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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
92 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
VISIBILITY OF ARCHAEOLOGICAL TRACES AND ITS RELATION WITH DUNE
MORPHODYNAMICS RESEARCH OF THE SITE RS-LC: 73
Cleiton Silva da Silveira Christian Garcia Serpa
Vol. XII | n23 | 2015 | ISSN 2316 8412
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
93 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Visibilidade de Vestgios Arqueolgicos e sua Relao com a
Morfodinmica Dunar
Estudo de caso do stio RS-LC: 73
Cleiton Silva da Silveira1 Christian Garcia Serpa2
Resumo: Diversos fatores perturbam o registro arqueolgico, entre
eles est a movimentao das massas de areia no stio e o trfego de
pessoas e animais pela regio. Esta pesquisa tem por objetivo
auxiliar na compreenso da dinmica dunar que influi na visibilidade
dos vestgios arqueolgicos do stio RS - LC: 73 atravs da aplicao de
ferramentas da Geodsia e da Topografia. Buscou-se identificar a
relao existente entre os padres de intensidade e direo do vento
durante o perodo de estudo e a movimentao das dunas que nos dias
atuais compem uma parte do stio arqueolgico. Desta forma
possibilitou um maior entendimento sobre o comportamento do stio e
a realizao de consideraes dedutivas sobre seu aspecto no futuro.
Palavras-chave: Geoarqueologia, Topografia, Stios em Dunas.
Abstract: Several factors disturb the archaeological registry
such as the movement of sand masses and the traffic of people and
animals in the area. This research aims to assist about the
comprehension of the dune dynamics impacts on the visibility of the
archaeological marks of the site RS - LC: 73 through the
application of Geodesy and Topography tools. This work have sought
to identify the relation between the intensity measures and wind
directions during the period of study and the movement of dunes
that nowadays set up part of the archaeological site. Thus, it
enabled wide understanding of the site behavior and the achievement
of deductive considerations about its aspects in the future.
Keywords: Geoarchaeology, Topography, Sites in dunes.
O STIO RS - LC: 73
O objeto de estudo deste trabalho o stio arqueolgico RS - LC:
73, registrado no Laboratrio de
Ensino e Pesquisa em Arqueologia e Antropologia LEPAN da
Universidade Federal do Rio Grande FURG
no ano de 2013. O stio encontra-se em uma rea de dunas livres,
prxima a Lagoa dos Patos nas
coordenadas -31 58 22,28, -52 1 11,433, municpio de So Jos do
Norte/RS (Figura 1).
1 Bacharel em Arqueologia pela Universidade Federal do Rio
Grande FURG. E-mail: [email protected].
2 Doutor em Oceanologia fsica, qumica e geolgica. Professor
adjunto da Universidade Federal do Rio Grande FURG. E-mail:
[email protected]. 3 Coordenadas no sistema UTM: 22 J
403640,00 m E 6462119,00 m S.
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94 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 1: Localizao do municpio. Fonte: IBGE.
Stios com estas caractersticas so chamados de: stios sobre
dunas, stios erodidos sobre dunas,
stios dunares, stios elicos, conforme consta na bibliografia
consultada (ETCHEVARNE, 1992; PESTANA,
2006, 2007; RIBEIRO et al., 1997, 2004; SILVA, 2003; TALGIANI et
al.,2000; THIESEN, 2011, entre outros).
De acordo com Etchevarne (1992, p. 61), que trata de stios
dunares do rio So Francisco:
Outra caracterstica que os identifica [os stios dunares] a
marcada setorizao dos
vestgios, compondo um conjunto de manchas arqueolgicas,
alternadas por espaos de
relevo dunar. Em sntese, cada stio arqueolgico est composto pela
unidade
geomorfolgica (dunas) que o define e pela totalidade dos setores
ocorrentes.
Entendeu-se neste caso que o stio RS LC: 73 est em uma relao
entre as reas de dunas e os
afloramentos de vestgios arqueolgicos, e estas cobrem e
descobrem diferentes reas com material
arqueolgico ao longo do tempo. Pode-se dizer, portanto, que o
stio em estudo envolto por dunas e
apresenta setores com material arqueolgico visvel, que so
expostos em blowouts, ou seja, reas de
depresso em meio s dunas.
O material encontrado no stio coincide com os da tradio
arqueolgica Tupiguarani, com
abundantes fragmentos de cermica com decorao corrugada alm de
ossos, conchas, coquinhos
calcinados e tambm abundantes materiais lticos de diferentes
matrias primas. Neste breve texto no
ser possvel descrever em detalhe a totalidade do material
arqueolgico encontrado, ficando aberta a
possibilidade (e a necessidade) de mais trabalhos no stio.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
95 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Estima-se que o stio ocupe ao menos 60.000 metros quadrados (m),
com aproximadamente 300
metros (m) de comprimento e 200m de largura. A dimenso do stio
aproximada, pois a movimentao
do campo de dunas altera a posio do material arqueolgico visvel.
Na Figura 2 se observa grande
quantidade e diversidade de materiais em meio areia. Ossos e
conchas tendem a ser os mais afetados
pela intemprie e eroso causada pelo transporte elico, sem
mencionar a movimentao de pessoas e
animais pelo local.
Figura 2: Imagem do stio. Fonte: Autor.
FATORES MORFOCLIMTICOS E O REGISTRO ARQUEOLGICO
O clima no Rio Grande do Sul classificado como Subtropical
Temperado, afetado pelas massas
de ar South Atlantic Tropical Anticyclone (SATA), Polar
Migratory Anticyclone (PMA) e West Low (WL). O
SATA predominante nos meses quentes, primavera-vero, gradientes
de presso entre o SATA e WL
geram ventos de E-NE (Leste Nordeste). Durante as estaes frias,
outono-primavera o PMA mais ativo,
predominando os ventos ciclnicos (frentes frias) na direo S-SW
(Sul Sudoeste) (MARTINHO, 2008, p.
68-69). Para este trabalho foram utilizados dados climticos do
municpio de Rio Grande, localizado a 8 km
de So Jos do Norte. Na regio os ventos dominantes so Nordeste e
Sudoeste, 22,3% e 13,5%
respectivamente (Idem).
Martinho (2008) infere em sua tese que tanto o Potencial de
Deriva de areia (DP), ou seja, a
tendncia que a areia possui de se movimentar devido a uma
determinada fora e direo de ventos,
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96 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
quanto a Direo de Deriva Resultante (RDD), que a provvel direo
para onde a duna vai se mover,
tendem a mudar sazonalmente. Conhecendo os padres climticos
seria possvel estipular o
comportamento do campo de dunas, e assim compreender as mudanas
na visibilidade dos vestgios
arqueolgicos do stio, ainda segundo Martinho (2008, p. 90)4:
In the passage from summer to fall the NE winds decrease in
speed and frequency and the
W winds increase. Months with the highest DPs are September,
October and November,
and the association with low values of precipitation in October
and November makes
spring the season with highest dune migration rates with RDD to
the SW. The end of
winter (August/September) is the period of the year with highest
rainfall and low DPs
during August making this season the lowest potential dune
migration period.
Ambientes costeiros so marcados por possurem frequentes mudanas
tanto espaciais quanto
temporais, resultando uma variedade de feies geomorfolgicas e
geolgicas. Esse dinamismo devido
ao das ondas, correntes de mar, correntes litorneas e influncias
antrpicas (ROSSETI, 2008, p. 247).
Stios arqueolgicos nestes ambientes sofrem processos
deposicionais tais como o soterramento, eroso,
abraso, deslocamento de materiais, falta de evidncia
estratigrfica, etc., todos estes fatores
desencadeados pelo vento atuando na movimentao das massas de
areia que recobrem os stios e suas
redondezas (HERZ, GARRISON, 1998, p. 32; PESTANA, 2007, p. 18;
SILVA, 2003, p. 52).
Stios em reas de dunas foram pouco estudados no sul do Brasil,
no existindo uma ampla
bibliografia sobre o tema, entretanto, stios semelhantes foram
encontrados no litoral nordeste do pas e:
[...] so fortemente marcados pela dinmica dunar que determinou
sua conformao
atual. Sofreram a ao de agentes naturais que provocaram grandes
modificaes ps-
deposicionais, entre elas a movimentao horizontal e/ou vertical
de artefatos e
estruturas. Essas modificaes so consequncias dos processos de
transporte e
sedimentao atuantes na rea de dunas (SILVA, 2003, p. 13).
Conhecer o clima (e o paleoclima) de uma determinada regio
importante para entender o
processo de formao do registro arqueolgico, para perceber como o
stio se comporta frente dinmica
4Traduo livre: Na passagem do vero para o outono, ventos NE
diminuem em velocidade e frequencia e os ventos W aumentam.
Meses com maior DP so Setembro, Outubro e Novembro, e a associao
com baixos valores de precipitao em Outubro e Novembro, faz da
primavera a estao com maiores taxas de migrao de dunas com RDD para
SW. O final do inverno (Agosto/Setembro) o periodo do ano com mais
chuvas e baixo DP durante agosto fazendo desta estao a com menor
potencial de migrao de dunas.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
97 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
do ambiente e ainda como o arquelogo pode usar estas informaes
para aumentar a eficcia de suas
pesquisas.
METODOLOGIA
Dados Meteorolgicos
Para este trabalho foram utilizados os dados meteorolgicos de
duas fontes distintas, a primeira
o livro Normais Climatolgicas Provisrias de 1991 a 2000 para Rio
Grande, RS (KRUSCHE et al., 2002). A
segunda fonte o banco de dados da Estao Meteorolgica de Observao
de Superfcie Automtica5 de
Rio Grande (cdigo A802), consultado atravs do INMET (Instituto
Nacional de Meteorologia). Para cada
perodo de anlise foram criadas Rosas dos Ventos com o software
WRPLOT, utilizando os dados (horrios)
de direo e velocidade dos ventos, e precipitao. A estao
automtica de Rio Grande foi escolhida por
ser a mais prxima da rea do stio arqueolgico (18
quilmetros).
5Uma estao meteorolgica de superfcie automtica composta de uma
unidade de memria central (data logger), ligada a
vrios sensores dos parmetros meteorolgicos (presso atmosfrica,
temperatura e umidade relativa do ar, precipitao, radiao solar,
direo e velocidade do vento, etc.), que integra os valores
observados minuto a minuto e os armazena automaticamente a cada
hora. Fonte:
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas
acesso em 10/09/2013.
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
98 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Normais Climatolgicas Provisrias da Estao Meteorolgica n, de Rio
Grande no Perodo de 1991 a 2000 (Dados selecionados).
Precipitao
(mm) Evaporao
(mm) Direo Mdia
do Vento ()
Mdia da Intensidade do
Vento (m/s)
1 Direo Predominante
2 Direo Predominante
Janeiro 85,31 124,51 82 (E) 3,87 NE SE
Fevereiro 112,73 103,50 91 (E) 3,68 NE SE
Maro 93.79 108,88 87 (E) 3,24 NE SE
Abril 123,49 83,73 111 (E) 3,26 NE SW
Maio 102,95 63,74 191 (S) 2,62 SW NE
Junho 117,78 49,17 280 (W) 2,8 NE SW
Julho 147,68 51,46 246 (SW) 3,12 NE SW
Agosto 109,93 59,82 103 (E) 3,22 NE SW
Setembro 101,59 78,06 93(E) 3,95 NE SW
Outubro 112,75 86,39 84 (E) 4,28 NE SE
Novembro 98,16 107,26 82 (E) 4,13 NE SE
Dezembro 93,85 124,45 84 (E) 3,75 NE SE
Ano 1.300,01 1.040,97 89 (E) 3,49 NE SE
Tabela 1: Normais Climatolgicas de Rio Grande 1991 a 2000.
Modificado de Krusche et al. (2002, p. 79).
Anlise do Terreno
Visando a definio de uma rea de pesquisa comum a todas as
campanhas de coleta de dados
topogrficos e aos respectivos locais de ocorrncia de material
arqueolgico, estabeleceu-se uma grade
regular sobre uma poro do stio RS - LC: 73 (Figura 3), com
10.000m (100x100m). A rea foi selecionada
por apresentar o maior nmero de blowouts prximos uns aos outros
com material arqueolgico visvel na
superfcie. Com o GPS geodsico, modelo Leica GS15 com correo
cinemtica em tempo real, foram
coletados dados planialtimtricos em cada ponto da grade pelo
mtodo Stop and Go totalizando 121
pontos. Este procedimento foi aplicado em quatro sadas de campo,
com a coleta de dados nos mesmos
pontos.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
99 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 3: rea do stio e grade regular para a coleta de dados
topogrficos sobre imagem do Google Earth.
As sadas de campo para a coleta de dados foram efetuadas nos
meses Junho (2013), Setembro
(2013), Novembro (2013) e Janeiro (2014), e a programao foi
estabelecida sobre dois parmetros: o
tempo hbil para a exequibilidade do projeto, e a distribuio das
sadas de acordo com a condio dos
ventos, baseado nas normais climatolgicas da regio.
A tcnica de posicionamento utilizada confere uma acurcia de 20
milmetros (mm) aos pontos de
interesse. A metodologia escolhida para a coleta de dados de
campo mostrou-se mais rpida e precisa do
que a opo inicial, com Estao Total e Prisma, indo de encontro s
propostas metodolgicas de Lancaster
(2009, p. 19) e Conolly e Lake (2006, p. 64). Para observar o
comportamento da rea do stio, foram criados
modelos numricos do terreno (MNT), sobrepostos pela grade de
pontos sinalizando locais de ocorrncia
de material arqueolgico.
Para o processamento dos dados coletados foi utilizado o
software Surfer 11, iniciando pela
converso das altitudes geomtricas (referentes ao elipsoide) em
ortomtricas (H) (referidas ao nvel mdio
do mar ou ao geoide)6. Os dados da altitude geomtrica (h) foram
subtrados pelos da ondulao geoidal da
rea de estudo (N), neste caso 8,16m (valor calculado pelo modelo
MAPGEO 2010 IBGE). A frmula que
segue representa este processo: H = h N. Assim os valores dos
121 pontos coletados esto referenciados
ao nvel do mar/geoide. O modelo numrico do terreno foi realizado
utilizando o mtodo de interpolao
Curvatura Mnima e a partir deste, criadas as cartas topogrficas
com curvas de nvel e de superfcie em
trs dimenses (3D).
6 Disponvel em: . Acesso em: 11/09/2013.
100 m
100 m
Ponto Fixo
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
100 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Foi realizada tambm a verificao do erro residual da interpolao,
ou seja, a diferena entre o
valor interpolado e o valor coletado em campo. Para tanto foi
utilizada a ferramenta Residuals do
software Surfer. Tambm foi possvel calcular o volume de areia
presente na malha atravs da ferramenta
Volume. Cabe ressaltar que os volumes foram calculados a partir
de um referencial comum (geoide) e se
referem ao pacote arenoso na rea em estudo em cada uma das sadas
de campo.
Para verificar o processo erosivo e deposicional, foi necessrio
o clculo da diferena (Z) entre as
altitudes medidas em uma e outra data. Os valores de Z so as
alturas ortomtricas (H) de cada ponto no
terreno. Logo se verificou a diferena da segunda sada pela
primeira, da terceira pela segunda, e da quarta
pela terceira. Se o valor da diferena em Z for positivo
significa que naquele ponto especfico ocorreu
deposio de sedimento, se o valor for negativo indica eroso;
sendo esse clculo feito para os 121 pontos
coletados.
Tambm foi realizada uma comparao adicional, entre a ltima sada
de campo e a primeira, o
que estabelece os valores totais de eroso e deposio em todo o
perodo de anlise (Junho de 2013 a
Janeiro de 2014). As estimativas para o comportamento futuro do
stio foram realizadas com base nos
dados das normais climatolgicas (KRUSCHE et al., 2002) e nos
clculos de potencial de deriva de areia para
o municpio de Rio Grande (MARTINHO, 2008).
Sada de campo preliminar
A primeira sada foi o ponto de partida deste trabalho, realizada
no dia 20 de Abril de 2013. O GPS
Geodsico foi instalado em um marco com coordenadas conhecidas
(UTM: 401921,061E 6458337,860N
14,052h), instalado na zona urbana de So Jos do Norte. As
coordenadas foram convertidas do modelo
elipsoidal para o geoidal e ento foram transferidas para um
ponto fixo prximo ao stio arqueolgico
(UTM: 403740,617E 6462220,575N 3,609H). Aps o reconhecimento do
stio e instalao do ponto fixo
conhecido, foram tomadas fotografias e coordenadas para efetuar
o cadastro do stio RS - LC: 73 junto ao
IPHAN.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
101 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
RESULTADOS
Primeira coleta de dados topogrficos
Foi realizada a instalao do GPS Geodsico sobre o ponto fixo
instalado na visita de Abril e
efetuou-se a coleta dos 121 pontos da grade regular. O erro
residual da interpolao teve mdia de
0,00208m. O volume total do pacote arenoso da rea de estudo
nesta data foi de 14.943 metros cbicos
(m).
Figura 4: Modelo numrico da primeira sada de campo.
O material arqueolgico encontrado em superfcie encontra-se
disperso entre as altitudes 4,831m
e 3,807m variando em torno de 1,024m. Como se pode observar na
Figura 4, cada ponto representa uma
rea de ocorrncia de material arqueolgico em superfcie em um raio
de 2,5m a partir do ponto de coleta
de dados. No total, nesta sada de campo foram observados 22
pontos com ocorrncia de material
arqueolgico em superfcie.
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102 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Segunda coleta de dados topogrficos
Na sada realizada no dia 09 de Setembro de 2013, foram coletados
os dados topogrficos nas
exatas posies da grade regular como feito na sada anterior. Os
pontos coincidentes com material
arqueolgico em superfcie tambm foram assinalados. O erro
residual da interpolao ficou com mdia de
0,00281m. O volume calculado da rea foi de 14.914m.
Figura 5: Modelo numrico da segunda sada de campo.
O material arqueolgico encontrado em superfcie se encontra
disperso entre as alturas 4,888m e
3,823m variando em torno de 1,065m. Foram encontrados 17 pontos
com vestgios arqueolgicos visveis
em superfcie. A partir de dados obtidos do INMET, o regime de
ventos entre 24/06/13 (primeira coleta) e
09/09/13 (segunda coleta) foi representado na Figura 6. Fica
evidente que os ventos mais intensos e
frequentes para o perodo so de SW e de NE, concordando com os
dados de Direo Mdia do Vento
para os meses de Junho (W) e Julho (SW) e os dados da 1 Direo
Predominante (NE) e 2 Direo
Predominante (SW) das Normais Climatolgicas para o perodo
(KRUSCHE et al. 2002). Ao comparar os
dados topogrficos das duas sadas anteriores com a distribuio dos
ventos, observa-se que a disposio
dos pontos erosivos e deposicionais acompanha o sentido dos
ventos predominantes (SW), como se
observa na Figura 7.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
103 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 6: Regime de ventos para o perodo de Junho/13
Setembro/13.
Figura 7: Modelo numrico de eroso - deposio entre Junho/13 e
Setembro/13.
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104 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Os modelos numricos de eroso e deposio foram elaborados a partir
da diferena entre as
altitudes ortomtricas de cada sada de campo. Ao se comparar a
carta topogrfica da sada do dia
24/06/13 com as taxas de eroso e deposio se percebe que o
sentido est de acordo com os ventos
predominantes para o perodo como indicado nas flechas
indicativas (enumeradas de 1 a 8). Da mesma
forma as reas de maior altura sofreram processos de eroso mais
intensos, acumulando o sedimento nas
reas mais baixas adjacentes ao sentido dos ventos (SW-NE). Tambm
se pode constatar como indicado nas
flechas de 1 a 7, que a face da duna de maior incidncia de
ventos a sudeste, (rea de barlavento), o que
novamente reafirma a condicionante da direo dos ventos incidindo
sobre a movimentao da areia sobre
as reas com ocorrncia de material arqueolgico. Pode-se observar
a relao do processo de eroso e
deposio ao cruzar os valores numricos do terreno com as reas de
ocorrncia de materiais
arqueolgicos (Figura 8).
Figura 8: Relao de eroso - deposio e reas com material
arqueolgico. Perodo de Junho/13 Setembro/13.
Ao menos seis reas com ocorrncia de material arqueolgico em
superfcie sofreram processo de
acmulo de sedimento no perodo de Junho a Setembro (Figura 8),
fazendo que os materiais visveis no
ms de Junho no estivessem visveis no ms de Setembro (flechas
pretas). Ao observar o acmulo de
sedimento nas reas em azul com variao de at 36cm estima-se,
portanto, que o material arqueolgico
foi soterrado.
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105 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Da mesma forma que novos vestgios vieram tona atravs do processo
de eroso causado pelo
vento, indicado na flecha amarela. As flechas verdes indicam as
reas dentro da margem de erro. A
margem de erro admitida para este trabalho baseia-se na
impreciso mxima no momento de coleta dos
pontos topogrficos do terreno pelo equipamento que de 20mm.
Logo, as reas de eroso e deposio
foram consideradas quando nas sadas de campo a diferena foi
maior que 40mm. Espera-se com isso uma
maior segurana ao efetuar a interpretao dos dados apresentados e
dos modelos numricos do terreno
(MNT).
Terceira coleta de dados topogrficos
Esta sada foi realizada no dia 16 de Novembro de 2013, seguindo
a mesma metodologia das
sadas anteriores. Os 121 pontos de coleta foram realizados sobre
os vrtices da grade regular. O erro
residual de interpolao ficou com mdia de 0,00222m. O volume
total da rea foi de 14.859m.
Figura 9: Modelo numrico da terceira sada de campo.
O material arqueolgico encontra-se disperso entre as alturas
3,971m e 4,803m, possuindo uma
variao de altura de 0,832 metros. Foram encontrados 11 pontos
com a ocorrncia de material
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106 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
arqueolgico. Os dados dos ventos obtidos pela estao automtica de
Rio Grande para o perodo entre o
perodo de Setembro Novembro esto representados na Figura 10.
Figura 10: Regime de ventos para o perodo de Setembro/13
Novembro/13.
evidente a diferena dos ventos predominantes observados neste
perodo em relao ao
anterior. Estes dados tambm conferem com a Direo Mdia dos Ventos
de Setembro (E), Outubro (E) e
Novembro (E), 1 Direo Predominante (NE) e 2 Direo Predominante
(SW e SE) das Normais
Climatolgicas propostas por Krusche et al. (2002).
A direo do processo de eroso e deposio est de acordo com a direo
dos ventos para o
perodo observado, tambm se relacionou estes fatores com a
topografia medida em 16/11/2013 quando
novamente o processo erosivo apresentou-se intensificado na face
leste das dunas (flechas 1, 3, 4 e de 7 a
11) na Figura 11.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
107 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 11: Sentido de eroso - deposio para o perodo de
Setembro/13 Novembro/13.
A visibilidade dos materiais arqueolgicos de Setembro e Novembro
tambm foi analisada e
relacionada com o processo de eroso e deposio, conforme ilustra
a Figura 12. Nas flechas em preto
observa-se o processo de deposio ocultando os materiais
arqueolgicos que estavam visveis em
Setembro, e a flecha amarela indica o efeito de eroso trazendo
tona em Novembro novos vestgios que
no haviam sido encontrados em Setembro. Nesta sada de campo
ocorreu um fato indito at ento. As
reas marcadas com as flechas cor-de-rosa indicam regies em que,
na sada de campo de Setembro foram
encontrados materiais arqueolgicos, que no estavam em Novembro.
O fato curioso que estas so reas
que sofreram um processo erosivo.
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108 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 12: Relao de eroso - deposio e reas com material
arqueolgico. Perodo de Setembro/13
Novembro/13.
Pela interpretao dos dados de eroso e deposio, se percebe ao
menos quatro reas com
evidncia de material arqueolgico na superfcie que foram cobertas
pela movimentao das dunas no
perodo de Setembro a Novembro. Por outro lado duas reas foram
identificadas com processo erosivo e
de surgimento de material arqueolgico para o mesmo perodo.
Desconsiderando os casos dentro da margem de erro admitida, duas
reas sofreram processo de
eroso no perodo analisado, mesmo apresentando material
arqueolgico em superfcie no ms de
Setembro, porm na visita seguinte no foi encontrado. Pode-se
supor neste caso que o material tenha se
deslocado vertical ou horizontalmente e ento tenha sido
recoberto de areia, mesmo com a varivel
topogrfica estando em cota mais baixa.
Quarta coleta de dados topogrficos
Esta ltima sada de campo foi realizada no dia 18 de Janeiro de
2014, encerrando a etapa de
campo da pesquisa conduzida durante sete meses (duzentos e oito
dias). O erro residual de interpolao
ficou com mdia de 0,00505 m. O volume da rea de estudo foi de
14.734m.
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MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
109 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 13: Modelo numrico da quarta sada de campo.
A disperso das reas de ocorrncias de materiais arqueolgicos em
superfcie ficou entre 3,848m
e 4,746m de altitude, apresentando uma variao de 0,898m. No
total foram identificados 15 pontos com
ocorrncia de material arqueolgico em superfcie. A direo
predominante dos ventos no perodo entre
Novembro (2013) e Janeiro (2014) (Figuras 14 e 15) semelhante ao
verificado para o perodo anterior.
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110 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 14: Regime de ventos para o perodo de Novembro/13
Janeiro/14.
Figura 15: Sentido de eroso - deposio para o perodo de
Novembro/13 Janeiro/14.
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MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
111 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Na figura a seguir possvel identificar as reas de maior eroso e
estas coincidem como perfil
leste das dunas (barlavento), rea de incidncia direta dos ventos
predominantes. Pode-se verificar
tambm atravs da modelagem numrica, uma semelhana no sentido
eroso-deposio na rea de
estudo. Seguindo o protocolo metodolgico adotado, cruzaram-se os
dados de ocorrncias de materiais
arqueolgicos em superfcie dos meses de Novembro (2013) e Janeiro
(2014).
Novamente foi possvel verificar o soterramento de material
arqueolgico do perodo anterior
atravs da deposio de sedimento (flecha preta). Tambm ocorreu o
surgimento de novas reas com
materiais arqueolgicos em regies de eroso (flechas amarelas).
Mais uma vez, com exceo dos casos
dentro das reas com margem de erro (flechas verdes), tem-se um
evento de ocultao de material
arqueolgico em rea de eroso (flecha rosa).
Figura 16: Relao de eroso - deposio e reas com material
arqueolgico. Perodo de Novembro/13 Janeiro/14.
Cabe reiterar que cada ponto marcado na carta corresponde a uma
rea de raio de 2,5m de
observao de superfcie, e que novamente ocorreu eroso seguida de
ocultao de material arqueolgico,
que foi visualizado em Novembro, mas no em Janeiro. Os provveis
motivos para este fato so a
movimentao de material e a falha na observao. Entretanto, em
todas as sadas de campo a coleta de
dados era feita por duas pessoas, uma manuseando o equipamento e
a outra auxiliando na observao das
ocorrncias em superfcie, portanto, a possibilidade de falha na
observao muito pequena.
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
112 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
DISCUSSO
Sete meses no foram suficientes para uma anlise sazonal
completa, muito menos para o
estabelecimento de padres, porm foi possvel visualizar uma clara
relao entre os ventos
predominantes e o movimento do campo de dunas, assim como seu
papel na visibilidade do stio
arqueolgico.
Outro fator a considerar neste estudo foi o tempo entre a
primeira e a segunda sadas de campo
(Junho e Setembro), pois de acordo com as normais climatolgicas
(KRUSCHE et al. 2002, p. 79) tal perodo
apresenta uma grande variao na direo dos ventos, algo que se
confirmou com o levantamento de
dados meteorolgicos da estao automtica de Rio Grande. No
entanto, foi possvel identificar claramente
a predominncia do vento Sudoeste (SW), tanto na Rosa dos Ventos
quanto na modelagem do terreno com
os locais de eroso e deposio.
A adeso dos resultados da interpolao com o mtodo de Curvatura
Mnima aos dados coletados
em campo se mostrou satisfatria. O erro mximo residual foi de
0,174244m, e o mdio de 0,002523m (em
torno de 2,5cm). Tanto os modelos em curvas de nvel quanto os
tridimensionais se mostraram fiis
observao feita em campo.
As mudanas no campo de dunas podem ser observadas de muitas
formas, uma delas pelo
volume de sedimento dentro da grade regular (rea de estudo). Pde
ser observado que conforme os
meses de primavera e vero se aproximaram, quando os ventos E-NE
predominam, o pacote arenoso na
rea sofreu uma reduo considervel.
No perodo de Junho a Setembro, os ventos variaram bastante entre
SW e NE, associados a uma
alta taxa de chuvas (precipitao), e podem ter refletido em uma
menor mobilidade sedimentar para fora
da rea de estudo (tabela 2). Nos meses seguintes (Setembro a
Novembro) o regime de ventos se
estabilizou no sentido E-NE, entretanto as taxas de precipitao
foram altas, o que pode estar relacionado
com uma pequena taxa de reduo de volume, ainda assim maior que
no perodo anterior. No perodo
entre Novembro e Janeiro ocorreu a maior variao, aproximadamente
125mde sedimento. Os ventos
predominaram do mesmo sentido (E-NE) e se observou as menores
taxas de precipitao at ento, ou
seja, condies ideais para uma maior mobilidade dunar. Estes
dados esto de acordo com a bibliografia
consultada a respeito do potencial de deriva de areia para os
meses de inverno que seria o mais baixo
(MARTINHO, 2008, p. 90).
Ainda de acordo com a autora, os meses de primavera teriam a
maior taxa de mobilidade, porm,
ponto que cabe destacar que os meses de primavera no ano de 2013
apresentaram altos ndices de
precipitao, e assim uma baixa movimentao no campo de dunas, mas
com a chegada do vero essa
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
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113 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
movimentao se intensificou. A anlise do transporte de sedimento
para fora da grade regular no levou
em considerao a presena de vegetao, assim como as anlises de
potencial de deriva estabelecidas por
Martinho (2008, p. 90).
Visto que a rea em estudo composta predominantemente por dunas
transgressivas pouco
vegetadas, e que em seu entorno h reas de topografia mais baixa
e corpos de gua, natural que o
balano sedimentar seja negativo, porm tal constatao demanda um
perodo maior de observao.
Perodo Volume Precipitao Ventos
JUN SET -29m 243,8mm SW e NE (opostos)
SET NOV -55m 359,4mm E- NE
NOV JAN -125m 198mm E- NE
Tabela 2: Relao entre perodo de observao, volume de sedimento
deslocado, precipitao e direo dos ventos.
De acordo com os dados apresentados na metodologia, os modelos
numricos elaborados a partir
das informaes de eroso e deposio mostram com clareza a orientao
dos ventos a barlavento das
dunas (Figuras 6, 11 e 15). Os dados meteorolgicos de todo o
perodo foram compilados em uma nica
Rosa dos Ventos (Figura 17), que mostra os padres de direo e
intensidade do vento para o perodo total
(208 dias).
Tambm pode-se observar nas Figuras 18 e 19 uma relao entre a
predominncia do vento de
NE e a variao na topografia do campo de dunas. Cabe observar que
a Figura 18 apresenta o MNT da rea
em estudo com eroso a barlavento assinalada.
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
114 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 17: Regime dos ventos para todo o perodo de estudo.
Nota-se que mesmo ao realizar uma modelagem numrica das reas com
diferena de duzentos e
oito dias, fica evidente a direo residual de eroso e deposio no
terreno, e as reas de barlavento sendo
predominantemente atingidas pelo vento. Isto fez com que a areia
se movesse para o sentido (W-SW).
Na Figura 19 se pode observar as reas de eroso e deposio
relacionadas com o material
arqueolgico encontrado em superfcie no ms de Junho e depois no
ms de Janeiro.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
115 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 18: Sentido de eroso deposio para todo o perodo de
estudo.
Figura 19: Relao de eroso - deposio e reas com material
arqueolgico. Para todo o perodo de estudo.
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
116 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Para compreender a variao na visibilidade dos vestgios
arqueolgicos na superfcie pode-se
observar a seguir (Figura 20) a rea de estudo dividida em trs
setores, de acordo com os respectivos
blowouts. Nota-se que o aparecimento e o desaparecimento de
material foram relativamente rpidos,
entretanto, as reas de ocorrncia so prximas.
Figura 20: reas com ocorrncias de materiais arqueolgicos
setorizadas.
Ao considerar que os dados apresentados para o comportamento dos
ventos e do potencial de
deriva de areia (KRUSCHE et al., 2002; MARTINHO, 2008) esto de
acordo com os verificados em campo,
possvel estabelecer cenrios futuros da configurao do stio.
Os setores marcados na Figura 20 representam reas com material
arqueolgico visvel que foram
descobertas pelas dunas. Ao relacionar as informaes mencionadas
at aqui se pode classificar o setor 1
como a regio mais sensvel observada, com pelo menos dois pontos
indicando que h material
arqueolgico em superfcie nos meses de Junho, Setembro e Janeiro.
No entanto estes no estavam visveis
no ms de Novembro. Nas cartas com a modelagem numrica de eroso e
deposio, se observa que este
setor sofreu apenas uma moderada eroso ao longo do perodo de
estudo. Supe-se ento que o mesmo
possa vir a desaparecer e reaparecer ao longo do ano, mas devido
presena de dunas mais altas a NE e SE
o mesmo poder ser soterrado aps alguns anos.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
117 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
O setor de nmero 2 apresentou vestgios de ocupao ao longo de
todo o perodo de estudo, e
sua rea de disperso maior que a do primeiro setor. Este setor
dever continuar alternando a sua
visibilidade de vestgios arqueolgicos ao longo do tempo, mas
devido falta de sedimento disponvel no
sentido do vento predominante (NE), no dever ser soterrado por
completo novamente, salvo em caso de
um perodo extenso sob a incidncia de ventos de SW. Entretanto
como observado anteriormente, os
materiais arqueolgicos podem sofrer um eventual deslocamento
vertical e serem soterrados mesmo em
uma rea com eroso elica predominante.
O terceiro setor com visibilidade de materiais arqueolgicos o
maior de todos e apresenta uma
configurao praticamente paralela ao vento predominante.
Estima-se que seja a rea mais estvel do stio,
ao menos em relao sua visibilidade, mas tambm a rea com maior
impacto antrpico. Transeuntes
que por ventura passem pelo local acabam pisando sobre o
material arqueolgico, causando maior impacto
do que nos outros setores visveis. Este setor tambm se
caracteriza por ter a maior abundncia e
diversidade de vestgios arqueolgicos. Restos fito-faunsticos,
cermicas com diversos tipos de decorao,
amplo e diverso material ltico, entre outros materiais compem a
heterogeneidade deste stio
arqueolgico.
Devido similaridade nas alturas do terreno onde h visibilidade
de materiais arqueolgicos,
acredita-se que todos os setores poderiam estar conectados no
passado. Da mesma forma supe-se que a
camada com material arqueolgico se estende por baixo das dunas e
que eventualmente algumas reas
hoje visveis podero estar soterradas no futuro, e provavelmente
novas reas do stio sero descobertas.
Para ilustrar melhor as reas com maiores taxas de eroso e
deposio, foi elaborada a Figura 21,
na qual a modelagem de eroso e deposio de cada perodo est
sobreposta aos respectivos MNT em trs
dimenses.
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
118 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Figura 21: Modelos 3D com as reas de eroso e deposio.
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119 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
CONSIDERAES FINAIS
O municpio sofre atualmente com a especulao imobiliria, expanso
urbana (VIANA et al.,
2009) e a instalao de um porto e estaleiro de grande porte7.
Esses fatores certamente desencadearo um
crescimento da cidade sem precedentes, que pode atingir a rea do
stio arqueolgico e por consequncia
destru-lo. A circulao de moradores locais pela rea do stio um
dos fatores mais preocupantes quanto
preservao do mesmo. O pisoteio nas reas de afloramento de
material arqueolgico implica na
destruio destes vestgios. As evidncias de estruturas, tais como
as observadas em campo (Figura 22),
tambm podem vir a ser destrudas.
Figura 22: Estrutura de fogueira observada in situ.
Medidas como o dilogo com os moradores da regio e parceria com a
prefeitura e rgos de
proteo ambiental sero necessrias para a preservao do stio,
possibilitando que futuros trabalhos
contribuam para que parte do passado que est sob as dunas possa
um dia ser escrito. Procurar
estabelecer relaes de confiana entre a universidade e as
comunidades que vivem prximas ao stio um
grande desafio que, por sugesto, deve ser contemplados em
futuros projetos da universidade (FURG), a
sobrevivncia deste stio arqueolgico pode depender disto.
7 Artigo do Jornal do Comrcio de 08/02/2014. Disponvel em: .
30cm
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CLEITON SILVA DA SILVEIRA, CHRISTIAN GARCIA SERPA
120 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
Em futuros estudos, recomenda-se abordar os efeitos dos fatores
climticos nos diferentes tipos
de materiais arqueolgicos. Como um laboratrio a cu aberto, este
stio tem o potencial necessrio para
inmeras pesquisas. Observou-se em campo a fragilidade do
material botnico, sseo e malacolgico, e
que a cada ano as variaes de temperatura, regime de chuvas, e
intensidade e direo do vento esto
fragilizando e destruindo estes materiais. As delicadas
estruturas de fogueiras tambm sofrem a ao da
gua e do vento, pois estas esto expostas, salvo quando so
cobertas pela areia, o que pode contribuir
para a sua preservao.
O stio RS LC: 73, assim como outros em reas de dunas, apresenta
a problemtica da
sobreposio de ocupaes, desta forma misturando os vestgios
arqueolgicos de distintos momentos na
mesma rea (palimpsestos diacrnicos). Marluce Silva (2003, p. 83)
em sua dissertao de mestrado
tambm caracteriza os stios em rea de dunas neste sentido:
[...] apresentando materiais em superfcie, que esto em constante
processo de
soterramento ou afloramento. Nesses stios se pode constatar o
processo de formao
dos palimpsestos arqueolgicos e dos efeitos da abraso e
polimento elico sobre os
materiais.
Indagaes a respeito de diferentes grupos culturais ocupando o
mesmo espao ou reocupaes
da regio em diferentes pocas por um mesmo grupo so pertinentes,
mesmo que as caractersticas do
material cermico correspondam tradio arqueolgica Tupiguarani.
Estudos que visem estudar estes
palimpsestos seriam de grande relevncia para ampliar o
conhecimento a respeito da ocupao humana
em reas de dunas.
Poucos stios da regio do litoral central do estado possuem
dataes, sendo estas necessrias
para que se possa estabelecer com segurana o perodo de ocupao
(ou ocupaes) do stio e tambm a
relao entre os diferentes setores que afloram entre as dunas,
assim como os demais stios arqueolgicos
da regio.
Este trabalho visou uma aproximao problemtica dos stios em rea
de dunas, em especial
nos processos de formao do seu registro arqueolgico. A constante
mudana na visibilidade dos vestgios
arqueolgicos em superfcie traz de certa forma a impresso de que
em cada visita ao stio se observa um
novo contexto arqueolgico. Os setores mencionados anteriormente
(Figura 20) se configuram como
janelas, a partir das quais se pode chegar aos vestgios
culturais. Ser que o Stio RS LC: 73 se configura
como um indecifrvel palimpsesto ou foi uma nica ocupao de um
grupo que viveu na regio por anos?
Esta questo, assim como tantas outras, aguardam para serem
respondidas.
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VISIBILIDADE DE VESTGIOS ARQUEOLGICOS E SUA RELAO COM A
MORFODINMICA DUNAR ESTUDO DE CASO DO STIO RS-LC: 73
121 Cadernos do LEPAARQ Vol. XII | n23 | 2015
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