Lon Denis - No Invisvel
www.autoresespiritasclassicos.comLon DenisNo Invisvel
Traduzido do Francs
Lon Denis - Dans l'Invisible(1903)
Eugne Bodin - O Moinho do Campo
Incorporaes e materializaes de Espritos
Mtodos de experimentao
Formao e direo dos grupos
Identidade dos Espritos
A mediunidade atravs dos tempos
Contedo resumido
Lon Denis foi, indiscutivelmente, o mais importante discpulo de
Allan Kardec, tanto na divulgao quanto na defesa da Doutrina
Esprita.
No Invisvel das obras indispensveis aos estudiosos das
experincias medinicas.
Lon Denis comps este tratado de Espiritismo experimental, no
qual, alm de estudar as leis que regem as comunicaes do mundo
invisvel com o mundo material, apresenta inmeros casos espritas
pesquisados pelos sbios e as concluses a que estes chegaram.
Divide-se a obra em trs partes. A primeira analisa o Espiritismo
experimental e suas leis, a segunda os fatos e a ltima as grandezas
e misrias da mediunidade.
Conclui esclarecendo que O estudo aprofundado e constante do
mundo invisvel, que o tambm das causas, ser o grande manancial, o
reservatrio inesgotvel em que se ho de alimentar o pensamento e a
vida. A mediunidade a sua chave.
Trecho do discurso pronunciado por Lon Denis na sesso de 11 de
setembro de 1888, no Congresso Esprita de Paris, respondendo ao Sr.
Fauvety:
No vos viemos dizer que devamos ficar confinados ao crculo, por
mais vasto que seja, do Espiritismo kardequiano. No; o prprio
mestre vos convida a avanar nas vias novas, a alargar a sua
obra.
Estendemos as mos a todos os inovadores, a todos os de boa
vontade, a todos os que tm no corao o amor da Humanidade.
Sumrio
4Introduo
7Prefcio da edio de 1911
13Primeira Parte O Espiritismo experimental: As leis
13I A Cincia Esprita
19II A marcha ascensional: os mtodos de estudo
23III O Esprito e a sua forma
27IV A mediunidade
31V Educao e funo dos mdiuns
37VI Comunho dos vivos e dos mortos
39VII O Espiritismo e a mulher
42VIII As leis da comunicao esprita
47IX Condies de experimentao
58X Formao e direo dos grupos
64XI Aplicao moral e frutos do Espiritismo
70Segunda Parte O Espiritismo experimental: Os fatos
70XII Exteriorizao do ser humano - Telepatia - Desdobramento -
Os fantasmas dos vivos
83XIII Sonhos premonitrios - Clarividncia - Pressentimentos
88XIV Viso e audio psquicas no estado de viglia
93XV A fora psquica - Os fluidos - O magnetismo
98XVI Fenmenos espontneos - Casas mal-assombradas -
Tiptologia
108XVII Fenmenos fsicos - As mesas
117XVIII Escrita direta ou psicografia - Escrita medinica
133XIX Transe e incorporaes
149XX Aparies e materializaes de Espritos
167XXI Identidade dos Espritos
182Terceira Parte Grandezas e misrias da mediunidade
182XXII Prtica e perigos da mediunidade
190XXIII Hipteses e objees
197XXIV Abusos da mediunidade
203XXV O martirolgio dos mdiuns
206XXVI A mediunidade gloriosa
Introduo
Desde cinqenta anos se tem estabelecido uma ntima e freqente
comunicao entre o nosso mundo e o dos Espritos. Soergueram-se os
vus da morte e, em lugar de uma face lgubre, o que nos apareceu foi
um risonho e benvolo semblante. Falaram as almas; sua palavra
consolou muitas tristezas, acalmou bastantes dores, fortaleceu
muita coragem vacilante. O destino foi revelado, no j cruel,
implacvel como o pretendiam antigas crenas, mas atraente,
eqitativo, para todos esclarecido pelas fulguraes da misericrdia
divina.
O Espiritismo propagou-se, invadiu o mundo. Desprezado, repelido
ao comeo, acabou por atrair a ateno e despertar interesse. Todos
quantos se no imobilizavam na esfera do preconceito e da rotina e o
abordaram desassombradamente foram por ele conquistados. Agora
penetra por toda parte, instala-se em todas as mesas, tem ingresso
em todos os lares. A sua voz, as velhas fortalezas secularesa
Cincia e a prpria Igreja, at aqui hermeticamente aferrolhadas,
arrasam suas muralhas e entreabrem suas portas. Dentro em pouco se
impor como soberano.
Que traz ele consigo? Ser sempre e por toda parte a verdade, a
luz e a esperana? Ao lado das consolaes que caem na alma como o
orvalho sobre a flor, de par com o jorro de luz que dissipa as
angstias do investigador e ilumina a rota, no haver tambm uma parte
de erros e decepes?
O Espiritismo ser o que o fizerem os homens. Similia similibus!
Ao contacto da Humanidade as mais altas verdades s vezes se
desnaturam e obscurecem. Pode constituir-se uma fonte de abusos. A
gota de chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo prola ou
se transforma em lodo.
com desgosto que observamos a tendncia de certos adeptos no
sentido de menosprezar a feio elevada do Espiritismo, a fonte dos
puros ensinamentos e das altas inspiraes, para se restringirem ao
campo da experimentao terra-a-terra, investigao exclusiva do
fenmeno fsico.
Pretender-se-ia acomodar o Espiritismo no acanhado leito da
cincia oficial; mas esta, inteiramente impregnada das teorias
materialistas, refratria a essa aliana. O estudo da alma, j de si
difcil e profundo, lhe tem permanecido impenetrvel. Os seus mtodos,
por indigentes, no se prestam absolutamente ao estudo, muito mais
vasto, do mundo dos Espritos. A cincia do invisvel h de sempre
ultrapassar os mtodos humanos. H no Espiritismo uma zonae no a
menorque escapa anlise, verificao: a ao do Esprito livre no Espao;
a natureza das foras de que ele dispe.
Com os estudos espritas uma nova cincia se vai formando
lentamente, mas preciso aliar ao esprito de investigao cientfica a
elevao de pensamento, o sentimento, os impulsos do corao, sem o que
a comunho com os seres superiores se torna irrealizvel e nenhum
auxlio de sua parte, nenhuma proteo eficaz se obter. Ora, isso tudo
na experimentao. No h possibilidade de xito nem garantia de
resultado sem a assistncia e proteo do Alto, que se no obtm seno
mediante a disciplina mental e uma vida pura e digna.
Deve todo adepto saber que a regra, por excelncia, das relaes
com o invisvel a lei das afinidades e atraes. Nesse domnio, quem
procura baixos objetivos os encontra e com eles se rebaixa: aquele
que aspira s remontadas culminncias, cedo ou tarde as atinge e
delas faz pedestal para novas ascenses. Se desejais manifestaes de
ordem elevada, fazei esforos por elevar-vos a vs mesmos. O bom xito
da experimentao, no que ela tem de belo e grandiosoa comunho com o
mundo superior,no o obtm o mais sbio, mas o mais digno, o melhor,
aquele que tem mais pacincia e conscincia e mais moralidade.
Com o cercearem o Espiritismo, imprimindo-lhe carter
exclusivamente experimental, pensam alguns agradar ao esprito
positivo do sculo, atrair os sbios ao que se denomina de Psiquismo.
Desse modo, o que sobretudo se consegue pr-se em relao com os
elementos inferiores do Alm, com essa multido de Espritos
atrasados, cuja nociva influncia envolve, oprime os mdiuns, os
impele fraude e espalha sobre os experimentadores eflvios malficos
e, com eles, muitas vezes, o erro e a mistificao.
Numa nsia de proselitismo, sem dvida louvvel quanto ao
sentimento que a inspira, mas excessiva e perigosa em suas
conseqncias, desejam-se os fatos a todo custo. Na agitao nervosa
com que se busca o fenmeno, chega-se a proclamar verdadeiros os
fatos duvidosos ou fictcios. Pela disposio de esprito mantida nas
experincias, atraem-se os Espritos levianos, que em torno de ns
pululam. Multiplicam-se as manifestaes de mau gosto e as obsesses
das energias que supem dominar. Muitssimos espritas e mdiuns, em
conseqncia da falta de mtodo e de elevao moral, se tornam
instrumentos das foras inconscientes ou dos maus Espritos.
So numerosos os abusos, e neles acham os adversrios do
Espiritismo os elementos de uma crtica prfida e de uma fcil
difamao.
O interesse e a dignidade da causa impem o dever de reagir
contra essa experimentao banal, contra essa onda avassaladora de
fenmenos vulgares que ameaam submergir as culminncias da idia.
*
O Espiritismo representa uma fase nova da evoluo humana. A lei
que, atravs dos sculos, tem conduzido as diferentes fraes da
Humanidade, longo tempo separadas, a gradualmente aproximar-se,
comea a fazer sentir no Alm os seus efeitos. Os modos de
correspondncia que entretm na Terra os homens vo-se estendendo
pouco a pouco aos habitantes do mundo invisvel, enquanto no
atingem, mediante novos processos, as famlias humanas que povoam os
mundos do espao.
Contudo, nas sucessivas ampliaes do seu campo de ao, a
Humanidade tropea em inmeras dificuldades. As relaes,
multiplicando-se, nem sempre trazem favorveis resultados; tambm
oferecem perigos, sobretudo no que se refere ao mundo oculto, mais
difcil que o nosso de penetrar e analisar. L, como aqui, o saber e
a ignorncia, a verdade e o erro, a virtude e o vcio existem, com
esta agravante: ao passo que fazem sentir sua influncia, permanecem
encobertos aos nossos olhos; donde a necessidade de abordar o
terreno da experimentao com extrema prudncia, de longos e pacientes
estudos preliminares.
E necessrio aliar os conhecimentos tericos ao esprito de
investigao e elevao moral, para estar verdadeiramente apto a
discernir no Espiritismo o bem do mal, o verdadeiro do falso, a
realidade da iluso. preciso compenetrar-se do verdadeiro carter da
mediunidade, das responsabilidades que acarreta, dos fins para os
quais nos concedida.
O Espiritismo no somente a demonstrao, pelos fatos, da
sobrevivncia; tambm o veculo pelo qual descem sobre a Humanidade as
inspiraes do mundo superior. A esse ttulo mais que uma cincia, o
ensino que o Cu transmite Terra, reconstituio engrandecida e
vulgarizada das tradies secretas do passado, o renascimento dessa
escola proftica que foi a mais clebre escola de mdiuns do Oriente.
Com o Espiritismo, as faculdades, que foram outrora o privilgio de
alguns, se difundem por um grande nmero. A mediunidade se propaga;
mas de par com as vantagens que proporciona, necessrio estar
advertido a respeito de seus escolhos e perigos.
H, na realidade, dois tipos de espiritismo. Um nos pe em
comunicao com os Espritos superiores e tambm com as almas queridas
que na Terra conhecemos e que foram a alegria da nossa existncia.
por ele que se efetua a revelao permanente, a iniciao do homem nas
leis supremas. a fonte pujante da inspirao, a descida do Esprito ao
envoltrio humano, ao organismo do mdium que, sob a sagrada
influncia, pode fazer ouvir palavras de luz e de vida, sobre cuja
natureza impossvel o equvoco, porque penetram e reanimam a alma e
esclarecem os obscuros problemas do destino. A impresso de
grandiosidade que se desprende dessas manifestaes deixa sempre um
vestgio profundo nos coraes e nas inteligncias. Aqueles que nunca o
experimentaram, no podem compreender o que o verdadeiro
Espiritismo.
H, em seguida, um outro gnero de experimentao, frvolo, mundano,
que nos pe em contacto com os elementos inferiores do mundo
invisvel e tende a amesquinhar o respeito devido ao Alm. uma espcie
de profanao da religio da morte, da solene manifestao dos que
deixaram o invlucro da carne.
Fora, entretanto, reconhecer: ainda esse Espiritismo de baixa
esfera tem sua utilidade. Ele nos familiariza com um dos aspectos
do mundo oculto. Os fenmenos vulgares, as manifestaes triviais
fornecem s vezes magnficas provas de identidade; sinais
caractersticos se evidenciam e foram a convico dos investigadores.
No nos devemos, porm, deter na observao de tais fenmenos seno na
medida em que o seu estudo nos seja proveitoso e possamos exercer
eficiente ao sobre os Espritos atrasados que os produzem. Sua
influncia molesta e deprimente para os mdiuns. preciso elevar mais
alto as aspiraes, subir pelo pensamento a regies mais puras, aos
superiores domiclios do Esprito. Somente a encontra o homem as
verdadeiras consolaes, os socorros, as foras espirituais.
Nunca ser demasiado repeti-lo: nesse domnio jamais obteremos
efeitos que no sejam proporcionais s nossas condies. Toda pessoa
que, por seus desejos, por suas invocaes, entra em relao com o
mundo invisvel, atrai fatalmente seres em afinidade com seu prprio
estado moral e mental. O vasto imprio das almas est povoado de
entidades benfazejas e malficas; elas se desdobram por todos os
graus da infinita escala, desde as mais baixas e grosseiras,
vizinhas da animalidade, at os nobres e puros Espritos, mensageiros
de luz, que a todos os confins do tempo e do espao vo levar as
irradiaes do pensamento divino. Se no sabemos ou no queremos
orientar nossas aspiraes, nossas vibraes fludicas, na direo dos
seres superiores, e captar sua assistncia, ficamos merc das
influncias ms que nos rodeiam, as quais, em muitos casos, tm
conduzido o experimentador imprudente s mais cruis decepes.
Se, ao contrrio, pelo poder da vontade, libertando-nos das
sugestes inferiores, subtraindo-nos das preocupaes pueris,
materiais e egosticas, procuramos no Espiritismo um meio de elevao
e aperfeioamento moral, poderemos em tal caso entrar em comunho com
as grandes almas, portadoras de verdades; fluidos vivificantes e
regeneradores nos penetraro; alentos poderosos nos elevaro s regies
serenas donde o esprito contempla o espetculo da vida universal,
majestosa harmonia das leis e das esferas planetrias.
Prefcio da edio de 1911
Nos dez anos que transcorreram, do aparecimento desta obra at
presente edio, o Espiritismo prosseguiu a sua marcha ascensional e
se opulentou com experincias e testemunhos de elevado valor, entre
os quais particularmente os de Lodge, Myers, Lombroso lhe vieram
realar o prestgio e assegurar, com a autoridade cientfica que lhe
faltava, uma espcie de consagrao definitiva. Por outro lado os
abusos e as fraudes, que precedentemente assinalamos, se
multiplicam. Haver nisso porventura uma lei histrica, em virtude da
qual o que uma idia ganha em extenso dever perder em qualidade, em
fora, em intensidade?
No que respeita aos testemunhos coligidos e aos progressos
realizados, a situao do Espiritismo na Frana no idntica alcanada em
certos pases estrangeiros. Enquanto na Inglaterra e na Itlia
conquistou ele, nos crculos acadmicos, adeses de singular
notoriedade, a maioria dos sbios franceses adotou a seu respeito
uma atitude desdenhosa e, mesmo, de averso, no que revelaram eles
bem escassa clarividncia; porque, se a idia esprita apresenta, s
vezes, exageros, repousa, entretanto, em fatos incontestveis e
corresponde s imperiosas necessidades contemporneas.
H de todo esprito imparcial reconhecer que nem a cincia oficial
nem a Religio satisfazem s necessidades e s aspiraes da maior parte
da Humanidade. No de admirar, portanto, que tantos homens tenham
procurado em domnios pouco explorados, posto que abundantssimos em
subsdios psicolgicos, solues e esclarecimentos que as velhas
instituies no so capazes de lhes fornecer. Pode esse gnero de
estudos desagradar a uns tantos timoratos e provocar, de sua parte,
condenaes e crticas. Arrazoados vos que o vento leva. Apesar das
exigncias, das objurgaes e antemas, as inteligncias no cessaro de
encaminhar-se ao que mais justo, melhor e mais claro lhes parece.
As repulsas de uns e as desaprovaes de outros nada conseguiro.
Fazei mais e melhor a objeo que se opor. Padres e sbios, que vos
podeis consagrar aos lazeres do esprito, em lugar de escarnecer ou
fulminar no vcuo, mostrai-vos capazes de consolar, de amparar os
que vergam sob um trabalho material esmagador, de lhes explicar o
motivo de seus sofrimentos e lhes fornecer as provas de compensaes
futuras. Ser o nico meio de conservardes a vossa supremacia.
Pode-se, alm disso, perguntar qual ser mais apto a julgar os
fatos e discernir a verdade: se um crebro atravancado de prevenes e
de teorias preconcebidas ou se um esprito livre, emancipado de toda
rotina cientfica e religiosa.
Por ns responde a Histria!
indubitvel que os representantes da cincia oficial tm prestado
valiosos servios ao pensamento e muitos extravios lhe evitaram.
Quantos obstculos, porm, no opuseram eles, em numerosos casos,
ampliao do conhecimento, verdadeiro e integral!
O professor Charles Richet, que autoridade na matria, ps
vigorosamente em relevo, em Annales des Sciences Psychiques, de
janeiro de 1905, os erros e as debilidades da cincia oficial.
A rotina ainda hoje impera nos meios acadmicos; todo sbio que se
esquiva a seguir a trilha consagrada reputado hertico e excludo das
prebendas vantajosas. Demonstrao lamentvel desse fato o exemplo do
Dr. Paulo Gibier, obrigado a expatriar-se para obter uma
colocao.
A esse respeito no se tem a Democracia mostrado menos
absolutista nem menos tirnica que os regimes decados. Aspira ao
nivelamento das inteligncias e proscreve os que a procuram libertar
das materialidades vulgares. A interiorizao dos estudos depauperou
o pensamento universitrio, deprimiu os caracteres, paralisou as
iniciativas. Inutilmente se procuraria entre os sbios, na Frana, um
exemplo de intrepidez moral comparvel aos que deram, na Inglaterra,
William Crookes, Russel Wallace, Lodge, etc., Lombroso e outros, na
Itlia. A nica preocupao que parece terem os homens em evidncia
modelar suas opinies pelas dos senhores do momento, a fim de se
beneficiarem dos proventos de que so estes os dispensadores.
Em matria de psiquismo parece haver carncia do vulgar bom-senso
maioria dos cientistas. O professor Flournoy o confessa: Para a
Humanidade das remotas eras, como atualmente ainda para a grande
massa que a compe, a hiptese esprita a nica verdadeiramente
conforme ao mais elementar bom-senso, quanto a ns, cientistas,
saturados de mecanismo materialista desde os bancos escolares, essa
mesma hiptese nos revolta at s maiores profundezas do bom-senso,
igualmente mais elementar.
Em apoio de suas asseres, cita ele os dois seguintes exemplos,
relativos a um fato universalmente reconhecido verdadeiro:
O grande Helhholtzrelata o Senhor Barrettcerta vez disse que nem
o testemunho de todos os membros da Sociedade Real, nem a evidncia
de seus prprios sentidos o poderiam convencer sequer da transmisso
de pensamento, impossvel que era esse fenmeno.
Um ilustre biologistarefere tambm o Senhor W. Jamesteve ocasio
de me dizer que, mesmo que fossem verdadeiras as provas da
telepatia, os sbios se deveriam coligar para as suprimir ou
conservar ocultas, pois que tais fatos destruiriam a uniformidade
da Natureza e toda espcie de outras coisas de que eles, sbios, no
podem abrir mo, para continuar suas pesquisas.
Os fatos espritas, entretanto, se tm multiplicado, imposto com
tamanho imprio que os sbios se tm visto obrigados tentativa de os
explicar. No so, porm, as elucubraes psicofisiolgicas de Pierre
Janet, as teorias poligonais do Doutor Grassei, nem a criptomnsia
de Th. Flournoy que podem satisfazer aos pesquisadores
independentes. Quando se possui alguma experincia dos fenmenos
psquicos fica-se pasmado ante a penria de raciocnio dos crticos
cientficos do Espiritismo. Escolhem eles sempre, na multido dos
fatos, alguns casos que se aproximem de suas teorias e silenciam
cuidadosamente de todos os inmeros que as contradizem. Ser esse
procedimento realmente digno de verdadeiros sbios?
Os estudos imparciais e persistentes induzem a outras concluses.
Falando do Espiritismo, Oliver Lodge, reitor da Universidade de
Birmingham e membro da Real Academia, o afirmou: Fui pessoalmente
conduzido certeza da existncia futura mediante provas assentes em
bases puramente cientficas. (Annales des Sciences Psychiques, 1897,
pgina 158.)
J. Hyslop, professor da Universidade de Colmbia, escrevia: A
prudncia e reserva no so contrrias opinio de que a explicao esprita
, at agora, a mais racional.
Se, pois, no tm sido poupados sarcasmos aos espritas, nas
esferas cientficas, h, como se v, sbios que lhes tm sabido fazer
justia. O professor Barrett, da Universidade de Dublin, se exprimia
do seguinte modo, por ocasio de sua investidura na presidncia da
Society for Psychical Research em 29 de janeiro de 1904:
No poucos dos que me ouvem se recordam certamente da cruzada
outrora empreendida contra o Hipnotismo, que ento se denominava
mesmerismo. As primeiras pessoas que com tais estudos se ocuparam
foram alvo de incessantes opugnaes do mundo cientfico e mdico, de
um lado, e do mundo religioso, do outro. Foram denunciadas como
impostoras, repudiadas como prias, enxotadas, sem cerimnia, das
sinagogas da Cincia e da Religio. Passava-se isso numa poca
bastante prxima de ns para que eu tenha necessidade de o recordar.
A cincia mdica e filosfica no pode deixar de curvar as cabeas
envergonhadas, lembrando-se desse tempo e vendo o Hipnotismo e o
seu valor teraputico atualmente reconhecidos, tornados parte
integrante do ensino cientfico em muitas escolas de Medicina,
sobretudo no Continente!... No nosso dever cultuar hoje a memria
daqueles intrpidos pesquisadores, que foram os primeiros desse ramo
dos estudos psquicos!.
No devemos, do mesmo modo, esquecer esse pequeno grupo de
investigadores que, antes do nosso tempo e ao fim de pacientes e
demoradas pesquisas, tiveram a coragem de proclamar sua crena em
tais fenmenos, que denominaram espirticos... No foram, sem dvida,
os seus mtodos de investigao totalmente isentos de crtica, o que,
todavia, os no impediu de ser pesquisadores da verdade, to honestos
e dedicados como pretendem ser; e tanto mais dignos so eles da
nossa estima quanto sofreram os maiores sarcasmos e oposio. Os
espritos fortes sorriam ento, como agora, dos que mais bem
informados que eles se mostravam. Suponho que todos somos
inclinados a considerar o nosso prprio discernimento superior ao do
nosso prximo. No so, porm, afinal o bom-senso, as precaues, a
pacincia, o estudo contnuo dos fenmenos psquicos que maior valor
conferem opinio que viemos, por fim, a adotar e no a argcia ou o
cepticismo do observador?.
Devemos ter sempre em considerao que o que afirmado, mesmo pelo
mais obscuro dos homens, em resultado de sua experincia pessoal,
sempre digno de nos prender a ateno; e o que negado, mesmo pelos
mais reputados indivduos, desde que ignoram a coisa, jamais no-la
deve merecer.
Aquele perspicaz e valoroso esprito que era o professor De
Morgan, o grande denunciador do charlatanismo cientfico, teve a
coragem de publicar, h muito, que por mais que se tente
ridicularizar os espritas, nada deixam por isso eles de estar no
caminho que conduz ao adiantamento dos conhecimentos humanos,
seguindo, embora, o esprito e o mtodo primitivos, quando era
preciso rasgar nas florestas virgens a estrada por onde podemos
agora avanar com a maior facilidade.
Rendendo homenagem aos espritas, o professor Barrett reconhecia,
como juiz imparcial, que no era isento de crtica o seu zelo. Hoje,
como ento, essa opinio inteiramente justificada. A exaltao de uns
tantos adeptos, o seu entusiasmo em proclamar fatos duvidosos ou
imaginrios e a insuficincia de verificao nas experincias tm
prejudicado muitas vezes a causa que acreditavam servir. isso
talvez o que, at certo ponto, justifica a atitude retrada, por
vezes hostil, de alguns sbios a respeito do Espiritismo.
O professor Ch. Richet escrevia nos Annales des Sciences
Psychiques, de janeiro de 1905, pg. 211: Se os espritas foram muito
arrojados, usaram, entretanto, de bem pouco vigor e uma deplorvel
histria a de suas aberraes. Basta por agora ficar estabelecido que
eles tinham o direito de ser muito arrojados e que no lhes podemos,
em nome da nossa cincia falvel, incompleta, ainda embrionria,
censurar esse arrojo. Dever-se-lhes-ia, ao contrrio, agradecer o
terem sido to audaciosos.
As restries do Sr. Richet no so menos fundadas que os seus
elogios. Muitos experimentadores no conduzem os seus estudos com a
ponderao e a prudncia necessrias. Empenham-se, de preferncia, em
obter as manifestaes tumulturias, as materializaes numerosas e
repetidas, os fenmenos de grande notoriedade, sem considerar que a
mediunidade s excepcionalmente e de longe em longe pode servir
produo de fatos desse gnero. Quando tm mo um mdium profissional
dessa categoria, o atormentam e esgotam. Levam-no fatalmente a
resvalar para a simulao. Da as fraudes, as mistificaes, assinaladas
por tantas folhas pblicas.
Muitssimo preferveis so, a meu ver, os fatos medinicos de ndole
mais ntima e modesta, as sesses em que predominam a ordem, a
harmonia e a comunho dos pensamentos, por cujo veculo fluem as
coisas celestes, como orvalho, sobre a alma sequiosa e a
esclarecem, confortam e melhoram. As sesses de efeitos fsicos,
mesmo quando sinceras, sempre me deixaram uma impresso de vcuo, de
desgosto e mal-estar, em razo das influncias que nelas intervm.
A mdiuns profissionais deveram sem dvida sbios como Crookes,
Hyslop, Lombroso, etc., os excelentes resultados que obtinham; em
suas experincias, porm, adotavam precaues de que no costumam os
espritas munir-se. Em sesses de materializao realizadas em Paris
por um mdium americano, em 1906 e 1907, e que alcanaram desagradvel
notoriedade, haviam os espritas estabelecido um regulamento que os
assistentes se comprometiam a observar e de cujas estipulaes
resultava a inesperada conseqncia de isentar o mdium de toda eficaz
verificao. A obscuridade era quase completa no momento das aparies.
Os assistentes tinham que conversar em voz alta, cantar, conservar
as mos presas formando a cadeia magntica e, alm de tudo, abster-se
de tocar nas formas materializadas. Desse modo, a vista, o ouvido,
o tato ficavam pouco menos que aniquilados. Tais condies, certo, se
inspiravam numa louvvel inteno, porque, em tese geral, como teremos
ocasio de ver no curso desta obra, favorecem a produo dos fatos;
mas no caso em questo contribuam tambm para mascarar as fraudes. As
faculdades do mdium, entretanto, eram reais e nas primeiras sesses
se produziram autnticos fenmenos, que adiante relatamos. Houve, em
seguida, uma mistura de fatos reais e simulados e o embuste veio,
por fim, a tornar-se constante e evidente. Depois de haver, numa
revista esprita, assinalado os fenmenos que apresentavam garantias
de sinceridade, mais tarde me senti realmente obrigado a denunciar
fraudes averiguadas e comprometedoras.
Ao fim de longa pesquisa e de acuradas reflexes, nada tenho que
retirar de minhas apreciaes anteriores. Fiz justia a esse mdium,
indicando o que havia de real em suas sesses, mas no hesitei em lhe
denunciar as simulaes no dia em que numerosos e autorizados
testemunhos as evidenciaram, entre os quais se encontra o de um
juiz da Corte de Apelao, que ao mesmo tempo eminente psiquista.
Guardar silncio acerca dessas fraudes, encobri-las com uma
espcie de tcita aprovao, seria abrirmos a porta a um cortejo de
abusos que, em certos meios, tm desacreditado o Espiritismo e
estorvado o seu desenvolvimento. Atrs do hbil simulador, logo entre
ns surgiram umas intruses condenadas pelos tribunais de vizinhos
pases. Mais recentemente, o mdium Abendt foi, em idnticas
circunstncias, desmascarado em Berlim, como em seguida o foram
Carrancini em Londres e Bailey em Grenoble. Sem o brado de alarme
que soltamos, correramos o risco de resvalar por um fatal declive e
cair num precipcio.
Os espritas so homens de convico e f. Mas, se a f esclarecida
atrai, nos planos espirituais e materiais, nobres e elevadas almas,
a credulidade, no plano terrestre, atrai os charlates, os
exploradores de toda espcie, a chusma dos cavalheiros de indstria
que s nos procuram ludibriar. A est o perigo para o Espiritismo.
Cumpre-nos, a todos os que em nosso corao zelamos a verdade e
nobreza dessa coisa, conjur-lo. De sobra se tem repetido: o
Espiritismo ou ser cientfico, ou no subsistir. Ao que
acrescentaremos: o Espiritismo deve, antes de tudo, ser
honesto!
*
Mais algumas palavras cabem aqui sobre a doutrina do
Espiritismo, sntese das revelaes medinicas, entre si concordantes,
obtidas em todo o mundo, sob a inspirao dos grandes Espritos que a
ditaram. Cada vez mais se afirma e se vulgariza essa doutrina. At
mesmo entre os nossos contraditores no h quem se no sinta na
obrigao moral de lhe fazer justia, reconhecendo todos os benefcios
e inefveis consolaes que tem prodigalizado s almas sofredoras.
O professor Th. Flournoy, da Universidade de Genebra, assim se
exprime a seu respeito no livro Espritos e Mdiuns: Isenta de todas
as complicaes e sutilezas da teoria do conhecimento e dos problemas
de alta Metafsica, essa filosofia simplista se adapta por isso
mesmo admiravelmente s necessidades do povo.
A seu turno, J. Maxwell, advogado geral perante a Corte de
Apelao de Paris, se pronunciava do seguinte modo em sua obra Os
Fenmenos Psquicos: A extenso que a doutrina esprita adquire um dos
mais curiosos fenmenos da poca atual. Tenho a impresso de estar
assistindo ao nascimento de um movimento religioso a que esto
reservados considerveis destinos.
Alm disso, Th. Flournoy, em seguida a uma investigao, cujos
resultados menciona em sua obra pr-citada, expende os seguintes
comentrios:
H um coro geral de elogios acerca da beleza e excelncia da
filosofia esprita, um testemunho quase unnime prestado salutar
influncia que exerce na vida intelectual, moral e religiosa de seus
adeptos. Mesmo as pessoas que tm chegado a desconfiar completamente
dos fenmenos e, por assim dizer, os detestam, pelas dvidas e
decepes a que do lugar, reconhecem os benefcios que devem s
doutrinas.
E mais adiante:
Encontram-se espritas que nunca assistiram a uma experincia e
nem sequer o desejam, mas afirmam ter sido empolgados pela
simplicidade, beleza e evidncia moral e religiosa dos ensinos
espritas (existncias sucessivas, progresso indefinido da alma,
etc.). No se deve, pois, obscurecer o valor dessas crenas, valor
incontestvel, pois que inmeras almas declaram nelas ter encontrado
um elemento de vida e uma soluo alternativa entre a ortodoxia, de
um lado, alguns de cujos dogmas repulsivos (como o das penas
eternas), j no podiam admitir, e do outro lado s desoladoras negaes
do materialismo ateu.
E, todavia, em que pese s observaes do Senhor Flournoy, mesmo no
campo esprita no tm escasseado as objees. Entre os que so atrados
pelo aspecto cientfico do Espiritismo, alguns h que menosprezam a
filosofia. que para apreciar toda a grandeza da doutrina dos
Espritos preciso ter sofrido. As pessoas felizes sempre so mais ou
menos egostas e no podem compreender que fonte de consolao contm
essa doutrina. Podem interessar-lhes os fenmenos, mas para lhes
atear a chama interior so necessrios os frios sopros da
adversidade. S aos espritos amadurecidos pela dor e a provao as
verdades profundas se patenteiam em toda plenitude.
Em assuntos dessa ordem tudo depende das anteriores
predisposies. Uns, seduzidos pelos fatos, se inclinam de preferncia
experimentao. Outros, esclarecidos pela experincia dos sculos
transcorridos ou pelas lies da atual existncia, colocam o ensino
acima de tudo. A sapincia consiste em reunir as duas modalidades do
Espiritismo num conjunto harmnico.
A experimentao, como o veremos no curso desta obra, exige
qualidades no vulgares. Muitos, baldos de perseverana, depois de
algumas tentativas infrutferas, se afastam e regressam indiferena,
por no terem obtido com a desejada presteza as provas que
buscavam.
Os que sabem perseverar, cedo ou tarde, encontram os slidos e
demonstrativos elementos em que se firmar uma convico inabalvel.
Foi o meu caso. Desde logo me seduziu a doutrina dos Espritos; as
provas experimentais, porm, foram morosas. S ao fim de dez ou
quinze anos de pesquisa foi que se apresentaram irrecusveis,
abundantes. Agora encontro explicao para essa longa expectativa,
para essas numerosas experincias coroadas de resultados incoerentes
e, muitas vezes, contraditrios. Eu no estava ainda amadurecido para
completa divulgao das verdades transcendentes. medida, porm, que me
adiantava na rota delineada, a comunho com os meus invisveis
protetores se tornava mais ntima e profunda. Sentia-me guiado
atravs dos embaraos e dificuldades da tarefa que me havia imposto.
Nos momentos de provao, doces consolaes baixavam sobre mim.
Atualmente chego a sentir a freqente presena dos Espritos, a
distinguir, por um sentido ntimo e segurssimo, a natureza e a
personalidade dos que me assistem e inspiram. No posso,
evidentemente, facultar a outrem as sensaes intensas que percebo e
que explicam a minha certeza do Alm, a absoluta convico que tenho
da existncia do mundo invisvel. Por isso que todas as tentativas
por me desviar da minha senda tm sido e sero sempre inteis. A minha
confiana, a minha f, alimentada por manifestaes cotidianas; a vida
se me desdobrou numa existncia dupla, dividida entre os homens e os
Espritos. Considero por isso um dever sagrado esforar-me por
difundir e tornar acessvel a todos os conhecimentos das leis que
vinculam a Humanidade da Terra do Espao e traam a todas as almas o
caminho da evoluo indefinida.
Setembro de 1911.
Primeira Parte O Espiritismo experimental: As leis
I A Cincia Esprita
medida que vai o homem lentamente avanando na senda do
conhecimento, o horizonte se dilata e novas perspectivas se vo ante
ele desdobrando. Sua cincia restrita; a Natureza, porm, no tem
limites.
A Cincia no mais que o conjunto das concepes de um sculo, que a
Cincia do sculo seguinte ultrapassa e submerge. Tudo nela provisrio
e incompleto. Versa o seu estudo sobre as leis do movimento, as
manifestaes da fora e da vida; nada sabe ainda ela, entretanto,
acerca das causas atuantes, da fora e do movimento em seu princpio.
O problema da vida lhe escapa e a essncia das coisas permanece um
mistrio impenetrvel para ela.
Mau grado s sistemticas negaes e obstinao de certos sbios, todos
os dias so as suas opinies desmentidas nalgum ponto. o que sucede
aos representantes das escolas materialistas e positivistas. O
estudo e a observao dos fenmenos psquicos vm desmoronar suas
teorias sobre a natureza e o destino dos seres.
No a alma humana, como o afirmavam eles, uma resultante do
organismo, com o qual se extinga; uma causa que preexiste e
sobrevive ao corpo.
A experincia dia a dia nos demonstra que a alma dotada de uma
forma fludica, de um organismo ntimo impondervel, que possui
sentidos prprios, distintos dos sentidos corporais, e entra em ao,
insuladamente, quando ela exerce seus poderes superiores. Graas a
ele, pode a alma no curso da vida, e durante o sono, desprender-se
do invlucro fsico, penetrar a matria, transpor o espao, perceber as
realidades do mundo invisvel. Dessa forma fludica brotam irradiaes,
eflvios, que se podem exteriorizar em camadas concntricas ao corpo
humano e mesmo, em certos casos, condensar-se em graus diversos e
materializar-se a ponto de impressionar placas fotogrficas e
aparelhos registradores.
A ao, distncia, de uma alma sobre outra se acha estabelecida
pelos fenmenos telepticos e magnticos, pela transmisso do
pensamento e exteriorizao dos sentidos e das faculdades. As vibraes
do pensamento podem-se propagar no espao como a luz e o som e
impressionar um outro organismo fludico em afinidade com o do
manifestante. As ondas psquicas se propagam ao longe e vo despertar
no invlucro do sensitivo impresses de vria natureza, conforme o seu
estado dinmico: vises, vozes ou movimentos.
s vezes a prpria alma, durante o sono, abandona seu envoltrio
material e, sob sua forma fludica, torna-se visvel distncia. Certas
aparies tm sido ao mesmo tempo vistas por diversas pessoas; outras,
exercido ao sobre a matria, aberto portas, mudado objetos de lugar,
deixado vestgios de sua passagem. Algumas tm impressionado
animais.
As aparies de moribundos tm sido comprovadas milhares de vezes.
As resenhas da Sociedade de Investigaes Psquicas, de Londres, os
Annales des Sciences Psychiques, de Paris, inserem grande nmero
delas. O Senhor Camille Flammarion, em seu excelente livro O
Desconhecido e os Problemas Psquicos, refere uma centena desses
casos, em que h coincidncia de morte, nos quais no se podem admitir
meras alucinaes, mas fatos gerais, com relao de causa e efeito.
Esses fenmenos tm sido observados tantas vezes, apia-se em to
numerosos e respeitveis testemunhos, que sbios de excessiva
prudncia, como o Senhor Richet, da Academia de Medicina de Paris,
chegaram a dizer: Existe uma tal quantidade de fatos, impossveis de
explicar de outro modo a no ser pela telepatia, que foroso
admitir-se uma ao distncia... O fato aparece provado, absolutamente
provado.
Nesses fenmenos j se encontra uma demonstrao positiva da
independncia da alma. Se, com efeito, a inteligncia fosse uma
propriedade da matria e devesse extinguir-se por ocasio da morte,
no se poderia explicar como, no momento em que o corpo est mais
abatido e o organismo cessa de funcionar, que essa inteligncia no
raro se manifesta com intensidade mais viva, com extraordinria
recrudescncia de atividade.
Os casos de lucidez, de clarividncia, de previso do futuro so
freqentes nos moribundos. Nesses casos, o fato de desprender-se do
corpo faculta ao esprito um novo campo de percepo. A alma
patenteia, no momento da morte, faculdades, qualidades superiores s
que possua no estado normal. Fora reconhecer nisso uma prova de que
a nossa personalidade psquica no resultante do organismo, a ele
intimamente vinculado, mas que possui vida prpria, diferente da do
corpo, sendo antes este para ela uma priso temporria e um
estorvo.
Mais evidente ainda se torna esta demonstrao, quando depois da
morte pode o Esprito desencarnado encontrar no invlucro fsico dos
mdiuns os elementos necessrios para se materializar e impressionar
os sentidos.
Pode-se ento verificar, empregando balanas munidas de aparelhos
registradores, que o corpo do mdium perde uma parte do seu peso,
encontrando-se essa diferena na apario materializada.
*
A cada ano que passa, os fatos se multiplicam, os testemunhos se
acumulam, a existncia do mundo dos Espritos se afirma com
autoridade e prestgio crescentes. De meio sculo para c o estudo da
alma passou do domnio da Metafsica e da concepo puramente abstrata
ao da experincia e da observao.
A vida se revela sob duplo aspecto: fsico e suprafsico. O homem
participa de dois modos de existncia. Por seu corpo fsico pertence
ao mundo visvel; por seu corpo fludico ao mundo invisvel. Esses
dois corpos coexistem nele durante a vida. A morte a sua
separao.
Por sobre a nossa Humanidade material palpita uma Humanidade
invisvel, composta dos seres que viveram na Terra e se despojaram
de suas vestes de carne. Acima dos vivos, encarnados em corpo
mortal, os supervivos prosseguem, no Espao, a existncia livre do
Esprito.
Essas duas Humanidades mutuamente se renovam mediante a morte e
o nascimento. Elas se penetram, se influenciam reciprocamente e
podem entrar em relao por intermdio de certos indivduos, dotados de
faculdades especiais, denominados mdiuns.
De toda alma, encarnada ou desencarnada, emana e irradia uma
fora produtora de fenmenos, que se denomina fora psquica.
A existncia dessa fora acha-se estabelecida por inmeras
experincias. Podem-se observar os seus efeitos nas suspenses de
mesas, deslocamentos de objetos sem contacto, nos casos de levitao,
etc.
A ao dos invisveis se manifesta nos fenmenos de escrita direta,
nos casos de incorporao, nas materializaes e aparies momentneas e
nas fotografias e moldagens.
Aparies materializadas tm sido fotografadas em presena de
numerosas testemunhas, como, por exemplo, o Esprito Katie King, em
casa de W. Crookes, os Espritos Iolanda e Llia, na da Senhora
d'Esprance, e o Abdullah, fixado na placa sensvel por Aksakof.
Impresses e moldes de mos, ps, faces, deixados em substncias
moles ou friveis por formas materializadas, foram obtidos por
Zoellner, astrnomo alemo, pelos Drs. Wolf, Friese, etc. Os moldes,
constitudos de uma s pea, reproduziam as flexes dos membros, as
particularidades da estrutura e as alteraes acidentais da pele.
Semelhante ao ainda se manifesta nos fenmenos de incorporao,
como os que foram assinalados pelo Doutor Hodgson, em seu estudo
sobre a faculdade da Senhora Piper. O autor, adversrio confesso da
mediunidade em todas as suas aplicaes, havia comeado a pesquisa com
o fim de desmascarar o que considerava impostura. Declara ele ter
prosseguido as observaes durante doze anos, em grande nmero de
sesses, no curso das quais cento e vinte personalidades invisveis
se manifestaram, entre outras a de George Pellew, seu amigo de
infncia, como ele membro da Psychical Research Society, falecido
havia muitos anos. Essas personalidades lhe revelaram fatos
ignorados de toda pessoa viva na Terra. Por isso diz ele: A
demonstrao da sobrevivncia me foi feita de modo a excluir mesmo a
possibilidade de uma dvida.
Os professores Ch. W. Elliot, presidente da Universidade de
Harvard; W. James, professor de psicologia na mesma Universidade;
Newbold, professor de psicologia da Universidade de Pensilvnia, e
outros sbios tomaram parte nessas experincias e referendaram tais
declaraes.
Em uma obra mais recente, o professor Hyslop, da Universidade de
Colmbia, Nova Iorque, se externa no mesmo sentido a respeito da
Senhora Piper, que ele observou em grande nmero de sesses,
realizadas com as maiores reservas. O professor era apresentado sob
o nome de Smith e punha uma mscara preta, que ao seu mais ntimo
amigo no permitiria reconhec-lo, e sempre se absteve de pronunciar
uma nica palavra, de sorte que nem a Senhora Piper, nem pessoa
alguma, poderia descobrir o menor indcio de sua identidade.
Foi nessas condies que o professor pde entreter com seus
falecidos pais, pelo rgo da Senhora Piper em transe sonamblico,
variadas palestras, abundantes de pormenores exatos, de
particularidades, por ele mesmo esquecidas, de sua vida ntima.
Donde conclui ele:
Quando se considera o fenmeno da Senhora Piper, preciso eliminar
tanto a transmisso de pensamento, como a ao teleptica. Examinando
com imparcialidade o problema, no se lhe pode dar outra soluo a no
ser a interveno dos mortos.
No correr do ano de 1900, surgiram no seio de assemblias
cientficas os mais imponentes testemunhos em favor do Espiritismo.
Uma parte considervel lhe foi concedida nos programas e trabalhos
do Congresso de Psicologia de Paris, pelos representantes da cincia
oficial. No dia 22 de agosto, reunidas todas as sees, foi
consagrada uma sesso plenria ao exame dos fenmenos psquicos. Um dos
presidentes honorrios do Congresso, Myers, professor da
Universidade de Cambridge, justamente clebre, no somente como
experimentador, mas ainda como moralista e filsofo, procedeu
leitura de um trabalho sobre o transe, ou mediunidade de
incorporaes.
Depois de haver enumerado uma srie de experincias atestadas por
mais de vinte testemunhas competentes, as quais asseguraram que os
fatos revelados pela Sra. Thompson sonambulizada lhes eram
absolutamente desconhecidos e evidenciavam o carter e traziam a
lembrana de certas pessoas mortas, das quais os ditados obtidos
afirmavam provir, assim conclui ele:
Afirmo que essa substituio de personalidade, ou incorporao de
esprito, ou possesso, assinala verdadeiramente um progresso na
evoluo da nossa raa. Afirmo que existe um esprito no homem, e que
salutar e desejvel que esse esprito, como se infere de tais fatos,
seja capaz de se desprender parcial e temporariamente de seu
organismo, o que lhe facultaria uma liberdade e viso mais extensas,
ao mesmo tempo em que permitiria ao esprito de um desencarnado
fazer uso desse organismo, deixado momentaneamente vago, para
entrar em comunicao com os outros espritos ainda encarnados na
Terra. Julgo poder assegurar que muitos conhecimentos j se tm
adquirido nesse domnio e que muitos outros restam ainda a adquirir
para o futuro.
Na quinta seo desse Congresso foram consagradas trs sesses aos
mesmos estudos. Os Drs. Paul Gibier, diretor do Instituto
Anti-Rbico de Nova Iorque; Darteux, diretor dos Annales des
Sciences Psychiques; Encausse, Joire, Pascal, etc., remeteram ou
apresentaram pessoalmente trabalhos muito documentados, que
estabelecem a realidade dos fenmenos psquicos e a comunicao possvel
com os mortos.
Um instituto internacional para o estudo dos fenmenos psquicos,
entre outros os da mediunidade, foi organizado ao terminar o
Congresso de Psicologia. Entre os membros da comisso diretora
encontramos, no que toca Frana, os nomes dos Srs. Richet, professor
da Faculdade de Medicina e diretor da Revue Scientifique; o Coronel
De Rochas, C. Flammarion, o Dr. Duclaux, diretor do Instituto
Pasteur; Sully-Prudhomme, Fouille, Bergson, Sailles, etc.; no
estrangeiro, tudo o que de mais ilustre possui a Europa entre os
representantes da cincia psquica: W. Crookes, Lodge, Aksakof,
Lombroso, Dr. Ochorowicz, etc.
Outras importantes testificaes em favor do Espiritismo foram
prestadas nesse ano de 1900. O Dr. Bayol, antigo governador do
Dahomey, transmitiu ao Congresso Esprita e Espiritualista, reunido
em Paris no ms de setembro, a narrativa de uma srie completa de
experincias de materializaes, desde a apario de uma forma luminosa
at o molde, em parafina, de um rosto de Esprito, que diz ele ser o
de Acella, jovem romana falecida em Arles, no tempo dos Antoninos.
Os Doutores Bonnet, Chazarain, Dusart, da Faculdade de Paris,
exibiram testemunhos da mesma natureza e provas de identidade de
Espritos.
O professor Charles Richet, da Academia de Medicina de Paris,
num longo artigo sob o ttulo Deve-se estudar o Espiritismo,
publicado nos Annales des Sciences Psychiques de janeiro de 1905,
reconhece que nenhuma contradio existe entre a cincia clssica e o
mais extraordinrio fenmeno de Espiritismo. A prpria materializaodiz
ele um fenmeno estranho, desconhecido, inusitado, mas um fenmeno
que nada contradiz. E ns sabemos, pelo testemunho da Histria, que a
Cincia atual se compe de fatos que outrora pareceram estranhos,
desconhecidos, inusitados... To invulnervel a Cincia quando
estabelece fatos, quo deploravelmente sujeita a errar quando
pretende estabelecer negaes.
E o Sr. Charles Richet assim termina:
1-No h contradio alguma entre os fatos e teorias do Espiritismo
e os fatos positivos estabelecidos pela Cincia.
2-O nmero dos escritos, memrias, livros, narraes, notas,
experincias, to considervel e firmado por autoridades tais, que no
licito rejeitar esses inmeros documentos sem um estudo
aprofundado.
3-A nossa cincia contempornea se acha to pouco adiantada ainda
relativamente ao que sero um dia os conhecimentos humanos, que tudo
possvel, mesmo o que mais extraordinrio se nos afigura... Em lugar,
portanto, de parecer ignorarem o Espiritismo, os sbios o devem
estudar. Fsicos, qumicos, fisiologistas, filsofos, cumpre que se
dem ao trabalho de tomar conhecimento dos fatos espritas. Um longo
e rduo estudo necessrio. Ser indubitavelmente frutuoso.
Pouco depois do artigo do Sr. Charles Richet, uma obra
importante aparecia, que teve grande repercusso em todo o mundo:
Human Personality, de F. Myers, professor de Cambridge. um estudo
profundo e metdico dos fenmenos espritas, firmado numa opulenta
documentao e rematado por uma sntese filosfica em que so
magistralmente expostas as vastas conseqncias da cincia
psquica.
As concluses de Frederic Myers so formais: A observao e a
experimentaodiz eleinduziram muitos investigadores, a cujo nmero
perteno (of whom I am one), a crer na comunicao, assim direta como
teleptica, no s entre os Espritos dos vivos, mas entre os Espritos
dos que permanecem neste mundo e os que o abandonaram.
O professor Flournoy, da Universidade de Genebra, em seu livro
Espritos e Mdiuns, pgina 266, aprecia nestes termos a obra de F.
Myers:
Ningum pode prever atualmente que sorte reservar o futuro
doutrina esprita de Myers. Se as vindouras descobertas confirmarem
a sua tese da interveno, empiricamente verificvel, dos
desencarnados, na trama fsica ou psicolgica do nosso mundo
fenomenal, seu nome ento ser inscrito no livro ureo dos grandes
iniciadores e, ao lado dos de Coprnico e Darwin, completar a trade
dos gnios que mais profundamente revolucionaram o pensamento
cientfico na ordem cosmolgica, biolgica e psicolgica.
De 1905 a 1908 o Instituto Geral Psicolgico de Paris tomou a
iniciativa de um grande nmero de sesses experimentais, com o
concurso da mdium Euspia Paladino e sob a inspeo dos Srs. Curie,
Richet, D'Arsonval, Dubierne, etc. O relatrio do secretrio do
Instituto, Sr. Courtier, posto que cheio de reticncias e reservas,
consigna, entretanto, que fenmenos de levitao e deslocao de
objetos, sem contacto, se produziram no curso das sesses. Foram
tomadas todas as precaues contra as possibilidades de erro ou
fraude. Instrumentos especiais foram fabricados e utilizados no
registro mecnico dos fenmenos. Uma incessante fiscalizao foi
exercida e o emprego de aparelhos fotogrficos permitiu afastar
qualquer hiptese de alucinao coletiva.
Tendo o Sr. Dubierne dito, numa das sesses, que John, o
Esprito-guia de Euspia, podia quebrar a mesa, ouviu-se
imediatamente partir-se um dos ps desta.
Euspia aumentava e diminua vontade o prprio peso e o da mesa.
distncia de 45 centmetros produziu a ruptura de um tubo de borracha
e fez quebrar-se um lpis. Quebrou em trs pedaos uma pequena mesa de
madeira, colocada atrs de sua cadeira, anunciando previamente o
nmero dos fragmentos, coisa incompreensvel, uma vez que ela estava
na obscuridade e de costas voltadas para a mesa.
Apesar desses fatos, o Dr. Le Bon lana aos espritas e aos
mdiuns, no Matin de 20 de maio de 1908, o seguinte repto: Embora
declare o professor Morslli que o levantamento de uma mesa, sem
contacto, o ABC dos fenmenos espritas, duvido muito que se possa
produzir... Ofereo 500 francos a quem me mostrar o fenmeno em plena
luz.
Alguns dias depois, um jornalista muito conhecido, o Sr.
Montorgueil, respondia no L'Eclair: Somos centenas os que temos
visto fenmenos de levitao de mesas, sem contacto. Vm-nos agora
dizer que h sugesto, prestidigitao, artifcio. A exemplo do Sr. Le
Bon, ofereo 500 francos ao prestidigitador que se apresentar no
L'clair e nos enganar com os mesmos artifcios, reproduzindo os
mesmos fenmenos.
O astrnomo C. Flammarion, por sua parte, respondia no Matin ao
Sr. Le Bon: Em minha obra Foras Naturais Desconhecidas, se
encontram fotografias diretas e sem retoques, a cujo propsito estou
tambm perfeitamente disposto a dar um prmio de 500 francos a quem
for capaz de nelas descobrir qualquer artifcio.
E adiante diz: Vem-se rotaes operarem-se sem contacto, tendo
sido a farinha espalhada como por um sopro de fole e sem que dedo
algum a houvesse tocado... Durante essas experincias vamos um
piano, do peso de 300 quilogramas, desferir sons e levantar-se,
quando ao seu p havia apenas um menino de onze anos, mdium sem o
saber.
Finalmente, o Dr. Ochorowicz, professor da Universidade de
Varsvia, publicava nos Annales des Sciences Psychiques de 1910 (ver
a coleo completa desse ano) a narrativa de suas experincias com a
mdium Srta. Tomszick, acompanhada de reprodues fotogrficas de
numerosos casos de levitao de objetos sem contacto. Esses fatos
representam um conjunto de provas objetivas capazes de, por sua
natureza, convencer os mais cpticos.
O professor Csar Lombroso, da Universidade de Turim, clebre no
mundo inteiro por seus trabalhos de antropologia criminalista,
publicava em 1910, pouco antes de sua morte, um livro, intitulado
Hipnotismo e Espiritismo, em que relatava todas as suas
experincias, prosseguidas durante anos, e conclua num sentido
absolutamente afirmativo, sob o ponto de vista esprita. Essa obra
um belo exemplo de probidade cientfica, a opor ao preconceito e s
opinies rotineiras da maior parte dos sbios franceses. Julgamos
dever aqui reproduzir as consideraes que induziram Lombroso a
escrever: Quando me dispus a escrever um livrodiz elesobre os
fenmenos denominados espritas, ao termo de uma existncia consagrada
ao desenvolvimento da Psiquiatria e da Antropologia, os meus
melhores amigos me acabrunharam de objees, dizendo que eu ia
arruinar a minha reputao. Apesar de tudo, no hesitei em prosseguir,
considerando meu dever rematar a luta em que me empenhara pelo
progresso das idias, lutando pela mais contestada e escarnecida
idia do sculo.
*
Assim, dia a dia as experincias se repetem, os testemunhos se
tornam cada vez mais numerosos.
Todos esses fatos constituem j, em seu conjunto, uma nova
cincia, baseada no mtodo positivo. Para edificar sua doutrina, o
moderno Espiritualismo no teve necessidade de recorrer especulao
metafsica; foi-lhe suficiente apoiar-se na observao e na
experincia. No podendo os fenmenos que ele estuda explicar-se por
leis conhecidas, longa e ponderadamente os examinou e analisou e,
em seguida, por encadeamento racional, dos efeitos remontou s
causas. A interveno dos Espritos, a existncia do corpo fludico, a
exteriorizao dos vivos no foram afirmadas seno depois que os fatos
vieram, aos milhares, demonstrar a sua realidade.
A nova cincia espiritualista no , pois, obra de imaginao; o
resultado de longas e pacientes pesquisas, o fruto de inmeras
investigaes. Os homens que as empreenderam so conhecidos em todas
as esferas cientficas: so portadores de nomes clebres e
acatados.
Durante anos tm sido efetuadas rigorosas perquiries por comisses
de sbios profissionais. As mais conhecidas so o inqurito da
Sociedade Dialtica de Londres, o da Sociedade de Investigaes
Psquicas, que se mantm h vinte anos e tem produzido considerveis
resultados, e, mais recentemente, o do Sr. Flammarion. Todos
registram milhares de observaes, submetidas ao mais severo exame, s
mais escrupulosas verificaes.
Seja qual for a parte que se possa atribuir s exageraes, fraude
ou embuste, do conjunto desses estudos se destaca um nmero to
imponente de fatos e de provas que j no lcito, depois disso, a quem
preze a verdade, permanecer silencioso ou indiferente. Passou o
tempo das ironias levianas. O desdm no uma soluo. preciso que a
Cincia se pronuncie, porque o fenmeno a est, revestindo tantos
aspectos, multiplicando-se de tal modo, que se impe a sua ateno. A
alma, livre e imortal, no mais se afirma como entidade vaga e
ideal, mas como um ser real, associado a uma forma e produtor de
uma fora sutil cuja manifestao constante solicita a ateno dos
investigadores.
Desde as pancadas e os simples fatos de tiptologia at as aparies
materializadas, o fenmeno esprita se desdobrou, sob formas cada vez
mais imponentes, levando a convico aos mais cpticos e mais
desconfiados.
o fim do sobrenatural e do milagre; mas desse conjunto de fatos,
to antigos como a prpria Humanidade, at aqui mal observados e
compreendidos, resulta agora uma concepo mais alta da vida e do
Universo e o conhecimento de uma lei suprema que vai guiando os
seres, em sua ascenso atravs dos esplendores do infinito, para o
bem, para o perfeito!
II A marcha ascensional: os mtodos de estudo
A reunio do Congresso Esprita e Espiritualista Internacional de
Paris, em 1900, permitiu comprovar-se a vitalidade sempre crescente
do Espiritismo. Delegados vindos de todos os pontos do mundo,
representantes dos mais diversos povos nele expuseram os progressos
das idias em seus respectivos pases, sua marcha ascensional mau
grado aos obstculos, s ruidosas converses que opera, tanto entre os
membros da Igreja como entre os sbios materialistas. Identicamente
sucedeu no Congresso de Bruxelas, em 1910. Foi instituda uma Agncia
(Burcau) Internacional, com o fim de estabelecer permanentes relaes
entre as agremiaes dos diferentes pases e colher informaes acerca
do movimento esprita no mundo inteiro.
Apesar das negaes e zombarias, a crena esprita se fortifica e
engrandece. medida, porm, que se propaga, torna-se mais acesa a
luta entre negadores e convencidos. O mundo velho se sobressalta;
sente-se ameaado. A luta pela vida no mais violenta que o conflito
das idias. A idia antiquada, incompleta, agarra-se desesperadamente
s posies adquiridas e resiste aos esforos da idia nova, que quer
ocupar o seu lugar ao Sol. As resistncias se explicam pelos
interesses de toda uma ordem de coisas que se sente combatida. Tm
sua utilidade, porque tornam mais atilados os inovadores, mais
ponderados os progressos do esprito humano.
Ora, o esprito humano tem como parte integrante do seu destino
destruir e reconstruir sempre. Trabalha incessantemente na edificao
de esplndidos monumentos, que lhe serviro de abrigo, mas que,
tornados insuficientes dentro em pouco, devero ser substitudos por
obras, concepes mais vastas, apropriadas ao seu constante
desenvolvimento.
Todos os dias desaparecem individualidades, sistemas submergem
na luta. Mas em meio das flutuaes terrestres o roteiro da verdade
se desdobra, traado pela mo de Deus, e a Humanidade segue o rumo de
seus inelutveis destinos.
O Espiritismo, utopia de ontem, ser a verdade de amanh. Com ela
familiarizados, os nossos psteros esquecero as lutas, os
sofrimentos dos que lhe tero assegurado a posio ao mundo; a seu
turno, porm, tero que sofrer e combater pela vitria de um ideal
mais elevado. a lei eterna do progresso, a lei da ascenso que
conduz a alma humana, de estncia em estncia, de conquista em
conquista, a uma soma sempre maior de luz, de experincia e de
cincia. a razo mesma da vida, a idia mter que dirige a evoluo das
almas e dos mundos.
*
proporo que o Espiritismo se divulga, mais imperiosa se faz
sentir a necessidade de estabelecer regras positivas, condies srias
de estudo e experimentao. preciso evitar aos adeptos amargas
decepes e a todos tornar acessveis os meios prticos de entrar em
relao com o mundo invisvel.
H dois meios para se adquirir a cincia de alm-tmulo: de um lado
o estudo experimental, de outro a intuio e o raciocnio, de que s as
inteligncias exercitadas sabem e podem utilizar-se. A experimentao
preferida pela grande maioria dos nossos contemporneos. Est mais de
acordo com os hbitos do mundo ocidental, bem pouco iniciado ainda
no conhecimento das secretas e profundas capacidades da alma.
Os fenmenos fsicos bem comprovados tm, para os nossos sbios, uma
importncia inigualvel. Em muitos homens no pode a dvida cessar nem
o pensamento libertar-se do estado de entorpecimento, seno a poder
do fato. O fato brutal, o fato autntico vem subverter as idias
preconcebidas; obriga os mais indiferentes a investigar o problema
de alm-tmulo.
necessrio facilitar as pesquisas experimentais e o estudo dos
fenmenos fsicos, considerando-se, porm, como transio para
manifestaes menos terra-a-terra. Essas manifestaes, ao mesmo tempo
intelectuais e espirituais, constituem o lado mais importante do
Espiritismo. Em suas variadas formas representam outros tantos
meios de ensino, outros tantos elementos de uma revelao, sobre a
qual se edifica uma noo da vida futura mais ampla e elevada que
todas as concepes do passado.
O homem que chora a perda de seres caros, de que a morte o
separou, procura antes de tudo uma prova da sobrevivncia na
manifestao dessas almas diletas ao seu corao e que para ele tambm
se sentem atradas pelo amor. Uma palavra afetuosa, uma prova moral,
delas provenientes, faro muito mais para convencer que todos os
fenmenos materiais.
At agora, para a maioria dos homens, a crena na vida futura no
havia sido mais que vaga hiptese, f oscilante a todos os embates da
crtica. As almas, depois de separadas dos corpos, eram apenas a
seus olhos entidades mal definidas, enclausuradas em lugares
circunscritos, inativas, sem objetivo, sem relaes possveis com a
Humanidade.
Hoje sabemos, de cincia certa, que os Espritos dos mortos nos
rodeiam e se imiscuem em nossa vida. Aparecem-nos como verdadeiros
seres humanos, providos de corpos sutis, tendo conservado todos os
sentimentos da Terra, suscetveis, porm, de elevao, tomando parte,
de forma crescente, na obra e no progresso universais e possuindo
energias consideravelmente superiores s de que dispunham em sua
condio antiga de existncia.
Sabemos que a morte no ocasiona mudana alguma essencial natureza
ntima do ser, que permanece, em todos os meios, o que a si mesmo se
fez, levando para alm do tmulo suas tendncias, seus dios e afetos,
suas virtudes ou fraquezas, conservando-se ligado pelo corao aos
que na Terra amou, sempre ansioso por aproximar-se deles.
A intuio profunda nos revela a presena dos amigos invisveis e,
num certo limite, nos permitia em nosso foro interno
corresponder-nos com eles. A experimentao vai mais longe:
proporciona meios de comunicao positivos e evidentes; estabelece
entre os dois mundos, o visvel e o oculto, uma comunho que se vai
ampliando proporo que as faculdades medinicas se multiplicam e
aperfeioam. Fortalece os laos de solidariedade que vinculam as duas
Humanidades e lhes permite, por meio de constantes relaes, por
contnua permuta de idias, combinar suas foras, suas aspiraes
comuns, orient-las no sentido de um mesmo grandioso objetivo e
trabalhar conjuntamente por adquirir mais luz, mais elevao moral e,
conseguintemente, mais felicidade para a grande famlia das almas,
de que homens e Espritos so membros.
Fora , todavia, reconhecer que a prtica experimental do
Espiritismo inada de dificuldades. Exige qualidades de que no so
dotados muitos homens: esprito de mtodo, perseverana, perspiccia,
elevao de pensamentos e de sentimentos. Alguns s chegam a adquirir
a cobiada certeza, depois de repetidos insucessos; outros a alcanam
de um jato, pelo corao, pelo amor. Estes apreendem a verdade sem
esforo, e dela nada mais os consegue desviar.
Sim, a Cincia magnfica; nela encontram infinitas satisfaes os
investigadores perseverantes, a quem cedo ou tarde fornecer ela a
base em que as convices slidas se fundam. Entretanto, a essa cincia
puramente intelectual, que estuda unicamente os corpos, necessrio,
para assegurar-lhe o equilbrio, acrescentar uma outra que se ocupa
da alma e de suas faculdades afetivas. o que fez o Espiritismo, que
no somente uma cincia de observao, mas tambm de sentimento e de
amor, pois que se dirige ao mesmo tempo inteligncia e ao corao.
por isso que os sbios oficiais, habituados s experincias
positivas, operando com instrumentos de preciso e baseando-se em
clculos matemticos, obtm resultados menos facilmente e fatigam-se
depressa em presena do carter fugidio dos fenmenos. As causas
mltiplas em ao nesse domnio, a impossibilidade de reproduzir os
fatos vontade, as incertezas, as decepes os desconcertam e fazem
esmorecer.
*
Raros foram, na Frana, durante muito tempo, nos crculos
oficiais, os experimentadores emancipados das clssicas rotinas e
dotados das qualidades necessrias para empreenderem com xito essas
delicadas observaes. Todos os que procederam com perseverana e
imparcialidade puderam verificar a realidade das manifestaes dos
denominados mortos. Ao publicar, porm, os resultados de suas
investigaes, s defrontaram na maioria das vezes com a
incredulidade, a indiferena ou a zombaria.
Os homens de cincia, para explicar os fatos espritas, tm
amontoado sistemas sobre sistemas e recorrido s mais inverossmeis
hipteses, torturando os fenmenos para os acomodar no leito de
Procusto de suas concepes.
Da a criao de tantas singulares teorias, desde o msculo rangedor
de Jobert de Lamballe, as articulaes estalantes, o automatismo
psicolgico, as alucinaes coletivas, at a do subliminal. Essas
teorias, mil vezes refutadas, renascem incessantemente. Dir-se-ia
que os representantes da cincia oficial nada receiam tanto como ser
obrigados a reconhecer a sobrevivncia e interveno dos Espritos.
Sem dvida, prudente e de bom aviso examinar todas as explicaes
contrrias, esgotar todas as hipteses, todas as outras
possibilidades, antes de recorrer teoria esprita. Ao comeo, os
experimentadores, em sua maior parte, entenderam poder dispens-la;
medida, porm, que de mais perto examinavam o fenmeno, compreendiam
que eram insuficientes as outras teorias e foroso se tornava
recorrer explicao to desdenhada. Os outros sistemas se esboroavam
um a um sob a presso dos fatos.
Apesar de todas as dificuldades, pouco a pouco foi avultando o
nmero dos investigadores conscienciosos, dos que tinham o esprito
bastante livre e a alma suficientemente elevada para colocar a
verdade acima de todas as consideraes de escola ou de interesse
pessoal. Dia a dia se tm visto sbios intrpidos romperem com o mtodo
tradicional e abordarem resolutamente o estudo dos fenmenos, tendo
j conseguido incorporar a telepatia, a clarividncia, a premonio e a
exteriorizao das foras ao domnio da cincia de observao.
Com o Coronel De Rochas, a Frana ocupa o primeiro plano no
estudo da exteriorizao da sensibilidade. Fundam-se, por toda parte,
sociedades de estudos psquicos. O cepticismo de antanho se atenua.
Em certos momentos, um sopro de renovao parece animar o velho
organismo cientfico.
No nos fiemos nisso, todavia. Os sbios oficiais ainda no
abordaram sem restries esse domnio. O Sr. Duclaux, notvel discpulo
de Pasteur, o declarava em sua conferncia de inaugurao do Instituto
Psquico Internacional, a 30 de janeiro de 1901:
Este Instituto ser uma obra de crtica mtua, tendo por base a
experincia. No admitir como descoberta cientfica seno a que puder
ser, vontade, repetida.
Que significam essas palavras? Podem reproduzir-se vontade os
fenmenos astronmicos e meteorolgicos? A esto, entretanto, fatos
cientficos. Por que essas reservas e empecilhos?
Em muitos casos o fenmeno esprita se produz com uma
espontaneidade que frustra todas as previses. No possvel mais que
registr-lo; ele se impe e escapa ao nosso domnio. Provocai-o, e ele
se retrair; mas, se no pensardes mais em tal, ei-lo que reaparece.
Tais so quase todos os casos de aparies distncia e os fenmenos das
casas mal-assombradas. Os fantasmas surgem e somem-se, indiferentes
s nossas pretenses e exigncias. Espera-se durante horas e nada se
produz; feitos os preparativos de retirada, comeam as
manifestaes.
A propsito do imprevisto dos fenmenos, recordemos o que dizia o
Sr. Varley, engenheiro-chefe das linhas telegrficas da
Gr-Bretanha.
A Sra. Varley v e reconhece os Espritos, particularmente quando
est em transe (estado de sonambulismo lcido); tambm muito boa mdium
de incorporao, mas sobre ela eu no exero quase nenhuma influncia
para provocar esse estado, de sorte que me impossvel servir-me de
sua mediunidade para fazer experincias.
, pois, um modo errneo de entender, frtil em desagradveis
conseqncias, considerar o Espiritismo um domnio em que os fatos se
apresentem sempre idnticos, em que possam os elementos de
experimentao ser dispostos vontade. Fica-se, desse modo, exposto ao
inconveniente de malogradas pesquisas, ou a colher incoerentes
resultados.
Aplaudindo sinceramente o mvel que impele os homens instrudos a
estudar os fenmenos psquicos, no podemos contudo subtrair-nos a um
certo receio:o de ver tornarem-se estreis os seus esforos, se eles
se no decidem a renunciar s suas preocupaes habituais. Aqui est um
exemplo.
O Sr. Charles Richet, que um esprito resoluto e sagaz, depois de
ter observado repetidas vezes os fatos produzidos com Euspia
Paladino e assinado as resenhas que autenticavam a sua realidade,
no acaba por confessar que sua convico, ao comeo profunda, se
enfraquece e torna-se vacilante algum tempo depois, sob o imprio
dos hbitos de esprito contrados no meio que lhe familiar?
O pblico muito espera do novel instituto e dos sbios que o
compem. Trata-se no j de Psicologia elementar, mas da mais alta
questo que jamais ter preocupado o pensamento humano: o problema do
destino. A Humanidade, cansada do dogmatismo religioso, atormentada
pela necessidade de saber, volve suas vistas para a Cincia; aguarda
o seu veredicto definitivo, que lhe permitir orientar seus atos,
fixar suas opinies e crenas.
Graves so as responsabilidades dos sbios. Os homens que ocupam
as ctedras do ensino superior sentem bem todo o seu peso e medem
acaso toda a sua extenso? Sabero eles fazer o sacrifcio do seu
mesquinho amor-prprio e recuar das afirmaes prematuramente
formuladas? Ou se reservaro, no declnio de sua carreira, o pesar de
reconhecer que erraram o alvo, desdenharam as coisas mais
essencialmente dignas de se conhecer e ensinar?
O movimento psquico vem principalmente do exterior, como
indicvamos h pouco; dia a dia se acentua. Se a cincia francesa se
esquivasse a nele tomar parte, seria sobrepujada, suplantada, e o
seu belo renome no mundo ficaria deprimido. Saiba ela, renunciando
aos seus preconceitos e conservando os seus cautelosos mtodos,
elevar-se com os sbios estrangeiros, a regies mais vastas e sutis,
fecundas em descobertas, e que est no seu prprio interesse
explorar, antes que negar.
Faa ela do Espiritismo uma cincia nova que complete as outras
cincias, constituindo-lhes o pinculo. Aplicam-se estas a domnios
particulares da Natureza; conduzem por vezes a sistemas falsos, e
quem neles se enclausura perde de vista os grandes horizontes, as
verdades de ordem geral. A cincia psquica deve ser a cincia suprema
que nos ensinar a conhecer-nos, a ponderar, a aumentar as potncias
da alma, a exercit-las, a elevar-nos, pelos meios que nos oferece,
at Alma divina e eterna!
III O Esprito e a sua forma
Em todo homem vive um esprito.
Por esprito deve-se entender a alma revestida de seu envoltrio
fludico, que tem a forma do corpo fsico e participa da imortalidade
da alma, do qual inseparvel.
Da essncia da alma apenas sabemos uma coisa: que, sendo
indivisvel, imperecvel. A alma se revela por seus pensamentos, e
tambm por seus atos; para que se possa, porm, agir e nos
impressionar os sentidos fsicos, preciso lhe um intermedirio
semimaterial, sem o qual nos pareceria incompreensvel a sua ao. o
perisprito, nome dado ao invlucro fludico, impondervel, invisvel.
Em sua interveno que se pode encontrar a chave explicativa dos
fenmenos espritas.
O corpo fludico, que possui o homem, o transmissor de nossas
impresses, sensaes e lembranas. Anterior vida atual, inacessvel
destruio pela morte, o admirvel instrumento que para si mesma a
alma constri e que aperfeioa atravs dos tempos; o resultado de seu
longo passado. Nele se conservam os instintos, se acumulam as
foras, se fixam as aquisies de nossas mltiplas existncias, os
frutos de nossa lenta e penosa evoluo.
A substncia do perisprito extremamente sutil, a matria em seu
estado mais quintessenciado, mais rarefeita que o ter; suas
vibraes, seus movimentos, ultrapassam em rapidez e penetrao os das
mais ativas substncias. Da a facilidade de os Espritos atravessarem
os corpos opacos, os obstculos materiais e transporem considerveis
distncias com a rapidez do pensamento.
Insensvel s causas de desagregao e destruio que afetam o corpo
fsico, o perisprito assegura a estabilidade da vida em meio da
contnua renovao das clulas. o modelo invisvel atravs do qual passam
e se sucedem as partculas orgnicas, obedecendo a linhas de fora,
cuja reunio constitui esse desenho, esse plano imutvel, reconhecido
por Claude Bernard como necessrio para manter a forma humana em
meio s constantes modificaes e renovao dos tomos.
A alma se desliga do envoltrio carnal durante o sono, como
depois da morte. A forma fludica pode ento ser percebida pelos
videntes, nos casos de apario de pessoas falecidas ou de
exteriorizao de vivos. Durante a vida normal, essa forma se revela,
por suas irradiaes, nos fenmenos em que a sensibilidade e a
motricidade se exercem distncia. No estado de desprendimento
durante o sono, o Esprito atua s vezes sobre a matria e produz
rudos e deslocamento de objetos. Manifesta-se finalmente, depois da
morte, em graus diversos de condensao, nas materializaes parciais
ou totais, nas fotografias e nos moldes, at a ponto de reproduzir
certas deformidades.
O perispritotodos esses fatos o demonstram o organismo fludico
completo; ele que, durante a vida terrestre, pelo grupamento das
clulas, ou no espao, com o auxlio da fora psquica que absorve nos
mdiuns, constitui, sobre um plano determinado, as formas duradouras
ou efmeras da vida. ele, e no o corpo material, que representa o
tipo primordial e persistente da forma humana.
O Sr. H. Durville, secretrio-geral do Instituto Magntico, fez
experincias muito demonstrativas em tal sentido, as quais
evidenciam que os fenmenos de exteriorizao so manifestaes do duplo
que, desprendido do corpo material pela ao magntica, percebe todas
as impresses, as transforma em sensaes e as transmite ao corpo
fsico mediante o cordo fludico pelo qual se acham ligados, at
morte, esses dois corpos.
Com um sensitivo adormecido, cujo duplo exteriorizado fora
separado do corpo material e transportado para um outro aposento,
foram feitas as seguintes experincias relativamente vista, audio,
olfato, paladar e tato:
lido pelo duplo um artigo de jornal e repetido pelo sensitivo
adormecido na sala contgua. Do mesmo modo, objetos e pessoas so
percebidos pelo duplo distncia e descritos pelo sensitivo.
O duplo ouve o tique-taque de um relgio, bem como palavras ao p
dele proferidas em voz baixa; sente o cheiro de amnia contida num
vidro, como sente outros odores ou perfumes: alos, acar, sulfato de
quinina, laranja, etc., e transmite ao corpo essas diferentes
sensaes gustativas.
A propsito do tato, finalmente, assim se exprime o Sr.
Durville:
sabido que quase todos os sensitivos magneticamente adormecidos
so insensveis, mas ningum sabe onde se refugia a sensibilidade.
Quando o sensitivo est exteriorizado, a sensibilidade irradia
sempre em torno dele. Uma queimadura produzida, ou um belisco, uma
puno, aplicados nas zonas sensveis, despertam uma dor intensa no
sensitivo, que, entretanto, nada absolutamente percebe quando se
lhe fricciona o corpo. O mesmo sucede no desdobramento. O sensitivo
no percebe as punes nem as beliscaduras aplicadas no corpo fsico,
mas experimenta uma sensao desagradvel e mesmo dolorosa quando
atingido o duplo ou o cordo que o liga quele. Esse fenmeno se
verifica em todas as sesses e com todos os sensitivos, sem exceo
alguma.
A forma humana, dizem os invisveis, a de todos os Espritos
encarnados ou desencarnados que vivem no Universo. Essa forma,
porm, rgida e compacta no corpo fsico, flexvel, compressvel
vontade, no perisprito. Presta-se, dentro de certos limites, s
exigncias do Esprito e lhe permite no Espao, conforme a extenso do
seu poder, tomar as aparncias, reproduzir os hbitos que lhe foram
pessoais no passado, com os atributos prprios que o fazem
reconhecer. Observa-se isso muitas vezes nos casos de aparies. A
vontade criadora; sua ao sobre os fluidos considervel. O Esprito
adiantado pode submeter a matria sutil a inmeras metamorfoses.
*
O perisprito um foco de energias. A fora magntica, por certos
homens projetada em abundncia, e que pode, de perto ou de longe,
fazer sentir sua influncia, aliviar e curar, uma de suas
propriedades. Nele tem sua sede a fora psquica indispensvel produo
dos fenmenos espritas.
O corpo fludico no somente um receptculo de foras; tambm o
registro vivo em que se imprimem as imagens e lembranas: sensaes,
impresses e fatos, tudo a se grava e fixa. Quando so muito fracas
as condies de intensidade e durao, as impresses quase no atingem a
nossa conscincia; nem por isso deixam de ser registradas no
perisprito, em que permanecem latentes. O mesmo se d com os fatos
relativos s nossas anteriores existncias. Ao ser psquico, imerso no
estado de sonambulismo, desprendido parcialmente do corpo, possvel
apreender-lhes o encadeamento. Assim se explica o fenmeno da
memria.
As vibraes do perisprito se reduzem sob a presso da carne;
readquirem sua amplitude logo que o Esprito se desprende da matria
e reassume a liberdade. Sob a intensidade dessas vibraes, as
impresses acumuladas no perisprito ressurgem. Quanto mais completo
o desprendimento, mais se dilata o campo da memria; as mais remotas
lembranas reaparecem. O indivduo pode reviver suas passadas vidas;
assim temos verificado muitas vezes em nossas experincias. Pessoas
imersas, por uma influncia oculta, no estado sonamblico,
reproduziam os sentimentos, as idias, os atos deslembrados de sua
existncia atual, de sua primeira juventude; reviviam mesmo cenas de
suas anteriores existncias, com a linguagem, as atitudes e as
opinies da poca e do meio.
Parece, em casos tais, que se apresenta uma personalidade
diferente, que uma outra individualidade se revela. Esses fenmenos,
mal observados por certos experimentadores, deram origem teoria das
personalidades mltiplas coexistentes em um mesmo invlucro, tendo
cada uma delas seu carter e recordaes prprias. Nessa teoria se vem
enxertar a da conscincia subliminal ou do inconsciente superior. A
verdade que sempre a mesma individualidade que intervm sob os
diferentes aspectos por ela revestidos atravs dos sculos e agora
reconstitudos com tanto maior intensidade quanto mais enrgica a
influncia magntica e mais enfraquecidos se acham os laos corporais.
Certas experincias o demonstram: as do professor Flournoy, por
exemplo, com a mdium Helena Smith, que se transporta, no estado de
transe, a uma de suas existncias, no sculo XII verificada na ndia,
e as de Esteva Marata e outros experimentadores espanhis com mdiuns
sonambulizados, s quais convm acrescentar os estudos mais recentes
e extensos do Coronel A. De Rochas.
*
O grau de pureza de sua forma fludica atesta a riqueza ou a
indigncia da alma. Etrea, radiosa, pode elevar-se at s esferas
divinas, penetrar-se das mais sublimes harmonias; opaca, tenebrosa,
precipita-se nas regies inferiores e nos arrasta aos mundos de luta
e sofrimento.
Por seu esprito, imerge o homem no que de mais baixo possui a
Natureza e insere suas razes na animalidade; por ele tambm gravita
para os mundos luminosos em que vivem as almas anglicas, os
Espritos puros.
O nosso estado psquico obra nossa. O grau de percepo, de
compreenso, que possumos, o fruto de nossos esforos prolongados.
Fomos ns que o fizemos ao percorrer o ciclo imenso de sucessivas
existncias. O nosso invlucro fludico, sutil ou grosseiro, radiante
ou obscuro, representa o nosso valor exato e a soma de nossas
aquisies. Os nossos atos e pensamentos pertinazes, a tenso de nossa
vontade em determinado sentido, todas as volies do nosso ser
mental, repercutem no perisprito e, conforme a sua natureza,
inferior ou elevada, generosa ou vil, assim dilatam, purificam ou
tornam grosseira a sua substncia. Da resulta que, pela constante
orientao de nossas idias e aspiraes, de nossos apetites e
procedimentos em um sentido ou noutro, pouco a pouco fabricamos um
envoltrio sutil, recamado de belas e nobres imagens, acessvel s
mais delicadas sensaes, ou um sombrio domiclio, uma lbrega priso,
em que, depois da morte, a alma restringida em suas percepes se
encontra sepultada como num tmulo. Assim cria o homem para si mesmo
o bem ou o mal, a alegria ou o sofrimento. Dia a dia, lentamente,
edifica ele seu destino. Em si mesmo est gravada sua obra, visvel
para todos no Alm. por esse admirvel mecanismo das coisas, simples
e grandioso ao mesmo tempo, que se executa, nos seres e no mundo, a
lei de causalidade ou de conseqncia dos atos, que outra coisa no
seno o cumprimento da justia.
E, por um efeito das mesmas causas, j desde esta vida o homem
atrai as influncias do Espao, as irradiaes etreas ou os grosseiros
eflvios dos Espritos de violncia ou de desordem. A est a regra das
manifestaes espritas; no outra seno a prpria lei das atraes e
afinidades. Conforme o grau de sutileza de nosso invlucro e a
intensidade de suas irradiaes, podemos, nos momentos de xtase e
desprendimentoo que para alguns mesmo possvel no recolhimento e na
meditao, entrar em relao com o mundo invisvel, perceber os ecos,
receber as inspiraes, entrever os esplendores das esferas celestes,
ou, doutro modo, experimentar a influncia dos Espritos de
trevas.
IV A mediunidade
Todas as manifestaes da Natureza e da vida se resumem em
vibraes, mais ou menos rpidas e extensas, conforme as causas que as
produzem. Tudo vibra no Universo: a luz, o som, o calor, a
eletricidade, os raios qumicos, os raios catdicos, as ondas
hertzianas, etc., no so mais que diferentes modalidades de ondulao,
graus sucessivos, que em seu conjunto constituem a escala
ascensional das manifestaes da energia.
Esses graus so muito afastados entre si. O som percorre 340
metros por segundo; a luz, no mesmo tempo, faz o percurso de
300.000 quilmetros; a eletricidade se propaga com uma rapidez que
se nos afigura incalculvel. Os nossos sentidos fsicos, porm, no nos
permitem perceber todos os modos de vibrao. Sua impotncia para dar
uma impresso completa das foras da Natureza um fato suficientemente
conhecido para que tenhamos necessidade de insistir sobre esse
ponto.
S no domnio da ptica, sabemos que as ondas luminosas no nos
impressionam a retina seno nos limites das sete cores. Certas
radiaes solares escapam nossa vista; chamam-se, por isso, raios
obscuros.
Entre o limite dos sons, cujas vibraes alcanam de 20 a 20.000
por segundo, e a sensao de calor, que se mede por trilhes de
vibraes, nada percebemos. O mesmo acontece entre a sensao de calor
e de luz, que corresponde, na mdia, a 500 trilhes de vibraes por
segundo.
Nessa prodigiosa ascenso, os nossos sentidos representam paradas
muitssimo espaadas, estaes dispostas a considerveis distncias uma
das outras, uma rota sem-fim. Entre essas diversas paradas, por
exemplo, entre os sons agudos e os fenmenos de calor e de luz,
destes, em seguida, at s zonas vibratrias afetadas pelos raios
catdicos, h para ns como que abismos. Para seres, porm, dotados de
sentidos mais sutis ou mais numerosos que os nossos, esses abismos,
desertos e obscuros na aparncia, no estariam preenchidos? Entre as
vibraes percebidas pelo ouvido e as que nos impressionam a vista no
h mais que o nada no domnio das foras e da vida universal?
Seria bem pouco sensato acredit-lo, porque tudo em a Natureza se
sucede, se encadeia e se desdobra, de elo em elo, por gradativas
transies. Em parte alguma h salto brusco, hiato, vcuo. O que
resulta destas consideraes simplesmente a insuficincia do nosso
organismo, demasiado pobre para perceber todas as modalidades de
energia.
O que dizemos das foras em ao no Universo aplica-se igualmente
ao conjunto dos seres e das coisas em suas diversas formas, em seus
diferentes graus de condensao ou de rarefao.
O nosso conhecimento do Universo se restringe ou amplia conforme
o nmero e a delicadeza de nossos sentidos. O nosso organismo atual
no nos permite abranger mais que limitadssimo crculo do imprio das
coisas. A maior parte das formas da vida nos escapa. Venha, porm,
um novo sentido se nos acrescentar aos atuais, e imediatamente se h
de o invisvel revelar, ser preenchido o vcuo, animado o que era
soturna insensibilidade.
Poderamos mesmo possuir sentidos diferentes que, por sua
estrutura anatmica, modificariam totalmente a natureza de nossas
sensaes atuais, de modo a nos fazer ouvir as cores e saborear os
sons. Bastaria para isso que no lugar e posio da retina um feixe de
nervos pudesse ligar o fundo do olho ao ouvido.
Nesse caso ouviramos o que vemos. Em lugar de contemplar o cu
estrelado, perceberamos a harmonia das esferas e no seriam por isso
menos exatos os nossos conhecimentos astronmicos. Se os nossos
sentidos, em lugar de separados, estivessem reunidos, no
possuiramos mais que um nico sentido generalizado, que perceberia
ao mesmo tempo os diversos gneros de fenmenos.
Estas consideraes, deduzidas das mais rigorosas observaes
cientficas, nos demonstram a insuficincia das teorias
materialistas. Pretendem estas fundar o edifcio das leis naturais
sobre a experincia adquirida mediante o nosso atual organismo, ao
passo que, com uma organizao mais perfeita, esta experincia seria
bem diversa.
Pela simples modificao dos nossos rgos, com efeito, o mundo, tal
como o conhecemos, se poderia transformar e mudar de aspecto, sem
que de leve a realidade total das coisas se alterasse. Seres
constitudos de modo diferente poderiam viver no mesmo meio sem se
verem, sem se conhecerem.
E se, em conseqncia do desenvolvimento orgnico de alguns desses
seres, em seus diversos apropriados habitats, seus meios de percepo
lhes permitissem entrar em relaes com aqueles cuja organizao
diferente, nada haveria nisso de sobrenatural nem de miraculoso,
mas simplesmente um conjunto de fenmenos naturais, regidos por leis
ainda ignoradas desses seres, entre os outros, menos favorecidos no
que se refere ao conhecimento.
Ora, o que precisamente se produz em nossas relaes, com os
Espritos dos homens falecidos, em todos os casos em que possvel a
um mdium servir de intermedirio entre as duas humanidades, visvel e
invisvel. Nos fenmenos espritas, dois mundos, cujas organizaes e
leis conhecidas so diferentes, entram em contacto, e assomando a
essa linha divisria, a essa fronteira que os separava, mas que
desaparece, o pensador ansioso v desdobrarem-se perspectivas
infinitas. V bosquejarem-se os elementos de uma cincia do Universo
muito vasta e mais completa que a do passado, conquanto seja o seu
prolongamento lgico; e essa cincia no vem destruir a noo das leis
atualmente conhecidas, mas ampli-la em vastas propores, pois que
traa ao esprito humano a rota segura que o conduzir aquisio dos
conhecimentos e dos poderes necessrios a firmar em slidas bases sua
tarefa presente e seu destino futuro.
*
Acabamos de aludir ao papel dos mdiuns. O mdium o agente
indispensvel, com cujo auxlio se produzem as manifestaes do mundo
invisvel.
Assinalamos a impotncia dos nossos sentidos, desde que so
aplicados aos estudos dos fenmenos da vida. Nas cincias
experimentais, no tardou a ser preciso recorrer a instrumentos para
suprir essa deficincia do organismo humano e ampliar o nosso campo
de observao. Vieram assim o telescpio e o microscpio revelar-nos a
existncia do infinitamente grande e do infinitamente pequeno.
A partir do estado gasoso, a matria escapava aos nossos
sentidos. Os tubos de Crookes, as placas sensveis nos permitem
prosseguir os estudos no domnio, por muito tempo inexplorado, da
matria radiante.
A, por enquanto, se detm os meios de investigao da cincia. Mais
alm, todavia, se entrevem estados da matria e da fora que um
instrumento aperfeioado, mais dia menos dia, nos tornar
familiares.
Onde faltam ainda os meios artificiais, vm certos indivduos
trazer ao estudo dos fenmenos vitais o concurso de preciosas
faculdades. assim que o sensitivo hipntico representa o instrumento
que tem permitido sondar as profundezas ainda misteriosas do eu
humano, o proceder a uma anlise minuciosa de todos os modos de
sensibilidade, de todos os aspectos da memria e da vontade.
O mdium vem, por sua vez, desempenhar um papel essencial no
estudo dos fenmenos espritas. Participando, simultaneamente, por
seu invlucro fludico, da vida do Espao e, pelo corpo fsico, da vida
terrestre, ele o intermedirio obrigatrio entre dois mundos.
O estudo, pois, da mediunidade prende-se intimamente a todos os
problemas do Espiritismo; mesmo a sua chave. O mais importante, no
exame dos fenmenos, distinguir a parte que preciso atribuir ao
organismo e personalidade do mdium e a que provm de uma interveno
estranha, e determinar em seguida a natureza dessa interveno.
O Esprito, separado da matria grosseira pela morte, no pode mais
sobre ela agir; nem se manifestar na esfera humana sem o auxilio de
uma fora, de uma energia, que ele haure no organismo de um ser
vivo. Toda pessoa suscetvel de fornecer, de exteriorizar essa fora,
apta para desempenhar um papel nas manifestaes fsicasdeslocamento
de objetos sem contacto, transportes, sons de pancadas, mesas
giratrias, levitaes, materializaes. essa a mais comum, a mais
generalizada forma da mediunidade; no requer nenhum desenvolvimento
intelectual, nem adiantamento moral. uma simples propriedade
fisiolgica, observada em pessoas de todas as condies. Em todas as
formas inferiores da mediunidade o indivduo comparvel, quer a um
acumulador de fora, quer a um aparelho telegrfico ou telefnico,
transmissor do pensamento do operador.
A comparao tanto mais exata quanto a fora psquica se esgota,
como todas as foras no renovadas; a intensidade das manifestaes est
na razo direta do estado fsico e mental do mdium. Seria um erro
considerar este como um histrico ou um doente; simplesmente um
indivduo dotado de capacidades mais extensas ou de mais sutis
percepes que outro qualquer.
A sade do mdium parece-nos ser uma das condies de sua faculdade.
Conhecemos um grande nmero de mdiuns que gozam perfeita sade; temos
notado mesmo um fato significativo, e que, quando a sade se lhes
altera, os fenmenos se enfraquecem e cessam at de se produzir.
A mediunidade apresenta variedades quase infinitas, desde as
mais vulgares formas at as mais sublimes manifestaes. Nunca idntica
em dois indivduos e se diversifica segundo os caracteres e os
temperamentos. Em um grau superior, como uma centelha do cu a
dissipar as humanas tristezas e esclarecer as obscuridades que nos
envolvem.
A mediunidade de efeitos fsicos geralmente utilizada por
Espritos de ordem vulgar. Requer contnuo e atento exame. pela
mediunidade de efeitos intelectuaisinspirao escritaque
habitualmente nos so transmitidos os ensinos dos Espritos elevados.
Para produzir bons resultados, exig