Página | 1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO „LATU SENSU‟ AVM FACULDADE INTEGRADA O JORNALISMO ESSENCIAL : UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE NOVOS MUCKRAKERS Marcelo José Beraba Orientadora Maria Esther de Araujo Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO „LATU SENSU‟
AVM FACULDADE INTEGRADA
O JORNALISMO ESSENCIAL:
UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO
UNIVERSITÁRIA DE NOVOS MUCKRAKERS
Marcelo José Beraba
Orientadora
Maria Esther de Araujo
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO A
UTORAL
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO „LATU SENSU‟
AVM FACULDADE INTEGRADA
O JORNALISMO ESSENCIAL:
UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO
UNIVERSITÁRIA DE NOVOS MUCKRAKERS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para a obtenção
do grau de especialista em Docência do Ensino
Superior.
Por Marcelo José Beraba
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores do curso de Docência
do Ensino Superior da AVM do período 2014/2015;
aos professores Leonardo Mancini, da ESPM Rio,
e Ana Paula Goulart Ribeiro, da Escola de
Comunicação da UFRJ; a Guilherme Alpendre e
Mariana Atoji, que me ajudaram nas traduções do
inglês; e, principalmente, ao professor Cesar
Romero Jacob, da PUC-Rio, que me estimulou a
voltar aos bancos escolares. A todos, os meus
sinceros agradecimentos.
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DEDICATÓRIA
Para Elvira,
companheira de vida e de jornadas de trabalho,
com amor e admiração
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RESUMO
O jornalismo vive um longo período de crises nestas primeiras quadras
do século 21. Crise de modelo de negócio, crise de credibilidade, crise de
identidade profissional. No entanto, não é uma crise apenas da Imprensa, mas
global, dos poderes sacudidos pela explosão das tecnologias digitais que
trazem para o jogo político novos atores.
No caso da Imprensa, estão colocados alguns desafios. Um deles é a
continuidade de um caminho que o jornalismo começou a percorrer
conscientemente a partir do século 19, no início tímida e esporadicamente, de
superação do partidarismo e do panfletarismo e sua substituição por uma
prática de observação e vigilância dos poderes públicos e privados.
Este jornalismo – que a partir de meados do século passado tomou
forma, nos Estados Unidos, como Jornalismo Investigativo e assim se
disseminou – precisa ser pesquisado, estudado e ensinado para que possa
aumentar a sua contribuição como um dos pilares de sociedades que exigem
de seus governos transparência, eficiência e respeito aos direitos humanos.
A formatação da História do Jornalismo Investigativo como disciplina
autônoma ou como módulo curricular é uma contribuição para a melhoria do
exercício jornalístico e para uma melhor compreensão dos processos
históricos.
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METODOLOGIA
Como o objetivo desta monografia é o de apresentar a história do
jornalismo investigativo como um aspecto indissociável das histórias da
Comunicação, do Jornalismo e da Imprensa, o método de pesquisa se baseou
principalmente em extensa bibliografia. Assim, foram estudados trabalhos
conceituais e descritivos sobre História, Imprensa, Jornalismo e História do
Jornalismo.
Foram feitas ainda pesquisas sobre os mesmos temas no ambiente da
Internet, em sites especializados do Brasil e dos Estados Unidos.
Para a formulação de uma proposta de História do Jornalismo
Investigativo foram analisados documentos oficiais do Ministério da Educação e
Planos de Ensino da disciplina História do Jornalismo de duas faculdades
conceituadas do Rio, a Escola de Comunicação da UFRJ e Faculdade de
Jornalismo da ESPM.
A pesquisa histórica teve, portanto, como base principal uma ampla
bibliografia sobre Jornalismo, Jornalismo Investigativo, História da
Comunicação e História do Jornalismo enriquecida com dois estudos de casos
de currículos de graduação e um de pós.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO 1 – A crise do poder 12
CAPÍTULO 2 – A essência do Jornalismo Investigativo 15
2.1 – Dos muckrakers ao Collorgate 20
CAPÍTULO 3 – A História através da Imprensa 25
3.1- Os jornais como fontes históricas 26
3.2- A importância do estudo da história da Imprensa no Brasil 27
CAPÍTULO 4 – O espaço do Jornalismo na Comunicação 30
4.1 – Imprensa, um capítulo na história das comunicações 33
4.2 – A perspectiva interdisciplinar 36
CAPÍTULO 5 – A História do Jornalismo Investigativo 40
5.1 – Estudo de casos: ECO/UFRJ e ESPM Rio 40
5.2 – O equilíbrio entre teoria e prática 43
5.3 – História e Jornalismo, campos complementares 44
5.4 – O Modelo Muckraking 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS 52
BIBLIOGRAFIA 55
ANEXOS 60
INDICE 78
FOLHA DE AVALIAÇÃO 80
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―As histórias do Brasil e da imprensa caminham
juntas, se auto explicam, alimentam-se
reciprocamente, integrando-se num imenso painel‖ Ana Luiza Martins e Tânia Regina de Luca
―O jornalismo investigativo
é absolutamente essencial‖ Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia
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INTRODUÇÃO
O jornalismo brasileiro atravessa, neste início do século XXI, um período
de fortes mudanças. Não é um fenômeno apenas do Brasil, mas aqui
apresenta características próprias.
A rápida expansão dos meios digitais, a ascensão de novos sujeitos na
vida política e as mudanças no ambiente cultural tiraram a indústria jornalística
do relativo conforto das duas últimas décadas do século passado e provocaram
uma verdadeira revolução na produção, edição e distribuição da notícia.
O impacto desta revolução no jornalismo é evidente, mas ainda não está
completamente absorvido. Há fatores circunstanciais – como a crise do modelo
econômico do país que vem se esboçando desde 2013 e explodiu neste início
de 2015 – e há fatores estruturais – como as novas tecnologias digitais
acelerando o fim da era analógica e a pulverização das verbas publicitárias.
O jornalismo tem uma longa tradição de renovação. Em vários períodos,
e em ambientes diferentes, ele soube se reinventar, buscar novos focos de
interesse público, novos modelos de negócio, novos gêneros e narrativas. Em
geral, a reação ocorre diante de um quadro de ameaça econômica ou de perda
de credibilidade.
Foi assim, em ambientes políticos, econômicos ou sociais adversos e
questionadores, que surgiram instituições como o Ombudsman, criaram-se os
manuais de Redação e os códigos de ética, ampliaram-se os canais de
influência e interferência das audiências (leitores, ouvintes e telespectadores) e
todo um conjunto de iniciativas que ficaram conhecidas como Sistemas de
Responsabilização da Mídia (Media Accountability Systems, em inglês).
(BERTRAND, 2002)
A confluência de pressões da sociedade, de exigências cada vez
maiores de qualificação profissional, da necessidade de lucro e de
sobrevivência e de reflexões dos próprios jornalistas acabou gerando, ao longo
do século XX, novos caminhos de renovação – como o Jornalismo Literário, o
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Jornalismo de Precisão, o Jornalismo Público, o Jornalismo Cidadão, o
Jornalismo Investigativo e, mais recentemente, o Jornalismo de Dados.
Uma das questões que este momento nos desafia é relativa às
faculdades de Jornalismo. Como elas estão assimilando as torrentes de
mudanças que colocam em xeque a indústria da comunicação, o mercado de
trabalho, as teorias acadêmicas e o próprio futuro do jornalismo tal como o
conhecemos nas últimas décadas?
Não está fácil para as boas faculdades de qualquer área do
conhecimento acompanhar as profundas mudanças que as novas tecnologias e
as novas demandas impõem ao mercado de trabalho globalizado e cada vez
mais interdisciplinar. No jornalismo sucede o mesmo. Os cursos de Jornalismo,
divididos entre priorizar um ensino mais técnico e prático ou um ensino mais
teórico, acabam ignorando a complexidade das revoluções e crises que
sacodem o jornalismo profissional e tratam de forma superficial as
contribuições das últimas décadas que melhoraram a reportagem de qualidade.
De que forma os currículos das faculdades de Jornalismo podem ser
enriquecidos com novas disciplinas ou novos enfoques que preparem os
formandos para enfrentar os grandes desafios da profissão neste começo de
século?
Esta monografia pretende se fixar em um aspecto da formação
profissional que pode aliar a reflexão sobre a prática profissional e o
crescimento intelectual dos alunos à uma melhor compreensão do papel
histórico do jornalismo, especificamente do Jornalismo Investigativo – hoje
reconhecido como importante fator de pressão por transparência e boa gestão
nos regimes democráticos.
O foco principal será o conteúdo das disciplinas referentes à História do
Jornalismo. Em geral, estas disciplinas priorizam a história da indústria da
comunicação, a evolução tecnológica dos meios ou os perfis de grandes
profissionais e de determinados veículos que se notabilizaram por inovações
ou influência. Raramente tratamos da história das grandes reportagens que
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marcaram época e que não devem ser compreendidas apenas no contexto
jornalístico.
Há todo um ambiente político, econômico, social e cultural que ajuda a
entender porque em alguns períodos históricos floresceu um jornalismo
investigativo independente e de qualidade e em outros não foi possível que
desabrochasse e se desenvolvesse. A compreensão destes fenômenos nos
obriga a estudar a edição de grandes reportagens com um duplo olhar: com um
zoom no conteúdo da reportagem e uma lente aberta para captar o momento
histórico que permitiu a sua produção e edição.
O estudo não pretende fazer uma análise profunda do ensino do
jornalismo, menos ainda apresentar soluções para questões de tal magnitude,
mas sublinhar a importância do jornalismo investigativo e da História do
Jornalismo Investigativo na formação de futuros jornalistas, principalmente para
aqueles que pretendem exercer o ofício na linha de frente, como repórteres.
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CAPÍTULO 1
A CRISE DO PODER
Não é a somente a imprensa que vive a angústia das mudanças radicais
provocadas pela revolução digital e pelo impacto da nova ordem globalizada.
Moisés Naim, escritor e economista venezuelano, aprofundou a reflexão sobre
este novo ciclo histórico no ensaio ―O fim do poder‖. (NAIM, 2013)
O exercício do poder está degradado em todas as suas formas de
manifestação, avalia Naim. Não é apenas a imprensa tradicional que perde
audiência e influência. Está em curso uma transformação histórica de ―extrema
importância‖ que ele associa ao que chama de ―degradação do poder‖.
Transcrevo o trecho do ensaio em que Naim explica o fenômeno político,
social e cultural que marca as últimas duas décadas.
"[...] o poder – a capacidade de conseguir que os outros façam ou deixem de fazer algo – está passando por uma transformação histórica e de extrema importância. O poder está se dispersando cada vez mais e os grandes atores tradicionais (governos, exércitos, empresas, sindicatos etc.) estão cada vez mais confrontados com novos e surpreendentes rivais – alguns muito menores em tamanho e recursos. Além disso, aqueles que controlam o poder deparam-se cada vez com mais restrições ao que podem fazer com ele‖. (NAIM, 2013, pag. 15)
―No século XXI, o poder é mais fácil de obter, mais difícil de utilizar e mais fácil de perder. Das salas de diretoria e zonas de combate ao ciberespaço, as lutas pelo poder são tão intensas quanto antes, mas estão produzindo cada vez menos resultados. [...]
Isso não quer dizer, repito, que o poder tenha desaparecido ou que não há mais quem o possua, e em abundância. Os presidentes dos Estados Unidos e da China, os CEOs da JP Morgan ou da Shell Oil ou da Microsoft, a diretora do jornal The New York Times, a diretora do Fundo Monetário Internacional e o papa continuam detendo imenso poder. Mas bem menos do que tinham seus predecessores.‖ (NAIM, 2013, pág. 16)
Faz sentido incluir o New York Times entre as instituições emblemáticas
do poder do século XX. O principal jornal norte-americano é o símbolo maior da
imprensa como quarto poder, referência ao compromisso que os meios
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assumem, diante das sociedades democráticas, de vigilância dos poderes
constitucionais – Executivo, Legislativo e Judiciário.
―[...] Mas as mudanças não se devem só à tecnologia. [...] A demolição da estrutura tradicional de poder [...] também está relacionada com mudanças na economia global, na política, na demografia e nos padrões migratórios. [...] Para que a internet possa proporcionar sua magia e multiplicar as possibilidades, muitas outras condições precisam estar presentes‖. (NAIM, 2013, págs. 19-20)
―[...] as causas subjacentes a este fenômeno estão relacionadas não apenas com transformações econômicas e demográficas e com disseminação das tecnologias de informação mas também com mudanças políticas e profundas alterações nas expectativas, valores e normas sociais. Essas tecnologias de informação (que incluem a internet, mas não se limitam a ela) desempenham papel significativo em moldar o acesso ao poder e o seu uso. Mas a explicação mais fundamental (grifo do autor) da fragilização da fragilização das barreiras ao poder está relacionada com as transformações de fatores tão diversos como o rápido crescimento econômico de muitos países pobres, padrões migratórios, medicina e sistemas de saúde, educação e até mesmo atitudes e tradições culturais – em resumo, com mudanças no âmbito, nas condições e nas possibilidades da situação humana nos tempos atuais‖. (NAIM, 2013, págs. 27-28)
O ensaio de Naim tem um capítulo dedicado ao impacto destas
mudanças no jornalismo. ―Em poucos setores o poder mudou de forma tão
drástica e rápida quanto no da informação e das comunicações‖. Philip Meyer,
que enriqueceu o jornalismo, na década de 1970, com o Jornalismo de
Precisão, assim resume o impacto na imprensa americana: ―O jornalismo está
em apuros‖. (MEYER, 2007, pág. 11)
Depois de descrever o cenário de terra arrasada na indústria jornalística
dos Estados Unidos nestes primeiros anos do novo século – desaparecimento
de jornais, queda de circulação e de receita publicitária – Naim desafia os
próprios jornalista a se esforçarem para entender o que está acontecendo.
―As repercussões dessas transformações radicais, embora muito debatidas, ainda não estão claras. É compreensível que os jornalistas gastem um bom tempo preocupando-se com o futuro de sua profissão; mas onde está o poder na mídia e em que direção está mudando? A resposta depende em grande parte – talvez mais do que em qualquer outro campo – do aspecto para o qual voltamos nossos olhos à procura de indícios‖. (NAIM, 2013, pág. 300)
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A crise da indústria tradicional do jornalismo não significa o fim do
jornalismo. (MEYER, 2007, pág. 13) O próprio Naim identifica alguns caminhos
incipientes que estão sendo desbravados, como o jornalismo cidadão e o
jornalismo investigativo.
―Entre as novas forças também há grupos de investigação independentes, com financiamento sem fins lucrativos, como a ProPublica, uma ‗sala de notícias independente, sem fins lucrativos‘ (para usar sua própria descrição), cujas parcerias com jornais estabelecidos nos Estados Unidos já começaram a lhe render prêmios (no caso da ProPublica, um Prêmio Pulitzer em 2011)‖. [...]
―A crescente popularização dos aparelhos celulares, por exemplo, criou não só um aumento incrível do consumo de notícias mas também uma corrida em busca de qualidade, já que os consumidores preferem aplicativos e sites de organizações de notícias estabelecidas, com reputação de objetividade. Se há um setor no qual a transformação do poder está acontecendo diariamente, em todas as partes e diante de nossos próprios olhos, é o dos meios de comunicação social‖. (NAIM, 2013, pág. 305)
O jornalismo se reconfigura em novos modelos de sustentação. Mas sua
sobrevivência não corre risco. A motivação política e social da investigação
jornalística e o reforço de novas tecnologias e de novos recursos digitais
incorporados às rotinas da produção de reportagens indicam que o jornalismo
investigativo ainda tem fôlego. E um papel importante, principalmente nas
democracias jovens e não consolidadas, como a brasileira.
É importante, no entanto, avaliar de que forma este jornalismo
comprometido com a fiscalização de poderes públicos e privados é acolhido
nas escolas de comunicação. Os laboratórios de prática profissional têm
professores preparados para o ensino das técnicas próprias deste jornalismo?
O currículo contempla, na disciplina História da Comunicação ou História do
Jornalismo, o aprendizado do contexto histórico (econômico, político, social,
industrial) em que este jornalismo floresce?
Nos capítulos seguintes trataremos da importância da investigação
jornalística e da premência de se formatar a disciplina da História do
Jornalismo com ênfase na história do jornalismo investigativo.
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CAPÍTULO 2
A ESSÊNCIA DO JORNALISMO INVESTIGATIVO
O jornalismo investigativo, tal como o conceituamos hoje, foi assim
consagrado na década de 1970 nos Estados Unidos a partir da cobertura do
escândalo de Watergate (1972-1974) pelo jornal Washington Post. Os seus
princípios já haviam sendo adotados por jornalistas e revistas americanos
desde o final do século 19, embora não com este rótulo e nem com os recursos
tecnológicos e metodológicos que o fortaleceram a partir dos anos 1970.
Jornalismo investigativo pode ser definido tanto pelo seu método de
produção como por seus objetivos. O método de produção consiste nos
procedimentos que definem grosso modo a reportagem investigativa – que seja
um trabalho de apuração própria, relevante para a sociedade e que exponha
SECANELLA, 1986 pág. 34; REYES, 1996, pág. 12) – e diz respeito
principalmente aos jornalistas. Já os seus objetivos interessam a toda a
sociedade.
A jornalista espanhola Petra Secanella assim define este compromisso
social:
―El punto de partida del periodismo de investigación es la obligación por parte de los profesionales de descubrir lo oculto por los poderes públicos y que los ciudadanos tienen derecho a saber.‖1 (SECANELLA, 1986, pág. 33)
Em ―Periodismo de Investigación‖, Secanella reproduz a definição que
Jack Anderson – um dos pioneiros do jornalismo investigativo nos Estados
Unidos do pós guerra – deu para a relação entre imprensa e poder: ―Numa
democracia o povo tem todo o direito de conhecer o que afeta seus interesses‖.
1 さO ヮラミデラ SW ヮ;ヴデキS; Sラ テラヴミ;ノキゲマラ キミ┗Wゲデキェ;デキ┗ラ Y ; ラHヴキェ;N?ラ ヮラヴ ヮ;ヴデW Sラゲ ヮヴラaキゲゲキラミ;キゲ SW SWゲIラHヴキヴ o que está sendo mantido oculto pelos poderes públicラゲ W ケ┌W ラゲ IキS;S?ラゲ デZマ SキヴWキデラ SW ゲ;HWヴざく
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Esta é a concepção do jornalismo investigativo tal como vem se
firmando nas últimas décadas em vários países, inclusive no Brasil. O
professor José Marques de Melo reconhece a sua importância na nossa
história recente ao manifestar sua preocupação com a preservação das
liberdades de expressão e pensamento garantidas pela Constituição de 1988.
―Foi graças ao ambiente de liberdade desfrutado no período pós-autoritário que o Brasil pode fortalecer as instituições democráticas. A mídia tem tido papel decisivo nesse processo, investigando as mazelas da sociedade e denunciando publicamente os desvios praticados por pessoas ou entidades. Essa transparência política tem atuado como uma espécie de freio para os agentes públicos e ao mesmo tempo como mecanismo punitivo para aqueles que praticam ações delituosas.‖ (MELO, 2011, pág. 93).
Para Melo, as liberdades de expressão e pensamento são fundamentais
―para o exercício do jornalismo responsável‖. Secanella reforça este aspecto.
―(El periodismo de investigación) Busca el interés humano más que la pura información del momento. El investigador no desprecia la actualidad, pero elige de ella lo que puede interesar más de acuerdo con la responsabilidad social de la prensa. Su idea es informar de los hechos en un conexto que les dé sentido, no degradándolos. Ese periodismo ha experimentado un gran avance en los últimos años […]. La palabra investigación hace resonar aquí sus dos sentidos: el de la curiosidad científica y el de la aplicación del trabajo detectivesco. En realidad, científicos y policías andan a la búsqueda de lo mismo: la verdad oculta‖.2 (SECANELLA, 1986, pág. 15 e 16)
Há uma associação indissolúvel entre jornalismo investigativo e
democracia. O exercício livre e a consequente e incômoda prática rotineira do
jornalismo investigativo são indícios de maturidade democrática. O jornalismo
independente não viceja em regimes fechados, menos ainda o jornalismo
investigativo.
2 さO テラヴミ;ノキゲマラ キミ┗Wゲデキェ;デキ┗ラ H┌ゲI;が マ;キゲ Sラ ケ┌W ; ヮ┌ヴ; キミaラヴマ;N?ラが ラ キミデWヴWゲゲW エ┌マ;ミラく O ヴWヮルヴデWヴ ミ?ラ deprecia a realidade, mas elege desta realidade o que pode ser de mais interesse segundo a responsabilidade social da imprensa. Sua ideia é informar os fatos num contexto que lhes dê sentido, não os degradando. Este jornalismo experimentou um grande avanço nos últimos anos [...]. A palavra investigação ressoa aqui seus dois sentidos: o da curiosidade científica e o da aplicação do trabalho detetivesco. Na verdade, cientistas e policiais andam em busca do mesmo: a verdade ocultaざ.
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―La prueba para saber si un país cuenta hoy con un periodismo desarrollado pasa por la comprobación de si permite el trabajo de ese tipo de investigación periodística‖.3 (SECANELLA, 1986, pág. 16)
No ensaio ―Why democracy needs investivative journalism‖, Silvio
Waisbord, professor na Rutgers University (New Jersey, EUA), assim explica o
papel do jornalismo investigativo:
―Investigative journalism matters because of its many contributions to democratic governance. Its role can be understood in keeping with the Fourth Estate model of the press. According to this model, the press should make government accountable by publishing information about matters of public interest even if such information reveals abuses or crimes perpetrated by those in authority. From this perspective, investigative reporting is one of the most important contributions that the press makes to democracy. It is linked to the logic of checks and balances in democratic systems. It provides a valuable mechanism for monitoring the performance of democratic institutions as they are most broadly defined to include governmental bodies, civic organizations and publicly held corporations‖.4 (WAISBORD, 2001, pág. 2)
Waisbord inclui os órgãos governamentais, as organizações civis e as
empresas privadas entre as instituições que devem ser monitoradas pela
imprensa nas democracias. O papel central da mídia nas democracias
contemporâneas deixa as elites políticas frequentemente em apuros. As
denúncias de corrupção e de desmandos provocam reação da sociedade e
comoção pública. Waisbord lembra que a publicação de notícias sobre
irregularidades na política e na economia muitas vezes desencadeia inquéritos
parlamentares e judiciais.
3 さぷくくくへ A prova para se saber se um país conta com um jornalismo desenvolvido passa pela comprovação de se permite o exercício da invWゲデキェ;N?ラ テラヴミ;ノケゲデキI;ざく 4 さO テラヴミ;ノキゲマラ キミ┗Wゲデキェ;デキ┗ラ Y キマヮラヴデ;ミデW ヮラヴ I;┌ゲ; SW ゲ┌;ゲ マ┌キデ;ゲ IラミデヴキH┌キNロWゲ ヮ;ヴ; ; governança democrática. Seu papel pode ser compreendido conforme o modelo que considera a imprensa como Quarto Poder. De acordo com este modelo, a imprensa deve escrutinar o governo publicando informação sobre questões de interesse público, mesmo se tal informação revelar abusos ou crimes perpetrados por quem ocupa o poder. Sob esta perspectiva, o jornalismo investigativo é uma das contribuições mais importantes da imprensa à democracia, estando ligado à lógica de freios e contrapesos dos sistemas democráticos. Ele fornece um mecanismo valioso de monitoramento da atuação de instituições democráticas - que, em uma definição mais ampla, inclui órgãos governamentais, organizações civis e empresas de capital ;HWヴデラざく
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―In cases when government institutions fail to conduct further inquiries, or investigations are plagued with problems and suspicions, journalism can contribute to accountability by monitoring the functioning of these institutions. It can examine how well these institutions actually fulfill their constitutional mandate to govern responsibly in the face of press reports that reveal dysfunction, dishonesty, or wrongdoing in government and society. At minimum, investigative reporting retains important agenda-setting powers to remind citizens and political elites about the existence of certain issues. There are no guarantees, however, that continuous press attention will result in congressional and judicial actions to investigate and prosecute those responsible for wrongdoing. Investigative journalism also contributes to democracy by nurturing an informed citizenry. Information is a vital resource to empower a vigilant public that ultimately holds government accountable through voting and participation. With the ascent of media-centered politics in contemporary democracies, the media have eclipsed other social institutions as the main source of information about issues and processes that affect citizens' lives‖.5 (WAISBORD, 2001, pág. 2)
Em depoimento para um estudo da Global Investigative Journalism
Network (organização que reúne associações de jornalistas de todo mundo)
sobre o impacto do jornalismo investigativo, o economista Joseph Stiglitz,
Prêmio Nobel de economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial,
enxerga este tipo de reportagem como parte do mecanismo que as sociedades
necessitam para se precaver contra eventuais abusos. "O jornalismo
investigativo é absolutamente essencial".
5 さEマ I;ゲラゲ Wマ ケ┌W キミゲデキデ┌キNロWゲ ェラ┗Wヴミ;マWミデ;キゲ a;ノエ;マ Wマ IラミS┌┣キヴ キミ┗Wゲデキェ;NロWゲが ラ┌ Wノ;ゲ estão impregnadas por problemas e suspeitas, o jornalismo pode contribuir para a fiscalização monitorando o funcionamento dessas instituições. Ele pode examinar quão bem elas de fato cumprem seu papel constitucional para governar com responsabilidade frente à publicação de reportagens que revelam disfunção, desonestidade ou transgressões no governo e na sociedade. No mínimo, o jornalismo investigativo detém importantes poderes de agendamento (ou "agenda-setting") para lembrar cidadãos e elites políticas sobre a existência de certas questões. Não há garantias, porém, de que a atenção contínua da imprensa resultará em ações judiciais ou do Legislativo para investigar e processar responsáveis por desvios. O jornalismo investigativo também contribui para a democracia ao cultivar uma cidadania informada. Informação é um recurso vital para dar poder a um público vigilante que, em última instância, fiscaliza o governo por meio do voto e da participação. Com a ascensão da política midiática nas democracias contemporâneas, os meios de comunicação eclipsaram outras instituições sociais como principal fonte de informação a respeito de questões e ヮヴラIWゲゲラゲ ケ┌W ;aWデ;マ ; ┗キS; Sラゲ IキS;S?ラゲざく
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O mesmo estudo do GIJN – ―Investigative Impact‖ – traz alguns
exemplos do impacto recente do jornalismo investigativo em diversos países.
―There is no shortage of case studies. Consider just a few examples we've assembled: In September 2007 a Philippine court convicted the country‘s former president, Joseph Estrada on charges of corruption. In 2010 Britain‘s bribery laws were reformed following revelations about wrongdoing at BAE Systems, one of the world‘s biggest arms companies. In the spring of 2013, governments around the world stepped up efforts to take on offshore-havens used for tax avoidance by big corporations and the wealthy.
These stories vary based on time, location, and the scope. But they hold one element in common: none of them could have happened without investigative journalists. It was the tenacious work of the Philippine Center for Investigative Journalism that led to Estrada's impeachment. It was The Guardian‘s team that unraveled the secret channels of bribery set up by BAE. And it was the collaboration of more than 110 journalists, led by the International Consortium of Investigative Journalists, that exposed the hidden dealings of off-shore companies‖.6 (GIJN, 2014)
O estudo destaca a importância da contribuição da imprensa apesar dos
problemas que a pressionam.
―The work is difficult. Investigative journalists face a litany of challenges -- legal harassment, imprisonment, physical threats, uninterested publishers, corrupt owners, a lack of resources, and scarce funding. Yet the journalists keep pushing, and the practice continues to spread worldwide. Why? Because in-depth, watchdog reporting is indispensable
6 Não faltam estudos de caso. Consideremos apenas alguns exemplos que reunimos: em setembro de 2007, um tribunal filipino condenou o ex-presidente do país Joseph Estrada por corrução. Em 2010, a legislação sobre suborno da Grã-Bretanha foi reformulada com base na descoberta de malfeitos na BAE Systems, uma das maiores fabricantes de armamentos do mundo. Na primavera de 2013, diversos governos intensificaram esforços para enquadrar paraísos fiscais usados por grandes corporações e por milionários para fins de evasão fiscal.As histórias variam no tempo, localização e escopo, mas têm um elemento em comum: nenhuma delas teria acontecido sem jornalistas investigativos. Foi o tenaz trabalho do Centro Filipino de Jornalismo Investigativo que levou ao impeachment de Estrada. Foi a equipe do Guardian que revelou os canais secretos de suborno construídos pela BAE. E foi a colaboração de mais de 110 jornalistas, reunidos no ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), que expôs os negócios ocultos das companhias offshore. revelou os canais secretos de suborno construídos pela BAE. E foi a colaboração de mais de 110 jornalistas, reunidos no ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), que expôs os negócios ocultos das companhias offshore.
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for any healthy and open society. By holding the powerful accountable and monitoring the performance of public institutions, investigative journalism contributes to building and maintaining vibrant democracies‖. 7 (GIJN, 2014)
Pesquisa feita pela Transparency International com 3 mil executivos de
13 setores da economia em 30 países em 2012 mostrou que metade deles
acredita que o jornalismo investigativo é uma forma eficaz para acabar com a
corrupção no setor privado. No Brasil, este percentual chega a 70%.8
Jànis Kàrklins, Diretor-Geral Adjunto para Comunicação e Informação da
UNESCO, assim sintetiza a importância do jornalismo investigativo ao
apresentar um manual de prática difundido em vários idiomas:
―O Jornalismo Investigativo implica em trazer à luz questões que permaneciam ocultas, seja deliberadamente por uma pessoa em uma posição de poder, ou acidentalmente, por trás de uma massa desconexa de fatos e circunstâncias – e a análise e apresentação de todos os seus fatos relevantes ao público. Dessa forma, o jornalismo investigativo contribui crucialmente para a liberdade de expressão e a liberdade de informação, que estão no coração do mandato da UNESCO. O papel que a mídia pode desempenhar como uma guardiã é indispensável para a democracia, e é por esse motivo que a UNESCO apoia totalmente as iniciativas para fortalecer o jornalismo investigativo em torno do mundo.‖. (HUNTER, 2013, pág. 1)
2.1 – Dos muckrakers ao Collorgate
Há registros isolados de reportagens em diversos países, desde o
século 18, que podem ser consideradas investigativas por anteciparem 7 O trabalho é árduo. Jornalistas investigativos têm de lidar com um rosário de provações e
privações: assédio legal, prisão, ameaças físicas, desinteresse (ou falta de lisura) dos donos dos
veículos de comunicação, falta de recursos financeiros e não-financeiros. Entretanto, esses
profissionais continuam trabalhando e o jornalismo investigativo só faz crescer e se espalhar.
Por quê? Porque reportagens aprofundadas sobre o poder público são indispensáveis em
qualquer sociedade saudável e aberta. Porque ao obrigar poderosos a prestar contas de seus
atos e monitorar o desempenho de instituições públicas, o jornalismo investigativo contribui
métodos e objetivos que depois se tornariam rotinas no jornalismo e por se
diferenciarem dos textos marcados pelo partidarismo e pelo subjetivismo.
(MARSHALL, 2011, págs. 3-26) Mas a primeira onda de reportagens de
denúncias contra poderes políticos e econômicos com base em investigações
sistemáticas, aprofundadas e reveladoras ocorre na virada do século 19 para o
século 20 nos Estados Unidos.
O país vivia um ciclo de expansão que entrou para a história como a Era
Progressista. (KARNAL, 2007, págs. 175-195) Foi um período marcado, por
um lado, pela explosão urbana, pelas correntes de imigração massivas, pela
rápida industrialização e por grandes investimentos em mobilidade, com as
construções das redes de ferrovias. Mas foi também um período em que
ficaram mais evidentes mazelas como a forte exploração da força de trabalho
desorganizada e a segregação de negros e índios. A ideologia da supremacia
branca e o capitalismo selvagem geraram um ambiente segregacionista e de
exclusão social.
Neste cenário de construção da hegemonia americana surgiu uma
imprensa reformista, constituída principalmente por revistas, voltada para a
investigação de políticos e de grandes conglomerados econômicos e para a
denúncia de violações de direitos e de corrupção política e econômica. São
desta época reportagens que expõem os trustes, os grandes monopólios,
fraudes empresariais, condições de trabalho abjetas, capitalismo selvagem,
corrupção no Congresso nacional e em administrações locais, injustiças
sociais, privilégios de classe e racismo. (SECALLA, 1986, págs. 51-53;
REYES, 1996, págs. 16-17)
Incomodado com reportagens que acusavam de corrupção políticos de
sua base de apoio no Senado, o presidente Theodore Roosevelt comparou
estes jornalistas a muckrakers, trabalhadores que chafurdam a sujeira com
ancinhos. O rótulo pejorativo, no entanto, foi absorvido pelos próprios
jornalistas, que o adotaram e lhe emprestaram uma conotação positiva,
semelhante a watchdog (cão de guarda), ambas igualmente usadas nos
Estados Unidos para designar repórteres investigativos. Foi uma era de ouro
P á g i n a | 22
do jornalismo americano, que começa a declinar com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918).
Duas reportagens marcaram o período e exemplificam bem o foco dos
repórteres. Em março de 1906 a revista Cosmopolitan publicou uma série
produzida por David Graham Phillips sobre corrupção no Senado dos Estados
Unidos. Foi esta reportagem que provocou o comentário ácido de Roosevelt.
Antes, em novembro de 1902, Ida M. Tarbell publicou na McClure‘s Magazine
uma série sobre a história da Standard Oil que resultou numa lei anti-truste e
na fragmentação da gigante em várias empresas menores. (REYS, 1996, págs.
37-44)
Nas décadas seguintes, a reportagem investigativa encolhe nos Estados
Unidos, até uma nova explosão a partir de Watergate, em 1972. (MARSHALL,
2011, págs. 25-26) As investigações dos repórteres do Washington Post
culminaram com o impeachment do presidente Richard Nixon em 1974 e
passaram a ser consideradas um marco no jornalismo mundial. Watergate deu
visibilidade para um tipo de trabalho que não era novo, mas incomum – a
reportagem investigativa.
O caso começou, em junho de 1972, com um fato que parecia apenas
policial, a invasão da sede do Partido Democrático no edifício Watergate, em
Washington. A descoberta em seguida de que entre os invasores estavam um
membro do Comitê de Reeleição do então presidente Richard Nixon e ex-
agentes da CIA fez com que a apuração continuasse até a descoberta de que
era uma ação de sabotagem, não era uma ação isolada e tinha elos com a
campanha eleitoral de Nixon. A Casa Branca tentou abafar o caso e intimidar
testemunhas e a imprensa. Ao se comprovar que os principais responsáveis
eram homens de confiança de Nixon. Processado pela Câmara acusado de
obstrução da Justiça, Nixon renunciou em 8 de agosto de 1974. O caso
Watergate foi contando em detalhes pelos dois principais responsáveis pelas
coberturas jornalísticas, os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, em
―Todos os homens do presidente‖, publicado em 1974 nos Estados Unidos e
em seguida filmado.
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Foi um período de ampla liberdade de expressão nos Estados Unidos,
num ambiente de efervescência política e cultural que tinha como pano de
fundo a Guerra do Vietnam e os movimentos da contracultura e pelos direitos
civis. (KARNAL, 2013, págs. 235-253)
Neste mesmo período em que os Estados Unidos assistiam a um
renascimento do jornalismo comprometido com a revelação de desmandos do
poder – inclusive do poder presidencial num país onde o primeiro mandatário é
um dos homens mais poderosos do mundo – o Brasil vivia o auge de uma
ditadura militar e a imprensa estava sob censura. Há poucos registros de
reportagens daquele período que podemos classificar como investigativas. O
quadro começa a mudar com o declínio do poder dos militares e o fim da
censura prévia e da prisão de jornalistas. (ABREU, 2002)
Há dois marcos importantes na curta história do jornalismo investigativo
no Brasil: as reportagens sobre os atentados de direita no começo dos anos
1980, principalmente o caso que ficou conhecido como do Riocentro (1981), e,
já na década de 1990, o Collorgate, processo iniciado em 1992 e que terminou
com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello no mesmo ano.
(MOLICA, 2005, págs. 271-299; CONTI, 1999)
O jornalismo investigativo tem a responsabilidade de colocar uma lupa
nos que detém alguma forma de poder e de identificar, através métodos éticos,
casos de abuso de poder, de corrupção, de desvios de recursos públicos, de
violações de direitos humanos. E não visa apenas o poder político, exercido
pelos governos e partidos, mas também corporações sindicais, grandes
conglomerados, empresas privadas, grupos religiosos, entidades civis – enfim,
toda a sorte de poder mal exercido.
Estudá-lo significa entender o processo de construção da democracia,
da cidadania e da imprensa comprometida com a fiscalização séria, técnica,
rotineira, dos poderes – de todos os poderes. As disciplinas História das
Comunicações e História do Jornalismo raramente contemplam esta prática.
Nos capítulos seguintes analisaremos o estado do estudo e do ensino de
história do jornalismo no Brasil e a importância de incorporar ao currículo da
graduação ou da pós-graduação a história do jornalismo investigativo – tanto
P á g i n a | 24
sob o ponto de vista da evolução da prática da apuração como do impacto que
vem tendo em relação ao controle dos poderes.
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CAPÍTULO 3
A HISTÓRIA ATRAVÉS DA IMPRENSA
O jornalismo tem o compromisso de mudar o mundo. Essa observação é
do veterano Alberto Dines, renovador da imprensa brasileira na década de
1960 e editor do Observatório da Imprensa. Ele escreveu recentemente uma
―Carta a um Jovem Jornalista‖, publicada na Revista da ESPM de
setembro/outubro de 2014, uma edição monotemática que tinha como roteiro
dos artigos a pergunta – ―Para onde vai o jornalismo?‖. Na carta, ao se dirigir
―aos jovens jornalistas e àqueles que não esqueceram que já foram jovens‖,
Dines ressalta a importância do aprendizado da história do jornalismo.
―Para mudar o mundo é indispensável uma pequena caixa de ferramentas e nela um apetrecho essencial: o conhecimento da história. Não me refiro à história da humanidade, que é disciplina obrigatória para todos os que fazem parte dela. A história que você deve, obrigatoriamente, conhecer é a história do jornalismo. Ou melhor: como o jornalismo vem mudando o mundo antes mesmo de chamar-se jornalismo‖. (DINES, 2014, págs. 22-23)
Em outro trecho, Dines volta a realçar a importância do conhecimento da
evolução da imprensa.
―Sonhamos com a excelência jornalística, mas deixamos de lado o percurso para alcançá-la. Aqui e alhures. Discutimos as novas tecnologias, mas não prestamos atenção ao impacto que causaram as anteriores – a partir do estilete, passando pela pena de ganso, o lápis, a câmera fotográfica, o telégrafo, o transistor. [...] jornalismo é continuidade, movimento, construção progressiva. [...] Portanto, questione, remexa, desencave o passado do seu ofício. Depois, devidamente instrumentado e consciente, goze plenamente todas as delícias dos gadgets de Steve Jobs‖. (DINES, 2014, pág. 25)
E por que é tão importante o ensino da história do jornalismo? Antes de
enumerar as razões que o justificam, devem-se distinguir dois campos de
estudos quando tratamos do jornalismo como referência histórica.
O primeiro campo é a história da imprensa – sua evolução tecnológica,
industrial e comercial, seus principais veículos e personagens, a criação de
gêneros, narrativas e apresentação gráfica.
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Outro campo de estudo é o da história na imprensa – a imprensa como
fonte, como documento – e o papel que esta imprensa exerceu na história.
São campos complementares.
3.1- Os jornais como fontes de informações históricas
A aceitação dos jornais como fonte documental de informação histórica
por parte dos historiadores profissionais é relativamente recente, data da
segunda metade do século 20. Mas hoje parece não haver mais dúvidas em
relação à sua importância.
Na introdução ao breve estudo ―Imprensa e História do Brasil‖, que
publicou em 1988, a historiadora Maria Helena R. Capelato cita Wilhelm Bauer
para lembrar que o jornal é ―uma verdadeira mina de conhecimento‖. Segundo
ela, é
ideia
econo . (CAPELATO, 1988, pág. 21).
Capelato distingue, entre os historiadores brasileiros até a primeira
metade do século 20, dois posicionamentos antagônicos em relação ao papel
documental dos jornais: ―o desprezo por considerá-lo fonte suspeita ou o
enaltecimento por encará-lo como repositório da verdade. Neste último caso a
notícia era concebida como relato fidedigno do fato‖. E ela conclui: ―As duas
posturas são contestáveis. O jornal não é um transmissor imparcial e neutro
dos acontecimentos e tampouco uma fonte desprezível porque permeada pela
subjetividade‖.
Pensando nos historiadores, Capelato observa que os jornais podem ser
fontes de informação para pesquisadores com objetivos diversos.
―Há muitas maneiras de se estudar a história das ideias políticas e sociais através da imprensa. [...] Os pesquisadores que se dedicam às análises político-ideológicas privilegiam os editoriais e artigos que constituem, por excelência, a parte opinativa do jornal. [...] Os jornais oferecem vasto material para o estudo da vida cotidiana. Os costumes e
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práticas sociais, o folclore, enfim, todos os aspectos do dia a dia estão registrados em suas páginas. [...] O noticiário tem grande importância para as investigações históricas. É utilizado nas análises econômicas, nos estudos sobre as condições de vida, relações e lutas sociais‖. (CAPELATO, 1988, págs. 34-35)
3.2- A importância do estudo da história da Imprensa no Brasil
A socióloga e historiadora Alzira Alves de Abreu também registra o
interesse tardio dos historiadores pela imprensa. Mas ela já não se refere
apenas à resistência ao uso dos jornais e da imprensa em geral como fonte de
informação confiável para os historiadores. Ela enfoca o estudo histórico da
própria imprensa.
Na sua introdução ao livro ―A imprensa em transição – o jornalismo
brasileiro nos anos 50‖, ela identifica este interesse a partir da década de 1970,
com a introdução de novas linhas de pesquisas como a história das
mentalidades, a história da sociabilidade e o reavivamento da história política e
da história da cultura. Abreu enumera algumas hipóteses para o desinteresse
até os anos 1970.
―As razões para a ausência de estudos abrangentes sobre a imprensa, o jornalismo e os jornalistas (até os anos 1970) podem estar ligadas, em parte, à própria concepção e aos métodos da história que predominaram até as últimas décadas. Durante muito tempo, só era possível fazer história por meio da reconstituição do passado. O historiador precisava de uma distância no tempo para poder analisar ‗objetivamente‘, sem paixões, o seu objeto de estudo. A aceitação da ‗história do tempo presente‘, como uma área possível de análise pelo historiador, só ocorreu nos últimos anos‖. (ABREU, 1996, págs. 7-8)
Além de concepção e método, ela aventa outra razão para este
reconhecimento tardio – o viés ideológico.
―Na reconstituição do passado, outra razão que pode explicar o desinteresse do historiador pela imprensa como tema em si mesmo é o fato de ela ser geralmente considerada subordinada e reprodutora de um discurso ideológico dominante. Ela se apoiaria em fontes que representam as instituições detentoras de poder e os interesses organizados. Não lhe é atribuído papel de construtora do próprio fato que divulga. Nessa concepção, baseada na teoria da dominação, perde-se de vista os casos em que a mídia tem a iniciativa do processo de definição e é provocadora de um acontecimento. Basta lembrar aqui,
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como exemplo brasileiro, o papel que ela desempenhou na ascensão do candidato Fernando Collor de Mello à Presidência da República e no seu posterior afastamento do poder, para deixar claro o que quero dizer‖. (ABREU, 1996, pág. 8)
Assim Abreu destaca a importância da imprensa em 1996, já no final do
período que se convencionou chamar de transição democrática, entre o fim do
regime militar e a rotina de transmissão do poder presidencial.
―No período atual, de formação de uma democracia de massas, a informação é indispensável como suporte aos partidos políticos, sindicatos, municipalidades, associações civis etc. A mídia tem assim, cada vez mais, lugar de destaque no sistema político e está comprometida, junto com os demais atores sociais, na construção de uma sociedade democrática. [...] O historiador não pode ignorar que a mídia é parte do jogo político e da própria construção do acontecimento histórico‖. (Idem, pág. 8)
Para Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca, ―a nação brasileira
nasce e cresce com a imprensa. Uma explica a outra. Amadurecem juntas. [...]
A imprensa é, a um só tempo, objeto e sujeito da história brasileira‖. Para elas,
―os impressos que por aqui circularam em duzentos anos não só testemunham, registram e veiculam nossa história, mas são parte intrínseca da formação do país. Em outras palavras: a história do Brasil e da imprensa caminham juntas, se auto explicam, alimentam-se reciprocamente, integrando-se num imenso painel‖. Em outro trecho elas defendem que ―a história da imprensa é irmã siamesa da cidadania, do espaço público compartilhado e da democracia‖. (MARTINS, 2008, pág. 8)
É interessante observar como os próprios jornalistas enxergam o papel
histórico da Imprensa. Na apresentação da coletânea de primeiras páginas do
jornal O Estado de S. Paulo – ―Páginas da História – os fatos que marcaram o
país e o mundo, expostos nas capas históricas do jornal O Estado de S. Paulo‖
– seu então diretor, Ruy Mesquita, assim descreve a trajetória do diário:
―Os muitos anos de existência dão ao Estado, o jornal mais influente do Brasil, uma condição única: a de testemunha viva e participante de um período que moldou o País e o mundo tais como os conhecemos hoje. Nas páginas do Estado, como o leitor vai comprovar neste livro, a História pulsa no texto dos jornalistas que a viveram, que assistiram aos grandes acontecimentos, que sofreram com as grandes tragédias, que exultaram com as grandes conquistas e se emocionaram com as grandes transformações.
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―A narrativa realista e objetiva desses profissionais – escrita sob o impacto dos fatos, mas sempre complementada pelo comentário crítico e opinativo do editorial que enriquece o processo histórico-dialético – já constitui, há muito tempo, matéria-prima fértil para pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Neste livro o leitor tem a oportunidade de pôr as mãos ele mesmo, sem intermediários nem interpretações, em uma amostra desse acervo extraordinário.
―É com imenso prazer – e indisfarçável orgulho – que o Estado compartilha com os leitores o maior patrimônio de que dispõe: sua própria história‖. (OESP, 2008, Apresentação)
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CAPÍTULO 4
O ESPAÇO DO JORNALISMO NA COMUNICAÇÃO
Antes de abordar o estágio do ensino do jornalismo no Brasil é relevante
expor a discussão que mobilizou professores nos últimos anos. Os docentes
das faculdades de Comunicação podem ser divididos, grosso modo, em dois
grandes grupos que divergem em relação aos rumos do ensino de Jornalismo.
Os que dão ênfase aos estudos teóricos de Comunicação Social – o que pode
provocar um distanciamento do mercado – e os que priorizam a formação para
o mercado – o que os pode levar a negligenciar a formação intelectual.
Esta divergência tem pelo menos duas décadas, mas ficou mais
evidente a partir de 2009 com a abertura da discussão pública convocada pelo
Ministério da Educação para a aprovação de Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Curso de Graduação em Jornalismo. A discussão deixou claro o embate
entre duas concepções e seus desdobramentos pedagógicos.
José Salvador Faro, historiador e professor de Jornalismo da
Universidade Metodista de S. Paulo, tem um estudo (―Imediatismo e formação
cultural no ensino de Jornalismo‖) que ajuda a entender os principais
argumentos de cada corrente. Ele as intitula corrente teórico-pragmático e
corrente teórico- estruturante.
―A primeira das correntes a animar a discussão em torno dos trabalhos da comissão pode ser aqui denominada ‗teórico-pragmática‘. É aquela que, desde o final dos anos 1990 – quando estiveram em debate as diretrizes curriculares que vigoram ainda hoje (agosto de 2013) –, entende o jornalismo como uma área de forte especificidade no campo teórico e no campo de suas práticas, dotada de personalidade própria, tanto na produção do conhecimento quanto no terreno de sua operacionalidade‖. (FARO, 2013, pág. 47)
São professores que propõem a desvinculação do estudo do jornalismo
da área de comunicação. Esta linha de pensamento defende a autonomia dos
cursos de jornalismo em relação aos cursos de comunicação social.
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O Brasil começou a se preocupar com a formação universitária de
jornalistas na primeira década do século 20. O ensino de jornalismo só é
oficializado na década de 1940 com a abertura das duas primeiras escolas em
São Paulo (1947) e no Rio (1948). (BRASIL, Relatório, págs. 7-9) A partir da
década de 1970, no entanto, e ao longo do regime militar, o jornalismo passou
a ser uma das habilitações dos cursos de comunicação social – assim como a
publicidade, a editoração e o cinema. Esta concepção, depois revista por se
mostrar equivocada, seguia a orientação da UNESCO que defendia a criação
de ―comunicadores polivalentes‖. (Idem, págs. 9-13)
Segundo Faro, a corrente
―entende o jornalismo como uma área de forte especificidade no campo teórico e no campo de suas práticas, dotada de personalidade própria, tanto na produção do conhecimento quanto no terreno de sua operacionalidade‖. (FARO, 2013, pág. 47)
É a defesa, portanto, da autonomia dos cursos de jornalismo em relação
aos programas de comunicação social.
A corrente teórico-estruturante, explica Faro, é contrária ao
desmembramento do jornalismo da área de comunicação. O principal
argumento desta corrente contesta a ideia de que o jornalismo desfruta de uma
natureza própria e quase exclusiva.
―Neste sentido, as razões dizem respeito a uma observação de peso: por maiores que sejam suas particularidades operacionais e profissionais, o jornalismo é um fenômeno cultural com larga abrangência entre aqueles que se situam nos processos comunicacionais, razão que o leva a integrar uma área ampla de apreciação científica e filosófica. Tratá-lo em tal peculiaridade, de forma que essa relação com um campo fenomênico ficasse diluída, mitigada ou eventualmente desaparecesse nos cursos, teria como resultado um acentuado empobrecimento de sua própria compreensão ontológica e, por consequência, de suas práticas e compromissos sociais‖. (FARO, 2013, pág. 49)
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo
diretrizes (Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Educação, de 27 de
setembro de 2013), em vigência desde 2014, consagraram o princípio da
especificidade do jornalismo em relação à comunicação de massa. A Comissão
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de Especialistas criada pelo MEC em 2009 assim se pronunciou em seu
Relatório que serviu de base para o processo de instituição das Diretrizes:
―A imposição do Curso de Comunicação Social de modelo único, em substituição ao Curso de Jornalismo, teve consequências prejudicais para a formação universitária da profissão. Ocorre o desaparecimento de conteúdos fundamentais, como Teoria, Ética, Deontologia e História do Jornalismo, ou sua dissolução em conteúdos gerais da Comunicação, que não respondem às questões particulares suscitadas pela prática profissional‖. (BRASIL, Relatório, 2013, pág. 11)
Ainda segundo o Relatório, as discussões teóricas ganharam
―crescente autonomia em relação às práticas da comunicação, na direção de se tornar uma disciplina estritamente crítica, da área das Ciências Humanas, e não mais da área das Ciências Aplicadas. Em consequência, passou a não se reconhecer legitimidade no estudo voltado ao exercício profissional, desprestigiando a prática, ridicularizando os seus valores e se isolando do mundo do jornalismo.‖ (Idem, pág. 12).
As Diretrizes dão autonomia aos cursos de jornalismo, criam o
bacharelado em jornalismo (em contraposição à comunicação social com a
habilitação em jornalismo) com cursos de graduação plena, dão autonomia aos
projetos pedagógicos e flexibilizam a formatação curricular. Com isso, esperam
adequar a formação dos jornalistas à complexidade da sociedade atual e às
novas exigências profissionais através de uma grade interdisciplinar e de uma
maior integração entre teoria e prática.
As faculdades de Comunicação e Jornalismo iniciam, portanto, um
período de adaptação às novas diretrizes. Como a Constituição Federal de
1988 lhes garante, no seu artigo 207, autonomia didático-científica, é de se
prever que este processo seguirá rumos diversos, de acordo com o
entendimento predominante no corpo docente de cada faculdade. As
divergências, portanto, devem persistir, embora o Relatório que deu origem às
Diretrizes valorize a formação específica do jornalista.
―O Jornalismo é uma profissão reconhecida internacionalmente, regulamentada e descrita como tal no Código Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho. A Comunicação Social não é uma profissão em nenhum país do mundo, mas sim um campo que reúne várias diferentes profissões. [...] Desta forma, é inadequado considerar o Jornalismo como habilitação da Comunicação Social, uma vez que esta,
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como profissão, não existe, assim como não existe uma profissão genérica de Saúde‖. (Idem, pág. 9)
4.1 - Imprensa, um capítulo na história das comunicações
É inquestionável a importância de uma visão histórica sobre o
desenvolvimento dos meios de comunicação, e não apenas da Imprensa. Mas
as escolas que adotam como referência a Comunicação Social, e não o
Jornalismo, correm o risco de minimizar o papel da História da Imprensa,
indispensável na formação dos futuros profissionais.
A História da Imprensa é apenas um capítulo na História das
Comunicações, mas um capítulo importante e que tem vida própria – como tem
vida própria a História do Teatro para os que vão fazer dramaturgia, ou a
História da Fotografia, para os fotógrafos profissionais.
Roger Parry, jornalista inglês e mestre em Literatura, criou um diagrama
que ajuda a entender a evolução dos meios ao longo da história.
―A ascensão da mídia não se deu de maneira ordenada nem uniforme. As eras sucederam-se sem datas definitivas de início e fim. Cada nova mídia não vem apenas substituir as anteriores, mas também absorve alguns aspectos destas e modificam-nas. As antigas formas de mídia não desaparecem, evoluem. As novas formas adotam e adaptam as convenções passadas. Cada era disponibiliza meios mais ricos e amplos de comunicação que suas predecessoras‖. (PARRY, 2012, pág. 2)
O diagrama em formato de degraus ajuda a compreender este processo
histórico.
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Evolução dos principais formatos de comunicação10
Gráfica
c. 30.000 a.C. – Desenhos nas cavernas
1415 – Perspectiva
Oral
c. 10.000 a.C. – Discurso
534 a.C. – Teatro ateniense
Escrita
c. 3.500 a.C. – Placas de argila
c. 100 d.C. – Códices
Impressa
1450 – Bíblia de Gutenberg
1843 – Prensa rotativa
Auditiva
1876 – Telefone
1877 – Fonograma
1885 – Rádio
Visual
1839 – Fotografia
1895 – Cinema
1926 – Televisão
Digital
1971 – Internet
1993 – World Wide Web
2010 – iPad
10 (Diagrama de Parry, em PARRY, 2012, pág. 3)
P á g i n a | 36
A história da Imprensa é, portanto, apenas um capítulo da história das
comunicações, e um capítulo relativamente recente. Para os estudantes de
Comunicações, a história do surgimento, evolução, características e impacto de
cada uma destas mídias na sociedade é indispensável. Mas, para os
estudantes de Jornalismo é necessário, além deste conhecimento, um
mergulho maior na História da Imprensa.
Do mesmo Parry:
―É o jornal, mais do que qualquer outra mídia, que evoca imagens de poder político, furos jornalísticos e implacáveis barões da mídia. Os jornais criaram e quebraram políticos, transformaram a sociedade e amealharam imensa riqueza e influência para seus proprietários‖. (PARRY, 2012, pág. 133)
4.2 – A perspectiva interdisciplinar
Uma das disciplinas que o Relatório da Comissão de Especialistas do
MEC apontou como prejudicadas no modelo em que o jornalismo está
subjugado à comunicação social é a História do Jornalismo – assim como
Teoria, Ética e Deontologia. (BRASIL, Relatório, pág. 11)
As ―Competências cognitivas‖ alinhavadas pelas novas Diretrizes
destacam, no seu Artigo 5º, a importância da pesquisa e do estudo da história
na formação do jornalista. Elas estão assim descritas:
―a) conhecer a história, os fundamentos e os cânones profissionais do jornalismo;
b) conhecer a construção histórica e os fundamentos da cidadania;
c) compreender e valorizar o papel do jornalismo na democracia e no exercício da cidadania;
d) compreender as especificidades éticas, técnicas e estéticas do jornalismo, em sua complexidade de linguagem e como forma diferenciada de produção e socialização de informação e conhecimento sobre a realidade;
e) discernir os objetivos e as lógicas de funcionamento das instituições privadas, estatais, públicas, partidárias, religiosas ou de outra natureza em que o jornalismo é exercido, assim como as influências do contexto sobre esse exercício‖. (BRASIL, Diretrizes, pág. 2-4)
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A professora e historiadora Marialva Barbosa, identifica, em ―História
Cultural da Imprensa‖, cinco grandes conjuntos de estudos historiográficos
sobre a imprensa no Brasil. (BARBOSA, págs. 11-13)
O primeiro grupo se caracteriza por ―acompanhar o aparecimento e o
desaparecimento de periódicos, numa perspectiva essencialmente factual‖.
Neste grupo ela inclui o principal trabalho de síntese de história da imprensa no
país, o livro de Nélson Werneck Sodré, ―História da Imprensa no Brasil‖
(Editora Mauad, 4a edição, 1999; primeira edição de 1966). Embora ressalte o
pioneirismo e considere um trabalho de fôlego e uma referência, ela acredita
que os historiadores estarão presos ―aos limites da sua abordagem‖ se não
superarem, em termos teóricos e metodológicos, a perspectiva meramente
factual.
O segundo grupo de estudos ―concentra-se nas modificações e na
estrutura interna dos jornais‖. Na sua avaliação, esta abordagem, ―na maioria
das vezes, não estabelece conexões entre as características descritas e
observadas nos periódicos com as transformações históricas e sociais,
centrando a análise nas ações individuais dos atores envolvidos‖. (BARBOSA,
2010, pág. 12) Ela observa que ―quando a história aparece, surge apenas
como pano de fundo, como conjuntura na qual os personagens se
movimentam, e não como uma dimensão constitutiva dos seres e das suas
ações‖.
O terceiro conjunto ―aborda os jornais – e os meios de comunicação em
geral – como portadores de conteúdos políticos e de ideologias‖. Barbosa
observa que a maior parte destes trabalhos desconsidera fatores como as
condições de circulação, de recepção e de produção dos impressos, ―não
levando em conta os limites específicos da historicidade de cada tempo‖.
(Idem, ibidem, loc. cit.)
O quarto grupo é composto por pesquisas ―que abordam o contexto
histórico no qual os periódicos vão se inserindo do seu surgimento à sua
evolução e desaparecimento‖. Para Barbosa, estas pesquisas ―desconsideram
a dimensão interna dos meios, assim como a lógica própria do campo, como os
P á g i n a | 38
aspectos técnicos, discursivos e profissionais‖. (Idem, ibidem, loc. cit.)
Novamente a história aparece meramente como pano de fundo.
E o quinto grupo,
―que considera a história como um processo e, sobretudo, a imprensa na sua relação com o social. Ao mesmo tempo, visualiza-a como integrante de um processo comunicacional, no qual ganha importância o conteúdo, o produtor da mensagem e a forma como o leitor entende os sinais emitidos pelos impressos. [...] Essas pesquisas visualizam a história a partir de um espaço social considerado, interpretando os sinais que chegam até o presente a partir das perguntas subjetivas e do olhar, igualmente subjetivo, que se pode lançar ao passado‖. (Idem, ibidem, págs. 12 e 13).
É o caminho com o qual a autora se identifica. Segundo Barbosa, a
―tarefa‖ da história não é recuperar o passado, mas interpretá-lo.
―Para a teoria da história é fundamental o que aconteceu, como aconteceu e, sobretudo, por que aconteceu‖. [...] ―Pode-se acreditar que os fatos do passado ocorreram daquela forma e que fazer história é trazer o passado de volta para o presente. Ou pode-se acreditar que o passado está irremediavelmente perdido nele mesmo e o que fazemos nada mais é do que produzir interpretações. Preferimos acreditar nesta última premissa‖. (Idem, ibidem, pags. 13 e 14)
Ana Paula Goulart Ribeiro e Micael Herschmann consideram, no primeiro capítulo de ―Comunicação e História – interfaces e novas abordagens‖ (Ed. Mauad X, 2008), que os estudos sobre a história da comunicação no Brasil constituem ―um campo em construção‖, ainda relegados ―a um segundo plano‖. Eles reconhecem que há um aumento no interesse por temas históricos, mas que é ainda ―pouco sistemático‖.
―O que se constata – mas pouco se discute no meio acadêmico – é que construir um trabalho no âmbito da História da Comunicação (ainda que a partir de um objeto de estudo bastante delimitado) implicaria um empenho, por parte dos pesquisadores, na articulação de inúmeras informações, não só de diferentes esferas, sejam elas econômica, social, cultura e política, como também de distintos âmbitos – individual e coletivo. Ou melhor, exigiria a elaboração de estratégias metodológicas que permitissem correlacionar e analisar a dinâmica da vida social como um todo. [...]
―... é impossível fazer uma história da sociedade contemporânea sem realizar, em alguma medida, uma história da mídia‖. (RIBEIRO; HERSCHMANN, 2008, pág.17)
Eles indicam onze impasses teóricos e problemas metodológicos mais
comuns na produção de pesquisas e estudos sobre a História da Comunicação
P á g i n a | 39
e da Mídia no Brasil. Os problemas que apontam: em geral estudos regionais e
locais; ausência de pesquisa comparativa; poucos trabalhos de síntese; o
Sudeste como espelho do país; memorialismo; centralidade na ação individual;
privilégio na ruptura e temporalidade linear; caráter descritivo; predomínio da
História Política; desconsideração do âmbito externo; e desconsideração da
dimensão interna.
Nas considerações finais de seu artigo, Ribeiro e Herschmann defendem
que os estudos sobre história dos meios de comunicação adotem ―uma
perspectiva interdisciplinar (ou mesmo transdisciplinar)‖. ―Não é possível que
se continue apostando em que algum campo disciplinar sozinho e de forma
autônoma possa dar conta do conhecimento sobre a História da Comunicação‖,
concluem. (RIBEIRO; HERSCHMANN, 2008, pág. 23)
P á g i n a | 40
CAPÍTULO 5
A HISTÓRIA DO JORNALISMO INVESTIGATIVO
Nos cursos de Jornalismo, a História do Jornalismo Investigativo pode
ser adotada como um módulo da disciplina História do Jornalismo ou como
uma disciplina autônoma. Qualquer uma das alternativas enriquecerá o estudo
do jornalismo e o seu ensino.
Como vimos no capítulo anterior, há uma disputa acadêmica entre os
que defendem que o jornalismo deva ser um apêndice dos cursos de
comunicação e os que advogam a sua autonomia. Este embate tem reflexo na
definição das disciplinas curriculares, principalmente na definição do foco e
abrangência da história. O próprio MEC aponta, através de suas Diretrizes,
para os reais prejuízos que a predominância da Comunicação provocou no
ensino do jornalismo.
5.1 – Estudo de casos: ECO/UFRJ e ESPM Rio
Várias faculdades já adotam a disciplina História do Jornalismo em
substituição à História das Comunicações. Para melhor entender a concepção
desta disciplina, toma-se como exemplos os programas de duas faculdades do
Rio, uma pública tradicional e outra particular criada recentemente, ambas bem
conceituadas no mercado profissional: a Escola de Comunicação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) e o Curso de Jornalismo
da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do Rio.
Na ECO/UFRJ, a ementa define como objetivo ―entender as condições
econômicas, políticas e culturais que permitiram o surgimento e o
desenvolvimento dos meios de comunicação jornalísticos no Brasil‖. (ANEXO
1)
O curso de História do Jornalismo no Brasil da ESPM/Rio tem objetivo
parecido e enfatiza a meta de estimular a visão crítica.
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isto não está explicitado no conteúdo programático. A distribuição da carga
horária permite inferir que dificilmente haverá tempo para trabalhar estes
momentos históricos do jornalismo de forma sistemática e aprofundada.
5.2 – O equilíbrio entre teoria e prática.
O estudo da história à luz de reportagens investigativas tem a vantagem
de combinar a compreensão do contexto histórico (político, econômico, cultural,
social, empresarial) com o fazer jornalismo _a evolução das técnicas, métodos
e recursos da investigação jornalística. Cada reportagem ou série de
reportagem especial é um flagrante da conjuntura histórica e do estado da arte
da reportagem naquele momento.
Esta combinação de processo histórico com o modo de produção da
reportagem atende à principal preocupação das novas diretrizes, que assim
está resumida no Art. 9º: ―A organização curricular deverá valorizar o equilíbrio
e a integração entre teoria e prática durante toda a duração do curso [...]‖.
(BRASIL, Diretrizes, 27/09/2013, págs. 5-6)
Esta mesma preocupação está contemplada nos eixos que o artigo 6º
das Diretrizes definiu como nortes para a elaboração dos currículos
(destaques em negrito do autor):
―Em função do perfil do egresso e de suas competências, a organização do currículo deve contemplar, no projeto pedagógico, conteúdos que atendam a seis eixos de formação:
I - Eixo de fundamentação humanística, cujo objetivo é capacitar o jornalista para exercer a sua função intelectual de produtor e difusor de informações e conhecimentos de interesse para a cidadania, privilegiando a realidade brasileira, como formação histórica, estrutura jurídica e instituições políticas contemporâneas; sua geografia humana e economia política; suas raízes étnicas, regiões ecológicas, cultura popular, crenças e tradições; arte, literatura, ciência, tecnologia, bem como os fatores essenciais para o fortalecimento da democracia, entre eles as relações internacionais, a diversidade cultural, os direitos individuais e coletivos; as políticas públicas, o desenvolvimento sustentável, as oportunidades de esportes, lazer e entretenimento e o acesso aos bens culturais da humanidade, sem se descuidar dos processos de globalização, regionalização e das singularidades locais, comunitárias e da vida cotidiana.
P á g i n a | 44
II - Eixo de fundamentação específica, cuja função é proporcionar ao jornalista clareza conceitual e visão crítica sobre a especificidade de sua profissão, tais como: fundamentos históricos, taxonômicos, éticos, epistemológicos; ordenamento jurídico e deontológico; instituições, pensadores e obras canônicas; manifestações públicas, industriais e comunitárias; os instrumentos de autorregulação; observação crítica; análise comparada; revisão da pesquisa científica sobre os paradigmas hegemônicos e as tendências emergentes.
III - Eixo de fundamentação contextual, que tem por escopo embasar o conhecimento das teorias da comunicação, informação e cibercultura, em suas dimensões filosóficas, políticas, psicológicas e socioculturais, o que deve incluir as rotinas de produção e os processos de recepção, bem como a regulamentação dos sistemas midiáticos, em função do mercado potencial, além dos princípios que regem as áreas conexas.
IV - Eixo de formação profissional, que objetiva fundamentar o conhecimento teórico e prático, familiarizando os estudantes com os processos de gestão, produção, métodos e técnicas de apuração, redação e edição jornalística, possibilitando-lhes investigar os acontecimentos relatados pelas fontes, bem como capacitá-los a exercer a crítica e a prática redacional em língua portuguesa, de acordo com os gêneros e os formatos jornalísticos instituídos, as inovações tecnológicas, retóricas e argumentativas.
V - Eixo de aplicação processual, cujo objetivo é o de fornecer ao jornalista ferramentas técnicas e metodológicas, de modo que possa efetuar coberturas em diferentes suportes: jornalismo impresso, radiojornalismo, telejornalismo, webjornalismo, assessorias de imprensa e outras demandas do mercado de trabalho.
VI - Eixo de prática laboratorial, que tem por objetivo adquirir conhecimentos e desenvolver habilidades inerentes à profissão a partir da aplicação de informações e valores. Possui a função de integrar os demais eixos, alicerçado em projetos editoriais definidos e orientados a públicos reais, com publicação efetiva e periodicidade regular, tais como: jornal, revista e livro, jornal mural, radiojornal, telejornal, webjornal, agência de notícias, assessoria de imprensa, entre outros‖. (BRASIL, Diretrizes, 27/09/2013, pág. 4-5)
Os seis eixos apontam para a elaboração de currículos que equilibrem
teoria e prática e para uma base humanística sólida associada às habilidades
exigidas pela profissão. O primeiro eixo fala explicitamente em ―formação
histórica‖ e o segundo, em ―clareza conceitual e visão crítica sobre a
especificidade de sua profissão, tais como: fundamentos históricos [...]‖.
5.3 – História e Jornalismo, campos complementares
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A História do Jornalismo Investigativo deve contemplar, portanto, dois
campos de estudos que se complementam e atendem aos pré-requisitos das
Diretrizes de ―promover a integração teoria/prática e a interdisciplinaridade‖
(Art. 2º): pesquisa histórica (e seus fundamentos) e estudos de casos
concretos. Podemos assim pensar estes dois campos:
- O campo do estudo da imprensa a partir dos conceitos, métodos e
recursos do “multidiversificado universo da História” (BARROS, 2007,
pág. 200) – história política, história social, história econômica, história cultural,
história patrimonial – que ajudam a compreender o ambiente em que foram
produzidos os principais marcos da investigação jornalística; permite perceber
a importância da imprensa no processo histórico e a influência deste contexto
na evolução dos meios de comunicação; e estimula a própria imprensa a refletir
sobre o seu papel em cada momento histórico.
- E o campo da pesquisa e do estudo da produção, da edição e do
impacto destas reportagens. O estudo da evolução da reportagem
investigativa permitirá criar um fio condutor da história do jornalismo baseada
na assimilação de métodos mais sofisticados de apuração (abordagem
raramente contemplada por historiadores e jornalistas) e no ambiente em que
este jornalismo pôde florescer. (BERNSTEIN, 2014, pág. 9-23 e 397-405)
Mesmo a inexistência de jornalismo crítico, independente e investigativo em
determinadas épocas é sintoma importante para identificar o momento
histórico.
O estudo dos métodos e procedimentos de investigação de cada período
(o making of das reportagens) permite que a própria imprensa reflita sobre os
seus conflitos éticos e sobre a evolução de sua qualificação. Os jornalistas
dispõem hoje de recursos e ferramentas inimagináveis para os seus pares de
30 anos atrás. Os fundamentos da investigação jornalística são basicamente os
mesmos, mas houve uma nítida evolução no rigor com que são trabalhados e
aperfeiçoados com o objetivo de investigações mais precisas e eficazes.
A evolução investigação jornalística no Brasil começa a ser
documentada em livros recentemente lançados que reproduzem na íntegra
reportagens relevantes acompanhadas de comentários técnicos e históricos
P á g i n a | 46
sobre a produção e o período em que foram publicadas. (LOBATO, 2005;
MOLICA, 2005, 2007, 2010; VASCONCELOS, 2005, 2007) A narrativa de
como foram produzidas as reportagens contribui para o aperfeiçoamento das
técnicas de investigação e estimulam novas investigações. Vasconcelos nos
lembra de que cada repórter desenvolve suas próprias técnicas de apuração.
(VASCONCELOS, 2007, pág. 11). Mas, ao dividirem com outros profissionais e
com os estudantes de jornalismo suas experiências de acertos e erros, estes
autores estão criando condições para que o jornalismo de qualidade possa ser
difundido e seu valor social reconhecido.
A História do Jornalismo Investigativo é uma história de mudanças
contínuas no exercício da investigação, quase sempre impulsionadas pela
absorção de novos recursos tecnológicos, de contribuições metodológicas de
disciplinas científicas e de permanente abertura para experiências narrativas.
Esta evolução tem ocorrido no sentido de mais precisão e de maior
sensibilidade para os temas de interesse público e está refletida nas técnicas
de apuração, na capacidade de busca e leitura competente de documentos e
no domínio de temas complexos.
Uma iniciativa próxima deste modelo está sendo executada pelo
programa de pós-graduação em jornalismo investigativo da ESPM do Rio. Uma
das disciplinas – Ambiente Jornalístico – trabalhou, em 2014, a seguinte
programação ao longo de uma carga horária de 16 horas divididas em quatro
aulas:
Conceitos de jornalismo investigativo; Influência do jornalismo norte-americano: Muckrakers e Watergate; Contexto político e econômico em que o jornalismo investigativo floresce; História do Jornalismo Investigativo: Watergate e Collorgate; Evolução do jornalismo investigativo pós Collorgate; Ambiente político e econômico do jornalismo investigativo atualmente; Discussão sobre o trabalho final. (ANEXO 3)
Esta pode ser a base da disciplina, que comporta uma carga horária
maior para que mais períodos históricos e mais reportagens possam ser
estudados. É uma disciplina que permite o uso de diversos recursos
seminários, estudos de caso e o uso de recursos tecnológicos. (GIL, 2013) e
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que pode contar com uma crescente bibliografia historiográfica e de coletâneas
de reportagens e uma filmografia madura, que inclui filmes importantes como
―Todos os homens do presidente‖ (de Alan J. Pakula, 1976).
5.4 - O Modelo Muckraking
Há muitas contribuições a serem incorporadas à nascente história do
jornalismo investigativo. Uma delas vem dos Estados Unidos e ainda não foi
devidamente estudada no Brasil. O jornalista Mark Feldstein, professor da
School of Media and Public Affairs da George Washington University, criou um
modelo para tentar entender a dinâmica da explosão e do ocaso dos períodos
de intensa investigação jornalística na imprensa dos Estados Unidos. Ele parte
da constatação de que estes ciclos vêm como ondas, têm o seu apogeu e
depois esmorecem. Entre um ciclo e outro a imprensa vive longos períodos de
―docilidade‖.
O estudo ―A Muckraking Model – Investigative Reporting Cycles in
American History‖, publicado em The Harvard International Journal of
Press/Politics em 2006, é o resultado de uma pesquisa sobre os principais
ciclos de jornalismo investigativo nos Estados Unidos ao longo dos séculos 19,
20 e 21. Feldstein buscou padrões nestes ciclos para responder às seguintes
questões: por que em determinados períodos floresce com força este tipo de
jornalismo investigador e desafiador e por que em outros ele murcha?
Depois de estudar detalhadamente vários períodos da história da
imprensa americana e o seu contexto político, econômico, social, cultural e
empresarial (da indústria jornalística), ele formatou o que chamou de Modelo
Muckraking – uma referência ao jornalismo da primeira década do século
passado que assim foi pejorativamente rotulado por incomodar com suas
reportagens os poderes políticos e econômicos num período em que os
Estados Unidos expandiam, sem controle, sua economia e influência.
Investigative reporting has long been considered a vital bulwark of democracy as a check on wrongdoing in politics and public policy. But a century after an American president coined a pejorative word to describe it—―muckraking‖—exposé journalism has proved to be cyclical, waxing in
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some political periods and waning in others. While various studies have focused on the effects of investigative reporting, little scholarship has been written about its causes; and none has offered an overarching analysis that explains patterns of evolution over time. By using traditional historical methodology, this article traces the history of muckraking in America and proposes a unifying theory that explores its changes over the past two and a half centuries: a Muckraking Model based on supply and demand. This theory examines an important aspect of the intersection between press and politics and may have predictive value for the future as well as historical value about the past.11 (FELDSTEIN, 2006, pág.1)
Feldstein tenta fazer uma análise sistêmica do fenômeno para responder
por que aumenta e porque diminui o fluxo em diferentes momentos da história
americana. Ele avalia que em geral os ciclos de reportagem investigativa são
atribuídos a fatores políticos (Era Progressista, no caso dos muckrakers; luta
pelos direitos civis e Guerra do Vietnan, nas décadas de 1960/70). Acha pouco,
porque estas análises não levam em conta outros fatores, como a situação
econômica do país, o marco legal, a dinâmica social, os avanços tecnológicos,
a cena cultural e os fatores internos à indústria da comunicação. E se pergunta:
se o fator principal é o político, por que em outros períodos igualmente
turbulentos dos Estados Unidos, como durante a Grande Depressão (New
Deal), nos anos 1930, não houve uma onda de jornalismo investigativo?
Ele acha que a resposta pode estar numa observação do professor de
jornalismo da Northwestern University, David L. Protess: a convergência, no
caso dos muckrakers, de dois fenômenos – a demanda por informações sobre
11 O jornalismo investigativo tem sido há muito considerado um baluarte vital da democracia, uma vez que fiscaliza desvios na política e no setor público. Mas um século depois que um presidente norte-americano cunhou um termo pejorativo para descrevê-lo - "muckraking", ou, em tradução livre, "busca por sujeira" -, esse tipo de jornalismo provou ser cíclico, crescendo em alguns períodos políticos e minguando em outros. Enquanto diversos estudos se focaram nos efeitos do jornalismo investigativo, há pouca produção acadêmica sobre suas causas; e nenhuma delas ofereceu uma análise abrangente que explica os padrões de evolução da reportagem investigativa ao longo do tempo. Usando a metodologia histórica tradicional, este artigo traça a história do jornalismo investigativo nos Estados Unidos e propõe uma teoria unificada que explora suas mudanças ao longo dos últimos dois séculos e meio: um Modelo de Jornalismo Investigativo baseado em oferta e demanda. Esta teoria examina um aspecto importante da intersecção entre imprensa e política e pode fornecer perspectivas para o futuro, bem como atribuir valor histórico ao passado.
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os males da sociedade por parte de uma população de consumidores
alfabetizada; e uma competição nacional feroz entre os meios de comunicação
para suprir esta demanda. Esta convergência não ocorreu antes de 1900 e só
iria ocorrer novamente no final da década de 1960.
A partir desta observação que Protess elaborou, mas não desenvolveu,
Feldstein conclui que a reportagem investigativa atinge uma massa crítica
quando é alta a ocorrência de oferta de reportagens investigativas (estimulada
por novas tecnologias e pela concorrência entre os meios) com a demanda de
um público com ―fome‖ de revelações em tempos de turbulência. Este modelo
de pesquisa implica identificar os períodos de grande produção e aceitação de
reportagens de denúncia; em estudar as causas políticas, sociais e culturais
que provocaram este ambiente de vigilância; e associar aos fatores
econômicos, tecnológicos e legais que explicam o comprometimento
profissional de jornalistas e empresas jornalísticas.
Feldstein criou então um modelo com quatro categorias que ajudam a
classificar as diversas épocas históricas do jornalismo americano.
(FELDSTEIN, 2006, pág.10-11).
Na Categoria 1, tanto a demanda do público por reportagens de
denúncia como a sua oferta por parte dos meios de comunicação são altas.
São períodos em que a reportagem investigativa vive grandes momentos,
como no auge dos muckrakers, entre 1902 e 1910; e nas décadas de 1960 e
1970, durante a guerra do Vietnã e Watergate. Ele identifica nestas épocas a
combinação de agitações política, econômica e social, de um lado, e a oferta
de reportagens por parte da indústria jornalística nascente fortalecida com os
ganhos de escala e competitividade apoiados em novas tecnologias.
Na Categoria 2, a procura por jornalismo investigativo por parte da
sociedade é alta, mas a oferta por parte da imprensa é baixa. Como exemplos
ele cita a Era Populista (no século 19, entre o período de Reconstrução pós
Guerra Civil e a Era Progressista) e no New Deal (programa do presidente
Franklin Delano Roosevelt para enfrentar a Grande Depressão de 1929).
Nestes períodos, houve crises econômicas e turbulência política, mas imprensa
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tradicional, vivendo uma época de pouca concorrência, passou ao largo dos
problemas, segundo Feldstein.
Na Categoria 3 ocorreu o oposto. Houve grande atividade jornalística,
mas sem grande interesse por parte do público, mais interessado em
reportagens sensacionalistas do que em bom jornalismo. Para Feldstein, é o
que ocorre com a imprensa americana neste momento.
E na categoria 4 ocorrem carência de reportagens críticas e de
interesse por parte do público. São períodos, como os dos meados do século
19 e do século 20, que Feldstein identifica como períodos negros ("Dark Ages")
para o jornalismo investigativo.
O modelo pode ser aplicado, com adaptações, à realidade brasileira. É
um bom desafio para o estudo identificar de que forma este conjunto de fatores
contribuiu para ciclos de intensa produção jornalística crítica de qualidade –
como no Riocentro e no Collorgate – ou gerou períodos estéreis.
Nas conclusões, Feldstein defende que o modelo mostra que o
jornalismo investigativo ainda é uma exceção nos Estados Unidos, e não a
regra.
A century after Theodore Roosevelt coined the pejorative term ―muckrake,‖ adversarial journalism continues to offer an important check on wrongdoing by powerful individuals and institutions. For all its faults, serious and substantive investigative reporting remains one of the most vital functions of a free press, a bulwark of democracy that can bring about important societal changes peacefully. Understanding such journalism is a prerequisite to sustaining it.
A muckraking model based on supply and demand suggests that a critical mass of investigative reporting will once again occur in American society only if and when there is a confluence of two disparate historical forces: public demand, created by some combination of political, economic, and social turmoil; and media supply, most likely the result of new technologies and journalistic competition aided by a tolerant legal climate. If history is any guide, both of these divergent streams must come together simultaneously before society will experience the kind of muckraking heydays that previously occurred in other eras of American history. Until then, while the occasional journalistic dissident can be counted on to expose and oppose those in authority, such coverage seems destined to be the exception rather than the rule. In the
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meantime, in substance if not style, more docile journalism seems likely to prevail‖.12 (FELDSTEIN, 2006, pág. 12)
O mesmo vale para o Brasil.
12 さUマ ゲYI┌ノラ ;ヮルゲ TエWラSラヴW RララゲW┗Wノデ I┌ミエ;ヴ ラ デWヴマラ ヮWテラヴ;デキ┗ラ さマ┌Iニヴ;ニWざ ふエラテW WミデWミSキSラ Iラマラ さ;ケ┌キノラ ラ┌ ;ケ┌WノW ケ┌W キミvestiga e revela malfeitos de pessoas ou companhias ヮヴラWマキミWミデWゲざぶが ラ テラヴミ;ノキゲマラ IラマH;デキ┗ラ Iラミデキミ┌; ゲWミSラ ┌マ; キマヮラヴデ;ミデW aWヴヴ;マWミデ; SW controle sobre malfeitos de indivíduos ou instituições poderosas. Mesmo com suas falhas, a reportagem investigativa séria e consistente permanece como uma das funções vitais de uma imprensa livre, um baluarte da democracia que pode acarretar importantes mudanças sociais pacificamente. Compreender este jornalismo é pré-requisito para sustentá-lo (ou apoiá-lo). Um modelo de produção desse tipo de reportagem baseado em oferta e demanda indica que uma quantidade crítica de reportagens investigativas somente ocorrerá de novo na sociedade norte-americana quando (e se) houver a confluência de duas forças históricas díspares: demanda pública, criada pela combinação de agitações políticas, econômicas e sociais; e oferta de mídia, provavelmente resultante de novas tecnologias e concorrência jornalística apoiada em um contexto legal tolerante. Se a história dá alguma pista, essas correntes discordantes devem convergir antes que a sociedade experimente uma nova era dourada do jornalismo investigativo. Até lá, como podemos contar apenas com dissidentes jornalísticos ocasionais para expor e opor os ocupantes do poder, tal cobertura parece destinada a ser a exceção. Nesse período, em essência に se não em estilo -, é provável que um jornalismo mais dócil ヮヴW┗;ノWN;ざく
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A História do Jornalismo Investigativo – seja como disciplina autônoma,
seja como módulo de disciplina sobre a história do jornalismo ou da Imprensa –
pode vir a ser uma grande contribuição para a formação dos futuros jornalistas.
Ainda com pouco espaço nos currículos das faculdades brasileiras, a pesquisa
e o ensino da história do jornalismo investigativo, se bem formatados,
estimularão a reflexão sobre a prática profissional e o crescimento intelectual,
aliados a uma melhor compreensão do papel histórico do jornalismo.
O jornalismo investigativo é reconhecido, nos regimes democráticos,
como importante fator de pressão sobre os poderes públicos e privados –
pressão por transparência, por boa gestão dos recursos públicos e pela
defesa dos direitos humanos. Há uma história de pelo menos 200 anos de
contribuição da imprensa em vários países do mundo para a construção de
sociedades menos desiguais. Mas não é uma evolução linear, contínua. Há
momentos de efervescência política e social em que a imprensa participa de
forma ativa; e há momentos de completa omissão.
Como surgem os ciclos de grandes coberturas – como Watergate, nos
Estados Unidos na década de 1970, ou como o Collorgate, no Brasil dos anos
1990? Por que em vários períodos há silêncios e vazios por parte dos meios de
comunicação? Que coberturas jornalísticas rotineiras e grandes reportagens
podem nos ajudar a entender períodos históricos? De que forma o ambiente
político, social, econômico, cultural, empresarial pode provocar um
acompanhamento mais ou menos ativo da imprensa? E como as empresas e
os profissionais produziram estas coberturas? Há uma evolução no uso dos
recursos tecnológicos e nos fundamentos da apuração jornalística que as
influencie? Há uma evolução no comportamento ético da imprensa ao longo
destes períodos?
Estas são algumas das questões pertinentes que podem ajudar a
elaborar uma disciplina de História do Jornalismo Investigativo no ensino
superior, seja no nível de graduação, seja na pós.
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Em geral, as disciplinas de história das comunicações, do jornalismo ou
da imprensa priorizam o aparecimento e o desenvolvimento da indústria da
comunicação, a evolução tecnológica que gera novos meios e os perfis de
destacados profissionais e de meios que se notabilizaram por inovações ou
influência. Raramente tratamos da história das grandes coberturas e das
reportagens de impacto que marcaram épocas e que não podem ser
compreendidas apenas no contexto jornalístico.
O estudo do ambiente em que esta produção se desenvolve ou é
abafada por razões externas e internas à própria imprensa é um dos caminhos
possíveis para a elaboração da disciplina – ou do módulo. Os atuais currículos
tratam de vários destes aspectos, mas nem sempre de forma sistemática e
integrada.
A configuração que esta monografia sugere, baseada parcialmente no
Modelo Muckraking desenvolvido por Mark Feldstein, associa o estudo de
reportagens e de ciclos de grandes coberturas com o ambiente político,
econômico, social, cultural, empresarial que os envolve. O estudo das
reportagens e coberturas necessitam de um mergulho no modo de produção
jornalístico, no making of das investigações e nos modelos econômicos da
indústria jornalística para identificar os processos internos que criaram as
condições de emersão dos ciclos virtuosos e, por ausência, dos ciclos de
omissão.
Estes ciclos jornalísticos só podem ser compreendidos em toda a sua
complexidade se associado ao ambiente histórico que os condiciona e é por
eles influenciado. Assim, é fundamental o estudo das histórias (política,
econômica, social, cultural, empresarial) do momento pesquisado.
Esta monografia mostrou que há uma crise de poder global que também
atinge a imprensa tradicional e hegemônica, principalmente a mídia impressa.
O jornalismo voltado para a vigilância e os questionamento dos poderes
públicos e privados, no entanto, continua a ser reconhecido como um dos
instrumentos fundamentais nas democracias maduras e em construção. Há
uma exigência da sociedade de que este jornalismo seja cada vez mais preciso
e que seus profissionais estejam comprometidos com princípios éticos
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ancorados numa formação sólida, desprovida de preconceitos e em
permanente processo de atualização técnica e intelectual.
Em períodos como o que vivemos, de grande polarização política e
social, de questionamento do poder tradicional e de grandes mudanças no
mundo da economia e nos modelos de negócio, a difusão dos valores do
jornalismo investigativo é um grande desafio para os que acreditam na
importância do jornalismo de qualidade.
Um dos caminhos para a permanência destes valores e de estímulo para
que futuras gerações é o estudo e o ensino do que convencionamos chamar de
Jornalismo Investigativo.
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BIBLIOGRAFIA
ABREU, Alzira Alves de. A modernização da imprensa (1970-2000). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. 66 p.
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Fundação Getúlio Vargas Editora, 1996. 199 p.
BARBOSA, Marialva. História Cultural da Imprensa – Brasil 1900-2000. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2010. 262 p.
BARROS, José D’Assunção. História das Ideias – em torno de um domínio
historiográfico. Revista Locus da UFJF, Juiz de Fora, v.13, n.1, pág. 199-209,
Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicação - Disciplina: História do Jornalismo Professores: Ana Paula Goulart Ribeiro
1º sem. 2012
OBJETIVO: Entender as condições econômicas, políticas e culturais que permitiram o surgimento e o desenvolvimento dos meios de comunicação jornalísticos no Brasil.
PROGRAMA I. Três séculos sem imprensa II. A vinda da família real e o nascimento da imprensa nacional
- Correio Braziliense e Gazeta do Rio de Janeiro III. O fim da censura prévia e a proliferação de jornais políticos
- a imprensa republicana e abolicionista IV. O surgimento dos grandes jornais
- a imprensa de sensação - a imprensa feminina - as revistas ilustradas e de humor
V. O rádio no Brasil
- os primórdios da radiodifusão - a Rádio Nacional e o Repórter Esso
VI. O DIP e o controle dos meios de comunicação VII. Os Diários Associados de Assis Chateaubriand
- O Cruzeiro e o fotojornalismo - a TV Tupi e evolução da televisão
VIII. A modernização da década de 1950 - a reforma editorial do Diário Carioca - a reforma gráfica do Jornal do Brasil - jornalismo e política: Última Hora e Tribuna da Imprensa - populismo e sensacionalismo: O Dia e a Luta Democrática
X. A ditadura militar e o jornalismo sob censura - o crescimento das Organizações Globo - a expansão dos grupos Abril: a revistas Realidade e Veja - o apogeu da imprensa alternativa
XI. Jornalismo e redemocratização - a greve do jornalistas de 1979 e o Projeto Folha
- a informatização das redações
XII. Jornalismo hoje: reconfigurações
P á g i n a | 61
- o surgimento de um novo tipo de jornalismo popular: Expresso e Meia Hora
- o ambiente digital e os desafios da mídia tradicionais
BIBLIOGRAFIA ABREU, A. A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50. RJ, 1996.
ABREU, A., LATTMAN-WELTMAN, F. e KORNIS, M.A. Mídia e política no Brasil: jornalismo e ficção. RJ, FGV, 2003.
BAHIA, J. Jornal, História e Técnica: história da imprensa brasileira. SP, Ática, 1990.
BARBOSA, Marialva. História cultura da imprensa: Brasil に 1900-2000. RJ, Mauad X, 2007.
BRAGA, José Luiz. O Pasquim e os anos 70. Brasília, Ed. da UnB, 1991.
CALABRE, Lia. A era do rádio. RJ, Zahar, 2002.
CAPELATO. Os arautos do liberalismo: imprensa paulista 1920-1945. SP, Brasiliense, 1988.
_______.O Bravo Matutino - A imprensa e ideologia: o jornal Estado de São Paulo. São Paulo, Alfa Ômega, 1992.
COSTA, Cristiane. Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil (1904-2004). SP, Cia das Letras, 2005.
FARO, J. S. Revista Realidade, 1966-1968: tempo de reportagem na imprensa brasileira. Porto Alegre, Editora da Ulbra/AGE, 1999.
FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa operária no Brasil. SP, Ática, 1988.
GOLDENSTEIN, G. Do jornalismo política à indústria cultural. SP, Summus, 1987.
GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial: ideologia, propaganda e censura no Estado Novo. SP, Marco Zero/CNPq, 1990.
Jornal Nacional: a notícia faz história. RJ, Jorge Zahar, 2004.
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. SP, Scritta, 1991.
KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalista e censores, do AI-5 à Constituição de 1988. SP, Boitempo, 2004.
LE““Aが W;ゲエキェデラミ Dキ;ゲく さAマケノI;ヴ SW C;ゲデヴラ W ; RWaラヴマ; Sラ Jラヴミ;ノ Sラ Bヴ;ゲキノざく Iミ Dois Estudos de Comunicação Visual. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1995.
P á g i n a | 62
LUSTOSA, Isabel. Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na Independência, 1821-1823. SP, Cia das Letras, 2000.
_______. O nascimento da imprensa brasileira. RJ, Jorge Zahar, 2003.
MATTOS, Sérgio. História da televisão brasileira: uma visão econômica, social e política. Petrópolis, Vozes, 2002.
MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1994.
MOREL, Marco e BARROS, Mariana Monteiro de. Palavra, imagem e poder: o surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1989.
ORTRIWANOが GキゲWノ;く さR;Sキラテラヴミ;ノキゲマラ ミラ Bヴ;ゲキノぎ aヴ;ェマWミデラゲ SW エキゲデルヴキ;ざく Iミ Revista USP, SP, n. 56,dez./fev 2001-2003.
PEREGRINO, N. O Cruzeiro: a revolução da fotorreportagem. RJ, Dazibao, 1991.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Imprensa e história no Rio de Janeiro dos anos 50. RJ, E-papers, 2007.
RIBEIRO, Lavina Madeira. Imprensa e espaço público: a institucionalização do jornalismo no Brasil. RJ, E-papers, 2004.
ROMANCINI, Richard e LAGO, Cláudia. História do jornalismo no Brasil. Florianópolis, Insular, 2007.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do séc. XIX. SP, Companhia das Letras, 1987.
SAROLDI, Luiz Carlos e MOREIRA, Sônia Virgínia. Rádio Nacional: o Brasil em sintonia. RJ, Funarte, 1984.
SMITH, Anne-Marie. Um acordo forçado: o consentimento da imprensa à censura no Brasil. RJ, FGV, 2000.
SODRÉ, Nelson W. A história da imprensa no Brasil. RJ, Civilização Brasileira, 1966.
WAINER, S. Minha razão de viver: memórias de um repórter. RJ, Record, 1987.
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Prova Substitutiva – Equivalente ao valor da prova de P1
Conteúdo: Matéria toda.
AULA a AULA Dia/Mês Conteúdo Objetivo Específico Leitura Prévia
24/2 Apresentação do curso, do programa e da metodologia de
25/2 Fase inicial Identificar a instalação da imprensa no Brasil e suas conexões políticas
História do Jornalismo no Brasil cap. I e II
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap I
3/3 Jornalismo no Império に Primeiro Reinado Reconhecer o jornalismo como arena política
História do Jornalismo no Brasil cap. I e II
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap I
4/3 Jornalismo no Império に Regência e Segundo Império Reconhecer o jornalismo como arena política
História do Jornalismo no Brasil cap. I e II
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap I
に
10/3 Jornalismo e as grandes causas に independência, abolicionismo, fim da monarquia
Reconhecer o papel do jornalismo como propagador das ideias políticas e sociais
História do Jornalismo no Brasil cap. I e II
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap I
11/3 Jornalismo e República Velha Identificar a relação entre jornalismo e a formação de uma sociedade urbana e industrializada
História do Jornalismo no Brasil cap. III
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. II
17/3 Imprensa trabalhadora Reconhecer a presença de uma imprensa ligada aos imigrantes, negros, trabalhadores.
História do Jornalismo no Brasil cap. IV
18/3 Jornalismo e literatura Analisar as interfaces entre jornalismo e literatura, fazendo correlação com exemplos atuais de convergência entre mídias.
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
Pena de aluguel: escritores jornalistas no
24/3 Consolidação da imprensa に jornal como produto de massa
Identificar a transformação do jornalismo no Brasil na passagem do século XIX para o XX
História do Jornalismo no Brasil cap. IV
História Cultural da Imprensa に vol 1 cap. II
25/3 Imprensa e Estado Novo: o público como massa
Reconhecer o uso da imprensa como estratégia política do Governo
História do Jornalismo no Brasil cap. V
História Cultural da Imprensa に vol 2 cap. IV
31/3 Tecnologias do novo século に rádio
Analisar o impacto do rádio e sua utilização na formação de uma identidade nacional, seu uso pelo Estado Novo e seu impacto na construção de um sistema de comunicação.
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
70 Anos de Radiojornalismo no Brasil:
1/4 Tecnologias do novo século - rádio
Analisar o impacto do rádio e sua utilização na formação de uma identidade nacional, seu uso pelo Estado Novo e seu impacto na construção de um sistema de comunicação.
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
70 Anos de Radiojornalismo no Brasil:
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7/4 P1
8/4 Grandes cadeias jornalísticas Conhecer a formação de grandes cadeias jornalísticas e de sistemas de comunicação に Chateaubriand, Bloch, Roberto Marinho, Frias, Civita.
História do Jornalismo no Brasil cap. IV e V
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
14/4 Grandes cadeias jornalísticas Conhecer a formação de grandes cadeias jornalísticas e de sistemas de comunicação に Chateaubriand, Bloch, Roberto Marinho, Frias, Civita.
História do Jornalismo no Brasil cap. IV e V
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
15/4 Grandes cadeias jornalísticas Conhecer a formação de grandes cadeias jornalísticas e de sistemas de comunicação に Chateaubriand, Bloch, Roberto Marinho, Frias, Civita.
História do Jornalismo no Brasil cap. IV e V
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
21/4 Feriado - Tiradentes
22/4 Feriado に Não haverá aula
28/4 Grandes cadeias jornalísticas Conhecer a formação de grandes cadeias jornalísticas e de sistemas de comunicação に Chateaubriand, Bloch, Roberto Marinho, Frias, Civita.
História do Jornalismo no Brasil cap. IV e V
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
29/4 Cinquenta anos em cinco に desenvolvimentismo e jornalismo
Identificar a correlação entre o momento político-econômico e a consolidação dos grandes jornais
História do Jornalismo no Brasil cap. V
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
5/5 Prova Integrativa
6/5 Reforma no jornalismo に lide e objetividade
Relacionar a modernização do país e a consolidação do jornalismo informativo
História da Imprensa Brasileira に cap. IV
Diario Carioca: O Jornal que Mudou a Imprensa
12/5 Surgimento da TV Consolidação de um sistema de comunicação
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
História da Televisão no Brasil
13/5 Surgimento da TV Consolidação de um sistema de comunicação
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. III
História da Televisão no Brasil
19/5 Revistas Compreender a relação entre a formação de um mercado consumidor e a explosão das revistas, comparar com o surgimento dos blogs.
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. IV
Os irmãos Karamabloch. Ascensão e queda de um
20/5 Revistas Compreender a relação entre a formação de um mercado consumidor e a explosão das revistas, comparar com o surgimento dos blogs.
História da Imprensa Brasileira に vol 1 に cap. IV
Os irmãos Karamabloch. Ascensão e queda de um
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26/5 Anos de chumbo: jornalismo e ditadura
Discutir o jornalismo praticado durante a ditadura e seus reflexos atuais
História do Jornalismo no Brasil cap. IV
27/5 Imprensa Alternativa Identificar a imprensa alternativa nos anos 70/80
História do Jornalismo no Brasil cap.VI
2/6 Novos caminhos に jornalismo econômico, Assessoria de Imprensa, segmentação
Perceber o surgimento de especializações no jornalismo a partir da ditadura
História Cultural da Imprensa vol 2 cap IX
3/6 Redemocratização e jornalismo
Discutir o papel da imprensa no processo de redemocratização
História do Jornalismo no Brasil cap. VII
9/6 A imprensa no poder - jornalismo e o impeachment de Collor
Abordar o papel da imprensa na queda do Presidente Collor e comparar com situações recentes に mensalão, corrupção em ministérios, manifestações etc.
História do Jornalismo no Brasil cap. VII
Notícias do Planalto
10/6 Convergência midiática e novos desafios
Discutir o lugar dos jornais e a complementariedade dos meios,
Outros canais para informação に redes sociais e jornalismo
16/6 P2 – Apresentação de trabalho
17/6 P2 – Apresentação de trabalho
23/6 Substitutiva
30/6 Vista de notas e faltas
Bibliografia Básica:
Livros SOBRENOME,
Nome Título: subtítulo Local da
publicação Editor Data
ROMANCINI,
Richard e LAGO,
História do Jornalismo no Brasil Florianópolis Insular 2007
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Claudia
BAHIA, Juarez História da Imprensa Brasileira Rio de Janeiro Mauad 2009
MORAIS, Fernando Chatô, rei do Brasil São Paulo Companhia
das Letras
1995
Bibliografia Complementar:
Livros SOBRENOME,
Nome Título: subtítulo Local da
publicação Editor Data
BARBOSA,
Marialva
História Cultural da Imprensa
volumes 1 e 2
Rio de
Janeiro
Mauad 2010
BLOCH, Arnaldo Os irmãos Karamabloch. Ascensão
e queda de um império familiar
São Paulo Companhia
das Letras
2008
CONTI, Mario
Sergio
Notícias do Planalto São Paulo Companhia
das Letras
1999
MOREIRA, Sônia
Virgínia (org.)
70 Anos de Radiojornalismo no Brasil: 1941-2011
Rio de
Janeiro
Eduerj 2011
RIBEIRO, Ana Paula, SACRAMENTO, Igor e ROXO, Marco.
História da Televisão no Brasil.
Rio de Janeiro:
Contexto 2010
Outras Indicações:
GARAMBONE,
Sidney
A Primeira Guerra Mundial e a imprensa brasileira
Rio de
Janeiro
Mauad 2003
MARÇAL, Joaquim História da fotorreportagem no Brasil: a fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900.
Rio de
Janeiro
Elsevier 2004
NASSIF, Luís. O jornalismo dos anos 90 São Paulo Futura 2003
RIBEIRO, Ana Jornal Nacional: a notícia faz Rio de Janeiro Zahar 2004
Livros
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Paula Goulart história
WAINER, Samuel Minha razão de viver Rio de Janeiro Record 1989
CARVALHO, Maria
Alice Rezende de
Irineu Marinho — Imprensa e
cidade
Rio de Janeiro Memória
Globo
Livros
2012
COSTA, Cecília Diario Carioca: O Jornal que Mudou a
Imprensa Brasileira
Rio de
Janeiro
Biblioteca
Nacional
2012
COSTA, Cristiane Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904 a 2004
(Atende as exigências da Resolução do CNE/CES nº 1 de 8 de Junho de 2007.
Publicada no D.O.U. em 08 de Junho de 2007)
Ambiente
Jornalístico
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Professor: Marcelo Beraba
É diretor do Grupo Estado no Rio. Trabalhou em O Globo, no Jornal do Brasil, na TV Globo e na Folha de S.Paulo, onde exerceu, entre outras, a função de ombudsman. É um dos fundadores e foi o primeiro presidente da Abraji. Recebeu em 2005 o Prêmio Excelência em Jornalismo do ICFJ (International Center for Journalism). É diretor da Abraji.
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SISTEMA DE AVALIAÇÃO
PRODUTO 80%
Artigo (60%)
Resenha (20%)
Prazo de entrega: 23 de maio
PROCESSO に 20%
Leituras に sistema de acompanhamento estabelecido pelo(a) prof(a) com o grupo-classe (resenhas, comentários, fichamento, etc.);
Participação に assiduidade, pontualidade e contribuição para o processo coletivo;
Trabalhos extra-classe – pesquisa individual e inserções pessoais e profissionais.
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PROGRAMAÇÃO
SEMANA CONTEÚDO BIBLIOGRAFIA
1ª aula (12/04)
Conceitos de Jornalismo investigativo
Influência do jornalismo norte-americano: Muckrakers e Watergate.
Contexto político e econômico em que o jornalismo investigativo floresce.
L4
L5
L3
2ª aula (10/05)
História do Jornalismo Investigativo: Watergate e Collorgate
3ª aula (17/05)
Evolução do jornalismo brasileiro pós-Collorgate.
4ª aula (17/05)
Ambiente político e econômico do jornalismo investigativo atual
Discussão sobre o trabalho final
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA BÁSICA (LIVROS)
AUTOR(ES) TÍTULO DA OBRA EDITORA
L1 Lobato, Elvira Instinto de repórter / Elvira Lobato. São Paulo : Publifolha, 2005.
L2 Hersh, Seymour Cadeia de Comando Ediouro, 2004
L3 Carl Bernstein e Bob Woodward
Todos os homens do presidente Ed. Três Estrelas, SP, 2014.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
AUTOR(ES) TÍTULO DA OBRA EDITORA
L4 Gerardo Reyes Ida Tarbell: ¿Cómo explorar una compañía de petróleos?‖,in ―Periodismo de Investigación‖
Ed. Trillas, México DF, 1996.
L5 Mark Feldstein A Muckraking Model Investigative Reporting Cycles in American History
L6 Conti, Mario Sergio
Noticias do planalto Companhia das letras, 2012
L7 Lewis, Jon E. O grande livro do jornalismo Jose Olympio, 2008
L8 Reed, John Dez dias que abalaram o mundo Penguin, 2010
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INDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO 1 – A crise do poder 12
CAPÍTULO 2 – A essência do Jornalismo Investigativo 15
2.1 – Dos muckrakers ao Collorgate 20
CAPÍTULO 3 – A História através da Imprensa 25
3.1- Os jornais como fontes históricas 26
3.2- A importância do estudo da história da Imprensa no Brasil 27
CAPÍTULO 4 – O espaço do Jornalismo na Comunicação 30
4.1 – Imprensa, um capítulo na história das comunicações 33
4.2 – A perspectiva interdisciplinar 36
CAPÍTULO 5 – A História do Jornalismo Investigativo 40
5.1 – Estudo de casos: ECO/UFRJ e ESPM Rio 40
5.2 – O equilíbrio entre teoria e prática 43
5.3 – História e Jornalismo, campos complementares 44