Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde Para o Movimento Modernista Brasileiro 1 MARTINUZZO, Victor Augusto Bastos (Graduado) 2 NATHANAILIDIS, Andressa Zoi (Doutora) 3 Universidade Vila Velha, Espírito Santo Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre a importância da revista Verde – que circulou de setembro de 1928 a maio de 1929 - para o movimento modernista brasileiro e se a mesma manteve os objetivos iniciais ao longo de suas publicações. O estudo intenta, a partir de um resgate histórico, ressaltar as interseções existentes entre o jornalismo e a literatura, sendo o periódico em questão, uma ferramenta fundamental para a difusão do movimento já referido e de seus ideais, sendo ainda, assim, um agente construtor da história brasileira, por meio das vertentes jornalísticas. A fim de viabilizar o presente trabalho, são adotados os métodos de pesquisa bibliográfica e, principalmente, de análise de conteúdo, em que serão utilizadas como material de pesquisa três edições da Revista Verde, sendo elas a primeira, a terceira e a quinta. Palavras-chave: Modernismo; Jornalismo literário; Revista Verde; Movimento Verde; Análise de conteúdo Introdução O Modernismo Brasileiro foi uma das principais correntes artísticas que ocorreram no Brasil e, nesta época, o jornalismo no país não havia sofrido interseções estrangeiras, estando ligado intimamente à literatura. Por isso, torna-se importante o estudo da influência do jornalismo literário na difusão de um movimento artístico, delimitando como tema de estudo a Revista Verde, criada em Cataguases por jovens em 1927, e sua importância para o modernismo brasileiro em sua fase inicial (1922-1930). Douglas Tufano (2007), na obra Modernismo Literatura brasileira (1922-1945) disserta sobre tal fase. Segundo o autor, trata-se de um período que se iniciou em 1922, após a Semana de Arte Moderna, quando: As ideias modernistas saíram de São Paulo e do Rio de Janeiro e espalharam-se por todo o Brasil, gerando polêmicas e contribuindo para a formação de diversos grupos 1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do IV Encontro Regional Sudeste de História da Mídia – Alcar Sudeste, 2016. 2 Graduado em Jornalismo pela Universidade Vila Velha (UVV); email: [email protected]3 Graduada em Jornalismo, Mestre em Letras/Estudos literários pela Universidade do Espírito Santo (UFES), Doutora em Letras/Estudos Literários pela UFES, Docente da Universidade Vila Velha (UVV) e orientadora deste presente trabalho; email: [email protected]
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Literatura e Jornalismo: A Importância da Revista Verde Para o
Movimento Modernista Brasileiro1
MARTINUZZO, Victor Augusto Bastos (Graduado)2
NATHANAILIDIS, Andressa Zoi (Doutora)3
Universidade Vila Velha, Espírito Santo
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre a importância da revista Verde –
que circulou de setembro de 1928 a maio de 1929 - para o movimento modernista brasileiro e se a mesma
manteve os objetivos iniciais ao longo de suas publicações. O estudo intenta, a partir de um resgate
histórico, ressaltar as interseções existentes entre o jornalismo e a literatura, sendo o periódico em
questão, uma ferramenta fundamental para a difusão do movimento já referido e de seus ideais, sendo
ainda, assim, um agente construtor da história brasileira, por meio das vertentes jornalísticas. A fim de
viabilizar o presente trabalho, são adotados os métodos de pesquisa bibliográfica e, principalmente, de
análise de conteúdo, em que serão utilizadas como material de pesquisa três edições da Revista Verde,
sendo elas a primeira, a terceira e a quinta.
Palavras-chave: Modernismo; Jornalismo literário; Revista Verde; Movimento Verde; Análise de
conteúdo
Introdução
O Modernismo Brasileiro foi uma das principais correntes artísticas que ocorreram no
Brasil e, nesta época, o jornalismo no país não havia sofrido interseções estrangeiras, estando
ligado intimamente à literatura. Por isso, torna-se importante o estudo da influência do
jornalismo literário na difusão de um movimento artístico, delimitando como tema de estudo a
Revista Verde, criada em Cataguases por jovens em 1927, e sua importância para o modernismo
brasileiro em sua fase inicial (1922-1930). Douglas Tufano (2007), na obra Modernismo
Literatura brasileira (1922-1945) disserta sobre tal fase. Segundo o autor, trata-se de um
período que se iniciou em 1922, após a Semana de Arte Moderna, quando:
As ideias modernistas saíram de São Paulo e do Rio de Janeiro e espalharam-se por
todo o Brasil, gerando polêmicas e contribuindo para a formação de diversos grupos
1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do IV Encontro Regional Sudeste de História
da Mídia – Alcar Sudeste, 2016.
2 Graduado em Jornalismo pela Universidade Vila Velha (UVV); email: [email protected]
3 Graduada em Jornalismo, Mestre em Letras/Estudos literários pela Universidade do Espírito Santo (UFES),
Doutora em Letras/Estudos Literários pela UFES, Docente da Universidade Vila Velha (UVV) e orientadora
de vanguarda, que dariam novos matizes ao processo de renovação artística [...]
surgiram também várias revistas de arte [...] (TUFANO, 2007, p.33)
O presente artigo é resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), defendido
em julho de 2016, para obtenção do grau de bacharel em jornalismo da Universidade Vila Velha
(UVV), e teve como intenção estudar e examinar a influência do jornalismo literário por meio
da análise de conteúdo a ser realizada sobre três exemplares da Revista Verde, o primeiro, o
terceiro e o quinto. Pretendeu-se verificar, então, conforme o exposto, em que medida a
publicação manteve presente em suas matérias os objetivos iniciais identificados por este autor
a partir, inicialmente, de um estudo superficial dos exemplares, sendo eles: a ênfase ao
fortalecimento identitário regional, a difusão dos propósitos do movimento e a ênfase ao
fortalecimento identitário nacional.
A hipótese que fora levantada se constituiu no fato de que a Revista Verde mantera sua
linha editorial e de pensamento ao longo das publicações por meio da análise de conteúdo.
Herscovitz (2010) disserta que essa metodologia é importante para constatar tendências,
características de produções de um certo grupo, como, o grupo Verde da Revista de mesmo
nome aqui analisada, além de ser possível categorizar o conteúdo jornalístico de várias culturas
e mídias.
Há pouco conteúdo produzido sobre a grande difusão dos veículos jornalísticos, que, à
época, estabeleciam correlações com a literatura, do expansionismo que o movimento
vanguardista assumia em território brasileiro. Os estudos iniciais apontam para a participação
da grande maioria dos modernistas na fundação e ou colaboração das revistas literárias, sendo,
elas, criadas a priori para a divulgação dos princípios vanguardistas da época. Crê-se, portanto,
que este será um trabalho a oferecer certa contribuição à comunidade acadêmica.
Durante a confecção da monografia, que resultou no presente artigo, um objetivo geral
foi empreendido: realizar um estudo que proporcione a avaliação sobre o papel do jornalismo
literário, praticado pela revista Verde, na difusão do movimento modernista e a hipótese de que
o periódico manteve uma linha editorial durante toda sua circulação.
Este trabalho também sustentou objetos específicos, como: reforçar o expansionismo
que o movimento teve fora dos principais centros; coletar informações e dissertar sobre a
importância cultural e vanguardista do movimento verde, formado pelo grupo de jovens que
fundaram a revista Verde; explicar os principais pontos que marcaram o modernismo em âmbito
brasileiro e de Minas Gerais; compreender a história do jornalismo literário; propagar o
conhecimento sobre o movimento verde para a sociedade.
De acordo com o pesquisador Douglas Tufano (2012), o modernismo é dividido em duas
partes: a primeira fase compreende de 1922, após a Semana de Arte Moderna, até 1930 e a
segunda de 1930 a 1945. E neste trabalho, será abordada a primeira fase, na qual Tufano (2012)
compreende ser um período de “combate ou destruição”. “Nessa fase, a primeira geração
modernista procura difundir as novas ideias e não hesita em criticar violentamente a literatura
tradicionalista, provocando muitas polêmicas” (TUFANO, 2007, p.9)
Neste primeiro momento do modernismo, são criadas publicações jornalísticas, tais
como, revistas e jornais, conforme relata o escritor Raul Bopp:
[...] formou-se um campo fecundo para publicações literárias. O grande público tinha
fome de explicações. Cada ensaísta, com doutrinas próprias, fazia interpretações a seu
modo, muitas vezes em contradições com outros ‘semanistas’, que definiam
diferentemente as suas posições e ideias (BOPP, 2012, p.65)
Ainda segundo Bopp (2012), os periódicos tiveram grande relevância para a repercussão
dos novos valores artísticos, a fim de manifestar estímulos e debates sobre formas diferentes de
se ver um mesmo tema.
O autor relata em seu livro, Movimentos Modernistas do Brasil (1922-1928), os
principais periódicos sobre o assunto na época, dentre eles as revistas Klaxon e Estética:
A revista Klaxon foi a primeira do gênero e criada logo após a Semana de Arte de
Moderna, em São Paulo. Segundo Bopp, o periódico era ultravanguardista e carregava um
cunho agressivo. Colaboraram, principalmente, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel
Bandeira e Sérgio Millet.
Já a revista Estética, segundo periódico modernista brasileiro, foi fundada por Sérgio
Buarque de Hollanda e Prudente de Morais no Rio de Janeiro. Bopp relata que foi a primeira
revista a expor os ideais do movimento e teve em seus materiais estudos brasileiros, ensaios e
análises de doutrinas.
Bopp (2012) também dissertou o aparecimento da corrente em outros núcleos
intelectuais do Brasil, como, em Minas Gerais, em que foram fundadas duas revistas.
A Revista (1925, Belo Horizonte) fora fundada no centro cultural de Minas Gerais e
contou com as colaborações de grandes modernistas, como, Carlos Drummond de Andrade,
Martins de Almeida, Emíio Moura e João Albuquerque.
A outra importante publicação modernista em solo mineiro foi a revista Verde, fonte de
análise e pesquisa desse trabalho. O periódico foi inspirado em um movimento de mesmo nome,
criado em 1927, por jovens escritores vanguardistas da zona da mata mineira, como relata a
pesquisadora Ana Lúcia G. Richa L. de Menezes (USP/UFRJ)4.
A penetração da revista fundada por esses moços foi significativa. O grupo conseguiu
lançar seis números da revista e quatro livros de poemas – além do “Manifesto do
Grupo Verde de Cataguases”, em novembro de 1927. A publicação circulou não só
por Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, como chegou via correio a diversas
partes do país [...]. Verde também se internacionalizou, acolhendo textos de autores
uruguaios e argentinos, sendo enviada a grupos da América do Sul, entre os quais os
que editavam as revistas Proa e Martin Fierro
O movimento alcançou repercussão nacional e até internacional, sendo considerado uma
das mais importantes publicações fora do “eixo RJ-SP”.
A pesquisadora Rivânia Maria Trotta Sant’Ana (UFOP)5 relata também que a revista
teve a contribuição, desde seus primeiros exemplares, de modernistas consagrados no Brasil,
como, Oswald de Andrade, Carlos Drummond e Mário de Andrade. A autora explica que fora
a audácia dos “meninos de Cataguases” que chamou a atenção desses escritores mais
conhecidos.
O Movimento Modernista No Brasil: Do Futurismo à Arte Brasileira
O movimento modernista brasileiro é resultante de outro agrupamento artístico, o
Futurismo italiano. Segundo Annateresa Fabris (1994), a corrente foi idealizada pelas premissas
apresentadas por Filippi Tommaso Marinetti (1876-1944), renomado poeta italiano, em um
manifesto. Ainda de acordo com a autora a publicação de “Fundação e Manifesto do
Futurismo”, no jornal Le Figaro, de Paris em 20/02/1909 tinha como slogan a “liberdade para
as palavras” e fora influenciada pelas teorias dos filósofos Friedrich Nietzsche (1844-1900),
Georges Sorel (1847-1922) e Henri Bérgson (1859-1941).
De acordo com a pesquisadora Mariarosaria Fabris6, a escolha da capital francesa para
o lançamento oficial do movimento se deve a uma maior repercussão em semelhança ao seu
4 MENEZES, Ana Lúcia G. Richa L. de. A correspondência de Mário de Andrade com os rapazes
do grupo verde de Cataguases como território de criação. Disponível em:<
http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/96.pdf> Acesso em: 01 de Abr. de 2016 5 SANT’ANA, Rivânia Maria Trotta. O Movimento Modernista Verde, de Cataguases — MG.
Disponível em:< O Movimento Modernista Verde, de Cataguases — MG> Acesso em: 01 de Abr de 2016.
6 FABRIS, Mariarosaria. Notas sobre o futurismo literário. Disponível em:<
http://www2.assis.unesp.br/cilbelc/triceversa/publicacao/ed1/mariarosariafabris.pdf>. Acesso em 09 Mar. 2016.