HISTÓRIAS ESCOLA BÁSICA D. PEDRO IV Língua Portuguesa 8º B
HISTÓRIAS
ESCOLA BÁSICA
D. PEDRO IV
Língua Portuguesa 8º B
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Í N D I C E
Contrabando Policial 3
A Casa 6
A Carta 10
O Símbolo 13
O Tesouro 16
O Novo Caso 20
A Osga 25
O Anel Mágico 27
À Descoberta do Tesouro 32
Um Presente Inesperado 34
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I Parte
- Luís, vai dormir que amanhã tens escola – disse o seu pai. -Já vou, já vou!
Não é que lhe apetecesse muito já que o livro estava a ser tão interessante. Era novinho em folha, pois tinha sido comprado há pouco tempo e desde então não o largou. Era um policial em que o tema principal era o contrabando.
Finalmente deitou-se, mas intrigado com o livro não conseguiu adormecer. Foi então que se lembrou que deixara a janela aberta e levantou-se para a ir fechar. Era uma noite
fria e com pouco movimento. Dado isto foi fácil reparar na carrinha parada na rua onde cinco homens, algo nervosos e apressados, carregavam caixas de “sabe-se lá o quê” para
dentro do veículo. Fechou a janela, deitou-se e adormeceu a pensar no assunto. Na manhã seguinte, como de costume, foi a pé para a escola. O dia correu normalmen-te, sem nenhuma ocorrência de maior importância, excepto no caminho para casa, onde
encontrou os mesmos sujeitos da noite anterior. -Estes tipos andam a tramar alguma. Tenho de averiguar isto – disse Luís para ele pró-
prio. Permaneceu escondido, observando-os de longe, até que todos os indivíduos entraram numa garagem. E lá estava a carrinha! Um homem entrou nela e estacionou-a na rua.
-É a minha oportunidade – pensou Luís. Começaram, os cinco, a encher a carrinha e, sem nenhum deles dar conta, Luís entrou
nela e escondeu-se entre as caixas. Quando arrancaram, tentou ver o que é que estava dentro das caixas. Era café! Mas naquele momento não era isso que o preocupava, pois tinha acabado de descobrir que eram contrabandistas e se eram contrabandistas, podiam
muito bem sair do país. Passado algum tempo ouve-se um grande estrondo.
-Mas o que é isto? São tiros?! Estes doidos estão metidos num tiroteio?! Foi então que sentiu a carrinha a abrandar e parar na berma.
II Parte
Luís só teve tempo de se esconder entre as caixas porque sentiu que alguém estava a
abrir a porta lateral da carrinha. -Cá está o pneu suplente -disse um deles. – Vou mudá-lo o mais rápido possível.
Foi aí que Luís percebeu que o estrondo tinha sido o pneu a rebentar e aproveitou para fugir. -Espera lá!
Volta o Luís, muito apressado, para trás e surpreendentemente dá um valente pontapé no meio das pernas de um contrabandista.
-Esta foi por não me terem arranjado um lugar na 1ª classe – disse orgulhoso. E numa rápida corrida, com medo que algum deles fosse atleta olímpico, fugiu para o
meio do mato. A noite já tinha caído e Luís encontrava-se perdido, até que descobriu uma estrada algo iluminada. Seguiu nessa direcção e viu os faróis de um carro. Atirou-se para a frente do
mesmo, pedindo boleia desesperadamente. O carro parou, repentinamente, travando o fundo.
-Tu és o tal rapaz que está desaparecido há um par de horas?! -replicou surpreendido – A polícia anda toda à tua procura! Percebendo que se deparava com um polícia, Luís apressou-se a dizer:
C o n t r a b a n d o
Po l i c i a l
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- Não quero ir para casa. Não me vai levar a
lado nenhum. E correu desesperado pela estrada fora. O polí-
cia ficou pasmado com a reacção de Luís e come-
çou a correr atrás dele. Luís avistou os contra-bandistas. Ainda lá esta-
vam! Continuavam a ten-tar mudar o pneu. Luís
pensou que o polícia podia apanhá-los e cor-reu ao encontro dos con-
trabandistas. -Sr. Polícia. Dê-me
aqui uma ajudinha a mudar o pneu. Já estou aqui há imenso tempo e isto não ata nem desata.
-Sim, sim, eu ajudo-o – disse o polícia muito atencioso. Luís ficou boquiaberto com a incompetência e falta de profissionalismo daquele indiví-duo. Nem parecia polícia!
-Já está! -disse, orgulhoso. -Muito obrigado, Sr. Polícia. Vou-lhe só buscar uma coisa como agradecimento, uma
recompensa. -Não, não é preci... Já tinham arrancado, deixando o polícia desorientado e apreensivo.
-Tem noção que deu uma mãozinha ao Diabo? -Uma mãozinha ao Diabo? Como assim?
-Sim, idiota! Aquelas criaturas eram contrabandistas. Tinham a carrinha cheia de café! O polícia, naquele preciso momento, quase que ia tendo um ataque cardíaco. -Temos de avisar as autoridades! – exclamou o polícia alarmado.
-Não! As ditas autoridades andam à minha procura! – explicou Luís. -Ah, pois! E o que é que queres que eu faça?
-Puxa pela cabeça que agora é que precisamos dela. -Vê lá com quem é que estás a falar, rapazinho. -Está bem, acalma-te. Vamos ver onde está o carro.
Ao encontrarem e entrarem no carro, o polícia questiona o Luís acerca do sítio onde queria passar a noite.
-Não sei. Não quero ir para casa e muito menos para a cadeia. -Miúdos de tua idade não vão para a cadeia! – disse o polícia com ar de riso. -Então durmo na rua, mesmo que apareçam lobos ou cães raivosos.
Dito e feito. Luís avistou vários lobos a alguns metros do carro. -Pelos vistos és mágico. Falas e acontece – disse o polícia zangado, mas assustado –
Acho melhor irmos embora. Este liga o carro e põe-se a caminho de sua casa. Passado algum tempo de viagem, Luís pergunta:
-Então e eu? Onde é que eu vou passar a noite? -Olha, parece que tens de dormir em minha casa. Só se quiseres dormir na rua.
Luís, um pouco apreensivo, viu-se obrigado a dormir em casa do polícia, por causa dos lobos.
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III Parte
No dia seguinte, de manhã, Luís acordou por causa de uma dor forte nos braços. E essa
dor tinha uma simples explicação. Estava amarrado a uma cadeira, numa sala mal cheiro-sa e fria.
-Ei! Ei!! Está aí alguém? -gritou ele desesperado. Nesse preciso momento, o polícia abre, repentinamente, a porta do quarto, furioso. -Cala-te, pirralho! Há mais gente no prédio, e algumas ainda estão a dormir! – disse o
“polícia”, como se tivesse saído do Inferno. Luís, assustadíssimo com a situação, teve um pensamento:
-Você não é polícia! Aldrabão. -Não, por acaso até sou. Tenho duas profissões paralelas. Polícia e... contrabandista. Sim, é verdade. Sou um dos chefes da organização.
-Seu grande... Devia estar preso. -Um polícia preso não causa muito boa impressão, não achas?
-Então aquilo de estar preocupado com a fuga dos contrabandistas era tudo ensaiado? E ajudou-os de propósito? -Claro! São meus colegas!
-É muito estúpido. Não tem mesmo noção do que anda a fazer. -Vê lá! Não fales demasiado senão morres mais cedo.
-Como é que é? -Sim. Pensas que te conto tudo e depois vais jogar ao telefone estragado? Não vais sair daqui vivo.
Com isto o polícia soltou uma gargalhada de tal maneira estranha que parecia que esta-va bêbado.
O polícia saiu e Luís continuou ali, amarrado e cheio de fome. Aquele compartimento cheirava tão mal que parecia que tinham juntado três porcos e duas doninhas lá dentro. De repente entra o suposto polícia com algumas bolachas para Luís.
-Come e cala-te – ordenou. Luís começou a comer, mas achou estranho e disse:
-Para quem me quer ver morto, está a ser muito atencioso. Diga-me. Estas bolachas estão envenenadas? -Chega. Agora vou levar-te ao chefe. Se não falasses demasiado, vivias mais.
O polícia/contrabandista desamarrou Luís e saíram de casa. Levou-o pelo parque sem-pre preso pelo braço.
Enquanto andavam, pela praça, o polícia avisou Luís. -Aqui é bom que fiques caladinho. E se vires alguém que conheças, não dizes nada.
Passaram pelas inúmeras lojas e bancas e estavam a passar em frente da esquadra quando Luís fez algo inesperado. Começou a correr na direcção da esquadra. Um polícia saiu de lá e Luís gritou.
-Há um contrabandista na vossa.... Pum...
Ouviu-se outro estrondo. Mas desta vez não era nenhum pneu. Foi mesmo um tiro. O contrabandista disparou à cabeça de Luís. Manteve-se escondido e ninguém o viu. Vocês sabem o que aconteceu? Mas será que mais alguém sabe?
Duarte Jesus
José Pedro Santos Pedro Rodrigues
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Parte II
Acordei bem cedo, já cheia de ansiedade para ir à tal casa. A Catarina
dormia que nem uma pedra, mas esse não era o meu maior problema, depois de
ontem à noite os meus pais tinham-nos proibido de ir mais aquela quinta ou ainda nos
perdíamos outra vez. Como desculpa, expliquei-lhes que tínhamos ido ver a vegetação e
que queríamos lá voltar devido à estima que tínhamos ganho ao local.
Mas agora não era preciso inventar nada, pois eles estavam a dormir. Tentei tudo para
acordar a Catarina, mas ela estava mesmo ferrada, se calhar a sonhar com o príncipe
encantado que estava dentro da casa. Como nada resultava, passei ao plano B! Fui à cozi-
nha e quando estava a tirar um copo com água pus-me a pensar: «Talvez, não a devesse
acordar. Assim ia eu sozinha sem a ouvir dizer para não fazer “isto ou aquilo”, sem a dei-
xar preocupada ou nervosa com tudo aquilo que se estava a passar, podendo até ser mais
discreta.»
Não pensei duas vezes, pus o copo na bancada da cozinha, tentei não fazer muito baru-
lho a arranjar-me para não a acordar, mesmo sabendo que isso era quase impossível.
Saí de casa e fui à quinta. Como nada de estranho se passara, aproximei-me da casa e
reparei que a fogueira estava apagada. A chuva podia ter sido a culpada se não estivésse-
mos no Verão e ainda por cima numa noite tão quente como aquela. As únicas hipóteses
eram: ou alguém vivia mesmo lá, ou então alguém viera àquela casa. Será que guardava
alguma coisa valiosa dentro dela?
Estava mais intrigada que nunca, voltei a tentar abrir a porta e cheguei a atirar pedras
às janelas, mas parecia que eram anti-pedras. Decidi encostar-me à casa quando ouvi um
barulho idêntico ao de um motor de um carro. Averiguei, escondi-me atrás de uns arbus-
tos e observei tudo com muita atenção. Um homem alto saiu do veículo. Não era muito
bem-parecido, estava todo vestido de preto, a combinar com o carro, era forte e tinha
uma postura agressiva.
Era tudo muito estranho, mas ainda mais quando ele abriu a porta com a chave certa e
com um ar nervoso olhava em seu redor para ver se via alguém. Entrou na casa e como
ele estava de costas para a porta, decidi aproximar-me. Foi nesse momento que tudo cor-
reu mal!
Passadas umas duas horas, em casa, acordei com os raios de sol a entrar pelas persia-
nas semi-abertas e chamei pela Bia, mas não obtive resposta. Procurei-a por toda a casa
e no final apercebi-me de que ela não estava lá. Bebi um copo de leite e apressei-me para
sair de casa, pois tinha a certeza onde ela estava – na casa do quintal! Como era possível
uma rapariga de treze anos ser tão teimosa e inconsciente? Só esperava que ela apanhas-
se um grande susto! Estava ali uma pessoa aflita e ela fazia-me isto?
Agora eu vou ser obrigada a ir atrás dela, só mesmo para testar a minha paciência! Não
tem juízo! Vá, Catarina, pára de te lamentar e dá aos pés antes que ela faça algo de erra-
A C A S A
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do, o que não é novidade! E vê se consegues arranjar coragem para ir sozinha à casa,
ai, ai, sozinha aquela casa, pois…
Já a caminho daquele…ehhheee! Mato! Bahhh! Vi um homem todo de preto, escondi-
me, achei que era intrigante e anotei a matrícula no meu ”chocho” – o meu telemóvel.
O carro partiu e eu saí do meu esconderijo, mas o salto do meu sapato ficou preso, e
eu quase que deixei cair o meu chocho, em vez disso caí eu, e acabei por sujar as
minhas roupas da “channel”, mas em vez disso caí eu, mas a mala da “Dior” ficou a sal-
vo.
Preocupada com as roupas, não reparei que a luz da casa estava acesa. Como não vi
mais ninguém, decidi entrar e aproximei-me o suficiente para perceber que alguém
falara. Só compreendi o seguinte: “Hum! Hum! Humhumhum!” .
Tomei a iniciativa de entrar, com a certeza de que a Bia não estava lá fora. A porta
não estava trancada, o que era de estranhar, no entanto significava que alguém estive-
ra naquela casa recentemente, talvez o tal homem.
- Ahhhhh! – Não consegui calar a minha voz, eram aranhas e mosquitos e moscas e
baratas e pó e bahh! Que nojo!
Deambulava e a cada passo que dava confirmava sempre se havia algum bicho perto
de mim.
Então, com as mãos atadas e com a boca tapada, desgastada emocionalmente e fisi-
camente, não fiz alarido, empalideci ao ver um vulto e fui ao seu encontro. Toquei-lhe
nas costas, não pensei em mais nada nem em mais ninguém, muito menos em quem é
que tinha acabado de tocar, simplesmente queria salvar-me. A outra pessoa gritou e eu
gritei também. Não estranhei a voz, mas só quando se virou é que me apercebi de que
era a Catarina. Também não conhecia mais ninguém a ir para o mato com aquelas rou-
pas chiques, mas naquele momento não me passara pela cabeça.
Abraçámo-nos, mesmo sentindo a minha figura a tremer. Ela estava realmente preo-
cupada comigo e as lágrimas escorriam-me pelo rosto. Consegui dizer-lhe com uma voz
muito leve sem saber muito bem o que sentia:
- Uma rapariga, ela sim era o nosso mistério!
- Ahn? Tu não estás bem. Vá, calma, e explica-me a situação – disse eu, apertando-
lhe as mãos.
- Sim, uma rapariga. Ali atrás, era ela o mistério. Esteve sempre aqui nesta casa. Ela
sim era quem procurávamos.
Parte III
Fomos ter com a rapariga de que a Bia tanto falava e que era ela, e ela era e era….
Estava demasiado nervosa, mas fui obrigada a reagir. Agora sabia que o meu palpite
era certeiro, pois a matricula serviria para a polícia.
Retirei o meu “chocho” da minha mala, que era a única coisa que ainda não estava
coberta de lama, e enquanto isso a Bia punha-a mais à vontade, pois notava-se que
estava perturbada após vários dias de vivência naquela casa.
- Liga à polícia! Do que é que estás à espera? – disse a Bia, muito apressada.
- A saúde dela é mais importante neste momento…- Lamentava eu, com um pressen-
timento de que algo iria acontecer.
- Tens razão, tens razão. Ai que situação a nossa! Isto mais parece a cena de um fil-
me!
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- Beatriz… Nesta situação não
há tempo para lamentações.
Depressa, ninguém merece passar
por isto.
Estávamos muito abaladas e ten-
támos falar com a rapariga, mas
ela mais parecia uma morta viva.
As lágrimas escorriam-me pelo
rosto enquanto espreitava pela
janela para ver se a ambulância
chegava, mas em vez de chegar a
ambulância como esperávamos,
chegou outra vez o homem no car-
ro preto. Tudo me caiu ao chão e o
meu coração quase me saltava do
peito. Foi então que as avisei e combinámos o seguinte: a rapariga gritava por socorro e
eu e a Catarina dávamos-lhe com os paus que estavam lá fora no meio da tralha.
Até era uma boa ideia, mas, há sempre um «mas», não resultou. A Catarina tem estas
ideias é de ver filmes a mais, já se sabe!
Agora não havia nada a fazer, estávamos todas presas e a nossa única esperança era a
ambulância. Oh, mas esperem! a Catarina também falou da ambulância, mais uma vez
uma excelente ideia.
Fomos colocadas brutalmente no carro do homem e a Catarina cantava:
- Fui ao jardim da Celeste, giroflé, giroflá….
- Oh rapariga, mas tu não sabes músicas mais modernas, olha lá: what you want from
me, what you want for me – ripostou o homem
O que vale é que o homem também não era muito bom da cabeça, e ia nas maluquices
dela. Não sabia era se isso era bom ou mau. Quando Alberto, o homem, parou o carro,
estávamos no fim de uma rua que percorríamos desde que a Catarina começara a cantar.
«Jardim da Celeste» era o nome da rua! Surpreendentemente, conseguira ler na placa
que estava alguns metros de distância do carro. Outra coisa que me intrigou foi a Catarina
estar a cantar a música do jardim da Celeste, tendo a rua o mesmo nome, bem, coinci-
dência, pensei.
O carro entrou para a garagem, estava tudo às escuras e eu tinha medo, um bocadi-
nho.
- Buuuuu!
- Ahhhhh! - Soltei um grito, o homem não estava bom da cabeça, então começa assim
a gritar?!
Tentei explicar à Bia a minha ideia, mas não era fácil com o homem a vigiar-nos!
Ah, sim, a minha ideia, eu estava com a polícia ao telefone foi por isso que cantara aquela
musica, não sei é se eles perceberam e também já lhes enviei a matrícula, acho eu!
Acendeu-se a luz, retiraram-nos do carro e sentaram-nos no chão frio e sujo. Também
não fazia muita diferença pois já estava toda suja. Rapidamente mostrei o telemóvel à Bia
e quando me virei vi o rapaz da minha vida, tinha uns lindos olhos verdes e era loiro,
ahhhhh, soltei um suspiro, fiquei petrificada, e esqueci-me de guardar o telemóvel. O meu
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lindo e maravilhoso herói aproximou:
- Posso ficar com o teu telemóvel?
- És lindo! Humm! Quer dizer, claro! – disse eu, tentando concentrar-me, o que era difí-
cil.
- És mesmo burra! – disse a Bia – O que é que querem desta rapariga?!
O homem que estava ao pé do meu herói avançou com uma bengala e apontou para a
rapariga e respondeu:
- A Clara é minha filha e foi raptada por mim! Ahhhhh! Porque não quis casar com o
Nelson.
- E a burra sou eu? – questionei-me aos gritos – Ele é lindo!
- Ó…miúda? O que é que andavas a fazer com o telemóvel? – perguntou o Nelson com
uma voz calorosa.
- Bem, eu peguei no meu “chocho” para mostrar à Bia ….
- …Que aqui não há rede – interrompeu Bia. – Era só isso.
- Senhor Carlos, o que fazemos agora com elas? – perguntou o meu mais que tudo ao
pai da vítima.
- Nelson, nós podíamos casar! - respondi, mas acabei por me arrepender, pois ele tinha
uns 17 ou 18 anos e eu só tinha 13.
-Claro, vai pensando nisso.
Ai, o meu coração, pensei, queres ver que eu vou mesmo casar. Fechei os olhos e ima-
ginei o meu casamento, a igreja decorada, a minha entrada pela porta, a música começar
a tocar – tantantantaann, tantantantaann –, até que começo a ouvir o barulho dos carros
da policia e oiço:
- Estão cercados, nada de tentarem fugir!
Uns entraram pela garagem que ficara destrancada e outros arrombaram as portas. Foi
tudo tão rápido... num momento sonhava que casava e noutro o meu futuro marido ia
preso. Aproximei-me e disse:
- Eu prometo, do fundo do coração, que hei-de arranjar o melhor padre para nos casar
na prisão. - E ia abraçá-lo, quando um dos polícias me impede. Eu viro-me e dou-lhe um
estalo:
- Este foi por chegar demasiado cedo. – Dou-lhe outro – Este por não me deixar abra-
çar o Nelson. – E dou-lhe o terceiro. - E este por tocar nas roupas da “Chanel”.
Depois de me obrigarem a pedir desculpa pela minha acção, fomos para a esquadra
prestar declarações.
- E assim acaba, não é Bia?
- Há-de haver outras aventuras! Não sabemos é qual o destino da nossa vítima e dos
nossos vilões.
- Bem, a nossa vítima vai para um orfanato, pois ainda é menor, e o Nelson vai a julga-
mento onde eu estarei presente. Ai, vai ser tão bom, vou metê-lo na cadeia e depois
casamos.
- Se ele não fugir, entretanto.
- Ai, Bia.
- Assim acabam as nossas duas semanas em Vila Real.
Catarina Silva
Beatriz Reis
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Parte I
Não sei em que pensar, não me lembro de nada, é tudo tão estranho… De um
momento para o outro esquecermo-nos de tudo.
Chamo-me Joan. Tenho 29 anos, vivo em França e a minha vida nunca foi muito nor-
mal, principalmente agora…
Quando estava a dormir sonhei, o que não é normal, com uma carta branca com imen-
sos números. Ocupei o resto minha noite de sono a pensar no assunto, pelo que, suposta-
mente, não me ia levantar lá muito cedo. O meu sonho ….não sei o que era.
Logo de manhã, levantei-me e ao passar no longo e estreito corredor da minha casa,
tive umas tonturas, como se fosse desmaiar, mas só via cartas e números à volta da
minha cabeça. Pensei que fosse da má noite que, por conseguinte deitei-me no confortá-
vel sofá castanho, para ver se me acalmava.
Quando finalmente tudo parecia estar a voltar ao normal, sentei-me já direita no sofá,
pensativa. Mas o que terá sido aquilo?!
Começo a tentar lembrar-me do sonho, mas como não consigo, fui buscar o correio.
Contas, contas…, mas no meio de tantas cartas, vinha uma…que…eu nem sabia o que era.
Vinha de uma escola “Oxford 1st School” que dizia que eu teria de ir lá buscar uma car-
ta da cápsula do tempo…….
Já não estava a perceber nada do meu dia, nem da carta, nem do sonho, nem do
suposto desmaio, pelo que decidi desligar e pôr a carta na mala.
Ao levar a minha filha à escola, fui para o meu trabalho. Ao chegar lá, com curiosidade,
tirei a tal carta da mala e comecei a lê-la:
“Menina Joan,
vimos por este meio informar que, como deve saber, a menina e a sua
turma enterraram uns desenhos mais alguns objectos na cápsula do
tempo, mas a escola está com problemas financeiros e não poderemos
realizar esse nosso tão esperado desejo de ter cá todos os meninos a
desenterrá-la.
Agradecíamos que a menina passasse pela escola entre hoje e amanhã
pelas 12h e as 20h para a vir buscar.
Com os melhores cumprimentos”
- Sra. Joan….Sra.Joan…
-Hum?! Ahhh diga Catrine…
- Não é nada…é que estava distraída e pensei que precisasse de ajuda…
- Não é mal perguntado. Pode dizer-me onde fica a escola “ Oxford 1st School”?
A empregada respondeu-me e eu fiquei a pensar comigo….deveria ir? Fui à internet
A C A R TA
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pesquisar a escola e
pronto…lá a curiosidade
matou o gato.
Ao sair do trabalho,
fui com a intenção de ir
à escola, mas vi que se
fosse muito devagar não
chegaria lá a horas…e
meti prego a fundo.
Fui por caminhos
escuros, estreitos, arvo-
res caídas, o meu rosto
começava a ficar roxo,
seria uma armadilha?!
Quando lá cheguei, já
estava um pouco atrasa-
da, mas reparei que a
escola era branca e
rosa, estilo rústico, um
pouco para o velho. Para
meu espanto, estava
uma senhora no portão
e eu perguntei-lhe:
- Desculpe, posso entrar, é mesmo só para vir buscar a tal carta da cápsula do tempo..
- Está um pouco fora da hora, mas tudo bem…. Joan não é? Tome lá. Muito boa noite
menina Joan.
- É, sim. Obrigada. Igualmente. - Ao ir para o estacionamento, abri a carta, um pouco
assustada.
Parecia que tudo parava naquele momento, só eu estava viva ….. Quando a abri, à frente
dos meu olhos encontrava-se a carta dos meus pesadelos, com os ditos números…
Parte II
Olhei espantada para a carta, sem explicação para mim própria….
“Mas o que é isto?!” – repito incessantemente para mim. - ”Se eu andei nesta “ Oxford
1st School”, o que me deu na cabeça para fazer uma data de números?”
Saio a correr, esquecendo tudo, onde estava, quem era, como se me tivessem dado um
tiro na cabeça, só tinha o meu pensamento para a carta e os seus números.
Quando volto para casa, sento-me na cansada cadeira do escritório, a tentar perceber
aquela carta… Li, li, li, voltei a ler, mas não encontrava explicação para tal estranheza.
Repentinamente, apeteceu-me ir fazer o jantar, para conseguir pensar nalguma coisa.
“2 3 - 1 0 - 2 0 1 0”, foi o que ouvi da televisão! Infelizmente não era uma coisa nor-
mal, pelo que me senti um pressentimento, como se fosse acontecer um acidente..
Era apenas a data em que uns alunos iriam à Câmara de Sintra. Nada de muito impor-
tante para mim, até que umas luzinhas na minha cabeça se acenderam e, ao deixar a
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minha filha a jantar sozinha, fui ao escritório, tirei a carta, procurei o numero 23 e encon-
trei-o! A seguir dele vinha o dez, depois o 2, o 0, o 1 e o 0.
Como supostamente uma data futura não estaria na internet, fui pelo mesmo método e
pesquisei 19-10-1997 e aparecia a referência a um acidente de um comboio que matara
toda a gente.. Fiquei perplexa sem saber o que pensar. Fui à data seguinte, que era 22-10
-1997, e nada……Fui à data seguinte de novo e aí já me deu um acidente
De manhã, fui trabalhar, e recebi a notícia de que teria de ir a Boston, para fazer uma
reportagem de lá.
O meu coração deu um pulo. Iria acontecer alguma coisa?
No dia 23-10-2010, eu estava uma pilha de nervos, pois tinha uma certa noção de que
iria acontecer algum acidente..
Já dentro de avião, um quente abafado fez-me ir para um lugar ao pé da janela. Estava
tão nervosa que nem sequer conseguia pensar se deveria ter entrado naquele avião….
Acordei debaixo de uma árvore, com um homem por cima de mim, a escorrer sangue
para a minha cara. Comecei a andar, para ver se alguém estava vivo. Um senhor com
uma camisola branca toda rasgada, com um ar abatido, veio ter comigo.
-Deixe-me ajudá-la! - disse ele ainda meio tonto.
-O senhor está bem? - perguntei quase a desmaiar.
O senhor ainda abatido rasgou o que faltava da camisola e tapou-me a ferida que eu
tinha na perna.
Pouco tempo depois, chegam os bombeiros e começaram a apagar o incêndio que tinha
numa parte do avião, depois seguimos para o hospital.
Já no hospital, soubemos que éramos os únicos sobreviventes do desastre. A primeira
coisa que fiz foi telefonar à minha filha, pois já estaria muito preocupada, mas ela já vinha
a caminho, porque as televisões não falavam de outra coisa.
A médica veio ter comigo e disse que eu tivera sorte porque só precisava de uns cinco
pontos na perna. O senhor que me ajudara tinha um braço partido. Com tudo isto come-
çámos a falar e descobri que morávamos ao pé um do outro. Combinámos então encon-
trarmo-nos um dia.
Passadas algumas semanas, ao chegar a França, procurei, procurei, mas não encontra-
va a carta. Depois de tanto procurar, decidi esquecer-me daquilo, pois supostamente a
teria levado para o avião. Telefonei ao senhor e perguntei-lhe se queria ir tomar um café,
ele aceitou e durante “esse café” contei-lhe a história da carta.
- Fogo! Isso é lixado! Então e agora a carta? Qual será o próximo acidente? - Deixei-o
sem resposta, pois não sabia, não tinha a carta.
Ao voltar para casa vi a minha filha com a carta na mão, a tal carta…
Abri-a de rompante, olhei e não havia números, tudo em branco, só havia umas enor-
mes reticências e no nome já não estava Joan, encontrava-se Caroline.
Mas, não deveria ter sido eu a escrever aquela carta…. Essa tal de Caroline queria que
esta me fosse entregue, mas porquê? O que saberia ela?
Ana Filipa Teles
Mafalda Mendes
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Parte I
Há muitos anos atrás, havia um homem chamado Alexandre Rato. Este vivia numa
mansão situada numa pequena aldeia inglesa. Tinha emigrado porque sempre fora o seu
sonho morar em Inglaterra.
A aldeia era muito antiga e pouco habitada. As casas haviam sido feitas de pedra,
excepto a de Alexandre, que era de cimento. No centro, as ruas muito estreitas e escuras
metiam medo a qualquer um. Havia uma Igreja com cerca de 200 anos, mandada cons-
truir por um rei. Num canto do largo principal, estava situado um pequeno tanque de
lavar roupa. Um vasto terreno de cultivo cercava a aldeia, o que dificultava a entrada e
saída da mesma, porque os caminhos eram de terra batida esburacada, com pouca largu-
ra e rochedos de cada lado da estrada.
A mansão de Alexandre era grande e moderna, estava coberta por vegetação diver-
sificada. A casa fora construída há, pelo menos, dois séculos, mas tinha sido restaurada
pelo novo dono. Estava bastante isolada das outras habitações e ,talvez por isso, Alexan-
dre fosse um homem extremamente isolado. Havia um belo jardim nas traseiras. Tinha
relva bem aparada e duas lindas palmeiras, que seguravam uma cama-de-rede raramente
utilizada. No primeiro piso interior, estava uma sala grande e fria, onde apenas lia. Havia
também uma cozinha onde preparava as suas refeições. Ao subir a escadaria chegava-se
ao segundo piso, que tinha o quarto de Alexandre, um de visitas e um quarto secreto a
que nunca tivera coragem de visitar. Na porta havia uma folha que dizia:
“Este quarto está assombrado. Quem entrar pode sofrer de súbito ataque cardíaco.”
Pelo que nunca se sentira tentado a abrir a porta.
Alexandre Rato era um homem de boa educação e gostava de defender os seus bens.
Era alto e muito magro. Tinha um ar triste e a sua figura não era de todo imponente. Ado-
rava cozinhar e cuidar do seu jardim. A única ligação forte que tinha com alguma coisa
era um quadro que mostrava a face do seu pai. Este tinha morrido num acidente de via-
ção e desde aí, Alexandre passou a desabafar para o retrato.
Certo dia, quando numa vez quase única, se deitou na velha cama-de-rede, deixou-se
dormir. Sonhou que estava numa mina a pesquisar algum vestígio deixado por povos da
antiguidade. Aquele sonho parecia tão real! Viu numa parede, uma gravura que eram três
círculos pequenos sobre um maior. Era semelhante, pensava ele, com uma mensagem
egípcia. Quando acordou, parecia ansioso, mas pensou: “É só um sonho! É só um sonho!”.
E para aliviar a ansiedade, foi caminhar um pouco pelas redondezas. Ia de cabeça baixa a
pensar se o seu sonho podia ser verdadeiro. Acabou por acreditar que não passava de
uma alucinação muito realista e que não valia a pena procurar nada. Estava a caminhar já
O S Í M B O L O
14
há cerca de meia hora, quando caiu numa armadilha.
Foi cair num sítio algo escuro, continuou a andar até que lhe pareceu conhecer
aquele lugar. Começou a olhar para todo o lado, para saber se havia alguma saída, até
que viu uma marca muito semelhante à que tinha visto no sonho: três círculos pequenos
por cima de outro maior. Como estava numa pedra solta, recolheu-a e levou-a para casa
para analisar melhor. No regresso, pôs-se a pensar que talvez lhe dessem um valor signi-
ficativo se vendesse a um museu ou algo semelhante. Nessa mesma noite, telefonou a
seus familiares e amigos próximos a convidá-los para ir a sua casa e disse também que
tinha uma surpresa.
Quando chegaram todos, acha-
ram-no muito mais contente que o habi-
tual, cabisbaixo e de poucas opiniões.
Depois do jantar, houve o momento alto
da noite, ver a descoberta de Alexandre.
Todos ficaram boquiabertos a vislum-
brar a estranha figura.
- Sr. Rato, mas que símbolo é
este?
- Isso é uma mensagem de povos
egípcios. Segundo a minha análise, terá
cerca de dois milénios – disse, mentin-
do, pois não tinha feito qualquer obser-
vação. – Encontrei-a numa gruta aqui
perto.
O rapaz parecia totalmente alte-
rado, pois passara de tímido e isolado a
arrogante e egocêntrico. Os convidados
pensaram, certamente, de igual forma, porque já o olhavam um pouco de lado. Havia,
porém, um senhor que estava abstraído de todas as explicações. Estava com um olhar
fixo na figura. O homem era tratado por Sr. Johnson, mas o nome completo era Miguel
Johnson. Filho de pais ingleses, nascera, no entanto, em Portugal. Tinha um perfil muito
simples e era muito certinho e atinado, pois cedo se dedicou às ciências. Adorava animais,
tinha quatro cães, todos diferentes em tamanho e cor de pêlo. Gostava de pesquisar sobre
animais pré-históricos, como dinossauros. Ficou com os olhos arregalados quando viu da
primeira vez o símbolo e mostrava-se muito pensativo. Subitamente, ficou muito ansioso.
Foi a correr tirar a pedra e fugiu sem deixar rasto.
Parte II
Depois da fuga de Miguel, ficaram todos apreensivos. Não faziam ideia da razão
pela qual ele tinha feito tal coisa. Serviu talvez para perceberem que nem sempre se pode
confiar nos melhores amigos. Pensaram apenas que o objectivo de Johnson fosse vender a
figura a um museu ou algo do género. Mas estavam errados.
Miguel tinha uma pequena casa no centro da mesma aldeia, embora ninguém sou-
besse. Era uma espécie de casa de férias, para onde ia no Verão. Dentro da casa havia
apenas um quarto, onde dormia, uma sala e uma cozinha. O seu quarto era espaçoso,
15
mas não havia onde pôr os pés, no meio da barafunda de papéis e roupa. A secretária
tinha um tamanho enorme, mas parecia minúscula com todos aqueles projectos científicos
lá em cima. A maior parte era esboços e representavam sobretudo dinossauros e trilobi-
tes. Como não se encontrava espaço para mais nada, colocou a enorme estante de livros
na sala.
Refugiou-se lá naquele momento. Ele queria, com aqueles livros de história e ciên-
cia, descobrir o que o símbolo era verdadeiramente. Esteve, sem exagero, dez horas
seguidas a tratar do assunto, mas acabou, obviamente, por ficar cansado e até um pouco
farto daquilo, pois não conseguia encontrar nenhuma imagem semelhante em qualquer
livro.
Na mansão, tudo era diferente agora do que à noite. Todos ficaram muito revolta-
dos com a situação, mas acabaram por se acalmar e despediram-se demoradamente,
lamentando o acontecimento. Alexandre ficou totalmente fora de si. Partiu alguns vasos e
pratos e chorou bastante, muito chateado consigo mesmo por ter convidado amigos para
ver uma coisa, provavelmente, muito importante para a história e ciência mundial.
Alexandre tivera a mesma ideia de Miguel e pesquisava nos livros a origem do sím-
bolo. Subitamente, deu um pulo! Descobriu que…
Parte III
Os cientistas da NASA já tinham sido informados da situação e planeado roubar o sím-
bolo. Os seus agentes secretos decidiram atacar nessa noite.
Alexandre ainda não acreditava que afinal o símbolo era uma pegada de dinossauro e
estava totalmente desolado. Sentia-se tão mal que até tinha febre.
Após ter-se acalmado, voltou aos estudos para descobrir a espécie dos dinossauros.
Os agentes secretos entraram na casa de Miguel Johnson para retirar a pegada mas
depararam-se com ele morto… Mesmo assim levaram o que queriam.
A notícia da morte foi espalhada até chegar a Alexandre que, apesar de tudo, sentiu
pena dele.
A polícia foi enviada para o local para investigar e concluíram que tinham sido homicí-
dio. Então a pegada teve que ser devolvida à polícia até se encontrar o verdadeiro dono.
Depois de todas estas peripécias nem Alexandre nem a NASA tinham a pegada. Alexan-
dre recebeu uma chamada da polícia pedindo para ele ir buscar a pegada, pois pertencia-
lhe!
Quando chegou, a pegada tinha desaparecido. Ele já calculava isto, e até já tinha uma
ideia em mente. Deu um pulo e foi a correr a encontro de um agente.
- Eu sabia! Tu preparaste tudo isto, desde o princípio. És o Miguel! Fingiste a tua morte
matando o teu irmão gémeo e depois infiltraste-te na polícia para voltar a roubar a pega-
da. Assim ninguém iria desconfiar de ti. Estavas morto!
Alexandre entregou Miguel à polícia e destruíram a pegada para não causar mais pro-
blemas.
Ou será que não, será que a pegada era uma imitação e que a verdadeira esteve sem-
pre em casa de Alexandre?! Nunca se saberá pois a história acaba aqui.
Afonso Feijão,
David Carpinteiro
Guilherme Vaz
16
Parte I
Há muitos, muitos anos atrás, quer dizer ontem, li no jornal que Lorenzo, o famoso
advogado, tinha sido ameaçado que o seu tesouro de família ia ser roubado, o que era
uma grande ideia, pois o seu tesouro valia milhões.
No dia seguinte, quer dizer hoje, li no jornal algo engraçado! O tesouro de Lorenzo
tinha sido roubado. Ninguém sabia onde estava Lorenzo, uns diziam que fugira para esca-
par à anedota que seria, pois duvidava da ameaça, chegando a dizer em público que isto
dava uma boa anedota.
Eu, Sr. Cotonete, tenho uma história de vida algo caricata. A minha família inventou
os cotonetes, mas mais tarde a concorrência afastou-me do negócio. Agora vivo numa
terra onde só ocorrem sismos e grandes tempestades. A zona sísmica estende-se a 20 km
de diâmetro. As árvores são raras, e normalmente estão tombadas ou desfeitas pelas
tempestades. A minha casa encontra-se na zona oeste, numa zona menos sísmica mas à
mesma perigosa. Para o meu bem, gastei todo o dinheiro que me restava numa casa anti
sísmica, apesar de ilegal.
Hoje de manhã encontrei alguém a correr e fui ver de quem se tratava. Fiquei
espantado quando o reconheci, era o Lorenzo, o advogado que perdera tudo. Cumprimen-
tei-o com um simples bom dia, e ele esticou a mão para me dar um aperto de mão.
Perguntei o que fazia ele nesta terra de miséria.
- Eu – disse Lorenzo -, não sabes a minha história?
- Claro que sei, ou pensas que eu confio em toda a gente que passa aqui.
- Pois, tens razão nem toda a gente é de confiança, digo-o por experiência própria.
- Tens lugar onde passar a noite? - Perguntei.
- Não, mas vi uma gruta onde posso…
- Não é preciso, fica em minha casa.
- Agradeço a tua hospitalidade, mas não é necessário.
- Eu insisto. Insisto mesmo muito que fiques comigo.
- Já que insistes, agradeço. Onde é, então, a tua casa? – Perguntou-me com um
bocejo.
- Vejo que estás cansado! Vem que eu mostro-te onde podes descansar.
Andámos um pouco, falámos sobre as tragédias que nos assolaram. Éramos ambos
pessoas bem sucedidas a quem alguns infortúnios nos deixaram na miséria. Depois de
uma conversa fiada chegamos a casa, onde eu lhe mostrei onde podia ficar e descansar.
Eu deixei-me levar pelo sono e adormeci também.
O T E S O U R O
17
De manhã, acordei e fui ver se Lorenzo ainda dormia. Ele já não estava e deixara
uma nota a dizer que ia correr.
Saí e fui ver a gruta de que Lorenzo tanto falava. Aproximei-me da gruta, mas a
entrada era algo assustadora. Quando ia a pôr o meu pé dentro da gruta, ouço uns passos
e logo de seguida escondi-me atrás dum pedregulho. Reparei que os passos eram de
Lorenzo, que saía da gruta com um ar muito entusiasmado. Perguntei para mim mesmo
se ele o tinha descoberto.
Parte II
Tinha de chegar a casa primeiro que Lorenzo para ele não pensar que eu o havia
seguido. Fui por um atalho, pois conhecia a cidade de uma ponta a outra. Cheguei a casa,
muito cansado, e então, para explicar o suor que me escorria pela cara, fingi que corria na
passadeira que me custou um balúrdio.
Quando chegou a casa, Lorenzo disse atabalhoadamente várias coisas que eu não
percebi. Disse para ele se acalmar, para me dizer o que queria.
Passados alguns minutos, já calmo, Lorenzo disse-me que tinha descoberto algo,
algo que nos faria milionários. Eu continuei intrigado, o que seria? Perguntei-lhe se me
podia levar ao lugar para ver o que seria. Durante todo o caminho andei muito intrigado,
estava curioso, e Lorenzo, que me pareceu algo entusiasmado para dizer o que era, tinha
um certo brilho nos olhos.
Chegámos ao local, fingi que me encontrava espantado, e ele pediu para que eu
entrasse. Entrámos ambos e ele apontou para uma parede. Vi uma arca muito adornada,
Lorenzo abriu-a e o brilho que vinha de lá dentro cegou-me.
Eram peças em ouro, vários diamantes, infinitas peças valiosas. Agora percebo por-
que Lorenzo dizia que este tesouro nos faria milionários. Mas ele não o devia ter desco-
berto porque continha um segredo meu. Lorenzo fechou a arca e regressámos a casa.
Lorenzo já fazia planos para o futuro. Comprar uma mansão, bons carros, uma
grande piscina. Lorenzo estava muito entusiasmado, mas precisávamos de pôr as ideias
em ordem, como apresentar o tesouro ao público e o que faríamos no futuro.
Passados algum tempo já tínhamos tudo planeado e marcámos uma conferência de
imprensa.
Chegou esse dia e treinávamos a apresentação durante várias horas, até que che-
gou o momento do discurso.
Bom dia – começou Lorenzo. – Estou aqui para anunciar um tesouro que eu e o
meu amigo, Sr. Cotonete, encontrámos. Sem mais demoras, vou abrir a arca.
Os jornalistas, ao verem tal tesouro, ficaram de boca aberta com o brilho que fazia
e com o esplendor que o tesouro tinha. Depois de diversas perguntas dos jornalistas, a
conferência acabou e fui ter com Lorenzo.
- Então e agora para onde vamos viver?
- Eu pedi ao governo que nos pusesse numa casa juntos, mas a proposta foi rejei-
tada e a tua morada vai passar a ser essa, por enquanto. Até recebermos o dinheiro e
podermos comprar uma mansão para os dois, onde poderemos ter tudo o que sempre
quisemos.
18
- Ok!
Neste momento chamei um táxi e pedi que me levasse à morada assinalada no papel.
Não me quis despedir de Lorenzo e disse um simples «até logo».
Passaram vários dias, a rotina era como a habitual, até que um dia, quando vou ao cor-
reio, encontro uma carta a dizer para ir ao tribunal dali a dois dias. Pensei logo, «Será
que? Não, vamos ver o que acontece, mas pelo sim pelo não é melhor arranjar um advo-
gado.» Pesquisei e pes-
quisei, e verifiquei que
um advogado de alta
classe era muito caro.
Mas pensei bem e lem-
brei-me que o meu
grande amigo Lorenzo
era um grande advoga-
do. Porém, nesse instan-
te, ouvi o telefone a
tocar. Atendi e, para
meu espanto, reparei
que era Lorenzo. Disse-
lhe que ia telefonar para
falar de uma carta que
havia recebido. Lorenzo
disse que era coincidên-
cia, pois também tinha
recebido uma carta
semelhante que nos
obrigava a ir ao tribunal.
Lorenzo sugeriu ser o
advogado dos dois. Des-
pedi-me dele e fui des-
cansar um pouco.
Parte III
Passados dois dias, no dia da ida ao tribunal, estava a aperaltar-me quando tocam à
campainha. Era Lorenzo já pronto para se deslocar ao tribunal. Pedi-lhe que esperasse
um pouco enquanto eu me acabava de arranjar.
Já pronto, descemos as escadas do longo prédio, onde o governo me tinha alojado. Já
lá em baixo, na entrada do prédio, chamámos um táxi e pedimos que nos levasse ao tri-
bunal. Quando lá chegámos, Lorenzo, deu-me vários conselhos, como falar perante o juiz
e manter sempre uma postura calma.
Entrámos no tribunal e eu tentava manter uma postura calma. Sentei-me na mesa do
lado esquerdo, juntamente com Lorenzo, mas encontrava-me muito nervoso. Cada vez
mais me vinha aquele pensamento à cabeça, mas olhei para o lado e reparei que alguém
entrava. Apresentaram-se perante o juiz como a exploradora multinacional de tesouros,
19
Luigi&William. Vinham ambos acompanhados de um grande advogado, e que Lorenzo con-
siderava seu rival, Antonini. Um advogado italiano que tinha vindo para a América muito
novo, o que o ajudara a falar inglês. Sentaram-se todos. O juiz bateu com o martelo e deu
a sessão por iniciada.
No início da sessão, o juiz começou por falar sobre o tesouro que eu e Lorenzo
havíamos descoberto. Disse-nos o valor em que o tesouro havia sido avaliado, e que era
algo astronómico, algo como 180 milhões. Fiquei espantado! Eu e Lorenzo íamos viver
juntos para uma grande mansão, onde teríamos um estilo de vida luxuoso. De repente
surgiram-me planos para o resto da vida. Mas é aí que o juiz fez com que me saíssem da
cabeça. O juiz deu a palavra a Antonini, que explica que os seus clientes insistiam que um
tesouro daquele valor merecia ir para um museu onde toda a gente o pudesse apreciar.
Diziam que os artefactos que o tesouro tinha eram dignos de um museu. Lorenzo,
sem argumentos, decidiu que queria dar uma olhadela pelos artefactos, pois caso houves-
se um objecto pessoal, faria, assim, o tesouro nosso.
Enquanto esperávamos que o tesouro fosse trazido, eu estava mais calmo, no
entanto Lorenzo encontrava-se nervoso, pois sentia-se pouco confiante do seu plano.
Depois de uma longa espera, o tesouro, finalmente, chegou à sala. Veio trazido por
dois guardas, fortemente armados, que o puseram em cima de uma mesa para Lorenzo o
investigar. Passado um pouco Lorenzo tinha um grande sorriso na cara o que me deixou
intrigado. O juiz, também intrigado, perguntou se Lorenzo havia descoberto algo. Lorenzo,
muito alegre, disse ao juiz:
- Sim, descobri!
- O quê? Seja mais específico! - Pediu o juiz
- Um dos artefactos do meu tesouro! O que significa que este tesouro me pertence.
- Como pode ser? – Gritou o juiz – Você não havia sido roubado? Como se atreve a
mentir em tribunal.
- Desculpe, mas eu não estou a mentir – disse Lorenzo, mostrando o artefacto ao
Juiz
O juiz, sem outra escolha, foi obrigado a entregar-nos o tesouro. Antonini estava
boquiaberto com a sorte que Lorenzo havia tido. Lorenzo sabia da sorte que havia tido,
mas o que lhe importava era que agora éramos ricos e podíamos ter a vida com que qual-
quer pessoa pode sonhar.
Passados dois meses, eu e Lorenzo tínhamos uma casa de sonho e vivíamos como
sempre sonhámos. Estava eu na piscina e lembrei-me do segredo que aquele tesouro con-
tinha. Era um segredo meu, que eu não queria revelar. Por isso fui dar um mergulho.
Hugo Silva
David Barros
20
Parte I
Foi o meu último caso antes da reforma, um caso com um final diferente.
Estava de férias com a minha família em Marrocos, a aproveitar o sol, tentando ficar
menos branco, a cansar os camelos em longos passeios pelo deserto…e foi em cima de
um camelo que tudo começou. O telemóvel de serviço tocou:
- Bem-vindo ao voice-mail de … Agente Smith. Neste momento estou ocupado. Por
favor deixe mensagem após o sinal. Piiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
- Não vale a pena fingires Smith, sei que estás a ouvir. Daqui fala K3846.
- Ok, descobriste. Simplesmente queria continuar o meu passeio familiar em paz
John.
John era o meu parceiro. Desde pequenos que brincávamos aos agentes e nunca
esquecemos esse sonho, de maneira que andámos na faculdade de investigação juntos e
depois tornámo-nos colegas.
Como agente, é difícil ter uma vida normal, mas eu consegui: casei-me com a Anna
e tive duas filhas, a Mary e a Carol. Ao contrário do meu colega John que, apesar de ter
casado e de ter tido um filho, não aguentou a pressão de ter duas vidas diferentes e pas-
sados cinco anos divorciou-se, deixando a família. Sei que ainda sente remorsos pelo que
fez e sinto que quer a toda a força encontrar o filho, pela maneira carinhosa como fala
nele!
- Diz lá então porque é que me ligaste? – perguntei eu um pouco irritado.
- Então, era para saber como estão a correr as férias do meu parceiro favorito, visto
que não tenho outro, não é? – disse ele ironicamente.
Estranhei aquele telefonema, pois das coisas que mais detesto é ser incomodado nas
férias sem motivo aparente e o John sabia-o. Mas continuei…
- Agora a sério, o que é que se passa?
- Smith, já te ligo – respondeu-me nervoso.
A voz dele não costumava estar assim e comecei mesmo a ficar preocupado.
- George, que se passa? – questionou-me Anna.
- Nada de especial querida, não te preocupes, mas acho que estas férias não vão
correr como nós sonhámos.
Infelizmente tive de lhe responder isso e assim foi.
O telefone de serviço voltou a tocar:
- Ouve-me bem Smith. As tuas férias têm de ser interrompidas. Recebi uma chamada
do chefe e temos um novo caso. Pelo que ele diz é bastante urgente, portanto mete-te
num avião e volta para os Estado Unidos. Tens 24 horas para chegar. Adeus.
- Mas… - tentei dizer eu.
Nem consegui perguntar nada, porque a única resposta que obti foi: Piiii … Piiii …
Piiii …
O N OVO C A S O
21
Parte II
- Que bebida deseja,
senhor Smith? – pergun-
tou uma hospedeira com
toda a delicadeza.
- Por agora nada,
obrigado.
Estava a viajar em 1ª
classe a caminho de
casa. A minha família
ficara em Marrocos bas-
tante desapontada comi-
go, pois em todas as
nossas férias juntos,
havia sempre algo que
as estragava. E estas
não foram excepção.
Cheguei finalmente ao
aeroporto. Ia direito à porta de saída para apanhar um táxi e voltar para casa, quando
olhei para o lado e vi um senhor alto e corpulento com fato e gravata, ambos de cor preta
e a usar uns óculos escuros, que, diga-se de passagem, faziam-me lembrar o Matrix! Esse
homem tinha uma placa nas mãos a dizer SMITH. Percebi então que era suposto entrar no
carro de vidros fumados e esquecer as minhas boas horas de sono em casa.
Estava cansado da viagem mas não tinha outra opção. Entrei, então, no carro que me
levava até à central. A viagem foi muito silenciosa e, quando já estava quase a adorme-
cer, recebo outro telefonema.
- Então Simth? Onde estás? – perguntou-me John.
- Olha, estou num carro escuro a apanhar a maior seca da minha vida. Não tinha noção
de que a viagem do aeroporto até ao trabalho fosse tão grande! Mas acho que já estou
quase a chegar – disse com uma voz enfadonha.
- Ainda bem. Assim que chegares, vai ter ao nosso escritório, que eu estarei lá à tua
espera para o chefe nos dizer qual o novo caso.
- Entendido! Até já! – disse eu mais animado, pois ia finalmente saber qual era o caso
que tinha estragado as minhas férias.
Mal cheguei, entrei no escritório:
- Então, conta, conta!!!
- Já vi que desde que falaste comigo tiveste tempo de trocar as pilhas! Pois estás bem
animado!
- Ohh… deixa-te de gozos, e conta logo…
- Espera, vou chamar o chefe.
Depois de falarmos com o chefe, soube o que tínhamos em mãos para tratar. Mal o
chefe virou costas, eu tive que dar a minha opinião.
- O quê??? É só isso?! Tanta coisa à volta desse assunto… Tens noção de que as minhas
férias foram arruinadas por causa deste caso?
- Não comeces Smith! Ordens são ordens e isto é muito importante para a família.
22
Já não estava assim tão animado como antes, mas como o meu parceiro John diz:
“Ordens são Ordens!”.
- Ok, e qual vai ser o plano? – questionei-o.
- Então vai ser assim…
Explicou-mo e comecei a pôr mãos à obra, mas antes de tudo, havia que tomar um
café, pois o resto do dia não ia ser nada fácil, e provavelmente a noite ia ser passada a
desvendar o caso e não a dormir.
Saímos do escritório e dirigimo-nos ao carro de John.
- Vais me deixar conduzir, certo? – perguntei-lhe.
- Ahh… está bem, mas só desta vez!
Perscrutámos a cidade de Washington toda, até que de repente gritei entusiasma-
do:
- É aquele, não é?!
- Não me parece, Smith. Não é aquela a raça.
- Ora bolas! Nunca mais encontramos o raio do cão!
Sei o que devem estar a pensar. Tudo isto por causa de um cão. Mas não um cão
normal, e não, também não é um cão robot. É um cão de água, da família Obama. O que
se há-de fazer?
Parámos o carro para descansar um pouco, pois já tinham passado duas horas de
procura intensa!
Abri a porta do carro e respirei ar puro. Passados cinco minutos, entrei no carro
novamente e no preciso momento em que fechei a porta, vi dois homens a segurar um
cão que gania que nem um maluco. Virei-me para o John e perguntei-lhe com a certeza
absoluta:
- Tem de ser aquele cão! Já reparaste na coleira?
- Realmente, acho que tens razão, vamos segui-los! Mas despacha-te que eles já
entraram no carro.
Parte III
- Vira aqui, vira aqui! – disse John muito entusiasmado, pois já não fazíamos persegui-
ções de carro há muito tempo.
- Eu não sou surdo! – berrava-lhe eu.
- Eu também não. – respondeu-me. – Mas eu disse para virares naquela esquina!
- Está bem, mas estou a ir por um atalho. É que a gasolina está a acabar!
A certa altura, parámos numa rua, uma espécie de bairro social, onde vimos o carro
dos outros tipos estacionado. Nessa altura eles saíram do carro com o cão bem agarrado
pela coleira e nós também não tivemos outro remédio senão seguir a pé. O John ficou
sentado no assento da frente a falar com alguém ao telemóvel, mas não liguei muito ao
assunto. Quando o molenga decidiu finalmente sair do carro, seguimos os outros, mas
com muito cuidado para não sermos apanhados.
Entrámos num armazém e o cheiro não era muito agradável. Parecia que havia carne a
decompor-se. Ou seja, sendo mais específico, gente morta!
- Que cheiro insuportável é este!? – exclamou John, com a mão a tapar o nariz e a
boca.
- Ora, a mim parece-me carne a…
- Eu sei o que é!
23
Com esta distracção de conversas sobre carne para um lado e decomposições para
outro, não demos conta de que estávamos a ser observados.
- O que pensam que estão a fazer aqui? A sala do espectáculo não é esta! – disse um
homem de mau aspecto.
- Ah sim, o espectáculo… que espectáculo, John? – perguntei eu ao meu parceiro em
voz baixa.
- Não faço a mínima ideia…
- Olha lá, meu! Estes tipos são da bófia não se vê logo?! Além disso, olha só as armas!
Tipo, às vezes és mesmo burro, Alejandro! – disse outro homem nojento.
- Ahahahahahah... – riu-se John.
- De que te estás a rir, pá? – enervou-se Alejandro.
- Ah nada… é só que me lembrei de uma música da Lady Gaga… -ria-se sem parar.
E para meu espanto, sim porque devo ter ficado com um ar completamente aparvalha-
do, o John, o parceiro que eu pensava que conhecia meteu-se a cantar:
- Don’t call my name, don’t call my name… Alejandro…
- Chega de parvoíces! – queixou-se o gozado.
- Deixa-me adivinhar, o teu nome é Fernando? – perguntei eu tentando entrar na brin-
cadeira do meu colega.
- Por acaso, sim… - disse o outro homem meio envergonhado.
- Ahahah… I’m not your babe, I’m not your babe… Fernando…
- Eheheheheheh…
- Eu não estou a ver a piada nisto, Alejandro!
- Ele está a gozar contigo, algo que eu esperava ver há muito tempo…
- Vocês dois servem para guardar isto, é? – disse eu, meio espantado, com o facto de
terem arranjado dois parolos para guardas.
- Parem já com esta palhaçada! – chegara o líder, que diga-se de passagem era igual-
mente nojento.
- Ó, meu Deus! O que é que eu fiz para ter de ver três homens de aspecto horrível,
numa só noite?! – virei-me eu para John, com voz bastante baixa para os outros não
ouvirem.
- Mandem-me estes dois polícias para o armazém. Alejandro, vai ver mas é o que é fei-
to dos traficantes e tu, Fernando, vai acalmar os cães e mandar os restos dos outros no
lixo.
Não conseguia acreditar no que ouvia. Para além dos cães se matarem nas lutas, estes
tipos também traficavam droga. Mas que rico negócio que eles ali tinham.
Ficámos fechados num armazém pequeno e frio durante mais ou menos duas horas e
meia.
- Smith, belisca-me, só para o caso de estar a sonhar. Esta é a voz do chefe, não é?
- É! Mas como é que ele nos encontrou?
- Lembras-te de eu ter feito aquela chamada quando fiquei mais tempo dentro do car-
ro? Era a pedir reforços. Chegaram foi um pouco atrasados, mas se calhar perderam-se.
- Ahh! Então era isso…
- Shiuuu! Deixa ouvir.
- Ora bem meus senhores. Tudo encostado à parede com as mãos à vista. – dizia o
24
nosso chefe, que nesse momento se preparava para prender os traficantes.
Passado um bocado, quando todos os homens já estavam na carrinha, vieram-nos abrir
a porta do armazém. Ao sair dali, com a ajuda de outros membros, realizámos uma busca
ao local, e descobrir de onde vinha a aquele cheiro horrível, que era da carne dos cães a
decompor-se. Encontrámos o ringue de luta, o canil de onde resgatámos o cão de Barack
Obama e um outro armazém com a droga para ser traficada.
De repente, enquanto analisávamos quilos de droga, ouvimos um barulho vindo de um
canto. Corremos nessa direcção e encontrámos um rapaz novo com um ar assustado.
John ficou de boca aberta, e eu sem perceber a sua reacção, perguntei-lhe:
- Que se passa John?
- Ah… ah… ah… ele… ele… é o meu filho!!!
- A sério? Ó, meu Deus! Há quanto tempo é que não o vias? Diz-me, tens a certeza que
não te queres sentar?
O rapaz também pareceu ter reconhecido o pai. John baixou-se até ao filho:
- Olá… a… a Pete… Há muito tempo, hein? Estás crescido…
Pete parecia já estar mais à vontade.
- Pois pai… e tu estás… a… mais velho!
O momento que seguiu foi tão emocionante… nunca tinha visto esta faceta paternalista
de John. Abraçaram-se os dois… tinham mesmo saudades. Tudo o que o meu parceiro
tinha feito e que causara sofrimento ao filho, foi como “apagado” naquele instante.
Agora, voltando ao caso. Está claro que só roubaram o cão de família Obama, para
obterem um resgate, e não para o colocar numa luta de cães pois o coitado do cão perde-
ria só com uma simples pancada na cabeça… Mas, comigo e com o meu parceiro John ao
serviço, tudo acabou bem.
Passados uns dias, as coisas já estavam mais resolvidas. Os traficantes já tinham sido
presos, os cães foram viver com a cientista do nosso laboratório que também era veteri-
nária, por isso todos se davam lindamente, o cão de água tinha voltado para o se lar, e
Pete tinha conseguido ser ilibado do caso.
Mal a minha família chegou de Marrocos, expliquei-lhes a situação toda, e não ficaram
chateados comigo. Mas melhor de tudo, e finalmente consegui reformar-me. Não que eu
não gostasse do meu emprego, pois nunca esqueci todos os momentos passados com o
meu grande amigo John, mas já estava na hora de ter tempo para mim e para a minha
família. John voltou a encontrar a sua ex-mulher que também andava desaparecida e
pediu-lhe custódia do filho. O caso foi a tribunal e Pete começou a viver 4 dias com a mãe
e 3 dias com o pai por semana.
Enfim, tudo está bem quando acaba bem, tirando Alejandro e Fernando que são goza-
dos todos os dias na prisão. Sempre que é hora de almoço começa tudo a cantar: «Don’t
call my name, don’t call my name…»
E este foi o meu último caso antes da reforma!
Carolina Grilo
Inês Allen
25
Trimmmm....
-Estou? Quem fala? -disse eu assustada com a voz grossa vinda
do outro lado.
- Fala o advogado do seu marido. Queria dar-lhe os meus pêsames- afir-
mou aquela voz que para mim continuava a ser estranha.
-Mas porquê? O que é que se passou? Pêsames do quê? Ahh, foi, foi por causa da
morte do meu peixe o "euro"?
-Não, não foi por isso, o seu marido acabou de sofrer um grave acidente de auto-
móvel e as suas causas são desconhecidas...
Pum...
Abri os olhos e não sabia onde estava.
-Desculpe pode-me dizer onde estou?- perguntei eu meio azamboada.
-Não me está a reconhecer? Sou o advogado do seu marido. A senhora encontra-se
no hospital, desmaiou no meio do centro comercial quando eu lhe liguei.
Olhei em meu redor e o que via era horrível: um quarto de hospital pálido, com pouca
luz e com aquele cheiro a desinfectante.
truz, truz...! Alguém batia à porta.
-Posso?- questionava um homem com uma bata branca e com um estetoscópio ao
pescoço.
-Sim, claro!
-Era só para lhe dizer que têm alta ainda hoje.
Naquele preciso momento entrou no meu quarto a minha melhor amiga.
-Amiga, trouxe-te a roupa. Sim, porque essa bata...é minimamente horrível, mas
esse ar degradante de viúva milionária não te favorece nada.
-Viúva? O meu marido morreu? Não foi só um sonho?
-Sim, mas isso não é o mais importante, o que interessa é que amanhã é a leitura
do testamento, por isso não te esqueças das amigas.
-Ahm!!
-Olha, podes fazer-me um favor?
-Diz "quiduxa"...
-Importas-te de me levar ao local do acidente?
-Sim, claro! Mas não te esqueças que amanhã...vais ficar RICA!
-Isso não interessa, eu quero é saber onde é que o meu marido morreu!
A manhã seguinte nasceu sombria, o sol já não iluminou o céu. Na cama já não
existia um homem para me aquecer os pés e a casa estava mais vazia que nunca. Depois
de tomar o pequeno almoço e de me arranjar, tocaram à campainha e era a Madalena.
-Rápido, despacha-te que o jacto está marcado para as 10 e já passa da hora!
Saí de casa e tentámos ser o mais rápidas possíveis para apanharmos o táxi que
nos levaria ao nosso jacto. Ao sair do jacto, o silêncio apoderava-se do local da morte do
meu marido, a alguns metros podia-se ver o carro desfeito em mais de mil pedaços. A
manhã continuava fria e sombria.
Eu não aguentei e desatei a chorar. Tentei controlar-me ao máximo pois a causa
A O S G A
26
que me lá levava era mais forte do que uma simples
lágrima. Nesse momento de lamentação reparei que no
banco que tinha ficado imune ao embate, encontrava-se
uma mancha amarela, pensava eu, mas quando me
aproximei reparei que não era uma simples mancha…
Era uma osga nojenta , asquerosa e repugnante. Tinha
uma cor amarela berrante e logo a seguir passou para
verde. Era camaleónica e mudava de cor de quatro em
quatro segundos. Era uma espécie entomológica.
- AHHHH!!!! Que nojo! Não toques nisso, nunca mais
te falo ! Que coisa mais horrenda! – exclamou a Madale-
na , enojada .
- Vou levar isto para casa, para investigar.
-Ah, pois, tu és cientista! Maluca – disse Madalena entre dentes.
- Esta osga pode ter alguma coisa a ver com a morte do meu marido…depois vê-se !
Coloquei a osga no meu saco com a ajuda das minhas luvas e seguimos para casa . Quando
chegámos a casa, o advogado já estava no escritório, pois a D. Gertrudes, a minha empre-
gada, já tinha lhe concedido a entrada. Sentei-me juntamente com Madalena e prossegui-
mos para a leitura de testamento:
- Crururu! Segundo o que esta escrito no testamento, o ultimo desejo do seu marido
e que todo o seu dinheiro fique….
- Alguém quer chá? - Entrou de rompante Gertrudes, interrompendo o advogado
-Vá, diga lá !!! - berrou Madalena
- O dinheiro fica…. para Madalena, legítima amante.
- O quê ?? Tu traíste tudo o que existia entre nós! – gritei eu, desiludida
- Oh, querida, tem que se fazer pela vida ! E o teu marido não era de se deitar fora!
Gertrudes assustada deixou cair a bandeja com toda a loiça que nele continha. Saí da
sala sem sequer ouvir o resto do testamento, pois tinha ficado demasiada magoada com
Madalena para lhe voltar falar. Peguei na amostra e decidi analisá-la melhor. Precisava de
ficar sozinha! Uma mansão com cheiro a bolor, mas nem reparei nisso, pois estava mais
interessada em descobrir o que é que aquela osga teria feito e a razão de se encontrar no
carro do meu marido. O meu estômago até deu uma volta só de pensar nele. Pousei a
amostra em cima da bancada e observei-a horas a fio. Acabei por adormecer. O sol já tinha
nascido quando acordei, mas a osga não estava aonde eu a tinha deixado. Procurei-a
durante dias, mas não deu em nada. A osga tinha mesmo desaparecido.
- Trimm !!
Alguém tocava à campainha ! Era Madalena.
- Desculpa amiga não fui justa contigo! Deixei-me levar pela ganância.
Na altura eu estava demasiado magoada com tudo, mas agora, ao fim destes anos
todos, quando penso na situação ainda bem que a perdoei, porque agora não sei o que
seria da minha vida sem a minha grande amiga Madalena, mas ……o que terá acontecido à
osga? Será que fora ela que matara o Alberto?
Joana Almeida
Mariana Rebocho
Patrícia Pereira
27
Parte I - O Encontro
No Verão passado tornei-me muito amiga de uma rapariga.
Encontrámo-nos num cruzeiro muito desejado por mim, pois foi sempre
o meu sonho viajar pelo Oceano fora.
O navio era enorme, quase tão grande como o famoso Titanic. Tinha tudo e mais
alguma coisa, desde piscina, jacuzzi, sauna, todo o tipo de lojas, restaurantes conhecidos,
parques de diversão, salas de jogos, salas de cinema, teatro e muitos mais sítios…
Quando estava a explorar o navio, ouvi uma pessoa a gritar histericamente. O
som vinha da piscina e alguém parecia muito aflita. Era uma rapariga loira que se estava
a afogar. Não pensei duas vezes e atirei-me para dentro de água, para tentar salvar-lhe a
vida.
- Muito obrigada! Salvaste-me a vida, eu sei que pareço uma pata a nadar.
- Não tens de quê, já agora qual é o teu nome?
- Chamo-me Marta Peixemorto. E tu?
- Chamo-me Laura Noites.
- Os nossos nomes são muito engraçados, toda a gente goza com o meu nome, mas
no fundo, bem lá no fundo, ele até é original.
- Quando te ouvi a gritar ia começar a minha “operação conhecimento”!
- Operação conhecimento? Mas o que é isso?
- És mesmo estronça, estava a tentar, estava a tentar descobrir as várias salas do
navio.
- Posso ir contigo?
- Pode ser, sempre tenho companhia e tenho a certeza que não te afogas mais
nenhuma vez.
- Mas antes disso preciso de ir, urgentemente, à casa de banho.
Quando estávamos a caminho da casa de banho ouvimos uma mulher a gritar e ao
mesmo tempo a chorar. Olhámos uma para a outra e, mesmo sabendo que não era muito
elegante da nossa parte, encostámos os nossos ouvidos à porta para perceber o que se
passava. Percebemos então que era uma mulher que estava a falar com alguém e que
estava sempre a dizer:
- Eu perdi-o, perdi-o!
De repente a Peixemorto espirra. Lá dentro fez-se silêncio, mas foi por pouco tem-
po, pois a mulher diz para a outra pessoa:
- Espera, ouvi algo.
Foi então que a porta se abriu.
Parte II - Up
- Mas quem são vocês?
- Ups, pedimos imensa desculpa mas… - disse eu.
- Ouvimos alguém a gritar que parecia aflito.
O A N E L M Á G I C O
28
- Pois, pois… - disse eu um pouco embaraçada.
- Bem já que ouviram vou contar: quem gritava era eu. Sabem, perdi uma coisa
muito sentimental para mim – explicou a mulher.
Olhámos uma para a outra e, depois de mais uma vez darmos uma desculpa esfar-
rapada, fomo-nos embora logo que pudemos apesar de não termos ficado muito convic-
tas.
No dia seguinte, encontrámo-
nos as duas para tomar o pequeno
-almoço e foi quando descobrimos
que a mulher mistério tinha
desembarcado.
Mas porque será que desem-
barcou? – perguntou a Peixemorto.
- Também não sei, mas estou
curiosa, pois gostava de saber que
objecto perdeu ele neste barco.
- Temos de descobrir o andar e
o número do quarto no qual ela
estava instalada - sugeriu a Peixe-
morto.
- Pois é, já me tinha esquecido
desse pequeno, grande problema –
disse pensativa, pois não me ocor-
ria nenhuma ideia para o conse-
guir.
Dirigimo-nos ao balcão que tinha uma placa onde estava escrito: “Apoio ao cliente”.
- Olhe, desculpe… Queríamos pedir o andar e o número da porta de uma senhora…
aquela… aquela! – disse a Peixemorto.
- Mas qual senhora? – perguntou o senhor.
- Aquela… aquela…
- Mas qual aquela…?
- Peixemorto, cala-te! Não vês que não sabemos o nome da mulher! És mesmo bur-
ra!
- Olhem meninas eu não estou aqui para brincar, digam o que querem!
- Sim, sim eu compreendo, mas a minha amiga está um pouco impaciente, não
tomou os comprimidos. Na verdade nós queríamos muito falar com uma senhora que
conhecemos na piscina.
- Pronto está bem – disse o senhor já irritado – Descrevam-na e talvez eu vos pos-
sa ajudar.
- É feia que eu sei lá, tem cabelo de palha e tem uma grande verruga que até mete
medo – descreveu a Peixemorto.
Tive de a interromper. Ela estava a dizer a verdade, mas corríamos o risco de não
descobrir nada. Descrevi a mulher e o homem sem aqueles detalhes e depois de muita
pesquisa conseguimos chegar à pessoa que procurávamos.
Sem perder tempo, fomos a correr ao quarto 312 no 7º andar que já estava ocupa-
29
do. E foi nesse momento que a Peixemorto começou a cantar:
- Mas quem será, tum, tum…
Mas quem será… tum, tum tum…
Que está a ocupar o quarto?
Eu sei lá, sei lá, eu sei lá, sei lá…
- Peixemorto, é desta vez que vais tomar os comprimidos! – disse eu já irritada.
Decidimos bater à porta e…
- Help me! – gritámos em coro.
Quem estava do outro lado era uma senhora idosa em trajes menores.
- Parece a minha professora de História do segundo ciclo – exclamei sem pensar no
que dizia.
- O que querem, meninas? – perguntou a senhora.
- Somos as meninas das limpezas – disse sem pensar duas vezes.
- Ai desculpem! Esperem só um minutinho que tenho de me vestir – disse a mulher.
- Concerteza… - dissemos nós.
Nesse momento lembrámo-nos que não tínhamos farda nem produtos de limpeza,
mas a mulher era tão ché, ché que nem reparou.
Ficamos à espera que ela saísse. Quando a mulher abriu a porta, ficámos de boca
aberta
- Bom trabalho, meninas – disse ela.
- Obrigada!
- A senhora tinha saído do quarto com meias de renda, mini-saia e um top.
- Ó meu Deus – disse a Peixemorto.
Quando a mulher saiu, entrámos no quarto e olhámos para todas as direcções.
- Este quarto ainda está mais desarrumado que o meu, o que eu pensava que era
impossível.
- Mas por onde é que havemos de começar a procurar? – Disse eu com as mãos na
cabeça.
Decidimos começar pela casa de banho, pois parecia que era a parte que estava
mais arrumadinha, mas mesmo assim…
- Ai, mas tanta coisa que esta mulher trouxe! – disse a Peixemorto pasmada.
- Olha o que encontrei no chão! – exclamou a Peixemorto.
- Ah, que lindo anel… É meu!
- Também não o queria, mas se for da mulher ela pode reparar que desapareceu.
Não encontrámos nada, nada que nos interessasse a não ser o anel que a Peixe-
morto adorou, e nós nessa altura nem sabíamos a importância dele.
Decidimos irmo-nos embora e, por coincidência, a mulher apareceu e a Marta que é
bastante loira tinha o anel no dedo.
- Desculpe, loira! – chamou a mulher.
- Diga.
- Esse anel, encontrei-o quando cheguei cá, devia ser da senhora que estava cá
anteriormente.
Quando a mulher nos disse aquilo ,olhámos uma para a outra.
- Estás a pensar no mesmo que eu? – perguntei.
- Acho que sim, mas para eu saber tenho de saber no que é que está a pensar.
- Então é simples, se o anel não é da “velha”, quem esteve naquele quarto anterior-
30
mente foi a mulher misteriosa, por isso…
- Bingo!
- Espera, mas o anel não era azul? – perguntei intrigada.
- Pois era! E agora está roxo!
Achámos tudo aquilo muito estranho. Aparentemente parecia um anel normal, com
alguns diamantes.
- Será que era este o anel que a mulher tinha perdido? – perguntei.
Parte III – Único
Ainda não tínhamos bem a certeza se o anel era da mulher mistério e o porquê das
várias cores. E se fosse, onde é que ela estaria?
Decidimos ir jantar as duas juntas para falarmos destes acontecimentos e dúvidas.
Nem uma nem outra sabia a que fazer, estávamos bastante preocupadas.
A Peixemorto tinha a mão em cima da mesa e por acaso desviei o meu olhar nessa
direcção, e foi aí que vi o anel a mudar de cor para verde. Foi nesse momento que surgiu
outra interrogação. Porque será que mudava de cor?
Ficámos sem assunto, talvez pensativas, mas não sei bem a pensar em quê, talvez
nisto ou então, naquilo.
Já estávamos a ficar um pouco cansadas. Quando nos dirigíamos para o quarto, a
Peixemorto disse:
- Acho que tenho uma pequena ideia sobre qual a razão do anel mudar de cor, por
exemplo, imagina que eu estou triste, o anel fica de uma determinada cor, se eu estou
zangada fica de outra cor, acho que é esta a razão, muda de cor conforme os sentimen-
tos.
- Eu acho que a dúvida de não sabermos porque é que o anel muda de cor, já está
resolvida, mas amanhã temos de ver se é mesmo essa a razão
No dia seguinte, levantámo-nos cedo, pois queríamos ter a mesmo a certeza que a
hipótese que a Peixemorto levantara estava correcta.
Naquele momento, a Peixemorto estava contente, ou seja, a cor do anel era azul, pois
achava que o que tinha dito estava correcto, mas para termos a confirmação a Peixemorto
tinha de mudar de disposição.
Pus-me a pensar, a pensar pois não sabia como poderia fazer isso. Enquanto ela se
empanturrava de torradas, ovo mexido e outras coisas, eu estava a pôr os meus neuró-
nios a funcionar.
Mas antes de eu ter qualquer tipo de ideia, a Peixemorto teve uma primeira. Ao
pequeno almoço conseguiu comer um pouco de tudo, fez misturas e misturas, de salgados
a doces e muito mais. E o resultado foi a manhã inteira na casa de banho a vomitar, o que
não era muito agradável. Mas houve uma coisa em que reparei, o anel mudou de cor para
amarelo.
- Acho que tinhas razão! – gritei eu, mas nas obtive reposta a não ser ela ter vomi-
tado mais.
Mas ainda não tínhamos terminado as nossas interrogações.
O passo seguinte era descobrir onde é que estava a mulher mistério.
A Peixemorto ainda estava um pouco mal disposta, por essa razão foi para o quarto
descansar. Já que não tinha mais nada para fazer, segui o exemplo dela e também fui
para o meu.
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Quando abri a porta do meu quarto, reparei que debaixo da porta tinha o jornal,
como era habitual. Deitei-me e passei os olhos pelas várias páginas, mas logo na capa do
jornal reparei num tópico que dizia: “Assaltantes levam jóias únicas de uma ourivesaria”.
Quando li isto, decidi ir logo à página do jornal parar ler a noticia do início ao fim. Entrei
em choque quando li uma parte que dizia que os assaltantes tinham roubado o único anel
do mundo que mudava de cor conforme os sentimentos das pessoas.
Nesse momento não sabia bem o que fazer e fui a correr contar à Peixemorto.
- O quê? Eu estou a usar uma anel roubado?
- Sim. Ainda tenho de te dizer mais outra coisa. Sabes que este cruzeiro fez várias
paragens e a mulher mistério saiu numa dessas paragens, por isso fui perguntar ao sítio
de “ Apoio ao cliente” se as pessoas que tinham saído do cruzeiro nesses portos voltavam
e o senhor disse que sim. Pelas minhas contas, vamos parar amanhã no porto onde a
mulher saiu.
- Bom trabalho, Noites! Temos de estar atentas para ver se a vimos.
- Pois temos.
No dia seguinte vimo-la no bar, respirámos fundo, contámos até três e lá fomos nós
falar com ela
- Boa tarde – disse a Peixemorto.
- Boa tarde, o que querem?
- Vou tentar ser delicada, VOCÊ É UMA LADRA!
- O quê?
- Esqueça, foi a minha amiga que se esqueceu de tomar os comprimidos, outra vez!
É assim , nós fomos ao quarto onde estava instalada antes de se ir embora e encontrámos
este anel, é seu?
- Dá-me cá isso!
- NA, NA, NA… Primeiro tem do nos dizer onde é que arranjou este anel! – disse a
Peixemorto
- Comprei-o em Lisboa! Mas agora dá-mo cá
- Tenha calma, ainda fica com rugas! Só por acaso não nos está a mentir, não? –
disse eu
- Não, mas porque haveria eu de vos estar a mentir?
- Porque, se calhar, este anel foi roubado juntamente com outras jóias, e porque só
existe um anel destes em todo o mundo!
Quando acabei de dizer isto, apareceu a policia que nós tínhamos chamado, para a
levar.
Quando chegámos a Lisboa, que era o ponto de partida e ponto de chegada esta-
vam os seu amiguinhos à sua espera, mas claro, também foram levados para a prisão.
Mas história não acaba aqui, porque eu e a Peixemorto ainda vamos ter muitas
mais aventuras!
Laura Dias
Marta Peixoto
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Parte I
Ravi e Mohamed eram dois polícias egípcios que trabalhavam para a polícia
local.
Num dia seco e extremamente quente, encontravam-se num café com o principal
objectivo de se refugiarem daquele calor imenso. Enquanto Mohamed pedia uma bebida
fresca, um jornal esquecido junto de si suscitou-lhe a atenção. Começou por ler um artigo
bastante interessante acerca das pirâmides de Gizé. A notícia continha conteúdos sobre a
sua construção, os seus alegados tesouros e o que lhe despertou mais a atenção foi a
existência de uma serpente com poderes mágicos, até agora não identificados. Devido à
curiosidade de ambos, decidiram investigar minuciosamente a pirâmide.
No dia seguinte, dirigiram-se às pirâmides para recolher mais informações. Durante
a visita, Ravi e Mohamed desviaram-se do grupo e do guia e dirigiram-se para um corre-
dor frio e sombrio que lhes despertou a atenção. Caminhavam cautelosamente para não
serem descobertos pelos funcionários e seguranças e apalpavam cuidadosamente as pare-
des para verificar se tinham algo de estranho, como por exemplo uma passagem secreta.
Passados poucos segundos, Ravi caiu num buraco que parecia levar a uma outra gruta.
Mohamed tentou auxiliar o amigo descendo com cuidado a “armadilha”. Quando chegou lá
abaixo viu que o seu companheiro estava queixoso do joelho esquerdo e levou-o às cava-
litas com o objectivo de ele não se magoar ainda mais.
Prosseguiram a sua aventura e eis que começaram a ver luzes ao fundo do túnel
vindas de um compartimento com uma porta de madeira coberta de ouro maciço. Apenas
tinha um problema, estava fechada e a chave não se encontrava naquele local. Olharam
um para o outro sem saberem o que fazer. Decidiram não voltar para trás e continuar a
sua travessia, mas desta vez com um principal objectivo: encontrar a chave.
Quando voltaram para trás, Ravi encontrou um pedaço de papiro no chão. Tratava-
se de uma pista para descobrir a localização da chave e continha a seguinte mensagem:
“Para descobrires o objecto que procuras terás de achar as múmias primeiro”.
Continuaram o seu caminho, até que pararam num local com centenas de túmulos
egípcios e uma tableta no meio da sala, que dizia: “Aqui está a chave do teu destino”.
Intrigados com a mensagem, Ravi e Mohamed acabaram por demorar horas a fio
em busca da tal cobiçada chave.
Finalmente, quando estavam quase a desistir, contemplaram um túmulo com pintu-
ras e características diferentes a todos os outros. Ao abrir, sentiram um calafrio que os
deixou ficar com pele de galinha durante momentos mas lá estava a “chave do destino”.
Felicíssimos com o que encontraram, os dois polícias retomaram o caminho de vol-
ta, com o dever comprido.
Estavam junto da porta, com algum nervosismo e curiosidade, quando Mohamed
mete a mão no bolso tirando a chave.
Ao abrirem a porta começam a ouvir estrondos vindos do fundo da gruta e parecia
À D E S C O B E R TA
D O T E S O U R O
33
que a pirâmide se estava a desmoronar. Ambos corriam desesperadamente para tentar
encontrar uma saída ou uma falha na gruta, até que caíram numa inesperada armadilha…
Parte II
Como diz a velha e conhecida expressão “Meteram a pata na poça”, mas desta vez
a poça poderia ser boa.
Quando acordaram do choque causado pela queda, Ravi e Mohamed sentiam-se
algo desorientados e sem saberem onde estavam.
Passado alguns minutos, recuperaram a consciência e olharam à sua volta. Ficaram
pasmados com as relíquias e jóias que reflectiam uma luz amarela que, ao olhar directa-
mente, se assemelhava ao Sol.
No entanto, ambos os amigos deram especial atenção à estatueta que estava no
cimo daquele monte de pedras preciosas. Era uma espécie de cobra banhada em ouro.
Entre outras características, destacava-se a sua grandeza a nível artístico, o seu brilho e
os seus olhos verdes (que eram gemas peque-
nas) irradiavam uma luz algo estranha.
Depararam-se com a Serpente do Antigo
Egipto. Deram pulos e gritos de alegria, pois
sentiram que tinham feito a maior descoberta
arqueológica do século. Pensaram no valor incal-
culável daquele precioso objecto que lhes podia
proporcionar um estilo de vida totalmente dife-
rente. Os carros, as casas, as mulheres que
poderiam ter foram as suas principais fantasias
que lhes vieram à cabeça.
Mas em primeiro lugar tinham que arran-
jar uma maneira de sair dali. Ao tirarem a Serpente, um alçapão apareceu no solo. Olha-
ram um para o outro para decidirem se voltavam para trás ou seguiam a aventura que há
muito procuravam terminar. Pela primeira vez na sua jornada, escolheram o caminho
mais seguro, ou seja, voltar ao seu ponto de partida. Com bastantes cuidados, consegui-
ram alcançar o destino. Ao esconderem os tesouros no casaco e noutras peças de roupa
assemelhavam-se a lutadores de sumo. Entrando rapidamente e discretamente num jipe
para turistas, sentiam-se superiores às outras pessoas mostrando também alguma ganân-
cia, característica que nenhum deles mostrava possuía antes deste acontecimento.
Quando chegaram a casa, a primeira coisa que fizeram foi contactar coleccionado-
res que estivessem dispostos a pagar uma boa quantia por aquela desejada e preciosa
colecção. Mas algo de estranho estava a acontecer à Serpente, pois esta encontrava-se a
tremer. Começaram a inalar um odor particularmente desagradável, de seguida sentiram-
se tontos e consequentemente desmaiaram para o lado. Perderam os sentidos e foram
levados para o hospital. Os médicos tentaram tudo, mas não foram capazes de evitar a
morte de Ravi e Mohamed.
Esta história faz-nos lembrar um velho ditado: Quem tudo quer tudo perde. Em vez
de doarem este tesouro a um museu para todos as pessoas o admirarem, escolheram o
caminho da ganância e de egoísmo.
Nuno Perfeito
Tiago Rafael
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U M P R E S E N T E
I N E S P E R A D O
Parte I
Tudo estava calmo na mansão dos Anderson. O único som que se ouvia, era o da chuva que caía ruidosamente lá fora. A casa situava-se no cimo de uma montanha em Liverpool
e pode dizer-se que se encontrava isolada das restantes casas. Com um longo jardim bem tratado e uma piscina muito apetecível, aquela casa fazia as
delícias de quem passava por lá. Toda a gente os invejava. Não apenas pela quantidade exorbitante de dinheiro, mas também pela sua aparência física. Era dia vinte de Dezembro. Dentro da casa, os preparativos para o Natal continuavam,
se bem que com menos alegria do que antigamente. Senhor e Senhora Anderson, donos da casa, tinham morrido recentemente, quando o
avião onde seguiam tinha caído. Agora a grande casa era apenas habitada pelos três irmãos: James, Katherine e Taylor Anderson, de vinte e dois, dezasseis e vinte e três anos.
Katherine, a filha mais nova, tinha sido a mais afectada com a morte dos pais. Chorara dia e noite e ainda agora era difícil pensar ou até mesmo lembrar-se deles. Já com James
e Taylor era outra conversa. Sentiam muito a falta dos progenitores mas não o demons-travam, muito menos em frente de Katherine. Sempre que se falava nisso mostravam-se tristes e ao mesmo tempo frios. Apenas não conseguiam aceitar.
De repente a campainha tocou. O mordomo tratou-se de ir abrir. - Sr. James é para si - anunciou com uma voz solene.
- Vou já! - respondeu o anfitrião. James desceu as escadas, curioso sobre quem seria a visita. Logo descobriu. Era Jane Patrick, a sua namorada de longa data. E trazia consigo uma coisinha peluda.
- Olá, amor! - Saudou ela. E dirigiu-se a ele com o intuito de o beijar. - Oi. - E beijou-a, mas sempre com maior atenção ao cão que arfava a entrada. – O
que é aquilo? - Ah! Amor, é a minha prenda de Natal para ti. - Um cão? - perguntou James de sobrolho carregado.
- Oh querido, ele estava sozinho e abandonado e pensei… como gostas tanto de ani-mais, que podias ficar com ele! - disse com um piscar sedutor de olhos.
- Porque é que não ficas tu com ele? - interrogou desconfiado. - Oh amor, sabes perfeitamente que eu já tenho a minha gata Frufru… - começou. - Okay, okay, eu fico com ele! - acabou por concordar.
Mal sabia ele que fora a pior decisão que havia tomado em toda a sua vida.
Parte II
Chegara o dia da véspera de Natal. O cão, ao qual James tinha chamado Hugo Boss,
parecera habituar-se à casa. Tudo estava a correr bem, até darem pela falta do irmão mais velho. - Mano, onde está o Taylor? - indagou Katherine.
- Não sei querida. Se calhar saiu. Vou ligar-lhe. - E assim o fez. De repente, vindo do quarto de Taylor, ouviu-se o toque de um telemóvel.
- Ele está em casa? Fez-se silêncio. Passados uns segundos, vindo do nada ouviu-se um estrondo como se alguém tivesse caído no chão e ido de encontro a algumas mesas.
- Oh, meu Deus, o que foi isto? - perguntou a empregada, apavorada. - Não sei, mas veio do quarto do Taylor, tenho a certeza! - exclamou Katherine.
Dirigiram-se ao molho para o quarto situado no andar superior. James foi o primeiro a
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entrar, e, ao deparar-se com a cena em frente, mandou Katherine sair do “hall”, que leva-
va ao quarto. Mas esta não obedeceu, entrando de rompante na divisão, para se deixar cair no chão.
À sua frente, uma poça de sangue rodeava Taylor, que jazia inerte no chão, com os olhos abertos e baços fitando o espaço. Ao seu lado estava Hugo Boss, que fitava as pes-soas à entrada com um olhar curioso.
- Ta-aa-ylor - gaguejou James - CHAMEM O 112! - James, James, já não vale a pena
- Chamem a polícia! Chamem o 112! Chamem alguém! - pediu James exasperado. - Vamos ligar à PIOMET! - sugeriu a empregada. - Liga já! - ordenou Katherine em pânico, sem sequer se preocupar com o que era a
PIOMET. A empregada tratou de correr ate ao telefone mais próximo. Estavam todos assustados.
Meia hora mais tarde, bateram finalmente à porta. Vinham com uns fatos-macacos a dizer: “ Somos a PIOMET, polícia de… não vos interessa.” Os donos da casa não acharam muito normal, mas naquele momento não tinham tempo para pensar.
- Ora aqui estamos. Onde foi a matança? - perguntou Hayley Mraz, directora da PIO-MET.
- Lá em cima, por favor despachem-se! - pediu Katherine. Entretanto chegaram os bombeiros que levaram o corpo para ser feita a autópsia.
- Diga-me Sr. Anderson - começou Hayley - Acha que havia alguém com razões para matar o seu irmão? - Pelos vistos sim! - respondeu James visivelmente nervoso.
- Mas alguém em especial? - Eu acho que não, eu não sei, eu não sei. - falou perturbado.
- Hum… Não tem assim a mínima ideia? - Já lhe disse que não! - gritou James. - Hum… está certo. - disse com ar saloio.
Foram então analisar o local do crime. Não havia nada de valor, que identificasse o assassino.
O corpo já lá não estava mas havia sido marcado o contorno no mesmo. Hayley suspirou. Casos como estes eram sempre difíceis de resolver. - Então, está bem… - assentiu Hayley - Se souber de algo, ligue-se. Aqui tem o meu
cartão! - E deu-lho. - Cer-certo. - gaguejou James.
Hayley e os seus “capangas” saíram, e antes de passarem pela porta, um deles cha-mou: - Xê Carlinhos, ma man, vamos dar o baza!
Ao ouvir isto, a empregada sorriu para Katherine, mas esta desprezou-a, ainda chocada com tudo aquilo.
- Como foi isto acontecer? Katherine recomeçou a chorar, e procurou Hugo Boss. - Boss, fofinho?! Anda a mim, anda! - chamou ela.
De repente a campainha tocou. A princípio ninguém se mexeu, mas o tocar frenético, trouxe-os à realidade.
- Vou abrir - anunciou o Mordomo. Segundos depois apareceu na sala uma Jane sorridente. - Amoooor! - saudou com mais felicidade do que o costume.
Mas James, ignorou-a. Ele e o resto das pessoas. - Oi? Jane em casa! - exclamou.
Apenas Hugo Boss mostrou algum entusiasmo em vê-la. - Porque é que estão todos com cara de enterro? - Jane, o Taylor for… assassinado!
Fez-se novamente silêncio naquela mansão… Oh - disse passados alguns segundos.
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Katherine saiu da sala a chorar, dirigindo-se para o jardim. Era esse o sítio para onde
costumava ir quando se sentia triste. - Mas como? Quando? Onde? - perguntou Jane.
- Há pouco - informou James - veio cá a PIOMET, investigar. Jane pareceu relativamente surpreendida, mas nada disso. - Lamento. - respondeu, mas via-se que não se importava muito.
Mas James não ligou. - Pois. Também eu. - E recomeçou a chorar, permanecendo assim até ao amanhecer.
* * * Já no escritório da PIOMET, os homens de Hayley trabalhavam sem descanso. Hayley pensava em tudo o que vira. Uma coisa que a interessara especialmente, era um pêlo de cão. Tudo bem, eles tinham um cão, mas mesmo assim… aquele parecia dife-
rente. - Pormenores. - sussurrou ela - Mero pormenores.
- Como assim? - perguntou um dos seus capangas. - O cão deles é muito estranho, demasiado até. Parecia que nos estava a observar… tão inteligentemente. - respondeu Hayley. - Acho que temos um interrogatório a fazer!
Dirigiram-se para a mansão dos Anderson e tocaram à campainha, aguardando respos-ta.
Abriram-lhes a porta e Hayley rematou instantaneamente: - Precisamos de falar com o James! - Okay… Hum… ele está no escritório, sigam em frente por aquele corredor e é na pri-
meira porta à direita. Encontraram-na e bateram à porta.
- Quem é? Não estou com muita paciência… - afirmou James lá de dentro. - PIOMET, filho, PIOMET - retorquiu Hayley com algum divertimento. - Entrem, façam favor. Lamento o incómodo - desculpou-se atrapalhado.
- “No problem” - tranquilizou Hayley. E entraram. - Então, o que vos traz por cá? - interrogou.
- Interrogatório, meu caro. - Força! - incentivou.
Hayley pediu ao seu colega para apontar tudo o que James fosse dizendo e começou: - Onde estava ontem à noite? - Na sala, a preparar-me para a consoada…
- Como arranjou ali o Bobi? James pareceu confuso.
- O Hugo Boss? Foi a minha namorada que mo ofereceu há menos de uma semana. - Hm… okay, é tudo. - Já acabou?
- Sim. Porquê? Queria que ficasse mais tempo? - respondeu com atrevimento. - Ah… eu não, oh… Sim, Kath já vou! - gritou, e saiu.
- Está certo… Will, temos uma outra visita a fazer! Jane Patrick tem de nos responder a umas certas perguntas! - falou Hayley. Jane Patrick encontrava-se em sua casa, de roda de uns documentos, quando tocaram
à campainha. Ela foi abrir, ainda de olhos postos nos papéis.
- Olá, somos da PIOMET e estamos aqui para lhe fazer um interrogatório acerca do assassínio de Taylor Anderson. Ela pareceu atrapalhada, e por momentos nada disse.
- Ah, entrem… entrem… Eles, porém, já tinham entrado antes de ela o permitir.
- Onde se encontrava na noite do assassinato?
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- Ah… - pensou ela em voz alta - aqui em casa.
- Tem álibi? - Ah… sim a minha empregada.
- Hum, vamos investigar isso. Boa-tarde! - e saíram com um ar pomposo. - Isto está estranho - rematou Will, um dos capangas de Hayley. - Sim. Diz que sim - sussurrou Hayley enquanto pensava.
- Quem teria razões para o matar? - pensava Hayley - Alguém ganancioso, de certeza. Não me parece que tenha sido dentro da sua família. Pareciam todos bastante afectados
com a sua morte. E se voltarmos ao local do crime? Pensarmos como verdadeiros assassi-nos? - Pessoal, tudo para a casa dos Anderson, imediatamente! - ordenou exprimindo o que
lhe ia na cabeça. E assim o fizeram. Dez minutos depois já se encontravam no local do crime, à procura
de pistas. - Estamos mesmo à procura de quê? - perguntou Jack, um dos funcionários da PIOMET. - Ah… - pensou Hayley - não sei, mas procura.
- Impressões digitais? Serve? - indagou Olívia, que possivelmente era a pessoa mais inteligente da associação.
- Suponho que sim, porquê? - É que há aqui bastantes na janela… - anunciou Olívia.
Hayley começou a dar atenção à janela. Montes de dedadas, estavam marcadas na mesma. - Assassino pouco astuto. - comentou Hayley.
- Deveras - concordou Olívia. - Quê? Deve quê? - interrogou Hayley.
- Chefe… queria dizer: concordo. - Ah, claro eu percebi. Estava só a brincar. Recolham todas as impressões e levem-nas para o laboratório. - ordenou de imediato, para que ninguém percebesse a sua desculpa
esfarrapada.
Parte III
Procuraram durante horas e horas. Hayley estava desolada pois ainda não tinham encontrado “nickles batatóides” sem ser aquelas impressões, que estavam a ser analisa-
das. - Bem, vou esquecer. Neste escritório não há mais nada. - sussurrou para si.
No preciso momento em que falava, tropeçou, nem se apercebeu onde. - Mas que… - e foi quando olhou melhor para onde tropeçara. Era uma caixa e estava
fechada. Ela observou aquilo com mais atenção. Começou por tentar abrir, e conseguiu porque não estava trancada. Hayley arregalou os olhos ao ver o conteúdo da caixa. Lá dentro estavam meia dúzia de
facas. E uma delas, surpresa das surpresas, coberta de sangue. Os resultados da autópsia tinha chegado nesse dia, e a casa da morte tinha sido múlti-
plo esfaqueamento. Por tanto, aquela podia ser muito bem a arma do crime. Pegou nela com cuidado e dirigiu-se para o laboratório. - Pessoal, tenho aqui a possível arma do crime, “muahaha”.
A faca foi analisada juntamente com as impressões. Entretanto, Hayley dirigiu-se novamente a casa dos Anderson, para os informar daquele
achado. No entanto, lá dentro reinava a agitação. Ao que parece o cão Hugo Boss, tinha ficado demasiado quieto, e agora não se mexia.
- Hugo Boss?! Ei! “Atão” rapaz? – chamou Katherine, desesperada. - Oh, Bobi!? – tentou Hayley e deu-lhe um safanão.
Da reacção a seguir é que ninguém estava à espera. O cão caiu no chão, como uma
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pedra, e do que pareceu ser dentro dele, soou uma voz:
- Erro! Erro! Todos os presentes olharam pasmados para aquilo.
Depois, tal e qual como num filme, o “cão” começou a “passar-se”, literalmente. - Interferência. Erro, erroo. E “PUM”. O suposto cão explodiu.
- Ahh! – gritaram todos. - Roo-roo-bôôô? – gaguejou James.
- Okay… isto foi estranho. Quem lhe deu o cão? – perguntou Hayley. - A Jane… Hayley saíu e foi na direcção da casa de Jane.
Entretanto o seu telemóvel tocou. - Alôô!? – saudou ela.
- Hay, temos os resultados. – anunicou a voz do outro lado. - E então? - Há impressões digitais no cabo da faca.
- E são de quem? - Jane Patrick, Jane Patrick – cantarolou a voz.
- E as dedadas? - Adivinha lá!
- Hum... Tom Cruise? - Ah... não... Jane Patrick... - Olhem que giro, hum? Dedadas, facas, cães-robôs que explodem...
- O quê? - Depois explico. Estou a ir para casa da Jane. Manda reforços.
- Correcto. Cinco minutos depois... - Arrombem essa porta! – ordenou Hayley.
- Porque é que não tocamos simplesmente à campainha? - Arromba logo!
E assim fizeram. Jane apareceu alarmada. - Mas que...!?
- Más notícias. O seu presente explodiu. - Quê?
- O seu cão-robô foi-se. Ainda está na garantia? - Ah... - E olhe, não nos quer contar uma história? Tem ar de quem sabe muitas... sobre
facas, assassínios... - De que está a falar?
- Oh... de que será? Agora Jane tremia que nem varas verdes. - Confesse! – ordenou Olívia.
- Sim, dava jeito, só assim por acaso. E se não é a bem, é a mal. – e ao dizer isto, Hayley fingiu tirar a sua arma imaginária do bolso.
- Não! – gritou Jane sentido-se cheia de medo. – Não! - Então? - Eu conto, mas deixe a arma no lugar.
- Hum... Jane sentou-se, respirou fundo e começou a relatar o sucedido:
- Eu e o Taylor éramos amantes. Nunca ninguém desconfiou disso, até ao dia em que Taylor, demonstrou saber mais do que devia sobre mim, num jantar lá em casa. Fiquei alarmada.
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- E matou-o? – interrompeu Hayley.
- Não. Ainda não acabou. Fiquei alarmada, pois James tinha-me prometido uma par-te da herança caso a nossa relação durasse. E se soubesse disto... adeus dinheiro. Por
isso, arranjei aquele cão, e cá em casa vigiava todos os passos de Taylor. Naquele dia, Taylor dirigira-se a James demasiadas vezes, e certa vez ouvi o meu nome. Acho que o receio falou mais alto. Discutimos, e quando dei por mim tinha-lhe dado uma facada.
Acobardei-me e abri a janela para saltar e poder fugir. Depois, ouvi berros e supus que ele tivesse sido encontrado.
- Então, admite? - Ah... acho que me parece óbvio mas se não acha, posso ir-me embora. – E começou
a levantar-se.
Hayley podia não ser muito dada à inteligência, mas desta vez ela soube que se ela escapasse, provavelmente nunca mais lhe punham a vista em cima.
- Hey, calminha aí. Acha que sou burra? Minha querida, por alguma razão eu cheguei a presidente da PIOMET.
- Sim, porque pagou ao dono. – sussurrou alguém atrás delas.
Hayley ignorou e continuou o seu discurso: - Você acabou de confessar um homicídio, e provavelmente um certificado de compra
de um objecto ilegal. Não. Você não se vai embora. Quer dizer, até vai. Vai para a cadeia, que é onde merece estar. Sem posters do Tom Cruise e do Brad Pitt! Sem nada.
Jane Patrick, o seu futuro foi posto em causa e agora cabe ao tribunal decidir. Os seus colegas olharam-na com espanto. Agora sim, Hayley falara bem. - Agora, mãos atrás das costas, que temos umas algemas para lhe pôr.
Jane lá obedeceu, e foi levada, com dificuldade, para a PIOMET, onde foi novamente interrogada.
Hayley seguiu para casa dos Anderson, para contar as boas-novas. - Caros amigos – chamou ela. – O mistério está resolvido. - então? – perguntou um coro de vozes exaltado.
- Jane Patrick. - O quê? – gritou James.
- Parece que há muitas coisas nesta casa, que lhe passam ao lado. O seu irmão e a Jane eram amantes.
- O QUÊ? – guincharam todos.
- Verdade. A própria Jane admitiu. E antes que o coro histérico, voltasse a berrar, Hayley explicou rapidamente o que
acontecera. Todos ficaram boquiabertos. Mas era James, quem mais se destacava. - Ai aquela, aquela... aquela...
- pii. – censurou Hayley. - Sim é isso.
- Mas agora vai ter o que merece, não se preocupe. - Espero que sim. Espero mesmo que sim. Dias depois deu-se o julgamento.
Jane acabou por ser declarada culpada, como é óbvio. James encheu-se de raiva, pela mulher com que namorara durante três anos. Não co
seguia acreditar. Mas após uns bons meses sozinho, acabou por encontrar uma rapariga que lhe agradou, e agora anda a sair com ela. Vamos ver no que vai dar. Katherine convenceu o seu irmão a comprar-lhe um cão. Mas um a sério. Com tantas
perdas na sua vida, a jovem teve de arranjar uma maneira de expressar a sua dor, e por isso seguiu a área da pintura, onde por acaso descobriu bastante talento.
Já Hayley continuou na liderança da PIOMET. Ai, PIOMET, PIOMET. Que instituição mais louca. A propósito, sabem o que significa PIOMET? A resposta é... nunca saberão.
Filipa Lobato Catarina Teixeira
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