Top Banner
 SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros OLIVEIRA, K., CUNHA E SOUZA, HF., and SOLEDADE, J., orgs.  Do português arc aico ao  português bras ileiro : outras histórias [online]. Salvador: EDUFBA, 2009. 329 p. ISBN 978-85-232- 0602-4. Available from SciELO Books < http://books.scielo.org>. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoCome rcial-CompartirIgual 3.0 Unported.  Três hipóteses e alguns caminhos para melhor compreender o processo constitutivo do português brasileiro Alex Batista Lins
26

LINS_Três Hipóteses e Alguns Caminhos Para Melhor Compreender o (Artigo)

Nov 04, 2015

Download

Documents

.
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
  • SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

    OLIVEIRA, K., CUNHA E SOUZA, HF., and SOLEDADE, J., orgs. Do portugus arcaico ao portugus brasileiro: outras histrias [online]. Salvador: EDUFBA, 2009. 329 p. ISBN 978-85-232-0602-4. Available from SciELO Books .

    All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

    Todo o contedo deste captulo, exceto quando houver ressalva, publicado sob a licena Creative Commons Atribuio - Uso No Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 No adaptada.

    Todo el contenido de este captulo, excepto donde se indique lo contrario, est bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

    Trs hipteses e alguns caminhos para melhor compreender o processo constitutivo do portugus brasileiro

    Alex Batista Lins

  • 272

    TRS HIPTESES E ALGUNS CAMINHOS PARA MELHOR COMPREENDER O PROCESSO CONSTITUTIVO DO PORTUGUS

    BRASILEIRO

    Alex Batista LINS (PPGLL/UFBA/PROHPOR)

    INTRODUO

    Aps cinco sculos de contato entre lnguas de diferentes povos em terras

    brasileiras, das relaes firmadas entre essas lnguas e das inmeras contribuies

    que forneceram para a formao dos multifacetados aspectos do portugus no

    Brasil, uma apurada reflexo dos processos e fatos histricos e at margem da

    histria , que direta ou indiretamente colaboraram para a coetnea diversidade

    lingstica neste pas vem se ensaiando com ingente empenho por parte de

    abalizados estudiosos.

    Pesquisadores e tericos, a exemplo de Mateus (2006), Mattos e Silva (2004,

    2006), Castro (2006), Lobo (1994, 1996, 2003, 2006), Machado Filho (2007), Naro

    (1981), Scherre (1988), Naro e Scherre (1993, 2003, 2007), Baxter (1995), Lucchesi

    (1999, 2003), Baxter e Lucchesi (1997, 2006), s para relacionar alguns dos mais

    recentes, tm, com esmero cientfico, debruado-se sobre a lngua portuguesa sem

    desprezar as contribuies das lnguas indgenas e africanas sobre o portugus do

    Brasil. Um elenco comprometido no apenas com o registro das caractersticas que

    distanciam o Portugus Brasileiro (PB) do Portugus Europeu (PE), ou com

    sinalizaes para estudos como se verifica em trabalhos das ltimas dcadas

    criteriosos de outros autores com relao ao portugus em terras africanas, mas,

    de modo particular, com a coleta e resenha dos fatos histricos e lingsticos que

    atuaram na formatao do PB, depreendendo e analisando as caractersticas

    prprias dessa lngua, relacionando-as s demais vertentes da lngua portuguesa

    no mundo.

    Mattos e Silva (2006, p. 222-223) em artigo intitulado Uma compreenso

    histrica do portugus brasileiro: velhos problemas repensados, aps abordar a diferena

    entre a Lingstica Histrica no sentido lato e no sentido estrito, e organizando,

    luz desta ltima, a tessitura de suas argumentaes, parece tentar responder, de

  • 273

    certa forma, a indagao levantada por Teyssier (1997, p. 97) no livro Histria da

    Lngua Portuguesa, Como explicar as particularidades do portugus do Brasil?

    indagao caracterizada por Machado Filho (2007, p. 2) como um dos problemas

    cruciais entre o trabalho da Lingstica Histrica e [os] resultados empricos que

    essa cincia pretende alcanar no conhecimento da formao do [...] mundo da

    lusofonia.

    Analisando as disposies da autora, percebe-se que um dos possveis

    caminhos para tentar explicar os aspectos do PB consiste, antes de qualquer coisa,

    em reconhecer que a histria brasileira muito recente e a conscincia da

    transplantao do portugus europeu para o que veio a ser Brasil est presente por

    muitos lados (MATTOS E SILVA, 2006, p. 222). Outro aspecto a ser considerado

    o de focalizar no somente o horizonte comparativo entre o PB e o PE, mas

    tambm as variantes do portugus brasileiro conviventes em nosso territrio

    nacional, variantes sobretudo de ordem scio-histrica e lingstica.

    Os fatores mobilidade demogrfica e escolarizao no Brasil colonial e ps-

    colonial tambm so considerados pela autora, sem perder de vista uma rpida

    compreenso sobre os aspectos condicionantes da mudana lingstica em Lass

    (1997) e Lightfoot (1999) abordagem destinada a melhor fundamentar os

    aspectos intralingsticos e externos lngua, mas que tambm servem

    elaborao de predies sobre a mudana das lnguas que fornecem

    instrumentalizao terica consistente no levantamento de hipteses capazes de

    contemplar toda a diversidade de contingentes, ou quem sabe de motivos que

    confluram para a formao do PB.

    Em sntese, a proposta de Mattos e Silva (2006, p. 233) de desvelar as

    particularidades do PB em sua heterogeneidade complexa dos usos populares e

    cultos por meio de uma perspectiva histrica, considerando os fatores scio-

    histricos, dentre os quais a dinmica da demografia histrica do Brasil e o

    precrio processo de escolarizao na histria da sociedade no espao que veio a

    ser definido como brasileiro, sem perder de vista as diferenas entre o PB e o PE,

    nos nveis lingsticos como bem lembra a autora, numa taxonomia

    estruturalista: fontica/fonologia, morfologia, sintaxe e lxico , fornece elementos

  • 274

    para uma atitude crtico-reflexiva diante das disposies pontuadas/propostas

    sombra de diferentes motivaes interpretativas, que se tm debatido, com vistas a

    procurar promover uma explicao cientfica para o formato lingstico que veio a

    lngua portuguesa a assumir na Amrica meridional (MACHADO FILHO, 2007,

    p. 2).

    Todo esse cenrio, atrelado ainda necessidade de se discutir a questo da

    influncia das lnguas africanas no portugus europeu e ao fato de que essa

    influncia se d com intensidade no Brasil sobre uma matriz indgena aqui

    preexistente e mais localizada (CASTRO, 2006, p. 111), levam a uma anlise das

    hipteses interpretativas1 da constituio do PB de maneira mais refinada.

    Mattos e Silva (2006, p. 232-233) e Machado Filho (2007, p. 10-15) fazem uma

    rpida revisita as hipteses interpretativas para a formao do portugus popular

    brasileiro: (a) a crioulizao prvia, (b) a transmisso lingstica irregular e (c) a

    deriva secular e a confluncia de motivos. Dessas trs, a ltima parece abarcar um

    maior conjunto de fatores na tentativa de interpretar a origem e o processo de

    formao do PB, embora apresente lacunas, as quais mais adiante sero

    pontuadas.

    O presente artigo, portanto, possui por eixo maior a retomada do debate

    contemporneo sobre a constituio histrica do Portugus Brasileiro, partindo-se

    de uma reflexo crtica dos principais aspectos concernentes s trs hipteses

    interpretativas em questo, com vistas a um delineamento e interpretao mais

    apurados dessas, com destaque em Naro e Scherre (2007) para o entendimento do

    que denominam e se constitui como confluncia de motivos, de que maneira

    esta se coaduna deriva secular vez que a abordagem da confluncia, nos

    moldes em que apresentada, tem gerado inmeros questionamentos , proposta

    em suas bases por Sapir ([1921] 1949) e reafirmada por esses autores; e, ainda, a

    discusso de alguns possveis caminhos que podem servir para melhor

    compreender o processo de conformao histrica do PB.

    1 Prefere-se neste trabalho usar a expresso hipteses interpretativas a hipteses explicativas por se entender que em termos de estudo do passado ou de constituio de uma lngua no se promovem explicaes, mas interpretaes.

  • 275

    A contribuio para este tema, j to amplamente tratado, situa-se em

    abord-lo a partir da afirmao de que as trs hipteses interpretativas existentes

    no conseguem, de modo pleno e satisfatrio, dar conta da interpretao dos

    processos imbricados na formao do PB fato que se comprova pelas lacunas que

    apresentam, dvidas que suscitam e pelos acirrados e acalorados debates

    alimentados, em congressos nacionais e internacionais, entre lingistas e

    estudiosos da histria do portugus em territrio brasileiro.

    Pontue-se que em funo dos fatores tempo e limite de espao, que norteiam

    a apresentao deste trabalho, as consideraes transcorrero com maior

    objetividade. Vale ressaltar que no se tem aqui a inteno de desenvolver uma

    nova hiptese interpretativa para a formao do PB, apenas a tessitura de algumas

    consideraes que, como todo trabalho cientfico, esto sujeitas a crticas, revises,

    complementaes e recusas (MATTOS E SILVA, 2006, p. 249).

    1 UM OLHAR SOBRE AS HIPTESES

    Como j exposto, trs hipteses ou trs posicionamentos tericos tentam

    desvelar/interpretar o passado da lngua portuguesa, notadamente das origens e

    formao do portugus brasileiro (MATTOS E SILVA, 2006, p. 232). Uma tarefa

    considerada por Machado Filho (2007, p.10) como, sem dvida, uma das mais

    pretensiosas disputas. De maneira geral, tem-se uma corrente a favor da chamada

    crioulizao prvia, com posterior descrioulizao quando tomado rumo ao

    portugus lusitano; uma segunda corrente que reconhece a formao do PB como

    fruto de um processo de transmisso lingstica irregular, em que o contato do PE

    com lnguas africanas no Brasil, permitiu o surgimento de uma variedade da

    lngua portuguesa; e a deriva secular e a confluncia de motivos, que considera

    serem as modificaes pelas quais o PE passou no Brasil j previstas no sistema,

    ou seja, a mudana reside na freqncia dos usos, pois a gramtica da lngua j a

    pressupunha.

    Considere-se a seguir uma rpida explanao sobre cada uma dessas correntes.

  • 276

    1.1 DA CRIOULIZAO PRVIA

    Tem como figura mais expoente Gregory Riordan Guy, que acredita ser o

    portugus popular brasileiro (PPB) marcado por tendncias presentes nas lnguas

    crioulizadas, dentre elas: na morfologia, reduo de vrios tipos, perda de

    pronomes tonos; na sintaxe, falta de concordncia; na fonologia, reduo de

    codas (GUY, 2005, p. 22). O autor aponta como um dos pontos basilares de sua

    hiptese a falta de concordncia no sintagma nominal e no sintagma verbal.

    Aborda, portanto, muitos dos fenmenos presentes no PPB como conseqncia de

    redues, sobretudo nos aspectos morfolgicos (eliminao da segunda pessoa

    verbal nas formas -s/-ste; substituio do pronome plural de segunda pessoa

    vs, por vocs; substituio de ns por a gente; desuso das formas

    mesoclticas; e substituio de formas flexionadas do verbo por construes

    perifrsticas) e fonolgicos (apagamento de consoantes, a exemplo de /s/ e /r/ em

    final de slaba; vocalizao do /l/ em slaba final; desnasalizao das vogais nasais).

    Guy apia-se, desse modo, em evidncias lingsticas, mas no pe de lado

    os fatos histricos que julga pertinentes para a defesa da hiptese da crioulizao

    prvia no Brasil. O enorme contingente de escravos vindos para essa terra

    corresponde a um desses fatos. Algo que decisivamente marcou a histria social e

    econmica nos perodos colonial e imperial no Pas. Esse estudioso atenta para a

    considerao de que

    a distribuio dos vrios grupos lingsticos dos africanos no foi uniforme por todo o Brasil [...] havia muitos iorub na Bahia e mais kimbundu na rea do Rio de Janeiro. Evidentemente, isso possibilitou a criao de pequenas comunidades-de-fala temporrias que mantiveram o uso dessas lnguas africanas no Brasil por um certo prazo. (p. 31).

    Guy tambm sinaliza outros aspectos relevantes crioulizao, os fatores

    demogrficos, geogrficos e sociais. Toma ainda duas indicaes para argumentar

    a favor de evidncias histricas para a possvel existncia de um crioulo no Brasil

    colonial. A primeira se d com a emigrao para o Brasil de fazendeiros de cana-

    de-acar da ilha de So Tom (HOLM, 1987 apud GUY, 2005, p. 32). Boa parte

    desses fazendeiros trouxe seus escravos africanos para os trabalhos nas fazendas.

  • 277

    Ento como sabemos que em So Tom falava-se (e ainda se fala) uma lngua crioula de base lexical portuguesa, podemos concluir que havia falantes desse crioulo residentes no Brasil no incio do sculo XVII. (GUY, 2005, p. 32).

    A segunda evidncia estaria na histria do Papiamento, a lngua crioula

    falada nas ilhas holandesas do Caribe: Aruba e Curaao (p. 33). Essa lngua teria

    sido levada pelos holandeses para os domnios antilhanos da Holanda quando da

    expulso desses povos do Nordeste Brasileiro, levando seus escravos brasileiros,

    no sculo XVII.

    Holm (1992), por sua vez, relacionou alguns dos traos fonolgicos, sintticos

    e lexicais que ligam o crioulo de So Tom ao PB, enquanto Goodman (1987 apud

    GUY, 2005, p. 33) se encarregou das pesquisas no mbito da investigao sobre o

    Papiamento, considerado lngua derivada de um possvel crioulo brasileiro.

    Em 1993, no entanto, Tarallo retomando um artigo publicado em 1986,

    intitulado Sobre a alegada origem crioula do portugus brasileiro rebateu duramente

    os argumentos de Guy (1981). Esse estudioso, respaldado nos resultados dos

    trabalhos que desenvolveu sobre a sintaxe falada do portugus de So Paulo e

    sobre os padres de redundncia em lnguas crioulas, sobretudo a

    redundncia pronominal em clusulas relativas atestadas por Tok Pisin, afirma

    que a hiptese crioula do PB no crucial, ou seja

    a crioulizao pode muito bem ser colocada entre os processos de contato lingstico que ocorreram no Brasil Colonial. [...] mais importante ainda, a histria do PB no assim to clara e transparente, como quer Guy. [...] concentrarei meus esforos na apresentao de evidncias de que seria muito improvvel e nada natural que o PE e o PB viessem a se encontrar de novo sintaticamente. (p. 39).

    Apesar das crticas, Guy continua reiterando a hiptese da crioulizao

    prvia, a partir da coleta de dados em suas peridicas visitas ao Brasil como bem

    lembra Machado Filho (2007, p.11). As pesquisas desenvolvidas por Guy (2005)

    evidenciam a crioulizao como algo realmente acontecido no Brasil.

    A evidncia scio-histrica indica a entrada e a sada de falantes de crioulos e as condies suficientes para a crioulizao, e a evidncia interna do PPB indicam vrios traos mais de acordo com uma histria de crioulizao do que com qualquer outra explicao. (p. 33).

  • 278

    Mattos e Silva (2006, p. 232) considera a hiptese de Guy muito generalizante

    para fornecer uma compreenso delineada das origens e da formao do PB. Essa

    autora, ao contrrio de Tarallo, posiciona-se, entretanto, de maneira moderada

    diante das argumentaes de Gregory Guy no que tange crioulizao prvia. Ela

    no considera de forma nenhuma, fora da agenda de pesquisa, como fez

    Fernando Tarallo, as postulaes de Guy.

    Naro e Scherre (2003) atentam para o fato da difcil delimitao do conceito

    de crioulizao que acaba muitas vezes se confundindo com o de

    pidginizao. A partir de uma reflexo objetiva das condies sociais e

    comunicativas propcias formao de crioulos e de pidgins, esses autores

    mostram a impossibilidade de se falar em crioulizao no Brasil. Esse

    posicionamento fica mais ntido a partir da argumentao que esses tericos

    desenvolvem no livro Origens do Portugus Brasileiro, de 2007.

    Embora as circunstncias de uso de um pidgin/crioulo sejam tipicamente consideradas como envolvendo simplificao de estrutura gramatical [...], difcil identificar a origem ou causa desse fenmeno, ou mesmo atestar que gramtica sofreu simplificao, porque, durante o estgio pidgin, a lngua de base fornece o vocabulrio, mas no necessariamente a gramtica. (p. 52).

    Nessa concepo, Naro e Scherre ainda trazem ao palco da questo o fato de

    que pode haver a estabilizao de um pidgin sem necessariamente se dar a

    ocorrncia de crioulizao, o que acarreta perda do contedo lingstico do

    prprio conceito do que vem sendo veiculado e interpretado como crioulizao.

    Outro questionamento o de se houve realmente uma lngua crioula no

    Brasil, respaldada no lxico portugus e na gramtica africana, onde estariam as

    provas documentais para tal fato? De certo, se tivesse existido, tal crioulo seria,

    conforme Naro e Scherre, indistinguvel da de outros eventuais pidgins ou

    crioulos de base no-europia (p. 47).

    Esses pontos, dentre outros que se poderiam relacionar, so suficientes para

    comprovar a idia de que a hiptese da crioulizao prvia no consegue realizar

    uma anlise consistente de todos os fatos e processos correspondentes

    constituio histrica do PB, embora, reitere-se, no se possa descartar seu valor

    enquanto arcabouo terico.

  • 279

    1.2 DA TRANSMISSO LINGSTICA IRREGULAR

    Para facilitar o entendimento do prprio sentido da transmisso lingstica

    irregular TLI, antes de qualquer considerao, convm explicitar em que consiste

    a transmisso lingstica regular TLR. Por TLR entende-se a forma normal,

    natural de se adquirir a linguagem, por isso mesmo tem como agente do processo

    as crianas. entre essas que se d a aquisio a partir da fase de socializao,

    ou seja, as crianas adquirem a lngua de modo espontneo na interao com o

    grupo familiar e social do qual fazem parte.

    Naro e Scherre (2003, p. 286) consideram que esse processo natural pode ser

    evidenciado na base de uma amostra de fala suscetvel de uma anlise

    ordenada. Partindo dessa compreenso, fica evidente que o processo de TLI, por

    oposio ao processo de TLR, deve ter por agente os adultos e se manifesta entre

    eles com base em fala no susceptvel de uma anlise ordenada, talvez pela

    caoticidade ou, dentre razes outras, por se manifestar em quantidade

    insuficiente (idem).

    Pode-se, portanto, constatar que na TLR a aquisio da linguagem se

    processa de maneira inconsciente nas crianas enquanto que, na TLI, a aquisio

    da lngua pelos adultos uma segunda lngua se manifesta de modo consciente.

    Da a oposio processo inconsciente versus processo consciente.

    No entanto, a transmisso lingstica, quer regular quer irregular, no to

    simples de se explicar como pode aparentar primeira vista. Cada uma apresenta

    aspectos susceptveis a anlises e a ponderaes. Nesta seo, entretanto, apenas a

    TLI ser abordada. Para tanto, levar-se-o em conta as disposies de Baxter

    (1995), de Lucchesi (1999, 2003) e de Baxter e Lucchesi (1993, 1997, 2006).

    Em artigo intitulado A questo da formao do portugus popular do Brasil: notcia

    de um estudo de caso, 1999, Lucchesi postula que o conceito de TLI muito mais

    amplo do que o de pidginizao/crioulizao,

    pois engloba, tanto os processos de mudana provenientes de contato entre lnguas atravs dos quais uma determinada lngua sofre alteraes muito profundas na sua estrutura, do que resulta o surgimento de uma outra entidade lingstica denominada pidgin ou crioulo, quanto os processos nos quais uma lngua sofre contato com outras lnguas, sem que essas

  • 280

    alteraes cheguem a configurar a emergncia de uma nova entidade lingstica qualitativamente distinta. (p. 73).

    Lucchesi alega, nesse sentido, que s um conceito amplo de TLI capaz de

    abarcar e de interpretar determinados processos histricos em que uma dada

    lngua sofre alteraes significativas em decorrncia de seus padres de uso ao ser

    assimilada por contingentes de falantes de outras lnguas (idem), sem que isso

    gere lnguas pidgins e crioulas.

    Isso se evidenciou com maior clareza no artigo O conceito de transmisso

    lingstica irregular e o processo de formao do portugus do Brasil, que publicou em

    2003, com vistas a delinear os parmetros scio-histricos e lingsticos que

    possam subsidiar uma compreenso sistemtica desses processos histricos.

    A explicao para esses processos pode ser descrita com objetividade: um

    significativo contingente de falantes adultos geralmente utentes de lnguas

    distintas e incompreensveis entre si forado a adquirir uma segunda lngua

    por presses comerciais ou mesmo em decorrncia de dominao poltica. A

    variedade da lngua alvo que se forma nessa situao apresenta uma forte

    reduo/simplificao em sua estrutura gramatical (p. 273), mantendo apenas os

    elementos essenciais ao estabelecimento das funes comunicativas bsicas. Tais

    redues podem ser justificadas por trs fatores elencados por Lucchesi (2003): (a)

    o difcil acesso dos falantes das outras lnguas aos modelos da lngua-alvo; (b) os

    falantes dessas outras lnguas, por serem em sua maioria adultos, no mais

    dispem de acesso aos dispositivos mentais da faculdade da linguagem; e (c) a

    ausncia de aes normativizadoras.

    Se o contato se prolonga, a variedade segunda da lngua-alvo, por ser mais

    socialmente vivel, assume de maneira gradativa novas funes, passando a

    modelo de lngua materna a ser adquirida pelos descendentes dos falantes das

    outras lnguas. No momento em que a lngua de emergncia/contato no atende

    demanda comunicativa recorre-se a incrementos dos dispositivos da gramtica

    das diversas lnguas desses falantes ou da lngua-alvo. Tem-se, portanto, uma

    relao dialtica entre expanso funcional e expanso gramatical.

  • 281

    Tudo depende do acesso ou no dos falantes lngua-alvo. Quanto menor

    ele for, maior a possibilidade da formao de uma nova entidade lingstica, do

    contrrio, maior a chance de se ter apenas uma variedade da lngua-alvo.

    No caso da constituio histrica da realidade lingstica brasileira, Baxter e

    Lucchesi (2006) acreditam que o contato entre as lnguas dos numerosos

    contingentes de falantes africanos e indgenas em contato com o portugus pode

    ter gerado diversas crioulizaes leves em diferentes perodos de tempo, mas as

    suas inovaes teriam sido absorvidas e diludas (p. 195). Para esses tericos, no

    houve no Brasil um crioulo de base portuguesa estvel e amplamente difundido

    (idem), mas uma crioulizao leve, cujos traos podem ser identificados a partir da

    anlise dos atuais dialetos rurais, preservados em virtude do distanciamento das

    comunidades rurais em relao aos grandes centros urbanos. No entanto,

    pontuam ainda os autores que as caractersticas desses dialetos rurais se

    originariam de um processo mais intenso de TLI que teria afetado o antecedente

    histrico desses dialetos.

    Nessa perspectiva, maior teria sido o processo de reestruturao gramatical

    que caracteriza a TLI, o qual seria marcado duplamente por uma simplificao

    dos dispositivos morfossintticos e pela recomposio da estrutura gramatical

    erodida. Ter-se-ia, ento, conforme Lucchesi (2003, p. 275-276), trs caractersticas

    fundamentais do processo de TLI: (a) perda, ou variao no uso, de morfologia

    flexional e palavras gramaticais; (b) alterao dos valores dos parmetros

    sintticos em funo de valores no marcados; e (c) gramaticalizao de itens

    lexicais para preencher as lacunas na estrutura lingstica.

    Em um de seus mais recentes artigos, publicado em 2006, sob o ttulo

    Processos de crioulizao na histria sociolingstica do Brasil, Baxter e Lucchesi

    afirmam categoricamente que processos de TLI mais leves marcaram

    profundamente a histria das variedades populares do portugus brasileiro (p.

    206). Os autores elencam sete traos resultantes desses processos que, ainda hoje,

    se conservam nos dialetos rurais e populares do pas.

    (a) reduo/eliminao de morfologia flexional do verbo e do nome, com conseqncias para

    os processos sintticos a ela relacionados;

  • 282

    (b) reduo/eliminao de morfemas gramaticais livres, tais como artigos, pronomes clticos,

    conectivos preposicionais etc.;

    (c) negao dupla contnua (pr-verbal + final de orao) e simples (final de orao);

    (d) orao relativa com que multifuncional e com cpia pronominal;

    (e) a seguinte estrutura argumental de verbos com dois complementos: verbo + complemento

    indireto no preposicionado + complemento direto;

    (f) a no inverso da ordem sujeito-verbo nas oraes interrogativas;

    (g) a formao reduzida da estrutura passiva em construes do tipo sujeito + verbo

    transitivo em funo de paciente + ao. (idem).

    Lucchesi defende no apenas a heterogeneidade e a variabilidade do PB,

    como bem lembra Mattos e Silva (2006, p. 230), mas ainda a pluralidade e a

    polarizao, que designa de normas vernculas e normas cultas. O pilar de

    sustentao de grande parte da argumentao desse estudioso encontra-se nos

    estudos lingsticos que realizou sobre o dialeto falado em Helvcia, comunidade

    afro-brasileira localizada no extremo sul do Estado da Bahia. As anlises desse

    dialeto tm comprovado, segundo Baxter e Lucchesi (2003), a existncia de

    variantes cujas estruturas sintticas podem aproxim-las de crioulos de base

    portuguesa.

    A partir dessas pesquisas e de todo o exposto at aqui, novos dados foram

    arrolados e novas interpretaes ganharam espao somando-se aos diversos

    estudos dedicados questo do contato entre lnguas na histria do PB, o que tem

    favorecido o desenvolvimento de uma compreenso mais alargada da

    configurao do cenrio lingstico brasileiro. No entanto, algumas ponderaes

    devem ser registradas quanto ao processo de TLI.

    Em certos momentos, num plano conceitual generalizado, a TLI parece se

    confundir com a crioulizao, haja vista tambm se construir num contnuo de

    nveis diferenciados de socializao/ nativizao de uma lngua segunda que foi

    adquirida de forma massiva, mais ou menos imperfeita, em contextos scio-

    histricos especficos (LUCCHESI, 2003, p. 274).

    Considere-se ainda que, tomando-se, por exemplo, a questo do uso no

    freqente da concordncia verbal e nominal por Baxter e Lucchesi (1993, 1997)

    como uma constante em comunidades rurais afro-brasileiras isoladas, tm-se

  • 283

    verificado que esse fenmeno no exclusivo desses contingentes, podendo ser

    encontrado em todas as reas rurais brasileiras, independentemente da origem

    tnica, quer seja pura ou miscigenada e tambm independentemente de terem

    recebido, ou no, populaes significativas de escravos (NARO; SCHERRE, 2007,

    p. 66).

    Tal afirmao serve no s para questionar a possvel crioulizao no Brasil,

    quanto o prprio processo de TLI na histria da constituio lingstica neste Pas.

    Afinal, como explicar que fenmenos registrados em comunidades afro-

    descendentes tambm sejam registrados em comunidades no-afro-descendentes?

    Se houve mudanas, estas podem configurar uma nova gramtica? E onde

    residiria essa gramtica?

    Talvez as respostas a tais indagaes sejam mais ou to difceis de apresentar

    quanto tm sido atualmente as tentativas de definir, de forma conciliatria, luz

    da cincia e da religio, o exato instante em que se pode atestar o surgimento da

    vida humana; e ainda o uso mais adequado das pesquisas em gentica envolvendo

    clulas-tronco e embries humanos.

    Comprovar a existncia no Brasil de um processo de TLI Nativizao, como

    preferem Naro e Scherre (2003, p. 287) , no tarefa das mais fceis, diante da

    diversidade estrutural das lnguas que se fizeram presentes ao longo do perodo

    da colonizao brasileira.

    De fato, no Brasil, parece que no houve a formao de um pequeno nmero de grandes blocos tnico-lingsticos, com lnguas mutuamente inteligveis dentro de cada bloco, o que teria favorecido a sobrevivncia de interferncias estruturais, como no incio da fase de pidgin no Hava. (NARO; SCHERRE, 2007, p. 143).

    Diante dessa afirmativa, surgem alguns outros questionamentos: se houve

    realmente TLI no Brasil, quais teriam sido os efeitos estruturais na lngua

    transmitida? Ora, conforme Rodrigues (2006), as duas lnguas gerais faladas na

    poca da colonizao no Brasil a paulista e a amaznica preenchiam

    satisfatoriamente as necessidades comunicativas

    dos portugueses com os tupinamb e os tupi (a lngua aprendida em um ponto da costa podia servir em quase todos os outros ao longo desta), mas tambm desfavoreceu a

  • 284

    implantao da lngua europia como meio geral de comunicao e no deu ocasio ao surgimento de pidgins e crioulos. (p. 145).

    As anlises dirigidas por Baxter e Lucchesi (2006) prendem-se a elementos da

    norma, como a eliminao de dispositivos gramaticais da lngua alvo o

    portugus standard (LUCCHESI, 2003, p. 279), variaes na concordncia verbo-

    nominal, a reduo do sujeito nulo, perdas na morfologia flexional e relaes

    (inter)sintagmticas e (inter)oracionais (BAXTER; LUCCHESI, 2006, p. 199), mas

    onde estariam, efetivamente, os elementos de lngua? Como o processo de TLI

    explicaria a diferena entre o PB e o PE? Se h diferenas entre estes, enfatize-se,

    h a existncia de uma gramtica particular a cada um, logo, como conceituar,

    caracterizar e apresentar uma gramtica do PB?

    Sem pretender entrar no mrito da existncia ou no de um processo de TLI

    no Brasil, importa saber, diante dos questionamentos e reflexes expostos at aqui,

    que a hiptese em questo tambm no d conta de interpretar a constituio

    histrica do PB, embora, de certo, no possa ser posta revelia/ parte, por serem

    inegveis os contributos de suas anlises e de sua fundamentao terica, e o

    quanto significam para o desvelamento do cortinado de fatores lingsticos,

    histricos e sociais que potencializaram a configurao do PB.

    1.3 A DERIVA SECULAR E A CONFLUNCIA DE MOTIVOS

    A hiptese da deriva secular, apregoada por Naro e Scherre (2003, 2007),

    apresenta a idia de que o portugus brasileiro , na verdade, uma espcie de

    continuao do portugus arcaico, com pequenas alteraes, haja vista no se ter

    conseguido at hoje identificar nenhuma caracterstica do portugus do Brasil

    que no tenha um ancestral claro em Portugal (2007, p. 13).

    Para esses autores, o portugus brasileiro resultaria apenas de uma expanso

    de estruturas e variaes presentes ao longo de todo o percurso histrico da

    lngua. Expanso acelerada pela freqncia de uso advinda de uma confluncia

    de motivos.

    Naro e Scherre, na verdade, retomam a noo de deriva nos termos de

    Edward Sapir (1921), um dos mais notveis representantes dos estudos

  • 285

    lingsticos nos Estados Unidos, na primeira metade do sculo XX. Em seu livro

    Language an introduction to the study of speech, 1921 traduzido por Joaquim

    Mattoso Cmara Jnior para o portugus em 1938 e publicado no Brasil, pela

    primeira vez, em 1954 e novamente no ano de 1969 , um pequeno tratado, que

    pretendia ser elementar e de divulgao (p. 187), Sapir argumenta que a

    linguagem no apenas uma coisa que cresa no espao [...], [mas] move-se pelo

    tempo em fora num curso que lhe prprio. Tem uma deriva (p. 121).

    Esse estudioso, imerso numa concepo psicolgica, essencialmente

    mentalista relao linguagem-pensamento em sua maneira de interpretar a

    forma lingstica, mostra-se muito sensvel aos aspectos estticos da linguagem

    humana (p. 188) e sob essa orientao empreende esforos na tentativa de

    organizar uma classificao tipolgica das lnguas, dispondo-as em bases

    sincrnicas e descritivas (p. 190).

    Sapir esboa que todas as lnguas geneticamente relacionadas adviriam do

    primitivo prottipo indo-europeu (p. 123). Elas seriam fruto de um contnuo

    processo de esgalhamento sofrido ao longo do tempo por esse prottipo, o que

    poderia ser comprovado valendo-se de evidncias documentais e do mtodo de

    investigao comparativo ou reconstrutivo. Mtodo que esse autor acreditava

    ser capaz de tirar as interferncias sobre tais lnguas e de representar os laos que

    as unem em linhas independentes de desenvolvimento, mostrando que essas

    lnguas partem de um remoto ponto em comum (p. 122), da serem resultantes

    de uma deriva secular.

    Por isso mesmo reflete, numa base histrico-comparativa, sobre a

    possibilidade da existncia de uma lingstica geral, em que princpios

    permanentes se aplicam, no plano descritivo e no plano histrico, s lnguas

    aparentemente mais diversas (p. 192).

    A deriva de uma lngua, segundo Sapir, no aleatria, tem um rumo e se d

    num longo percurso, pois

    [...] consta da seleo inconsciente, feita pelos que a falam, das variaes individuais que se acumulam numa dada direo especial. Pode inferir-se essa direo, grosso modo, por intermdio do passado histrico da lngua [em que] cada trao caracterstico da deriva torna-se parte integrante da fala comum; mas durante muito

  • 286

    tempo pode suceder que exista como mera tendncia na fala de alguns poucos [...] (p. 124).

    Em sntese, Sapir observa que a lngua no um sistema fixo, sujeito a

    mudanas, ela no apresenta um declive como muitos pensavam, mas as

    mudanas dos sculos prximos esto em certo sentido prefiguradas em algumas

    tendncias obscuras do presente. Tais mudanas, uma vez realizadas, provaro

    ser apenas continuaes de outras mudanas que j se tinham verificado (idem).

    Naro e Scherre (2007) consideram essas postulaes como essencialmente

    aplicveis interpretao do acontecido com o PB. Esses estudiosos no

    reconhecem a influncia gramatical especfica de qualquer lngua africana, ou de

    qualquer outra provenincia no portuguesa [...] durante a fase de aquisio da

    lngua (p. 182). Transpondo para a compreenso lingstica um dos pressupostos

    elementares da fsico-qumica, Naro e Scherre asseveram que a relao PE - PB

    marcada por uma catlise, ou seja, por uma modificao (em geral de aumento) de

    velocidade de uma reao provocada pela presena e atuao de um elemento que

    no sofre alterao ao longo do processo leia-se tal elemento como o portugus

    lusitano.

    Sob essa perspectiva, esses autores amplificam, de certo modo, a idia de

    deriva secular em relao ao PB. Eles afirmam que a catlise na situao lingstica

    brasileira deve-se induo de formas genticas, em outras palavras, uma

    confluncia de motivaes que agiram em momentos diferentes. (p. 182). As

    foras genticas permitem provar, ou pelo menos supor, origem comum para

    lnguas aparentemente sem semelhanas entre si. Mas quais seriam essas foras e

    como se confluiriam motivacionalmente?

    Os autores no deixam claro. Apenas refletem sobre a provenincia de tais

    foras. Elas teriam diversas origens algumas oriundas da Europa; outras da

    Amrica; outras, ainda da frica (p. 125). Juntas, teriam se reforado,

    constituindo o portugus popular brasileiro PPB.

    Para comprovar essa tese, Naro e Scherre baseiam-se no papel do PE no-

    padro na gnese das mudanas que configurariam o PB (p. 88). Esses estudiosos

    buscam evidncias essencialmente em documentaes/registros do portugus

  • 287

    arcaico, analisando as questes da concordncia verbal e nominal, o

    preenchimento lexical dos pronomes na funo de sujeito, a posio relativa do

    sujeito e a salincia fnica da oposio singular/plural. As anlises que

    desenvolveram conduzem concluso reafirmada com exaustividade ao longo

    dos sete captulos que compem o livro Origens do portugus brasileiro, mais recente

    trabalho de ambos de que o portugus moderno do Brasil consiste no resultado

    natural da deriva secular inerente na lngua trazida pelos portugueses e que

    aqui sofreu, primeiro a influncia da exuberncia do contato de adultos, falantes

    de lnguas das mais diversas origens, e depois a nativizao dessa lngua pelas

    comunidades formadas por esses falantes. (p. 69).

    Como se percebe, os autores em questo no negam a importncia da

    influncia africana e indgena para nossa cultura, apenas querem identificar as

    razes lingsticas romnicas e lusitanas que se encontram hoje nas falas dos

    brasileiros que tiveram pouco acesso aos bancos escolares ou que habitam as reas

    rurais e as periferias das grandes cidades (p. 17).

    Tambm no desconsideram que PB e PE, apesar das semelhanas

    inquestionveis, trilharam, e ainda trilham (p. 116) caminhos distintos. No

    entanto, retomam o princpio uniformitarista, nas disposies de Christy (1983, p.

    ix, apud LABOV, 1994, p. 21), para sustentar a idia de que o conhecimento de

    processos que operaram no passado pode ser inferido pela observao de

    processos em andamento no presente. Nesse sentido, Naro e Scherre (2003, 2007)

    pautam-se em dados do PE falado modernamente com todas as suas variaes em

    Portugal, e em dados do PB, a fim de projetar estruturas que certamente

    ocorreriam [...] no portugus europeu falado antigo (2007, p. 115).

    Diante do quadro at aqui esboado, tomando-se como contraponto a leitura

    de Mattos e Silva (2006, p. 232) embora essa autora no tea comentrios sobre a

    confluncia de motivaes nesse trabalho concorda-se aqui com a constatao

    da existncia de generalizaes nos dispositivos/idias que sustentam a tentativa

    de interpretao do processo histrico constitutivo do PB sob o vis da hiptese da

    deriva secular ou deriva natural, nos termos usados pela autora. Para que a

  • 288

    hiptese em discusso pudesse ser sustentada, necessitar-se-ia que anlises e

    prerrogativas suscitadas por Naro e Scherre fossem demonstradas

    [...] na sintaxe do portugus arcaico para o moderno, mas no apenas no que se refere concordncia, como tambm nas outras caractersticas sintticas que distinguem o portugus brasileiro do europeu, por exemplo, os vrios aspectos referentes ao sistema pronominal e ordem sinttica (MATTOS E SILVA, 2006, p. 233).

    Ressalte-se que, Naro e Scherre (1993, 2003, 2007), e bem antes deles Silva

    Neto (1963 [1951]) e Cmara Jr. (1975), procuram sustentar que o contato entre

    lnguas no Brasil se limitou a acelerar tendncias j prefiguradas no sistema

    lingstico do portugus (BAXTER; LUCCHESI, 2006, p. 171), no entanto, se

    houve deriva e se ela foi motivada por uma confluncia de motivos impulsionados

    pelo carter gentico da lngua, haveria a necessidade de se especificar quais

    aspectos genticos estiveram presentes ou foram preponderantes nesse processo,

    uma vez que confluncia de motivos abarca uma srie de possibilidades de

    fatores que influiriam em determinada direo, podendo alterar o resultado do

    produto lingstico.

    Outra questo que a documentao escrita, notadamente do portugus

    europeu arcaico, de que se vale Naro e Scherre (2003, 2007) para traar suas

    anlises, reflete apenas as tendncias conforme o princpio da deriva, as

    tendncias foram readquiridas e potencializadas na lngua em determinados

    momentos histricos e no sinaliza para uma quantidade expressiva de

    ocorrncias ponto que tem provocado a discusso por parte de muitos tericos.

    Da o questionamento: a constatao do registro de uma nica ocorrncia no

    passado da lngua posta em comparao com ocorrncias no presente da lngua

    seria o suficiente para assegurar que tenha havido prefigurao de mudanas?

    Se se considera uma srie de motivaes e se no h o descarte da influncia

    africana e indgena na constituio do PB, no se estaria abrindo espao para a

    formao de uma nova gramtica do portugus em terras brasileiras? Se assim o

    fosse, isso no feriria o princpio da deriva secular, base da hiptese de Naro e

    Scherre? E mais: de que maneira deriva e confluncia de motivos se coadunam na

    formao do PB? No seria o caso de se evidenciar essa relao, levando-se em

  • 289

    conta a prpria histria do Brasil, no totalmente pelo que tem aparentado

    contemplada por esses autores?

    Mais uma ponderao se faz necessria, desta vez em relao ao mencionado

    princpio uniformitarista de Christy (1983), um dos sustentculos da hiptese em

    questo. Ora, se Christy fala em observar processos no presente para

    compreender processos do passado da lngua, por que Naro e Scherre (2007)

    restringem-se anlise lingstica da concordncia nominal e verbal e do pronome

    em funo de sujeito? Prendendo-se apenas a esses aspectos no seria incoerente

    fazer afirmaes generalizantes como a de que quase todos os traos

    caractersticos do portugus do Brasil, em suas variedades populares faladas

    hoje no territrio brasileiro tm sua origem comprovada na fala popular ou no-

    padro de Portugal (p. 118)?

    2 AINDA SOBRE A CONFLUNCIA DE MOTIVOS

    As respostas para os questionamentos acima expostos poderiam, se no por

    completo, pelo menos em parte ser esclarecidas a partir de um entendimento

    melhor do que se denomina sob o rtulo da expresso confluncia de motivos.

    A primeira vez que esses termos foram introduzidos como argumento de

    sustentao, portanto favorvel reafirmao da deriva secular no tocante

    configurao do PB, foi num artigo de Naro, publicado em 1981, quando o autor

    procurava discutir a questo da perda da concordncia verbo-nominal e no

    sintagma nominal. At ento, a justificativa para a atuao dessa perda estaria

    numa convergncia de motivos. Scherre (1988, p. 43), em artigo publicado,

    retoma a discusso elencando trs desses motivos, relacionados por Naro (1981):

    (1) desenvolvimento interno natural da lngua; (2) comportamento pidginizante da

    parte do europeu; e (3) aprendizagem imperfeita pelos falantes de diversas

    bagagens lingsticas.

    De convergncia, em 1981, para confluncia, em 2007, no se passaram

    apenas vinte seis anos no plano temporal, mas vinte seis anos de importantes

    investigaes e avanos no mbito da Lingstica Histrica no Brasil, com um

    crescimento significativo de trabalhos na linha da mudana lingstica e da

  • 290

    constituio do portugus em solo brasileiro. Confluir correr para o mesmo

    ponto, unir de forma homognea, conforme Ferreira (2004, p. 185) parece abarcar

    mais que convergir tender para o mesmo ponto. Por isso, Naro e Scherre (2007,

    p. 25) ampliam a interpretao sobre a formao do PB, luz da atrao [de

    foras/fatores] de diversas origens, algo que se resume na frase confluncia de

    motivos. O que realmente precisa ficar mais delineado no trabalho desses

    estudiosos o modo que esse confluir de motivaes lida com a influncia

    africana e indgena, e ainda com o multilinguismo, a mobilidade populacional, a

    sociodemografia histrica (BAXTER; LUCCHESI, 2006) e a presena e ausncia

    da escolarizao no Brasil, haja vista serem esses aspectos significativamente

    considerveis na conformao do PB, consoante s argumentaes de Mattos e

    Silva (2006).

    3 ALGUNS POSSVEIS CAMINHOS

    As trs hipteses interpretativas da constituio do PB precisam, longe de

    serem tomadas como verdades absolutas, incontestveis ou contraditrias em seus

    fundamentos e anlises, ser consideradas como possveis caminhos de estudo

    para a compreenso do percurso do processo histrico por vezes envolto na

    nvoa do tempo da formao e firmao do portugus em territrio brasileiro.

    Essas hipteses no fecham a possibilidade de novas reflexes nessa rea, pelo

    contrrio, se bem analisadas em suas disposies tericas, percebe-se que chegam

    a fornecer entradas para postulaes futuras ainda mais abrangentes.

    Postulaes que poderiam vir a considerar a prpria periodizao da histria

    lingstica no Brasil, sobretudo no que tange passagem do multilingismo

    generalizado para um unilingismo generalizado e de pas rural a pas urbano,

    conforme Lobo (2003), articulando fatores internos mudanas estruturais,

    lingsticas e fatores externos na tentativa de revelar, com maior aferro, as

    muitas fotografias da heterogeneidade dialetal do portugus brasileiro

    (RIBEIRO, 2002, p. 359) , tendo em vista sua realidade lingstica no apenas

    varivel e heterognea, mas tambm plural (LUCCHESI, 1994, p. 25).

  • 291

    Reassevere-se a necessidade de uma exposio planejada dos acontecimentos

    da histria do Brasil que influram [na] vitria da lngua portuguesa [no territrio

    nacional luz] do chamado processo civilizatrio, conforme dispe Vitral (2001,

    p. 303).

    As deferncias de Mussa (1991) e de Mingas (2000) no plano da

    interferncia/ influncia do papel das lnguas africanas na histria do portugus,

    notadamente do PB conforme o trabalho de Mussa , muito podem contribuir no

    tocante ao distanciamento PE PB, levando-se em conta que aspectos do

    portugus falado em terras da frica apresentam, em muito, semelhanas com

    nuances do portugus falado no Brasil. Sem dvida, mais um elemento que pode

    ajudar na interpretao configurativa do PB e na discusso da hiptese de

    emergncia de uma nova gramtica do portugus no Brasil, sobretudo a partir do

    final da segunda metade do sculo XIX estendendo-se at a coetaneidade.

    Quanto a essa questo da influncia africana e indgena no PB, sustentada

    por Guy (1981, 2005), por Baxter e Lucchesi (1993, 1997, 2006) e reconhecida por

    Naro e Scherre (2006), as disposies e o termo em si deveriam ser superados, uma

    vez que se tenta buscar compreender o processo de compleio do PB, conforme

    Mattos e Silva (2004).

    Essa autora declara que o termo influncia envolve uma perspectiva de

    natureza superficial, tpica, embora significativa e curiosa, mas de carter

    aleatrio (p. 93). Melhor seria ento, tomando por aporte fatores scio-histricos

    brasileiros, falar em voz africana e dos afro-descendentes. A pesquisadora ainda

    afirma ser possvel que tal voz tenha adquirido o portugus, lngua dos

    colonizadores, como lngua segunda, na oralidade do cotidiano diversificado e

    multifacetado (idem) que imperava no Brasil Colonial. Durante esse processo de

    aquisio, sem a imposio do controle normativizador advindo da escolarizao,

    a voz africana e dos afro-descendentes [...] reestruturou o portugus europeu

    que, no Brasil, comea a chegar em 1500 e sucessivamente ao longo do perodo

    colonial (idem), mas que ganha impulso no sculo XIX com os significativos

    contingentes de imigrantes portugueses que aqui chegaram e se fixaram.

  • 292

    Diante disso, seria consentneo considerar tambm que os avanos nos

    estudos do PB promovidos pela Lingstica Histrica, principalmente na dcada

    de 90, se devem a nomes de reconhecido prestgio, a exemplo de Rosa Virgnia

    Mattos e Silva, Fernando Tarallo, Carlos Alberto Faraco e Marco Antonio de

    Oliveira, dentre aqueles que tm como centro das suas atenes a histria da

    lngua portuguesa (LOBO, 1994, p. 14). Esses autores, nas anlises e reflexes

    cientficas que desenvolveram at o presente, apontam para alguns possveis

    caminhos de interpretao do fenmeno da mudana lingstica e da configurao

    do PB. Faraco (1991, p. 75) lana as trs vias necessrias ao estudo histrico de

    uma lngua. Para esse estudioso, o pesquisador deveria: (a) voltar ao passado e

    nele se concentrar; (b) voltar ao passado para iluminar o presente; e (c) estudar o

    presente para iluminar o passado.

    Recorde-se que em Christy (1983) j se postulava que processos operados no

    passado de uma lngua poderiam fornecer elementos para melhor apreenso de

    processos em andamento no presente dessa lngua. Mas em Mattos e Silva

    (2006, p. 225) que o direcionamento para pesquisas nesse mbito ganha amplitude.

    Essa autora orienta que, para compreender o PB, convm ao

    estudioso/pesquisador partir de: (a) fatos e dados do presente para entrever o

    passado e (b) da interpretao de fatores histricos do passado para interpretar o

    presente. E conclui, citando Meillet (1928), que a histria de uma lngua se

    esclarece pela histria social e poltica do povo que a usa.

    CONSIDERAES FINAIS

    Embora se tenha procurado defender neste trabalho que as trs hipteses

    interpretativas para a constituio histrica do PB apresentam, sob uma

    observao apurada, lacunas considerveis, a ponto de no conseguirem dar conta

    de todo o processo constitutivo do PB, reconhece-se que essas mesmas hipteses

    no podem ser descartadas, postas margem, pois elas renem dados,

    argumentos e anlises que podem servir como instrumentos norteadores para a

    realizao de novas pesquisas capazes de culminar, por sua vez, em novas

  • 293

    suposies, a partir do desvelamento da scio-histria brasileira, em seu percurso

    desde o perodo colonial.

    Acredita-se, pois, que a anlise de aspectos do PB no apenas no campo da

    fonologia e da concordncia verbal e nominal, mas em toda sintaxe dessa lngua ,

    considerando-se fatores lingsticos e de ordem scio-histrica e demogrfica, bem

    como fatores de naturezas outras, possibilitem a estruturao de um quadro

    constitutivo delineado da lngua portuguesa nas terras brasileiras. Esses estudos,

    no entanto, no podem deixar de atentar para o fato sinalizado por Mateus (2006,

    p. 77) de que a actividade lingstica de cada indivduo [...] um fator de

    identificao cultural, mas no uso, e pelo uso, que dela faz o indivduo.

    Ora, a voz de todos aqueles que estiveram em contato com o portugus

    durante a constituio da variedade brasileira tem como corolrio a

    interpenetrao das referncias culturais dos povos (idem, p. 76) falantes das

    diversas lnguas. Portanto, a configurao do PB requer tambm que se considere

    a diversidade cultural entre Portugal e Brasil.

    Sob esse prisma, possvel alargar a noo de confluncia de motivos, e

    entender que a voz africana e afro-descendente sobre o portugus tem muito a

    contar na direo de novas proposies. O trabalho do pesquisador, pelo visto,

    deve ser o de perscrutao afinada com o requinte orquestral, de maneira a sair do

    mdulo de estudos cromticos para o de estudos diatnicos, ou seja, sair de uma

    escala semitonizada de espao e tempo entre fatos lingsticos registrados em

    perodos distintos da scio-histria brasileira, para montar uma escala capaz de

    reconstruir/esboar numa ordem natural, portanto numa seqncia ordenada, os

    fatores lingsticos e scio-histricos do portugus brasileiro.

    Mutatis mutandis, h muito por fazer, opus est facto!

    REFERNCIAS BAXTER, Alan (1995). Transmisso geracional irregular na histria do portugus brasileiro: divergncias nas vertentes afro-brasileiras. Revista Internacional de Lngua Portuguesa, v. XIV, p. 79-90. BAXTER, Alan; LUCCHESI, Dante (2006). Processos de crioulizao na histria sociolingstica do Brasil. In: CARDOSO, Suzana; MOTA, Jacyra & MATTOS E SILVA,

  • 294

    Rosa Virgnia. (Orgs.). Quinhentos anos de histria lingstica do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. p. 165-218. BAXTER, Alan; LUCCHESI, Dante (1997). A relevncia dos processos de pidginizao e crioulizao na formao da lngua portuguesa no Brasil. Estudos lingsticos e literrios, n. 19, p. 65-84. BAXTER, Alan; LUCCHESI, Dante (1993). Processo de descrioulizao no sistema verbal de um dialeto rural brasileiro. Papia, n. 2, p. 59-71. CMARA JR., Joaquim Mattoso (1975). Histria e estrutura da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Padro. CHRISTY, C. (1983). Uniformitarianism in linguistics. Philadelphia: John Benjamins. CASTRO, Yeda Pessoa de (2006). A matriz africana no portugus do Brasil. In: CARDOSO, Suzana; MOTA, Jacyra & MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia. (Orgs.). Quinhentos anos de histria lingstica do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. p. 83-116. FARACO, Carlos Alberto (1991). Lingstica histrica. So Paulo: tica. FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda (2004). Miniaurlio sculo XXI: o minidicionrio da lngua portuguesa. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. GUY, Gregory (2005). A questo da crioulizao no portugus do Brasil. In: ZILLES, A. M. S. (Org.). Estudos de variao lingstica e no Cone Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS. p. 15-38. GUY, Gregory (1981). Linguistic variation in Brazilian Portuguese: aspects of the phonology, syntax and language history. Dissertation. PH.D., Philadelphia. HOLM, John (1992). Popular brazilian Portuguese: a semi-creole. In: ANDRADE, E.; KIHM, A. (Orgs.). Actas do Colquio sobre crioulos de base lexical portuguesa. Lisboa: Colibri. p. 37-66. LABOV, Willian (1994). Language and society 20. Principles of linguistic change internal factors. Cambridge: Blackwell. LASS, Roger (1999). Historical linguistics and language change. Cambridge: Cambridge University Press. LIGHTFOOT, David (1999). The development of language: acquisition, change and evolution. Massachusetts/Oxford: Blackwel. LOBO, Tnia (2003). A questo da periodizao da histria lingstica do Brasil. In: CASTRO, Ivo; DUARTE, Ins. (Orgs.). Razes e emoo: miscelnea de estudos em homenagem a Maria Helena Mira Mateus, v. I. Lisboa: IN-CM. p. 395-409. LOBO, Tnia (1996). A formao scio-histrica do portugus brasileiro: o estado da questo. In: IX CONGRESSO DA ALFAL, Gran Canria. Anais... Gran Canria.

  • 295

    LOBO, Tnia (1994). Variantes nacionais do portugus: sobre a questo da definio do portugus do Brasil. Revista Internacional de Lngua Portuguesa, Associao das Universidades de Lngua Portuguesa, v. XXII, p. 9-16. LOBO, Tnia; MACHADO FILHO, Amrico & MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia (2006). Indcios de lngua geral no sul da Bahia na segunda metade do sculo XVIII. In: LOBO, Tnia; RIBEIRO, Ilza; CARNEIRO, Zenaide & ALMEIDA, Norma. (Orgs.). Para a histria do portugus brasileiro. Volume VI: novos dados, novas anlises. Salvador: EDUFBA. p. 609-630. LUCCHESI, Dante (2003). O conceito de transmisso lingstica irregular e o processo de formao do portugus do Brasil. In: RONCARATI, Cludia; ABRAADO, Jussara. (Orgs.). Portugus brasileiro: contacto lingstico, heterogeneidade e histria. Rio de Janeiro: 7 Letras. p. 272-284. LUCCHESI, Dante (1999). A questo da formao do portugus popular do Brasil: notcias de um estudo de caso. A cor das letras, n. 3, p. 73-100. LUCCHESI, Dante (1994). Variao e norma: elementos para uma caracterizao sociolingstica do portugus do Brasil. Revista Internacional de Lngua Portuguesa, n. 12, p. 17-28. MACHADO FILHO, Amrico (2007). A questo da constituio histrica do portugus brasileiro: revendo razes. Biblos - Revista da Faculdade de Letras, Coimbra, n. s. V, p. 187-206. MATEUS, Maria Helena Mira (2006). Se a lngua um factor de identificao cultural, como se compreende que a mesma lngua identifique culturas diferentes? In: CARDOSO, Suzana; MOTA, Jacyra & MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia. (Orgs.). Quinhentos anos de histria lingstica do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. p. 65-80. MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia (2006). Uma compreenso histrica do portugus brasileiro: velhos problemas repensados. In: CARDOSO, Suzana; MOTA, Jacyra & MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia. (Orgs.). Quinhentos anos de histria lingstica do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. p. 221-254. MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia (2004). Ensaios para uma scio-histria do portugus brasileiro. So Paulo: Parbola. MEILLET, A. (1928). Esquisse pour une histoire de la langue latine. Paris: Hachette. MUSSA, Alberto Baeta (1991). O papel das lnguas africanas na histria do portugus do Brasil. Dissertao de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. NARO, Anthony; SCHERRE, Maria Marta (2007). Origens do portugus brasileiro. So Paulo: Parbola. NARO, Anthony; SCHERRE, Maria Marta (2003). O conceito de transmisso lingstica irregular e as origens estruturais do portugus brasileiro: um tema em debate. In:

  • 296

    RONCARATI, Cludia; ABRAADO, Jussara. (Orgs.). Portugus brasileiro: contacto lingstico, heterogeneidade e histria. Rio de Janeiro: 7 Letras. p. 285-302. NARO, Anthony; SCHERRE, Maria Marta (1993). Sobre as origens do portugus popular brasileiro. D.E.L.T.A., v. IX, nmero especial, p. 437-455. NARO, Anthony (1981). The social and structural dimensions of a syntactic change. Language, 37l, p. 63-98. RIBEIRO, Ilza (2002). Quais as faces do portugus culto brasileiro? In: ALKMIN, Tnia Maria. (Org.). Para a histria do portugus brasileiro. Volume III: novos estudos. So Paulo: Humanitas. p. 359-381. RODRIGUES, Aryon DallIgna (2006). As outras lnguas da colonizao do Brasil. In: CARDOSO, Suzana; MOTA, Jacyra & MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia. (Orgs.). Quinhentos anos de histria lingstica do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. p. 145-161. RODRIGUES, Aryon DallIgna (1994). Lnguas brasileiras: para o conhecimento das lnguas indgenas. So Paulo: Loyola. SAPIR, Edward (1949 [1921]). Language an introduction to the study of speech. New York: Harcourt, Brace & World, Inc. SCHERRE, Marta (1988). Reanlise da concordncia nominal em portugus. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2 v. SILVA NETO, Serafim da (1963 [1951]). Introduo ao estudo da lngua portuguesa no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: INL. p. 67-90. SILVA NETO, Serafim da (1988 [1957]). Histria da lngua portuguesa no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Presena. TARALLO, Fernando (1993). Diagnosticando uma gramtica brasileira: o portugus daqum e dalm mar ao final do sculo XIX. In: ROBERTS, Ian; KATO, Mary. (Orgs.). Portugus brasileiro: uma viagem diacrnica. Campinas: Editora da UNICAMP. p. 69-105. TEYSSIER, Paul (1997). Histria da lngua portuguesa. So Paulo: Martins Fontes. VITRAL, Lorenzo (2001). Lngua geral versus lngua portuguesa: a influncia do processo civilizatrio. In: MATTOS E SILVA, Rosa Virgnia. (Org.). Para a histria do portugus brasileiro, v. II: primeiros estudos, t. II. So Paulo: Humanitas. p. 305-315.