de UC’s (Unidades de Conservação), a saber: dois na APA do Delta do Parnaíba e dois na APA da Serra da Ibiapaba. A arte rupestre caracteriza-se pela presença de pinturas que foram executadas em suportes abrigados de rochas graníticas, litologia predominante na região. Os sítios estão localizados em zonas semi-rurais e urbanas e, nestas últimas, dispersam-se por “áreas de risco”, sujeitas a alagamentos periódicos que se convertem em grandes problemas para a população local. Dentre os fatores de degradação natural elencam-se a ação dos insetos; os alagamentos e a alta salinidade; este último, agravado pela proximidade com o mar. Dentre os antrópicos, as fogueiras acesas nos abrigos, as queimadas e o uso para moradia. O projeto integrado de gestão teve início a partir de uma demanda da comunidade local que identificou riscos iminentes de impactos ao patrimônio local decorrentes da extração irregular de granito. O programa teve início com visitas para cadastramento de sítios e identificação de proprietários, seguidas da realização de uma audiência pública na qual foi proposta a criação de um conselho de proteção da arte rupestre de Chaval formado por membros do IPHAN, ICMBio, Prefeitura Municipal, Comunidade Escolar e proprietários de terrenos. O programa prima pela “construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre

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os agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais”, conforme tem proposto a coordenação de educação do IPHAN.

Registro e Valorização do Patrimônio Arqueológico: Arte Rupestre no Cânion do Rio Jequitaí (Minas Gerais, Brasil)

Fernanda Elisa Costa Paulino e Resende (FACSO/UNICEN Argentina), Juliana de Souza Cardoso (Traços & Ofícios - Consultoria Ambiental e Cultural)

O rio Jequitaí está inserido na bacia do rio São Francisco e constitui um dos afluentes de seu curso médio. Sua nascente se localiza na Serra do Espinhaço, região central de MG. Percorre cerca de 100Km até atingir a confluência entre as serras da Água Fria e das Porteiras. Em altitude de 605m anm, uma falha geológica entre as duas serras forma um cânion com 10km de extensão, onde o rio se encaixa. Na extensão desse cânion foram identificados dez potenciais sítios arqueológicos. Na entrada dessa formação, a 65m da Fenda do Chupador, se encontra o sitio arqueológico Lapa do Chupador, cujo estudo é aqui apresentado. A pouco mais de 1 km desse local uma barragem em construção deixará o sitio submerso. Mais abaixo, cerca de 1,4km, um segundo ponto, o Abrigo do Cachoeirão, também foi alvo de atividades de salvamento no âmbito do “Projeto de Resgate e Prospecção Arqueológica do Reservatório Jequitaí I”, da CODEVASF. Para além do entendimento de cronologias, tradições, concentrações e distribuições, o desafio foi a recuperação do conhecimento herdado do passado pré-histórico que se previa existir nesses locais. A intervenção aplicada aos dois casos para a evidenciação de pinturas foi pesquisada, autorizada pelos organismos legais e devidamente acompanhada. A metodologia adotada nos resgates implicaram em atividades de limpeza, registro estrutural e do meio biótico, e identificação das manifestações humanas. Como resultado, a Lapa do Chupador teve seu conjunto informacional salvaguardado e foi validado enquanto sítio arqueológico de pinturas rupestres, de alto potencial. O Abrigo do Cachoeirão, (CNSA/IPHAN MG00290), por sua vez, foi descartado como espaço arqueológico devido ao alto grau de impactos incidentes, tanto de origem natural quanto antrópica. Entretanto, em seu entorno foram encontrados vestígios de pintura semelhantes àquelas da lapa anteriormente citada e identificadas mediante recursos tecnológicos de captação e tratamento digital das imagens.

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Sambaquis

Análise de cerâmicas de três sítios arqueológicos do Maranhão por Fluorescência de Raios X e Espectroscopia Raman

Renato Akio Ikeoka (Universidade Estadual de Londrina), Carlos Roberto Appoloni (Universidade Estadual de Londrina)

Este trabalho trata da análise arqueométrica de fragmentos cerâmicos oriundos de escavações arqueológicas realizadas nos Sambaquis do Bacanga e Panaquatira, e Rabo de Porco localizados no Maranhão. Os antigos habitantes destes sítios foram caracterizados por serem populações pescadoras, coletoras, caçadoras e ceramistas. Dados obtidos por termoluminescência indicaram que o período de ocupação dos sítios foi de 6600-127 BP. Foram selecionados 63 fragmentos cerâmicos representativos dos três sítios, onde os níveis estratigráficos variam da superfície até 170 cm. Os métodos analíticos utilizados foram a Fluorescência de Raios X (XRF) e Espectroscopia Raman. Através das análises por espectroscopia Raman, identificou-se a presença de hematita, quartzo, wollastonita e albita. A presença de wollastonita indica que a temperatura de queima da ceramica superou 950 °C, e a presença de albita indica que a temperatura foi abaixo de 950 °C. Com

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isso, o intervalo para a temperatura de queima foi de 900-1000 °C e ocorreu em atmosfera oxidante (indicado pela presença de hematita). Também é possível indicar a dureza das amostras através dos minerais detectados, a hematita possui dureza de 5.5 a 6.5 Mohs e o quartzo de 7 Mohs, portanto, a dureza dos fragmentos está na faixa de 5.5 Mohs a 7 Mohs. Dezoito elementos foram medidos com boas estatísticas nos diferentes fragmentos por XRF: Al, Si, P, S, K, Ca, Ti, Cr, Mn, Fe, Cu, Zn, Rb, Sr, Y, Br, Zr e Nb. Pelas análises por XRF e estatística multivariada (Análise Hierárquica de Agrupamentos e Análise de Componentes Principais), os fragmentos dos três sítios arqueológicos agruparam-se em dois clusters, o primeiro é composto pelas amostras do Sambaquis do Bacanga e Panaquatira, e o segundo pelas amostras do Rabo de Porco. Este resultado indica que cada grupo de fragmentos foram manufaturados com argilas diferentes, e os fragmentos dos Sambaquis do Bacanga e Panaquatira são provenientes de fontes de argilas semelhantes.

Eixo Temático Arqueologia Pública

A salvaguarda do patrimônio arqueológico e as possibilidades de pesquisa

Luiz Augusto Viva do Nascimento (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN), Jeanne Almeida Dias (-), Alexandre Rocha Colpas (IPHAN)

Durante as ações de fiscalização do IPHAN na Bahia, pequenas coleções arqueológicas e peças isoladas são recolhidas e permanecem sob a guarda da Autarquia. Dada a pequena quantidade de instituições capacitadas para abrigar estes materiais, sobretudo no interior do estado, conciliar a necessidade de recolhimento com a disponibilização de informações ao público representa um grande desafio, visto que o desenvolvimento de pesquisas não constitui a principal atividade fim da instituição. Neste sentido, o Núcleo de Arqueologia da Superintendência do IPHAN na Bahia vem buscando alternativas para disponibilizar os materiais armazenados sob sua responsabilidade a pesquisadores, considerando o seu interesse em utilizá-los na produção de ações educativas e de divulgação, musealização de materiais ou, ainda, como objeto de pesquisas acadêmicas. Além da contribuição científica e ampliação do conhecimento arqueológico, o objetivo de tal iniciativa é fortalecer os vínculos com as comunidades, assegurando a preservação do patrimônio cultural e o cumprimento da legislação federal em relação aos achados fortuitos.

A Utilização da Transmissão ao vivo online como Ferramenta para A Popularização da Arqueologia: Projeto Contextos Live

Luis Felipe F.D. Santos (Universidade Federal de Sergipe)

Essa comunicação tem como objetivo refletir sobre as ações de divulgação das pesquisas realizadas no Brasil seja na academia ou na iniciativa privada e as ferramentas disponíveis para a popularização do conhecimento. A Arqueologia feita nacionalmente está em verdadeiro desequilíbrio científico, se formos comparar o número de autorizações de pesquisa emitidas e o número de resultados divulgados. A Portaria 07 de 1988 rege a atuação da Arqueologia em território nacional e exige que algumas etapas sejam cumpridas para a emissão de uma autorização de pesquisa, entre as normativas para submissão de projeto, o art.5 (item IV, 6) exige que sejam informados os meios de divulgação das informações científicas obtidas, e na entrega do relatório, mais uma vez devem ser indicados os meios de divulgação dos resultados (Art. 11, item VII). Na recém-publicação do Iphan, a Instrução Normativa 01, de 25 de março de 2015, prevê (Art. 18, §1, item VII) uma proposta preliminar das atividades relativas à produção de conhecimento, divulgação científica e extroversão. Mas como seria essa produção de conhecimento? Durante abril de 2014, foram emitidas 42 portarias de pesquisa e assumindo que cada relatório de pesquisa bem

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executado possa render no mínimo dois artigos científicos, resultariam em 84 artigos. Trazendo essa previsão para a produção anual de relatórios de pesquisa, esse possível número de artigos científicos produzidos jamais seriam totalmente contemplados nos periódicos/congressos nacionais/internacionais considerados como produção de conhecimento ou divulgação científica. Analisando todo esse contexto e atendendo a proposta do XVIII Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira “Arqueologia para quem?”, trazemos os resultados iniciais do projeto Contextos Live que utiliza a ferramenta das transmissões ao vivo online para atingir diferentes públicos com os resultados das pesquisas desenvolvidas por colaboradores da Contextos Arqueologia.

Acessibilidade Comunicacional no Centro Cultural Jesco Puttkamer, Goiânia, Goiás.

Mariza de Oliveira Barbosa (INSTITUTO GOIANO DE PRE-HISTORIA E ANTROPOLOGIA - UCG)

Este trabalho está voltado para as pessoas com deficiência visual, buscando promover o acesso aos conteúdos informados pela Exposição Diferentes e Iguais: Diversidade dos Povos Indígenas no Brasil e às atividades da Ação Educativa do Centro Cultural Jesco Puttkamer (CCJP), integrante do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). O acesso deste público é feito a partir da inserção de audiodescrições de imagens e vídeos, reprodução de textos, de etiquetas em braile e etiquetas ampliadas, e de objetos disponibilizados para o toque.

Difusão e Popularização da Arqueologia para público infantil: algumas impressões

Glória Maria V. Tega Calippo (Sociedade de Arqueologia Brasileira), Pedro Paulo de Abreu Funari (UNICAMP - IFCH)

O projeto Arqueologia: as histórias presentes em nossas vidas está no contexto das atividades do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/Nepam/Unicamp), em parceria com a Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL e a Universidade Federal de Pelotas – UFPel, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do edital MCTI/CNPq/SECIS N º 90/2013 - Difusão e Popularização da Ciência. O projeto procurou promover o diálogo entre Arqueologia Pública e Divulgação Científica, em especial a divulgação da Arqueologia para o público infantil, por meio de um livro e oficinas realizadas durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2014, evento do Ministério da Ciência e Tecnologia, nas cidades de Campinas (SP), Pelotas (RS) e Alfenas (MG). A Divulgação Científica foi mediadora do conhecimento a ser veiculado ao público alvo. Assim, a proposta deste projeto foi aproximar o conhecimento científico, gerado pela Arqueologia Pública, e proporcionar uma articulação com as bases da Divulgação Científica. Desse modo, apresentaremos aqui alguns resultados obtidos com o projeto.

Divulgação Científica da Arqueologia e a Assessoria de Imprensa: estratégias de comunicação externa e interna

Glória Maria V. Tega Calippo (Sociedade de Arqueologia Brasileira)

Tentando suprir a demanda que surge pelo aumento das pesquisas arqueológicas nos últimos anos e admitindo que o conhecimento arqueológico possui um enorme potencial de divulgação para um público mais amplo que o acadêmico, a Divulgação Científica torna-se uma estratégia para possibilitar o diálogo e o entendimento entre estes dois universos, a ciência e o público. A Divulgação Científica é uma atividade voltada à circulação do conhecimento científico, utilizando-se de várias linguagens e formatos para chegar até o público, como jornalismo, teatro, dança, entre

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outros; pressupondo ações adequação de linguagem, passando processo e adquirindo outro formato. A Assessoria de Imprensa é uma atividade realizada por jornalista profissional graduado em Jornalismo. O assessor de imprensa atua na interface, possuindo o papel de facilitar a comunicação entre o assessorado e os meios de comunicação de massa. A matéria-prima do assessor de imprensa é a mesma do jornalista de redação: a notícia. Não existe uma boa divulgação do assessorado se não existir notícia, do contrário a prática torna-se apenas uma propaganda de pessoas ou instituições. Sendo assim, neste trabalho serão mostradas estratégias de comunicação pautadas na Divulgação Científica e Assessoria de Imprensa com duas vertentes: a primeira, no âmbito da comunicação externa, mostrará aquelas e elaboradas com o objetivo chegar levar a Arqueologia ao grande público; a segunda, no âmbito da comunicação interna, mostrará ações elaboradas com o intuito de compreender e gerenciar redes formais e informais de comunicação entre arqueólogos e a Sociedade de Arqueologia Brasileira

Narrativas encantadas de Laranjal do Maracá, Mazagão, Amapá: Perspectivas de uma Arqueologia Pública na Amazônia

Lúcio Flávio Siqueira Costa Leite (IEPA)

A interpretação de vestígios arqueológicos é, antes de tudo, uma maneira de escrever sinais do passado no presente, de contar histórias sobre as coisas ou adicionar outras trajetórias as suas biografias. Esse panorama é reflexo da agência da cultura material que ao ser vivificada por diferentes públicos possibilita a construção várias formas de sociabilidades ou cosmologias. Este trabalho aborda as distintas interpretações que os moradores da vila de Laranjal do Maracá, em Mazagão, no Amapá, possuem sobre os vestígios arqueológicos e as paisagens dessa região. Para tanto, propõe uma reflexão sobre como os materiais do passado ressoam na vida atual das pessoas e como são incorporados em uma dinâmica constante de materialização dos objetos. Ao estudar as narrativas sobre os objetos arqueológicos de Laranjal do Maracá, também procurei compreender as formas pelas quais eles constituem processos de criação de mundos particulares. Neste sentido, a Arqueologia Pública foi utilizada como linha de investigação e de ação que aborda as relações entre arqueologia e sociedades do presente. Além disso, esta pesquisa trata de temas como práticas de encantaria e imaginários sobre os lugares praticados pelos moradores dessa vila. Para tanto, utilizou como técnicas a observação participante, entrevistas e análises bibliográficas, buscando refletir a partir da Arqueologia Pública sobre as diferentes formas de impacto da cultura material.

Os Excluídos e a Praça: uma arqueologia urbana com e pela comunidade

Beatriz Valladão Thiesen (Universidade Federal De Rio Grande)

A pesquisa arqueológica da Praça Tamandaré (Rio Grande,RS) se coloca a partir de uma perspectiva de reação às interpretações históricas existentes sobre a cidade e suas relações com a representação identitária usualmente apresentada pela população local. Centradas nas transformações de larga escala, no cenário político local e, sobretudo, na memória luso-brasileira, a historiografia riograndina deixa à margem outras vozes do passado da cidade. Reproduzindo essa tendência, a memória geral sobre a influência e contribuição estrangeira de outras origens é difusa e incerta. Mais grave é o apagamento quase completo da memória dos negros na construção da história local: apesar da marca materializada na paisagem de antigos e abandonados clubes de negros , da existência de um imenso número de casas de religião de matriz africana e mesmo, da existência de grupos quilombolas na região, suas histórias se perderam e se apagaram da memória coletiva. O Trabalho arqueológico proposto busca trazer à tona uma diversidade de sujeitos

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esquecidos, que aqui chamamos de excluídos, portadores de idéias, sentimentos, expectativas, projetos e visões particulares de mundo: escravos, negros livres, mestiços, brancos pobres. A Praça é, por excelência, um lugar que colocava e coloca em contato esses sujeitos, aos quais pretendemos devolver o protagonismo da produção e interpretação arqueológicas e das políticas de gestão do patrimônio cultural. As ações realizadas buscam fornecer uma importante contribuição para a compreensão do processo de construção da história da cidade, abrindo novas perspectivas para a compreensão da sociedade capitalista local, até o presente desconsiderados pela historiografia regional, e ao mesmo tempo reconhecer o direito ao passado enquanto dimensão básica da cidadania.

Potencial Arqueoturístico de Sobradinhos-BA

Celito Kestering (UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO – UNIVASF), Vanessa da Silva Belarmino (FLATED)

A Arqueologia, enquanto ciência centra seu foco de análise na cultura material legada pelos antepassados, contextualizando objetos e artefatos, e inserindo-os na vida contemporânea. A atividade turística redefine os usos do patrimônio, agenciando histórias, memórias e tradições e oportunizando o conhecimento sobre a diversidade das formas de expressão cultural. A presente pesquisa tem como objetivo analisar as possibilidades de desenvolvimento do Arqueoturismo no Município de Sobradinho - BA onde existem muitos vestígios de ocupação humana pré-colonial, colonial e pós-colonial, nas proximidades do Rio São Francisco e do maior lago artificial da América Latina em espelho de água. Estriba-se o planejamento turístico nas práticas da interpretação do patrimônio, na promoção do interesse da população e dos visitantes pela Arqueologia, na preservação dos sítios arqueológicos e na sustentabilidade do desenvolvimento cultural da comunidade local.

Eixo Temático Educação Patrimonial

Transamazônica: Lembranças e Memórias de sonhos roubados

Wagner Fernando da Veiga e Silva (Sócio-Diretor da Inside Consultoria), Vera Lucia Mendes Porta (Universidade Federal do Pará)

Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca de relações estabelecidas com a população que vive as margens da Rodovia Transamazônica e o patrimônio cultural, enfatizando suas lembranças e memórias a partir das narrativas relacionadas à chegada ao lote e as inúmeras dificuldades culturais encontradas. Como metodologia utilizou-se entrevistas e registros fotográficos com moradores mais antigos que vieram para Transamazônica na década de 70, pois o processo de povoamento ocorrido na região por população não indígena exerceu forte pressão sobre os povos indígenas que habitavam o Rio Cupari e seus afluentes

Eixo Temático Etnoarqueologia

Arqueologia da Paisagem na Chapada Velha, Estado da Bahia

Luiz Antonio Pacheco de Queiroz (Zanettini Arqueologia)

A região da Chapada Velha, no município de Gentio do Ouro (centro-norte do estado da Bahia) conheceu um dinamismo considerável nos séculos XIX e XX impulsionado pela atividade mineraria, notadamente a extração de diamantes, seguida do carbonado e, posteriormente cristais de quartzo.

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Diversos núcleos populacionais surgiram associados às áreas de garimpo, marcadas por cavas e estruturas relacionadas ao cotidiano de exploração de tais recursos. O objetivo da comunicação é evidenciar aspectos em torno da dinâmica de ocupação dessas áreas de exploração e construção de lugares, principalmente no decorrer do século XX. A comunicação articula dados arqueológicos, fontes escritas e sobretudo, testemunhos de antigos garimpeiros visando a reconstituição da paisagem mineraria e seus significados, a partir da concepção dos próprios atores sociais. Os dados utilizados provêm de programa de licenciamento desenvolvido pela Zanettini Arqueologia na região em questão.

Manifestação simbólica e cultura material do sítio Inhazinha - Perdizes/MG.

Wagner Magalhães (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP - MAE/USP)

A presente comunicação expõe parte dos dados já interpretados da pesquisa realizada junto ao sítio arqueológico Inhazinha, localizado no município de Perdizes-MG e desenvolvida no âmbito da dissertação de mestrado apresentada ao MAE/USP. O município de Perdizes, localiza-se nas coordenadas 19º21’00”S e 47º17’30”O, elevado a exatos 1047m de altitude, dista da capital do estado, Belo Horizonte, 400Km pela rodovia BR-262. O município de Perdizes pertence a uma região de transição entre o Oeste mineiro e a área do Triângulo, com quadro natural formado por uma vasta superfície ondulada e dissecada pelos afluentes do rio Araguari, dentre os quais o rio Quebra Anzol. O sítio Inhazinha, é integrante do Projeto Quebra Anzol e se caracteriza como um sítio a céu aberto, lito-cerâmico, locado a aproximadamente 850m de altitude, estando em um relevo de vertente, correndo em sua base o córrego Cândido Borges. Apresenta duas zonas arqueológicas, a primeira datada em 1.095±186 anos AP (TL – FATEC/SP), e a segunda recém descoberta, que se caracteriza por um sistema de produção cerâmica composto por três fornos escavados, associado a um horizonte cultural (agricultores ceramistas históricos) até então desconhecido para a região de estudo. Datada em 212±19 anos AP (AMS – CENA-USP/SP), e 190±30 anos AP (C14 – BETA/EUA), tal assentamento, se constitui de uma nova ocupação relacionada aos Cayapós Meridionais que viveram na região do Triângulo Mineiro até o final do século XIX. Os vestígios encontrados, revelam não só as características socioculturais do grupo, mas também demonstram processos de “interação” decorrentes do inevitável contato com o homem branco.

O Diálogo da Antropologia com Arqueologia: Um recorte da relação de uso dos sítios de Terra Preta por comunitários da zona rural de Manacapuru-Amazonas, Brasil.

Vanessa de Carvalho Benedito (Universidade Federal do Amazonas), Margaret Cerqueira de Souza (Universidade Federal do Amazonas)

As identificações de sítios arqueológicos no município de Manacapuru-AM são provenientes das pesquisas realizadas no âmbito do Projeto Amazônia Central-PAC (1995), Projeto Petrobras Gasoduto Coari-Manaus; Projeto de Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia-PIATAM (2007) e do Projeto de Duplicação da Rodovia Manoel Urbano (AM-070) Manaus/Manacapuru (2012). Os dados acerca desses sítios nem sempre estão disponíveis para consulta, como é o caso de Manacapuru que, segundo o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA-IPHAN) não possui nenhum sítio cadastrado, dificultando assim, a contabilização concreta dos sítios identificados nessa região. Na Amazônia, é de conhecimento comum a existência de sítios arqueológicos com a presença de Terra Preta de Índio (TPI), um solo antropogênico cujas características físicas, químicas e biológicas são distintas dos demais tipos de solos, para além da coloração escura, apresentam altos níveis de nutrientes favoráveis ao crescimento de plantas, tornando-os os mais desejados por agricultores. Assim, os usos recentes voltados para as áreas de sítios de TPI no município de Manacapuru estão

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diretamente associados à agricultura em pequena, média e larga escala. Para o entendimento das relações de uso, no dialogismo antropologia/arqueologia, foram revisitados dois sítios, Costa do Laranjal e Curica (ou Terra Preta); e outros dois foram identificados: Vilas de Monte Cristo (Licenciamento Ambiental), e Dona Eritréia (atividade técnica: Pedologia, Fertilidade e Biologia das Terras Pretas de Índio, coordenada pelo Dr. Newton Falcão/INPA, com a participação das autoras). A ideia de entender essas relações permeia pelo interacionismo social discutido na Antropologia e pela percepção do ser social junto ao patrimônio arqueológico. Os usos corroboraram a predileção destes solos para o cultivo, com exceção do sítio Vilas de Monte Cristo, cujo uso está sendo destinado a um loteamento residencial.

Significados de potes cerâmicos no Cariri Cearense

Luiz Antonio Pacheco de Queiroz (Zanettini Arqueologia)

A comunicação trata de minha dissertação de mestrado sobre os significados do uso e fabricação de potes cerâmicos feitos para armazenar e esfriar água no Cariri cearense. Discuti questões relativas ao contraste entre o saber fazer e a pressão do mercado de consumo regional, que influenciou a prática de aplicação de ranhuras naqueles recipientes nos últimos trinta e cinco anos. Através de uma perspectiva etnoarqueológica, refleti sobre transformações culturais no contexto da sociedade agropastoril do semiárido, com a observação do decréscimo da utilização e produção dos vasilhames cerâmicos, que propiciou investigar mudanças de hábitos entre os habitantes da zona rural. A observação participante e entrevistas permitiram apreender os sentidos inerentes aos potes e problematizar algumas situações em torno da tecnologia envolvida e das práticas destinadas aos recipientes. Examinei situações sociais através de mecanismos analíticos da teoria da agência e da biografia dos objetos para interpretar os significados das práticas relativas àqueles vasilhames. Incorporei estratégias de várias disciplinas através de fontes materiais e imateriais para analisar e construir interpretações surgidas dos discursos das próprias pessoas estudadas e representadas pelo tema enfocado. Como resultado propus que, diante das exigências dos consumidores e apesar da diversidade de usos dos referidos contentores, a aplicação das ranhuras é realizada pelas ceramistas para manter a venda e em consequência sua atividade produtiva. Para quem usa os potes frequentemente interessam ter os vasilhames com ranhuras para obter tanto a água em baixa temperatura quanto um melhor sabor para bebê-la. Esses intricados significados estão presentes na credibilidade da escovação dos potes, que ressalta a existência de tais objetos nos núcleos produtores de cerâmica e nas negociações cotidianas entre consumidores e comerciantes.

Eixo Temático Geoarqueologia

Uma Proposta de Substituição Adequada da Estação Total no Mapeamento de Escavações Arqueológicas

Andersen Liryo da Silva (Museu Nacional / UFRJ)

O mapeamento é parte essencial de toda escavação arqueológica. Quanto mais preciso for o levantamentos dos dados espaciais, melhor será o trabalho posterior de reconstrução e análise. A estação total é um aparelho que permite ao arqueólogo fazer este levantamento com um nível de precisão muito alto. Porém, nem sempre é possível ter uma estação total no campo, e no lugar continua-se a se fazer o trabalho de mapeamento com velhos métodos de cordas, trenas e níveis de bolha. Neste trabalho, apresenta-se o resultado da proposta do uso de aparelhos medidores de distância à laser (trena laser), como uma forma adequada para substituir as estações totais, na falta delas. Foi usado neste trabalho uma trena laser montada sobre um tripé com limbo, tendo sido

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usada em uma configuração de estação livre para o mapeamento do sambaqui de Sernambetiba, vinculado ao projeto Sambaquis MGM. Os dados brutos obtidos pelo aparelho foram plotados em planilha com algoritmos especificamente escritos para recalcular e projetar todos os dados para o ponto zero, retornando os valores de X, Y e Z. Para comparação, foram usados fotografias aéreas e dados espaciais do mesmo sítio, posteriormente coletados com uma estação total. O mapeamento com a trena laser mostrou erro na dimensão vertical menor que 1cm e na dimensão horizontal de 5cm. A geração de mapas com os dados recalculados mostraram, nas fotografias aéreas, distribuição compatível com o sítio. Comparados com os dados da estação total, os dados da trena laser mostraram a mesma conformação espacial, com medidas dentro dos erros calculados. Apesar de se ter encontrado alguns problemas, como pontos fora de posição, acredita-se que os resultados poderão melhorar ainda mais com equipamentos melhor adaptados. Os resultados foram animadores quanto à precisão dos dados e facilitação do trabalho topográfico, mostrando a total viabilidade do uso de trenas à laser em substituição adequada às estações totais, quando o uso destas não for possível.

Eixo Temático Musealização da Arqueologia

Acervo Kaingang e Xokleng no Museu Paranaense: diálogos com a arqueologia Jê no Paraná

Claudia Inês Parellada (Museu Paranaense)

O Museu Paranaense, fundado em 1876 em Curitiba, possui um rico acervo arqueológico e etnográfico relacionados a povos Jê, especialmente do Paraná. No estudo desenvolvido buscou-se caracterizar mudanças tecnológicas e estéticas ao longo do tempo, tentando reconstruir possíveis cadeias operatórias. A arqueometria e a arqueologia experimental colaboraram na evidenciação de métodos de manufatura, das técnicas decorativas, das matérias-primas, da composição de engobos e pigmentos, além do grau de alteração, sendo possível a proposição de medidas mais eficazes na conservação do acervo. A documentação e a análise de manifestações estéticas que incluem formas e tipos decorativos em cerâmica, porongos, malhas e tecidos em urtiga brava Kaingang e Xokleng, além de cestos, alguns Xokleng foram impermeabilizados com cera, bem como bastões, bordunas, arcos e flechas, revelaram novos dados sobre a história indígena e a arqueologia Jê no Paraná.

Arqueologia e Museologia: proximidades e distanciamentos no cenário nacional

Grasiela Tebaldi Toledo (USP)

A Museologia e a Arqueologia têm trajetórias de formação e atuação que se entrecruzam em vários momentos, em diferentes intensidades e formas de agir. Para diagnosticar essa relação, foram selecionadas as dissertações e teses defendidas em programas de pós-graduação do Brasil, que versam sobre Musealização da Arqueologia e outras áreas (Educação, Turismo, Antropologia, História) que se aproximam dessa linha de pesquisa. Para realizar o levantamento desses trabalhos, foi usado o Banco Digital de Teses e Dissertações (BDTD) e os acervos digitais das bibliotecas das universidades que possuem programas de pós-graduação em Arqueologia, Museologia, Patrimônio Cultural ou áreas de concentração nessas temáticas. Nesse sentido, alguns trabalhos ficaram de fora desse levantamento, porém uma amostra considerável será apresentada e debatida, para compreender as proximidades e distanciamentos entre a Arqueologia e a Museologia no cenário nacional. Até o ano de 2014 foram encontradas 26 trabalhos, sendo 18 dissertações e 8 teses, que tratam do assunto, sendo a mais antiga de 1994. Assim, temos um quadro de 20 anos de pesquisa na área, que vem se intensificando nos últimos anos. Esses trabalhos apontam que se estabeleceu uma forte relação nos Museus de Arqueologia, demonstrando a historicidade dos processos museológicos no que se refere a acervos arqueológicos, apontando ações pioneiras em

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Musealização da Arqueologia e como isso pode contribuir para a proposição de trabalhos na contemporaneidade. Além disso, outro aspecto de aproximação é o crescente aumento de interesse por essa temática, diagnosticado através do volume de trabalhos nos últimos anos, bem como pela profundidade das reflexões realizadas. Porém, ainda existem grandes e graves distanciamentos nessa relação, que vão desde a falta de profissionais até o abandono dos acervos arqueológicos nas diferentes instituições, passando pela não prioridade do debate, o que torna a aproximação um grande desafio.

Eixo Temático Teoria e Método

Aplicação de modelagem tridimensional em sítios arqueológicos da Amazônia – o exemplo de cavernas em Rurópolis e Carajás, Pará.

Carlos Augusto Palheta Barbosa (Universidade Federal do Piauí), Fábio Corrêa dos Santos (Estacio Fap)

Com os avanços tecnológicos as representações tridimensionais para a documentação de evidencias materiais em sítios arqueológicos têm se tornado mais precisa e detalhada. Porém, o acesso às ferramentas que possibilitam esse tipo de resultado (escâner de varredura a lazer e programas avançados de modelagem de dados para a representação virtual em 3D), nem sempre estão disponíveis. No entanto, é possível através dos dados coletados com auxílio de uma estação total e fotografias dos elementos mapeados, realizar a modelagem e gerar de maneira precisa e simples, mas com certos limites, a representação virtual de sítios arqueológicos por meio de software livre de modelagem em 3D. Este trabalho apresenta o resultado do mapeamento de três sítios arqueológicos em cavidades. Dois estão localizados no município de Rurópolis, sudoeste do Pará, a caverna do Km 110 e a caverna da Borboleta Azul; e um localizado no platô N1 na Serra de Carajás, sudeste do Pará, a Gruta do Grilo. Os sítios mapeados em Rurópolis apresentam, como evidências arqueológicas, fragmentos cerâmicos e líticos em superfície e arte rupestre em suas paredes internas (pinturas, gravuras e gravuras pintadas). O mapeamento dos aspectos físicos e das evidências arqueológicas encontradas nos dois sítios foram realizados com estação total e sem nenhuma intervenção direta. Em Carajás o sítio é lito-cerâmico e nele ocorreu escavação arqueológica. Nesse sítio os aspectos físicos, escavação arqueológica e objetos encontrados na escavação também foram mapeados com auxílio de estação total. A modelagem tridimensional dos sítios foi realizada com auxílio do programa de modelagem 3D livre Sketchup.

Caracterização das Indústrias Líticas do Abrigo do Alvo (Analândia-SP) e Sítio Bastos (Dourado-SP): um estudo da Cadeia Operatória

Letícia Cristina Correa (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

O trabalho a ser apresentado faz parte da pesquisa de Mestrado em desenvolvimento no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Na região de Rio Claro é sabido que há uma sobreposição de níveis arqueológicos, o que sugere um período de longa ocupação. Através dessa sequência, pode-se tentar entender as direções da evolução tecnológica pré-histórica que ali ocorreram, ambos os sítios pertencem a essa região. O sítio Abrigo do Alvo localizado no município de Analândia-SP, cuja escavação foi coordenada pelo Prof. Dr. Astolfo Gomes de Mello Araujo, através do projeto FAPESP “A ocupação Paleoíndia no Estado de São Paulo” obteve a cronologia pela datação do C14 resultou em 6.500 AP +/- 1.500. O Sítio Bastos, localizado em Dourado-SP, foi escavado em 2014 e pertence ao mesmo projeto FAPESP sob a mesma coordenação e teve a datação de 6.810 AP +/- 30. O estudo, pretende caracterizar a indústria lítica do Abrigo do Alvo, com base nas análises de Tom

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Miller, que estudou intensamente o potencial arqueológico da região e os conjuntos líticos, visando estabelecer comparações com os vestígios líticos do sítio Bastos.

Construção da base de dados de sítios arqueológicos cadastrados no Paraná

Fabiana Terhaag Merencio (MAE-UFPR, Preservar Arqueologia)

A arqueologia não se restringe à análise de artefatos e estruturas e suas respectivas interrelações, sendo imprescindível, para uma melhor compreensão dos usos dos espaços e suas articulações no passado, a utilização de dados espacialmente georreferenciados. Esta pesquisa busca sistematizar, desde 2009, as informações dos sítios arqueológicos registrados no Paraná, com a construção de uma base de dados provenientes não somente das fichas de cadastro disponibilizadas no acervo do IPHAN-PR, mas também de relatórios de pesquisa, artigos e mapas que apontem a localização de sítios arqueológicos no estado. O objetivo inicial foi elaborar um SIG, além de mapas temáticos para público em geral. No entanto, o potencial dessa base de dados é muito maior, tratando-se de uma ferramenta indispensável para o gerenciamento do patrimônio arqueológico, além de subsidiar projetos de recadastramento de sítios arqueológicos, visando à coleta de dados atuais e avaliação do estado de conservação dos mesmos. Em uma perspectiva mais ampla, este levantamento de dados também fornece dados para a elaboração de modelagens preditivas, análises espaciais (localização de fontes de matéria prima, custo de rotas, intrassítio e interssítios) estudos de sistemas de assentamento regionais, reunindo informações georreferenciadas de sítios cadastrados em projetos de pesquisas distintos.

Crítica ao Método de Escavação Arqueológica Arbitrária

Valmir Manoel Mendes Junior (Mendes Archeologia)

O método de escavação arqueológica, que já faz parte da cultura arqueológica brasileira e, que à vários anos não sofre mudanças metodológicas é o conhecido “método arbitrário por quadriculas”. Este método já é há muito tempo considerado obsoleto e impróprio para escavações arqueológicas, principalmente em sítios visivelmente estratificados. Este artigo mostra as deficiências do método arbitrário e propõe uma reflexão sobre a importância de interpretar o contexto arqueológico por meio de uma escavação estratigráfica.

Evidenciando estruturas: uma leitura sobre a decapagem mecânica em sítios arqueológicos no Amapá

Luiz Eduardo Nunes Oleiro (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA), Carolina de Sousa Santos (Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Estado)

As escavações em área ampla são utilizadas na arqueologia de maneira manual desde a década de 1950, demandando uma vasta e dispendiosa utilização de mão de obra. Com surgimento de novas metodologias, alguns arqueólogos desenvolveram, na Europa, nas últimas décadas, o método de decapagem mecânica que consiste na utilização de uma escavadeira mecânica. No Brasil, desde 2007, no Amapá, trabalhos com a utilização de escavadeiras mecânicas são realizados em contextos de arqueologia de resgate por Cabral e Saldanha. Neste trabalho serão discutidos os pressupostos desta metodologia, eficiência e precisão, demonstrando sua funcionalidade em casos onde a decapagem mecânica foi utilizada. Para isso demonstraremos, através de levantamento bibliográfico e estudo de casos, questões relativas aos impactos deste tipo de metodologia para escavações em áreas amplas.

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Explorando aspectos da ocupação sambaquieira na paleolaguna de Santa Marta/SC

Andreas Kneip (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS), Deisi Scunderlick Eloy de Farias (UNISUL)

Foram realizados estudos estatísticos sobre a ocupação da região da lagoa de Santa Marta, na costa catarinense próxima à cidade de Laguna, por grupos construtores de sambaquis. O período considerado vai de 7.000 a 900 anos Antes do Presente. Os estudos levaram em consideração o local e a data em que cada sítio estava ativo. A dinâmica do processo de construção de sambaquis pode ser dividida em duas fases, uma de expansão, entre 7.000 e 3.000 anos AP, e uma de retração, de 3.000 a 900 anos AP. Além disto, as duas fases podem ser divididas cada uma em dois períodos, segundo o ritmo da expansão e da retração. Em cada um destes períodos a ocupação mostra um caráter de agregação de sítios, com a região sendo particionada em um certo número de núcleos. O período inicial, de 7.000 anos a 4.500 anos AP mostra uma expansão exponencial, quando o número de sítios ativos salta de zero para quinze. Um segundo período, de 4.500 a 3.000 anos AP ainda exibe expansão, mas em um ritmo mais lento, com o número de sítios concomitantes subindo de quinze para vinte. Nesta fase o número de núcleos é onze. Na fase de retração, em um terceiro período, de 3.000 a 2.100 anos AP, o número de sítios cai de vinte para quinze. O quarto período, de 2.100 a 900 anos AP, representa o final da ocupação sambaquieira na região. O número de núcleos é de nove e seis, respectivamente. Considerando todos os sítios, datados ou não, o número total de núcleos é doze. Destes, apenas os núcleos de Capivari e de Cubículo não atravessam pelo menos três dos períodos descritos, o que pode ter acontecido devido ao fato de se situarem em local muito afastado da costa, sem contato por água com o ambiente lagunar. A área de cada núcleo, considerando o diferente número de núcleos proposto para cada período, não segue uma distribuição normal. O resultado reforça a noção que a região era socialmente compartilhada pelos diferentes grupos, e que este padrão de ocupação se manteve ao longo do tempo.

O MATERIAL DA CULTURA: Análise arqueométrica da cerâmica arqueológica da T. I. Kuatinemu, Pará.

Duane Paola Cardoso Mota (Museu de Arqueologia e Etnologia)

A razão para se enfatizar a análise da sequência de produção dos objetos cerâmicos, destacando as operações essenciais e não essenciais é fornecer uma base pragmática para identificar os elementos importantes da tecnologia cerâmica que permitirão reconstruir o comportamento dos ceramistas no passado. Sendo que a essência do estilo tecnológico repousa não apenas no reconhecimento de padrões associados aos eventos técnicos, mas no reconhecimento de padrões culturais dos quais o estilo é uma expressão. Dessa forma, este trabalho terá como objetivo principal explanar sobre como as análises arqueométricas, aplicadas ao estudo dos conjuntos artefatuais cerâmicos arqueológicos, podem contribuir para identificar estes comportamentos e, ao mesmo tempo, explicar os processos tecnológicos empregados durante a produção e uso dos artefatos. Foram caracterizados, arqueometricamente, os vestígios cerâmicos arqueológicos e serão apresentados alguns dos resultados que ajudaram a compreender as escolhas tecnológicas empregadas pelos ceramistas durante o processo de produção desses vasilhames.

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Apresentação de Pôster

Eixo Temático Arqueologia Clássica e do Mundo Antigo

Estudo sobre os costumes funerários na região da Palestina na Idade Do Ferro

Anne caroline Barbosa dos Passos (UFRN)

O interesse pelo tema surgiu a partir dos conteúdos da disciplina Arqueologia, com discussões em sala e a leitura de uma bibliografia básica de arqueologia nas terras da bíblia bem como estudos sobre a vida cotidiana na Antiguidade. O trabalho pretende analisar e compreender as manifestações culturais e a vida cotidiana, a partir dos costumes funerários na região da Palestina na Idade do Ferro (aprox. 1000-586 a.C.) o que corresponde ao período bíblico da Monarquia Unida e Dividida. Dentro de uma perspectiva da arqueologia processual, pretende-se estudar as manifestações da cultura material da região da Palestina na Idade do Ferro (aprox. 1000-586 a.C.), no concernente aos costumes funerários, através de um levantamento bibliográfico da historiografia sobre a Antiguidade e uma análise sistemática da bibliografia arqueológica sobre o período da Idade do Ferro na mesma região. Considerando que o trabalho está ainda em fase inicial, não é possível ainda apresentar muitos resultados concretos. Porém, pode-se perceber através do estudo inicial das práticas sociais sobre os costumes funerários, a influência cultural externa que a região da Palestina recebia neste período, desconstruindo a ideia generalizante de ser uma cultura única e isenta de influências culturais externas.

O Cavalo Como Iconografia e Poder na Arqueologia: As Moedas de Cartago

Luana Silva Santos (Universidade Federal de Sergipe), Alberico Nogueira de Queiroz (Universidade Federal de Sergipe (UFS), Departamento de Arqueologia, Laboratório de Bioarqueologia)

Neste estudo são apresentados aspectos relacionados à importância dos animais na zooiconografia arqueológica, em particular o cavalo, tendo como estudo de caso sua representação nas moedas da Cartago (atualmente Túnis, Tunísia), com propósito de discorrer a respeito da trajetória de uma sociedade antiga, século IX (fundação da cidade) e durante as guerras púnicas (264 a 146 a. C.), durante os vários momentos de guerras em que esses animais, além de representados iconograficamente, foram utilizados como um “instrumento bélico”, sendo decisivo em algumas batalhas. Assim, é possível entender os diversos contextos envolvendo esses animais a partir das histórias contadas dessas representações imagéticas contidas nas moedas. Os estudos referentes à iconografia zoológica na Arqueologia brasileira ainda não muito representativos, devido à escassez de pesquisas relacionadas à temática, bem como, quanto à bibliografia. Pouco ainda é apresentado sobre o assunto. Assim, conseguimos evidenciar na antiguidade até os dias atuais, a importância do cavalo em sua simbologia, como referência de força e poder para uma sociedade. Ainda assim, o cavalo não está presente apenas nos documentos escritos, mas compõe aqueles de cunho religioso (imagens representativas) ou até mesmo em narrativas mitológicas. A maneira como os animais são representados em vários momentos, desde Deusas a moedas cunhadas com motivos, igualmente da flora, dizem muito sobre “o povo do campo”, que é descrito em vários períodos da narrativa literária histórica. Mesmo assim, os cavalos são agraciados mais uma vez com outros signos emblemáticos (sol, lua) e que as relações se baseiam na lógica do diálogo da cultura material com as formas socioculturais, permitindo descrever e interpretar a vida cotidiana da cidade de Cartago, sendo contada através das moedas.

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Eixo Temático Arqueologia Contemporânea

Além das ruínas: comunidades locais, patrimônio arqueológico e turismo na Vila de Joanes, Ilha do Marajó, Amazônia.

Maira Santana Airoza (Universidade Federal do Pará)

Este trabalho investiga a relação entre a comunidade do entorno do Sítio histórico de Joanes (PA-JO-46), na Vila de Joanes, Ilha do Marajó - Brasil, e a emergência do turismo local. A Vila de Joanes está localizada na porção leste da ilha, possui cerca de 2000 habitantes e é distrito do município de Salvaterra. No mês de julho, a população chega a quadruplicar, uma vez que há um grande fluxo de turistas brasileiros e estrangeiros. O Sítio de Joanes é composto pelas ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de meados do século XVII, além de fragmentos de metais, louças, ossos e cerâmicas, que indicam ocupação pré-colonial existente antes do estabelecimento de uma missão religiosa em Joanes. Na buscar por compreender as relações estabelecidas entre os moradores, o sítio de Joanes e o turismo é preciso estabelecer um diálogo entre a arqueologia e antropologia, principalmente no que se refere à análise dos usos e sentidos que o patrimônio arqueológico passa assumir contemporaneamente no âmbito do turismo. Assim, faz-se uso de uma abordagem etnográfica para interpretar, criticar e reconstruir a arqueologia como uma prática moderna. A partir dos primeiros trabalhos de campo, percebe-se como a incidência do turismo na Vila de Joanes possibilitou uma reconfiguração das relações estabelecidas entre os moradores e seu patrimônio arqueológico.

Cadeias Operatórias do Conjunto Artefatual Lítico do Holoceno Médio – Abrigo Cabeças 4, Felício dos Santos, Alto Vale do Araçuaí, Minas Gerais

Lidiane Aparecida da Silva (Universidade Federal de Pelotas)

O sítio Arqueológico Cabeças 4 está implantado em média vertente, em um abrigo sob rocha quartzítica da Formação Guanhães, município de Felício dos Santos, na bacia do rio Araçuaí, afluente do Jequitinhonha, Minas Gerais. Segundo Fagundes (2014), trata-se de uma área de Floresta Estacional Semidecídua, bem irrigado, havendo mais cinco sítios arqueológicos. O sítio Cabeças 4 foi escavado em novembro de 2013, sendo abertos, por níveis naturais, 3 m² da área, em um local totalmente abrigado e protegido da chuva. Contrariando as expectativas de pacote sedimentar curto (comum regionalmente), a profundidade média da escavação foi de 70 cm, divididos em 19 níveis, 5 camadas ocupações e dois horizontes claros: horticultores (entre a superfície ao nível 10, com evidenciação de fragmentos cerâmicos, várias tipologias de material lítico em quartzo e uma lâmina de machado polida completa) e outros de caçadores coletores, entre o nível 11/122 ao final da escavação, sendo evidenciada uma rica indústria lítica em quartzo e quartzito (FAGUNDES, 2013). Com a finalidade de conseguir os objetivos propostos neste trabalho, as análises se basearão no conceito etnográfico de cadeias operatórias (FAGUNDES, 2004). Pretende-se, assim, que os vestígios de pedra sejam submetidos à minuciosa observação de seus atributos tecnológicos e formais de modo que se possa compará-los com a finalidade de obter o maior número possível de dados para a organização das sequências operacionais (FAGUNDES, 2007). Diante disso, o estudo do conjunto lítico do sítio Cabeças 4 irá cooperar para o entendimento de informações arqueológicas importantes e desconhecidas até então, propiciando a ampliação do conhecimento das relações dos Humanos e seus ambientes, sobretudo partindo da hipótese de ocupações contínuas na área de estudo, a partir de aproximadamente 7000 anos A.P. e por sua importância para a apreensão de dados fundamentais para a consolidação do conhecimento da Arqueologia da Serra do Espinhaço Meridional.

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Eixo Temático Arqueologia de Contrato

''Arqueologia e Legislação:Algumas Considerações Relacionadas ao Atual Panorama Brasileiro"

Sálvio Henrique da Rocha Costa (Bacharel em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe)

O Brasil,tendo o seu território com dimensões continentais,possui um vasto patrimônio arqueológico espalhado por todas as suas regiões,de certa forma a diversidade cultural, muitas vezes ameaçada,necessita de medidas mais efetivas de proteção.Com o decorrer dos anos, a legislação brasileira vem se modificando na tentativa de uma maior eficácia na defesa do patrimônio arqueológico brasileiro,contando,sobretudo,com portarias específicas (n°7 e n°127), a lei federal n° 3924 de 1961 e a instrução normativa (n° 1 de 25 de março de 2015) do IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).Considerando esse esforço na legislação do patrimônio arqueológico,a presente comunicação tem por objetivo fazer breves considerações sobre essa nova lei que envolve o patrimônio arqueológico,seus pontos negativos e positivos e as relações do profissional de Arqueologia com o empreendedor e as comunidades.Ao mesmo tempo,pretendo com a comunicação abordar sobre como a nova legislação em vigor,poderia contribuir junto às comunidades na defesa do patrimônio arqueológico.

De tudo um pouco: Dois sítios multicomponenciais no Baixo Madeira

Alexandre Hering de Menezes (ARQUEOLOGIKA), Cassia Bars Hering (Arqueologika), Catarina Ribeiro Calheiros (Universidade Federal do Amazonas), Gilmar Pinheiro Henriques Júnior (Autônomo), Raul Perigo Melo de Oliveira (Museu Amazônico), Thiago Berlanga Trindade (MAE / USP)

Este trabalho terá como objetivo apresentar algumas das problemáticas interpretativas que estão sendo levantadas quanto à análise do material cerâmico proveniente de um estudo de Diagnóstico Arqueológico Interventivo realizado nos sítios Uricurituba Velho e Terra Preta, no Baixo Madeira, considerando suas correlações com os diferentes quadros regionais da arqueologia amazônica. O sítio Uricurituba Velho (AM-CR-7) foi registrado por Simões nos anos 1980. Ao estudar os sítios do Baixo Madeira o autor definiu três fases arqueológicas para a região: a “Fase Axinim” (Tradição Borda Incisa), a “Fase Borba” (Tradição Polícroma) e “Fase Curralinho” (Tradição Inciso-Ponteada). Posteriormente, Moraes, retomando os estudos na região, afirmou que na verdade a Fase Curralinho seria parte da Fase Axinim. Já o sítio Terra Preta é um sítio novo encontrado pelo projeto. Durante o estudo de diagnóstico foram realizados centenas de poços-teste, sendo coletadas 1020 peças (994 fragmentos cerâmicos e 26 líticos). Os vestígios cerâmicos foram classificados quanto às características tecnológicas em quatro tradições distintas: Borda Incisa, Tradição Polícroma, Tradição Inciso-Ponteada e Tradição regional Saracá. Esses dados levantam a retomada das discussões sobre a classificação da Fase Curralinho, mas principalmente chamam a atenção pela presença da Tradição Regional Saracá - pela primeira vez encontrada fora da região do Baixo Amazonas. MORAES, C. Amazônia ano 1000: Territorialidade e conflito no tempo das chefias regionais. Tese de Doutorado. São Paulo, Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. 2013 SIMÕES, M. Pesquisa e cadastro de sítios arqueológicos na Amazônia legal brasileira. Publicações avulsas. N 38. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. 1983 SIMÕES, M. F. e LOPES, D. 1987. Pesquisas arqueológicas no baixo/médio Rio Madeira (Amazonas). Revista de Arqueologia 4(1):117-133

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Discussões sobre o Patrimônio Arqueológico e Possibilidades de Estudo: O Caso do Sítio Araçá (São Cristóvão, Sergipe).

Fernanda Libório Ribeiro Simões (Contextos Arqueologia), Ademir Ribeiro Junior (Museu Nacional da UFRJ), Virgílio José Silveira Dantas Júnior (Universidade Federal de Sergipe)

Em 2013, a Contextos Arqueologia, a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) e o Iphan/SE realizaram uma parceria para a execução do "Programa emergencial de preservação do patrimônio arqueológico na área de inundação da barragem de acumulação do rio Poxim-Açu, São Cristóvão, Sergipe". Foi aplicada uma matriz sistemática de pontos interventivos de prospecção sobre a área que formaria o lago e parte da vegetação que percorre os limites da cota máxima de inundação, resultando na identificação de 5 sítios arqueológicos: o Sítio Goiabeira, Sítio Aguiar, Sítio Timbó, Sítio Juá e o Sítio Araçá. O Sítio Araçá apresentou um conjunto de ferramentas líticas e foi identificado em outra pesquisa realizada na área do empreendimento, mas o impacto negativo sobre sítio influenciou diretamente os resultados obtidos. O objetivo dessa pesquisa é demostrar que mesmo um sítio arqueológico que foi alvo de impacto negativo e irreversível pode fornecer dados para a sua interpretação. Foram realizadas análises tecnológicas em 15 amostras líticas coletadas no sítio e constatou-se que, das 15 peças de sílex, apenas uma não corresponde a um instrumento, e que as outras são de fato ferramentas. O suporte pode ter influenciado aos lascadores, já que apenas três ferramentas são feitas tendo como o suporte lascas com gumes lisos ou denticulados entre 30°-45°, enquanto o resto foi elaborado em plaquetas lascadas bifacialmente com gumes denticulados ou serrilhados e ângulos de 30°-80°. Essa indústria lítica identificada é um exemplo do potencial ainda por ser pesquisado sobre o lascamento bifacial na região da Formação Barreiras e litoral de Sergipe.

O Estado contra o Patrimônio: uma perspectiva arqueológica

Flávia Cristina Costa Vieira (UFMG)

O trabalho consiste no estudo de três casos à luz da legislação patrimonial brasileira, demonstrando como o Estado age contra a determinação de salvaguardar o patrimônio arqueológico. Além destes aspectos, fica claro como a Arqueologia de Contrato carece de profissionais comprometidos, e como o modelo de atuação do estado brasileiro é falho e carece de atualizações na forma como gerencia a questão patrimonial.

Pesquisa Arqueológica nas Obras de Duplicação da BR 101 PE/AL/SE/BA: resultados preliminares

Milena Duarte de Oliveira Souza (Laboratório de Arqueologia da UFPE / FADE), André Luis Silva Feitosa (Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE)

O trecho da rodovia BR 101 do qual trata este estudo possui 630 km de extensão e percorre quatro estados: Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Do ponto de vista do patrimônio arqueológico não pode ser negligenciado o caráter destrutivo que representa a sua duplicação. Assim, a pesquisa arqueológica foi implantada e atualmente se encontra na fase de monitoramento das obras, no esforço de promover o resgate de informações em sítios não detectados através das prospecções de superfície e de subsuperfície. Este pôster tem como objetivo apresentar os resultados preliminares da pesquisa, que se encontra em curso. Pretende-se expor as áreas de vestígios arqueológicos localizados, em termos de distribuição espacial e temporal, diversidade cultural e grau de preservação. Foi consultada a base de dados do Laboratório de Arqueologia da UFPE, Instituição responsável pela execução da pesquisa arqueológica. As ações realizadas até o momento resultaram na localização e registro de 67 áreas de vestígios arqueológicos no empreendimento.

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Quanto às evidências de ocupações nativas, foram registradas 12 ocorrências de cerâmica filiada à Tradição Tupiguarani, sendo 09 em Alagoas e 03 em Sergipe. As datações obtidas por Termoluminescência indicam que esses grupos ocuparam a região alagoana durante praticamente todo o período colonial. Nenhuma amostra apontou, até o momento, data anterior a 1500. Por outro lado, grande parte do material arqueológico registrado é histórico, móvel e fragmentado. Foram localizadas 57 áreas onde se registrou a presença de material arqueológico histórico, do século XVI ao XX. Parte significativa do território pelo qual perpassa a BR 101 PE/BA era desconhecida do ponto de vista arqueológico. O que se conhece, atualmente, se deve em grande parte a estudos de arqueologia preventiva como este. Essa constatação reforça a necessidade da manutenção da política de licenciamento arqueológico, no sentido de garantir a preservação do patrimônio arqueológico nacional.

Eixo Temático Arqueologia e Antropologia Biológica

Antropologia dental no sítio arqueológico “Pedra do Alexandre”, Carnaúba dos Dantas, RN (1.500 a 10.000 A.P).

Ana Solari Giachino (Pós-doutorado UFPE), Rebeca Oliveira de Assis Alencar (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO), Sergio Francisco Serafim Monteiro da Silva (MAE-USP)

Os dentes são importantes nos estudos bioarqueológicos das populações antigas pela sua boa preservação, quando comparados aos ossos. O estudo dos dentes, através da antropologia dental, auxilia na estimativa da idade da morte, ancestralidade, dieta e preparação dos alimentos, estado de saúde e higiene bucal, episódios de estresse durante o crescimento, atividades ocupacionais e outras práticas. No sítio Pedra de Alexandre foram recuperados 284 dentes de 30 indivíduos, vinculados a 17 sepultamentos, articulados em seus respectivos ossos ou avulsos e misturados com outros remanescentes. Apresentamos os primeiros resultados gerados a partir da análise dentária, incluindo a observação de patologias dentais sobre os indivíduos sepultados no cemitério pré-histórico. Em todos os casos nos quais foi possível fazer a análise, considerando o estado de degradação severa do material, tanto nos adultos como nas crianças destacou-se a presença de desgaste oclusal, especialmente nos molares, assim como a reduzida presença de outras patologias (cálculo dental, cáries, abscessos, linhas de hipoplasia, etc.) com algumas exceções dentro do conjunto. Os resultados são indicadores de uma dieta abrasiva relacionada com o tipo de alimentação ou com o modo de preparação dos alimentos, mas também com o uso extramastigatório dos dentes. Ao mesmo tempo a pouca propensão à cárie reflete na ausência de alimentos cariogênicos. Entretanto, o consumo de açúcares e carências alimentares que pudessem resultar em cáries e hipoplasia, parecem ter ocorrido de forma específica, em determinados indivíduos durante a vida. Em qualquer caso, a ausência de cerâmica no sítio, relacionada com um padrão de desgaste oclusal plano vinculado a mastigação de alimentos duros e fibrosos e a ausência de cáries decorrente de uma dieta limitada em carboidratos, têm sido associadas aos grupos caçadores-coletores, mesmo que contemplem alguma produção e consumo de cultivares no seu padrão de subsistência.

Luz no Abrigo - Análise das Fogueiras da Gruta da Passagem-MG

Marina da Silva Costa (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria Jacqueline Rodet (MHN-UFMG - SETOR DE ARQUEOLOGIA)

Este estudo se desenvolve a partir do projeto Arqueologia e Etnografia da Região do Alto Médio Rio São Francisco (Guaicuí, Buritizeiro, Jequitaí – Estado de Minas Gerais) coordenado pela professora

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Dra. Maria Jacqueline Rodet, na intenção de analisar o conteúdo de 6 fogueiras localizadas em abrigo denominado Gruta da Passagem no munícipio de Jequitaí/MG. Utilizando como metodologia o protocolo proposto por Myrtle Shock (2010) para identificação de vestígios macrobotânicos, tencionamos classificar de forma taxonômica os vestígios arqueológicos presentes nas fogueiras encontradas no abrigo, contextualizando este em relação à paisagem circundante e quanto a sua interação com demais sítios já localizados no entorno buscando a composição de um quadro mais detalhado da pré-história da região.

O uso de Técnicas Espectroscópicas no estudo da Diagênese Óssea

Ramon Teixeira Miranda (Universidade Federal de Pernambuco)

Os remanescentes ósseos como materiais arqueológicos de pesquisa são testemunhos frágeis, porém carregados de grande valor no que diz respeito a reconstrução do passado, os mesmos sofrem diversas alterações desde o momento da morte a desgastes tafonômicos posteriores que comprometem ou modificam seu estado de conservação, entre estes destaca-se a diagênese. A realização deste trabalho, portanto caracterizou-se por uma revisão geral dos fatores analíticos diagnósticos necessários em um estudo de caso para a identificação de padrões e indicadores diagenéticos em ossos arqueológicos, como o IC (Índice de cristalinidade), as razões de Carbonila/Carbonato (C/C) e Carbonila/Fosfato (C/P), através da utilização do método físico químico e espectroscópico de análise: FTIR (Fourier transform infra-red) por ATR (Attenuated total reflectance), a fim portanto de produzir uma qualificação do potencial desta técnica como ferramenta de análise para a Arqueologia.

O uso do fogo no ritual funerário: exemplos do sítio Justino.

Victor Silva dos Santos (Universidade Federal de Sergipe), Daniela Magalhães Klökler (Universidade Federal de Sergipe)

O fogo na pré- história é um elemento extremamente carregado de funções e significados, como a utilização na caça, no preparo de alimentos, como proteção e em diversos rituais. O fogo para muitas sociedades era associado ao sagrado. Em diversas sociedades da Meso-América foi evidenciada recorrente utilização do fogo em contextos funerários e sua representação na iconografia, ambas interpretadas como indicativas de rituais mágico-religiosos. De maneira similar é observável em algumas estruturas funerárias encontradas no Sítio Justino, localizado em Canindé do São Francisco, município do estado de Sergipe. O Sítio Justino foi escavado entre 1993 e 1994, e durante o salvamento arqueológico foram identificados cento e sessenta e sete (167) sepultamentos. Nesse sítio é possível identificar algumas evidências da utilização do fogo durante sepultamentos como parte do ritual funerário. Este trabalho é resultado do projeto de iniciação científica, desenvolvido no Laboratório de Bioarqueologia (LABIARQ) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Foram analisadas duas estruturas funerárias, uma composta por um esqueleto completo ( sepultamento 105) e outro composto por concentração de ossos não identificados com marcas de queima.Os dois estão em um contexto similar de ritual funerário. Esse trabalho busca entender a relação do uso do fogo no ritual em Justino e como essa sociedade interage com o mundo sagrado.

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Eixo Temático Arqueologia Histórica

A ocupação do século XX: um novo olhar sobre o Solar Lopo Gonçalves.

Rodrigo Garcia Fraga (UFRGS)

O presente resumo reporta-se aos estudos da cultura material proveniente do século XX, efetivando a valorização de materiais advindos de intervenções arqueológicas que acabam por refletir numa carência em análise e valorização por parte de muitos arqueólogos frente a estes materiais tidos como “recentes”. Sugerimos uma (re)leitura do Solar Lopo Gonçalves (RS. JA-04) a partir de um olhar pós-processualista avançando no sentido interpretativo da cultura material, documental e bibliográfica, voltando-se para Porto Alegre na primeira metade do século XX. Neste sentido, evidenciamos uma reprodução cultural por parte dos núcleos familiares no Solar em resposta a práticas oitocentistas através da cultura material, fruto das intervenções arqueológicas de Luis Cláudio Pereira Symanski (1996), João Felipe Garcia (2005) e Adriana Fraga da Silva (2006), ou seja, esta reprodução prevalece num âmbito sócio-cultural, o que acaba por servir de referencial para um estudo que segue o caminho de arqueólogos que trabalham com a cultura material do século XX. Nestas intervenções arqueológicas no Solar evidenciou-se uma lixeira doméstica que data o século XX com 3.312 artefatos (louças, vidros, metais e cerâmicas), oportunizando esta pesquisa sob um enfoque singular dentro do RS. JA-04 que versa sobre a Arqueologia Histórica. Seu potencial faz com que um levantamento bibliográfico correspondente à cultura material do século XX será necessário, juntamente com a análise dos referidos artefatos. A verificação dos grupos domésticos que residiram neste palco de relações, o que consumiam e descartavam, assim como a verificação se o lixo do bairro Cidade Baixa (Porto Alegre) era recolhido, e com qual assiduidade, serão algumas interrogações que nortearão o presente trabalho. Assim, gostaríamos de socializar parciais conclusões acerca do Solar Lopo Gonçalves, bem como avançar em estudos deste sítio, sobretudo, que reportam-se numa forma exclusiva ao período oitocentista.

A relação espacial entre os leprosários e os matadouros municipais no estado de Sergipe, Brasil.

Jacyanne Nayara Mendes Carvalho (UFS), Roberval de Santana Souza Junior (Contextos Arqueologia)

Os leprosários eram instituições tradicionalmente implantadas em áreas periféricas de um centro urbano. Durante pesquisas realizadas no âmbito da Arqueologia preventiva no estado de Sergipe foi identificado um padrão de reutilização desses espaços, através da implantação de matadouros municipais que são espaços para o talho e processamento da carne local. A ideia deste trabalho surgiu a partir de discussões referentes a reutilização desses espaços que abrigavam os antigos leprosários por matadouros municipais nas cidades de Maruim, Lagarto e Nossa Senhora do Socorro/SE identificados através da oralidade da comunidade local, pesquisas históricas em órgãos públicos nas cidades e visitas nas áreas apontadas durante entrevistas. Nas cidades de Maruim e Lagarto os matadouros foram construídos sobre as estrutura de leprosários enquanto na cidade de Nossa Senhora do Socorro o matadouro está posicionado a frente das ruinas do leprosário, impedindo sua visualização. Existem várias formas de compreender essa reutilização, desde a falta de espaço devido ao crescimento das cidades e até mesmo simbólica, onde a presença de um leprosário torna-se um marco na paisagem, carregado de lembranças e estigmas da doença e do sofrimento de um grupo excluído, desta forma sobrepor um novo marco favorece por um lado o esquecimento, uma vez que as novas gerações não terão as estruturas que reforçam essas lembranças, assim como também a criação de uma nova memória do espaço. Comparando os resultados obtidos através da Arqueologia da Paisagem é possível constatar que mesmo ocorrendo mudança de função associada a localização, o uso desse espaço continua seguindo medidas higienistas de uma divisão espacial do trabalho nessas atividades consideradas marginalizadas.

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A variabilidade artefatual na cerâmica da Subtradição Jatuarana no Alto Rio Madeira, Rondônia

Odair José Petri Vassoler (Universidade Federal de Rondônia - UNIR), Cliverson Gilvan Pessoa da Silva (Universidade Federal do Pará), Silvana Zuse (Fundação Universidade Federal de Rondônia)

As cerâmicas da Subtradição Jatuarana, Tradição Polícroma da Amazônia (TPA), tem uma ampla distribuição no alto rio Madeira. Este trabalho busca apresentar e discutir a variabilidade artefatual destas cerâmicas nos sítios arqueológicos localizados entre a cachoeira de Santo Antônio e Caldeirão do Inferno, escavados no Projeto de Arqueologia Preventiva na área da Hidrelétrica de Santo Antônio. Foram analisadas vasilhas cerâmicas (possíveis urnas) e fragmentos cerâmicos de alguns sítios arqueológicos, entre eles Ilha de Santo Antônio, Novo Engenho Velho, Morro dos Macacos I, Boa Vista, Vista Alegre e Coração, evidenciando uma grande variação nos contextos arqueológicos, bem como nas formas das vasilhas e nos motivos e padrões decorativos. Buscamos discutir a variabilidade nesta subtradição, a partir da comparação dos contextos evidenciados nos diversos sítios, das escolhas tecnológicas na confecção dos artefatos cerâmicos e da iconografia das vasilhas, ao longo do longo período em que a região foi ocupada pelos portadores desta tradição.

Análise da Variação Cromática dos Azulejos Portugueses em Pernambuco, entre os Séculos XVII e XVIII

Yuri Menezes Freitas (UFPE)

O conhecimento técnico e material dos artefatos de valor cultural é um aspecto preponderante dos profissionais que desejam debruçar-se nas atividades de restauração e conservação do patrimônio cultural material. A pesquisa buscou compreender os fatores, estilísticos e/ou técnicos, que proporcionaram a variação na quantidade de cores aplicadas à camada pictórica dos azulejos portugueses pertencentes aos séculos XVII e XVIII. A maior parte dos trabalhos voltados aos azulejos históricos contemplam o aspecto estético, sendo muitas vezes escassos os que buscam avaliar questões referentes à tecnologia de produção de tais peças. Nesta investigação são abordados os dois âmbitos do estudo azulejar: o seu caráter estético, buscando-se compreender os motivos de escolha e utilização das cores na camada pictórica do azulejo nas suas diversas fases; e o caráter tecnológico, verificando os elementos químicos que constituem as tonalidades presentes nas peças, englobando ainda aspectos da sua produção. As amostras de azulejos observadas são pertencentes a vinte edificações religiosas no estado de Pernambuco. As mudanças estéticas ou estilísticas são verificadas a partir de um levantamento bibliográfico, onde é abordado o percurso histórico da azulejaria em Portugal e os diversos fatores – sociais, culturais, políticos e econômicos – que acarretaram variações quantitativas de cores nestes azulejos do período estudado (séculos XVII e XVIII). Para compreender as possíveis mudanças técnicas nos pigmentos aplicados aos azulejos, é realizada uma análise por espectrometria de fluorescência de raios-X (FRX), obtendo-se um resultado quali-quantitativo dos elementos químicos presentes nos pigmentos. Com base nos dados da bibliografia e da caracterização dos pigmentos, verificou-se que houve uma forte influência estilística que propiciou tais mudanças, bem como uma necessidade de adequação da produção, em virtude de questões econômicas enfrentados por Portugal.

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Arqueologia e Etnicidade na Amazônia Oriental: O caso do Engenho Murutucu em Belém do Pará.

Iberê Fernando de Oliveira Martins (Universidade Federal do Pará)

Pretendemos apresentar nesse Seminário, alguns dados obtidos da pesquisa de mestrado que esta sendo realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, sob orientação do Prof. Dr. Diogo Costa. A pesquisa traz apontamentos a respeito da cerâmica domestica como suposto reflexo de etnicidade dos grupos escravizados no Engenho Murutucu no decorrer dos séculos XVIII e XIX, uma vez que documentos atestam a presença de grupos africanos e indígenas no decorrer do seu funcionamento. A região norte do país ainda sofre com a escassez de pesquisas arqueológicas com foco na questão da Escravidão. Podemos, entretanto chama a atenção aos trabalhos realizados no Museu Emilio Goeldi pelo pesquisador Fernando Marques, que realizou diversos levantamentos arqueológicos em Engenhos no Estado do Pará. Portanto, o que se espera com essa comunicação, além de expor o resultado parcial, busca criar um ambiente de reflexão em torno do processo de escravização africana e o modo de controle utilizado no Engenho Murutucu. Com isso, estaremos inserindo a pesquisa nas discussões de âmbito nacional referentes à escravização.

Cronologia para as ocupações humanas no estado do Maranhão

Arkley Marques Bandeira (Instituto do Ecomuseu do Sítio do Físico)

A comunicação apresentará os sítios arqueológicos do Maranhão que possuem datações para os períodos de ocupação dos mesmos, com vistas a estabelecer um referencial temporal para as distintas regiões do Estado. Para tanto, serão arrolados os sítios situados na Ilha de São Luís, Litoral Oriental e Ocidental, vales dos rios Itapecuru, Mearim, Pindaré, Tocantins e Baixada Maranhense. Por fim, serão apresentadas as características culturais dos grupos humanos que ocuparam essas regiões.

Documentos históricos e o Engenho Monjope: Subsídios para a elaboração de estratégias de prospecção e escavação

Jamerson de Medeiros Araújo (Universidade Federal de Pernambuco), Scott Joseph Allen (Universidade Federal de Pernambuco)

As diversas campanhas de escavação realizadas no Engenho Monjope têm indicado que o sítio passou por graves transformações que impactaram de forma substancial seu registro arqueológico. Apesar de que o levantamento histórico inicial tenha auxiliado bastante na interpretação das evidências recolhidas até o momento, ainda ocorre a necessidade de um uso mais aprofundado dessas fontes no que diz respeito à formulação de estratégias de prospecção e escavação. Nos estudos da Arqueologia Histórica, as documentações são geralmente utilizadas para obter um contexto histórico sobre o sítio, porém esse tipo de fonte possui vasta riqueza de detalhes sobre paisagem construída, utilização do espaço e modificações nas dependências dos sítios, fazendo-se necessária a busca do conteúdo destas fontes (documentos, fotos, mapas e etc.) onde estas possam elucidar novas informações sobre o processo de evolução do objeto de estudo através dos anos, e a partir de então poder gerar novas hipóteses e desenvolver estratégias de prospecção e escavação. Em suma, o objetivo deste trabalho é empregar as fontes históricas junto às informações obtidas nas ultimas escavações do engenho a partir da identificação, compilação e análise dessas fontes históricas, que possam trazer referência ou descrição da paisagem construída e outras informações. Até o momento, apenas parte dessas documentações dizem respeito à descrição da paisagem construída do engenho, como também estes estão compreendidos em fontes primárias e

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secundárias. Serão aqui apresentados os resultados parciais da pesquisa, juntamente com um quadro informativo que traz as informações obtidas em cada tipo de documentação e como estas poderão servir de subsídios para prospecções e escavações.

Entre paredes de pedra inacabadas, a história do Forte Dom Pedro II em Caçapava do Sul.

Edmara Schuch (Sophia Patrimônio Cultural), Alexandre Pinto Coelho de Almeida (Universidade Federal de Pelotas), Bruna da Rocha Silveira (Sophia Patrimônio Cultural), Kelli Bisonhim (Sophia Patrimônio Cultural)

No ano de 2013, a equipe Sophia Patrimônio Cultural participou do “Projeto de restauro: Limpeza, estabilização e consolidação do Forte Dom Pedro II”, localizado no município de Caçapava do Sul, RS. Este projeto teve como objetivo limpar, estabilizar e consolidar as estruturas da fortificação, de forma a garantir a estabilidade física e estrutural, e a conservação estética e funcional do bem patrimonial. A pesquisa arqueológica ocorreu no período entre janeiro e fevereiro de 2014, e a quantidade de material arqueológico coletado foi de, aproximadamente, 310 fragmentos (que variam entre, louça, vidro, ossos de animais, telhas e material metálico). O Forte Dom Pedro II é remanescente de meados do século XIX, e foi um dos primeiros bens tombados, em nível federal, no estado do Rio Grande do Sul. Desta forma, trata-se de um bem de suma importância para a compreensão do desenvolvimento histórico do estado no período que compreende a fundação da cidade de Caçapava do Sul.

Era uma praça muito engraçada, não tinha banco, não tinha nada; Ninguém podia ficar nela não, porque à praça era um lixão: arqueologia urbana na Praça XV uma história desconhecida.

Edmara Schuch (Sophia Patrimônio Cultural), Kelli Bisonhim (Sophia Patrimônio Cultural)

A equipe da empresa Sophia Patrimônio Cultura está realizando a pesquisa arqueológica na obra de revitalização da Praça XV de Novembro, no Centro Histórico de Porto Alegre. Este trabalho de acompanhamento foi realizado durante as atividades de escavação para colocação de uma nova adutora e galerias de escoamento, no entorno da Praça XV durante o período de 2014 até 2015. A quantidade de material arqueológico coletado foi de aproximadamente 8.500 fragmentos, que se diversificam entre louças, vidros, metais, cerâmicas, couro e osso de animais. Este sítio se trata de uma lixeira coletiva do século XIX, é sabido que ao longo da orla do Lago Guaíba, existiram vários locais para descarte de lixo. E informações históricas do local da atual Praça XV, relatam sobre a antiga Praça Paraiso que ficou assim conhecida, por ter em suas imediações uma casa de mulheres chamada de “Paraíso”. De acordo com bibliografia sobre Porto Alegre, esse local foi registrado no Código de Posturas de 1829, como lugar para descarte de lixo. Outra informação pertinente é que “...em 1829 a Praça Paraíso foi registrada como local de descarte de lixo, sendo que em alguns meses a quantidade de lixo era tão grande que foi preciso soterrar as imundícies que se achavam ali amontoadas...”(Franco, 1992, p.343). Porém, mais informações a respeito do material arqueológico exumado da Praça XV, como datações e complementação histórica, só poderá ser apresentada após todo o processo de curadoria.

Exposição: Fazenda São Sebastião do Ribeirão Grande: preservação de seu patrimônio cultural e natural

Vivian Cristiane Fernandes Yamashita (Núcleo de Arqueologia da Universidade Braz Cubas), Marizia Tonelli (autônoma), Nair Harumi Tanabe Tomiyama (Núcleo de Arqueologia da Universidade Braz Cubas), Rita de Cássia Prando (Suinã Instituto Socioambiental)

O Sítio Ribeirão Grande, localizado na Fazenda São Sebastião do Ribeirão Grande, foi identificado por Andreatta, M.D. em setembro de 1992. À época, foram realizados levantamentos prospectivos

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de evidenciação dos testemunhos arqueológicos que visou identificar a estrutura da Fazenda, seus anexos e o seu entorno, a fim de mostrar a história de uma fazenda remanescente do período cafeeiro no Estado de São Paulo. Os resultados advindos dos trabalhos de pesquisa arqueológica foram incorporados ao conjunto de ações socioeducativas ambientais, culturais e patrimoniais na referida fazenda. O público participante das ações educativas foi composto por alunos de escolas públicas (municipais e estaduais) do ensino fundamental (1º. e 2º. Ciclos) e ensino médio, alunos de graduação, professores e comunidade em geral. As escolas foram consideradas como ponto inicial e central de referência para formação dos grupos de visita. Além do município de Pindamonhangaba, onde está situada a área, outras cidades participaram das ações educativas do projeto: Campos de Jordão, Roseira, Tremembé, São José dos Campos e São Bento do Sapucaí. A exposição teve como principal objetivo apresentar à comunidade do município de Pindamonhangaba e região informações histórico-arqueológicas levantadas durante as pesquisas desenvolvidas no Sítio Ribeirão Grande e as ações educativas ocorridas na área durante o período de 2007 a 2013. Foi montada no Palacete 10 de julho, localizado no Centro de Pindamonhangaba, SP, com painéis contendo informações técnicas e imagens das pesquisas histórico-arqueológicas desenvolvidas no local e também sobre a participação da comunidade e escolas nas visitas monitoradas.

Morro da Queimada e suas Referências Patrimoniais: mapeamento documental, reconhecimento arqueológico e promoção do pertencimento.

Paulo Otávio Laia (Universidade Federal de Ouro Preto), Marcia Arcuri (Universidade Federal de Ouro Preto)

O Morro da Queimada, localizado em Ouro Preto – MG compreende o conjunto de ruínas arqueológicas do antigo arraial do Ouro Podre, um complexo minerador do séc. XVIII que representa uma das primeiras organizações da extração aurífera na região. Testemunho de parte da trajetória de ocupação da antiga cidade de Vila Rica, a partir dos contatos interétnicos promovidos pela utilização da mão de obra escrava nas atividades de mineração, o local também se configura como palco de um levante de ordem econômico-fiscal, conhecido como Sedição de Vila Rica. Atualmente, circunscritas por um intenso processo de ocupação populacional, estas ruínas têm sido foco de particular atenção, tanto pela fragilidade de suas condições de preservação, quanto por seu potencial de vinculação sociocultural. Assim sendo, o atual projeto em execução, realiza o mapeamento documental e arqueológico do local através da reunião e sistematização de fontes primárias e secundárias, observando dados levantados em pesquisas precedentes e gerando novos a partir de metodologia prospectiva não interventiva. Estes procedimentos são compreendidos como uma das primeiras etapas para uma série de ações mais amplas, que visam organizar as potencialidades de pesquisas deste cenário, aproximando, por exemplo, a Arqueologia e os processos museológicos comunitários em desenvolvimento no local, por meio de atividades promovidas pelo Ecomuseu da Serra.

O Ciclo das Louças no Sítio Escola Engenho do Murutucu: Da Produção à Ressignificação.

Amanda Daltro Viveiros Pina (Universidade Federal do Pará)

O presente trabalho visa estudar os diversos ciclos de uso das louças provenientes das escavações do Sítio Escola Engenho do Murutucu localizado em Belém do Pará. A partir da ressignificação das louças do referido sítio, conseguimos vislumbrar o uso desse material mesmo após o seu descarte, dando ao objeto uma nova significação e utilização. O Sítio Escola Engenho do Murutucu servirá como base para um potencial estudo acerca do ciclo das louças dentro da Amazônia, tendo como foco a disciplina da arqueologia histórica.

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O consumo de bebidas alcoólicas no Engenho do Murutucu (Belém-PA)

Débora Amoras Cavalcante (Universidade Federal do Pará)

A cultura material faz parte de uma teia de significados e símbolos que lhe são atribuídos através do comportamento humano, que por sua vez é condicionado pelos aspectos socioculturais do espaço e do tempo nos quais o indivíduo está inserido. Os objetos vinculados ao consumo de bebidas alcoólicas, portanto, estão integrados a essa teia, onde cotidiano, hábitos, crenças, economia e interações sociais de determinada sociedade se refletem neste consumo. A partir disso, o objetivo dessa pesquisa é analisar, através dos remanescentes materiais encontrados em escavações arqueológicas no Engenho do Murutucu, como se dava a prática de beber nos grupos sociais que ocuparam este sítio histórico. O Engenho se estabeleceu, ao longo de mais de trezentos anos da Amazônia do período colonial e pós-colonial (séculos XVII-XIX) , como um espaço ocupado por grupos sociais e étnicos bastante diversificados - escravos indígenas e africanos, senhores de engenho, religiosos - constituindo-se em um local que oferece um amplo espectro de vestígios materiais. Os artefatos a serem analisados na pesquisa – especificamente as garrafas de vidro e grés - provêm de áreas distintas do Engenho – a capela, a casa grande, a senzala e a lixeira – e, portanto, podem informar sobre os diferentes contextos em que eram consumidas as bebidas alcoólicas e utilizados os objetos relacionados a esses produtos pelos diversos grupos - tanto os indivíduos detentores do poder quanto os subalternos - que conviviam no local. Isto é especialmente importante no caso dos grupos de escravos, já que a cultura material representa praticamente o único tipo de fonte através da qual esses indivíduos puderam deixar sua história registrada pelas próprias mãos. Assim, a pesquisa pretende buscar os diversos significados que o ato de consumir bebidas alcoólicas adquiriu na Amazônia no período em que o sítio esteve ocupado.

O desembarque clandestino de africanos escravizados e os desafios de uma abordagem arqueológica

Luciana Bozzo Alves (Universidade de São Paulo)

O litoral norte do estado de São Paulo, composto atualmente pelos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilha Bela tem uma localização geográfica privilegiada em relação ao Vale do Paraíba, que foi uma importante região produtora de café no século XIX. Essa localização, além das bordas continentais recortadas e das praias e enseadas desertas, foi um fator facilitador para o desembarque de africanos escravizados no período da ilegalidade do tráfico. De acordo com Rodrigues (2000) os desembarques sempre aconteceram ao longo do litoral brasileiro, mas depois da primeira proibição em 1831 o volume e a frequência desses desembarques foram significativamente amplificados. A indicação de locais utilizados para os desembarques clandestinos de africanos escravizados no litoral norte paulista é recorrente em fontes historiográficas (BOCCIA & MALERBI, 1977; OLIVEIRA, 1977; RODRIGUES, 2000, 2005; ALONSO, 2006; NOFFS, 2007; AGOSTINI, 2011; MATOS et al, 2014). Dentro de uma abordagem multidisciplinar, usando ferramentas da Arqueologia, Oceanografia e História, buscamos evidências desse tráfico, a partir de uma perspectiva arqueológica. Que tipo de evidências podem ser identificadas? Vestígios de estruturas de atracação? Sítios arqueológicos de naufrágios de navios negreiros? Ruínas de construções destinadas a receber os africanos nos pontos de desembarque? São esses tipos de questões que permeiam a pesquisa em andamento, imputando cada vez mais novos desafios de uma abordagem arqueológica sobre o desembarque clandestino de africanos escravizados no litoral norte paulista.

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O desenvolvimento da cidade de Salvador e as práticas higiênicas

Jeanne Almeida Dias (-)

A cidade de Salvador desde o período de sua formação tem se deparado com problemas relacionados à implementação de medidas assépticas e práticas voltadas a obtenção da salubridade. O processo de desenvolvimento do traçado urbano da cidade, bem como a introdução de novos padrões de civilidade, baseados nos modelos europeus e nas necessidades exaradas após a Revolução Industrial vão, junto a aspectos políticos, sociais e econômicos, interferir decisivamente na conformação da Salvador dos séculos XVIII e XIX. Nesse sentido, a introdução de um modelo de urbanidade e para urbanidade se confunde e mescla-se ao processo de formação de identidade para a população habitante da principal cidade colonial da época.

O estudo das louças das quadrículas F5 e F6 (setor 06) da casa da Chica da Silva

Ilziane Carmem Martins (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)

INTRODUÇÃO: Este trabalho apresenta os resultados finais das análises das louças das quadrículas F5 e F6, do setor 06, da escavação do quintal da casa da Chica da Silva. A louça foi a cultura material com maior representatividade com um total de 5.714 fragmentos, desses foram analisados 590. Além das análises da cultura material foram revisadas fontes históricas, as quais contribuíram de maneira singular para a interpretação dos dados. OBJETIVOS: o principal intuito desta pesquisa foi compreender, por meio do estudo das louças, acerca do modo de vida e das relações sociais em Diamantina a partir do século XIX. METODOLOGIA: Para o estudo das louças, inicialmente foi feito o levantamento bibliográfico: 1) relato dos viajantes, referenciais teóricos em história e arqueologia; 2) evidenciação arqueológica do material na escavação e 3) análises laboratoriais, formulando uma ficha para classificação das louças quanto aos seus atributos. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Do total de 590 fragmentos das louças analisadas, referentes às quadrículas F5 e F6, cerca de 90% deles correspondem ao tipo de pasta faiança fina. As louças se classificaram em decoradas e em não decoradas. Das decoradas, as técnicas mais comuns foram a transfer printed e pintado à mão. Da técnica pintada à mão o estilo mais comum foi o floral, faixas e frisos e peasant, já na transfer printed se destacam o padrão willow, borrão azul e Floral, em sua grande maioria na cor azul. As formas de utensílios identificadas mais comuns foram: pires, pratos e xícaras. Assim, por meio desses e outros atributos foi possível inferir sobre o período de mais intensa ocupação da casa (entre 1820 a 1875) e também sobre o padrão de consumo da(s) família(s) que nela residiu nesse período (alto padrão de consumo). Os resultados obtidos foram ao encontro dos objetivos propostos no trabalho, fornecendo informações sociais, simbólicas e individuais de seus moradores do século XIX.

O indígena no cotidiano das fortificações da Ilha de Santa Catarina (séculos XVIII e XIX) – primeiras perspectivas

Angela Sabrine Salvador (UFSC-Universidade Federal de Santa Catarina)

Este trabalho objetiva apresentar a pesquisa sendo desenvolvida no Programa de Pós Graduação em História da UFSC, que deseja discutir a presença indígena no cotidiano das fortificações militares da Ilha de Santa Catarina – e menos focalmente na ilha como um todo – entre os séculos XVIII e XIX através de fontes históricas e etnográficas, além de alicerçar-se em conhecimentos adquiridos através de trabalhos arqueológicos e de análise de materiais arqueológicos, especialmente fragmentos cerâmicos. A pesquisa pretende compreender a forma como ocorreram às interações

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culturais no litoral de Santa Catarina e quais foram os principais atores e personagens desse processo histórico no contexto das fortificações, percebendo o “olhar europeu” sobre o contato cultural, a partir das fontes documentais e dos relatos de viajantes, e buscando dar “voz aos indígenas”, a partir da análise das cerâmicas recuperadas nos sítios. Busca-se por fim narrar a história dos indígenas do contato junto àquela oficial, com os governadores, reis e vice-reis, percebendo ainda os hibridismos e resistências culturais destes “fatores”, o indígena e o branco.

O potencial arqueológico de Santa Luzia do Itanhy (Sergipe, Brasil): considerações sobre o patrimônio Edificado

Evaney Simões de Matos (Contextos Arqueologia), Dalila de Souza Feitosa (Universidade Federal de Sergipe)

Esse trabalho é resultado das reflexões obtidas através do Programa de Diagnóstico e Prospecção na área do Programa de Diagnóstico e Prospecção Arqueológica nas Áreas de Influência do Trecho de Duplicação da Adutora de Água em Tomar do Geru / Itabaianinha e Área da Barragem do Riacho Guararema em Santa Luzia do Itanhy, Sergipe. Desenvolvido no sul do estado de Sergipe. No município de Santa Luzia do Itanhy a histórica oficial remonta ao séc. XVI através da entrada de jesuítas no território, resultando em marcos paisagísticos visíveis até os dias atuais. É sabido que cidades que serviram de berço para a colonização brasileira, trazem através das suas edificações um grande potencial arqueológico que nem sempre está presente nos documentos históricos. Por isso o objetivo desta pesquisa é analisar parte do patrimônio edificado da cidade de Santa Luzia do Itanhy e seu entorno, na tentativa de apresentar para o potencial para pesquisas arqueológicas, sendo conhecida pela intensa dinâmica açucareira (complexos de engenho). Para ser realizado este estudo foram levantadas três tipos de fontes: documenta-histórica, oral e verificações in locus. Através da análise comparativa desses dados foram realizados mapas de áreas potenciais que servirão para direcionar pesquisas futuras através de modelos preditivos. Essa metodologia foi verificada com aplicação no Engenho Antas, resultando no registro de um sítio arqueológico associado à sede do Engenho, mas como uma unidade funcional distinta. A análise dos mapas produzidos serviu para complementar a ideia do patrimônio edificado de Santa Luzia do Itanhy como espaços complexos associados a múltiplas funções desde a sua fundação ao seu colapso.

O Solar do Barão de Suassuí: uma história contada a partir dos vestígios

Thaís Diniz (UFMG), Denise Neves Batista Costa (Universidade Federal de Minas Gerais), Luísa de Assis Roedel (UFMG)

O trabalho pretende apresentar os resultados do projeto Prospecção Arqueológica e Escavação na Área do Jardim da Casa do Barão de Suassuí– Conselheiro Lafaiete, desenvolvido pelo Laboratório de Arqueologia da Fafich/UFMG; realizado na casa que pertenceu ao Padre Farjado (séc. XVIII), indiretamente associado à Inconfidência Mineira, e posteriormente ao Barão de Suassuí (séc. XIX), figura política conhecida no Império. A edificação sofreu diversas alterações, ao longo do tempo, decorrentes dos diferentes usos. Tais alterações podem ser percebidas (inclusive na fachada) e apontam para técnicas construtivas que remetem a diferentes modalidades de uso da construção, indicando pelo menos duas épocas. O objetivo do trabalho é contemplar essas modificações e adaptações que o Solar do Barão de Suassuí (identificação mais recente) sofreu, buscando relacioná-las/conectá-las aos vestígios arqueológicos identificados durante os trabalhos de escavação. Desse modo, pretende-se recuperar aspectos relacionados à história da edificação e ao cotidiano de seus diferentes moradores.

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O universo medicamentoso brasileiro: Propagandas e Rótulos (século XX)

Denise Neves Batista Costa (Universidade Federal de Minas Gerais), Thaís Diniz (UFMG)

O trabalho pretende traçar um panorama sobre a relação da sociedade brasileira em finais do século XIX e início do século XX com o universo medicamentoso da época, através da análise de propagandas e rótulos de medicamentos pesquisados pelo Laboratório de Arqueologia da Fafich/ UFMG em um projeto financiado pela FAPEMIG. As informações mostram uma ausência de cientificidade na apresentação dos remédios, refletindo a forma genérica com que a sociedade lidava com as noções de cura e as causas de moléstias. A inserção de grandes companhias no cenário farmacêutico brasileiro coincide com o processo de desmistificação de crendices sobre a cura e o tratamento das doenças. Os produtores de medicamentos tiveram que desenvolver anúncios e propagandas que continham a real composição dos mesmos e indicações de uso “cientificamente comprovadas”. O objetivo do trabalho é identificar como o conteúdo das propagandas evidencia a transição na relação dos consumidores com os medicamentos.

Processo de Formação do Registro Arqueológico do Habitacional Pilar – Recife – PE

Isaac Lopes Garcia de Melo (Universidade Federal de Pernambuco)

A arqueologia urbana é marcada por contextos muitas vezes transformados por ocupações existentes até os dias atuais. Entendê-los é um desafio aos arqueólogos, que precisam mergulhar na história local em busca de eventos que transformaram o espaço e ajudaram a formar o registro arqueológico atual. O estudo desses processos mostra-se importante para criar uma expectativa do estado em que se encontra o registro arqueológico, além do auxílio na interpretação desses contextos. Essas transformações, mais do que interferências no registro arqueológico, são agentes que ajudam a formar o contexto que o arqueólogo se depara em suas pesquisas. Em arqueologia urbana, não somente o material que encontramos entre os estratos sedimentares são obras humana, mas todo o contexto que foi formado, mesmo que involuntariamente, pela ação do homem. Essas transformações culturais (livre adaptação do termo c-tranforms cunhado por Schiffer) não são apenas interferências no contexto, são também resultado da ação humana e passível a interpretações. O Bairro do Recife (onde localiza-se o Habitacional Pilar) tem a ocupação histórica mais antiga da cidade do Recife, marcada por mudanças na paisagem e nas dimensões do Bairro. Com ocupação iniciada na década de 1530, como vila de pescadores e de indivíduos que viviam em função do porto, o Bairro veio a ser bastante modificado durante a ocupação holandesa (1630-54), sofreu várias modificações, como implantação de sistema de esgotamento, vários aterros que aumentaram a dimensão do Bairro, demolições de edificações para um novo arruamento, dentre outras modificações. Essas mudanças fazem com que o registro arqueológico do Bairro se torne tão complexo quanto as várias modificações que sofreu. Essas transformações que, ao mesmo tempo modificaram o registro arqueológico e ajudaram a formar o contexto atual, dificultam algumas abordagens e até podem limitar as interpretações que arqueólogos cheguem a partir do estudo do registro arqueológico.

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Produção de cal na Região de Coronel José Dias - PI

Anderson de Santana Castro (UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO), Ana Emília de Oliveira Costa (UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO)

Este trabalho apresenta e analisa os impactos sociais, econômicos e a técnica de manufatura de fornos para a produção de cal, na localidade Casa Nova município de Coronel José Dias no estado do Piauí. Para tal tomamos como base fontes orais e vestígios arqueológicos. A prática de fabricação de cal para exportação foi iniciada em meados dos anos 1960, finalizando no início de 1990, e por todo este período se tornou um dos principais meios de subsistência direto e indiretamente das famílias locais e do entorno. Na maior parte dos casos, empresários atravessadores arrendavam as terras dos proprietários e contratava os trabalhadores. Os contratantes disponibilizavam blocos de calcário e lenha para a queima e a produção de cal, e vendia aos trabalhadores alimentação básica, tal como arroz, feijão e óleo. Como os mesmos não conseguia obter renda com à comercialização da cal, suficiente para cobrir o custo, acabavam se tornando escravos, no que ficou conhecido como “escravidão branca”. Para a fabricação de cal, era construído grandes fornos do tipo “meda”, onde ocorre a queima dos blocos de calcário, o processo durava um tempo de aproximadamente 48 horas ininterrupto.

Proposta de plano de trabalho Arqueológico para a restauração do Casarão Afonso Sardinha, no Parque Estadual do Jaraguá/SP

Ana Cláudia de Arthur Jucá (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

O Casarão Afonso Sardinha, situado dentro do Parque Estadual do Jaraguá, no município de São Paulo, foi tombado pelo Conselho estadual do patrimônio histórico e cultural em 1978, e em 2012 foi reintegrado ao patrimônio da Fundação Florestal e desde então a comunidade aguarda pelo restauro do imóvel. O Casarão foi construído na década de 1580 pelo bandeirante Afonso Sardinha, que foi um grande comerciante e capitalista, que traficava escravos nativos. A edificação possui 21 cômodos, uma senzala e suas paredes, de taipas de pilão, medem cerca de 80 centímetros de espessura. Registros históricos apontam que os indígenas da região nãoa dentravam ao territotio,considerando o Pico do Jaraguá (chamado por eles de "Iaraguá") era considerado como um local sagrado, assim como não permitiam que outras pessoas o fizessem. A invasão portuguesa na região gerou um cenário de conflitos por dez anos entre europeus e índios, resultando no extermínio dos nativos. Em 2014 a Fundação Florestal, vinculada à Secretaria do Meio Ambiente, elaborou Termo de Referência para realização do projeto de restauro do casarão, tal documento orienta a prestação de serviços e elencar as ações a serem executadas, assim como as intervenções. Os dados históricos comprovam a importância da restauração do casarão de forma interdisciplinar, agregando profissionais da área de engenharia, história, arquitetura e arqueologia, este último com a realização de prospecções estratigráficas nas paredes, forros e/ou pisos, como forma de identificar as camadas existentes do substrato, revestimento e pintura, além das prospecções nas áreas que abrangem o entorno Casarão, sendo o inicio dos trabalhos previsto para o segundo semestre de 2016.

Uma Unidade Produtiva do Vale do Rio das Velhas- A Fazenda Bom Jardim, Matozinhos, MG

Alenice Maria Motta Baeta (UFMG-MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL-SETOR DE ARQUEOLOGIA), Henrique Moreira Duarte Piló (Artefactto Consultoria Ltda.)

O sítio histórico e arqueológico Ruínas Bom Jardim situa-se na antiga Fazenda Bom Jardim atualmente dentro da propriedade da fábrica da Lafarge Brasil S.A - Unidade Matozinhos, Minas

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Gerais. Esse sítio histórico foi objeto de pesquisa arqueológica onde foram realizadas intervenções visando uma melhor delimitação dessa antiga gleba. O intuito foi identificar e documentar eventual estratigrafia, profundidade, estruturas componentes, amostras de cultura material e vestígios associados soterrados. Registros fotográficos e topográficos também foram realizados, além de planta com a locação das sondagens arqueológicas nos setores componentes: paiol, sede, curral e moinho.Foi levantada documentação cartorial e iconográfica que subsidiaram a interpretação da paisagem e alterações fundiárias do sítio ao longo do tempo. Esta pesquisa revelou elementos sobre a memória da Fazenda Bom Jardim que foi uma importante e complexa unidade produtiva ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX no vale do rio das Velhas, no Carste de Lagoa Santa, configurando uma importante modalidade de conjunto histórico e arqueológico regional.

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica

Agentes de degradação dos sítios com pintura rupestre na Área Arqueológica do Seridó.

Alcidésio Ramos da Silva Júnior (UFPE)

Alcidésio Ramos Júnior ¹; Daniela Cisneiros²; O presente trabalho tem como objetivo principal identificar os agentes de degradação nos sítios com grafismos rupestres na Área Arqueológica do Seridó (RN/PB). Está Área conta com uma grande variedade de sítios com grafismos rupestres e fazem parte de um horizonte cultural conhecido como Tradição Nordeste, rico em detalhes e atributos que compõe os grafismos. A metodologia aplicada compreende o levantamento imagético em campo e preenchimento de protocolos de análises, que contém variáveis específicas para obtenção de dados que possam revelar o estado de conservação dos sítios e os agentes envolvidos em seu desgaste. A partir do levantamento imagético, nos sítios selecionados, foram identificados macroscopicamente os agentes de degradação atuantes. Essa pesquisa ainda em fase inicial aponta para elaboração de um diagnóstico do estado de conservação e possíveis ações mitigadoras nesses sítios, que atualmente não estão inseridos em área de preservação. As análises realizadas nesses sítios indicam que o suporte rochoso vem sofrendo desgaste acentuado. Podem ser apontados três tipos: físico-químicos, alterando composição da rocha, biológico, ação de agentes da natureza, animais e plantas, e, as ações antrópicas, direta ou indiretamente sobre o suporte provocando o desgaste das pinturas. A caracterização e o diagnóstico deste acervo arqueológico pictórico permitem fornecer um valioso arsenal de documentação para o estudo do patrimônio arqueológico da região. Esse registro é um documento da situação em que se encontram, na atualidade, os sítios com pinturas rupestres no Seridó e as medidas que poderão ser adotadas para garantir sua longevidade e as pesquisas futuras. A base de dados imagética, documental e ambiental levantada, poderá ser utilizada posteriormente de diversas formas para a preservação deste patrimônio. ¹Estudante do curso de Arqueologia – UFPE; ² Docente/Pesquisadora do Departamento de Arqueologia – UFPE;

Análise Tecno-funcional do Material Lítico do Sítio Letreiro do Sobrado, Petrolândia-PE.

Paloma de Almeida Martins (Universidade Federal de Pernambuco), Jade Paiva de Lima (Universidade Federal de Pernambuco)

O Vale do São Francisco foi densamente ocupado por vários grupos pré-históricos, que por sua vez, deixaram por toda a região seus vestígios.E para estudar estes grupos,torna-se necessário um panorama das pesquisas já realizadas.O presente trabalho objetiva caracterizar o material lítico do sítio Letreiro do Sobrado através do estudo tecnológico para a melhor compreensão da tecnologia empregada na confecção desses objetos e das ocupações pré-históricas da Região do Vale Médio

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São Francisco em busca de criar um contexto que permita uma aproximação entre as informações documentais escritas provenientes de trabalhos anteriormente realizados sobre o tema e o material arqueológico coletado nos sítios escavados pelo projeto Itaparica depositado no acervo da UFPE. Utilizamos tambémos relatórios dos projetos de salvamento arqueológico e as publicações existentes sobre a região.O material lítico coletado nos estratos inferiores do abrigo Letreiro do Sobrado se assemelha com aqueles das ocupações mais antigas do Piauí, e os artefatos em lasca lembram os grupos culturais mais recentes da Gruta do Padre e do Abrigo do Sol Poente, com exceção da tentativa de pontas de projétil. Essa pesquisa, portanto, poderá fornecer subsídios para entender quais as características tecnológicas do material lítico e para a melhor compreensão dos processos ocupacionais pré-históricos pelos caçadores-coletores no Vale Médio São Francisco.Como resultados preliminares,já foram levantados dados bibliográficos e os materiais já foram classificados entre instrumentos e núcleos e estão sendo inseridos em uma ficha de análise.O trabalho encontra-se em fase de desenvolvimento,onde através da realização do fichamento da documentação primária e secundária e o preenchimento das fichas de análises, a etapa seguinte será a realização da análise tecnológica do material lítico e posteriormente a reconstituição das etapas da cadeia operatória. Orientador: Prof° Dr. Ricardo Pinto de Medeiros

Análise tecno-morfológica da urna funerária do sítio arqueológico CT06E – Paulo Carpina, Catalão/GO

Vitória Pimenta Estrela (Pontifícia Universidade Católica de Goiás)

Visamos trazer neste trabalho os resultados da análise tecno-morfológica dos vestígios cerâmicos proveniente da escavação de uma urna funerária, identificada durante as atividades de resgate do Programa de Preservação do Patrimônio Arqueológico do Aproveitamento Hidrelétrico da Serra do Facão, no estado de Goiás, no sítio arqueológico sítio CT06 – Paulo Carapina, executado pela equipe de pesquisadores da Fundação Aroeira. A urna funerária foi escavada por Oliveira e foi objeto de sua monografia de conclusão de curso, em seu interior foram identificadas apenas alguns dentes. No interior dessa urna também foram identificados fragmentos cerâmicos dos quais muitos ainda conservam marcas de uso como fuligem e polimento. O material escavado no interior da urna passou por uma análise tecnológica, onde identificou-se técnica de manufatura, aditivo, queima e decorações. No que tange as decorações foi identificada apenas decorações plásticas como marca de rolete na borda e bordas acasteladas. Dos fragmentos procedentes dentro da urna, remontou-se a maior parte contribuindo para a análise morfológica dos vasilhames e formulação de algumas tipologias. Devido a remontagem do material que estava no interior da urna com vasilhames que estavam servindo de apoio para a mesma quando esta foi escavada, levantamos algumas indagações quanto ao uso dado a essa urna e o significado dessa prática.

Análise tecnotipológica do material lítico de sítios proto-Jê meridionais do Alto Vale do Ribeira – Adrianópolis/PR

Henrique de Sena Kozlowski (Preservar Arqueologia e Patrimônio)

O Vale do Ribeira, localizado entre os estados do Paraná e de São Paulo, por ser um dos poucos rios que conectam o hinterland do Brasil meridional ao Oceano Atlântico, é uma importante rota de transição para os grupos humanos da região. Com registros de uma ocupação de mais de 9.000 anos (LIMA, 2005), o Vale do Ribeira foi ocupado por grupos sambaquieiros, caçadores-coletores, Jês e Guaranis. O presente trabalho irá apresentar os resultados da análise do material lítico dos sítios

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Margem I e Margem II, escavados pela empresa Preservar – Arqueologia e Patrimônio em 2012, como parte do processo de licenciamento ambiental da empresa Supremo Cimentos. Os sítios, datados entre 580AP e 630AP, indicam uma ocupação contemporânea e apresentam uma associação do material lítico com a cerâmica Jê. O objetivo deste trabalho foi verificar se há uma variabilidade entre os conjuntos artefatos líticos em uma relação inter-sítio, buscando compreender as possíveis causas desta variabilidade e também tentando identificar os tipos de atividades desenvolvidas em cada um dos sítios. O trabalho foi desenvolvido utilizando a análise da sequência reducional (COLLINS, 1975; CARR, 1999) para cada um dos sítios em questão, relacionando as informações da análise do material com dados ambientais da área de entorno dos sítios. A análise tecnotipológica deste material é fundamental para compreender a organização do sistema tecnológico dos artefatos líticos produzidos e utilizados por grupos proto-Jê meridionais.

Arqueologia funerária e remanescentes ósseos do sambaqui Sernambetiba: novas perspectivas no estudo das práticas rituais

Ana Luiza Silveira de Berredo e Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO)

Sambaquis são sítios arqueológicos monticulares distribuídos pela costa brasileira. Estes sítios tem sido alvo de pesquisas desde o final do século XIX e, desde então, a presença de esqueletos humanos foi um aspecto marcante. O estudo dos remanescentes ósseos humanos encontrados em sítios arqueológicos é chamado de Bioarqueologia e visa reconstituir aspectos biológicos, culturais e sociais das populações passadas. Recentemente esta metodologia passou a se preocupar não somente com os corpos, mas também com as estruturas associadas a eles. Com isso, os estudos se voltaram para investigar as formas de deposição, transformações tafonômicas da estrutura original, evidências de gestos e processos relacionados ao funeral. Estudos realizados em sambaquis através desta nova perspectiva têm revelado importantes informações sobre os aspectos biológicos de grupos do passado e, ao mesmo tempo, informações culturais referentes às práticas rituais, à organização social, ao processo construtivo do sítio e à formação do registro arqueológico. O presente trabalho se alinha a esta pesquisa e pretende demonstrar resultados através da análise das estruturas funerárias e remanescentes corporais humanos resgatados do sambaqui de Sernambetiba. Para isso foram analisados 16 sepultamentos, a maioria resgatada em blocos, durante etapas de escavação entre os anos de 2011 e 2013, e levados ao Laboratório de Arqueologia Casa de Pedra, do Museu Nacional, onde se deu prosseguimento à escavação minuciosa, pesquisa que integra a tese de Angelica Estaneck. Os resultados obtidos a partir desta análise, ainda que parciais, revelaram informações importantes a respeito das práticas funerárias realizadas em Sernambetiba, assim como a análise óssea pode mostrar marcas de cortes, quebras e queima, práticas que possivelmente estão associadas ao processo construtivo do sítio e formas de tratamento dados aos mortos.

Arqueologia Guarani no Litoral Norte de Santa Catarina - Problematizando o Patrimônio Arqueológico Guarani a partir do Estudo de Acervos Cerâmicos e questões de Etnicidade.

Graciele Tules de Almeida (Universidade da Região de Joinville - Univille), Fernanda Mara Borba (Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE)

O estudo busca problematizar o patrimônio arqueológico pré-colonial relacionado à etnia Guarani na região do litoral norte do Estado de Santa Catarina a partir do estudo da cerâmica arqueológica. Tem como foco a discussão sobre a etnicidade pautada nas variações estilísticas regionais e/ou cronológicas e funcionais, apresentadas pelos vestígios cerâmicos. Nesse sentido, verificou-se o registro do sítio Poço Grande, localizado na divisão entre as cidades de Joinville e Guaramirim (SC) e que foi identificado como sendo vinculado a Tradição Arqueológica Guarani, está informação foi

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registrada nos levantamentos de Guilherme Tiburtius e nas pesquisas de Piazza, (1974) e Bandeira (2004). Em relação aos vestígios arqueológicos relacionados a esse sítio, encontram-se no MASJ, apenas os vestígios cerâmicos registrados durante a pesquisa de Bandeira (2004). Em outro momento, identificou-se no Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, cerâmica Guarani como integrante da coleção de Guilherme Tiburtius e procedente do sítio Enseada I, no município de São Francisco do Sul (SC), no entanto, como as outras pesquisas realizadas neste sítio (Tiburtius, 1960, Beck, 1973, Bandeira, 1992 e 2004) não identificaram vestígios dessa etnia, há a possibilidade deste material ser de outro sítio. Uma possibilidade seria a origem dessa cerâmica ser vinculada ao sítio Poço Grande, resultante dos levantamentos efetuados por Guilherme Tiburtius. Desta forma, busca-se também esclarecer essa situação. As coleções acessadas na pesquisa fazem parte do acervo sob a guarda do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville - MASJ e do Museu de Arqueologia e Etnologia da USFC - MArquE. Este estudo faz parte do Projeto Intitulado “Cultura Material e Patrimônio Arqueológico Pré-Colonial da Costa Leste da Ilha de São Francisco do Sul/SC - Contribuição para uma Arqueologia da Paisagem Costeira e Estudos de Etnicidade (FAPESC)” e das discussões do Grupo de Estudos em Arqueologia e Cultura Material (ArqueoCult).

Continuidade e Mudança Tecnológica na Cerâmica Arqueológica da Ilha de Sorobabel, Itacuruba - Pernambuco.

Jade Paiva de Lima (Universidade Federal de Pernambuco), Paloma de Almeida Martins (Universidade Federal de Pernambuco)

A região do Submédio São Francisco compreende as áreas de Pernambuco e Bahia, sendo uma região rica em recursos naturais possuindo um grande patrimônio cultural, histórico e arqueológico. Os assentamentos de grupos agricultores conhecedores da tecnologia cerâmica se localizavam, principalmente, nas ilhas férteis do São Francisco. O estudo da cerâmica arqueológica é uma importante ferramenta para a obtenção de conhecimento sobre as sociedades passadas, devido à durabilidade e abundancia deste material nos sítios arqueológicos, como também a sua capacidade de revelar características socioculturais, religiosas, econômicas, entre outras, pois contem os traços culturais de quem a confeccionou. Nesse contexto o presente trabalho objetiva contribuir para o conhecimento da tecnologia cerâmica dos grupos ceramistas do Submédio São Francisco, buscando verificar se houve uma continuidade ou mudança na tecnologia desses grupos, através do estudo das técnicas utilizadas na manufatura do material cerâmico encontrado na Ilha de Sorobabel, esse material é proveniente do sítio pré-histórico Ilha de Sorobabel com 1.324 fragmentos e do sítio histórico Missão Nossa Senhora do Ó com 2.398 fragmentos. Esses sítios foram alvo de intervenção arqueológica na década de 80, o material dos sítios foi localizado no acervo da UFPE e as informações referentes a eles foram inseridas em um banco de dados criado com o software Filemaker no âmbito das pesquisas realizadas durante o projeto PIBIC/CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O trabalho encontra-se em fase de desenvolvimento através do fichamento da documentação primária e secundária (obras etno-históricas e arqueológicas) e a analise do material cerâmico, sendo a próxima etapa a elaboração do perfil cerâmico para cada sítio em estudo, com a comparação desses perfis será verificado se houve uma continuidade ou mudança na tecnologia cerâmica da Ilha de Sorobabel. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Pinto de Medeiros

Escavando a mulher da pré-história: Questões de gênero na produção arqueológica

Lara de Paula Passos (UFMG)

A pesquisa arqueológica em seu conteúdo e modo de interpretação tem sido, em sua grande maioria, androcêntrica. No que se refere à pré-história, sempre é evocada a imagem masculina na

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efetuação da maior parte das tarefas sociais e culturais, como a criação/elaboração de artefatos e produção de grafismos. A participação ativa de mulheres - e crianças – na formação do registro arqueológico foi durante muito tempo ignorada, e, ainda hoje, minimizada. As mulheres são tipicamente descritas como indivíduos confinados à esfera doméstica, onde suas atividades e padrões de mobilidade estão restritos aos seus papéis como mães e esposas - o referencial central é sempre o masculino (SENE, 2007). Os estudos de gênero, portanto, procuram evitar as vinculações entre um determinado vestígio cultural e um único gênero. Interpretações dessa natureza podem ser observadas ao longo de toda a história da arqueologia, como, por exemplo, a recorrente associação entre pontas de projétil e homens, bem como entre cerâmica e mulheres. A problemática desta pesquisa gira em torno da falsa noção de objetividade criada a partir da sugestão implícita de uma continuidade cultural em arranjos de gênero - androcêntricos - desde os primeiros hominídeos até o presente. Essa sugestão emerge do discurso arqueológico quando arqueólogos empregam um conjunto de pressupostos estereotipados sobre gênero, levando ao que Conkey e Spector afirmaram ser o paradigma de gênero na arqueologia. (CONKEY & SPECTOR, 1984). A justificativa é ética e política no sentido de lançar luz sobre a possibilidade e a probabilidade etno e historiográfica de outras formas de concepção e representação de sexo e gênero em grupos não ocidentais do passado e do presente.

Iconografia de Urnas Funerárias Maracá da Coleção AP-MZ-30: Gruta das Caretas – Análise de Fragmentos.

Jéssica Michelle Rosário de Paiva (Contrato)

O conhecimento sobre os detalhes e as relações existentes na composição de elementos iconográficos, presentes em determinados vestígios arqueológicos, é de fundamental importância para a compreensão de sua cultura produtora. O presente estudo aborda os artefatos arqueológicos da cultura Maracá - provenientes da região sudeste do atual estado do Amapá. Seus objetos mais conhecidos são as urnas (antropomorfas, zoomorfas e tubulares) confeccionadas em material cerâmico para atividades ritualísticas funerárias, encontradas na superfície de grutas e abrigos. Nas urnas antropomorfas e zoomorfas é marcante a presença de elementos iconográficos plásticos e pintados que permitem identificar características sociais, particulares e coletivas do grupo. Nesta pesquisa, foi dada continuidade a análise iconográfica das urnas antropomorfas e dos conjuntos de fragmentos de urnas da coleção oriunda do sítio AP-MZ-30: Gruta das Caretas, que está sob a guarda do Museu Paraense Emilio Goeldi, a fim de identificar os padrões e singularidades referentes a organização social do grupo através da linguagem visual impressa no exterior desses artefatos. Foram analisadas quarenta e sete urnas e cinquenta e três grupos de fragmentos da coleção, através do método observacional e descritivo. No universo iconográfico analisado, observou-se, além de padrões coletivos morfológicos e pintados, elementos peculiares a urnas com determinada representação de gênero sexual, que auxiliaram na hipótese de classificação sexual de algumas urnas sem tal característica. Também, foram identificados fragmentos pertencentes a urnas parcialmente inteiras, possibilitando sua remontagem e a observação de elementos característicos das urnas. As informações obtidas na pesquisa vêm a contribuir com os dados adquiridos em estudos anteriores, ampliando o conhecimento sobre a quantidade de indivíduos do sexo masculino e feminino presentes no sítio Gruta das Caretas e as características estilísticas que englobam a coleção.

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Jê Meridional: Análise de aspectos econômicos associados à evolução cultural e ambiental

Rafaela Vieira Nogueira (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS)

Em São José do Cerrito, Santa Catarina, a equipe do Instituto Anchietano de Pesquisas/Unisinos realiza trabalhos arqueológicos desde 2008. Nessas pesquisas, há evidências de um processo de mudança cultural associado à tradição Taquara/Itararé, desde 2.600 até cerca de 300 anos atrás, relacionado à formação do Jê Meridional. O Jê Meridional, grupo linguístico do sul do Brasil, é originário do Planalto Central de onde se expandiu desde 3.000 anos atrás. Em sua origem mantinha estreita relação com o meio e ao se deslocar para o Planalto Meridional encontrou um ambiente com recursos diferentes, em transformação, com a expansão da Floresta Mista com Araucária. A pesquisa busca compreender como as mudanças ambientais influenciaram as mudanças culturais. A hipótese é de que mudanças climáticas teriam influenciado o ambiente e este, a cultura e o manejo de elementos da vegetação teria contribuído para uma nova paisagem, representando uma co-evolução entre a cultura e ambiente. Foi realizado estudo sobre o desenvolvimento cultural desses grupos e a paralela evolução ambiental, caracterizada pela expansão da Floresta Mista com Araucária, buscando correlacionar estas mudanças na área. Através de pesquisa de campo e bibliográfica elaborou-se um panorama da inter-relação entre aspectos ambientais e culturais. Associadas á Araucária encontram-se espécies vegetais que teriam potencial de utilização e complementação dos recursos econômicos do pinheiro, na alimentação, na produção de instrumentos e na prática medicinal. A mudança na vegetação facilitou a consolidação dos grupos. A estabilidade observada nos padrões de assentamento está diretamente relacionada com a oferta e utilização de novos e mais variados recursos econômicos. A variedade possibilitou a superação de eventuais falhas estacionais ou anuais de alguns desses elementos.

Mapeamento Arqueológico de Cerritos na Lagoa Pequena, Pelotas-RS.

Cristiano Meirelles (UFPel)

Este trabalho visa apresentar os resultados preliminares do mapeamento arqueológico de cerritos realizado no banhado da Lagoa Pequena, localizada na margem sudoeste do estuário da Laguna dos Patos, em Pelotas-RS, trabalho esse vinculado ao projeto “Arqueologia e História Indígena do Pampa: Estudo das populações pré-coloniais na bacia hidrográfica da Laguna dos Patos e Lagoa Mirim”, cujo principal objetivo é compreender aspectos do processo de ocupação indígena na região em tempos pré-coloniais. Primeiramente, definimos a área a ser mapeada e realizamos a prospecção do local, onde, por meio de levantamento extensivo, identificamos distintos pontos de ocupação dos grupos construtores de cerritos. Fizemos a delimitação dos sítios com a perfuração sistemática de poços teste, buscando uma ampla cobertura do espaço de cada um dos sítios. Entre os registros arqueológicos coletados, predominam os fragmentos de cerâmica e vestígios de fauna típica da região. Um dos cerritos identificados chama atenção e diferencia-se dos demais pelo seu formato, sendo um montículo cuja elevação está claramente visível na paisagem. Os outros locais de ocupação caracterizam-se por estarem sobre albardões típicos das áreas de banhados, que costeiam a Laguna dos Patos, aproveitando a elevação natural do terreno. Ainda estão previstas atividades de levantamento topográfico de cada sítio arqueológico, bem como análise do material arqueológico coletado e análise química de sedimentos, comparando amostras retiradas dos cerritos com sedimento de áreas externas.

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Os Grupos Pré-Históricos Ceramistas da Chapada do Araripe: Estudo da Variabilidade Artefatual

Ana Claudia Sales dos Santos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO)

O significado da variabilidade artefatual dos vestígios arqueológicos é estudada sob muitas linhas teóricas e metodológicas que buscam entender as causas que provocam a diversidade de artefatos em um ou mais sítios arqueológicos. Caracterizar e compreender a diversa gama de processos envoltos na produção humana de objetos sempre foi um objetivo premente à Arqueologia. Sob a insígnia da arqueologia histórico-cultural, a interpretação das semelhanças e diferenças nos padrões morfológicos dos artefatos adquiria conotações étnicas, e as mudanças ao longo do tempo nestes padrões eram explicadas através de processos de difusão e migração. Porém, a partir da década de 1960, com o processualismo, os arqueólogos buscam gradativamente abandonar o aspecto meramente descritivo da disciplina e se dedicam a investigar a tecnologia como o resultado de estratégias adaptativas, interrelacionadas com as limitações e possibilidades do meio natural; as demandas da organização sócio-econômica das populações; bem como a funcionalidade atribuída a um determinado espaço ou objeto. Em congruência com o breve quadro acima apresentado, nosso trabalho busca analisar a coleção cerâmica de dois sítios Tupiguarani, Serra do Cavaco I e II e Aldeia do Valado, localizados na porção pernambucana da Chapada do Araripe (município de Araripina), com o objetivo de identificar e compreender a correlação entre a variabilidade artefatual. Neste sentido, a coleção cerâmica foi analisada de acordo com os procedimentos propostos por Oliveira (2000); e a reconstituição hipotética dos objetos, a partir dos fragmentos de borda, realizada com o auxílio do software Auto-Cad. Para o estudo da variabilidade utilizamos as quatro dimensões de (SHIFFER, 1997), formal, quantitativa, espacial e relacional. Com as pesquisas ainda em andamento, de modo geral, pudemos perceber que ambos os sítios possuem vasilhas com finalidades de cozinhar, armazenar e servir.

Panorama das pesquisas no município catarinense de São José do Cerrito

Natália Machado Mergen (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

O Planalto de Santa Catarina é uma área de grande ocorrência de sítios arqueológicos construídos por movimentação de terra, atribuídos aos Jê Meridionais. As pesquisas realizadas pelo Instituto Anchietano de Pesquisas no município de São José do Cerrito iniciaram em 2007 e ocorrem em duas diferentes áreas, na localidade de Rincão dos Albinos, em 2011 e 2012, e na de Boa Parada, entre 2008 e 2015. No Rincão dos Albinos, o sítio SC-CL-70/71 é constituído por 107 ‘casas subterrâneas’ e 10 montículos, foram escavadas, parcialmente, 10 casas e realizados 21 cortes estratigráficos no entorno das estruturas. As intervenções demonstraram que todas as estruturas foram ocupadas mais de uma vez, do século VI ao X, com cerâmica apenas na etapa final. Esta ocupação é cronologicamente concomitante à expansão inicial da Araucaria angustifolia sobre os campos e denota os primeiros assentamentos Jê no Planalto. Na Boa Parada existe semelhante concentração de ‘casas subterrâneas’ com montículos, um ‘danceiro’ e quatro grandes aterros-plataforma. As escavações evidenciaram que as casas, muitas delas muito grandes, eram estruturas habitacionais, de longa duração. O ‘danceiro’ e os quatro aterros-plataforma foram levantados em etapas sucessivas, alternando ocupação e aterramento e ao menos em dois foram realizadas cremações. Possivelmente, sua construção está relacionada a conjuntos específicos de casas. A ocupação na Boa Parada cobre uma cronologia que se estende do século XI até o XVII. As datas iniciais da Boa Parada se sobrepõem às finais do Rincão dos Albinos, suscitando a reflexão sobre a ligação entre as duas áreas de ocupação Jê Meridional neste Planalto.

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Práticas rituais Xokleng/Laklãnõ no pré-colonial

Milene Félix da Silva (UFSC)

Em virtude dos diversos rituais praticados pelo povo Xokleng/Laklãnõ desde o período de sua ocupação pré-colonial até os dias de hoje, busca-se realizar uma análise de um conjunto dessas práticas no que refere ao "tempo do mato". Os rituais dimensionados são a cerimônia de perfuração dos lábios dos meninos e a tatuagem na perna das meninas.O povo Xokleng/Lakãnõ denominado Jê do Sul e pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, atualmente habitam a Terra Indígena Ibirama Laklãnõ (localizada no Alto Vale do Itajaí. Historicamente ocupavam as florestas percorrendo desde o estado do Paraná até o estado do Rio Grande do Sul (o que engloba áreas do litoral, abrigos da Serra Geral e do Mar e Planalto Meridional do Brasil), quando não havia essas delimitações geográficas. O "tempo do mato" supracitado se refere ao contexto em que o povo ainda estanciava o interior das florestas. Diante dessa conjuntura, realiza-se uma análise das práticas tradicionais Xokleng/Laklãnõ pertinentes a esse contexto utilizando sua tradição oral. A história dos eventos ocorridos nessa temporalidade ancestral não se constitui de modo longínquo, pois os membros mais velhos das aldeias atuais relatam reminiscências contadas por pessoas que viveram nas florestas e deixaram seus relatos que são suportes de memória. Os autores utilizados nessa pesquisa são: LAVINA (1994), NOELLI (1999),PEIRANO (2003),SAHLINS (2003), SANTOS (1997), VIEIRA (2004), WITTMANN (2007). Os resultados indicam que os rituais são eventos não cotidianos que traduz sua funcionalidade como rito de passagem, divulgando aspectos enquanto valores favoráveis para a transmissão de conhecimentos e produções de relações sociais. Nesse ponto apresentam-se os artefatos presentes nessas cerimônias, que utilizados como instrumentos de diferenciação são necessários para suas significâncias e representações culturais.

Primeiras impressões sobre a pesquisas arqueológicas no Alto Uruguai e o povoamento durante o holoceno inicial

Fernando Silva de Almeida (Universidade Federal de Santa Catarina)

Este estudo faz parte de um projeto de doutorado que busca compreender o povoamento indígena do Alto Uruguai durante o holoceno inicial. Um dos objetivos iniciais da pesquisa é a realização da análise da indústria lítica dos sítios arqueológicos encontrados no município de Itapiranga na década de 60, caracterizada como uma indústria Alto-paranaense e Humaitá. Por um lado, sabe-se que o conjunto cerâmico do Complexo de Itapiranga foi associado à Tradição Tupiguarani e os artefatos bifaciais à ocupação pré-cerâmica da Tradição Humaitá. A data de 8.640 anos A.P, obtida no sítio SC-U-6, caracterizou essa região como um dos primeiros locais ocupados pelos grupos humanos no Alto Uruguai. Contudo, os sítios que apresentam as cronologias mais recuadas podem corresponder a associação arqueológica indevida entre as datas antigas e os instrumentos bifaciais encontrados em superfície, ou ainda a processos pós-deposicionais. Por outro lado, entre 2006 e 2010, na área da UHE Foz do Chapecó no oeste de Santa Catarina, foram escavados sítios arqueológicos com datas que recuam até 8.370 A.P. Nessas escavações foi possível identificar a presença de duas populações distintas ocupando o mesmo espaço, sendo as camadas estratigráficas mais profundas dos sítios escavados associadas a ocupação de grupos caçadores-coletores. Portanto, existe a possibilidade de evidenciar a presença de grupos humanos ocupando o Alto Uruguai durante o holoceno inicial. É necessário compreender o registro arqueológico de Itapiranga não somente a partir de critérios tipológicos, mas a partir da análise rigorosa da documentação primária e da análise tecnológica da cultura material associada à Tradição Humaitá. Futuramente, a partir dos resultados dessa primeira abordagem, buscamos a realização de novas prospecções, com o intuito de compreender o povoamento do Alto Uruguai a partir de novos dados.

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Variabilidade cerâmica no Complexo Cerriteiro do Pontal da Barra, Pelotas-RS: problematizando a Tradição Vieira.

Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro (UFpel)

Este banner apresenta resultados parciais de pesquisa de iniciação científica no âmbito do projeto “Arqueologia e História Indígena no Pampa: Estudo das populações pré-coloniais na bacia hidrográfica da Laguna dos Patos e Lagoa Mirim”, relativa aos vestígios cerâmicos oriundos de cinco cerritos que compõem o complexo cerriteiro do banhado do Pontal da Barra, localizado no estuário da Lagoa dos Patos, Pelotas-RS. Pesquisas sobre as cerâmicas dos Cerritos do Sul do Brasil são escassas e, em sua maioria, ainda meramente descritivas, corroborando a já estabelecida imagem das cerâmicas da “Tradição Vieira” como vasilhames de baixo investimento técnico e estritamente utilitários. Mesmo no Uruguai, onde as pesquisas sobre os “cerritos de índio” receberam um impulso processual e re-oxigenação ao longo das décadas de 1980 e 1990, poucos foram os esforços realizados na direção de um estudo sobre estas ocupações que contemplassem de maneira significativa seus vestígios arqueológicos cerâmicos. O estudo das cerâmicas do complexo cerriteiro do Pontal da Barra tem indicado que, contrário aos dados publicados na literatura especializada, as populações cerriteiras dispunham de técnicas e habilidades necessárias para a elaboração de objetos com acabamentos sofisticados, e assim, sua escolha por não fazê-los pode estar mais relacionada a aspectos cosmológicos e/ou ontológicos desses grupos que à inaptidão ou limitação técnica, diagnóstico comum da arqueologia “tradicional”. Assim, sugiro que se observados em perspectiva não humanocentrica, não apenas os cerritos em si, mas as próprias cerâmicas cerriteiras parecem ser, também, elementos ativos nas imbricadas redes de relações estabelecidas nestes grupos.

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Amazônia

A modificação da Paisagem no sítio PA-AT-331: MANGANGÁ sobre a perspectiva do conceito de Cultura Neotropical.

Amanda Evelin Da Silveira Carneiro (UFPA)

Este trabalho está vinculado ao Projeto Arqueológico Carajás (PACA) e propõe, a partir de um subprojeto de pesquisa, uma abordagem crítica dos estudos relacionado ao conceito de Cultura Neotropical. Isto será feito tendo por parâmetro os conceitos de Evolucionismo Histórico e Relativismo Cultural. O trabalho vai expor as evidências e perspectivas preliminares da análise das modificações na paisagem de floresta tropical ocorridas no sítio multicomponencial PA-AT-331- Mangangá, localizado no S11D, à margem direita do rio Sossego, no município de Carajás. De modo a apresentar uma análise da paisagem a partir de dados empíricos relacionados à cultura material arqueológica e ambiente da área de assentamento do sítio estudado.

A Tradição Regional Saracá do rio Urubu estudada a partir do Sítio Arqueológico Sucuriju.

Luiza Silva de Araújo (UFPA)

A região do rio Urubu (Itacoatiara e Silves/AM) apresenta uma cultura material peculiar. Desde as pesquisas sistemáticas iniciais na região, que remontam ao PRONAPABA nos anos 70-80, é evidente a dificuldade em classifica-la dentro das tradições ceramistas da Amazônia. Propôs-se na época a Tradição Regional Saracá, uma variante da Tradição Incisa e Ponteada. Objetivo deste trabalho é reanalisar os materiais coletados por Simões no sítio arqueológico AM-IT-

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41: Sucuriju, a fim de entender as particularidades da TRSaracá e como se chegou a essa classificação, procurando compreender seus significados no contexto da ocupação regional. Trata-se de um extenso sítio de terra preta em grande profundidade e densidade de materiais, que conta com uma sequencia de datações e uma tipologia cerâmica, usadas como base de diálogo para o trabalho. Foi aplicada uma ficha de análise por atributos a partir da cadeia operatória de produção cerâmica, individualmente nos fragmentos do sítio. A análise procurou associar os diferentes atributos tecnológicos, levando em consideração seu contexto de deposição e cronologia. A cerâmica Saracá é caracterizada pelo amplo uso de ponteados, incisões e acanalados dispostos em vasilhas com morfologias especificas, seguindo determinadas regras de aplicação. Esta co-ocorre com fragmentos diagnósticos da fase Guarita (TPA) em todos os níveis, sendo que algumas das regras parecem comuns aos dois conjuntos, levando-nos a questionar se realmente são duas culturas distintas. Interpretamos a cultura Saracá como mais próxima da TPA do que da Tradição Incisa e Ponteada. No entanto, as particularidades dessas cerâmicas permitem considera-la mais como uma mescla do que como variante de uma ou de outra tradição. A hipótese de a região marcar uma fronteira cultural possibilita inferir uma relação próxima entre diferentes culturas, que se reafirmaria em um sistema cultural expresso na produção de uma cerâmica híbrida, mas particular e localmente representativa.

Analise Tecnológica do Material Lítico da gruta N1 do Projeto Carajás.

Amauri Assis Matos (Unisa)

Este estudo refere-se ao trabalho de campo realizado pela equipe de arqueologia do Museu Paraense Emilio Goeldi vinculado ao Projeto Arqueológico Carajás, coordenado pelo Dr. Marcos Pereira Magalhães. Situado na Serra Norte de Carajás, município de Paraoabebas – (Pa), a Gruta do N1 está localizada na encosta leste do Platô N1, próximo ao córrego azul .Atualmente o Museu Goeldi desenvolve um projeto de pesquisa na região com o objetivo de relacionar os vestígios arqueológicos com a formação das paisagens no entorno deles. Dentro do contexto exposto, o objetivo da análise tecnológica do lítico é apresentar a classificação morfo - tecnológica dos objetos encontrados. O estudo da análise foi pelo conceito de cadeira operatória e análise tecnológica(LEROI-GOURHAN, 1964; TIXIER, 1978; INIZANetal., 1995; PELEGRIN, 2005 entre outros) na tentativa de evidenciar as etapas de produção dos mesmos. Esse tipo de estudo permite isolar as diversas técnicas de produção desses objetos. Assim, tentaremos compreender melhor as técnicas de produção e de uso dessa gruta no contexto paisagístico da área de estudo.

Análise tecnológica e estilística de vasilhas da fase Koriabo na bacia do Araguari, Estado do Amapá.

Juliana Belfor do Vale (Universidade Federal do Amapá), Irislane Pereira de Moraes (Universidade Federal do Amapá), Queiton Carmo dos Santos (Universidade Federal do Amapá)

As pesquisas arqueológicas no Amapá têm confirmado a densa povoação ameríndia no passado pré-colonial do território. O Estado fora construído em região de inúmeros sítios arqueológicos que são alvos de pesquisas desde o fim do século XIX. No entanto, com o avanço gradual dos trabalhos arqueológicos na região, novos achados visivelmente não se encaixam na classificação entre as fases cerâmicas Aruã, Aristé, Mazagão e Maracá, que correspondem ao padrão estabelecido para a área, um exemplo visível desta assertiva é a recorrente presença do Estilo Koriabo em sítios arqueológicos no Amapá nos mais diversos contextos. Trata-se de uma fase cerâmica cujo principal antiplástico é a areia, com a presença por vezes de caco moído e quartzo moído na composição, com decorações incisas e bordas lobadas. Até agora encontrada apenas nos países do chamado “escudo” guianense: Guiana Francesa, Suriname, República da Guiana e Brasil (Amapá). No

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laboratório do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá estão sendo desenvolvidas experiências com a cerâmica desta fase, oriundas de escavações realizadas em sítios no município de Ferreira Gomes, reforçando a presença deste estilo na região.

Arqueologia de Almeirim - Uma visita aos sítios do Baixo Amazonas

Mayara Cristina Pereira Mariano (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

Pesquisas arqueológicas contribuíram para identificarmos grandes centros culturais ao longo do rio Amazonas e seus afluentes. Destaca-se Marajó, Maracá e Mazagão na foz do amazonas, enquanto isso no baixo curso, o domínio Konduri-Pocó e Tapajônico. Entretanto, em algumas áreas ao longo do baixo amazonas, pesquisas são incipientes ou não existem, permitindo hiatos na ocupação pré-colonial e de contato da região. Em 2012 foi realizado um inventário visando o levantamento dos sítios arqueológicos na região do Baixo Amazonas, uma parceria do IPHAN com o Museu Goeldi. O projeto Inventário dos sítios arqueológicos nos municípios de Óbidos, Oriximiná, Juruti, Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Alenquer e Curuá, realizou o levantamento dos sítios arqueológicos nesses municípios citados, visitando sítios já catalogados na base do IPHAN e encontrando novos sítios, através de pesquisas documentais, bibliográficas, levantamento de campo. Nos sítios identificados foram feitas coleta amostral do material cerâmico e lítico e registradas coleções de particulares, com objetivo de apresentar as primeiras sínteses. Tendo essa preocupação, esta pesquisa pretende contribuir com as primeiras interpretações sobre as demais áreas do baixo amazonas, a partir da analise da cultura material, tecno-estilistica da cerâmica. Após, concluída a fase laboratorial, iremos especializar esses resultados a modo de comparar influencias culturais para reconhecer sua origem, rastrear os movimentos – trocas culturais e verificar suas interações com os demais centros culturais da Amazônia. Nesta fase da pesquisa foi concluída a analise laboratorial do material do município de Almeirim e estamos comparando os dados com o acervo da reserva técnica Mario Simões (MPEG), a fim de esclarecer mais o estilo dessa cerâmica.

Cultura material Koriabo: levantamentos e analise preliminar de vestígios arqueológicos oriundos da bacia do Araguari, Amapá.

Queiton Carmo dos Santos (Universidade Federal do Amapá), KAROLINE DE ABREU SOUZA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ)

O presente trabalho tem por objetivo realizar um levantamento dos aspectos etnohistóricos e arqueológicos da cultura material correlacionada a fase cerâmica denominada Koriabo. Nesse sentido, os procedimentos metodológicos compreendem um levantamento documental e bibliográfico, sistematização de informações provenientes do relatório de escavação arqueológica realizada na bacia do rio Araguari, estado do Amapá, bem como, a analise de vestígios materiais encontrados em vasilha cerâmica funerária proveniente do sitio Igarapé do Prata II, localizado no município de Ferreira Gomes. Portanto, considerando-se as recentes criticas à ideia fase e a classificação homogeneizadora da cultura material arqueológica no platô das guianas enquanto Koriabo, temos buscado dialogar com as classificações já existente para a região, mas também ampliar e entender esse debate a partir de análise das evidências materiais e sedimentares verificadas no contexto arqueológico amapaense.

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Em Busca do Elo Perdido: Impactos Naturais e Culturais nos Geoglifos de Porto Velho - Rondônia

Deusimar Prestes da Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA)

No sudoeste amazônico, mais precisamente no estado de Rondônia, são encontradas estruturas de valas ou muretas com formas geométricas (Trindade 2010) conhecidas como geoglifos que segundo Schan (2010) são marcas ou sinais feitos no chão. Estes são encontrados no Brasil nos estados do Acre (com maior concentração de sítios), Rondônia e Amazonas e na vizinha Bolívia. Tendo em vista que os sítios do tipo geoglifo são pouco divulgados, tanto na área acadêmica, quanto para população do Estado de Rondônia (especificamente no município de Porto velho), os mesmos sofrem descaso das autoridades locais e o desconhecimento por parte das comunidades e estes fatores não ajudam no processo de conservação dos mesmos. Podemos citar impactos naturais e principalmente culturais agindo sobre estes sítios (Schiffer, 1987). A lei 3.924 de 16 Julho de 1961 estabelece a guarda no patrimônio arqueológico sob guarda do poder público, porém quem deveria zelar pelo patrimônio faz pouco caso e não fiscaliza os sítios arqueológicos. O presente trabalho tem como objeto principal evidenciar os impactos, tanto naturais, quanto os culturais (ação humana), nos geoglifos de Porto Velho, através da visualização de imagem de satélite no Google Earh®, realizando uma comparação com as imagens atuais com as históricas disponíveis no Programa. Neste trabalho foram analisados três sítios do tipo geoglifo no município de Porto Velho RO: Nakahara RO 01, Nakahara RO 02; e um possível geoglifo perceptível nas imagens do Google Earth.

Evolução no Uso do espaço na ocupação territorial da região de Carajás: Caçadores coletores e Agricultores

Rosiane de Carvalho Malheiros (UFPA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

O espaço, como objeto de estudo, a partir do seu uso e ocupação por populações que de diferentes formas supriam suas necessidades, permite-nos pensar nos fatores que podem ter levado populações pré-históricas de caçadores-coletores e de agricultores a ocuparem em várias regiões da Amazônia, as mesmas áreas em tempos e maneiras diferentes. Este trabalho integra uma pesquisa em andamento, cujo objetivo é estudar a ocupação antiga da região de Carajás, através da análise dos vestígios materiais de grupos caçadores coletores e agricultores pré-históricos, tendo por base teórica os conceitos de cultura Tropical e Neotropical. Visa também identificar o padrão de ocupação espacial entre os dois tipos de grupos pré-históricos, para entender a distribuição territorial dos mesmos. Desta forma, será apresentado observações preliminares sobre os sítios Boa Esperança e Mangangá, localizados na serra sul de Carajás, que servirão como parâmetro de analise espacial, uma vez que estes possuem vestígios dos dois tipos de ocupação.

Fronteiras instáveis: arte e animalidade no baixo Amazonas

Marcony Lopes Alves (Universidade Federal de Minas Gerais)

Este trabalho é parte e uma pesquisa de monografia em andamento sobre a cerâmica Konduri (séc. XI-XVI d.C.) em diálogo estreito com a Antropologia da Arte. O material de pesquisa inclui a bibliografia com imagens reproduzidas de peças e as coleções "Aricy Curvello" (UFMG) e "Walter Marinho" (Casa de Cultura - Oriximiná, PA), além de algumas peças fotografadas em uma incursão ao Lago Sapucuá, em 2014. Esta pesquisa visa apresentar algumas reflexões iniciais sobre a figuração sobre a produção de figuras de humanos, animais e “espíritos” na cerâmica Konduri e

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também algumas conexões entre a cerâmica Konduri e a cerâmica Santarém. A análise parte de discussões contemporâneas sobre os problemas da noção de "representação" e da dicotomia natureza/cultura, temas em voga na etnologia indígena. Com o estudo busca-se pensar os limites das tentativas de identificar "espécies naturais", bem como mostrar elementos que permitem diálogos com com os trabalhos da Antropologia da Arte. Há também a inclusão de reflexões feitas com biólogos sobre a identificação de espécies em material arqueológico.

Material cerâmico do Médio Xingu: amostra preliminar das pesquisas na área da UHE Belo Monte.

Fúlvio Vinícius Arnt (Scientia Consultoria Científica)

O Projeto de Arqueologia Preventiva na UHE Belo Monte vem sendo desenvolvido pela Scientia Consultoria Científica desde 2010, onde já foram cadastrados 198 sítios arqueológicos (somando os sítios identificados nos EIAs-RIMAs) e coletado mais de 2 milhões de peças, entre material lítico, fragmentos de cerâmica, estruturas de sepultamento, material proveniente de ocupações recentes, etc. As análises laboratoriais foram iniciadas em 2013 e apenas uma ínfima parte do montante coletado foi analisada (5%), uma vez que a equipe está se centrando na curadoria do material. Em geral, o índice de peças com decoração plástica e pintada é baixo, com predomínio das peças simples. Entre as decoradas, verifica-se a existência de incisões, apliques zoomorfos e bordas com lábio digitado. As análises realizadas até o momento indicam tempero mineral, com baixa frequência ou inexistência de cariapé e cauixi nas pastas. Ainda é cedo para apresentar resultados, porém, pode-se apontar para a diversidade do material cerâmico, verificado ainda nas etapas de campo. Esta apresentação, contudo, tem o propósito de expor o grande potencial de retorno do projeto para o conhecimento de uma área importante no cenário amazônico, que ainda está bastante focado na finalização do salvamento dos sítios em risco e em fase inicial das análises laboratoriais.

O universo cotidiano e simbólico da cerâmica das estearias: uma análise da Coleção Raimundo Lopes (MN-UFRJ)

Leonardo Waisman de Azevedo (Museu Nacional - UFRJ), Angislaine Freitas Costa (Museu Nacional/UFRJ), Felipe Benites Tramasoli (Museu Nacional/UFRJ), Leonardo Judice Amatuzzi (Museu Nacional/UFRJ), Sarah de Barros Viana Hissa (UFRJ - MN)

Os sítios de estearias ocorrem na região noroeste do Maranhão e caracterizam-se pela distribuição de um grande número de esteios fixados em áreas alagadiças. Tais esteios teriam servido como base de sustentação para antigas áreas de habitações palafíticas ocupadas por grupos ceramistas, mantendo os espaços domésticos elevados e secos em períodos de cheia. Existe, sob a guarda do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma coleção de material coletado pelo pesquisador Raymundo Lopes na primeira metade do século XX, proveniente de 10 sítios arqueológicos deste tipo. Essa coleção é composta por uma grande diversidade de material cerâmico em bom estado de conservação, contendo vasilhas inteiras, e com grande diversidade morfológica e decorativa. Apresentamos aqui os resultados de uma análise estrutural da cerâmica desta coleção. Os artefatos foram descritos em relação aos seus atributos tecnológicos, morfológicos e decorativos, de maneira a instrumentalizar a observação de padrões formais das vasilhas cerâmicas. Utilizou-se a análise modal, seguindo as proposições de Raymond (1995), a fim de compreender as regras estruturais de confecção dos artefatos e detectar diferenças funcionais no conjunto estudado. Desse modo, funções hipotéticas da cerâmica relativas a atividades de subsistência diária e rituais foram inferidas. Os dados indicam que o conjunto dos artefatos

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estudados expressa relações sociais, culturais e cosmológicas dos grupos envolvidos em seu fabrico e consumo.

Tecnologia cerâmica e analises dos sedimentos associados as urnas da fase Koriabo, sítio Tucumanzeiro, na bacia do Araguari, Amapá.

KAROLINE DE ABREU SOUZA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ), Juliana Belfor do Vale (Universidade Federal do Amapá)

O presente trabalho tem por objetivo caracterização da tecnologia cerâmica e analises dos sedimentos associados às urnas da fase Koriabo procedentes do sítio Tucumanzeiro, na Bacia do Araguari, Amapá. Para tal abordagem, procedeu-se com o levantamento do contexto arqueológico local e regional, escavação de vasilhas em laboratório com as diversas etapas da pesquisa devidamente fotografadas e desenhadas em escala de 1:5 cm e 1:25 cm. Os vestígios cerâmicos estão em processo de análise macroscópica e reconstituição. Por sua vez, os sedimentos serão flotados, e parte analisados físico-quimicamente. O resultado preliminares apontam que as vasilhas estudadas apresentam filiação à fase Koriabo. Além disso, o que inicialmente parecia uma única urna, trata de uma associação de diversas peças, com diferentes volumetrias, incluindo vasos de acompanhamentos.

Variabilidade das Cerâmicas Arqueológicas em Estruturas Funerárias de Sítios Megalíticos no Amapá

Carla Daiane de Matos dos Santos (Universidade Federal do Amapá)

Este trabalho faz parte de um projeto de Iniciação Científica, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá- FAPEAP, e realizado no Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do IEPA, com a orientação da arqueóloga Mariana Petry Cabral. Sua principal finalidade é analisar similaridades e diferenças entre as estruturas com cerâmicas funerárias existentes no sítio AP-CA-38 e em outro sítio megalítico presente na mesma área, o AP-CA-21. A partir dessa análise, pretendemos delinear hipóteses sobre variabilidade nas estruturas estudadas. O projeto se insere em um contexto mais amplo de estudos que visam conhecer melhor o contexto arqueológico do Amapá, contribuindo para discussões sobre a história antiga da Amazônia. A metodologia será de análise das características presentes na cerâmica através do estudo da morfologia, do modo de produção e estilo. A partir destes dados, serão feitos estudos comparativos entre as estruturas e os sítios, visando mapear suas variabilidades.

Vestígios de que? Artefatos polidos e de polimento no sítio Porto de Santarém, Baixo Amazonas

Tallyta Suenny Araujo da Silva (UFMG)

Diferentes tipos de artefatos polidos e de polimento foram encontrados no sítio Porto de Santarém, como calibradores, polidores planos, adornos, rodelas de fuso e outros artefatos cuja intencionalidade não é tão clara. Esse trabalho tem como proposta apresentar os tipos de artefatos polidos e de polimento encontrados no sítio Porto e seus contextos de descarte. O maior interesse pelo material cerâmico tapajônico, tanto dos estudos científicos já realizados quanto por parte dos objetos selecionados para as coloções, fez com que a indústria lítica dessa área específica, e da Amazônia em geral, ainda seja pouco conhecida. Durante a análise do material foi possível constatar que as metodologias para esses tipos de utensílios são pouco padronizadas ou mesmo inexistentes, diferentemente das existentes para o lítico lascado.

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Eixo Temático Arqueologia Pré-Histórica - Arte rupestre

A subtradição Salitre de pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí: um estudo de caso.

Gabriel Frechiani de Oliveira (Universidade Federal de Sergipe)

O presente trabalho tem finalidade abordar a subtradição Salitre de pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara, localizado na região sudeste do Piauí. A subtradição Salitre é pertence a tradição Nordeste de pinturas. A problemática da pesquisa visa demilitar as principais diferenças das pinturas da subtradição Salite das pinturas da tradição Váreza Grande que também está presente na região e faz parte da tradição Nordeste. A metodologia para a elaboração dessa peqsuisa está embasada na pesquisa bibliográfica acerca da temática e pesquisa de campo, onde foram visitados os principais sitios arqueológicos da subtradição Salitre na região.

Análise da dimensão tecno-estilística dos grafismos rupestres do abrigo Pedra Redonda

Aressa Maíra Nascimento Paiva (UFRN)

A partir dos trabalhos realizados pelo Laboratório de Arqueologia da UFRN, em aulas de campo nas disciplinas de Pré-História e Arqueologia do curso de História da UFRN, no município de Santana do Matos - RN tivemos contato com o sítio Pedra Redonda, local cadastrado em projeto de levantamento de sítios de registros rupestres em pesquisa do prof. Valdeci Santos Jr. Este trabalho pretende, então, compreender a dimensão técnica desses registros gráficos no sítio Pedra Redonda, analisando as técnicas empregadas, as formas, o preenchimento utilizado, a coloração, o suporte geológico e os instrumentos que possivelmente foram utilizados em sua produção. Dessa forma, pretende-se analisar, através de uma perspectiva arqueológica pós-processualista e através do registro fotográfico, realizar a caracterização do sítio na paisagem, a identificação da apresentação gráfica dos painéis e o registro das unidades gráficas. Consideramos assim, as dimensões de análise da técnica, da apresentação gráfica e dos aspectos cenográficos dos registros rupestres. O trabalho possibilitou até o momento a identificação de duas dimensões técnicas que são o pintado e o gravado e como estes estão dispostos em um abrigo sob rocha, localizado em baixa altitude. Os painéis estão distribuídos na parte externa do abrigo, ressalvando-se que os gravados aparecem sobrepostos aos pintados.

Arqueologia Rupestre no Extremo Sul de Santa Catarina: o sítio arqueológico Malacara I

Neemias Santos da Rosa (Universitat Rovira i Virgili - Espanha)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados da análise realizada sobre o sítio de arte rupestre Malacara I, localizado na margem esquerda do Rio Malacara, no interior do cânion de mesmo nome, município de Praia Grande - Santa Catarina. O sítio arqueológico em questão é composto por um bloco de basalto parcialmente enterrado, medindo a porção visível do mesmo aproximadamente 1,20 X 0,90 X 0,80 m. Neste se encontra evidente uma vasta série de gravuras rupestres de morfologia geométrica, produzidas através de uma combinação de diferentes técnicas que acabaram por formar uma composição altamente complexa e, até o momento, sem paralelos concretos passíveis de comparação imediata. Realizada no âmbito do projeto “Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba”, dirigido pelo Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão Integrada do Terriório, da UNESC, a análise destas

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representações foi desenvolvida a partir de duas etapas. Procedeu-se inicialmente à sua classificação tipológica, para em seguida ser levado a cabo seu estudo tecnológico, visto pelos autores como de fundamental importância quando temos em consideração que o estudo da tecnologia rupestre possibilita uma aproximação muito mais rigorosa e consistente do fenômeno artístico na pré-história, minimizando subjetivismos e interpretações gratuitas sem sustentação empírica. Os dados provenientes deste estudo vêm não apenas reacender o debate sobre as características fundamentais da arte rupestre do sul do Brasil, mas também propor abordagens teórico-metodológicas alternativas para o estudo destas tão importantes manifestações do comportamento simbólico dos grupos humanos pré-históricos que ocuparam a região.

Cenas de Agressão nos Sítios com Grafismos Rupestres na Área Arqueológica Serra da Capivara –PI

Dayse Oliveira de Carvalho (Universidade Federal de Pernambuco), Daniela Cisneiros (UFPE)

As pesquisas arqueológicas na área do Parque Nacional Serra da Capivara, localizada no sudeste do estado do Piauí, tiveram início na década de 1970. Os primeiros trabalhos tinham por objetivo a identificação do contexto arqueológico dos sítios com pinturas e gravuras rupestres. Essas pesquisas resultaram em um ordenamento preliminar hipotético para reconhecimento das identidades culturais e a definição de cronologias relativas para os grafismos rupestres. A unidade classificatória de referência utilizada foi a Tradição, sua definição parte das semelhanças tipológicas encontradas entre os grafismos. Em concordância com as diretrizes sobre os grafismos rupestres que vêm sendo apontadas nos estudos dos sítios com grafismos rupestres na Serra da Capivara, o presente trabalho tem por objetivo a identificação de padrões gráficos nas cenas de agressão entre dois indivíduos da Área Arqueológica Serra da Capivara, a partir das similaridades e diferenças presentes nesses agenciamentos cenográficos. Dentro de um sistema de comunicação, cada elemento cumpre uma função específica na transmissão da mensagem, mantendo-se prioridades nos atributos de apresentação. O conjunto gráfico rupestre apresenta a relevância nessa abordagem quando observado o agenciamento das cenas, as posturas e os movimentos das figuras, as características morfológicas (cabeças, adornos e objetos de mão) e as especializações dos instrumentos de ação (armas). Busca-se com a análise das cenas de agressão identificar os padrões. Esses padrões atendem a códigos estabelecidos, sugerindo que foram realizadas por um grupo com as mesmas características, podendo, talvez, pertencentes a uma mesma autoria grupal. As análises das cenas de agressão vêm a contribuir para o isolamento de elementos do significante cenográfico no plano ideativo de um grupo. A importância de segregar esses elementos traduz-se na contribuição para o afinamento das características particulares dos grafismos rupestres da Serra da Capivara.

Contexto Gráfico Dos Zoomorfos No Parque Nacional Da Serra Da Capivara

Juliana Newce Azevedo Valença de Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco)

Juliana Newce Azevedo Valença de Oliveira1; Daniela Cisneiros2 Os estudos sobre grafismos rupestres na Área Arqueológica da Serra da Capivara passaram a ser sistematizados após a década de 1970, partindo da compreensão de que os grafismos rupestres são a expressão e o resultado das escolhas temáticas, de realizações técnicas e de encenações imaginárias realizadas por determinados grupos sociais. Dentro dessa perspectiva, foi caracterizada a Tradição Nordeste. Esta subtradição apresenta grafismos pintados dominantemente reconhecíveis, expressando movimento e formação de cenas. Essa pesquisa está sendo realizada a partir dos grafismos reconhecíveis e tem como proposta identificar e segregar os zoomorfos, objetivando definir parâmetros para determinar similaridades e diferenças nos componentes

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cenográficos em que estes foram representados. Foram observados aspectos relativos ao dinamismo das cenas, a identificação e quantificação dos zoomorfos, além da morfologia dos elementos primários e secundários que compõem as cenas. Assim, este trabalho tem como objetivo fornecer informações tanto sobre a diversidade técnica da atividade de caça quanto sobre as diversidades biológicas das espécies de animais que conviviam com os grupos humanos e eram caçados ou simplesmente representados em seus aspectos coletivos e dinâmico. ¹Estudante do curso Arqueologia – UFPE; 2 Docente/Pesquisadora do Departamento de Arqueologia – UFPE.

Os antropomorfos no registro rupestre do semiárido paraibano: caracterização das representações na microrregião do Cariri Ocidental

Francisco de Assis Soares de Matos (UFPE)

A presente pesquisa analisa 84 representações rupestres antropomórficas localizadas na Microrregião do Cariri Ocidental paraibano, objetivando evidenciar os seus padrões de apresentação gráfica e suas relações com as particularidades ambientais. Para o seu desenvolvimento foram analisados 10 sítios com presença de registros rupestres, inseridos em duas microbacias de drenagem, a do Rio Monteiro e a do Rio Paraíba. Há um divisor hidrográfico marcante entre elas, formado pelas serras da Rajada, Caroá e Lamarão. Dentro desse contexto, dois sítios encontram-se na rede de drenagem do Rio Monteiro e oito na do Rio Paraíba. Através da classificação das representações nas três dimensões caracterizadoras do fenômeno gráfico: temática, cenografia e técnica, segregou-se os atributos caracterizadores desses artefatos. Mediante a implementação de testes estatísticos, por meio de uma base de dados construída no software SPSS, tratamento imagético e a implementação de um SIG (Sistema de Informações Geográficas), foi possível a determinação de 13 padrões de apresentação gráfica. Esses entendidos como padrões de representação que corresponde a certas características culturais, representados por diferentes atributos que podem ser trabalhados em termos de semelhanças e diferenças. Além de se apresentarem específicos para a área de pesquisa, evidenciam características próximas aos já determinados para a região Nordeste. As representações antropomórficas encontram-se restritas à rede de drenagem do Rio Paraíba, localizadas em áreas com altimetria elevada e próximas a fontes hídricas, com concentração maior em dois sítios – Cacimba das Bestas IV (64 figuras) e Roça Nova (17 figuras). Na microbacia do Rio Monteiro não foi evidenciado nenhuma representação antropomórfica, o que pode denotar preferências de inserção no ambiente.

Os grafismos rupestres da Lapa do Caboclo: relações diacrônicas e inserção no contexto regional

Raíssa Baldoni Alves (Universidade Federal de Minas Gerais)

As pesquisas da arte rupestre da região de Diamantina tiveram início em 2003, com o objetivo de construir um quadro cronoestilítico regional. Para tanto, nossas análises focaram-se em como os grafismos foram concebidos e nas sobreposições entre eles, observando elementos como atributos gráficos, temática, elementos técnicos, graus de pátina e outras alterações no suporte, comportamento no interior dos sítios e escolha de quais sítios grafar. A partir dessas primeiras análises, foram definidos quatro conjuntos estilísticos para os grafismos da região. A Lapa do Caboclo de Diamantina é um abrigo formado a partir da queda de blocos do afloramento do qual faz parte. As populações pré-históricas que passaram pela lapa utilizaram vários suportes disponíveis para grafar; há pinturas nas paredes, no teto e em blocos caídos. O painel objeto desta pesquisa é, dentre todos os painéis e grafismos isolados do sítio, o que possui a maior quantidade de figuras e a maior densidade de sobreposições entre as mesmas. O presente trabalho integra as pesquisas realizadas até o momento na região e tem por objetivo fazer uma análise cronoestílistica

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dos grafismos rupestres do painel analisado no sítio a fim de compreender as relações diacrônicas entre eles.

Pesquisa fotográfica computacional no Sítio do Avencal 1, Urubici, SC, Brasil: um novo registro de arte rupestre com Mapeamento de Textura Polinomial (PTM)

Rafael Corteletti (UFPR)

Nesta comunicação serão apresentados os resultados de uma aplicação pioneira de Mapeamento de Textura Polinomial (Polynomial Texture Mapping - PTM) para o sítio de arte rupestre Avencal 1, localizado em Urubici, Santa Catarina, Brasil. Este grupo de painéis com inscrições rupestres é um dos maiores e mais famoso sítio deste tipo no planalto do sul do Brasil. Este estudo de caso é a primeira re-análise detalhada do sítio, uma vez que o local foi registrado há cinco décadas, e ele indicaclaramente que, com base no esboços originais, os resultados obtidos agora revelam detalhes significativos que até então tinham sido negligenciados. Foram reconhecidos vários novos aspectos dos painéis, até então não presentes nas publicações, e também discrepâncias entre as representações publicadas anteriormente e os painéis de inscrições. Através de um detalhado exame do novo álbum de imagens, foram hipotetizadas sequências de produção para alguns dos grafismos e detectado o uso de múltiplas técnicas de produção das inscrições. Será também exposta uma breve visão geral do processo de obtenção de imagens e do conjunto de dados produzido pelo projeto, que estão hospedados no Archaeological Data Service – ADS, um repositório de acesso livre (http://dx.doi.org/10.5284/1031218).

Pinturas e gravuras rupestres no Paraná: novos estudos nas paisagens ressignificadas

Claudia Inês Parellada (Museu Paranaense)

Novas pesquisas e tecnologias de documentação imagética vêm possibilitando caracterizar um grande mosaico com diferentes sociedades relacionadas à arte rupestre no Paraná, sul do Brasil. Foram descritos no Paraná, entre relatos de cronistas e estudos de diferentes pesquisadores, cerca de cento e cinquenta sítios arqueológicos com pinturas rupestres e vinte com gravuras, sendo que alguns possuem ambas as manifestações estéticas. Os sítios rupestres estão relacionados a variadas litologias e paisagens, ocorrendo dispersos por todo o Paraná. A maior concentração está em municípios dos Campos Gerais, junto a abrigos dos arenitos Furnas e Ponta Grossa. Novos estudos revelaram abrigos areníticos com painéis diferenciados, inclusive com mais de cem figuras humanas reunidos, e com representações de plantas cultivadas, como o milho. A documentação de sitios rupestres com mais de 300 gravuras em afloramentos em andesitos e basaltos no sudoeste do Paraná, em áreas arqueologicamente datadas, também contribuiu para revelar dados importantes em discussões balizadas pela arqueologia da paisagem. Assim, ampliou-se a revisão de dados sobre a arte rupestre no Paraná para buscar novas estratégias de pesquisa, inclusive com a utilização de métodos arqueométricos e diferentes recursos tecnológicos para a documentação de imagens e o monitoramento do patrimônio arqueológico.

Reflexões acerca do Complexo Estilístico Serra Talha, tradição Nordeste de pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara: uma revisão bibliográfica.

Gabriel Frechiani de Oliveira (Universidade Federal de Sergipe)

O Complexo Estilístico Serra Talhada é um estilo de pintura rupestre pertencente a subtradição Várzea Grande, tradição de Nordeste de pinturas rupestre localizado no Parque Nacional Serra da Capivara, região sudeste do Piauí. Este estilo foi delimitado inicialmente pela professora Niede

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Guidon em sua tese de doutorado em 1975. Esse estilo é considerado o mais complexo e heterogêneo, sendo de difícil identificação de suas principais características e tratado como uma categoria hipótetica. Ao longo de 40 anos, muitas pesquisas foram produzidas acerca da arte rupestre no local, focando em especial a tradição Nordeste. Destarte, o presente trabalho visa analisar a produção acadêmica acerca da temática, buscando os principais elementos identificatório deste estilo de pintura.

Seixos Gravados dos rios dos Cânions Josafaz e Salto da Serrinha

Hérom Silva de Cezaro (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS), Marlon Borges Pestana (UNESC)

No Brasil Meridional (SC, RS e PR) são registrados cerca de 90 sítios de arte rupestre, sendo que 60% deles encontram-se em blocos rochosos e 40% em abrigos. Com relação aos motivos rupestres constatou se que apresentam variadas formas e técnicas. Gravuras aparecem em todo o Brasil meridional contendo motivos variados desde geométricos a antropomorfos esquematizados classificados na Tradição Meridonal, subtradições Geométrica Meridional e Litorânea descritas por Prous (1992). Pinturas atualmente se conhecem apenas do Estado do Paraná, apresentando motivos naturalistas e geométricos da Tradição Planalto. O presente trabalho traz dados parciais de dois seixos gravados encontrados um no rio Serrinha do cânion de Salto da Serrinha, o outro encontrado no arroio Josafaz do cânion Josafaz, sua descrição, sua análise preliminar e uma primeira comparação com artefatos comparáveis da Bacia do Prata e com as gravuras do litoral Catarinense, próximo. As representações nos seixos são lineares geométricas, classificadas na Tradição Geométrica Meridional. São diferentes das gravuras encontradas em lajedos e blocos no litoral Catarinense, classificadas como subtradição Litorânea e são diferentes das placas gravadas comuns na Bacia Platina. Não temos referências para achados semelhantes no sul do Brasil nem no contexto em que eles apareceram. Destaca-se que esta pesquisa está inserida no âmbito de um projeto regional mais amplo, denominado “Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba” do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada do Território da Unesc.

Eixo Temático Arqueologia Pré-histórica - Sambaquis

Avaliação do Tamanho de Conchas: Análise de Materiais Faunísticos de Sambaquis do Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Lucas Santos Oliveira (Universidade Federal de Sergipe)

Os sambaquis são sítios arqueológicos que concentram inúmeros vestígios faunísticos, sendo o mais comum a Anomalocardia brasiliana, uma espécie de molusco bivalve, conhecida na literatura arqueológica como berbigão e que apresenta grande valor nutritivo e econômico para as populações atuais. Este vestígio malacológico está presente em grande abundância nesses sítios que se apresentam em forma de mounds e estão presentes por quase todo o litoral brasileiro. Concheiros nos dão importantes informações sobre como povos pré-históricos exploravam os recursos aquáticos. Pesquisadores sugeriram a possibilidade de superexploração dos moluscos em algumas regiões. Usando Claassen (1998) como referência, analisei a altura e o comprimento de valvas de A. brasiliana com o objetivo de identificar se existem indícios de superexploração desses recursos por parte dos construtores de dois sambaquis da região da Baía de Guanabara (Guapi e Sernambetiba), no estado do Rio de Janeiro, e do sambaqui da região Sul do litoral Catarinense (Garopaba do Sul), fazendo comparações dos aspectos temporais e espaciais de cada sítio.

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Com olhos de ver: algumas considerações sobre análises laboratoriais do material referente ao Sepultamento P.7 do Sambaqui Cabeçuda (campanha 2012)

Alejandra Saladino (UNIRIO e Museu da República)

Esta proposta relaciona-se ao desenvolvimento de nossas pesquisas no âmbito dos estudos da Cultura Material e da Antropologia Biológica a partir de um contexto específico: o sepultamento P.7 do sambaqui Cabeçuda. O material, recuperado na campanha de 2012 do projeto de pesquisa coordenado pelas Profas. Dras. Rita Scheel-Ybert e Claudia Rodrigues-Carvalho, refere-se ao sepultamento de um indivíduo de cerca de 7 anos de idade. Devido à dinâmica do trabalho de campo, optou-se por retirar o material em dois blocos. Tal metodologia possibilitou a análise do material em laboratório à luz de seu contexto. Dito de outra forma, pudemos observar com outros olhos alguns elementos que, em campo, poderiam ser considerados e tratados como material de sedimento. Objetivamos com a presente proposta refletir sobre a relação entre a metodologia aplicada em campo e a análise laboratorial do material na qual seja possível articular as informações do contexto. Os resultados preliminares de nossa análise indicam que a análise de material em laboratório realizada da forma em tela provê com maiores informações sobre o contexto os estudos voltados para a compreensão e interpretação dos contextos arqueológicos (em nosso caso, as práticas funerárias), bem como os direcionados para a análise dos processos pós-deposicionais e características morfológicas do material esqueletal.

Curadoria do material ósseo humano remanescente do Sambaqui Cabeçuda 01, Laguna/SC-Brasil

Leonardo dos Anjos Pereira (Unisul)

O Sambaqui Cabeçuda 01, localizado no município de Laguna/SC, foi escavado pelo Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (GRUPEP/UNISUL). No sítio foi realizado um resgate arqueológico na periferia do flanco oeste do sambaqui, afetada pela duplicação da BR 101, devido ao empreendimento de construção da ponte Anita Garibaldi em Laguna/SC. Na área escavada de aproximadamente 35 m², foram encontradas 23 estruturas funerárias (sepultamentos), material faunístico, lítico, vestígios de fogueiras, marcas de estacas, entre outros elementos que compunham o sítio. O objetivo desse trabalho é mostrar o processo de curadoria realizado em laboratório da seguinte forma: os esqueletos humanos passaram pelos processos de higienização, feito a seco, com auxílio de pincéis de cerda macia, evitando assim, a danificação dos ossos, que já se encontravam bastante frágeis; identificação dos fragmentos por estrutura anatômica; catalogação, detalhando a característica dos ossos de cada sepultamento; acondicionamento, os ossos foram envoltos em plásticos bolhas e acomodados em caixas de marfinite, mantendo-os conservados para futuras análises e consultas.

Estudo de estratégias pesqueiras: Sambaqui Mato Alto – SC

Robson Thauan de Jesus Silva (Universidade Federal de Sergipe)

Sambaquis são sítios arqueológicos construídos por grupos pescadores-coletores que iniciaram a ocupação da costa do país há cerca de 6.500 anos AP. Esses sítios são majoritariamente compostos por camadas ricas em vestígios faunísticos como conchas de moluscos e ossos de vertebrados, desse modo os sambaquis são de grande interesse para a Zooarqueologia. Estudos apontam que a dieta dos sambaquieiros era composta principalmente por peixes, e, portanto a atividade pesqueira era importante para estes grupos. Partindo do princípio que a pesca sofre forte influência por parte dos fatores ambientais e que a captação de recursos aquáticos, para um melhor aproveitamento, está limitada ao instrumental utilizado, podemos inferir que essa atividade tinha seus padrões

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regidos pelos mesmos. Essa pesquisa apresenta resultados das análises dos otólitos de corvinas e bagres com vistas a entender as estratégias de pesca utilizadas pelos construtores do sambaqui Mato Alto. Este sambaqui encontra-se localizado no litoral sul de Santa Catarina em região densamente povoada por grupos de pescadores-coletores. Através dos estudos de captação de recursos visamos entender a dinâmica e o comportamento desses grupos quanto à utilização desses recursos naturais.

Garopaba do Sul: Processo de formação do sítio por meio de análise de vestígios faunísticos

Mariana Dutra Della Justina (UFS)

O sítio arqueológico Garopaba do Sul, localizado no município de Jaguaruna, no litoral sul de Santa Catarina, chama atenção por suas grandes dimensões ainda nos dias de hoje, destacando-se na paisagem em meio às dunas. Com datações que passam dos 4 mil anos e muito afetado pela indústria de cal, acredita-se que no passado esse sambaqui já chegou a ter mais de 60 metros de altura (DeBlasis et al., 2007). O presente sítio arqueológico faz parte de um complexo regional estudado por diversas gerações de arqueólogos a partir de diferentes abordagens, que contribuíram para a construção de um retrato ambiental e cronológico da área. Tendo isso em conta, propomos o foco zooarqueológico sobre o Garopaba do Sul. Neste trabalho, analisamos amostras de dois perfis deste sambaqui coletadas em 1997. A partir da identificação e separação das espécies, pesagem e análises quantitativas e qualitativas dos componentes das distintas camadas, evidenciamos a importância dos vestígios faunísticos para entender seu processo de construção (Klökler et al, 2010).

Mato Alto: Zooarqueologia de um Sambaqui do Litoral Sul de Santa Catarina

Lycia Macley Dos Santos Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

Os sambaquis são os principais vestígios da presença de pescadores-coletores na costa brasileira. Os remanescentes deixados pelos sambaquieiros são basicamente de origem faunística e através das análises desses resquícios podemos estudar subsistência, paleoambiente, processo de formação de sítio e entre outros temas. O sítio objeto desta pesquisa é o sambaqui Mato Alto, localizado no sul do estado de Santa Catarina. O trabalho tem por objetivo realizar uma primeira discussão sobre o processo de formação do sítio fundamentada em análises do material faunístico. O sítio Mato Alto é composto principalmente por moluscos, incluindo berbigões, ostras e mariscos. Através das análises faunísticas é possível perceber uma alternância em relação à quantidade e proporção dos principais componentes das camadas. A partir da análise dos resultados preliminares obtidos, acreditamos que a formação do Mato Alto é diferenciada tomando como referência os outros já estudados na área sul de Santa Catarina. Essa pesquisa pretende contribuir com uma discussão sobre aspectos da formação de sambaquis, além de auxiliar na compreensão da dinâmica e a interação desses grupos sambaquieiros com recursos aquáticos.

Sítio Tenório: um exemplo do trabalho curatorial em ação no MAE/USP

Marisa Coutinho Afonso (USP - MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA), Jose Paulo Jacob (Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)

O processo curatorial é compreendido no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) como uma cadeia de atividades que envolve a formação das coleções pela coleta na pesquisa arqueológica de campo, documentação, conservação preventiva e comunicação

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museológica. O MAE/USP salvaguarda muitas coleções e desde a década de 1990 temos trabalhado com a organização e o gerenciamento dos acervos arqueológicos brasileiros e sua documentação associada. Esta documentação abrange diários de campo, plantas do sítio, fichas de análise dos vestígios, documentações cartográficas e fotográficas, relatórios, publicações, entre outros documentos. Como exemplo desta cadeia operacional, apresentamos as coleções do sítio Tenório, localizado no Município de Ubatuba, litoral norte do Estado de São Paulo, e objeto de pesquisa coordenada pelos Profs. Drs. Dorath Pinto Uchoa e Caio Del Rio Garcia (Instituto de Pré-História/USP). Seu estudo mais aprofundado fez parte da tese de doutorado da Profa. Dra. Dorath Pinto Uchoa, defendida em 1973. No trabalho curatorial desta coleção foram realizadas as seguintes atividades: organização dos vestígios arqueológicos (líticos, osteodontomalacológicos e faunísticos), conferência da numeração e dos vestígios com os cadernos de campo, medição, fotografia, armazenamento em sacos plásticos zipados e com fragmentos de placa de ethafoam para proteger as peças, identificação dos sacos e acondicionamento em caixas plásticas na Reserva Técnica do MAE. A documentação associada está sendo organizada para seu acondicionamento na Reserva documental do MAE; no caso da documentação fotográfica, estão sendo realizados o escaneamento dos slides/diapositivos e a identificação dos slides e fotografias. A curadoria das coleções arqueológicas do sítio Tenório faz parte de um projeto mais amplo de organização e gerenciamento do acervo do MAE/USP com uma equipe composta por docentes, técnicos, estudantes de pós-graduação e graduação.

Eixo Temático Arqueologia Pública

(Re) Construindo o Patrimônio Cultural de Umbaúba - Sergipe, Brasil.

Roberval de Santana Souza Junior (Contextos Arqueologia), Adriano Batista dos Santos (Universidade Federal de Sergipe - UFS), Jacyanne Nayara Mendes Carvalho (UFS)

Esta pesquisa surgiu dentro do Programa de Diagnóstico e Prospecção Arqueológica nas Áreas de Influência do Trecho de Duplicação da Adutora de Água em Tomar do Geru / Itabaianinha e Área da Barragem do Riacho Guararema em Santa Luzia Do Itanhy e Umbaúba, Sergipe. O trabalho visa identificar o patrimônio no município de Umbaúba/SE (localizado na região centro-sul do estado, há 98 km da capital Aracaju) através da multivocalidade, sendo realizadas conversas com a utilização de questionários semiestruturados com a comunidade tendo como objetivo apontar o que a população reconhece como seu patrimônio no município, partindo de uma perspectiva horizontal. Analisamos os discursos dessas conversas integralmente buscando a identificação das identidades, considerando também as reproduções de um discurso patrimonial verticalizado. Dentro da nossa amostra foram entrevistados 6 (seis) moradores, selecionados assistematicamente. Quanto aos resultados houve uma dicotomia, nos discursos dos moradores, percebemos sua identificação aproximada com o conceito amplo de patrimônio cultural, mas ao questionar diretamente sobre o que considerava como patrimônio, a resposta era direcionada a monumentos arquitetônicos que representam as elites. Esses monumentos indicados como patrimônio pelos entrevistados também corresponde ao antigo posicionamento de tombamento do SPHAN nos anos 1943-1944. É obrigação do arqueólogo ir além das entrevistas estruturadas que perpetuam a verticalização do patrimônio e analisar o discurso para construção de uma noção ampla patrimonial em suas pesquisas.

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Ações Educativas no Centro Cultural Jesco Puttkamer, Goiânia, Goiás.

Mariza de Oliveira Barbosa (INSTITUTO GOIANO DE PRE-HISTORIA E ANTROPOLOGIA - UCG), Anna Raissa Caetano Andrade (PUCGoiás)

O Centro Cultural Jesco Puttkamer (CCJP), fundado em 2002, tem por missão pesquisar, documentar, preservar e comunicar referências patrimoniais, mediante os acervos audiovisual, arqueológico e etnográfico do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), por meio de exposições, ações educativas, produção e divulgação do conhecimento científico. Este poster apresenta as ações educativas desenvolvidas no CCJP através de oficinas ludopedagógicas oferecidas ao público visitante. A maioria desse público são estudantes de escolas públicas (municipais e estaduais) do ensino médio e fundamental da cidade de Goiânia e de cidades do interior do Estado, principalmente, as localizadas no entorno da capital. A equipe de monitores que auxilia nessas atividades são graduandos do curso de graduação em Arqueologia da PUC Goiás.

Arqueocine: Cenas da Arqueologia no Cinema

Erick Cauann Marques Alencar (UFRN), Álvaro Giannini Alcântara Varela (UFRN), Isac Karon da Silva Andrade (UFRN), Thaise Gabriella de Almeida Rodrigues (UFRN)

O Arqueocine é um projeto de discussão cinematográfico visando apresentar a temática arqueológica como meio de desenvolver o ensino e aprendizagem, procurando problematizar a relação da arqueologia retratada no cinema e no meio acadêmico. O trabalho está vinculado ao Laboratório de Arqueologia/DEHIS/UFRN. O projeto constitui-se de sete exibições quinzenais, na qual cada projeção seguida de discussões busca incitar o diálogo entre os participantes, e em alguns momentos com a presença de um professor convidado. Ao final de cada exibição é realizada uma discussão aberta, seguida de um sorteio de um ou mais livros relacionadas com as temáticas discutidas. O objetivo do projeto é discutir a noção de um cinema isento da retratação de uma arqueologia colecionista, aventureira e romântica, procurando por meio das discussões problematizar conceitos e construir um novo olhar. Os filmes trabalhados foram: Pergaminho Fatídico; Morte na Mesopotâmia; Indiana Jones e a Última Cruzada; Exorcista: O Início; Caçadores de Tróia; e As Aventuras de Tadeo Jones. O início das projeções foi a partir do dia 27 de março terminando em 12 de junho. Cada película exibida suscita uma discussão específica acerca do desenvolvimento arqueológico ao longo da história e como são representadas as mudanças científicas através do mundo fictício do cinema. Os filmes retratam a cultura material, métodos de pesquisa, e a linguagem comportamental de cada época. Em suma, conclui-se que o projeto discute os seguintes aspectos: que a produção cinematográfica não retrata a arqueologia em si, mas que a mesma é colocada como tema, como personagem ou como cenário, isto é, a arqueologia como centro de um filme. Além disso, é possível treinar o olhar para a percepção dos elementos que são colocados em evidência quando o assunto é arqueologia e que o cinema possui sua própria linguagem retratando por vezes aspectos da arqueologia ou da sociedade que a produz.

Covão do Jaburu : Memoria ameaçada

Árlon Facynek de Oliveira Carvalho (Universidade Federal do Piauí), Sonia Maria Campelo Magalhães (Universidade Fedral do Piauí - UFPI)

A pesquisa a que se refere este projeto tem como objeto de estudo o sítio Covão do Jaburu, também conhecido como Covão da Aroeira. Pretende-se, com a pesquisa, mostrar a alta relevância do sítio e propor o salvamento das gravuras através do mapeamento e documentação por imagem,

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criando um banco de dados sistematizado, uma vez que a tendência é o sítio desaparecer com a inundação, proveniente construção de uma barragem no Poti, rio do qual o Riacho do Covão é afluente estando dessa forma justificada a realização da pesquisa ora proposta. O objetivo principal do estudo consiste no levantamento, documentação e caracterização do sítio, destacando-o como “lugar de memoria” “(NORA,1993)”,este plano pretende discutir também o conceito de “Memória Coletiva”, como proposto por Halbwachs, pois os registros se configuram como a materialização do cotidiano social e cultural de quem os executou, justificando a importância de sua preservação para as comunidades do presente e do futuro. O trabalho se divide em três partes. A primeira corresponde a um levantamento intensivo das referencias relacionadas ao tema (gravuras rupestres) .A segunda etapa consistirá na realização do trabalho de campo, para complementar o levantamento fotográfico já iniciado na graduação, também será efetuada a digitalização das gravuras por meio de um Scanner de mesa 3D. O cadastro das características das gravuras comporá um banco de dados, que pode vir a servir de parâmetro para a realização de pesquisas futuras em outros sítios. A aplicação de uma prática singular, proveniente da Gestalt enquanto técnica aplicada a pessoas, será tentada, com o intuito de compreender como se processa o entendimento da comunidade relativamente aos grafismos, a partir do que ela vê, empregando-se também os princípios de análise da técnica. Para a realização desse teste , se lançará mão do auxílio de um profissional da área de psicologia, que poderá direcionar melhor o teste.

Educação Patrimonial como Mediação do Patrimônio Cultural

Rafael Borges Deminicis (Museu Nacional - UFRJ)

Observa-se que os projetos de Educação Patrimonial vinculados ao licenciamento ambiental são geralmente limitados em termos de abrangência social, bem como em relação à continuidade. Entretanto, a limitação muitas vezes está no desperdício da oportunidade de uma simples construção de momentos de debate (principalmente com adultos) sobre o que existe em termos de valorização e preservação do Patrimônio Cultural (em especial, o Arqueológico), principalmente no nível local. Há, portanto, a necessidade de se promover espaços democráticos, onde o educador se coloque como mediador da informação sobre os patrimônios existentes e os expressos pelos participantes (jamais como “alfabetizador cultural”). Os debates organizados nessa linha podem se dar na promoção de dinâmicas (com grupos pequenos, entorno de 30 pessoas) de acordo com os seguintes passos: 1. Reconhecimento das diversas possibilidades de Patrimônio Cultural com a mostra de “Placas do Patrimônio” (inspiradas nas “Fichas de Cultura” de Paulo Freire) – conjunto composto por imagens de patrimônios da localidade, internacionais, imateriais, arqueológicos etc.; 2. Simulação de um trabalho técnico de registro de um patrimônio, em ficha especializada – feito em grupo (de até 5 pessoas) e com a eleição do patrimônio a ser registrado, escolhido por consenso entre os participantes; 3. Por fim, cada indivíduo recebe uma folha branca para que registre nela o Patrimônio que mais lhe tem valor, podendo expressar desde pertences individuais como bens culturais, que devem ser expostos em um “Varal de Ideias” (inspirado na prática do Varal de Lembranças, Rocinha, 1983). Durante o trajeto de preenchimento das folhas e a exposição no varal, desenvolve-se um ambiente de debate entre o educador e os participantes sobre o contraste entre as propostas mais individuais e as mais sociais, debate que acaba fluindo também entre os participantes.

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Patrimônio da Pirraça: das ruínas as memorias

Izabella Alvarenga Nunes (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS)

Santa Cruz de Goiás, cidade centenária com apenas 30 km de Cristianópolis. No início do século XX, segundo os historiadores, foi palco do acontecimento que se chama de ponto inicial do surgimento de Cristianópolis. Povoado protestante, foi criada com o objetivo de pregar e viver a “verdadeira” palavra de Deus, segundo a Bíblia, acolhendo apenas aqueles que estavam dispostos a professar verdadeiramente essa fé. A 40 km de Cristianópolis, encontra-se Bela Vista de Goiás, cidade que surgiu no contexto da mineração do século XIX, conta com uma forte tradição religiosa católica, que é fruto da época em que a religião (católica, no caso) era vinculada ao governo. Com objetivo de barrar o avanço do protestantismo em direção a Bela Vista, município recém-surgido, foi construído a Igreja de São Sebastião, também conhecida como Igreja da Pirraça, em 1930, na antiga Aldeia Aureliópolis, em uma área rural de Bela Vista de Goiás, fazendo do local um novo centro religioso. Hoje, o que resta no local, são apenas as ruínas de uma tradicional rixa cristã entre católicos e protestantes, a qual procurarei trabalhar, num primeiro momento, a memórias de antigos moradores, a analise de documentos e registros, com o objetivo de demonstrar seu valor históricos e a importância de sua preservação, enquanto patrimônio local.

Terra Preta em Santarém: Usos, Percepções e Apropriações

Edvaldo Pereira (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ)

Nosso trabalho procura analisar a percepção da população de Santarém (PA) sobre a ocorrência dos solos de terra preta arqueológica (TPA) na área urbana do município, bem como os usos, as apropriações e as interpretações oferecidas para esses solos gerados a partir de atividades humanas durante o período pré-colonial. Através de uma investigação prospectiva e observacional em canteiros de obras e em floriculturas, busca-se explicitar a ausência ou presença da noção de cultura material a respeito do tema entre os entrevistados. Foram visitados cinco canteiros de obras com intervenções no solo e registrada a presença de TPA, com ou sem a ocorrência de fragmentos cerâmicos, e duas floriculturas especializadas na transformação da TPA em adubo para plantios ornamentais. Nos dois casos foram entrevistados trabalhadores que lidam que esse solo no dia-a-dia e coletadas as mais diferentes visões e interpretações para o que consideramos vestígio arqueológico. Os depoimentos evidenciam a urgência de uma política municipal de gestão do patrimônio arqueológico e a necessidade de uma reflexão que aproxime a práxis arqueológica das pessoas, para uma nova percepção dos vestígios de uma história ainda pouco estudada, contada e conhecida pela população local.

Eixo Temático Arqueologia Subaquática

A abordagem zooarqueológica sobre remanescentes conquiliológicos do sítio litorâneo RS-LN-312: elementos taxonômicos para a composição de dados primários e aspectos na captação de recursos.

Suliano Ferrasso (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Jairo Henrique Rogge (INSTITUTO ANCHIETANO DE PESQUISAS)

A zooarqueologia é uma área de estudo que tem crescido notoriamente nas últimas décadas em diversos países, em escala global. A abordagem sob este tipo de enfoque requer elementos de diversas áreas do conhecimento, a exemplo de taxonomia, paleontologia, ecologia, antropologia, arqueologia etc. Desta forma este campo de atuação possui um caráter multidisciplinar, no qual

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estes conhecimentos se fazem fundamentais para abordar questões acerca do comportamento humano. Os remanescentes faunísticos depositados em sítios arqueológicos são o objeto de estudo neste campo de atuação. A análise destes remanescentes envolve a construção de dados primários, que fundamentalmente se traduzem na identificação de qual, ou quais, táxons estão presentes em uma dada amostra. Os dados secundários essencialmente se referem a aspectos ecológicos dos táxons, identificados primariamente. Estes aspectos vão servir de base para as interpretações sobre como interagiram homem/fauna, bem como podem evidenciar o contexto ambiental no qual este se inseriu. Sob este tipo de enfoque o objetivo nesta exposição é buscar a reflexão acerca da composição de dados primários, com base em critérios de taxonomia. No desenvolvimento deste estudo foram utilizados os remanescentes conquiliológicos do sítio RS-LN-312, uma ocupação litorânea datada em 3.050 A.P., que está localizada no extremo norte da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. A análise dos remanescentes buscou a identificação morfológica que fornecesse elementos diagnósticos na validação dos táxons. Os resultados obtidos evidenciaram um total de 27 espécies, entre Gastropoda e Bivalvia, identificados com base em caracteres morfológicos de suas conchas, descritos em bibliografias específicas. Com base nos resultados se busca inferir sobre aspectos relacionados a captação de recursos.

Arqueologia Subaquática no licenciamento ambiental de Terminal Marítimo: o uso do airlift.

Fabio Guaraldo Almeida (ERM Brasil Ltda)

A ERM Brasil, Consultoria ambiental, gerenciou estudos arqueológicos realacionados ao processo de licenciamento ambiental na área destinada a expansão de um Terminal Marítimo no Porto de Santos, município do Guarujá (SP). Uma das etapas dos estudos constituiu em um diagnóstico e prospecção de arqueologia subaquática. O principal objetivo desta etapa foi realizar uma técnica de sondagem para determinar se ocorre ou não a presença de patrimônio arqueológico na área submersa do arranjo náutico da ADA do empreendimento. A finalidade do poster é apresentar a técnica de sondagem utilizada com o auxílio do airlift na realização de poços-testes subaquáticos e os resultados obtidos nessa etapa, específica, e demais etapas dos estudos de arqueologia preventiva na ADA do empreendimento.

Vapor Pirapama: uma perspectiva museológica

Ialy Cintra Ferreira (UFPE), Ezequiel Sena do Nascimento (UFPE)

O presente trabalho objetiva o desenvolvimento de um circuito arqueoturístico do Vapor Pirapama, utilizando uma metodologia de musealização do patrimônio submerso, que ressalte os vieses turístico, histórico, arqueológico e cultural, com ênfase em alguns aspectos da Arte Naval do naufrágio. Os procedimentos metodológicos envolvidos são: pesquisas bibliográficas, de materiais e imagéticas pertinentes ao assunto. Em se adotando esse sistema pelo setor turístico, acreditamos que este não deixará de cumprir seu papel voltado para o entretenimento e ainda agregará valor ao patrimônio cultural subaquático da cidade do Recife.

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“Ai Como é dura à vida da Pescadora”! Da pescadora? A presença da mulher na pesca artesanal de Sergipe.

Jane Viana Almeida de Carvalho (Universidade Federal de Sergipe), Márcia Vieira de Melo (Universidade Federal de Sergipe)

Segundo DIEGUES, 1998, enquanto o lar é domínio da mulher e da família, o barco é um lugar masculino no qual não se admite a presença feminina, pois são portadoras de má sorte. Sendo assim, é comum o discurso de que o homem é o pescador e a mulher a marisqueira. No entanto, essa não tem sido a realidade no país. A mulher a cada dia tem se destacado nesse ramo de na atividade inclusive na liderança de suas comunidades. A pesca artesanal é hereditária e o papel da mulher é tão importante quanto o do homem, contudo pouco reconhecido. São mulheres que não estão somente preocupadas em sair do protagonismo, mas que tem orgulho do seu ofício. Não são apenas pescadoras, mas marisqueiras, provedoras do sustento do lar, condutoras de embarcações e que definem a pesca como sua identidade própria. No Estado de Sergipe, das 29 Colônias de pescadores existentes quatro são lideradas por mulheres, a de Amparo do São Francisco, Brejo Grande, Propriá e no Povoado Serrão em Ilha das Flores que além da Colônia de pescadoras possui uma Associação de Mulheres Pescadoras e Marisqueiras. Elas promovem encontros para discutir melhorias para a categoria, lutar por direitos iguais e pela preservação da arte de pescar de forma tradicional.

Eixo Temático Educação Patrimonial

A Relação entre as Escolas Públicas de Ensino Fundamental e o Sítio Arqueológico Engenho do Murutucu, Belém-PA

Sabrina Fernandes dos Santos (Universidade Federal do Pará)

Com o intuito de diminuir a distância criada entre a educação escolar tradicional e o cotidiano dos discentes do ensino fundamental das escolas públicas, este projeto visa a potencial utilização de fontes primárias de conhecimento, as Ruínas do Engenho do Murutucu, aplicadas a História e a Arqueologia para um entendimento mais abrangente da educação aplicada no ensino dos Estudos Amazônicos nas escolas localizadas no entorno do sítio arqueológico Engenho do Murutucu.

Educação para o patrimônio: a proteção dos bens arqueológicos do Vale do Jequitinhonha.

Thaisa Dayanne Almeida Macedo (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)

O presente trabalho traz parte das experiências obtidas pela equipe do LAEP/UFVJM em programas de Educação Patrimonial para crianças e adolescentes cursando a Educação Básica em Diamantina, MG. As atividades aqui apresentadas têm sido desenvolvidas na “Casa da Chica da Silva”, atual escritório do IPHAN/MinC, sendo que o quintal da residência está em processo escavação desde 2011. Com o advento das intervenções no quintal e a iminente necessidade de esclarecer as ações para a comunidade (bem como socializar o conhecimento), a equipe utilizou a oportunidade para cumprir as metas da pesquisa arqueológica em todo Vale do Jequitinhonha. O objetivo desta ação é: suscitar a compreensão da importância da pesquisa arqueológica regional e de seus resultados, não apenas para o conhecimento do modo de vida e cultura do passado, mas também como meio de valoração dos processos sociohistóricos, da ocupação e uso do espaço regional e das relações de diferentes grupos humanos com seu ambiente. Deve-se discutir com as comunidades que o patrimônio vai além dos tesouros coloniais e está concebido também pela arquitetura dos grandes casarões; pelos muros de pedra; fragmentos de louças ou de panelas de barros; por ferramentas de

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pedra associadas às ocupações pré-coloniais; pelas pinturas nas lapas, etc. Como parte das ações, elaboraram-se diferentes oficinas temáticas, em uma programação de aproximadamente duas horas de duração, além de visitas a exposição de bens arqueológicos regionais e da área que está em escavação. Os educadores, que acompanham os alunos, têm aprovado as ações, deliberando a importância dessas atividades como complemento para vários conteúdos tratados em sala de aula. Trata-se de um fato importante, uma vez que como prática educativa a EP deve ser contemporânea e percorrer todas as áreas do conhecimento. O Programa está em seu início uma vez que pretendemos sensibilizar o maior número de pessoas de maneira sistemática e contínua.

Educação Patrimonial: vivência e interação com a Arte Rupestre

Anne Karoline Mattos de Brito Souza (UNISUL), Paula Felipe (UNISUL)

A educação patrimonial objetiva expandir o entendimento dos aspectos que constituem o nosso patrimônio cultural, a interferência em nossa formação, memória e identidade. Esta ação processual é fundamental para valorização, proteção e preservação dos patrimônios históricos. Desta forma, apresentaremos uma oficina que foi realizada na X Semana dos Povos Indígenas, evento que ocorreu entre os dias 13 e 17 de abril de 2015, na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), desenvolvido pelo GRUPEP Arqueologia – Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia, visando um novo olhar sobre o patrimônio arqueológico Sul-Catarinense. Durante as diversas atividades desenvolvidas durante esta semana, realizou-se uma oficina sobre a Arte Rupestre Brasileira, esta por sua vez é visível em diversas formas e técnicas, presente em vários estados brasileiros, demonstrando hábitos e cultura dos povos indígenas. A oficina iniciou com uma palestra expositiva, abordando os processos e as metodologias utilizadas pelos povos indígenas na produção das diversas forma de arte rupestre. Em seguida, os próprios alunos produziram a tinta, logo após as equipes de estudantes se dirigiram a uma estrutura montada em uma sala, forrada de papel pardo, sem iluminação, assemelhando-se a uma caverna. Com suas tintas em potes, as equipes deixavam suas marcas ou aquilo que representasse seu cotidiano, conforme exposto anteriormente. O intuito de abordar essa temática de forma lúdica, faz com que os alunos pudessem interagir com o assunto com uma interface entre teoria e prática. A oficina atendeu aproximadamente 400 crianças, com idade de 06 à 14 anos, vindas de escolas do município e da região. A partir dessa experiência visualiza-se a relevância de processos de Educação Patrimonial que visem a formação do conhecimento sobre o patrimônio arqueológico brasileiro, através de métodos lúdico, interativos e significativos.

Em defesa do Patrimônio Cultural dos Ribeirinhos: Educação, Memória e Cidadania nas comunidades do Baixo Madeira

Natiele Pessoa de souza (Universidade Federal de Rondônia), Joice Loureiro Herminio Fernandes (Universidade Federal de Rondônia)

O programa de Extensão, ‘EM DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DOS RIBEIRINHOS: EDUCAÇÃO, MEMÓRIA E CIDADANIA NAS COMUNIDADES DO BAIXO MADEIRA, aprovado pelo Ministério da Educação visa trabalhar a valorização e a preservação do Patrimônio Cultural e identitário das comunidades ribeirinhas do Baixo e médio Rio Madeira, na região de Porto velho – RO, por meio da memória e das narrativas nos moradores locais. Cotidianamente estes moradores sofrem grande ameaça a sua identidade e sua tradição cultural, devido a grandes empreendimentos que vem ocorrendo na região, e a mais recentemente a devastação causada pela cheia do Rio Madeira nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2014. Assim, compreendemos que esta iniciativa contribui de maneira imprescindível para manter a dignidade humana e a resistência em manter vivo o modo de vida local, fortalecendo as identidades e valorizando a importância da cultura material e

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imaterial dos povos da floresta amazônica. O programa aborda a preservação dos costumes tradicionais dos saberes e fazeres locais, voltadas para a defesa destes patrimônios que objetiva a sua valorização e preservação considerando, o envolvimento afetivo dos moradores na identificação do seu patrimônio, numa perspectiva crítica e participativa. Com duração de dois anos o programa tem como resultados previstos, o inventário participativo dos patrimônios culturais das comunidades, exposições, seminário, e rodas de memórias, curso de formação para professores, curso de capacitação com os jovens da comunidade, simpósios e materiais didáticos, a difusões de todas essas atividades realizadas, estará contido no caderno educativo e no caderno do Inventário, que contará com o registro de fotos e narrativas da própria comunidade. Tendo como áreas de concentração em arqueologia, museologia, patrimônio e memória social pretende-se deixar para a comunidade o Museu Ribeirinho, em Nazaré, composto pelas narrativas, documentos e acervos afetivos.

O “despertar” do Patrimônio Cultural através da Educação Patrimonial: o caso do Sertão Paraibano

André Luis Silva Feitosa (Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE)

O Sertão paraibano é uma área cuja ocupação humana pré-histórica é bastante recuada e sua colonização está associada à expansão pecuarista. Os vestígios deixados por esses povos vêm sendo identificados através de pesquisas arqueológicas, referentes ao licenciamento ambiental de obras de engenharia. Nas rodovias BR 405/PB (São João do Rio do Peixe e Marizópolis), BR 426/PB (Piancó, Santana dos Garrotes e Nova Olinda) e BR 434/PB (Uiraúna, Joca Claudino e Poço Dantas), foram desenvolvidos Programas de Educação Patrimonial. Esses programas têm como função, além de cumprir legislação específica, difundir o conhecimento científico. As atividades, executadas pela Arqueolog Pesquisas, abordaram temas sobre Arqueologia e Preservação do Patrimônio Cultural com alunos, professores, trabalhadores das obras e comunidades, por meio de exposição de material arqueológico e vídeos, distribuição de folders, troca de experiências e preenchimento de questionário avaliativo. Vale também mencionar as atividades multidisciplinares com profissionais das áreas de Arqueologia e Paleontologia no Povoado de Cabra Assada, município de São João do Rio do Peixe-PB. O trabalho vem confirmar a Educação Patrimonial como forma de difundir o conhecimento relativo ao Patrimônio Cultural, além de estimular a conscientização do público pela preservação e valorização dos sítios arqueológicos. A metodologia empregada consistiu na análise dos relatórios e demais documentos provenientes dos referidos projetos, além de socialização de informações com os profissionais envolvidos nos mesmos. Foram contemplados pelo projeto 16 instituições de ensino, comunidades lindeiras e funcionários da empreiteira envolvida nas obras. As atividades educacionais desenvolvidas vêm confirmar a importância da Educação Patrimonial nos estudos arqueológicos e no reconhecimento do Patrimônio Cultural local. Observou-se que as ações empreendidas despertaram uma nova perspectiva de valorização quanto ao Patrimônio Cultural local.

Vamos Somar – Para melhor Comunicar? HEMEROTECA Digital de Arqueologia – Lançamento

Maria Lucia Franco Pardi (Ministério da Cultura / Arqueologia Brasilis)

É fundamental refletir sobre a política de comunicação que tem sido desenvolvida pelos arqueólogos no diálogo com a sociedade, potencialmente a melhor e indispensável parceira. Para colaborar com este fim lançamos a Hemeroteca, no intuito de reunir virtualmente fundos e artigos dispersos para constituir uma base de referência para o setor. Este constitui-se o objetivo deste instrumento de memória para a arqueologia brasileira, que busca suas funções positivas (Halbwachs apud POLLAK 89:1). Visa tambem preservar a informação através da disseminação e ser fonte para a

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informação e a pesquisa.Constitui-se um dispositivo indispensável à nossa contemporaneidade informacional e inovação tecnológica Foi desenvolvida em infraestrutura digital para incremento exponencial da velocidade do acesso e disponibilização dos dados. Concluído o modulo interativo, a alimentação pode ser efetuada também de forma colaborativa. Pessoas físicas e jurídicas podem enviar as notícias publicadas na mídia relativas a suas atividades de forma a agregar cada vez mais valor e utilidade a esta base de dados de uso público e gratuito. Ela é a parte da midiateca do Instituto Brasilis e contém a mídia impressa e digital de jornais, revistas e sites e segue as orientações técnicas da Biblioteca Nacional Digital, adaptadas a seu perfil e necessidades especificas. Os artigos falam sobre arte rupestre, evolução humana, patrimônio cultural, gestão de patrimônio arqueológico, licenciamento ambiental, museologia, indigenismo, arqueologia subaquática, arqueologia da diáspora africana, paleoambiente,egiptologia, alguns sobre espeleologia e muitos sobre paleontologia cuja contribuição à área afim decidimos manter. A catalogação foi realizada em parceria durante o período de trabalho no Centro Nacional de Arqueologia – CNA / Iphan, com apoio de estagiários em 2009 e 2010. Os artigos físicos foram doadas para os arquivos desta instituição desde 2008. http://www.arqueologiabrasilis.com.br/arqueologia/

Eixo Temático Etnoarqueologia

Aldeia Maracanã: esboço de arqueologia contra-histórica

Gustavo Jardel Coelho (UFMG)

O trabalho é um estudo sobre os processos, as redes e os atores que formaram e conformam a Aldeia Maracanã, na cidade carioca, desde a construção do prédio do antigo Museu do Índio, no início do século XX, passando por 2006, quando a ocupação indígena do prédio começou, e 2013, quando a polícia militar do estado fluminense despejou as pessoas indígenas, até o futuro. Desejo esboçar as relações de materialização, territorialização e patrimonialização entre as pessoas indígenas, o prédio e o Estado: ensaiar sobre a “possessão” (Tarde, 1895) recíproca e simétrica entre as pessoas indígenas e o prédio e sobre a formação cotidiana, concreta e violenta do Estado sobre as pessoas e as coisas. Creio no prédio como uma coisa-chave que emerge na associação indígena, que emerge na ocupação do prédio, e no conflito com o Estado. Entre uma etnologia indígena e outra arqueologia pré-histórica, creio numa arqueologia contra-histórica como uma ação que se posicione na “partilha” (Clastres, 1968) colonial e moderna, entre pré-história e história, passado e presente, coisa e pessoa, campo e cidade, margem e centro, e se movimente contra o centro. Entre a etnografia arqueológica e uma arqueologia do presente, desejo uma arqueologia da e com a Aldeia Maracanã, das e com as favelas, das e com as ocupações, das e contra as cidades, do e contra o capitalismo, do e contra o Estado.

Análise da cerâmica arqueológica do Sítio Kwap: Procurando correlacionar a fase Aristé com os índios Palikur

Cristina Franciane de Sousa Brito (Universidade Federal do Amapá)

O presente projeto é um trabalho de Iniciação Científica, desenvolvido no Núcleo de Pesquisa Arqueológicado IEPA e financiado pela FAPEAP . O Projeto tem como objetivo analisar a cerâmica arqueológica oriunda do sítio Kwap, que está localizado na Terra Indígena Uaçá, Município de Oiapoque, no norte do Estado do Amapá, e analisar a relação dessa cerâmica com a fase Aristé. Segundo a história oral dos Palikur, esse sítio foi habitado por eles no século XVI, contexto da chegada dos europeus na região e momento de guerra do seu povo contra os índios Galibi. O sítio Kwap foi escavado em 2001 pelo arqueólogo Eduardo G. Neves. As escavações foram

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realizadas com a ajuda dos Palikur que ocupam atualmente o local, esse grupo indígena considera o sítio Kwap como o mais importante para a história oral da região, com a colaboração deles foi possível obter importantes informações sobre a história do sítio e levantar hipóteses sobre a relação existente entre a cerâmica Aristé e o povo que ocupa esse local atualmente. A minha pesquisa teve início com o levantamento bibliográfico sobre Arqueologia Brasileira e do Amapá, por conseguinte o estudo dos manuais de cerâmica arqueológica. As leituras auxiliaram na análise dos artefatos, que consistiu em obter o perfil tecnológico e morfológico do material por meio da quantificação e da reconstituição gráfica das formas. A Quantificação é o método no qual se faz a separação das partes constituintes dos vasilhames (Base, Borda, Corpo) e também do tratamento de superfície do artefato (cacos lisos, com pintura, com apliques, com incisões ou excisões). Este método visa obter um quadro geral da composição da coleção. A segunda etapa da análise visa obter a morfologia dos vasilhames, através dos perfis das bordas e bases desenhadas, e também são observados elementos tecnológicos, como a manufatura e uso das vasilhas analisadas. Os resultados parciais da pesquisa mostram que a cerâmica do sítio Kwap pode ser classificada como Aristé.

Os relatos de dois viajantes sobre a utilização do Paricá pelos Mura no Amazonas

Karen Lorena Freire Marinho (Universidade do estado do amazonas), Flávia de Oliveira Fernandes (Universidade do Estado do Amazonas)

O objetivo deste trabalho é analisar os relatos deixados pelos viajantes que adentraram na região amazônica. Possuindo variados interesses, tinham o fascínio pelos maiores números de registros sobre as características, sobre a fauna e flora local. As descrições voltadas para esses povos, apesar de terem sido feitas de maneira etnocêntrica pelos viajantes, são fontes de pesquisa que possibilitam uma aproximação imagética com o vivido naquele período histórico. Decidimos analisar dois viajantes, Paul Marcoy, que tinha a intenção de produzir um relato, em especial para os franceses, sobre suas aventuras no Novo Mundo e Henry W. Bates com o objetivo de estudar a História Natural da Amazônia. Ambos produziram grande material etnográfico, nos quais decidimos destacar os registros sobre os indígenas Mura, conhecidos por serem belicosos e resistentes à expansão colonizadora. Dentre os hábitos relatados está o uso do paricá. Este é um conhecido rapé feito com sementes de algumas árvores, a Anadenanthera Colubrina, a Anadenanthera Peregrina e cascas de Virola. Tendo finalidade religiosa e ritualística, era aspirado através das vias nasais com instrumentos feitos com ossos de animais e/ou madeira, proporcionando efeito alucinógeno causado pela substância bufotenina, derivado da serotonina, agindo no córtex cerebral.

Eixo Temático Geoarqueologia

Apropriações da paisagem em Sergipe nos séculos XVII ao XIX: discursos sobre o ‘maravilhoso’ e o ‘medíocre’ na Vila de Santo Antônio e Almas de Itabaiana

Bruno Andrade Ribeiro (Universidade Federal de Sergipe)

No processo de colonização da América Portuguesa, o preenchimento de ‘vazios geográficos’ se constituiu em um dos focos para a efetivação do povoamento do território. Nesse contexto, um dos fatores que contribuíram para a abertura (ou não) de caminhos pela hinterlândia brasileira refere-se ao imaginário permeado por lendas sobre serras, lagoas e cidades perdidas repletas de tesouros escondidos. A pesquisa em pauta tem como proposta inicial, mapear indícios de roteiros sobre explorações mineralógicas, e demais processos de valorização do espaço, organizadas por viajantes e sertanistas portugueses e holandeses ao longo dos séculos XVII ao XIX, relativos ao território que corresponde atualmente ao Agreste Central Sergipano, identificados a partir de levantamento e de

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inventário de fontes primárias e secundárias. Uma proposta que se insere como um desdobramento do Projeto de iniciação científica “Das minas de prata a outros interesses: pensamento geográfico e geografia histórica de Itabaiana – fontes e temas relativos à formação de seu território nos séculos XVII ao XIX”. A análise dos primeiros resultados aponta para a possibilidade de examinar como os discursos sobre o ‘maravilhoso geográfico’ e o ‘medíocre’ podem ter contribuído na configuração de uma paisagem local, ora considerando o aspecto longínquo, isolado e perigoso das terras dos ‘sertões’; mas ao mesmo tempo, repletas de riquezas, cujas descobertas exaltariam as figuras de aventureiros, que desse modo, conseguiriam ‘honras e mercês’ exigidas, e, sobretudo, a empreitada colonizadora. Além do mais, mesmo sem comprovações sobre a existência de minerais preciosos, tais relatos podem servir de indicação para possíveis evidências de sítios arqueológicos históricos na paisagem. Conceito este visto não apenas como suporte de ocorrências materiais, mas também, como artefato, o que se delineia a partir da descrição de seus atributos naturais apreendidos e valorizados como recursos ao serviço da empresa colonial.

Arqueologia Espacial do sítio Olho D’água das Gatas Parelhas, RN: uma busca no entendimento da distribuição dos materiais intra-sítio.

Lucas Bonald Pedrosa de Souza (UFPE)

Este trabalho tem como objetivo a compreensão da distribuição dos materiais arqueológicos encontrados no Sítio Olho D’água das Gatas, utilizando-se para isso os conceitos da Arqueologia Espacial, no município de Parelhas, RN.O sítio localiza-se na Área Arqueológica do Seridó, a qual engloba os estados do RN e PB. Caracteriza-se por ser uma pesquisa em estágio inicial, e visa obter informações mais completas em relação a distribuição dos materiais intra-sítio, já que não houve estudos mais direcionados deles. Tem uma metodologia baseada na utilização de técnicas computacionais, como, o auxílio dos SIG (Sistema de Informação Geográfica), através do Software ArcGIS 10.1 e a criação de uma base de dados relacional, para melhor compreender a caracterização dos vestígios encontrados.

Medidas de resistividade elétrica nas proximidades da Igreja de Pedra de Mazagão-Velho, Amapá: Resultados Preliminares

Helyelson Paredes Moura (Universidade Federal do Amapá), Anastacio da Silva Penha (Universidade do Estado do Amapa), Jucilene Amorim Costa (Universidade Federal do Amapá), Marcus Vinicius da Costa Frazão (UNIFAP)

No século XVIII, por volta de 1769, colonizadores portugueses e escravos africanos vieram de Mazagão-Marrocos, situada ao Norte da África, até a região amazônica, instalando-se às margens do rio Mutuacá, na região Sul do estado do Amapá, fundando em 1770 a vila de Nova Mazagão - hoje vila de Mazagão Velho. O Trabalho de prospecção arqueológica realizado pela equipe do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, no entorno do povoado de Mazagão Velho, redescobriu a presença de ruínas de uma igreja construída em pedras, em meio à floresta. A metodologia de prospecção geofísica executada em sítios arqueológicos, com o propósito de mapear anomalias geofísicas associadas a artefatos ou feições arqueológicas, como vasilhas cerâmicas, alicerces de edificações, cavidades e antigos fornos, tem contribuído para a arqueologia na definição de locais mais apropriados para realização dos trabalhos de escavação. Com o objetivo de mapear feições arqueológicas históricas em subsuperficie, empregou-se o método de resistividade elétrica nas proximidades da igreja. O método se baseia no fato de que materiais enterrados, rochas e alterações no substrato geológico, em função de suas composições mineralógicas, texturais e disposições, apresentam a propriedade de resistividade. O contraste entre as resistividades dos alvos arqueológicos e o meio envolvente viabiliza a utilização do método como forma de investigação arqueológica. Nos ensaios de campo, utilizou-se a técnica de

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imageamento elétrico 2D, através do arranjo de eletrodos dipolo-dipolo, com espaçamento entre os eletrodos de 1m. As medidas de resistividade elétrica, dispostas em seções e mapas, possibilitaram mapear zonas altamente resistivas, com valores acima de 1900 Ω.m, que podem estar relacionadas a alicerces de construções históricas. Os resultados são promissores na indicação de pontos de escavações arqueológicas para aferir a existência desses alicerces.

Perspectiva Geomorfológica do Sítio PA-AT-316: BOA ESPERANÇA II (PA)

Victor Geovani Fernandes Carréra Brasil (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)

De caráter preliminar ao subprojeto “Panorama geomorfológico do sítio Boa Esperança II, Carajás”, vinculado ao PACA (Projeto Arqueológico Carajás), o sítio arqueológico está localizado na margem direita do rio Sossego à esquerda da sub-bacia do rio Parauapebas (tributário do rio Itacaiúnas). O estudo tem como finalidade propor hipóteses sobre as ocupações mais antigas de caçadores-coletores nos meandros abandonados ou sob a influência dos mesmos. É notório perceber que a dinâmica fluvial interfere no relevo e pode interferir nos padrões de ocupação na margem do rio, variando no espaço geográfico em períodos distintos de tempo, segundo o clima, índice pluviométrico e fenômenos climáticos em larga escala. Devido ao grande potencial da área de estudo, é bastante provável encontrar cultura material submersa que talvez comprove ocupações muito mais antigas do que as populações agricultoras ceramistas identificadas na área. A partir da leitura geomorfológica do terreno será possível compreender e identificar os nichos de ocupação humana na margem do Sossego e nesse contexto entender como a hidrografia exerce parâmetros de ocupação na formação desses ambientes culturais. Para elaboração da pesquisa foi realizado levantamento bibliográfico sobre a geomorfologia da região, relatórios de campo do projeto e uma pesquisa in situ para compreender em última instância a paisagem e a interação do homem com meio abiótico. Assim tornou-se possível, através da leitura da paisagem, indicar prováveis sítios ocultos pela dinâmica terrestre.

Relação entre processos erosivos em zona de depleção de reservatórios hidrelétricos e registros arqueológicos: O estudo de caso da UHE Capivari-Cachoeira – PR.

Manoella de Souza Soares (Universidade Federal do Paraná), Laercio Loiola Brochier (UFPR)

Esta pesquisa insere-se na dissertação de mestrado desenvolvida pela primeira autora e compreende a análise de variáveis e modelagem dos impactos a sítios arqueológicos existentes na zona de depleção do reservatório da UHE Capivari-Cachoeira–PR. Pela instalação ser anterior ao Conama 86, apresentar variações no nível do reservatório e ser objeto recente de levantamento arqueológico, possibilitou análises hidrogeomorfológicas e geoarqueológicas que propiciassem uma melhor compreensão dos agentes de alteração do registro arqueológico. Os principais dados constaram das variações anuais no nível de água na faixa de depleção, a geometria do reservatório, a ação das ondas e correntes junto às margens, as características do substrato, declividade e a formação de pequenas drenagens de ordem zero em momentos de precipitação. Além disso, foram utilizadas informações sobre o estado de conservação de sítios arqueológicos identificados na área. Os principais resultados compreenderam o uso de modelagens topográficas e de estimativa de onda para o reservatório, possibilitando estimar valores de erosão no perfil na zona de depleção, sendo este resultado correlacionado com dados de levantamento arqueológico anterior, observando-se ótima coerência entre os relatos de alteração do registro arqueológico e do potencial erosivo indicado. Os processos erosivos, especialmente os gerados ou potencializados pela ação das ondas, foram então estimados e se identificou a remoção de camadas de solo nas margens na ordem de dezenas de centímetros, com evidentes consequências sobre o contexto deposicional e estratigráfico de sítios arqueológicos potencialmente existentes para essa zona. A compreensão dos

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processos atuantes nestas áreas podem auxiliar nos estudos de interação paisagem x registro arqueológico; na definição de metodologias mais adaptadas as problemáticas específicas dessas zonas em futuros estudos, e na interpretação mais adequada de registros feitos em reservatórios já instalados.

Respostas de Resistividade Elétrica Aparente no Mapeamento de Alicerces da Antiga Igreja de Pedra de Mazagão-Velho

Helyelson Paredes Moura (Universidade Federal do Amapá), João Pereira da Silva Neto (Secretaria de Estado da Educação), José Reinaldo Cardoso Nery (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ), Silamar da Silva Santos (Secretaria de Estado da Educação), Wellington da Silva Santos (Secretaria de Estado da Educação)

A propriedade elétrica de resistividade elétrica dos materiais naturais ou antrópicos pode orientar a Arqueologia para obter conhecimentos acerca de estruturas arqueológicas presentes em subsuperfície, como alicerces de edificações, estradas e antigos fornos. Neste trabalho três ensaios de campo, do tipo imageamento elétrico, foram executados ao redor das ruínas da antiga igreja de pedra, localizada na Vila de Mazagão Velho-AP, na busca de anomalias de resistividade elétrica aparente associadas a alicerces de construções. A interpretação qualitativa das seções de resistividade possibilitou concluir que a resistividade elétrica é sensível à presença de alicerces de muros e paredes, sendo possível inferir as posições dos limites laterais da igreja de pedra. Com a investigação, identificou-se que em meio natural predominantemente argiloso, as anomalias de resistividade relacionadas aos alicerces são em forma de V invertido, em concordância com a literatura geofísica. Os resultados alcançados sugerem que na posição de medida 15,5 m do perfil-3, seja um ponto para futuras escavações arqueológicas, com o objetivo de averiguar a presença de um alicerce de parede presente atrás do altar-mor.

Eixo Temático Musealização da Arqueologia

Conservação Preventiva aplicada à arqueologia: o caso da reserva técnica do LEPAARQ-UFPEL

Paula de Aguiar Silva Azevedo (Universidade Federal de Pelotas), Julia Xavier Barros (UFpel), Karen Velleda Caldas (UFPEL), Veronica Coffy Bilhalba dos Santos (UFPEL)

O Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas – LEPAARQ/UFPel está passando por uma revisão e adequação do acondicionamento de sua reserva técnica, bem como está desenvolvendo um banco de dados sobre as coleções arqueológicas. Tais informações são o ponto de partida de um registro histórico do comportamento dos materiais constituintes do acervo, possibilitando subsídios para que sua conservação esteja em contínuo estudo. Lidar com acervos de tipologias variadas e em constante crescimento é um desafio não só para os gerenciadores, mas para toda a equipe implicada em sua preservação. A conservação preventiva é uma forma sensata de lidar com o grande volume e contínuo crescimento dos acervos. Para isso é necessário clareza quanto às características, necessidades, contexto e especificidades de cada material, informações que podem ser obtidas através de um diagnóstico acurado, uma vez que este tipo de investigação permite observar os principais agentes de deterioração ativos no acervo e identificar peças que se encontrem mais fragilizadas, necessitando de cuidados específicos ou ações pontuais. Partindo-se da abordagem ambiental, verifica-se que, dentre os grandes desafios enfrentados nas ações de conservação, estão aqueles relacionados à quantidade de materiais das coleções e sua variedade tipológica bem como a relação destes com o ambiente de guarda. Sendo assim, como desenvolver uma metodologia no diagnóstico que alcance toda essa multiplicidade?

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As condições de uma reserva técnica nem sempre são as ideais, entretanto é indispensável a observação dos materiais, pois mesmo em condições adversas, as coleções podem se apresentar estáveis. Esse trabalho prevê a recolha desses dados tanto através do desenvolvimento de fichas técnicas adequadas ao acervo, diagnóstico de suas coleções, bem como da associação dessas informações com os dados obtidos no monitoramento do ambiente da reserva técnica.

Labarq - Laboratório de Arqueologia Geoambiental de Itapeva-SP: trajetória em busca da preservação do patrimônio arqueológico no sudoeste paulista

Silvio Alberto Camargo Araújo (CEETEPS- Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza)

O pôster aborda a trajetória, criação e as primeiras etapas de constituição e trabalho do Labarq - Laboratório de Arqueologia Geoambiental de Itapeva, situada no sudoeste do estado de São Paulo, bacia superior do Paranapanema. O Labarq representa a consolidação do município como mais um polo de pesquisa arqueológica da bacia do Paranapanema do lado paulista, pois, une-se no médio Paranapanema, com o município de Piraju através do Centro Regional de Arqueologia Ambiental “Mario Neme”, extensão do Museu de Arqueologia da Univerisdade de São Paulo (MAE/USP), e aos municípios de Iepê, com o Museu de Arqueologia de Iepê (MAI) e Presidente Prudente com o Laboratório de Arqueologia Guarani (LAG) da FCT/UNESP, estes no extremo oeste do estado. Seu acervo conta com fragmentos e artefatos líticos que abrangem desde os primeiros testemunhos de ocupação humana na região como os grupos caçadores coletores, vasilhas de grupos ceramistas agricultores e da expansão da sociedade nacional, em especial, o contato interétnico, chegando-se ao final do século XIX. Também estão presentes em seu acervo artefatos bélicos das Revoluções de 1930 e 1932 encontrados em trincheiras dos campos de batalha da região sudoeste paulista doados na década de 1980 por populares para a prefeitura municipal.Contabiliza-se mais de 7.600 peças em seu acervo que pode ser considerado multicultural e multitemporal. Atualmente, o Labarq e o Museu Histórico de Itapeva estão sediados no Complexo Cultural Newton de Moura Müzel no centro da cidade de Itapeva, contando com três curadores legalmente constituídos, um técnico em arqueologia permanente, reserva técnica, inventário consolidado, bancadas de exposição e de tratamento para materiais arqueológicos, além de receber estudantes dos vários níveis de ensino e população.

Parques Históricos Da Região Metropolitana Do Recife: Uma Análise Dos Macroprocessos Da Gestão Do Patrimônio Arqueológico

Cassia Kelly Maria da Cruz (UFPE)

Essa pesquisa desenvolvida na área da Gestão do Patrimônio Arqueológico contemplará um estudo acerca da influência da arqueologia nos processos de tombamento nos parques históricos na região metropolitana do Recife, além de um diagnóstico dos macroprocessos da gestão do patrimônio arqueológico nestes lugares de memória. O objeto dessa pesquisa são os parques arqueológicos tombados da Região metropolitana do Recife: Parque Nacional dos Guararapes, Parque Arraial Novo do Bom Jesus e Parque Arraial do Bom Jesus (Sítio Trindade) e o Parque Metropolitano Armando Cavalcanti. A partir de estudos preliminares podemos sugerir que o elemento arqueológico não foi considerado nos processos de tombamento, o que nos leva a questionar o porquê do elemento histórico ser fator predominante nestes processos de proteção do patrimônio. O que nos instiga a questionar quais são os fatores de influência na lógica do tombamento.

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Propondo diálogos entre Arqueologia e Museologia para o tratamento de Acervo Arqueológico

Alberto Luiz de Andrade Neto (UFSC), Luciane Zanenga Scherer (MArquE/UFSC)

Neste trabalho apresentamos os resultados de dois projetos de curadoria emergencial desenvolvidos no Museu de Arqueologia e Etnologia Oswaldo Rodrigues Cabral, MArquE/UFSC e no Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr”, Colégio Catarinense. O objetivo desse projeto constituiu-se na elaboração e execução de estratégias para acondicionamento, armazenamento e documentação de parte do acervo arqueológico dessas instituições. Desta forma, foi realizada pesquisa bibliográfica para o desenvolvimento de métodos para a execução do tratamento destes materiais, elaboração de fichas e etiquetas, além de revisão da documentação de campo e laboratório relacionada ao acervo. O processo curatorial compreendeu a higienização mecânica, a identificação, a organização, o acondicionamento e o armazenamento do material arqueológico, além da elaboração de catálogo contendo informações relacionadas ao sítio arqueológico, ao pesquisador/doador, a tipologia do material, bem como outras observações. Como as instituições museológicas são, por natureza, interdisciplinares, foi necessário o diálogo entre diferentes áreas para que chegássemos a resultados satisfatórios. Portanto, foi fundamental o compartilhamento de conhecimentos entre Museologia e Arqueologia para a construção de uma linha de pensamento eficiente. Chegamos ao resultado de materiais adequadamente acondicionados, armazenados e documentados, facilitando o acesso à pesquisa.

Eixo Temático Teoria e Método

A Comunicação Social como ferramenta para divulgação de pesquisas no âmbito da Arqueologia

Pedro Henrique Gonçalves Ferreira (UNISUL)

A pesquisa científica quando aliada a comunicação social tende a ter bons resultados, dando mais visibilidade a pesquisa em si e tornando a informação mais acessível ao público em geral. Tem o propósito de levar ao grande público, de maneira sucinta e com uma linguagem mais acessível, o entendimento e a compreensão do resultado da investigação. O grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia GRUPEP – Arqueologia da Universidade do Sul de Santa Catarina tem desenvolvido ao longo dos anos, uma série de pesquisas no sul do Estado de Santa Catarina, com enfoque na região litorânea. Este longo histórico de pesquisas possibilita a compreensão sobre a ocupação humana e sua interação com o ambiente. Este conhecimento ao longo dos anos gera uma série de discussões principalmente na comunidade acadêmica, porém, percebe-se o quanto a divulgação e interação com o público externo da academia é imprescindível. A comunicação social no grupo de pesquisa tem um papel fundamental, divulgar os trabalhos científicos desenvolvidos pelos pesquisadores, visando a valorização e principalmente a preservação dos sítios. Com esse processo contínuo de divulgação, a população local em contato com as informações, tendem conscientizar-se e sensibilizar-se sobre as ações humanas, reconhecendo as formas de interação e aproveitamento de recursos em diversos períodos históricos. Atualmente encontram-se disponíveis vários canais de comunicação, principalmente a internet. A utilização de redes sociais, aumenta por sua vez o acesso e divulgação dos estudos, despertando o interesse, assim como, aproximar a comunidade geral com as pesquisas acadêmicas.

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A Técnica de Flotação Associada à Arqueologia

Lucas de Camargo Costa (UNIVASF), Luíza Kow da Silveira Moraes (UNIVASF)

A técnica de flotação de sedimentos é utilizada para processar o solo, de forma que os sedimentos mais leves flutuem conforme o ar penetra o solo, e os sedimentos mais densos decantem. Os materiais flotados são coletados com uma peneira, passam para o processo de secagem, e vão para laboratório para serem analisados. O sedimento mais denso, é colocado para secar sob um papel mais grosso, e ao secar, é analisado à olho nú, e também com a lupa eletrônica conectada à um computador. O foco desta técnica na pesquisa arqueológica é recuperar os microvestígios, contextualizando a localização do sítio. Os possíveis materiais que podem ser encontrados utilizando essa técnica são divididos em duas categorias, os de fração leve podem ser carvão, fragmentos ósseos, material malacológico, sementes, e madeira, isto é, matéria orgânica em geral, enquanto os possíveis materiais de fração pesada são os microlíticos, e quando o sítio está em local no qual o solo já foi revolvido, também encontra-se fragmentos de vidro, plástico, metal, entre outros. O trabalho tem como objetivo mostrar a relevância da técnica de flotação no contexto arqueológico, tendo como base pesquisa de campo dentro da arqueologia preventiva e buscando outras referências bibliográficas.

Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga:breve histórico sobre a metodologia de manipulação, armazenamento e divulgação de informações arqueológicas

Regina Helena Rezende Bechelli (IPHAN), Rodrigo Prior Bechelli (Centro Universitário da FEI)

Este trabalho apresenta o processo de criação, desenvolvimento e organização do acervo de imagens, textos e termos do Labeca – Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (http://labeca.mae.usp.br). Também descreve a metodologia criada ao longo dos últimos 9 (nove) anos de projeto para a manipulação dos dados de acervos arqueológicos, pesquisa científica e toda documentação relacionada ao projeto temático. Atualmente o projeto conta com mais de 7000 (sete) mil imagens, 1100 referências bibliográficas, 53 publicações, um glossário com mais de 200 termos para a normalização das traduções de grego (aplicados em textos e traduções) e informações compiladas de mais de 170 cidades gregas sobre a temática do projeto. Toda a trajetória de organização e acesso ao acervo de dados referentes a cidades antigas reunido pelo Laboratório, desde a criação dos bancos de dados até sua migração para acesso em uma plataforma de internet, constitui uma maneira inovadora de manipulação de um acervo de informações relacionadas a pesquisa arqueológica. Um dos objetivos do projeto Labeca, alcançado por meio das ferramentas tecnológicas que foram desenvolvidas ao longo do projeto, foi disponibilizar as informações reunidas e organizadas em todos esses anos de pesquisa para acesso remoto, via intranet, para o grupo de pesquisadores que contribuem com o Laboratório. Para o público externo o Labeca atualmente fornece informações de todas as cidades pesquisadas via seu website, que é atualizado por sua equipe. O material sobre cidades disponibilizado no site do Laboratorio, que apresenta uma perspectiva atualizada a respeito da História e Arqueologia do mundo Antigo, tem sido usado por professores de todo o Brasil como referência nesse assunto para a preparação de suas aulas. Essas ferramentas tecnológicas, usadas com sucesso no caso do Labeca, podem servir para o manejo de outros acervos arqueológicos.

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Processo de identificação e prospecção do sítio "Cemitério dos Ingleses"

Ismael de Freitas Paiva (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Glaucia Dias Costa (UFRN), José Luiz Barbosa de Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

Este trabalho visa expor o processo de prospecção e identificação arqueológica realizado no bairro da Redinha, Natal/RN, pela equipe do Laboratório de Arqueologia/DEHIS/UFRN para atender a solicitação do ministério público do RN– Promotoria do Meio Ambiente para liberação da área para um projeto de construção de uma marina. Através da prospecção e identificação do material observado e recolhido, foi localizada uma antiga área, já referenciada como sendo “Cemitério dos Ingleses”, já citada nos escritos dos memorialistas, como Câmara Cascudo na obra “O livro das velhas figuras” e Lauro Pinto no livro “Natal que vi”. O objetivo foi identificar e prospectar a área delimitada no bairro da Redinha em vistas da construção de uma marina, e classificar os vestígios encontrados no local a fim de referenciar e legitimar a área como um sítio arqueológico histórico na cidade. O trabalho foi dividido em duas etapas: (1) a observação e delimitação da área, através da varredura por caminhamento alinhado e a posterior demarcação para prospecção sistemática, e registro dos vestígios arqueológicos, com demarcação de uma poligonal com coordenadas geográficas, na medida em que foram proferidas palestras sobre educação e preservação patrimonial arqueológica na própria área em prospecção, com as partes interessadas e membros da comunidade local; (2) a realização da prospecção sistemática na poligonal delimitada procedendo com a limpeza do local para sondagem e coleta de vestígios, bem como o registro fotográfico de todos os procedimentos de trabalho. Portanto, foi possível definir a área como um antigo local para sepultamentos e, por não se realizar coleta de restos mortais, foi inconclusivo a origem étnica dos eventuais corpos sepultados, e sim a presença de estruturas construídas para esse fim. A prospecção arqueológica foi elemento fundamental para a identificação e preservação do patrimônio arqueológico e da memória local.

Exibições Audiovisuais

"Arqueologia - Gestão de um Patrimônio Invisível: da Utopia á Realidade "

Maria Lucia Franco Pardi (Ministério da Cultura / Arqueologia Brasilis)

A partir de uma notícia transmitida pela Rádio Nacional, a 9ª Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN em São Paulo deu atendimento a uma descoberta fortuita. O documentário retrata todas as etapas do processo de gestão de patrimônio arqueológico efetuada em parceria entre a União e o Município, com apoio do Ministério Publico Federal, desenvolvido de forma educativa, participativa e inclusiva, durante mais de 10 anos. Foram realizadas pesquisas científicas em preservação como suporte às politicas publicas e pesquisas acadêmicas, subsidiadas pelos responsáveis pelo impacto. O empreendimento já estava em operação há mais de 20 anos e apenas com base na legislação cultural foi obtida a devida mitigação e compensação. O processo resultou na localização dos sítios arqueológicos da área, na elaboração do mapeamento das AIA – Área de Interesse Arqueológico, na criação da legislação municipal e do conselho de proteção. Foi criado e construído o Museu Municipal de Água Vermelha, para retorno do acervo à área de proveniência dos vestígios e uso destes bens como equipamento educativo e cultural.

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ENCANTES – histórias de Laranjal do Maracá

Cassandra Oliveira (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade-ICMBio), Lúcio Flávio Siqueira Costa Leite (IEPA)

Seu Raimundão guarda as memórias do trabalho que fez nas cavernas, transportando as urnas que tinham a “estatura de um cristão”. Sabá lembra que quando era criança via muitas “tigelas”, mas não sabia o valor que aquilo tinha. Dona Santinha fala do dono do “Buração” e dos encantados de um lugar “misurento”. Enquanto estes personagens contam suas histórias, memórias e lendas, a vida da comunidade de Laranjal do Maracá, no Amapá, se desenvolve mesclando a relação material com as cavernas, que estão no entorno da comunidade e que ainda guardam objetos arqueológicos, e a reprodução simbólica dos seres encantados que habitam estes lugares sagrados.

"Histórias, Comunidades e o Rio - Um Breve Panorama do Patrimônio Cultural do Xingu"

Marcelo Mattos de Medeiros (PANAMERICA FILMES PRODUÇÕES CINEMATOGRAFICAS LTDA)

A partir dos grandes fluxos migratórios do séc. XX na região de influência da UHE Belo Monte, esse documentário mostra a composição do patrimônio cultural gerada pelos milhares de homens e mulheres que deixaram seus locais de origem e migraram para a região do Rio Xingu. O encontro com os habitantes locais, como ribeirinhos e indígenas, e o choque entre culturas diferentes gerou um panorama cultural único e extremamente rico. O registro das comunidades tradicionais, ofícios seculares, saberes regionais e celebrações religiosas são a estrutura central desse filme.

Imagens de Gurupatuba

Fernando Segtowick Gomes Cardoso Junior (MARAHU FILMES)

Vídeo-documentário produzido para a exposição "Visões - A Arte Rupestre de Monte Alegre" que mostra os principais sítios arqueológicos do Parque Estadual Monte Alegre, no Oeste do Pará, além de entrevistas com pesquisadores sobre a história, formação geológica e arqueológica da região.

Os Mestres da Maré: Registro da Construção Naval Sergipana – Ep. 01: Mestre Passos, São Cristóvão/SE.

Luis Felipe F.D. Santos (Universidade Federal de Sergipe), Felipe Neves da Silva (Universidade Federal de Sergipe)

Os Mestres da Maré é uma série em formato de documentário que explora o universo da construção naval no estado de Sergipe através da abertura de um diálogo com seus mestres navais. Abordaremos em seus episódios aspectos como a transmissão desse conhecimento técnico, que atualmente corre risco de desaparecer, os tipos tradicionais de embarcações sergipanas, as mudanças ocorridas no universo náutico, entre outros. A série está sendo desenvolvida pela equipe do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos da Universidade Federal de Sergipe. Em nosso primeiro episódio apresentaremos o Mestre Passos da cidade de São Cristóvão, mostrando a sua versatilidade com o trabalho em madeira e um pouco da sua história.

Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de intervenção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, Rio Xingu, PA.

Marcelo Mattos de Medeiros (PANAMERICA FILMES PRODUÇÕES CINEMATOGRAFICAS LTDA)

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O Programa de Arqueologia Preventiva vem sendo realizado pela equipe de arqueólogos da Scientia Consultoria, desde 2010, com o objetivo de identificar e resgatar os bens arqueológicos existentes nas áreas afetadas pela UHE Belo Monte. O estudo e a preservação dos bens arqueológicos é uma exigência legal para o licenciamento ambiental de empreendimentos que podem, potencialmente, interferir no patrimônio arqueológico de uma região. Desta forma, o Programa de Arqueologia Preventiva da UHE Belo Monte busca evitar que o empreendimento destrua bens que constituem o patrimônio arqueológico nacional numa região estratégica para o conhecimento da pré-história da Amazônia.

Turma, hoje tem arqueologia!

Irislane Pereira de Moraes (Universidade Federal do Amapá), Luan de Souza Macedo (Instituto Brasileiro de Pós-graduação), Queiton Carmo dos Santos (Universidade Federal do Amapá)

A arqueologia no Amapá, em meio a um processo de transformação constante das paisagens amazônicas, tem vivenciado novas experiências e estudos. Apesar disso, ainda é um desafio a socialização do conhecimento arqueológico. Nesse ínterim, a comunidade acadêmica, institutos de pesquisas e a sociedade, devem buscar caminhos e um novo olhar acerca da profissão do arqueólogo, do ensino de arqueologia, e dos rumos da pesquisa arqueológica na Amazônia. Este documentário tem como finalidade apresentar os relatos de discentes e pesquisadores sobre o conceitos básicos de arqueologia, possibilidades interdisciplinares de pesquisa, vivencias pedagógicas extraclasse, sejam durante vistas à laboratórios ou a sítios arqueológicos em escavação.

Vídeo “Brincado com o Passado no Museu” (Processo CNPq 405969/2013-9)

Emília Mariko Kashimoto (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/PROPP)

Considerando-se que a exposição de longa duração do Museu de Arqueologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MuArq) já recebeu mais de 15 mil visitantes desde sua inauguração em 2008, especialmente alunos do ensino médio e fundamental, a produção desse vídeo objetivou atingir uma meta estratégica estabelecida para esse Museu: a difusão e popularização do conhecimento arqueológico regional, especialmente junto ao público composto por alunos do ensino fundamental e por portadores de necessidades especiais auditivas. O vídeo “Brincando com o Passado no Museu” foi produzido em animação digital (com linguagem em libras) para estimular a satisfação da descoberta do passado humano, praticando-se a transversalidade dos temas, conforme preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, preparando os visitantes para as atividades subsequentes no Espaço Lúdico-Pedagógico do MuArq, ou seja, a prática de escavação arqueológica em ambiente que reproduz um sítio arqueológico, além da elaboração de desenhos e pinturas. As etapas de produção do vídeo abrangeram: seleção das peças e procedimentos, elaboração do roteiro, realização do vídeo (produção das imagens gráficas, ou seja, animação digital), sonorização do vídeo, produção da linguagem de sinais - Libras (filmagem com locação de estúdio, edição) e autoração do DVD máster. As atividades foram desenvolvidas por: Emília Mariko Kashimoto (coordenação científica e produção executiva) Ara de Andrade Martins (coordenação de produção e roteiro), Gilson Rodolfo Martins (consultoria científica), Elvis Martins (animação), Wanick Correa Flores (cenários), Leandro Sosi (trilha sonora), Gilliard Bronner Kelm (tradução e interpretação de libras). Este audiovisual foi elaborado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - Brasil, por meio do projeto “Socialização do conhecimento científico no Museu de Arqueologia da UFMS: elaboração de vídeo em animação digital (com libras) para o Espaço Lúdico-Pedagógico”, aprovado no Edital MCTI/CNPq/SECIS Nº 90/2013 e implementado no Processo CNPq nº 405969/2013-9.

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2ª Reunião da SAB Centro Oeste 2013 em Brasília

Maria Lucia Franco Pardi (Ministério da Cultura / Arqueologia Brasilis)

resenha fílmica reuniao realizada pela SAB Centro Oeste

Lançamento e Venda de Livros

Arqueologia de Gênero

Karla Maria Fredel (UFPEL - RS)

Autora: Karla Maria Fredel 1°edição HABILIS EDITORA

As Aventuras de Sophia

Kelli Bisonhim (Sophia Patrimônio Cultural)

Kelli Bisonhim Ano 01 - Nº01 - Maio 2015 Sophia Patrimônio Cultural

É Pote de Parente Antigo!

Elaine Cristina Guedes Wanderley (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN)

Elaine Cristina Guedes Wanderley / Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM

O Brasil desconhecido: as pinturas rupestres de São Raimundo Nonato - Piauí. (2a. edição atualizada e revisada)

Michel Justamand (UFAM-BC)

Michel Justamand

Sistemas de Informação Geográfica: uma introdução prática

Andreas Kneip (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS)

Andreas Kneip